AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
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SEGUNDA-FEIRA 7 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3690
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
DSAT | CCAC
CLOCKENFLAP
Secretário FESTIVAL arruma PARA o assunto TODOS PÁGINA 6
EVENTOS
Pintores antigos Eng.o Novais Ferreira Diário 1922-2016 de Pequim YAO ZUI
PÁGINA 8
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ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU
EUA PRESIDENCIAIS
O dia da dependência PUB
GRANDE PLANO
2 GRANDE PLANO
Nem uma, nem o outro são figuras mobilizadoras. Ela porque é a continuidade de um certo sistema; ele porque rompe com tudo, sobretudo com valores que, aos olhos de muitos, devem ser preservados. Na contagem decrescente para a eleição mais importante do ano, há dúvidas sobre os resultados. Ainda assim, tudo aponta para que a democrata Hillary Clinton seja a sucessora de Barack Obama “Os eleitores vão votar sem grande convicção. Vão provavelmente mais convictos os eleitores de Donald Trump.” RUI FLORES ANALISTA
EUA INCERTEZAS SOBRE CANDIDATO VITORIOSO NAS VÉSPERAS DA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
É
um homem com tanto carisma que mereceu, quase a título de incentivo, o Prémio Nobel da Paz. Nas últimas eleições em que os Estados Unidos mudaram de Presidente, era só certezas: Barack Obama conquistou multidões, dentro e fora do país, e a escolha para ocupar a Casa Branca representava uma certa América, mais livre, mais contemporânea, mais despida de preconceitos. Desta vez, a história é outra. Há desilusão nos Estados Unidos com o processo que termina – ou começa – amanhã, dia 8 de Novembro. É o que sente Ricardo Alexandre, jornalista da Antena 1, que por estes dias está nos Estados Unidos a acompanhar a recta final da campanha e a tentar perceber o que é que, afinal, vêem os eleitores norte-americanos em Hillary Clinton e Donald Trump. “Há desânimo, sim”, conta o jornalista ao HM. “Por um lado, todo o processo é muito longo e, por outro, os dois principais candidatos são uma espécie de mal-amados.” Ricardo Alexandre desdobra a ideia: o candidato republicano “não sabe ser político”; já a candidata democrata “está na política há muito tempo”. “Foi uma imagem que me transmitiram e que, creio, ilustra bem o ambiente geral”, diz o repórter que, entre outras paragens, foi a El Paso, no Texas, e à vizinha Ciudad Juárez para saber o que pensam as pessoas que ali vivem de uma das ideias mais polémicas de Donald Trump – a construção de um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de ilegais. Deste lado do mundo, atento a todas as informações que vão sendo publicadas sobre a eleição presidencial norte-americana, o especialista em relações internacionais Rui Flores concorda com o problema da falta de empatia dos dois principais candidatos: Donald Trump é “um caso de amor ou ódio” e Hillary Clinton é vista como “mais do mesmo”. “As sondagens também demonstram isso. É a campanha que mais ódios levanta. Os eleitores vão votar sem grande convic-
VENHA O
ção. Vão provavelmente mais convictos os eleitores de Donald Trump – ele fez a sua campanha claramente para o homem branco, que tem sofrido com a crise económica, com o fecho de fábricas no centro dos Estados Unidos”, observa Flores. Ricardo Alexandre acredita que será Hillary Clinton a vencedora mas, se o desfecho for outro, então será “a vitória do homem branco”. Do homem como palavra para ser do sexo masculino. “É que nem sequer é o homem e a mulher brancos. É apenas o homem branco porque ele, de facto, alienou muito do voto feminino”, vinca Rui Flores.
DO CONTRA AO IGUAL
Donald Trump ganhou tempo de antena com um discurso do contra: contra o livre comércio, contra a emigração, contra muitos dos valores que são dados como certos – ou que, até à data, eram dados como certos – pela maioria dos norte-americanos em particular e pelo mundo em geral. “É um discurso de isolamento da América e esse discurso tem chão por onde crescer porque, de facto, destina-se a um eleitorado que tem sofrido muito com a globalização nos últimos anos”, nota Rui Flores.
O discurso sobre a emigração foi, provavelmente, o que mais chocou, continua, para recordar que não se está perante um fenómeno novo, exclusivo dos Estados Unidos. “As pessoas revêem-se nesse discurso, que é feito também na Hungria, com Viktor Orbán, que é feito em França, com Marine Le Pen. O populismo associado ao nacionalismo veio para ficar, muito como consequência da crise financeira, económica e social que começou em 2008. Isso tem-se visto um pouco por todo o lado – quer a extrema-direita, quer a extrema-esquerda a subirem nos parlamentos, em várias eleições que têm decorrido um pouco por toda a Europa.” Nem o populismo de Trump, nem a promessa de profissionalismo político de Hillary Clinton foram, no entanto, capazes de se traduzirem em discursos dinamizadores de massas, concorda o analista. “Não me parece também, ao mesmo tempo, que haja uma mensagem de esperança num mundo melhor nestes dois candidatos. Hillary Clinton será mais do mesmo, Donald Trump tem um discurso de ruptura mas que não mobiliza mais do um segmento –
OS CHINESES GOSTAM DELE
É
um fenómeno que tem sido acompanhado de perto nas últimas semanas pelo South China Morning Post: há muitos chineses a viverem nos Estados Unidos que são fervorosos apoiantes de Donald Trump. O facto poderá colocar em causa o retrato deixado por estudos e pesquisas, que indicam que cerca de 50 por cento dos asiáticos a viverem em solo norte-americano são democratas ou simpatizantes, sendo que apenas 28 por cento dizem ser republicanos. A euforia em torno de Trump, lê-se nas declarações que o jornal de Hong Kong foi recolhendo, tem que ver sobretudo com o tipo de valores que o empresário candidato a Presidente tem estado a defender durante a campanha: “a família” e “medidas fortes contra a emigração ilegal” são ideias que agradam aos sino-americanos que fazem parte, por exemplo, do movimento “Chinese Ameri-
cans for Trump”. Também têm caído bem na comunidade as promessas de cortes fiscais e “pôr os cidadãos americanos em primeiro lugar”. Há quem entenda ainda que o republicano representa “valores asiáticos” como “o pragmatismo, o trabalho árduo e a honestidade”. O receio de que os Estados Unidos possam vir a ser palco de um ataque terrorista, a inércia atribuída à Administração actual na luta contra os inimigos e a oposição a Obama também funcionam a favor de Trump no seio dos sino-americanos – muitos deles pensam que o Partido Democrata, com as suas políticas em relação à homossexualidade, minou os valores tradicionais. A “política aberta de emigração” arruinou a economia e a ordem do país, dizem estes chineses com nacionalidade americana, que têm saído à rua para demonstrar o entusiasmo pelo candidato republicano.
importante, naturalmente – que é o homem branco”, diz.
OH OHIO
A possibilidade de o discurso destinado ao homem branco vencer num país que, há duas eleições, se congratulava por ter escolhido um Presidente – o primeiro – negro não está, nas vésperas do sufrágio, totalmente eliminada. O jornalista Ricardo Alexandre acredita que Hillary Clinton sairá vencedora e Rui Flores também, mas a vida da candidata democrata complicou-se na passada semana. Num processo com contornos muito específicos – o sistema é indirecto e colegial –, são necessários 270 votos eleitorais para se ganhar a eleição. “Até este momento, as coisas estão a correr bem para Hillary Clinton”, aponta Rui Flores, numa análise feita durante este fim-de-semana. “Após uma semana de algum desgaste, por causa da reabertura do inquérito do FBI [no caso dos e-mails] à candidata, há basicamente dez estados onde não é claro quem poderá ser o vencedor. Desses dez estados, há cinco verdadeiramente importantes”, prossegue. Rui Flores olha para os dados e destaca a importância das sondagens ao nível estadual, para explicar que a democrata venceria sem os dez estados indecisos, aqueles que “podem cair para um lado ou para o outro, para o campo democrata ou para o campo republicano”. O especialista não deixa de ressalvar que, “nos últimos anos, internacionalmente, tem havido algumas surpresas com as sondagens” e dá o exemplo recente do Reino Unido com o Brexit. Mas, para que Donald Trump seja eleito, acrescenta, serão necessárias muitas surpresas eleitorais em alguns estados essenciais. “O estado mais fraco para Hillary Clinton – daqueles em que as sondagens mostram que ela está à frente – é o Colorado, que dá apenas nove votos eleitorais para o colégio eleitoral. É um estado interessante, porque Donald Trump fez campanha na semana passada e focou a sua atenção”, anota. “Para
“Há desânimo. Por um lado, todo o processo é muito longo e, por outro, os dois principais candidatos são uma espécie de mal-amados.” RICARDO ALEXANDRE JORNALISTA
3 hoje macau segunda-feira 7.11.2016 www.hojemacau.com.mo
DIABO E ESCOLHA Donald Trump ganhar, era preciso que o Colorado caísse para o seu lado e todos os tais dez estados onde não é claro quem vai ganhar caíssem todos para o lado dele.” À hora a que Rui Flores falava ao HM, Hillary Clinton tinha assegurados 272 votos eleitorais, “o suficiente para ganhar”. Neste exercício de contabilidade e previsões cabe ainda um fenómeno interessante das eleições presidenciais norte-americanas: o Ohio. “É um estado que tem sido, desde 1964, o barómetro da América. O estado não é muito grande – tem apenas 18 votos eleitorais – mas, desde 1964, o candidato que ganha no Ohio é o candidato que ganha as eleições.” Ora, no caso em análise, as sondagens mais recentes demonstram que, nesse estado, provavelmente Donald Trump irá ganhar. “É por isso que muitos candidatos fazem campanha no Ohio, porque quem ganha lá, ganha as eleições. A acontecer a vitória de Trump no Ohio e a de Hillary Clinton a nível nacional, as eleições terão essa piada: acabar com o mito de que quem ganha no Ohio, ganha as eleições”, alerta Rui Flores.
APOIOS E JORNAIS
Ainda na análise às sondagens, o especialista em relações internacionais vinca que demonstram uma enorme diferença entre os dois campos no que toca ao eleitorado.
“Hillary Clinton é mais popular nas grandes cidades, tem sondagens muito favoráveis em Nova Iorque, na Califórnia, em Massachusetts, na Pensilvânia, no Illinois, no Michigan. São estados democratas em que as sondagens demonstram que vão votar massivamente em Hillary Clinton e são estados que quase lhe garantem a eleição”, indica. Já Donald Trump “é um candidato mais rural, tem os estados mais pequenos da América rural, são quase todos sólidos republicanos, e tem o Texas – que é o maior –, é um estado sólido para ele.” “Se tivéssemos de apostar, diríamos que Hillary Clinton vai ganhar”, diz Rui Flores, que enumera também outros factores a ter em conta nisto de se tentar ser Presidente da primeira economia do mundo, como o facto de a candidata democrata “ter gasto muito mais do que Donald Trump”. “Conseguiu movimentar mais dinheiro e receber mais fundos para a sua campanha, o que é um sinal da capacidade que tem de atrair apoiantes que lhe dão dinheiro para a campanha.” Não deixa de ser curioso o facto de vários artistas plásticos terem contribuído para o movimento pró-Hillary, com dinheiro e com a organização de leilões de obras em que Clinton aparece retratada. Rui Flores fala ainda de “outro sinal importante de que Hillary Clinton continua à frente”: o número de jornais que estão com a candi-
TANTO FAZ PARA PEQUIM?
A
China é um tema clássico nos debates entre candidatos e Pequim tem consciência disso. Nesta corrida, a questão chinesa colocou-se logo no primeiro confronto televisivo entre Hillary Clinton e Donald Trump. Nenhum deles poupou a China – terá sido, de resto, o único assunto em que estiveram de acordo. De repente, eis a pergunta: qual será o mal menor para a segunda economia do mundo? Li Keqiang, o primeiro-ministro chinês, não tardou a dar a resposta: a relação entre Pequim e Washington é para ser cada vez melhor, independentemente de quem saia vencedor das eleições de amanhã. É nisso que, pelo menos publicamente, o Governo Central
está interessado. No exercício de crítica à China, os analistas entendem que Donald Trump é o melhor: acusa o país de ter roubado postos de trabalho aos Estados Unidos, de ter contribuído para a desvalorização da moeda no âmbito do comércio global e de ter falhado no controlo exercido sobre a Coreia do Norte. Já Hillary Clinton não surpreendeu – ao contrário do oponente, há muito que se sabe que censura o modo como Pequim lida com os direitos humanos e até mesmo a forma como a China está organizada em termos políticos. Na Administração de Obama, foi vista como sendo uma figura essencial nas tentativas de controlar a influência crescente de Pequim na Ásia.
data. São 53 a favor da democrata, contra um que apoia expressamente Trump. “Desde 1998, a tendência dos jornais é estarem do lado do vencedor. A excepção foi a reeleição de George W. Bush, em 2004, em que mais jornais apoiaram John Kerry do que o então Presidente.”
E DEPOIS?
A eleição acontece depois de uma campanha rica em acusações mútuas, umas mais graves do que outras. Mentiras e verdades, sexo, o (des)respeito pelas mulheres, o caso dos e-mails – houve de tudo nos confrontos entre os dois candidatos principais. Nos 90 minutos de um dos debates televisivos entre Hillary Clinton e Donald Trump, o candidato republicano acusou 26 vezes a adversária de estar a mentir. Já a democrata recorreu ao argumento dez vezes. “O grande desafio do vencedor destas eleições é congregar a nação americana, que vai sair daqui muito dividida. Vamos ver se, no caso de vitória de Hillary Clinton, Donald Trump vai cumprir a promessa de não reconhecer os resultados eleitorais”, diz Rui Flores, acerca da possibilidade levantada, no mês passado, pelo candidato. “Isso trará muitos problemas ao sistema político, à credibilidade internacional dos Estados Unidos e poderá fazer prolongar a instabilidade no país.” Depois, há ainda a investigação do FBI aos e-mails de Hillary Clinton. “Há quem considere que director do FBI violou as regras que dizem que deve ter um comportamento equidistante e deve tentar não influenciar politicamente o resultado das eleições. Ao reabrir a investigação pôs em causa, de certa forma, a independência desta instituição. E isto vai ter consequências para o futuro: a investigação não vai estar concluída até terça-feira. O que vai acontecer a essa investigação quando Hillary Clinton for eleita, se for eleita?”, lança o analista. “Toda esta campanha afecta as instituições americanas.” Isabel Castro
isabel.castro@hojemacau.com.mo
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Remar a favor da maré Chui Sai On deixou Pequim com ideias para concretizar
A
visita oficial que o Chefe do Executivo realizou na semana passada a Pequim, e que terminou na sexta-feira, culminou apenas num conjunto de ideias sobre a gestão das águas marítimas que ainda serão alvo de maior estudo. Segundo um comunicado oficial, a visita serviu para a apresentação de um relatório preliminar da situação dos vários departamentos sobre este dossier, tendo sido discutidas medidas como a adopção de um “plano para o desenvolvimento dos transportes marítimos e a gestão de segurança”, a “protecção e gestão ambiental”, sem esquecer o “desenvolvimento de actividades económicas e o uso dos recursos marítimos”. Foi ainda abordada a “aplicação da lei e a administração das águas confinantes”. Quanto ao chamado “Plano de médio e longo prazo para a utilização e desenvolvimento do mar territorial da RAEM”, pensado para os próximos 20 anos, o Governo local “está ainda a desenvolver estudos para a sua adopção”.
QUE PAPEL?
cipação de Macau na estratégia nacional “Uma Faixa, Uma Rota”, tendo sido discutidas as “cinco áreas gerais” propostas pelo Governo Central. Essas áreas passam pelo alargamento “do âmbito da cooperação em torno dos serviços financeiros”, a exportação de “serviços de ponta utilizando vantagens técnicas” ou o estímulo do “diálogo económico e comercial a partir das vantagens geográficas”. Pretende-se ainda “promover a comunhão entre os povos tendo como foco o intercâmbio humano”, bem como “empregar sinergias para aprofundar a cooperação regional”. Segundo o mesmo comunicado, o território foi considerado como um “importante segmento da Rota da Seda Marítima”, por ser um ponto de contacto com os países de língua portuguesa. No que diz respeito à política “Uma Faixa, Uma Rota”, “departamentos dos dois Governos têm desenvolvido um diálogo frequente desde o ano passado e já estudaram uma série de políticas e medidas sobre o assunto”. O comunicado não aponta quais.
GCS
A visita de Chui Sai On a Pequim serviu ainda para debater a parti-
TIAGO ALCÂNTARA
POLÍTICA
Previdência GOVERNO NÃO CEDE PARA JÁ MAS PONDERA REVISÃO
O tempo dirá
O carácter não obrigatório do regime de previdência central que está em análise na Assembleia Legislativa pode não ser definitivo. O Governo não muda de posição, mas Melinda Chan admite que daqui a três anos se possa reconsiderar
A
Chui Sai On e o Ministro dos transportes, Li Xiaopang
adesão ao regime de previdência central não obrigatório vai avançar, apesar das reticências de alguns deputados. Melinda Chan refere, ao HM, que nos próximos três anos será avaliada esta premissa da não obrigatoriedade e que poderá ser alterada para uma solução diferente. “A lei diz que não é obrigatório, mas daqui a três anos iremos verificar como é que o processo está a decorrer e definiremos se passará ou não a sê-lo”, explica a deputada. O Executivo não deixa de ser firme no que respeita ao mútuo acordo quanto à transferência dos fundos privados para o novo sistema de pensões e ao facto de a adesão ao regime ser facultativa. No entanto, “o empregador vai deparar-se com muitas dificuldades e complicações porque tem de manter o trabalhador que não pretende aderir ao regime não obrigatório no plano privado de pensões. É uma questão que a Comissão espera que o Governo
repondere”, diz Kwan Tsui Hang, citada no canal de rádio da TDM.
NO MEIO ESTÁ A VIRTUDE
A questão do levantamento por parte dos trabalhadores dos descontos efectuados para o fundo de previdência também não tem sido consensual entre as partes envolvidas. De modo a conseguir uma solução de compromisso entre trabalhadores e patronato, o Executivo propôs que os trabalhadores, com menos de três anos de serviço,
“A lei diz que não é obrigatório, mas daqui a três anos iremos verificar como é que o processo está a decorrer.” MELINDA CHAN DEPUTADA
possam ter direito a levantar parte dos descontos. A sugestão foi apresentada durante uma reunião da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, responsável pela análise do regime. Segundo a proposta inicial, com o fim do contrato de trabalho, apenas os trabalhadores com serviço prestado superior a três anos teriam direito a receber as contribuições feitas pelos patrões – e apenas na ordem dos 30 por cento. Sem consenso, alguns deputados entendem que os descontos podem ser levantados a qualquer momento, enquanto outros alegam que há expectativas relativamente a uma relação de trabalho de longa duração por parte das entidades empregadoras, noticiou o canal de rádio da TDM. O Governo optou, assim, por uma solução intermédia em que, a partir dos dois anos de serviço, os trabalhadores têm direito a dez por cento das contribuições feitas pelos patrões. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
5 hoje macau segunda-feira 7.11.2016
O deputado Mak Soi Kun volta a acusar o Governo de não responder às interpelações escritas do hemiciclo dentro do prazo previsto na lei. Em dois anos apenas 40,2% das interpelações obtiveram resposta em trinta dias
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IZ a lei que o Executivo deve responder às questões dos deputados entregues por escrito num prazo de trinta dias. Contudo, nem sempre a lei, implementada em 2009, será cumprida. O deputado Mak Soi Kun utilizou precisamente uma interpelação para acusar o Governo de ter respondido a menos de metade das interpelações no prazo referido no diploma. PUB
POLÍTICA
Cartas em branco
Governo respondeu a apenas 40% das interpelações dos deputados
De Outubro de 2014 a Agosto de 2016, entre a segunda e a terceira sessões legislativas, das 1306 interpelações recebidas pelo Governo, apenas 525 delas foram respondidas no prazo de 30 dias. Mak Soi Kun fez as contas que representam, no total, 40,2%. Existem ainda 64 interpelações escritas que já atingiram o prazo limite sem qualquer resposta, representando 4,9%, enquanto que 717 foram respondidas pelos membros do Governo com mais de 30 dias, assumindo uma proporção de 54,9%.
CAVALO DE BATALHA
Esta não foi a primeira vez que o deputado Mak Soi Kun levantou esta questão. Já nos anos de 2010, 2012 e 2015 o deputado eleito pela via directa havia falado da necessidade de levar a sério este incumprimento da lei. Na sua mais recente interpelação sobre o assunto, Mak Soi Kun lamenta que, tendo em conta os números acima referidos, o Governo continue a não dar atenção a este ponto e permita baixas taxas de resposta aos deputados.
Para o membro do hemiciclo, os dados revelam apenas que o Governo não é capaz de responder a tempo e de forma efectiva às expectativas e reivindicações dos deputados e cidadãos resultantes do trabalho de fiscalização. “Os deputados são incumbidos pelos cidadãos de fiscalizar as
“As interpelações escritas são enviadas ao Executivo e representam a vontade da população em fiscalizar determinadas questões, mas não é garantida uma resposta pontual em conformidade da lei” MAK SOI KUN DEPUTADO
acções governativas do Governo. As interpelações escritas são enviadas ao Executivo e representam a vontade da população em fiscalizar determinadas questões, mas não é garantida uma resposta pontual em
conformidade da lei. Isso também mostra que as dificuldades dos cidadãos não são resolvidas a curto prazo”, rematou Mak Soi Kun. Angela Ka (revisto por A.S.S.) angela.ka@hojemacau.com.mo
6 POLÍTICA
hoje macau segunda-feira 7.11.2016
GCS
LAG JOVENS QUEREM TRANSPORTES E HABITAÇÃO COMO PRIORIDADES
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CCAC MAIORIA DOS PROBLEMAS NA DSAT RESOLVIDOS, DIZ SECRETÁRIO
Reacções em cadeia Raimundo do Rosário garante que os problemas apontados no último relatório do Comissariado contra a Corrupção estão resolvidos. Serviços para os Assuntos de Tráfego prometem melhorias na lei
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“
ONCORDAMOS com o relatório e também posso dizer que a maioria dos problemas indicados já foram resolvidos. Portanto, quanto às questões de cobrança de tarifas dos auto-silos e os prazos, de acordo com o meu conhecimento, já foi tudo resolvido.” Foi desta forma que o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, reagiu ao último relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que denunciou a gestão danosa dos auto-silos públicos. Quanto à legislação sobre a adjudicação de bens e serviços, datada de 1984, está desactualizada, segundo o Secretário, uma vez que a lei prevê que se realize um concurso público só quando o valor em causa ultrapassa as 2,5 milhões de patacas. “O que pode ser feito
com 2,5 milhões de patacas? Nem é suficiente para renovar uma casa. Considero que é um valor baixo. Dez vezes acima é pouco. Tudo é calculado acima dos cem milhões. Quase não existem projectos abaixo desse montante”, defendeu Raimundo do Rosário, em declarações reproduzidas no canal MASTV.
TODOS DE ACORDO
Já os Serviços para osAssuntos de Tráfego (DSAT) dizem concordar com o CCAC. “ADSATconcorda com o ‘Relatório de investigação sobre a adjudicação de serviços de
gestão de auto-silos públicos por parte da DSAT’ publicado pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC)”, estando “desde o ano passado”, a rever “a proposta do concurso público relativo à adjudicação” destes serviços, indicou um comunicado oficial citado pela agência Lusa. Segundo a DSAT, a revisão da proposta já foi concluída e prevê-se que os respectivos concursos sejam realizados no “final deste ano ou o início do próximo ano, com vista a normalizar a gestão de auto-silos públicos”.
“Quanto às questões de cobrança de tarifas dos auto-silos e os prazos, de acordo com o meu conhecimento, já foi tudo resolvido.” RAIMUNDO DO ROSÁRIO SECRETÁRIO PARA OS TRANSPORTES E OBRAS PÚBLICAS
A DSAT garante ainda que já recuperou as receitas que não foram entregues pelas empresas de gestão dos parques de estacionamento, assegurando que se novas situações se verificarem irá avançar para procedimentos criminais. Na quarta-feira, o CCAC divulgou um relatório em que afirmava que a “falta de observação rigorosa da lei, o desvio intencional das normas ou procedimentos legais, a frouxidão na supervisão interna ou a supervisão meramente formal não são raras nos serviços públicos”. “A maior parte das questões surgidas nos procedimentos de aquisição de bens e serviços públicos não configuram ilegalidades ou irregularidades administrativas (...), mas se estas questões não forem corrigidas a tempo, poderão transformar-se numa porta aberta à corrupção”, indicava. O CCAC sugeriu uma revisão do decreto-lei do “regime das despesas com obras e aquisição de bens e serviços” e de outra legislação para reforçar “os mecanismos de fiscalização e controle, a par da simplificação do processo de aquisição de bens e serviços públicos”. HM/LUSA
S jovens de Macau esperam que resoluções para os transportes e a habitação sejam consideradas prioritárias nas próximas Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano. É o que diz um inquérito realizado pela subcomissão da União Geral das Associações de Moradores (Kaifong) ligada às políticas juvenis, segundo o canal chinês da Rádio Macau. Os transportes acolheram 58,6% das respostas. Já a habitação recolheu 56%, seguindo-se os desejos de mais medidas na área da saúde, desenvolvimento do emprego e mais políticas na área da segurança social e previdência, com percentagens de 53,9%, 40,8% e 40,6% respectivamente. Se nos últimos anos a habitação ficou sempre em primeiro lugar neste inquérito, os Kaifong notam que, pela primeira vez, os transportes surgem como a primeira preocupação dos mais novos, algo que estará associado ao aumento dos problemas com o tráfego e transportes públicos. Desta forma, os Kaifong sugerem que o Governo optimize os percursos dos autocarros públicos, por forma a aumentar a circulação dos autocarros nas horas de ponta. Pedem ainda que se concretize o mais depressa possível o projecto do Metro Ligeiro na zona norte, bem como a apresentação do seu calendário de construção. Foi ainda sugerido que sejam feitos estudos sobre uma nova travessia entre Macau e a Taipa. O estudo foi realizado no mês passado, tendo sido ouvidas 974 pessoas com idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos.
NOVO MACAU QUER CHUI SAI ON A INTERVIR NA CALÇADA DO GAIO
A Associação Novo Macau deseja que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, venha a intervir na questão do prédio embargado da Calçada do Gaio, após o Secretário para os Transportes e Obras Públicas ter permitido a manutenção da altura do edifício, de 80 metros. “É isto uma forma de se renderem aos construtores? É por isso que já entregámos uma carta ao Chefe do Executivo dando voz à comunidade, dizendo que valorizamos a vista do património e queremos que o limite fique o que estava estabelecido – 52,5 metros – e que de forma nenhuma a altura actual do prédio deve ser legalizada”, afirmou Scott Chiang, presidente da associação, citado pela Rádio Macau.
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SOCIEDADE
Debate AS DÚVIDAS SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DO PAPEL DE PLATAFORMA
O Acordo de Paris, assinado na 21ª edição da Conferência das Partes da “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima”, está desde a passada sexta-feira em vigor. O documento, assinado na capital francesa, também se aplica a Macau, tendo sido organizada uma palestra no território sobre “Mudança do clima e o dia de entrada em vigor do Acordo de Paris”. Com organização da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental e do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético, a palestra contou com cerca de 200 participantes, aponta um comunicado. O Acordo de Paris visa controlar o aumento da temperatura global para menos de dois graus Celsius neste século.
SANDS CHINA COM MENOS 5,5% DOS LUCROS
A
operadora Sands China revelou que obteve lucros líquidos de 342,3 milhões de dólares no terceiro trimestre deste ano, menos 5,5% face ao período homólogo de 2015. Segundo informação da empresa enviada à bolsa de Hong Kong, entre Julho e Setembro a Sands China registou um crescimento de 3,6% nas receitas líquidas para 1,72 mil milhões de dólares. “O ambiente operacional em Macau continuou a melhorar durante o (último) trimestre, em particular no segmento de massas, à medida que o território evidenciou crescimento no total das receitas de jogo, dormidas e duração das estadias (dos visitantes)”, disse Sheldon Adelson, presidente da Las Vegas Sands, empresa-mãe da Sands China. No terceiro trimestre, a operação em Macau resultou num EBITDA (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) de 629 milhões de dólares, o que representa um aumento de 15% em termos anuais e de 29% comparando com o segundo trimestre deste ano. A empresa disse que o crescimento em Macau foi impulsionado, entre outros, por fortes receitas no jogo de massas e pela execução continuada de programas de eficiência de custos. Sheldon Adelson disse em videoconferência que a tendência de crescimento no mercado de massas, registada pela primeira vez de há dois anos para cá em Junho, continuou no terceiro trimestre, “com as receitas das mesas dedicadas ao segmento de massas a crescerem 6% em termos anuais, o primeiro trimestre de crescimento positivo desde o terceiro trimestre de 2014”. “A taxa de crescimento acelerou para 15% em Setembro, com a nossa empresa a beneficiar da abertura do The Parisan Macau”, acrescentou. HM/LUSA
TIAGO ALCÂNTARA
AMBIENTE ACORDO DE PARIS JÁ ESTÁ EM VIGOR
“Não basta ter infra-estruturas físicas”
O
arquitecto André Ritchie, antigo coordenador-adjunto do Gabinete de Infra-estruturas de Transportes, manifestou dúvidas quanto à real implementação na cidade da plataforma entre a China e a lusofonia, devido a um défice na “paisagem humana”. “Não basta criar as infra-estruturas físicas. Podemos ter a ponte que liga Macau, Hong Kong e Zhuhai, podemos ter novos postos fronteiriços, podemos até expandir os limites da fronteira, mas se não temos pessoal, mão-de-obra especializada com capacidade para implementar a ideia da plataforma, não vale a pena”, afirmou no âmbito de um debate promovido pelo Conselho Internacional de Arquitectos de Língua Portuguesa acerca da implementação do papel de plataforma em Macau. “Macau tem muito dinheiro, estamos numa situação favorável. Mas podemos comprar o melhor forno de pão do mundo, se a massa não for boa, o pão nunca há de ser bom”, disse, antes da mesa redonda “Repensar o papel urbano de Macau: A Plataforma, o Delta do Rio das Pérolas e o mundo lusófono”, onde planeava focar-se mais “na paisagem humana” e “não tanto na paisagem urbana”.
OUTROS TEMPOS
Ritchie recordou a época de “grandes empreendimentos” nos anos 1990, durante a administração portuguesa: “Construiu-se a Ponte da Amizade [a segunda na cidade], o aeroporto, a central de incineração, o porto de águas profundas. Havia um discurso político na altura de tornar Macau na ponte entre Portugal e a China e transformar o território num centro de serviços, mas muito sinceramente não sei se se concretizou”. As infra-estruturas foram construídas, “mas a parte de desenvolvimento, de
sofisticação humana, acho que falhou”, afirmou. O arquitecto lembrou que, para a implementação da plataforma, o Governo deseja ter quadros bilingues em diversas áreas, incluindo a jurídica, comercial, contabilística, entre outras. “Acho óptimo, mas é um trabalho de mais de uma geração. Não quero ser extremista ao ponto de dizer que [a plataforma] não tem pernas para andar, mas acho que é um factor preponderante”, afirmou.
“Podemos comprar o melhor forno de pão do mundo, mas se a massa não for boa, o pão nunca há de ser bom” ANDRÉ RITCHIE ARQUITECTO Menos céptico está Paulo Rego, director do jornal Plataforma Macau e orador na mesma mesa redonda. Para o jornalista, a plataforma entre a China e os países de língua portuguesa “liga-se completamente ao urbanismo”. “Plataforma quer dizer uma sociedade de serviços trilingue, inteligente, qualificada, que comunica com muitas realidades diferentes”, explicou, evidenciando que, para tal, é “preciso ter uma ideia de cidade”. “Se quisermos de facto montar uma plataforma reconhecida mundialmente como tal, temos de pensar na arquitectura da cidade, na forma como a organizamos, para que essa sociedade de serviços funcione, se inter-relacione e seja sedutora”, defendeu. O debate contou ainda com a participação das investigadoras brasileiras da área do urbanismo Margareth da Silva Pereira e Fabiana Izaga, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. HM/LUSA
8 SOCIEDADE
hoje macau segunda-feira 7.11.2016
Trabalhou praticamente até morrer e corria mesmo por gosto nos meandros da engenharia civil, trabalhando, já com idade avançada, aos fins-de-semana. Rigoroso, boa pessoa, Henrique Novais Ferreira é visto como alguém a quem Macau deve muito
Óbito FALECEU ENGENHEIRO NOVAIS FERREIRA
A morte de uma “pessoa excepcional”
A SEGUNDA CASA
A
O S 92 anos disse ao HM, após ser condecorado com a Ordem de Mérito portuguesa, que fazia questão de trabalhar todos os dias da semana. A idade já pesava, mas só para os outros, que lhe viam as rugas. Henrique Novais Ferreira sentia-se, afinal de contas, um jovem. “Trabalho aos sábados e aos domingos porque não sei fazer outra coisa. Não sei ir a um karaoke e não tenho idade para isso. Acha que sou assim tão velho para se falar em fim de carreira? Ainda estou à espera de continuar mais algum tempo.” Foi assim, cheio de sorrisos e mostrando uma imensa humildade, que Novais Ferreira aceitou a condecoração dada por Cavaco Silva, à época presidente da República Portuguesa. Engenheiro civil respeitado no território, que participou em obras tão emblemáticas como a construção do Aeroporto Internacional de Macau e cumpria ainda serviço no Laboratório de Engenharia Civil de Macau (LECM). Faleceu este sábado aos 94 anos e quem trabalhou com ele recorda o rigor com que fazia inspecções ou fiscalizações de projectos. António Trindade, CEO da CESL-Ásia, foi apanhado de surpresa com a notícia da sua morte e fala de uma “boa pessoa”, alguém “excepcional”, com quem trabalhou na altura em que se construía o aeroporto. Já André Ritchie, arquitecto, trabalhou com ele mais de dez anos, no tempo em que estava no Gabinete de Infra-estruturas de Transportes (GIT). “Era uma pessoa extremamente rigorosa no trabalho, no que concerne à parte técnica. Trabalhava connosco na área do controlo de qualidade e era uma garantia para
Dava pareceres técnicos, mas não falava de política. “Trabalhei com ele durante dez anos e da parte dele nunca houve um comentário sobre as políticas ou decisões dele. Afastava-se disso tudo, não tecia comentários que não fossem técnicos. Às vezes quando estava com ele a sós, em reuniões, tentava colocar algumas armadilhas a ver se ele caía e se pronunciava. Mas era inteligente e esperto e percebia que era uma armadilha para dizer alguma coisa, e ria-se apenas. Claro que tinha opinião, mas era tão profissional que não se pronunciava. Era uma brincadeira que fazia com ele.”
nós tê-lo a trabalhar nos nossos projectos. Ao mesmo tempo era uma pessoa muito flexível, porque pese embora fosse rigoroso no cumprimento dos parâmetros, no processo de tomada de decisão compreendia que, do lado o Governo, do dono da obra, tínhamos de ter em conta
não apenas os factores técnicos mas também factores políticos, ou outros. Ele cooperava muito e conseguia ser bastante flexível”, contou o arquitecto ao HM. Para André Ritchie, Macau e o sector das obras públicas ficam a dever-lhe muito. “Foi uma peça
chave na construção do aeroporto. Tive uma relação muito próxima com ele no projecto do Metro Ligeiro e ele deu um grande contributo, ninguém pode questionar.” O ex-coordenador do GIT recorda ainda um ponto particular da personalidade de Novais Ferreira.
“Era um homem muito sereno, que sabia estar com qualquer pessoa e que tinha sempre uma palavra de interesse, um assunto para discutir. Fico muito comovido com esta partida”
“Foi uma peça chave na construção do aeroporto. Tive uma relação muito próxima com ele no projecto do Metro Ligeiro e ele deu um grande contributo, ninguém pode questionar.”
MANUEL GERALDES MEMBRO DA DIRECÇÃO DO CLUBE MILITAR
ANDRÉ RITCHIE ARQUITECTO
Manuel Geraldes, membro da direcção do Clube Militar, recorda os momentos de agradável convívio que passou com Novais Ferreira, que não prescindia da instituição para fazer as suas refeições e conviver com quem por lá passava. “Era a segunda casa dele. Habitava há 20 anos numa suite na pousada de Mong-Há, e o almoço e o seu convívio era no clube militar. Os nossos funcionários adoptaram-no com grande consideração e dedicação. E convivia com alguns dos seus melhores amigos”, recordou. Manuel Geraldes recorda-se de uma “pessoa muito agradável de se conviver, um homem muito sereno, que sabia estar com qualquer pessoa e que tinha sempre uma palavra de interesse, um assunto para discutir. Fico muito comovido com esta partida. Deixa uma lacuna enorme e um vazio na comunidade portuguesa. Para mim foi um privilégio conviver com ele”. Novais Ferreira tinha um “humor comedido, mas interessante” e ajudou a fundar não apenas o LECM como os laboratórios de engenharia civil em Luanda, Angola, e em Portugal. “Sempre se ouviu falar do engenheiro como um homem fundamental e de referência, que teve uma importância extraordinária para o prestígio que o LECM tem. Foi uma personalidade que o LECM nunca prescindiu”, disse ainda Manuel Geraldes, que destaca o facto do Executivo ter permitido que Novais Ferreira continuasse a desempenhar funções. “O Governo de Macau deu esta prova de grande consideração para com uma personalidade portuguesa, porque deu-lhe todas as condições para ele continuar a trabalhar, com habitação e motorista. Uma grande consideração para com um homem que era uma referência”, rematou um dos membros da direcção do Clube Militar. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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SOCIEDADE
Boas notas
Filipinas e Studio City impulsionaram lucros da Melco Crown
A Inquérito MAIORIA DOS ALUNOS SENTEM BAIXA CONFIANÇA DOS PAIS
Mudar os modelos
Têm uma boa relação com os pais, mas estes não têm total confiança nos filhos. Eis os resultados de um inquérito promovido por uma associação ligada ao sector da educação
S
EGUNDO um estudo divulgado pela Associação de Estudantes Chong Wa de Macau, que se dedicou a analisar a relação dos pais com os filhos, alunos do ensino secundário, cerca de 60% dos estudantes inquiridos afirmam ter uma relação “muito boa” ou “bastante boa” com os seus pais. Contudo, e segundo o jornal Ou Mun, mais de metade confessou que os pais “raramente” ou “nunca” mostraram neles total confiança. Apenas 20% dos alunos afirma sentir “sempre” a confiança dos seus pais, enquanto que um terço sente isso “só de vez em quando”. Na hora dos filhos cometerem erros, apenas 20% considera que os pais oferecem “sempre” indicações correctas, sendo que 45% respondeu que os pais “nunca” foram capazes de dar bons conselhos ou orientações. O inquérito foi feito com base em 881 questionários espalhados por 16 escolas secundárias do território. Um terço dos alunos consideraram que a sua relação com os pais é “mais ou menos”, sendo que apenas 6% disse
que tem com os pais uma relação “relativamente má” ou “muito má”. Mais de metade dos inquiridos convivem ou comunicam com os pais mais de uma hora diariamente e 40% convivem ou comunicam com os pais menos de uma hora por dia. Cerca de 10% diz que quase não tem comunicação ou intercâmbio com os pais, sendo que casa é o sítio principal para a comunicação.
Os autores do estudo sugerem que os pais mudem a forma de educação autoritária tradicional e passem a adoptar o método que promove a troca de papéis, para que haja mais atenção e compreensão
Quase 93% conversam de forma presencial com os pais.
MÁS INFLUÊNCIAS
Por outro lado, 70% dos inquiridos vive em famílias em que o pai e a mãe têm de trabalhar fora de casa, sendo que metade necessita de trabalhar por turnos. Os resultados revelam ainda que o trabalho por turnos traz uma certa influência negativa à relação parental, mas não é uma influência óbvia. O estudo também demonstra que 60% dos entrevistados “raramente” ou “nunca” mostram uma preocupação pro-activa em relação aos seus pais, sendo que somente 10% atendem “sempre” os pais. Os autores do estudo sugerem, assim, que os pais mudem a forma de educação autoritária tradicional e passem a adoptar o método que promove a troca de papéis, para que haja mais atenção e compreensão mútuos. Também as escolas e a sociedade necessitam de promover uma educação parental mais saudável, com mais orientações eficazes. Angela Ka (revisto por A.S.S.) angela.ka@hojemacau.com.mo
operadora de jogo Melco Crown anunciou que os seus lucros líquidos cresceram 86,7% no terceiro trimestre, comparando com igual período de 2015, um resultado impulsionado pelos casinos Studio City, em Macau, e City of Dreams Manila, Filipinas. Entre Julho e Setembro a operadora liderada por Lawrence Ho, filho do magnata do jogo Stanley Ho, registou lucros líquidos de 62 milhões de dólares, quando em igual período do ano passado tinha registado 33,2 milhões de dólares, refere um comunicado enviado na noite de quinta-feira à bolsa de Hong Kong. No trimestre terminado em Setembro, a Melco Crown obteve receitas líquidas de 1,15 mil milhões de dólares, o que corresponde a um aumento de 22% em termos anuais. Segundo a operadora, o aumento das receitas líquidas foi sobretudo impulsionado pelo Studio City, que no ano passado por esta altura ainda não tinha iniciado operação (abriu no final de Outubro) e ao aumento das receitas nos casinos do City of Dreams Manila (Filipinas), compensando assim os abrandamentos registados nas outras duas propriedades em Macau: City of Dreams e Altira Macau.
AMelco Crown reportou ainda um aumento de 22% no EBITDA (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) ajustado global para 289,2 milhões de dólares, no período entre Julho e Setembro, em comparação com os 237.3 milhões de dólares no terceiro trimestre de 2015.
MERCADO ESTÁVEL
Lawrence Ho, presidente executivo da Melco Crown, disse no comunicado divulgado na quinta-feira que os resultados reflectem a estabilização do mercado e o foco no segmento de massas. “À medida que as tendências estabilizam em Macau, a Melco Crown está em posição de beneficiar da evolução de Macau para um destino focado no mercado de massas com estadas de vários dias”, afirmou o empresário. As receitas dos casinos de Macau subiram em Outubro pelo terceiro mês consecutivo, alcançando os 21.815 milhões de patacas, o valor mais alto desde Janeiro de 2015, segundo dados oficiais. O aumento foi de 8,8% face a Outubro do ano passado e trata-se do terceiro mês seguido de subida das receitas dos casinos em termos anuais homólogos, desde que Agosto pôs termo a 26 meses consecutivos de quedas no sector do jogo, o motor da economia de Macau.
Lawrence Ho
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Clockenflap FESTIVAL DE HONG KONG COM OLHOS POSTOS NO
EVENTOS
A edição de 2016 do Clockenflap acontece no último fim-de-semana deste mês, com uma agenda cheia e diversificada. Música, dança, teatro e cinema são garantidos. Há andróides como convidados especiais, num dos festivais mais aguardados da Ásia
C
HEGA a Hong Kong quando os dias começam a ficar mais frescos e é um dos momentos mais esperados do ano por aqueles que gostam de música, de músicos ao vivo, de performances e festivais. O Clockenflap tem vindo a crescer de ano para ano e 2016 não é excepção: entre 25 e 27 deste mês há muita música, artes e algumas surpresas a pensar no futuro. O festival distribui-se por vários palcos ao longo do recinto construído no Central Harbourfront de Kowloon – é por aí que vão passar mais de 50 artistas.
À semelhança dos anos anteriores, os palcos principais são o Harbourflap, o FWD e o KEF, onde vão estar alguns dos nomes mais sonantes do cartaz e que prometem abordar as tendências musicais actuais de modo ecléctico. Ali há espaço para os artistas que recentemente vieram a público e para os que já têm assinatura marcada com anos de carreira e sucesso.
DESFILE DE LENDAS
Junta-se à festa das artes e na secção das “lendas” o grupo pioneiro de hip hop americano The Sugarhill Gang, que tiveram o single “Rapper’s Delight” a estrear o pódio da
Bilboard. Noutro género, e vindo da música tradicional jamaicana, marcam presença os The Jolly Boys. Do rock, estão os Yo La Tengo que vão, com certeza surpreender os mais novos e trazer memórias a outras gerações que dedicavam os ouvidos à música independente. George Clinton & Parliament Funkadelic, como o nome indica, trazem o ritmo a palco e ao público, no funk que lhes é conhecido. Ainda pelos palcos de “ouro” vão passar os Chemical Brothers, referência de mais de duas décadas de música, e os nórdicos e etéreos Sigur Rós trazem a sua linguagem própria vinda dos
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA QUEM FOI / QUEM É JESUS CRISTO? • Anselmo Borges Nesta obra é investigada a possibilidade de uma biografia de Jesus, reflecte-se sobre a relação deste com o dinheiro, a política, a Igreja, as religiões, as mulheres. Pela abrangência de temas abordados, a competência científica dos autores, a actualidade e honestidade da investigação, a força do confronto entre a fé e o mundo contemporâneo em crise global, esta é seguramente a obra mais importante sobre Jesus publicada em Portugal.
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Ainda pelos palcos de “ouro” vão passar os Chemical Brothers, referência de mais de duas décadas de música, e os nórdicos e etéreos Sigur Rós
glaciares da Islândia. Do Reino Unido vem a rapper M.I.A. e os London Grammar que prometem, com este concerto, um espectáculo exclusivo na Ásia. Os Foals são também um dos nomes aguardados e que já constam como favoritos do evento. Taiwan também tem lugar marcado no palco das estrelas com a presença de Cheer Chen.
DA ÁSIA PARA A ÁSIA
Os artistas do continente que acolhe o Clockenflap não foram esquecidos. Em estreia vão estar, de Taiwan, “No Party For Cao Dong” que, na cena rock alternativa, são considerados pela
organização como um dos nomes mais procurados após a fusão pós-rock com o indie e os sons mais pesados do “metal”. Ellen Loo, a formação alternativa Huh!? e ainda, com a nota no blues, os Juicyning, são alguma da “parta da casa” que vai marcar a presença de Hong Kong. A Coreia do Sul faz-se representar pelo quarteto indie Quartet Hyukoh e o Japão traz Sekai No Owari.
O PALCO ESPECIAL
Já conhecido pela sua tendência burlesca e inesperada, o Club Minky é um dos espaços mais desejados para uma pausa bem-disposta, e
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
O NÚMERO DE OURO - A HISTÓRIA DE FI, O NÚMERO MAIS ASSOMBROSO DO MUNDO • Mario Livio Neste livro fascinante, Mario Livio conta a história do número fi. A curiosa relação matemática, geralmente conhecida como «número de ouro», foi definida por Euclides há mais de dois mil anos devido ao papel crucial que desempenha na construção do pentagrama, a que se atribuíam propriedades mágicas. Desde então, surgiu nos sítios mais espantosos: em conchas de moluscos, girassóis, cristais de certos materiais e formas de galáxias. Há quem diga que os criadores das Pirâmides e do Parténon a empregaram e crê-se que esteja presente nos quadros Mona Lisa de Leonardo da Vinci e O Sacramento da Última Ceia de Salvador Dalí, além de estar supostamente relacionada com o comportamento das bolsas.
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O FUTURO
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E SO MUSICA ´
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Sophia é o robô mais recente e avançado da Hanson Robotics e personaliza os últimos desenvolvimentos na área da inteligência artificial
muitas vezes, surpreendente. Ali cabem o teatro, o cabaret, a comédia ou as acrobacias. Este ano, a cabeça de cartaz são os vencedores do prémio “Melhor Circo e Teatro Físico” no Fringe de Adelaide, os All Genius All Idiot. Vindos de Estocolmo, utilizam a linguagem circense para abordar a condição e o comportamento humano. Enquanto os palcos maiores se enchem, os menores não ficam atrás. Na agenda está ainda a malaiana Yuna, o pós dubstep de SBTRKT, os Blood Orange ou os inovadores Pumarosa com um espectáculo que não exclui a dança.
A eles juntam-se nos palcos onde o electrónico é maior, o Electriq e o Robot, nomes como o DJ Rødhåd, o DJ e produtor Danny Daze (EUA), Nick Höppner ou Terry Francis (Reino Unido). Também na agenda está Jimmy Edgar e Shy FX.
UMA EXPERIÊNCIA PESSOAL
O Clockenflap volta a apostar nos momentos mais individualistas e a discoteca silenciosa regressa ao evento num espaço onde a música é vivida “a solo” e de auscultadores. Paralelamente, o Cinema Silenzio está de portas abertas e ecrã ligado. Nesta edição o programa é vasto, mas o
projector está de olhos postos em “Lo and Behold” do já lendário Werner Herzog. O futuro também está ali. Sophia é o robô mais recente e avançado da Hanson Robotics e personaliza os últimos desenvolvimentos na área da inteligência artificial. Capaz de aprender através da experiência e da interacção, este é o momento para poder conviver com “um ser do outro mundo”. Paralelamente, e ainda na área da robótica, ocorre a performance que utiliza uma “máquina cega” que vai conhecendo os traços dos rostos que se disponham a passar por uma experiência diferente.
HOTEL LOUIS XIII TERÁ OBRA DE JOANA VASCONCELOS A artista plástica Joana Vasconcelos está a preparar dois “projectos de grande escala”, que levam novamente corações para fora de Portugal, desta vez para um hotel de Macau e para uma estação de metropolitano de Paris. Segundo a agência Lusa, está quase finalizada uma peça desenhada para a entrada do hotel Louis XIII, um coração trabalhado com têxteis e luzes. Joana Vasconcelos está ainda a preparar um projecto que será exposto no 18º bairro de Paris, muito semelhante ao que está a ser feito para Macau. Será um coração gigante, com azulejos e luzes. “O projecto de Paris é para a Porta de Clignancourt e é um coração feito de azulejos, com ‘led’s’, que se move” e que será colocado à saída da estação do metro, que serve nomeadamente a ‘feira da ladra’, ou o seu correspondente ‘mercado das pulgas’, de Saint Ouen. A obra lisboeta pensada para Paris deverá estar pronta em 2018.
A realidade virtual também vai estar em Kowloon com a possibilidade de viver uma experiência a 3D como se estivesse a ver através dos olhos de um animal. A segunda fase de venda de bilhetes termina esta semana, no dia 10. Os preços vão dos 850 aos 1620 dólares de Hong Kong (para o bilhete de três dias), sendo grátis para as crianças com menos de 12 anos. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
EVENTOS
Os loucos 15 anos Imprensa de Macau está bem e recomenda-se
O
coordenador do livro que aborda os jornais portugueses de Macau, entre 1999 e 2014, afirmou que a imprensa local tem “qualidade” e que permanece relevante, contrariando as previsões que se fizeram do seu fim. “A imprensa diária de Macau é uma imprensa que tem qualidade” e que se mostra “dinâmica”, apesar de “todas as dificuldades e insuficiências que tem”, disse à agência Lusa o coordenador do livro “15 Anos Depois: A Imprensa Portuguesa de Macau (1999-2014)”, João Figueira. No entanto, aquando da transferência da soberania para a China, em 1999, perspectivava-se que a imprensa portuguesa em Macau poderia estar em vias de acabar, muito por culpa da ideia de que “o estatuto de região especial” e a manutenção do português como “língua oficial não passavam de meras fachadas”, explanou João Figueira, que falava à margem da apresentação da obra, na Casa da Escrita, em Coimbra. “A realidade depois veio contrariar isso. Nunca a imprensa foi tão apoiada do ponto de vista oficial como é hoje e é apoiada não no sentido de controlar, mas por se entender que tem de haver uma imprensa diversificada que fale e que se expresse nas línguas oficiais”, sublinhou o também docente de Jornalismo da Universidade de Coimbra. Além disso, “uma boa parte dos jornalistas não debandaram” quando Macau se tornou uma das regiões administrativas especiais da China, tendo feito “tudo para que a profecia não se cumprisse”. Numa região onde a população falante da Língua Portuguesa é minoritária, os jornais são também “um elemento de inserção” para uma comunidade que, na sua “esmagadora maioria”, pertence “a um padrão sócio cultural especial”, sendo altos quadros da administração, advogados, arquitectos, engenheiros ou analistas financeiros, entre outros. A imprensa portuguesa acaba também por ser importante para toda a sociedade macaense, abordando muitas vezes assuntos que os jornais chineses “não abordam por sua iniciativa
e que acabam por apenas tocar nessas matérias citando aquilo que saiu nos jornais portugueses”. “Apesar de tudo, temos uma tradição de liberdade de expressão e de capacidade de questionamento dos poderes que, culturalmente, na China não existe”, notou João Figueira.
OBSTÁCULOS E INTERROGAÇÕES
Porém, há vários problemas que são também reflectidos no livro, nomeadamente a dificuldade no acesso às fontes e o facto de a maioria dos jornalistas não falar chinês e ter de fazer um trabalho “que muitas vezes tem que fazer quase em segunda mão, mediado por um intérprete”. A grande preocupação para o futuro está centrada nas próximas eleições que “vão decorrer daqui a quatro anos” e que levarão à mudança de líder, visto que o actual, Fernando Chui Sai On, está no seu segundo mandato. “As interrogações têm que ver com isso: sobre se se vai manter o mesmo posicionamento de abertura e de apoio às minorias que coexistem neste território e que Pequim insiste que têm de existir”, observou. Para o responsável da editora Livros do Oriente, Rogério Beltrão Coelho, a imprensa portuguesa, que vivia “basicamente apoiada ou sustentada por gabinetes de advogados” antes de 1999 viu as suas redacções “aumentarem em número e em qualidade”. A imprensa portuguesa “afirmou-se por emitir opinião e por ser muito interventiva”, notou o editor que também passou por vários órgãos de comunicação de Macau, considerando que a importância que a China “dá à comunidade portuguesa e ao ensino do português” também foram importantes para a sobrevivência dos jornais. “A força de intervenção da imprensa portuguesa é muito superior à sua tiragem”, frisou Rogério Beltrão Coelho. A obra, lançada pela Fundação Rui Cunha e Livros do Oriente, é da autoria de José Carlos Matias, Diana do Mar, Sónia Nunes, Marco Carvalho e Frederico Rato, contando com prefácio de Adelino Gomes. HM/LUSA
12 CHINA
O
Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP) da China afirmou ter de intervir na disputa em Hong Kong para travar os defensores da independência daquela Região Administrativa Especial, classificando tais actos como uma ameaça à segurança nacional. A agência oficial chinesa Xinhua noticiou, na noite de sábado, que o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular – constitucionalmente definido como o “supremo órgão do poder de Estado” da China – afirmou que Pequim não pode dar-se ao luxo de não fazer nada diante dos desafios colocados à autoridade da China em Hong Kong. A disputa tem que ver com a manifestação de um sentimento anti-China por parte de dois deputados pró-independência, eleitos em Setembro, durante a cerimónia dos seus juramentos no mês passado. A Xinhua cita um comunicado do órgão que refere que as acções dos dois de-
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Hong Kong PEQUIM DIZ QUE TEM DE AGIR PARA TRAVAR SEPARATISMO
Acção imediata
putados “representam uma grave ameaça à soberania e segurança nacional”. À semelhança dos restantes 68 deputados, Baggio Leung e Yau Wai-ching, dois ‘localists’do Youngspiration eleitos nas legislativas de 4 de Setembro prestaram juramento a 12 de Outubro,
mas recorreram ao uso de várias formas de protesto. Ambos desviaram-se do ‘script’, pronunciando a palavra China de uma forma considerada ofensiva e acrescentaram palavras suas às do juramento, comprometendo-se a servir a “nação de Hong Kong”. PUB
Esses juramentos não foram aceites e o presidente do LegCo decidiu dar a oportunidade aos deputados de os repetirem. No entanto, o chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, pediu uma intervenção urgente do tribunal. O juiz decidiu contra o pedido do chefe do Executivo, que teria impedido a repetição dos juramentos, mas deu luz verde a uma revisão judicial, também pedida por CY Leung, desafiando a decisão do presidente do Legco. O veredicto dessa revisão judicial ainda não chegou.
TEMPO PARA AGIR
Contudo, o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP)
da China decidiu discutir a interpretação de um artigo da Lei Básica (miniconstituição) de Hong Kong sobre os juramentos dos deputados do LegCo (Conselho Legislativo, parlamento), considerada necessária e oportuna pelos seus membros, segundo a Xinhua. Um editorial do Global Times, jornal do grupo do Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista da China, publicou no sábado um editorial em que defende que Pequim deve “responder com firmeza” aos deputados independentistas de Hong Kong. No artigo de opinião refere-se que “é hora” de Pequim solucionar o actual conflito em Hong Kong, onde a justiça ainda analisa se irá inabilitar os dois
deputados por utilizarem linguagem desrespeitosa em relação à China durante o seu juramento no LegCo. Pequim confirmou, porém, na sexta-feira que irá intervir, num acto que, na opinião de algumas franjas de Hong Kong, mina a autonomia jurídica e política de Hong Kong ao abrigo do princípio “Um País, dois sistemas”, estabelecido desde a transferência de soberania de Hong Kong do Reino Unido para a China, em 1997. O Global Times argumenta, contudo, que “é sobejamente sabido que o artigo 158.º da Lei Básica de Hong Kong define que a ANP tem o direito de interpretar a lei” e considera ser “responsabilidade” do órgão legislativo chinês intervir na situação política de Hong Kong para manter a “estabilidade”. Espera-se que a Comissão Permanente da ANP publique a sua interpretação até segunda-feira, termo da sua sessão bimensal que começou no início da semana. Na antiga colónia britânica foi marcada uma mobilização para terça-feira: uma marcha silenciosa em protesto contra a nova “intrusão” de Pequim na região. Desde a transferência da soberania, em 1997, que Hong Kong, com o estatuto de Região Administrativa Especial, beneficia de um regime de “elevada autonomia”. Contudo, nos últimos anos tem aumentado a preocupação com a interferência de Pequim nos assuntos de Hong Kong.
PLANO PARA CORTAR EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO EM 18%
A
China anunciou um novo plano no âmbito das alterações climáticas em que define a meta de reduzir as emissões de dióxido de carbono por unidade do Produto Interno Bruto em 18% até 2020 face aos níveis de 2015. Ao abrigo do plano do Conselho de Estado chinês, divulgado na sexta-feira, dia da entrada em vigor do Acordo de Paris, o consumo de carvão deve manter-se abaixo dos 5 mil milhões de toneladas até ao final de 2020. Em contrapartida, dever-se-á aumentar para 15% a quota do uso de energia gerada através de combustíveis não-fósseis, como hidráulica, nuclear, eólica e solar, cuja respectiva capacidade instalada deve atingir 340 milhões, 58 milhões, 200 milhões e 100 milhões de quilowatts. Já a quota do gás natural no consumo de energia global deve ser elevada para
cerca de 10% em 2020, segundo o mesmo plano. Maior poluidor mundial, a China estabeleceu 2030, como meta para atingir o pico das emissões de dióxido de carbono, ao abrigo do Acordo de Paris e comprometeu-se a avançar com um sistema nacional de comércio de direitos de emissão de dióxido de carbono em 2017. O Acordo de Paris, o primeiro pacto universal contra o aquecimento global, entrou simbolicamente em vigor na quinta-feira, menos de um ano após ser adoptado, mas há um longo caminho a percorrer até à sua aplicação. Nas vésperas da 22.ª Conferência do Clima da ONU (COP22), que arranca esta segunda-feira em Marraquexe, um total de 94 países, dos 192 signatários, já ratificaram o Acordo de Paris, um ritmo que ultrapassou as expectativas dos especialistas.
13 REGIÃO
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Coreia do Sul PRESOS DOIS EX-ASSESSORES DA PRESIDENTE
Ligações perigosas
INDONÉSIA SOBE PARA 51 NÚMERO DE MORTOS EM NAUFRÁGIO
As autoridades indonésias elevaram sexta-feira para 51 o número de mortos no naufrágio de quarta-feira, ocorrido perto da ilha de Batam, a sul de Singapura, informaram os ‘media’ locais. A embarcação, a bordo da qual seguia uma centena de imigrantes indonésios, zarpou de Johor Bahru, no sul da Malásia, com destino a Batam, afundando-se após uma forte tempestade. O porta-voz da polícia local, Erlangga, disse ao jornal The Jakarta Post que as autoridades vão manter a operação de busca pelo menos até à próxima quarta-feira, para tentar encontrar nove pessoas que continuam desaparecidos. A polícia abriu uma investigação para esclarecer nomeadamente se a lancha cumpria as normas de segurança. O arquipélago indonésio – formado por mais de 17 mil ilhas e com uma população estimada em 260 milhões de habitantes – depende fortemente do transporte marítimo, sendo relativamente comum a ocorrência de acidentes fatais.
NUCLEAR JAPÃO E ÍNDIA PERTO DE FECHAREM ACORDO
O
Japão e a Índia preparam-se para assinar, esta semana, um controverso acordo nuclear civil, informou ontem a imprensa nipónica. Segundo o jornal Yomiuri Shimbun, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o seu homólogo jawponês, Shinzo Abe, deverão firmar na sexta-feira o acordo que irá permitir ao Japão exportar tecnologia nuclear para o sub-continente. A concretizar-se, a Índia tornar-se-á no primeiro não-signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares a assinar tal tipo de acordo com o Japão – que foi vítima dos bombardeamentos atómicos dos Estados Unidos nos últimos dias da II Guerra Mundial. Segundo o Yomiuri Shimbun, os dois países asiáticos também acorda-
ram que se a Índia realizar um teste nuclear o Japão irá cessar a cooperação. No passado, o Japão evitou cooperar no domínio do nuclear civil com a Índia, citando preocupações relativamente ao Tratado de Não-Proliferação, mas aparentemente moderou a sua posição. O jornal económico Nikkei também confirma o referido acordo nuclear, acrescentando que há uma série de outros ligados aos negócios que também devem ser firmados. Modi visitou o Japão em Agosto de 2014 naquela que foi a sua primeira viagem fora do sul da Ásia meses depois de ter chegado ao poder; e Abe deslocou-se à Índia em Dezembro do ano passado. Modi chega ao Japão na quinta-feira para uma visita de três dias.
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S autoridades sul-coreanas prenderam ontem dois antigos assessores presidenciais no âmbito da investigação ao escândalo político envolvendo uma colaboradora próxima da Presidente, Park Park Geun-hye, suspeita de manipular o poder. O tribunal distrital central de Seul, acedendo ao pedido do Ministério Público, emitiu mandados de prisão para Ahn Jong-beom, ex-secretário para a coordenação política de Park, suspeito de pressionar empresas a fazerem donativos a organizações sem fins lucrativos controladas por Choi Soon-sil, a amiga de Park que está no centro do caso; e Jung Ho-sung, outro antigo assessor suspeito de lhe ter passado documentos confidenciais, indicou Shin Jae-hwan, porta-voz do tribunal. As autoridades também citaram ontem para interrogatório Woo Byung-woo, antigo secretário presidencial para os assuntos civis, que culpam por ter falhado em evitar que Choi Soon-sil interferisse nos assuntos de Estado e que está a braços com um outro caso suspeito de corrupção envolvendo a sua família.
NA RUA
Dezenas de milhares de manifestantes voltaram no sábado a pedir a demissão da presidente sul-coreana, Park Geun-hye, naquele que foi o maior protesto antigovernamental na capital em quase um ano. A polícia estimou em 45.000 o número de pessoas que se juntaram à manifestação, enquanto os organizadores falaram, por seu turno, em 200.000 participantes. O protesto teve lugar mesmo depois de Park Geun-Hye ter feito na sexta-feira um discurso à nação, em que voltou a pedir desculpa ao país e afirmou aceitar ser investigada formalmente. Park Geun-Hye reconheceu, no discurso transmitido pelas televisões, que o escândalo envolvendo a sua amiga de longa data Choi Soon-Sil foi culpa sua, afirmando sentir-se “devastada”. “Estes últimos acontecimentos são todos culpa
“Estes últimos acontecimentos são todos culpa minha, foram causados pela minha imprudência”
do seu partido, tem por base a ideia de que a Presidente foi manietada durante o seu mandato por Choi, a qual foi comparada pelos meios de comunicação social à figura de Rasputin. A Presidente sul-coreana fez, nos últimos dias, uma remodelação governamenPUB
HM • 1ª VEZ • 7-11-16
PARK PARK GEUN-HYE PRESIDENTE DA COREIA DO SUL minha, foram causados pela minha imprudência”, declarou, explicando que “baixou a guarda” relativamente a Choi Soon-sil acusada de se ter aproveitado da relação pessoal com a Presidente para aceder a documentos confidenciais e intervir em assuntos de Estado, incluindo na nomeação de membros do Governo ou na revisão de discursos. Choi Soon-sil, de 60 anos, amiga íntima da Presidente, está a ser investigada por alegadamente se ter apropriado de fundos públicos e exercido influência na política do país, apesar de não desempenhar qualquer cargo público. Na segunda-feira foi detida preventivamente até que na quinta-feira um tribunal de Seul aprovou formalmente um mandado de prisão, sob a acusação de prática dos crimes de tentativa de fraude e de abuso de poder. Este caso desencadeou a maior crise política que a Presidente Park enfrentou desde que assumiu o poder em 2013. A indignação dos sul-coreanos, incluindo de membros
tal, substituindo nomeadamente o primeiro-ministro e despedindo oito assessores, na tentativa de responder à onda de críticas que se gerou no país devido ao caso conhecido como “Choi Soon-sil Gate”. Contudo, partidos da oposição descreveram as mudanças como cosméticas. Uma sondagem nacional divulgada na sexta-feira coloca a taxa de aprovação de Park nos 5% – o valor mais baixo alguma vez alcançado por um Presidente na Coreia do Sul desde que o país alcançou a democracia no final da década de 1980 após décadas de ditadura militar. O mandato da Presidente termina dentro de 15 meses. Caso Park se demita antes, a lei determina que têm de ser realizadas eleições presidenciais no prazo de 60 dias.
ANÚNCIO 訴訟費用執行案 Execução por Custas
nº. CV3-11-0045-CAO-A _______________________________
第三民事法庭 3º. Juízo Cível
EXEQUENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO; -------------------------------------------------------------------EXECUTADO: HU QI KANG aliás WU KAI HONG, ausente em parte incerta, com última residência conhecida em Macau, na Rua Luís Gonzaga Gomes, s/n, Edif. “Kam Fung”, 8º andar H.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------*** FAZ-SE SABER que, no próximo dia 09 de Janeiro de 2017, pelas 15:00 horas, neste Juízo, nos autos acima identificados, vai ser vendido, por meio de propostas em carta fechada, o seguinte bem:----------------------------------------------------------------------------------DIREITO PENHORADO Denominação: Do direito de 1/3 indivisa da fracção designada por “AR/C”.--------------- Situação: Nºs 79 a 79-B da Rua Carlos Eugenio e nºs 15 a 19 do Beco do Penacho, Taipa, Macau.---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fim: Para comércio.----------------------------------------------------------------------------------------- Número de matriz: 040645. ------------------------------------------------------------------------------- Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: 11728, a fls. 136, do livro B31.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Direito inscrito na Conservatória do Registo Predial a favor de executado Hu Qi Kang aliás Wu Kai Hong.--------------------------------------------------------------------------------------------------- O Valor base da venda: MOP46,666,500.00 (Quatro Milhões, Seiscentas e Sessenta e Seis Mil, Quinhentas Patacas).------------------------------------------------------------------------------------*** São convidados todos os interessados na compra daquele bem a entregar na Secretaria deste Tribunal, as suas propostas, até ao dia 06 de Janeiro de 2017, pelas 17:30 horas, sendo que, o preço das propostas deve ser superior ao valor acima indicado devendo, o envelope da proposta conter a indicação de “PROPOSTA EM CARTA FECHADA”, bem como o “NÚMERO DO PROCESSO CV3-11-0045-CAO-A”.----------------------------------------- No dia 09 de Janeiro de 2017, pelas 15:00 horas, no Tribunal Judicial de Base da RAEM, proceder-se-á à abertura das propostas de preço superiores ao valor base de venda, a cujo acto podem os proponentes assistir.--------------------------------------------------------------------- Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referido, podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite.----------------------------------------------------------------------------------------------------Macau, 25 de Outubro de 2016
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
14
Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração
YAO ZUI
«Xu Huapin»
Continuação da Classificação dos Pintores
Xun Xu, Wei Xie, Cao Buxing, e Zhang Mo eram verdadeiramente menores se os compararmos a Gu Kaizhi1. Não havia ninguém que não o tratasse com o maior respeito. As palavras de Xie He, dizendo que a sua fama ultrapassava o seu mérito, são realmente deprimentes, e é muito lamentável que ele colocasse Gu numa classe inferior. Isso era causado mais pelos sentimentos erráticos de Xie He do que pelas qualidades ou defeitos das pinturas de Gu Kaizhi2. O ditado que diz que aquele que canta bem terá poucos que cantem em harmonia com ele, é verdadeiro não apenas em relação a cantores de baladas, e pode-se chorar sangue e não só em relação a relatos falsos que falam da pedra preciosa por lapidar3. Tenho para mim que Xie He no seu empenho em classificar, destruiu princípios justos e arruinou-os para sempre.
1 - Xie He recorde-se, colocara Cao Buxing, célebre pintor de dragões, no segundo lugar, Wei Xie no terceiro e Zhang Mo e Xun Xu em quarto lugar, todos na Primeira Classe. Gu Kaizhi apenas na Segunda Classe. 2 - A fortuna crítica de Gu Kaizhi seria assegurada para a posteridade principalmente através da obra de Zhang Yanyuan (810?-880?) «Lidai Ming Hua Ji», onde além de se transcrevem obras que ele escreveu, se descrevem as suas obras pintadas dentro da moldura de apreciação que definiria a arte na sua essência que é a «transmissão do espírito»: «Os traços do seu pincel seguem-se uns aos outros como um traço ininterrupto. A linha que delimita os contornos fecha-se sobre si mesma e sobre a «ideia» que é, no coração da obra, princípio de vida». (excerto traduzido por Nicole Vandier-Nicolas em Peinture chinoise et tradition letrée, expression d’une civilisation, Seuil, Paris,1983, p.22)
Como notou Michael Sullivan (in Chinese landscape painting, University of California Press, Berkley, 1980, p. XIII), um dos aspectos fascinantes da arte do tempo, até tão tarde como o séc. VI, é o contraste entre, por um lado a aparente «técnica naive da pintura de paisagem e a sofisticação da poesia e da teoria estética do outro». E é só aparente porque todo o pouco que está representado nas pinturas que lhe são atribuídas, como sempre acontece na pintura chinesa, nada está lá por acaso, tudo tem um sentido simbólico. 3 - Bian He do estado de Chu, do século VIII, a. C., ofereceu uma pedra preciosa por lapidar aos soberanos e mandaram-lhe cortar os dois pés, porque se acreditava ser uma pedra falsa. O terceiro soberano ordenou uma investigação que concluiu que ela era genuína. Passaria para a posse do estado de Zhao. (nota de Osvald Sirén, p. 221)
15 hoje macau segunda-feira 7.11.2016
diário (secreto) de pequim (1977-1983)
PEQUIM, 11 de Novembro de 1978 Os chineses são mestres no fabrico e manipulação de todo o tipo de materiais. Hoje foi dia de visita a uma das muitas fábricas de artesanato de Pequim, oportunidade para ver e entender como se criam excepcionais peças artísticas. A fábrica, no sul da cidade, é pequena e os artesãos são maioritariamente mulheres, 56% do total. Têm umas mãos a quem os deuses concederam o privilégio de cerzir e lapidar pequenas e grandes maravilhas. Esculpem o jade e o marfim, mas quando não há marfim trabalham o osso de búfalo ou de iaque. Fiquei a saber que o marfim é raro e muito caro, proveniente da Tanzânia custa entre 400 a 500 yuans por quilo. Mais acessível e capaz de satisfazer qualquer gosto é o cloisonné, típico de Pequim. Trata-se, no essencial, de jarras de cobre e latão cobertas cuidadosamente de esmalte vidrado, de diferentes cores, segundo o desenho saliente de um rendilhado de flores e figuras que é colado na jarra e depois cheio com o esmalte, utilizando o artífice uma espécie de pipeta. Em seguida, a jarra vai ao forno e no fim é polida. Uma espectacular obra de arte! Também as mini-pinturas no interior dos pequenos frescos de vidro, teoricamente para guardar rapé, são um hino ao engenho destes artífices que usam um pequeníssimo pincel dobrado introduzido pelo gargalo do frasco e criam paisagens ou desenhos de animais, dragões, temas mitológicos e beldades de espantar. Os operários, os artesãos têm apenas o 1º. ou o 2º. ciclo de escolaridade. Os veteranos ensinam os mais jovens e os melhores de todos conseguem uma graduação pelo Ins-
António Graça de Abreu
tituto Central do Artesanato Industrial. O salário mais baixo é 40 yuans, mas os artesãos veteranos podem ganhar 250 yuans por mês. Há uma creche e uma clínica destinada aos artesãos e suas famílias. Tudo muito pobre, mas funcional.
patia, cepticismo ou receio face à China actual, pode concordar-se ou não com o sistema político chinês, mas é preciso estar atento e tentar conhecer o que de facto vai acontecendo cá pelas bandas do Extremo-Oriente. Porque uma China poderosa e moderna pesará como chumbo nos destinos da Humanidade.
PEQUIM, 15 de Novembro de 1978 Há dias, aqui em Pequim, dizia-me o Gonçalo César de Sá, jornalista da Anop a trabalhar em Macau, de visita à China: “Hoje convidaram-me a conhecer a redacção e as oficinas do ‘Diário do Povo’ (Renmin Ribao). Quase tudo aquilo me pareceu velho e desactualizado, a precisar de urgente modernização”. O Gonçalo tinha razão. Não é apenas o maior diário chinês que precisa de se modernizar, é toda a enorme China que, nos últimos anos, por múltiplas e complexas razões, se deixou atrasar e quase ia perdendo o comboio do progresso. As gentes desta terra parecem voltadas para o futuro e ninguém lhes poderá levar a mal por pretenderam aproveitar e desenvolver as suas enormes potencialidades. A China é um país rico. Possui jazidas de petróleo, ferro, carvão, estanho, bauxite, ouro, prata, etc. Com uma população laboriosa de quase mil milhões de pessoas consegue, graças aos esforços gigantescos dos seus camponeses, com 1/17 do solo arável existente no globo alimentar quase 1/5 da população mundial. Mas a China é também um país pobre. A população é predominantemente camponesa e continua agarrada à terra onde vai buscar o arroz de cada dia; os recursos naturais estão pouco explorados, a indústria é muitas vezes incipiente, faltam técnicos e pessoal
especializado, a mão-de-obra está muito longe de ser plenamente aproveitada, o rendimento per capita é muito baixo. Após os enormes sobressaltos da Revolução Cultural, a morte em 1976 dos seus três maiores dirigentes, Mao Zedong, Zhu Enlai e Zhu De, a China, agora com Deng Xiaoping, procura a estabilidade e a modernização. A estabilidade é sempre relativa num país extremamente diversificado, com uma superfície cento e dez maior do que a de Portugal e com as chagas de vários conflitos políticos ainda não cicatrizadas. Mas os chineses procuram uma acalmia na luta política. O fulcro é hoje a modernização da China. Um dos aspectos que mais seduzia certos ocidentais que visitavam a China nas décadas de cinquenta e sessenta eram encontrarem um povo com as necessidades primárias quase todas resolvidas, a alimentação, a saúde, a habitação, o ensino, mas que permanecia pobre e aparentemente feliz. Ora o mundo evoluiu. Até há poucos anos atrás, era fácil comparar a Nova China com um passado tenebroso de morte e miséria, anterior a 1949 que estava na retina de tanta gente. Hoje, os chineses, sem esquecer esse passado, fazem sobretudo comparações com os países mais avançados do mundo, reconhecem o seu atraso e
vêem que têm muita coisa a aprender com o estrangeiro. Recentemente, no Diário do Povo” fazia-se a seguinte pergunta: “Será que é muito revolucionário viajar de mula enquanto no estrangeiro viajam em jactos supersónicos? Será que enquanto os outros usam computadores, nós vamos continuar a utilizar o ábaco”? Havia muito gente na China que defendia um tipo de vida género “pobrezinho mas honesto”. Ora se as pessoas podem deixar de ser pobres – a honestidade é um conceito muito complexo e relativo, sobretudo no mundo chinês -- o que há de mau em procurar viver melhor? Socialismo não pode ser sinónimo de pobreza. Socialismo não pode ser continuarem a viver indefinidamente seis pessoas numa única assoalhada, como ainda acontece em muitas grandes cidades da China. Quando existem neste país meios para se construir uma casa decente para toda a gente, como se compreende que situações como esta não caminhem para uma solução? Há dias, no Congresso dos Sindicatos da China, Ni Zhifu, membro do Burô Político do Comité Central do Partido Comunista da China, disse, tal como vem no boletim diário da agência Xinhua, a Nova China: “Se o socialismo não permite aos trabalhadores uma vida sossegada e feliz através
de um considerável desenvolvimento das forças produtivas, mas se significa que o país deve permanecer pobre e que o povo deve ter uma vida muito difícil, que espécie de socialismo é este?” Para se modernizar, a China está a recorrer à tecnologia e aos empréstimos estrangeiros. Há quem veja associado a isto a importação de ideias do mundo capitalista e o abandono da política de “contar com as próprias forças”. É capaz de ser verdade. Em finais de 1977, visitei o complexo petroquímico de Pequim que engloba uma cidade com 110 mil habitantes, situada cinquenta quilómetros a sul da capital. Aí funcionam cinco grandes refinarias, uma delas integralmente importada do Japão. É ultramoderna, controlada por computadores e foi instalada em 1975 e 1976. Em dois anos de laboração já produziu quase o suficiente para pagar a sua instalação e continua a refinar petróleo que se destina principalmente ao Japão. Existe um provérbio chinês que diz: “Nunca nos devemos meter no casulo como o bicho-da-seda”. A China saiu do “casulo” e trabalha para, modernizando-se, garantir a melhoria das condições de vida deste povo que tanto tem sofrido e bem merece uma existência mais feliz. Pode experimentar-se sim-
PEQUIM, 25 de Novembro de 1978 O meu filho Sérgio, de três anos, quase só fala chinês, com o sotaque nasalizado e arredondado de Pequim. O português começa a ser para ele uma língua difícil. Hoje perguntei-lhe: “Se não falas português, quando chegares a Portugal como vais falar com a avó?” Resposta imediata: “A avó fala chinês.” Aos três anos de idade, pela língua, o entendimento o mundo chinês plasma-se na mente do menino de Lisboa. E não há nada a fazer, para ele é fácil, toda a gente do mundo fala chinês… PEQUIM, 7 de Dezembro de 1978 A lanterna do desânimo acende-se por vezes num dos muitos recantos de mim. Ilumina este sentir azedo de quem anda amiúde pontapeando a lua com sapatos de papelão. Sei de coisas grandes que olhos pequenos raramente vêem, de palavras bonitas e acções bem feias, do desaforo de gente mascarada que traz orquídeas nos dedos e cultiva cardos no coração. Falo cada vez menos. Acentua-se este pendor para uma quase misantopia, não inata, adquirida ao longo dos sinuosos caminhos que conduziram à decepção e à tristeza diante de tanta vilania humana.
16 DESPORTO
A
hoje macau segunda-feira 7.11.2016
Corrida da Guia deixará de pontuar para o campeonato TCR International Series a partir do próximo ano. Mas as novidades podem não ficar só por aqui. O Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCC), que em 2014 se despediu de Macau, deverá estar de volta já em 2017. O calendário provisório para a temporada de 2016 do campeonato TCR International Series já circula entre as equipas e o Circuito da Guia não consta desse rascunho. O regulamento técnico do TCR serviu para colmatar o vazio deixado pelo WTCC em 2015 na Corrida da Guia, quando o mundial de carros de turismo rumou a outras paragens. O ano passado e novamente este ano, a Corrida da Guia será pontuável para os campeonatos TCR International Series e para o TCR Asia Series, no entanto, este ano a corrida não se cinge apenas aos concorrentes dessas duas competições como em 2015. Dos 36 inscritos da “Corrida da Guia Macau 2.0T Suncity Grupo”, apenas 25 carros são provenientes dos dois campeonatos TCR. Há 5 concorrentes convidados, com viaturas que seguem o regulamento TCR, e 6 outros concorrentes provenientes do Campeonato Chinês de Carros
TCR VAI EMBORA E WTCC DEVERÁ REGRESSAR
Revolução na Guia de Turismo (CTCC), uma competição com uma regulamentação técnica bastante diferente, o que terá gerado algum mal estar. A organização do campeonato liderado por Marcello Lotti, ex-promotor do WTCC, ainda não fez nenhuma comunicação oficial sobre o assunto. Contudo, segundo o que apurou o HM, a “oportunidade de terminar a temporada de 2017 com a Fórmula 1” e a “alteração da regulamentação da corrida”, que abriu a porta à participação de outro tipo de viaturas, como aquelas provenientes do CTCC e do homologo britânico, sendo que deste último campeonato nenhum arriscou uma visita à RAEM, terão dado motivação à organização do TCR International Series para abdicar daquele que era o “cabeça de cartaz” do seu calendário a par com a corrida nocturna no Grande Prémio de Singapura no fim-de-semana da Fórmula 1. Macau poderá ser mesmo substituído pelo circuito de Monte Carlo no
REAL MADRID RONALDO RENOVA CONTRATO ATÉ 2021
Segundo noticia a MARCA, Cristiano Ronaldo e o Real Madrid já terão chegado a acordo para a renovação de contrato do português com o clube da capital espanhola. O actual contrato de CR7 termina em Junho de 2018 mas o agente do jogador, Jorge Mendes, acordou a renovação por mais três anos com o director-geral dos merengues, José Ángel Sánchez, altura em que o avançado português terá 36 anos. De acordo com a cadeia espanhola, o capitão da selecção irá passar o acordo para o papel em breve e a oficialização deverá ocorrer durante esta semana.
Mónaco, no calendário de 2017 do TCR International Series. De acordo com as fontes ouvidas pelo HM, o fim desta ligação “TCR-Guia” abriu as portas ao regresso WTCC, o principal campeonato de carros de turismo da Federação Internacional do Automóvel (FIA), isto numa altura em que novel Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau e a federação internacional andam de mãos dadas. A FIA manteve a Taça do Mundo de GT no território e deu o estatuto de Taça do Mundo também à prova de Fórmula 3, o que torna o Grande Prémio de Macau o único evento que engloba duas Taça do Mundo FIA num só fim-de-semana. Caso consiga reintroduzir o WTCC em Macau, a FIA dará um bónus a um campeonato que passa por dificuldades visíveis e que precisa de todo o tipo de ajudas para se renovar.
VOLTA QUE ESTÁS PERDOADO
Após dez anos consecutivos com muitas histórias para contar, o
WTCC despediu-se em 2014 de Macau, uma resolução que não foi do agrado das equipas e pilotos, nem sequer do promotor do evento. François Ribeiro, o responsável máximo da Eurosport Events, a empresa que tem os direitos de promoção do WTCC, disse na altura que o “WTCC amadureceu
Caso consiga reintroduzir o WTCC em Macau, a FIA dará um bónus a um campeonato que passa por dificuldades visíveis e que precisa de todo o tipo de ajudas para se renovar
durante os seus dez últimos anos” e que a sua organização decidiu procurar novas alternativas, em novos palcos, onde “seja possível abrir novos mercados, ter melhor horários televisivos e estarmos mais próximos da nossa base, permitindo o regresso mais rápido à Europa”. O dirigente francês gostaria que as duas corridas do WTCC fossem realizadas no sábado à tarde, ocupando o lugar actualmente da corrida do Grande Prémio de Motos no programa, pois, em termos de transmissão televisivas para o continente europeu, serviria melhor os seus interesses. Sem espaço em Macau, o WTCC rumou ao Catar, onde realiza uma prova nocturna de encerramento de temporada que não tem nem metade de resplendor que tinha a visita anual ao território. O campeonato gerido pela Eurosport Events está a viver um período difícil. A Citroen e a LADA estão de partida, deixando apenas a Honda e Volvo como únicas equipas de fábrica presentes. Esta temporada o WTCC teve sempre inúmeras dificuldades em reunir mais de duas dezenas de concorrentes e tudo indica que voltará a passar por dificuldades para juntar mais de dezena e meia de participantes em 2017. Instado a comentar sobre o assunto, François Ribeiro não confirmou, nem negou a vontade do WTCC em regressar às ruas do território. “Nós nunca dissemos que não queríamos regressar à Corrida da Guia que foi, e que continua a ser, uma das corridas icónicas da Ásia, e que sempre dá sempre deu boas-vindas à exposição mediática internacional”, disse Ribeiro. Sérgio Fonseca
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TEMPO
MUITO
?
NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente
MIN
22
MAX
28
HUM
65-90%
•
EURO
8.90
BAHT
O CARTOON STEPH
ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)
C I N E M A
TROLLS SALA 1
SALA 3
Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 14.30, 16.45, 21.30
FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 14.15, 16.00, 19.30
DOCTOR STRANGE [B]
DOCTOR STRANGE [B] [3D] Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 19.15 SALA 2
INFERNO [B] Filme de: Ron Howard Com: Tom Hanks, Felicity Jones, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
PROBLEMA 115
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 114
UM LIVRO HOJE
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)
Cineteatro
YUAN
1.18
TERRAS DAS LAMENTAÇÕES
EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha
EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)
0.22 AQUI HÁ GATO
EXPOSIÇÃO WORLD PRESS PHOTO Casa Garden
EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)
(F)UTILIDADES
Hoje está mais fresco. Anuncia-se um Outono rápido que marca em semanas a passagem para dias frios. As queixas do “ai tanto calor que não aguento” vão dar lugar ao “ai que frio que está, que me chega aos ossos”. Nada que surpreenda, não fizesse parte da condição daqueles humanos uma simpatia especial pela boa arte da queixa. Nada, nunca, em lado algum, está bem. Pelo que vejo, à excepção das férias onde as redes sociais se enchem de sítios bonitos e momentos “felizes”, o mundo em que vivem é composto por um permanente mal estar, seja lá porque for. Pelo calor ou pelo frio, pela humidade ou secura. Porque não se passa nada em Macau e, se se passa, nunca é o suficiente. “Não há cá música”, dizem, enquanto o festival internacional passou ao lado. Não há cinema, afirmam os intelectuais que não gostam de ir às salas com pipocas, mas que perdem os ciclos que se mostram aqui e ali, como se fossem coisas menores. Não temos bares.... Oops, se calhar aí têm razão, a diversidade de espaços nocturnos não abunda, mas um ou outro lá se vai encontrando. Acima de tudo, e em vez do queixume em que só faltam carpideiras, porque não, caras pessoas da terra, fazerem também um pouco mais por ela? Afinal, é ela que vos dá o pão, é nela que vivem e, se é tão mazinha assim, podem sempre fazer também por ela. Pu Yi
“A IRA DE DEUS SOBRE A EUROPA” | JOSÉ RENTES DE CARVALHO
É um livro pessoal, intimista, em que se vai atrás para falar do presente. José Rentes de Carvalho recorda a Europa de há 50 anos para analisar a Europa de hoje: a do hedonismo absoluto, a da ausência de ideais, aquela que é marcada pela mansidão de um “comportamento bonzinho” perante os inimigos declarados. “A Ira de Deus sobre a Europa” é o mais recente trabalho do escritor português radicado na Holanda. Um livro contra as banalidades. Isabel Castro
TROLLS [A]
TROLLS [A] [3D] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 17.45
JACK REACHER: NEVER GO BACK [C] Filme de: Edward Zwick Com: Tom Cruise, Cobie Smulders, Danika Yarosh, Austin Hebert 21.30
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18 OPINIÃO
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TIAGO PEREIRA
Engenheiro Civil
Faleceu o professor engenheiro Henrique Novais Ferreira
C
ONHECI o Professor Novais Ferreira em 2004. Tinha então chegado a Macau há coisa de ano e meio e tinha desenvolvido um interesse pelo estudo de fundações com estacaria, cuja tecnologia em Macau é marcadamente diferente da praticada em Portugal. Contactei-o, pois, por ser uma referência da engenharia civil, e um especialista em matéria de geotécnica (ramo da engenharia civil dedicado a “obras de terras”, como estradas, escavações profundas, taludes, túneis, fundações, etc). O Professor Novais, pese o facto de ser uma pessoa muito ocupada, amavelmente recebeu-me, e tivemos uma conversa onde ele partilhou comigo ideias chave sobre vários tópicos, deu-me referências bibliográficas, e deixou-me a porta aberta para contactá-lo novamente no futuro. Fomos mantendo o contacto e, em 2006, convidou-me a integrar o LECM, trabalhando com ele, e onde simultaneamente poderia escrever a minha Dissertação de Mestrado, da qual foi Co-Orientador com o Professor Catedrático Manuel de Matos Fernandes (Universidade do Porto), autoridade Portuguesa em Geotécnia, e que foi colega do Professor Novais Ferreira no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) nos anos oitenta. O Professor Novais era uma pessoa de trato fácil, com uma personalidade muito especial e vincada. Apreciava muito falar com engenheiros mais jovens. Dizia frequentemente que se deve estar sempre pronto para aprender coisas novas. Talvez isso tenha contribuído para que na sua idade avançada mantivesse o entusiasmo no trabalho. Ao longo dos anos em que tive o privilégio de trabalhar com ele, vi essa procura incessante pelo conhecimento, a vontade de fazer de cada dia um dia em que se aprende algo novo. Não é fácil fazer uma descrição da dimensão da sua Obra. Nos meus primeiros tempos no LECM, ao explorar a sua (rica) biblioteca, encontrei vários estudos da sua autoria que datavam desde os seus tempos como Director do Laboratório de Engenharia de Angola (do qual foi fundador, tendo dirigido o LEA entre 1955 e 1975). São trabalhos de grande complexidade e valor técnico, e que são referências fundamentais. Novais Ferreira escreveu extensivamente, com dezenas de publicações técnicas, e isto em paralelo com trabalho de consultoria e controlo de qualidade numa multiplicidade de obras, muitas delas
emblemáticas. Mesmo em idade avançada, não parou de estudar. Desde a altura em que completou a sua licenciatura em 1945, a engenharia civil teve avanços de grande dimensão, especialmente a partir da década de 70 do século passado, quando a implementação de métodos computorizados teve um forte impulso. Para pôr as coisas em perspectiva, em 1976 o Professor Novais Ferreira tinha já 55 anos. Não foi impedimento para que enfrentasse esse admirável mundo novo com o entusiasmo de um jovem estudante, e mantivesse a sua actividade ao longo de todos estes anos com o mesmo vigor. Os seus últimos trabalhos de investigação centraram-se na “noção de risco”. Um tópico cujos detalhes são pouco explorados no dia a dia da profissão (e inteiramente desconhecido fora dela), mas cujo aumento de importância, num mundo em que a elaboração dos projectos é feita, fruto dos desenvolvimentos tecnológicos, num espa-
“Há pessoas que nos marcam. Que alteram a nossa perspectiva das coisas. Henrique Novais Ferreira deixa uma Obra que fica para a História. Um nome que comanda um respeito entre colegas difícil de igualar”
ço de tempo muito mais curto, e em que a finança impõe exigências que chocam não raras vezes com a segurança das obras, foi reconhecida pelo Professor. Durante os quase oito anos em que trabalhámos juntos, apesar das naturais discordâncias que sempre existem, o respeito e admiração estiveram sempre presentes. À parte do trabalho, falávamos sobre todo o género de assuntos, desde a cultura à política. Novais Ferreira tinha uma visão talvez agora considerada antiquada do papel importantíssimo do engenheiro civil na sociedade. Visão essa que se coaduna com o espírito de missão com que encarava o seu trabalho. O engenheiro, claro, como garante da segurança das construções e gestor das obras, mas também como elemento chave na construção de uma sociedade de progresso, e como defensor do bem público. O engenheiro civil tecnicamente muito bem preparado, mas necessariamente consciente do mundo onde vive. O pragmatismo que implementava no seu trabalho e em todas as suas decisões eram o reflexo de uma sabedoria acumulada com os anos, com os livros , e com a experiência. Agora que partiu para o Oriente Eterno, termina uma Era na Engenharia Civil Portuguesa. A Comenda da Ordem do Infante que lhe foi atribuída pelo Presidente Doutor Aníbal Cavaco Silva em 2013 só pecou por tardia. Há pessoas que nos marcam. Que alteram a nossa perspectiva das coisas. Henrique Novais Ferreira deixa uma Obra que fica para a História. Um nome que comanda um respeito entre colegas difícil de igualar. E, para mim, um Professor e um Amigo. Até sempre, Professor. Até sempre.
19 hoje macau segunda-feira 7.11.2016
OPINIÃO
dissonâncias RUI FLORES
Rien ne vas plus
A
fazer fé nas sondagens eleitorais – e desde Junho que a credibilidade das sondagens foi posta em causa, devido à surpresa que constituiu o anúncio do resultado do referendo no Reino Unido sobre a continuidade do país na União Europeia –, Hillary Clinton estará à beira de se tornar a primeira mulher presidente dos Estados Unidos da América. Para que a coisa se torne realidade “basta” que a antiga Secretária de Estado vença na Florida, estado flutuante, que tem sido o centro das atenções em vários momentos importantes das eleições norte-americanas, como em 2004, quando George W. Bush conseguiu ser reeleito. É claro que a questão de as sondagens não conseguirem ver a fundo o que pensam as populações é premente. Não porque os métodos se tenham tornado cada vez mais falíveis, mas sim porque as sondagens não conseguem entrar na mente das pessoas. Por mais que o mundo se pareça com o ambiente controlado do livro “1984” de George Orwell, as pessoas continuam a ter total soberania no seu pensamento. Por mais científico que seja o método, por mais representativa que seja a amostra, as sondagens não ultrapassam o drama interior dos eleitores que se preparam para ir votar no candidato A ou B, mas que não têm coragem de o admitir. São eleitores que não exteriorizam o sentido do seu voto, porque optaram por uma atitude de resistência passiva à narrativa que foi sendo construída à sua volta. O que lêem nos jornais, o que vêem nos canais de televisão, como que coincide num só ponto: um dos candidatos é absolutamente incompetente, misógino, intolerante, anti-imigrantes, anti-China, anti tanta coisa. Envolvidos numa narrativa absolutamente negativa contra um dos candidatos, sobretudo quando se toma em consideração os jornais americanos que tomaram posição e anunciaram o apoio a um dos candidatos, os eleitores têm vergonha de admitir que afinal se preparam para votar naquele que a imprensa do mainstream qualifica como o “patinho feio”. A narrativa está construída. Na mesma linha do anúncio de alguns militantes do Partido Republicano que iriam votar Hillary Clinton em 2016, também os jornais mais conservadores, que durante anos apoiaram candidatos republicanos, optaram nestas eleições por sugerir o voto na candidata democrata ou simplesmente declararam que não apoiavam Donald Trump. Segundo uma compilação dada à estampa pela revista britânica The Economist na semana passada, de todos os jornais norte-americanos com maior circulação, apenas um declarou apoio a
MARTIN CAMPBELL, CASINO ROYALE
ruiflores.hojemacau@gmail.com
Donald Trump, o Las Vegas Review-Journal. Outros, tradicionalmente conservadores, que nas últimas nove eleições presidenciais (nos últimos 32 anos!) estiveram sempre do lado dos candidatos republicanos, optaram este ano por apoiar Hillary Clinton. São os casos do Columbus Dispatch, do Arizona Republic e do Richmond Times-Dispatch. A candidata democrata tem uma considerável almofada de apoio, com 53 jornais do seu lado, 13 sem opinião e outros três aconselhando o voto num dos dois outros candidatos. Com este “enquadramento” jornalístico, com claras consequências na opinião pública, é pois difícil dizer-se que se está contra a maioria. E a maioria, segundo as várias sondagens conhecidas, parece estar mais do lado de Hillary Clinton do que Donald Trump. Isto apesar de o candidato repu-
“Se nos aproximássemos de uma mesa de jogo imaginária, em que teríamos de apostar no azul ou no encarnado, democrata ou republicano, a probabilidade de recebermos alguma coisa pelo nosso investimento parece, a esta distância tão curta da meta eleitoral, ser muito maior se colocarmos as nossas fichas no azul”
blicano ter conseguido reduzir distâncias nesta última semana de campanha eleitoral, à boleia da ajuda que lhe deu o director do FBI, que reordenou a abertura do inquérito a Clinton, por causa dos e-mails apagados. O mesmo FBI que, em Julho, decidiu-se pelo arquivamento do processo, por não ter conseguido provar intenção criminal. A média das sondagens nacionais vai dando uma pequena vantagem a Clinton, de 45.5 por cento contra 43.1 por cento. A diferença ainda que mínima pode ser importante em termos de voto popular. Apenas em quatro eleições o candidato que mais votos expressos pelos eleitores obteve nas urnas não foi eleito presidente. Assim aconteceu em 1824, 1876, 1888 e em 2000, quando George W. Bush foi eleito para o seu primeiro mandato com menos votos do que Al Gore. Nos Estados Unidos funciona um sistema indirecto na eleição do presidente, em que a cada um dos estados da União, tendo em conta o número de habitantes, é atribuído um número definido de votos eleitorais de um colégio que elege então o presidente. Para ser eleito, o candidato precisa de recolher um mínimo de 270 votos eleitorais. O estado que mais representantes elege para o colégio eleitoral é a Califórnia, com 55 votos. Outros, como o Alasca ou o Delaware, contribuem com apenas três votos. A diferença eleitoral é pois feita ao nível dos estados. À entrada para os dois últimos dias de campanha, havia, de acordo com a média das sondagens publicadas nos Estados Unidos, 23 estados que iriam tombar para Clinton e 22 para Trump. Mesmo à beira da eleição, após uma semana de desgaste político-judicial, a candidata democrata, com os votos eleitorais dos estados que iriam com alguma segurança – de acordo com as sondagens – cair para o lado democrata, estaria à beira da eleição, pois
teria garantidos 268 votos eleitorais dos 270 necessários para ser eleita. Vários dos estados mais populosos, como a Califórnia, Illinois, Nova Iorque ou Pensilvânia estão do lado democrata (só nestes quatro estados Clinton deverá obter 119 votos do colégio eleitoral). Já Trump tem como principal base de apoio as mais que prováveis vitórias no Texas, no Tennessee, Indiana e Missouri, quatro estados que lhe garantem apenas 70 votos eleitorais, de um total de 157 votos eleitorais que estarão certos do lado republicano. As eleições vão pois – como sempre – decidir-se nos estados “swing”, os estados que tanto votam num ou noutro candidato. São estados “too close to call”, em que a diferença entre os dois candidatos nas sondagens é inferior à margem de erro, e relativamente aos quaise o melhor é atirar a moeda ao ar para dizer quem vai vencer. A dois dias do fim da campanha, havia nessas circunstâncias 11 estados, que representam 113 votos do colégio eleitoral. O prémio mais apetecido é pois a Florida, com os seus 29 votos eleitorais. E o Ohio, o estado em que todos os candidatos querem vencer, pois tem desde 1964 sempre votado no candidato que se muda para a Casa Branca. Para Trump poder ganhar, teria de conseguir sair vencedor neles todos, o que parece ser uma tarefa assaz complicada. Por tudo isto, por ter de vencer o mainstream, por ter de vencer a opinião pública, a vitória de Trump seria a todos os níveis mais espectacular. Ainda assim, se nos aproximássemos de uma mesa de jogo imaginária, em que teríamos de apostar no azul ou no encarnado, democrata ou republicano, a probabilidade de recebermos alguma coisa pelo nosso investimento parece, a esta distância tão curta da meta eleitoral, ser muito maior se colocarmos as nossas fichas no azul.
Olhar o mundo vazio não traz ideias novas
segunda-feira 7.11.2016 Atlântido
BANCO ASIÁTICO “CORRIGE FALTA DE INVESTIMENTO EM INFRA-ESTRUTURAS” EQUIPA DE PEDRO LAMY VENCE EM XANGAI
O piloto português Pedro Lamy, que faz equipa com o britânico Paul Dalla Lana e o austríaco Mathias Lauda, num Aston Martin, venceu ontem a categoria de GTE Am das 6 Horas de Xangai, na China. Depois de ter conquistado a ‘pole position’ para a prova do quarto escalão do Mundial de Resistência, o trio da equipa oficial da Aston Martin dominou por completo a corrida, conseguindo também a volta mais rápida. Com esta terceira vitória consecutiva e quinta da temporada, a equipa de Pedro Lamy adiou a decisão do título da categoria de GTE Am para a derradeira corrida do Mundial, que se disputará dentro de uma semana, no Bahrain. “Foi mais um excelente resultado para a equipa. Construímos uma boa vantagem na parte inicial e, a partir daí, concentrámo-nos em gerir bem a nossa corrida e conseguimos mais uma vitória”, disse o piloto português, citado pela sua assessoria de imprensa.
ANDRÉ VILLAS-BOAS NO FUTEBOL CHINÊS
O clube de futebol chinês Shanghai SIPG anunciou sexta-feira a contratação do português André Villas-Boas, ex-treinador do FC Porto, para técnico principal.Villas-Boas “poderá enriquecer a qualidade táctica da equipa”, motivar os jogadores e conduzir “o clube a voos mais altos”, anunciou o conjunto de Xangai, a maior metrópole da China, em comunicado. No conjunto chinês, André Villas-Boas vai reencontrar o antigo avançado do FC Porto Hulk, contratado este Verão ao clube russo Zenit, por 55 milhões de euros. André Villas-Boas, 39 anos, foi treinador do FC Porto na época 2010/2011, tendo conquistado a Liga Europa, Campeonato Nacional e Taça de Portugal, numa temporada em que os portistas somaram 49 vitórias, cinco empates e quatro derrotas. O técnico português treinou também as equipas inglesas Chelsea e Tottenham e os russos do Zenit. André Villas-Boas vai suceder ao sueco SvenGoran Eriksson, antigo treinador do Benfica, nos comandos do clube de futebol chinês.
ESCOLAS INDIANAS FECHADAS TRÊS DIAS DEVIDO À POLUIÇÃO
A
S escolas da região de Deli, onde se localiza a capital indiana, estarão fechadas nos próximos três dias, informou ontem o governo local, numa altura em que toda a zona luta contra uma das piores fases de poluição do ar nos últimos anos. “São necessárias medidas de emergência, em conjunto, para resolver este problema”, disse Arvind Kejriwal, ministro chefe da Região da Capital Nacional de Deli, que é uma zona que engloba ainda Nova Deli (capital) e outras localidades. “Todas as construções e demolições na cidade serão interditas nos próximos cinco dias. Todas as escolas serão fechadas nos próximos três dias em Deli”, acrescentou. O fumo espesso cobriu a capital durante dias e as autoridades locais e centrais estiveram reunidas para resolver a crise. Arvind Kejriwal, que presidiu uma reunião de emergência do gabinete de estado, aconselhou as pes-
soas a ficarem dentro de casa, tanto quanto possível, e se puderem trabalhar em casa. Outras medidas anunciadas pelo governo incluem a luta contra incêndios em aterros, a aspersão de água nas estradas principais para eliminar a poeira e o encerramento temporário de fábricas. O ministro comparou ontem o estado a uma “câmara de gás”, culpando principalmente a queima de colheitas por agricultores em estados vizinhos pela poluição atmosférica. A qualidade do ar em Deli tem piorado com o passar dos anos, resultado da rápida urbanização que trouxe a poluição de motores a diesel, centrais a carvão e emissões industriais. A leitura de poluentes na atmosfera ultrapassou recentemente pela primeira vez a marca de 1.000 microgramas num bairro no sul de Nova Deli, dez vezes mais do que o nível recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Palavra de embaixador
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novo embaixador do Brasil em Pequim considerou que o Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII), a primeira instituição financeira internacional proposta pela China, “corrige a falta de investimento em infra-estruturas” de outros bancos multilaterais. “Os bancos multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial, fizeram um erro há 20 anos, quando praticamente deixaram de financiar a infra-estrutura e o crescimento, e se concentraram apenas na área económico-social”, afirmou Marcos Caramuru de Paiva. Em entrevista à agência Lusa, o diplomata notou que o BAII “vem corrigir” essa “queda expressiva nos investimentos em infra-estruturas”, registada “em quase todos os países em desenvolvimento”. Fundado no início deste ano, o banco proposto por Pequim foi visto inicialmente em Washington como um concorrente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, duas instituições sediadas nos Estados Unidos e habitualmente lideradas por norte-americanos e europeus. Apesar do seu carácter multilateral - mais de vinte países fora da Ásia, da Austrália à Alemanha, aderiram ao BAII -, a instituição tem sede em Pequim e a China é o accionista maioritário, com 29,78% do capital. Das grandes economias mundiais, apenas os EUA e o Japão ficaram de fora. O Brasil é o único membro em todo o continente americano e o nono maior accionista, com uma quota de 3.181 milhões de dólares; Portugal tem uma participação de cerca de 13 milhões de dólares.
QUEM PODE, PODE
“Os bancos multilaterais de desenvolvimento tradicionais já não têm recursos para financiar infra-estruturas, mas a China tem esses recursos”, apontou o embaixador do Brasil. “Tem uma [taxa de] poupança interna de 46% do PIB e uma quantidade
Marcos Caramuru de Paiva
extraordinária de reservas”, notou. O diplomata apontou ainda a “explosão de oportunidades” que existe na nação sul-americana para as empresas chinesas que actuam no sector das infra-estruturas. PUB
Em 2015, durante a visita ao Brasil do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, os dois países anunciaram acordos bilaterais no valor de cerca de 53,3 mil milhões de dólares. Em Setembro passado, o Presidente do Brasil, Michel Temer, anunciou um programa de leilões, prevendo a concessão ou venda de mais de 30 projectos nas áreas de energia, aeroportos, rodovias, portos, ferrovias e mineração. Caramuru de Paiva diz ter a “convicção de que esses planos vão ser lançados no final deste ano e, sobretudo, ao longo de 2017”. “Nas conversas que tenho tido com os chineses isso é muito claro. Eles estão dispostos a aplicar aquele volume de recursos, seja porque são recursos oriundos das reservas ou do sistema financeiro”, disse.
Antigo cônsul-geral do Brasil em Xangai, Marcos Caramuru de Paiva já esteve colocado em Kuala Lumpur e foi director executivo do Banco Mundial, em Washington. Vive há nove anos na China, onde é também sócio e gestor da KEMU Consultoria, empresa com sede em Xangai. A China tornou-se, em 2009, no principal parceiro económico do Brasil, ultrapassando os EUA, e no seu maior investidor externo. No ano passado, o volume das trocas comerciais bilaterais cifrou-se em 71,80 mil milhões de dólares, menos 17,37%, face a 2014. Os dois países integram também o grupo BRICS, o bloco de grandes economias emergentes, que é ainda composto por Rússia, Índia e África do Sul.