DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
TERÇA-FEIRA 7 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4562
hojemacau
JENNY GUAN E SANDY SIU
CONTRATO SOCIAL
RÓMULO SANTOS
ESCOLA DOS OPERÁRIOS
O INQUÉRITO DA DISCÓRDIA PÁGINA 5
HOJE MACAU
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ENTREVISTA
SIN FONG GARDEN
Ligações perigosas
O caso IPIM trouxe a lume uma nova parceria. O delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional, Kevin Ho, é accionista da Companhia de Engenharia de Instalação de Equipamentos Hunan, usada, segundo a acusação, para pedidos de fixação de residência a partir de falsas informações. Ng Kuok Sao, acusado
de associação criminosa, é outro dos proprietários. O também sobrinho do ex-Chefe do Executivo Edmund Ho admite conhecer o arguido, mas diz ter ficado surpreendido com a ligação e não ter nada a ver com o caso. ‘‘Era accionista [da Hunan] mas nunca estive envolvido em qualquer actividade da empresa’’.
PÁGINA 7 ANTÓNIO MIL-HOMENS
PROMESSAS CAÍDAS
MOP$10
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PÁGINA 6
ANTÓNIO MIL-HOMENS
A VEZ DA POESIA EVENTOS
2 ENTREVISTA
JENNY GUAN E SANDY SIO
Que análise fazem à responsabilidade social corporativa (RSC) das empresas de Macau, em termos históricos? Sandy Sio (SS) - As empresas têm-se focado na maximização de lucros e na responsabilidade de manter estabilidade de emprego para atingirem os seus objectivos. Depois da liberalização do jogo, Macau passou a atrair muito investimento estrangeiro com a introdução de operadoras de jogo internacionais e outras operações nas áreas financeira, construção civil, imobiliário e turismo. Com os negócios veio também uma grande comunidade de expatriados. A diversidade demográfica e das estruturas dos negócios fez com que as empresas de Macau tivessem de preencher necessidades de uma população maior e mais variada. A actual geração de gestores está mais sensibilizada para as medidas internacionais de RSC, e as empresas procuram promover os esforços socioeconómicos que fazem junto da sociedade de uma maneira mais eficiente e visível. Como funcionavam as empresas, ao nível da RSC, antes da liberalização do jogo? SS - Devido à restrição de recursos públicos no tempo da Administração portuguesa, o Governo estava dependente da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) e de algumas empresas estatais chinesas para assumir responsabilidades nos cuidados providenciados à comunidade de Macau e no investimento em várias infra-estruturas públicas e serviços. Esse foi o padrão até agora. Quando as empresas de Macau possuem recursos relativamente abundantes, nomeadamente os casinos e empresas estatais chinesas, partilham responsabilidades sociais com o Governo. É uma consequência dessa ligação histórica. A chegada dos casinos norte-americanos mudou o panorama da RSC em Macau? SS - As empresas americanas introduziram novos modelos de negócio como reuniões integradas, convenções, centros comerciais e entretenimento nas operações dos casinos, o que levou ao investimento de larga-escala. Além disso, as seis operadoras de jogo listaram-se na bolsa de Hong Kong em finais do ano 2000 para procurar mais capital para a construção e operação dos resorts integrados. A transformação da indústria do jogo, de casinos satélite para resorts integrados, constituiu uma enorme mudança na economia de Macau e no ambiente social. Com a presença em bolsa,
“Casinos estão a estender apoio às PME”
RÓMULO SANTOS
ACADÉMICAS
A liberalização do jogo mudou a forma como empresas e a sociedade olham para a responsabilidade social corporativa. Com a renovação das licenças de jogo no horizonte, as académicas Jenny Guan e Sandy Sio defendem que a responsabilidade social vai assumir maior peso nos concursos públicos. As académicas do Instituto para a Responsabilidade Social das Organizações na Grande China em Macau destacam que com a pandemia as empresas alteraram o paradigma de actuação na sociedade
estas empresas passaram a estar sujeitos a regras mais rigorosas em termos ambientais, sociais e de governança por parte de órgãos reguladores exteriores a Macau. As empresas americanas adoptaram padrões internacionais de RSC que também foram implementados nos seus negócios em Macau, o que resultou no aumento da consciência face às dimensões económica, ambiental e social da RSC. A RSC é importante para haver maior aceitação social do jogo em Macau? Jenny Guan (JG) - Mais do que afirmar que a sociedade deveria aceitar mais a indústria do jogo graças à adopção da RSC, e independentemente das expectativas do Governo ou da questão da legitimidade, a RSC deveria ser um requisito assegurado pela indústria do jogo. Isto para manter o “contrato social” que prova que as suas operações são legítimas e que trazem um novo e positivo impacto à sociedade. Além disso, algumas acções de RSC são determinadas, em grande parte, pelas características de operação das empresas, estando mais alinhadas com as práticas sociais das empresas do
que com a responsabilidade dessas para obter uma identidade social.
“A RSC deveria ser um requisito assegurado pela indústria do jogo. Isto para manter o ‘contrato social’ que prova que as suas operações são legítimas e que trazem um novo e positivo impacto à sociedade.” JENNY GUAN ACADÉMICA
Como por exemplo? JG - Em termos de recursos humanos está implementado um sistema de protecção dos trabalhadores locais e as empresas de jogo providenciam mais formação e educação contínua para os residentes empregados. Isto contribui para a melhoria do nível de educação em Macau. Além disso, uma vez que as empresas de jogo adoptam padrões internacionais de qualidade, muitos seminários e formações dados aos locais ajudam as pequenas e médias empresas (PME) a melhorar a qualidade geral do seu produto e serviço. A pandemia alterou os padrões da RSC nas empresas de Macau nos últimos meses? SS - Antes da pandemia, muitos gestores viam a RCS como instrumento de relações públicas ou marketing para “decorar” uma imagem positiva das empresas. Contudo, em tempos de crise, muitos líderes têm apelado a respostas socialmente responsáveis do sector privado para ajudar a
recuperar a economia e as actividades sociais junto da comunidade. O Governo de Macau também adoptou medidas, incluindo o encerramento dos casinos durante 15 dias e apoios à economia local. O Chefe do Executivo defendeu, numa conferência de imprensa, que os operadores de jogo deveriam contribuir para a sociedade. Notamos que as empresas e os casinos estão a responder mais aos apelos do Governo para aumentar as medidas de RSC. Qual deve ser o papel do Governo no que diz respeito à RSC de empresas e casinos? JG - Pode assumir a liderança da promoção de medidas de RSC nas empresas públicas e privadas, incluindo criar um quadro regulatório para alguns sectores, tal como a indústria do jogo e os serviços que operam sob concessões públicas. O Governo acaba por promover indirectamente o conceito e as medidas da RSC, que são, em primeiro lugar, inseridas nas funções governamentais e que depois se estendem às comunidades locais e aos sectores económicos. A garantia da saúde e do bem-estar em todas as idades e da educação de qualidade, bem como a promoção da aprendizagem ao longo da vida, são disso exemplos.
3 terça-feira 7.7.2020 www.hojemacau.com.mo
As medidas de RSC nos casinos podem mudar no futuro, com maior aposta nas PME, por exemplo? SS - Vemos que há tendência dos operadores de jogo de aumentar a proporção de adjudicações a PME locais e a fomentar parcerias. Os casinos estão a esforçar-se para estender o apoio às PME através de colaborações intensivas, que tenham impacto económico positivo. Acreditam que a RSC pode assumir um papel importante na revisão dos contratos de jogo? JG - Sem dúvida [que vai ter um papel importante]. Especialmente quando Ho Iat Seng defendeu que as operadoras de jogo devem assumir acções de RSC “genuínas”. Depois desse alerta vários académicos e associações não governamentais defenderam que as acções de RSC deveriam estar estipuladas nos futuros contratos de concessão. Também é defendido que as acções das operadoras sejam tidas em conta aquando da realização dos concursos públicos para as novas licenças. Como se espera que o jogo seja o maior sector económico depois da revisão dos contratos, pensamos que o Governo, enquanto regulador, e os casinos, enquanto agentes do sector, devem colocar a RSC como
uma grande prioridade na revisão dos contratos. De que forma isso pode ser feito? JG - A fim de maximizar a segurança social dos residentes e os custos sociais das operações de jogo, o Governo deve considerar o histórico da performance de RSC das operadoras que concorrerem a novas licenças. Entretanto, o Governo pode ter um papel proactivo para definir futuras obrigações. É possível comparar o panorama de RSC das empresas de Macau e de Hong Kong? SS - Desde 2000 que em Hong Kong se promove a RSC enquanto prática regular das empresas. Foi implementada, em 2014, uma nova ordem que decreta que devem incluir nos relatórios anuais as políticas ambientais adoptadas, bem como as relações com empregados, clientes ou fornecedores. Além disso o Hang Seng Índex lançou o Hang Seng Corporate Sustainability Index em 2010, além de ter sido lançado o Environmental,
“Os casinos estão a esforçar-se para estender o apoio às PME através de colaborações intensivas, que tenham impacto económico positivo.” SANDY SIO ACADÉMICA
Social and Governance Reporting Guide em 2016. Neste sentido, as empresas de Hong Kong estão sujeitas a maiores obrigações em termos de performance e de divulgação dos resultados das medidas de RSC. Em Macau há, portanto, menos regulação? SS - Comparando com Hong Kong, o reconhecimento do público das medidas de RSC para as empresas de Macau parece estar num nível inferior. Além disso, as empresas de Macau devem melhorar a forma de comunicar as regulações a que estão sujeitas. Com estas medidas acreditamos que as contribuições de RSC das empresas locais podem ser mais reconhecidas e satisfaçam duplamente a entidade reguladora e a comunidade. Macau faz parte do projecto da Grande Baía. Isso vai ter impacto ao nível da RSC? JG - Nesse âmbito, o posicionamento de Macau é diferente de Hong Kong. As responsabilidades sociais das
“A diversidade demográfica e das estruturas dos negócios fez com que as empresas de Macau tivessem de preencher necessidades de uma população maior e mais variada.” SANDY SIO ACADÉMICA
empresas de Macau não devem apenas estar de acordo com os requisitos legais do continente, mas também respeitar a direcção do desenvolvimento de Macau, tal como a diversificação económica ou a construção de um centro mundial de turismo e lazer. Além disso, as empresas de Macau necessitam de reforçar a consciência em matéria de RSC a fim de respeitar padrões internacionais em termos de fornecimento e procura de produtos e serviços para países inseridos no projecto “Uma Faixa, Uma Rota. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
4 política
7.7.2020 terça-feira
CHIP SOMODEVILLA, GETTY IMAGES
A cair de velho Wong Kit Cheng quer mais apoios à renovação de edifícios
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Para já, a comissão recusa assumir uma posição. Só depois dos esclarecimentos do Executivo vai manifestar opiniões
SEGURANÇA COMISSÃO QUER SABER QUANTOS TRABALHAM MAIS DE 44H
É só fazer as contas Apesar de a 1ª Comissão Permanente da AL classificar como “simples” a proposta de alteração à lei das remunerações acessórias das forças e serviços de segurança, são várias as dúvidas levantadas, desde quantas pessoas trabalham mais de 44 horas à forma de calcular a remuneração acessória
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O Ion Sang, presidente da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, descreve a proposta de alteração à lei das remunerações acessórias das forças e serviços de segurança como “simples”. Ainda assim, a comissão vai elaborar uma lista de questões com vista a “reunir brevemente” com o Governo. O deputado frisou que a proposta não trata “matérias novas” por já existirem normas semelhantes em diplomas legais de serviços públicos, como a Polícia Judiciária e o Corpo de Bombeiros, regulamentos administrativos e ordens executivas. Um dos documentos legais mencionados foi o Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM), que já prevê a duração normal do trabalho e o direito a remuneração suplementar nos casos de períodos de trabalho superiores a 44 horas semanais.
“Vamos perguntar ao Governo o ponto de situação da prestação de trabalho, nomeadamente sobre o número de trabalhadores que trabalham mais de 44 horas semanais. É uma informação importante”, disse Ho Ion Sang. O deputado confessou não saber se os encargos do Governo vão aumentar, mas reiterou que actualmente já é paga uma remuneração complementar e que a proposta tem “como intenção juntar algumas das regras dispersas”. Para já, a comissão recusa assumir uma posição. Só depois dos esclarecimentos do Executivo vai manifestar opiniões.
CALENDÁRIO LABORAL
A remuneração suplementar aparece associada a agentes da Polícia Judiciária, pessoal alfandegário, do Corpo de Guardas Prisionais, Polícia de Segurança Pública e Bombeiros. A comissão quer saber se a medida “se aplica apenas a este tipo de pessoal” e “se no futuro o âmbito de aplicação vai
ser ou não alargado”. Para além disso, o cálculo da remuneração levantou dúvidas entre os membros da comissão. A proposta sugere a divisão do total de horas de trabalho mensal pelo número de dias úteis no mês, multiplicado por cinco dias úteis de trabalho semanal. Os deputados querem saber se o método vai ser ajustado tendo em conta o pessoal dos diferentes serviços e se há quem trabalhe mais de cinco dias úteis por semana. De acordo com o presidente, alguns deputados colocaram a hipótese de o cálculo ser trimestral, por exemplo, “tendo em conta as festividades do ano”. Isto porque em semanas de maior festividade, como na semana dourada, o volume de trabalho pode alterar-se. Na lista de dúvidas também está o que motiva a inclusão da remuneração complementar no índice 100 da tabela indiciária. Salomé Fernandes
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M novo plano de apoio financeiro para renovar escadas de prédios ou alargar o apoio actual, para ajudar os idosos que residem em casas antigas – é um dos principais pedidos de Wong Kit Cheng numa interpelação escrita sobre o Fundo de Reparação Predial. A deputada explica que há várias zonas, como por exemplo janelas, esgotos e escadas, que estão fora do plano provisório de apoio financeiro para reparação das instalações comuns de edifícios baixos. Wong Kit Cheng focou-se no envelhecimento dos edifícios na zona antiga de Macau, que considera “grave”, especialmente os que não têm elevador, comentando que têm infiltração de água, esgotos entupidos, queda de janelas e alguns também problemas estruturais. E frisou as dificuldades em reconstruir edifícios antigos num curto espaço de tempo, quando Macau não tem um sistema de renovação urbana. Para além disso, a deputada explica que muitos edifícios antigos não têm empresas de gestão e têm proprietários idosos com “dificuldade em compreender claramente o processo de candidatura”, para além da
necessidade de reunirem o apoio de mais de metade dos proprietários para fazer as reparações e prepararem documentação. Dado que “o problema do envelhecimento dos edifícios só vai aumentar”, a deputada quer um reforço do Fundo para apoiar melhor os proprietários, cooperar com associações e simplificar formalidades.
BAIXA EXECUÇÃO
“O Instituto de Habitação (IH) tem um fundo de reparação predial, que disponibiliza sete programas de apoio financeiro ou empréstimos para reparação. Contudo, a taxa de execução do programa tem sido baixa desde há muito tempo”, disse Wong Kit Cheng. De acordo com os dados que apresentou, a taxa de execução dos três maiores planos do fundo de 2018 variaram entre 16,2 por cento e 52,4 por cento, e dos juros foi de apenas 4,4 por cento. Vale a pena notar que, de acordo com o IH, entre Janeiro e Maio deste ano, foram aprovadas 101 candidaturas pelo Fundo de Reparação Predial e intervencionados 93 edifícios. O montante envolvido é superior a 9,3 milhões de patacas. S.F.
Trabalho Pedida revisão de lei recém-publicada Lei Chan U acha que a lei das relações de trabalho, que entrou em vigor no passado dia 26 de Maio, pode ser melhorada e quer saber se o Governo a vai rever durante o actual mandato. Em interpelação escrita, o deputado ligado à FAOM refere que a nova lei é apenas uma “melhoria parcial” porque não toca no período anual de férias, feriados obrigatórios, número de horas de trabalho ou mecanismos de recuperação remuneratórias.
Afirmando que o Governo deve manter atitude aberta em relação ao tema e aos interesses da população, Lei Chan U quer saber qual a opinião do Executivo sobre a revisão da lei laboral e o timing para iniciar a discussão. “Será que a revisão da lei das relações vai começar durante o actual mandato do Governo? Quando podemos esperar uma proposta de revisão para que o assunto possa ser discutido na sociedade?”, questionou Lei Chan U.
Conselho de Estado Xu Ze recusa que Lei Básica consagre separação de poderes O anterior vice-director do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau, Xu Ze, defendeu que a Lei Básica de Hong Kong estipula existe no segundo sistema o primado do Chefe do Executivo, mesmo sobre a separação de poderes. Xu Ze é actualmente o presidente da Associação Chinesa de Estudos de Hong Kong e Macau e revelou a posição num artigo no jornal Ming Pao. Na opinião de Xu, existe mesmo um mal-entendido em
algumas franjas da sociedade de Hong Kong que entendem que o segundo sistema é marcado pela separação de poderes, quando na realidade tem no centro a figura do Chefe do Executivo. Por outro lado, sublinhou que a nomeação de juízes é muito mais do que um poder formal, mas antes real. Isto porque apesar de haver uma comissão independente a sugerir os juízes, o poder é sempre do Chefe do Executivo.
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terça-feira 7.7.2020
Magistrados Publicado diploma que aumenta exigência
A finalidade dos inquéritos distribuídos aos alunos da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários era aprofundar a educação cívica dos encarregados de educação. Depois de comentários negativos, o inquérito acabou por ser cancelado, de acordo com o reitor da instituição
N
“
O passado fizemos estudos semelhantes sobre governação, sobre o trabalho dos deputados na Assembleia Legislativa, para apurarmos os conhecimentos sobre estes assuntos. São temas de educação cívica.” Foi assim que Zheng Jiezhao, reitor da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, justificou o envio de um questionário para encarregados de educação da instituição que dirige. O inquérito foi cancelado, segundo o reitor, depois de ter sido alvo de comentários negativos.
de ter dois anos de experiência profissional (que não necessitam de estar ligados à área jurídica) e, nos casos de promoção em comissão de serviço, passam a ser necessários 10 anos de serviço efectivo na RAEM, em vez dos cinco anteriormente previstos.
Trabalhadores não residentes Nova lei da contratação chega em Outubro A partir de Outubro passa a estar vedada a entrada de turistas em Macau que tenham como finalidade procurar emprego. A confirmação chegou ontem após publicação em Boletim Oficial da nova Lei da
contratação de trabalhadores não residentes (TNR), que entra em vigor 90 dias depois da divulgação em despacho. Recorde-se que o novo diploma obriga os TNR que pretendam exercer trabalho não especializado e
RÓMULO SANTOS
Foi ontem publicada em Boletim Oficial novo ao regime de ingresso nas magistraturas judicial e do Ministério Público. A norma, que entra em vigor 90 dias após publicação em despacho, ou seja em Outubro, prevê que quem pretenda candidatar-se aos cargos de magistratura precise
doméstico em Macau têm de ter em sua posse, à chegada, um título de entrada para fins de trabalho. Só desta forma passará a ser possível obter uma autorização de permanência no território, ou seja o bluecard.
ENSINO SUPERIOR MAIS BOLSAS DE ESTUDO NO PRÓXIMO ANO LECTIVO
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Zheng Jiezhao, reitor da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários “No passado fizemos estudos semelhantes sobre governação, sobre o trabalho dos deputados na Assembleia Legislativa, para apurarmos os conhecimentos sobre estes assuntos. São temas de educação cívica.”
AL ESCOLA DOS OPERÁRIOS SUSPENDE INQUÉRITO COM QUESTÕES PARLAMENTARES
Questionário questionável O questionário, cujo título e primeiras cinco perguntas indicavam ser sobre a resposta à pandemia da covid-19, terminavam com duas questões sobre a popularidade dos deputados da Assembleia Legislativa (AL), ao jeito de sondagem.
Importa recordar que o deputado Lam Lon Wai, ligado à FAOM, é subdirector da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários. O HM tentou contactar o deputado, mas até ao fecho da edição não obteve resposta. Segundo Zheng Jiezhao, os questionários
foram distribuídos apenas a alunos do ensino secundário-complementar e não havia qualquer obrigatoriedade de os devolver respondidos.
AL POP-QUIZ
Enquadrado no contexto do combate à covid-19 e do
trabalho do Governo durante esse período, o questionário, composto por sete perguntas, pede aos inquiridos que indiquem “o nome dos três deputados que melhor conhecem” e, na última, para assinalar com uma cruz “três deputados cujo trabalho considera mais satisfatório”. Esta última questão tem 14 opções, onde estão incluídos todos os deputados eleitos por sufrágio directo. Nas eleições legislativas de 2017, pelo menos, um trio de estabelecimentos de ensino privado apoiaram a candidatura de Wong Kit Chen a deputada, incluindo a Escola Secundária Pui Va. As próximas eleições para a Assembleia Legislativa realizam-se em 2021. João Luz com Nunu Wu info@hojemacau.com.mo
O próximo ano lectivo, o Governo vai atribuir 510 bolsas de mérito e 510 bolsas especiais, um aumento de 20 e 10 bolsas, respectivamente, em relação ao ano passado. Num despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), o Gabinete da Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura revelou ainda que foram alargados os limites máximos de rendimento mensal, consoante o número de pessoas do agregado familiar. Desta forma, o valor máximo de rendimento mensal total do agregado dos candidatos às bolsas aumentou para 17.400 patacas (um elemento), 32.960 patacas (dois elementos), 44.088 patacas (três elementos) e 53.560 patacas (quatro elementos). O valor máximo para os agregados compostos por cinco, seis e sete pessoas aumentou para 60.480, 67.400 e 74.320 patacas. Para os agregados compostos por oito ou mais elementos, o limite de rendimento mensal passa a ser de 81.080 patacas. No despacho é também revelado que o montante mensal a conceder aos estudantes foi aumentado. O valor a atribuir aos bolseiros a estudar na RAEM e no Interior da China aumentou para 4,230 patacas, ao passo que o montante das bolsas dos estudantes que rumem a Hong Kong e Taiwan, cresceu, respectivamente, para 6.390 e 4.230 patacas. Quem for estudar para “outros países ou regiões” no próximo ano lectivo, passa a contar com uma bolsa mensal de 6.390 patacas. P.A.
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7.7.2020 terça-feira
JOGO MORGAN STANLEY ESPERA PIOR TRIMESTRE DE SEMPRE
E
NTRE Abril e Junho as concessionárias do jogo reduziram as despesas diárias de funcionamento em cerca de 5 por cento, para 119,3 milhões de patacas. No primeiro trimestre do ano, os gastos diários tinham sido de 125,3 milhões de patacas.Ainformação foi divulgada pelo banco de investimento Morgan Stanley Asia, e citada ontem pelo portal GGR Asia. “As despesas diárias de operação parecem ter sido reduzidas para 119,7 milhões de patacas, uma quebra de cinco por cento face ao trimestre anterior e uma redução de 21 por cento face ao período homólogo”, escreveram os analistas Praveen Choudhary e Gareth Leung. Nos próximos dias as operadoras devem anunciar os resultados do segundo trimestre do ano, assim como da primeira metade de 2020. Face a este período, os analistas esperam “os piores” resultados desde que o mercado foi liberalizado, devido às restrições nas viagens relacionadas com a pandemia da covid-19. No mesmo relatório, a Morgan apresenta igualmente uma previsão para as perdas no segundo trimestre do ano das operadoras. A principal afectada é a Sands China, com perdas de 286 milhões de dólares norte-americanos, com a Melco no segundo lugar (perdas de 205 milhões de dólares) e Wynn (172 milhões). As empresas com menores perdas são a Galaxy (154,8 milhões norte-americanos), MGM China (116,9 milhões) e SJM (99,9 milhões). J.S.F.
SIN FONG GARDEN ASSOCIAÇÃO DE MAK SOI KUN REFUGIA-SE EM MUDANÇAS ECONÓMICAS
Desculpa sem milhões
Para não pagar as 100 milhões de patacas prometidas para a reconstrução do edifício Sin Fong Garden, a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen justifica que as condições económicas e o ambiente social mudaram. Em alternativa, sugere dar oito milhões de patacas de uma só vez ou suportar juros de empréstimos
A
Associação dos Conterrâneos de Jiangmen justifica o não pagamento dos 100 milhões de patacas prometidos para ajudar à reconstrução do edifício Sin Fong Garden com as mudanças que houve ao longo dos anos em que o projecto foi adiado, noticiou o jornal Cidadão. O caso data de 2012, altura em que foi dada ordem para a evacuação do prédio. De acordo com a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, as condições económicas e o ambiente social “sofreram mudanças tremendas”.
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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 318/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora BUI THI DU, portadora do Passaporte da Vietnam n.° N1815xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 201/DI-AI/2018, levantado pela DST a 30.10.2018, e por despacho da signatária de 26.06.2020, exarado no Relatório n.° 305/DI/2020, de 15.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Longevidade n.° 17, Edf. Seng Yee, 2.° andar C (correspondente no prédio ao 2.° andar 215) onde se prestava alojamento ilegal.--------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. --------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Junho de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
AMCM DEPÓSITOS DE MAIO CONTINUAM TENDÊNCIA DE LIGEIRA SUBIDA
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URANTE o mês de Maio, os depósitos feitos por residentes aumentaram 0,7 por cento em comparação com o dinheiro depositado em Abril, atingindo os 668,6 mil milhões de patacas, de acordo com um comunicado divulgado ontem pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). O crescimento dos depósitos feitos por não-residentes foi mais acentuado, com uma subida em Maio de 1,7 por cento em relação ao mês anterior, para um total de 286,1 mil milhões de patacas. O sector público registou no mês em análise um crescimento de depósitos de 3,3 por cento, equivalente a 264,9 mil milhões de patacas. Na globalidade, o total dos depósitos da actividade bancária aumentou 1,5 por cento quando comparado com o mês anterior, e chegou aos
1.219,6 mil milhões de patacas. Destes depósitos, a maior proporção foi feita em dólares de HK foi de 46,5 por cento, seguido de dólares norte-americanos com 27,2 por cento, só depois surge a pataca 18,7 por cento dos depósitos feitos na moeda local e, finalmente, os depósitos em renminbis representaram 5 por cento do total, segundo aAMCM. Em sentido inverso, os empréstimos internos ao sector privado caíram 0,2 por cento em relação ao mês anterior, totalizando 541,8 mil milhões de patacas. Por outro lado, os empréstimos ao exterior cresceram 1,9 por cento, tendo atingido 647,6 mil milhões de patacas. Feitas as contas os empréstimos ao sector privado cresceram 1 por cento, em relação ao mês anterior, para um total de 1.189,4 mil milhões de patacas. J.L.
Zhuhai Até dois milhões em apoios a projectos científicos conjuntos
O Governo Municipal de Zhuhai anunciou que vão ser oferecidos incentivos financeiros até dois milhões de renminbis para projectos de cooperação científica e tecnológica com Macau e Hong Kong. Foram divulgados este mês os termos para projectos de cooperação entre as três regiões pelo Departamento de Inovação de Ciência e Tecnologia. Vão poder beneficiar da medida instituições das duas regiões administrativas especiais reconhecidas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, com vista a apoiar pesquisa científica. Cada empresa fundada em Macau ou Hong Kong focada em ciência e tecnologia que seja selecionada vai receber um subsídio máximo de 200 mil renminbis, e só pode candidatar-te a um projecto por ano. Nos casos de projectos conjuntos entre Zhuhai, Hong Kong e Macau, o apoio pode ir até dois milhões de renminbis. As candidaturas devem ser apresentadas e revistas anualmente, de acordo com as orientações divulgadas pela autoridade tecnológica municipal.
O principal responsável da entidade esclareceu que com a recessão económica nos anos recentes, bem como a emergência da epidemia do novo tipo de coronavírus este ano, as indústrias encontraram dificuldades sem precedentes.Aassociação diz que apresentou explicações à comissão de gestão do condomínio do edifício Sin Fong Garden através de cartas oficiais que não foram aceites. E defendeu que a sua actuação “não foi perfeita”, mas que há “soluções práticas para as dificuldades”.
AS OPÇÕES DEIXADAS
No comunicado, a associação apresentou opções para viabilizar o fundo de reconstrução do edifício. Por um lado, sugere que o financiamento seja feito pelos proprietários, com a associação a responsabilizar-se pelo pagamento dos juros do empréstimo bancário. Dadas as dificuldades financeiras de alguns pequenos proprietários, a associação diz estar disposta a suportar os juros de empréstimos de 100 milhões de patacas durante o período de construção, remetendo a responsabilidade do capital do empréstimo para a comissão de gestão do condomínio do edifício e os proprietários.
De acordo com a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, as condições económicas e o ambiente social “sofreram mudanças tremendas” Em alternativa, a associação diz que pode alocar oito milhões de patacas à reconstrução do edifício de uma só vez, mas os restantes défices têm de ser financiados pela comissão de gestão do condomínio do edifício e os proprietários. S.F. e N.W.
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terça-feira 7.7.2020
K
EVIN Ho é parceiro de negócios de Ng Kuok Sao, empresário acusado de ter criado uma associação criminosa para vender de autorizações de residência, no âmbito do caso do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). A empresa em causa é a Companhia de Engenharia de Instalação de Equipamentos Hunan (Macau) Limitada e foi utilizada em pelo menos dois pedidos de fixação de residência com informação que a acusação acredita ser falsa. A revelação foi feita ontem em tribunal, quando um investigador do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC), identificado como CS Wu, apresentou o registo comercial da Hunan. O nome de Kevin Ho nunca foi mencionado no tribunal, mas o sobrinho de Edmund Ho surge como accionista da empresa com uma participação de 30 por cento, enquanto os arguidos do processo Ng Kuok Sao e Tang Zhang Lu são os restantes proprietários, cada um com um participação de 35 por cento. A empresa foi criada a 28 de Agosto de 2009 com um capital social de 200 mil patacas e Kevin Ho é igualmente apresentado como gestor, assim como Ng e Tang. Contudo, o sobrinho do ex-Chefe do Executivo Edmund Ho afirmou ter sido apanhado de surpresa com a ligação. “Foi há muito muito tempo que a empresa foi criada e para ser sincero nem me recordo em que condições. Fiquei surpreendido com a ligação, porque não tenho nada a ver com o caso que está em tribunal”, afirmou o também delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional, ao HM. Ho admitiu também conhecer Ng Kuok Sao, com quem diz, no entanto, ter perdido contacto. O arguido encontra-se fora de Macau, após ter sido condenado pela prática do crime de burla. “Do que me lembro foi uma empresa foi criada há 11 ou 12 anos, sem grande actividade comercial. Eu era accionista, mas nunca estive envolvido em qualquer negócio ou nas suas actividades. Nós conhecemo-nos porque o escritório dele era debaixo do meu. Mas não temos contacto há alguns anos. Foi um contacto que se perdeu”, clarificou. O sobrinho do ex-Chefe do Executivo revelou ainda não ir ser testemunha no caso e excluiu o cenário da empresa ser encerrada,
CASO IPIM KEVIN HO É SÓCIO DE ARGUIDO ACUSADO DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
O elefante na sala
O delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional é sócio dos arguidos Ng Kuok Sao e Tang Zhang Lu numa empresa que prestou falsas declarações dizendo ter participado nas obras de construção do Metro Ligeiro e na Segunda Fase do casino Galaxy empresa tivesse capacidade para desempenhar tais trabalhos: “Fomos analisar os formulários M3 e M4 para sabermos os rendimentos e acedermos ao registo dos trabalhos e verificamos que a companhia não conseguia ter capacidade para fazer as obras mencionadas”, considerou CS Wu, do CCAC. Como os processos de residência acabariam por ser recusados pelo IPIM, com parecer negativo do Conselho de Administração, presidido por Jackson Chang, o arguido mais mediático do processo, o montante de 600 mil yuan acabou por ser devolvido. Ng Kuok Sao, sócio de Kevin Ho, e a mulher Wu Shu Hua são os principais arguidos do julgamento do caso do IPIM e estão acusados de terem criado uma associação criminosa para venderem fixações de residência em Macau.
uma vez que não consegue entrar em contacto com Ng nem Tang.
ACTIVIDADES “FACHADA”
Segundo a informação apresentada ontem pela acusação, a empresa Hunan tinha cerca de uma dúzia de trabalhadores até 2013, com a maior parte das saídas a acontecer em 2011. Entre 2014 e 2017, os registos mostram que não houve qualquer contratação. Todavia, a Hunan foi utilizada como empregadora “fachada” para os pedidos de fixação de residência de duas pessoas, Lin Hui Kang e Iu Mei Lee. Quando os pedidos de fixação de residência entraram no IPIM, o
CCAC mostrou que foram transferidos para a conta de Ng Kuok Sao 200 mil yuan, por parte de Lin, e 400 mil yuan, de Iu Mei Lee. Na documentação para a fixação de residência é indicado que Lin iria assumir o papel de gerente na Hunan, enquanto Iu iria ficar com o cargo de gerente-geral dos recursos humanos. Também nos dois processos de fixação de residência é indicado ao IPIM que a Hunan tinha sido uma das partes envolvidas no Metro Ligeiro de Macau e na segunda fase do casino Galaxy. Este documento está assinado pelo accionista Tang, o que faz com que seja arguido. No entanto, a acusação recusa que a
CRIME ROUBA A FILHA PARA PAGAR DÍVIDAS DE JOGO E SIMULA RAPTO
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MA mulher foi detida pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeita de ter roubado um relógio à filha, no valor de 100 mil patacas, para alegadamente pagar dívidas de jogo. Uma história, digna de filme, que começou com o telefonema de Chou, uma residente desempregada de 51
anos, para a filha (Lau), estudante de 25 anos. Na passada quarta-feira, Lau ligou à mãe para perguntar se esta lhe tinha subtraído o valioso relógio, que desapareceu no dia anterior, probabilidade equacionada devido ao conhecido vício de jogo de Chou. A mãe confirmou a suspeita da
filha e acrescentou que o relógio serviria para pagar dívidas de jogo, o mesmo motivo pelo qual estava presa num apartamento na Areia Preta, depois de ter sido raptada. Na sequência do alarmante telefonema, a filha preocupada reportou o caso às autoridades policiais.
Desde quarta-feira, Lau perdeu o contacto com a mãe, até que na sexta-feira a PJ encontrou Chou no casino na península de Macau. Em declarações às autoridades, a mãe admitiu ter roubado o relógio e mentido em relação ao rapto. A mulher admitiu que desde então
Ensino Candidaturas para acesso ao ensino superior no mês de Agosto Entre 7 e 23 de Agosto estão abertas candidaturas para o concurso nacional de acesso ao ensino superior em Portugal. Há um contingente especial, com sete por cento das vagas fixadas
João Santos Filipe
Kevin Ho empresário “Fiquei surpreendido com a ligação, porque não tenho nada a ver com o caso que está em tribunal.”
para a primeira fase, para os candidatos emigrantes portugueses e familiares que com eles residam. A informação foi publicada pelo Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong no
facebook. No espaço de dois anos, o número de emigrantes e lusodescendentes colocados pelo concurso nacional de acesso aumentou 52 por cento. A candidatura deve ser feita online.
tinha estado a jogar em casinos no NAPE. Em sua posse, a PJ encontrou 1100 patacas em fichas. Segundo a PJ, Chou recusou dizer onde está o relógio da filha. A mulher foi detida e transferida para o Ministério Público suspeita de furto agravado. J.L.
joaof@hojemacau.com.mo
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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 332/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LI HUANXING, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C36044xxx , que na sequência do Auto de Notícia n.° 203/DI-AI/2019, levantado pela DST a 27.07.2019, e por despacho da signatária de 29.06.2020, exarado no Relatório n.° 320/DI/2020, de 18.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 341, Edf. Kam Yuen, 7.° andar D onde se prestava alojamento ilegal.----------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Junho de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
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ANTÓNIO MIL-HOMENS
MÚSICA ENNIO MORRICONE FALECEU AOS 91 ANOS
7.7.2020 terça-feira
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compositor italiano Ennio Morricone, autor de inúmeras bandas sonoras de filmes, morreu na noite de domingo para segunda-feira, noticiou ontem a imprensa de Itália. Ennio Morricone, 91 anos, agraciado com um Óscar em 2016, morreu numa clínica em Roma onde se encontrava hospitalizado após uma fractura de fémur na sequência de uma queda, referem as fontes citadas pelos jornais italianos. Morricone é autor das músicas dos filmes “Era uma vez no Oeste”, “Era uma vez na América”, “Por um Punhado de Dólares”, “A Missão” e “Cinema Paraíso”, entre outros. O “maestro” italiano foi autor de mais de 500 músicas para cinema, entre as quais melodias como a que criou para o filme “O Bom, o Mau e o Vilão” (1966), do realizador Sergeo Leone, com o actor Clint Eastwood. Ennio Morricone “morreu ao amanhecer de 6 de Julho no conforto da fé”, indica o comunicado do advogado e amigo da família, Giorgio Assuma, citado pelos vários jornais italianos ontem de manhã. “Esteve totalmente lúcido e manteve uma grande dignidade até ao último momento”, acrescenta o mesmo comunicado. “Adeus ‘maestro’ e obrigado pelas emoções que nos ofereceste”, disse Roberto Speranza, ministro da Saúde do governo de Roma, através de uma mensagem difundida pela rede social Twitter”. Ennio Morricone foi distinguido em 2016 com o Óscar de melhor banda sonora para o filme “Hateful Eight” de Quentin Tarantino.
Vivências po POESIA ANTÓNIO MIL-HOMENS LANÇA “POEMOGRAFIAS” ESTE SÁBADO NA CASA GARDEN
É já no próximo sábado, dia 11, que o fotógrafo António Mil-ho “Poemografia”, que surge numa versão trilingue, português, chinê sentação do ex-embaixador Carlos Frota, contém também fotogra do autor com a Macau que habita há vários anos
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PROVEITANDO a viagem da sua primeira exposição de pintura, intitulada “Monochrome”, António Mil-homens prepara-se para lançar um novo livro de poesia no mesmo local onde estão expostas as obras, a Casa Garden. O evento de apresentação de “Poemografia” acontece no sábado por volta das 16h e terá como convidados o ex-embaixador Carlos Frota, além de personalidades que vão ler os poemas nas suas versões em português, chinês
e inglês. A música de Fabrizio Croce irá acompanhar a leitura dos poemas. A edição do livro está a cargo do Instituto Cultural (IC). “Poemografias” é o resultado das vivências de António Mil-homens com Macau. “É no fundo uma súmula daquilo que tenho escrito sobre Macau ao sabor da inspiração e daquilo que vou sentindo e vivenciando”, contou ao HM. Um dos poemas retrata, por exemplo, o primeiro momento em que António Mil-homens chegou a Macau, decorria o ano de 1996. Desde
aí que houve alterações na forma de escrita, precisamente devido a uma forte ligação com a cultura chinesa. “De repente ganhei consciência de que o estilo [de escrita] é mais configurativo. Se calhar o estilo de escrita dos poemas reflecte muito daquilo que em mim foi sendo inculcado pela cultura chinesa. Diria que são poemas meus, mas se calhar são muito chineses na forma como foram naturalmente escritos, sem ter tido consciência ou intenção disso.” O autor não domina a língua chinesa, mas diz sentir-
-se muito ligado à cultura, sobretudo ao confucionismo e à arte chinesa. “Tenho uma enorme admiração e um profundo respeito. Não ignoro as diferenças e procuro entendê-las. É a minha postura normal relativamente a outras culturas: procurar e analisá-las sem grandes pré-concepções, porque essa é a única forma. Prefiro ter um olhar mais transparente sobre aquilo que me rodeia.” Há uma naturalidade e sobretudo uma espontaneidade na escrita de António Mil-homens que surgiu quase
sem o autor perceber como. “De repente as coisas acontecem e eu tenho necessidade de pegar numa folha de papel para registar o que me está a ocorrer. É raríssimo fazer qualquer rasura ou substituição de palavras.”
PROJECTO ANTIGO
“Poemografias” começou a ser pensado em 2014, ainda Yao Jingming era vice-presidente do IC. Até que António Mil-homens decidiu que este “não seria mais um livro de poesia em português” e pagou a tradução dos poemas
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terça-feira 7.7.2020
HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho
Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com
Murta Nome botânico: Myrtus communis L. Família: Myrtaceae. Nomes populares: FLOR-DONOIVADO; MIRTO; MURTACULTIVADA; MURTA-DOSJARDINS; MURTA-ORDINÁRIA; MURTAS (frutos); MURTEIRA; MURTINHO; MURTINHOS (frutos).
oéticas
omens lança o seu novo livro de poesia ês e inglês. A obra, que conta com apreafias e espelha a vivência muito própria para chinês e inglês. A edição aconteceu o ano passado, a propósito da celebração dos 20 anos da RAEM, mas o lançamento acabou por ser adiado. Fotógrafo há vários anos, António Mil-homens enveredou recentemente pela pin-
tura, tendo já inclusivamente algumas ideias para uma nova exposição com quadros de maior dimensão. Sobre a escrita, diz ter recebido comentários positivos, o que lhe dá força para continuar a trabalhar em várias vertentes artísticas.
O evento de lançamento de “Poemografia” acontece no sábado por volta das 16h e terá como convidados o ex-embaixador Carlos Frota, além de personalidades que vão ler os poemas nas suas versões em português, chinês e inglês
“Além de pessoalmente estar satisfeito com o projecto, sinto-me auto-gratificado. Nunca me passou pela cabeça, quando comecei a pintar, que ia sair com esta força. O retorno ou as opiniões que tenho recebido é de apreciação e de encorajamento, de pessoas a quem não perguntei nada. Ganhei uma força que não me passaria pela cabeça que acontecesse. É mesmo para continuar”, rematou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Originária da região mediterrânica, a Murta encontra-se com frequência em matos, sebes e charnecas, onde se desenvolve formando moitas fechadas e aromáticas. Também é cultivada como ornamental e para a obtenção de óleo essencial. Trata-se de um arbusto bastante resistente, sempre-verde, de caule muito ramificado, que pode alcançar 3 metros de altura; as folhas, verde-escuras, coriáceas e brilhantes, encontram-se providas de pequenas glândulas visíveis à transparência; as flores, brancas ou rosadas, têm numerosos estames compridos e estilete saliente, e os frutos são umas bagas negras. Muito glosada pelos poetas, a Murta participa em variadas histórias e lendas, da mitologia Grega à Bíblia. Dedicada aAfrodite, a deusa grega do amor, simboliza a glória e o amor feliz, e com ela se entrelaçavam as coroas dos heróis e das noivas. No século I, foi referida por Dioscórides como «uma amiga do estômago», e Avicena, célebre médico árabe do século XI, recomendava-a pelas propriedades adstringentes e anti-sépticas. A Água-de-anjo era um famoso produto de beleza obtido da destilação das suas folhas e flores. A Murta foi ainda muito apreciada como especiaria. Em fitoterapia são usadas as folhas e o óleo essencial, menos vezes os frutos. Composição Óleo essencial, floroglucinóis complexos (mirtucomulonas A e B), flavonóides, taninos, ácidos orgânicos (cítrico, málico), substâncias amargas e resinas. Acção terapêutica A Murta fluidifica a expectoração, auxilia a sua eliminação, combate espasmos e acalma a tosse, tendo ainda actividade anti-séptica e antibacteriana sobre as vias respiratórias; o seu efeito antibiótico é comparável ao da estreptomicina. Está indicada no tratamento da rinite, sinusite, tosse, catarro, constipação, estados gripais, faringite, laringite, bronquite, infecções pulmonares, enfisema e asma. A sua acção anti-séptica e antibiótica manifesta-se igualmente sobre o aparelho urinário, sendo por isso recomendada nas infecções urinárias (cistite, uretrite, pielonefrite). Pode ser útil na gota, por baixar os níveis de ácido úrico e ser analgésica.
É usada como sedativo no nervosismo e insónia. Nas mulheres, reduz o fluxo menstrual abundante, por ser um hemostático. Com propriedades adstringentes, a Murta tonifica o estômago, favorece a digestão, facilita a expulsão de gases e de parasitas intestinais, e combate as diarreias, beneficiando casos de digestões difíceis, flatulência, gastrenterites, diarreia, disenteria e vermes intestinais. Outras propriedades Usada externamente, a Murta desinfecta, cicatriza e detém as hemorragias. Pode ser empregue nas afecções da pele (feridas e contusões; eczemas, psoríase) e das mucosas (gengivites, estomatites e faringites; conjuntivites; otites; leucorreia, vaginites e hemorróidas), e nas já referidas afecções respiratórias. Com usos cosméticos, esta erva tonifica a pele e combate a caspa, suavizando o couro cabeludo e aliviando a irritação. Como tomar • Uso interno: Infusão das folhas (e frutos): 1 colher de sobremesa por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 3 chávenas por dia. As flores frescas, de sabor adocicado, podem ser usadas para ornamentar saladas de vegetais ou de frutas, e guarnições. As folhas são utilizadas para temperar carnes de sabor forte, como a de borrego e a de algumas peças de caça. O licor de Murta, obtido com as suas bagas, é muito popular em Portugal. O denominado “Arrabidino” foi durante séculos produzido no sigilo do Convento da Arrábida. • Uso externo: Infusão das folhas (e bagas): 15 a 20 gramas por litro de água fervente. Em lavagens e compressas, bochechos e gargarejos, como colírio ou em irrigações vaginais. Óleo essencial diluído em água: em inalações, bochechos e gargarejos. Em champô, stick para inalação, dentrífico ou bálsamo. Precauções Não são conhecidas contra-indicações ou efeitos adversos para as folhas nas dosagens terapêuticas. Em doses elevadas, pelos taninos, podem ocorrer perturbações digestivas. O óleo essencial não deve ser usado por grávidas, crianças menores de seis anos, pessoas com problemas neurológicos ou gástricos. Em doses não terapêuticas pode provocar reacções alérgicas – fazer o teste de tolerância. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.
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China pediu ontem à França que garanta um ambiente "justo e não discriminatório" para as empresas chinesas, após Paris ter restringido a parceria entre operadoras francesas e o grupo chinês de telecomunicações Huawei. A Agência Nacional de Segurança de Sistemas Informáticos de França anunciou que vai limitar para um máximo de oito anos as licenças de operação de redes de quinta geração (5G) das operadoras francesas SFR (Altice) e Bouygues Telecom, que utilizam equipamento do grupo chinês. Em conferência de imprensa, o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Zhao Lijian afirmou ter esperança de que a França "terá uma atitude objectiva e justa, respeite as leis do mercado e a vontade dos negócios". Zhao pediu a Paris que "tome medidas concretas para estabelecer um ambiente aberto, justo e não discriminatório para empresas de
7.7.2020 terça-feira
HUAWEI PEQUIM PEDE A PARIS AMBIENTE JUSTO PARA AS SUAS EMPRESAS
Contra a discriminação O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou ter esperança de que a França “terá uma atitude objectiva e justa, respeite as leis do mercado e a vontade dos negócios”
todos os países, incluindo empresas chinesas".
LICENÇAS LIMITADAS
A Huawei, número dois em todo o mundo em venda de telemóveis e líder em equipamento de 5G, está na mira dos
Estados Unidos, que acusam a empresa de estar sujeita a cooperar com os serviços de inteligência chineses. O governo de Donald Trump está a pressionar os países aliados, incluindo Portugal, a parar de usar
equipamento da empresa. Em entrevista ao jornal francês Les Echos, o director-geral do regulador francês, Guillaume Poupard, esclareceu que a Huawei não estará sujeita a uma "proibição total", mas que as operadoras
que usarem equipamento da empresa terão as suas licenças limitadas a períodos entre três e oito anos. O eurodeputado verde Yannick Jadot, por sua vez, apelou ontem a que se proteja a "soberania digital"
do continente, rejeitando a Huawei em favor dos concorrentes europeus Nokia e Ericsson. Também o primeiro-ministro britânico Boris Johnson deve anunciar este mês planos para excluir progressivamente equipamento da Huawei.
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PESTE NEGRA CIDADE DO NORTE EMITE ALERTA APÓS DETECTAR CASO SUSPEITO
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MA cidade do norte da China emitiu ontem o alerta de saúde de nível 3, o segundo mais baixo, na escala do pais asiático, depois de ter sido diagnosticado um possível caso de peste bubónica, informou ontem a imprensa oficial. A Comissão Municipal de Saúde da cidade de Bayannur, na região autónoma da Mongólia Interior, revelou que um pastor foi internado num hospital local, onde foi diagnosticado com a doença. O doente permanece isolado e em condição “estável”, segundo a mesma fonte. O alerta de nível 3 permanecerá em vigor, até ao final
deste ano, para prevenir e controlar possíveis surtos de peste bubónica. A escala vai de 1 a 4, o nível um é o mais alto e o quatro o mais baixo. Também conhecida como peste negra, a doença foi a pandemia mais devastadora registada na história da humanidade, dizimando cerca de metade da população europeia, segundo algumas estimativas. Em comunicado, o executivo municipal pediu aos cidadãos que fossem mais cautelosos na prevenção do contágio entre seres humanos e exigiu que não consumissem animais que possam causar infecções pela doença. A Comissão Municipal de Saúde também pediu
aos cidadãos que informem se encontrarem marmotas ou outros animais doentes ou mortos, e lembrou que a caça de animais que podem transportar a doença está proibida. A menção específica de marmotas pode estar relacionada a dois casos confirmados de peste bubónica na Mongólia, na semana passada. Nesse caso, dois irmãos foram hospitalizados com a doença, após terem comido carne de marmota. Estes animais e outros pequenos mamíferos carregam pulgas infectadas com a bactéria yersinia pestis, que causa a peste bubónica e pneumónica.
Himalaias China e Índia começam a retirar soldados de zona disputada China e Índia começaram ontem a retirar tropas do vale de Galwan, onde pelo menos 20 soldados indianos morreram, no mês passado, no mais grave confronto entre os dois países vizinhos em meio século. "A retirada do Exército de Libertação Popular da China começou, de acordo com os termos acordados na reunião
entre comandantes", avançaram fontes militares indianas, citadas pela agência Efe. O Exército chinês removeu tendas e estruturas da área onde ocorreu o confronto, nos Himalaias. "O Exército de Libertação Popular foi visto a remover tendas e estruturas no ponto de patrulha 14. Uma retirada de veículos do PLA foi observada na
área geral de Galwan, Hotsprings e Gogra", acrescentou. Os dois países culparam-se mutuamente pelos confrontos com paus e pedras, mas sem recurso a armas de fogo, no vale de Galwan, onde, segundo as autoridades indianas, também houve vítimas do lado chinês, algo não confirmado por Pequim.
terça-feira 7.7.2020
A harmonia queima
uma asa no além Paulo José Miranda
A afinadora de perguntas
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A semana passada vimos aqui o segundo e último livro da escritora irlandesa Jane Mcgrade, «Desde Que Morrem Os Homens», mas o seu primeiro livro, «Aquele que Vai Para Escritor», de 1949, não é menos arrebatador. Neste seu livro, a escritora começa de um modo «mcgradiana» a destruição da literatura: «À minha volta, quase ninguém lê os livros que me interessam. Não importa que sejam as pessoas com quem falo num jantar ou aquelas com quem converso na universidade. Os livros que me importam não importam a ninguém. E do mesmo modo que acontece comigo, assim imagino que aconteça com outros. Assim, antes de se pensar em tornar-se escritor, deve ter-se consciência de quem ninguém se importa com isso. “Isso” é o que se escreve. Porque a escrita tal como a entendo não é natural. É natural o relato de acontecimentos, o testemunho de episódios, a criação de vidas tão longe da vida que nos fascina ou ainda a cópia dos dias que de tão perto e tão vazios são como os nossos. Isso, sim, é natural. Mas a escrita que abre feridas na superfície da consciência, que mostra falhas da existência, que põe em causa o próprio acto de escrever e de pensar não é natural e não importa às pessoas. Talvez um dia se consiga provar que ou esses livros são os fundamentais ou esses livros são perniciosos, não apenas contra-natura, mas que nos afastam do melhor de nós. Até lá, continuemos a escrever com a crença que melhor nos couber, sem tirar os olhos do horizonte do desinteresse alheio.» Logo de início Jane Mcgrade larga as redes do seu brilhante pessimismo sem qualquer contemplação com o leitor. Põe não só a si mesma em causa, mas também o livro que começa a escrever. No fundo, e ao longo do livro, soa omnipresente o não se saber nada do que estamos a fazer quando escrevemos. E este não saber nada não é apenas em relação à arte da escrita, mas a relação da escrita com o mais profundo da existência. Escreve à página 18: «De onde vem a ideia de que a literatura é algo de bom para a existência? Como sabemos isso? Ou talvez mais correctamente, como podemos saber isso? Será a literatura melhor para a existência do que nadar todos os dias ou correr atrás de uma bola num campo verde junto com outras pessoas?» Aquilo que im-
porta a Mcgrade – já o tínhamos visto na semana passada com a questão da origem e do impulso para o suicídio – não é dar respostas, mas formular perguntas o mais certeiro que lhe for capaz. Escreve: «Afinar perguntas não
é a mais nobre das actividades, mas é a mais nobre das minhas.» (p. 29) Estamos diante de um texto pequeno, 78 páginas, bem menor que «Desde Que Morrem Os Homens». E na página 32 surge esta frase enigmática: «Todo
No fundo, e ao longo do livro, soa omnipresente o não se saber nada do que estamos a fazer quando escrevemos. E este não saber nada não é apenas em relação à arte da escrita, mas a relação da escrita com o mais profundo da existência
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aquele que escreve faz o quê? Imagine-se que uma criança pergunta a uma escritora o que é que ela faz na vida e que a escritora lhe responde que escreve livros. Não satisfeita, e não o poderia estar, a criança insiste em querer saber o que é isso de escrever livros. Ela, a criança, não quer saber o que é um livro, mas o que é escrever um. Isto é, ela quer saber o que é que eu faço. E não lhe sei responder. Posso dizer muitas coisas. E digo muitas coisas. Mas não lhe sei responder.» Por conseguinte, para Jane Mcgrade a actividade de escrever não é apenas obscura em relação aos efeitos na existência, mas também é obscura na sua compreensão. «Não é só aquele que vai para escritor que desconhece ao que vai, também o escritor desconhece onde está.» (p. 33) Jane Mcgrade tinha um fascínio enorme por Nietzsche, e faz uma citação à página 40, de uma passagem de «Acerca da Verdade e da Mentira no Sentido Extramoral»: «O descurar do individual e do real dá-nos o conceito, do mesmo modo que nos dá a forma, enquanto a natureza não conhece quaisquer formas e conceitos e, portanto, quaisquer géneros, mas apenas um X para nós inacessível e indefinível. Portanto, também a nossa posição entre indivíduo e género é antropomórfica e não provém da essência das coisas [...].» O que pretende Mcgrade ao trazer este texto de Nietzsche, se há nele um elogio da metáfora e uma negação do conceito? Há em todo este texto um desprezo pela verdade. Neste texto, o filósofo alemão propõe a metáfora como caminho, não para o conhecimento mas para a nossa relação com a vida, ao invés do conceito, que nunca pode abraçar a vida. Mas veja-se aonde Mcgrade nos quer levar, à página 42: «Ver o conceito como uma grosa que apara diferenças, quando tudo na natureza é desigual, talvez seja a maior evidência de que a literatura nos pode servir bem a existência.» Ou seja, a escritora irlandesa recorre a esse texto de Nietzsche não como «prova» de defesa da literatura, mas como «possibilidade» de defesa. Uma vez mais, não há respostas, apenas uma contínua afinação da pergunta. Termino esta viagem ao primeiro livro de Jane Mcgrade com a última frase do livro, absolutamente luminosa: «Antes de caminhardes para escritor, lembrai-vos de que quando se escreve não se lê.»
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7.7.2020 terça-feira
Amélia Vieira
Seis propostas para o próximo milénio
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STÁVAMOS em 1984 quando Italo Calvino reuniu um conjunto de textos ensaísticos para um ciclo de conferências na Universidade de Harvard. Seis lições, um conjunto a que procurou ser coeso, metódico e analítico face ao futuro da literatura e do livro, da criação literária, dos seus propósitos e formas, bem como ao subtil articular destas componentes. Disserta sobre o objecto-livro, das línguas ao longo do século vinte e das suas vertentes imaginativas que deram origem a formas cognitivas fazendo da linguagem uma pura plasticidade criativa. Se para tanto pensarmos que o século vinte foi o da propagação do livro, e que para trás a faixa reduzida da sua utilização foi uma constante, e que no postulado da tecnologia ele se recolhe cada vez mais, digamos que a sua existência como grande expressão tem neste século o máximo significado. Nas línguas Ocidentais, ele não só é soberano, como vai dar origem a infindáveis formas de leitura como elemento puro de práticas combinatórias. Leveza, Rapidez, Exactidão, Visibilidade, Multiplicidade, na verdade cinco, estando na dissertação a sexta, que é do autor a sua própria voz, talvez o Peso, em contraste com a primeira com que abre a sessão. Ao agrupar estes fundamentos ele dá corpo a uma constância onde nada deve por isso ficar de fora, e joga-as na fluidez que requer certamente o exercício de uma vida inteira. Nem sempre estas prerrogativas vistas do lado de quem não se associa à vertente imaginária e treino constante saem em simultâneo, ou saindo uma, pode não ter o suporte da outra, daí a linguagem ser de facto o mais agreste elemento face ao entendimento quando as suas componentes não se encontram devidamente filtradas, sobretudo, quando se trata de linguagem tangível, na outra, bem formulada pelos elementos indicados, os campos abrem-se de forma clara e quase sempre iluminam. É com tais recursos que a intertextualidade foi uma prática ao longo do século vinte, ampliando o texto literário até às malhas da quase composição de signos gráficos alinhados numa complexa rede de significados, ele transmite-nos isto sem retórica de permeio e uma incrível visão temática. Fala da poesia como uma tensão para a exactidão a partir de Paul Valéry, e ela só tem paralelo com o grau de maravilha alcançado na Leveza que atravessa a manifestação, e já nela, olhar de maneira
nova de um outro ponto de vista pode ser uma sua marca, e não uma dissolvência onírica para fugas presenciais. Para a Visibilidade, invoca uma tendência perdida: o poder de focar visões de olhos fechados, passando a lembrar
os caracteres alfabéticos negros da página, o que faz lembrar um belo poema árabe que diz assim “minha pupila só resgata o que da página está cativo, o branco na margem certa e da palavra o negro vivo” o amor pelo desenho gráfico
O milénio chegou, e indo até aqui num passado recente, conseguimos ler melhor a etapa seguinte de um livro sempre inacabado que é a criação humana e a sua flutuação nos tempos que nos impelem a recriar sempre fórmulas de entendimento
está bem patente nesta forma de olhar os caracteres, o que inspira e atrai. Rapidez é também neste caso uma alegórica associação entre Vulcano e Mercúrio, onde a paciência mineral indicará a inspirada força para o impulso imediato num reflexo de ajustamento de ambas, amadurecer e libertar da contingência efémera o reflexo sombrio da impaciência e da angústia da página em branco. Na Multiplicidade, há no entanto que defendê-la da arbitrariedade, o puzzle do nosso enredo interior não deve ser labiríntico e dever-se-á conectar com as imensas ressonâncias dos fluídos captados por esferas associativas que façam da estranheza do pensamento a divulgação de um acréscimo do ritmo construtivo, um teste com os recursos ao nosso dispor no treino inventivo que se sedimenta ao longo de um processo que trará uma liberdade maior e uma harmonia constante. Este trabalho foi o último de Italo Calvino que viria a morrer um ano depois, o que denota um apuramento quase no fim arremessando o essencial e pondo a funcionar elementos que se juntaram para coroar uma vida, e quando pensamos nisso, queremos atrasar o nosso próprio reservatório de capacidades não vão elas soltarem-se ficando nós a sentir que esta maravilha esconde a breve finitude dos nossos dias. Muitas vezes acontece isso, e se a vida continua para lá de um ajustamento destes, parece então que as funções caem ou tendem a repetir-se retirando-lhes o vigor, o que não raro acontece quando não se dá conta de uma certa decadência. Foi para ele uma fixação que levou tempo a elaborar, este trabalho, já atento aos sinais futuros e ao grau de dissolvência do contributo do objecto-livro como fonte de propagação de leitura. Creio que todas as etapas nos satisfazem pelo brilhantismo demonstrado e capacidade de recorrer a formas inovadoras. O milénio chegou, e indo até aqui num passado recente, conseguimos ler melhor a etapa seguinte de um livro sempre inacabado que é a criação humana e a sua flutuação nos tempos que nos impelem a recriar sempre fórmulas de entendimento, e mais, conhecimento acrescido das nossas potencialidades, onde só as distâncias dão o espaço necessário para abordagens mais vastas. “.... talvez só então eu estivesse a descobrir o peso, a inércia, a opacidade do mundo: aspectos que se agarram logo à escrita se não descobrirmos a maneira de lhes fugir”
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
terça-feira 7.7.2020
Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis
Gabriel Urbain Fauré (1845-1924)
Aprés un rêve Trois mélodies, Op. 7
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ABRIEL Urbain Fauré, nascido em Pamiers, na comuna de Ariège, no dia 12 de Maio de 1845, há pouco mais de 175 anos, foi um dos mais proeminentes compositores franceses da sua geração, para além de organista, pianista e professor. O seu estilo musical influenciou numerosos compositores do século XX. De entre os seus trabalhos, destacam-se, de entre mais de 100 canções, Après un rêve e Clair de lune, a obra sinfónica Pavane e o Requiem, para além dos nocturnos para piano. Embora as suas composições mais conhecidas e acessíveis sejam as primeiras, Fauré compôs as suas obras mais reconhecidas e turbulentas - que contrastam com o charme das primeiras composições, nos últimos anos de vida, num estilo mais complexo de harmonia e melodia. Fauré nasceu no seio de uma família nobre mas com poucas ligações à música. O seu talento começou a revelar-se ainda em pequeno e, aos nove anos de idade, foi enviado para a École de Musique Classique et Religieuse (mais conhecida por École Niedermeyer) em Paris, onde recebeu formação como organista de igreja e mestre-de-coro. Após a morte de Niedermeyer, um dos seus professores foi Camille Saint-Saëns, que se tornaria seu grande amigo. Depois de terminar os estudos, em 1865, trabalhou como organista e professor, sobrando-lhe pouco tempo para a composição. Quando começou a ser bem-sucedido, já com alguma idade, no cargo de organista da Igreja de la Madeleine e de director do Conservatório de Paris, ficou ainda com menos tempo para compor mas, nas férias de Verão retirava-se para o campo para se concentrar nas suas composições. Nos últimos anos de vida, pese embora uma crescente surdez e outros problemas de saúde, Fauré foi reconhecido em França como o principal compositor da sua época. Em 1922, já completamente surdo, recebeu uma homenagem nacional sem precedentes, na Sorbonne, prestada pelo Presidente da República, na qual participaram os mais ilustres artistas franceses da época. Fora de França, a música de Fauré levou décadas a ser aceite, excepto na Grã-Bretanha, onde teve muitos admiradores ainda em vida. A sua música tem sido descrita como uma ponte de ligação entre o romantismo e o modernismo, surgido no último quartel do século XIX. Quando
O jovem Gabriel Fauré
A cantilena de Fauré é uma cornucópia de abundância melódica: a música desenvolve-se organicamente do princípio ao fim, cada frase conduzindo inevitavelmente
Fauré nasceu, Chopin ainda compunha e, quando morreu, começava-se a ouvir jazz e a música atonal da Segunda Escola de Viena. O Grove Dictionary of Music and Musicians, que o descreve como o compositor mais avançado da sua geração em França, salienta que as suas inovações harmónicas e melódicas influenciaram o ensino de música a muitas gerações. Fauré faleceu em Paris no dia 4 de Novembro de 1924. As Trois mélodies, Op. 7 de Gabriel Fauré são um conjunto de canções para voz e piano constituído por Après un rêve (Op. 7, n.º 1), uma das obras vocais mais populares e belas de Fauré, Hymne (Op. 7, n.º 2) e Barcarolle (Op. 7, n.º 3). As canções foram escritas entre 1870 e 1878 mas não foram concebidas como um conjunto; o número de opus 7 foi-lhes imposto de maneira retrospectiva na década de 1890, quase 20 anos depois da sua primeira publicação. Après un rêve (publicada em 1877) descreve o sonho de um voo romântico com um amante, longe da Terra e “em direcção à luz”. Contudo, ao acordar para a verdade o sonhador anseia voltar à “noite misteriosa” e à estática falsidade do seu sonho. O texto do poema é uma adaptação livre para francês de Romain Bussine de um poema anónimo em italiano. A cantilena de Fauré é uma cornucópia de abundância melódica: a música desenvolve-se organicamente do princípio ao fim, cada frase conduzindo inevitavelmente à seguinte, um florescimento sem fim, por sua vez suportado por harmonias inevitáveis, mas o toque popular de Fauré disfarça a maior das subtilezas. A versão mais conhecida desta canção é para violoncelo e piano, arranjada por Pablo Casals. Hymne adapta o texto de um poema de Charles Baudelaire. O significado do texto de Hymne é vago para aqueles que não estão familiarizados com o tema recorrente de Baudelaire de um paradoxo: a espiritualidade do sensual e a sensualidade do que é santificado. A adaptação de Fauré do texto centra-se subtilmente nesta ideia. Esta peça, como Après un rêve, mantém um ambiente etéreo. O texto da terceira peça do conjunto, Barcarolle, é de Marc Monnier. A peça está escrita na forma de barcarola usando um animado compasso de 6/8 . Através da canção, a figura rítmica, que consiste numa colcheia unida a um terno de semicolcheias, seguido de outra colcheia, é passada entre a voz e o piano.
à seguinte, um florescimento sem fim, por sua vez suportado por harmonias inevitáveis, mas o toque popular de Fauré disfarça a maior das subtilezas
SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Gabriel Fauré: Trois mélodies, Op. 7 • Janet Baker (mezzo-soprano), Geoffrey Parsons (piano) – Hyperion, 1990
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THE LAST FULL MEASURE [C] Um filme de: Tod Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 14.30, 16.45, 19.00, 21.30
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Centro de Pesquisa Nacional, Biagio Di Mauro. "A alga não é perigosa, é um fenómeno natural que acontece durante a Primavera e o Verão nas latitudes moderadas, mas também nos polos”, explicou o cientista
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UM JOGO HOJE
FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00
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INHERITANCE [C] Um filme de: Vaughn Stein Com: Lily Collins, Simon Pegg, Connie Nielsen 21.30
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Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terence Lau, Cecilia Choi 14.30, 17.00, 19.15
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investigadores. A origem das algas tem sido controversa, mas a cor rosa da neve, observada na zona do glaciar Presena, parece ser causada pela mesma planta descoberta na Gronelândia, segundo um investigador do
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BEYOND THE DREAM [C]
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FUKUSHIMA 50 [B]
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C I N E M A
FALADO EM FRANCÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Eric Lartigau Com: Alain Chabat,, Doona Bae, Blanche Gardin 14.30, 19.30
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 32
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Cientistas estão a tentar averiguar a origem da misteriosa cor rosa de um glaciar nos Alpes italianos que deverá ser provocada por algas que aceleram os efeitos das mudanças climáticas, anunciaram ontem os
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BEYOND THE DREAM
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CATHERINE: FULL BODY | 2019 | ATLUS
Com um estilo anime, o jogo Catherine: Full Body é um produto japonês feito a pensar uma audiência masculina, o que faz com que seja encontrado facilmente em Macau. Ao jogador é pedido que resolva vários puzzles e ajude Vincent Brooks, a personagem principal, a definir a sua vida. Depois de cinco anos de namoro com Katherine, Vicent tem de decidir se quer casar com a parceira. Porém, é na altura de todas as decisões que o protagonista decide complicar ainda mais as coisas e envolve-se com outra mulher, Catherine... disponível para a PS4 desde o ano passado, a versão para a Nintendo Switch é lançada hoje. João Santos Filipe
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5 Propriedade 2 Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; 3 Gonçalo 4João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje www. 3 1 5 Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare hojemacau. com.mo Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 6 1 6
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terça-feira 7.7.2020
macau visto de hong kong DAVID CHAN
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Patentes e açambarcamento
ECENTEMENTE o jornal Guardian informou que os Estados Unidos tinham adquirido uma grande quantidade de Remdesivir, um medicamento para tratamento da covid-19, tendo provocado a indignação da comunidade internacional. O Remdesivir é fabricado por uma farmacêutica americana, a Gilead Sciences, Inc. O Guardian salientava que os EUA tinham comprado mais de 500.000 doses, o que equivale à quase totalidade da produção da empresa durante os meses de Julho,Agosto e Setembro. O açambarcamento tornou o medicamento indisponível para o resto do mundo. Depois da publicação da notícia, e da confirmação da fidedignidade das fontes, a Organização Mundial de Saúde (OMS) assegura que todos os membros irão ter igual acesso aos tratamentos. Embora os EUA tenham anunciado que abandonavam a OMS, a organização continua a cooperar com os Estados Unidos. No momento em que escrevo este artigo, ainda não havia confirmação dos resultados da OMS, mas o Secretário de Estado Norte-Americano Para a Saúde e Recursos Humanos, Hazard Alex Azar, afirmou que Trump tinha chegado a um acordo para assegurar que as farmacêuticas americanas iriam obter autorização para serem as primeiras a colocar no mercado medicamentos para combater o novo coronavírus. O modelo dos Estados Unidos é obviamente “Prioridade aos Americanos”, o que exclui as necessidades dos outros países. A compra da quase totalidade da produção do Remdesivir durante os próximos três meses, faz com que os pacientes dos outros países não possam aceder ao medicamento e fiquem com as vidas em risco. As declarações de Alex Azar receberam críticas de diversos círculos políticos e universitários: O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, afirmou que, se os Estados Unidos continuaram com este procedimento, poderá vir a haver consequências negativas inesperadas. Peter Horby, Professor da Universidade de Oxford, Reino Unido, salientou que o Remdesivir provou ter efeitos benéficos no combate à doença durante a fase experimental, mas que, para além dos Estados Unidos, participaram na experiência o Reino Unido e o México. OhdYaqud, lente sénior da Universidade de Sussex, Reino Unido, afirmou que o comportamento dos Estados Unidos indica a falta de
cooperação com outros países e organizações, que terá como consequência um arrefecimento das relações internacionais e afectará acordos e direitos de propriedade intelectual. O açambarcamento do Remdesivir pelos americanos, faz-nos temer pela saúde dos pacientes de outros países. Sem este medicamento, como é que os médicos podem garantir o tratamento dos doentes? O Reino Unido e o México sentem-se particularmente lesados porque participaram na pesquisa e na experimentação do Remdesivir. A experência foi bem sucedida, mas estes países não têm acesso ao medicamento. Esta atitude revela a pouca consideração que os Estados Unidos têm pelas vidas dos cidadãos dos outros países. Sabemos que cada vida é única e que não pode ser substituída, não é ético escolher os que vão ser salvos e os que serão condenados. Se esta atitude for sancionada vai imperar a lei do mais forte e a convivência pacifíca entre os seres humanos chegará ao fim. Claro que os medicamentos são um caso especial. Muitos países têm legislação que proibe a exportação de medicamentos em situações de epidemia, para garantir que todos os seus cidadãos tenham acesso ao tratamento. Neste caso, os Estados Unidos compraram todo o stock, não lançaram mão da legislação para proibir a saída do medicamento. Este comportamento dos Estados Unidos não tem precedentes. O problema é urgente e tem de ser resolvido. O Remdesivir não vai estar disponível fora da América. Ainda vai levar tempo até se descobrir uma vacina. Se a vacina for
descoberta nos Estados Unidos, nada nos garante que o mesmo não volte a acontecer. Existe alguma forma de resolver o problema da distribuição de medicamentos? Uma das formas mais eficazes seria estabelecer um sistema de “licenciamento obrigatório” que facultasse a todos os países a produção do Remdesivir para abastecer as suas populações. E isto teria de se verificar, quer a Gilead Sciences, Inc. desse ou não o seu consentimento. Seria uma permissão legal para a produção mundial do medicamento. É claro que teriam de ser pagos os direitos à Gilead. Falta saber que percentagem estabeleceria. A questão chave da lei de protecção da propriedade intelectual é a garantia dos direitos sobre a invenção. Os inventos devem estar disponíveis ao público, em qualquer parte do planeta. O novo produto pode continuar a aperfeiçoar-se e renovar-se. É claro que este novo produto deve ser devidamente pago. Sem um pagamento adequado, todos os recursos e tempo que o cientista investiu teriam sido em vão. A cópia e o uso indevido
O açambarcamento do Remdesivir pelos americanos, faz-nos temer pela saúde dos pacientes de outros países. Sem este medicamento, como é que os médicos podem garantir o tratamento dos doentes?
da invenção constitui uma violação da lei de propriedade intelectual. Para proteger os inventores criaram-se as patentes, que devem ser compradas por quem quiser produzir os produtos. O seu valor deve ser calculado de forma equilibrada de maneira a incentivar a criação e a produção global. Esta nova epidemia tornou-se um problema a nível interenacional. É compreensível que os países que queiram produzir o Remdesivir paguem a patente à Gilead. Para os países, será sem dúvida um enorme fardo económico o pagamento continuado de patentes muito altas até que a epidemia termine. No entanto, o estabelecimento de uma patente baixa fará crer que a indústria farmacêutica não é capaz de garantir os lucros do sector. Se isto vier a acontecer, de futuro, os cientistas e a indústria não estarão dispostos a investir mais recursos na busca de novos medicamentos para combater a pandemia. A procura de um preço razoável da patente é um problema complexo. Novos medicamentos podem tratar doenças novas, mas os novos medicamentos têm de estar protegidos por uma patente. As patentes destinam-se a assegurar o lucro da indústria farmacêutica. O licenciamento obrigatório para a produção do Remdesivir pode ajudar a solucionar o actual problema de falta de stock, mas permanece a questão de como calcular o valor da patente. Se não se estabelecer um valor razoável, a pesquisa da vacina contra o novo coronavírus será afectada e a data da vitória da Humanidade sobre a covid-19 pode vir a ser adiada.
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade. Albert Einstein
PALAVRA DO DIA
Restauração Gastroenterite colectiva afectou 26 pessoas no Jockey Club
COVID-19 AFASTADO CENÁRIO DE MULHER FILIPINA TER SIDO INFECTADA EM MACAU
O
PUB
S Serviços de Saúde (SS) acreditam que a mulher filipina diagnosticada com o novo tipo de coronavírus nas Filipinas, depois de ter estado em Macau, foi contagiada no seu país natal. De acordo com o médico Alvis Lo Iek Long, do Centro Hospitalar Conde de São Januário, a probabilidade de a paciente ter sido infectada em Macau é baixa, devido à diferença entre a situação epidémica nas duas regiões e o período de incubação da doença. Isto porque, a mulher partiu de Macau no dia 18 de Junho e apenas foi diagnosticada no dia 2 de Julho. “As Filipinas registaram quase 2400 casos num dia (…) no entanto, esses números podem ser muito mais baixos do que o número de casos realmente existentes. Calculando com base no período e incubação, o intervalo mais longo é de 14 dias, mas o normal é que seja de 2 a 5 dias. Com base neste periodo de incubação, deslocação e historial é provável que tenha contraído a doença nas Filipinas”, explicou ontem Alvis Lo, por ocasião da conferência de imprensa sobre a covid-19. Recorde-se que após chegar a Manila no dia 18 de Junho, a mulher de 29 anos seguiu para Davao, no sul das Filipinas, tendo sido testada apenas no dia 29 de Junho. Os SS revelaram ainda já ter contactado as autoridades das Filipinas para obter mais informações sobre o percurso e os contactos próximos da paciente. “Estamos a tentar saber junto das autoridades das Filipinas o que senhora fez durante a sua estadia em Macau (…) mas vamos também tentar contactar as pessoas que estiveram com ela e organizar testes de acido núcleo para elas”, apontou Leong Iek Hou, coordenadora de Prevenção e Vigilância da Doença. Sobre se o corredor marítimo entre Macau e o aeroporto de Hong Kong vai ser alargado além do dia 16 de Julho, Lau Fong Chi, dos serviços de turismo, admitiu que a situação está a ser analisada de acordo com o número de pedidos. P.A.
terça-feira 7.7.2020
Saída forçada André Couto ausente da primeira corrida da temporada do campeonato Super GT
A
N DR É Couto vai ser forçado a ficar de fora da primeira corrida da temporada de 2020 do campeonato nipónico Super GT, que decorre este fim-de-semana no circuito de Fuji, devido às restrições de viagens e movimento de pessoas no Japão motivadas pela pandemia mundial da covid-19. O piloto português da RAEM, que este ano renovou contrato para defender as cores da equipa JLOC (Japan Lamborghini Owner's Club) na categoria GT300, é um dos vários pilotos estrangeiros que vão estar ausentes da prova de abertura do maior campeonato de automobilismo do Japão. Couto teria que cumprir uma quarentena de catorze dias para entrar no país do sol nascente e depois outra idêntica em número de dias se quisesse regressar a casa, algo muito difícil de aplicar na prática para qualquer piloto não residente no Japão. “Obviamente que gostaria de estar presente nesta primeira corrida da época, mas, devido às restrições impostas à entrada de cidadãos estrangeiros no Japão, tornou-se impossível a minha presença em Fuji este fim-de-semana. Estou em permanente contacto com a equipa e espero que estas restrições sejam alivia-
das nas próximas semanas para que possa estar presente já na próxima corrida”, explicou ao HM o campeão da classe GT300 em 2015. Devido à ausência dos seus dois pilotos estrangeiros - André Couto e o dinamarquês Denis Lind - a equipa JLOC teve que reestruturar a sua formação de pilotos de ambos os carros para este fim-de-semana, só com pilotos nipónicos. Yuya Motojima irá mudar-se para o Lamborghini Huracan GT3 nº88, para se juntar a Takashi Kogure, enquanto Tsubasa Takahashi e Shinosuke
“Obviamente que gostaria de estar presente nesta primeira corrida da época, mas, devido às restrições impostas à entrada de cidadãos estrangeiros no Japão, tornou-se impossível a minha presença em Fuji este fim-de-semana.” ANDRÉ COUTO PILOTO
Yamada unem-se no carro gémeo com o nº87.
OUTRAS AUSÊNCIAS
Também de fora da prova deverá ficar Duarte Alves, que está na mesma situação de Couto. O engenheiro português de Macau tem responsabilidades no Audi R8 LMS GT3, da categoria GT300, da equipa X-Works Racing, e ficará igualmente presencialmente afastado desta primeira corrida pelas mesmas razões. "É uma situação difícil para a equipa, mas estamos a tentar contornar este problema com soluções interactivas que nos permitam manter o mesmo nível de preparação e afinações do carro ao longo do fim-de-semana”, esclareceu o engenheiro da equipa de Hong Kong no campeonato japonês e no GT World Challenge Asia. O campeonato Super GT terá apenas oito provas esta temporada. Para evitar os movimentos das equipas, será apenas disputado dentro do país este ano e em apenas três circuitos: Fuji, Suzuka e Motegi. Quarenta e quatros carros estão inscritos para esta primeira prova do campeonato. Sérgio Fonseca
info@hojemacau.com.mo
No passo dia 5 registou-se um caso de gastroenterite colectiva num restaurante chinês no Jockey Club. O incidente envolveu 26 pessoas de nove agregados familiares. No seguimento desta situação, o IAM ordenou ao restaurante para parar de oferecer o produto alimentar suspeito e limpar completamente o local até corresponder aos requisitos de segurança alimentares e higiénicos. O deputado Lam Lon Wai submeteu uma interpelação oral em que recorda terem-se registado vários casos de segurança alimentar nos últimos meses, que levaram vários residentes a sofrer de doenças gastrointestinais ou intoxicação alimentar. O representante dos Operários quer saber qual é a situação sancionatória depois de a lei de segurança alimentar entrar em vigor e o acompanhamento de lojas envolvidas, apontando que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) não divulgou se já tinha penalizado as lojas e pessoal responsáveis.
Burla Falso encontro de fãs motiva denúncia
A Polícia Judiciária (PJ) divulgou ontem um alerta sobre a organização de um falso encontro de fãs de uma celebridade de Hong Kong. O caso veio a lume após um fã ter suspeitado e denunciado o contacto que teve através da plataforma Google Hangouts. De acordo com a PJ, a vítima recebeu uma solicitação de amizade na plataforma, proveniente de um utilizador com o mesmo nome da celebridade, com o qual estabeleceu contacto. Do outro lado, o suspeito perguntou à vítima se queria participar num encontro de fãs que iria ser realizado, mediante o pagamento de 2.500 dólares americanos. Enquanto pensava se deveria ou não participar no evento, e sabendo que a celebridade de Hong Kong não priva com fãs, a vítima sentiu que estava perante uma burla e denunciou o caso às autoridades.