DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
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TERÇA-FEIRA 7 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3767
hojemacau
SER OU NÃO SER? PÁGINA 5
PIOTR JARUGA
FAM Cidade espectáculo EVENTOS
DEMOGRAFIA
População em queda PÁGINA 7
h
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Dias em que não fui eu Os 37 anos do Fantas PAULO JOSÉ MIRANDA
RUI FILIPE TORRES
TATIANA LAGES
RAQUEL OCHOA APRESENTA MANUEL VICENTE
ENTREVISTA
BENFICA ARRASADOR PÁGINA 16
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
O génio e o caos
LIGA DE ELITE
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EDUARDO MARTINS | ROTA DAS LETRAS
MACAU | OLÍMPICOS
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RAQUEL OCHOA AUTORA DA BIOGRAFIA DE MANUEL VICENTE
No meio dos esquissos pragmáticos fazia poesia e filosofia, buscava eternamente um desconhecido para o conhecer e criar uma outra coisa. A paixão pela arquitectura durou até ao fim, tal como o lado pop que marcou um génio “irrepetível”. O livro “Manuel Vicente: A Desmontagem do Desconhecido” é hoje apresentado no edifício do antigo tribunal, no âmbito do festival Rota das Letras
“O seu génio era, por natureza, caótico” Como é que chegou a Manuel Vicente e à possibilidade de escrever a sua biografia? É uma aventura com muitos anos, porque escrever sobre Manuel Vicente é tudo menos fácil. Não é uma pessoa com um carácter e um percurso linear. Nenhum ser humano é, mas o Manuel Vicente destaca-se. O seu génio era, por natureza, caótico. Ele costumava dizer que a maneira de se ordenar era utilizando aquelas grelhas que ele usava muito na sua arquitectura. Quanto ao resto não seguia um padrão, não tinha uma forma de querer agradar a um qualquer parâmetro. Começámos este trabalho com o apoio do Centro Cultural e Científico de Macau. Um amigo que foi aluno dele, o Sérgio Xavier, disse-me: ‘Tu que escreves biografias vais adorar o meu professor, que é um homem que eu adoraria que alguém que não tem nada que ver com a arquitectura tentasse capturar a sua personalidade’. Fui um pouco sem saber ao que ia, mas fiquei imediatamente convencida. Comecei então a entrevistar Manuel Vicente, a conhecer alguns dos seus amigos. Isto durou dois anos e nunca pensámos que iria demorar tanto tempo a ser publicado o livro. O que levou a isso? Ele adoeceu e, antes disso, estava com trabalho e menos tempo. Por causa da doença afastámo-nos, ele afastou-se de toda a gente. Após a morte dele demorei a encontrar a finalização do projecto. Porquê? Este trabalho não é uma biografia, chamo-lhe ensaio biográfico. Se estava pensado para ser uma biografia, não pôde ser no final devido à sua partida.
‘‘Não houve uma conversa em que Macau não surgisse. Era muito giro, porque ele tinha várias Macau na sua vida.’’
Houve histórias que ficaram por contar. O meu trabalho não ficou completo e tinha de assumir um risco. Ou finalizava a biografia com um método que não é o meu ou tinha de chamar-lhe outra coisa, e torná-lo num documento interessante e importante para entender a vida de Manuel Vicente. Aí foi essencial a aproximação e interesse de Rui Leão, que foi seu colega e que o co-
nheceu muito bem. Deu-me algum apoio e a sua equipa direccionou-me onde estava perdida. Depois fiz várias entrevistas e pude completar esta biografia. Tive acesso a um trabalho do Bruno Alves, que fez uma tese de mestrado sobre o arquitecto. Que Manuel Vicente podemos ter no livro? Vamos ter o homem caótico ou o arquitecto que gosta de pop art? É uma pergunta à qual é difícil responder. Sempre quis mostrar o Manuel Vicente íntimo, que não era nada fácil. O meu foco não é, de todo, a arquitectura. Esta aparece porque é a linguagem dele, é a maneira como ele se projecta na sua construção como pessoa. Percebo pouco ou nada de arquitectura e, aliás, a feitura deste livro muda-me completamente a visão que tenho sobre ela, sobre as cidades. As conversas com ele alteraram também a minha maneira de olhar o mundo. Há uma alteração entre a Raquel que não conhece o Manuel Vicente e a Raquel que passa a conhecê-lo. Fascina-me o carácter, o pensamento filosófico. O que me interessou partilhar foi: porque é que este homem consegue pensar desta maneira.
‘‘Tinha uma maneira de emergir nas coisas. Incorporava-se nas coisas com um mergulho completamente louco, de uma maneira incansável.’’ Ele próprio era uma pessoa do mundo. Muitos consideram-no um arquitecto de Macau, mas ele não gostava muito dessa designação. Não posso com toda a certeza dizer que não gostava, mas posso dizer que ele se via como um arquitecto do mundo. E com muito mundo.
Essa é uma das facetas que tento ao máximo apresentar de uma forma muito simples, contando episódios passados em várias partes do mundo e as pessoas que o influenciaram. Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é viajar e identifiquei-me muito com o Manuel Vicente viajante. Há episódios incríveis na vida dele. Há um episódio em que ele tem a oportunidade de dar quase a volta ao mundo durante seis ou sete meses. A primeira mulher está grávida e, por um acidente de percurso ele perde um transporte, e quando chega à maternidade a mulher já tinha tido o filho. Obviamente ela não gostou, ele conta isto com imensa pena, mas este episódio revela bem o viajante que Manuel Vicente era e também o que é viajar: faz-nos também perder muitas coisas. Até ao fim da vida, lidou com as consequências de ser um viajante e de não ser um homem que assentou só num sítio. Falo nomeadamente da dificuldade que é estudar a obra arquitectónica dele, que é uma obra dispersa. Que pessoa foi o Manuel Vicente que não está espelhada nos edifícios que desenhou? Há outro lado? Sem dúvida. Qualquer pessoa que tenha tido a oportunidade de privar com ele entende essa espontaneidade com que ele falava e se incorporava nas coisas. Ele tinha uma forma de ver esta planta que aqui está numa rua, numa cidade, num projecto. Tinha uma maneira de emergir nas coisas. Incorporava-se nas coisas com um mergulho completamente louco, de uma maneira incansável. São épicas as histórias dos seus ateliers, em que todos viviam praticamente neles. Ele impunha esse ritmo, mas aquilo era uma festa, não era nada imposto. Esta é talvez a faceta mais conhecida dele, a maneira fogosa com que ele vivia as coisas. Para mim, o mais interessante foi captar tudo isso em discurso directo. É ouvir a maneira como ele sussurrava as coisas. Em pormenores tentei ao máximo trazer essa voz dele, dos tempos que precisava para come-
çar a falar das coisas. Não o vejo ou nunca o vi como arquitecto, como os outros olham para ele e têm um enorme respeito pela sua arquitectura. Entendo esse respeito, mas o que me fascinou foi o pensador Manuel Vicente. A maneira como ele pensa sobre a construção de uma identidade, de um povo. Quando pensamos na arquitectura pensamos em algo estático, com números, linhas, e ele ia além disso. Ia além desse pensamento pragmático. Sim. Ele tinha uma objectividade que é clara nas suas obras, mas era dentro dessas linhas que ele criava poesia. Eu também o via como poeta. Estava sempre a fazer grandes anotações de frases que ele dizia e que eram autêntica poesia. Confesso que vi o meu trabalho inacabado, mas chegámos a um produto final que vale a pena. Não é por acaso que não existem milhares de biografias sobre ele. É muito difícil encontrar um fio condutor para a história da vida dele. Era um homem de uma errância em relação ao pensamento e espaço físico onde viveu, e à própria arte que praticava. Ele recebeu influências de arquitectos também eles completamente erráticos e fora do sistema, e tudo isso é difícil de compilar e colocar numa obra biográfica. Nessas conversas como surgia Macau? Surgia de forma espontânea, era um território que lhe dizia muito? Macau surgiu nas nossas conversas constantemente. Não houve uma conversa em que Macau não surgisse. Era muito giro, porque ele tinha várias Macau na sua vida. Tinha a Macau que guardava de forma cinematográfica na sua cabeça, do período em que chegou [ao território], daquilo que foi a primeira grande paragem em termos profissionais. Depois tem a fase de Macau de grande trabalho e intervenção na cidade. Depois há uma terceira Macau, de fazer o seu trabalho olhando para as condições políticas que aqui existiam. [Desse período] também tem bastantes histórias para contar,
EDUARDO MARTINS, ROTA DAS LETRAS
ENTREVISTA
3 hoje macau terça-feira 7.3.2017 www.hojemacau.com.mo
mas sempre reservado. Muitas das informações nem surgem em discurso directo, mas sim com base em jornais. Há depois uma última Macau, quando ele tem cá o atelier, mas está baseado em Lisboa. É a Macau em que tudo o que ele é e sente vem daqui mas, ao mesmo tempo, com algumas amarguras, nomeadamente a história do Fai Chi Kei. Quando demoliram o complexo de habitação pública. Ele tem um episódio que acho curial. Quando lhe perguntei o que achava desta demolição, conta que, durante os primeiros anos de Macau, houve alguém que tentou alterar a fachada de um edifício que ele tinha feito e que aquilo o transtornou por completo. Aí era o Manuel Vicente ainda jovem. Ele disse-me isso de uma maneira muito gira: ‘A minha tensão arterial foi para um nível que nunca mais saiu de lá. Percebi nesse momento que as minhas obras são as minhas obras, e eu sou eu’. Então, em relação ao Fai Chi Kei, ele dizia que era uma pena, mas que as cidades evoluem. Que lhe custava, mas que não ia pensar muito nisso. Que outras mágoas levou de Macau? Ele não era um homem de muitas mágoas. Esta é a resposta politicamente correcta, mas é verdadeira. Ele era um homem que respirava a projectar e dizia que a vida dele era fazer arquitectura. A única mágoa dele foi talvez não lhe terem dado mais trabalho. Acredito que o projecto da Expo 98 que foi demolido também tenha sido uma mágoa para ele, por ser a obra lindíssima que era. Teria outras, mas estas eram as mais evidentes. Ele era uma pessoa que explodia quando tinha de explodir, eu ainda tive uma quota-parte disso, mas não se compara a outras situações que aconteceram. O Manuel Vicente que conheci, nos últimos anos, é alguém completamente resolvido, à excepção de não se conformar com o facto de ter menos trabalho. A arquitectura esteve à frente da vida pessoal? Não sei se tenho estatuto para responder a isso. Sei que pôs a arquitectura à frente de tudo e mais alguma coisa, muitas vezes. Não sei se fazia isso de forma sistemática. A arquitectura era a sua grande paixão, mas adorava os filhos. Sempre que podia falava da segunda mulher, Teresa, falava com imenso respeito da primeira mulher, e a legião de amigos era muito referida. Era um homem de
afectos, terá tido muitas loucuras e, nessa busca pela arquitectura, terá feito alguns atropelos. O livro chama-se “A Desmontagem do Desconhecido”. É o desconhecido para além do que foi edificado? É enigmático, foi difícil pensar um título à altura. A desmontagem vem da maneira que ele tinha de ver as coisas, de as desmontar. O desconhecido surgiu porque tudo o que era novo, o que ele não conhecia, era o que o animava. Percebi isso nele: ele queria ir em busca do desconhecido para depois desmontar e montar de novo à maneira dele. Há muitas histórias da infância neste livro, sobre a deficiência que ele tinha numa anca. Teve uma infância demolidora, passou 12 anos numa cama.
‘‘Até ao fim da vida, lidou com as consequências de ser um viajante e de não ser um homem que assentou só num sítio.’’ Talvez venha daí a vontade de ir à aventura. Sim. Quando entendemos a infância que ele teve e de como a família o apoiou, que ele talvez não contasse no escritório, é interessante percebermos isso. É como a aventura na Índia, que o marca enquanto jovem. Ele tem também uma aventura em Karachi, no Paquistão, e o regresso da Índia é uma viagem que dá um livro. São coisas que se narram de forma breve e consistente neste livro, e que nos fazem aproximar de novo desta pessoa, que é muito saudosa para Macau e Portugal, para o mundo da arquitectura e dos pensantes que gostam de falar com alegria, a sorrir. Ele era essa pessoa. Que legado deixa ele? Há muita gente que, a partir do momento em que entra em contacto com ele e com a sua obra, percebe que Manuel Vicente é irrepetível. Tem este lado pop, uma linguagem apelativa para um jovem que goste do lado disruptivo da arquitectura. Acho que as pessoas que se interessam por este mundo não consensual da arquitectura o vão procurar e estudar. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
4 POLÍTICA
hoje macau terça-feira 7.3.2017
HOJE MACAU
Dinheiros às claras
Deputado pede sustentabilidade do Fundo de Segurança Social
O Interpelação ZHENG ANTING LEVANTA DÚVIDAS SOBRE LEI DE TERRAS
Bombas por detonar
A
aplicação da Lei de Terras continua a suscitar dúvidas entre os membros da Assembleia Legislativa (AL). Zheng Anting interpelou o Executivo, oralmente, sobre a forma como este deve remediar os casos dos terrenos que não tiveram aproveitamento antes do fim do prazo de concessão. Em particular, nas situações em que o deputado entende que o Governo foi o culpado da falta de exploração das áreas concessionadas. O deputado alerta que “ainda não há soluções para os vários problemas decorrentes da nova Lei de Terras, na qual se escondem ainda mais bombas que podem vir a explodir a qualquer momento”. Zheng Anting advertiu o Executivo para a situação dos compradores de fracções em construção no Pearl Horizon, que investiram somas avultadas antes da retoma dos terrenos para o domínio público e que hoje se encontram em dificuldades financeiras. Acresce neste caso a especulação imobiliária que levou a que estas fracções tenham mudado de mãos duas ou três vezes, de acordo com a interpelação. O tribuno lamenta que nada seja feito por estas pessoas que, hoje em dia, apenas possuem “uma certidão de registo predial que neste momento é lixo”, e avultadas dívidas aos bancos.
E SEAC PAI VAN?
Um dos principais problemas, segundo a interpelação, é a opacidade na aplicação da lei. Uma situação patente nos próprios trabalhos da AL, exemplificado no episódio em que o próprio presidente decidiu ouvir as gravações das reuniões para tentar perceber a intenção legislativa inicial.
O deputado Zheng Anting questionou o Governo sobre os problemas com a recuperação do terreno Pearl Horizon e a caducidade das concessões dos setes terrenos de Seac Pai Van. Deixou o aviso de que a Lei de Terras pode esconder ainda muitas bombas por explodir Zheng Anting acrescentou que “a Administração cometeu erros de cálculos da área de construção”, o que complicou o aproveitamento dos terrenos no prazo fixado no contrato. Como tal, o deputado imputa ao Executivo a culpa para os incumprimentos que levaram à retoma dos terrenos. Outro exemplo dado pelo tribuno foi a caso dos sete terrenos de Seac Pai Van, cuja caducidade da concessão foi declarada pelo Governo em 2016. Nesta situação, Zheng Anting questionou a posição do Executivo
“Ainda não há soluções para os vários problemas decorrentes da nova Lei de Terras, na qual se escondem ainda mais bombas que podem vir a explodir a qualquer momento.” ZHENG ANTING DEPUTADO
que mudou a finalidade dos terrenos. A reconversão terá custado tempo precioso aos concessionários, que ainda tiveram de esperar pelo novo planeamento por parte do Governo, que teve de aprovar as novas plantas. O deputado sublinhou o facto de que o Executivo não chegou a emitir qualquer licença para execução de obras, nem plantas de alinhamento, o que terá levado à impossibilidade de os concessionários aproveitarem os terrenos dentro do prazo contratado.
PONTOS DE INTERROGAÇÃO
Na sequência das dúvidas suscitadas, Zheng Anting questionou o Governo no sentido de saber se será criada uma comissão interdepartamental, liderada pela secretária para a Administração e Justiça. Tal organismo deve ter como missão, de acordo com o deputado, saber que acção tomar nos casos em que a culpa da falta de aproveitamento dos terrenos foi do Executivo. No que diz respeito à opacidade na aplicação da Lei de Terras, o deputado questionou o Governo se deve ser criado um “mecanismo para acompanhar e promover o processo de divulgação da intenção legislativa”. João Luz
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deputado Ng Kuok Cheong exige ao Governo a garantia de um desenvolvimento sustentável do Fundo de Segurança Social (FSS). Em interpelação escrita dirigida ao Executivo, o deputado pró-democrata considera que o Governo já tem condições para estimar o desenvolvimento do FSS tendo em conta as mudanças da estrutura social do território. “A pensão de idosos foi ajustada e o regime de contribuições entre as partes laboral e patronal também foi actualizado”, justifica. De acordo com os dados do Governo, o número de idosos com idade superior a 65 anos representava, em 2015, nove por cento da população e as estimativas para o ano de 2036 apontam para 20,7 por cento. “A população idosa está em permanente crescimento”, afirma Ng Kuok Cheong, recordando que não é a primeira vez que defende, junto do Executivo, a necessidade de mobilização dos recursos para garantir o futuro do FSS.
TROCOS PÚBLICOS
O tribuno apela ainda à divulgação das transacções financeiras
efectuadas entre o cofre público e o FSS de modo a poder prever as receitas e despesas para os próximos 20 anos. O objectivo, considera, é analisar se “as contribuições regulares podem satisfazer as despesas relativas às pensões para os idosos e às acções relacionadas com as necessidades causadas pelo envelhecimento populacional”. Pretende-se, assim, conseguir mobilizar os recursos públicos para responder às necessidades. De acordo com a interpelação, o Governo transferiu para o FSS fundos do cofre público, entre 2013 e 2016, para aumentar a capacidade de resposta. No entanto, os valores nunca foram revelados, diz Ng Kuok Cheong. Para este ano, aponta o deputado, já não estão previstos movimentos deste género pelo Governo. Para o tribuno, está na altura de divulgar as contas e, caso seja encontrada alguma “lacuna no financiamento deste fundo, deve ser tratada, uma vez que ainda há recursos que podem ser mobilizados”, afirma. Vitor Ng (revisto por S.M.M.)
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METRO GIT SUBLINHA PRIORIDADE PARA TRABALHADORES LOCAIS
O
Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) considera que o projecto do metro ligeiro pode contribuir para o melhoramento da qualidade dos profissionais locais. A ideia foi defendida pelo coordenador do gabinete, Ho Cheong Kei, em resposta a Kwan Tsui Hang. A deputada questionou, em interpelação escrita, como está a ser pensada a formação dos futuros trabalhadores do metro. Ho Cheong Kei aponta que o Governo pretende dedicar “todos os esforços na fomentação do profissionalismo dos residentes, com a ajuda de técnicos de fora”, e sublinha que há quadros locais a trabalhar no projecto. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais vai ainda ter critérios rigorosos na aprovação dos pedidos de trabalhadores não residentes de modo a garantir a prioridade da mão-de-obra local, afirmou.
O GIT revelou também que tem vindo a desenvolver um conjunto de actividades ligadas à formação em cooperação com entidades profissionais e académicas. Paralelamente, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude tem organizado visitas de grupos de jovens ao exterior para que possam ter contacto com outros sistemas ferroviários e, desta forma, adquirirem competências para serem adaptadas à realidade local. V.N./ S.M.M.
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Comité Olímpico MANUEL SILVÉRIO ENTENDE QUE MACAU AINDA NÃO DESISTIU
CONDOMÍNIOS CONSELHO ANALISOU MUDANÇAS NA PROPOSTA DE LEI to revisto da proposta de lei”. O encontro serviu para a troca de opiniões sobre o “regime de ambulatoriedade dos encargos de condomínio, a afixação de tabuletas ou reclamos e as respectivas disposições transitórias”, bem como a “intervenção adequada do Instituto de Habitação”. O mesmo comunicado aponta que as alterações surgiram por ser necessário ter “uma consideração plena sobre a realidade de Macau” e para evitar “que novos problemas surjam com a alteração da lei”. Apesar da 21ª reunião do conselho consultivo ter sido realizada na passada sexta-feira, só ontem é que o comunicado em português ficou disponível para consulta.
MOBILIDADE LAM HEONG SANG PEDE PLANO PEDONAL
O
deputado Lam Heong Sang quer saber o que tem sido feito para promover a mobilidade pedonal em Macau. Em interpelação oral, o deputado questiona o Executivo quanto às medidas concretas que pretende implementar de modo a facilitar a circulação de peões no território. O tribuno recorre ao relatório da revisão intercalar da política geral do trânsito e transportes terrestres de Macau (2010-2020) onde se lê que “a península de Macau tem uma área pequena e uma densidade elevada, características ambientais e dimensionais propícias ao desenvolvimento de um sistema pedonal”. No entanto, para Lam Heong Sang, o Governo carece da execução de um planeamento ponderado e abrangente, pelo que “os residentes e os turistas não podem usufruir de transportes públicos e de um sistema pedonal convenientes e facilitadores”. Os transportes públicos são também alvo de críticas por parte do deputado, que quer ver o sistema melhorado. “Actualmente, viajam diariamente de autocarro quase 600 mil pessoas, mas os cidadãos querem que seja exigido às operadoras o aumento da frequência e da cobertura das carreiras”. Ainda no que respeita às deslocações no território, Lam Heong Sang quer saber “de que medidas concretas e viáveis dispõe o Governo para resolver as dificuldades de estacionamento e como é que os proprietários de veículos poderão colaborar na implementação das mesmas”. Vitor Ng (revisto por S.M.M.)
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A espera do podio `
O Chefe do Executivo disse ontem que Macau “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar” o Comité Olímpico Internacional. Manuel Silvério, antigo presidente do Instituto do Desporto, afirma que não se trata de uma desistência. E diz que o processo não deve ser suspenso as coisas como Hong Kong fez e somos nós próprios que estamos a recusar um direito que é nosso”, acrescentou.
GCS
O
Conselho Consultivo da Reforma Jurídica analisou as últimas alterações à proposta de lei intitulada “Regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio”, que foi aprovada na generalidade em Outubro de 2015 pelos deputados da Assembleia Legislativa e está ainda em processo de análise na especialidade. Apesar do longo período de análise, o Governo não apontou ainda uma data para a conclusão. Segundo um comunicado oficial, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, que preside à comissão, disse esperar que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça possa “proceder à análise e estudo das opiniões do conselho consultivo o mais rapidamente possível, a fim de entregar o tex-
POLÍTICA
AS TAIS DECLARAÇÕES
C
ORRIA o ano de 1989 quando Macau escreveu uma carta de intenções a pedir para integrar o Comité Olímpico Internacional (COI), processo que continua pendente por não ser um país, apesar da mudança de estatutos da organização em 1997. Hong Kong faz parte do COI desde 1951. Ontem, no âmbito de um encontro com Gou Zhongwen, director da Administração Geral do Desporto e presidente do Comité Olímpico da China, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, disse que Macau “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar o Comité Internacional, apesar das alterações introduzidas nas regras do COI”. Ao HM, Manuel Silvério, ex-presidente do Instituto do Desporto (ID) que acompanhou o processo de tentativa de adesão ao COI até 2008, ano em que se reformou, não está em causa uma desistência por parte da RAEM.
“Analiso esta declaração não como uma desistência, mas como uma grande esperança de ser a República Popular da China a apoiar, a levantar e a forçar o processo. Se não tiver vontade política, de certeza que o Chefe do Executivo sabe que não pode forçar, nem trabalhar nesse sentido.” Manuel Silvério considera que, segundo a Lei Básica, Macau tem direito a pertencer ao COI, se colocar a designação “Macau, China”, “tal como o que aconteceu com Hong Kong”, apontou. Apesar disso, o impasse persiste. “Todos os dirigentes do COI admitem que o pedido de Macau é diferente dos
outros. Não devem castigar Macau por uma decisão tardia e adiada pelo próprio COI [sobre a mudança dos estatutos].” Manuel Silvério diz não conseguir explicar porque é que este processo ainda não ficou concluído. “Não devo ser eu a responder a isso, e julgo que os actuais dirigentes do Comité Olímpico de Macau também não saberão responder ou nem têm coragem para responder.” “Como pessoa ligada ao desporto e residente digo que, se Macau desistir, e se as pessoas pensarem em não levar para a frente essa luta, não estamos a fazer as coisas de acordo com a Lei Básica, não estamos a fazer
“Analiso esta declaração não como uma desistência, mas como uma grande esperança de ser a República Popular da China a apoiar, a levantar e a forçar o processo.” MANUEL SILVÉRIO ANTIGO PRESIDENTE DO INSTITUTO DO DESPORTO
Manuel Silvério recorda o passado para ir buscar palavras de Chui Sai On, na Assembleia Legislativa, acerca da adesão da RAEM ao COI. “A única pessoa que disse, publicamente, e na Assembleia, foi o actual Chefe do Executivo, de que Macau não estaria interessado. Para mim ele está a tentar rectificar o que afirmou há uns anos.” O ex-presidente do ID garante que a China sempre apoiou uma adesão de Macau ao COI. “Pelo que sei, a RPC e o Comité Olímpico da China sempre apoiaram esse desiderato de Macau. Nunca, nem formalmente nem informalmente, a China falou dos inconvenientes dessa afiliação. Nenhum dirigente, nem o actual nem os anteriores, mostraram que a China não quer que Macau participe.” A adesão esteve prestes a ser uma realidade há dez anos, mas Manuel Silvério não adianta quais foram os entraves que evitaram que isso acontecesse. “Há uns anos, em 2007, faltava apenas um passo para Macau entrar no COI. Nessa altura, o presidente do COI visitou Macau e assistiu à abertura dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto.” No encontro com Gou Zhongwen, Chui Sai On referiu ainda que o facto de Macau ser membro da direcção do Conselho Olímpico da Ásia (COA) permitiu “desenvolver as modalidades desportivas em alta competição, sendo também um enorme incentivo para os atletas locais”. Andreia Sofia Silva
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Anúncio (40/2017)
ANÚNCIO 【N.º47/2017】
Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código de Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se, por este meio, Mário Paulo da Silva Duarte Duque, do sexo masculino, titular do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 122xxxxx, beneficiário do Plano de Crédito sem Juros para Reparação de Edifícios com os boletins de candidatura números: 20200900051, 20200990051, 20201100027, 20201100028, 20201190027 e 20201190028, do facto de não haver qualquer registo de pagamento do reembolso do crédito, desde Janeiro de 2016 até ao presente, pelo que, de acordo com a deliberação tomada, no dia 28 de Julho de 2016, na Reunião n.º 16/2016 do Conselho Administrativo do Fundo de Reparação Predial, nos termos da alínea 4) do n.º 1 e n.º 2 do artigo 16.º do Regulamento do Plano de Crédito sem Juro para Reparação de Edifícios, foi cancelada a concessão do respectivo crédito, solicitando-se ao beneficiário em causa a restituição do crédito em dívida. Pelo exposto, o beneficiário Mário Paulo da Silva Duarte Duque, deve restituir o crédito em dívida, no total de vinte e uma mil, cento e trinta e oito patacas (MOP 21 138,00), no prazo de 30 dias a contar da data da publicação deste anúncio. Caso não restitua o crédito em dívida dentro do prazo referido, haverá lugar a cobrança coerciva através da Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças, nos termos do artigo 19.º do regulamento acima referido. Em caso de dúvidas, poderá dirigir-se, durante as horas de expediente, à Delegação das Ilhas do Instituto de Habitação, sita na Rua de Zhanjiang, n.os 66-68, Edifício do Lago, 1.º andar D, Taipa, ou contactar a Divisão de Apoio à Administração de Edifícios, através do telefone n.º 2850 0370. Publique-se Instituto de Habitação, aos 2 de Março de 2017.
Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar o representante do agregado familiar da lista de candidatos a habitação social abaixo indicado, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro: Nome
N.º do boletim de candidatura
LOU CHI KIN
31201301787
De acordo com o n.º 2 do artigo 9.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe Executivo n.º 296/2009, alterado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 141/2012, para nova verificação, se o candidato preenche os requisitos de candidatura ao arrendamento de habitação social, o Instituto de Habitação (IH) informou-o por meio de ofício, para que seja entregue os documentos indicados no prazo fixado, mas o interessado acima referido não entregou os documentos dentro do prazo fixado, pelo que não reúne nos termos do n.º 3 do artigo 9.º do mesmo regulamento. De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, deve apresentar, por escrito, a sua contestação e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou as demais provas, no prazo de 10 (dez) dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Caso não apresentar a contestação no prazo fixado ou a mesma não for aceite pelo IH, a respectiva candidaturas será excluída da lista geral de espera por IH, nos termos dos artigo 5.º, n.º 3 do artigo 9.º e alínea 1) do artigo 11.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe Executivo n.º 296/2009. No caso de dúvida, poderá dirigir-se ao IH, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar Sr. Sou, através o tel. n.º 2859 4875 (ext. 277), para consulta do processo. Instituto de Habitação, aos 3 de Março de 2017.
O Presidente, Arnaldo Santos
O Presidente, Arnaldo Santos
7 hoje macau terça-feira 7.3.2017
Há menos gente a viver hoje no território. Com a conclusão dos resorts no Cotai, muitos trabalhadores ligados à construção fizeram as malas e regressaram a casa. No ano passado, nasceram mais crianças, mas registaram-se também mais mortes. E a população está a envelhecer há duas décadas
M
ACAU tinha 644.900 pessoas no final do ano passado, menos 1900 em relação a 2015. Trata-se da primeira queda desde 2009 e deve-se, de acordo com os Serviços de Estatística e Censos, à diminuição do número dos trabalhadores não residentes. Os dados revelados agora demonstram que, à entrada em 2017, a maioria da população – 52,6 por cento – era do sexo feminino. Em relação a 2015, verificou-se um aumento de 0,8 pontos percen-
A
“Dress a Girl Around the World” é a campanha que pretende vestir e proteger crianças carenciadas e mais vulneráveis a abusos. A iniciativa integra o programa da organização não-governamental Hope 4 Women e começa a dar os primeiros passos em Macau, pelas mãos de Ana Cristina Vilas. “Passa pelo território porque sou uma curiosa e tento fazer coisas à mão, como é o caso da costura. Como conheço este projecto que, no ano passado, também teve início em Portugal, resolvi avançar em Macau”, explicou a responsável ao HM. A ideia é a realização de peças de vestuário para meninas a partir do ano de idade e até aos 14. Desta vez o objectivo não é, “como o habitual”, levar as peças feitas para África, mas sim
Demografia POPULAÇÃO NÃO DIMINUÍA DESDE 2009
Agora somos menos tuais na população. As pessoas com idade igual ou superior a 65 anos representavam 9,8 por cento da população total. A população adulta, entre os 15 e os 64 anos, equivalia a 77,7 por cento, tendo diminuído 1,4 pontos percentuais. O índice de envelhecimento foi de 78,9 por cento, o que representa uma subida de 3,3 pontos percentuais. Este índice aumentou durante 20 anos consecutivos o que, assinalam as Estatísticas, significa que a população tem envelhecido continuamente. Em 2016, o número de nados-vivos totalizou 7146, mais 91 face ao ano 2015. A taxa de natalidade situou-se em 11 por cento, sendo idêntica à do ano anterior. Nasceram mais rapazes do que raparigas, com uma relação de 109,4 bebés do sexo masculino para 100 nados-vivos femininos. Quanto aos óbitos, morreram 2248 pessoas, mais 246 em termos anuais. Destes óbitos, 56,7 por cento eram do sexo masculino. O número de mortes devido a tumores malignos (815) foi o mais elevado, correspondendo a 36,3 por cento do total, mais 0,1 pontos percentuais relativamente ao ano de 2015. Os números de mortes devido a pneumonia e gripe (296) e a doenças hipertensivas (187) representaram 13,2 por cento e 8,3 por cento, respectivamente, tendo ambos
644.900 pessoas viviam em Macau no final do ano passado
Vestir para proteger
Macau junta-se a projecto destinado a crianças carenciadas
fazer com que cheguem às populações mais carenciadas do continente asiático. A questão da entrega na Ásia está ligada à própria situação
geográfica do território e, “se calhar, África é o alvo de grande parte das organizações ao nível mundial por ser um continente com mais proble-
mas conhecidos”. No entanto, a Ásia também precisa de ajuda: “Tanto o Camboja, como as Filipinas são identificados como países carenciados, de
SOCIEDADE
aumentado 0,5 pontos percentuais na comparação anual.
MÚTUO CONSENTIMENTO
No que toca aos trabalhadores não residentes, eram 177.638 no final de 2016 – menos 4008 pessoas. Os Serviços de Estatística e Censos salientam que a maior queda, superior a 20 por cento, verificou-se no sector da construção (menos 8868), devido à conclusão de empreendimentos de entretenimento de grande envergadura. Havia 6327 imigrantes chineses, tendo-se registado aqui também um decréscimo de 2141 face a 2015. A maioria destes imigrantes – 4876 – era proveniente da província de Guangdong. Também aqui o sexo feminino está em maioria, com as mulheres a representarem 60,9 por cento do total. Foram autorizados a residir em Macau 1447 indivíduos, menos 337 do que em 2015. Para a China Continental foram repatriados 1290 imigrantes chineses ilegais, menos 488 indivíduos em relação ao ano anterior. Noutros dados, as Estatísticas explicam que foram contraídos 3891 matrimónios, mais 172. A mediana de idade do primeiro casamento foi de 28,7 anos para os homens e de 27,3 anos para as mulheres, mais 0,3 e 0,4 anos, respectivamente, em termos anuais. Quanto aos divórcios, registaram-se 1245 divórcios, um aumento de 77 na comparação com 2015. Quase 92 por cento dos casais se divorciaram por mútuo consentimento. No final de 2016, o número de agregados familiares era de 189.200, tendo caído 3500. HM
risco para os menores, e são locais onde já foram feitas campanhas da ‘Dress a Girl Around the World’”.
MENINAS SALVAGUARDADAS
Cada vestido é acompanhado de uma peça de roupa interior etiquetada com a marca da organização. A ideia é “marcar estas crianças como estando protegidas e prevenir crimes praticados contra menores, que vão desde a violação ao tráfico humano”. A equipa de Macau ainda está no início, mas já se começa a organizar. O espaço para a confecção das peças será cedido pela Casa de Portugal, onde Ana Cristina Vilas costuma fazer workshops. A responsável está neste momento a angariar tecidos para fazer kits e Abril é o mês pensado para o primeiro
evento de costura solidária. “Numa primeira fase, vou contar com as pessoas que já conheço, que têm as suas máquinas de costura, e o meu papel será o de acompanhamento”, diz Ana Cristina Vilas. Os kits permitem facilitar a tarefa dos interessados e são compostos por tecidos já cortados em moldes e distribuídos segundo idades. “Os interessados só têm de aparecer na iniciativa. É uma questão de lá chegarem, coserem e porem a fita que identifica a origem da peça.” O destino dos vestidos ainda está longe no tempo e muito possivelmente só “lá para o final do ano é que as peças chegarão às crianças”. Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
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hoje macau terรงa-feira 7.3.2017
9 hoje macau terça-feira 7.3.2017
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Agnes Lam recorda que o Governo não explicou a ligação entre os aumentos e a política geral de trânsito, tendo sugerido que seja criada uma comissão para discutir os aumentos das tarifas Kou Kun Pang pensa que o aumento é compreensível, alertando, contudo, para os poucos lugares vagos em alturas de maior movimento de pessoas em Macau. Este responsável pede, por isso, que os cidadãos tenham mais paciência, uma vez que a construção de parques de estacionamento públicos está dependente da existência de terrenos disponíveis.
É DIFÍCIL
Song Pek Kei, deputada, lembrou que, em Janeiro, o Governo aumentou de “forma exagerada” as taxas de veículos, sendo que uma subida das tarifas cobradas nos parquímetros, apenas três meses
Parquímetros AUMENTOS NÃO CHOCAM, MAS SÃO DEIXADOS AVISOS
Meu rico porta-moedas Várias figuras públicas dizem aceitar o futuro aumento dos valores cobrados nos parquímetros. A deputada Song Pek Kei aponta, contudo, que será difícil os cidadãos acatarem a decisão após a actualização das taxas dos veículos HOJE MACAU
A última reunião do Conselho Consultivo do Trânsito saiu a novidade de que as tarifas dos parquímetros serão actualizadas gradualmente, uma vez que não se registam aumentos há cerca de 30 anos. Opiniões recolhidas pela imprensa chinesa indicam uma aceitação generalizada desses aumentos. Kou Kun Pang, membro do Conselho, afirma concordar com a medida, acreditando que os aumentos podem fomentar a utilização dos parques de estacionamento, uma vez que os preços dos parquímetros passarão a estar próximos dos que são cobrados nos auto-silos. Na visão deste membro do Conselho Consultivo do Trânsito, quando os valores dos parquímetros e parques de estacionamento forem semelhantes, os condutores deixam de correr o risco de terem carros bloqueados constantemente, pela via da utilização dos auto-silos, o que pode reduzir o trânsito nas ruas.
SOCIEDADE
após a implementação da polémica medida, será difícil de aceitar por parte dos cidadãos. A deputada revelou estar preocupada com a possibilidade dos valores cobrados nos auto-silos poderem crescer também em consonância com as actualizações dos parquímetros. Song Pek Kei pretende saber se o Governo fez uma avaliação dos potenciais efeitos negativos da medida. A número três da bancada de Chan Meng Kam na Assembleia Legislativa concede que a actualização dos valores pode contribuir
mento dos veículos, pois tal só vai colocar maior pressão junto dos residentes. Por isso, deve ser feita uma maior aposta nos transportes públicos, tendo Hoi Long Tong pedido ao Governo que faça um planeamento para os próximos cinco a dez anos, que deve conter informações sobre tarifas, multas e serviços disponíveis.
UM PERÍODO “NEGRO”
para o controlo do aumento do número de veículos, uma vez que, gradualmente, mais pessoas vão usar transportes públicos, por serem mais baratos. Song Pek Kei não deixa, porém, de avisar que poderão surgir nas estradas mais motociclos, por exigirem menos custos. Hoi Long Tong, membro da Comissão Consultiva dos Serviços Comunitários da Zona Norte, também concorda com o aumento dos valores cobrados nos parquímetros. Contudo, entende que se o Governo quer implementar essa medida deve reduzir os valores
a pagar nos parques de estacionamento, para que os cidadãos possam aceitar a mudança. No programa de antena aberta do canal chinês da Rádio Macau, o membro da Comissão disse que os lugares de parquímetro destinam-se a quem necessita de estacionar por um curto período, por isso, os preços devem ser superiores aos que se praticam nos auto-silos públicos, por forma a encorajar as pessoas a estacionarem nos parques. Ainda assim, Hoi Long Tong acrescentou que o Governo não deve apenas recorrer a medidas económicas para controlar o au-
Agnes Lam, presidente da Associação Energia Cívica, considera que Macau está a enfrentar um “período negro do trânsito”, uma vez que o metro ligeiro não está concluído e persistem os problemas com o sistema de transportes públicos. Este cenário leva os cidadãos a recorrerem aos veículos particulares. A também docente da Universidade de Macau concorda com os aumentos, referindo que podem ajudar a diminuir o fluxo de veículos nas estradas, mas lembra que não são suficientes para resolver os problemas de trânsito e circulação. Agnes Lam recorda que o Governo não explicou a ligação entre os aumentos e a política geral de trânsito, tendo sugerido que seja criada uma comissão para discutir os aumentos das tarifas. Lam U Tou, responsável daAssociação Sinergia Macau, lembrou que as autoridades têm implementado aumentos de forma rápida, o que tem originado queixas. Para Lam U Tou, os aumentos deveriam ser implementados de forma gradual. Victor Ng (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
TABACO E JÁ LÁ VÃO MAIS DE 1200 MULTAS
M
AIS de 1250 pessoas foram multadas nos primeiros dois meses do ano por fumarem em locais proibidos em Macau, informaram ontem os Serviços de Saúde. Desde a entrada em vigor da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo, a 1 de Janeiro de 2012, foram
registadas 1.343.349 inspecções, numa média de 712 por dia, das quais resultaram 39.199 acusações. Entre as 1252 infracções registadas em Janeiro e Fevereiro, 1248 correspondem a casos de pessoas detectadas a fumar em locais proibidos e quatro casos de
ilegalidades nos rótulos dos produtos de tabaco. A maioria dos infractores era do sexo masculino (94 por cento) e residente de Macau (57,7 por cento). Um terço (36 por cento) era turista e 6,3 por cento eram trabalhadores não residentes. Os parques e jardins foram os locais com mais
infracções (248 casos ou 19,8 por cento), seguidos dos cibercafés (155 casos ou 12,4 por cento). Nos casinos, onde houve 92 inspecções desde 1 de Janeiro, foram multadas 71 pessoas, a maioria turistas (58 ou 81,7 por cento).
10 Cartaz APRESENTADO O PROGRAMA DO FESTIVAL DE ARTES DE MACAU
Um tufão em Patuá
Macau está em ebulição com eventos culturais a preencher o calendário do público. Foi ontem apresentado o cartaz do 28.º Festival de Artes de Macau, que começa a 28 de Abril, e que encherá a cidade de espectáculos até 31 de Maio
Dóci Papiáçam di Macau volta ao FAM
S
“
ÓRTI na téra di tufám” é o título da peça que a companhia de teatro que usa o dialecto tradicional patuá como veículo traz aos palcos do Festival deArtes de Macau (FAM). A narrativa, entre a sorte e o azar, gira em torno de Bernardo, um afortunado azarado.Apersonagem ganha uma lotaria de Hong Kong, mas fica impedido de levantar o prémio por um tufão que o separa da riqueza. Independentemente da catástrofe natural, o público pode contar com a habitual oportunidade para gargalhada oferecida pelo grupo de teatro. “Muito humor, muito sarcasmo e crítica social”, promete Miguel de Senna Fernandes, encenador e autor da peça. Num contexto de comédia, as peças do grupo de teatro apresentam o estilo de vida de Macau, numa postura de reflexão social em tom jocoso. Apeça estará patente, apenas, no FAM nos dias 19 e 20 de Maio no grande auditório do Centro Cultural de Macau. Isto “porque não há condições para outras alternativas, tudo o que seja fora do âmbito do festival implica aluguer de recinto, custos elevados”, diz o encenador. Miguel de Senna Fernandes promete levar ao palco um espectáculo com as características a que o público está habituado. Como tal, há lugar também para a exibição
dos habituais vídeos que a companhia apresenta, plenos de crítica social, “para entreter o pessoal”. Para o encenador, este ano estão reunidas as condições para as gargalhadas se espalharem pela plateia. Nesse capítulo, o encenador sabe que o público é o último juiz da qualidade da peça, do trabalho feito pela companhia, sendo que o riso é o reflexo honesto da receptividade ao espectáculo. Para tornar a peça inteligível, uma vez que é interpretada numa língua pouco usada, o encenador revela que suavizou um bocado a língua. Neste caso, Senna Fernandes apoia-se na linguagem universal da comédia. “Usamos muita linguagem corporal e usamos as pausas para colmatar a falta de conhecimento do patuá”, releva. Mas não há razões para preocupações em falhar os punchlines, uma vez que a peça será, como é norma, legendada. A presença do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau é uma presença habitual no FAM. “A minha sina é escrever e encenar uma peça por ano, para o festival”, brinca Miguel de Senna Fernandes. Além de ser uma afirmação da cultura local, esta é uma questão de sobrevivência de uma língua em vias de extinção, mas que não desiste. A mensagem é: “Estamos aqui, estamos vivos e estamos a fazer pessoas rir”. J.L.
O
MÚSICA AZEITONAS PELA PRIMEIRA VEZ EM MACAU
Os Azeitonas estreiam-se no território num concerto a ter lugar no Centro Cultural de Macau. O evento está agendado para o dia 19 do próximo mês, pelas 20h, e faz parte das comemorações do 25 de Abril promovidas pela Casa de Portugal. Oriundos do Porto, os Azeitonas juntaram-se em 2002 e são constituídos por Mário Marlon Brandão e Luísa Nena Barbosa, nas vozes, e João Salsa Salcedo, no teclado. Dos singles mais conhecidos constam “Quem És Tu Miúda”, “Anda Comigo Ver os Aviões”, “Café Hollywood”, “Ray-Dee-Oh” e “Tonto por Ti”. A banda nortenha conta já com cinco álbuns. Os bilhetes, com custo de 150 patacas, vão estar à venda a partir do dia 20.
Festival de Artes de Macau (FAM) já mexe. Foi ontem apresentada a programação do evento que terá mais de 100 actividades, da música à dança contemporânea, passando por diversas variantes de teatro. A edição deste ano tem um orçamento mais modesto: são 23 milhões de patacas. “Fizemos o planeamento mais cedo, alguns dos projectos são financiados pelo Governo e por isso pudemos reduzir o orçamento”, revelou Leung Hio Ming, presidente do Instituto Cultural (IC). O investimento no festival teve uma poupança de cerca de quatro milhões de patacas em relação ao ano passado. De acordo com Leung Hio Ming, tal redução de orçamento “não vai afectar a qualidade dos espectáculos”. O tema transversal à programação do FAM é a “Heterotopia”, uma ideia baseada na heterogeneidade do espaço que se reflecte num caleidoscópio de textos, imagens, histórias e música. O festival abre com o espectáculo “Play and Play: An Evening of Movement and Music”, que é uma reinterpretação de clássicos de Schubert e Ravel pela internacionalmente aclamada companhia de dança moderna norte-americana Bill T. Jones/Arnie Zane. A mesma companhia apresenta ainda a representação de “Aletter to my nephew”. Escrito pelo coreógrafo Bill T. Jones, o espectáculo é baseado numa carta imaginada ao sobrinho enquanto este repousa numa cama de hospital. Esta história é contada através
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA O LEITOR DE CADÁVERES • Antonio Garrido
Na antiga China, só os juízes mais sagazes atingiam o cobiçado título de «leitores de cadáveres», uma elite de legistas encarregados de punir todos os crimes, por mais irresolúveis que parecessem. Cí Song foi o primeiro. Inspirado numa personagem real, “O Leitor de Cadáveres” conta a história fascinante de um jovem de origem humilde que, com paixão e determinação, passa de coveiro nos Campos da Morte de Lin’an a discípulo da prestigiada Academia Ming. Aí, invejado pelos seus métodos pioneiros e perseguido pela justiça, desperta a curiosidade do próprio imperador, que o convoca para investigar os crimes atrozes que ameaçam aniquilar a corte imperial. Um thriller histórico absorvente, minuciosamente documentado, onde a ambição e o ódio andam de mãos dadas com o amor e a morte, na exótica e faustosa China medieval.
FERNANDO GUERRA
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CARTAS DE CASANOVA • António Mega Ferreira
No verão de 1757, o aventureiro Giacomo Casanova, que se evadira pouco antes da prisão dos Piombi, em Veneza, desembarca em Lisboa. O espectáculo das ruínas provocadas pelo terramoto ultrapassa tudo aquilo que ele podia imaginar. Durante seis semanas, Casanova faz os possíveis por entender os portugueses: como é possível que a vida dos habitantes da cidade se tenha acomodado a uma tal desorganização? Conhece o comerciante Ratton e o conde de S. Lourenço, o livreiro Reycend e o marquês de Alegrete, o poeta Correia Garção e a condessa de Pombeiro. E até se encontra com o misterioso marquês de X. Chega finalmente à fala com Sebastião José de Carvalho e Melo, ainda não Oeiras, ainda não Pombal, a quem tenta vender o projeto de uma lotaria real. Exaspera-se e diverte-se, seduz e perde ao jogo, e encontra tempo para escrever seis cartas a cinco personagens importantes da sua vida. «Rien ne pourra faire que je ne me sois amusé» é a divisa que o guia. Mesmo em Lisboa. Mesmo depois do Grande Terramoto.
11 hoje macau terça-feira 7.3.2017
EVENTOS
HAM OS PROXIMOS ´
PAULB.GOODE PIOTR JARUGA
Trabalhos de Alexandre Farto (Vihls)
de misturas delirantes de música pop e canções de embalar que dão a paisagem ao bailado. Em ambos os espectáculos, a dança contemporânea é acompanhada por dois quartetos de cordas que emprestam som ao menu de movimentos aleatórios dos bailarinos.
EM CENA
A encerrar o festival, o público terá um clássico do teatro
Hu(r)mano
russo: “A Gaivota”, de Anton Chekhov, encenado pela companhia islandesa Teatro da Cidade de Reiquejavique. A celebrar os 110 do teatro chinês, o Teatro de Arte Popular de Shaanxi apresenta ao público de Macau uma produção realista do afamado clássico “Feudos nas Terras do Oeste”. A peça é um épico de guerra que retrata uma acérrima luta por território entre
duas famílias, com um amor proibido pelo meio, um pouco ao estilo de Romeu e Julieta. Ainda na área do teatro, destaque para a produção da local Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra, que levará a cena a peça “Canções de Migrantes”, que dará a conhecer memórias de migrantes locais. Este espectáculo aborda uma questão fulcral na história de Macau
e é o primeiro de uma trilogia de espectáculos com direcção de Jenny Mok. Fazendo uma incursão pela cultura portuguesa, o FAM deste ano conta com um bailado do emergente coreógrafo Marco da Silva Ferreira. O português traz a Macau os espectáculos “Hu(r)mano”, onde propõe uma aventura através da expressão corporal que representa a relação
ARTE EM FAMÍLIA
O programa do FAM alarga-se numa multitude de espaços de imaginação artística com “palestras, masterclasses, workshops, conversas com artistas, sessões para estudantes, crítica artística e projecção de filmes”, revela Leung Hio Ming. O espectáculo “Rusty Nails e outros heróis” é dirigido a um público de todas as idades. Fazendo uso de diferentes materiais e meios de expressão, a peça de teatro da companhia holandesa TAMTAM objektenteather apresenta uma história sem usar palavras. O espectáculo vive da interacção de objectos de dia-a-dia com a música, numa mistura que promete mergulhar o público num mundo de fantasia. Durante a Mostra de Espectáculos ao Ar Livre, destaque para um musical infantil intitulado “Metamorfose sobre a noite estrelada, uma adaptação da Associação de Artes Pequena Montanha. A peça pensada para deslumbrar a pequenada é um teatro de marionetas onde contracenam uma lagarta e uma couve. Com uma abordagem mais tradicionalista, a programação do FAM oferece aos público a possibilidade de assistir à
PHILIP HABIB
Play and Play Story
entre o indivíduo e a urbe. Neste espectáculo sobem ao palco quatro bailarinos, que interagem de forma a reflectir a realidade urbana moderna. Como já tinha sido tornado público, também o artista Vhils, Alexandre Farto, vai fazer parte do cartaz, com uma exposição que vai além das intervenções que, por norma, faz em espaços públicos. Também dentro da dança moderna, o FAM propõe a ousada obra “Aneckxander: uma autobiografia trágica do corpo”, do coreógrafo Alexander Vantournhout. O espectáculo a solo equilibra-se entre a comédia e a tragédia, misturando acrobacia, linguagem corporal, num reexame da fisicalidade e do corpo humano.
Bill T Jones
ópera tradicional chinesa “A lenda da senhora general”. O espectáculo é interpretado pelo Grupo Juvenil de Ópera Cantonense dos Kaifong de Macau. Na mesma onda da ópera tradicional chinesa, chega-nos a adaptação abreviada do clássico “Senhora Anguo”, interpretada pela companhia de Teatro Nacional de Ópera de Pequim.
O evento terá mais de 100 actividades, da música à dança contemporânea, passando por diversas variantes de teatro Variedade é uma das tónicas da edição 2017 do FAM. “Esta edição engloba 25 espectáculos e exposições de arte extraordinárias, aliados ainda a um programa de extensão que inclui, não só, produções de renome internacional, grandes obras do Interior da China e produções locais de alta qualidade”, explicou o presidente do IC na apresentação do programa. Aos interessados que queiram beneficiar de um desconto de 30 por cento aconselha-se que estejam atentos. A partir de domingo, até dia 19 de Março, o público pode comprar bilhetes a preços reduzidos. E assim arranca mais um evento cultural de alto fôlego em Macau. João Luz
info@hojemacau.com.mo
12 EVENTOS
hoje macau terça-feira 7.3.2017
JUSTIÇA JOÃO MIGUEL BARROS APRESENTA LIVRO NO PORTO
É
lançada na próxima quinta-feira, no Porto, a segunda edição do livro Sistema Judiciário Anotado, da autoria do advogado de Macau João Miguel Barros. A apresentação acontece no Conselho Regional do Porto da Ordem dos Advogados e serve de pretexto para a realização de um seminário em que se vai discutir o presente e o futuro do sistema judiciário português.
A iniciativa conta com a participação deAntónio Pedro Barbas Homem, professor catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa, Fernando Jorge, presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, José Mouraz Lopes,
juiz conselheiro do Tribunal de Contas, e Rui Cardoso, procurador-adjunto. Ao HM, João Miguel Barros – coordenador do grupo de trabalho que deu origem à Lei de Organização do Sistema Judiciário – refere que, à data em que exerceu funções no Ministério da Justiça de Portugal, vários dos oradores estavam envolvidos na discussão da lei, por serem representantes das diferentes
profissões judiciárias a que o diploma diz respeito. Além das reuniões mantidas na altura, estiveram juntos num seminário ainda antes da publicação da lei, pelo que a iniciativa da Ordem dos Advogados é um “desafio interessante” para os intervenientes: cinco anos depois, vão olhar para o que entretanto aconteceu e reflectir sobre o futuro possível do sistema judiciário. I.C.
ROTA DAS LETRAS ABRAÃO VICENTE FALA DOS ESCRITORES DE CABO VERDE
O festival literário Rota das Letras é hoje marcado pela sessão “Cabo Verde, uma nação de escritores”, a cargo do ministro da Cultura e das Indústrias criativas daquele país, Abraão Vicente. O evento tem lugar às 18h no edifício do antigo tribunal e dá voz ao sociólogo de formação, também pintor e fotógrafo autodidacta. Abraão Vicente foi ainda jornalista e cronista no jornal A Nação. Enquanto escritor, é autor do romance “O Trampolim” e dos livros de poesia “E de Repente a Noite” e “Amar 100 Medo”. O dia é preenchido ainda com a secção “Rota das escolas”, que leva o ilustrador de banda desenhada Dick Ng à Escola Xinhua, às 9h, e João Morgado, Natália Borges e Raquel Ochoa a conversar com os alunos da Escola Portuguesa, às 9h30. Ainda na vertente pedagógica, o escritor e cronista português, Pedro Mexia, vai falar no Instituto Politécnico de Macau, pelas 18h.
Livros BALANÇO DA PARTICIPAÇÃO DE MACAU NO CORRENTES D’ESCRITAS
A compreensão que falta Não podia ter corrido melhor a primeira presença de Macau no principal festival literário português. O balanço é feito por Rogério Beltrão Coelho, editor, homem que há muito luta pela visibilidade da literatura do território. Para que se possa ir mais longe, é importante que as instituições percebam a importância de estar lá fora
“M
ONTADAS nas línguas, as palavras viajaram. Atravessaram mares, lentamente, uma língua de cada vez; hoje desembarcam instantâneas, todas ao mesmo tempo. (...) A nossa língua, as nossas palavras, são por ali essa espuma. São palavras exiladas que subsistem nas vozes internas, pouco se fazem ouvir; há um ruído contínuo que urge traduzir, compreender.”
As palavras são de Carlos Morais José e foram deixadas no Correntes d’Escritas, o festival literário da Póvoa do Varzim que decorreu no final do mês passado e que teve, pela primeira vez este ano, a participação de um autor de Macau. Morais José levou a Portugal o romance “O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja”, uma obra lançada pela Livros do Oriente, de Rogério Beltrão Coelho e Cecília Jorge.
Para Beltrão Coelho que, nos últimos tempos, tem dinamizado a Associação Amigos do Livro em Macau, a presença do território no festival literário mais relevante de Portugal foi “extremamente importante”, o que, “aliás, foi salientado no discurso de inauguração pelo Presidente da República”. “Deu-se a conhecer aos escritores e ao público que existe uma literatura em Macau, uma literatura pujante e com um representante que, no meio
daquela mesa, foi um dos mais aplaudidos e enaltecidos”, relata. A sequência deste tipo de participações estará sempre dependente de convites de quem organiza os eventos, mas para que, em Portugal, se fale mais dos livros de Macau é preciso investir em iniciativas, e é necessário “o apoio institucional e a compreensão institucional”, algo que, “infelizmente, não se nota”. “Parece que Macau não tem interesse em que, fora do território, se tenha uma imagem que vá para além do jogo, uma imagem cultural, da existência de uma literatura pujante e que interessa ao espaço de língua portuguesa”, lamenta o representante da associação. “Macau é muito longe e ali predomina a cultura chinesa. Mas existe, talvez surpreendentemente, uma literatura escrita em português”, contou Carlos Morais
“Parece que Macau não tem interesse em que, fora do território, se tenha uma imagem que vá para além do jogo, uma imagem cultural, da existência de uma literatura pujante.” ROGÉRIO BELTRÃO COELHO REPRESENTANTE DA ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO LIVRO EM MACAU José a quem o ouviu na Póvoa do Varzim, lembrando que se escreve do e no território desde os meados do século XVI até aos nossos dias. “Quer se queira quer não, quer se saiba ou não saiba, Macau ocupa um lugar singular na literatura portuguesa”, acrescentou o autor. Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
13 CHINA
hoje macau terça-feira 7.3.2017
GASTOS MILITARES COM MENOR AUMENTO DO ÚLTIMO QUARTO DE SÉCULO
Defesa abranda ritmo
A Li Keqiang
Respirar confiança Pequim diz que meta de crescimento de 6,5% “é alcançável”
O
Governo chinês defendeu ontem que o objectivo de alcançar um crescimento económico de 6,5% este ano “é alcançável”, confiando que os vários riscos para a economia podem ser atenuados. A meta consta no relatório do Governo, que foi apresentado pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, na abertura da sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP). “Temos confiança e resolução para o conseguir (…) Estamos confiantes que este ano, e especialmente com a reestruturação do lado da oferta, haverá melhores condições para atingir esse objectivo”, disse He Lifeng, director da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o principal órgão de planificação económica da China. Em 2016, a segunda economia mundial cresceu 6,7%, o ritmo mais lento desde 1990. He lembrou que, apesar do ritmo de crescimento do país asiático ter abrandado em termos percentuais, o país continua a gerar cada vez mais riqueza e é um dos principais motores da economia mundial. “Este ano, com o objectivo de 6,5% estamos a esforçar-nos para conseguir algo melhor”, disse He. “É necessário que consigamos manter essa velocidade de crescimento, porque a nossa população está a aproximar-se dos 1.400 milhões e o emprego
é um problema enorme”, acrescentou.
AO TRABALHO
O primeiro-ministro chinês anunciou no domingo que a China planeia criar 11 milhões de postos de trabalhos nas cidades este ano. He diz que oito milhões de empregos serão para profissionais com formação universitária. “Sem um crescimento com qualidade é difícil criar emprego. Com base na nossa experiência, chegamos à conclusão de que um ponto percentual de crescimento económico se traduz na criação de 1,7 milhões de postos de trabalho”, explicou. O responsável máximo pela planificação económica da China apostou em “abrir mais” a economia do país, continuar a reduzir o excesso de capacidade de produção e investir em inovação, para cumprir com a meta de crescimento. O sub-director da Comissão, Zhang Yong, reconheceu na mesma conferência de imprensa que o desenvolvimento económico do país tem pela frente “muitas dificuldades, contradições e desafios”. Zhang disse que alguns desses problemas estruturais são resultado da acumulação a longo prazo de uma alocação de recursos pouco eficiente, que resultou num excesso de capacidade de produção, e que existem “barreiras institucionais” e um mercado que “não é perfeito”.
China vai aumentar em sete por cento os gastos com a Defesa, este ano, para 151.000 milhões de dólares, o ritmo mais lento desde 1991, seguindo a tendência de desaceleração do crescimento económico. O orçamento para a Defesa é normalmente incluído nos documentos tornados públicos durante a abertura da sessão anual daAssembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo da China. Este ano, porém, Pequim ocultou o número exacto, suscitando preocupações sobre a transparência das despesas militares da China. Mas, segundo avançou ontem a agência Bloomberg, que cita um responsável do ministério das Finanças chinês, o orçamento da Defesa para 2017 vai fixar-se em 1.044 biliões de yuan (142.000 milhões de euros). O Governo não detalhou porque o número não foi divulgado na abertura da reunião da ANP, no domingo, como é habitual. “Não mantivemos o valor privado deliberadamente”, disse o funcionário do ministério, citado pela Bloomberg. Na semana passada, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou planos para aumentar os gastos com a defesa em cerca de dez porcento. O exército dos EUA continua a ser o mais poderoso
e com o maior orçamento do mundo, num valor superior 566.000 milhões de euros.
GANHAR TERRENO
A China tem vindo a modernizar as suas forças armadas, à medida que procura elevar a sua influência militar ao nível do seu poder económico e adopta uma postura assertiva em territórios cuja soberania disputa com países vizinhos. O orçamento da Defesa chinês registou aumentos de dois dígitos durante vários anos, até 2016, quando subiu 7,6%. Analistas consideram, porém, que os números oficiais são inferiores aos gastos reais. Um relatório do Pentágono difundido no ano passado indica que os gastos superam o valor oficial em dezenas de milhares de milhões de dólares. “A falta de transparência [da China] com a sua crescente capacidade militar e decisões estratégicas continuam a aumentar as tensões e levaram os países na região a reforçar os seus laços com os Estados Unidos”, indica o relatório. Fu Ying, a porta-voz da ANP, afirmou no sábado que os futuros gastos de Pequim com o exército vão depender das movimentações de Washington na Ásia. “Precisamos de nos proteger contra a interferência externa nas disputas territoriais”, disse.
Fu Ying, [porta-voz da ANP], lembrou que o poder militar chinês continua a ser modesto, face ao dos EUA, e que as preocupações com a força bélica do país são injustificadas. “A China nunca causou danos a ninguém, a nenhum país”
Nos últimos anos, o país asiático adoptou uma política assertiva no Mar do Sul da China, que inclui a construção de ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em arquipélagos disputados pelos países vizinhos. Os EUA acusam Pequim de ameaçar a liberdade de navegação na região, uma via marítima estratégica pela qual passa um terço do petróleo negociado internacionalmente, e enviam regularmente navios e aviões militares para as proximidades das ilhas. Fu Ying lembrou que o poder militar chinês continua a ser modesto, face ao dos EUA, e que as preocupações com a força bélica do país são injustificadas. “A China nunca causou danos a ninguém, a nenhum país”, disse.
PUB HM • 2ª VEZ • 7-3-17
ANÚNCIO Execução de Sentença sob a forma Sumária
CV1-14-0046-CAO-C
1º Juízo Cível
EXEQUENTE: MA CHI PIO, solteiro, maior, de nacionalidade chinesa, titular do BIRM e residente em Macau.---------------------------------------------------------------------------------------------EXECUTADOS: ------------------------------------------------------------------------------------------------1.-LEI CHING, casada, titular do BIR da R.P. China n.º5201021978xxxxxxxx; e-------------------2. CHEONG LIN YIN ou ZHANG LINGYAN, casado, titular do BIR da R.P. China n.º 5201031964xxxxxxxx;--------------------------------------------------------------------------------------ambos casados entre si no regime comunhão de adquiridos, com última residência conhecida na China Guizhou Sheng Guiyang Shi Xiao Shizi Fu Shui Huayuan Bloco C, 21º andar n.º5, ora ausentes em parte incerta;-------------------------------------------------------------------------------3. outros. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------*** ----FAZ-SE SABER que pelo 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base da R.A.E.M., correm éditos de TRINTA DIAS, contados da segunda e última publicação do anúncio, notificando a 1.ª executada e o 2.º executado acima identificados, para no prazo de DEZ DIAS, decorrido que seja os dos éditos, de que nos termos do art. 820º do CPCM, pode deduzir embargos de executada ou oposição à penhora, bem como requerer a substituição dos bens penhorados por outros de valor suficiente. Caso sejam deduzidos embargos, é obrigatória a constituição de advogado (artº. 74º C.P.C.M.).-------------------------------------------------------------------------------------------------------------Tudo como melhor consta do requerimento do exequente, cujo duplicado se encontra nesta secretaria à disposição da executada.--------------------------------------------------------------------------BEM PENHORADO ----DIREITO DE AQUISIÇÃO que a executada LEI CHING tem direito na fracção autónoma “O20”, do 20.º andar O, para habitação, do bloco IV, do prédio sito em Macau na Estrada Governador Nobre de Carvalho, S-N, Taipa, denominado One Grantai, Deluxe Royalton, descrito na Conservatória do registo Predial sob o n.º 19819-IV do Livro B.------------------------------------* ----Tribunal Judicial de Base da R.A.E.M., aos 7 de Fevereiro de 2017.--------------------------------*
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cidade ecrã
ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Rui Filipe Torres1
Os 37 anos de Fantasporto
E
STÁ a terminar o FANTAS’ 2017 que nesta edição anunciou como linha de programação O CINEMA DOS NOSSOS TEMPOS. À cidade do Porto chegaram filmes do Laos, Albânia, Egipto, Israel, Argentina, Brasil, EUA, entre outros países e cinematografias. Assume-se como Festival de cinema generalista com especial atenção ao cinema de género. Dá cobertura à grande extensão de filmes produzidos na área do Fantástico. Não deixa de ser um forte sinal do momento que o mundo vive, a ligação forte ao real em muitos dos filmes programados nesta 37ª edição. O Fantasporto é um dos mais importantes festivais de cinema Fantástico no mundo, género que dá cobertura a filmes com modelos de produção e estratégias narrativas diversas que vai da ficção científica, à comédia, terror, a filmes “zombies”, ao “gore”, entre outras tipificações e, como sempre, nesta relação própria do cinema consigo mesmo, aos filmes híbridos em que os subtemas do género se misturam, recriam, apoderando-se de códigos que aparentemente lhe eram exteriores. Antes de, em forma próxima de breves notas de diário traçar um retrato a esta edição, sem pretensão de objectividade de jornalista científico, a fazer no próximo artigo, segue um texto onde, por voz própria, a comunicação do Festival nos conta como em 1981 esta aventura que se chama Fantasporto começou. Como nasceu o Fantasporto? À mesa do café Luso, na praça Carlos Alberto, a cinquenta metros do que foi durante muitos a catedral do cinema no Porto, o cinema Carlos Alberto, na altura com o nome pomposo de Auditório Nacional Carlos Alberto. Na mesa estavam a Beatriz Pacheco Pereira, o Mário Dorminsky, e o pintor José Manuel Pereira. Os primeiros queriam mostrar filmes, o último, prematuramente falecido, queria expor a sua pintura. Dois anos depois junta-se à equipa o António Reis. O primeiro apoio financeiro foi do Instituto Português do Cinema, hoje ICA, no montante de 15 contos. Das “majors” ao cinema independente? Ou o sentido foi inverso? Desde o início o Fantasporto mostrou as maiores produções europeias, filmes
norte americanos de “majors”. Em 1981, apresentou a primeira longa metragem de animação chinesa. Sem rejeitar filmes de baixos orçamentos, produção independente ou experimental, o Fantasporto é desde o inicio uma montra de técnicas de vanguarda. Muitos dos filmes apresentados são Óscares, Goyas, Césars, Baftas. Para além da programação directa junto das “majors”, o Fantasporto tem uma colaboração privilegiada com produtores e distribuidores portugueses. Porquê o género Fantástico? Na altura, em 1981, o género era quase desconhecido. O festival nunca foi apresentado como exclusivamente fantástico.
O “Blade Runner”, só foi produzido em 1982, um ano depois da primeira edição do Fantasporto, onde teve ante estreia europeia. A recessão económica impunha, então, uma fuga à realidade. O pós-25 de Abril permitia a abertura do cinema do resto do mundo a Portugal, já não tínhamos a censura. Tínhamos a ideia de que havia um enorme potencial do imaginário a explorar, desde Murnau aos clássicos do neo-romantismo francês. Havia ainda o Maravilhoso na literatura, na pintura, nos filmes de todos os tempos. Os cruzamentos com outras artes começaram também logo na primeira edição do festival
Uma comédia antes de adormecer
A noite de ontem terminou com a projecção no grande auditório do filme Night of Living Deb Uma comédia romântica e um “apocalipse de Zombies”, parece ser uma mistura com sucesso improvável, se a isto se misturar uma leve crítica de costumes e denúncias ambientalistas, ainda o parecerá mais. Mas é isso que acontece neste filme de 2015, produção dos EUA, realizado e escrito por Kyle Rankin. A actriz Maria Thayer, tem aqui uma interpretação divertida, fres-
ca, capaz de levar ao riso o mais sorumbático dos espectadores. O filme dura 85 minutos. Na verdade os zombies são uma figuração com dimensão de epidemia, todo o interesse do filme resulta da interpretação da actriz e do actor com quem contracena, este a protagonizar o cliché do “bonzão” e, no caso, filho de família de elite ambientalmente contestatário. O pai é um poderoso homem
de negócios, controla a água da cidade, convive com as altas esferas do poder político executivo. Tudo é caricatura, um jogo descarado e frontal que procura a cumplicidade do espectador num humor vários furos acima do usualmente praticado no cinema que se assume, sem complexos, como entretenimento e complemento à venda de pipocas. É isso que torna o filme interessante e eficaz, capaz da surpresa do riso.
Georges Méliès e todos os realizadores do passado, e em todos os países, tinham favorecido a imaginação através da fantasia. Nem Akira Kurosawa nem Manoel de Oliveira ( “O Estranho Caso de Angélica”) escaparam à moda. Hoje as grandes produções mundiais ainda favorecem o género: “ O Senhor dos Anéis”, “Matrix”, “ Avatar”, “Harry Poter” , etc, são a prova que todos conhecem. Festival generalista agora, porquê? Porque, depois do surto dos anos 80, o cinema Fantástico sofreu uma crise qualitativa, e havia que manter o nível da programação. O festival alargou os seus horizontes para todas as temáticas, no que foi seguido pela maioria de festivais do fantástico na época. Foi criada a Semana dos Realizadores, inicialmente só para os primeiros e segundos filmes. Pedro Almodôvar foi visto pela primeira vez em Portugal com o seu filme “Matador”. Em 2002, perante a crescente importância do cinema oriental, surgiu a Secção Oficial Orient Express. Hoje, muitas dos filmes vistos nas retrospectivas são inéditos em Portugal, e resultam de uma programação organizada em colaboração com os Ministérios da Cultura e Institutos do Cinema dos países envolvidos. A promoção de um evento cultural O Fantasporto é uma referência no mercado do Filme no Festival de Cannes, com um stand próprio onde divulga o festival e o país. Esta acção no maior festival de cinema e mercado do mundo, inclui uma intensa campanha nas revistas ; “Variety, ( que inclui o Fantasporto na lista dos 25 melhores festivais do mundo e envia correspondente), é apenas um exemplo, televisões, distribuidores , etc. O festival tem das maiores coberturas mediáticas de eventos nacionais. 1 - Cineasta. Licenciado em Ciências da Comunicação pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Mestrando em Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. O texto não segue o novo acordo ortográfico.
15 hoje macau terça-feira 7.3.2017
máquina lírica
Paulo José Miranda
Os dias em que não fui eu Lenta passagem, fundo de um poço Sem fundo que aqui invade a matéria, o primeiro nome do sofrimento.
E
STAR doente quando se é jovem, salvo raras excepções, não é o mesmo que estar doente na meia idade ou numa idade ainda mais avançada. Chegados aqui, aonde a redução a nada se torna visível e não um fruto podre da imaginação, a doença opera como um despertador à segunda-feira, não para o início do dia, da semana, para a interrupção abrupta do descanso do fim de semana, mas para o conhecimento de que a nossa hora de acabar está a chegar. A morte começa a pesar, a esmagar-nos o peito, de tanta angústia, de não vermos outra possibilidade que não a de irmos morrer. E não se trata de um irmos morrer um dia, mas de irmos morrer em breve, muito em breve, ou pelo menos essa possibilidade assume uma concretude que nunca antes tinha assumido. Ao longe, a morte não assusta. Em alguns casos, o sofrimento assusta muito mais do que a morte. Mas a condição de se ser um sofrimento agudo é igual a estar vivo dentro da morte e, por isso mesmo, a imagem do inferno. E aqui pretende-se ler apenas acerca da morte que surge como horizonte próximo, que nos surge como a única possibilidade dos próximos dias, e que é angústia no seu máximo esplendor. Por outro lado, uma doença grave pode transladar um jovem para uma situação à beira da morte, invertendo a idade e a chamada ordem natural das coisas. Uma doença grave, que nos põe realmente diante da morte, isola-nos do mundo e de nós mesmos, tal como até aí o conhecemos e nos conhecemos. Tudo isto vem a propósito de um pequeno livro, enquanto objecto (20 poemas, e nenhum excede uma página), mas grande quanto ao resto, XX Dias, de Rui Miguel Ribeiro (Averno, 2009). No final do livro, tem uma pequena nota, que diz: “Estes poemas foram escritos durante o meu internamento no Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco Gentil, na UTM [Unidade de Transplante Medular], entre Março e Abril de 2009”. Pressupõe-se, então, que os vinte poemas do livro correspondem aos vinte dias de internamento. E a indicação final mostra que o autor quis que tivéssemos esta informação adicional aos seus poemas, que soubéssemos das condições que levaram à escrita dos mesmos. Quem precisa de transplante de medula tem de ficar isolado num quarto, e os médicos têm de baixar o seu sistema imunitário ao mínimo possível, de modo a que a medula nova não seja rejeitada pelo corpo. E mesmo que se trate de um auto-transplante, o risco é enorme, devido à interrupção do sistema imunitário. E o primeiro poema diz-nos isso mesmo, de um modo melhor, à página 7: I – PRIMEIRO Primeiro tiram-me tudo. Depois começou a destruição. Corre o estore sobre a marca cíclica do relógio. Entre o passado, pesadas horas e restos que teimam em arrastar as suas correntes; e o futuro, esse silêncio escuro que nada me comunica e insiste na sua própria tangencia.
Deste lado da morte, nada mais sou do que a melancolia que a nada conduz. A espera de um outro nome para depois. “Deste lado da morte” é uma expressão pujante, que aqui não assume o lugar de outro, isto é, aqui não assume o lugar de uma figura de estilo, mas a literalidade da situação daquele que escreve. Este lado da morte é, por enquanto, a espera. E a espera não assume aqui nenhuma virtude, contrariamente aos ditos populares, mas antes nos transforma, numa situação destas, em instrumento. Numa situação destas, não passamos temporariamente de um instrumento para uma operação. Não são apenas os procedimentos cirúrgicos, médicos, que são um instrumento para nos reporem a saúde, nos reporem no caminho que usualmente trilhávamos, nós mesmos somos instrumento de nós mesmos nesse procedimento. Deitado no escuro de uma cama, no escuro da vida, servindo a procedimentos que desconhecemos, rapidamente nos damos conta de que não nos pertencemos, que somos “uma coisa” dos outros, momentaneamente (espera-se) uma coisa dos outros, pois “tiram-nos tudo”. E tiram também os sonhos, “que chegam cada dia mais pobres” (p. 20). Mas leia-se o terceiro poema, à página 9: III – O SILÊNCIO A morte dos sonhos e a solidão são medidas e pesadas como todas as minhas excreções, de 8 em 8 horas. Neste breve parêntesis de químicos entre a febre e as carências que amparam o pensamento cai sobre o dia uma luz sem ruído, sem outro objectivo que o silêncio, esse mapa do futuro isento da morte, que me faz contemplar – Hoje começou a primavera. Este “breve parêntesis de químicos”, é também o breve parêntesis instrumental, o breve parêntesis em que a consciência assume ou tenta assumir uma relação fenomenológica com aquilo que se está a passar consigo. Por isso, quando aqui se escreve “carência” – as carências / que amparam o pensamento –, escreve-se aquilo que se fez, que se viveu de uma felicidade que, à luz do escuro da cama, parece ter sido perfeito, e agora tem aquele sabor azedo de nunca mais. Todas as noites em que o riso, em que as palavras, em que as mãos acertaram na perfeição com o outro, chegam agora aqui com a profunda dor dessa amálgama de “ter sido” e de “nunca mais”. É assim que sente aquele que está dia após dia, noite após noite enterrado numa cama de hospital à espera de um milagre. E o que é um milagre? É, adivinha-se aqui neste livro, que o mundo volte até nós de maneira certa. O poeta escreve assim, à página 15, na última estrofe do poema IX, A LUZ: “É breve a sua presença [da luz]. / Uma fronteira entre distancias / onde a morte é duração, / a espera do mundo de maneira / incerta. A noite dentro do corpo.” Se tínhamos já visto em livros anteriores, o de Miguel Manso (Supremo 16/70) e o de Vasco Gato (Fera Oculta), fazer-se um livro através de um outro apenas, o do avó que se entregou à morte, no caso do primeiro livro e o do filho que está para nascer, no caso do segundo livro, aqui Rui Miguel Ribeiro faz de si mesmo um outro, acerca do qual escreve também ele um livro (e que na realidade é anterior aos outros dois referidos anterior-
mente). O livro, no fundo, relata “vinte dias em que não fui eu”, pois esta é provavelmente a única experiência possível de não sermos nós mesmos, em vida. E é isso mesmo que o poeta se dá conta, e regista, daquele modo particular, que é o da grande poesia. Leia-se, neste caso, o poema “XI – AS NOITES” (p. 17): Noite após noite apenas posso confiar na sua descida. Este jogo de amanhãs em peso das horas em que procuro uma harmonia. Sob esta luz contínua não tenho um reflexo há dias que não vejo o meu rosto. A cama marca o calendário fora de mim, débil raiz que se alimenta da contagem, as semanas, a roleta que jogo com o futuro e as suas representações. Há dias que não vejo o meu rosto. Hoje dizem-me que atingi a aplasia. Terei viciado o jogo? A vida? Este parece-me um poema de excelência acerca desta experiência singular, de algum modo impossível, de sermos fora de nós. Ou melhor: de não sermos nós e continuarmos a viver; e não no sentido do binómio autenticidade-inautenticidade, mas na sua literalidade. Cada notícia dada ao fim do dia e no seu início assume as proporções de terramoto. A voz do médico, do especialista, é a voz do oráculo. E bebe-se aquelas palavras como se bebe a própria vida. E o oráculo é-nos transmitido de um modo profissional, de um modo esterilizado, como tudo naquele quarto, como se nós não fôssemos uma existência, mas um peça de um qualquer jogo desconhecido. As palavras que o “especialista” pronuncia “você está com aplasia” (ou outro modo igualmente esterilizado de dizer) são ditas como se dissesse “se jogar esse peão, como-lhe o cavalo e dou-lhe xeque mate em dois lances”, mas aquele que ouve as palavras, ouve-as como se o infinito lhe esmagasse o peito e estivesse a ver-se a si mesmo a morrer. São dois os humanos, um de pé a falar e outro enterrado na cama a ouvir, mas são dois mundos completamente distintos. O médico-especialista afastar-se-á da cama, do quarto, regressando à sua vida normal, eventualmente levando a outro quarto as mesmas palavras “você tem uma aplasia”, tomando um duche em seguida e indo jantar, com a mulher, com amigos, ou simplesmente sozinho, entretido com o seu telemóvel ou com uma televisão. O poeta, enterrado na cama, ficará com o não sentido da existência, com o infinito a esmagar-lhe o peito, segundo a segundo. O mundo torna-se, ainda mais do que já era, um escuro infinito e inabitável. Terminemos esta viagem com o poema “V – OS LIVROS”, de Rui Miguel Ribeiro: Vêm castigados e doridos. Também eu penso desde a cama em como lhe corresponder. Ao chegar das horas vejo no seu silêncio de esterilização a resistência que mantém a sua forma; todos os lugares a que daqui posso chegar, já que o tempo é a única companhia. Vêm paliativos e não esperam mudanças; concedem os seus mundos e sonhos de futuro. A morte a favor do passar dos dias.
16 DESPORTO
hoje macau terça-feira 7.3.2017
LIGA DE ELITE
ANÁLISE da 6ª jornada por João Maria Pegado
C
OM estrondo, foi assim que o Monte Carlo caiu aos pés do Benfica De Macau. Se duvidas existiam sobre quem seria a melhor equipa do campeonato, sábado ficaram dissipadas. Os encarnados despacharam literalmente os canarinhos por 6-0. Como foi possível um resultado tão desnivelado entre as duas melhores equipas do campeonato local?
TATIANA LAGES
Estrondosa vitória encarnada
DESINVESTIMENTO TORNA BENFICA MAIS FORTE
Comecemos pelo que foi dito num artigo anterior. Este campeonato está mais fraco devido ao desinvestimento de equipas de topo(KA I, Sporting de Macau) e à apatia da Associação que ignora estas situações encarando-as como normais, sem se preocupar em ver o seu produto empobrecido. Quem ‘lucrou’ com a situação foi o Benfica de Macau, que foi prejudicado pela mesma associação no caso AFC. Juntou à sua forte equipa os melhores jogadores locais dessas equipas(Sporting, KAI) e passou ter um fortíssimo plantel.
MONTE CARLO
Benfica 6 - 0 Monte Carlo
profissionais a contratar teriam que ser a pensar nestes jogos. O que observei neste fim de semana foi um treinador do Monte Carlo com um obsessão exagerada pela organização defensiva. Ora bem, tal como escrevi na antevisão desta jornada, esse é o ponto mais frágil do Monte Carlo. Sem nenhum jogador que possa controlar bem esse momento do
jogo, se queria jogar desta forma então para quê a contratação de jogadores de cariz ofensivo? Sendo assim devia encarar este jogo(CPK também)de forma a potencializar o melhor que tem, o sector ofensivo, pressionando alto o Benfica e tentar ter o controlo do jogo ao invés de recuar excessivamente a sua equipa.
JOGADOR DA JORNADA • #45 LEONEL FERNANDES Grande jogo do ponta de lança do Benfica, numa exibição onde não poupou esforços, pressionou alto quando não tinha a bola como também atacava ferozmente a profundidade à procura da mesma. Com bola, foi letal na altura de finalizar com um hat-trick e com golo para mais tarde recordar.
BENFICA DE MACAU
EQUIPA DA SEMANA
Ao perceber-se desta situação, o treinador Henrique Nunes, fez o que tinha que fazer para ganhar este jogo, colocou a sua equipa subida no terreno a pressionar alto a inexperiente defesa dos canarinhos, e colocando Edgar Teixeira e Marco Meireles em cima dos organizadores de jogo do Monte Carlo, Anderson Oliveira e Keverson Cardoso e os seus laterais a acompanharem os alas quando estes vinham buscar jogo interior, Neto e Hougaro. A partir daqui o Monte Carlo estava amarrado e a sua linha defensiva não tinha qualidade para sair com a bola jogada, permitindo
TATIANA LAGES
Um paradoxo completo a maneira como o seu treinador montou o plantel para esta época e o seu modelo de jogo para este desafio. E passo a explicar falando do jogo deste fim de semana. Com tudo que foi escrito anteriormente ficou claro que o título se iria decidir nos dois jogos entre estas equipas, por isso a planificação do plantel teria de ter em foco a maneira que se iria jogar esses mesmo duelos, mais da parte do Monte Carlo visto não ter os mesmos recursos que o Benfica em termos de jogadores locais. Os
o Benfica ganhar a bola ainda na primeira fase de construção do Monte Carlo, que quando perdia a bola recuava em demasia deixando os médios e os centrais do Benfica jogarem à vontade e golos foram aparecendo com naturalidade. O minuto 32, segundo golo é exemplo disso. A equipa canarinha estava com 2 linhas de 5 Homens separadas por 5 metros dentro da sua área num lançamento lateral para o Benfica na face lateral da grande área do Monte Carlo. E foi simples, lançamento para trás para os centrais que sem pressão dos avançados canarinhos, recuados em demasia, lançam a bola para as costas das duas linhas de 5 que subiram sem grande controlo da profundidade. Ching Hang recebe, coloca em Edgar que de peito assiste Leonel para o golo colectivo mais bonito do encontro. Ao intervalo o jogo estava resolvido com 3-0 e a segunda parte foi uma formalidade com destaque para o grande golo de Carlos Leonel que de moinho fez o quinto golo. Em suma, um jogo que mostra o desequilíbrio deste campeonato onde o treinador do Benfica leu muito bem e recuperou a intensidade que andava perdida nos seus jogadores e onde o treinador do Monte Carlo não potencializou as suas maiores armas colocando-as a fazer o que eles não tem de melhor para oferecer. Nos restantes jogos, Kei Lun 1Vs3 CPK, com os três golos do CPK a aparecerem nos últimos 10 minutos, Cheg Fung 3Vs1 Development, a equipa de João Rosa de volta às vitórias. Na luta pela permanência, Sporting de Macau 1Vs1 Lai Chi, com destaque para o regresso de Junior Soares aos Leões e Policia 0Vs4 KA I, onde KAI apareceu também mais reforçado do que em jornadas anteriores.
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(F)UTILIDADES
TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 17 MAX 22 HUM 75-95% • EURO 8.46 BAHT 0.22 YUAN 1.15
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
ROTA DAS LETRAS | SESSÃO INTITULADA “CABO VERDE, PAÍS DE ESCRITORES” COM ABRAÃO VICENTE 18h00 | Edifício Antigo Tribunal
AQUI HÁ GATO
MÚSICAS TRISTES
Diariamente
EXPOSIÇÃO “TRACING LINERS”, DE JOÃO PALLA Casa Garden EXPOSIÇÃO “WORKS BY LEI CHEOK MEI” Armazém do Boi, Até 26/3 EXPOSIÇÃO “CONFUSION OF CONFUSIONS, WORKS BY YOYO WONG” Armazém do Boi, Até 26/3 EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1, Até 23/4
O CARTOON STEPH DE
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017) EXPOSIÇÃO “ENTRE O OLHAR E A ALUCINAÇÃO” DE JOÃO MIGUEL BARROS Creative Macau (Até 25/3)
PROBLEMA 191
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 190
UM DISCO HOJE Cineteatro
C I N E M A
THE GIRL WITH ALL THE GIFTS SALA 1
SALA 3
Filme de: Colm McCarthy Com: Gemma Arterton, Sennia Nanua, Paddy Considine 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Filme de: Gore Verbinski Com: Dane DeHann, Mia Goth, Jason Isaacs 14.30, 21.00
SALA 2
SALA 3
Filme de: Chad Stahelski Com: Keanu Reeves, Ian Mcshane, Ruby Rose, Common 14.30, 21.30
Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.15
SALA 2
SALA 3
Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 16.45, 19.15
FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Filme de: Keizo Kusakawa 17.15, 19.15
THE GIRL WITH ALL THE GIFTS [C]
JOHN WICK: CHAPTER TWO [C]
LA LA LAND [B]
A CURE FOR WELLNESS [C]
SUDOKU
EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau
Sorrir largamente a dançar, lançar flores ao ar, tudo muito belo, tudo muito saudável, mas ténue e aguado, fútil exercício nas antípodas da introspecção. Gostar de música e ser transportado por ela também implica mergulhar nas mais tristes árias, sentir o desespero de quem escreve e transforma dor em beleza, ausência em saudade cantada, lamúrias em poesia. Por muito que seja bom mexer o esqueleto ao ritmo de algo, nunca é suficiente para os visitantes habituais dos recantos onde já se secaram muitas lágrimas. Como uma limpeza desinfectante que toca nas feridas com melodias, como uma língua interrogadora que busca o abcesso infectado. Que nos embrulhemos nos hinos à ausência cantados pelos blues, rasgados pelas secções de cordas dos Tindersticks, ébrios de poesia no éter da voz do Tom Waits, embalados pelo desespero suave dos Red House Painters. Balouçando na névoa opiácea e doce dos Morphine, no entorpecimento encantatório e frágil do patético coração de Chet Baker. É preciso chuva para haver arco-íris, sem o lado amargo não existiria agridoce, sem a rendição do sol não haveria noite escura, sem absentismo não se sentiria saudade. O condimento da fome potencia o prazer da saciedade, a sede acrescenta frescura a largos tragos. Uma música triste é como um cobertor quente, uma lareira acesa, umas pantufas calçadas, um whisky de fim de dia. Uma familiaridade que acolhe, um retorno que se espera, um abraço que nos aquece. Sim, dançar é bom, mas não basta. Pu Yi
“BOWIE 70”
Difícil e arriscada tarefa. David Fonseca decidiu pegar em mais de uma dúzia de temas de David Bowie, fez novos arranjos, convidou uma série de vozes, e o resultado anda perto da perfeição. Rui Reininho podia ter sido sempre o homem de “Where Are We Now?”, Rita Redshoes arrepia com o seu “Heroes”, Camané só não surpreende em “Space Oddity” porque todos sabemos o que é capaz de cantar. David Fonseca afirma-se como produtor e assegura todos os instrumentos num disco lançado no ano em que Bowie faria 70 anos. Isabel Castro
LA LA LAND [B]
KANCOLLE THE MOVIE [B]
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18 OPINIÃO
hoje macau terça-feira 7.3.2017
macau visto de hong kong
INGMAR BERGMAN, THE SEVENTH SEAL
Xadrez eleitoral
O
S candidatos a Chefe do Executivo de Hong Kong foram-se perfilando um após outro; John Tsang, Carrie Lam e Kwok-hing Woo. A semana passada a numeração das candidaturas foi sorteada. A Tsang coube o número 1, a Carrie Lam o número 2 e a Kwok-hing o número 3. Dois dos três candidatos são antigos funcionários públicos e o terceiro é juiz do Tribunal da Relação (High Court). Nesta eleição existem algumas questões obviamente incontornáveis, a saber: as futuras alterações aos métodos de eleição do Chefe do Executivo e do Conselho Legislativo, a gestão da resolução 8.31 tomada no Congresso Nacional Popular, etc. Para já é interessante tentar perceber qual dos candidatos tem o beneplácito do Governo Central. Sobre o assunto a “Wikipedia” adianta, “O Chefe do Executivo em funções, Leung Chun-ying, anunciou que não se iria recandidatar. Logo a seguir a esta comunicação, a secretária para a Administração Carrie Lam, que por diversas vezes anunciou a sua saída de cena, reconsiderou e candidatou-se à liderança do governo. Encarada pela maioria como a favorita de Pequim, Lam concorre contra o Secretário das Finanças John Tsang. Apesar da sua experiência governativa e de ser favorito nas sondagens, Tsang lutou para obter as nomeações do Comité Eleitoral. Especula-se que a sua candidatura não caiu nas boas graças de Pequim e que depende fortemente do apoio dos pró-democratas, que, por seu lado não patrocinaram um candidato doméstico para darem algum “gás” a uma candidatura alternativa dentro do sistema. Tsang obteve 165 nomeações das quais apenas 38 vieram das alas pró-Pequim.” Sexta-feira passada, o website “Yahoo” de Hong Kong publicou um artigo onde se afirmava que os votos lançados às urnas nestas eleições serão levados para o Continente para verificação das impressões digitais. O Governo da RAEHK apresentou de imediato um desmentido, afirmando que se tratava de um rumor sem provas que o sustentassem. Em Hong Kong os rumores não são nenhuma novidade. Como é do conhecimento geral, o mandato de John Tsang terminava muito antes do de Carrie, mas o Poder Central autorizou que os dois terminassem na mesma data. A partir daí criou-se o rumor de que o Governo Central favorecia a candidatura de Carrie. Quanto a Kwok-hing, quase todos estão
DAVID CHAN
de acordo que tem muito poucas hipóteses de vencer as eleições. A RAEHK e a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) são províncias chinesas com estatutos muito especiais devido ao seu elevado grau de autonomia. Têm por exemplo a capacidade de assinar tratados internacionais nas áreas do desporto, da cultura, e não só, capacidade que está vedada a outras províncias da China. Para além disso estas duas regiões têm sistemas jurídicos próprios e estilos de vida independentes, garantidos pelas respectivas Leis de Bases durante 50 anos. Acresce ainda que as vozes a favor da independência continuam a fazer-se ouvir em Hong Kong. É evidente que a China continental não aprecia estas “vozes” e que é do conhecimento geral que Hong Kong deve permanecer uma parte indissociável do País. A separação da China nunca deverá acontecer.
Todos sabemos que o Governo Central da República Popular da China tem poderes para indigitar o Chefe do Executivo de Hong Kong. O que se poderá esperar se um candidato ganhar a eleição, mas não conquistar a “confiança e a conivência” da China continental? O Governo Central está particularmente preocupado com a forma como o próximo Chefe do Executivo vai exercer o poder que lhe vai ser confiado e como irá lidar com os problemas levantados pelos que defendem a independência do território. O rumor da verificação das impressões digitais nos boletins de voto tem aqui a sua origem. Todos sabemos que o Governo Central da República Popular da China tem poderes para indigitar o Chefe do Executivo de Hong Kong. O que se poderá esperar se um candidato ganhar a eleição, mas não conquistar a “confiança e a conivência” da China continental? Por enquanto ninguém sabe a resposta exacta. Só podemos fazer votos para que o binómio “confiança e conivência” continuem a existir entre a China e Hong Kong. Será o cenário ideal para todos. Professor Associado do IPM Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Jazz legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
19 hoje macau terça-feira 7.3.2017
sexanálise
Meter a boca no trombone
ERIK ODE, LIEBE, JAZZ UND ÜBERMUT
TÂNIA DOS SANTOS
E
U não sei tudo sobre sexo, sou bastante humilde no meu conhecimento. Gosto de pensar sobre o sexo, teorizar sobre o sexo e praticá-lo em quantidades suficientes para satisfazer o corpo e a mente. Suponho que o sexo tenha tantas e incríveis facetas que é impossível sabermos tudo (absolutamente tudo) sobre o acto. Pois que, surpresa das surpresas, muito recentemente deparei-me com um jeitinho sexual que não conhecia (nem nunca tinha ouvido falar!). Se calhar até é uma técnica bem conhecida pelo mundo espectador de pornografia, da qual situava-me em pura ignorância. As práticas, truques, técnicas mais populares entre público que se interessa por coisas do foro sexual encontram-se nas variâncias entre o sexo vaginal, oral, anal, consoante a posição que se toma. Assim de repente podemos enumerar o 69, a posição de missionário, à canzana, por trás, em pé, sentado ou de lado. Há quem goste de dar nomes específicos às possíveis nuances posicionais, por exemplo, a ‘Montanha Mágica’, a ‘Ostra Vienense’ ou ‘Canzana com asa de Galinha’ (para mais informações não se acanhem em pesquisar). Não se queixem porque há de tudo para toda a gente, salvaguardando que as diferenças anatómicas femininas e masculinas tenderem para certas preferências, dependendo da forma como o órgão funciona (se já sabemos que se os homens gostam de enfiar
o mais fundo possível, a pornografia faz crer que as mulheres também! E às vezes não é bem assim, por isso reforço a minha constante lenga-lenga que o prazer sexual deve ser descoberto a dois, e não prescrito pelos ditos ‘especialistas’ do sexo). Entre a panóplia de posições que possam estar detalhadamente a ruminar, sugiro que juntem uma mais: o Rusty Trombone. O trombone enferrujado. Vou deixar que a ideia assente nas vossas mentes e que explorem o sentido sexual do termo. Trombone... sugere um sopro de qualquer tipo, mas e a ferrugem? De onde vem a ferrugem? O trombone enferrujado resulta da simultaneidade de um trabalho anal com um trabalho de mãos. Normalmente é uma técnica associada ao prazer masculino, apesar de não ser exclusivo (a
Reforço a minha constante lenga-lenga que o prazer sexual deve ser descoberto a dois, e não prescrito pelos ditos ‘especialistas’ do sexo. Entre a panóplia de posições que possam estar detalhadamente a ruminar, sugiro que juntem uma mais: o Rusty Trombone
versão feminina entitula-se de trompete enferrujado, pela ausência de vara no instrumento). Explicitando, imaginem um homem em pé, e o seu parceiro a soprar-lhe para o ânus enquanto massaja pulsantemente o seu pénis, como se uma vara de trombone se tratasse. Dizem as várias fontes que publicitam a técnica que é preciso muita coordenação para conseguirem fazer a música desejada. Tal como tocar música, é preciso feeling, ritmo, concentração e muita vontade. Coordenam-se os elementos para uma combinação potenciadora de prazer. Há homens mais analo-tímidos que com dificuldade abraçam o potencial prazeroso da prostata, mas não vejo porque uma peça musical não possa desinibir o sentimento sexual de certas zonas mais... obscuras. Por isso eu diria que não é a técnica de todos os dias, mas a técnica para os dias especiais, para quando vos apetecer inovar. Também bem sabemos que o ânus não é dos ambientes mais hospitaleiros que se conhecem, para além da timidez masculina, há outros factores que fazem com que esta zona seja lidada com algum temor. Pois bem, não há nada como uma boa preparação prévia. Uma boa ensaboadela (podem fazê-la a dois!) para depois tocar o instrumento de melodias eróticas de amor. Estou a tentar meter a boca no trombone no verdadeiro sentido português porque esta diversidade de actuação tem que ser partilhada. Incita a reflexão e a criatividade semântica daquilo que o sexo é e das novas formas que podem surgir. Experimentem, por vossa própria conta e risco.
OPINIÃO
A CTM ganharia mais se fizesse ainda menos.
terça-feira 7.3.2017
Atlântido
DSAJ NOVOS SUBDIRECTORES TOMARAM POSSE
PYONGYANG EXPULSA EMBAIXADOR MALAIO
C
A
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Coreia do Norte deu ontem ordem de expulsão ao embaixador malaio em Pyongyang, em retaliação à saída do seu embaixador na Malásia, que ontem abandonou Kuala Lumpur. “O Ministério dos Negócios Estrangeiros [da Coreia do Norte] anuncia que o embaixador da Malásia é ‘persona no grata’ (…) e exige a sua saída” do país nas próximas 48 horas, divulgou a agência noticiosa estatal norte-coreana, KCNA. O embaixador da Coreia do Norte expulso pela Malásia deixou ontem Kuala Lumpur com acusações à investigação malaia sobre o homicídio, em 13 de fevereiro, de Kim Jong-nam, meio irmão do Presidente norte-coreano, considerando-a “não imparcial” e “mal orientada pela polícia malaia”. “Fizeram uma autópsia sem consentimento e participação da embaixada da Coreia do Norte e prenderam mais tarde um cidadão norte-coreano sem provas indubitáveis sobre a sua implicação no incidente”, declarou aos jornalistas Kang Chol no aeroporto da capital malaia. O homicídio de Kim Jong-nam com o agente nervoso VX – um gás tóxico extremamente poderoso – no aeroporto de Kuala Lumpur no mês passado criou uma disputa entre os dois países. A Coreia do Norte não reconheceu a identidade do homem morto, mas tem criticado reiteradamente a investigação, acusando a Malásia de ser convivente com os inimigos de Pyongyang. A Coreia do Sul tem acusado Pyongyang do assassínio, sustentando que consumou uma ordem do Presidente Kim Jong-un para matar o seu meio-irmão exilado, visto como um potencial rival.
A corda a esticar
Seul, Washington e Tóquio acertam posições após lançamento de mísseis norte-coreano
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EPRESENTANTES dos governos da Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão coordenaram posições a propósito do lançamento de quatro mísseis balísticos levado a cabo ontem pela Coreia do Norte. O responsável do Escritório de Segurança Nacional de Seul, Kim Kwan-jin, manteve uma conversa telefónica com o conselheiro nacional de segurança norte-americano, Herbert R. McMaster, na qual ambos acordaram aumentar a pressão e as sanções sobre Pyongyang, segundo porta-vozes do governo sul-coreano citados pela agência Yonhap. Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros sul-coreano, Yun Byung-se, e o seu homólogo japonês, Fumio Kishida, também acordaram por via telefónica reforçar a cooperação entre Seul e Tóquio para parar o que consideram provocações do regime de Kim Jong-un. Por sua vez, o representante de Seul nas negociações para a desnuclearização da península coreana, Kim Hong-kyun, falou ao telefone com os seus homólogos
norte-americano, Joseph Yun, e japonês, Kenji Kanasugi.
ALTA TENSÃO
Os quatro mísseis lançados ontem pela Coreia do Norte a partir da sua costa voaram cerca de 1.000 quilómetros e caíram no Mar do Japão. Três deles caíram na Zona Económica Especial do Japão – espaço que se estende a cerca de 370 quilómetros desde as costas nipónicas – perto do litoral de Akita. O ensaio contribui para aumentar ainda mais a tensão na península coreana, onde na semana passada
Washington e Seul iniciaram as suas manobras militares anuais, as maiores até à data. Depois do míssil de médio alcance lançado a 12 de Fevereiro, o lançamento de ontem é o segundo ensaio balístico que a Coreia do Norte realiza desde que o seu líder, Kim Jong-un, anunciou no início do ano que Pyongyang estava a ultimar o desenvolvimento de um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês), arma que poderia permitir-lhe no futuro alcançar o território dos Estados Unidos.
PEQUIM CONDENA
O
Governo chinês condenou o lançamento dos quatro mísseis balísticos realizado pela Coreia do Norte em direcção ao mar do Leste, e apelou a que se evitem provocações. “A China opõe-se aos lançamentos da Coreia do Norte”, declarou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, que alegou também que a acção de Pyongyang “viola as resoluções do Conselho de Segurança” das Nações Unidas. “As resoluções do Conselho de Segurança têm cláusulas claras sobre os lançamentos da Coreia do Norte utilizando a tecnologia de mísseis balísticos”, acrescentou. Geng afirmou ainda que a China está a par dos exercícios militares realizados em conjunto entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul “dirigidos contra a Coreia do Norte”. “As partes envolvidas devem manter a moderação e evitar provocar a outra parte ou agir de uma forma que aumente a tensão”, disse Geng. O porta-voz reiterou a oposição de Pequim à instalação do sistema de defesa antimísseis THAAD pelos EUA e Coreia do Sul na península coreana, que considera ameaçar os interesses da China.
HEONG Ham e Carmen Maria Chung tomaram ontem posse do cargo de subdirectores dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ). Cheong Ham é licenciado em Direito Económico pela Universidade Fudan da China, tendo ainda uma licenciatura em Tradução e Interpretação Chinês-Português pelo Instituto Politécnico de Macau, bem como um mestrado em Direito Económico pela Universidade Sun Yat-Sen de Cantão. Ingressou na Administração há dez anos, tendo sido transferido para a DSAJ em Janeiro de 2016. O mesmo comunicado refere que Cheong Ham acumulou “uma larga experiência no âmbito da coordenação legislativa e no estudo do sistema jurídico e da administração pública”. Já Carmen Maria Chung tirou a licenciatura em Lisboa, no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica, sendo também licenciada em Direito pela Universidade de Macau e mestre em Gestão de Empresas pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Trabalha para o Governo de Macau desde 2000, tendo sido nomeada, em 2015, chefe do Departamento de Produção Legislativa e subdirectora substituta da DSAJ. Ambos os profissionais assumiram funções no passado dia 1.
FUTEBOL PAULO BENTO DESPEDIDO DO OLYMPIACOS
Paulo Bento, treinador português de 47 anos, foi esta segunda-feira despedido do comando técnico do Olympiacos. O técnico luso, que já orientou a selecção portuguesa, não resistiu à contestação de que era alvo, tendo cumprido 40 jogos ao serviço do clube grego e somado 26 vitórias. Esta semana, a equipa orientada por Bento caiu na visita ao reduto do PAOK, situação que terá contribuído para este desfecho. Relembre-se que o ex-seleccionador luso teve também uma passagem com pouco sucesso pelo Cruzeiro, do Brasil. Apesar de tudo, o treinador deixa a equipa helénica no topo da tabela classificativa, com 51 pontos.