Hoje Macau 6 MAI 2016 #3566

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

SEXTA-FEIRA 6 DE MAIO DE 2016 • ANO XV • Nº 3566 PUB

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

GCS

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MAIS 25 NOVOS AUTOCARROS “INIMIGOS” DO AMBIENTE

MARCHA ATRAS

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Fim da linha para a lei PÁGINA 5

h Na mira

´

A Transmac comprou 25 novos autocarros e nenhum deles é “amigo” do ambiente. A empresa afirma que não existem infraestruturas na RAEM que

dos ingleses Contraste simultâneo JOSÉ SIMÕES MORAIS

ANABELA CANAS

permitam o gás ou a electricidade. Por um motivo ou por outro, todos isentos de culpas, as crianças continuarão a respirar poluição severa nas ruas.

PÁGINA 9 SOFIA MOTA

JORNAIS

‘ABELHA DA CHINA’ NÃO FOI O PRIMEIRO? PÁGINA 14

OPINIÃO

‘‘

Feijão-mungo

AMY SIO | ENGENHEIRA DO AMBIENTE

DSPA nem sabe qual é a sua missão ENTREVISTA

PAUL CHAN WAI CHI

O Brasil e o futuro

JORGE RODRIGUES SIMÃO

PEDOFILIA

Português preso na Taipa ÚLTIMA


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AMY SIO

ENTREVISTA

FUNDADORA DO GRUPO “OUR LAND, OUR PLAN”

Engenheira do Ambiente, Amy Sio acredita que a DSPA ignora a existência destes profissionais, referindo que “quando o líder não tem conceitos, os subordinados não sabem fazer políticas”. A fundadora do grupo online “Our Land, Our Plan” diz que Coloane tem de ser preservado, para que Macau não fique poluída como Pequim, mas também diz que a intenção é promover o desenvolvimento sustentável

SOFIA MOTA

“Se o pulmão da cidade for destruído, Macau não será sítio para viver”

Porquê a criação do grupo “Our Land, Our Plan”? Em Agosto do ano passado, depois da terceira ronda de consulta pública sobre os novos aterros, pensámos sobre quais seriam as conclusões. Eu e vários amigos pensamos que poderíamos fazer mais, recolhendo as opiniões dos jovens e entregando uma carta ao Governo. Também queríamos que mais residentes pudessem

dar as suas opiniões e fizemos uma recolha online. Percebemos que, em geral, a população não soube que foi feita uma consulta pública, nem percebeu a importância dos novos aterros. Sentimos que não foi uma boa consulta pública. Portanto a criação do grupo não visava apenas a preservação de Coloane.

“Espero que a sociedade mude e que se possa apoiar mais as pessoas a falarem a verdade e a dizerem o que pensam”

Não, o nosso objectivo é em relação a terrenos e ao planeamento urbano. Na realidade muitos terrenos em Macau têm sido utilizados sem qualquer tipo de planeamento. Pode-se construir hoje e destruir amanhã. Por exemplo, as obras do metro ligeiro ou do Terminal Marítimo do Pac On são coisas inconcebíveis. Pensamos em como podemos tornar a cidade melhor,


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para que não se desenvolva sem ordem. Avançamos com o grupo porque queremos levar os residentes a compreender melhor o que está a acontecer. Como foi decidida a composição do grupo? São membros de diferentes áreas. Temos médicos, enfermeiros, psicólogos, designers. Estudei Engenharia Ambiental mas trabalho na área das convenções e exposições e também com indústrias criativas. O background não é muito profissional mas é abrangente. O “Our Land, Our Plan” fez a sua primeira manifestação no último 1 de Maio. Conseguiu ver pessoas diferentes no protesto, ainda que o número de participantes tenha diminuído? Sim, notei que havia pessoas diferentes. Muitos amigos meus também participaram pela primeira vez e muitos deles são funcionários públicos e profissionais que até então não davam muita atenção aos assuntos sociais, mas participaram de forma activa. Esperamos que mais jovens possam apresentar as suas opiniões junto do Governo. Espero que a sociedade mude e que se possa apoiar mais as pessoas a falarem a verdade e a dizerem o que pensam. Compreendo que isso não é fácil, mas acredito que vai haver cada vez mais residentes a avançar neste sentido.

“Consegui sentir que o Governo faz consultas públicas para nada”

“GOVERNO GASTA DINHEIRO DE FORMA ERRADA COM A DSPA”

Mas actualmente há poucos participantes nas consultas públicas. É verdade, mas o problema é que o Governo não se importa, ou não responde às perguntas. Já passei por essa experiência e é irritante. Consegui sentir que o Governo faz consultas públicas para nada.

Macau possui muitos engenheiros do ambiente? Conseguem trabalhar nesta área? A Engenharia Ambiental visa sobretudo resolver problemas com os resíduos e com a poluição. Penso que todos os anos há cinco novos licenciados. Temos profissionais mas são ignorados, incluindo o Governo, que gasta dinheiro de forma errada com a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). Muitos profissionais não conseguem desenvolver as suas capacidades e ajudar à criação de um planeamento para Macau, apenas podem concluir um trabalho a seguir ao outro.

Acredita que é difícil promover a protecção ambiental em Macau? Não é difícil. Já fomos mais de dez vezes para a rua recolher assinaturas para a petição que pede a protecção de Coloane e descobri que muitos dos residentes desconhecem o que se passa. Em cem pessoas talvez três saibam. Mas quando falamos com eles, compreenderam o problema. Quero esclarecer aqui que o “Our Land, Our Plan” não é um grupo de preservação ambiental, queremos sim promover o desenvolvimento sustentável. Como assim? Enquanto engenheira do ambiente sei que temos a parte da preservação e a parte do desenvolvimento sustentável. Pequim é o melhor exemplo: há dez anos não era assim e actualmente é uma cidade que não serve para viver, já que as pessoas têm de comprar oxigénio para respirar. E isso porque não foi desenvolvida de forma sustentável. Temos um conceito simples: podemos lidar com um problema de poluição com dez dólares americanos, mas se ele não for resolvido já e se se mantiver até um certo nível, nem com cem dólares americanos resolvemos 10% desse problema. A Engenharia Ambiental serve para poupar dinheiro, mas muitos não entendem isso e pensam que estamos a impedir o desenvolvimento de um lugar. Se Pequim tivesse um plano a capital do país podia ser muito diferente. É verdade que o meio ambiente pode ser recuperado, mas quando se ultrapassa um certo nível, já não é possível, mesmo que se gaste muito dinheiro. Portanto para termos um desenvolvimento sustentável há que proteger Coloane. Estamos muito preocupados com Coloane porque não está em causa apenas a preservação das árvores mas toda a linha básica de Macau. Se não preservarmos o único recurso verde que temos prevejo que Macau possa ser a próxima Pequim e isso não está muito longe de acontecer. Daqui a dez anos poderemos já estar arrependidos, já nesta geração. Se o pulmão da cidade for des-

A DSPA não tem feito um bom trabalho por falta de recursos humanos, políticas ou porque existe um problema na Administração? Todos os titulares de cargos no Governo, para além dos que trabalham para a DSPA, deviam estudar novamente. Como não têm conceitos quando fazem políticas só podem ir curando onde há dor, mas deixam tudo piorar até que um dia aparece um cancro. Falando da DSPA, há uma falta de uma série de indicadores científicos para que possamos ter um desenvolvimento sustentável e uma capacidade de recuperação do meio ambiente, para que o ambiente e os seres humanos sobrevivam ao mesmo tempo. Temos um bom Produto Interno Bruto (PIB) e ainda temos condições de utilização dos espaços verdes. Raymond Tam foi nomeado director da DSPA sem ter experiência nesta

área. Temos um problema de termos um líder que não compreende e os subordinados que não sabem como fazer? É exactamente isso. A DSPA considera-se um organismo de consulta mas não considera que tem responsabilidades, nem sabe qual é a sua missão. É normal que os residentes não compreendam isso, mas é inaceitável se o Governo não sabe fazer. Imagino que o presidente da China, Xi Jinping, esteja arrependido com os resultados em Pequim. Se ele tivesse outra oportunidade acredito que não tinha optado por aquele caminho, porque houve demasiada destruição. Espero que não fiquemos arrependidos daqui a dez anos. Qual a posição do “Our Land, Our Plan” em relação ao Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM? O documento tem escrito o que se devia fazer e que ainda não foi feito. Esperamos que o Executivo tenha um conceito de desenvolvimento sustentável. Lamento isso, bem como o facto do plano não ter notas positivas. Quais os planos que o grupo tem para o futuro? Vamos esperar para ver como é que o Governo vai lidar com o projecto do Alto de Coloane e esperamos fazer um “referendo civil” com outros grupos e uma manifestação. Ainda não temos uma data definida para fazer isso porque queremos pesquisar um pouco mais. F.F. (revisto por A.S.S.)

SOFIA MOTA

“Pequim, há dez anos, não era assim e actualmente é uma cidade que não serve para viver. E isso porque não foi desenvolvida de forma sustentável. (...) Se não preservarmos o único recurso verde que temos, Macau pode ser a próxima Pequim e isso não está muito longe de acontecer”

“Todos os titulares de cargos no Governo, para além dos que trabalham para a DSPA, deviam estudar novamente”

truído, Macau não será um sítio para viver e aí irei emigrar, isso é certo. O “Our Land, Our Plan” visitou a zona do Alto de Coloane (onde vai ser construído um edifício de cem metros)? É uma zona que pode ser desenvolvida? Fizemos a visita. Olhando para todo o território, do que é que Macau precisa? É óbvio que não temos falta de habitações de luxo, porque a taxa de desocupação de casas é elevada. Coloane é o único espaço que pode servir para construir verdadeiramente o Centro Mundial de Turismo e Lazer, tudo depende dos actuais recursos que existam para se fazer um plano de desenvolvimento sustentável e dou como exemplo a construção de um mangal. Desenvolver não é destruir e as áreas do lazer e do turismo são o que os turistas e os residentes procuram. Porquê fazer a coisa contrária e destruir o único espaço de lazer? Estou mesmo preocupada.

“‘Our Land, Our Plan’ não é um grupo de preservação ambiental, queremos sim promover o desenvolvimento sustentável” Estão em causa interesses entre o Governo e o empresário? Pergunto isso tendo em conta a decisão do Governo e da construtora de não publicarem o relatório de impacto ambiental, aprovado pelos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). É preciso pensar, em primeiro lugar, se é adequado ou necessário desenvolver. Obviamente que não é apropriado nem necessário desenvolver a montanha. Portanto, um relatório de impacto ambiental só deveria ser feito caso houvesse uma necessidade absoluta de desenvolvimento, para responder a um grande interesse público. Mas este projecto não deveria ter sido aprovado logo à partida. Preocupamo-nos com este relatório porque a população deve ter conhecimento disso e não vejo qualquer problema na sua publicação. Mas com a actual situação, podemos imaginar os problemas... Flora Fong (revisto por A.S.S.) flora.fong@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 6.5.2016

A proposta de Lei para o Ensino Superior define a realização de estágios, dependendo da opção curricular de cada curso, mas nada diz relativamente a remunerações ou duração. O Governo explica que depende do plano curricular, mas uma coisa é certa: estudantes não residentes não podem receber pelo trabalho

A

análise à proposta de Lei para o Ensino Superior continua a ferro e fogo. Desta vez, na tarde de ontem, a 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) debateu a participação dos alunos em actividades académicas, a realização dos estágios e a matrícula e inscrição nos cursos. Mas, apesar do debate há perguntas que continuam sem respostas. “Não falámos sobre isso, não questionamos o Governo sobre isso”, começou por explicar Chan Chak Mo, deputado e presidente da Comissão, quando questionado sobre a duração e remuneração dos estágios.

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S deputados asseguram não ter sido pressionados pelo Governo para mudar de ideias face à criminalização das pensões ilegais. A questão está em obstáculos que surgiriam se a actividade fosse crime. Tal como o HM avançou a semana passada, apesar de, durante anos, terem insistido na necessidade de criminalizar as pensões, um parecer da Comissão para os Assuntos da Administração Pública recente dava conta que os deputados vão deixar de insistir nesta matéria. Da Comissão, apenas um discorda da mudança. “Não houve nenhuma pressão do Governo. Este problema influencia negativamente a imagem turística, mas o Governo tem alguns pontos a considerar: como

Ensino Superior ESTÁGIOS VÃO EXISTIR, MAS REMUNERAÇÃO SÓ PARA RESIDENTES

Trabalhar para aquecer O artigo referente aos estágios apenas define que as entidades de ensino superior devem assegurar a realização destes “em condições de higiene e segurança”. Não podem ainda ser cobrados, aos estudantes, quaisquer despesas adicionais pela realização do estágio.

salário e não tem a qualidade de trabalhador, então é uma violação à lei”, esclareceu Chan Chak Mo, acrescentando que “um trabalhador de fora, sem cota e sem [Blue Card] que está a receber um salário é um trabalhador ilegal”. Relativamente à duração dos estágios, o Governo explicou que tudo dependerá dos planos curriculares de cada curso. Planos estes, explica Sou Chio Fai, que terão de ser aprovados “por agências especialistas do exterior”. “Por acaso não temos o curso de Medicina, mas esse curso tem mais horas de estágio do que outro curso, como por exemplo, Comunicação Social”, explicou.

PAGAR OU NÃO PAGAR

Questionado sobre as possíveis remunerações, Chan Chak Mo respondeu um “não sei”. O presidente da Comissão indicou que esses assuntos não foram discutidos durante a reunião, sendo que vai ser seguida a Lei Laboral. Da lado do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), a situação é também afastada. “Se um estagiário pode ser pago ou não, não é matéria a ser tratada neste projecto de lei”, explicou Sou Chio Fai, coordenador do organismo. “Tudo isto depende. Se for um aluno local, de Macau, [a remuneração] do estágio dependerá da vontade da empresa (...) Se o aluno não for local, então quer dizer, todas as pessoas têm de cumprir a lei”, adiantou. A Lei Laboral é clara: além de não contemplar a questão dos estágios, define que qualquer trabalhador tem de ser remunerado, desde que esteja legal no território. Os estudantes de fora têm permissão de permanência para estudar cá, mas não para trabalhar. “Quando [alguém] está a trabalhar aqui em Macau e recebe um

DESISTÊNCIAS FINAIS

A Comissão discutiu ainda o artigo que se refere à matrícula e inscrição nas instituições de ensino superior. Quando questionado sobre a possibilidade de congelamento de matrícula, Chan Chak Mo afastou a hipótese. “Se interromper o curso por um longo período de tempo, quando quiser voltar os seus conhecimentos já não estão actualizados, sem conseguir acompanhar a evolução do tempo”, argumentou, defendendo a tese proposta pela lei, de suspensão definitiva da matrícula. Filipa Araújo

Filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Melhor isto que nada

Criminalização de pensões ilegais impediria sanções e traria obstáculos

[a maioria] dos criminosos não é de Macau, podem ser passadas multas na mesma, só que eles já deixaram o território e não voltam cá, pelo que a punição é inútil”, começa por dizer ao HM Zheng Anting, acrescentando que criminalizar esta actividade não vai resolver o problema. Ella Lei concorda. A deputada considera mesmo que criminalizar vai ser “ainda menos eficaz” do que manter a medidas administrativas – se for para criminalizar, o Governo tem de parar as sanções actualmente aplicadas aos proprietários de pensões ilegais pela Direc-

ção dos Serviços de Turismo (DST). O crime leva ao envolvimento do tribunal e, apesar de admitir que a taxa de pagamento tem sido “muito baixa”, Lei frisa que o Executivo tem “mesmo de considerar esta questão”.

COMO ESTÁ, ESTÁ BEM

Wong Kit Cheng não quis comentar, tendo referido ao HM que tudo o que está no relatório serviu de base à mudança de ideia dos deputados. Entre vários pontos, o relatório frisa que “a Comissão, depois de ouvir os esclarecimentos do Governo, deixou de insistir na criminali-

zação, passando a exortar os serviços envolvidos a focarem-se mais nos resultados da resolução de problemas no pressuposto de se manterem as medidas administrativas vigentes”. Deputados como Zheng Anting não estavam disponíveis para falar e Angela Leong, que recentemente sugeriu a atribuição de prémios a quem denunciasse estas pensões ilegais, não se encontrava Macau. Ao HM, só José Pereira Coutinho, também da Comissão, disse discordar da mudança. O deputado não assinou o parecer, porque está em Portugal.

“É de facto um retrocesso ao processo de combate às pensões ilegais e a criminalização era a melhor solução face aos efeitos pouco dissuasórios das sanções administrativas”, frisou ao HM. Um dos problemas apontados por Pereira Coutinho é ser a DST a punir os infractores, algo que iria mudar com a criminalização. “Na última reunião em que participei ficou combinado com o Governo que a fiscalização e a instrução de inquéritos contra os proprietários das pensões ilegais seria da competência da PJ, ao invés de ser a DST, que não tem surtido quaisquer efeitos. Além de que os inspectores da DST não estão vocacionados para este [trabalho].” Zheng Anting descarta que haja problemas em man-

ter a DST porque, quando o organismo vai ao local, “a PSP participa nestas acções de combate”. Ella Lei também diz que existirem medidas administrativas como o corte de electricidade ou água e as sanções é melhor do que não existir nada, o que iria acontecer se o caso tivesse de ir para tribunal. Zheng Anting acrescenta: se o Governo criminalizasse esta actividade e não conseguisse levar os criminosos a tribunal, “poderia passar por dificuldades na execução da lei”. No relatório, contudo, apontava-se a sobrecarga dos actuais recursos humanos e logísticos da PSP como justificação para mudar de opinião. Joana Freitas (com Tomás Chio)

Joana.freitas@hojemacau.com.mo


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POLÍTICA

GCS

Escapar às finanças

Deputado pede mais fiscalização em casas arrendadas e menos pagamento

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AL VIOLÊNCIA DOMÉSTICA É VOTADA ESTE MÊS NA ESPECIALIDADE

A longa marcha da lei Depois de um longo caminho, a proposta de lei sobre a violência doméstica vai ser votada este mês. No mesmo dia, para além das alterações ao Estatuto dos Notários, o hemiciclo ouve a argumentação para três pedidos de debate táxis, Coloane e custos das obras públicas são as personagens principais

A

proposta de Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica vai ser discutida e votada no próximo dia 20. Depois de nove anos de trabalhos, pareceres, discussões e opiniões, a proposta chega ao patamar final de discussão e votação na especialidade. Definida como crime público, a proposta de lei tem trazido muita polémica à praça pública e vai, finalmente, ser analisada na fase final. Se aprovada, a lei deveria entrar em vigor 120 dias após

a sua publicação em Boletim Oficial, que normalmente acontece na semana seguinte à aprovação no hemiciclo. No entanto, a necessidade de formar mais polícias do que o inicialmente previsto poderá levar o Governo a alargar o prazo para a entrada em vigor, mas recentemente o Governo assegurou que deverá entrar em vigor no último trimestre do ano. No mesmo dia é ainda discutida e votada na generalidade a proposta de alteração do Estatuto dos Notários Privados, que esta semana deu entrada no

hemiciclo. As principais alterações previstas são a mudança das regras de acesso às funções de notário privado e o regime de concurso. Relativamente à elegibilidade, a proposta de lei do Governo propõe que apenas se possam candidatar ao curso de formação para notários privados advogados com mais de cinco anos consecutivos de exercício de funções de advocacia na RAEM. Está ainda sobre a mesa a proposta de que só se possam candidatar às funções de notário privado os advogados que não tenham sido

EDIFÍCIO DE DOENÇAS EM DEBATE DIA 17

O

pedido de debate relativamente à construção do Edifício de Doenças Infecto contagiosas será discutido já na próximo dia 17 deste mês, em sessão plenária da Assembleia Legislativa. Os pedidos de debate foram apresentados em três vezes, pelos deputados Au Kam San, Song Pek Kei e Si Ka Lon e Leong Veng Chai. O debate está subordinado à localização proposta para a construção do edifício. Para os deputados este deve ser construído apenas junto ao hospital das Ilhas a não numa zona habi-

tacional onde a densidade populacional é elevada. “O Governo deve alterar o projecto de construção do edifício de doenças infecto-contagiosas, mudando a sua localização. Deve passá-lo do local original, ao lado do hospital Conde de São Januário, para as proximidades do Hospital das Ilhas, por forma a corresponder aos desejos dos residentes, a diminuir o impacto para a população de Macau e a minimizar os riscos de propagação caso ocorra algum surto de doenças infecciosas”, argumentou Leong Veng Chai.

suspensos preventivamente nem condenados em processo disciplinar pela Associação dos Advogados de Macau, em pena superior à de censura. O hemiciclo irá discutir e votar, no mesmo dia, três propostas de debate. Depois de três pedidos de debate sobre a edificação do centro de doenças contagiosas terem sido aceites (ver caixa), os deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting pedem para discutir a revisão ao Regulamento dos Táxis, o deputado Au Kam San quer colocar Coloane e a sua preservação no centro de outro debate e, por fim, o pró-democrata Ng Kuok Cheong acredita que a transparência nos processos de adjudicação de obras e bens e serviços devem ser o tema alvo de uma discussão com os representantes do Executivo. Só se forem aprovados no dia 20 é que estes temas vão poder ser alvo de debate no hemiciclo, em data ainda a anunciar. Filipa Araújo (com J.F.)

Filipa.araujo@hojemacau.com.mo

deputado Chan Meng Kam interpelou o Governo sobre a necessidade de aumentar a fiscalização sobre o pagamento das contribuições prediais em casas arrendadas. O deputado pediu ainda a possibilidade de diminuir essa contribuição. Chan Meng Kam escreve que os proprietários das casas devem declarar à Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) a contribuição predial das casas que arrendam, mas o Governo não terá recebido pagamentos de cerca de seis mil fracções. Dados da DSF revelam que há cerca de 35 mil fracções registadas para arrendamento, mas segundo os Censos de 2011 mais de 41 mil apartamentos estão a ser arrendados. O deputado eleito pela via directa sus-

peita, assim, que muitos dos proprietários não cumpram a sua obrigação de declaração do arrendamento e do pagamento do imposto, sendo que muitos casos podem envolver pensões ilegais, alerta. Chan Meng Kam defende ainda uma redução da contribuição predial por forma a encorajar mais proprietários a pagar o respectivo imposto. O deputado quer saber se o Executivo vai estudar essa possibilidade. Para Chan Meng Kam, o Governo deve reforçar as penalizações para aqueles que não fazem as declarações dos imóveis no prazo exigido, pedindo que seja dada a possibilidade aos senhorios de voluntariamente fazerem os pagamentos e analisarem as vantagens de pagarem essa contribuição. T.C. (revisto por A.S.S.)

CCP PENSÕES SERÃO PAGAS PELA CGA ESTE MÊS

O Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) fez-se representar através de Rita Santos e José Pereira Coutinho numa reunião com a Caixa Geral de Aposentações (CGA), em Lisboa. O encontro serviu para abordar as “questões relacionadas com as queixas de alguns aposentados e pensionistas que ainda tinham as suas pensões cortadas devido ao problema do sistema informático que alegou a falta de envio de provas de vida no final do ano passado”. Serafim Amorim, do departamento de apoio à CGA, “lamentou a falha no sistema informático que não fez a leitura adequada das provas de vida de alguns aposentados e pensionistas de Macau e do mundo e prometeu que as suas pensões iriam ser depositadas nas respectivas contas bancárias no mês de Maio”, lê-se num comunicado.


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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 233/AI/2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 234/AI/2016

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor ZHANG SHENGLU, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 14080xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 102/DI-AI/2013 levantado pela DST a 18.09.2013, e por despacho da signatária de 26.04.2016, exarado no Relatório n.° 270/ DI/2016, de 06.04.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.os 361-B-361-K, Edf. I On Kok, 6.° andar A onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.----------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 30 dias, conforme o disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.----------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.---------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora 曹少紅, portadora do Passaporte da R.P.C. n.° G61947xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 102/DI-AI/2013 levantado pela DST a 18.09.2013, e por despacho da signatária de 26.04.2016, exarado no Relatório n.° 271/DI/2016, de 06.04.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.os 361-B-361-K, Edf. I On Kok, 6.° andar A.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.---------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.---------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 251/AI/2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 271/AI/2016

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora TU MEIXIANG, portadora do Passaporte da China n.° G58886xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 2/DI-AI/2015, levantado pela DST a 08.01.2015, e por despacho da signatária de 26.04.2016, exarado no Relatório n.° 285/DI/2016, de 07.04.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua de Bruxelas n.° 94, Praça Kin Heng Long- Kin Fu Kuok, 13.° andar AB.------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.-----------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor HUANG ZHI, portador do Salvo Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W6233xxxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 87/DI-AI/2014, levantado pela DST a 17.07.2014, e por despacho da signatária de 26.04.2016, exarado no Relatório n.° 309/DI/2016, de 18.04.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Xiamen n.° 18-G, Edf. Nam Fong, bloco 2, 17.° andar N, Macau onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ---------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


7 UM GABRIEL TONG CANDIDATO A DIRECTOR DA FACULDADE DE DIREITO

Mudança de cadeiras

SOCIEDADE

HOJE MACAU

hoje macau sexta-feira 6.5.2016

O deputado e actual director associado da Faculdade de Direito da Universidade de Macau assume que deverá ser candidato ao cargo de director. Gabriel Tong poderá assim substituir John Mo, que a partir de Julho passa a coordenar as pós-graduações

A

INDA não está aberto o processo de selecção para o cargo de director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM), mas Gabriel Tong, actual vice-director, deverá ser um dos candidatos. A garantia foi dada pelo próprio académico ao HM. “Tenho toda a honra em fazer o meu melhor e para contribuir para esta faculdade onde me formei e onde trabalho há cerca de 20 anos. Tenho amor para com o Direito de Macau e para esta faculdade”, referiu o também deputado nomeado à Assembleia Legislativa (AL). Rui Martins, vice-reitor da UM, confirmou à TDM que John Mo, actual director da Faculdade, deixa o cargo a 15 de Julho para passar a dirigir a escola de pós-graduações. “Trata-se apenas de um arranjo interno da UM, é tudo o que posso dizer”, disse Rui Martins. Augusto Teixeira Garcia, também director associado da Faculdade, confirmou ao HM que não vai ser candidato. “O professor John Mo foi designado para a escola de pós-graduações. O processo para a

escolha do novo director ainda não foi concluído e teremos de aguardar. Não tenho qualquer interesse [em ser candidato], absolutamente nenhum.”

A POLÉMICA

John Mo tomou posse como director em 2012 depois de um processo polémico, que envolveu duras críticas quanto à sua nomeação, nomeadamente por parte de Jorge Neto Valente, presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM). Tudo porque John Mo não possui formação base em Direito de Macau, sendo formado em Direito continental. John Mo deu aulas na City University of Hong Kong, na Universidade de Deakin, na Austrália, e na Universidade de Direito e Ciência Política da China, onde foi director da Escola de Direito Internacional. John Mo reagiu de forma directa às críticas que lhe apontaram. “Por não ter formação em Direito de Macau não quer dizer que não seja capaz de o compreender”, disse ao jornal Ponto Final, na altura.

Cinco anos depois, Gabriel Tong traça um balanço positivo do trabalho de John Mo. “Contribuiu bastante na direcção para elevar o nível de investigação e a promoção do intercâmbio internacional. Manteve um equilíbrio entre o Direito de Macau e as componentes internacionais, foram feitos muitos esforços.” O mandato de John Mo fica marcado pelo caso da perda de reconhecimento do curso de Direito da UM em Portugal, devido à adopção de novos conteúdos curriculares, mas também pela criação de um curso bilingue de Direito, em parceria com a Universidade de Coimbra.

ESQUECER O PASSADO

Contactada pelo HM, Amélia António, advogada e presidente da Casa de Portugal em Macau, referiu que “nunca esteve de acordo” com a nomeação de John Mo para a direcção da Faculdade de Direito, dada a sua ausência de formação em Direito de Macau. Sobre a candidatura de Gabriel Tong, Amélia António considera que “será sempre melhor” ter

alguém formado na UM neste cargo, mas defende que Gabriel Tong “não deveria” assumi-lo por também ser deputado nomeado à AL. Para a advogada, poderiam existir outros nomes no seio da Faculdade de Direito com iguais capacidades para estarem na posição de director. O HM tentou contactar Jorge Neto Valente, mas não foi possível estabelecer contacto. À Rádio Macau, o presidente da AAM elogiou o nome de Gabriel Tong para o cargo. “É um jurista bilingue de Macau, é um homem inteligente, um homem com trabalho feito e com conhecimento do mundo. Tem muitas qualidades que lhe permitirão com certeza não ser pior, pelo contrário. Conhece muito bem Macau, a sua realidade e a qualidade do ensino que vem sido ministrado pela faculdade. Algumas vezes o ouvi desgostoso com algumas coisas que se passavam lá e até

chegou a ser falado antes da vinda de John Mo.” Quanto à saída do ainda director, “é uma boa notícia”. “O professor John Mo é um académico reputado internacionalmente na área do Direito marítimo e tem trabalhos publicados. É um especialista do Direito chinês, mas acho que foi sempre uma má escolha para a UM porque não conhecia nada, e ele teve a honestidade de o reconhecer”, referiu Neto Valente. O advogado Sérgio Almeida Correia referiu apenas que o novo director deve ser formado em Direito de Macau para que se evite a mesma situação verificada em 2012. “Com a vinda de pessoas da China com outro tipo de formação não trará garantias de qualidade científica do curso de Direito. O ideal era que fosse alguém que tivesse tirado o curso em Macau ou em Portugal”, afirmou ao HM. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

GALGOS | NÃO OS MANDEM PARA CÁ BAN BLOOD SPORTS

• Dublin foi ontem palco de uma manifestação pacífica em frente ao Ministério da Agricultura irlandês. Dezenas de activistas amigos dos animais participaram no protesto da Alliance for Animal Rights e Ban Blood Sports para obrigar o governo do país a bloquear a exportação de galgos para o Canídromo de Macau, devido às más condições a que os animais estão sujeitos. A actriz Pauline McLynn participou no encontro, onde se liam cartazes com “parem de enviar galgos para aquela pista do inferno” ou “sentença de morte para os galgos” que cá chegam.


8 SOCIEDADE

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EDIFÍCIO DO INSTITUTO RICCI NAS MÃOS DO IC

UNIVERSIDADE DO INTERIOR DA CHINA RECEBEU CEM MILHÕES

UNIVERSIDADE DE MACAU ASSINA ACORDO COM UNIVERSIDADE DO PORTO

A Universidade de Macau assinou um acordo com a Universidade do Porto para promover a sua cooperação na área das Humanidades, Ciência e Tecnologia, “particularmente no ensino da Língua Portuguesa, Ciências da Saúde e Medicina”, conforme é apontado num comunicado. O acordo foi assinado durante a visita da vice- reitora da Universidade do Porto, Maria de Fátima Marinho. “Durante o encontro, ambas as partes trocaram ideias sobre os metidos educacionais de cada universidade e partilharam informações sobre os últimos desenvolvimentos e futuras metas”, pode ler-se no comunicado. O trabalho futuro é o objectivo das entidades, sendo o ensino da Língua Portuguesa e a Investigação na área da Saúde as áreas de destaque.

TIAGO ALCÂNTARA

É certo que o Instituto Ricci vai mudar-se de armas e bagagens para o novo campus da Universidade de São José (USJ), mas o projecto que lhe está destinado continua por anunciar. O edifício vai ficar sob alçada do Instituto Cultural (IC), mas o organismo garante que “não tem nenhum plano de desenvolvimento para este edifício”. Luís Sequeira, director do Colégio Mateus Ricci, esteve incontactável até ao fecho da edição.

A

Fundação Macau (FM) subsidiou a Universidade de Jinan, no interior da China, em cerca de cem milhões de reminbis, que será usado para ajudar à construção de dois edifícios de residência para os estudantes de Macau e Hong Kong. Vai ainda ser construído um edifício “pedagógico de comunicação social”. O canal chinês da Rádio Macau questionou a FM sobre o assunto, tendo esta explicado que concedeu o financiamento pelo facto da instituição do ensino superior ter 300 alunos de Macau, sendo uma base importante para a formação de talentos locais. A FM referiu ainda que pretende apoiar os trabalhos de formação para que se promova um melhor ambiente de investigação. A Universidade de Jinan já terá formado 20 mil residentes. Um comunicado oficial explica que o montante será pago até 2017, sendo que o “edifício pedagógico de comunicação social” deverá custar cerca de 150 milhões de reminbis, enquanto que as duas residências para estudantes deverão custar 142 milhões. Um comunicado da universidade referiu que Chui Sai On, Chefe do Executivo, apoiou a concessão do apoio, sendo também membro do conselho da direcção da universidade. No entanto, os alunos de Macau pagam propinas mais elevadas do que os estudantes do continente. A FM concedeu também 400 mil patacas à Associação dos Antigos Alunos da Universidade de Jinan para a realização de actividades, conforme consta no Boletim Oficial. T.C./A.S.S.

Subsídios FUNDAÇÃO MACAU DEU MAIS DE 300 MILHÕES

Mais patacas no meu bolso A Fundação Macau voltou a atribuir mais de 300 milhões de patacas em subsídios no primeiro trimestre deste ano. Os Kaifong e os Operários são os grandes beneficiários, tal como o Kiang Wu e instituições privadas de ensino superior

É

uma balada que se repete. A Fundação Macau (FM) voltou a distribuir milhões às entidades do costume, onde se incluem as associações tradicionais, instituições privadas do ensino superior, bolsas de estudo e até associações ligadas à comunidade macaense. No total foram concedidas mais de 304 milhões de patacas, conforme dados publicados em Boletim Oficial (BO). A União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAAM, ou Kaifong) recebeu 16 milhões de patacas para o financiamento do seu plano anual para este ano, o qual abrange 26 filiais e sete centros de serviços. A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) recebeu quase 21 milhões de patacas, que também vão servir para custear o seu plano anual, incluindo as 28 instituições e 46 filiais espalhadas no território. A Fundação Católica de Ensino Superior Universitário, que

detém a Universidade de São José (USJ), recebeu várias tranches de dinheiro. Cerca de 3,8 milhões serviram para financiar o plano anual de actividades do ano lectivo de 2014/2015. A mesma Fundação recebeu 15,2 milhões de patacas para o financiamento das actividades do ano lectivo de 2015/2016, montante referente à segunda prestação. Ainda na área do ensino superior privado, a Fundação da Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST) recebeu 50 milhões de patacas para custear o plano de actividades da universidade para este ano lectivo, sem esquecer o financiamento atribuído ao hospital universitário, à Escola Internacional de Macau e à Faculdade de Ciências da Saúde. A Fundação da MUST recebeu ainda mais quatro milhões para o projecto de “aquisição, a efectuar pelas bibliotecas das nove instituições do ensino superior,

de bases de dados, desenvolvimento de sistemas informáticos e organização de actividades de visita”. A Fundação da Universidade Cidade de Macau, ligada ao deputado Chan Meng Kam, recebeu dois milhões de patacas. A Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu recebeu 80 mil para o Instituto de Enfermagem do hospital privado e 36 milhões de patacas foram para as obras de reconstrução do jardim de infância e da secção do ensino primário da Escola Keng Peng.

MACAENSES TAMBÉM GANHARAM

As instituições de matriz macaense também foram contempladas pela FM. O Conselho das Comunidades Macaenses ganhou 2,38 milhões de patacas para a organização do Encontro das Comunidades Macaenses e para o financiamento do seu plano anual. A Associação dos Reformados, Aposentados e Pensionistas

de Macau (APOMAC) recebeu pouco mais de um milhão para as actividades que pretende realizar este ano, enquanto que a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) recebeu quase 1,65 milhões para o projecto do jardim de infância Dom José da Costa Nunes. A associação Aliança do Povo da Instituição de Macau, fundada pelo deputado Chan Meng Kam, recebeu quase 11 milhões, enquanto que a União das Associações dos Proprietários dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas recebeu 6,32 milhões de patacas. A Associação, presidida pelo deputado indirecto Chan Chak Mo, vai investir este dinheiro na realização do “projecto de apoio à preservação das características dos estabelecimentos de comida de Macau”, algo que já tem vindo a ser feito durante os últimos dois anos. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


9 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 6.5.2016

Transmac FALTA DE INFRA-ESTRUTURAS “INCAPACITOU” COMPRA DE AUTOCARROS AMIGOS DO AMBIENTE

RECURSO NEGADO A PORTUGUESA QUE QUERIA DINHEIRO PARA PAGAR VIAGEM

N

ÃO se pode “pretender que fundos públicos” sejam “mobilizados para satisfazer meros gostos ou conveniências pessoais”. É esta a argumentação apresentada pelo Tribunal de Última Instância (TUI), face à negação de um recurso interposto por uma funcionária pública que pedia o reembolso do dinheiro de um voo de ida do filho para Portugal, para este frequentar um curso de Turismo. O caso é de um aluno que não quis frequentar o curso em Macau, por este não ser leccionado em Língua Portuguesa. O tribunal considerou que a questão da língua em que o aluno se expressa ou que domina é irrelevante, na interpretação à letra da lei, já que existe em Macau um curso semelhante e que

o interessado só tem direito a receber o custo da viagem para o exterior desde que não exista curso semelhante em Macau, leccionado na sua língua materna ou em qualquer língua que o aluno domine suficientemente, como pode ler-se no acórdão. Posto isto, o TUI diz que Administração não tinha que subsidiar aluno para estudar no exterior, só porque este queria aprender sua língua materna, recusando-se a frequentar curso em Macau e negou o recurso. F.A.

HOMEM QUE TENTOU SUICÍDIO FOI SALVO PELOS BOMBEIROS

FACEBOOK

O canal chinês da TDM noticiou ontem que o homem que tentou o suicídio durante 18 horas na zona de Toi San acabou por ser salvo pelos bombeiros, quando um bombeiro atado a uma corda conseguiu empurrá-lo para dentro do edifício. O indivíduo seguiu para o hospital para observação. O incidente começou às 8h30 desta quarta-feira e só terminou às 2h00 da madrugada de ontem, tendo causado o bloqueio da Avenida de Artur Tamagnini Barbosa. O homem, não residente, terá perdido dinheiro no jogo.

TRANSMAC

Governo deixa andar

A promessa que Macau vai ter autocarros amigos do ambiente continua a arrastar-se. O Governo continua a deixar as empresas comprar autocarros poluentes, ainda que “menos, por respeitarem as normas europeias”. Do lado da empresa, evoca-se a falta de infraestruturas para a sua utilização

A

Transmac comprou 25 novos autocarros para circulação em Macau, mas nenhum deles é amigo do ambiente. Apesar de ter sido uma promessa do Governo a implementação gradual de autocarros movidos a gás ou eléctricos, a empresa justifica que a falta de infra-estruturas não ajuda. “É necessário haver instalações complementares para avançar e agora não há fornecimento de gás natural nem estações de carregamento”, começou por explicar ao HM Kwan Wing Kai, vice-director da empresa. “Não podemos [implementar] a curto-prazo, porque há limitações.” O vice-director diz que, no que toca a autocarros eléctricos, está neste momento “à procura de fornecedores apropriados porque usar autocarros eléctricos não é fácil e é preciso ver que fornecedores têm [autocarros mais sofisticados]”. “Outro problema é que devia haver equipamentos de carregamento.” Ho Wai Tim, presidente da Associação de Ecologia de Macau, diz que as oficinas de cada uma das companhias “têm todas as condições” para carregar os autocarros, algo que já acontece em Zhuhai.

EXIGENTE MAS NEM TANTO

A notícia da compra dos autocarros foi avançada pela imprensa local há dois dias, sendo que a operadora gastou 30 milhões de patacas na compra dos veículos. As notícias dão conta que os autocarros são “uma melhoria dos serviços”, como frisou numa apresentação aos mé-

quando questionado sobre a razão porque não obriga as empresas a comprar autocarros mais limpos.

MACAU PODI

dia Alfred Liu Hei Wan, até porque “têm uma porta USB para carregar os telemóveis e computadores”. O facto de serem mais modernos entusiasma, mas a verdade é que os transportes continuam a ser poluentes, ainda que respeitem o padrão Euro IV, como fez questão de garantir a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). “Temos [incentivado] continuamente as empresas a elevar a qualidade dos serviços, ao nível de conforto e segurança dos autocarros. A partir de 1 de Setembro de 2013, os veículos novos, para lhes ser atribuída a matrícula, devem preencher os requisitos de normas de emissão de gases de escape Euro IV. Os 25 autocarros novos adquiridos pela Transmac preenchem os requisitos e foram atribuídos documentos comprovativos de testes sobre a emissão [desses] gases”, diz o organismo,

O Governo traçou nas suas políticas a necessidade de promover em Macau o uso de carros eléctricos. Mas o Executivo também disse que iria dar o exemplo, obrigando, para isso, as operadoras a comprar estes veículos. Algo que se faz em cidades na China continental, sendo que em Shenzhen já se considera que exista “a maior frota de autocarros eléctricos do mundo”, como dão conta notícias diversas, que acrescentam que no continente todos os autocarros serão eléctricos até 2020. Kwan Wing Kai admite que, até ao momento, não encontrou fornecedores adequados para estes autocarros, de forma a garantir “a qualidade” dos veículos. Para Ho Wai Tim a responsabilidade é do Governo. “Se o Governo definir uma regra em que cada operadora tenha de ter autocarros amigos de ambiente, as empresas têm de cumprir. Pelo menos 20% dos autocarros devem ser ‘verdes’, em cada mil, 200 devem ser eléctricos”, frisa ao HM.

Ho Wai Tim considera que o Governo deve ser mais activo em controlar os requisitos nos contratos com as empresas, exigindo uma percentagem de utilização desses autocarros. Essa já foi uma garantia dada pelo Governo, que além da promessa de “dar primazia aos transportes públicos”, assegurou também “a introdução de autocarros eléctricos”. Tanto, que na MIECF de 2012 estes eram já uma das maiores atracções pela “consciência dos expositores sobre a intenção do Governo”. Ho Wai Tim explicou ainda que os autocarros mais ecológicos são os eléctricos, mas para assegurar a taxa de utilização do gás natural, uma das políticas do Executivo é manter um certo número de autocarros movidos a este combustível. Algo com que o responsável não concorda. “Mesmo que seja gás natural, tem emissão de gás, só que é menos do que combustíveis. O Governo deve promover com força o uso de autocarros amigos de ambiente.” Os novos autocarros da Transmac vão começar a rodar no final desta semana na carreira MT4, alguns “em breve” e são os “primeiros da Ásia a ter carregador USB”. Joana Freitas (com Flora Fong) Joana.freitas@hojemacau.com.mo

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 250/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifiquese o infractor CAO JIANWEN, portador do Passaporte da China n.° G60240xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 2/DI-AI/2015, levantado pela DST a 08.01.2015, e por despacho da signatária de 26.04.2016, exarado no Relatório n.° 284/DI/2016, de 07.04.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Bruxelas n.° 94, Praça Kin Heng Long- Kin Fu Kuok, 13.° andar AB onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. --------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


10 CHINA

hoje macau sexta-feira 6.5.2016

PEQUIM APERTA O CERCO A CRÍTICOS DA ECONOMIA

Pouco barulho

Pequim tem vindo a efectuar pressão sobre os média e todas as opiniões divergentes da linha do Partido, mas os analistas económicos vinham a passar incólumes. Agora a festa acabou e até há executivos de Hong Kong a darem o dito por não dito

S

EGUNDO o Wall Street Journal, as autoridades chinesas têm na mira um novo grupo de alvos: economistas, analistas e repórteres de negócios com opiniões pessimistas sobre a economia chinesa. Os reguladores do mercado financeiro, censores dos média e outras autoridades do Governo Central têm alertado verbalmente comentadores cujas posições públicas sobre a economia não estão em sintonia com as declarações optimistas do Executivo, dizem oficiais e comentadores económicos a par do assunto. Lin Caiyi, economista-chefe da corretora Guotai Junan Securities Co., que tem falado abertamente sobre o crescimento da dívida das empresas, o excesso de oferta de imóveis e o enfraquecimento da moeda chinesa, recebeu uma advertência nas últimas semanas, segundo fontes não divulgadas. Foi a segunda vez. O primeiro aviso veio do regulador de valores mobiliários e o mais recente, segundo as mesmas fontes, do departamento de conformidade de uma empresa estatal, que disse à economista para evitar comentários “muito pessimistas” sobre a economia, principalmente em relação ao câmbio. Pressionados por reguladores financeiros empenhados em estabilizar o mercado, os analistas de acções nas correctoras estão a ficar receosos de emitir relatórios criticando empresas de capital aberto. Pelo menos um centro de estudos chinês foi orientado pelas autoridades a não levantar dúvidas sobre um programa do

Governo para reduzir as dívidas das empresas públicas.

NÃO CREIO EM BRUXAS MAS...

Embora as evidências da repressão sejam informais, ela parece ser generalizada. Os órgãos do Governo Central não responderam a pedidos de comentário ou não quiseram comentar. Observações sobre a economia e notícias sobre empresas, ao contrário daquelas sobre política ou iniciativas sociais, têm sido relativamente poupados às restrições, num reconhecimento do próprio Executivo de que um fluxo mais livre de informações contribui para a vitalidade da economia. Contudo, Pequim voltou a agir para retomar o controlo da narrativa económica do país depois de equívocos cometidos no ano passado no mercado de acções e na política cambial, que levaram os investidores a duvidarem da competência do Governo para gerir uma economia em franca desaceleração. Esse tipo de controlo via alertas ameaça limitar ainda mais as informações sobre a segunda maior economia do mundo e a agravar a ansiedade de investidores já desconfiados das estatísticas e declarações do Governo.

UM CERCO QUE APERTA

“Um debate vigoroso entre os economistas e a confiança do público nesta conversa é essencial para a China navegar com sucesso nas águas agitadas da economia”, diz Scott Kennedy, vice-director do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, sediado em Washington.

O

Um aperto generalizado no controlo sobre a sociedade tem vindo a desdobrar-se nos últimos anos, à medida que o presidente chinês Xi Jinping tenta fortalecer o Partido Comunista e angariar apoio popular para uma transição económica acidentada, depois de décadas de rápido crescimento. Os alvos escolhidos até agora foram advogados activistas, personalidades das redes sociais, organizações estrangeiras sem fins lucrativos e membros do partido que criticam políticas. Embora as restrições impostas aos média estrangeiros sempre tenham sido rígidas, têm vindo a tornar-se ainda mais severas, com uma lista de publicações estrangeiras a verem seus sites bloqueados dentro da China, incluindo o The Wall Street Journal. Algumas autoridades de escalão mais baixo descrevem uma mentalidade de perseguição que estaria a ganhar momento entre os líderes do Governo e as altas autoridades da China, diante do pessimismo sobre a economia local manifestado no início do ano por investidores internacionais, como George Soros. Em reuniões de cúpula realizadas nos últimos meses, algumas autoridades de primeiro nível defenderam a repressão a qualquer crítica que pudesse incentivar os estrangeiros a apostar contra a China nos mercados, dizem autoridades a par das discussões.

DOURAR A PÍLULA

No início do ano, Xi Jinping visitou os três grandes meios estatais de notícias do país — a agência Xi-

Governo da China pediu na quarta-feira mais esforços para reduzir as restrições ao investimento privado e estimular o potencial de investimento, assim como a vitalidade inovadora. “O acesso ao mercado para o investimento privado será ainda mais aliviado a fim de desenvolver um ambiente justo de negócios e promover a estabilização [desse investimento]”, indica um comunicado emitido após uma reunião executiva do Conselho de Estado

nhua, o jornal “Diário do Povo” e a CCTV — para orientá-los sobre a necessidade de alinhamento com o discurso do Partido, “contar a história da China direito” e elevar a influência do país no mundo. Isso, disseram jornalistas chineses, resultou em pressão não só para evitar tópicos críticos, mas também para produzir artigos positivos sobre a economia. Um caso ilustrativo ocorreu num evento em Hong Kong, onde Gao Shanwen, economista-chefe da correctora Essence Securities Co., disse a investidores que “muitos dados

PRIVADOS, INVISTAM presidida pelo primeiro-ministro chinês Li Keqiang. O investimento privado é um importante pilar de apoio para a estabilização do crescimento, o que ajustará a estrutura e promoverá o emprego, diz o documento. O Conselho de Estado enviará uma equipa de inspecção para supervisionar a implementação das políticas do governo central

oficiais não eram confiáveis” e que a economia chinesa ainda enfrentava “grandes problemas”, segundo pessoas que estiveram no evento. Os comentários chegaram às redes sociais e, dois dias depois, Gao emitiu uma nota na sua conta pública de WeChat dizendo que os comentários foram “inventados”. Posteriormente, o Executivo divulgou um relatório sem críticas à economia chinesa. Solicitados para comentarem o facto, nem Gao nem nenhum outro representante da empresa fizeram qualquer comentário sobre o assunto.

sobre o investimento privado nas áreas seleccionadas e realizará uma avaliação através de terceiros. O objectivo da inspecção é o de melhorar as políticas de incentivo ao investimento privado, respeitar e manter a importante posição das empresas no mercado e promover o espírito de empreendedorismo, diz ainda o comunicado.


11 hoje macau sexta-feira 6.5.2016

SOPRANO ACTUA EM ILHAS DISPUTADAS NO MAR DO SUL DA CHINA

Música para si

frequentemente a gala de Ano Novo chinês, considerado o programa de televisão com maior assistência a nível mundial. O projecto de Fiery Cross é um dos muitos desenvolvidos pela China e que levaram ao aumento das tensões na região, com Washington a enviar barcos e aviões para as águas e espaço aéreo próximos, visando travar o que considera uma ameaça à liberdade de navegação. As instalações na ilha incluem pistas capazes de receber aviões militares. Os artistas que integram o espectáculo organizado pelo ELP viajaram 40 horas desde a China, a

U

bordo do segundo maior navio da marinha chinesa, o Kunlun Shan, segundo o jornal oficial China Youth Daily. Citado por aquele jornal, um trabalhador da construção afirmou que a vida na ilha “definitivamente, não é fácil, mas a nossa pátria lembra-se de nós”, acrescentando que o espectáculo é um gesto de “respeito pelos trabalhadores”. A China insiste que tem direitos de soberania sobre a quase totalidade do Mar do Sul da China, uma via marítima estratégica pela qual passam um terço do petróleo negociado internacionalmente.

Para Lisboa a dar ao pedal De Chengdu para Portugal em bicicleta

U

M chinês de 48 anos decidido a provar que “a idade não é obstáculo” partiu de Chengdu na quarta-feira, “Dia da Juventude Chinesa”, para uma viagem épica de bicicleta com destino a Lisboa. Planeia percorrer 170 quilómetros por dia, visando concluir, em menos de três meses, os 15 mil quilómetros que separam a capital da província de Sichuan de Portugal. “Sempre quis provar a mim próprio e ao mundo que a juventude não tem nada a ver com a idade”, afirmou Gou Huanqiang, citado pela agência oficial chinesa Xinhua.

Há dez anos, este chinês natural de Qingdao “pesava 90 quilos” e o seu estado de saúde “estava a deteriorar-se”. A preocupação com o bem-estar surgiu durante uma viagem de negócios a Veneza, onde conheceu um casal de idosos que percorreu de bicicleta, em menos de dois meses, os dois mil quilómetros que separam Holanda e Itália. “Fiquei impressionado com a sua capacidade física e o seu espírito jovem naquela idade, e decidi seguir os seus passos”, comentou. O roteiro de Gou inclui estradas Sichuan-Tibete, com mais de 2400 metros de comprimento e uma

Tenham calma

Pequim pede a Tóquio para ouvir pedidos de paz

U

MA das mais prestigiadas cantoras chinesas está a cumprir uma digressão por ilhas disputadas no Mar do Sul da China, onde tem actuado para soldados e trabalhadores da construção chineses, avançou ontem a imprensa chinesa. A soprano Song Zuying, que já actuou ao lado da canadiana Celine Dion, integra o espectáculo organizado pelo Exército de Libertação Popular (ELP) e as Forças Armadas chinesas nas Ilhas Spratly, reclamadas também pelas Filipinas. Pequim tem aumentado, nos últimos anos, a sua presença naquele arquipélago rico em recursos marinhos e energéticos, reclamado total ou parcialmente, também, pelo Brunei, Malásia, Vietname e Taiwan. Vídeos da actuação de Song difundidos pela televisão estatal chinesa são as primeiras imagens da ilha artificial construída pela China no recife Fiery Cross, de acordo com o jornal oficial Global Times. “Edifícios, estradas e faróis estão a começar a tomar forma”, realça o artigo. As imagens revelam Song, envergando um uniforme e, de microfone na mão, cercada por trabalhadores de um lado e militares do outro. A cantora anima

CHINA

altitude média acima dos três mil metros, e Xinjiang-Tibete. O tema da viagem é “procurar o mistério da longevidade na Ásia e Europa”. Gou espera que, com a sua aventura, as pessoas prestem mais atenção aos cuidados que se deve ter com o envelhecimento. Em 2012, um outro cidadão chinês, Eric Feng, 29 anos, pedalou também desde a China até Portugal, em homenagem a dois dos seus exploradores marítimos favoritos, o Infante D. Henrique e o almirante chinês Zheng He.

M porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros pediu aos líderes japoneses para escutarem a chamada para a paz e a desempenhem um papel construtivo para a paz e a estabilidade na região. “A China espera que o Japão possa tirar lições da história, seguir a tendência do tempo, ouvir o apelo do público japonês para a paz, aderir a um caminho de desenvolvimento pacífico e desempenhar um papel construtivo para a paz e a estabilidade regionais”, anunciou na quarta-feira o porta-voz, Hong Lei, em conferência de imprensa. Cerca de 50 mil pessoas reuniram-se em Tóquio na terça-feira, o Dia Memorial da Constituição do Japão, para protestarem contra as tentativas do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, para emendar a Constituição pacifista do país. Hong indicou que o sentido de desenvolvimento do Japão é sempre um assunto de preocupação para com seus vizinhos, devido à história de agressão japonesa.

Em resposta aos pedidos de comentário sobre as declarações de Abe e do ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Fumio Kishida, durante as viagem à Europa e Sudeste Asiático, de que a China estava a militarizar o Mar do Sul da China, Hong afirmou que “apesar de ser um país externo à região do Mar do Sul da China, o Japão tentou deliberadamente fazer a sua presença sentida na questão, o que simplesmente revelou os recordes de ocupação ilegal do Japão das ilhas e ilhéus da China no Mar do Sul da China, durante a Segunda Guerra Mundial, e expôs as más intenções actuais do Japão sobre a questão do Mar do Sul da China”. Hong pediu ainda para que o Japão pare com a intromissão na questão. A China defendeu que as disputas soberanas no Mar do Sul da China devem ser resolvidas pacificamente através de conversas entre os Estados directamente envolvidos, nomeadamente a China, Vietname, Filipinas, Brunei e Malásia.

ELEIÇÕES LOCAIS DIRECTAS PELO PAÍS

F

OI convocada uma reunião na quarta-feira para preparar a próxima eleição nacional de legisladores locais. O Gabinete Geral do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP), os departamentos da Organização e os da Comunicação do Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), convocaram juntos o seminário. Este ano, mais de 900 milhões de chineses elegerão directamente mais de 2,5 milhões de legisladores nas assembleias populares nos níveis de distrito e vila. Com base nestas eleição, os órgãos estatais nesses dois níveis terão novos líderes. Mais de 2850 regiões no nível distrital e mais de 32 mil vilas participaram na eleição, um dos maiores eventos políticos no país. Segundo a actual Lei Eleitoral do país, os deputados às assembleias

populares nesses dois níveis, que respondem por mais de 90% dos legisladores de todos os níveis do país, são eleitos de cinco em cinco anos. Os participantes do evento pediram uma liderança intensificada do PCC em todo o processo, aplicando critérios rigorosos para os candidatos, num esforço para seleccionar legisladores competentes e honestos que representem os interesses das pessoas em todas as esferas da sociedade. Além disso, pediram ainda uma supervisão rígida para garantir a transparência da eleição. Os direitos à votação da população migrante devem ser protegidos, e a autoridade organizacional da eleição deve organizar de forma apropriada as reuniões dos candidatos com os votantes, disseram.


12 EVENTOS

ANTÓNIO CAETANO FARIA E ERIC KO CHON LEONG REALIZADOR E PROTAGONISTA DE “CAMINHAR NO ESCURO”

“Eric - Caminhar no escuro” é uma homenagem ao que um filme transformou em conhecimento e amizade. É uma forma de descobrir receios, como o de ficar cego, sem tocar na parte mais dramática da tragédia. É um documentário que estreia a 10 de Maio às 19h30 no Centro Cultural, fazendo parte da edição deste ano do Festival de Cinema e Vídeo de Macau e que traz um protagonista com ideias bem fixas

A sua carreira enquanto realizador tem sido fortemente dedicada ao documentário. Porquê? ACF - Posso dizer que foi um acaso. Acho que comecei a fazer realização de documentários por gostar muito de filmagem. Talvez por ter criado uma relação com a câmara de filmar, porque acabamos por construir essa relação. Não é só um objecto. E essa relação fez com que explorasse mais alguma ideias além da imagem, de modo a tirar dela mais do que ela própria. Por isso, e também pela necessidade, por Macau ter poucos técnicos na área. Ajudou com que espoletasse o interesse na forma de contar histórias e de dizer o que sinto e procurar alguns tópicos em que o documentário me ajudou a exprimir.

SOFIA MOTA

“Uma história que mexe com

Como é que aparece Macau na sua vida profissional? ACF - Sou nascido e criado em Lisboa. Vim com uma relação que tinha na altura e apaixonei-me pela cidade. Começaram a sair ideias que estavam na gaveta e a partir daí comecei a explorar Macau a partir da imagem e também da mensagem... Macau como fonte de inspiração? ACF - Claramente. É uma cidade que me cativa imenso. Em que posso explorar tanto a minha relação com a câmara, como histórias diferentes que não tenho em Portugal, pelo menos, tão diferentes. Acho que aqui também existe um clima mais relaxado porque a economia é mais pujante e a vida acaba por ser mais fácil. Naturalmente, tendo a vida mais facilitada, consegue-se pensar em coisas mais pessoais. Como é viver do cinema em Macau? ACF - Não vivo do cinema em Macau. As pessoas estão todas enganadas. Vivo porque sou operador de câmara e editor. Realizo projectos também e acima de tudo tenho ideias e vou à procura de financiamento. Mas acaba-se por não se viver do cinema. Não dá o salário fixo nem há projectos fixos.

Não temos muita coisa a ser filmada em Macau. Como vê então a “indústria” do cinema em Macau ? ACF - Nos últimos oito anos há efectivamente um crescimento acentuado. Derivado das políticas do Governo, acima de tudo por causa do jogo. Querem dar a faceta do entretenimento e “lavar uma bocado a cara”. E isso faz com que em todas as áreas artísticas estejam a crescer. Mas não se pode dizer que seja possível viver disso. Que sugestões daria para que isso fosse possível? ACF - São vários factores. Precisa acima de tudo de haver um instituto de cinema e audiovisual em Macau, uma entidade do Governo que se dedique só a essa área. São projectos longos e que por

vezes exigem muito financiamento e ao mesmo tempo envolvem muitas outras artes. Para um documentário, temos que arranjar compositores, cenários, direcção de actores. Por isso agora quando tenho uma ideia, normalmente uma que me toque a mim, parto depois à procura de financiamento. Este documentário que vai apresentar, “Eric – Caminhar no escuro”, também foi uma dessas ideias que, de alguma forma, o tocam pessoalmente? ACF - Claro que sim. Este documentário vem de algumas perguntas que tinha para comigo. Perguntas, receios e medos e essa ideia da possibilidade de ficar cego. Como é viver sem luz? Sem imagens? Dependo dessas imagens e por isso foi um documentário que

“Não queria fazer o documentário do cego, o coitadinho da bengala. Espero que as pessoas quando saírem do filme não fiquem com esse sentimento. Mas é óbvio que tive que passar por partes trágicas da vida dele. Não nasceu cego, ficou cego” ANTÓNIO CAETANO FARIA

fez sentido para mim, até para combater esse receio, essa forma de ver a cegueira. Foi a forma de tentar explorar o tópico. E como é que apareceu o Eric? Como é que se encontraram? ACF - Encontrei o Eric depois de alguma investigação acerca do tema e acerca de invisuais aqui. Queria especificar a vida de uma pessoa, queria pegar nessa pessoa e tentar explorar ao máximo como é que observa e sente as coisas. Os invisuais observam, podem não ver, mas observam. A visão é um complemento da nossa linguagem. O Eric foi uma forma de me descobrir a mim próprio e enfrentar os meus receios. Se o estou ou não a usar para isso, é uma questão que me coloco, mas acho que também que estou


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EVENTOS

todos nós” ACF - Completamente. Encontramo-nos num café e a abertura foi automática. Começámos a falar imediatamente a mesma língua. Claro que, com o tempo, fui aprendendo outras formas de comunicação, visto ser uma pessoa que fala muito com gestos. Tive que aprender a comunicar com um invisual. Depois foi fazer um filme sem guião e as coisas foram-se proporcionando. Infelizmente, o tempo que tínhamos não era o necessário para fazer este documentário, acho que deveria ser mais explorado. No total tivemos apenas cerca de cinco, seis meses, o que não é muito tempo para se conhecer uma pessoa. Queria também ter uma relação de amizade para além de trabalho porque só assim é que se consegue chegar aos significados e às coisas mais profundas. Tenho agora com o Eric a construção de uma amizade.

a ajudar a dar voz a estas pessoas. Que voz têm estas pessoas, agora, depois de fazer o filme? ACF - Não queria fazer o documentário do cego, o coitadinho da bengala. Não era isso que queria fazer. Espero que as pessoas quando saírem do filme não fiquem com esse sentimento. Mas é óbvio que tive que passar por partes trágicas da vida dele. Não nasceu cego, ficou cego. Por isso nesse sentido é óbvio que é uma história que mexe com todos nós. Mexeu imenso comigo e só posso agradecer pelo facto de o ter conhecido. Foi um privilégio fazer este documentário com ele. Houve abertura da parte do Eric desde o início para colaborar no documentário?

Como é que estabeleceu os limites face ao “coitadinho”, numa história que tem, efectivamente, muito de drama? ACF - Por um lado para fazer um documentário uma pessoa tem que ser nua e crua. Tentei ir buscar coisas minhas e gostos meus e fazer perguntas que eu achasse que até se relacionassem mais comigo do que com ele. A partir daí quis perceber as nossas semelhanças e não as nossas diferenças. Ele gosta de futebol e eu adoro futebol. As diferenças acabaram por não ser assim tantas. São perspectivas diferentes, só isso. Porque a realidade acaba por ser uma imaginação de todos nós. O Eric trabalha com invisuais e está a acabar o mestrado em Psicologia. Que motivações? E - Sou trabalhador estudante. Trabalho numa associação de invisuais de Macau em que organizo actividades lúdicas e de reabilitação. Para mim, a Psicologia é uma [forma de compreender] o que também sentem os invisuais. Por exemplo aqueles que tarde na vida perdem a visão, o que é isso para eles? Para mim será mais fácil entender essas pessoas. Mas principalmente quero usar o meu conhecimento para trabalhar. Quero

“Da minha infância e do tempo em que via, guardo essencialmente o pôr-do-sol” “Macau é como um quarto muito pequeno onde se põe tudo dentro. Não sei se um dia não irá explodir” ERIC LEONG ajudar também os jovens na vida normal. Dar-lhes alguma orientação, até porque normalmente não falam muito com outras pessoas. Alguns jovens são incríveis. Eles não gostam de falar com os pais ou os seus amigos que têm visão e preferem falar comigo. Por outro lado, eu também não sigo as regras standard da sociedade. Gosto de as quebrar. Como assim? E - Se seguisse as regras, e sendo invisual, teria que aprender por exemplo a fazer massagens ou tocar música clássica, mas escolhi estudar em escolas normais, aprender música mas não clássica. Toco guitarra, baixo e bateria e gosto de rock. Gosto também de ensinar as pessoas a usar a tecnologia porque é um meio que me é muito útil para comunicar. Não nasceu invisual. Recorda o que já viu? E - Quando era pequeno não via imagens claras, mas lembro-me de ver algumas cores e algumas sombras. Gostava muito de ver o pôr-do-sol da janela. Era uma altura do dia muito bonita, com todos aqueles laranjas que me traziam sentimentos especiais. Da minha infância e do tempo em que via, guardo essencialmente o pôr-do-sol. Também era um momento familiar em que a família se juntava. Lembro-me também

de estar muito perto da televisão para tentar perceber as caras das pessoas. Como é que constrói a sua imaginação e concepção do mundo? E - A imaginação é uma coisa muito visual. Normalmente é baseada no que se viu antes. Aquilo em que toco, por exemplo, nas últimas duas décadas, posso pensar que cor teriam. Para mim o cor-de-rosa é o sentimento das pessoas a irem para casa, o vermelho é o tempo à tarde, azul depende, se for escuro é um pouco deprimente e próximo do preto, se for claro é o céu. ACF - Quando apresentei este projecto o título era precisamente “A imaginação de um invisual”, foi assim que apresentei a proposta. Como é ser agora um actor? E - Foi muito fácil porque me PUB

estava a representar a mim. Não tinha experiência mas como era para me divertir também, e usufruir, não foi nada difícil. Mas não penso que no futuro possa ser um bom actor. Como sente Macau? E - Macau é como um quarto muito pequeno onde se põe tudo dentro. Não sei se um dia não irá explodir. As pessoas que aqui vivem têm ideias muito diferentes. Precisamos de ser uma cidade internacional, mas internamente isso não acontece. Por outro lado, e para nó invisuais, como não assinamos não podemos usar uma série de coisas que nos ajudariam a viver. Por exemplo, não podemos usar paypal, nem levantar dinheiro porque não consideram que possamos ter cartão multibanco. Falta ainda a Macau tomar mais iniciativas nomeadamente na área tecnológica de forma

a que possamos ter uma vida quotidiana mais independente. Não se promove a independência dos invisuais, muito pelo contrário. Por outro lado até nós poderíamos ser mais úteis, com o avanço tecnológico, e ajudar as outras pessoas a lidar com as novas tecnologias nomeadamente as aplicadas aos invisuais. Como é para si não ver o seu filme? E - Acho que preciso de me basear no que aconteceu a fazer o filme. Mas noutros filmes, existe este dispositivo, chamado áudio-descrição. Já é utilizado nos Estados Unidos e outros lugares e deveria existir aqui também. É uma tecnologia que acompanha o filme com descrições para os invisuais. Nós também gostaríamos de o ter aqui. O cinema é para todos. Sofia Mota

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14 EVENTOS

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AGNES LAM LANÇA LIVRO SOBRE PASSADO DA IMPRENSA DE MACAU DIGNIDADE E RESPEITO EM CONFERÊNCIA

“Desafios para os profissionais de serviço social de Macau – As sociedades prosperam quando a dignidade e os direitos das pessoas são respeitados” dá mote à conferência que terá lugar amanhã, às 14h00, na sala de conferências do Liceu São Paulo. Uma co-organização pelo Instituto de Acção Social, Cáritas, Macau e a Associação Médica de Serviço Social de Macau a iniciativa tem entrada livre e será dirigida em Chinês com tradução em Inglês.

Reescrevendo a História Agnes Lam arregaçou as mangas e pôs-se a investigar a história da imprensa em Macau. O resultado vai obrigar a mudar os livros de história: revelações como o território ter sido berço para o primeiro jornal chinês de sempre e de que o primeiro jornal de Macau afinal não foi “A Abelha da China” são feitas no novo livro, lançado ontem do Diário Noticioso” lançado em 1807. De qualquer forma, garante Agnes Lam, o “Abelha da China continua a manter o crédito de ter sido a primeira publicação a ir para a estampa na História de Macau por razões políticas.” “Antes disso”, explica ao HM, “todas as publicações de Macau eram apenas resultado do trabalho missionário das ordens religiosas cristãs ou fruto da necessidade de intercâmbio cultural”.

ANTÓNIO GRAÇA ABREU LANÇA “HAIKUS DO JAPÃO”

PRIMEIRO JORNAL CHINÊS

“Haikus do Japão e do Mundo” de António Graça de Abreu é o livro que será lançado a 10 de Maio pelas 18h30 no Centro Científico e Cultural de Macau, sob alçada da Gradiva. O evento conta com a leitura de trechos e a participação de Manuel Frias Martins e Pedro Barreiros e terminará com sessão de autógrafos. A entrada é livre.

“E LMA É PALCO DE FESTIVAL “NOISE”

A Live Music Association (LMA) vai ser palco para o pontapé de saída de mais uma edição de” Kill the Silence: LUFF does Hong Kong”, festival de música experimental e industrial, que tem lugar amanhã pelas 21h00. Segundo declarações de Eric Chan, co-fundador do festival, ao Ponto final, o evento em Macau irá acolher uma série de artistas internacionais e locais que se destacam neste estilo musical também descrito como “a nova tendência”. De outras partes do mundo vem Aquiles Hadjis, Gao Jiafeng da China ou Mai Mai Mai, aos quais se juntam os projectos locais “e:ch bleeds”, FROG.W e Faslane. A entrada é de 120 patacas e o festival continuará em Hong Kong até 15 de Maio.

Já se sabia que, para os historiadores, Macau foi o local de nascimento da moderna imprensa chinesa. O que não se sabia era que o primeiro periódico também tinha sido lançado em Macau. Chamava-se “Tsŭ-wăn-pien” e foi fundado por Robert Morrison. Este missionário protestante inglês esteve mesmo, segundo a autora, na origem da história tipográfica moderna do território, tendo produzido várias publicações em tipos móveis ocidentais para além de várias outras na impressão tradicional chinesa com blocos de madeira. Por estes factos agora revelados, a autora alega mesmo que a história da impressão em Macau no período compreendido entre 1822 e 1807 tem de ser revista. De acordo com Agnes Lam, “as imensas publicações de Morrison tiveram uma grande influência na História das publicações em Macau e da China e tal facto não tinha sido

STA descobertas obrigam a que vários pontos da História contemporânea chinesa tenham de ser modificados”. É assim que Agnes Lam apresenta a sua mais recente obra, o livro “The Begining of The Modern Chinese Press History/Macau Press History 1557-1840”, ontem lançado. O estudo da professora de Comunicação da Universidade de Macau reporta-se a um período de

300 anos entre 1557 a 1840. Esta época marca o princípio da história conhecida de Macau, o da chegada e estabelecimento dos portugueses e a declaração de guerra da Grã-Bretanha à China, o chamado período Pré-Guerra do Ópio. Neste trabalho, ontem apresentado em Pequim, a autora revela que o primeiro jornal moderno não foi, como se julgava até agora, o semanário português “Abelha da China” mas sim um diário, também português, chamado “Iníco

A

Sonhos americanos

Livraria Portuguesa anuncia a presença hoje do escritor cabo-verdiano Sérgio F. Monteiro, naquele espaço. Num comunicado à imprensa divulgado em Inglês, a livraria explica que o autor vai apresentar o seu primeiro livro, intitulado “Other American Dreams”, uma história sobre traição como último recurso espoletada pela descoberta de 12 corpos torturados num barco de pesca senegalês. São migrantes africanos, vem-se a descobrir, facto que motiva uma investigação policial levando-nos a um mundo de corrupção e de gangues ligados ao tráfico de narcóticos.

Cabo-verdiano Sérgio F. Monteiro na Livraria Portuguesa

O cenário é Cabo Verde e a cultura emergente de gangues chegados ao arquipélago, constituídos por deportados cabo-verdianos dos Estados Unidos. Um trabalho de investigação sobre a desintegração da unidade familiar, um dos principais factores por detrás da crescente taxa de criminalidade naquele país. “Queria explorar as motivações que fazem as pessoas saírem das suas casas

deixando tudo o que lhes é familiar e amado para trás, para arriscarem as vidas em barcos rudimentares e mal comandados para demandarem a terras estranhas onde têm de começar tudo do zero”, diz o autor. Sérgio, que foi criado em Washington e posteriormente em Hong Kong, diz ter-se sentido muitas vezes como observador externo, olhando de fora para dentro para as comunidades entre

registado pelos investigadores até agora”, frisa ao HM.

A IMPRIMIR DESDE 1588

As primeiras publicações, todavia, já vêm de longe. Segundo a autora, o início da História das publicações em Macau está directamente ligado ao trabalho dos missionários jesuítas. As primeiras registadas ainda foram produzidas segundo o método tradicional chinês de impressão com blocos de madeira e efectuadas pelo padre jesuíta Michele Ruggieri. O legado inclui panfletos chineses e vocabulários romanizados. Contudo, explica a académica, “os jesuítas trouxeram para Macau a primeira impressora de tipos móveis alguma vez presente em solo chinês e com ela imprimiram o primeiro livro no ano de 1588”. Neste livro agora publicado por Agnes Lam, para além de acertar os registos históricos, a autora também faz análises de conteúdo tendo descoberto, entre outros factos, que “o formato das notícias publicadas em Macau no século XIX foi mais tarde herdado pela maioria dos jornais chineses no continente”.Além disso, a autora revela ter descoberto “alguns factos interessantes sobre como as pessoas se apaixonavam por drama e algumas histórias políticas brutais passadas na China continental”. Manuel Nunes

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as quais viveu incluindo a sua própria. Crescer no mundo do protocolo internacional e diplomacia conferiu-lhe “uma perspectiva única da geopolítica, política externa e de relações raciais, e a consciência de que o instinto humano procura sempre uma vida melhor”, garante. Uma história onde o autor pretende contar “as histórias de muitos migrantes que, de outra forma, nunca seriam ouvidas”, explica ainda. Um assunto actual que pode ser debatido ao vivo e em directo com o próprio autor, hoje, na Livraria Portuguesa a partir das 18h30. A entrada é livre. M.N.


15 DESPORTO

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GP LOTTI REALÇA IMPORTÂNCIA DE MACAU E GIC

CHALLENGE CHEGA AO FIM COM MACAENSES

A RAEM é que é

M

ARCELLOLotti, o ex-patrão do Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCC) e pai do novo conceito de carros de turismo TCR, disse em entrevista ao jornal português Autosport que o Circuito da Guia é o palco certo para promover a sua mais nova criação a nível global. Questionado sobre o relevo do evento da RAEM, Lotti explicou que Macau “é uma das corridas mais importantes na Ásia, não só em termos de carros de turismo, mas também na Fórmula 3 e GT”. “A Corrida da Guia existe há mais de 50 anos. Por isso temos que considerar uma plataforma perfeita para o conceito”, frisou ainda. Apesar disso, Lotti, no seu discurso, opta por não exacerbar na relevância da prova: “Mas não quero dizer que é o evento mais importante, porque adoro todas as nossas corridas”. No entanto, para o empresário italiano que também organiza provas do campeonato em concomitância com Grande Prémios de Fórmula 1 um

pouco por todo o mundo: “Macau é sempre Macau, é fantástico”. O programa da 63ª edição do Grande Prémio de Macau ainda não foi dado a conhecer ao público, sendo no entanto através do calendário internacional da FIA possível saber que a exemplo do ano passado farão parte corridas pontuáveis para o TCR International e TCR Asia Series. Em 2015, os concorrentes de ambos os campeonatos juntaram-se na Corrida da Guia, corrida que assim não ficou órfã após o fim da ligação decana com o WTCC.

GIC CHALLENGE CHEGA AO FIM

Entretanto, chegou ao fim o “GIC Touring Car Challenge” de 2016; o mini-campeonato organizado pela Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) no Circuito Internacional de Guangdong e que serve de para os pilotos de carros de turismo locais prepararem baterias para as provas de apuramento para o Grande Prémio de Macau. Curiosamente, a última jornada dupla, que contou

com a presença de apenas 16 concorrentes divididos por três classes, teve como único vencedor à geral o veterano piloto de Hong Kong Paul Poon. Os macaenses Filipe Clemente Souza e Jerónimo Badaraco, ambos em Chevrolet Cruze, visitaram o pódio na primeira corrida, mas ambos desistiram no segundo embate. Patrick Chan, que guia um Peugeot RCZ, sagrou-se campeão na categoria mais relevante. Num fim-de-semana em que o circuito da cidade de Zhaoqing esteve particularmente animado, uma última nota ainda para o pódio à classe alcançado na corrida pontuável para o “Hong Kong Automobile Association Autosport Challenge” pela dupla luso-chinesa Rui Valente/To Lap Pang, em Honda DC5, o que permite ao veterano português liderar a Classe 2 para pilotos de Macau da competição de cinco corridas de uma hora de duração, quando faltam ainda duas corridas por disputar. A dupla Álvaro Mourato/Luciano Lameiras lidera a Classe 1. Sérgio Fonseca

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ANDRÉ COUTO SOMA (MAIS) PONTOS

A

NDRÉ Couto continua a amealhar pontos no campeonato nipónico Super GT. O piloto português residente no território terminou no 5º lugar da categoria GT300 na prova disputada esta Semana Dourada no circuito de Fuji. Depois dos problemas sentidos com a traseira do Nissan GT-R Nismo GT3 nos treinos-livres, Couto e o Ryuichiro Tomita qualificaram-se na nona posição da classe. Tal como na prova de abertura em Okayama, a dupla lusoPUB

-nipónica fez uma corrida de recuperação. Antes de passar o volante a Tomita, Couto ocupava a terceira posição da categoria onde foi campeão em 2015. O Nissan do Team Gainer desceu depois até ao quinto posto com a entrada do “Safety-Car”, que estragou a estratégia da equipa. A corrida foi ganha por outro Nissan, aquele inscrito pela formação semi-oficial e conduzido pela dupla Jann Mardenborough/Kazuki Hoshino. Couto e Tomita

são agora oitavos no campeonato. A Autopolis deveria receber a próxima corrida do Super GT nos dias 21 e 22 de Maio, mas devido aos últimos tremores de terra no Japão o circuito ficou danificado. A organização do campeonato anunciou que irá decidir nos próximos dias sobre a eventual a realização de uma jornada dupla num dos eventos já agendados até ao final do ano. A próxima prova do Super GT está marcada apenas para Julho, em Sugo. S.T.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Macau de novo na mira dos ingleses O

ano de 1839 marca o início da I Guerra do Ópio e com a chegada a Cantão em Março desse ano do Comissário Imperial Lin Zexu, este “não perdeu tempo em pôr em prática a sua política proibitiva do ópio que residia em interditar o consumo e a importação de tal droga”, segundo refere Wu Zhiliang. Lin Zexu após mandar queimar as caixas de ópio em Humen (Dongguan, na província de Guangdong), o que ocorreu entre 3 e 25 de Junho de 1839, como Qin Chai Da Chen veio a Macau fazer uma viagem de inspecção, sendo acompanhado pelo Vice-Rei de Liangguang (Guangdong e Guangxi), Deng Tingzhen. Chegaram a 3 de Setembro de 1839 e foram-lhes dadas as boas vindas pelos canhões de Macau, saudando-os as fortalezas de Nossa Senhora do Monte de S. Paulo, de A-Má (Baluarte de Santiago da Barra) e de Nam Van (Baluarte do Bomparto, ou o Baluarte de S. Pedro), com uma salva de dezanove tiros. No Pagode Novo, local de hospedagem dos mandarins superiores que vinham a Macau e actual Templo de Lin Fong, Lin Zexu recebeu o Procurador de Macau, José Baptista de Miranda e Lima, declarando-lhe a proibição do comércio de ópio. Este concordou e prometeu cooperar com o governo chinês, tal como aceitou ficarem os portugueses de Macau neutrais no conflito sino-britânico, não permitindo que as forças invasoras inglesas usassem Macau como base durante o conflito. “Sem se encontrar com Silveira Pinto, porém, Lin partiu bastante satisfeito, depois de um passeio pela Praia Grande, tendo presenteado o procurador com um leque, em sinal de consideração, e a guarda de honra com flores, açúcar, chá, vinho, vacas, porcos e barras de prata”, segundo Montalto de Jesus, em Macau Histórico. Estadia de uma manhã, que o Vice-Rei Deng Tingzhen e o Comissário Imperial Lin Zexu fizeram a Macau, território chinês então sobre administração portuguesa. Alfredo Gomes Dias adita: “Mas a prova das boas relações existentes entre as autoridades portuguesas e chinesas não se resumiu à visita do comissário Lin. Também o Hopu de Cantão, chefe das alfândegas chinesas naquela província, visitou

Macau de 5 a 8 de Setembro. Por seu lado os ingleses, refugiados em Hong Kong, remetem novo pedido no dia 12 para regressar a Macau”. Já Montalto de Jesus refere que, “Ao anunciar a intenção de bloqueio de Cantão (...), o despacho de Elliot de 12 de Setembro de 1839 a Silveira Pinto solicitava refúgio em Macau para os mercadores ingleses e suas famílias e propunha centralizar aí o comércio inglês; se fosse autorizada a armazenagem em Macau das cargas inglesas de produtos legais, pagando-se os habituais direitos, a amizade e a sabedoria de tal acto, assegurou Elliot, não seriam desprezadas pelo governo inglês, crendo ele ser essa a graciosa intenção, e que estaria ao alcance de Sua Majestade assegurar permanentemente as vantagens de tal trânsito do comércio para a colónia, para sua imensa prosperidade. Seria difícil, acrescentava, recusar esta ajuda ao governo inglês sem incorrer no risco de discussões calculadas para alterar a estrita neutralidade que se desejava manter. Por outras palavras, Elliot estava agora determinado a levar avante a sua projectada anexação de Macau”. E com uma nota do Asiatic Journal de Março de 1840, Montalto segue: “Ao mesmo tempo Elliot tentou impedir os americanos de comerciar em Macau. Quando informado disto, Lin disse: <Quem é este Elliot que tão presunçosamente se atreve a proibir as embarcações de outras nações de entrar no porto? Uma conduta como esta é ultrajantemente obstinada, e ser-me-á impossível voltar a perdoar as suas ofensas>”. Na resposta de 14 de Setembro de 1839, segundo Alfredo Dias, “a recusa de Silveira Pinto manteve-se, lembrando o superintendente inglês do perigo que corria a Cidade se autorizasse o pedido de regresso dos cidadãos britânicos: <S. Senhoria sabe muito bem que com uma só Chapa de qualquer Mandarim China os mantimentos, e mais socorros seriam em um instante retirados a todos os habitantes de Macau...>”

ASSALTO AOS VÍVERES

Logo no dia seguinte à visita a Macau de Lin Zexu, a 4 de Setembro ocorreu a Batalha dos Juncos, pois, como refere Alfredo Dias, “Elliot, depois de lhe terem recusado os abastecimentos de que

necessitava, abre fogo sobre os juncos que cercavam Hong-Kong”. Também a 12 de Setembro de 1839, um brigue mercante espanhol, o Bilbaino, tomado por uma embarcação inglesa, foi, por ordem do comissário imperial chi-

nês Lin Zexu, apanhado e queimado no fundeadouro da Taipa. Mas Alfredo Dias sobre o assunto adita que o incidente em torno do brigue espanhol de Manila Bilbaino, “veio deitar mais uma acha para a fogueira em que se tinham transformado


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José Simões morais

as relações entre a Grã-Bretanha, Macau e a China. Envolvendo um navio que se encontrava à espera de poder entrar no porto de Macau, foi aproveitado pelos britânicos para se abastecerem tendo sido, por isso, atacado e incendiado por lanchas chinesas”. Marques Pereira complementa, “O segundo piloto, encontrado a bordo, foi daí levado pelos chineses para Cantão, onde o expuseram de canga ao pescoço. O Senado de Macau publicou por essa ocasião um edital, ordenando uma ronda armada no porto exterior e na Taipa, e ao mesmo tempo proibindo a aproximação de navios com ópio”. Segundo Montalto,

“Para evitar mais complicações, embarcações armadas portuguesas guardavam os portos de Macau contra a aproximação dos barcos carregados de ópio”. O Governador Silveira Pinto enviou um ofício para o governo de Lisboa a 29 de Setembro de 1839 comunicando a abertura do comércio em Macau, fechado desde Março. Este ofício foi feito após a primeira reunião em Macau entre os oficiais chineses e ingleses a 25 de Setembro, que falhou, tal como a segunda realizada a 15 de Outubro, também nesta cidade. Segundo Alfredo Gomes Dias, a 1 de Novembro de 1839 “O procurador José Baptista de Miranda e Lima oficia o mandarim da Casa Branca solicitando que ele satisfizesse a reclamação de Gabriel Yruretagoyena, proprietário do Bilbaino”. A 6 de Fevereiro de 1840, data em que “foi nomeado Lin Zexu como Vice-Rei das províncias de Kuang-tung e Kuang-si”, segundo Marques Pereira, “chegou a Macau o enviado espanhol, capitão Halcon, a fim de exigir do governo chinês satisfação pela queima do brigue Bilbaino, que se verificou, em 12 de Setembro de 1839”, como refere Luís Gonzaga Gomes.

HOSTILIDADES BÉLICAS

Para José Calvet de Magalhães (Cônsul Português de Cantão entre 1946 e 1950), “Em Novembro de 1839, depois de uma série contínua de pequenos conflitos e quando o comércio britânico na China foi seriamente ameaçado pela acção enérgica do comissário imperial Lin, tiveram lugar as primeiras hostilidades que deram início à Guerra do Ópio, considerada como uma das guerras mais imorais levadas a cabo por uma nação ocidental. Se é certo que um dos propósitos desta guerra foi o impor à China o comércio do ópio, que nessa época constituía uma das principais fontes de receita da Índia britânica, as origens do conflito acham-se, sem dúvida, ligadas ao tratamento infligido aos estrangeiros residentes nas <fábricas> de Cantão e às consequentes humilhações infligidas às autoridades britânicas pelos mandarins do Império Celeste”. Como refere Alfredo Dias, “Os britânicos, uma vez expulsos de Cantão nada mais tinham a perder enquanto que Macau, para além de estar sujeito a diferentes tipos de pressão por parte do poder imperial, simbolizava a manutenção de uma presença na China, com um passado de trezentos anos com toda a rede de interesses políticos e económicos que gerou. Era fundamental sair desta crise com dignidade e salvaguardar a honra nacional, para o que só o engenho diplomático podia contribuir decisivamente através da definição clara de uma política de neutralidade”. A 2 de Novembro de 1839, refere Marques Pereira, “vinte e nove juncos

chineses de guerra, comandados pelo almirante Kuan, atacam em Chuen-pi (Chuen-pee, na zona da Boca do Tigre, Delta do Rio da Pérola em Guangdong) as corvetas inglesas Volage e Hyacynth, mas foram rechaçados com grande perda, afundando-se muitos, e saltando um por explosão”. Alfredo Dias refere ser o dia seguinte, 3 de Novembro, a “data geralmente apontada para o início da I Guerra do Ópio” entre a Grã-Bretanha e o Império da China.

“Seria difícil, (...) recusar esta ajuda ao governo inglês sem incorrer no risco de discussões” O Édito das autoridades de Cantão de 26 de Novembro de 1839 proibia o comércio com os navios ingleses, de 6 de Dezembro em diante, assim como a estada de qualquer súbdito inglês em Macau. Montalto de Jesus diz: “Um édito do mandarim de Heangshan ordenou de novo a expulsão de Macau dos ingleses, tendo o seu regresso sido atribuído a um desejado entendimento com os mercadores hong quanto às regulamentações projectadas para comerciar em Whampoa (Huangpu); mas visto os mercadores ingleses se recusarem a assinar promessas de não importação de ópio, visto o assassino de Kowloon não ter sido entregue e os traficantes proscritos, e os seus barcos de ópio não terem sido mandados para casa, as tropas chinesas receberam ordens para avançar sobre Macau para deter os residentes ingleses, a quem as pessoas estavam proibidas, sob pena de morte, de servir ou fornecer provisões”.

VOLTAM OS INGLESES A MACAU

Este Édito do mandarim de Heangshan foi reforçado pelo Decreto Imperial de 5 de Janeiro de 1840, quando o Imperador Daoguang (1821-1850) proibiu o comércio com a Inglaterra, como refere Marques Pereira. “Não obstante a proibição existente desde 6 de Dezembro de 1839 de qualquer súbdito britânico permanecer em Macau, eles desembarcaram naquele porto a 23 de Janeiro de 1840 passando aí a residir. Longe vai já o tempo em que o Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto recusou a estada aos britânicos, tal como aconteceu em Setembro de 39. Os acontecimentos precipitavam-se, os confrontos militares entretanto iniciaram-se e o governador aceitou a seu cargo a tarefa de proteger os súb-

ditos britânicos apesar de não ser uma atitude aceite unanimemente por todas as autoridades político-administrativas da Cidade...”, como refere Alfredo Gomes Dias. E continuando com este historiador, “Uma vez mais a permanência britânica em Macau despoletou a imediata reacção das autoridades chinesas. Uma semana depois, a 31 de Janeiro (de 1840) chegava a Macau o Tao-tai. Este comunicou ao procurador que as suas ordens iam no sentido de, no prazo de cinco dias, suspender todo o comércio português, retirar todos os chineses e usar a força para expulsar os ingleses caso não saíssem da Cidade de sua livre iniciativa. Mas as autoridades mandarínicas não vão esperar pelo fim do prazo para repetir as ameaças. Logo no dia seguinte era apresentada uma proclamação imperial onde se anunciava de novo a intenção de cercar e prender os ingleses presentes em Macau. Numa tentativa de isolá-los das restantes comunidades, as autoridades chinesas neste documento indicam de um modo claro quem pretendem atingir: <... porém receando eu, o Tao-tai, que os Chinas, e os Estrangeiros se apoderassem do terror, e os malévolos aproveitassem a aberta, para motivarem desordens, e causarem perturbações, convém de antemão instruir, e avisar o Público por meio desta Proclamação. Portanto espero que todas as famílias chinesas, e toda a classe do povo, que habita Macau; e igualmente os portugueses, e estrangeiros de outros reinos estejam persuadidos, que a minha vinda aqui é meramente para cercar, e prender os Ingleses, e vós não sereis envolvidos em coisíssima alguma. Procurai, pois, vós todos estar sossegados, e não vos atemorizeis. E se algum malvado aproveitar a ocasião para molestar-vos, e causar perturbações, sois permitidos declarar-me os seus nomes, e acusá-los, que eu, o Tao-tai, os mandarei prender pelos meus soldados, e os farei executar aqui mesmo em Macau, para tranquilidade do Povo Chinês, e sossego de todos os Estrangeiros>”. Mas em vez de os britânicos se retirarem de Macau, segundo o jornal inglês Canton Register, “Elliot requisitou ao Governador de Macau uma guarda para proteger a sua pessoa e bens britânicos, o que Silveira Pinto não aceitou”. E terminando com Alfredo Gomes Dias, em Macau e a Guerra do Ópio, que neste artigo foi muito citado, “Perante a resposta negativa do governador e sentindo o cerco apertar-se, as autoridades britânicas decidem então forçar a entrada no porto de Macau utilizando para o efeito a corveta Hyacinth, largada a partir da fragata Volage fundeada na rada de Macau. São os acontecimentos de 4 de Fevereiro” de 1840.


18

h Contraste simultâneo

E

STAR triste. Estar tão triste, que mais nada se apresenta nítido. Por momentos. Tão triste quanto a alma permite como limiar do impossível. Quase a tocar. Tanto que quase se sente inviável a ligação a um corpo que parece teimar, com uma energia própria, em não sucumbir. Alienado dessa paragem de toda a vontade que não seja ficar ali. No território de uma tristeza sossegada. Legítima. Quase confortável. Ou tão inquieta, que às vezes a alma parte por aí tumultuosa e em desespero. E eu vou atrás dela para que não se perca, como criança desassossegada e inconsciente. Numa corrida em que nem a apanho nem a perco de vista. E depois, estes dias de um sol brilhante e de um céu azul, denso e sem mácula. Os brilhos intensos em tudo e mesmo na mais ínfima folha de uma planta. Virada para a luz. Com uma intencionalidade que não vem da consciência impossível de uma planta, mas de um outro saber. Saber da matéria orgânica. E é tão bom. E não haver melhor do que dias assim. E mesmo assim estar triste. Triste e bem disposta. Ser triste que sou. E depois, voltar aqui. Bem ao meio deste longo lamento contra os optimistas bélicos. E já ter que dizer os dias como hoje envoltos também numa película nebulosa de cinzento. E voltar de novo a este lugar do texto para dizer que já chove. E nesse retorno, sentir que grande parte destes parágrafos é um refrão que se repete e de que é preciso recortar figuras ou formas e guardar para outros dias. Às vezes guardo pequenas frases, palavras bonitas e soltas, de que gosto como contas ou pérolas. Que não ficam bem neste colar mas quero guardar para um outro. Há detalhes fúteis em qualquer emoção existencial. Que o pudor teima em relegar para locais menos nobres. Caixinhas como de bijuteria da vida. Mas o refrão que por aqui abaixo começa por se repetir, vi-o depois excessivo. Preciso para mim como na música. E, mesmo aí, de tão insuficiente que repito por horas quando a alma mo pede, a mesma, sempre a mesma música. Sem desfitar de uma mesma emoção. Sem saturar. Até um ponto. Mas demais aqui. E recorto a custo. Figurinhas como de papel. Tristes. Sim, às vezes o mergulho é a pique e só a música condiz com a forma da

minha deriva. Instrumental às vezes. Vozes roucas quase humanas como a de violoncelo, que parecem desentranhadas da alma. Ou não. Outras vozes. A encobrir as que temo e me possam enlouquecer. Desarticular. Perder fragmentos. Ou perder-me em fragmentos, talvez. Uma harmonia que custo a encontrar na longa lista de possibilidades. De músicas. Que procuro de cabeça meio perdida e impaciente de encontrar. Depressa, para poder parar. Estacionar no lugar dos sons. Voltar à tristeza. Específica como nenhuma, na voz em que preciso de a encontrar. Do momento. Que acolham o que sinto sem oposição e sem luta. Num embalar ao que anda desvairado, sem casa e sem apaziguamento. Como um antídoto particular e, como estes, feito da mesma matéria química ou sensível, mas não para que anule o veneno. Só para não fazer demasiado mal. E, é na música, quando tão sóbria quanto preciso, que se desfazem nós de angústia. Não da angústia de estar triste mas de toda a impossibilidade dessa paragem que não pode ser. Desse desalento confuso e maior, que de tão volátil, impreciso e esquivo, se mantém intratável até ao momento de uma certa calma. Um certo silêncio de todos os desesperos e o retomar das necessidades básicas. Comer, por exemplo. Ou dormir, que é uma coisa de abandono. E às vezes começa a insinuar-se uma certa indiferença fria e distante. Outras vezes um sentimento já de quase mesmo aversão àquilo ou a quem nos faz triste. À vida de todos os dias. Ao esforço que exigir sempre cada objectivo. Mas ser o estar triste não uma doença, e não contagioso ou contagiante. Alimenta-se de dentro. De sonhos e expectativas. De passado e de futuro. E de perdas. Passadas - como passadas foram as do caminho percorrido - e futuras. Onde me levo de novo à eterna questão de ser ou não o passado perdido. De ser ou não ser, ter sido, o ganho que se tem garantido. A alegria é-o do momento presente. Quando é. Mas a tristeza, a minha é um substrato inerente ao meu modo de não desistir do muito que gostaria que a vida fosse. Que existe na base da minha alegria de às vezes e da minha boa disposição. Mas não é que seja um pessimismo teimoso. Nem estar triste por convicção,

nem feliz por religião. Às vezes, acho-a uma tristeza boa. Como um bom cão, de guarda a sonhos que não quero perder. E um bom cão, guarda o dono até na morte. Talvez também os sonhos. Ou dizendo de outro modo, que os sonhos, mesmo os impossíveis, não podem ser como castelos de areia. Há os que se vão com a primeira onda e os que são a estrutura do que somos coerentemente. Mesmo nas impossibilidades que reconhecemos em nós. Que estruturam a partir de um ponto no infinito. Esse abismo. Para dentro ou para fora. Longe ou perto. Perto ou longe. Dias há, de caminhar sem rumo. E dias sem sair. À procura de algo que se afastou da paisagem avistável. Noites compridas sem sono. Sem vontade. Sem vontade do sono. Sem querer um dia novo de caminhada sem norte. Procuro as brasas do fogo de sempre e perdi-as. De vista. Perdi as coordenadas que sempre me levavam ali mesmo na cegueira. E caminho para esvaziar a mágoa indistinta, imprecisa, ténue. Sem lhe saber contornos diferentes de outros dias, a mais do que um vazio que se vai instalando. De ausência palpável do que não estava lá. Talvez sonho. Talvez mesmo aquela força subterrânea que faz do sonho uma espécie de realidade paralela. Possível. Tão imaginável. É talvez isso que se desfez sei lá como. Uma intuição ou uma fraqueza de fé. Caminho pela noite à procura das luzinhas ténues de um fogo já rarefeito. Brasas quanto muito. E deparam-se-me muros. Fechados. Com gente ali. Mas eu sei que este não é meu caminho. Longe de tudo. Caminho pela noite de braços cruzados e cabeça baixa contra uma aragem fria. Ou não saio. E é o mesmo. Não sei quanto estou perdida e longe. Não sei. Não sei se posso voltar ou de onde. Não sei. Não vejo. Dias assim. Ou momentos que nem minutos têm de vida. A esperança, talvez. Essa espécie de ciência da adivinhação que nos projecta em possibilidades e de algum modo dá sentido à, aquém dela, inexistência de algo. Dizer que adivinhar não é uma ciência, afinal. Mas que dizer de Júlio Verne ou da capacidade de sonho e antecipação que estão na base do labor científico…Que inventa antes de descobrir. A diferença entre uma verdadeira pergunta com um ponto de interrogação no fim, ou um deva-

neio a não querer mais do que o sonho da possibilidade de perguntar sem uma resposta fechada em si. Dias assim. Ou momentos que nem horas têm de vida. E depois, subitamente ou devagar, o desgaste. A erosão própria a estruturas complexas e de muitas texturas incertas. Nada no ser é liso em termos existenciais. Redondo sim e etéreo na sua geometria de forma abstactamente redonda. Arquétipo de tipologia esférica. Mas a existência recobre de irregularidades múltiplas e que são mais frágeis à corrosão. Estar triste e depois já não estar. Sei lá… Mas às vezes era preciso que alguém dissesse: Não faz mal. Estar triste. A tristeza é natural e a tristeza não é má. Porque estar triste é resistir à fragmentação de um eu que, ou não sente, ou não é filho de boa gente. Como o luto. Tudo faz parte da unidade facetada do que se é, e é numa harmonia em que é proporcional a tristeza, à importância que se dá às coisas, às pessoas e aos sonhos de vida. Que se perdem que desiludem que desamparam. E a nós próprios naquilo que sabemos não ser, que não sabemos ser, mas que não perdemos de vista. E é assumir que isso teve um valor positivo mesmo que em sonho ou expectativa. Contraste simultâneo ou o elogio da tristeza. Ou a felicidade de gostar, em contraponto com a tristeza de não ter. Não por se gostar de ser triste. O elogio da tristeza porque é fundamental viver os paradigmas. Neste mundo infernal o paradigma é a alienação possível. Daqueles que se não vitimizam. Fugir à fragmentação da alma de cada vez que se vê contrariada, frustrada e triste. À tentação de deixar descartados sentimentos e sonhos como se de nada tivessem valido, de cada vez que são frustrados e contrariados. Rejeitar a troca da coesão de um ego amante de coisas amáveis, pela constatação de que não estão maduras para si. Estão verdes. Não prestam? Porque a utopia é esse oásis da melancolia, sempre à espreita, esta, de cada insucesso. Ou a tristeza. Ou ser triste. Digo. E contradigo. O que não é diferente ou contrário a ser bem disposta. Ser as duas coisas. Como uma avaria lógica. E alegre também. Independentemente. E muitas vezes – quase sempre - as duas em simultâneo. Contrastes. Só nunca fingir.


19 hoje macau sexta-feira 6.5.2016

ANABELA CANAS

de tudo e de nada

Tenho esta maneira de estar triste, e eu estou tantas vezes triste, mas muitas vezes triste e bem disposta. É isso que é para mim uma estranha combinação. Tento que os meus lábios não curvem para baixo para sempre. Como forma de resistir à devastação da mágoa, tento encontrar a disposição que retém alguma da ternura que me constituía dantes, como antídoto à mágoa. E todos os dias há situações que magoam. Algumas mais indeléveis do que outras. A desilusão em crescendo. Mas fazer o impossível para me não afundar nela e construir o desenho do que amo e quero reter, mesmo que à custa da memória, mesmo da que dói, mesmo que à custa de um olhar distanciado. Segurar-me nas franjas de uma realidade que posso reter com os olhos. E às vezes advém daí uma inesperada sensação de euforia vital. Que não anula a tristeza subjacente mas a desfoca momentaneamente mantendo a certeza de que lá está mas um pouco recoberta de outros pensamentos e da energia necessária a vencer a inércia da mágoa. Não vou dizer o indizível da esperança sem nome e da inabalável fé no devir. Vou antes serenar no lirismo possível de tudo

ser possível até prova em contrário. E que ao fundo não se avista beleza certa, mas há uma curva no caminho que desculpa a invisibilidade e deixa em aberto o que para lá se desdobra no tempo. Essa ocultação necessária, porque a vida se faz de epifanias pontuais e precárias e de ocultações misteriosas e aliciantes, e que é a pedra de toque de um sentir em aberto e triste, muitas vezes. Mas não sem redenção. Gosto da crueza do real sentido. Tal e qual mesmo a doer. Ou de, noutros momentos uma certa indefinição. De não pensar e não sentir nem desistir. Estar triste e pensar que vestido levo ao aniversário de N. Que dê com aquele batom. É a vida. Que é cíclica como as marés que não se suportariam sem a alternância de cheios e vazios. E feita de todas as cores. Não sei porque se diz de cores, serem tristes. Tristes umas, contentes outras. Alegres. E destas: vivas saturadas ou puras. Sem quebra. Sem misturas. Do branco, do negro ou do cinzento. Porque se diz das que são suaves, estáticas, mudas... Não sei por que analogia se lhes chama tristes. Sei. Já as que se chamam alegres, vivas, dinâmicas, vio-

lentas, mesmo. Contrastantes como excessos. Mas vejo uma estranha variedade de cromatismo nas emoções tristes. Que vai desde o maior silêncio ao maior tumulto. Porque também este é um sentimento que se envolve de razões e causas de emoções que se fiam num mesmo cordão. Como se, nesse paralelo de calor e intensidade, a alegria fosse um conjunto de paralelos a partir do equador. A partir de um ponto tórrido e desvanecendo-se progressivamente de violência. E a tristeza fria e informe como as cores diluídas. Sempre de uma mansidão calma e desmaiada. Em hipóteses contrárias me perco na memória, de muitas tristezas diferente. Ao longo dos dias e das horas. Com os contrastes possíveis como os das cores. Lembrei-me dos Delaunay. Sobretudo Sónia. Os contrastes simultâneos entre cores puras. Quentes e frias. Como segredo para intensificação mútua. Mais ainda se forem complementares. A estonteante dinâmica perceptiva criada pelos grandes discos concêntricos. Uma euforia de vida. Uma agitação que se liga ou mesmo confunde com alegria. E a sua contribuição para um cubismo a que

Anabela Canas

faltava lirismo, cor e luminosidade, por tão intelectual e austero. Mas não para mim. Em que tudo se faz de tudo. A sobriedade que pode haver na alegria suave e a violência do apagamento na tristeza ou a dinâmica do tumulto interior. Quando não se aliena o sentir só porque está na moda ser alegre e positivo. O que há de pessimismo em estar triste quando se está em perda, mas se gosta daquilo que se perdeu. O que será tão contrário ao optimismo, no assumir o valor da demolição de um sonho, enquanto se sente, em vez de mobilizar um alheamento alienado daquilo que nos constrói e caracteriza. Como se só a victória de um sonho o tornasse válido. Ou se do desapontamento não sobrasse o gosto de se ter esperado o melhor. Até uma suave impressão de ter sorte na tristeza porque significa que algo foi preenchimento. De novo como a imagem das marés. Sem uma a outra não faz sentido. Gosto daquele nome que ganhou o movimento dos Delaunay. Orfismo. De Orfeu o poeta mítico. Ou cubismo órfico, ou lírico. E da sua raiz conceptual na enorme semelhança entre a música e a exaltação da cor. O mesmo lirismo. Feito de contrastes, ou harmonias suaves. Mas como se poderia exaltar a cor sem o reverso que a faz brilhar. E de novo, como as marés. A vazia a criar um arrastamento do qual só aquele momento de paragem e a imediata e inexorável subida que se lhe segue, torna suportável. E o contrário. Nas pessoas também. Em cada uma. Só. Contraste simultâneo ou a última palavra. Entranhadamente triste. Devia ser esta. Ou voltar em síntese, ao optimismo e ao pessimismo como faces reversíveis. Ou ao quase paradoxo de haver de ambos na tristeza. E de não se querer facilmente que nos arranquem dela como de casa. Porque, diria triste, as pessoas não gostam da tristeza. Como um bicho feio. Incomodativo. Como um espelho a arrastar para baixo. E querem empurrá-lo à força para fora da sua visão e de nós. Mas não é um bicho feio nem mau. Tem de todas as tonalidades como a música. Ou as cores. E marés como o mar. Os dias são assim. Texto tecido. To be continued…


20 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau sexta-feira 6.5.2016

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

“MONTAGEM DE ANIMAIS” (FAM) Antigo tribunal, 20h00

MIN

25

MAX

30

HUM

75-98%

EURO

9.11

BAHT

Amanhã

DJS D’MOND E ROLA COM ROCK & INDIE DANCE Kam Pek, 23h00 CONCERTO COM “MACAU INFINITE TRIO” Fundação Rui Cunha, 20h00 “UM CHÁ DE SONHO”, DOS DÓCI PAPIAÇAM (FAM) Centro Cultural de Macau, 19h30

O CARTOON STEPH

Domingo

“CONVERSA SOBRE A FOTOGRAFIA DE LEONG KA TAI” Armazém do Boi, 15h00 às 17h00 “MONTAGEM DE ANIMAIS” (FAM) Antigo tribunal, 15h00 e 17h00 “UM CHÁ DE SONHO”, DOS DÓCI PAPIAÇAM (FAM) Centro Cultural de Macau, 19h30

“DESLIZAR” PELA LE PATIN LIBRE (FAM) Ringue de Patinagem Future Bright, 13h00 e 20h00

Diariamente

EXPOSIÇÃO “LA VIE EN MACAU”, DE ANTONIO LEONG Albergue SCM (até 12/06) EXPOSIÇÃO “O SONHO DO PAVILHÃO VERMELHO”, DE ZHANG BIN Casa Garden (até 19/05) EXPOSIÇÃO DE TIPOGRAFIA “WEINGART” Galeria Tap Seac (até 12/06) EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA”, DE CHARLES CHAUDERLOT Museu de Arte de Macau (até 12/06) EXPOSIÇÃO “TIBET REVEALED” Galeria Iao Hin EXPOSIÇÃO “AS DIMENSÕES DO SONHO E ARTE” Fundação Rui Cunha (até 12/05)

Cineteatro SALA 1

C I N E M A

CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR [B] Filme de: Anthony & Joe Russo Com: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson 14.30, 18.30, 21.15

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 82

UM FILME HOJE

THE HIMALAYAS

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Lee Seok-hoon Com: Hwang Jung-Min, Jung Woo 14.00, 21.45

A saúde é só para quem pode. É mesmo. Esta manhã ouvia duas pessoas que estavam sentadas ali no parque onde me costumo passear. De idade avançada, uma delas queixava-se das longas horas de espera que teve nos serviços de saúde públicos.Ao que parece, o senhor sofria de uma indisposição, que, com o passar do tempo, se foi agravando. Sem meias medidas, contava ao seu amigo, levantou-se e foi embora. Não aguentava mais. Apanhou um táxi com a sua filha e juntos foram aos serviços de saúde privados. Uma clínica sem cheiro a médico e pessoas simpáticas. Daquelas que parecem querer trabalhar. Um médica cuidadosa e com um sorriso servindo de bálsamo, ouviu, tentou perceber, mandou fazer análises e colocou as hipóteses sobre a mesa. Pelos sintomas o diagnóstico podia variar, contudo as desconfianças da médica foram certeiras. Em meia hora o caso estava descoberto, o homem medicado e livre para ir repousar junto aos netos. A passagem pelo balcão trouxe a chamada “dolorosa”. O pagamento. Passou os três milhares de patacas. Por dez minutos e dois tubos de sangue. Se não se morre da doença, morre-se da cura. “Foi a minha filha que pagou”, admitiu envergonhado. Pudera, com as reformas que por cá se fazem, o senhor ficava a zeros. “A saúde é só para quem pode”, comentava. Eu, entre miadelas e lambidelas, lá me fui lembrando que não me lembro de ver ricos doentes. O mundo está mesmo ao contrário. O público não deveria ser melhor que o privado? Enquanto assim não for, o pobre irá sempre padecer. Pu Yi

“CAPTAIN AMERICA 3: CIVIL WAR” (ANTHONY RUSSO E JOE RUSSO, 2016)

Se é fã dos Vingadores, sabe que o seu capitão e os colegas voltam à tela, hoje no filme “Captain America 3”. Um incidente onde estão envolvidos os Vingadores causa várias mortes e o Governo decide criar um sistema para administrar a equipa dos heróis, fazendo com que os Vingadores se dividam em dois campos: o Capitão lidera um com os colegas que não queriam ser controlados pelo Governo, defendendo a humanidade com a sua própria liberdade. O líder do outro grupo é Iron Man, que concorda com a supervisão do governo. Qual campo vai vencer nesta guerra? Uma coisa é certa: haverá uma grande impacto na humanidade. Tomás Chio

CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR [3D] [B]

Filme de: Anthony & Joe Russo Com: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson 16.15, 19.00 SALA 2

SALA 2

PROBLEMA 83

SUDOKU

DE

“DESLIZAR” PELA LE PATIN LIBRE (FAM) Ringue de Patinagem Future Bright, 13h00 e 20h00

“LENDA DO GANCHO DE CABELO PÚRPURA” (FAM) Cinema Alegria, 19h30

1.23

SÓ PARA QUEM PODE

DJS KIT LEONG E GORDON (TECHNO/HOUSE) Kam Pek, 23h00

“MONTAGEM DE ANIMAIS” (FAM) Antigo tribunal, 15h00 e 17h00

YUAN

AQUI HÁ GATO

“CONTOS DE FADAS DO MUNDO DO CAOS” (FAM) Teatro D. Pedro V, 20h00

“LENDA DO GANCHO DE CABELO PÚRPURA” (FAM) Cinema Alegria, 19h30

0.22

BOOK OF LOVE [C]

FALADO EM MANDARIM E CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Xue Xiaolu Com: Tang Wei, Wu Xiubo 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


21 hoje macau sexta-feira 6.5.2016

OPINIÃO

um grito no deserto

PAUL CHAN WAI CHI

N

ÃO sai muito caro comprar uma taça de doce de feijão-mungo. Poupa-nos tempo e a maçada de o preparar. Mas o gosto é muito diferente dos da minha infância. Por isso, sempre que estou com disposição e disponho de algum tempo, prefiro fazer eu próprio esta sobremesa. Quando eu era pequeno a minha avó materna fazia este doce com feijão-mungo, cascas secas de tangerina, arruda e açúcar mascavado. Ela punha bastante arruda, que tem um gosto amargo, e por isso adicionava muito açúcar mascavado para neutralizar a acidez. Como me habituei a este sabor agridoce, não costumo gostar muito dos que se encontram à venda, com excepção do que podemos comprar no Restaurante Asian, no Palácio de Pelota Basca, que efectivamente tem um gosto parecido com o da minha avó. A minha avó morreu há trinta anos, mas lembro-me dela e sinto a sua falta sempre que preparo esta sobremesa. Embora basicamente use a sua receita, passei a juntar uma alga chamada laminária e a reduzir a quantidade de arruda, para ir ao encontro do paladar da minha mulher, mas mesmo assim ainda ponho mais do que nos doces que estão à venda nas lojas. Como a minha família é grande e este doce leva tempo a preparar, a frequência com que o faço tem vindo a diminuir. Ultimamente só o faço para aproveitar algum feijão-mungo que já esteja lá em casa há muito tempo. A arruda é muito difícil de encontrar à venda. Quando consigo encontrá-la, acabo por me resolver a preparar o doce. Primeiro as laminárias têm de ser postas de molho durante cerca de seis horas e depois cortadas em tiras finas. A seguir todos os ingredientes são colocados numa panela, que deve ser coberta de água a três quatros, iniciando-se então o processo de cozedura. Para permitir que o cloro adicionado à agua se evapore, não se deve colocar tampa na panela. Os ingredientes devem ferver durante aproximadamente três horas, e têm de ser mexidos de vez em quando para garantir que os feijões se vão dissolvendo na água. Como não faço o doce frequentemente, quando faço, faço bastante. Durante as três horas de cozedura tenho de estar sempre atento, coisa que também é necessária quando se afiam espadas, que é também uma actividade que me trás recordações da infância. Quando a sopa está pronta, experimentamos todos um pouco e guardamos o resto no frigorífico. Mas da última vez a minha mulher tinha enchido o frigorífico até cima e já não havia espaço para guardar o doce. Como não estava calor, ficou cá fora à tem-

WEI-HAO CHENG, THE TAG-ALONG

Doce de feijão-mungo e outras estórias

peratura ambiente. No dia seguinte, a minha mulher disse-me que tinha provado e que o doce tinha azedado. Depois de eu próprio o ter provado, percebi que realmente tinha um travo azedo, mas que apesar de tudo não estava mau. No entanto acabámos por deitá-lo fora. E porque é que o deitámos fora se não estava mau? A resposta é simples, a natureza do doce tinha sido alterada. Quando a natureza das coisas muda temos de nos livrar delas, e o mesmo acontece com as pessoas. Foi a esta conclusão que cheguei

O desenvolvimento da sociedade macaense pede participação individual e colectiva. A política é um assunto que diz respeito a todos e requer o nosso melhor

depois da minha experiência falhada com o doce de feijão-mungo. A vida das figuras políticas está recheada de contrariedades. Para que possam ter um desempenho à altura das suas boas intenções, o mais importante é que se mantenham afastadas das tentações de fama e de riqueza. O desenvolvimento da sociedade macaense pede participação individual e colectiva. A política é um assunto que diz respeito a todos e requer o nosso melhor. Este factor deu origem ao aparecimento de grupos e partidos políticos. Como Hong Kong não possui uma regulamentação específica para as actividades dos partidos políticos, os chamados grupos e partidos políticos só se podem registar ao abrigo do “Decreto para Formação de Sociedades” ou “Decreto para Formação de Empresas”. A sociedade macaense é conhecida pelas suas organizações e associações, mas algumas têm uma natureza política. O capítulo 2 da Lei n.º 2/99/M (Estabelece o regime geral do direito de associação) contém a descrição de inúmeras condições e restrições a que ficam sujeitas as associações políticas, de

forma a que seja permitida a sua formação. A maioria das organizações e associações de Macau preferiu existir como simples associação, como é o caso da Associação de Novo Macau. E porque é que é necessário formar grupos e partidos políticos para participar em política? A resposta é simples. Para impedir o individualismo, permitir a monitorização colectiva e obstar a que os envolvidos abandonem os seus ideais. A democracia é um meio para atingir um fim, com o propósito final de criar um bom sistema e uma sociedade saudável que impeça pessoas menos bem-intencionadas de praticar acções negativas e que garanta que os bens intencionados nunca venham a ter vontade de as praticar. O doce de feijão-mungo azeda se não for devidamente acondicionado e as pessoas mudam se não forem devidamente preservadas. Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 6.5.2016

perspectivas

O Brasil e o futuro (II)

A

economia brasileira entra no seu quinto ano de estagnação, tendo o escritor judeu –austríaco, Stefan Zweig, escrito uma visão correcta da actualidade no seu livro “Brasil, País do Futuro”, apesar de se por à prova a confiança no capitalismo, estimulado pelo Estado, e para muitos pelo populismo do ex-presidente Lula da Silva e da actual presidente Dilma Rousseff. O custo das políticas estatais tornou-se evidente, com o aumento da dívida pública e deficit fiscal. Depois de vencer as eleições, a 26 de Outubro de 2004, garantindo que a situação económica era razoável, a presidente brasileira começou a preparar um programa de austeridade fiscal, sem sucesso. No entanto, a sua vitória apertada nas eleições, enfraqueceu o seu poder no Congresso. Embora algumas das medidas de ajuste fiscal tenham sido adoptadas, muitos outras foram atrasadas, incluindo os aumentos de impostos necessários para cessar o crescente deficit orçamental. Prevê-se que a economia vai contrair 3,5 por cento, em 2016 e pode ter uma queda um pouco menor, em 2017. A economia em recessão continua a enfraquecer as receitas fiscais do governo, pela queda das colectas. O deficit primário não é tão alto, mas o peso dos juros vai atingir um deficit global de 9,5 por cento do PIB, o que poderá a levar a dívida pública bruta, acima de 70 por cento do PIB, e poderá levar a novos rebaixamentos da sua classificação de risco de crédito. O Standard & Poors reduziu o “rating” para o Brasil, a especulativa, enquanto a Moody e Fitch advertiam que a grau de investimento na classificação de crédito estava a ser revista para evitar a classificação da capacidade creditícia, e para a acautelar tal situação, a presidente brasileira, nomeou um novo ministro da Fazenda que não chegou a aquecer a pasta por divergências com a presidente Dilma. Além de recuperar o controlo das finanças públicas no Brasil, uma das principais tarefas da agenda governativa é reposicionar o “Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) ”. O governo tinha delineado as mudanças de política para o importante banco de desenvolvimento, pois cresceu tanto, que a sua subvenção custa mais ao governo, que o reconhecido “Programa Bolsa Família (PBF) ”, que atribui um benefício mensal às famílias pobres. Os críticos defendem que é uma fonte de distorção económica e de favoritismo aos amigos, que experimenta a democracia no Brasil, e até mesmo alguns grandes empresários que muitas vezes trabalham com o BNDES, pediram para serem criados limites às

suas acções, pois cerca de 60 por cento do crédito, é concedido às grandes empresas, em vez de apoiar as pequenas e médias empresas, incluindo muitas grandes empresas, “campeões nacionais”. Os críticos dizem que o governo usa o BNDES e outros bancos estatais para disfarçar o deficit orçamental. O Brasil necessita urgentemente de voltar a atrair investimento externo e interno. O governo brasileiro deve dar prioridade a um choque de confiança, que entusiasme os investidores dentro e fora do país, devendo retirar os controlos e rigidez que pesam sobre uma economia sobrecarregada de dificuldades, e que desde há muito, não se pode considerar de aberta. É necessário eliminar a incerteza incluída na actual recessão.A inflação no Brasil é mais do que o dobro da meta oficial de 4,5 por cento anual. Existem avaliações específicas, além dos dados das sondagens de rua, que mostram o mau humor existente.Aquando do planeamento da economia brasileira para 2016, 70 por cento dos entrevistados afirmaram que este ano iria ser pior que o de 2015. A inflação para as pessoas de baixos rendimentos foi e é, a situação que maior prejuízo acarreta. A distribuição do rendimento que estava a melhorar desde 2002, com a chegada do PT ao poder, num país com um coeficiente de Gini muito alto, está a complicar-se. O “Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) ” afirma que a inflação se explica em boa parte, pela liberalização dos chamados preços administrados, que é a electricidade, gás doméstico e o petróleo. Esses produtos, que estão sob controlo oficial, representam um aumento médio de 18 por cento, relativamente a 2015. Além disso, alguns economistas interrogam-se acerca da razão, pela qual, a inflação aumentou em vez de reduzir, nos anos de séria recessão, pois iria contra a curva de Philips. O aumento dos preços, em teoria, deveria estabilizar-se com a queda substancial do consumo das pessoas e do governo. O Ministério da Fazenda, desde o início de 2015, implementou medidas de austeridade para fazer baixar as pressões inflacionistas. Os mentores da austeridade partiam do pressuposto comum, de que a procura estava a pressionar o aumento pelo excesso de compras. O “Comité de Política Monetária (COPOM) ”, que reúne vários organismos governamentais, em função desse diagnóstico, decidiu aumentar de formal substancial a taxa de juros. JOHN FORD, THE GRAPES OF WRATH

“In 2015, Brazil is a country with over 200 million inhabitants, with about 8.5% living in extreme poverty. One of the key challenges is the universality of quality education: there are, at least, 33 million Brazilians who are considered to be functionally illiterate.” Education, Globalization and the Nation Kindle Edition King Man Chong, Ian Davies, Terrie Epstein, Carla L. Peck, Andrew Peterson, Alistair Ross, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt, Alan Sears and Debbie Sonu

O mais complicado é que o Banco Central do Brasil defende manter os juros altos, em 2016, pretendendo evitar a pressão da procura pública e efectuar uma contenção de despesas, suficiente para conseguir equilibrar as contas públicas. As pressões inflacionistas não vêm da procura, dado que o consumo do sector público, as empresas e famílias se encontram em acentuado declínio, e menos provêm das empresas, que mantêm mercadorias importantes, e reduziram o seu pessoal para diminuir as despesas mensais, resultado das altas taxas de juros que penalizam a produção, e obrigam os empresários a obter créditos caros, cujo custo se reflecte nos preços. Os países vizinhos começam a sentir os efeitos da recessão brasileira, sendo exemplo, as empresas do Uruguai que mantêm um estreito vínculo comercial com o Brasil, sendo a indústria automóvel uma das mais afectadas e comprometidas. A perda de competitividade dos produtos uruguaios para como o Brasil, segundo parceiro comercial depois da China, é evidente. A moeda brasileira, desvalorizou-se muito face ao dólar nos últimos doze meses, enquanto o peso uruguaio se desvalorizou apenas 12 por cento. O arroz, carne ovina e os lácteos são outros produtos uruguaios que sofrem a valorização cambial bilateral.Acontracção da economia brasileira afecta aArgentina, em especial o sector automóvel As circunstâncias políticas no Brasil influem claramente na evolução da economia. O “Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) ” retirou apoio à coligação governativa, e o “Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ”, lidera a oposição política na procura do “impeachment” ou destituição presidencial. As suspeitas de corrupção comprometem o núcleo do poder e as diversas manifestações, iniciadas a 13 de Março de 2016 são representativas do mal-estar associado à corrupção e recessão. O destino do Brasil afecta toda a América do Sul. É um processo de final aberto que todos os países na região não deixarão de observar e sentir os seus efeitos. A gigantesca empresa petrolífera brasileira controlada pelo Estado, informou que no último trimestre do ano fiscal de 2015, tinha sofrido um prejuízo de dez mil e duzentos milhões de dólares, atribuindo o desastre à enorme redução do valor de alguns dos seus activos, pelos baixos preços do petróleo. A Petrobras está no centro do furacão

JORGE RODRIGUES SIMÃO

de um escândalo de corrupção, que envolve os mais poderosos políticos e empresários do país, incluindo o ex-presidente Lula da Silva e a actual presidente Dilma Rousseff. A empresa atribui esses desastrosos resultados à desvalorização do preço internacional do petróleo, e à diminuição da taxa de câmbio real, tendo o real desvalorizado 48,3 por cento face ao dólar, em 2015. O aumento das taxas de desconto aplicadas pela Petrobras, devido à perda da qualificação de grau de investimento do país, cuja nota da dívida soberana foi reduzida pelas três principais agências de classificação de risco de crédito do mundo, que são a Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, foi outro dos factores assinalados pela empresa para explicar o mau resultado. APetrobras, em 2014, registou o pior balanço, e no quarto trimestre teve um prejuízo de sete mil e trezentos e setenta e seis milhões de dólares, dos quais mil e setecentos e dezassete milhões de dólares, correspondem a perdas por corrupção, segundo os cálculos da própria empresa. O endividamento no final de 2016 aumentou 39 por cento, por comparação a 2014, para uns cento e oito mil e seiscentos e setenta e nove milhões de dólares, depois de ter atingido em Setembro, o montante recorde de dívida de cento e onze mil e quinhentos e sessenta e quatro milhões de dólares. A fustigada empresa disse que perdeu dez mil e duzentos milhões de dólares no último trimestre de 2015, sendo no pior resultado desde a sua fundação, em 1953.Aimagem da Petrobras, outrora jóia da coroa do governo brasileiro, perdeu o seu brilho por uma combinação de má gestão e corrupção. Este resultado foi 48 por cento maior que os vinte e seis mil e seiscentos milhões de reais, em perdas registados em 2014. O resultado tomou de surpresa os investidores que calculavam em nove mil e setecentos milhões de reais. Os escândalos de alta corrupção e outros diversos crimes praticados por empresários e políticos, muitos deles detidos, com cenas rocambolescas indignas de um Estado de Direito, são obrigados a entrar numa nova fase política que se iniciou a 2 de Dezembro de 2015, quando o presidente da Câmara dos Deputados, autorizou a abertura do processo de “impeachment” contra a presidente Dilma Rousseff, acusando-a de cometer o crime de responsabilidade fiscal, com base na desaprovação das contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União, incluindo as chamadas “pedaladas fiscais”. O presidente da Câmara de Deputados determinou, a 3 de Dezembro de 2015, a criação de uma comissão especial na Câmara dos Deputados para analisar o pedido de “impeachment”. A comissão especial, responsável por analisar o pedido, foi finalmente constituída a 17 de Março de 2015, com deputados indicados pelos próprios líderes partidários. Os deputados da comissão especial do “impeachment” votar am a 11 de Abril de 2015, pela abertura do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff. O parecer da comissão especial é aceite e o processo seguiu para votação no plenário da Câmara dos Deputados. Os deputados, a 17 deAbril de 2016 decidiram pela continuidade do processo de ”impeachment”, com 367 votos a favor e 137 contra, sendo necessários 342 votos favoráveis para a aprovação. A Câmara de Deputados votou por ampla maioria o “impeachment”, pelo que não houve surpresas. O Senado, quase sem dúvidas, deverá ratificar a decisão da Câmara de Deputados e começará o processo de destituição.


23 hoje macau sexta-feira 6.5.2016

PERFIL

WONG WANG LAP, FOTÓGRAFO

O

“Esta é a minha forma de mostrar algo às pessoas”

olhar enigmático deixa antever uma visão muito própria do mundo, a qual retrata em imagens. São imagens de animais a preto e branco, traços que não se compreendem à primeira vista. Ainda que haja cor são fotografias abstractas, com um sentido particular. Wong Wang Lap é fotógrafo, nascido em Macau, e há cinco anos que estuda Fotografia em Londres. Actualmente frequenta o mestrado em Fotografia Documental e, a pouco e pouco, tenta traçar o seu caminho. Já expôs no Reino Unido e por cá, tendo actualmente alguns trabalhos no Armazém do Boi e nas paredes do café Terra. É neste último espaço que Wong Wang Lap fala sobre si com o HM. Como fotógrafo, Wong Wang Lap é Rusty Fox, para que não seja associado a nenhum estilo de fotografia. “Se eu disser às pessoas o meu verdadeiro nome, elas vão pensar: és asiático, então deverias ter um estilo mais asiático de fotografia. As minhas fotografias não têm um estilo específico, tento evitar que as pessoas façam esse tipo de ligação, a um país ou a um estilo.” E Rusty Fox pode não ter um estilo, mas tem preferências. “O meu trabalho foca-

-se muito nos animais e acho que o preto e branco expressa melhor as suas formas do que a cor. Se uma fotografia tiver cor, distraímo-nos com ela. Já trabalho neste projecto com animais há cerca de cinco anos e este tornou-se o meu grande tema de trabalho”, contou. Em Londres, Wong Wang Lap encontrou toda a liberdade criativa de que necessitava. Assume que em Macau as pessoas ainda têm uma mente fechada para novas expressões artísticas e que chegar a locais como o Museu de Arte de Macau ainda é muito difícil. “Não há muitos países onde se possa fazer este tipo de fotografia, nem sequer Hong Kong. O Reino Unido é um bom sítio para se fazer este tipo de fotografia mais artística. É diferente ou especial, se quisermos chamar assim, daquilo que vemos em Macau. Já fiz algumas exposições em Macau e muitas pessoas acham que as minhas fotografias são bonitas, mas a maioria acha que são muito pesadas.”

O LADO ESTRANHO DA IMAGEM

Wong Wang Lap sabe que as pessoas poderão sentir-se chocadas ao olharem para suas imagens. Elas são cruas mas também

abstractas, com uma realidade muito própria. “É difícil pedir às pessoas para aceitarem algo novo, algo que nunca viram antes. Sobretudo se for algo que não é bonito. É um desafio levar as pessoas a ler as fotografias em vez de apenas as verem e dizerem ‘oh, isto não é bonito’.” O fotógrafo não sabe explicar quando é que as imagens começaram a fazer parte da sua vida, mas regressa à sua infância para encontrar razões para a sua escolha. “Esta é a minha forma de mostrar algo às pessoas, a minha visão e a minha forma de pensar. Os meus avós explicaram-me o significado das coisas desde pequeno e estas coisas continuam na minha memória, então tento transpor muitas dessas lembranças para as minhas fotografias. Prefiro que os animais sejam o meu objecto de trabalho. O meu objectivo é tirar fotografias aos animais como se fossem objectos. Faço muitas fotografias mais gráficas, mais abstractas. Procuro dar um novo significado, estou mais focado em mostrar o meu trabalho num espaço aberto, uma galeria, em vez de publicar um livro”, referiu. Regressar a Macau até seria uma possibilidade, mas os constrangimentos

diários fazem com que se mantenha no estrangeiro sem que o regresso esteja definido. “Macau não é um sítio para os artistas a tempo inteiro, sobretudo para os mais jovens. Têm de ter um trabalho e trabalhar como artista a tempo parcial. Fiz todas as minhas fotografias em analógica, em Macau teria de arrendar um estúdio. Seria muito difícil trabalhar aqui como trabalho no Reino Unido. É difícil montar um estúdio de fotografia.” Os pais só agora começam a habituar-se ao facto do filho seguir um percurso diferente, que não passa por um emprego na Função Pública ou por uma formação que dê emprego garantido. “Os meus pais preocuparam-se bastante quando comecei a minha licenciatura, mas quando comecei o meu mestrado e comecei a fazer exposições parece que começaram a compreender melhor aquilo que faço. Compreendem que é difícil trabalhar como artista em Macau.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


“ DETIDO PORTUGUÊS ACUSADO DE PEDOFILIA

U

M homem de 41 anos foi detido pela Polícia Judiciária (PJ), na manhã de quarta-feira, estando acusado de prática de pedofilia aos seus próprios filhos, uma menina de sete anos e um menino de nove. Foi a mãe das crianças, que conseguiu no mês passado a guarda dos menores depois de um divórcio, que começou por estranhar o comportamento dos filhos sempre que estavam na presença do pai. Num psicólogo, as crianças desvendaram os abusos por parte do progenitor. O suspeito tocava nos órgãos genitais dos filhos e intimidava-os com castigos físicos para que não contassem nada a ninguém, avança a TDM, que diz que o homem é português, vive na zona do Parque Central da Taipa, e tinha a guarda das crianças desde 2011, altura que começou o processo de divórcio, tendo na altura a menina três anos e o menino cinco. No momento da detenção, o suspeito, acusado dos crimes de abuso sexual de crianças e maus tratos, agravados pela idade das crianças e pela relação familiar, negou tudo.

Disseste que eras minha / quando te vi na vinha / é certo, estavas sozinha / a rodar, a rodar no centro da ventoínha” João Novelães

Prisão SUBEMPREITEIRO CULPA GOVERNO DE FALTA DE PAGAMENTO

Foste tu e só tu

OBRA DE ESTALEIRO DE COLOANE DEVERÁ ESTAR CONCLUÍDA EM 20 DIAS

O Choi, subempreiteiro ligado à construção do novo Estabelecimento Prisional de Macau (EPM), acusa a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) de ser a culpada pelo atraso nos pagamentos que não foram feitos pela empresa concessionária, exigindo por isso 60 milhões de patacas de indemnização. Ho Choi, que é director da Sociedade de Construção Welbond, referiu que os erros no projecto levaram a um aumento dos preços dos materiais em 30%. Ho Choi manifestou-se esta terça-feira junto às instalações da DSSOPT, mas ontem fez um novo protesto em frente à Assembleia Legislativa (AL) pedindo apoio aos deputados para reaver o dinheiro. Ao HM, Ho Choi referiu que não tem grandes problemas com a empresa concessionária, mas suspeita que a entidade responsável pela concepção e consultadoria transferiu as suas responsabilidades para os construtores e deu vários exemplos de alterações feitas e de despesas que acabaram por ser assumidas pela empresa concessionária. Quando a primeira fase da nova prisão ficou pronta, a empresa de Ho Choi pediu uma inspecção à DSSOPT, mas Ho Choi explicou que o organismo apontou a existência de vários defeitos e

DSAL PROMETE ACÇÃO “IMPARCIAL”

A directora dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong, indicou ao canal chinês do Rádio Macau que a obra de reparação do estaleiro “Lok Hap”, em Lai Chi Vun, Coloane, já começou. “A proposta contemplava o método de manutenção e os materiais. Os nossos funcionários estão a acompanhar a obra todos os dias, apesar de ser inteiramente da responsabilidade do proprietários. Temos uma previsão de 20 dias para a conclusão da obra”, explicou. Susana Wong afastou a ideia de que o responsável poderá abandonar a obra, por isso não está em causa a hipótese de venda da propriedade. Existem 14 estaleiros em Lai Chi Vun, sendo que três foram recuperados pelo Governo. As obras de recuperação do estaleiro surgem depois da exigência do Executivo ao responsável, visto a estrutura correr o risco de ruir afectando a área e as pessoas ao redor.

H

que podia corrigi-los todos de uma só vez. Ho Choi critica a DSSOPT por adiar a aprovação da obra e por ter atrasado os pagamentos à empresa concessionária. Ao jornal Ou Mun, a DSSOPT garantiu que a primeira fase da prisão custou 130 milhões de patacas, tendo feito o pagamento ao concessionário conforme a situação da conclusão da obra, tendo já sido pagos 128 milhões. A DSSOPT confirmou que vai pedir ao concessionário para entregar todos os documentos com as contas para que seja pago o restante montante.

Ho Choi explicou que o pagamento dos dois milhões de patacas tem vindo a ser adiado há dois anos. As contas foram aprovadas pela DSSOPT em 2014, mas, há um mês, o organismo voltou com a palavra atrás e disse que as contas precisavam ser calculadas novamente. Segundo as informações da DSSOPT, a empresa responsável do design da obra é G.L. Project Design & Consultant, a qual não quis comentar o caso com o HM. Flora Fong (revisto por A.S.S.) flora.fong@hojemacau.com.mo

LAWRENCE HO DETÉM AGORA A MAIOR FATIA DA MELCO CROWN

L

AWRENCE Ho é agora o maior accionista da operadora Melco Crown, depois da Crown Resorts, pertencente ao australiano James Packer, ter cedido a sua quota. A Melco International Development de Lawrence Ho torna-se a única grande accionista individual da operadora de jogo, adiantava ontem a imprensa local, sendo que a participação da Crown desceu de 34% para 27,4%. Com o pagamento de 800,8 milhões de dólares americanos a Melco passou a controlar 37,9% das PUB

sexta-feira 6.5.2016

acções. Mas, as notícias não se ficam por aqui: James Packer, que controla 53% da Crown Resorts, deixa o cargo de co-presidente da operadora de jogo, assumindo a posição de vice-presidente. As razões para a venda divergem, com Packer a dizer que precisa de dinheiro para o crédito acumulado da Crown Resorts e Ho a assegurar que a venda está relacionada com o desejo do australiano em investir em projectos ligados ao jogo em Sydney e em Las Vegas.

A Melco Crown anunciou ontem um aumento de 5% nas receitas no primeiro trimestre, comparando com o mesmo período de 2015. A operadora teve receitas de 1.103,6 milhões de dólares nos primeiros três meses do ano, um aumento que se deveu ao Studio City, o empreendimento que abriu em Macau em Outubro, e a nova oferta de jogo no City of Dreams Manila (nas Filipinas), segundo um comunicado da empresa. Já o EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros,

depreciações e amortizações) no primeiro trimestre foi 248,8 milhões de dólares, um declínio de 2% comparado com o resultado de há um ano. O aumento de receitas líquidas no primeiro trimestre do ano inverte a tendência de descida que a operadora registou nos trimestres anteriores, coincidindo com a queda global no mercado do jogo de Macau: no ano passado, os lucros da Melco Crown Entertainment caíram 82,6%, para 105,5 milhões de dólares.

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais emitiu um comunicado sobre o caso da falta de pagamento dos trabalhos do Windsor Arch, onde refere que “irá proteger, nos termos da lei, os legítimos direitos e interesses dos trabalhadores”. O organismo disse ainda que vai “continuar a ser imparcial no tratamento dos conflitos laborais, garantindo e promovendo relações de trabalho harmoniosas”.

MENOS EMPRESAS, MENOS CAPITAL Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), no primeiro trimestre deste ano constituíram-se menos empresas em Macau e o valor do capital social também desceu. Foram constituídas 1117 sociedades, menos 338, e o valor do capital social destas cifrou-se em 123 milhões de patacas, menos 21,8%. Relativamente aos ramos de actividade, a maioria das novas sociedades pertence aos serviços prestados às empresas (338) e ao comércio por grosso e a retalho (323). No trimestre de referência, o número de sociedades dissolvidas foi de 196, mais 38 face ao primeiro trimestre do ano 2015. O valor do capital social destas sociedades situou-se em 52 milhões de patacas, aumentando 101,8%. Relativamente à origem do capital, a maior parte é proveniente de Macau, com 71 milhões de patacas, e da China continental, com 40 milhões, das quais 28 milhões de patacas corresponderam a capital proveniente de Pequim. O valor do capital social proveniente das nove províncias do Grande Delta do Rio das Pérolas cifrou-se em oito milhões de patacas (44,6% das quais eram da província de Guangdong), realçando-se que 62,5% pertenciam ao comércio por grosso e a retalho e 16,4% à construção.


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