Tem muito trânsito
Desde o início do ano, quase 100 mil automóveis já cruzaram a fronteira para o Interior. Segundo a alfândega de Gongbei, 93.195 veículos, apenas com a matrícula de Macau, circularam para a China Continental. Quem tentou ontem levar o automóvel para celebrar o Dia de Finados com familiares, teve de aguentar mais de uma hora nas longas filas que se formaram a caminho da fronteira.
www.hojemacau.com.mo • facebook/hojemacau • twitter/hojemacau DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 QUINTA-FEIRA 6 DE ABRIL DE 2023 • ANO XXI • Nº5225 CHINA
GAULESES VISITA | PORTUGAL RENOVÁVEIS NA BAGAGEM MÚSICA FADO DE FUSÃO PÁGINA 8 PÁGINA 2 EVENTOS
ARTIFICIAL
E PROVEITOS VOZES ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS PÁGINA 4 OLAVO RASQUINHO
PÁGINA 5 ECONOMIA FRACO PODER DE COMPRA PÁGINA 3
CONQUISTAS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICAS DOS CHINESES Cláudia Ribeiro
PARECERES
INTELIGÊNCIA
ENTRE RISCOS
hojemacau
AS GRANDES
VISITA | PORTUGAL FREDERICO MA QUER REFORÇO DA COOPERAÇÃO NAS ENERGIAS RENOVÁVEIS
Bons e ventos e casamentos
O presidente da Associação
Comercial de Macau faz parte da comitiva com cerca de 40 empresários que vai acompanhar Ho Iat Seng na viagem a Portugal entre 18 e 22 de Abril
Opresidente da Associação Comercial de Macau, Frederico Ma Chi Ngai, espera que a visita de Ho Iat Seng a Portugal resulte num aprofundamento das relações comerciais, principalmente em áreas como as energias renováveis e tecnologia de ponta. As declarações foram prestadas à Rádio Macau, pelo também empresário que vai integrar a comitiva liderada pelo Chefe do Executivo.
“A Associação Comercial de Macau vai assinar novos acordo de cooperação com a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. Isto
NUM encontro entre o líder do Governo e o Conselho de Curadores da Fundação Henry Fok, encabeçado por Ian Fok Chun-wan, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, manifestou o desejo de que a Fundação Henry Fok aposte no desenvolvimento da China e de Macau, como disse fazer parte da tradição daquela instituição.
Segundo o relato do Gabinete de Comunicação
Social, do encontro de terça-feira, Ho Iat Seng fez votos “que a Fundação possa, tal como sempre, dar novos contributos ao País e à sociedade de Macau na nova era de desenvolvimento”.
Além disso, deixou agradecimentos à instituição, por “contribuir, sem se poupar a esforços, para promover o desenvolvimento do País e de Macau, a longo prazo”.
significa que no futuro, nas visitas a Portugal ou a Macau haverá mais cooperação e melhores arranjos”, revelou. “Queremos reforçar a cooperação e a promoção entre Portugal
e Macau em áreas como o comércio de alimentação, energias renováveis, solares e eólica, alta tecnologia e projectos de empreendedorismo juvenil”, acrescentou.
“A Associação Comercial de Macau vai assinar novos acordo de cooperação com a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa.”
Caminhos da integração
Ho Iat Seng recebeu Conselho de Curadores da Fundação
Por outro lado, e nas suas competências como líder do Governo, Ho Iat Seng destacou que “está adoptar a estratégia para promover a diversificação adequada 1+4”, “optimizar a estrutura
Henry Fok
Frederico Ma considerou ainda a necessidade de haver maior ligação entre as duas partes, Portugal e Macau, e espera que a visita possa servir para implementar um novo sistema de comunicação.
“Sobre os resultados e efeitos da promoção e da cooperação nas diferentes áreas, penso ser necessário uma maior troca de opiniões entre as partes no futuro, por isso, o principal objectivo da visita, desta vez, é o estabelecimento de
especialmente nas áreas do ensino superior, da inovação tecnológica, da cultura e do desporto”.
um mecanismo de comunicação melhor”, justificou. Com a comunicação aperfeiçoada, o empresário acredita ser possível “assegurar as relações entre os dois lugares.”
Convite ao Interior
Já no âmbito da plataforma que Macau pretende assumir entre o Interior e os países de Língua Portuguesa, o presidente da Associação Comercial considerou haver espaço para uma maior aposta, principalmente por parte das empresas do outro lado da fronteira.
“Esperamos ainda que as empresas do Interior da China possam utilizar mais os serviços das empresas multinacionais de Macau, como a prestação de serviços financeiros e jurídicos”, desejou. “Penso que a actual taxa de utilização dessas plataformas de Macau não é utilizada, por isso queremos reforçar a promoção destes serviços do território nesta visita”, frisou. O Chefe do Executivo vai deslocar-se a Portugal entre 18 e 22 de Abril e tem encontros agendados com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, e António Costa, primeiro-ministro, de acordo com a Rádio Macau. Com Ho Iat Seng, vai viajar o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, e uma comitiva de Macau que deve incluir cerca de 40 empresários. João Santos Filipe
IC Edifício da residência consular alvo de obras
industrial, e fomentar o desenvolvimento das quatro indústrias principais”.
Do alinhamento
Por sua vez, o presidente do Conselho de Curadores da
Fundação Henry Fok, Ian Fok Chun-wan, indicou que a instituição “continuará a corresponder às linhas de acção governativa, a apoiar a diversificação adequada da economia,
Outros objectivos, passam por fomentar o empenho na criação de “sinergias entre as cidades da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, promover da melhor forma a integração de Macau no desenvolvimento nacional e contribuir para a prosperidade e estabilidade” do território.
No encontro, participaram também o presidente do Conselho Fiscal da Fundação, Chui Sai Cheong (deputado e ex-colega de Ho Iat Seng na Assembleia Legislativa), e o presidente do Conselho de Administração, Eric Fok Kai Shan.
O edifício da residência do cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong vai sofrer obras de reparação estrutural a partir da próxima semana, de acordo com a TDM-Rádio Macau. A notícia foi avançada na terça-feira e as obras, que vão demorar vários meses, são da responsabilidade do Instituto Cultural. Na Fortaleza de Nossa Senhora do Bom Parto, onde se localiza o apartamento onde habitualmente reside o director do IPOR, vão ser igualmente realizadas obras estruturais na muralha. Por sua vez, o ministério dos Negócios Estrangeiros português será responsável pelas obras de manutenção que vão ser realizadas no interior da residência consular. Também o edifício do Consulado-Geral necessita de obras estruturais, a cargo exclusivo do Estado português, que deverão começar ainda este ano.
2 política 6.4.2023 quinta-feira www.hojemacau.com.mo
FREDERICO MA CHI NGAI EMPRESÁRIO
GCS
Cartão de consumo Nelson Kot pede mais 5 mil patacas
Nelson Kot, presidente da Associação de Estudos Sintético Social de Macau, defende que o Governo deve lançar mais uma ronda de cartão de consumo, no valor de 5 mil patacas. Segundo o candidato derrotado à Assembleia Legislativa, o Governo precisa de tomar medidas para fazer frente à subida generalizada dos preços, que afecta a população depois de três anos em que os rendimentos foram muito afectados pelas medidas de controlo da pandemia. Segundo Kot, com mais uma ronda de 5 mil patacas, os cidadãos teriam meios para fazer frente à inflação, que segundo as suas contas apresenta uma subida de 5 a 10 por cento. “Temos de olhar para a situação real, espero que o Governo faça uma análise prudente da situação e avalie correctamente se os preços estão mesmo estáveis, como diz, porque a subida continua a ter um grande impacto na vida das pessoas”, afirmou, em declarações citadas pelo Jornal do Cidadão.
Segredo de Estado Nova lei vai uniformizar o conceito
Os segredos da RAEM vão ser tratados como segredos do Estado com a nova lei de protecção do segredo do Estado. A explicação foi avançada por Ella Lei, deputada e presidente da comissão da Assembleia Legislativa que está a analisar e a discutir com o Governo o documento na especialidade. Citada pela Rádio Macau, Ella Lei clarificou que a proposta de lei irá uniformizar o conceito de segredos da RAEM, sendo que só o Chefe do Executivo terá poderes para determinar as matérias que serão classificadas de segredo do Estado. Um dos principais receios, devido às pesadas penas previstas, passa pelo facto de a classificação de confidencial poder ser feita depois de os documentos serem tornados públicos. No entanto, de acordo com a presidente da comissão, os representantes do Governo asseguram que a classificação de segredos de Estado será feita de forma clara e inequívoca
IAM Aumento do número de fornos ecológicos está a ser equacionado
O Instituto para os Assuntos Municipais está a estudar o aumento do número de fornos ecológicos de papéis votivos. A revelação foi feita na resposta a uma interpelação de Leong Hong Sai, deputado dos Moradores, que se mostrou preocupado com os efeitos ao nível da poluição. Segundo a resposta, o IAM indicou que actualmente “estão disponíveis quatro fornos ecológicos para queima de papéis votivos no Cemitério de Nossa Senhora da Piedade”. No entanto, vai ser estudada a instalação de mais fornos. “No futuro, o IAM estudará a possibilidade de colocar gradualmente essas instalações nos lugares dos cemitérios municipais onde haja electricidade e espaço para tal, a fim de melhorar o ambiente interno dos cemitérios municipais”, foi reconhecido.
Integração Au Kam Sam vê território aduaneiro ameaçado
O ex-deputado Au Kam San acredita que a política de “integração [de Macau] no desenvolvimento geral do País” ameaça a RAEM como “território aduaneiro separado”. Esta é uma imposição que consta da Lei Básica, quando é definido no artigo 112.º que “a Região Administrativa Especial de Macau é um território aduaneiro separado”. Porém, para o democrata, a integração de Macau na economia do país, cada vez mais presente no discurso oficial, vai fazer com que “independentemente da vontade dos governantes [em Macau] a linha de separação do território aduaneiro vá inevitavelmente desaparecer”. Au Kam San considera também que uma vez que Macau é China, a decisão de manter, ou não, a RAEM como território aduaneiro separado depende apenas do Governo Central.
ECONOMIA ELLA LEI ALERTA PARA FENÓMENO DE INFLAÇÃO ESCONDIDA
A tempestade perfeita
Com os rendimentos desgastados por três anos de economia parada ou a meio-gás, e com os combustíveis e a alimentação a ficarem mais caros, a deputada pede ao Governo políticas para fazer face à quebra do poder de compra d as famílias
ELLA Lei está preocupada com o impacto da inflação escondida, principalmente em bens como os combustíveis e o preço das refeições fora de casa. O aviso foi deixado em declarações ao Jornal do Cidadão.
De acordo com a deputada, o aumento dos preços enfrentado pelas famílias não está reflectido no índice de preços ao consumidor, que serve para medir a inflação. A legisladora indica que alguns bens consumidos com menor frequência ficaram mais baratos, enquanto os mais consumidos estão muito mais caros. Como o índice é uma média, a inflação é apresentada como a subir ligeiramente. No entanto, na realidade, como os bens mais consumidos estão muito
mais caros, as famílias estão efectivamente a perder poder de compra. Ao mesmo tempo, com os bens mais baratos a serem pouco consumidos, as famílias acabam por nem sentir essa subida de preço.
A deputada dá os exemplos do preço dos combustíveis e dos custos das refeições fora de casa. “Apesar do Governos nos indicar que os preços estão estáveis, temos de analisar com
estáveis, [...] os preços são mais altos do que antes da pandemia.”
maior detalhe os dados para percebemos que recentemente ficaram mais caros. Os preços são mais altos do que antes da pandemia”, justifica. “Os preços dos combustíveis, de comer fora e até dos juros pagos aos bancos ficaram todos mais altos. Tudo faz com que haja uma maior pressão sobre os agregados familiares”, alertou.
Acção, precisa-se
Ao Jornal do Cidadão, Ella Lei indicou também que o aumento do custo de vida chega numa altura em que os rendimentos dos residentes estão muito desgastados.
Após três anos com danos auto-infligidos na economia, face à política de zero casos, a legisladora indica que os rendimentos sofreram um corte significativo, que o desemprego
é muito maior e que a vida ficou muito mais difícil. “Em indústrias que empregam um grande número de pessoas, como a venda por grosso e retalho, a hotelaria, a restauração e a construção civil a mediana dos salários é agora mais baixa em cerca de 2 mil patacas”, frisou.
Neste cenário de tempestade perfeita, Ella Lei apela ao Governo a manter-se atento aos preços, à luz da lei de protecção do consumidor, para evitar abusos, que garante um mercado de trabalho saudável e que incentive o aumento dos salários. Além disso, Ella Lei espera que seja estudado o lançamento de mais uma ronda do cartão de consumo, através do qual o Governo distribui dinheiro aos residentes para fazerem compras no território. João Santos Filipe
política 3 quinta-feira 6.4.2023 www.hojemacau.com.mo
“Apesar do Governo nos indicar que os preços estão
ELLA LEI DEPUTADA
HOJE MACAU
ESPECIALISTA nas áreas de “Big Data” e Inteligência Artificial (IA), Sarah Migliorini acredita que os riscos associados a programas como o Chat GPT podem ser minimizados se a população possuir maior literacia digital. Em entrevista ao HM, a docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM) defendeu que, tal como as novas gerações mexem mais facilmente com computadores e smartphones do que os seus pais, o mesmo acontecerá com programas de IA. “Temos de começar a promover mais literacia sobre IA ao nível das escolas e das administrações, e em toda a sociedade. A maior parte dos riscos associados ao Chat GPT prendem-se com o facto de este tipo de produto comercial ter sido implementado a uma escala muito grande numa população que não sabe o que isto é. Lidar com isso será uma boa forma de gerirmos os erros.”
Relativamente a legislação para gerir eventuais impactos negativos, Sarah Migliorini entende que muita da legislação já em vigor poderá dar resposta em casos de discriminação ou defesa dos direitos das pessoas. No entanto, “haverá matérias tão específicas [no futuro], que será necessária mais regulação própria, nomeadamente em matéria de direitos de autor”. “O Chat GPT consegue escrever e já existe alguma regulação [sobre isso] nos EUA, mas vamos precisar de mais leis específicas no futuro tendo em conta o volume de informação.”
No caso de Macau, haverá influência do que acontecer na China em matéria de legislação e tecnologia, mas também da União Europeia e EUA, embora siga sempre “o que acontecer na China”. Sarah Migliorini acredita que
CHAT GPT ACADÉMICA PEDE MAIOR LITERACIA DIGITAL
Com mãos no futuro
Sarah Migliorini, docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, acredita ser necessária uma maior literacia digital para que as pessoas saibam lidar com os riscos inerentes a programas como o Chat GPT. Já há leis que podem ser aplicadas nestes casos, mas será sempre necessária legislação específica no futuro, aponta
Macau pode vir a ter leis próprias que abrangem programas como o Chat GPT, embora haja sempre custos associados, sobretudo em
“Claro que alguns empregos se vão perder, mas outros serão criados. Será um processo, e algumas pessoas vão sofrer com isso, mas a longo prazo, e a um certo nível, teremos capacidade para absorver [esta tecnologia].”
SARAH MIGLIORINI
matéria de recursos humanos, dada a maior necessidade de fiscalização. “Se dissermos que é proibido usar determinado sistema nas escolas, por exemplo, temos de reforçar isso e são necessários recursos humanos para o fazer. Muitas vezes termos mais regulação não é muito viável desse ponto de vista.”
Acima de tudo, Sarah Migliorini acredita que os seres humanos poderão sempre controlar o impacto da tecnologia e da IA nas suas vidas. “Estes tipos de sistemas são-nos apresentados como inevitáveis, mas na verdade são apenas máquinas. Não são boas nem más e tudo depende de nós, como humanos, como interpretamos isso. As tecnologias podem ser moldadas e temos vários exemplos disso na história, por exemplo porque a lei não o permitia. Há muitas coisas que podemos fazer e não devemos ter em mente a ideia de que isto vai acontecer inevitavelmente. Há muitas coisas boas que podem advir desta tecnologia se a usarmos correctamente.”
O impacto da tecnologia já se nota no nosso dia-a-dia, mas tudo depende de como “a sociedade se vai adaptar”. “As coisas estão a avançar muito rapidamente e há interesses económicos por detrás, por isso há que pensar em termos de regulação como podemos lidar com esta grande onda gerada pela IA”, frisou.
Três oportunidades
Apesar de assumir que existem riscos associados ao uso do Chat GPT, nomeadamente o perigo de redução da necessidade de recursos humanos em empresas, Sarah Migliorini fala em três tipos de oportunidades. Uma delas, passa pela criação de conteúdo automatizado, o que pode facilitar a vida a empresas em matéria de produção de emails, publicações nas redes sociais ou campanhas de marketing. Além disso, o Chat GPT tem ferramentas que podem ser treinadas para diversas áreas, sendo possível, por exemplo, ter atendimento médico online recorrendo a Chat Bots. “Esta
poderia ser uma ferramenta útil para pacientes antes de estes se dirigirem ao hospital, por exemplo.” A docente diz ainda que poderemos usar o Chat GPT a nosso favor, dada a sua rapidez para processar informação e gerar conteúdo. “Podemos usar este tipo de tecnologia para nos tornar mais inteligentes, mas de forma humilde, pois conseguem calcular e gerir mais informação do que nós. Podemos aprender com estes sistemas, na verdade, mas explorando o que a nossa inteligência humana nos permite fazer além disso.”
Ainda sobre o impacto em matéria de recursos humanos, Sarah Migliorini defende que o risco poderá ser contornado. “Claro que alguns empregos se vão perder, mas outros serão criados. Será um processo, e algumas pessoas vão sofrer com isso, mas a longo prazo, e a um certo nível, teremos capacidade para absorver [esta tecnologia].”
Criado há cerca de três anos pela empresa Open AI, o Chat GPT é um produto comercial que, através da IA e bots é capaz de produzir conteúdo e criar diálogos com o utilizador. Não é mais do que “um pacote com uma tecnologia que já existia e que, de uma forma bastante primitiva, foi criada nos anos 50”, mas que só agora foi possível lançar no mercado, uma vez que “chegámos a um nível de computação muito elevado”. Uma vez que há outros produtos semelhantes a serem lançados no mercado, a docente da UM denota que a IA veio, definitivamente, para ficar. “Penso que não nos vamos ver livres [destes programas] tão cedo. Na verdade, falamos de IA degenerativa, que são ferramentas que podem criar novas plataformas”, rematou. Andreia Sofia Silva
4 sociedade 6.4.2023 quinta-feira www.hojemacau.com.mo
East Asia Banco alerta para fraudes
A sucursal de Macau do Banco da East Asia alertou a população para o surgimento de aplicações móveis e de um portal que se faziam passar pelo banco. O alerta foi deixado “de modo a evitar situações de burla e de prejuízos desnecessários”. A informação foi também divulgada pela Autoridade Monetária de Macau, que revelou ter exigido a divulgação da mensagem ao banco. “A AMCM alerta o público que as aplicações oficiais para telemóveis devem ser descarregadas através dos meios facultados pelas instituições financeiras, com o intuito de evitar infecção por programas maliciosos ou riscos de fuga de dados pessoais”, foi aconselhado pelo regulador. “Nas situações em que se verifique circunstâncias de descarregamento e instalação de aplicações para telemóvel através de meios desconhecidos, as pessoas envolvidas devem contactar imediatamente as respectivas instituições financeiras e a Polícia Judiciária”, foi acrescentado.
AMCM Depósitos bancários em quebra
Os depósitos de residentes diminuíram um por cento em comparação com o mês anterior para 695 mil milhões de patacas. O número foi revelado pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), na terça-feira. Por sua vez, os depósitos de não-residentes tiveram uma quebra mais acentuada, de 11,8 por cento, fixando-se nos 289,4 mil milhões de patacas. A registar uma tendência contrária, os depósitos do sector público cresceram para 230 mil milhões de patacas, representando um crescimento de 0,8 por cento. Como resultado, o total dos depósitos da actividade bancária registou um decréscimo de 3,5 por cento quando comparado com o mês anterior, quedando-se nos1.214,4 mil milhões de patacas. Em relação ao montante total dos depósitos, 21,1 por cento do valor registava-se em patacas, 45,1 por cento em dólares de Hong Kong, 9 por cento em renminbis e 22,5 por cento em dólares norte-americanos.
Turismo Detectados cinco guias sem licença
Entre 1 de Janeiro e 4 de Abril, os Serviços de Turismo (DST) instauraram cinco processos devido a suspeitas de guias ilegais no Posto Fronteiriço das Portas do Cerco. O anúncio foi feito ontem, através de um comunicado. No mesmo período, revela a DST, foram realizadas 383 inspecções. “A DST já abriu processo sancionatório contra as violações, e as irregularidades foram também comunicadas ao Ministério da Cultura e Turismo da China”, foi indicado. Ao mesmo tempo, em conjunto com as autoridades policiais, a DST afirmou ter combatido o “alojamento ilegal”, tendo selado nove fracções autónomas suspeitas de prestação do serviço. “A DST continua a comunicar com a indústria turística e, em simultâneo, a reforçar a fiscalização e inspecção, a fim de assegurar a ordem do sector e a imagem turística de Macau durante este período [de celebração do Dia dos Finados e Páscoa]”, foi acrescentado.
FRONTEIRA QUASE 100 MIL VEÍCULOS DESDE JANEIRO
Para lá e para cá
Desde Janeiro que os governos de Macau e de Cantão aprovaram a medida que permite a entrada de viaturas na província vizinha. Em consequência, quase 100 mil carros, só com a matrícula de Macau, já atravessaram a fronteira
atribuído a cidadãos chineses e não a estrangeiros.
Os veículos podem entrar e sair de Guangdong várias vezes, desde que o período da estadia não exceda a validade da licença, a permanência por cada entrada em Guangdong não seja superior a 30 dias consecutivos e a permanência anual não ultrapasse 180 dias acumulados.
Do outro lado
Em Fevereiro, as autoridades de Macau anunciaram também que os detentores de cartas de condução do território, incluindo os residentes permanentes de nacionalidade estrangeira, vão poder conduzir na China a partir de 16 de Maio.
O director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, confirmou à Lusa que a dispensa de exame para o reconhecimento das cartas de condução de Macau inclui os residentes sem nacionalidade chinesa, embora para estes seja muito mais difícil obterem um visto de entrada no Interior.
Para obter a licença que permite circular do outro lado da fronteira, os residentes de Macau devem ter mais de 18 anos e serem titulares do salvo-conduto para deslocação ao Interior
A medida de reconhecimento das cartas de condução foi encarada pela população como altamente polémica e apenas foi aprovada, depois de vários deputados democratas terem sido excluídos das eleições. Antes disso, tinha sido deixada cair pelo Governo, devido à forte contestação.
PERTO de 100 mil veículos particulares circularam entre o território e o Interior, desde o lançamento da medida que permite a entrada de viaturas na província de Guangdong, anunciaram as autoridades. Desde 1 de Janeiro, 93.195 veículos apenas com a matrícula de Macau atravessaram a fronteira, de acordo com o portal da Alfândega de Gongbei.
“Antes, muitos residentes tinham de atravessar a pé a fronteira entre Zhuhai e Macau. Agora podem usar veículos próprios nas viagens transfronteiriças”, indicaram as autoridades de Gongbei. Para obter a licença que permite circular do outro lado da fronteira, os residentes de Macau devem ter mais de 18 anos e serem titulares do salvo-conduto para deslocação ao Interior da China, um documento que só é
LONGAS FILAS
Os residentes que tentaram levar ontem os seus carros para o Interior, de forma a celebrar o Cheng Ming (Dia de Finados) com os familiares, defrontaram-se com longas filas para atravessar a fronteira. De acordo com informações que circularam online, a passagem para viaturas particulares levou mais de uma hora. No momento mais caótico, a fila prolongava-se da Ilha Artificial da Ponte Hong Kong-Zuhai-Macau, onde é feita a passagem da fronteira, até à Rotunda da Pérola Oriental.
Também entre os deputados eleitos pela via directa das associações tradicionais, nomeadamente ligados aos Operários, têm sido feitos pedidos para uma fiscalização eficaz, para evitar a fuga, pelos condutores do Interior, a eventuais responsabilidades civis e criminais, que decorram de acidentes de trânsito. Outra das preocupações do campo tradicional, eleito pela via directa, é a possibilidade de os condutores do Interior ficarem com postos de trabalho como motoristas, profissão que de acordo com a legislação em vigor apenas pode ser desempenhada por residentes.
sociedade 5 quinta-feira 6.4.2023 www.hojemacau.com.mo
WOOU PINGIA MOSRA
As grandes conquistas científico-tecnológicas
Cláudia
(Continuação do número anterior)
4. Engenharia
No campo da engenharia, os dados arqueológicos permitem afirmar que, por volta de 300 a.C., os ferreiros chineses descobriram que a queima de minério de ferro misturado com carvão produzia um líquido metálico espesso e maleável. Rapidamente se aperceberam das vantagens do ferro fundido sobre o ferro forjado e passaram a utilizá-lo tanto na vida como nas obras públicas, construindo pontes de ferro e outras estruturas. Na Dinastia Han (202 a.C. 220 d.C.), a fundição de ferro tornou-se monopólio do governo e observou-se um desenvolvimento notável.
A ponte pênsil, com uma pista plana suspensa por cabos, também foi inventada na China. Pontes mais primitivas como a ponte de corda simples e a ponte catenária, provavelmente também o foram. No primeiro século d.C., os chineses construíam pontes pênsil de ferro fundido que eram suficientemente fortes para que os veículos passassem sobre elas. Os chineses construíam veículos com rodas desde 2 600 a. C. No ano de 688 d.C., a imperatriz Wu Zetian mandou erguer um pagode de noventa metros de altura construído em ferro fundido para comemorar os feitos da antiga dinastia Zhou (1050 a.C.-256 a.C.). Cinco anos depois, os chineses construíram um pagode de ferro fundido com vinte e oito metros de altura, sendo cada nível fundido como uma única peça. Em 1100 d.C., a produção de ferro na China atingiu o nível anual de 170 000 toneladas métricas.
O ferro fundido só se tornou comum em toda a Europa no séc. XIV. No início da Revolução Industrial só havia ferro forjado. O ferro fundido, porém, não parece ter chegado à Europa vindo da China, mas ter resultado de várias descobertas mais ou menos simultâneas em diversos locais.
No ano 31 d. C., para fazer instrumentos agrícolas com ferro fundido, o grande engenheiro chinês Du Shi inventou o fole movido a energia hidráulica. Esses foles viriam a ser usados na Europa trezentos anos depois, quando os chineses começaram a usar carvão em vez de madeira como combustível no fabrico de ferro fundido. Os foles dos fornos accionados por rodas de água contribuíram grandemente para
o desenvolvimento da produção de ferro e de aço da dinastia Song (9601279 d.C.).
No séc. II d.C., os chineses já conseguiam fazer aço. Adoptaram dois processos: um deles principiava pela descarbonização, isto é, por retirar o carbono ao ferro fundido, e completava-se com a oxigenação, isto é, soprando oxigénio para o ferro fundido; e o outro, do séc. V d.C., consistia na co-fusão, isto é, o ferro fundido e o ferro forjado eram derretidos em conjunto para obter algo de intermédio, o aço. O processo de produção de aço por “co-fusão” foi adoptado na Europa em 1863, catorze séculos mais tarde do que na China. E quando, em 1852, o norte-americano William Kelly inventou (embora não tivesse patenteado de imediato a ideia) um novo processo de fabricação de aço que antecipava em quatro anos o processo Bessemer, fê-lo com o auxílio de quatro especialistas chineses em siderurgia.
Ilustração de rodas de água a accionar o fole de um forno para fazer de ferro fundido. Retirada do Nongshu, de Wang Zhen, datado de 1313 d.C. Domínio público.
No séc. II a. C., os chineses inventaram o estabilizador gimbal, um mecanismo que consiste normalmente em anéis articulados em ângulos rectos e que serve para estabilizar instrumentos como bússolas ou cronómetros numa situação de movimento. Encontrava-se na Europa no séc. IX d.C. A invenção do gimbal está na base do giroscópio moderno e tornou possível a navegação e a pilotagem automática de aeronaves de longo curso, além de ser essencial no trabalho profissional com drones.
Tal como a bússola, a invenção chinesa do leme de popa no séc. I d.C.
viria a revolucionar a navegação. As descobertas marítimas dos portugueses só foram possíveis devido à adopção da engenharia náutica chinesa. Até copiarem o leme de popa dos chineses, o que terá sucedido no séc. XII, tal como sucedeu com a bússola, os europeus tiveram de se conformar com remos de direcção. Durante dois mil anos, ninguém competia com a extrema superioridade náutica dos chineses. Os chineses foram também os inventores do navio de roda de pás, no séc. V d. C. No séc. XIII, podiam medir noventa metros, transportar oitocentos homens e contar com dez convés independentes. No alvor do séc. XV, o junco chinês, cujo casco se inspira na anatomia do pato e não do peixe, era uma embarcação insuperável no transporte no mar alto e tempestuoso, assim como nas vias navegáveis do interior. Contava com quatro mastros permanentes e dois temporários, velas catitas reforçadas com ripas de bambu, um leme central e um porão dividido em compartimentos estanques. Frotas de juncos patrulhavam uma área que ia desde o Oceano Índico até ao actual Sri Lanka. E em 1414, no reinado do imperador Yongle, largou da costa chinesa uma formidável expedição de exploração sob a liderança do grande almirante Zheng He que se prolongaria por mais de vinte anos. A frota compunha-se de sessenta e dois juncos gigantescos, o maior com mais de 120 metros de comprimento e 45 metros de largura. Transportavam cerca de 150 toneladas e 30 000 passageiros para o que hoje se conhece como a Índia, o Sri Lanka e a Arábia Saudita, para além da costa leste africana, da Somália até à África do Sul. A primeira destas expedições foi desde logo um êxito e regressou à China em segurança e carregada de mercadorias e presentes tributários em 1415. Os chineses comercializavam regularmente com a Indonésia e com as Filipinas e a costa oriental africana e é possível que tivessem atingido o norte da Austrália.
No início da dinastia Han (206 a.C. - 220 d.C.) ou talvez anteriormente, apareceram na China uns objectos estranhos: as bacias de ressonância chinesas. São bacias de bronze, tecnologia na qual os chineses eram exímios, equipadas com duas alças e decoradas na superfície com motivos geométricos. No fundo da bacia vêem-se quatro dragões ou quatro peixes que lançam jactos de água pela boca em
direcção às paredes laterais quando as alças são friccionadas. As vibrações provocadas pela fricção produzem uma ondulação na superfície da água em redor da borda. De seguida, as gotas de água tornam-se rapidamente em fluxos contínuos semelhantes a minúsculos jactos de fonte. As gotas e os jactos de água crescem e diminuem a cada fricção das alças. Acredita-se que estas bacias de ressonância geram as frequências precisas e necessárias para criar ondas estacionárias (ondas que resultam da colisão de duas ondas iguais mas opostas) e que os jactos de água são formados por essas ondas.
Novecentos anos antes de Cristo, já os chineses obtinham gás natural de poços. Quinhentos anos depois, em Sichuan, começaram a utilizar petróleo e gás natural para cozinhar e iluminar as cidades. Canalizavam o gás em tubos de bambu e extraíam petróleo de fontes naturais. Em 100 a.C., obtinham gás natural e água salgada por perfuração no solo. O método de extracção recorria a cordas e canos de bambu. Para erguer e baixar brocas de ferro fundido, construíam grandes torres de bambu que podiam chegar aos cinquenta e cinco metros de altura. Um ou mais homens ficava de pé numa prancha de madeira, semelhante a um balancé, que impelia a broca no cano de bambu a erguer-se a cerca de um metro para depois cair, fazendo-a chocar contra a rocha, pulverizando-a. A única força usada para a perfuração era a mão de obra humana e avançava-se centímetro a centímetro, a perfuração de um poço profundo requerendo anos. No início do séc. III d.C., cavavam-se poços até 140 metros de profundidade. O gás natural não foi
VIA do MEIO 6.4.2023 quinta-feira 6
Junco chinês de dois mastros. Da obra Tiangong Kaiwu, de 1637, da autoria de Song Yingxing (1587-1666). Domínio público.
científico-tecnológicas dos chineses
segmentado requerem menos material e são mais fortes do que as pontes de arco semicircular. A ponte Zhaozhou, também conhecida como ponte Anji, na província de Hebei, foi construída por Li Chun e é a mais antiga e mais bem preservada ponte de pedra de arco segmentado do mundo. Tem cerca de cinquenta metros de comprimento e um vão central de 37 metros. Tem 7,23 metros de altura e nove metros de largura. Sobreviveu a pelo menos dez inundações, oito guerras e a inúmeros terremotos, alguns de grande magnitude. Mas a mais célebre ponte de arco segmentado da China é a Ponte de Marco Polo (Lugouqiao é o nome chinês), a oeste de Pequim, assim chamada no Ocidente porque Marco Polo a descreveu num estado de fascínio e declarou tratar-se da melhor ponte do mundo. A primeira ponte de arco segmentado da Europa é a famosa Ponte Vecchio, construída em Veneza em 1345.
explorado no Ocidente até ao séc. XX e, no séc. XIX, a iluminação provinha do gás de carvão. A perfuração profunda para os suprimentos actuais de petróleo e gás natural numa plataforma moderna é um desenvolvimento das técnicas chinesas.
A perfuração de gás natural desenvolveu-se essencialmente ao mesmo tempo do que a perfuração de salmoura. Os chineses desenvolveram métodos altamente sofisticados para poços sem pressão artesiana para a extracção da salmoura. Quando o perfurador caía abaixo do nível da salmoura, havia lugar a grandes suprimentos de gás natural, principalmente metano.
Os escritos da escola de Mo Zi do séc. IV a. C. atestam ainda que foi na China que teve lugar o primeiro uso conhecido de gás tóxico e lacrimogéneo para utilização na guerra e para dispersar revoltas campesinas.
No séc. I a. C., os chineses já utilizavam correias de transmissão, ou seja, correias que transferem a potência de uma roda para outra criando um movimento rotativo contínuo. Começaram por as aplicar na maquinaria relacionada com a manufactura da seda. As correias de transmissão foram cruciais para o desenvolvi -
mento da roda de fiar. Estiveram na origem das correntes de transmissão, inventadas na China em 976 d.C., a forma mais utilizada de transmissão de potência, que está presente nas bicicletas e nos equipamentos industriais, agrícolas e de movimentação de cargas. Chegaram à Itália a partir da China pela mão de viajantes italianos do séc. XIV, mas permaneceram raras na Europa até quatro ou cinco séculos depois.
Em 260 d.C., Ma Jun construiu a primeira máquina cibernética, a “carruagem que aponta o sul”, usando engrenagens diferenciais, uma combinação de rodas dentadas e volantes de inércia, semelhantes à do automóvel moderno. Não tinha qualquer relação com a bússola. Tratava-se de uma grande carruagem montada pela estátua de jade de um Imortal cujo braço esticado, independentemente da posição da carruagem, se erguia apontando em frente, sempre em direcção ao sul. Não se tratou da primeira tentativa para criar esta carruagem, mas foi a mais bem sucedida.
No séc. VII d.C., o grande arquitecto e engenheiro Li Chun inventou a ponte de arco segmentado, quando apenas as pontes de arco semicircular eram conhecidas. As pontes de arco
Em 219 a. C. o primeiro imperador chinês, Qin Shi Huangdi, ordenou ao engenheiro Shi Lu que construísse o Canal Mágico para melhorar o abastecimento dos exércitos imperiais enviados para o sul. O canal, ainda hoje em uso, media trinta e dois quilómetros de extensão e ligava o rio Xiang ao rio Li, que se juntava depois a outros rios, tonando possível a um navio navegar de Cantão ou de qualquer outro lugar no Mar da China até à região da actual Pequim e transpor-
tar bens em linha recta durante dois mil quilómetros. A capital de então, Chang’an (a actual Xi’an) estava ligada ao Rio Amarelo por um canal de 145 quilómetros de extensão. A construção do célebre Grande Canal, a mais longa e mais antiga hidrovia construída por humanos que ainda está em uso, com 965 quilómetros de comprimento e ligando o Yangtze ao Rio Amarelo, iniciou-se no ano de 70 d. C. e finalizou-se em 1327, contando vinte e quatro comportas e sessenta pontes. Nada de semelhante existiu na Europa até ao séc. XVII e os canais apresentavam extensões bastante mais modestas. Preocupado com os roubos que ocorriam quando os barcos eram rebocados sobre os vertedores, Qiao Weiyao inventou a eclusa para os canais em 983 d.C. As eclusas possibilitaram que o Grande Canal subisse para quarenta e dois metros acima do nível do mar. Na Europa, depois de serem adoptadas a partir da China, o primeiro registo de uma eclusa de canal ocorreu em 1373 em Vreeswijk, na Holanda, embora pudessem ter sido construídas cem anos antes.
(Continua no próximo número)
Bibliografia
• Bunch, Bryan e Hellemans, Alexander (2004) The History of Science and Technology New York: Houghton Mifflin Company
• Colectivo, Chine. Les Inventions qui ont changé le monde. Les Cahiers de Science et Vie, n. 113, Oct-Déc. 2009
• Needham, Joseph e Ronan, A. Colin (1980) Shorter Science and Civilisation in China, Cambridge University Press
• Ross, Frank Xavier (1982) Oracle Bones, Stars, and Wheelbarrows. Ancient Chinese Science and Technology, Boston: Houghton Mifflin Company
• Temple, Robert (2007) The Genius of China, London: Andre Deutsch Ltd
VIA do MEIO 6.4.2023 quinta-feira 7
III
PARTE
Ribeiro
Perfuração de gás. Da obra Tiangong Kaiwu, de 1637, da autoria de Song Yingxing (1587-1666). Domínio público.
A carruagem que aponta o sul. Retirado da pg 55 da obra de 1969, Wonders of Ancient Chinese Science, de Robert Silverberg.
VISITA MACRON DIZ QUE PEQUIM TEM UM “PAPEL IMPORTANTE” PARA A PAZ
Diálogos essenciais Equilibrar a balança
Malásia propõe criação de um fundo monetário asiático
OPresidente francês afirmou ontem em Pequim que os chineses têm um papel importante a assumir para a paz na Ucrânia pela sua relação estreita com a Rússia.
“A China, dentro da sua estreita relação com a Rússia, reafirmada nos últimos dias, pode desempenhar um papel importante” na resolução da guerra, declarou Emmanuel Macron durante um discurso à comunidade de franceses residentes na China.
O Presidente francês sublinhou ainda a oposição da China em relação à utilização de armas nucleares e a defesa dos valores das Nações Unidas pelo país. “A China mostrou o seu compromisso com a Carta das Nações Unidas, com a integridade territorial e a soberania das Nações”, acrescentou o Presidente francês.
O líder francês também destacou a proposta de paz apresentada pela China para o conflito na Ucrânia e deixou claro que, embora não a tenha aceitado na sua totalidade, “pelo menos mostra vontade de se comprometer em busca de uma resolução”.
Por isso, considerou essencial o diálogo com a China e defendeu que a União Europeia não pode “deixar a exclusividade” da comunicação com outros países, como a Rússia. Macron pediu que
não se reedite uma “lógica de blocos”, face às “vozes que se levantam” preocupadas com o futuro das relações entre o Ocidente e a China.
O líder francês também quis recordar os três anos “particularmente difíceis” de pandemia da covid-19 que os residentes da China tiveram de viver, mas mostrou-se “feliz” por regressar ao país
após a última viagem em novembro de 2019.
Agenda preenchida
O Presidente francês, Emmanuel Macron, chegou ontem a Pequim para uma visita de Estado de três dias à China, na sua primeira viagem ao país desde 2019.
O chefe de Estado francês terá um intenso dia de conversa-
O líder francês também destacou a proposta de paz apresentada pela China para o conflito na Ucrânia e deixou claro que, embora não a tenha aceitado na sua totalidade, “pelo menos mostra vontade de se comprometer em busca de uma resolução”
ções esta quinta-feira com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, e uma viagem a Cantão, no sul da China, na sexta-feira.
Macron vai abordar com Xi Jinping a guerra na Ucrânia e as relações económicas bilaterais, além da cooperação em outras áreas.
Em território chinês, Macron estará também acompanhado da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Os dois representantes europeus terão agendas próprias, mas irão ter uma reunião comum, prevista para quinta-feira, com o Presidente chinês.
Ursula von der Leyen tem prevista outra reunião com Xi Jinping, mas desta vez sozinha.
LÍNGUA TRADUÇÃO E SERVIÇOS LINGUÍSTICOS EMPREGAM SEIS MILHÕES
Onúmero total de pessoas empregadas no sector de tradução e serviços linguísticos na China em 2022 chegou a 6,01 milhões, 11,7 por cento acima do número do ano anterior, de acordo com a conferência anual da Associação de Tradutores da China (TAC, em inglês), iniciada na segunda-feira.
Na cerimónia de abertura, foram divulgados relatórios sobre o desenvolvimento do sector de tradução e serviços linguísticos, tanto em todo o
país como no mundo. Além disso, foi lançada uma cerimónia para premiar excelentes tradutores em diferentes áreas e um concurso nacional de capacidades em tradução, indica o Diário do Povo.
Tang Heng, vice-secretário-geral do Departamento de Comunicação do Comité Central do Partido Comunista da China, disse no evento que a comunidade de tradutores e intérpretes do país apoiou e impulsionou substancialmente o intercâmbio internacional
chinês em todas as frentes. Tang pediu esforços para melhorar a aprendizagem mútua entre diferentes civilizações, ampliar o canal de intercâmbios, enriquecer o conteúdo da cooperação e promover a construção de uma comunidade humana com um futuro compartilhado.
Du Zhanyuan, chefe da Administração de Publicações em Línguas Estrangeiras da China e da TAC, pediu esforços para se integrar activamente no intercâmbio internacional.
Oprimeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, disse na passada terça-feira que a China está aberta à sua iniciativa para formar um “Fundo Monetário Asiático”, visando contrariar o domínio global do dólar norte-americano e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Numa intervenção no parlamento malaio, Anwar revelou que “nos negócios entre a Malásia e outros países devem ser utilizadas as respectivas moedas nacionais”, segundo declarações recolhidas pela agência estatal Bernama.
O primeiro-ministro malaio defendeu a ideia da constituição de um fundo asiático, durante um encontro em Pequim, na sexta-feira passada, com o Presidente chinês, Xi Jinping, que “saudou” o início das conversações sobre esta iniciativa.
Anwar Ibrahim propôs também a constituição daquele fundo no Fórum Boao, a “Davos asiática”, que se realizou entre 28 e 31 de Março, na ilha de Hainan.
No fórum estiveram ainda o primeiro-ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, e a directora do FMI, Kristalina Georgieva.
“Não há razão para a Malásia continuar a depender do dólar”, afirmou o primeiro-ministro ma-
laio, acrescentando que o banco central da Malásia já está a trabalhar para permitir que a China e o seu país façam negócios usando as moedas da Malásia e da China.
Sítio certo, hora certa No cargo desde Novembro passado, Anwar, que também é ministro das Finanças, lembrou na terça-feira que já havia aventado a possibilidade de criar um fundo regional em 1990, quando assumiu pela primeira vez essa pasta, mas a ideia não foi adiante porque o “dólar ainda era visto como uma moeda forte”.
“Mas, agora, com a força das economias da China, Japão e outras, acho que devemos discutir isso, e também o uso da nossa moeda”, enfatizou.
O relatório do Fórum Boao 2023, uma das principais conferências económicas internacionais da China, estimou que o crescimento real do PIB (Produto Interno Bruto) da Ásia deve ser de 4,5 por cento, este ano. Aquele valor é um “destaque”, face à desaceleração da economia mundial, lê-se no relatório.
A China tem tentado internacionalizar a moeda chinesa, o yuan, desde 2009, visando reduzir a dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o papel da moeda norte-americana como a principal moeda de reserva do mundo.
8 china www.hojemacau.com.mo 6.4.2023 quinta-feira
O Presidente francês, Emmanuel Macron, chegou ontem à China para uma visita de três dias. A contribuição chinesa para o fim da guerra será um dos temas em destaque nas conversações com Xi Jinping
JASON LEE POOL/GETTY IMAGES
QUATRO músicos de Macau decidiram juntar-se num novo projecto depois de terem percebido que o fado, um género musical tão português, pouco se ouvia nas ruas de Macau, apesar da presença ainda significativa de uma comunidade lusa e de elementos culturais e arquitectónicos que denotam uma presença secular dos portugueses.
“Fado Oriente” nasceu, assim, com Rita Portela na voz e os músicos Paulo Pereira, Luís Bento e Ivan Pineda, que contam com a colaboração de Ari. O concerto de estreia aconteceu no último evento que marcou o 30.º aniversário da delegação da Fundação Oriente em Macau, mas, a partir daqui, espera-se uma maior divulgação do fado em Macau e na Ásia.
“Decidimos criar este projecto quando percebemos que não havia fado em Macau, no sentido em que era uma coisa que raramente se ouvia, a não ser quando vinham músicos e fadistas de fora”, contou Rita Portela ao HM. O “embrião” para este projecto surgiu com a preparação de um espectáculo integrante do cartaz do Festival da Lusofonia, no ano passado, mas que acabou por ser cancelado à última da hora por causa da pandemia.
Mas Rita Portela considera que este cancelamento acabou por se tornar num ponto de partida importante para criar algo com maior profundidade. “Achámos que seria importante continuar com este projecto porque existe uma maneira diferente de interpretar o fado quando se está fora de Portugal. No Festival da Lusofonia não tivemos a oportunidade de apresentar o espectáculo que tínhamos preparado e isso ajudou-nos a encontrar outra maneira de transformar este projecto numa coisa mais séria, com uma intenção própria. Tivemos uma óptima recepção [no evento na Casa Garden] e penso que as pessoas precisavam de ouvir Fado em Macau, o que é muito bom”, disse.
Parcerias em vista
No primeiro concerto como “Fado Oriente” o grupo apresentou “Desfado” da Ana Moura, um dos nomes contemporâneos mais sonantes. Mas pretende-se também apostar no fado mais clássico, de Amália Rodrigues, por exemplo, estabelecendo-se uma ponte com a música chinesa.
“Queremos incorporar a música local e temos mais projectos planeados para dar uma roupagem de fado a algumas músicas conhecidas em mandarim que as pessoas que são daqui, e que não falam português, conhecem. São músicas que falam de amor, mas também de saudade, de uma outra maneira, e é importante [tocá-las].”
Pontes musicais
Rita Portela, Luís Bento, Paulo Pereira e Ivan Pineda compõem o projecto musical “Fado Oriente”, que recentemente se apresentou ao público no aniversário da delegação da Fundação Oriente. O grupo não quer apenas divulgar um género musical tão português, mas também misturá-lo com músicas em chinês. Compor originais está também nos planos dos membros do grupo
“Quando montámos este projecto fizemo-lo porque havia o potencial de sair de Macau e dar concertos lá fora. Estamos com vontade de entrar nesse comboio.”
RITA PORTELA
Os membros do “Fado Oriente” querem também fazer parcerias com músicos locais que toquem instrumentos tradicionais chineses. “Gostaríamos de ser, efectivamente, uma banda de Fado que existe no Oriente e que representa o espírito multicultural de Macau, de interacção entre várias culturas.”
Além de incluir no repertório composições de outros músicos e fadistas, o grupo quer compor as suas próprias músicas. “Queremos fazer música original e vamos ver se corre bem. É bom que exista, além do nome, um espírito, e que este seja transmitido através das músicas originais que se criam. Estamos a trabalhar nisso.”
De pequenino...
Rita Portela começou a cantar fado em casa, nas festas de família, aos 12 anos, embora o jazz seja outra das suas paixões. “As pessoas conhecem-me mais a cantar esse género porque, quando comecei, foi com bandas de jazz e pop. Comecei no Grand Lapa e cantava com o François Girouard, que já deixou Macau, e fazíamos um pouco de tudo, incluído fado, mas era só com guitarra. Então as pessoas não sabiam que eu cantava fado, mas a verdade é que o faço desde que tenho 12 anos. Das primeiras cantoras que admirei foi, precisamente, a Amália Rodrigues. O fado foi um género musical que sempre cantei, mas o jazz é a minha outra paixão. Considero-me uma cantora que se interessa por todos os géneros musicais.”
Rita Portela, que vem de uma família de músicos amadores, espera poder levar o “Fado Oriente” para fora das pequenas fronteiras de Macau. “Quando montámos este projecto fizemo-lo porque havia o potencial de sair de Macau e dar concertos lá fora. Estamos com vontade de entrar nesse comboio e apostar numa coisa que possa vir a ser maior do que Macau, mas representando o território com um projecto que nasce aqui, com músicos internacionais, pessoas que vivem fora de Portugal há muito tempo, e que sentem essa saudade. Quisemos sempre chegar mais longe”, concluiu.
Andreia Sofia
Silva
eventos 9 www.hojemacau.com.mo quinta-feira 6.4.2023
“FADO ORIENTE” UM NOVO PROJECTO QUE QUER LEVAR O FADO ALÉM-FRONTEIRAS
Rita Portela “Queremos fazer música original e vamos ver se corre bem. É bom que exista, além do nome, um espírito, e que este seja transmitido através das músicas originais que se criam. Estamos a trabalhar nisso.”
www.hojemacau.com.mo
UM FILME HOJE
COPACABANA | MARC FITOUSSI (2010)
“Babou” é uma mulher desvairada e divertida que não consegue estabilidade na vida, mas que sonha um dia ir ao Brasil. Está sempre a fartar-se dos trabalhos ou a ser despedida, nunca tem dinheiro e começa a ter uma má relação com a filha, que não a aceita como ela é. Quando “Babou” se muda para de França para Bruxelas em busca de uma nova oportunidade de trabalho, tudo muda na sua vida. Um filme descomprometido e divertido, que nos mostra como há possibilidades de mudança em cada esquina e que devemos sempre manter-nos fiéis a nós mesmos.
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf. Tak Fok, R/C-B, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo
TEMPO POSSIBILIDADE DE TROVOADAS MIN 21 MAX 25 HUM 80-99% UV 2 (BAIXO) • EURO 8.84 BAHT 0.23 YUAN 1.17
www. hojemacau. com.mo
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 34 PROBLEMA 35 32 5612890734 8291437065 7039564812 4768352109 2950176348 1843905627 6307248591 3426781950 9574013286 0185629473 34 7350184962 8215369740 0964275831 4601738295 3749602158 5128940673 1896523407 2537491086 9072856314 6483017529 36 6189340257 5426718930 9034257618 7951836024 1762905843 3807124596 0245683179 4310569782 8593072461 2678491305 33 364812 971638 1076 839421 90 1679 5821 43 20631847 34 501849 2594 0271 46 95 3418 5263 18 07 2496 0261 830175 35 5423 395762 2305 0937 45 74 8109 932605 4859 053961 36 CINETEATRO CINEMA THE SUPER MARIO BROS. MOVIE SALA 1 THE SUPER MARIO BROS. MOVIE [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Aaron Horvath, Michael Jelenic 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 2 YOKAIPEDIA [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Takashi Yamazaki Com: Yui Aragaki, Ryunosuke Kamiki, Jyo Kairi 14.30, 19.15, 21.30 LONELY CASTLE IN THE MIRROR [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Keiichi Hara 16.45 SALA 3 DUNGEONS & DRAGONS: HONOR AMONG THIEVES [B] Um filme de: Jonathan Goldstein John Francis Daley Com: Chris Pine, Michelle Rodriguez, Regé-Jean Page 14.00, 16.30, 19.00, 21.30
SUDOKU
PUB. 10 [f]utilidades 6.4.2023
quinta-feira
Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo www.hojemacau.com.mo
Andreia Sofia Silva
AS FUTURAS GERAÇÕES PERANTE AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
É INTERESSANTE constatar que a juventude tem vindo a demonstrar grande preocupação pelo futuro, no que se refere à sustentabilidade do nosso planeta. Essa preocupação reflete-se nas iniciativas que os jovens têm vindo a adotar à escala mundial, em prole de um futuro sem combustíveis fósseis, os quais são considerados como a principal causa do aumento da concentração de gases de efeito de estufa (GEE) na atmosfera, e consequentemente das alterações climáticas. É incontestável a consequente degradação progressiva do meio-ambiente, a perda de ecossistemas e a diminuição drástica da biodiversidade, o que se reflete na sustentabilidade do nosso planeta e na deterioração das condições de vida. Das organizações e programas das Nações Unidas que mais ações têm levado a cabo para alterar esta situação, sobressaem a Organização Meteorológica Mundial (OMM)1 e o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), sob os auspícios dos quais foi criado o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, órgão que procede à monitorização das transformações a que o clima tem estado sujeito devido às atividades antropogénicas. A OMM é a agência especializada das Nações Unidas que tem como missão a cooperação internacional e a coordenação de atividades que envolvem o estado e o comportamento da atmosfera do nosso planeta, a sua interação com a terra e os oceanos, o tempo, o clima e os recursos hídricos.
Por outro lado, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, criado em 1972, tem como missão informar e aconselhar os Estados sobre como melhorar a qualidade de vida das suas populações e das gerações futuras, através da implementação de uma agenda ambiental que entra em consideração com o desenvolvimento sustentável.
Apesar dos esforços da OMM, do PNUA e de outras organizações e programas das Nações Unidas, que se têm refletido no estabelecimento do Protocolo de Quioto e na realização das 27 Conferências das Partes (Conferences of the Parties - COP), onde têm sido estabelecidos compromissos para reverter o aumento da concentração dos GEE, parece estar comprometido o almejado objetivo do Acordo de Paris, que consiste em que o aumento da temperatura média do ar2, à escala global, não ultrapasse os 2 ºC, de preferência inferior a 1,5 ºC, até ao fim do corrente século. Na realidade, esse aumento já ultrapassou 1,1 ºC em relação ao início da era industrial, há aproximadamente 150 anos. A passividade com que os governos dos países e as diferentes partes envolvidas têm vindo a atuar tem sido confrangedora, na medida em que não põem em prática, ou o fazem-no com grande lentidão, as recomendações acordadas nos vários fóruns onde estes assuntos são tratados.
A preocupação com as gerações futuras sobre a sustentabilidade da vida no nosso plane-
ta perante o que pode acontecer ao clima está expressa no tema que a OMM escolheu para celebrar este ano o Dia Meteorológico Mundial (DMM) de 2023: “O Futuro do Tempo, do Clima e da Água através das Gerações”3
Organização Internacional de Meteorologia4, que incumbiu um comité de redigir as regras e os estatutos de uma organização mais vasta, que veio a designar-se por Organização Meteorológica Mundial.
A OMM tem sede em Genebra e conta com 193 membros entre Estados (187) e Territórios Membros (6). Portugal aderiu à OMM em 1951 e, na sequência de diligências conjuntas entre o nosso país e a China, Macau foi aceite como Território Membro em 1996, ainda sob administração portuguesa.
O dia 23 de março, data do aniversário da entrada em vigor da Convenção da OMM, é normalmente celebrado pelos serviços meteorológicos nacionais, realizando palestras, visitas de estudo, artigos nos órgãos de comunicação social, emissão de selos comemorativos, etc. A decisão oficial da criação da OMM foi há 150 anos, em 1873, no Congresso Internacional de Meteorologia, que teve lugar em Viena, nessa altura capital do Império Austro-Húngaro. Neste encontro foi tomada a decisão de criar uma organização que tivesse como funções a coordenação das atividades relacionadas com o intercâmbio de informação meteorológica entre países, a
Atendendo a que o tempo, o clima e os recursos hídricos não conhecem fronteiras, é importante que as Nações Unidas, como instituição transnacional, e outras instituições internacionais, continuem a zelar pelas gerações futuras, e a reunir esforços para que estas tenham a possibilidade herdar um planeta mais sustentável
Segundo a Convenção da OMM - Artigo 3(d) - os territórios, desde que tenham serviços meteorológicos próprios, podem tornar-se Territórios Membros, passando a ter os mesmos direitos que os Estados em algumas questões relacionadas com o funcionamento da organização. É o caso da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), que possui os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) desde 1952, e da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK), cujo serviço meteorológico (Hong Kong Observatory), foi criado em 1883. Os respetivos delegados podem votar para a eleição do Secretário-Geral em pé de igualdade com os Estados Membros, o que faz com que a China tenha direito a três votos nessa eleição. Os votos, em princípio, são independentes, mas ninguém acreditaria que os Territórios Membros votariam de modo divergente ao da potência administrante. Perante esta situação, no 14.º Congresso da OMM (Genebra, 5–24 de maio, 2003), o delegado do México manifestou a sua estranheza por esse facto, tendo o Secretariado esclarecido que a China e o Reino Unido haviam submetido o pedido de admissão de Hong Kong, China, no 12.º Congresso (1995), e que analogamente, a China e Portugal submeteram um pedido semelhante ao 13.º Congresso (1999), em relação a Macau, China. Em ambos os casos, o Congresso aceitou os pedidos, conforme o estabelecido na Convenção da OMM.
Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) de Macau desempenharam um papel importante na admissão de Macau como Território Membro da OMM, em 1996
Esta situação, no entanto, não é caso único, na medida em que outros países que administram Territórios Membros, como a França, os Países Baixos e o Reino Unido, também têm direito a mais do que um voto. Tal deve-se ao facto de administrarem, respetivamente, a Polinésia Francesa e a Nova Caledónia, Curaçau e São Martinho, e Territórios Britânicos das Caraíbas. Portugal esteve em situação análoga no XIII congresso da OMM (4-26 maio 1999), devido ao facto de Macau ainda estar sob administração portuguesa. Portugal e os restantes países de língua portuguesa têm-se batido, nos congressos da OMM, pela adoção do português como língua oficial desta organização. O argumento
defendido pelos países lusófonos baseia-se na realidade de o português ser uma das línguas mais faladas no mundo. Com cerca de 280 milhões de falantes, mais do que os de língua russa, é a quinta língua à escala mundial e a mais falada no hemisfério sul. Acontece, porém, que essa medida implicaria um forte acréscimo nas despesas com a tradução de documentos, e no recurso a intérpretes durante as sessões. Segundo aqueles que se opõem às pretensões dos países lusófonos, o facto de haver seis línguas oficiais (árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo) já implica um grande esforço financeiro por parte da OMM. Conseguiu-se, no entanto, que o português alcançasse o estatuto de língua de trabalho, com recurso a um fundo para o qual contribuem alguns membros, nomeadamente Angola, Brasil, Portugal e Região Administrativa Especial de Macau.
Os temas selecionados para as celebrações anuais do DMM refletem frequentemente as preocupações relacionadas com a evolução do clima. Por exemplo, nos últimos dez anos, o conceito “clima” é referido seis vezes: “The Future of Weather, Climate and Water across Generations, 2023”; “The Ocean, Our Climate and Weather, 2021”; “Climate and Water, 2020”; “Weather-ready, climate-smart, 2018”; “Climate knowledge for Climate Action, 2015”; “Weather and Climate: Engaging youth, 2014”.
Perante a realidade do facto de se constatar um aumento da frequência de fenómenos meteorológicos extremos, da subida do nível do mar em consequência do degelo de glaciares e calotas polares, dos oceanos estarem mais quentes e com maior grau de acidez, é natural a preocupação sobre as condições de vida das novas gerações. Neste contexto, a OMM está a trabalhar no sentido de desenvolver uma infraestrutura à escala mundial para monitorização da concentração dos GEE, com o intuito de apoiar a implementação do Acordo de Paris.
Atendendo a que o tempo, o clima e os recursos hídricos não conhecem fronteiras, é importante que as Nações Unidas, como instituição transnacional, e outras instituições internacionais, continuem a zelar pelas gerações futuras, e a reunir esforços para que estas tenham a possibilidade herdar um planeta mais sustentável. Todos nós, a título individual e coletivo, somos também responsáveis pela concretização desse objetivo.
1 World Meteorological Organization - WMO
2 Note-se que se refere à temperatura do ar medida por termómetros a uma altura entre 1,5 e 2,0 m, à sombra, dentro de abrigos meteorológicos
3 The Future of Weather, Climate and Water across Generations
4 International Meteorological Organization – IMO
vozes 11 quinta-feira 6.4.2023 www.hojemacau.com.mo
*Meteorologista
a propósito de Olavo Rasquinho*
TIMOR-LESTE PORTUGUÊS PASSA A SER LÍNGUA DE INSTRUÇÃO E ENSINO
OGoverno de Timor-Leste aprovou ontem uma proposta do Ministério da Educação que define o português como língua de instrução e ensino em todo o sistema educativo, deixando o tétum como língua de apoio.
“A presente proposta de lei procede a um conjunto de alterações necessárias para adequar a lei de bases do sector educacional do país às actuais exigências e desafios”, lê-se no comunicado emitido no final da reunião do Conselho de Ministros, no qual se dá conta da “alteração à norma referente às línguas de instrução e ensino, definindo a língua portuguesa como língua de instrução e ensino do sistema educativo timorense, com a língua tétum e demais línguas nacionais a assumirem um papel de apoio”.
Além disso, aponta-se ainda na parte do texto que dá conta das alterações à lei de bases da Educação, “são também alteradas diversas normas relativas aos níveis de ensino pré-escolar, básico e secundário de modo a reconhecer a importância da aprendizagem da língua portuguesa no sector educativo nacional”.
O Governo argumenta que o diploma vai também “eliminar injustiças na atribuição de graus e diplomas no ensino superior técnico”, pelo que “passará a ser possível aos estabelecimentos de ensino superior técnico atribuírem graus e diplomas como o bacharelato, a licenciatura e o mestrado”.
AFEGANISTÃO MULHERES PROIBIDAS DE TRABALHAR PARA A ONU
Violações contínuas
IRÃO MULHERES HOSPITALIZADAS DEPOIS DE ENVENENAMENTO EM ESCOLA
UMenvenenamento num instituto para mulheres no Irão levou na terça-feira à hospitalização de 20 estudantes, neste que é o segundo caso de envenenamento desde o recomeço do ano lectivo na segunda-feira, divulgaram os meios de comunicação estatais iranianos.
O envenenamento aconteceu no instituto da cidade de Tabriz, no noroeste do país, onde as alunas mostraram sinais de dificuldade respiratória, segundo noticiaram os meios de comunicação estatais.
A agência oficial de notícias do país, IRNA, divulgou que as vítimas receberam o tratamento necessário e que já tiveram alta hospitalar.
Índia Sete turistas mortos em avalanche
Pelo menos sete turistas morreram e 11 ficaram feridos na terça-feira quando foram atingidos por uma avalanche nos Himalaias, no nordeste da Índia, indicaram as autoridades. O porta-voz do exército indiano, o tenente-coronel Mahendra Rawat, disse que as equipas de busca e salvamento resgataram pelo menos 23 turistas soterrados na neve e transportaram-nos para o hospital, alguns para observação, os outros para tratamento. A Organização de Estradas Fronteiriças da Índia precisou que o grupo de turistas foi atingido pela avalanche perto da passagem de montanha de Nathu La, no Estado de Sikkim. Um vídeo divulgado pelo exército indiano mostra os elementos da equipa de socorro a escavar na neve para tentar encontrar um número indeterminado de pessoas desaparecidas, arrastadas encosta abaixo pela avalanche.
OS talibãs emitiram uma ordem que proíbe as mulheres afegãs empregadas pela ONU, até agora isentas destas restrições, de trabalharem em qualquer lugar no Afeganistão, adiantou o porta-voz da organização na terça-feira, denunciando uma decisão “inaceitável e francamente inconcebível”.
“Fomos informados por diferentes canais que a proibição se aplica a todo o país”, realçou Stéphane Dujarric, citado pela agência France-Presse (AFP).
Inicialmente, a missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) tinha anunciado que os talibãs tinham proibido as suas funcionárias de trabalhar na província oriental de Nangarhar.
Dujarric referiu que a decisão é para todo o território e que a ONU ainda está à procura de mais informações.
Esta quarta-feira, estão marcadas reuniões em Cabul com os “governantes de facto” do país para tentar esclarecer os detalhes, enquanto se avalia o seu possível impacto, acrescentou.
“Para o secretário-geral [António Guterres] tal proibição é inaceitável e francamente inconcebível”, apontou, denunciando a vontade de “minar as capacidades das organizações humanitárias para ajudar quem mais precisa”.
O porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, deixou claro que, sem as mulheres, as Nações Unidas não poderão continuar a ajudar o país e a população como tem feito.
“As mulheres do nosso quadro são essenciais para que as Nações Unidas prestem uma ajuda vital”, sublinhou o porta-voz durante a sua conferência de imprensa diária. Dujarric vincou que este veto não só viola “os direitos fundamentais das mulheres” como também dificulta a continuidade do trabalho da organização no terreno.
Entre outras coisas, recordou que “dada a sociedade e a cultura” no Afeganistão “são necessárias mulheres para ajudar as mulheres”, que estão entre as mais ameaçadas pela enorme crise humanitária no
país, aludindo ao facto de que em muitas regiões não é bem visto que os homens atendam as mulheres, ou vice-versa.
De acordo com Dujarric, a proibição é “inaceitável” e contribui para uma “tendência preocupante de minar a capacidade das organizações de ajuda humanitária de alcançar os mais necessitados”.
Operações congeladas
Segundo dados da ONU, entre 30 e 40 por cento do pessoal das organizações humanitárias que entregam, gerem, controlam ou avaliam a necessidade de assistência são mulheres.
Dujarric acrescentou que a organização tem actualmente cerca de 4.000 pessoas a trabalhar no Afeganistão, das quais cerca de 3.300 são nativas do país, embora não tenha revelado quantas são mulheres.
Os talibãs impedem as mulheres de participarem na vida pública do país tendo muitas afegãs perdido os empregos no sector público. Desde Novembro do ano passado as mulheres afegãs foram também proibidas de frequentarem parques, ginásios e banhos públicos.
As mulheres afegãs não são autorizadas a viajar sem serem acompanhadas de um parente do sexo masculino e devem estar sempre cobertas quando saem de casa.
Este é o segundo caso de envenenamento depois das interrupções para a celebração do feriado de Ano Novo persa, segundo deu nota o jornal Etemad.
O primeiro caso ocorreu numa escola secundária na cidade de Naqdeh-ye, no Curdistão, onde os alunos descreveram sintomas como tonturas, náuseas e dor de cabeça.
Dados fornecidos pelo parlamentar Mohamad-Hassan Asafari, membro de uma comissão criada para investigar os envenenamentos, indicam que cerca de 5.000 alunas já foram vítimas de uma onda de intoxicações por gás que começou em Novembro de 2022.
Hassan Asafari afirmou que o Governo iraniano prendeu, até ao momento, mais de 100 pessoas pela suposta responsabilidade pelos envenenamentos, atribuídos a inimigos do país. Os envenenamentos aconteceram depois de protestos feministas, nos quais alunas de vários institutos do país retiraram os véus e fizeram gestos de desprezo em frente a retratos do fundador da República Islâmica, o aiatolá Ruhollah Khomeini.
MACAO 2023 PRESENTED BY GALAXY ENTERTAINMENT GROUP 17 - 23. 4. 2023 TAP SEAC MULTISPORT PAVILION WTT澳門冠軍賽2023 由銀河娛樂集團呈獻 17 - 23. 4. 2023 塔石體育館 TORNEIO DE CAMPEÕES WTT MACAU 2023 APRESENTADO PELO GRUPO GALAXY ENTERTAINMENT 17 - 23. 4. 2023 PAVILHÃO POLIDESPORTIVO TAP SEAC PUB.
quinta-feira 6.4.2023 “O medo nunca está no perigo,
mas
em nós.” Stendhal PALAVRA DO DIA
De acordo com Dujarric, a proibição é “inaceitável” e contribui para uma “tendência preocupante de minar a capacidade das organizações de ajuda humanitária de alcançar os mais necessitados”
MEHRI JAMSHIDI