DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
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QUARTA-FEIRA 7 DE DEZEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3712
hojemacau TUI REQUERIMENTO DE HO CHIO MENG RECUSADO
Tem juízo
MEDICINA TRADICIONAL
O ex-procurador pedia que o presidente do Tribunal de Última Instância não fizesse parte do colectivo que o vai julgar, alegando que a presença de Sam Hou Fai noutras fases do processo o
GRANDE PLANO
LAG2017
PÁGINAS 4-5
h
PÁGINA 9 SOFIA MOTA
Terras e carris
impedia de participar no julgamento. O tribunal não lhe deu razão e audiência, entretanto marcada para esta sexta-feira, contará mesmo com a presença do presidente do TUI.
Jack Ma e Zuckerberg Irmãos esquecidos JULIE O’YANG
JOÃO PAULO COTRIM
OPINIÃO
Marés MÁRIO DUARTE DUQUE
PISA
Tudo bons alunos PUB
PÁGINA 7
LAI SIO KIT
PADRÕES DO TEMPO EVENTOS
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Ó ERVAS, Ó ERVAS
2 GRANDE PLANO
O Governo Central publicou um livro branco a detalhar políticas e medidas de fomento da medicina tradicional chinesa, tornando-a estratégia nacional. O Conselho de Estado quer que as práticas desenvolvidas no país sejam o alicerce da nova política de saúde nacional
A indústria farmacêutica de MTC representa um mercado de 786,6 mil milhões de yuan, o que corresponde a 28,55 por cento da totalidade de toda a indústria farmacêutica chinesa
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA PEQUIM INVESTE EM NOVA POLÍTICA DE SAÚDE
A
medicina tradicional chinesa (MTC) é uma das mais bem sucedidas exportações da nação, encontrando-se espalhada por todo o mundo, apesar de ser encarada como uma prática alternativa face à chamada medicina convencional do Ocidente. Desde 2012 que o Partido Comunista Chinês (PCC), no 18º Congresso Nacional, pretende implementar uma série de políticas e medidas de promoção da MTC. Em 2015, durante a reunião do executivo, o Conselho de Estado aprovou o primeiro esboço legal de regulação da MTC e submeteu-a ao legislador para deliberação e aprovação. O objectivo foi criar um ambiente legal razoável para o desenvolvimento e regulação das práticas medicinais tradicionais. Já este ano, o Comité Central do PCC e o Conselho de Estado lançaram um plano estratégico nacional de saúde de longo prazo (2016-2030), alicerçado em torno da MTC. A estratégia passa por dar igual relevo ao desenvolvimento da MTC e à medicina ocidental. Para tal, o Governo Central encoraja a interacção entre ambas as formas de medicina. Dessa forma, serão dadas condições a médicos convencionais para aprenderem e incorporarem métodos da MTC nos tratamentos. Em contrapartida, nas escolas e universidades de medicina tradicional serão ministrados cursos de medicina moderna, em espírito de intercâmbio, de acordo com as directrizes do Governo Central. O mesmo espírito de partilha ocorrerá ao nível hospitalar, sendo encorajada a abertura de centros dedicados a doenças específicas nos estabelecimentos de MTC. Na outra direcção acontecerá o mesmo, sendo encorajada a criação de departamentos de métodos tradicionais de saúde nos hospitais de medicina moderna. Esta medida pretende aliviar a pressão sobre as urgências hospitalares, assim como assumir uma posição profilática de controlo e prevenção de doenças infecciosas. O culminar destes esforços chega agora com o livro branco, que pretende ser o plano de revitalização da MTC, que inicia uma nova era de desenvolvimento na área da saúde. O Governo Central tem como metas principais facultar a todos os cidadãos chineses o acesso a serviços básicos de saúde até 2020, e tornar universal o alcance
O Governo Central tem como metas principais facultar o acesso a serviços básicos de saúde até 2020, e tornar universal o alcance da MTC a todas as áreas da saúde até 2030 da MTC a todas as áreas da saúde até 2030. Estes são os alicerces da grande reforma do sistema de saúde chinês. A expansão do alcance dos serviços prestados e o esforço para melhorar a gestão da área da saúde têm também uma forte componente comunitária, promete Pequim. Especialmente entre os idosos, turistas e trabalhadores, divulgando boas práticas de exercício e nutrição. Outro dos objectivos do livro branco da MTC é dar cobertura legal à protecção de recursos naturais que se têm tornado escassos, e que são essenciais à farmacologia chinesa.
OS NÚMEROS DA TRADIÇÃO
A MTC tem raízes ancestrais bem fundas na cultura chinesa, muito popular entre a população, tratando-se de uma questão cultural e filosófica. O livro branco lançado pelo Governo Central contabiliza o número de centros hospitalares que se dedicam aos métodos tradicionais. De acordo com o documento, espalhados tanto por zonas rurais como urbanas, em 2015 existiam 3966 hospitais de MTC, 42.528 clínicas e 452 mil especialistas do ramo. Os dados estatísticos avançados estabelecem ainda um crescimento de 14,3 por cento para 15,7 por cento nos cuidados médicos tradicionais prestados na totalidade dos cuidados médicos prestados, durante o período de 2009 a 2015. No que toca a despesas durante o ano de 2015, as consultas de MTC foram 11,5 por cento mais baratas que as consultas em medicina convencional. No que diz respeito a despesas per capita, os custos dos tratamentos tradicionais foram 24 por cento menos dispendiosos em relação à medicina moderna. Até à data, foram aprovados cerca de 60 mil medicamentos de MTC, assim como 2088 empresas
CUR ANT
URA À TIGA
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farmacêuticas creditadas para produzir patentes do ramo tradicional de acordo com a legislação que regula as boas práticas de produtos médicos. A MTC é uma realidade intimamente ligada ao comércio, assim como acontece, de resto, com a medicina convencional. A indústria farmacêutica de MTC representa um mercado de 786,6 mil milhões de yuan, o que corresponde a 28,55 por cento da totalidade de toda a indústria farmacêutica chinesa. Esta fatia considerável é vista pelo Governo Central como uma nova fonte de crescimento da economia chinesa.
ALCANCE GLOBAL
Apesar de se reconhecerem benefícios, principalmente à acupunctura, o consenso científico aponta para uma posição de complementaridade da MTC em relação à medicina convencional, e não de substituição. No entanto, pode ser uma solução viável no tratamento da ansiedade, depressão, enxaquecas e alergias. A sua abordagem distinta da medicina ocidental continua a fascinar o Ocidente e a ganhar popularidade. De acordo com o
A MTC tem raízes ancestrais bem fundas na cultura chinesa, muito popular entre a população, tratando-se de uma questão cultural e filosófica Departamento de Informação do Conselho de Estado, as várias técnicas medicinais chinesas encontram-se em expansão um pouco por todo o mundo, sendo utilizadas em 183 países. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o uso da acupunctura e da moxabustão está implementado, e aprovado oficialmente em 103 países, sendo que em 18 países as mesmas técnicas são cobertas por seguros de saúde. É de realçar ainda que em 29 países foram aprovados estatutos especiais para a medicina tradicional. Apesar de assentar em técnicas ancestrais, esta é mais uma indústria chinesa em expansão no plano global. J.L.
HISTÓRIAS DA HISTÓRIA
C
uriosamente, o advento da medicina tradicional chinesa anda de mãos dadas com a invenção de uma substância que provoca inúmeros problemas de saúde: o álcool. A descoberta deu-se durante a Dinastia Xia (2070-1600 A.C.). O passo seguinte foi a invenção da decocção ervanária, já na Dinastia Shang (1600-1046 A.C.). A evolução prosseguiu chegando-se às primeiras especializações médicas, dietistas, médicos, doutores de decocção e vete-
rinários. Os avanços seguintes foram ao nível dos métodos de diagnóstico como o exame da tez, da língua, auscultação, exame do pulsação e historial clínico do paciente. Estas técnicas remontam a 500 anos A.C.. O enraizamento do budismo (0-200) trouxe a implementação dos primeiros hospitais, um passo marcante na evolução das políticas de saúde chinesas. Outro passo marcante foi a criação do Instituto de Medicina Imperial durante a Dinastia Tang (618-917), que estabeleceu diferentes departamentos e especialistas para as áreas da acupunctura, moxabustão e farmacologia. Estes avanços puseram o nome de Sun Simiao na história da medicina tradicional chinesa. Durante a Dinastia Ming (1368-1644), Li Shizhen escreveu o Compêndio de Matéria Médica, considerado até hoje uma obra-prima da herbologia, o primeiro livro que categoriza cientificamente as ervas medicinais. Este trabalho pioneiro resultou em avanços consideráveis na farmacologia da medicina tradicional chinesa.
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CALÇADA DO GAIO SECRETÁRIO DIZ QUE SITUAÇÃO ESTÁ RESOLVIDA
DRONES PEDIDOS PARA UTILIZAÇÃO DUPLICARAM
Simon Chan, director da Autoridade de Aviação Civil de Macau, confirmou que os pedidos para a utilização de drones aumentaram para o dobro, de 50 pedidos feitos o ano passado para um total de 130 este ano. “Conseguimos verificar um aumento em flecha e tivemos um diálogo para ver como podemos rever o regulamento. Já temos uma ordem executiva, e temos de controlar quanto à finalidade do pedido do drone.”
determina a altura dos edifícios na zona]. Só depois do despacho é que as Obras Públicas decidiram embargar as obras. Depois de 2008 não houve situações de autorizações sem seguir esse despacho. Em vários casos tudo se resolve através do Governo e não existindo outros recursos é que recorremos ao tribunal. Sempre que possível procuramos esse meio de negociação. Quanto a mim o problema está resolvido”, rematou o secretário.
GCS
O fim do desembargo na construção do edifício na Calçada do Gaio e a manutenção da actual altura já levou um grupo a escrever à UNESCO a pedir uma intervenção para proteger a zona do Farol da Guia mas, ainda assim, Raimundo do Rosário confirmou que o assunto está resolvido e encerrado. “O problema é que o projecto e o calendário para o início das obras tiveram início antes do despacho do Chefe do Executivo, em 2008 [que
Lei de Terras SECRETÁRIO TEM EVITADO AUTORIZAR PRORROGAÇÕES DE OBRAS
“Que querem que diga mais?” O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, garantiu que, nos casos dos terrenos cujo prazo de concessão está perto do fim, não tem autorizado o prolongamento da obra. Leonel Alves referiu que nunca se discutiu a imputabilidade do Governo
A
revisão da Lei de Terras voltou a ser um assunto debatido no último dia de debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área dos Transportes e Obras Públicas. Vários deputados exigiram a actuação do Governo e, após uma intervenção de Leonel Alves, Raimundo do Rosário admitiu que não tem aprovado o prolongamento de obras em terrenos cuja concessão poderá estar prestes a terminar. “Já não sei o que dizer mais, mas há uma coisa que já faço agora. Quando vejo que o tempo até aos 25 anos não é suficiente para aproveitar o terreno, não tenho autorizado as prorrogações,
para evitar as situações que todos conhecemos”, admitiu. Leonel Alves abordou a questão para lembrar que, durante todo este período de reivindicações, nunca foi discutida a possibilidade da culpa do não aproveitamento do terreno ser do Governo. “Nunca foi discutida a questão da imputabilidade do Governo nos casos do não aproveitamento do terreno ao fim de 25 anos. O que está a acontecer neste momento é que não haverá sequer indemnização caso haja imputabilidade do Governo. Não foi discutido porque não pode haver confisco em Macau, porque é algo proibido pela nossa lei suprema, a Lei Básica.
Confrontamo-nos neste momento com a extinção de direitos; o Governo diz que basta acabar os dias no calendário para retirar o terreno sem uma indemnização.” O deputado referiu ainda que o Governo deveria ter embargado as obras em causa, tal como aconteceu com o prédio da Calçada do Gaio. “Macau precisa de proteger os direitos dos investidores e ter um ambiente bom para investir. Os bancos emprestaram o dinheiro, mas o Governo deveria ter suspendido a licença de construção. Não basta dizer às pessoas que vão
“Confrontamo-nos neste momento com a extinção de direitos; o Governo diz que basta acabar os dias no calendário para retirar o terreno sem uma indemnização.” LEONEL ALVES DEPUTADO
ter problemas: se se antevê que o fim é trágico para todos, deveria ter sido suspensa a obra tal como foi feita com a obra na Calçada do Gaio, que está embargada há oito anos.”
MAIS VOZES
Gabriel Tong, deputado autor de um projecto de lei não aceite no hemiciclo que propunha uma nova interpretação do diploma, foi um dos primeiros a abordar a questão. “O secretário já foi director das Obras Públicas, já exerceu funções de deputado e espero que possa aproveitar a oportunidade, de acordo com a sua experiência profissional, para se chegar a um consenso social. Teremos de sacrificar os interesses fundamentais da sociedade para haver uma lei desta forma? Temos de actuar segundo a nossa consciência.” Também o deputado Zheng Anting abordou a questão. “Espero que apoie a proposta de revisão da lei de terras. É melhor publicitar as gravações da Assembleia Legislativa para que a população saiba o que se passa. Ninguém me pediu para dizer isto, são palavras minhas, e tomei a iniciativa para que Macau não possa responsabi-
VISTORIAS PODERÃO SER OBRIGATÓRIAS L
i Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, confirmou que a proposta de lei de revisão do Regime Geral de Construção Urbana está quase concluída, estando prevista a implementação da obrigatoriedade de vistorias a edifícios após os primeiros dez anos de construção. “Já existe um projecto preliminar. Vamos prever a obrigatoriedade de uma vistoria de um edifício após a ocupação de dez anos. Um edifício é como um carro que é usado durante muitos anos, temos de ter cautela quanto a isso. Pretendemos simplificar o processo de notificação dos ocupantes ilegais de terrenos”, disse ainda.
lizar-se por estes casos. No meu mandato vou continuar a insistir para que estas pessoas tenham a sua casa”, rematou o deputado. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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Metro ligeiro SECRETÁRIO GARANTE UTILIZAÇÃO DAS CARRUAGENS JÁ ADQUIRIDAS
Entrada e prato principal Os deputados questionaram se as carruagens já encomendadas à Mitsubishi poderão ser utilizadas quando o metro ligeiro entrar efectivamente em funcionamento, após 2019. Raimundo do Rosário confirmou e disse que, actualmente, só pode dar avanço ao que já foi decidido
É
certo que o segmento do metro ligeiro na Taipa só poderá entrar em funcionamento efectivo após 2019, devido à falta de experiência na gestão deste meio de transporte. Ainda assim, Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, confirmou que as carruagens já adquiridas à japonesa Mitsubishi terão condições para circular, apesar dos atrasos nas obras. “Assumi que há vários problemas, mas encomendámos e vamos usar as carruagens. O metro ligeiro é um problema muito complexo, já pagamos as 110 carruagens e estamos a pagar a sua manutenção”, adiantou. Vários deputados mostraram-se preocupados com o facto de o segmento da Taipa só funcionar após 2019. “Disse que tem receios em relação à sua exploração. Podemos ter horizontes mais largos, nas zonas vizinhas vemos que o metro já é um meio de transporte amadurecido. Muitas pessoas preocupam-se com o facto de ter sido feita uma encomenda de carruagens em 2013. Será que só em 2020 vamos ter o metro? Será que as carruagens vão conseguir responder às necessidades?”, questionou Ho Ion Sang. Já a deputada Song Pek Kei referiu que se o metro ligeiro é a
entrada de uma refeição, o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) é o prato principal. “Todos os trabalhos que o GDI está a fazer têm que ver com a vida da população. Quais as medidas a lançar para garantir que as obras de infra-estruturas possam estar garantidas? De olhos fechados não vamos conseguir fazer bem as coisas.”
O MEMORANDO FANTASMA
A deputada Angela Leong usou da palavra para questionar o Governo quanto a um memorando de entendimento assinado com a Universidade de Macau (UM) na área de formação de pessoal para o metro ligeiro, mas Raimundo
“Assumi que há vários problemas, mas encomendámos e vamos usar as carruagens. O metro ligeiro é um problema muito complexo, já pagamos as 110 carruagens e estamos a pagar a sua manutenção.” RAIMUNDO DO ROSÁRIO SECRETÁRIO PARA OS TRANSPORTES E OBRAS PÚBLICAS do Rosário garantiu nada saber sobre o assunto. “Nunca ouvir falar desse memorando, é de 2013 e nunca tive contacto com ele.” Afinal existe e visa sobretudo a realização de estágios de Verão, confirmou o coordenador do GDI.
“A colaboração é ao nível de formação, realização de seminários e conferências. Todos os anos no Verão há estudantes que fazem estágios para conhecerem mais sobre o metro ligeiro, durante o estágio ganham o gosto e interesse sobre essa área e depois do curso feito passaram a dedicar-se a esta área”, referiu Chau Vai Man. Numa carta enviada aos media, Angela Leong tinha pedido para, no âmbito deste memorando, serem formados locais para trabalhar na gestão do metro ligeiro. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
HAJA RESPEITO
A
meio do debate de ontem, Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, pediu respeito por parte dos deputados. “Espero que me respeitem como secretário, e quando fazemos o debate aqui exijo respeito. Acho que há aqui uma falta de respeito, não estou aqui como Raimundo do Rosário mas como secretário para os Transportes e Obras Públicas.” No final do debate, Raimundo do Rosário afirmou que “não é Deus” e pediu tempo para resolver todos os problemas. “Quando tomei posse diziam que Macau tinha quatro problemas. Passados dois anos há pessoas que esqueceram esses quatro problemas. Não sou Deus para resolver tudo, mas dou a face aos problemas. Não fui eu que criei as preocupações, nasci num momento mau e é o meu destino, e parece que todos os problemas têm que ver comigo. O trabalho é muito e não há fim.” O secretário pediu ainda uma maior independência em relação ao Executivo. “Com dois anos de experiência sei que temos de mudar a nossa atitude. Não podemos estar sempre dependentes do Governo. Sobre a inspecção de edifícios, a população não pode estar totalmente dependente do Governo, se não nunca vamos ter recursos humanos suficientes.”
SIN FONG GARDEN “FOI CONSTRUÍDO À PRESSA”
U
M dia depois de o Governo ter admitido que o início das obras de reconstrução do edifício Sin Fong Garden poderá demorar mais do que o previsto, devido à existência de processos em tribunal, o deputado Ho Ion Sang falou ontem no hemiciclo em nome dos moradores desalojados. “Parecia existir um consenso quanto à renovação, existiam já condições para a reconstrução. Disse que, afinal, há dois casos em curso. Só depois dos resultados é que o problema pode ser resolvido. Depois de ouvirem esta notícia, os proprietários ficaram em choque, pois pensavam que, depois de quatro anos, as obras iriam começar. Quando podem ter início?”, questionou. Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, não conseguiu avançar uma data. “Acho que todos sabem porque é que não podemos avançar. Quanto à qualidade, umas semanas antes de tomar posse como secretário, disseram-me que havia muitos problemas, e porquê? Porque foi construído à pressa. No futuro vão existir menos problemas.”
COTAI LEONEL ALVES QUER GRANDE SUPERMERCADO
O deputado Leonel Alves sugeriu ontem no hemiciclo que Macau deveria ter uma grande infra-estrutura de compras no Cotai, à semelhança do centro comercial Harrods, em Londres. “Macau precisa de algo que não existe e de que todos precisam: um bom supermercado. Não existe um supermercado com as dimensões que existem em Hong Kong ou em Londres, como o Harrods, por causa da dificuldade de estacionar os carros. Teria de ser um estacionamento com, pelo menos, 1500 automóveis. Se não tivermos uma infra-estrutura desta natureza, as pessoas não vão lá fazer compras. Fiquei satisfeito com o facto de o secretário anunciar que alguns terrenos serão postos a concurso público no próximo ano.”
6 PUBLICIDADE
hoje macau quarta-feira 7.12.2016
Anúncio Concurso Público “Empreitada da obra de concepção e construção para a substituição do Campo de Hóquei do Centro Desportivo Olímpico” 1.
Entidade de preside ao concurso: Instituto do Desporto.
2.
Modalidade de concurso: Concurso Público.
3.
Local de execução da obra: Campo de Hóquei do Centro Desportivo Olímpico.
4.
Objecto da empreitada: Concepção e construção para a recuperação da função específica das instalações do campo de hóquei do Centro Desportivo Olímpico.
5.
Prazo de validade das propostas: o prazo de validade das propostas é de 90 dias, a contar da data do Acto Público do Concurso, prorrogável nos termos previstos no Programa do Concurso.
6.
Tipo de empreitada: A empreitada é por Preço Global.
7.
Caução provisória: $ 200 000,00 (duzentas mil) patacas, a prestar mediante depósito em numerário ou em cheque (emitida a favor da “Caixa de Tesouro”), garantia bancária ou seguro caução (emitida a favor do Instituto do Desporto) aprovado nos termos legais.
8.
Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, em reforço da caução definitiva a prestar).
9.
Preço base: Não há.
10. Condições de admissão: Serão admitidos como concorrentes as entidades inscritas na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, para execução de obras, bem como as que à data do concurso, tenham requerido a sua inscrição. Neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição. 11. Local, dia e hora limite para apresentação das propostas: Local: Instituto do Desporto, sito na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues n.º 818, em Macau.
Anúncio Concurso Público “Prestação de serviços de gestão da época balneária 2017 nas piscinas situadas nas Ilhas do Instituto do Desporto” Nos termos previstos no artigo 13.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho, e em conformidade com o Despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 23 de Novembro de 2016, o Instituto do Desporto vem proceder, em representação do adjudicante, à abertura do Concurso Público para a prestação de serviços de gestão da época balneária 2017 nas seguintes piscinas situadas nas Ilhas do Instituto do Desporto. Ordem
Designação das piscinas
1
Piscina do Parque Central da Taipa
2
Piscina de Cheoc-Van
3
Piscina de Hác-Sá
Período dos serviços 8 de Abril a 7 de Novembro de 2017
A partir da data da publicação do presente anúncio, os interessados podem dirigir-se ao balcão de atendimento da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.o 818, em Macau, no horário de expediente, das 9.00 às 13.00 e das 14.30 às 17.30 horas, para consulta do processo de concurso ou para obtenção da cópia do processo, mediante o pagamento de $500.00 (quinhentas) patacas. Podem ainda ser feita a transferência gratuita de ficheiros pela internet na área de Download da página electrónica: www.sport.gov.mo. Os interessados devem comparecer na sede do Instituto do Desporto até à data limite para a tomarem conhecimento sobre eventuais esclarecimentos adicionais. O prazo para a apresentação das propostas termina às 12.00 horas do dia 4 de Janeiro de 2017, quarta-feira, não sendo admitidas propostas fora do prazo. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto por motivos de tufão ou por motivos de força maior, a data e a hora limites para a apresentação das propostas acima mencionadas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes devem apresentar a sua proposta dentro do prazo estabelecido na sede do Instituto do Desporto, no endereço acima referido, acompanhada de uma caução provisória no valor de $ 216 800,00 (duzentas e dezasseis mil e oitocentas) patacas. Caso o concorrente opte pela garantia bancária, esta deve ser emitida por um estabelecimento bancário legalmente autorizado a exercer actividade na RAEM e à ordem do Fundo do Desporto ou deve ser efectuado um depósito em numerário ou em cheque (emitido a favor do Fundo do Desporto) na mesma quantia, a entregar na Divisão Financeira e Patrimonial sita na sede do Instituto do Desporto. O acto público de abertura das propostas terá lugar no dia 5 de Janeiro de 2017, quinta-feira, pelas 09.30 horas, no Auditório da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.o 818, em Macau. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto por motivos de tufão ou por motivos de força maior, ou em caso de adiamento do prazo para a apresentação das propostas por motivos de tufão ou por motivos de força maior, a data e a hora para o acto público de abertura das propostas acima mencionados serão adiados para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. As propostas são válidas durante 90 dias a contar da data da sua abertura. Instituto do Desporto, 7 de Dezembro de 2016. O Presidente, Pun Weng Kun.
Dia e hora limite: dia 23 de Janeiro de 2017 (segunda-feira), até às 12,00 horas. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto por motivos de tufão ou por motivos de força maior, a data e a hora limites estabelecidas para a apresentação das propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. 12. Local, dia e hora do Acto Público de abertura das propostas: Local: Instituto do Desporto, sito na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues n.º 818, em Macau. Dia e hora: dia 24 de Janeiro de 2017 (terça-feira), pelas 9,30 horas. Em caso de adiamento da data limite para a apresentação das propostas de acordo com o mencionado no ponto 11 ou em caso de encerramento do Instituto do Desporto por motivos de tufão ou por motivos de força maior, a data e hora estabelecidas para o acto público de abertura das propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes ou seus representantes legais devem estar presentes ao acto público de abertura das propostas para os efeitos previstos no artigo 80.º do Decreto-Lei n.º 74/99/M, de 8 de Novembro, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. 13. Local, dia e hora para exame do processo e obtenção da respectiva cópia: Local: Instituto do Desporto, sito na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues n.º 818, em Macau. Hora: horário de expediente (Das 9.00 às 13.00 horas e das 14.30 às 17.30). Na Divisão Financeira e Patrinonial deste Instituto, poderão obter cópia do processo de concurso mediante o pagamento de $ 1 000,00 (mil patacas). 14. Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: -
Concepção e adequabilidade: 40 %
-
Preço de execução razoável: 45 %
-
Prazo global e programação dos trabalhos: 10 %
-
Experiência: 5%
15. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes devem comparecer no Instituto do Desporto, sito na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues n.º 818, em Macau, até à data limite para a apresentação das propostas, para tomarem conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Instituto do Desporto, 7 de Dezembro de 2016. O Presidente, Pun Weng Kun
Anúncio Concurso Público “Prestação de serviços de gestão da época balneária 2017 nas piscinas situadas em Macau do Instituto do Desporto” Nos termos previstos no artigo 13.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho, e em conformidade com o Despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 24 de Novembro de 2016, o Instituto do Desporto vem proceder, em representação do adjudicante, à abertura do Concurso Público para a prestação de serviços de gestão da época balneária 2017 nas seguintes piscinas situadas em Macau do Instituto do Desporto. Ordem
Designação das piscinas
Período dos serviços
1
Piscina Estoril
8 de Março a 7 de Dezembro de 2017
2
Piscina Dr. Sun Iat Sen
8 de Abril a 7 de Novembro de 2017
A partir da data da publicação do presente anúncio, os interessados podem dirigir-se ao balcão de atendimento da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.o 818, em Macau, no horário de expediente, das 9.00 às 13.00 e das 14.30 às 17.30 horas, para consulta do processo de concurso ou para obtenção da cópia do processo, mediante o pagamento de $500.00 (quinhentas) patacas. Podem ainda ser feita a transferência gratuita de ficheiros pela internet na área de Download da página electrónica: www.sport.gov.mo. Os interessados devem comparecer na sede do Instituto do Desporto até à data limite para a tomarem conhecimento sobre eventuais esclarecimentos adicionais. O prazo para a apresentação das propostas termina às 12.00 horas do dia 4 de Janeiro de 2017, quarta-feira, não sendo admitidas propostas fora do prazo. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto por motivos de tufão ou por motivos de força maior, a data e a hora limites para a apresentação das propostas acima mencionadas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes devem apresentar a sua proposta dentro do prazo estabelecido na sede do Instituto do Desporto, no endereço acima referido, acompanhada de uma caução provisória no valor de $ 150 700,00 (cento e cinquenta mil e setecentas) patacas. Caso o concorrente opte pela garantia bancária, esta deve ser emitida por um estabelecimento bancário legalmente autorizado a exercer actividade na RAEM e à ordem do Fundo do Desporto ou deve ser efectuado um depósito em numerário ou em cheque (emitido a favor do Fundo do Desporto) na mesma quantia, a entregar na Divisão Financeira e Patrimonial sita na sede do Instituto do Desporto. O acto público de abertura das propostas terá lugar no dia 6 de Janeiro de 2017, sexta-feira, pelas 09.30 horas, no Auditório da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.o 818, em Macau. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto por motivos de tufão ou por motivos de força maior, ou em caso de adiamento do prazo para a apresentação das propostas por motivos de tufão ou por motivos de força maior, a data e a hora para o acto público de abertura das propostas acima mencionados serão adiados para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. As propostas são válidas durante 90 dias a contar da data da sua abertura. Instituto do Desporto, 7 de Dezembro de 2016. O Presidente, Pun Weng Kun.
7 hoje macau quarta-feira 7.12.2016
SOCIEDADE
GONÇALO LOBO PINHEIRO
PUBLICAÇÃO ZHUHAI E MACAU TÊM UM ATLAS
Foi editado o primeiro atlas oficial das regiões de Macau e Zhuhai, numa parceria da Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro, o Departamento de Solos e Recursos da Província de Guangdong e o Departamento de Solos e Recursos de Zhuhai. A publicação visa fortalecer as relações entre as duas regiões em matérias económicas e sociais. O atlas divide-se em cinco partes: pesquisa por subdivisão do mapa, mapa de ordenamento, mapa regional, mapa detalhado da região e, finalmente, a pesquisa por topónimos. O livro já se encontra à venda, custa 290 patacas e pode ser adquirido em vários serviços públicos e livrarias.
IPOR PROFESSORES DA ÁSIA PARTILHAM EXPERIÊNCIAS
PISA ESTUDANTES LOCAIS NO TOP DO RANKING INTERNACIONAL
Macau, o bom aluno O relatório internacional de avaliação de desempenho dos alunos, divulgado ontem pela OCDE, coloca os estudantes do território nos lugares cimeiros. Com os alunos entre as 15 melhores posições nas três áreas de avaliação, Macau é ainda uma das cinco regiões com os níveis mais altos de equidade nos resultados
O
S alunos de Macau conseguiram ficar entre os 15 melhores lugares no ranking das classificações médias em literacia científica, matemática e literatura no Programme for International Student Assessment (PISA, na sigla inglesa). Os resultados referentes aos testes de 2015 do programa de avaliação internacional promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) foram ontem divulgados pelos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em simultâneo com o anúncio mundial que ocorria às 11 da manhã em Paris. Os alunos de Macau ficaram em 12.° lugar no que respeita a competências de leitura, com 509 pontos, em 6.° lugar na literacia científica, com 529 pontos, e em 3.° lugar na literacia matemática, com 544 pontos.
O teste do PISA teve lugar em todas as escolas do território e avaliou o desempenho de 4476 alunos que, no ano passado, tinham 15 anos. “Os alunos nascidos em 1999 fizeram o teste em Maio de 2015. A avaliação ocorreu em 45 escolas de Macau e abrangeu o ensino das escolas chinesas, inglesas e portuguesa”, disse a responsável máxima pela DSEJ, Leong Lai. Em Macau, a realização da avaliação ficou a cargo da Universidade de Macau (UM) que também fez a primeira interpretação e análise de resultados. Segundo Cheung Kwok Cheung, administrador do projecto nacional do PISA de Macau e investigador na UM, os dados agora conhecidos revelam que, “comparativamente com o teste do PISA em 2006, a literacia científica teve um aumento estável em que mais de 90 por cento dos alunos locais foram aprovados”.
Já na matemática, os alunos de Macau obtiveram o melhor resultado entre todos os ciclos anteriores em que participaram. Registou-se uma subida significativa da percentagem de alunos nos níveis médio e superior, bem como na literacia em leitura, em que as melhorias foram registadas “de forma contínua”.
Macau é ainda, de entre os 72 países e regiões participantes, a região que menos associa a variação dos resultados ao estatuto socioeconómico e cultural das famílias
Simultaneamente, os alunos com baixo desempenho diminuíram.
MENINAS À FRENTE
Da análise do relatório, Cheung Kwok Cheung destacou ainda o facto de os estudantes de sexo feminino terem apresentado, nas três áreas de avaliação, médias superiores aos do sexo masculino. Macau é ainda, de entre os 72 países e regiões participantes na avaliação, a região que menos associa a variação dos resultados ao estatuto socioeconómico e cultural das famílias o que mostra que, “de acordo com o relatório da OCDE, o Canadá, a Dinamarca, a Estónia, Hong Kong e Macau são os cinco países e regiões que apresentam uma educação de alta qualidade e justa”. Apesar de os resultados mostrarem Singapura no primeiro lugar do pódio em todas as áreas de avaliação, em Macau, bem como nos restantes quatro países e regiões, os resultados não são condicionados pelo estatuto socioeconómico dos alunos, o que faz com que “não se registem diferenças de resultados baseadas neste factor e que a região esteja apontada como tendo “altos níveis de equidade”. De entre as escolhas profissionais que os alunos de Macau projectam para o futuro, as carreiras científicas, não obstante o aumento do desempenho feminino, continuam a ser as mais antevistas pelos rapazes. Já as raparigas preferem carreiras ligadas aos cuidados de saúde. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
O Instituto Português do Oriente (IPOR) acolhe, na sexta-feira e no sábado, o II Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Língua Portuguesa na região do sudeste da Ásia que visa sobretudo a “partilha de experiências”. “A ideia é poder proporcionar a partilha de experiências profissionais e também as que decorrem de diferentes contextos”, explicou Patrícia Ribeiro, vogal da direcção do IPOR, indicando que o encontro apresenta este ano “uma componente mais prática”. A iniciativa vai fazer convergir no Consulado-Geral de Portugal em Macau 25 docentes, dos quais dez vêm de fora, nomeadamente de universidades de Pequim, Xangai, Banguecoque, Manila, Hanói e Goa, mas o encontro tem “a porta aberta” a todos os interessados, como salientou Patrícia Ribeiro. Relativamente à primeira edição, realizada em 2015, a novidade passa pela inclusão de docentes que não têm o português como língua materna. “É um contributo muito importante, que nos permite também perceber a ‘outra parte’, as experiências, as perspectivas e os desafios deles”, realçou.
PORTUGUÊS UM ORGANIZA SEMINÁRIO PARA DOCENTES
Realiza-se na próxima sexta-feira um seminário de formação de professores de português como língua estrangeira na Universidade de Macau (UM). O evento vai reunir académicos da área do ensino e da aquisição de língua estrangeira com o intuito de formar professores de Português, de modo a corresponder às necessidades de formação de quadros qualificados bilingues. “Sendo Macau considerada a ponte entre a China e os países de língua portuguesa, competenos contribuir para tornar Macau a base de formação dos quadros qualificados da língua portuguesa na região da Ásia-Pacífico”, destaca a organização.
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hoje macau quarta-feira 7.12.2016
Anúncio N.º108/2016 Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notificam-se, por este meio, os representantes dos agregados familiares candidatos a habitação económica abaixo indicado: Representante do agregado familiar candidato a habitação económica
Número do boletim de candidatura
LAM CHENG TUN
82201331428
NG IAO KIN
82201303028
Razões e fundamentos legais da exclusão de adquirente seleccionado Os documentos exigidos para a aprovação do requerimento não foram entregues dentro do prazo definido e o representante do agregado familiar candidato foi membro de um agregado familiar que vendeu uma fracção de habitação económica (alínea 7) do n.º 5 do artigo 14.º e alíneas 1) e 2) do n.º 1 do artigo 28.º da Lei n.º 10/2011, alterada pela Lei n.º 11/2015) O representante do agregador familiar foi proprietário de uma fracção de habitação económica que vendeu (alínea 7) do n.º 5 do artigo 14.º e alínea 1) do n.º 1 do artigo 28.º da Lei n.º 10/2011, alterada pela Lei n.º 11/2015)
Nos termos dos artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, o Instituto de Habitação (IH) notificou os representantes dos agregados familiares candidatos a habitação económica acima referidos através de ofício, para que, no prazo de 10 dias, apresentassem contestação por escrito, considerando-se terem renunciado ao seu direito, caso a mesma não seja entregue dentro do prazo. Os representantes dos respectivos agregados familiares candidatos a habitação económica não apresentaram qualquer contestação por escrito dentro do prazo fixado, pelo que, de acordo com as respectivas normas, o presidente do IH aprovou a decisão de exclusão dos agregados familiares seleccionados acima referidos por despacho exarado nas Prop. n.ºs 0760/DAJ/2016 e 0761/ DAJ/2016. Caso não concordem com a respectiva decisão, nos termos do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, pode ser apresentada reclamação ao presidente do IH (sem efeito suspensivo), no prazo de 15 dias a contar da data de publicação do presente anúncio ou/e, nos termos do artigo 25.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, pode ser intentado, no prazo legal, acção de recurso ao Tribunal Administrativo. Atenciosamente. Instituto de Habitação, aos 2 de Dezembro de 2016.
O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng
9 hoje macau quarta-feira 7.12.2016
Ho Chio Meng TRIBUNAL RECUSA REQUERIMENTO DO EX-PROCURADOR
Sam Hou Fai vai lá estar
É
uma derrota para a defesa de Ho Chio Meng, ainda antes de o julgamento ter início. Na passada sexta-feira, o antigo procurador da RAEM apresentou um requerimento junto do Tribunal de Última Instância (TUI) em que pedia para que o presidente deste tribunal, Sam Hou Fai, não fizesse parte do colectivo que vai julgá-lo. O arguido fundamentava a pretensão com o facto de o presidente do TUI ter participado em duas fases processuais distintas. Na fase de inquérito, Sam Hou Fai autorizou o pedido do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre o acesso às declarações de rendimentos de interesses patrimoniais depositadas na secretaria do TUI pertencentes a Ho Chio Meng e à sua mulher. Depois, Sam Hou Fai presidiu à audiência de julgamento sobre o pedido de ‘habeas corpus’ apresentado pelo ex-procurador. O requerimento apresentado por Ho Chio Meng fez com que o julgamento, agendado para a passada segunda-feira, tivesse sido adiado. Ontem, o tribunal colectivo do TUI tomou uma decisão: o arguido não tem razão, pelo que Sam Hou Fai vai integrar o colectivo de juízes responsável pelo julgamento mais mediático depois do caso Ao Man Long.
PEQUENA JURISDIÇÃO
Em comunicado à imprensa, o TUI recorda que a lei estabelece “mecanismos de impedimentos, escusas e recusas para os casos em que se verifica, entre o juiz e o processo concreto que cabe a este julgar, determinada relação especial passível de afectar o julgamento justo”. O tribunal explica ainda que há que determinar “não se o juiz se encontra realmente impedido de se comportar com imparcialidade, mas se existe perigo de a sua intervenção ser encarada com desconfiança e suspeita pela comunidade”.
TIAGO ALCÂNTARA
O presidente do Tribunal de Última Instância vai fazer parte do colectivo responsável por julgar Ho Chio Meng. O arguido tinha alegado que Sam Hou Fai estava impedido por ter participado noutras fases do processo. A justiça não lhe deu razão
SOCIEDADE
seria de elementar bom senso não fazer uma interpretação demasiadamente extensiva das normas sobre impedimento de juízes, sob pena de, em muitas situações, não haver juízes que possam julgar os casos”. O TUI informou, entretanto, que a audiência do processo está marcada para esta sexta-feira. O antigo responsável pelo Ministério Público (MP) vai acusado de mais de 1500 crimes, de peculato a abuso de poder, passando por burla, participação económica em negócio e crime de associação criminosa. Pelo que foi divulgado aquando da detenção, a investigação em torno do ex-procurador e dos restantes arguidos foi desencadeada no ano passado, depois de o CCAC ter recebido uma denúncia. Além do ex-procurador, o caso envolve duas antigas chefias do MP, o ex-chefe do gabinete do procurador e um assessor, vários empresários locais e dois familiares de Ho Chio Meng. Em causa está a adjudicação de quase duas mil obras nas instalações do MP, sempre às mesmas empresas. Os crimes terão ocorrido entre 2004 e 2014, e as empresas envolvidas terão recebido um valor superior a 167 milhões de patacas. O CCAC acredita que, deste valor, 44 milhões terão sido encaixados pelos arguidos. Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
EPM LISTA A VENCE ELEIÇÕES À APEP COM 59 VOTOS
“Numa jurisdição como a RAEM, (...) sempre seria de elementar bom senso não fazer uma interpretação demasiadamente extensiva das normas (...), sob pena de, em muitas situações, não haver juízes que possam julgar os casos.” “Para considerar verificadas as situações de suspeita, é necessário existir motivos sérios e graves, adequados a suscitar a desconfiança da imparcialidade do juiz”, acrescenta-se. O TUI explica que, no requerimento, Ho Chio Meng alegou que
“o juiz visado se pronunciou por duas vezes sobre a sua conduta, considerando que se indicia fortemente/suficientemente a prática pelo arguido dos crimes”. Para o TUI, esta argumentação não é motivo para impedir a participação de Sam Hou Fai: “A pronúncia
sobre a existência de fortes indícios sobre a prática do crime nunca é considerada pelo legislador como motivo de impedimento do juiz”. O tribunal entende ainda que “numa jurisdição como a RAEM, com uma pequena população e um reduzido número de juízes, sempre
A Lista A sagrou-se vencedora das eleições à Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau. O HM confirmou que a lista, liderada por Valeria Koob, venceu com 59 votos, contra os 23 votos obtidos pela Lista B, liderada por Manuel Gouveia. O acto eleitoral contou com a participação de apenas 20 por cento dos pais e encarregados de educação. Esta foi a primeira vez desde há alguns anos que duas listas concorreram às eleições da APEP. Até ao fecho desta edição, não foi possível chegar à fala com Valéria Koob.
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LAI SIO KIT
SOFIA MOTA
EVENTOS
“Macau precisa de pessoas que gostem de arte” ARTISTA PLÁSTICO
Lai Sio Kit inaugura hoje “O tempo corre”, uma exposição que reúne cerca de 4500 pequenas peças. São em formato de azulejo e retratam a passagem do tempo nos painéis que, um dia, fizeram parte dos terraços de Macau. O artista falou ao HM do projecto, da opção por ficar em Macau depois da formação na Academia de Pequim e das portas que se abriram quando, em 2012, foi o vencedor do prémio de Artes Plásticas da Fundação Oriente
L
UÍS Cunha, investigador, há muito que estuda a ascensão geopolítica da China. Já escreveu sobre a política externa de Pequim, a questão de Taiwan, a entrada do país na Primeira Guerra Mundial. “Há um denominador comum a estes todos livros: a tentativa de reflexão sobre este processo de ascensão geopolítica da China”, explica ao HM. “China’s Techno-Nationalism in the Global Era – Strategic Implications for Europe”, o livro que apresenta hoje no auditório do Consulado-Geral de Portugal em Macau, segue o mesmo alinhamento, ao ser “uma ten-
Livro OBRA DE LUÍS CUNHA ANALISA TECNO-NACIONALISMO DA CHINA
Na corrida pelo mundo tativa de despertar para a nova era” que o país atravessa. O tecno-nacionalismo não é um palavrão que tenha sido inventado por Pequim. Mas quando se fala da China, há todo um contexto que faz com que tenha características próprias. “O tecno-nacionalismo já foi adoptado por outros países, noutras circunstâncias. No caso da China, é diferente”, sublinha o investigador
do Instituto do Oriente da Universidade de Lisboa.
O PASSADO MAIS DISTANTE
A diferença tem que ver, desde logo, com o passado particular do país: o nacionalismo reflecte o facto de “a China ter sido ocupada por várias potências estrangeiras ao longo da sua história”, explica Luís Cunha. “Todo este processo de desenvolvimento e de ascensão da China tem
quer ver a procura de uma certa reposição de justiça histórica”. Por outro lado, continua o investigador, “a China sempre foi muito frágil ao nível do desenvolvimento das ciências, da educação e da tecnologia”. Luís Cunha recorda que, durante muito tempo, as pessoas não tinham sequer consciência de que “a pólvora, a impressão e a bússola tinham sido invenções chinesas”. O confucionismo
teve um peso neste quadro, ao fazer com que “a ciência não tivesse um desenvolvimento muito significativo”. Mas o panorama mudou com o século XXI. “A China quer realmente dar o grande salto em frente na área tecnológica e está a fazê-lo, de uma forma fortíssima”, refere. O livro que é hoje apresentado, numa iniciativa do Instituto Internacional de Macau, destaca precisamente
este desígnio chinês. “É uma nova página que se abre no desenvolvimento da China, com uma aposta muito forte na inovação,” com o patrocínio de Pequim. A obra está centrada na cooperação entre a China e a Europa, e nem todos os exemplos são histórias com um final feliz, como é o caso do Galileu, um programa que a China abandonou para fazer um ao nível nacional. “Há uma forte cooperação, mas também uma grande competição entre as duas partes”, sintetiza. A apresentação da obra de Luís Cunha começa às 18h30. Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
11 hoje macau quarta-feira 7.12.2016
Como é que “O tempo corre” apareceu? Comecei este tópico há alguns anos. É, acima de tudo, acerca da cidade de Macau vista de uma forma abstracta. A ideia veio dos azulejos que ainda se encontram em muitos dos terraços de Macau. Nestes espaços, temos o chão coberto por padrões, principalmente nos edifícios mais antigos. Já há cerca de cinco ou seis anos que exploro estes edifícios e os processos de envelhecimento que atravessam ao longo do tempo. Em especial, estou atento à degradação dos azulejos e às transformações que sofrem na cor e textura com a passagem do tempo e para esta exposição fiz painéis em grande escala. Em que sentido este trabalho espelha a cidade de Macau? Porque Macau é uma cidade que, além das transformações, conserva ainda espaços antigos e é aí que podemos encontrar a verdadeira cidade e os traços da sua história. Por exemplo, os azulejos, pequenos e quadrados, são parte da história de Macau. Os padrões que formam marcam épocas específicas do território. Mas a coisa mais importante que realmente quero mostrar, e que está logo no nome da exposição, é a passagem do tempo e como se reflecte no território. É com o tempo que desaparecem características e que aparecem outras. O projecto é constituído por cerca de nove mil peças... Eu fiz realmente nove mil mas, como não há espaço suficiente nestas paredes (da sala de exposições da Casa Garden) para todas, acabei por trazer para cá cerca de metade. A intenção é cobrir as paredes destas salas com os painéis de modo a transportar as pessoas para dentro de um outro espaço. Acabei por adaptar o que tinha feito às características do local e escolhi os painéis que mais se adaptariam aqui. Demorou quanto tempo a produzir este projecto? Mais de um ano. Usei placas e óleo. O óleo pareceu-me o meio mais adequado. Além de gostar especialmente de trabalhar com óleo, é uma técnica com características próprias, nos brilhos ou texturas, que vão ao encontro do que quero transmitir, nomeadamente da mudança de estados. Ganhou o prémio de artes plásticas da Fundação Oriente em 2012. Em que é que isso contribuiu para que mais portas se abrissem enquanto artista? Foi uma distinção que me permitiu sair de Macau e, mais concretamente, ir para a Europa. Fui para Lisboa onde encontrei outros artistas com quem pude trocar ideias. Aprendi muito com essa experiência. Em que sentido? Em Macau a vida é muito rápida. As pessoas andam sempre muito ocupadas e sem tempo para nada. Há uma espécie
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“Quando estamos um pouco mais afastados dos grandes centros ganhamos mais liberdade para criar.” de stress no ar. Já em Portugal, tive uma experiência completamente diferente. As pessoas são mais relaxadas. Senti calma. Penso que essa forma de estar, a que senti em Portugal, é muito melhor para quem queira trabalhar a criar. Foi muito bom ter sentido isso. Estudou na Academia de Belas Artes de Pequim, onde também fez o mestrado. Porquê o regresso a Macau e sair de um grande centro? Porque os meus pais já são idosos. Estive oito anos em Pequim, e senti que tinha de vir para estar próximo deles e poder cuidar deles. Por outro lado, a arte pode ser feita em qualquer lugar. Outra vantagem de Macau é, precisamente, estar longe de um grande centro. Enquanto artista sinto que quando estamos um pouco mais afastados dos grandes centros ganhamos mais liberdade para criar. Aqui não preciso de me preocupar com a minha família porque estou perto dela e não tenho de me preocupar com tendências artísticas porque estou longe dos centros que as criam. Tenho muito mais liberdade. Este projecto, que já vem de há algum tempo, vai continuar ou tem projectos novos? Vou continuar com este. É uma ideia que pode ser sempre desenvolvida de formas diferentes. Mesmo no que toca a exposições, é muito versátil porque tratando-se de padrões e trabalhos acerca de padrões pode ser mudada consoante o espaço ou o contexto. Mas tenho outra ideia para começar a trabalhar. Ao longo dos últimos anos, e com as viagens que tenho feito, fui a muitas florestas. Por isso, depois desta ideia que aborda a cidade, quero abordar a floresta. Vou continuar a utilizar a pintura, mas quero explorar o que conseguir dentro dela. É pintura, mas não será só isso, será uma exploração do que é que a pintura pode ser. Como é ser artista em Macau? É muito difícil. Macau precisa de pessoas que gostem, se interessem e conheçam arte. As pessoas estão sempre demasiado ocupadas e não se preocupam com isso. Uma das grandes diferenças que encontro, comparando com a Europa, por exemplo, é que lá as pessoas, de alguma forma, têm sempre algum contacto com expressões artísticas e sabem sempre alguma coisa. Em Macau quando alguém pensa em ser artista ou fazer coisas criativas, a mentalidade ainda é de que é uma perda de tempo. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
EVENTOS
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hoje macau quarta-feira 7.12.2016
GLOBAL TIMES TRUMP “PODE FAZER MUITO BARULHO” MAS TERÁ QUE RESPEITAR REGRAS
U
M jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) disse ontem que o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, “pode fazer muito barulho”, mas que isso “não o isenta das regras do relacionamento entre grandes potências”. “Ele não tem recursos suficientes para lidar de forma irresponsável com a China”, defende o Global Times. Em editorial, o jornal lembra que a China é a maior potência comercial e segunda maior economia mundial, e um poder nuclear, afirmando que, por isso, as palavras de Trump “não se podem converter em acções”. “Os comentários imprudentes de Trump sobre uma grande potência ilustram a sua falta de experiência em diplomacia. Talvez esteja a sobrestimar o poder dos EUA”, aponta. Na sexta-feira, a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, conversou por telefone com Trump, no primeiro contacto formal de alto
nível entre os EUA e Taiwan, em quase 40 anos. O gesto levou Pequim a apresentar um protesto formal a Washington, enquanto a imprensa chinesa acusou Trump de “ignorância” e “inexperiência”. Na rede social Twitter, o magnata reagiu assim: “A China perguntou-nos se era bom desvalorizar a sua moeda (prejudicando a competitividade das nossas empresas), taxar fortemente os nossos produtos que entram no seu país (os Estados Unidos não os taxam) ou construir um enorme complexo militar no meio do Mar do Sul da China? Não me parece!”. Para o Global Times, os ataques de Trump no Twitter “são apenas um disfarce para a sua real intenção, que é tratar a China como um cordeiro gordo, e cortar um pouco da sua carne”. “Trump quer reanimar a economia dos EUA, mas sabe que o seu país não é tão competitivo como costumava ser”, conclui.
TRIBUNAL DECRETA PRIMEIRA ORDEM DE RESTRIÇÃO A MULHER QUE AGREDIA MARIDO
U
M tribunal de Pequim decretou ordem de restrição contra uma mulher que agrediu repetidamente o marido, num caso inédito na capital chinesa, notícia ontem o jornal oficial em língua inglesa China Daily. Caso viole a ordem do tribunal, a mulher será condenada a 15 dias de detenção e ao pagamento de uma multa de 1.000 yuan (135 euros), detalha o jornal. No seu depoimento, o homem disse que desde o casamento, em 2014, o casal frequentemente discutia em torno de “questões menores”. A vítima disse ter sido espancada pela mulher em Maio passado. Numa segunda ocasião, os ataques “assustaram a sua filha recém-nascida”, contou, citado pelo China Daily. Esta semana, um tribunal de Pequim decretou uma ordem de restrição válida por seis meses contra a mulher, proibindo-a de perseguir, ameaçar ou ferir o
marido ou os seus familiares. A ordem força a esposa a sair de casa e proibi-a de se aproximar do marido, num raio de 200 metros. O país aprovou, em Dezembro de 2015, a primeira lei contra a violência doméstica da sua História, que entrou em vigor em Março deste ano. A violência doméstica era considerada na China um assunto “privado” ou “familiar”, e não um crime. Desde que a lei entrou em efeito, os tribunais chineses decretaram mais de 300 ordens de restrição, sobretudo contra homens, escreve o China Daily. Citado pelo jornal, Xia Yinlan, vice-presidente da Associação de Estudos do Casamento e da Família da China, nota que a lei, “ao contrário do que muita gente pensa”, foi feita a pensar na protecção de “todos os membros da família”. “Está na altura de mais homens se levantarem e pedirem ajuda”, afirmou.
HRW SISTEMA DE JUSTIÇA PARALELO PARA FUNCIONÁRIOS DO PC
Atrocidades internas O comunicado da Human Rights Watch relata vários casos de tortura a membros do Partido Comunista Chinês. Segundo a ONG, a campanha anti-corrupção do Presidente Xi Jinping assenta num sistema de detenções abusivas
O
sistema de justiça paralelo que a China reserva para membros do Partido Comunista “assenta fortemente” na tortura e é “abusivo e ilegal”, diz a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), apelando ao seu encerramento. Cerca de 88 milhões de membros do Partido Comunista Chinês (PCC), o partido único de poder na China, estão sujeitos a um sistema designado de “shuanggui”, que opera fora do controlo das autoridades judiciais. Desde 2007, mais de 15 funcionários do Governo terão morrido devido aos abusos praticados naquele sistema. Após ascender ao poder, o Presidente chinês, Xi Jinping, lançou uma campanha anti-corrupção, considerada a mais persistente e ampla na história da China comunista, que resultou já na punição de um milhão de membros do partido. A campanha é regida pelo órgão de disciplina e inspecção interno do PCC. Vários dos suspeitos desaparecem sem aviso prévio e ficam retidos em centros de detenção ilegais, até “confessarem” as acusações que lhes são feitas. Só depois transitam para as instâncias judiciais, num processo que invariavelmente resulta na sua punição.
“O Presidente Xi construiu a sua campanha anti-corrupção com base num sistema de detenções abusivas e ilegais”, aponta em comunicado a directora da HRW para a China, Sophie Richardson.
FLAGELOS MÚLTIPLOS
Com base na análise de sentenças dos tribunais, notícias e entrevistas com ex-detidos e seus familiares, o relatório da organização detalha os abusos daquele sistema: longos períodos de privação de sono, comida e água, espancamentos, detidos forçados a estarem em posições inconfortáveis ou ameaças aos seus familiares. Um dos citados recorda como foi coagido a criar histórias para os seus crimes: “Eles forçaram-me a inventar. Tive de inventar ou batiam-me”. Um outro detido recorda que foi obrigado a sentar-se e levantar-se, consecutivamente, por períodos de
Um dos citados recorda como foi coagido a criar histórias para os seus crimes: “Eles forçaram-me a inventar. Tive de inventar ou batiam-me.”
12 horas, numa rotina que fez as suas pernas “incharem e as nádegas ficarem irritadas, até escorrerem pus”, cita o comunicado. Um dos advogados entrevistados descreve um caso em que um cliente seu dormia apenas uma hora por dia e era forçado a equilibrar um livro na cabeça o resto do tempo. Ao fim de oito dias, “confessou tudo aquilo de que o acusavam”. “Quando chegou a esse ponto, os seus pés estavam tão inchados, que pareciam a pata de um elefante, e ele não conseguia mais urinar”, recorda. A taxa de condenações dos tribunais chineses é de 99,92%. “Os tribunais funcionam como um carimbo, legitimando um processo ilegal dirigido pelo Partido Comunista”, afirma Richardson. Em Outubro, após uma reunião de quatro dias, a elite do PCC ditou um controlo mais apertado dos seus membros, anunciando um maior controlo escrutínio ideológico e uma reforma “das directrizes para a vida política”. As novas regras de disciplina interna forçam os membros do PCC a oporem-se a acções contrárias à liderança do partido e prometem um aumento das investigações de comportamentos “fora da linha” da organização.
13 hoje macau quarta-feira 7.12.2016
A
China criticou na segunda-feira a decisão dos Estados Unidos de bloquear a aquisição da Aixtron, empresa alemã do sector tecnológico, por um grupo chinês, afirmando que o negócio deve ser separado da política. O Presidente dos EUA, Barack Obama, travou o negócio, ao rejeitar a inclusão da unidade norte-americana da Aixtron. Washington disse que a Comissão para o Investimento Estrangeiro nos EUA avaliou os riscos da aquisição, que poderia servir fins militares chineses, como sendo demasiado altos. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Lu Kang considerou que a oferta pela Aixtron tinha um propósito exclusivamente comercial. “A China opõe-se à politização do normal comportamento em negócio ou à interferência política”, afirmou em conferência de imprensa, em Pequim. “Esperamos que os EUA parem de fazer acusações sem fundamento contra as empresas chinesas e proporcionem um ambiente justo e boas condições para os investimentos chineses”, acrescentou.
Más influências
China critica EUA por “politizar” investimentos chineses
Washington não quer que empresas financiadas pelo Governo chinês tenham acesso àquela tecnologia. Em Outubro passado, Berlim anunciou que o negócio voltaria a ser analisado, alterando assim a sua posição inicial sobre a proposta da chinesa Grand Chip Investment, pela Aixtron, no valor de 670 milhões de euros. O jornal Handelsblatt, que citou fontes não identificadas dos serviços
ACESSO VEDADO
O Departamento do Tesouro dos EUA afirmou que a tecnologia produzida pela Aixtron, que é fundamental no fabrico de semicondutores usados em lasers, luz de alta resolução e células solares, também pode servir fins militares.
secretos alemães, escreveu na altura que a alteração se deveu à interferência dos EUA. “Washington teme que os ‘chips’ produzidos pela Aixtron possam ser usados no programa nuclear chinês”, disse o jornal. AAlemanha é o segundo maior destino do investimento chinês na Europa, ultrapassada apenas pelo Reino Unido. Portugal é o quarto, logo a seguir à França.
CHINA
ALEPO PEQUIM E MOSCOVO VETAM RESOLUÇÃO DA ONU SOBRE CESSAR-FOGO
A
Rússia e a China vetaram segunda-feira a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidos, que determina um cessar-fogo de sete dias na cidade síria de Alepo, que tem sido alvo de violentos conflitos. O texto, apresentado pela Espanha, Egipto e Nova Zelândia, teve 11 votos a favor, uma abstenção (Angola) e três contra, incluindo o da Rússia e o da China, que têm poder de veto, o que trava a iniciativa. Moscovo tentou até ao último momento adiar a votação, alegando problemas de procedimento e defendendo a necessidade de esperar pelo resultado das negociações entre a Rússia e os Estados Unidos sobre a retirada dos rebeldes da zona este de Alepo.
O embaixador russo das Nações Unidas, Vitaly Churkin, considerou que submeter esta resolução à votação segunda-feira “violou” as regras do Conselho de Segurança, considerando que não se cumpriram os prazos necessários, uma acusação que outras delegações rejeitaram. Segundo Churkin, atrasar a decisão teria dado tempo para conhecer os resultados das negociações de ontem, em Genebra, entre especialistas russos e norte-americanos. O embaixador russo garantiu que este processo abre a possibilidade de “resolver de forma efectiva” a situação naquela cidade síria e acusou as potências ocidentais de pressionaram a votação desta resolução.
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CLUBE DE TÉNIS CIVIL DE MACAU
AVISO
Aviso
Faz-se saber que em relação ao concurso público para « Empreitada de ampliação do Centro Hospitalar Conde de São Januário (1.ª Fase) – Obras de demolição de edificações – Zona 2», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 47, II Série, de 23 de Novembro de 2016, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.2 do programa do concurso, e foi feita aclaração complementar conforme necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos e aclaração complementar encontram-se disponíveis para consulta, durante o horário de expediente, no Gabinete para o Desenvolvimento de Infraestruturas, sito na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar, Macau. Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, aos 01 de Dezembro de 2016.
Informa-se aos distintos membros, serão convidados ao jantar de Celebração do 90º aniversário do Clube e da Festa de Natal, realizado às 19:00 horas na noite de 17 de Dezembro de 2016; para obter mais informações, pode dirigir-se ao bar do Clube de Ténis Civil ou enviar email a teniscivilmacau@yahoo.com.hk (com nome e número do sócio devidamente especificado). Finalmente, será aconselhável aos membros de mandar o seu endereço de email para o do Clube acima citado, para efeitos de actualização do Catálogo de endereços de email dos membros. A Direcção do Clube de Ténis Civil de Macau, Macau, aos 4 de Dezembro de 2016
O Coordenador do Gabinete Chau Vai Man
DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS Aviso Venho por este meio informar a V. Exa. que a Direcção dos Serviços de Finanças irá realizar um seminário de esclarecimento sobre o projecto de lei da “Troca de informações em matéria fiscal”. Gostaríamos de o convidar a inscrever-se e a estar presente. No seminário, darse-ão a conhecer o enquadramento, o objectivo e as questões-chaves da consulta, esperando-se recolher comentários e sugestões de todos os sectores que possam auxiliar no aperfeiçoamento da elaboração da lei sobre “Troca de informações em matéria fiscal”. Designação: Seminário de esclarecimento sobre a elaboração de diplomas legais da “Troca de informações em matéria fiscal” Data: 14 de Dezembro de 2016 (Quarta-feira) Horário: 15:00-17:30 Local: Na sala do auditório, cave do edifício da Direcção dos Serviços de Finanças Destinatários: Associação bancária, Associação de seguros, representantes de respectivo Associação e outros interessados Língua: Cantonês, com tradução simultânea para Português Inscrição (Tel): 8599 0185 ou 8599 0826 (por ordem cronológica) Prazo limite: 13 de Dezembro de 2016 Em conformidade com a política de protecção ambiental, os documentos de consulta sobre o projecto de lei da “Troca de informações em matéria fiscal” encontram-se já disponíveis no sítio da internet da Direcção dos Serviços de Finanças (www.dsf.gov.mo). Desde já se informa que os mencionados documentos não serão facultados em suporte de papel no seminário. Obrigado pela atenção! Aos 2 de Dezembro de 2016. O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong
Aviso Tendo terminado a fase de classificação da lista definitiva das 658 candidaturas admitidas ao Concurso Público – Atribuição de Moradias da RAEM aos Funcionários dos Quadros Locais de Nomeação Definitiva dos Serviços e Organismos Públicos, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 39, Série II, datado de 28 de Setembro de 2016, avisamse os candidatos que, a lista de classificação final já obteve homologação de Sua Exa.ª o Chefe do Executivo, nos termos da alínea c) do n.º 2 do artigo 12º e do artigo 16º do Decreto-Lei n.º 31/96/M, e encontra-se afixada na sobreloja da Direcção dos Serviços de Finanças, Av. da Praia Grande n.ºs 575-579 e 585, Edifício Finanças, no Centro de Serviços da RAEM, Rua Nova da Areia Preta, n.º 52, Macau, no Centro de Atendimento da Taipa, Rua de Bragança, n.º 500, R/C, Taipa, e também no website da Direcção dos Serviços de Finanças (http://www.dsf.gov.mo/asset/asset_houseallocate.aspx), dado o número de candidatos ter ultrapassado os duzentos. Mais, informamos que, nos termos n.º 2 do artigo 16º e artigo 13º, ambos do Decreto-Lei n.º31/96/M, de 17 de Junho, os candidatos podem recorrer para o Chefe do Executivo no prazo de 10 dias a contar da data de publicação da lista classificação final. A Direcção dos Serviços de Finanças, em 01/12/2016 A Presidente do Júri do Concurso, Ho Silvestre In Mui
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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WANG CHONG
王充
OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG
Se trata da mesma palavra, mas entre “pôr em ordem” e “pôr em desordem” a diferença é considerável! O exame dos livros – 5
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ONG Zhongshu não utiliza o termo “pensador” no título dos seus livros, provavelmente por se considerar acima dos Pensadores [NT – o caracter zi 子 , pronunciado no tom neutro, é um sufixo honorífico, que, por extensão, se pode traduzir por “pensador” ou “mestre”. Pronunciado no terceiro tom, o carácter traduz-se por “criança”]. Os autores da dinastia Han foram numerosos: Sima Qian e Yang Xiong são imensos como o Rio Amarelo ou o Han, os outros são como os rios Jing ou Wei. Todavia, Sima Qian não é suficientemente pessoal e os temas de que trata Yang Xiong não são geralmente acessíveis à populaça. Dong Zhongshu é notável na argumentação, nisso ultrapassando aqueles autores. Nos livros das profecias podemos ler: “Dong Zhongshu mexerá [NT - luàn亂: “desordem; pôr em desordem”]nos meus escritos”, um dito que provavelmente remonta a Confúcio. Certos leitores defendem que esta expressão significa que Dong Zhongshu introduziu a desordem nas obras de Confúcio; outros, ao contrário, entendem o termo luàn so sentido de “arranjar”, passando a frase a significar que Dong Zhongshu teria posto a obra de Confúcio em ordem. Em ambos os casos, se trata da mesma palavra, mas entre “pôr em ordem” e “pôr em desordem” a diferença é considerável! Os intérpretes têm motivos diferentes para interpretar esta profecia num ou noutro sentido, mas nem uns nem outros seguem a realidade e todos se enganam. Num caso como no outro, o fito é aumentar os talentos de Dong Zhongshu, mas nem Sima Qian nem Yang Xiong fazem alusão aos discípulo de Confúcio que terão introduzido ordem ou desordem nos seus escritos. A populaça não reflecte o suficiente, esquece a verdade, e eis por que é incapaz de analisar estas duas interpretações, passando constantemente de uma a outra. Examinando-a, constatamos que a obra de Dong Zhongshu não vai contra a tradição confucionista, ou contra Confúcio. Logo, não percebemos como Dong Zhongshu possa ter introduzido desordem no seu livro. Além disso, os escritos de Confúcio não são desordenados, e Dong Zhongshu não lhes saberia ter introduzido ordem. Confúcio disse: “Quando o Mestre Zi dirigia a música, quão imensamente plenas eram a abertura e o coro final [luàn] das Águias” : tal como nesta frase, a palavra luàn na nossa profecia significa “terminar”. Confúcio viveu na época dos Zhou e estabeleceu os fundamentos da sua doutrina; durante os Han, Dong Zhongshu, colocou-lhe um último toque e a concluiu, um pouco como Ban Biao continuou a obra do Grande Historiador. Na poesia descritiva, a última estrofe é frequentemente introduzida com as palavras luàn yue [ NT - 亂越, “desordem” + “ultrapassar; resolver”], ou seja, “em conclusão”: eis provavelmente um exemplo análogo da aplicação desta expressão. Dong Zhongshu fixou o sentido último da doutrina de Confúcio, o que não nos espanta quando sensatamente fala a propósito dos sacrifícios e dos dragões de terracota. Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho
Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseia-se na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.
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na ordem do dia 热风
Julie O’yang
Zuckerberg, Jack Ma e a Chinanet “非死不可” Antes de começar a ler, por favor veja este vídeo. bit.ly/2g1EQxk
S
EGUNDO a Socialbakers, em 2010, a seguir à estreia do filme de David Fincher Social Network, o crescimento da utilização do Facebook na China atingiu nos três meses seguintes a percentagem de 612.19%. Com estes números a “Terra da Fantasia Zuckerbergiana” registou o maior crescimento de sempre. A 20 de Junho de 2008 o Facebook lançou uma versão chinesa simplificada para atrair utilizadores da RPC. Um ano mais tarde, a 7 de Julho de 2009, o Facebook foi bloqueado pelas autoridades chinesas e deixou de poder ser acedido directamente no país. Aqui vão algumas razões que justificam o crescimento exponencial dos utilizadores do Facebook na China. • A China conta oficialmente com 420 milhões de utilizadores da Internet, dos quais apenas 160 milhões estão registados no Facebook. O potencial é irresistível. • O filme Social Network despertou a curiosidade dos chineses. • O jogo CityVille.
• Razões políticas. Países como a Somália, a Serra Leoa e a República Centro-Africana registaram índices de crescimento semelhantes entre os utilizadores do Facebook. • Os jovens chineses que estudam no estrangeiro, quando voltam a casa por altura do Ano Novo Chinês, criam uma conta no Facebook a partir da RPC. Mas estas notícias não têm novidade nenhuma. No entanto, recentemente, o assunto voltou a dar que falar. Segundo o New York Times, aparentemente, o Facebook tinha criado uma ferramenta para zonas geográficas onde é censurado, numa tentativa de voltar a abrir caminho até à Rota da China. O jornal citava três empregados da empresa Facebook que afirmaram que esta ferramenta pode filtrar as publicações dos utilizadores em zonas geográficas específicas. Segundo o artigo do Times, Mark Zuckerberg, director executivo do Facebook, apoiou a criação de uma ferramenta destinada a zonas interditas. A partir da altura em que o Facebook foi banido na China, em 2009, por causa do desejo das autoridades de controlarem os mecanismos de partilha da informação, e os movimentos que usam a internet, Zuckerberg nunca deixou de estar empenhado em “voltar à China”.
Passou anos a estudar mandarim e teve encontros com dirigentes chineses de topo, incluindo Xi Jinping. Algumas más línguas insinuam que Mark Zuckerberg guarda um conjunto de livros “sagrados” de Xi na mesa de cabeceira. No entanto não podemos falar de Zuckerberg sem mencionar o gigante chinês do negócio online, Jack Ma e a sua empresa a Alibaba, que ultimamente viu nascer “a aurora da partilha de dados” na era da internet global. Vai ser uma aurora num céu chinês, não vai Jack? É certo que Mark e Jack são dois super-heróis dos nossos tempos, a única coisa que os diferencia é o empenhamento com que as pessoas veneram os seus deuses. Huang Jian, um jovem de Shenzhen, afirma que já despendeu a quantia de um milhão de yuans (145.000 dólares) em cirurgias plásticas para ficar parecido com Jack Ma. Estas operações são efectuadas na Coreia do Sul, o principal destino asiático para quem pretende submeter-se a uma cirurgia plástica. Huang afirma ser um grande fã do segundo homem mais rico da China e passou por esta transformação radical na esperança de um dia poder encontrar-se com o seu ídolo. Por isso Mark, talvez pôr os livrinhos vermelhos debaixo da almofada não seja o suficiente. Será que planeias vir a ficar parecido com Xi Jinping? Se for o caso, força, não hesites!
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diário de um editor
João Paulo Cotrim
Irmãos esquecidos SANTA BÁRBARA, LISBOA, 27 NOVEMBRO Este exercício de andar à gandaia de sobras dos dias para compor em colagem nem sei bem o quê tem algo de perturbador. Se me pede avaliações, aqui e ali penosas, também me obriga a ser capaz de suspender toneladas de afazeres em atraso. A mão que escreve arrasta esse peso. E quando acontecer que nada tenha vivido ou visto ou lido que interesse, que nos interesse? E quando o cansaço me vencer? Este que rima com as marés. BIBLIOTECA CAMÕES, 29 NOVEMBRO Foi por mensagem que chegou o aviso da chegada do Carlos Quiroga, com quem tenho assuntos pendentes, que o mesmo é dizer livro no prelo. «Uma cerveja no inferno ainda presta.» Soou-me logo o sotaque, onde noto, vá-se lá saber porquê, nevoeiro e ternura. Descia da Finisterra para atirar de varanda de biblioteca A Imagem de Portugal na Galiza, em espelho com essoutra, de Carlos Pazos-Justo, A Imagem da Galiza em Portugal. Li de um fôlego o pequeno volume e dei-me conta de quão longe morava deste assunto. Sabia vagamente das causas, sobretudo em torno da língua que, apesar dos afastamentos, teima em dizer-se a mesma. Não tinha tomado consciência de que, como o Carlos logo explica a abrir, o seu assunto pedia que o outro fosse estrangeiro, o que não é o caso de Portugal para os galegos. Mesmo resolvida, com porosidades, a questão das fronteiras, «os laços de família por via da emigração e troca continuada», sobretudo mais a norte, fazem com que não haja a distância essencial para o retrato. Que irmão esquecemos no sótão? Que sabemos dele, mais do que nos foi dizendo Fernando Assis Pacheco? Desconfio bem que muito pouco. Solidamente sustentado em numerosas e variadas fontes, começa por tornar claro o óbvio: não nos podemos pensar sem eles, pedaço esquecido de uma mesma entidade, que a língua tanto ajuda a coser como a desatar. «Portugal para a Galiza ou é indiferente ou é uma espécie de Paraíso perdido. A Galiza, sendo
da identidade continuam mais vivas que cardamomo em sarapatel. A Gandaia é um daqueles projectos que vivifica os não-lugares, gestos brutos de cidadania que nos vão empurrando para fora da mais salazarenta das heranças: a dependência absurda e claustrofóbica do estado. Sem alarde, estou em crer que esta federação de vontades vai ajudando a perceber o mais óbvio dos esquecimentos de Lisboa. Quantas capitais, no mundo inteiro, estão tão próximas da praia? Do oceano?
Portugal, é o espaço-cabeça de um corpo crescido para o mar e sobre o mar que tem esquizofrenicamente saudades desse corpo, hoje separado. Uma parte da consciência da Galiza, pequena, teima em reverter as consequências de circunstâncias históricas concretas que a separaram de Portugal, que por outra parte e desde há séculos, criou novas cabeças, e acha ainda nessa ligação um ponto de apoio fundamental para construir a sua identidade.» De tão próxima, esta solidão afigura-se-me bastante ingrata. Alguém que nos lê, cultura e língua, com extremosa atenção e disso faz lugar de resistência merece mais, muito mais. Lá vociferava o Assis: «Indignar-me é o meu signo diário. / Abrir janelas. Caminhar sobre espadas. / Parar a meio de uma página, / erguer-me da cadeira, indignar-me / é o meu signo diário.» COSTA DA CAPARICA, 30 NOVEMBRO Acompanho Artur Henriques e a sua pequena tribo a um daqueles não-lugares, ao Centro Comercial O Pescador, para mais uma sessão em torno de livros organizado pela associação Gandaia, que é animada, entre outros,
pelo meu velho amigo, de costela macaense, Ricardo Salomão. Goa, Ida e Volta, ao contrário do que o título parece sugerir, não reúne apenas memórias do serviço militar ali passado no final dos anos 1950 e de um regresso ansiado duas décadas depois. Em pinceladas impressivas e grande sentido da pequena história, também o meio publicitário e artístico e a própria cidade de Lisboa vão surgindo no retrato. Fascinante, o seu modo nonchalant de viver, continuamente de bem na própria pele, tomando o mundo por casa, como em canção de Françoise Hardy, mesmo quando o entorno se esboroava. Ele há gente assim, capaz de fumar um cigarro enquanto a polícia política lhe vasculha o atelier. E de, quando um agente lhe pede cigarro, responder “não posso, só tenho 19”. Na plateia, contudo, o interesse ia direitinho e por completo para Goa: como se vivia no quotidiano, como eram vistos os soldados ou tão só Portugal, e mais longuíssimo etecetera. Não me anima, por me parecer aquecido pelos lumes do politicamente correcto, esta tendência outono-inverno do pós-colonialismo, mas as questões
HORTA SECA, LISBOA, 3 DEZEMBRO António Variações nasceu num destes dias (frios) no campo e a norte. Era excêntrico, que o mesmo é dizer, ousou-se. Hoje, até os concêntricos vestem extravagâncias, mas perderam o interesse. Que os move, se Nova Iorque se cruza com Braga? «A vida é sempre uma curiosidade / que me desperta com idade / interessa-me o que está para vir / a vida, em mim é sempre uma certeza / que nasce da minha riqueza/ do meu prazer em descobrir.» Ouvi-lo a cantar Amália (Povo que lavas no rio) e depois ouvir Camané a cantá-lo a ele (Quero é viver) pode bem tornar-se início de conversa sobre identidades. HORTA SECA, LISBOA, 4 DEZEMBRO Fidel Castro morreu. A sua importância histórica, se preciso fosse, pode medir-se nas enormidades ditas nestes dias, onde se deve incluir o gosto pelo vinho do Porto e ascendência galega. Edel Rodriguez, ilustrador cubano que lhe desenhou muitas vezes o rosto, escreveu, por dentro do assunto, uma perturbadora metáfora (https://www.instagram. com/p/BNlJmW6hJSp/): «Tentei descobrir uma maneira de explicar a situação a alguém que a não viveu. Comparei, então, Castro a um pai abusivo, um monstro, que bate brutalmente nos filhos em casa e depois os leva a jantar ou brinca com eles em público. Toda a gente vê as boas acções, mas não percebe o que, de facto, se passa em casa. A não ser as crianças, que, por terem vivido assim o tempo todo, acham que é a única realidade. Até podem ir ao seu funeral e derramar algumas lágrimas, porque ele foi o único pai que eles conheceram.»
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TEMPO
POUCO
?
NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “O TEMPO CORRE! DE LAI SIO KIT Casa Garden 18h30
MIN
16
MAX
22
HUM
50-80%
•
EURO
8.30
BAHT
FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE MACAU CINEMA | SOUND AND IMAGE CHALLENGE INTERNATIONAL FESTIVAL Teatro D. Pedro V
Sexta-feira
FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE MACAU
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “ALMA” DE OMAR CAMILO Casa Garden EXPOSIÇÃO “UM AMANHÃ MELHOR” Edifício do Antigo Tribunal (Até hoje) EXPOSIÇÃO CONJUNTA DE PINTURA DE WANG LAN E GU YUE Fundação Rui Cunha (Até 8/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” Museu de Arte de Macau (Até 8/12)
C I N E M A
THE LIGHT BETWEEN OCEANS SALA 1
CRAYON SHINCHAN MOVIE 2016 [B] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Wataru Takahashi 14.15, 18.00, 21.45
YOUR NAME [B] FALADO EM CANTONENSE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 16.00, 19.45 SALA 2
FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B] Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston,
Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller 14.15, 16.45, 19.15, 21.45
PROBLEMA 136
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 135
UM LIVRO HOJE
SUDOKU
DE
Diariamente
Cineteatro
YUAN
1.12
BIRD ON A WIRE
Amanhã
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
0.21
AQUI HÁ GATO
CINEMA | SOUND AND IMAGE CHALLENGE INTERNATIONAL FESTIVAL Teatro D. Pedro V
CINEMA | SOUND AND IMAGE CHALLENGE INTERNATIONAL FESTIVAL Teatro D. Pedro V
(F)UTILIDADES
Hoje ao abrir a pestana vi o raio do pássaro pousado num fio de electricidade, suspenso como se não tivesse peso, como se fosse parte do fio que liga toda a cidade entre si. Ali estava ele, irritantemente longe do meu alcance e com a guarda baixa. O pássaro dormitava, pendões para a frente, pendões para trás, mas sempre regressando ao seu ponto de equilíbrio. Miei-lhe um impropério e ele despertou com suavidade. Estava visivelmente cansado. Disse-me que o martelar constante das obras o mantinha acordado, apesar do frenesim lhe agradar, de lhe imprimir uma dinâmica vaidosa. Descobrimos algo em comum. Eu tenho super-ouvidos, sinto a mais leve vibração nos bigodes, vivo refém de estímulos vários e dormito o dia inteiro em cadeiras inconvenientes. Sempre num sono leve, perdido entre o estado de alerta e o sonambulismo. Afinal temos mais em comum do que algum biólogo poderia adivinhar. Fazemos uma dupla paradoxal que retira qualquer lógica à dualidade presa-predador, pura contradição. Gosto dele. Aos poucos vou perdendo a vontade de lhe jogar a unha, mas será que consigo ultrapassar a minha natureza? Poderá um gato ser amigo de um pássaro? Pu Yi
ANATOLE FRANCE | OS DEUSES TÊM SEDE
Este não é o melhor livro de Anatole France; ainda assim, é uma incontornável tese sobre o mais elevado preço das revoluções. Quando o preço é pago em sangue. A narrativa passa-se na França da pós-revolução das luzes, durante o período do terror. O personagem principal é um pintor, Évariste Gamelin, que tenta escapar à miséria, guiado por ideologia libertária e um ódio visceral à aristocracia. Naturalmente envolve-se na carnificina política. “Os deuses têm sede” retrata as purgas contínuas que sucederam o fim do feudalismo e o início do iluminismo. Uma obra violenta e apaixonada, mesmo não sendo o melhor livro do escritor francês. HM
SALA 3
THE LIGHT BETWEEN OCEANS [B] Filme de: Derek Cianfrance Com: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz 14.30, 16.45, 19.15
SHUT IN [C] Filme de: Farren Blackburn Com: Charlie Heaton, Naomi Watts, Jacob Tremblay 21.30
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18 OPINIÃO
hoje macau quarta-feira 7.12.2016
MÁRIO DUARTE DUQUE*
N
O ano de 1953, a Holanda foi fustigada por inundações de uma magnitude de que não havia memória, que dizimou vidas e bens a que nenhuma nação poderia ficar indiferente.Da memória nacional fazem parte documentários desses acontecimentos e também o discurso de uma rainha emocionada, que prometeu a toda a nação que o mesmo nunca mais voltaria a acontecer. No parlamento holandês aprovaram-se seguidamente moções que visavam canalizar grande parte dos recursos nacionais para essa prioridade. Disso resultou uma campanha de iniciativas chamada as Obras do Delta, que engloba uma extensão de lagos interiores e de canais, complexamente interligados, que resultam principalmente de três rios internacionais que desaguam na Holanda. Obras que se traduziram no alteamento de diques e na construção de robustas barragens marítimas. Ou seja traduziram-se essencialmente em infra-estruturas. No decorrer dos anos a Holanda ganhou tal confiança nas suas protecções que, presentemente, a maior parte dos recursos económicos nacionais reside e concentra-se em zonas que seriam necessariamente fustigadas por inundações, caso essas protecções não existissem. Ou seja, zonas que presentemente são de alta vulnerabilidade e de alta exposição, face aos recursos que aí se acumulam e ao número das pessoas que aí residem. Por outro lado, e à medida que essa confiança aumentava, as novas gerações perderam capacidades, nomeadamente a resiliência humana, i.e. a capacidade dos humanos conviverem com o imprevisto, o transtorno, a perturbação do quotidiano e de serem capazes de se manterem funcionais nessas situações. Em verdade, o estilo da vida que tendencialmente se divulga nos media, e que para muitos serve de referência no quadro das suas aspirações, é de que tudo está assegurado, que nada de imprevisto poderá acontecer e, se por acaso acontecer, está coberto pelo Estado ou por seguros, ou a culpa é necessariamente de alguém. Foram os primeiros avisos do aquecimento global e da consequente subida do nível dos mares e oceanos que na Holanda lançou o alarme sobre esse cenário de segurança. Ou seja, a possibilidade de os parâmetros que definiram as defesas perfeitas da Holanda já poderem ser outros e as mesmas já não serem mais seguras. Por outras palavras, a possibilidade de o clima e as suas manifestações não serem estacionários, i.e. de poderem variar em parâmetros diferentes
CHOI VUN TIM
A propósito de barragens de maré
dos estabelecidos estatisticamente. Ou seja, um verdadeiro ovo de Colombo para quem conheça os ciclos da terra ou admita que a dimensão da humanidade não se resume aos nossos dias. Mas também uma possibilidade que inspirou uma mudança radical de estratégia que passa também pela recuperação das qualidades de resiliência da população em conviver com a perturbação, nomeadamente conviver com cheias. Admitiu-se que o cenário de guerra ao clima poderia não ser a solução mais ajustada, senão mesmo derradeiramente inglória, como inglório poderia ser altear diques ou construir barragens cada vez mais fortes, eternamente ou permanentemente, para assegurar um quotidiano imperturbável. Mas a mudança desta vez não poderia ser centralizada no Estado, mas necessariamente disseminada. Disso resultou a adopção de novas rotinas. Os espaços térreos dos edifícios não guardam bens valiosos nem albergam actividades que não podem ser perturbadas, por exemplo, postos de polícia, cuidados médicos ou centros de operação de emergências. Nesses espaços os materiais não se danificam com a água, os circuitos eléctricos correm pelo menos a 1m de altura do chão e as soleiras das casas permitem montar dispositivos estanques para que a água não entre. Sacos de areia voltaram a ser um utensílio de casa. As caves passaram a ser construídas como verdadeiros submarinos, com portas estanques que permitem isolar sectores em caso de inundação, dispondo de uma escapatória própria. Algumas passaram a ser bacias de retenção, para que possam inundar antes de outros espaços inundarem, permitindo um intervalo de tempo para resgate ou para escapamento. Circulações de emergência elevadas servem de escapatória em caso de
cheia, da mesma maneira que caminhos de evacuação nos edifícios, conduzem pessoas a pontos de refúgio em caso de incêndio. Marcam-se níveis nas paredes dos edifícios que alertam a população do nível a que a água pode chegar e ninguém leva a mal que alguém entre de galochas num restaurante elegante, para um almoço de negócios, num dia de cheia. Mas alteração de circunstâncias que determinou também novas estratégia de soluções infra-estruturais. As inundações de zonas urbanas junto a rios eram na maior parte das vezes consequência de espaços naturais de inundação terem sido suprimidos aos rios. Disso resultou a necessidades de disponibilizar novos espaços de inundação, não necessariamente os mesmos originais, para que se pudesse guardar temporariamente a água das cheias, e se poupasse as cidades, programa a que se chamou “Espaço para os Rios”. Já no caso das cheias dos estuários, por resultarem de condições de maré que se resolvem na maior parte dos casos em meio dia, a possibilidade de guardar temporariamente essa água, por algumas horas, permite adiar a inundação. Nos estuários, uma inundação adiada é, na maior parte das vezes, uma inundação evitada. No que se prende com as zonas costeiras o risco crescente resulta da regularização dos rios que já não transportam a areia necessária, que o mar distribui ao longo da costa e o vento possa construir dunas. Disso resultou a necessidade de compensar o fornecimento de areia à costa, em locais identificados por adequadas para que, a partir daí, as coerentes marítimas distribuam essa areia ao longo da costa e se formem dunas. Programa a que se chamou “trabalhar com a natureza”.
Ou seja, intervenções que tendo características infra-estruturais, não têm o impacte, nem o carácter de guerra à natureza, antes de colaboração com processos naturais que hoje se conhecem melhor. Mas mudanças de estados de coisas, no que se prende com a gestão territorial, também não são estranhas à RAEM. Em verdade, no passado, a construção de aterros por enchimento, em vez de construções palafitas, passou a ser vista como preferível porque estreitavam os canais e isso aumentava a velocidade do caudal e a limpeza dos fundos. Ou seja, a possibilidade de dragagens menos frequentes para assegurar a navegabilidade desses canais. Mas a questão da inundação natural do delta pelo chamado “prisma de maré”, ou seja, o volume de água salgada que entra nos rios em cada maré alta, não era necessariamente constrangimento porque, a montante do Rio das Pérolas, havia espaço suficiente para essa água salgada, ou já salobra, se espraiar. Pese algum prejuízo para culturas, ou para os pontos de captação de água potável. Mas foi o grande surto de expansão urbana da província do Guandong o ponto de rotura para as zonas mais baixas da RAEM, quando esses ajustamentos naturais deixaram de ser possíveis. Todos os terrenos de inundação, que permitiam ao “prisma de maré” se espraiar no delta, foram ocupados com aterros. Esses aterros foram construídos a cotas mais elevadas para que o volume de água se acomodasse numa largura de canal mais estreita. Naturalmente, toda a vulnerabilidade se transferiu para os aterros mais antigos, por esses serem mais baixos, ou seja o Porto Interior. Por isso, a necessidade de barragens de maré no Delta, que sem dúvida constituirá entrave para qualquer ressurgimento desejável de tráfego fluvial, é infra-estrutura que pode ser necessária, mas que não deve servir para que se possa continuar fazer mais do mesmo em âmbito de gestão territorial e do meio hídrico, ou que dispense integração com outras medidas urgentes. Na falta de outras soluções, as barragens de maré no Delta são mera declaração de guerra à ecologia, tendo por pressuposto que a magnitude das munições do oponente (a maré), no futuro, será a mesma e só essa. Qualquer cooperação regional não será sensata se se nortear apenas por soluções de infra-estruturas, pondo de lado a coordenação territorial conjunta da bacia hidrográfica, das áreas, dos níveis e das modalidades de aterros a construir. Nomeadamente, aterros feitos por enchimento, em vez de estruturas palafitas, que só contribuem para a ocupação e estrangulamento do Delta, onde se concentra tanto a água da maré de jusante, com a água dos degelos de primavera a montante, por vezes as duas em simultâneo. Aterros que fazem uso de volumes exorbitantes de areia, cada vez mais dispendiosa, e que muitas vezes faz falta nos sítios de onde é retirada. *Arquitecto e investigador
19 hoje macau quarta-feira 7.12.2016
ÓCIOSNEGÓCIOS
OH MCDONALD FARM, HORTA BIOLÓGICA LAVINIA CHE, FUNDADORA
Em Março deste ano, Lavínia Che quis experimentar algo novo e, no terraço do seu prédio, começou a fazer pequenas plantações e a criar uma horta. Apesar de se tratar de um passatempo, sem fins lucrativos, Lavínia Che gostaria de, um dia, levar o seu projecto às escolas
alimentos. Assim as pessoas sabem de onde vem a comida que ingerem. A maior parte das crianças não sabe de onde vêm os alimentos”, contou. Apesar de ser um projecto individual sem grandes dificuldades, a verdade é que Lavínia Che encontra desafios com o material para criar a sua horta. “Eu e uns amigos tínhamos umas estufas e tínhamos de decidir o que fazer com elas. Tínhamos o espaço e decidimos começar a cultivar. Mas o maior problema que tenho é com a terra, pois tenho de ir a Hong Kong comprá-la. Depois, é muito pesada, pelo que tenho de contratar uma empresa que a traga para Macau. O meu quintal é num sétimo andar, num terraço, e tenho de contratar alguém para me ajudar a trazê-la para casa. É um problema.” Se a terra para cultivo vem de Hong Kong, as sementes e plantas surgem de vários lugares do mundo, conforme as experiências pessoais de Lavínia. “Tenho manjericão da Tailândia e de Itália, e estou com umas sementes que trouxe da Austrália. Ainda estamos a pensar nas melhores maneiras de cultivar e de colher o que plantamos. Ainda não estamos estáveis nesse sentido. Não temos experiência e, por exemplo, agora temos muitas plantas que não estão boas. O nosso plano é primeiro estabilizar.”
OH MCDONALD FARM
“Tudo o que planto dou aos amigos”
PENSAR NAS ESCOLAS
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UMA terra onde não há plantas novas a nascer, mas apenas pedaços de cimento, surgiu, em Março, um projecto novo. Lavínia Che decidiu aproveitar o terraço do prédio onde vive e criou uma pequena horta, onde planta sementes que trouxe de vários lugares. A “Oh Mcdonald Farm” existe, para já, sem fins lucrativos, mas a ideia é que venha a servir a comunidade onde se insere. Ao HM, Lavínia Che contou que tudo começou com uma tradicional canção infantil. “Queria tentar alguma coisa que nunca tivesse feito antes na minha vida. Em Macau temos pouco espaço. Ainda não é um negócio, aquilo que planto dou depois a amigos. O nome veio da canção que todos conhecemos, a canção “Old Macdonald has a farm”, que ouvimos desde crianças, mas talvez a maior parte de nós nunca tenha feito nada disto. E com isto podemos juntar as pessoas para poderem aprender mais, para cultivarem
Apesar de se tratar de um projecto raro, a verdade é que Lavínia Che já conhece algumas pessoas que começam a aproveitar de outra forma os terraços dos seus prédios. “Sei de pessoas que estão a fazer o mesmo, mas não os conheço. Seria interessante mais pessoas investirem neste tipo de agricultura em Macau. No fundo, a produção dos próprios alimentos é o sentido da vida. Na agricultura é isso que nós fazemos. Devíamos pelo menos saber como fazer isso. Com os problemas que o planeta atravessa, é bom ter conhecimentos neste sentido.”
“Tenho manjericão da Tailândia e de Itália, e estou com umas sementes que trouxe da Austrália. Ainda estamos a pensar nas melhores maneiras de cultivar e de colher o que plantamos”
Uma possível ligação às escolas, por forma a ensinar os mais pequenos a perceberem a origem daquilo que comem, é um projecto que Lavínia Che gostaria de ver realizado. “Já pensei nisso. Há uma quinta maior em Coloane e penso que a escola deve considerar levar os alunos para essa quinta. O terraço é parte pertencente a todos os residentes do prédio, mas gostaria de trazer os alunos aqui também, apesar de não ser fácil.”
A venda parece estar, por enquanto, posta de parte, mas a troca de produtos pode também ser uma possibilidade a ter em conta. “Não tinha pensado em vender as plantas, mas tive a ideia de, no caso de conseguir uma colheita diversificada, poder trocar com outros produtos, numa espécie de comércio de troca.” Andreia Sofia Silva
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