DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
SEXTA-FEIRA 7 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4461
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Pior dos tempos
CORONAVÍRUS
INFECTADA TEM ALTA PÁGINA 4
SOFIA MARGARIDA MOTA
ANTÓNIO LEONG
hojemacau
OBRAS
NÃO AO TRABALHO PÁGINA 5
HOTEL FORTUNA
DESPEDIDOS SEM SABEREM PUB
PÁGINA 6
Macau é hoje uma outra cidade. Depois dos melhores dos tempos, com entradas diárias de milhares de turistas a deixarem milhões de patacas nos cofres públicos, a RAEM vive agora no marasmo de um quotidiano cheio de ruas desertas. Comerciantes e empresários portugueses lutam para minimizar os danos desta negra estação nascida do coronavírus.
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PÁGINAS 2 - 3
SOBRE A BELEZA GONÇALO M. TAVARES
VIVÊNCIA E MELODIA ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO
MODERNO VALÉRIO ROMÃO
2 coronavírus EMPRESÁRIOS PORTUGUESES ENFRENTAM TEMPOS DIFÍCEIS
Com as ruas vazias, os casinos e as lojas fechadas e um silêncio ensurdecedor por todo o território, também os empresários portugueses vivem tempos difíceis devido ao surgimento do coronavírus. Santos Pinto, proprietário do restaurante O Santos, na famosa Rua do Cunha, deixou praticamente de servir refeições e pondera fechar durante uns dias. Célia Ferreira e Manuela Salema lidam com a falta de pessoas e de encomendas
E
STA quarta-feira, à hora de almoço, quem entrasse no restaurante O Santos, na famosa e muito movimentada Rua do Cunha, na Taipa, deparava-se com uma cena inédita, observando o proprietário e os seus empregados sentados a olhar para a televisão. Um dos restaurantes portugueses
mais conhecidos do território e muito procurado por turistas tem estado praticamente vazio desde que o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, decretou o encerramento dos casinos por um período de duas semanas devido ao novo coronavírus. Santos Pinto é, nesta altura, um homem preocupado, estando
a ponderar fechar o seu estabelecimento. “Não perdi um cliente, nem dois, nem três, perdi-os todos praticamente”, contou ao HM. “Na segunda-feira servi cinco almoços e dois jantares e hoje (quarta-feira) servi apenas 12 almoços. A rua está vazia, não há animação nenhuma, não há pessoas. Mesmo antes de fecharem
os casinos já era mau, e agora pior ficou. Neste momento estou a pensar seriamente o que vou fazer, tenho aqui o meu pessoal a olhar para mim e eu estou a olhar para eles, e acho que vou fazer o mesmo que toda a gente aqui na rua fez.” Se as dificuldades no fornecimento de comida e mercadoria não existem, pois “existe tudo com fartura”, o mesmo não acontece a nível de lucros. “Não perdi 50 por cento do negócio, perdi 90 por cento”, assegura. Santos Pinto, alentejano a viver há décadas em Macau, viveu os tempos da SARS e assegura que esta crise traz uma situação bem mais complicada. “Está a ser pior do que a SARS. Nessa altura, em 2003, eu já estava aqui e muita malta portuguesa vinha aqui, e eu chamava-lhe os solteiros, os divorciados e os mal casados, pessoas que estavam sós. E não houve o pedido do Governo para as pessoas ficarem em casa e os casinos não fecharam. As coisas são diferentes, bateu no fundo em termos de clientes. Se calhar é melhor fechar e ir para casa descansar e esperar que a crise passe.” Ainda na Taipa, mas na também turística zona da Taipa Velha, encontra-se a Coolthingszz & PortugueseSpot, de Manuela Salema, que vende produtos tipicamente portugueses e que tem os turistas como os principais clientes. Manuela Salema conta ao HM que a crise provocada pelo coronavírus só veio somar-se às crises anteriores com os quais o negócio vinha sofrendo. “Isto tem sido um embate um atrás do outro. A nossa loja abriu em Outubro de 2018 e logo a seguir aconteceu o conflito comercial entre a China e os EUA. A maior parte dos nossos clientes são turistas que passam todos por Hong Kong, cidadãos da Coreia, Japão. Essa foi a nossa primeira batalha, e a segunda foi os conflitos em Hong Kong. Deixámos de ter clientes nessa altura.” “Quando finalmente tudo parecia estar a voltar ao normal acontece-nos isto”, acrescentou Manuela Salema, que se queixa do vazio total à sua volta. “Acarretamos todas as sugestões do Executivo e tentamos não andar nas ruas, mas temos tido a loja semi-abertas. Aproveitamos para fazer limpezas, rever stocks. Mas não entra aqui ninguém.”
um desconto, e o que ele sugere é óptimo porque deu o exemplo, mas vamos envidar todos os esforços para que o nosso senhorio abata a renda da maneira que lhe for mais conveniente.” Em condições normais, já são valores difíceis de suportar, assegura Manuela Salema. “O que salvava a situação era de facto a Administração fazer uns empréstimos a fundo perdido, porque dão-nos a possibilidade de fazermos uns empréstimos, mas temos de
OLHAR PARA O VAZIO COMÉRCIO
RÓMULO SANTOS
7.2.2020 sexta-feira
PORTUGAL DEVIA AJUDAR
Manuela Salema elogia Ho Iat Seng pelo facto de ter decretado que a Administração não irá cobrar renda a comerciantes durante três meses. Mas para aqueles que alugam lojas no mercado privado de imobiliário, a empresária pede uma ajuda do Executivo mais efectiva. “O Chefe do Executivo fez um apelo aos senhorios para procederem da mesma maneira e fazerem
Manuela Salema proprietária da CoolThingzz & Portuguese Spot “O que salvava a situação era de facto a Administração fazer uns empréstimos a fundo perdido, porque dão-nos a possibilidade de fazermos uns empréstimos, mas temos de devolver o dinheiro e é mais um encargo mensal que vou ter, e não me ajuda”
coronavírus 3
sexta-feira 7.2.2020
Tudo e todos O O impacto económico da epidemia no mundo
sector de viagens e turismo tem sido prejudicado pela quarentena em dezenas de cidades na China e pela interdição de viagens organizadas de chineses para o estrangeiro para conter a epidemia. Alguns países desaconselham os seus cidadãos a viajarem para a China e outros suspenderam as atividades provenientes do país. Várias companhias aéreas, incluindo a Air France, British Airways, Air Canada, Lufthansa ou Delta, suspenderam os voos para a China continental. Com sede em Hong Kong, a Cathay Pacific pediu a 27.000 funcionários para tirarem três semanas de licença sem vencimento. Os casinos de Macau também encerraram, o mesmo sucedendo com parques da Disney em Xangai e Hong Kong. Em Paris, os efeitos em várias cadeias de lojas habitualmente frequentadas por turistas chineses também são visíveis. A indústria do turismo em Itália teme vir a registar uma perda anual de 4,5 mil milhões de euros, segundo o laboratório de ideias Demoskopika. No setor dos cruzeiros, MSC Cruises, Costa Crociere e Royal Caribbean pediram aos seus navios para não fazerem escalas na China.
não há uma ajuda que seja neste sentido.”
IMPORT E EXPORT PARADO
Apenas com um showroom montado num espaço físico, a AlmaViva Portuguese Heritage dedica-se sobretudo ao comércio de importação e exportação de produtos. Célia Ferreira, responsável pela empresa, assegura que está tudo parado neste momento devido ao fecho dos casinos e às medidas de quarentena.
devolver o dinheiro e é mais um encargo mensal que vou ter, e não me ajuda.” A fundadora da Coolthingszz &PortugueseSpot deseja também que as autoridades venham a ajudar no transporte de mercadorias entre Portugal e Macau, uma vez que os custos são muito elevados. “O Governo poderia ajudar nos transportes de mercadorias que são caríssimos. São cerâmicas, arte, imensa coisa, divulgamos Portugal e a cultura portuguesa e
Santos Pinto proprietário do restaurante ‘‘O Santos’’ “Não perdi 50 por cento do negócio, perdi 90 por cento”
Célia Ferreira empresária da AlmaViva Portuguese Heritage “Além deste impacto directo teremos também grandes perdas em relação a negócios de distribuição. Os nossos clientes estão muito receosos e não temos novas encomendas”
“Fechámos na sexta-feira pois não fazia sentido estarmos abertos. Os nossos principais clientes são de Hong Kong, Japão, Coreia, Taiwan, que já não estão a viajar para Macau”, contou ao HM. O panorama de crise começou a fazer-se notar antes do Ano Novo Chinês, algo que piorou depois das medidas adoptadas pelo Executivo. Mas se o presente é difícil, o futuro também se avizinha complicado. “Além deste impacto directo teremos também grandes perdas em relação a negócios de distribuição. Os nossos clientes estão muito receosos e não temos novas encomendas. Temos o nosso negócio do café que também era afectado, pois sem pessoas a consumir os nossos clientes não vendem e nós também não”, frisou Célia Ferreira. Com um showroom aberto há pouco mais de um mês, a crise do coronavírus foi uma espécie de presente envenenado. “Esta mudança implica um investimento e um aumento das despesas também. Iremos muda, mas ninguém consegue prever quanto é que o turismo ficará normalizado. Vendemos produtos gourmet, que não são bens de primeira necessidade, mas mesmo os clientes locais consomem menos, por existir este impasse e por terem receio”, rematou a empresária. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
DA ELECTRÓNICA
As fábricas na China do grupo tecnológico com sede em Taiwan Foxconn vão ficar fechadas até meados de Fevereiro e alguns funcionários receberam a indicação de que devem tirar 14 dias suplementares para deixar passar o tempo de incubação do vírus. Os fabricantes de ‘smartphones’, de ecrãs e de computadores que são clientes de componentes da Foxconn correm o risco de virem a ser afectados. A Apple indicou que está a trabalhar em planos para compensar a baixa produção dos seus fornecedores na China. A sul-coreana LG Electronics cancelou a sua participação no Mobile World Congress, um evento sobre o ‘smartphone’ e a Huawei ainda não indicou se vai participar na mostra, que decorre em Barcelona de 24 a 27 de Fevereiro.
DA INDÚSTRIA
A cidade de Wuhan é uma placa giratória para os grandes construtores automóveis norte-americanos, europeus e asiáticos. A Hyundai Motor indicou que suspendeu toda a sua produção na Coreia do Sul devido às dificuldades no fornecimento de peças provenientes da China.
A fabricante de veículos eléctricos Tesla reconheceu que a epidemia pode afectar a produção na sua nova fábrica de Xangai, com potenciais efeitos nos resultados do primeiro trimestre. No domínio da aeronáutica, a Airbus encerrou até nova ordem a sua linha de montagem do modelo A320 em Tianjin, perto de Pequim. O conglomerado francês de equipamentos Safran também suspendeu a produção até 10 de Fevereiro nas várias instalações que tem em território chinês, com 2.500 trabalhadores. Já afectada pela guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, a Caterpillar (máquinas, motores e veículos pesados) manifestou preocupação com um “possível período de incerteza económica mundial” ao longo deste ano.
DO CONSUMO
A cadeia de cafés Starbucks, para a qual a China constitui o segundo mercado mundial, encerrou temporariamente metade dos 4.000 pontos de venda que tem no país. A McDonald’s indicou recentemente que decidiu fechar “várias centenas” de restaurantes na província de Hubei, cuja capital é Wuhan. Foi indicado que 3.000 outros restaurantes permanecem abertos. Outras cadeias como a Pizza Hut ou KFC também decidiram fechar portas, devido às medidas impostas nas suas parcerias com empresas chinesas. O fabricante de equipamento desportivo Nike, que receia “um forte impacto” nas suas operações na China e Taiwan, encerrou cerca de metade das suas lojas na China e constatou que há uma queda nas vendas das que continuam abertas. Neste panorama sombrio há também quem consiga tirar proveito, como o fabricante de máscaras de protecção 3M.
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7.2.2020 sexta-feira
Cruzeiros Portugueses a bordo de embarcações infectadas Dez portugueses, entre os quais residentes de Macau, estão sitiados em dois cruzeiros que se encontram de quarentena nos portos de Hong Kong e Yokohama, no Japão, após terem registado casos do coronavírus de Wuhan a bordo. Segundo a informação do Governo de Macau, no caso do cruzeiro de Yokohama, baptizado com o nome Diamond Princess, são cinco os residentes de Macau, entre os quais dois com
Hotéis Four Seasons e Conrad suspendem operações
passaporte de Macau e três com o documento português. No total, o barco de quarentena junto à cidade próxima de Tóquio tem mais de 3 mil pessoas a bordo, dos quais 2.666 são passageiros e 1.045 fazem parte da tripulação. No caso do cruzeiro World Dream, parado em Hong Kong, há 15 residentes confirmados da RAEM e ainda sete pessoas com passaporte português, que se desconhece se são ou não residentes de Macau.
Os hotéis de cinco estrelas Four Seasons e Conrad suspenderam as operações por motivos comerciais. A informação foi avançada ontem por Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), na conferência de imprensa diária sobre as operações. “É uma decisão comercial. Depois de ter sido tomada, comunicaram-na à DST.
Nas reuniões que tiveram connosco relataram que havia poucos clientes. Com base nessa justificação, decidiram encerrar os hotéis”, indicou Inês Chan. Além do Conrad e Four Seaons, mais dois espaços de hotelaria encerraram não tendo sido, no entanto, revelados os nomes. No total, são mais de mil camas que deixam de estar disponíveis.
HOSPITAL MULHER CONFIRMADA COMO PRIMEIRO CASO EM MACAU TEVE ALTA
Azar cheio de sorte
A empresária de 52 anos estava internada desde 21 de Janeiro e viajou, durante a tarde de ontem, para Zhuhai. É o primeiro, dos 10 casos no território, a ultrapassar a doença com sucesso
A
mulher que tinha sido confirmada como o primeiro caso do coronavírus de Wuhan no território recuperou e teve alta. Com 52 anos, empresária e natural da cidade na origem da epidemia, encontrava-se internada desde 21 de Janeiro, depois de ter entrado na RAEM, a 19 de Janeiro, e de ter ficado hospedada no Hotel Landmark. Na hora da saída, admitiu que foi uma sorte ter sido tratada em Macau. “Queria ficar mais tempo [em Macau], mas não posso. [...] A experiência em Macau foi uma sorte no meio do azar”, afirmou a mulher, que recusou ser identificada,
em declarações ao Governo da RAEM. ““Ao longo do tratamento, senti-me no meio de uma família, pela forma como fui tratada em Macau. Estou muito grata”, acrescentou. A mulher que teve alta ontem pelas 16h45, recordou ainda o choque de receber a notícia. “Quando soube que estava infectada tive medo e preparei-me para o pior. Informei a minha filha por SMS e ela disse-me para ficar calma e ser optimista. Só ela estava informada sobre a minha situação, porque de resto nem o meu marido avisei”, recordou. Entre os factores que mais medo lhe causaram, a empresária apontou as notícias do Interior, que não
eram muito claras a informar que as vítimas mortais eram principalmente grupos de risco, como idosos ou pessoas com doenças crónicas. Já na RAEM, a mulher reconheceu que encontrou “um ambiente sempre calmo” e que os cuidados médicos foram “excepcionais”.
COM ESCOLTA POLICIAL
Após ter alta, a mulher foi deixada às 16h45 em Zhuhai, num percurso que foi feito com escolta policial. As autoridades desconhecem o que vai acontecer agora com a empresária de 52 anos, uma vez que nesta fase não há transportes para a cidade de origem. “Como não há transportes ela deve ficar por Zhuhai. Pode ficar nos
hotéis destinados aos turistas de Wuhan, ou então escolher outro sítio onde possa ficar”, explicou Lam Chong, Chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doença. Na altura de sair, a mulher pediu para não ter de pagar a conta que lhe foi apresentada de 34 mil patacas. O processo está agora a ser analisado e a isenção até pode ser aceite. Na conferência de ontem, o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, explicou que os não-residentes pagam o valor das despesas a dobrar, o que faz com que a despesa efectiva tenha sido de 17 mil patacas. Lei deixou ainda garantias que a RAEM tem “vários meios” para forçar o paga-
MALA DE 20 MIL PATACAS
H
oras depois de se ter sabido que a mulher tinha pedido para ser dispensada do pagamento de 34 mil patacas com as despesas médicas, o caso gerou polémica nas redes sociais, uma vez que nas fotos de despedida de Macau apa-
mento da despesa a partir do Interior, mas não conseguiu nomear um único, nem se haverá lugar a recurso para os tribunais. Por sua vez, o representante do Corpo de Polícia de Segurança Pú-
rece com uma mala da marca de luxo Bvlgari. O modelo em causa é o “Bvlgari Serpenti Forever” e, segundo o portal de Hong Kong da marca, tem um preço de 22.900 dólares de Hong Kong, o que equivale a 23.591 patacas.
blica apontou que em caso de não haver pagamento, a mulher pode ser impedida de entrar na RAEM, numa próxima visita. João Santos Filipe
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sexta-feira 7.2.2020
EM CIMA DA MESA
Algumas obras em Macau continuam em andamento, ainda que a meio gás, mas o Governo já tem medidas
OBRAS COUTINHO QUER CONSTRUÇÃO CIVIL PARADA POR COMPLETO
SOFIA MARGARIDA MOTA
O
deputado José Pereira Coutinho defende que o Executivo deveria obrigar o sector da construção civil a parar por completo, uma vez que decretou o encerramento dos casinos por um período de duas semanas. “Se o Chefe do Executivo fez, por diversas vezes, o apelo para que as pessoas fiquem em casa, tendo determinado o fecho dos casinos, não se percebe porque é que se excluem os trabalhadores das obras”, defendeu ao HM. O deputado faz, assim, “um apelo ao Governo para repensar esta medida, porque o que está em causa é a saúde dos trabalhadores”. Questionada pelo HM, a presidente da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), Christine Choi, defendeu que, nesta altura, é necessária cautela. “Esta é uma situação difícil para todos nós e devemos ser muito cautelosos em relação às nossas decisões. Há razões para o Governo querer adiar a data do início de novas obras e tentar minimizar ao máximo os riscos das travessias diárias nas fronteiras para os trabalhadores. Como uma associação profissional, respeitamos a sugestão do Governo e as empresas também devem considerar a sua responsabilidade social neste momento.” Para Christine Choi, “as empresas necessitam de assumir mais responsabilidades e não podemos esperar que seja apenas o Governo a tomar a iniciativa”. Esta segunda-feira Tommy Lau, ex-deputado e presidente da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial, disse à TDM Rádio Macau que alguns projectos, que “envolvem muito pessoal”, podem mesmo parar por completo, uma vez que o sector “depende dos trabalhadores da China”. “Pelo que consegui observar, a maioria dos projectos está ainda parada, não começou sequer”, frisou. Em relação aos projectos de pequena dimensão, “é possível que tenham trabalhadores locais suficientes”, ressalvou o empresário.
Todos iguais José Pereira Coutinho, deputado à Assembleia Legislativa, entende que, à semelhança do sector do jogo, também o da construção civil deveria parar por completo a fim de garantir a segurança dos trabalhadores. Associações reuniram com o Governo, tendo sido posta a hipótese de alargar prazos das obras caso faltem materiais e trabalhadores caso os trabalhos sejam afectados pela falta de materiais de construção ou de trabalhadores. De acordo com um comunicado emitido pela AAM esta terça-feira, as empresas podem pedir a extensão do prazo de construção à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). “A DSSOPT sugeriu que os projectos de construção que estejam a enfrentar o problema da falta de materiais de construção e de
trabalhadores podem considerar uma extensão razoável do prazo de construção, com os ajustamentos a terem como referência o tufão Hato”, pode ler-se. Ficou ainda decidido que “cada estaleiro, empresa ou trabalhador deve evitar a passagem de trabalhadores nas fronteiras para minimizar o trânsito e o risco de infecção”. Desta forma, “os trabalhadores que estão em Macau de forma permanente devem ser prioridades e devem encorajar-se aos
trabalhadores a que fiquem em Macau.” No que diz respeito “aos trabalhos de construção já estão em andamento, o foco principal deve ser feito na situação de saúde dos trabalhadores e nas condições
de higiene e de ventilação”. Relativamente à situação laboral dos trabalhadores, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) deixou claro, segundo o comunicado da AAM, que “tendo em conta
“As empresas necessitam de assumir mais responsabilidades e não podemos esperar que seja apenas o Governo a tomar a iniciativa.” CHRISTINE CHOI PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE ARQUITECTOS DE MACAU
a actual situação (com trabalhadores que não podem regressar a Macau e que têm de ficar em casa), devem ser feitos diferentes acordos entre patrões e empregados”, sendo que estes devem ser feitos “por mútuo acordo”. “No caso de saída e substituição de um trabalhador não residente, a DSAL vai adoptar medidas especiais para acelerar o processo”, adianta a nota emitida pela AAM. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Linguagem gestual TDM, IAS e Associação promovem conferências A TDM, o Instituto de Acção Social (IAS) e a Associação de Surdos de Macau decidiram unir esforços para promover linguagem gestual para deficientes auditivos, de modo a que estes possam ter acesso a todas as informações relacionadas com o coronavírus. Num comunicado emitido ontem, as três entidades
adiantaram que a conferência de imprensa de ontem do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus contou já com linguagem gestual. A ideia é que “surdos e pessoas com deficiência auditiva possam ter acesso simultâneo às respectivas informações”. Na mesma nota, o IAS
apela “aos cidadãos para tomarem a iniciativa de, por um lado, prestar atenção às necessidades especiais dos portadores de diferentes tipos de deficiência, nomeadamente em relação às informações epidemiológicas e às medidas de prevenção contra a epidemia, e por outro lado, fornecer-lhes apoios necessários”.
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7.2.2020 sexta-feira
À espera da sentença Homem que cuspiu em máscaras sujeito a apresentações periódicas
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Contrariamente ao que a empresa disse aos trabalhadores, a declaração atesta que “a situação laboral terminou, tendo sido entregues todas as remunerações devidas”
HOTEL FORTUNA TRABALHADORES FORÇADOS A ASSINAR DECLARAÇÃO ACABAM DESPEDIDOS
Perdidos na tradução
O Hotel Fortuna pediu a 20 trabalhadores não residentes para assinar uma declaração onde tomam conhecimento do seu despedimento, fazendo-os acreditar que seriam dispensados de trabalhar apenas durante dois meses. Alguns funcionáriosjá trabalhavam na empresa há 12 anos
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O V E trabalhadores não residentes de dois espaços de entretenimento localizados no interior do Hotel Fortuna acabaram despedidos, acreditando estar apenas dispensados de trabalhar pelo período de dois meses, após terem sido convencidos a assinar uma declaração redigida em chinês que não conseguiam ler. Os trabalhadores, oriundos do Vietname, Filipinas e Indonésia, estavam empregados no Fortuna Night Club e no Supreme Sauna, localizados no interior do Hotel Fortuna, no ZAPE (Zona de Aterros do Porto Exterior), de acordo com informações avançadas ontem pelo Macau Daily Times. A tomada de posição da empresa responsável pela exploração dos dois espaços está relacionada com o anúncio do encerramento dos casinos e espaços de entretenimento
durante duas semanas, decretado pelo Governo na passada terça-feira, como medida de contenção do surto do novo tipo de coronavírus. De acordo com a mesma fonte, o Hotel Fortuna terá alegadamente dito aos trabalhadores que estariam dispensados de trabalhar durante dois meses devido ao encerramento anunciado pelo Governo de duas semanas e que para o efeito teriam de assinar uma declaração onde constava esse mesmo conteúdo. No entanto, de acordo com o Macau Daily Times que teve acesso ao documento redigido em chinês, contrariamente ao que a empresa disse aos trabalhadores, a declaração atesta que “a situação laboral terminou, tendo sido entregues todas as remunerações devidas”.
ALTA PRESSÃO
Segundo um representante dos trabalhadores da instituição, que
pediu para não ser identificado segundo a mesma fonte, nove dos funcionários que estiveram de serviço durante a noite de quarta-feira já assinaram a declaração, enquanto outros 20, todos não residentes, foram instruídos para fazer o mesmo até às 18 horas de ontem. Uma das funcionárias afectadas confirmou ter sido induzida a assinar a carta por não saber ler caracteres chineses, afirmando que o documento foi apresentado ao mesmo tempo que os trabalhadores recebiam os salários de Janeiro. Alguns funcionários, avançou o Times, já trabalhavam para o Hotel Fortuna há 12 anos. Recorde-se que todos os trabalhadores não residentes devem obrigatoriamente ter uma autorização de trabalho para exercer funções laborais em Macau, sendo que, em caso de cessação do contrato de trabalho, os ex-funcionários têm oito dias para
sair da cidade antes de estarem em situação de incumprimento. Ao saber o conteúdo que constava realmente no documento que foram induzidos a assinar, os trabalhadores procuraram obter ajuda junto da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). No entanto, não tiveram sucesso nem sabem agora como proceder, devido ao facto de a DSAL estar encerrada juntamente com outros serviços públicos, de acordo com as medidas decretadas pelo Governo. O HM entrou em contacto com a DSAL para obter esclarecimentos acerca do caso mas, apesar de ter confirmado a situação, até ao fecho da edição não forneceu mais detalhes acerca dos trabalhadores do Hotel Fortuna. Pedro Arede
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homem que cuspiu sobre 320 máscaras, enquanto aguardava para trocar as 10 unidades que tinha comprado, teve de pagar uma caução e vai ficar a aguardar em liberdade a decisão sobre se precisa de ir a julgamento. Porém, vai ter de se apresentar de forma periódica às autoridades, devido à “natureza perversa” e “à gravidade” do comportamento, segundo um comunicado do Ministério Público. “Realizado o interrogatório ao arguido, tendo em conta a natureza perversa e a gravidade da conduta supracitada, foi decretada pelo Juiz de Instrução Criminal, sob a promoção do Delegado do Procurador, a aplicação das medidas de coacção de prestação de caução e apresentação periódica à polícia”, foi anunciado ontem pelo MP. O caso aconteceu a 3 de Fevereiro, segundo Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde, quando o homem comprava máscaras para a prevenção de epidemias no Posto de Saúde de Coloane. Como não gostou dos produtos que lhe foram vendidos tentou proceder à troca, o que lhe foi garantido. Contudo, não ficou agradado com a perspectiva de ter de esperar novamente e deu início a uma discussão. O homem de 54 anos é residente e encontra-se desempregado. Está indiciado pelo prática do crime de dano, que é punido com uma pena de prisão que pode chegar aos três anos. No entanto tendo em conta as diferentes agravantes a pena máxima aplicável pode chegar aos 5 ou aos 10 anos.
MAIS AGRAVANTES
O MP alerta ainda que a destruição de máscaras pode acarretar um dolo mais elevado do que em circunstâncias normais: “Actualmente, é grave a situação da epidemia da pneumonia provocada pelo novo tipo de coronavírus, pelo que existe grande procura de materiais de prevenção de epidemias, especialmente as máscaras sendo materiais essenciais de que os cidadãos necessitam urgentemente para combater a epidemia”, é defendido. “Na altura em que é grave a situação da epidemia, o acto de danificação dos materiais fornecidos pelo Governo para a protecção da saúde dos cidadãos pode representar uma maior intensidade do dolo da conduta criminosa em causa”, é alertado. Na mensagem, o MP condena “severamente o acto de danificação dolosa de materiais de prevenção de epidemias” e compromete-se a acelerar a investigação criminal. João Santos Filipe
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sexta-feira 7.2.2020
CASINOS TRABALHADORES PORTUGUESES ADMITEM REGRESSAR A CASA que expressou a sua oposição e lembrou a obrigatoriedade de as empresas cumprirem a legislação laboral. A falta de trabalho efectivo e os preços das viagens para Portugal, mais baratas do que é habitual, muito por causa da diminuição de procura de voos devido ao surto do novo coronavírus, convenceu os portugueses a optarem por um regresso temporário a Portugal. Recorde-se que as receitas dos casinos em Macau já tinham descido 11,3 em Janeiro, em relação a igual período de 2019, um resultado explicado pelas autoridades pelo surto do novo coronavírus, que reduziu o fluxo de jogadores na capital mundial do jogo. Para ilustrar a dimensão da perda turística em Macau, o número de visitantes na região durante a chamada “semana dourada” do Ano Novo Lunar, de 24 a 31 de janeiro, desceu quase 80 por cento, em relação a igual período de 2019.
Férias forçadas
Paulo Cunha-Alves considera que os portugueses dispensados de comparecer ao trabalho por via das medidas decretadas pelo Governo de Macau, devem aproveitar para “rever a família em Portugal”. O Cônsul considera também que a comunidade portuguesa está a reagir “de modo calmo” dada a situação SOFIA MARGARIDA MOTA
O
S portugueses que estão a trabalhar em casinos de Macau, forçados a encerrar devido ao surto do novo coronavírus, afirmaram que vão regressar a Portugal. Com taxas de ocupação nos hotéis a descerem dramaticamente e com as salas de jogo fechadas por determinação do Governo de Macau, os ‘resorts’ integrados incentivaram os trabalhadores de vários departamentos a anteciparem as férias. Vários portugueses contactados pela agência Lusa, que pediram para não ser identificados por não estarem autorizados a falar, explicaram que os casinos ofereceram um sistema de bónus (dias adicionais) aos trabalhadores que marcassem férias para estas próximas semanas. No início da semana circularam informações de que os operadores estavam a enviar funcionários para casa sem vencimento, o que motivou uma reacção do Governo de Macau,
CÔNSUL COMUNIDADE LUSA DEVE PONDERAR “REVER FAMÍLIA”
Taiwan Estudantes de Macau antecipam viagens para evitar quarentena
Estudantes de Macau estão a antecipar as suas viagens de regresso para Taiwan, com o objectivo de evitar o período de quarentena decretado no território e que obriga todos visitantes oriundos do continente chinês, Hong Kong e Macau a fazer quarentena durante 14 dias. As informações são avançadas pelo canal chinês da TDM Rádio que relata o caso de um natural de Macau que estuda numa Universidade de Taiwan, afirmando ter antecipado a sua viagem de regresso ao país em mais de uma semana, depois de ter tomado conhecimento da medida. De acordo com a mesma fonte existem mais estudantes de Macau a fazer o mesmo, até porque há estabelecimentos de ensino de Taiwan a pedir que os seus estudantes regressem ao território 14 dias antes do início das actividades lectivas, como forma de precaver o referido período de isolamento dos que vêm de fora, provenientes da China, Hong Kong e Macau.
Paulo Cunha-Alves, cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong “A comunidade portuguesa está a reagir de modo calmo” e está a respeitar “as orientações e os conselhos das autoridades”
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cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong disse ontem que os portugueses residentes nos dois territórios e que não estejam a trabalhar, devido ao surto do novo coronavírus, podem considerar
rever a família em Portugal. “Aqueles que presentemente não estão envolvidos numa actividade profissional contínua poderão ponderar deslocar-se até Portugal para rever família e amigos”, afirmou Paulo Cunha-Alves, citado pela agência Lusa.
O diplomata pediu ainda à comunidade portuguesa “que mantenha a calma e a serenidade e que procure seguir com clareza os conselhos e as orientações das autoridades locais, nomeadamente das autoridades de saúde, evitando assim os riscos de contágio”.
Na mesma nota, Paulo Cunha-Alves reforçou que “devem ser evitados quaisquer locais de forte afluência de público, devendo ficar em casa nos próximos dias todos aqueles que estejam dispensados do trabalho pelas autoridades e pelos empregadores”.
É PRECISO TER CALMA
“A comunidade portuguesa está a reagir de modo calmo” e está a respeitar “as orientações e os conselhos das autoridades”, considerou. Paulo Cunha-Alves acrescentou ainda que o consulado tem recebido “alguns pedidos de informação e de esclarecimento”, na maioria dos casos, “relacionados com documentação de viagem e alguns pedidos de aconselhamento sobre a postura a tomar perante a crise de saúde atual”. O Consulado geral de Portugal em Macau e Hong Kong pode ser contactado pelo telefone, email ou através de mensagem na respectiva página da rede social Facebook. Apesar do encerramento dos serviços consulares, foi criado um piquete de atendimento para dar resposta aos casos mais urgentes. O Consulado geral de Portugal estima que existem 170 mil portadores de passaporte português entre os residentes em Macau e em Hong Kong. Destes, apenas cerca de seis ou sete mil serão expatriados. Recorde-se que na passada terça-feira, depois de ter decretado o encerramento dos casinos de Macau durante duas semanas, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, determinou também o encerramento dos serviços públicos básicos e a diminuição da frequência de transportes públicos. Além disso, também foi decretado o fecho de jardins públicos, cinemas, teatros, parques de diversão em recintos fechados, salas de máquinas de diversão e jogos de vídeo, cibercafés, salas de jogos de bilhar e de ‘bowling’, estabelecimentos de saunas e massagens, salões de beleza, ginásios de musculação, estabelecimentos de ‘health club’ e ‘karaoke’, ‘night clubs’, discotecas, salas de dança e ‘cabaret’”.
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7.2.2020 sexta-feira
28344 Infectados
3859 Em estado
24702 Casos
crítico
suspeitos
2019novel co
FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia
INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 28085 45 28 25 23 21 14 11 12 12 12 10 10 6
Interior da China Japão Singapura Tailândia Coreia do Sul Hong Kong Austrália Taiwan EUA Alemanha Malásia Macau Vietname França
5
Emirados Árabes Unidos
5 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1
Canadá Índia Itália Rússia Filipinas Reino Unido Espanha Nepal Finlândia Bélgica Suécia Cambodja Sri Lanka
países com casos de nCov países sem casos de nCov
10 MACAU
Infectados
21
HONG KONG
Macau
Infectados
1
HONG KONG
Hong Kong
Morto
coronavírus 9
sexta-feira 7.2.2020
-nCoV oronavirus
1,339
565
HOJE NA CHÁVENA
Curados
Mortos
1-9 10-99 100-499 500-1000 +1000 Ocorrências nas áreas afectadas
Dados actualizados até à hora do fecho da edição
nCoV vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
28,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0
20
dias
40
dias
60
dias
Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Guangdong Zhejiang Henan Hunan Jiangxi Anhui Chongqing Jiangsu Shandong Sichuan Pequim Xangai Heilongjiang Fujian Shaanxi Guangxi
INFECTADOS 19665 970 954 851 711 600 591 400 373 347 321 274 257 227 215 173 168
MORTOS 479 0 0 2 0 0 0 2 0 1 1 1 1 2 2 0 0
REGIÃO Hebei Yunnan Hainan Liaoning Shanxi Tianjin Guizhou Gansu Jilin Mongólia Interior Ningxia Xinjiang Hong Kong Qinghai Taiwan Macau Tibete
INFECTADOS 157 133 106 91 90 78 71 62 59 46 40 36 21 18 13 10 1
MORTOS 1 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0
10 coronavírus
COMÉRCIO REDUZIDAS PARA METADE TAXAS SOBRE PRODUTOS AMERICANOS
K.Y. CHENG
TÓQUIO2020 CRIADO GRUPO DE TRABALHO PARA LIDAR COM EPIDEMIA
7.2.2020 sexta-feira
A
organização dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 anunciou ontem a criação de um grupo de trabalho para lidar com o surto do coronavírus, a menos de seis meses do início das provas, e realçou que o evento “decorrerá conforme previsto”. O objectivo deste grupo de trabalho é “analisar a situação e tomar as medidas necessárias para garantir que os Jogos Olímpicos sejam seguros para atletas e público”, explicou o presidente do comité organizador do evento, Toshiro Muto. “Quero deixar claro que os Jogos [Olímpicos Tóquio2020] serão organizados conforme o planeado”, disse em conferência de imprensa Toshiro Muto, que enfatizou que, “em vista da situação actual, não há problemas em organizá-los”. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, afirmou também que em nenhum momento foi considerado um possível adiamento dos Jogos Olímpicos devido ao surto de coronavírus, que surgiu na China e afectou mais de quarenta pessoas no Japão. Toshiro Muto explicou que o grupo de trabalho integra responsáveis por Tóquio2020, do Executivo Nacional e do governo regional da capital japonesa, e disse que estará “em permanente consulta” com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Comité Olímpico Internacional (COI). “Vamo-nos encontrar regularmente”, disse Muto, que destacou a necessidade de o grupo de trabalho “ser objectivo e manter a cabeça fria”, para “não criar um sentimento desnecessário de preocupação, já que o número de infecções é limitado por enquanto". O responsável pelo comité organizador acrescentou que as medidas contempladas se concentram na prevenção de infecções e acrescentou que, em princípio, “não incluirão acções que não foram aplicadas anteriormente em outras situações de alerta de saúde”.
Air France / KLM Voos para o Interior suspensos até 15 de Março
As companhias aéreas Air France e KLM anunciaram ontem a prorrogação até 15 de Março da suspensão dos voos para a China continental, interrompidos no dia 9 de Fevereiro, devido ao surto do novo coronavírus no país asiático. "A Air France e a KLM planeiam retomar gradualmente as suas operações de e para Xangai e Pequim, no dia 16 de Março de 2020, dependendo da evolução da situação" e "retomar todas as ligações aéreas a partir de 29 de Março", informou o grupo Air France-KLM.
A
A lei do vale tudo
PORTUGAL PREÇOS IMPEDEM CHINESES DE DOAR MÁSCARAS
U
M grupo de empresários chineses radicado em Portugal lamentou ontem o aumento dos preços de máscaras cirúrgicas nas farmácias portuguesas, quando estão a doar material médico para conter o surto de um novo coronavírus na China. O empresário Xia Yu disse que o preço de uma caixa com 50 máscaras cirúrgicas pode custar até 25 euros, quase dez vezes o preço original. "Entendo que seja o mercado a funcionar, mas um aumento desta proporção, numa altura destas, não é razoável", considerou. O empresário mostrou à Lusa uma factura no valor de quase 1.800 euros, por um total de 110 caixas de máscaras cirúrgicas, numa despesa acrescida de 435 euros em portes de envio. Num gesto raro, para combater a crise provocada pelo
coronavírus, o Governo chinês pediu esta semana a ajuda do resto do mundo, perante a necessidade urgente de repor as provisões de máscaras, fatos ou óculos de protecção, para conter a epidemia. Pequim agradeceu a vários países, como a França, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul, pelo envio de material médico. "Observamos que os preços subiram em todo o país, o que torna incomportável fazer mais donativos", lamen-
"Entendo que seja o mercado a funcionar, mas um aumento desta proporção, numa altura destas, não é razoável." XIA YU EMPRESÁRIO
tou Xia. "Acreditamos que a maioria dos portugueses são amáveis e atenciosos, por isso é que escolhemos viver aqui", sublinhou.
POR CÁ TAMBÉM
Na China alguns supermercados estão a cobrar até dez vezes o preço original e surgiram já denúncias sobre grupos criminosos que vendem máscaras usadas como novas. O Ministério da Indústria chinês reconheceu esta semana que as fábricas para a produção de máscaras estão a operar apenas com 70 por cento da capacidade máxima, já que a epidemia ocorreu em simultâneo com as férias do Ano Novo Lunar, entretanto prolongadas pelo Governo para limitar os riscos de contágio. O país aumentou as importações de máscaras da Europa, Japão e Estados Unidos, segundo a mesma fonte.
China vai reduzir para metade as taxas alfandegárias sobre produtos norte-americanos, no valor de 75 mil milhões de dólares em importações anuais, anunciou ontem Pequim. Esta medida, que irá entrar em vigor em 14 de Fevereiro, vai abranger as taxas alfandegárias aplicadas desde 1 de Setembro último, precisou a Comissão dos Direitos Alfandegários do Governo chinês. A decisão surge um mês depois da assinatura de uma trégua na guerra comercial iniciada há cerca de dois anos entre as duas primeiras economias mundiais. Taxas de entre 10 por cento e 5 por cento vão ser reduzidas para metade em 1.600 bens, como produtos marinhos, aves, soja e alguns tipos de aviões ou ainda lâmpadas de tungsténio usadas na investigação médica. Esta descida visa "promover um desenvolvimento são e estável das relações económicas e comerciais sino-americanas", indicou a Comissão. Nos termos do acordo preliminar de 15 de Janeiro, a China comprometeu-se a comprar, durante os próximos dois anos, por 200 mil milhões de dólares, produtos suplementares norte-americanos, nomeadamente agrícolas e manufacturados. Na terça-feira, o conselheiro económico da Casa Branca, Larry Kudlow, declarou que o surto do novo coronavírus na China e que está a paralisar a economia do país ia atrasar a compra destes produtos norte-americanos.
Ibéria Sem ligações para Xangai até 30 de abril
A Iberia decidiu prolongar o cancelamento temporário dos voos para a China, para onde opera três vezes por semana entre Madrid e Xangai, durante Março e Abril, devido à actual situação de alerta sanitário provocada pelo surto do coronavírus. Os voos da Iberia entre Madrid e Xangai estavam cancelados desde 31 de Janeiro, com a estimativa de os manter cancelados durante Fevereiro, período que agora a companhia prolongou por mais dois meses por razões de força maior e pela segurança de clientes e empregados. A companhia aérea do grupo IAG (International Airlines Group) informou ontem num comunicado que vai dar aos clientes com bilhetes emitidos para voar nesta rota nestes meses o seu reembolso total.
sexta-feira 7.2.2020
Chegou um tempo em que não adianta morrer
h
entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares
FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO
Sobre a beleza, dois clássicos 1.
Dois Clássicos, um de cada lado. Ovídio, poeta romano que nasceu em 43 ac. e terá morrido em 17/18 dc. Com Virgílio e Horácio, Ovídio forma o trio de luxo da poesia latina. Escreveu a A arte da Amar, volumes sobre como conquistar uma mulher, como manter a amada, etc. Nada moralista, perverso até, o quanto baste. Em Metamorfoses, uma das obras clássicas mais influentes, a que podemos aceder através da belíssima tradução de Paulo Farmhouse Alberto, na editora Cotovia, Ovídio, relatando a beleza de um rapaz, escreve: “Nada do que eu via nele se poderia considerar humano.” E, um pouco mais à frente, surgem estes versos impressionantes: “Mal me apercebi disto, digo aos homens: Não sei que deus habita neste corpo, mas neste corpo algum deus habita.” O belo como aquilo que passado um limite se torna não-humano. Uma outra forma de crueldade, eu diria: a extrema beleza.
2.
Do outro lado Chuang Tse, um dos pensadores mais influentes do Oriente. São dele alguns dos textos fundadores do taoísmo. Escreve Chuang Tse em “Capítulos interiores”: “Mao Chiang e Li Ching eram consideradas belas pelos homens. Mas se os peixes as vissem, mergulhariam até ao fundo do rio. Se os pássaros as vissem, voariam para longe. Se os veados as vissem, fugiriam para longe. Destes quatro quem reconhece a verdadeira beleza?” A beleza como algo que pode ser analisado e compreendido por peixes, pássaros, veados e homens. Susto e paixão, consequências da beleza; assombro, desejo ou mera contemplação como acções ou reacções de humanos e animais, elementos bem terrenos. Os homens na cidade, os veados na floresta, os peixes na água e os pássaros no ar. O que é belo não pertence ao céu ou ao divino, mas aos elementos bem concretos da natureza. E estes não estão de acordo entre si.
POEMAS DO ORIENTE
Susto
Não é fácil esquecer a liberdade. Peixe desviado ontem do mar para a mesa. Move-se ainda.
FIM
ILUSTRAÇÕES ANA JACINTO NUNES
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12
h
7.2.2020 sexta-feira
tonalidades António de Castro Caeiro
A vivência e a melodia “Quando inventamos uma melodia, é a melodia que canta em nós muito mais do que somos nós a cantá-la; ela desce pela garganta do cantor como diz Proust. Do mesmo modo que o pintor é fulminado pelo quadro que não existe, o corpo fica em suspenso pelo que canta, a melodia encarna-se e encontra nele uma espécie de servo.” Merleau Ponty, La Nature, Ed. Dominique Séglard (Paris 1995) 228
A
relação intrínseca com a vida transforma a relação com todas as ruas, estradas, caminhos o que lá fazemos, como vamos por lá, vimos por lá. É sempre diferente uma rua quando lá vamos tratar de um assunto ou quando vamos passear. O assunto altera a rua. O sentido da rua e o modo como se percorre a rua é diferente e acentua-se quando não pode ser dissipado no algoritmo da normalidade do modo como usualmente estamos quando por lá passamos, vindos de… indo para… Quando regressamos a um local onde íamos. A rua perfila-se com a estranheza que a revela num tom diferente do tom habitual, que não é necessariamente monótono mas que tem um acento tónico predominante e paradoxalmente é atónico. Conseguimos escutá-lo por contraste, retro-acusticamente, se assim se pode dizer, ainda que estejamos completamente envolvidos por ele. Estamos é tão habituados ao tema monótono que ele se converte numa atonia tal como quando nos habituamos aos ruídos do dia-a-dia ou mesmo ao barulho ensurdecedor de um concerto de um bar ou de uma discoteca. Só quando entramos num meio acústico diferente percebemos o zumbido nos ouvidos e como a música estava alta. O mesmo se passa na cadência, ritmo e melodia, volume sonoro com que as ruas emergem, são ouvidas e escutadas por nós na atmosfera particularmente acústica com que as vivemos na nossa redoma atmosférica. Quando
a rua emerge à memória não é nunca uma imagem, muito menos apenas uma imagem óptica como um fresco ou um postal panorâmico. Nem mesmo um postal pode ser reduzido a um conteúdo estritamente visual. Quando passamos em revista as ruas das nossas vidas de que dei um exemplo - cada um terá os seus caminhos, passeios, avenidas, estradas, etc. - podemos activamente tentar lembrar-nos de uma única tal como o fiz aqui. Mas eu percebo que esta rua se destaca na minha vida. Posso perguntar se tem uma carga simbólica, posso perguntar porque razão a rua me surge em tantas memórias. Sei que um grande amigo do meu pai lá foi atropelado. Mas não há um nexo causal entre o facto do atropelamento e a importância simbóli-
O encontro com a rua é revelado ex post facto na vibração tonal particular da atmosfera da rua, portanto, depois do momento ter ocorrido. Mas a vivência desse momento biográfico tem em si implicado a sua verdade, uma verdade que pode ser descoberta ou que se deixa descobrir “musicalmente”
ca dada à rua. A 24 de Julho não surgiu nunca sempre envolta numa atmosfera lúgubre nem a sua tonalidade vibrou melancolia ou tristeza. A primeira apresentação da 24 de Julho quando estou no carro, deitado ou tão pequeno que só olho para cima, são os carros no exterior, os autocarros gigantescos. Lembro-me de me ter assustado e de me terem acalmado. De repente estava ali no meio do trânsito como se estivesse no meio de dinossauros. Nem percebo como identifico e reconheço claramente a rua como a 24 de Julho. A rua surge pela primeira vez como as primeiras vezes e quando surge traz ainda consigo o que foi aberto nesse encontro, no encontrar-me nessa rua, no abrir-se-me a situação de estar na estrada, no meio do trânsito, a vida vibra o seu ritmo à hora de ponto, com trânsito já nos anos sessenta em Lisboa, estonteante, barulhento, angustiante, estressante, oprimente, imponente e ao mesmo tempo sou sossegado ou tranquilizado ou serenado. O encontro com a rua é revelado ex post facto na vibração tonal particular da atmosfera da rua, portanto, depois do momento ter ocorrido. Mas a vivência desse momento biográfico tem em si implicado a sua verdade, uma verdade que pode ser descoberta ou que se deixa descobrir “musicalmente”.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
sexta-feira 7.2.2020
Irremediavelmente moderno OFício dos ossos Valério Romão
H
Á muito pouco tempo uma amiga minha falava-me da inacreditável beleza natural dos Açores. Eu dos Açores conheço unicamente São Miguel onde estive de férias vai fazer uns vinte anos. Como quase sempre que me encontro num sítio abençoado com uma natureza deslumbrante, aborreço-me. E como quase sempre, é difícil explicar isto a qualquer pessoa que se emocione com uma cascata ou um matagal. A verdade é que não tenho a filosofia das paisagens. Pelo menos das paisagens naturais. Raramente me acontece ficar impressionado com a beleza de um local intocado por mão humana. Faltam-me coisas: pessoas, edifícios, bulício, vida urbana. Sou irremediavelmente chato, nesse aspecto. Irremediavelmente moderno. Pelo que quando as pessoas me começam a falar das planícies verdejantes do Alentejo, do pôr-do-sol no grand canyon ou das praias com água azul-turquesa na Tailândia ou em Bali (sim, também não gosto de praia), não evito um bocejo. E as pessoas reagem como é normal as pessoas reagirem ao que consideram um despeito ou uma excentricidade: acham que as estou a ofender ou que sou maluco. Não consigo explicar exactamente o que me aborrece na exuberância da natureza. Mas percebo que enquanto os outros vêm uma magnífica cascata, eu vejo água a cair; enquanto ficam deslumbrados com um bosque, eu vejo boa madeira para a salamandra do meu cunhado e bicheza escondida no mato só à espera que eu por lá passe para me ferroar. A natureza está cheia de coisas que nos querem mal. Levámos séculos a domesticá-la. E mesmo assim, mal temos oportunidade, queremos para lá voltar. O facto de ter nascido na cidade não será alheio à minha indiferença pela natureza nas suas múltiplas declinações. O facto de tendencialmente gostar de pessoas – desde que não em ajuntamento – e de estas normalmente escassearem na tundra ou em praias desertas também não ajudará. Mas tendo a pensar que o maior óbice ao apego pela natureza deriva sobretudo da minha intolerância ao desconforto, coisa que sobeja nos sítios onde o ser humano não se instalou. Detesto acampar. Detesto a areia da praia nos pés. Detesto as mil e uma pecinhas das plantas e dos arbustos que se colam à roupa e à pele. Diante das maravilhas naturais sou um burguês entediado, nos meus melhores dias. Ainda assim, não sou propriamente um apreciador de monumentos ou de edifícios. Na maior parte das vezes que viajo dispenso de bom grado o roteiro arquitectónico das cidades por onde passo. Interessa-me muito
Não consigo explicar exactamente o que me aborrece na exuberância da natureza. Mas percebo que enquanto os outros vêm uma magnífica cascata, eu vejo água a cair; enquanto ficam deslumbrados com um bosque, eu vejo boa madeira para a salamandra do meu cunhado e bicheza escondida no mato só à espera que eu por lá passe para me ferroar
mais, na verdade, perder-me nas ruas, sentar-me numa esplanada a ver as pessoas a passar, ouvir (sobretudo quando na percebo a língua) as conversas das pessoas nos transportes públicos ou quando passeiam. As pessoas é que me interessam, sem dúvida. Provavelmente porque escrevo. Como dizia a Virginia Woolf, “ o escritor é aquele que tendo aprendido o essencial sobre o carácter humano para levar adiante a vida, não deixa nunca de se interessa por ele” (ela di-lo de forma mais elegante, estou certo). É isto. A natureza pode ficar ali, ao longe, que é mais bonita assim.
14 (f)utilidades TEMPO
MUITO
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LINHA FATAL
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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 51
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PROBLEMA 52
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Duas pessoas morreram e 30 ficaram ontem feridas na Itália, informou ontem a protecção civil italiana. De acordo com a fonte, as vítimas sequência de um descarrilamento de um comboio de alta mortais são os dois maquinistas do comboio que descarrilou perto da cidade de Casal velocidade que fazia o trajecto Bolonha-Milão, no norte de Pusterlengo, na província de Lodi, desconhecendo-se ainda as causas do acidente.
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UM 7FILME HOJE 2 52 1 5 3 4 6
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YUAN
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VIDA DE CÃO
VALORES DÚBIOS Nos últimos dias tenho visto alguns trabalhadores dos Serviços de Saúde de Macau, a título pessoal nas redes sociais, a desvalorizarem a Pneumonia de Wuhan. Parece que o vírus da influenza é mais mortal e causa 40 mil mortes todos os anos nos Estados Unidos. Como se não fosse suficiente ainda vêm falar de “manipulação” do Ocidente... Felizmente, depois de se reconhecer a dimensão do problema que temos em mãos, tanto o Governo Central como o Governo de Macau têm mostrado bem mais respeito pelos mortos, pelos infectados e pela população. Estão à procura de soluções, apesar do enorme desafio. Mas não deixa de ser engraçado que pessoas que trabalham em serviços com tanta responsabilidade estejam mais focadas na política de agressão externa do que na população de Macau e da China. Numa fase tão complicada como a que atravessamos, que prioridades são estas? Acham que é assim que se tranquiliza a população com este discurso de ódio? Não percebo estes valores. Parece que para estes profissionais de saúde não importa que morram chineses, desde que morram mais americanos. São os nacionalistas de pacotilha, para quem o bem do país é secundário desde que o “Ocidente” esteja pior. Não percebo. Finalmente, quero recordar Alexis Tam. Lutou pelo centro de doenças infecto-contagiosas e foi bloqueado pelos interesses locais. Ficou claro que era tão urgente quanto ele dizia. Defendeu a criminalização das pensões ilegais e o tempo deu-lhe razão. Quantos “turistas ilegais” de Wuhan estavam “escondidos” nesses viveiros de criminosos no NAPE e ZAPE sem que seja possível localizá-los? Pois... João Santos Filipe
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4 2 5 7 3 1 6Argento, “Suspiria”7 é daqueles 6 5filmes2que3deixa4 da1Guerra Fria e vive3da intensa 1 5interpretação 6 7 sequelas. Assustador a tempos e arrebatador nou- de Tilda Swinton e Dakota Johnson. Apesar de alturas, o remake 5 3 1 2 4 6 7tras 3 do5também 2 italiano 6 7Luca1 algumas 4 inconsistências7no argumento, 6 2 “Suspiria” 3 1 Guadagnino tem como centro narrativo a vida tem momentos de extrema beleza fílmica, mas não uma companhia de bailado onde a bruxaria e é aconselhável a cinéfilos impressionáveis, ou a 1 7 54 6 4 5 3 2deo sobrenatural 2 1com4a dança. 3 O5filme7 quem 6 não goste de filmes 1 de5terror.4 João7Luz 6 convivem 7 5 3 66 22 4 1 1 7 6 4 2 5 3 2 3 1 4 5 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; ; João Santos Filipe; Pedro Arede Colaboradores 3 4 7 Anabela 1 Canas; 67António 26Cabrita;5António de Castro5Caeiro;5António Falcão; 3 Ana7Jacinto1Nunes;4Amélia Vieira; 6 Gisela2Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; 5 Gonçalo 7 M.Tavares; 3 2João Paulo4 Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda 2 6 43 Cotrim; 54José 3Torres; Sérgio Fonseca; Valério 6 Romão 4 Colunistas 3 António 7 Conceição 1 Júnior; 2 David 5 Chan; João Romão; Jorge6Rodrigues4Simão;7Olavo 1Rasquinho;2 Duarte; Rui1 Cascais;7 Rui Filipe Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua www. de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada hojemacau. 6 1 2 Secretária 3 7 5 45 4 2 6 5 3 3 4 2 1 5 6 3 7 com.mo de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 6 3
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Baseado no clássico de 1977, do mestre Dario
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SUSPIRIA | LUCA GUADAGNINO (1977)
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tem como cenário a Berlim dividida dos tempos
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opinião 15
sexta-feira 7.2.2020
confeitaria
JOÃO ROMÃO
À
S vezes acontece mudar de cidade. Podem ser muitos os motivos e as circunstâncias, conhecido ou desconhecido o novo lugar, mais ou menos estimulante a expectativa em relação a um qualquer novo ciclo que se abre, mas certo é que há tarefas inevitáveis. Encontrar casa é, claro está, uma delas. Aconteceu-me agora, com algumas atribulações da vida em casal, nem sempre completamente sincronizada. Temporariamente só, como diz a canção, calha-me arrendar sozinho o espaço que me há-de acolher por uns breves meses, uma manifesta mas inevitável ineficiência da economia doméstica em terras japonesas. Fazem-se contas: vai ser um terço do meu ordenado líquido, mais coisa menos coisa, para pagar o aluguer de um pequeno espaço, confortável e solitário, numa cidade nova, desconhecida e aparentemente simpática. Em breve será melhor e voltaremos a ser dois, o espaço será maior e melhorará a economia: com uns 20% do nosso rendimento conjunto havemos de suportar esse custo inevitável que é o da habitação, essa necessidade básica dos seres humanos que em geral tem menos prioridade do que devia nas políticas públicas e mais especulação do que se devia admitir na regulação mercantil. Comparo com notícias e estudos recentemente publicados que falam de Lisboa, onde mais de 50% do rendimento bruto das pessoas serve para suportar custos de habitação. Uma barbaridade, evidentemente, que um governante chegou mesmo a classificar como “crime de lesa-pátria”. Não toda a pátria, é bom de ver, porque há quem pague e quem receba, quem seja proprietário e quem seja inquilino, quem empreste dinheiro e quem pague juros. Também nos mercados de habitação se decide grande parte do grande jogo da redistribuição dos rendimentos no capitalismo moderno, dos salários de quem trabalha para as rendas de quem disponibiliza habitação ou para os lucros de quem oferece crédito. Num caso ou noutro, há muito mercado e pouca regulação pública. A habitação é um caso evidente de injustificada sujeição das pessoas a injustas e brutais regras do mercado. Não só por constituir uma necessidade elementar, mas também porque pouco do investimento – e do talento - necessário à sua produção resultam, de facto, da livre iniciativa individual. Não é só construir um prédio e pô-lo à venda: há todo um processo de urbanização que envolve criação de infra-estruturas públicas para a circulação e mobilidade, distribuição e tratamento de água, fornecimento de energia, segurança, acesso aos serviços públicos de saúde, educação ou cultura que são essenciais
Lisboa tão boa
A possibilidade de essas habitações serem utilizadas para fins turísticos que se abriu com a generalização da utilização de plataformas digitais para este despropósito cria naturalmente uma situação de escassez que penaliza os residentes na proporção da atractividade da cidades: quanto mais espectacular a cidade, mais lixadas as pessoas que lá vivem à vida quotidiana. Há um largo número de equipamentos e serviços que requerem investimentos e planos públicos para ser possível o investimento privado. É por isso mais do que legítima a regulação deste mercado: na realidade, o contributo do “investidor” privado é relativamente pequena – e frequentemente não mais do que um comportamento especulativo para exploração do desespero de quem precisa de tecto. A recente massificação do turismo urbano agravou o problema, naturalmente. Melhor ou pior, a oferta de habitação disponível nas cidades foi planeada em função de projeções para a evolução demográfica e condicionada pelas limitações públicas em expandir as infra-estruturas, equipamentos e serviços urbanos que suportam
a criação de habitação. A possibilidade de essas habitações serem utilizadas para fins turísticos que se abriu com a generalização da utilização de plataformas digitais para este despropósito cria naturalmente uma situação de escassez que penaliza os residentes na proporção da atractividade da cidades: quanto mais espectacular a cidade, mais lixadas as pessoas que lá vivem. É o caso de Lisboa, naturalmente. Uma cidade magnífica – e cada vez melhor – para quem a visita. Não sou lisboeta, mas ali vivi em diferentes períodos da minha vida. Lembro-me da cidade poluída e altamente congestionada do final dos anos 80, com uma baixa que se tornava quase deserta ao fim da tarde. Deu-se entretanto uma deslocação massiva para a periferia, subúrbios vários
em crescimento acelerado, para onde se deslocaram famílias atraídas pelo crédito fácil e o início da expansão das redes metropolitanas de transportes públicos e privados. O financiamento bancário a esta mudança nos hábitos de habitação contribuiria decisivamente para a chamada “financeirização” da economia, o crescimento implacável do poder da finança, que haveria de dar no que deu. Entretanto, era o centro de Lisboa que começava a renovar, com os brilhantes mármores das sedes das instituições bancárias a pontuar a degradação dos edifícios devolutos que mais tarde se tornariam hotéis. Esse processo de renovação urbana continuaria, com maior ou menor velocidade, estimulado também pelos grandes eventos que haviam de chegar – a Expo 98 e o Euro 2004 – e impulsionar novas redes de equipamentos e serviços, cada vez mais preocupados com aspetos da qualidade de vida urbana que ultrapassassem largamente as necessidades básicas de habitação e mobilidade eficientes. Aumentaram os espaços verdes, as áreas pedonais, as vias para bicicletas, os modos não-motorizados de transporte. Lisboa é hoje uma cidade que facilmente ultrapassa as melhores expectativas de quem a visita: limpa, eficiente, com mobilidade fácil, bonita, segura, com um impressionante património cultural material e imaterial, boa comida, ambientes amigáveis, bons preços, muitas e muito diversas alternativas para ocupar o tempo. Dificilmente há hoje cidade no planeta que ofereça melhor do que Lisboa a visitantes ávidos de novas “experiências” e “culturas” urbanas. Retomo então o fio a esta meada: quem vive em Lisboa precisa de dedicar mais de metade do seu rendimento bruto aos custos de habitação. É uma brutalidade injusta (porque sobretudo beneficia especuladores improdutivos) e ineficiente (porque implica que o dinheiro gasto iniba outro tipo de consumos com efeitos multiplicadores mas interessantes sobre as economias). E é o resultado de uma política de renovação urbana desligada dos direitos dos cidadãos – e em particular do direito essencial à habitação. Sem essa ligação, não há melhores cidades: ainda que pareçam, elas excluem os direitos dos seus próprios residentes – excluem as suas pessoas. Deixo um exemplo de um plano de expansão urbana para 20.000 residentes que tive oportunidade de visitar recentemente em Helsínquia, lugar onde o Estado Providência ainda prevalece sobre a selvajaria dos mercados: amplos espaços verdes públicos, prioridade à mobilidade não motorizada, escolas e restantes serviços públicos dispostos de forma a que nenhuma criança tenha que atravessar uma única rua com automóveis para chegar às aulas. Tudo com construção e arquitectura mais que decentes e apenas 30% das casas vendidas no mercado. O restante destina-se a habitação social e cooperativas. Sem estes mecanismos, é possível haver cidades bonitas, eficientes e altamente atrativas. O que não é possível é que sejam para nós.
Os cães realmente falam, mas só àqueles que sabem ouvi-los. PALAVRA DO DIA
EPIDEMIA TURISMO DE MACAU ENALTECE ATUAÇÃO DO GOVERNO
Canoagem Selecção chinesa prolonga estágio em Portugal
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coordenadora do Turismo de Macau, Paula Machado, enalteceu ontem a actuação do Governo de Macau na conteção do coronavírus, e informou estarem a ser estudadas campanhas agressivas de captação de turismo para o pós epidemia. “A actuação do Governo está a ser muito bem feita”, afirmou ontem num encontro em Lisboa sobre a 32.ª edição da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), que tem lugar em Março na capital portuguesa, considerando que tem sido feito um “bem trabalho” na contenção da epidemia. Paula Machado reconheceu serem elevados os prejuízos causados em Macau pelo coronavírus, mas disse ser ainda cedo para estimativas aproximadas de custos, uma vez que nem se sabe se a situação vai ser, ou não, resolvida nas próximas semanas, e precisou não ter mais informação do que aquela que é pública. “Não há estimativas do impacto do vírus, ainda é cedo”, afirmou. “Temos de ser optimistas e acreditar que daqui a um mês, na BTL [em Lisboa], tudo estará resolvido”, acrescentou. Mal a situação de epidemia esteja controlada, vai ser feita uma “campanha activa” de turismo, e uma revisão de estratégias de campanhas para o segundo semestre do ano, com o objectivo de conseguir uma captação “mais agressiva” de turistas e activar um plano de captação da marca “assim que possível”. “Neste momento não faz sentido fazer campanhas [de captação de turismo para Macau], mas também não desistimos dos projectos em curso”, adiantou, referindo-se nomeadamente à BTL que, no ano passado, recebeu a participação de Macau como ‘convidada’.
sexta-feira 7.2.2020
RÓMULO SANTOS
Orhan Pamuk
Colin Mansfield, analista da Fitch “O encerramento dos casinos de Macau durante duas semanas, e a situação do coronavírus em geral, vão ter um impacto significativo e imediato nas receitas das operadoras de jogo de Macau.”
FITCH PREVÊ PERDAS DE 50% NOS CASINOS NO PRIMEIRO TRIMESTRE
Impacto imediato
O
sector do jogo em Macau deve registar perdas de 50 por cento no primeiro trimestre de 2020, avança a agência de rating norte-americana Fitch. A previsão vem no seguimento do anúncio do Governo de encerrar os casinos da região, numa medida sem precedentes para fazer face ao surto do novo tipo de coronavírus. No entanto, diz a Fitch, apesar das consequências negativas ao nível das receitas serem imediatas, as operadoras de jogo estão bem posicionadas para fazer face à situação. “O encerramento dos casinos de Macau durante duas semanas, e a situação do coronavírus em geral, vão ter um impacto significativo e imediato nas receitas das operadoras de jogo de Macau. Em sentido positivo, as operadoras de jogo estão bem posicionadas para absorver as perdas por terem dinheiro em caixa, elevados níveis de liquidez e não terem dívidas para pagar a curto prazo”, afirmou o analista Colin Mansfield, através de um comunicado oficial emitido pela Fitch.
Caso o cenário de encerramento dos casinos venha a ser estendido depois dos 15 dias decretados pelo Governo, além da queda de 50 por cento prevista para o primeiro trimestre, a Fitch admite também, de acordo com um teste de stress feito às seis operadoras do sector, que pode vir a ser registada uma descida de 25 por cento das receitas de jogo no segundo trimestre do presente ano. Sobre o impacto esperado para as próximas duas semanas, a Fitch, aponta para perdas de 1.500 milhões de dólares norte-americanos. Isto tendo em conta que, antes do surto da pneumonia de Wuhan, o sector do jogo em Macau estava a gerar receitas brutas diárias de 100 milhões de dólares norte-americanos.
ESPERANÇA NO HORIZONTE
Antecipando um cenário de estagnação antes do surto do novo tipo de coronavírus, a Fitch estima agora que, em 2020, as receitas registem um crescimento negativo, tendo em conta, as incertezas existentes em torno do corona-
vírus e factores externos como a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. No entanto, os analistas mantêm-se positivos acerca da evolução financeira do sector do jogo. “A longo prazo não prevemos impactos duradouros nos sectores do turismo e do jogo em Macau e esperamos que o impacto nas receitas seja temporário”, refere a Fitch. Também de acordo com analistas da Sanford C. Bernstein e da Co LLC citados pelo GGR Asia, o cenário a longo prazo deverá ser positivo, apontando para uma forte recuperação na segunda metade do ano, caso o coronavírus venha a ser controlado. Os analistas acreditam neste momento que “Macau deverá ter uma recuperação sólida na segunda metade do ano”, muita apoiada por medidas de estímulo económico lançadas pelo Governo da região. Pedro Arede
info@hojemacau.com.mo
A selecção chinesa de canoagem sprint vai continuar em Portugal, onde está a estagiar há quase dois meses, em vez de regressar à China, devido ao surto do coronavírus. Manuel Ramos, proprietário da Nelo, fabricante portuguesa de caiaques e canoas de competição, confirmou à Lusa que a equipa vai permanecer no Centro de Alto Rendimento da Nelo, na barragem da Aguieira, em Viseu, até Abril. O plano original previa que a equipa voltasse à China, para preparar o Campeonato Asiático de Canoagem, marcado para o final de Março, na Tailândia, explicou a Administração Geral de Desporto chinesa. O torneio irá servir ainda de qualificação para os Jogos Olímpicos Tóquio2020. Mas, face ao surto de coronavírus, a selecção vai continuar a treinar em Portugal, referiu a Administração num comunicado. De acordo com a página da Nelo na internet, a equipa chinesa de canoagem sprint conta com 65 atletas.
Toyota Lucros sobem 41,4 por cento
O lucro da Toyota aumentou 41,4 por cento nos primeiros nove meses do ano fiscal que terminará em Março, para 16.650 milhões de euros, face a igual período do exercício anterior, revelou ontem o fabricante automóvel japonês. O fabricante espera fechar o actual exercício fiscal com vendas de 8,95 milhões de veículos, aquém dos 8,98 milhões vendidos no exercício anterior, e um lucro de 19,434 milhões de euros, representando um acréscimo 24,8 por cento em termos homólogos.