DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
QUINTA-FEIRA 7 DE ABRIL DE 2016 • ANO XV • Nº 3546
ÓBITO DANILO ANTUNES
hojemacau
Até sempre Ou Mun Chai ÚLTIMA
ENSINO GOVERNO QUER DIMINUIR PESO DOS TPC
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Carga de trabalhos O Executivo assegura que vai implementar novas directrizes para diminuir a carga dos trabalhos de casa que são diariamente distribuídos aos alunos desde o jardim de infância até ao ensino secundário. Se
alguns docentes defendem que a medida não será fácil de implementar, outros acolhem de bom grado a iniciativa afirmando que o peso dos TPC tem um profundo impacto na saúde física e mental dos estudantes.
Nova ordem
GRANDE PLANO
TERRENOS
Lotes da casa PÁGINA 6
h
Melopeia encantatória MANUEL AFONSO COSTA
RENOVAÇÃO URBANA
Solidão
ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR
A galinha dos ovos de ouro PÁGINA 4
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
CRÉDITOS SOCIAIS
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PÁGINA 7
2 GRANDE PLANO
CRÉDITO SOCIAL
CHINA QUER IMPLEMENTAR SISTEMA QUE DÁ PONTOS AOS “BONS
DO “GRANDE IRMÃO” A
Se for um bom cidadão, e o seu perfil nas redes sociais o indicar, recebe pontos que lhe dão viagens, carros e até permitem desburocratizar processos. É o plano mais recente da China, que tenciona implementar o chamado Sistema de Crédito Social. Uma economia emergente, um histórico financeiro atípico, um país lotado de gente, um partido único e a necessidade de controlo social - está dada a receita para o uso que se pode dar à tecnologia através das redes sociais
QUILO que pode representar um dos mais engenhosos planos de controlo social de massas pode estar a caminho, como indicam notícias avançadas pela imprensa internacional, como o Independent, Quartz e BBC. A ideia aparentemente inocente sai do Esboço do Plano de Construção de um Sistema de Crédito Social 2014-2020 dado a conhecer pelo Conselho de Estado do Governo Central. Por entre um discurso marcado pela habitual propaganda ao país, as constantes referências ao objectivo de “estabelecer a ideia de uma cultura de sinceridade, promovendo honestidade e valores tradicionais” resvalam na iniciativa da criação de um sistema de crédito social à escala nacional. Este sistema vai avaliar a credibilidade, a confiança e as boas intenções dos cidadãos - através das redes sociais. Se por um lado este sistema de avaliação de fiabilidade de crédito na área financeira já está implementado um pouco por todo o mundo, por outro - e pegando nas directivas do Governo chinês e do Banco Central da China - estão agora os olhos postos em oito companhias privadas com projectos em andamento para o efeito. Em resposta às directivas do Governo Central acerca do seu plano quinquenal, já várias empresas privadas puseram a mão na massa para criar um sistema de avaliação da credibilidade social. Salienta-se já o Sesame Credit System, uma plataforma virtual com uma vertente quase lúdica de jogo que, com um ano de existência, foi criado, enquanto projecto piloto, pela AntFinantial –
Os adeptos do Sesamir Credit System são uma espécie de jogadores em que, e tal como nos jogos, quem mais pontua mais ganha
uma empresa daAlibaba, que por sua vez já representa a maior plataforma de vendas online a nível mundial, e a Tencent, gigante virtual à qual pertence o WeChat. A este já se juntaram um sem número de entidades ligadas às trocas financeiras, ao comércio em geral, aos transportes, electricidade e até mesmo o Baihe, que conta no seu serviço de encontros com cerca de 90 milhões de utilizadores com todas as informações incluídas. Aqui, os adeptos do Sesamir Credit System são uma espécie de jogadores em que, e tal como nos jogos, quem mais pontua mais ganha.
PONTOS E GANHOS
O Sesame Credit System, aquando da inscrição que para já é voluntária, confere de imediato um número de pontos ao seu subscritor, dependendo da informação que tem armazenada e os respectivos cruzamentos com os parceiros. Esta informação abrange cinco áreas: uma delas avalia o histórico de crédito do utilizador, baseado nos históricos bancários e em pagamentos devidos ou não de crédito. Outro segundo exemplo, já mais personalizado, “avalia” o comportamento do utilizador
INOFENSIVO OU ASSUSTADOR?
J
ason Chao afirma ao HM que, numa leitura superficial, o sistema parece ser inofensivo. Contudo, o activista de Macau considera que “se nos debruçarmos um pouco, constatamos que as possibilidades que abarca são assustadoras para a liberdade de expressão”. Chao dá como exemplo a influência que este sistema poderá ter no quotidiano das pessoas, em situações como a de poder ser aceite ou não para determinado emprego, sendo esta aceitação possivelmente condicionada pela pontuação que aufere. O também vice-presidente da Associação Novo Macau refere ainda “a possibilidade assustadora” de controlo massivo que o sistema oferece.
enquanto consumidor (neste ponto são tidas em consideração as compras efectuadas, o pagamento atempado ou não das contas e demais obrigações e ainda as suas preferências no mercado da bolsa). Num terceiro vértice está a capacidade do indivíduo de manter as suas promessas e compromissos. O registo é capaz de conter informações acerca das fontes de rendimento do utilizador e do seu emprego e avaliar a estabilidade ou não das mesmas. Em quarto lugar está um item que se auto apela de “traços de identidade”, que de uma forma não muito compreensível remete para as características capazes de conferir ao utilizador confiança pessoal. Por último, a avaliação das relações pessoais do jogador tendo como referência os contactos nas redes sociais. Este pentágono é também uma das imagens que acompanha os utilizadores de forma a que vão tendo uma referência visual da sua pontuação. A forma como os “pontos sesamo” são dados e o por quê ao certo, não se entende,
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CIDADÃOS”
AO “GRANDE JOGO”
BETHESDA SOFTWORKS, VAULTBOY
Um bom cidadão tem direito a prémios, as companhias são importantes e, se quer ir a Singapura basta dar uma olhadela aos pontos. Se não tiver os pontos suficientes, se calhar, anda com más companhias
como dá a conhecer o repórter da Quartz, Zheping Huang, que se fez de cobaia na aplicação. Ainda que sem definir concretamente de que forma são dadas as pontuações, a verdade é que estamos perante um ficheiro completo da vida de cada um - do que faz, do que gosta, do que prefere, do que paga e compra ou deve, como se desloca, que amigos tem, que livros lê e um sem limite de informação. O Sesame Credit promove ainda a partilha de pontuação num acto exibicionista de sucesso ou a comparação com os “amigos” para que se mantenha o formato “rating” numa promoção contínua de um
melhor lugar na escala, até porque descontos e vouchers – os prémios para os melhores cidadãos - podem dar sempre jeito.
QUANTOS QUERES? QUANTOS GANHAS?
Cada indivíduo pode valer entre 350 a 950 pontos. Com uma pontuação média de 600, já cá canta um empréstimo em compras virtuais de cerca de 800 dólares sem juros, com 650 já há direito a alugar-se um carro sem necessidade de deixar depósito e com 700 a vantagem já tem outra cara: dá prioridade ao bom cidadão nas burocracias para a documentação de autorização para viajar para fora do país, nomeadamente para Singapura e acima disto até para o Luxemburgo. Mas uma boa pontuação pode também dar origem a um emprego melhor, segundo Randy Strauss director de recrutamento da Strauss Group Inc.. Os candidatos a emprego são avaliados segundo a seu “valor” e, neste sentido, “a primeira razão a dar à companhia para que se seja contratado é relativa à confiança que se pode depositar no futuro colaborador”. Strauss acrescenta que a simples análise curricular não é suficiente para avaliar o candidato sendo que, por exemplo, um crédito social baixo poderá dizer que o candidato não será o mais adequado na medida em que reflecte uma baixa responsabilidade pessoal. E pode ser também um indicador de como cada um respeita as regras e a auto-
Ainda que sem definir concretamente de que forma são dadas as pontuações, a verdade é que estamos perante um ficheiro completo da vida de cada um
ridade. Por outro lado, apesar da divulgação do crédito social ser de cariz voluntário e, por enquanto, ainda seja necessária autorização do utilizador, o facto deste não a disponibilizar pode também ser tido como elemento a ter em conta numa má avaliação, na medida em que pode querer eventualmente esconder alguma coisa.
SOBE E DESCE
Mas os pontos não sobem só, também podem ir descendo. Nestes casos preparem-se os jogadores para enfrentar dificuldades burocráticas ou financeiras - caso precisem de empréstimos – ou até verem a velocidade da sua internet ser reduzida.
Não é preciso um “big brother” a controlar, uma vez que cada um o é voluntariamente, em troco de pontos de desconto ou viagens, ganhos através das partilhas das “boas acções do dia”
Traduzindo por miúdos, a ideia é fácil de entender: um bom cidadão tem direito a prémios, as companhias são importantes e, se quer ir a Singapura basta dar uma olhadela aos pontos. Se não tiver os pontos suficientes, se calhar, anda com más companhias. E se passa demasiado tempo na internet, não deve querer trabalhar. Por enquanto até podem parecer absurdas estas questões, mas na realidade algumas delas já foram colocadas e respondidas, por exemplo, para Li Lyingyun, director da Sesame’s technology, que, em declarações à Caixin, na BBC, diz: “alguém que passe dez horas a jogar computador será considerado uma pessoa preguiçosa e alguém que compre frequentemente fraldas poderá ser um pai que, no balanço, tem mais probabilidades de ser uma pessoa responsável”. Este sistema é de facto, e ainda, um projecto piloto envolto numa presumida ingenuidade da sociedade, como relata a imprensa. A invasão total de privacidade, sendo a mesma objecto de avaliação, parece ser o sistema que poderá servir de referência à prática generalizada e obrigatória agendada para 2020 em todo o território chinês. Com este método de recompensa positiva ao bem que se faz, poderá estar aberta uma das formas mais engenhosas de vigilância e controlo de massas. Até porque não é preciso um “big brother” a controlar, uma vez que cada um o é voluntariamente, em troco de pontos de desconto ou viagens, ganhos através das partilhas das “boas acções do dia”. O “Dangan”, literalmente “ficheiro”, que até agora correspondia ao processo individual que o Governo da China continental terá referente ao comportamento dos seus cidadãos, sairá da gaveta para o sistema virtual e será conhecido em forma de números. Hoje Macau
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4 POLÍTICA
hoje macau quinta-feira 7.4.2016
ANM QUER RENOVAR CONSELHO DE RENOVAÇÃO URBANA
Uma mina de ouro A Associação Novo Macau entregou uma carta ao Chefe do Executivo onde pede mudanças na composição do Conselho de Renovação Urbana e uma maior transparência nos processo de decisão e nas reuniões, à semelhança do que acontece no Conselho do Planeamento Urbanístico
M
ENOS interesses comerciais e mais equilíbrio e transparência. É este o pedido mais recente da Associação Novo Macau (ANM), que entregou ontem uma carta a pedir ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, que faça mudanças no Conselho de Renovação Urbana (CRU). A ANM pede que Chui Sai On faça alterações ao regulamento administrativo que estabelece a criação do CRU, para que este organismo possa ter mais do que 21 membros e para que haja “mais vozes dos líderes da comunidade e do meio académico para equilibrar o Conselho”. A ANM quer também que as reuniões do CRU sejam abertas ao público, tal como acontece com o Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). “Desde 2014 que os encontros do CPU têm sido alvo de uma intensa cobertura por parte dos media e o público tem mostrado interesse nas
discussões”, aponta a ANM. No caso do CRU, “os jornalistas nem conseguiram ser informados sobre a data da primeira reunião”.
EQUILÍBRIOS E TRANSPARÊNCIAS
Scott Chiang, presidente da ANM, referiu que “há falta de transparência no Conselho e o público não sabe onde e quando acontecem as reuniões, onde pode ter acesso à informação e quando é que
as reuniões terminam”. “É muito importante equilibrar o número de membros de vários sectores, sobretudo representantes dos moradores de várias zonas e os académicos”, acrescentou. Frisando que o papel do CRU deve focar-se na melhoria da cidade e na qualidade de vida dos residentes, a ANM acredita que o Executivo “deveria evitar a violência e a corrupção (como vemos noutras re-
“A renovação urbana não representa apenas uma mina de ouro mas é crucial para um desenvolvimento saudável da cidade, bem como da qualidade de vida das comunidades” SCOTT CHIANG PRESIDENTE DA ANM
giões) enquanto promove a renovação urbana. É crucial o equilíbrio de vozes das comunidades, profissionais e empresários. Contudo, a actual composição do CRU é baseada sobretudo no interesse dos empresários”, lê-se. “A influência do CRU é fundamental, tendo em conta muitas legislações ou políticas que venham a ser implementadas podem ser afectadas pelo Conselho”, defende a ANM. “A renovação urbana não representa apenas uma mina de ouro mas é crucial para um desenvolvimento saudável da cidade, bem como da qualidade de vida das comunidades”, frisou ainda a associação. Alguns membros do CRU foram notícia no jornal All About Macau por pertencerem a mais do que três conselhos consultivos, tal como Paulo Tse, Paulino Comandante e Andy Wu Keng Kuong. O Chefe do Executivo havia referido que a repetição de nomeações nos conselhos consultivos iria ser controlada. Andreia Sofia Silva
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Tomás Chio
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PANAMA PAPERS JASON CHAO ESPERA MAIS INFORMAÇÕES
Questionado sobre o caso dos Panama Papers, Jason Chao, vice-presidente da ANM, disse esperar mais informações para eventuais iniciativas por parte da Associação. “Precisamos de saber mais resultados sobre familiares ou amigos de figuras do Governo que estão envolvidos no escândalo. Acreditamos que não se tratam de casos isolados, porque já foi publicada uma lista de offshores em 2013. Ainda temos esperança que os órgãos judiciais investiguem, temos de pressionar para que mais informação sobre corrupção seja tornada pública. Não vemos esforços no combate à corrupção, não são muito consistentes. O caso de Ng Lap Seng é um dos casos mais notórios de corrupção e não podemos contar com os órgãos judiciais de Macau. Temos de confiar nos órgãos judiciais de outras jurisdições”, apontou.
MACAU NA LISTA
A imprensa portuguesa de Macau dava ontem conta que serão 25 as empresas ou investidores do território que estão envolvidos no caso Panama Papers. Os números referentes a Macau foram revelados através de uma infografia feita pelo jornal Irish Times, que faz parte do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), que divulgou os documentos da Mossack Fonseca. Haverá ainda quatro pessoas de Macau envolvidas no caso, 22 beneficiários e 233 accionistas. Mas, até agora, ainda não é conhecida a identidade de nenhuma das empresas ou indivíduos, sendo que tanto o Ponto Final, como o Tribuna de Macau indicam que os nomes deverão ser conhecidos em Maio.
5 POLÍTICA
hoje macau quinta-feira 7.4.2016
Táxis MOTORISTAS CONTRA NOVO REGULAMENTO
DEPUTADO PEDE CASAS PARA POLÍCIAS
Sobrevivência por um fio
A
Associação dos Direitos dos Taxistas manifestou-se ontem e entregou uma carta ao Governo contra as alterações propostas com a revisão do Regulamento Relativo ao Transporte de Passageiros em Automóveis Ligeiros de Aluguer (Táxi). Segundo o canal chinês da Rádio Macau, mais de 20 táxis ocuparam ontem de manhã os dois lados da estrada em frente ao edifício da Assembleia Legislativa (AL). O protesto demorou pouco tempo, já que os polícias começaram a dispersar os manifestantes. O vice-presidente da Associação dos Direitos dos Taxistas, Chan Ka Seng, criticou a introdução de polícias à paisana e a suspensão de licenças, defendendo que essas medidas vão pôr em causa a sobrevivência dos taxistas. Chan Ka Seng acusa ainda os Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) de nunca ter consultado as opiniões do sector. Cheong Chin Hang, presidente da mesma Associação, criticou o facto do Governo ter emitido demasiadas licenças de táxi sem conceder subsídios, o que faz com que seja cada vez mais difícil a sobrevivência dos taxistas. Cheong Chin Hang acusou também o Conselho Consultivo do Trânsito de nunca ter ouvido
OU MUN TIN TOI
Taxistas protestaram ontem junto ao hemiciclo e entregaram uma carta à DSAT onde pedem o fim das alterações à lei. Novo protesto pode acontecer na próxima segunda-feira
os representantes do sector, considerando que este organismo não representa as vozes dos taxistas. Para já está a ser ponderada uma manifestação a decorrer na próxima segunda-feira, estando pre-
vista a participação de mais taxistas.
NOVAS REGRAS
Na última reunião do Conselho Consultivo do Trânsito foi anunciado que os taxistas poderão perder a licença caso
O vice-presidente da Associação dos Direitos dos Taxistas criticou a introdução de polícias à paisana e a suspensão de licenças, defendendo que essas medidas vão pôr em causa a sobrevivência dos taxistas
RESERVA FINANCEIRA DESCEU EM JANEIRO
A Reserva Financeira de Macau desceu quatro mil milhões de patacas em Janeiro, segundo os dados publicados ontem pela Autoridade Monetária de Macau em Boletim Oficial e citados pela Rádio Macau. No final de Janeiro, Macau tinha 166 mil milhões de patacas aplicados em depósitos e contas correntes, quase 127,9 mil milhões em títulos de crédito, 45 mil milhões em fundos discricionários e cinco milhões noutras aplicações, além de 1,9 mil milhões em outros activos. Em Dezembro, os investimentos em depósitos e contas correntes aumentaram 2,4 mil milhões de patacas, nos títulos de crédito caíram 1,8 milhões de patacas e nos fundos discricionários desceram 4,3 mil milhões, indica a rádio.
pratiquem oito violações à lei. Para além da introdução dos polícias à paisana, está a ser pensada a introdução de gravações áudio, ainda que estas não sejam obrigatórias. “Se durante a suspensão da licença o taxista continuar a conduzir o táxi, nunca mais vai poder ter essa licença de táxi. Esta é uma das regras do projecto de lei”, disse. “As companhias de táxis também têm de assumir responsabilidades. Essas sanções vão
ser iguais para os taxistas em nome individual ou para as companhias que detêm os táxis. Se uma companhia tiver mais de 30 táxis suspensos então perde o serviço. Se dentro de cem táxis houver 30 suspensos por infracção das regras, a licença vai ser cancelada e não vai poder mais prestar esse serviço”, reiterou Kuok Keng Man, membro do Conselho.
O
deputado Zheng Anting entregou uma interpelação escrita ao Governo onde pede a construção de mais casas para as forças policiais, questionando como está o processo de atribuição de casas para os funcionários públicos. Zheng Anting indicou que o Executivo não atribui moradias aos polícias desde a transferência de soberania, lembrando que os salários de muitos destes profissionais não chega sequer para adquirir uma habitação económica. “Apesar do Governo ter aumentado por duas vezes os subsídios de habitação para a Função Pública, de mil para 2430 patacas, os polícias enfrentam o problema dos elevados preços do imobiliário e não conseguem comprar casa”, frisou. O deputado criticou ainda o facto do Governo ter prometido analisar o assunto, mas desde 2012 não foram avançadas mais novidades. Zheng Anting lembrou que Macau se depara com o problema da falta de terrenos e questiona se alguns prédios da Administração vão ser alvo de remodelação. O deputado considera que estes prédios podem servir de habitação às forças de segurança. T.C.
Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
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COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS AVISO Torna-se público, de acordo com o n.º 4 do ponto 5.º dos Regulamentos para a prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como auditor de contas, contabilistas registado e técnico de contas, elaborados nos termos do artigo 18.º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/99/M, de 1 de Novembro, do artigo 13.º do Estatuto dos Contabilistas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, e da alínea 3) do artigo 1.º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 2/2005, de 17 de Janeiro, que se encontra afixada, na sobreloja da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande nºs 575, 579 e 585, e colocado no respectivo “Web-site”, no local relativo à CRAC e para efeitos de consulta, a lista provisória dos candidatos à prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como Auditor de Contas, Contabilistas Registado e Técnico de Contas no ano 2016, elaborada e homologada por deliberação do Júri designado para o efeito. Em caso de dúvidas, agradecemos o contacto com a CRAC, durante as horas de expediente, através do telefone número 85995343 ou 85995344. Direcção dos Serviços de Finanças, aos 31 de Março de 2016 O Presidente do Júri, Iong Kong Leong
6 hoje macau quinta-feira 7.4.2016
O Executivo voltou atrás: entre os 16 terrenos que decidiu não recuperar anteriormente, três foram-no ontem. Dois pertencem à Transmac e a duas empresas, uma delas ligada a Ambrose So
Terrenos GOVERNO RECUPERA LOTES DA TRANSMAC. OPERADORA RESPONDE
De volta à casa da partida HOJE MACAU
SOCIEDADE
O
Governo declarou ontem a recuperação de mais três terrenos e dois deles pertencem à empresa de autocarros Transmac, que disse já que os lotes “não estão desocupados”. Os concessionários ficam sem direito a qualquer indemnização e os três lotes pertencem ao grupo de terrenos que não foram anteriormente recuperados pelo Governo, porque este considerava ter responsabilidades no atraso pelo seu desenvolvimento. Num despacho ontem publicado em Boletim Oficial, e assinado pelo Secretário Raimundo do Rosário, o Executivo dá conta da recuperação de três terrenos cujo prazo de aproveitamento expirou sem estes terem sido aproveitados. Dois deles ficam em Macau e um na Taipa e todos têm um total de 14 mil metros quadrados. O terreno da Taipa, no Pac On, deveria ter sido aproveitado para a construção de um terminal, com três pisos, para recolha de autocarros e a explorar directamente pela Transmac, tendo o prazo de arrendamento expirado em 28 de
Dezembro de 2014. A empresa de autocarros perde ainda outro lote, na Ilha Verde, onde a operadora iria construir um edifício de seis pisos, com as finalidades de utilização industrial, terminal de autocarros e estacionamento, mas o terreno não foi aproveitado até expirar o prazo de arrendamento, o que aconteceu a 29 de Dezembro de 2013.
CONTRAPONTO
Contudo, a Transmac vem mais uma vez defender-se, dizendo que os dois terrenos “não estão desocupados” e que a que a solução está
Ciúmes ou razão?
Ex-mulher de Wynn acusa magnata de actividades ilegais
A
ex-mulher de Steve Wynn voltou à carga contra o magnata do Jogo, tendo entregue em tribunal documentos que, garante, “mostra que a empresa [teve] anos de actividades empresariais [ilegais] e comportamentos imprudentes”. Elaine Wynn interpôs uma acção em tribunal contra o dono da Wynn, requerendo uma parcela de 10% (ou 7,2 mil milhões de patacas) da operadora, que detém um casino no território e está a caminho do segundo. Elaine Wynn esteve no Conselho de Administração, mas foi retirada depois do divórcio. Agora, acusa o ex-marido de ter violado um “acordo entre accionistas”, de abusar da sua posição para “exercer um exagerado
controlo interno” e ocultar informação aos restantes membros da direcção da empresa. A reunião de accionistas a que se refere Elaine foi a que decidiu a sua retirada da empresa. Ontem, de acordo com a imprensa norte-americana, Elaine Wynn apresentou mais documentos em tribunal, com depoimentos de membros da direcção da Wynn, que alegam ilegalidades e comportamentos imprudentes dentro da operadora.
nas mãos do Governo. Ao canal chinês da Rádio Macau, a operadora disse que ambos os terrenos estão ocupados pela companhia para “estacionar e reparar os autocarros”, pelo que não houve o caso de estarem desocupados. Mais ainda, James Kwai, director-geral adjunto do Departamento de Finanças e Administração da Transmac, indicou que a companhia já pediu ao Governo as plantas de alinhamento oficial destes dois terrenos “há vários anos” e o Governo respondeu que tinha um planeamento de reestruturação
O magnata, que já se divorciou de Elaine duas vezes, afirma que as acusações “não passam de histórias distorcidas e mentiras para embaraçar Steve Wynn e os directores” da empresa. Mas a ex-mulher contra-ataca e diz que estes testemunhos – que incluem depoimentos de Rober Miller, Boone Wayson e Ray Irani, antigos membros da direcção – “contêm novos factos que nunca foram dados a conhecer” a Steve Wynn. “A nova queixa diz que Steve Wynn deixou a Wynn Resorts, intencionalmente, às escuras sobre algumas actividades. Ele teve comportamentos de sério risco e imprudentes, deixando-se vulnerável a alegação de má conduta e fez pagamentos de muitos milhões de dólares e utilizou recursos da empresa para que esses comportamentos ficassem em segredo, já que não os partilhou com os membros da empresa”, indica a imprensa. J.F.
e que as plantas “iam ser enviadas depois”. Mas o Executivo nunca mais divulgou nada, assegura. Os três terrenos são parte dos 16 que não foram aproveitados e que o Governo disse não poder recuperar anteriormente. Já em Janeiro a Transmac tinha dito que vai tentar ao máximo manter o direito de uso dos dois terrenos recuperados. A empresa disse até que já tinha interposto um processo em tribunal. De acordo com a lei, a declaração de caducidade da concessão pode ser alvo de recurso contencioso para o Tribunal de Segunda Instância, no prazo de 30 dias, sendo que os interessados podem ainda reclamar para o Chefe do Executivo no prazo de 15 dias. A empresa, contudo, mostrou-se ontem confiante. “Como a Transmac é uma companhia que oferece um serviço de transporte público, acredito que o Governo vai considerar outro lugar ou instalações para resolver o problema [de estacionamento]”, indicou o responsável. O terceiro terreno fica nos NAPE e tem uma área de 6480 metros quadrados, tratando-se de uma parcela onde deveria ter sido erguido um edifício, compreendendo uma torre com 19 pisos e outra com 13, com as finalidades habitacional, comercial, hotel e estacionamento coberto, cujo prazo de arrendamento expirou a 27 de Julho de 2015 sem que tenha sido desenvolvido.
“Como a Transmac é uma companhia que oferece um serviço de transporte público, acredito que o Governo vai considerar outro lugar ou instalações para resolver o problema [de estacionamento]” JAMES KWAI DIRECTOR-GERAL ADJUNTO DO DEPARTAMENTO DE FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO DA TRANSMAC Pertencia à Sociedade de Fomento Predial Omar, empresa ligada a Ambrose So, director executivo da Sociedade de Jogos de Macau, e à Macau – Obras de Aterro, lda. Também neste caso, o Executivo tinha dito não poder recuperar o lote, porque a responsabilidade era da Administração no não desenvolvimento do terreno. Tomás Chio
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Joana Freitas
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WYNN PREVÊ QUEBRAS NAS RECEITAS A
Wynn Macau anunciou ontem que estima uma queda das suas receitas de entre 13,07% e 14,4% no primeiro trimestre do ano face ao período homólogo do ano passado. Em comunicado, a empresa do norte-americano Steve Wynn refere que dados preliminares apontam para receitas líquidas de entre 603 milhões e 613 milhões de dólares norte-americanos, contra os 705,4 milhões de dólares apurados nos primeiros três meses de 2015. O EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) deve situar-se, de acordo com as estimativas da Wynn, no intervalo de entre 187 milhões e 195 milhões de dólares, após ter alcançado 212,3 milhões de dólares (186,6 milhões de euros ao câmbio actual) no mesmo período de 2015. Os casinos fecharam o primeiro trimestre do ano com receitas de 56.176 milhões de patacas, reflexo de uma queda, em termos anuais homólogos, de 13,3%. As “expectativas preliminares” da Wynn Macau surgem um dia depois de o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, ter afirmado que a variação nas receitas nos primeiros três meses do ano está “dentro dos limites previstos”.
7 hoje macau quinta-feira 7.4.2016
O
Governo pretende limitar o número de trabalhos de casa que diariamente são atribuídos aos alunos com a criação de novas instruções sobre a matéria. A confirmação foi feita por Leong Lai, directora dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), que participou no programa “Macau Talk” do canal chinês da Rádio Macau e onde foi confrontada com muitas críticas por parte dos encarregados de educação. As orientações irão incidir sobre o número de trabalhos de casa e de exames a atribuir. Ao HM, a docente da Universidade de Macau (UM) Teresa Vong explicou que o directório anual das escolas já contém algumas instruções que determinam o número de trabalhos de casa a entregar pelos alunos desde o jardim de infância até ao ensino secundário. Contudo, a docente diz que as escolas não cumprem estas regras. “Pelo que observo, os alunos do ensino primário gastam duas horas ou mais por dia para concluir os trabalhos de casa. Claro que os centros de explicações também dão mais trabalhos para que os estudantes se preparem para os exames. Isso faz com que os estudantes fiquem stressados e infelizes”, apontou. “Muitos ficam desmotivados desde tenra idade, ou perdem a capacidade de prosseguir os estudos. O pesado número de trabalhos de casa tem um profundo impacto na saúde mental e física dos estudantes”, acrescentou Teresa Vong. A académica acredita que um novo sistema deve ser criado. “Hoje em dia os alunos não aprendem só nas aulas mas também aprendem com os meios de comunicação, por exemplo. Penso que temos que repensar o modelo dos trabalhos de casa para que seja algo mais motivador e para que leve a uma maior aprendizagem”, frisou.
Ensino GOVERNO QUER LIMITAR NÚMERO DE TRABALHOS DE CASA
TPC problemáticos Leong Lai, directora dos Serviços de Educação e Juventude, confirmou que vão ser criadas novas instruções para limitar os trabalhos de casa atribuídos aos alunos. Docentes dizem que será difícil pôr novas regras em prática, mas Teresa Vong assegura que há trabalhos a mais que causam “infelicidade e stress”
rem reduzir o número de trabalhos de casa, os professores também podem fazer uma redução. “Todos os dias os alunos têm oito aulas. Se só tiverem dois trabalhos de casa, tornam-se relaxados, se enviarmos seis trabalhos, já é uma pressão. Os directores de turma podem fazer ajustamentos, coordenando com os professores, para aliviar o número de trabalhos de casa”, defendeu. Sofia (nome fictício) é professora numa escola secundária e diz que a redução do número de trabalhos de casa não faz sentido. “Se limitarmos o número de trabalhos eles fazem-nos, mas não pensam no seu significado. Nem sempre o número de trabalhos de casa é o maior problema. As escolas é que muitas vezes ainda exigem aos alunos que façam trabalhos especiais, como relatórios e apresentações, o que rouba muito tempo aos alunos”, apontou.
“O pesado número de trabalhos de casa tem um profundo impacto na saúde mental e física dos estudantes” TERESA VONG DOCENTE DA UM
DIFÍCIL NA PRÁTICA
Para o deputado Au Kam San, também professor na Escola São João de Brito, as novas instruções serão difíceis de pôr em prática. “Como é que se pode controlar o número de trabalhos de casa?”, questionou, referindo que a informação da directora da DSEJ foi apenas para esta “aparecer” nas notícias. Para Au Kam San, se tanto a sociedade como o Governo quise-
SOCIEDADE
Leong Lai
REFORÇAR A EDUCAÇÃO CÍVICA
L
eong Lai defendeu ainda no programa “Macau Talk” que as escolas devem reforçar a educação cívica. “A educação não é apenas transmitir conhecimento mas também atribuir valores correctos”, apontou. Quanto à Educação Sexual, Leong Lai garantiu que a DSEJ tem vindo a trabalhar para que haja mais formação na área e que para que se promovam os conceitos certos.
A directora da Escola da Sagrada Família, Lam Suk Wa, disse que caso a DSEJ lance estas novas instruções a gestão das escolas vai passar a ter maior controlo por parte do Governo e vai, defende, existir demasiado rigor. A irmã Lam Suk Wa referiu ainda que muitas escolas já têm afixados o número de testes e trabalhos de casa para cada ano lectivo, sendo que as novas medidas da DSEJ “não são necessárias”, defendeu. Andreia Sofia Silva
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Flora Fong
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Tomás Chio
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CEM MAIS 60 ESTAÇÕES PARA CARROS ELÉCTRICOS
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Companhia de Electricidade de Macau (CEM) garantiu que o Governo já autorizou a criação de 60 estações de carregamento para veículos eléctricos, as quais deverão entrar em funcionamento em Setembro ou Outubro deste ano. Actualmente existem dez estações de carregamento a funcionar em nove parques de estacionamento públicos, os quais podem ser usados de forma gratuita. Citado pelo jornal Ou Mun, o assessor da Comissão Executiva da CEM, Iun Iok Meng, afirmou que a empresa irá construir estas novas estações em mais parques de estacionamento, incluindo os da habitação económica na Ilha Verde, Fai Chi Kei, Seac Pai Van ou no Jardim Vasco da Gama. Iun Iok Meng explicou que a chegada dos equipamentos pode demorar três meses, prometendo um carregamento mais rápido, já que um carregamento de apenas meia hora dará para cem quilómetros. Quanto à instalação de estações de carregamento em parques de estacionamento privados, Iun Iok Meng explicou que tudo irá depender da elaboração de um novo regulamento por parte do Governo, sendo que será necessária uma concordância de dois terços dos moradores. F.F.
8 EVENTOS
Jihad ou a aniquilação?
Cinema MACAU STORIES 2 EM PLATAFORMA O
FRC Conferência “Resposta Penal à Ameaça do Terrorismo” com Júlio Pereira aos direitos humanos, com base numa visão rigorista e oportunista do Islão, como indica a organização. Os europeus não entendem designadamente como é que jovens nascidos e/ou educados em solo europeu, se voluntariam para combater na Síria ou no Iraque ou para cometer atentados nos países em que nasceram ou onde foram acolhidos.
ADAPTAR A LEI PENAL
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ÚLIO Pereira, Procurador-geral adjunto em Portugal e antigo adjunto do Comissário Contra a Corrupção em Macau vai discorrer sobre a forma como os sistema penal deve lidar com a ameaça do terrorismo. Num evento a ter lugar na Fundação Rui Cunha, a 12 de Abril, a conferência irá abordar o ciclo de violência jihadista que se tem manifestado através de atentados nos quatro continentes e que tem causado especial perplexidade na Europa. Muitos países europeus sofreram, na segunda metade do
século XX, ataques terroristas de grande amplitude. Adianta o abstracto da palestra que o terrorismo de matriz independentista ou revolucionária, sendo naturalmente repudiado, era por alguns entendido no quadro da disputa geoestratégica do mundo bipolar de então, invocando valores como a liberdade ou o direito à independência dos povos. O terrorismo jihadista, porém, aponta como objectivo imediato a aniquilação de tudo aquilo que se considera como valor adquirido pela humanidade, no que se refere
A resposta a este problema, corporizada numa estratégia anti-terrorista da União Europeia, “passa também pela lei penal que tem ao longo dos últimos anos sofrido importantes alterações as quais têm também gerado o receio de que possam conduzir a um novo paradigma de direito e de processo penal”, como indica o orador. “Numa altura em que o mundo vive, permanentemente, a terrível ameaça terrorista, esta conferência assume uma relevância especial”, explica a FRC. Integrada no ciclo Reflexões ao Cair da Tarde, a conferência de Júlio Pereira acontecerá na próxima terça-feira, dia 12 de Abril, às 18h30. Terá tradução simultânea e a entrada é livre. M.N.
HONG KONG JÓIA QUE PERTENCEU À RAINHA D. AMÉLIA SEM INTERESSADOS
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MA jóia que pertenceu à rainha D. Amélia, mulher do rei D. Carlos, foi a leilão em Hong Kong na terça-feira, mas não aparecerem interessados e não foi vendida, disse ontem à Lusa fonte da leiloeira Sotheby’s. Desenhada em finais do século XIX, com diamantes-rosa, esmeraldas, ouro e prata, a jóia tinha um valor de licitação entre cerca de um milhão e 1,3 milhões de euros e era considerada uma das “estrelas” do leilão. A jóia não foi vendida por não ter sido apresentada qualquer licitação, revelou à Lusa a Sotheby’s de Hong Kong. “A grandeza deste broche reside não só na sua proveniência, mas
também nas três atractivas esmeraldas colombianas, que são naturais e sem tratamento de clareza, em que a pedra central pesa uns impressionantes 12,22 quilates”, lê-se no catálogo do leilão de terça-feira. As esmeraldas, realçava a leiloeira, são “de elevado grau de clareza, raramente encontrado hoje”. “Um broche nobre com estas pedras preciosas importantes” que, segundo a Sotheby’s, “atrai tanto aficionados e coleccionadores de jóias, como conhecedores de gemas”. A jóia foi oferecida a D. Amélia, pelo seu padrinho, Luís, duque de Aumale, filho do último rei de França, Luís Filipe, a
quando do seu casamento com o monarca português, em 1889. D. Amélia, mãe do último rei de Portugal, D. Manuel II, partiu para o exílio em Inglaterra em 1910, aquando da proclamação da república. Viveu em Inglaterra e mais tarde em França, no seu palácio, em Le Chesnay, a cerca de 17 quilómetros de Paris, onde morreu em Outubro de 1951. Em 1945 efectuou uma visita a Portugal.
Histórias Tudo começou há dois anos quando seis filmes constantes do projecto Macau Stories 2 estiveram presentes num festival do Japão. Contactos foram efectuados e agora os filmes estão online no canal Viddsee
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EIS filmes made in Macau estão disponíveis numa plataforma online de Singapura, depois de terem sido seleccionados após um festival no Japão. O realizador da série Macau Stories 2 – que engloba as seis obras -, Albert Chu, diz que esta é mais uma oportunidade para promover os realizadores de Macau. “Acredito que o networking feito pela plataforma poderá ajudar os realizadores a conseguirem outros projectos”, indica o também membro da Associação Audiovisual Cut. A Viddsee, uma plataforma exclusivamente dedicada a curtas-metragens e baseada em Singapura, apresenta-se como uma rede que inclui algumas das maiores empresas de internet do mundo e procura histórias fortes com valor de produção. É por esta razão que a série Macau Stories 1 não está na plataforma, pois, como disse Albert Chu, “existem problemas na pós-produção dessa série”, o que implicaria um esforço difícil de resolver nesta fase. Para além disso, o responsável da Associação Cut diz que espera primeiro ver quais os
resultados desta experiência, para depois considerar a entrada da Macau Stories 3 justificando ainda com o facto de estar a seguir uma ordem cronológica para o lançamento dos filmes na plataforma. A série Macau Stories 2, dedicada ao tema do amor, engloba “June” de Fernando Eloy, a história de uma mulher de meia-idade que pensa que o tempo para amar e namorar já passou. “A Book To Remember” de Jordan Cheng, uma história à volta do livro “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Marquez, onde uma camada de pó espoleta uma memória há muito enterrada, “Frozen World” de Harriet Wong, a aventura de um menino solitário que um dia se encontra com uma menina para uma viagem de barco a uma ilha misteriosa” e “Sofá” de Mike Ao Ieong, que mostra dois amantes, ela de Taiwan, ele de Macau às voltas com um sofá vermelho pela cidade são outros dos escolhidos, que fazem par com “Cake” de Tou Kin Hong, um bolo misterioso que evoca a determinação de um guarda nocturno para descobrir a fonte da doçura na sua vida, e “Shocking” de Elisabela Larrea, a história de um rapaz isolado
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À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA 1089 , O LIVRO PERDIDO DAS ORIGENS DE PORTUGAL • Emílio Miranda Ano de 1089. Uma nação em formação ergue-se na bruma do tempo, movida pelo forte e leal braço do povo, pelo arrojo de senhores feudais e pela fé nos ditames da Igreja e dos seus ministros. Num velho mosteiro, são muitas e sinceras as preces, mas também as manobras pela conquista do poder nesse novo território.
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UMA FORTUNA PERIGOSA • Ken Follett O verão anuncia-se quente e, numa tarde de maio, um jovem morre afogado numa pedreira inundada de água. O incidente ocorre em Windfield School, uma escola frequentada por rapazes oriundos de classes abastadas, permanece encoberto em mistério conduzindo a uma trágica saga de amor, poder e vingança que envolve sucessivas gerações de uma família de banqueiros. A história decorre entre a riqueza e a decadência de uma Inglaterra vitoriana, entre a City londrina e colónias distantes. O leitor acompanha a família Pilaster durante o período áureo do império britânico. Ken Follett inspirou-se num caso real de bancarrota ocorrido no século XIX para escrever este romance extraordinário.
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ONLINE DE SINGAPURA
em linha
que um dia se apaixona por uma rapariga vinda do espaço.
DA ÁSIA PARA O MUNDO
Gerida por gente nova, também eles cineastas, a Viddsee baseia-se na própria experiência dos seus fundadores e na necessidade que todos têm em fazer chegar os seus filmes a uma audiência mais vasta. O objectivo é o de criarem um portal de filmes asiáticos para uma audiência global. A plataforma tem ainda um galardão para os filmes mais vistos e mais falados em cada mês chamada Viddsee Shortee. Em Maio espera-se que Derek Tan, um dos responsáveis da plataforma, venha a Macau para contactos com a comunidade cinematográfica local, o que Albert Chu vê como mais uma oportunidade para os cineastas locais criarem laços e relações pois “nunca se sabe quando é que um produtor vê um dos filmes e convida o realizador para outro tipo de projectos”, reforçou.
EDIÇÃO 4 NÃO SE VISLUMBRA
Questionado sobre se existem planos para a produção de uma quarta edição de “Macau Stories”, Albert Chu negou pois, segundo ele, “este projecto foi feito para lançar novos valores do cinema local e agora entendemos que eles têm mais formas de conseguirem financiamentos”. Todavia, Chu não descarta a possibilidade: “pode ser que venha a acontecer mas não está nos planos da Cut pelo menos nos próximos dois anos ou três anos”. A edição 2 pode-se encontrar no canal “Macau Stories” da Viddsee em: viddsee.com/series/macaustories.
WORKSHOP SOBRE MATISSE COM ANA PESSANHA
Pintor de emoções, como ele próprio um dia disse, e profundamente interessado na figura humana, apesar de ter começado a pintar naturezas-mortas e paisagens no estilo flamengo tradicional, Henri Matisse é um dos grandes pintores contemporâneos. Destacado impressionista, a maioria de suas primeiras obras, todavia, empregavam uma paleta escura e tendiam para o sombrio. Mas um dia tudo mudou. “Procuro o efeito de cor mais forte possível ... o conteúdo não tem importância nenhuma”, referiu. Além do seu traço inconfundível, Matisse ficou também conhecido pela utilização da técnica de colagem de papéis coloridos recortados e é precisamente isso que Ana Maria Pessanha vai voltar a abordar num workshop no Creative Macau. A portuguesa tem o grau de Pintura da Faculdade de Belas Artes de Lisboa e é actualmente professora de Arte e coordenadora do programa de mestrado da Escola Superior de Educação Almeida Garrett da Universidade Lusófona. A sessão acontecerá no próximo sábado, dia 9, entre as 15h00 e as 18h00. A admissão é gratuita.
EVENTOS
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ANÚNCIO N.º 23/2016 Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar o representante do agregado familiar do concurso de habitação económica abaixo indicado, no uso da competência delegada pela alínea 20) do n.º 3 do Despacho n.º 06/IH/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM, n.º 7, II Série, de 18 de Fevereiro de 2015 e nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro:
Nome CHONG MAN TIN
N.º do Boletim de candidatura 81201308465
Por causa de não apresentar os documentos necessários dentro do prazo fixado, este Instituto informou-o por meio de ofício, com o n.o1508190098/DHEA, datada de 20 de Agosto de 2015, a solicitar ao interessado acima mencionado para apresentar por escrito a sua contestação pelos factos acima referidos no prazo de 10 (dez) dias a contar da data de recepção do referido ofício, entretanto não o fez dentro do prazo indicado. Nos termos da alínea 2) do n.o1 do artigo 28.º da Lei n.o 10/2011 (Lei da habitação económica), alterada pela Lei n.o 11/2015 e a decisão do despacho do Chefe substituto do Departamento de Habitação Pública , exarado na Proposta n.º 0931/DHP/DHEA/2015, o adquirente seleccionado foi excluído do concurso. E nos termos do n.º 24 do Despacho n.º 06/IH/2015 e no artigo 155.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, cabe recurso hierárquico necessário da respectiva decisão administrativa, ao Presidente deste Instituto, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data de publicação do presente anúncio, o recurso hierárquico tem efeito suspensivo. Instituto de Habitação, aoa 1 de Abril de 2016. O Presidente, Arnaldo Santos
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PEQUIM ANUNCIA RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO COM PYONGYANG
Tão amigos que nós éramos A China, actualmente na presidência do Conselho de Segurança da ONU, fez jus ao lugar implementando a resolução 2270 de embargo à Coreia do Norte. Mantémse apenas no mercado com o abastecimento de carvão para assegurar “o bem-estar da população” norte-coreana
I
NFORMA o Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista Chinês, que Pequim baniu na passada terça-feira as importações de ferro provenientes de Pyongyang, assim como cessou a exportação de combustíveis para aviação e outros derivados de petróleo utilizados na produção de combustíveis para mísseis balísticos. O Ministério do Comércio publicou a lista no seu sítio, dizendo que também iria cancelar as importações de ouro e terras raras da RPDC, em
conformidade com as novas sanções da ONU. Amaioria das exportações da RPDC para a China são minerais, sendo que estas perfazem 90% do total do volume de exportações do país, de acordo com Liu Chao, um investigador da Academia de Ciências Sociais de Liaoning. A China manterá, porém, o abastecimento de carvão utilizado para “o bem-estar da população” e não para utilização em armamento nuclear. As sanções na exportação de combustíveis de aviação e mísseis, limita-se ao necessário para “suprir necessidades humanitárias básicas”, incluindo aviões de passageiros que voam para lá do território da RPDC. Outros minerais alvos de restrições incluem o vanádio e o titânio, ambos usados em ligas de aço.
EM LINHA COM A ONU
O Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade no início de Março uma
resolução para expandir as sanções, após o teste nuclear da RPDC de 6 de Janeiro e subsequente lançamento de um míssil. O comunicado de embargo da China, que veicula as sanções mais rígidas de qualquer país da comunidade internacional à RPDC, demonstra que Pequim honra estritamente
“As sanções deverão urgir a RPDC a voltar à mesa de negociações. As sanções não podem ser tomadas como um propósito” SHI YONGMING INVESTIGADOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS INTERNACIONAIS DA CHINA
PAI DA CENSURA APANHADO A “DAR-LHE A VOLTA”
Segundo a agência de notícia francês EFE, o engenheiro Fang Binxing, conhecido por ter projectado o sistema que bloqueia o acesso a vários sites estrangeiros na China, entre eles o Google, Facebook e YouTube, foi surpreendido recentemente usando uma rede VPN (rede privada virtual) em público para burlar sua própria criação. Segundo informações repercutidas nesta quarta-feira nas redes sociais chinesas, Fang usou uma VPN durante uma conferência no Instituto de Tecnologia de Harbin, no nordeste da China. O engenheiro foi a primeira vítima de seu próprio sistema, pois na exposição queria mostrar um site sul-coreano, mas este foi bloqueado, portanto, teve que usar a VPN, de acordo com uma notícia que foi veiculada pela primeira vez pelo jornal de Hong Kong, “Ming Pao”. O incidente gerou muitas piadas e comentários entre cibernautas da China, onde Fang é um personagem bastante impopular, muitos deles ironizando a censura sofrida pelo próprio censor.
a resolução do Conselho de Segurança da ONU, disse Shi Yongming, um investigador do Instituto de Estudos Internacionais da China. Contudo, a comunidade internacional deverá procurar uma forma de conseguir PUB
uma resolução pacífica com a questão nuclear da península coreana, disse ainda Shi, acrescentado que este objectivo deve ser conseguido através do diálogo político. “As sanções deverão urgir a RPDC a voltar à mesa
CHINA de negociações. As sanções não podem ser tomadas como um propósito”, disse, acrescentando que sem diálogo político as sanções estão “destinadas ao fracasso”.
JÁ NÃO É A PRIMEIRA VEZ
Wang Junsheng, um investigador do Instituto Nacional de Estratégia Internacional da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse não ser a primeira vez que a China aplica este tipo de sanções à RPDC. Em 2013, vários departamentos governamentais, incluindo o Ministério do Comércio e o Ministério do Transporte, emitiram vários documentos com vista a aplicar várias resoluções da ONU em resposta a um teste nuclear da RPDC de Fevereiro do ano passado. Wang disse que a lista de embargos deste ano, na qual algumas excepções estão incluídas, demonstra que a China se encontra a implementar a resolução 2270 do Conselho de Segurança da ONU, considerando simultaneamente as necessidades básicas humanitárias da RPDC.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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fichas de leitura
Manuel Afonso Costa
Realismo, mito e melopeia encantatória
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livro começa muito bem como devem começar os bons livros, para aguçar o apetite e sobretudo estimular curiosidade e dúvida. O princípio de um livro pode tornar a sua leitura inevitável. Tudo deve ser dito e ao mesmo tempo nada. E isso não é fácil. Só os grandes livros, como o Pedro Páramo de Rulfo, a Conversa na Catedral de Llosa ou Heróis e Túmulos de Sábato, para só citar autores sul-americanos, com os quais Riço Direitinho tem afinidades. É verdade que tem também afinidades com autores galegos, como Valle Inclán ou Camilo José Cela e até mesmo com o transmontano Torga… O livro começa assim: “Depois de se ter deitado com um homem, lavava-se sempre numa infusão de folhas de arruda, apanhadas ao luar, e bebia tisanas com sementes de funcho e de sargacinha-dos-montes, para que as regras não lhe faltassem. De maneira que nos dois meses seguintes à noite em que encontrou na eira uma maçaroca de milho-rei, não acreditou que estivesse grávida…” (p. 11). Assim começa este romance que narra a vida e a morte (aos 33 anos, como Jesus) de José de Risso, um homem de virtude que nasceu marcado nas costas com um sinal em forma de folha de carvalho. Pelo meio há o enorme lobo de Espadañedo, um lobisomem que descia da serra quando a Lua lhe estava de feição; há receitas de chás e de tisanas que curam do mau-olhado, da má-sina
Riço Direitinho, José, Breviário das Más Inclinações, Asa, Porto, 1994. Descritores: Romance, Portugal, Tradição, Identidade, Ruralidade, Memória, Pathos.
com as mulheres, dos amores infelizes, das galhaduras, dos maus pensamentos; há chás e tisanas que fazem recobrar os ímpetos aos homens; há também Purísima de la Concepción, a muito bonita e alegre viúva galega, de quem se dizia (sem se ter a certeza) que encomendara a morte do marido a um matador de touros andaluz a quem as mulheres casadas chamavam, com disfarçado fervor e muita paixão contida, Niño del Teso. Este romance de José Riço Direitinho, o Breviário das Más Inclinações, destacado pela crítica e premiado com o Grande Prémio do Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores-APE, fala sem problemas de crenças, superstições e mundos envolvidos por atmosferas obscuras e estranhas. Jogando com efeitos elípticos e recorrendo a prolepses e analepses permanentes, as primeiras anunciadas no texto apócrifo que serve de guia para a acção, uma vez que todos os capítulos são precedidos de uma curta passagem de um outro texto, em edição fac-simile, intitulado Vida e Morte de José Risso, de autor anónimo, o nosso autor consegue pôr de pé uma história envolvente; insólita mas verosímil. Mas os livros de José Riço Direirinho começam várias vezes pois a sua ideia estilística de base assemelha-se às melopeias populares que circulam pe-
JOSÉ RIÇO DIREITINHO nasceu em Lisboa no mês de Julho de 1965. Formou-se em Agronomia, e desenvolveu estudos em Economia e Sociologia Rural. A sua primeira produção significativa no plano literário foi a A casa do fim, obra que imediatamente revelou um escritor poderoso e original. Esta obra foi lançada em 1992, tendo-se seguido com curto espaço de tempo mais dois romances elaborados na mesma linha do romance de estreia e que foram os romances Breviário das más inclinações, em 1994, e O Relógio do cárcere, em 1997. José Riço Direitinho situa a sua obra romanesca num registo que oscila entre o realismo rural e o mítico; e é essa mistura de cultura popular com um sabor etnográfico, com uma memória que tende a mitificar as personagens que lhe confere a sua grande originalidade. Não será demais referir também uma poética do maravilhoso, ainda que ancorado num enorme acervo de superstições e crenças populares.
Por exemplo: “Nasceu com a cabeça envolta nos âmnios. Há-de ser sempre feliz e terá o dom da adivinhação”, isto apesar de ter nascido “no dia vinte e quatro, dia de S. Bartolomeu, em que o diabo anda à solta”. Pequena antologia de dizeres: Depois de saber que estava grávida, procurou cumprir tudo para que a criança nascesse sem problemas: deixou de usar o cordão de ouro ou outro qualquer fio, para o bebê não nascer com o cordão umbilical enrolado à volta do pescoço, que é sempre sinal de morte prematura […]. (p. 12) “antes de sair de casa, no começo desta noite irremediável, bebera chá de romã e loureiro para que o fel das entranhas não lhe subisse à boca. Esqueceu-se que essa infusão era também a mezinha das mulheres estéreis” (17).
las feiras, ou circulavam, e que conferiam às histórias uma inequívoca aura mítica e ao mesmo tempo plenamente realista. O personagem central deste romance é José de Risso marcado por eventos que lhe conferem o estatuto. Antes de mais ele é fruto de uma única noite de amor de sua mãe. Depois essa noite de amor ocorre com um estranho, um estrangeiro digamos, que a engravida e a abandona sem saber que a engravidou. Depois ainda a mãe morre durante o parto, José de Risso nasce portanto já órfão, totalmente órfão, e finalmente nasce estigmatizado por um estranho sinal nas costas, como se fosse marcado à nascença, por uma mancha vermelha em forma de folha de carvalho. E é tudo isso; a que se acrescenta uma também estranha propensão para lidar com plantas medicinais e curativas; que compõe a sua aura e a sua sina, ou seja uma fama de curandeiro abençoado mas também de desgraçado e vítima de mau olhado. Um estatuto ambivalente que o autor do romance explora sempre muito bem.
A mulher acordou com um pesado bater de asas sobre as telhas. Dormira toda a noite. Ao abrir os olhos viu, pelas frinchas das tábuas do telhado, a primeira claridade do dia. Sobressaltou-se com o rumor dos pássaros, e logo depois com a ausência do marido: a cama não tinha sido desmanchada do lado dele. Só nessa altura conseguiu perceber que os grifos tinham voltado a Vilarinho dos Loivos, e que, quase sempre, deviam estar a voar em círculos largos sobre um corpo morto, à espera. (p. 41) “uma insólita nuvem de pirilampos cobriu, pelo lado de fora, a janela do quarto.[…] Enterraram-na no final da tarde do dia seguinte, no canto do cemitério onde as mandrágoras e as beladonas teimavam em crescer durante todo o ano” (p. 61-62). *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.
13 hoje macau quinta-feira 7.4.2016
contos & histórias António Conceição Júnior
Solidão J
OSÉ Plácido Meireles de Lima procurava afastar do pensamento as palavras que ouvia sobre o defunto, ali emoldurado por dezenas de flores. Pensava o quanto os vivos descobriam virtudes em todos quantos partiam, mesmo no pior dos safardanas. Estavam na Sé Catedral. A igreja estava cheia e o colarinho de José Plácido, vestido de preto, empapava-se de suor. Mal humorado, ouvia os elogios ao falecido e o roçagar dos leques que aliviavam as senhoras dos calores de Agosto. Ali estava porque era um hábito, mas tudo o irritava. Das poucas vezes que ia sozinho, aquando da homilia, o sacerdote subindo ao púlpito, ele e mais uns quantos saíam para fumar, ante o olhar reprovador de algumas consortes. Olhou o caixão aberto e o rosto de cera, questionando-se sobre o que era a morte e como transformava a matéria outrora habitada. Habitada? Deu-se conta do que pensara. Sentia-se confuso sempre que pensava nisso. Entretanto começara o Pai Nosso. Todos se curvaram, cabeça baixa, rezando alto “Pater noster, qui es in cælis... “. Plácido inspirou longamente, admitindo que não perdoava a quem o tinha ofendido. Olhou as “beatas” pelo canto do olho enquanto se alinhavam para a comunhão. “Está quase”, pensou, ansioso. José Plácido de Lima tinha nascido de uma relação entre a cozinheira chinesa e o dono de uma casa respeitável. A desgraçada vivia no rés-do-chão da casa, entre garrafeira, lenha, sacos de arroz e outros víveres. Foi despedida e ele levado para o Orfanato Salesiano, onde o esperava mão leve, que lhe assestava por tudo e nada. Era “filho natural” de um senhor que preferiu o anonimato, assegurado por uma generosa doação ao dito Orfanato. Ali entrou sem nome de baptismo. Cresceu entre abandonados ou verdadeiros órfãos. A infância tinha sido rotineira, entre confissões, oratório, missas, reguadas, estudos de português, tabuada, arroz regado com sutate e, às vezes, alguma carne. Deram-lhe o nome de José, assim mesmo, sem mais. E os dias foram passando iguais. Sentia ser ninguém, nada, um acidente apenas. Um dia, chamaram-no, juntamente com outros miúdos de oito e nove anos, para uma sala onde estava o padre director e um casal. Alinharam-nos contra a parede, cabeças baixas. Somente José apresentava alguns, poucos, sinais de mestiçagem. No orfanato chamavam-no
fa-sang (amendoim) pelo formato do rosto. A senhora olhou, olhou, e foi adoptado. Levaram-no de imediato vestindo o seu bibe encardido. Despediu-se do padre director e ei-lo a entrar, pela primeira vez, num automóvel. Dona Cássia tratou de convencer o marido a perfilhá-lo. Arnaldo Figueiredo Meireles de Lima, causídico abastado, lá anuiu, e eis que a José lhe acrescentaram o nome de Plácido e o sobrenome Meireles de Lima. José cresceu num casarão para as bandas da Flora, com jardim e pavilhão de Verão, palmeiras, canteiros de flores, entre criadas chinesas, tutores e visitas de abastados clientes que demandavam o saber do Senhor Doutor. Aos doze anos foi para o Liceu, ali bem perto. Dona Cássia, porém, fazia questão que fosse de motorista, o que lhe valeu a galhofa dos colegas. O rapaz, no seu casaco azul escuro, calças brancas e sapatos a condizer, olhava para os outros de soslaio, os complexos engolidos. Ouvia remoques que ignorava. Aos quinze anos tinha crescido. Estava alto, o cabelo era negro, sempre bem cortado, ligeiramente ondulado. Os olhos eram muito amendoados como os de tantos outros. Aos dezasseis cresceu-lhe o buço, uma amostrazinha que lhe valeu um acréscimo à alcunha, camarang, por causa dos pelitos revirados em forma de camarão. Era o camarang fá-sang, que Macau sempre abundou em alcunhas. Crescido, logrou namoriscar uma colega mais adiantada. A paixão foi mais forte e, certa noite, num quintal próximo do liceu, Josefina entregou-se-lhe. Os encontros repetiram-se. Colegas viram-no saltar o muro da casa dos Lopes e a notícia correu como um rastilho, galgou ruas, travessas e, num sussurro, chegou aos ouvidos de Dona Cássia e do marido. As reacções foram diversas. “É má-língua de Macau”, disse Dona Cássia. Arnaldo Figueiredo Meireles de Lima, não lhe respondeu, mandou o chauffeur pegar o Zé e levá-lo ao escritório. Suaves pancadas soaram no gabinete de Arnaldo de Lima. Armantina, que trabalhava ali, anunciou a sua chegada pondo a cabeça dentro do gabinete. “Que entre”, rosnou Arnaldo de Lima debaixo da bigodaça encerada e de pontas reviradas. José Plácido introduziu-se no gabinete colado à parede, como uma sombra. O rosto estava lívido. “Dá licença, Pai?”.
“O tempo esfriara. Vestiu o camisolão. Sentiu-se mais aconchegado e, nesse aconchego, percebeu finalmente que ele, como todos, eram sós, e morreriam tão sós como nasceram” Arnaldo de Lima pousou o charuto e olhou-o por cima das lunetas. “Com que então anda a completar a sua educação física a saltar muros, não é assim?”. A voz não se tinha elevado mas o tom não era encorajador. Levantou-se e um enorme estalo quase atirou o rapaz para o chão. E mais outro e ainda outro, puseram a cara de José Camarang mais rubra do que o de uma donzela. “Você desapontou-me muito. Tinha planos para si, mas agora mudaram”, sibilou roucamente o causídico lisboeta, há muito radicado em Macau, sem deixar de fitar José com ar sério. “ Fica avisado que as saídas nocturnas acabaram, o Liceu acabou e virá todos os dias aqui para o escritório, aprender a ser útil. Começará amanhã. A
D. Armantina dar-lhe-á que fazer! Em vez de bacharel irá para escriturário”. O destino de Camarang fá-sang estava outra vez traçado. Olhou novamente para o cadáver do Dr. Arnaldo Meireles de Lima. Um ódio ao morto nasceu inútil. Tinha-lhe dado oportunidade de aprender boas maneiras, torrá português, mas foi um desastre. Passara anos numa repartição. Dona Cássia, convencida pelo marido, afastara-se. Daquele melro não viria coisa boa. “Falta de berço...”, suspirara rendida. José Camarang, sem conhecer pai e mãe, lá foi roçando as mangas de alpaca junto de bacharéis e doutores a quem se procurou encostar para colher benefícios. Os anos passaram e José Camarang contava o tempo para se aposentar. Sem grande sorte nos avanços aos bacharéis e doutores, chegara-se à Rua da Felicidade em busca de algum ricaço chinês precisado de um bilingue. Fora de horas conhecera algumas p’ei pá chai e tinha-se mesmo aventurado no Pátio das Galinhas, para servir os apetites dos convivas. Camarang Fá-Sang ali estava. Perante o esquife, maldizia o destino, odiando tudo o que se virara contra ele. Olhava a sua vida, da qual era simultaneamente actor e vítima. Jamais conseguira resolver-se, conhecer-se, distinguir os seus sentimentos. Não sabia que fugia de se enfrentar. Faltara-lhe sempre lucidez para se compreender. No quarto modesto que ocupava enrolou outro cigarro, acendeu-o ficando a olhar o fumo em ascensão, linhas rectas, serenas, verticais. Estava só, nascera só, perdido das origens, dor que carregava consigo, sentimento complexo esse. Pela janela olhou os escassos passantes. O tempo esfriara. Vestiu o camisolão. Sentiu-se mais aconchegado e, nesse aconchego, percebeu finalmente que ele, como todos, eram sós, e morreriam tão sós como nasceram. Sentiu alívio nessa incontornável verdade. Levou décadas para, enfim, perceber a sua singularidade e a similaridade com todos os outros. Na sua mente, algo embotada pela carga do passado, a vida passou a fazer um sentido que nunca lhe ocorrera. Os outros eram os outros, gente que invejara até esse momento. Sorriu, despiu o camisolão, vestiu o casaco mais forte, pôs o chapéu e, aliviado, fechou a porta do quarto alugado. Saiu para a rua e, pela primeira vez, respirou o ar fresco apaziguadamente. Um sorriso aflorou-lhe enquanto os seus passos se perdiam, encontrados.
14 (F)UTILIDADES TEMPO
MUITO
hoje macau quinta-feira 7.4.2016
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NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
“OS SETE PECADOS MORTAIS NA ÓPERA” PALESTRA POR SHEE VA E RAÚL PISSARRA Fundação Rui Cunha, 18h30 Entrada livre
MIN
21
MAX
25
HUM
85-99%
•
EURO
9.10
BAHT
MUNDO DE SHAKESPEARE PELA ORQUESTRA DE MACAU Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes entre as cem e 200 patacas WORKSHOP SOBRE MATISSE COM ANA PESSANHA Creative Macau, 15h00 Entrada livre
O CARTOON STEPH
HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 62
PROBLEMA 63
UM LIVRO HOJE C I N E M A
THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR SALA 1
THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR [C]
Filme de: Cedric Nicolas-Troyan Com: Chris Hemsworth, Charlize Theron, Emily Blunt 14.30, 16.30, 21.30
THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR [3D] [C]
Filme de: Cedric Nicolas-Troyan Com: Chris Hemsworth, Charlize Theron, Emily Blunt 19.30 SALA 2
BATMAN V SUPERMAN [C]: DAWN OF JUSTICE
Filme de: Zack Snyder Com: Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence Fishburne
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “COLOUR EXCHANGE” (ATÉ 10/04) Casa Garden
Cineteatro
1.23
LIBERDADE E CONTROLO
Sábado
EXPOSIÇÃO DE DINOSSAUROS Centro de Ciência de Macau
YUAN
AQUI HÁ GATO
LANÇAMENTO DA REVISTA “LIVE & LOVE MACAU” Heart Bar, 18h00 Entrada livre
Diariamente
0.22
Eu gosto da liberdade, como todos vocês (talvez). Mas este mundo não é bem assim: são sempre os seres humanos que dominam quase tudo. Parecem seres supremos, sobretudo neste século. Comem o que querem, fazem o que gostam, ganham dinheiro de formas que alguns nem imaginavam ser possível. A China é o melhor exemplo para provar a minha ideia: criam-se comidas falsificadas, com demasiados químicos ou pesticidas. Matamos gatos (au!) e cães à vontade sem qualquer simpatia pelos animais. Treinam-se macacos cruelmente para que façam espectáculos nas ruas para fazer dinheiro... Nós, animais, não temos toda a liberdade que devíamos porque os humanos querem controlar-nos de forma perfeita, sem nenhuma resistência. Apesar de tudo, ainda bem que nasci nesta “região especial”. Fui abandonado mas fui adoptado desde pequenino. Na verdade, muitos gatos e cães foram abandonados nesta cidade e não têm uma casa que os conforte. Apanham chuva, vento, nem sequer têm comida suficiente para sobreviver e apenas podem procurá-la entre o lixo deixado pelos humanos. Eu sei, eu sei que vocês podem não gostar de animais, mas não podem olhar com desprezo para, nem maltratá-los. Não têm direito. E, de qualquer maneira, vocês são também animais. Pu Yi
“RICE” (SU TONG, 1995)
Considerado dos melhores escritores contemporâneos chineses, e que por cá passou na primeira edição do “Rota das Letras”, ficou conhecido por “Raise the Red Lantern” mas foi com “Rice” que se iniciou nos romances. Uma história de violência, sexo e fome. O relato da destruição de uma família num texto vivo e poderoso. Uma viagem que nos leva da China esfomeada dos anos 30 à invasão japonesa, onde o autor utiliza o arroz como alimento, moeda, afrodisíaco, instrumento de tortura sexual, arma de crime, ou mesmo como símbolo de tudo o que é bom. Uma tragicomédia sensual e negra escrita de forma fantástica onde as imagens se evolam das páginas como se de um filme se tratasse. Um livro furioso e inesquecível. Manuel Nunes
14.15, 19.00
ZOOTOPIA [A]
FALADO EM CANTONÊS Filme de: Byron Howard, Rich Moore 17.00, 21.45 SALA 3
TRIVISA [C]
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Frank Hui, Jevons Au, Vicky Wong Com: Lam Ks Tung, Richie Jen, Jordan Chan
ZOOTOPIA [A]
FALADO EM CANTONÊS Filme de: Byron Howard, Rich Moore 19.30
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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
15 hoje macau quinta-feira 7.4.2016
bairro do oriente
O tal canal (o do Panamá)
D
EPOIS dos WikiLeaks e das revelações de Edward Snowden, o Madaleno arrependido dos esbirros da CIA, eis mais um fartote de “revelações explosivas”: os papéis do Panamá. E do que se trata? Mais de dez milhões de documentos oficiais que ninguém quer ler por serem uma “seca”, mas toda a gente quer saber os detalhes mais sórdidos e indiscretos – só alguns, vá lá, e mesmo muito condensados ao essencial, que no fundo é apenas no sentido de se confirmar algo que já há muito se suspeitava: “é tudo uma cambada/corja/súcia/ máfia”; “só se querem é encher, e o povo à míngua”; “onde é que isto tudo vai parar, meu Deus”; ou “vem agora Jesus, que está na hora de acabar com o mundo”. Pensando bem, “dá menos chatice do que marcar uma consulta no psiquiatra” – pensam as pessoas que têm por hábito atirar com estas “farpas” sem fazerem a mínima ideia do que falam. E isto serve para tudo o mais que dizem sobre seja qual assunto for. Antes de mais nada, queria felicitar (ou manifestar o pesar, conforme a perspectiva) o povo do Panamá por voltar a ter o nome do seu país nas bocas do mundo. Quem é da minha idade ou mais velho, e não abusou dos inebriantes e demais atordoantes e anestesiantes, recorda-se com toda a certeza do General Manuel Noriega, um déspota que liderou o este pequeno mas simpático estado situado entre a Colômbia e a Costa Rica, e cuja aparência fez dele um “poster boy” dos efeitos do acne juvenil na idade adulta. Depois de seis anos no papel de “generalíssimo”, “el comandante”, “jefe” e “lo tamale mas picante”, não dispensou uma das “saídas de cena em grande estilo” destinadas a líderes do seu calibre. Uma vez que a opção “julgamento sumário de legitimidade duvidosa seguido inevitavelmente de fuzilamento” não lhe agradava por aí além (ali faz muito calor para se andar a levar com tiros), preferiu a ementa “B”, composta de “ligações ao narcotráfico/ redes criminosas/CIA/todas as anteriores, que uma vez provadas dão direito a uma longa temporada à sombra”, que no caso dele foram (e ainda vão sendo) trinta anos. Hasta lá vista, muchacho. De resto, o Panamá liga geograficamente os sub-continentes da América do Sul e Central, cumprindo ainda a nobre (ou desprezível, mais uma vez conforme os gostos) função de escoar bens daqueles mais difíceis de encontrar ao lado da caixa do mini-mercado perto de casa, e já não era notícia desde que os americanos lhes devolveram o controlo das operações do estrategicamente importante Canal do Pa-
VINCE GILLIGAN, BREAKING BAD
LEOCARDO
namá. Esta agora, só por ser Panamá quer dizer que só o Panamá é que manda ali? Qualquer dia ainda têm que deixar a base das Lajes, sob esse discutível pretexto de estar localizada na área de jurisdição de um outro estado soberano – muito conhecido e popular entre nós, aliás. Assim como é que dá para policiar o mundo, bolas? E por falar em “policiar” e demais actividades que implicam autoridade, esta revelação vem cair que nem uma bomba em quem ainda acreditava na rectidão, honestidade da classe política mundial – todos os quatro ou cinco deles, e eu não apostava uma pataca na salubridade mental destes indivíduos. Vamos lá deixar de ser anjinhos e vejam antes as coisas deste prisma: se vocês fossem polícias no México, Filipinas ou um desses lugares mais “calientes” onde dia após dia se arriscam a levar um tiro, e em nome da populaça que ainda por cima vos chama nomes e faz cara feia quando passam, em
“E o leitor, gostava de se “abotoar” em grande estilo àquela fatia que cortam do que lhe é merecido, uma vez que foi produto do seu esforço, ou pagar e calar, e continuar a viver como um borrabotas entre outros borrabotas, e borrabotas morrer e só com direito a um epitáfio na lápide onde se lê ‘aqui jaz um borrabotas qualquer’?”
troca de meia dúzia de tostões? Ainda iam ficar do lado da lei e da grei, da integridade, da transparência e todas essas valências que mais parecem cadeiras do curso superior de “Pateta e Parvinho”? Abstenho-me de terminar este parágrafo com uma palavra feia. Já os políticos, pronto, é o que se sabe, e ao contrário dos polícias não é da sua natureza andar a meter-se em esquemas com elementos marginais da sociedade, ou partir o farol de trás a um tótó qualquer só para lhes sacar uns cobres, nada disso. Os políticos, gente supostamente educada, a elite, os reis da bazófia e do “tá bem tá, vai enganar outro”, mas acabam sempre por enganar o mesmo, preferem actividades mais próximas das ciências económicas, coisa que faz a plebe coçar o piolhinho de ignorância, ou ainda “fuga ao fisco”, que soa a algo muito giro, como o jogo da apanhada, mas é praticado por “gente séria”. E pensando bem, se eles são “eleitos”, colocando-se assim portanto acima dos comuns dos mortais, porque haviam eles de pagar impostos que depois servem para construir estradas, pontes e pagar serviços de utilidade pública, se eles é que deviam estar a ser bem servidos? E para quê, as tais estradas e etecetera, se deviam estar a ser levados em ombros, como prova do nosso reconhecimento pela graça de nos terem presenciado com a sua vinda à terra? E tudo se resume a um pressuposto muito simples, que deixo aqui na forma de uma pergunta muito simples e nada, mas mesmo nada tendenciosa. E o leitor, gostava de se “abotoar” em grande estilo àquela fatia que cortam do que lhe é merecido, uma vez que foi produto do seu esforço, ou pagar e calar, e continuar a viver como um borrabotas entre outros borrabotas, e borrabotas morrer e só com direito a um epitáfio na lápide onde se lê “aqui jaz um borrabotas qualquer”? À consideração de V. Exas. Para a semana falarei das Ilhas Virgens Britânicas, que não têm nada, mas mesmo nadinha a ver com Macau. Então, que disparate é esse, querem lá ver...
OPINIÃO
“
O primeiro pregão da luz insegura, / a cercada voz do azul das ilhas, / a marítima sombra das palmeiras / ardendo entre as águas e a bruma.”
quinta-feira 7.4.2016
Eugénio de Andrade
Óbito DANILO ANTUNES
Dois dos arguidos do processo judicial do Hotel Lisboa vão recorrer da decisão do Tribunal de Judicial de Base. A informação foi confirmada à Rádio Macau pelos advogados de Kelly Wang e Peter Lun. Kelly Wang, antiga vice-gerente do Hotel para o mercado das Young Slingle Ladies, foi condenada pelo Tribunal Judicial de Base a uma pena de dois anos e cinco meses de prisão. É a única a ter de cumprir pena, porque os restantes arguidos já cumpriram a sentença no período da prisão preventiva. Peter Lun, ex-gerente geral da unidade hoteleira, foi condenado como cúmplice por um crime de exploração de prostituição a cinco meses de prisão.
MITROGLOU «VAMOS TENTAR AVANÇAR PARA AS MEIAS-FINAIS»
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O avançado grego Kostas Mitroglou garantiu que todo o grupo irá tentar, no Estádio da Luz, dar a volta à eliminatória e afastar o Bayern da Liga dos Campeões. «Com o apoio dos nossos adeptos vamos tentar com todo o nosso coração avançar para as meias-finais», escreveu Mitroglou nas redes sociais. O Benfica perdeu a partida da primeira mão por 0-1 e terá, na próxima quarta-feira (13), a oportunidade de jogar a segunda mão no Estádio da Luz.
Não te esqueceremos Ou Mun Chai
F
ALECEU esta madrugada o “Filho de Macau”, Danilo Antunes, personagem incontornável na vida da cidade e um dos fundadores do popular grupo do Facebook “Conversa entre a Malta”. “Sou dos mais novos do grupo dos mais velhos”, dizia ele para se enquadrar na sociedade local, numa das suas muitas formas de brincar com as palavras e com as ideias. Danilo gostava da vida e de a viver. Sem intensidade nada valia a pena para ele e essa energia sentia-se sempre que estávamos na sua presença. Apaixonado pelos filmes e pela fotografia, o Danilo é uma personagem inesquecível para os que o que o conheceram e que ficará para sempre na memória dos que o virem imortalizado no excelente filme de Márcio Loureiro “Oumundzai” (http://bit.ly/daniantunes); um retrato que vai bem para além da pessoa pela capacidade do Danilo em revelar a cidade que o viu crescer, a cidade que ele viu crescer, um guia fundamental para quem pretender entender que história é esta, Macau. Recentemente, Danilo andava especialmente vocacionado para vasculhar os baús da memória de onde saíam histórias passadas, umas sobre as outras, expressas num trepidar infindável. Talvez o inconsciente lhe dissesse, sorrateiramente e sem mesmo ele perceber, que o fim chegaria cedo e por isso era importante recordar, dar sentido às coisas. O tempo, as memórias, as ligações simbólicas e sincronistas da vida faziam parte dos seus grandes interesses. As histórias jorravam-
-lhe num verbatim incessante apenas suplantado pelo imenso brilho do olhar, sinal inequívoco da sua permanente capacidade de sonhar, dos desejos e das vontades que lhe explodiam na mente a cada instante. As emoções vinham sempre em catadupa, num débito avassalador que nenhuma língua de um ser humano normal consegue dar vazão, como a dele às vezes não conseguia. Danilo acreditava, sempre, e imaginava constantemente. Idealizava um mundo melhor a cada instante, um cosmos de imagens e de cores em constante expansão. Ou o prazer simples de amigos à volta da mesa com doses maciças de gargalhadas.
CASO LISBOA DOIS ARGUIDOS APRESENTAM RECURSO
“Danilo gostava da vida e de a viver. Sem intensidade nada valia a pena para ele e essa energia sentia-se sempre que estávamos na sua presença” Danilo deixa duas filhas, o resto da família, e uma cidade enlutada. As causas da sua morte ainda não são conhecidas. Até ao momento sabe-se apenas, nas palavras de um amigo próximo, “que foi dormir e não acordou mais”. Antes assim. O Hoje Macau deseja à família enlutada e a todos os
seus (muitos) amigos os sinceros parabéns por o terem tido no seu seio e um profundo voto de pesar pelo seu desaparecimento. A hora é triste, porque a sua ausência vai ser difícil de superar, mas também é tempo de sonhar, de fazer e de celebrar pois era assim que Danilo entendia a vida e, seguramente, era
assim que nos quereria ver a reagir à sua ausência ou o seu percurso neste planeta terá sido em vão. Manuel Nunes
info@hojemacau.com.mo
P.S. – A esta hora o Danilo deve estar a pensar: “Porra! Foi preciso morrer para aparecer a cores no jornal”
ALIBABA CONVERTE-SE NO MAIOR RETALHISTA DO MUNDO
O
gigante chinês do comércio electrónico Alibaba, que controla 75% do sector na China, converteu-se no maior retalhista do mundo, após superar o gigante de distribuição norte-americano Walmart, segundo anunciou ontem em comunicado. Na nota, enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários dos EUA, a
empresa que gere os portais Taobao e Tmall garante ter registado, no último ano fiscal, o maior volume bruto de vendas a nível mundial. A informação foi, entretanto, confirmada pela consultora PricewaterhouseCoopers (PwC). AWallmart, que concluiu o seu ano fiscal em 31 de Janeiro, registou no ano
passado 482.100 milhões de dólares em vendas. O ano fiscal do Alibaba encerrou em 31 de Março. Dez dias antes, o vice-presidente executivo do Alibaba, Joseph Tsai, anunciou que o grupo tinha já movimentado três biliões de yuan em vendas através dos seus portais de comércio ‘online’.
“Se estas plataformas fossem uma província, seriamos a sexta maior economia regional da China”, afirmou então Tsai. O número triplica a marca atingida em 2012. Só no Dia dos Solteiros, celebrado na China a 11 de Novembro pelos quatro ‘um’ que combinam nesta data (11/11) - uma alusão à
figura de solteiro - o gigante do comércio electrónico registou 91.200 milhões de yuan em vendas. Pelas contas do ministério do Comércio da China, em 2015, as compras ‘online’ no país excederam os 563.000 milhões de euros - mais do dobro do Produto Interno Bruto português.