Hoje Macau 8 OUT 2020 #4625

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RÓMULO SANTOS

RÓMULO SANTOS

BILLY CHAN

OPTIMISMO E PLURALIDADE ENTREVISTA

LEI SINDICAL

VENHA MAIS UMA PÁGINA 4

SJM

APOSTAS ADIADAS PÁGINA 6

OPINIÃO

ANTROPOGENIA E BIODIVERSIDADE OLAVO RASQUINHO

hojemacau

YASUYOSHI CHIBA

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MOP$10

QUINTA-FEIRA 8 DE OUTUBRO DE 2020 • ANO XX • Nº4626

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

Luzes apagadas A exposição World Press Photo, na Casa Garden, foi bruscamente encerrada no fim-de-semana. Inaugurada a 25 de Setembro, com fim previsto para 18 de Outubro, a exibição de alguns dos melhores trabalhos do fotojornalismo mundial foi cancelada por um “problema de gestão interna”, segundo Amélia António, presidente da Casa de Portugal, promotora do evento. A responsável descarta a possibilidade de na base do encerramento ter estado a mostra de imagens dos protestos em Hong Kong. “Isso é uma questão que nos ultrapassa. Não tem nada a ver connosco”, diz. ÚLTIMA

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APETITE DA MORALIDADE LUÍS CARMELO

DUELO AO SOL ANTÓNIO CABRITA


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BILLY CHAN PRESIDENTE DA ANIMA

“Ter patrocínios vai ser cada vez mais difícil” Com a saída de Albano Martins da presidência da ANIMA, Billy Chan, engenheiro civil, assume agora as rédeas da associação de defesa dos direitos dos animais. Até ao final do ano a ANIMA precisa de 1.5 milhões de patacas para se manter à tona, mas Billy Chan mantém um discurso optimista em relação à obtenção de apoios. O novo presidente da ANIMA quer promover a cooperação com outras associações para que juntos possam dialogar melhor com o Governo Como nasceu a sua paixão pelos animais? Há cerca de 12 ou 13 anos recebi um e-mail a pedir ajuda por causa de um cão que não conseguia andar. Senti uma mudança porque nunca tinha recebido nada do género, nem por parte de amigos. Fiquei curioso e liguei a um amigo que é fisioterapeuta, e naquela altura fomos a casa da pessoa que me pediu ajuda e descobrimos que tinha entre 10 a 20 cães em casa. Estava tudo uma confusão e os animais estavam muito magros. Nessa noite fizemos um tratamento ao animal. Repetimos o tratamento durante cinco noites e o dono depois disse-nos que o cão já conseguia andar. Senti-me muito bem com isso. Aí percebi que há pessoas que amam mesmo os seus animais. Comecei a trabalhar com estas pessoas e a ajudá-los, e eram pessoas que faziam parte da direcção da ANIMA. Foi a partir daí que decidi começar a ajudá-los e a trabalhar com eles. Descobri que é uma coisa com muito significado e agora tenho a oportunidade de liderar estes assuntos. A ANIMA não foi uma coisa que apareceu de repente.

Mas porque decidiu ter funções de gestão na associação e não ter uma posição apenas como voluntário? Na altura, quando me convidaram, precisavam de ter mais opiniões por parte da sociedade. A ANIMA costumava ser uma associação com muitos estrangeiros, expatriados e portugueses, mas não havia muitos chineses, particularmente locais, e queriam que nós fizéssemos esse trabalho de chegar mais à sociedade. Agora temos mais pessoas a participar. Também temos mais ligações a outros grupos da sociedade. Pelo menos mais locais percebem o que é a ANIMA. Mas as minhas primeiras impressões foram essas, queríamos que a associação fosse mais local. Esse objectivo já foi atingido? O nosso trabalho é muito conhecido, mas a colaboração que temos com outras associações de defesa dos animais não funciona muito bem. Ainda estamos a trabalhar de forma individual. Não digo que isso seja bom ou mau, mas se queremos ser uma das mais importantes associações de Macau devemos cooperar com as restantes.

Mas há associações que são pró-Governo ou que têm uma posição diferente em relação à protecção dos direitos dos animais. Estamos todos a trabalhar na protecção dos direitos dos animais, mas a forma como abordamos os problemas é diferente. Por exemplo, nós nunca colocamos os animais em jaulas, mas há associações, devido à falta de recursos, que adoptam outros métodos. Todas as associações estão a colocar todos os seus esforços em prol da defesa dos direitos dos animais, mas quando levamos a cabo uma campanha ou quando discutimos com o Governo algum assunto, estas acções não são suficientemente fortes. Se tivéssemos uma espécie de aliança com outras associações teríamos uma posição mais forte para falar com o Governo. Com o fecho do Canídromo a ANIMA assumiu um papel de destaque. Considera que está mais preparada para discutir

“Precisamos de cerca de 1.5 milhões de patacas até ao final do ano. É importante que as pessoas saibam a situação em que estamos.”

cínios individuais, mas continua a não ser suficiente. Ainda faltam três meses para o final do ano e estamos a confirmar os donativos junto de algumas pessoas que nos prometeram apoio. Albano Martins acredita que conseguimos sobreviver, mas, de novo, ter patrocínios no futuro vai tornar-se cada vez mais difícil. Por isso temos de nos preparar.

com o Governo face a outras associações? Refere-se a privilégios?

Como? A primeira forma é obtermos mais patrocínios, mas isso nem sempre é sinónimo de dinheiro. Pode também ser ajuda de pequenas entidades. Vamos tentar obter patrocínios de residentes e temos de arranjar uma forma de reduzir as despesas. Neste momento temos colegas a tempo inteiro e em part-time, gastamos dinheiro em vacinas e outro tipo de tratamentos. Também ajudamos outras pessoas que cuidam de animais. Mas estamos mais focados nas grandes tarefas da ANIMA.

Não, refiro-me ao facto de o Governo poder ouvir melhor a ANIMA em relação a outras associações devido ao trabalho já realizado. Se olharmos do ponto de vista do apoio financeiro essa interpretação é correcta. As outras associações não recebem apoio financeiro do Governo. Mas em termos de políticas e discussão de leis, não vejo que a ANIMA seja tratada de forma diferente. A Fundação Macau alterou os critérios de concessão de subsídios. Até que ponto isso pode afectar a ANIMA? Temos vindo a ser patrocinados pela Fundação Macau nos últimos anos. Têm apoiado muito as nossas acções e acho que compreendem a nossa situação. Acredito que quando nos aproximarmos do fim do ano as respostas vão aparecer. Mantenho-me optimista em relação ao apoio do Governo.

“Estamos a trazer mais pessoas para a direcção, personalidades ou pessoas que têm posições de liderança na sociedade. Queremos pluralidade e assim teremos uma melhor ligação com o Governo.”

A ANIMA está sempre a lutar pelo financiamento. Como está a situação financeira neste momento? Albano Martins é o nosso presidente honorário e continua a dar-nos apoio em muitas áreas. Neste momento ele está mais focado nos patrocínios. Nos últimos meses temos reunido com representantes de casinos e estamos a ver como podemos obter patrocínios. Temos visitado também muitas pessoas. Mas falando do financiamento para este ano, recebemos o dinheiro da Fundação Macau e alguns patro-

Mas voltando ao financiamento, a pandemia dificultou as coisas, porque os casinos também atravessam um mau período. Na primeira metade do ano normalmente obtemos o dinheiro da Fundação Macau e conseguimos sobreviver com ele. Mas na segunda metade do ano dependemos mais dos recursos dos casinos, e até agora os casinos ainda têm de confirmar quanto é que nos podem dar. Mas vamos acompanhar essa questão. Quanto dinheiro necessitam até Dezembro? Cerca de 1.5 milhões de patacas. A Fundação Macau já nos apoiou este ano. Procuramos ter a ajuda dos casinos e chegar a mais pessoas que nos possam ajudar. É importante que as pessoas saibam a situação em que estamos. Se não obtiverem o dinheiro, quais são as alternativas? Sem dinheiro não conseguimos fazer nada. Como alimentamos os animais, e fazemos outras coisas? Podemos sempre tentar chegar às

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ENTREVISTA


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pessoas para que nos emprestem dinheiro, ou junto dos bancos, mas não é uma solução definitiva. Em relação à concessão definitiva do terreno onde estão situados, em Coloane, acredita numa resolução em breve? Existe a questão dos esgotos que têm de estar ligados ao edifício da ANIMA. Temos um projecto para resolver esse problema, e por isso é que o assunto da concessão ainda não está concluído. Espero que esse trabalho fique feito este ano, mas ainda não sabemos se o Governo não vai alterar a sua posição. Só depois de concluído o projecto dos esgotos é que falaremos com o Governo para termos a concessão definitiva do terreno. Como presidente qual é a sua estratégia principal para os próximos anos? Não vão haver grandes mudanças. Vamos continuar a trabalhar como temos feito e penso que até agora conseguimos mostrar que a ANIMA faz um bom trabalho. No entanto, também precisamos de resolver algumas coisas. Uma

delas é algo urgente, porque temos 800 animais nas nossas instalações. Estamos a 200 por cento da nossa capacidade (risos). Temos um grande número de animais e há coisas que não conseguimos fazer tão bem, como acções educativas ou discutir com o Executivo questões relacionadas com a lei de protecção dos animais. Quero reduzir o número de animais que temos nas nossas instalações. Não falo em abatê-los, mas podemos ter mais adopções ou dá-los temporariamente a famílias de acolhimento. Dessa forma poderíamos libertar parte das nossas instalações e ter menos despesas. As acções de educação são muito importantes e também queremos passar mais tempo nas escolas a falar com os alunos. Também queremos tornar a ANIMA mais local e ser mais cooperante com outras associações. Mas voltando ao financiamento, não nos devemos focar nas grandes entidades ou indivíduos. Steve Wynn, por exemplo, é um dos parceiros da ANIMA, Edmund Ho, ex-Chefe do Executivo

também. A ANIMA pretende manter esses nomes, mas trabalhar mais com associações locais? Sim. Essas duas personalidades têm-nos apoiado muito no passado. Albano Martins mantém contacto com Steve Wynn sobre aquilo que se passa na ANIMA, o que está a mudar, mas também sobre o financiamento no futuro. Também mantemos contacto com Edmund Ho para o informar sobre o que se passa e também pedimos ajuda de várias formas. Essa ajuda faz as coisas funcionarem, mas temos de ter uma boa relação com diferentes entidades e temos de continuar a manter esta postura. A ANIMA tem como objectivo o fim das corridas de cavalos. Que acções estão a ser planeadas? Actualmente temos três grandes preocupações: a campanha para o fim das corridas de galgos em Portugal, o fim das corridas de cavalos e o encerramento do Matadouro. Ainda não lançámos nenhuma campanha sobre estes dois assuntos, estamos a fazer um levantamento da situação. Penso que neste momento não posso falar

muito sobre isso porque estamos apenas no começo, mas esperamos avançar com algo em breve. Em relação à lei de protecção dos animais, quais os problemas que se mantém e que deveriam ser resolvidos? Antes da lei ser implementada a ANIMA sempre deu sugestões e apoiou esta lei. Mas quando o diploma foi implementado os comentários da ANIMA não foram tidos em conta e actualmente dizemos ao Governo que a lei não é suficiente. Tem muitas questões que não são práticas e faltam muitos detalhes. Por exemplo, temos poucos casos de abusos de animais, e a lei até determina pena de prisão para quem pratica esses actos. Mas como é que podemos acusá-las. Há também problemas com as lojas de animais, pois a lei não é clara. Como é que as lojas põem os animais em jaulas? Quem é que pode comprar um cão? Se comprar um cão e abandoná-lo, amanhã posso comprar outro sem problema. A lei funciona mais do ponto de vista da sociedade e menos do ponto de vista do bem-estar animal.

Como assim? Se eu abandonar um animal na rua, estou a cometer uma ilegalidade, mas se o deixar no Instituto para os Assuntos Municipais já não. Temos de olhar para os animais e a sua relação com as pessoas. No futuro teremos a oportunidade de falar com o Governo sobre isto, mas se nos juntarmos a outras associações será melhor. Acredita numa boa relação com o Governo de Ho Iat Seng? Não sei dizer (risos). Neste momento estamos a trazer mais pessoas para a direcção, personalidades ou pessoas com posições de liderança na sociedade. Queremos pluralidade e assim teremos uma melhor ligação com o Governo. Temos de rever a lista dos membros da direcção. Até agora a nossa lista é muito boa comparando com outras associações, mas de tempos a tempos temos de fazer uma actualização. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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AL COUTINHO E SULU SOU AVANÇAM COM NOVO PROJECTO DE LEI SINDICAL

deputado Pereira Coutinho anunciou ontem que vai levar pela oitava vez um projecto de lei sindical à Assembleia Legislativa, desta vez em conjunto com Sulu Sou. Recorde-se que na semana passada o Chefe do Executivo admitiu atrasos nos trabalhos da Lei Sindical. Para Pereira Coutinho, é urgente para o ordenamento jurídico de Macau uma lei sindical e os trabalhadores não podem continuar à espera. “Existe uma situação de injustiça. E nas situações de injustiça e abuso da posição predominante do empregador, não podemos aceitar que o elo mais fraco da relação laboral continue a ser tão fraco. Achamos que devemos equilibrar um pouco a balança do elo de ligação laboral para que haja um pouco de justiça e as pessoas possam exprimir aquilo que sentem através de terceiros, sem serem objecto de retaliação”, comentou. O deputado descreveu problemas como a falta de pagamento de subsídios de turnos e trabalho nocturno a trabalhadores das concessionárias, despedimentos sem justa causa, e falta de negociação justa entre entidades patronal e laboral. “Há necessidade de rapidamente e [urgentemente] ter uma lei sindical, para que as associações representativas possam negociar

Número da sorte Pela oitava vez, Pereira Coutinho vai avançar com um projecto de lei sindical, legislação que considera necessária para equilibrar a balança da relação laboral. A iniciativa legislativa será feita em conjunto com Sulu Sou

em termos mais justos e mais seguros, para evitar retaliações e vinganças por parte de algumas entidades patronais”, defendeu. Para além disso, também defende a revisão global da lei das relações laborais. “A lei laboral está muito mal feita e prejudica os direitos fundamentais dos trabalhadores”, declarou. A ideia é a partir de dia 16 de Outubro o projecto de lei ser agendado para debate em plenário. Comentando que o número oito é “bastante auspicioso”, por ser a oitava tentativa, Coutinho descreveu que está “esperançoso” de que proposta sobre a lei sindical vez seja aprovada e permita que as associações representem os trabalhadores em diferentes instâncias, nomeadamente judiciais e de administração pública.

BALANÇO DOS TRABALHOS Pereira Coutinho “Há necessidade de rapidamente e [urgentemente] ter uma lei sindical, para que as associações representativas possam negociar em termos mais justos e mais seguros.”

Numa conferência de imprensa sobre os trabalhos da sessão legislativa que decorreram até 15 de Setembro,

o deputado reiterou a “crónica falta de transparência dos trabalhos da Assembleia Legislativa (AL)”, um problema que se deve ao facto de a comissões de trabalho da AL funcionarem à porta fechada, algo que classifica como “inaceitável”. “A opacidade das comissões da AL prejudica o desenvolvimento sustentável do sistema político e a fiscalização dos trabalhos dos deputados por parte dos cidadãos e dos meios de comunicação social”, explica em nota de imprensa. A legislação sobre os direitos dos consumidores, aquisição de bens e serviços e as alterações à lei do jogo foram alguns dos diplomas que Pereira Coutinho entende precisarem de melhorias, frisando o “despesismo” a nível dos contratos públicos. O deputado mostrou-se a favor da continuidade do plano de comparticipação pecuniária, e defendeu que um reforço do apoio ao consumo no próximo ano, com mais oito mil patacas nos cartões. A conferência serviu também para recordar que o prazo para o recenseamento eleitoral para as próximas eleições termina a 31 de Dezembro. Mas Pereira Coutinho não adianta se vai recandidatar-se, remetendo a decisão para mais tarde, depois de ouvir mais residentes. Salomé Fernandes

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ACTIVOS PÚBLICOS GOVERNO VAI RETIRAR PARTICIPAÇÃO DE 15 POR CENTO NA CPTTM AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Estrada da Penha, n.ºs 4 e 6, em Macau; - Estrada da Penha, n.ºs 8 e 10, em Macau; - Estrada Governador Albano de Oliveira, s/n, na Ilha da Taipa (Edifício Bairro Residencial do Hipódromo e Jardim do Hipódromo); - Estrada de Nossa Senhora de Ká-Ho, n.ºs 206 e 898, na Ilha de Coloane (Edifício Fábrica de Cimentos). 2. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Serviços da RAEM das Ilhas, para os efeitos do respectivo pagamento. 3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada.

Aos, 30 de Setembro de 2020. O Director dos Serviços de Finanças Iong Kong Leong

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coordenadora do Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos, Sónia Chan, revelou ontem que o Governo vai retirar a participação de 15 por cento que detinha na sociedade gestora do Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM). À margem da entrega de prémios para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia de Macau que decorreu no Centro de ciência de Macau, Sónia Chan justificou a decisão de desistir da participação que detém no organismo, com a necessidade de investir apenas em “empresas relevantes”.

“Vamos olhar com atenção para os objectivos por trás da criação das empresas de capital público (...), pois nem todas têm fins lucrativos. As empresas que têm interesse social e são necessárias serão mantidas”, afirmou Sónia Chan. A ex-secretário admitiu ainda que o Governo está a considerar retirar a participação de mais empresas de capitais públicos, após a conclusão da investigação que está a decorrer, com a intenção de descortinar quais os objectivos subjacentes à criação deste tipo de empresas. “As empresas que o Governo considerar que não justificam o investimento público, por exemplo, que sejam incapazes de utilizar os recursos administrativos de forma eficaz, podem encerrar ou as suas funções serem transferidas para outros serviços”, vincou. Contudo, a responsável fez ainda questão de dizer que, após analisar as contas das empresas de capital público, o Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos não detectou quaisquer irregularidades. Por fim, Sónia Chan adiantou ainda que, ao nível legislativo, será criado um regime administrativo dedicado a supervisionar as companhias com capital público. P.A. e N.W.

CIÊNCIA “A TECNOLOGIA DE MACAU COMEÇOU DO ZERO”, SECRETÁRIO

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secretário para a Economia e Finanças Lei Wai Nong considerou ontem que desde o retorno à Pátria, “a tecnologia de Macau começou do zero”, sendo actualmente notório “um grande progresso no desenvolvimento científico e tecnológico”. “A tecnologia de Macau começou do zero, tendo progredido passo a passo. A posição das instituições de ensino superior, em termos de ranking, continua a melhorar, com resultados de alto nível na investigação científica e tecnológica a emergir constantemente e o número de jovens talentos extraordinários na área das ciências e da tecnologia a aumentar significativamente”, afirmou o secretário durante o discurso de apresentação da Cerimónia de Entrega dos Prémios para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia.

Com a diversificação económica no horizonte, o secretário vincou ainda a importância de utilizar a ciência e tecnologia como ferramentas essenciais para reforçar a produtividade, nomeadamente através da “transformação de resultados da investigação em produtos industriais” e do desenvolvimento de sinergias entre a indústria, a Academia e a investigação. Após três fases de avaliação, foram ontem premiados 16 projectos de ciência e tecnologia. Na categoria “Ciências da Natureza”, o primeiro prémio foi para o projecto de investigação dedicado à superfície lunar de Zhu Meng Hua e Zhang Ke Ke. Já na categoria de “Invenção Tecnológica” o primeiro prémio foi para o projecto dedicado à conectividade da internet das coisas com chips electrónicos avançados. P.A.


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milionário James Packer, principal accionista da Crown, acredita a sua saída da indústria do jogo de Macau resultou do envolvimento da empresa na promoção de jogo no Interior. A revelação foi feita na comissão de inquérito que decorre na Austrália, em que a Crown tenta provar ser uma empresa idónea para manter a licença para um casino em Sidney. Em Outubro de 2016, 18 funcionários da Crown foram detidos no Interior por promoção de jogo VIP, uma prática ilegal na China. Meses depois, a Crown acabaria por vender, através de diferentes operações, todas as acções na concessionária Melco Crown, que tinha resultado da parceria com Lawrence Ho para o mercado de Macau. Actualmente, a empresa é a concessionária Melco Resorts, responsável pelos casinos Studio City, City of Dreams e Altira, em Macau. Ontem, foi tornado público um email enviado por James Packer a um dos directores da Crown, Ishan Ratnam, com a data de 2018, em que o australiano associou a saída do mercado de Macau às detenções no Interior. Numa mensagem em que é focada a situação financeira da Crown, surge uma breve menção à saída de Macau: “E isto aconteceu antes dos milhares de milhões perdidos pela Crown com a venda forçada da participação de Macau, consequência do nosso comportamento no mercado VIP da China”, pode ler-se. Quando questionado sobre a mensagem, Packer reconheceu ter sido obrigado a vender a participação em Macau. No entanto, o australiano não elaborou sobre a imposição da venda que fez a Lawrence Ho, o principal accionista da concessionária. O inquérito australiano está focado num eventual comportamento incorrecto da Crown na promoção do negócio VIP no Interior, pelo que a entidade que terá forçado a venda não foi abordada. O HM contactou ontem ao final da tarde a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) para perceber se tinha sido esta entidade a responsável pela venda forçada, mas até à hora de fecho não recebeu esposta.

JOGO JAMES PACKER DISSE A REGULADOR AUSTRALIANO TER SAÍDO DE MACAU À FORÇA

Os segredos da coroa

James Packer disse que foi obrigado a vender a participação na concessionária Melco Crown. Sem apontar nomes, o milionário afirmou que tudo surgiu como consequência da detenção no Interior de 18 empregados da empresa Crown, onde estavam a promover jogo VIP

GRANDE AMIGOS

Na audiência ficou-se ainda a saber que Lawrence Ho e James Packer chegaram a considerar uma fusão permanente entre a Melco e a Crown, para ir muito além do mercado de Macau. Porém, segundo as declarações proferidas ontem pelo australiano, nunca foram discutidos preços e a ideia foi abandonada porque os empresários chegaram à conclusão que ninguém ficaria a ganhar. Outro dos assuntos abordados foi o negócio abortado da compra pela Melco de uma participação de 19,9 por cento na Crown. Sobre as razões que levaram a que a compra fosse terminada a meio, após a venda à Melco de algumas acções, James Packer disse não se recordar. “Não me lembro das razões. Aquilo de que me recordo é que o Sr. [Lawrence] Ho disse que a operação era demasiado complicada, ou algo semelhante”, apontou. Na audiência, James Packer deixou ainda grandes elogios ao amigo Lawrence Ho. “De todas as parcerias que fiz ao longo da minha vida, esta é aquela que me faz sentir mais orgulhoso”, afirmou. “O Lawrence cumpre sempre a sua palavra, e nunca fez nada que me prejudicasse. Numa escala de um a dez, é um parceiro que merece nota 20”, concluiu.

LIGAÇÕES COM STANLEY HO

Finda a parceria com a Crown em Macau, Lawrence Ho mostrou a intenção de comprar 19,9 por cento da empresa australiana, numa operação que lhe permitiria entrar naquele mercado. O negócio foi posteriormente abortado, mas Lawrence Ho concretizou mesmo a compra de algumas acções, através da Melco.

Agora, o regulador australiano, a Autoridade Independente para o Álcool e o Jogo, está a investigar se o negócio com a Melco violou as condições definidas para que a Crown pudesse abrir um casino em Sidney. Uma das principais cláusulas do contrato impedia ligações entre a Crown e Stanley Ho, um homem que era visto pelas autoridades australianas como associado às tríades. No entanto, um dos accionistas da Melco é um fundo de investimento com o nome Great Respect, ligado à família Ho e que tinha Stanley Ho como um dos beneficiários. Assim, a compra de acções pela Melco na Crown poderá ter violado a cláusula anti-Stanley Ho. Sobre este assunto, Packer afirmou não ter considerado as ligações indirectas entre a Great Respect, a Melco e Stanley Ho: “Para mim, a Melco era uma empresa do Lawrence Ho e não do Stanley [...] O Dr. Ho já estava muito doente, e isso fazia com que, na minha consideração, a Melco fosse uma empresa apenas do Lawrence Ho”, defendeu-se. James Packer afirmou também ter deixado os detalhes legais da venda, que deveriam ter impedido a transacção, para a equipa de advogados.

James Packer principal accionista da Crown “O Lawrence [Ho] cumpre sempre a sua palavra, e nunca fez nada que me prejudicasse. Numa escala de um a dez, é um parceiro que merece nota 20.”

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

PODER DO POVO ASSOCIAÇÃO PEDE FIM DO ABATE DE ANIMAIS

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Associação Poder do Povo entregou ontem uma carta ao Governo exigindo a manutenção do programa de comparticipação pecuniária e o fim dos abates dos animais por parte do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Iam Weng Hong, presidente da associação, defendeu que só o Governo tem capacidade para abrigar e cuidar dos animais abandonados. Alguns voluntários acompanharam a acção da Poder do Povo e disseram aos jornalistas que a lei de protecção dos animais deveria prever excepções sobre o abandono, uma vez que há pessoas que apenas alimentam os animais que vivem na rua. Além disso, a Poder do Povo pede a redução das multas aplicadas nestes casos, que variam entre as 20 e 100 mil patacas, alegando que esses montantes podem levar os donos dos animais a abatê-los em casa ao invés de os abandonarem. Gritando “José Tavares [presidente do IAM], demita-se!”, os voluntários que acompanharam a Poder do Povo criticaram as multas que são aplicadas aos voluntários, acusando Tavares de falar sem conhecimento de causa. Em Setembro, o presidente do IAM disse que alimentar animais abandonados pode ser equiparado ao crime de abandono, numa resposta a uma interpelação escrita do deputado Sulu Sou.


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SJM NÚMERO DE VISITANTES NOS ÚLTIMOS DIAS FICOU MUITO ABAIXO DAS EXPECTATIVAS

prolongada por 14 dias, que haveria benefícios.

Tempo de vacas magras

EXPECTATIVA PELO LISBOA PALACE

Angela Leong avançou ontem a possibilidade do Hotel Grand Lisboa Palace, a aposta da SJM para o Cotai, só abrir no próximo ano. Também o hotel Lisboeta, que está concluído, pode seguir o mesmo caminho

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operadora Sociedade de Jogos de Macau (SJM) admitiu que o número de turistas que visitaram o território durante a Semana Dourada ficou abaixo das expectativas. A confissão partiu de Angela Leong, directora executiva da empresa, à margem das celebrações do Dia da Implementação da República Popular da China.

“O volume de visitantes diminuiu muito em relação ao ano passado e ficou abaixo das nossas previsões.” ANGELA LEONG DIRECTORA DA SJM

“Os últimos dias [da Semana Dourada] foram melhores do que os primeiros. Talvez nos primeiros dias tivesse havido mais problemas com a emissão de vistos turísticos ou com os transportes. Mas, nos dias mais recentes podemos ver que houve um aumento gradual de turistas”, afirmou Angela Leong. “Mesmo assim, o volume de visitantes diminuiu muito em relação ao ano passado e ficou abaixo das nossas previsões”, acrescentou. Nos primeiros seis dias da semana dourada entraram em Macau 120.165 visitantes, uma quebra de 86,6 por cento face ao ano anterior. Só desde Agosto é que o Interior voltou a emitir vistos de turismo individual para visitas a Macau. Numa primeira fase, a medida só era aplicável a pessoas de Zhuhai, tendo sido poste-

riormente alargada a Cantão e ao resto do país, no final de Setembro. Este cenário faz com que Angela Leong

Difícil de conceber Analistas acham pouco provável que concessionárias americanas percam licença

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PESAR da escalada de tensões entre Estados Unidos e China, que há muito extrapolou o universo comercial, analistas da corretora Sanford C. Bernstein consideram improvável que as concessionárias americanas percam licenças para operar em Macau. De acordo com uma nota da corretora divulgada ontem, citada pelo portal GGRAsia, a hipótese é praticamente inconcebível, “a não ser que a relação entre os dois países azede significativamente ao ponto de serem tomadas acções de retaliação directas contra negócios americanos na China, algo que iria aumentar o risco em Macau também”. Os analistas perspectivam a renovação das licenças das

seis concessionárias, sem novas entradas no mercado, como o cenário mais provável. Aliás, para a Sanford C. Bernstein, um dos aspectos-chave do próximo concurso será o impacto económico estabelecido pelas novas concessões e a posição de vantagem negocial do Governo que poderá alterar impostos, ou alargar a carga fiscal a dividendos. Esta possibilidade seguiria em linha com o que se passou noutros mercados asiáticos de jogo, como Singapura e Malásia. Porém, as três concessionárias não estão em pé de igualdade em termos de envolvimento político, com a MGM Resorts International a não tomar uma posição tão vincada

admita ser difícil fazer previsões sobre a eventual recuperação do sector do jogo. Porém, apontou que

na política norte-americana como os rostos das suas congéneres. Tanto o CEO da Las Vegas Sands (empresa mãe da subsidiária Sands China Ltd, que opera em Macau, Sheldon Adelson, como o ex-fundador e CEO da Wynn Macau Ltd, Steve Wynn, estiveram entre os doadores e apoiantes de maior peso na campanha que elegeu Donald Trump, e do Partido Republicano em geral. A corretora destaca também que as acções retaliatórias de Pequim têm deixado de lado interesses negociais americanos que operam na China, ao contrário de empresas australianas, que sofreram consequências directas das relações entre os dois governos. “Atacar directamente negócios americanos (especialmente, os que têm sido sólidos parceiros do Governo de Macau” seria uma solução pouco provável”, projectam os analistas. J.L.

se os residentes de Macau e Zhuhai pudesse circular sem teste de ácido nucleico e se a validade dos testes fosse

Angela Leong foi também questionada sobre a data de abertura do hotel e casino Grand Lisboa Palace, no Cotai, que teve um custo anunciado de 39 mil milhões de dólares de Hong Kong. No entanto, a directora executiva da SJM foi incapaz de avançar data para a abertura, limitando-se a dizer que a direcção da concessionária tem debatido o assunto e que está atenta aos desenvolvimentos do mercado. Além de membro da direcção da SJM, Angela Leong está envolvida na empresa Macau Theme Park and Resort (MTPR), responsável pelo hotel e casino Lisboeta, que homenageia Stanley Ho. Sobre o Lisboeta, Angela apontou que as licenças foram todas aprovadas pelo Governo, mas que o ambiente económico torna cada vez mais provável que a abertura só aconteça no próximo ano. “Precisamos de olhar para o ambiente económico e o desenvolvimento em geral. Muitas lojas não vão ter condições para abrir devido à pandemia”, explicou. “Também não faz sentido abrir um hotel só por abrir, porque nesta altura não se pode abrir outros elementos não-jogo como o parque de diversões”, justificou. João Santos Filipe e Nunu Wu info@hojemacau.com.mo

SEMANA DOURADA POUCO MAIS DE 120 MIL TURISTAS AO FIM DE SEIS DIAS

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EGUNDO dados publicados ontem pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), ao fim dos primeiros seis dias da Semana Dourada, Macau recebeu 120,165 turistas, uma queda de 86,6 por cento comparativamente com o sexto dia de celebrações do ano passado. Detalhando, na passada terça-feira, dia 6 de Outubro, o território recebeu, no total, 21.573 visitantes, menos 82,7 por cento em relação ao ano anterior, constituindo-se, até agora, o segundo

melhor registo desde o início da Semana Dourada, a 1 de Outubro. O dia em que Macau recebeu mais visitantes foi na passada sexta-feira, dia 2 de Outubro, altura em que entraram 22.116 mil visitantes, traduzindo-se numa queda de 86,1 por cento quando comparado com o ano passado. Até agora, o pior registo da Semana Dourada foi o primeiro dia, com 15.503 visitantes, ou seja, menos 88,5 porcento em relação ao ano passado. Ao final de seis dias, o segundo pior registo da semana foi no passado domingo, altura em entraram em Macau 18.747 visitantes. Nos restantes dias, o número de visitantes ficou pouco acima dos 20 mil visitantes. P.A.


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Aproveitando a dificuldade em trocar fichas de jogo por dinheiro, um polícia é suspeito de ter defraudado dois jogadores do Interior da China em 10 milhões de dólares de Hong Kong. Uma semana depois, as fichas evaporaram-se na mesa de jogo de uma sala VIP

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OR vezes, parece que é a vida que imita o cinema. A Polícia Judiciária (PJ) revelou ontem um caso que poderia, e deve ser, premissa para um guião de filme. Um agente do Corpo da Polícia de Segurança Pública (CPSP), de 33 anos, e a sua esposa,

CRIME POLÍCIA ENVOLVIDO EM FRAUDE COM FICHAS NO VALOR DE 10 MILHÕES

Argumento de filme

de 25 anos, são suspeitos de uma fraude no valor de 10 milhões de dólares de Hong Kong (HKD). O casal terá, alegadamente, aproveitado a actual dificuldade para trocar fichas de jogo por dinheiro para montar uma armadilha a dois jogadores do Interior da China. O agente abordou as

vítimas argumentando que tinha uma forma de trocar fichas fora das salas VIP, conhecimento adquirido profissionalmente. Assim sendo, foi assinado um título de dívida e os jogadores chineses entregaram 10 fichas no valor de 1 milhão de HKD cada ao agente da CPSP. Depois de

devolverem 1,08 milhão de HKD em numerário, o casal desapareceu, assim como o resto das fichas. Segundo a PJ, o agente da CPSP e a mulher ficaram uma semana numa sala VIP, onde gastaram todas as fichas que haviam prometido trocar. Segundo informação da PJ, o suspeito já havia tro-

TURISMO PROJECTO “UM RIO, DUAS MARGENS” APONTADO COMO IMPORTANTE FONTE DE VISITANTES

A

directora dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes considera que a criação da zona de turismo e lazer “um rio, duas margens”, situado entre Macau e Zhuhai, poderá contribuir para captar mais visitantes e desenvolver a indústria turística de Macau. A informação foi avançada em resposta a uma interpelação escrita enviada por Lei Chan U a 21 de Agosto. Na altura, além de questionar o Governo sobre o rumo que o plano está a tomar, o deputado perguntou ainda que mecanismos dispõe o Executivo para promover a comunicação e coordenação com Zhuhai e de que forma a construção conjunta do

projecto poderá impactar a transformação de Macau num centro mundial de turismo de lazer. Na resposta, a directora dos Serviços de Turismo apontou que, nos últimos anos, Macau e Hengqin têm mantido uma “cooperação plena” na área do turismo e desenvolvido produtos turísticos com características próprias “muito bem aceites pelos turistas”. “Os contactos entre os dois territórios são cada vez mais estreitos, e espera-se que, através de instalações alfandegárias mais convenientes, cada um possa expandir o espaço de desenvolvimento do turismo de Macau e Hengqin, no sentido de aproveitar os efeitos da comple-

mentaridade mútua e oferecer mais fontes de visitantes, promover o desenvolvimento integrado da indústria turística de Macau e contribuir para a criação de uma marca turística de nível mundial na Grande Baía”, pode ler-se na resposta. Helena de Senna Fernandes lembrou ainda que o Plano Director recentemente divulgado propõe a construção de uma “faixa de cooperação entre um rio, duas margens”, reforçar a coordenação regional e construir três centros de cooperação regional. Já sobre a fusão da DST na área da Economia e Finanças, a responsável confirmou que processo estará finalizado até ao final e 2020. P.A.

cado com sucesso fichas no valor de 20 milhões de HKD, a troco de uma comissão de 6 por cento.

GRANDE PREOCUPAÇÃO

Depois de apenas terem recebido 1,08 milhão de HKD e sem hipótese para contactarem os suspeitos, as vítimas queixaram-se às au-

toridades policiais. O agente da CPSP foi detido no seu apartamento na zona do Toi San, enquanto a mulher foi interceptada quando tentava passar a fronteira nas Portas do Cerco.

Segundo a PJ, o agente da CPSP e a mulher ficaram uma semana numa sala VIP, onde gastaram todas as fichas que haviam prometido trocar Segundo a PJ, o casal de detidos recusou cooperar com a PJ e não revelou como trocou as fichas. O caso seguiu para o Ministério Público. Em reacção à notícia avançada pela PJ, a CPSP expressou “grande preocupação com quem viola a lei” e revelou que vão ser iniciados procedimentos disciplinares contra o agente envolvido, que começam com a medida preventiva de suspensão. João Luz com Pedro Arede info@hojemacau.com.mo

Álcool Pedidas mais restrições na venda online Wong Kit Cheng, deputada e presidente da Associação de Construção Conjunta de Um Bom Lar, defendeu que o Governo deve considerar alargar o âmbito do Regime de prevenção e controlo do consumo de

bebidas alcoólicas por menores, numa altura em que este diploma se encontra em consulta pública. Segundo o jornal Ou Mun, a deputada considera que deve ser tido em conta o ambiente social de Macau, uma

vez que actualmente as compras online são muito comuns e não é difícil comprar bebidas alcóolicas através de canais de venda online, apontou. Nesse sentido, Wong Kit Cheng pede que a proibição de venda de bebidas alcóolicas seja mais ampla aquando da revisão da lei e que aumentem as restrições para a compra e venda de álcool online. Além disso, a responsável pede directrizes claras para a actuação da polícia e para as lojas de retalho e empresas de catering para a implementação prática da lei.


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8.10.2020 quinta-feira

Mapa de hist TEATRO “WE ARE (Q)HERE” QUER DAR VOZ A MINORIAS

FACEBOOK

Histórias rea adaptadas pa de hoje, atrav Diferentes ac tintos da cida

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espectáculo “We Are (Q)Here”, em que ganha voz a adaptação de histórias verídicas de minorias da sociedade, como membros da comunidade LGBT, pode ser visto entre hoje e domingo em diversas partes da cidade. Narrativas que saem da sala de teatro e tornam três locais diferentes de Macau no seu palco, cada um com uma actuação diferente. Acontecem no Mico (às 19h30), no Terra Drip Bar (às 20h30) e na Live Music Association (às 21h30). Múltiplas histórias e actuações que pretendem dar a conhecer vozes de grupos “sem reconhecimento” e “rotulados negativamente”, explica a descrição do evento divulgado no facebook. “Com o desenvolvimento da sociedade, temos a oportuni-

O

Instituto Cultural (IC) decidiu prolongar a iniciativa “Espectáculos no âmbito da Excursão Cultural Profunda nas zonas do Porto Interior e da Taipa”, que começou em Junho. Desta forma, o público poderá continuar a ver, todos os sábados e domingos, a partir do dia 10, “várias actuações criadas por grupos artísticos locais e inspiradas em estórias e também na história destes bairros comunitários”, explica o IC em comunicado. Estão agendadas 84 sessões de sete espectáculos que se realizam nos próximos três meses, e que

Verão prolongado Espectáculos no Porto Interior e Taipa continuam a decorrer em Outubro

incluem actuações de dança, visitas guiadas, peças de teatro e teatro de marionetas. Na zona do Porto Interior, o público poderá ver espectáculos como “Espaço Quadridimensional “Um Passeio pelo Porto Interior com Auguste Borget”, inspirado nas obras do artista francês que outrora permaneceu algum tempo em Macau. Com esta iniciativa, o IC pretende

contar a história de um dos bairros mais icónicos do território. Já com o espectáculo “Truz-truz, Quem Atracou no Porto Interior?”, da autoria do MW Dance Theatre, o IC dá a conhecer a zona do Mercado do Patane. Propõe-se, assim, “uma representação de ‘quadros vivos' na zona que se estende desde a Rua da Praia do Manduco até à Barra, onde vários

monstros chegam e iniciam uma exploração, resultando num espectáculo de dança interactivo que dará destaque ao ambiente local”. A história do Porto Interior é também contada com “Regresso de Barco”, da autoria daAssociação de Dança Ieng Chi.

MURAIS NA NAM KWONG

O programa de actividades estende-se à zona das Casas-

-Museu da Taipa onde, a partir do dia 24 deste mês, o público poderá ver, também aos sábados e domingos, em três sessões diárias de quatro programas, intitulados “Poema de Pedro e Inês”, da autoria do The Funny Old Tree Theatre Ensemble, “O Vendedor de Histórias”, da autoria da Associação Teatro de Sonho. A Casa de Portugal em Macau apresenta “O Barbeiro” e “O Arraial”, dois espectáculos de teatro de marionetas português que contam “histórias de forma animada e descontraída”. O mesmo comunicado dá ainda conta que o IC está

a colaborar com a empresa Nam Kwong Logistics, subsidiária do grupo Nam Kwong, para lançar o programa “Espectáculos no âmbito da Excursão Cultural Profunda nas zonas do Porto Interior – Murais à frente da fachada dos armazéns da Nam Kwong”. A partir deste mês, os grafiteiros de Macau Lam Ka Hou e Anny irão pintar 25 murais baseados na vida quotidiana do Porto Interior na fachada dos armazéns da Nam Kwong, na Rua do Almirante Sérgio.


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quinta-feira 8.10.2020

tórias

ais de quem pertence a minorias foram ara serem contadas ao público, a partir vés do espectáculo “We Are (Q)Here”. ctuações vão passar por três locais disade dade de ouvir mais histórias destas minorias. No entanto, devido ao excesso de informação no mundo moderno, as pessoas não têm tempo suficiente para a digerir e só vêem a superfície, o que leva a mais rotulagem”, pode ler-se. O objectivo do espectáculo passa por criar um espaço em que a maioria ouça e compreenda histórias das minorias. “Estes jovens passaram todos por tempos difíceis. Por serem diferentes e não cumprirem a norma e

“O local que se escolhe determina o espetáculo que se vai ver.” JENNY MOK PRODUTORA

as expectativas da maioria, são negativamente rotulados e rejeitados pela sociedade e até pelas suas famílias”, alerta a descrição. “Com o teatro, com a arte, não devemos evitar nada”, respondeu ao HM a produtora, Jenny Mok, quando questionada sobre a aceitação do espectáculo. É organizado pela Comuna de Pedra.

DIFERENÇAS GEOGRÁFICAS

Jenny Mok indicou que as histórias reais são transformadas em monólogos, e que os artistas se deslocam entre os três locais para as contar. Além disso, o espectáculo conta com outros elementos – cada local vai ter uma drag queen como anfitriã. “O local que se escolhe determina o espectáculo que se vai ver”, disse. Apesar de haver algumas partes comuns, quem

quiser ver todos os monólogos precisa de assistir a pelo menos duas actuações. Ainda assim, a produtora indica que a sensação de cada espaço vai ser única. “É complicado no sentido de que não está a acontecer num teatro. No teatro há regras, mas vamos para a comunidade. E estamos a fazer três espectáculos numa noite, e a actuar quatro noites. Temos muito trabalho técnico e logístico pela cidade”, descreveu Jenny Mok. As actuações são em cantonense. Apesar de não estar a ser pensada a sua produção noutras línguas, a produtora disse que “tudo é possível”. A entrada é limitada a quem tem idade igual ou superior a 16 anos, e o bilhete custa 200 patacas. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

HOJE TERAPIA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Menopausa

(PARTE I)

• DESCRIÇÃO Diariamente despendemos o nosso capital de energia e, à noite, um sono restaurador proporciona-nos a energia necessária para enfrentarmos um novo dia. Mas nem sempre é assim quando nos sentimos fatigados. A fadiga pode ser um sintoma de diversas patologias, ou ter origem em maus hábitos alimentares (excesso de açúcares, deficiências nutricionais, alergias alimentares, intoxicação), estilo de vida desadequado (excesso de trabalho, maus hábitos de sono, stress, consumo excessivo de cafeína ou de álcool) ou até na toma de alguns medicamentos. Neste caso, convém averiguar a causa de forma a, sempre que possível, ser corrigida ou tratada.

Por conterem compostos muito semelhantes aos estrogénios humanos (fitoestrogénios), ou compostos precursores das hormonas sexuais femininas, diversas plantas podem ser úteis no alívio de sintomas associados à menopausa. Vamos conhecer Hoje algumas delas: Alfalfa (Alfafa, Luzerna), Medicago sativa, partes aéreas, rebentos: Muito conhecida como planta forrageira, a Alfalfa é igualmente nutritiva para o ser humano, fornecendo quantidades generosas de proteínas, vitaminas (C, E, K e betacaroteno) e minerais (cálcio, magnésio) de fácil assimilação; contém ainda isoflavonas. Estas conferem-lhe propriedades estrogénicas úteis no alívio de sintomas da menopausa, e a sua associação com o cálcio e magnésio tornam-na útil para a prevenção da osteoporose. Pode ser ingerida como alimento – na forma de sementes germinadas –, ou tomada em infusão, comprimidos e cápsulas. Cimicifuga (Cohosh negro), Cimicifuga racemosa (sin. Actaea racemosa), raízes: Remédio ameríndio para as perturbações da mulher, a Cimicifuga foi amplamente usada para estimular a menstruação, aliviar dores e favorecer o fluxo de leite materno após o parto. Actualmente, é uma erva muito popular para o alívio dos sintomas da menopausa, constituindo uma alternativa natural à terapia hormonal de substituição (THS). Considerada um tónico hormonal, exerce uma acção estrogénica no corpo da mulher, embora não pareça conter fitoestrogénios na sua composição. Fortalece ainda o sistema nervoso e tem actividade sedativa suave, antiespasmódica, anti-inflamatória e anti-reumática. Assim, é muito recomendada para o alívio de sintomas como ondas de calor (afrontamentos), suores nocturnos, perturbações do sono, irritabilidade e dores de cabeça. Pode ainda ser útil nas dores musculares, artrite e reumatismo associados à menopausa, reduzindo a dor e a inflamação e melhorando a mobilidade do corpo. Pode ser tomada em tintura, cápsulas e comprimidos. Inhame-selvagem (Inhame-bravo), Dioscorea villosa, raízes: Originário do sul dos EUA, México e América Central,

o Inhame-selvagem é um remédio tradicional ameríndio, usado pelas mulheres para impedir abortos espontâneos nas fases finais da gravidez e para aliviar as dores de parto. Com efeito, esta erva contém níveis elevados de compostos esteroides (dioscina, diosgenina), que actuam como precursores das hormonas sexuais femininas. Exerce uma acção estrogénica, sendo utilizado para o alívio de sintomas associados à menopausa, como afrontamentos, suores nocturnos e perturbações do sono. Neste contexto, pode ainda ser útil nas afecções reumáticas, pela sua actividade anti-inflamatória e antiespasmódica. Pode ser tomado em tintura, cápsulas e comprimidos. Aplicado na forma de creme (de progesterona), é igualmente indicado no tratamento das perturbações genito-urinárias, como a atrofia e secura da mucosa vaginal. A diosgenina do Inhame-selvagem esteve na origem da primeira pílula contraceptiva. Tribulus terrestris (Abrolhos), Tribulus terrestris, folhas, frutos, raízes: Planta rastejante e espinhosa, o Tribulus cresce em terrenos incultos desde o sudoeste da Europa até à China, sendo usado medicinalmente há mais de 2000 anos, tanto no Ocidente como no Oriente. Contém saponinas esteroides com actividade estrogénica, sendo ainda um anti-inflamatório usado tradicionalmente nas afecções urinárias. Desta forma, é uma erva bastante indicada para a irritação crónica da uretra provocada pela diminuição dos níveis de estrogénio que ocorre na menopausa. Com uma longa fama de tónico e afrodisíaco, pode também ajudar a melhorar a líbido da mulher, especialmente nesta nova fase da sua vida. Pode ser tomado em comprimidos e cápsulas. Advertências: Este artigo tem como finalidade apenas a divulgação e não deve substituir a consulta de um profissional de saúde, nem promover a auto-prescrição. O uso indiscriminado de plantas pode resultar na ocultação de sintomas protelando o correcto diagnóstico e tratamento. Além disso, algumas delas apresentam contra-indicações, efeitos adversos ou interacções com medicamentos. Consulte o seu profissional de saúde.

ADVERTÊNCIAS: Este artigo tem como objectivo apenas a divulgação e não deve substituir a consulta de um profissional de saúde, nem promover a auto-prescrição. Além disso, algumas plantas têm contra-indicações, efeitos adversos ou interacções com medicamentos.


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8.10.2020 quinta-feira

ESTUDO OPINIÕES NEGATIVAS SOBRE A CHINA AUMENTARAM NOS PAÍSES DEMOCRÁTICOS

Reputação em baixa

A sondagem levada a cabo em 14 países democráticos com economias desenvolvidas revela que as opiniões desfavoráveis sobre o gigante asiático disparam no último ano. A lei da segurança nacional em Hong Kong e a pandemia da covid-19 são os factores com maior influência no crescimento do parecer negativo

U

M inquérito, divulgado na terça-feira, mostrou um aumento acentuado de percepções negativas sobre a China em vários países democráticos, sobretudo na Austrália e no Reino Unido. A pesquisa do Pew Research Centre foi realizada numa altura em que o país asiático está envolvido em várias disputas comerciais e diplomáticas, motivadas em parte por uma abordagem diplomática mais assertiva. O inquérito, que abrangeu 14 países democráticos com economias desenvolvidas, mostrou que a maioria das pessoas tem uma

visão desfavorável sobre a China. A pesquisa foi realizada entre 10 de Junho e 3 de Agosto, por via telefónica, junto de 14.276 adultos. Na Austrália, 81 por cento das pessoas disse ter uma visão desfavorável da China, segundo a pesquisa, um aumento de 24 por cento em relação ao ano passado. Este aumento corresponde à tensão nas relações bilaterais, depois de Camberra ter apelado para uma investigação internacional sobre as origens do novo coronavírus responsável pela covid-19. A China retaliou com a suspensão das importações de carne bovina australiana, aumento das taxas alfandegárias sobre a cevada

Os 14 países abrangidos pela pesquisa são Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Suécia, Reino Unido, Austrália, Japão e Coreia do Sul

PUB HM • 2ª VEZ • 8-10-20

ANÚNCIO ***

DESPEJO nº CV2-20-0014-CPE 2º JUIZO CIVEL AUTOR: - SOCIEDADE DE CONSTRUÇÃO E FOMENTO PREDIAL GOLDEN CROWN, S.A.R.L., sociedade comercial com sede na Avenida dos Jardins do Oceano, nº 388, 7º andar A, Taipa, registada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o nº 1135 (SO). RÉU: - CHAN, WAI SAN, de nacionalidade chinesa, e com residência conhecida na Rua da Alfândega, 5º andar F, Edifício Man Hong Mansion, Macau. * Faz-se saber, que no 2º Juízo Cível deste Tribunal correm éditos de 30 (trinta) dias, contados da segunda e última publicação do anúncio, citando o réu CHAN WAI SAN para no prazo de 15 (quinze) dias, posteriores aos dos éditos, contestar, querendo, a ACÇÃO DE DESPEJO acima identificado podendo na contestação deduzir em reconvenção o seu direito a benfeitorias ou a uma indemnização (artigos 930º, nº 2, 671º e 673º do CPC), devendo oferecer logo as provas de que disponha, que resumidamente consiste em que: a) ser decretada a resolução do contrato de arrendamento celebrado em 14 de Maio de 2019, entre a Autora e o Réu relativamente à metade da fracção autónoma do rés-do-chão designada por “FR/C”, para comércio, do prédio denominado “Violet Court; Bauhinia Court e Azalea Court”, sito no n.ºs 6 a 200 da Rua do Jardim e n.ºs 465 a 571 da Avenida dos Jardins do Oceano, na Taipa descrito na Conservatória do Registo Predial de Macau sob o n.º 22788, inscrito na matriz predial urbana sob o n.º 40778, freguesia de Nossa Senhora do Carmo, com fundamento no incumprimento culposo do Réu, decorrente da falta de pagamento das rendas contratualmente vencidas e não pagas desde o mês de Dezembro de 2019 até à data de entrada da presente Petição Inicial; e consequentemente, b) ser o Réu condenado a pagar à Autora, a título de rendas vencidas e não pagas, o montante de HKD47,000.00 (quarenta e sete mil Dólares de Hong Kong) equivalente a MOP$48,410.00 (quarenta e oito mil e quatrocentas e dez Patacas), e bem assim a pagar todas rendas vincendas até à data da resolução judicial do referido contrato de arrendamento e efectiva restituição do Locado à Autora, acrescidas dos juros de mora, vencidos e vincendos, à taxa legal, contados desde a data de vencimento de cada renda mensal até efectivo e integral pagamento, e que na presente data se contabilizam no montante de HKD703.07 (setecentos e três Dólares de Hong Kong e sete cêntimos) equivalente a MOP$724,16 (setecentas e vinte e quatro Patacas e dezasseis avos), podendo a Autora deduzir do referido montante o valor da caução no montante HKD23,500.00 (vinte e três mil e quinhentos Dólares de Hong Kong) equivalente a MOP$24,205.20 (vinte e quatro mil e duzentas e cinco Patacas) constituída pelo Réu a favor da Autora; c) ser o Réu condenado a pagar à Autora a quantia correspondente ao somatório das rendas que lhe seriam devidas desde data da resolução judicial do referido contrato de arrendamento até à data convencionada para o seu termo (i.e. 15 de Maio de 2020), acrescido dos juros de mora à taxa legal em vigor a partir da data de resolução judicial do contrato; d) na eventualidade de a fracção arrendada acima identificada não ser imediatamente restituída à Autora após a declaração judicial de resolução do contrato de arrendamento, ser o Réu condenado a pagar à Autora, a título de indemnização, o montante correspondente ao dobro das rendas vencidas e vincendas desde a data dessa resolução até à data de entrega efectiva da supra mencionada fracção à Autora, nos termos do artigo 1027.º n.º 1 e 2 do Código Civil. Conforme tudo melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 2º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderá ser levantado neste secretaria nas horas normais de expediente, de que a falta da contestação, não implica o reconhecimento dos factos articulados pelo autor e ainda que é obrigatória a constituição de advogado nos termos do artº. 74º do C.P.C.M. *** R.A.E.M., 16 de Setembro de 2020

ONU QUASE 40 PAÍSES PEDEM PARA SE RESPEITAREM OS DIREITOS DOS UIGURES

Q

UASE quatro dezenas de países pediram terça-feira, numa declaração comum na ONU, à China para “respeitar os direitos humanos” do grupo étnico Uigure em Xinjiang, manifestando-se também “inquietos” com a evolução da situação em Hong Kong. “Apelamos à China para respeitar os direitos humanos, em particular os direitos das pessoas ligadas a minorias étnicas e religiosas, nomeadamente em Xinjiang e no Tibete”, declarou o embaixador da Alemanha na ONU, Christoph Heusgen, numa reunião da terceira comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas, especializada em Direitos Humanos. Entre os signatários estão os Estados Unidos, a maioria dos países europeus, incluindo também a Albânia e a Bósnia-Herzegovina, bem como o

Canadá, Haiti, Honduras, Japão, Austrália e Nova Zelândia. “Estamos seriamente preocupados com a situação dos direitos humanos em Xinjiang e pelos recentes desenvolvimentos em Hong Kong. Apelamos à China para permitir um acesso imediato e sem entraves a Xinjiang para que lá se possam deslocar observadores independentes, incluindo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos”, lê-se no texto.

Imediatamente após a intervenção do diplomata alemão, o Paquistão leu uma declaração assinada por 55 países, entre eles a China, para denunciar a utilização da situação em Hong Kong para vários países se envolverem nos assuntos internos chineses. Citando a Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, o embaixador da China na ONU, Zhang Jun, criticou, por seu lado, a “atitude hipócrita” desses três países, pedindo-lhe para “porem de lado a arrogância e os preconceitos”. Num outro comunicado, a organização Human Rights Watch (HRW) congratulou-se com o facto de o apelo ao respeito pelos direitos humanos na China contar, este ano, com o apoio de um cada vez maior número de países, “apesar das persistentes ameaças e tácticas intimidadoras”.

importada da Austrália e uma investigação ‘antidumping’ sobre as importações de vinho australiano. Outros países mostraram uma tendência semelhante: no Reino Unido, 74 por cento dos inquiridos têm uma visão desfavorável em relação à China, um aumento de 19 por cento, em relação ao ano passado; 71 por cento na Alemanha (mais 15 por cento); e 73 por cento nos Estados Unidos (mais 13 por cento). Os 14 países abrangidos pela pesquisa são Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Suécia, Reino Unido, Austrália, Japão e Coreia do Sul. A margem de erro da pesquisa variou entre 3,1 por cento, na Coreia do Sul, e 4,2 por cento na Bélgica. Na maioria dos países, a população com níveis de rendimentos mais elevados altos era tão propensa quanto aqueles com níveis de rendimento mais baixos a ter opiniões negativas sobre a China. As opiniões negativas também ocorreram em todos os níveis de educação. Em nove dos países pesquisados - Espanha, Alemanha, Canadá, Países Baixos, Estados Unidos, Reino Unido, Coreia do Sul, Suécia e Austrália - as opiniões negativas atingiram o nível mais alto em 12 ou mais anos, segundo a Pew Research Center. Muitos países democráticos condenaram a China no início deste ano, quando Pequim aprovou uma nova lei de segurança nacional em Hong Kong que, segundo os críticos, infringe os direitos prometidos à antiga colónia britânica quando retornou à soberana chinesa.

INFLUÊNCIA PANDÉMICA

Um dos factores mais importantes em relação à reputação da China no exterior é o novo coronavírus. O vírus surgiu no final do ano passado na cidade chinesa de Wuhan e desde então espalhou-se pelo mundo. A China foi criticada por não ter sido suficientemente rápida na resposta inicial e por tentar encobrir os primeiros relatos sobre a doença. Uma média de 61 por cento dos inquiridos nos 14 países tinha uma visão negativa sobre a forma como a China lidou com o coronavírus SARS-CoV-2. Aqueles que disseram que a China não geriu bem a pandemia mostraram mais probabilidades de ver o país sob uma luz negativa. Os cidadãos dos países pesquisados também indicaram não confiar no Presidente chinês, Xi Jinping: uma média de 78 por cento disse não confiar nele na gestão de assuntos internacionais.


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quinta-feira 8.10.2020

Mistério resolvido Seul confirma que ex-embaixador da Coreia do Norte em Itália vive no país

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MA comissão parlamentar sul-coreana confirmou ontem que o ex-embaixador da Coreia do Norte na Itália, que desapareceu misteriosamente em 2018, vive na Coreia do Sul desde o ano passado. O ex-diplomata Jo Song-il foi “para a Coreia do Sul voluntariamente em Julho de 2019” e vive no país desde então, afirmou o presidente da comissão parlamentar de Informação, Jeon Hae-cheol, citado pela agência de notíciasYonhap. Jo Song-il desapareceu com a sua mulher em Novembro de 2018, pouco antes do fim do seu mandato como embaixador em Roma, e vários meios de comunicação relataram que o diplomata tinha tentado pedir asilo num terceiro país, com a ajuda da Itália e de outros Estados. Aconfirmação do presidente da comissão parlamentar foi feita depois de um dos deputados do principal partido de

Jo Song-il desapareceu com a sua mulher em Novembro de 2018, pouco antes do fim do seu mandato como embaixador em Roma

oposição sul-coreano, o Partido do Poder do Povo, ter escrito, na rede social Facebook, que Jo Song-il está na Coreia do Sul e vive, com a sua mulher,

sob protecção do Governo. A filha do casal ter-se-á recusado a desertar e foi repatriada para a Coreia do Norte em Fevereiro do ano passado, segundo o

Ministério dos Negócios Estrangeiros de Itália.

ALTAS DESERÇÕES

Jeon Hae-cheol explicou que as informações sobre o paradeiro de Jo foram mantidas em segredo para tentar proteger, na medida do possível, a família do ex-diplomata que ainda permanece no Norte. O estabelecimento na Coreia do Sul do ex-embaixador representa a deserção para o país vizinho do mais alto responsável do regime norte-coreano desde que Hwang Jang-yop, considerado na época uma das três figuras mais importantes de Pyongyang, o fez, em 1997. A chegada de Jo também marca a primeira deserção de um embaixador norte-coreano desde que o líder supremo Kim Jong-un chegou ao poder, em 2011. Em 2016, Thae Yong-ho, encarregado de negócios da embaixada norte-coreana em Londres desertou para a Coreia do Sul com a sua família e foi eleito, no ano passado, para a Assembleia Nacional pela bancada do conservador Partido do Poder do Povo.

ÍNDIA SUPREMO LIMITA DIREITO DE MANIFESTAÇÃO EM LOCAIS PÚBLICOS

O

Supremo Tribunal da Índia limitou ontem o direito de manifestação ao defender que nenhum protesto deve ocupar lugares públicos indefinidamente, referindo recentes manifestações contra a nova lei da cidadania que se prolongaram por meses. O parecer emitido ontem exorta as autoridades a actuar em consequência, para evitar situações como a ocorrida no bairro de Shaheen Bagh, em Nova Deli, onde, a partir de 15 de Dezembro passado e durante 100 dias, centenas de pessoas, na sua maioria mulheres muçulmanas, cortaram uma estrada para protestar contra a nova lei, que discrimina os muçulmanos. “Temos de deixar claro que os locais públicos não podem

ser ocupados indefinidamente, seja em Shaheen Bagh ou em qualquer outro local. Este tipo de protestos não é aceitável e as autoridades devem actuar para manter os espaços livres de obstruções”, lê-se no parecer assinado por três juízes do Supremo. O parecer foi pedido por petições legais sobre a legalidade dos protestos face ao encerramento de estradas, que afecta o direito à livre circulação da população. “Temos de cumprir a decisão judicial. Não planeamos manifestações de protesto no futuro próximo devido à pandemia. Veremos como correm as coisas nos próximos meses”, disse à agência EFE um dos manifestantes de Shaheen Bagh, Ali Naqvi.

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AVISO N.° 20/AI/2020

AVISO N.° 21/AI/2020

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores abaixo discriminados:---------------------------- 1. Mandado de Notificação n.° 739/AI/2020:XIE, XIULAN, portadora do Salvo-conduto de Residente da China Continental para Deslocação a Taiwan n.° L10318xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 208.1/DI-AI/2019, levantado pela DST a 01.08.2019, e por despacho da signatária de 07.07.2020, exarado no Relatório n.° 443/ DI/2020, de 09.06.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua do Terminal Maritimo n.os 93-103, Centro Internacional de Macau, Bloco 4, 5.° andar A.---------------------------------- 2. Mandado de Notificação n.° 752/AI/2020:CHAN HENG CHEONG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 12733xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 188/DI-AI/2018, levantado pela DST a 06.10.2018, e por despacho da signatária de 01.07.2020, exarado no Relatório n.° 450/DI/2020, de 10.06.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 341, Edf. Kam Yuen, 9.° andar E, Macau onde se prestava alojamento ilegal.--------------------------------------------------------------------- 3. Mandado de Notificação n.° 758/AI/2020:ZHONG SHANSHAN, portadora do Passaporte da RPC n.° E42076xxx e portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C08857xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 211/ DI-AI/2018, levantado pela DST a 09.11.2018, e por despacho da signatária de 29.06.2020, exarado no Relatório n.° 331/DI/2020, de 19.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 341, Edf. Kam Yuen, 16.° andar D onde se prestava alojamento ilegal. --------------------------------------------------------------------Pelo mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.---------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 30 de Setembro de 2020.

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores abaixo discriminados:--------------------------1. Mandado de Notificação n.° 728/AI/2020:WANG YANKUN, portadora do Passaporte da RPC n.° G55158xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 115/DI-AI/2018, levantado pela DST a 12.06.2018, e por despacho da signatária de 21.04.2020, exarado no Relatório n.° 70/DI/2020, de 02.03.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Pequim n.° 36, Edf. I Chan Kok, 8.° andar B onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------- 2. Mandado de Notificação n.° 738/AI/2020:LEI CHI KIN, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 12462xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 231/ DI-AI/2018, levantado pela DST a 28.11.2018, e por despacho da signatária de 29.06.2020, exarado no Relatório n.° 374/DI/2020, de 29.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 898, Edf. Iao I, 10.° andar H onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------------------------------------------ 3. Mandado de Notificação n.° 744/AI/2020:LEONG WENG KEONG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 74377xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 229/DI-AI/2018, levantado pela DST a 28.11.2020, e por despacho da signatária de 14.07.2020, exarado no Relatório n.° 482/ DI/2020, de 19.06.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 898, Edf. Iao I, 5.° andar C onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------------------------------------------Pelo mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ---------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 30 de Setembro de 2020.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


12

h

Retrovisor Luís Carmelo

8.10.2020 quinta-feira

Confias no

O apetite da moralidade

“John Ruskin, Joan Severn, Peter Baxter and other members of Ruskin’s household photographed by John McClelland on Coniston Water, Cumbria, in 1895. National Portrait Gallery, London”

N

A sua juventude, o artista e esteta inglês John Ruskin (1819-1900) apaixonou-se pelo jacente do túmulo de uma mulher que em vida se chamou Ilaria di Caretto. O brilho dos lábios, a liquidez oval do rosto e a lascívia com que as mãos se abriam na pedra perseguiram-no a vida toda. Já velho apaixonou-se por uma rapariga de dezoito anos, de nome Rose, que viria a morrer pouco depois. Nos derradeiros poemas que dedicou à amada, confundiu-a sempre com escultura de Ilaria. Ruskin amou toda a vida uma entidade inesperada e, mesmo quando amou alguém de carne e osso, voltou a fazê-lo praticando a inversão. Há algo de profundamente irrespondível e tocante neste facto que é também o ponto de partida de todas as fábulas, sobretudo as que remontam a Esopo: convocar o mundo animal como uma alegoria, mas recorrendo a inversões que, ao fim e ao cabo, funcionam como perguntas para as quais não há respostas claras. Quer Heródoto, quer mais tarde Plutarco colocam Esopo na ilha de Samos como um escravo frígio que terá vivido no

séc. VI aC. Contador exímio de histórias e cultor de uma longa sabedoria popular, o autor - se é que fisicamente existiu (a questão é similar à de Homero neste ponto) - deu origem a uma tradição com grande continuidade e particularmente respeitada. Sabe-se, por exemplo, que, durante os últimos dias de vida, Sócrates se ocupou a traduzir em verso algumas das fábulas de Esopo (No Fédon, Cebete toma a palavra para lembrar que “diversas pessoas já me têm falado a respeito dos poemas que escreveste, aproveitando as fábulas de Esopo”). As fábulas terminam sempre como uma espécie de lição de moral, como se a explicação (o uso de metalinguagem) fosse necessária para se compreender o que é dito, ainda que amiúde conduzam o leitor para um espaço de ambiguidade (porventura intencional). Sem qualquer traço conceptual, a linguagem orienta-se pelo concretismo da natureza e recorre a imagens de fundo com que os humanos metaforizam a vida dos animais. O registo é simples, seco e projecta quase sempre questões essenciais. Vejamos três exemplos que navegam ao sabor da questão especular da inversão

e do sentido, como se a nossa imagem ao espelho nos segredasse que a transgressão é a única forma de apetite ao nosso alcance para que nos possamos, um dia, realizar. A fábula “A raposa e a máscara” dá conta, de um modo irónico e gracioso, da importância daquilo que compreendemos através da contiguidade (ou da metonímia). Quando se diz que “ando a ler um Eça”, sabe-se perfeitamente que se trata de um livro e não de um fantasma. Ou quando digo que “bebo um porto”, sabe-se perfeitamente que bebo um vinho e não uma cidade inteira. Mas o princípio pode inverter-se e, de repente, como que se fica sem chão para pisar. Leiamos o texto: “Uma raposa entrou na oficina de um escultor e pôs-se a examinar uma por uma as coisas aí existentes, até que descobriu uma máscara de actor trágico. Agarrando-a, disse: “Que cabeça esta, mas não tem cérebro.” (...) “A fábula é oportuna para o homem com corpo magnífico, mas de espírito insensato.”. Já na fábula “Os caracóis”, a ideia é a de colocar face a face o que é e o que não é adequado (ou, se se preferir ‘o que faz sentido’ versus ‘o que pode não fazer sen-

tido’). O trecho é curto, enxuto e preciso: “O filho de um lavrador que grelhava uns caracóis, ao ouvi-los crepitar, disse: “Animais estúpidos, as vossas casas estão em chamas e ainda cantais?” (...) “A fábula mostra que tudo o que se faça fora do tempo é reprovável.” Por fim, a fábula “Démades, o orador”, coloca em cena o próprio autor, Esopo, e as fábulas que ele vai contando. O fascínio reside, mais uma vez, na inversão, já que aquilo que se conta (e sobretudo o sentido daquilo que se conta) é posto em causa pelo próprio relato, servindo a mensagem de uma espécie de balão que por si mesmo rebenta como se fosse essa a sua única finalidade: “Démades, o orador, a dada altura falava ao povo de Atenas, mas como os atenienses não prestavam muita atenção, pediu que lhe permitissem contar uma fábula de Esopo. Então, tendo eles assentido, começou por dizer: “Deméter, uma andorinha e uma enguia seguiam pelo mesmo caminho. Ora, tendo elas chegado à beira de um rio, a andorinha levantou voo e a enguia mergulhou…” E, dito isto, calou-se, pelo que lhe perguntaram: “E Deméter, o que fez?” Aquele respondeu: “Ficou furiosa convosco, que abandonais os assuntos da cidade e ficais presos às fábulas de Esopo.” (...) “Da mesma forma, também são insensatos os homens que desprezam o que é necessário e preferem sobretudo o prazer”. Concluindo, diríamos que o filho do lavrador que grelhava caracóis, Deméter e a raposa, os três vertidos em texto, a que acrescentamos a maravilhosa Ilaria di Caretto, esta última esculpida em pedra, são todos, na sua diversidade, personagens que encaram os humanos olhos os olhos. Que o diga John Ruskin. No entanto, o apego às fábulas ao longo dos séculos não é devedor de um amor menor, talvez porque se trate de um amor desprendido de moralidades. Numa fábula escrita por Fernando Pessoa, em 1915, sobre uma bordadeira que teima em bordar uma rosa (na pressuposição de vir a casar com um príncipe), o final é, a todos os títulos, esclarecedor: “No fabulário, onde vem, esta fábula não traz moralidade. Mesmo porque, na idade de ouro, as fábulas não tinham moralidade nenhuma.”. Ferreira, Nelson Henrique da Silva, Aesopica: a fábula esópica e a tradição fabular grega. [Em linha] 2014. Ed. Imprensa da Universidade de Coimbra. Disponível em: http://hdl.handle.net/10316.2/29852 [Consult.25-Sep-2020 11:40:14]. Pessoa, Fernando. Ficção e Teatro. Introdução, organização e notas de António Quadros. Mem Martins. Publicações Europa-América, 1986, p. 69.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

quinta-feira 8.10.2020

incerto amanhã?

Diário de Próspero António Cabrita

F

IXEI uma antologia que sairá em 2021. Há sempre textos de que se têm pena que não estejam no lote dos salvados, como estes quatro:

NA VERDADE NÃO PODE HAVER UM ARMISTÍCIO Na verdade, que armistício entre o que fui e o que sou? Fui pedra, fui fisga, fui uma lâmina intrometida entre o selo e a carta, fui aquele relógio que aparvalhou o Stockhausen, capaz até de florir. E fui quem que se esqueceu de retocar as cabrinhas de Giotto meio delidas, porque me entretive com a filha do curandeiro; e fui, meu Deus, o ignorante que não compreendeu que a poesia é o que na ciência se chama “um atractor estranho” - uma orelha para onde converjem cerejas. Nada disso me amnistia: nunca me alistei na imensa vaga dos que anseiam pertencer, fundir-se, nem quis amarrar-me ao amor como se amarra ao cachorro um jardim que ele arrasta em corrida. Todavia que armistício, se me converti à clorofila? Se derrotar os hábitos é o mais difícil (cresça a criança entre ervilhas e julgar-se-á um gafanhoto) tinha o dever de lembrar: nenhum medíocre é inocente! Vivo num país onde o riso é privado, embora o escândalo seja universal: não sairemos vivos dos incorporais com que engomamos os colarinhos do tempo. Quem nos arranca à automoribundia do alheamento? Como pude esquecer-me que só respiramos no singular, que os pais de Sócrates se chamavam Sofronisco e Sefarete, e que, isso não lhe bastando, arranjou uma mulher com nome de palha-de-aço: Xantipa, onde depositou três ovos: Lampoclés, Sofronisco (um júnior, quem diria?) e Menexeno (a ferrugem que dá às algas). Depois deste descalabro (bem sei que em grego), aonde poderia o pensamento conduzi-lo senão ao cárcere? Ser campeão de pingue-pongue aos oitenta, poderia ser um desígnio, declarado, apesar de ser sabido: os hamsters são reféns do destino. Mas o que fica é isto: não fui suficiente incisivo a lembrar que nenhum medíocre é inocente! MESSI E RONALDO: DUELO AO SOL Pende-lhe a franja sobre uns olhos de ratinho almiscarado – a fraca figura. O outro é só peitaça, o cabelo em crista, é esplêndido – em brilho e manicura. Mas no combate é Aquiles o primeiro e o segundo Heitor. A assistência a Di Maria foi um primor de engenharia, o segundo foi já assinatura. É uma pepita Cristiano, na orbe dos terrenos, mas Messi é selenita e precipita a sua alma na rota dos Deuses.

Duelo ao Sol: Barcelona 5 Real Madrid 1

Há que ter calma, não humilhar mais o madeirense, ainda um astro na sua ilha mesmo que não mais que um amanuense no universo. A glória é só uma, para quê

Sempre que Cristiano encontra o argentino confunde os hinos e diante d’el gran sedutor a ialma lhe falece como o sangue a Heitor: Olé, olá, olé, olarilolé!

insistir na vilania de ver Cristiano depenado pela melancolia? Abriram-se-lhe as pernas de espanto ou susto? O treinador é que o topou e por isso o tirou, estava o herói embargado - assim ao menos caiu calçado. Sempre que Cristiano encontra o argentino confunde os hinos e diante d’el gran sedutor a ialma lhe falece como o sangue a Heitor: Olé, olá, olé, olarilolé! OS PONTOS NEGROS QUE NOS MAPAS INDICAM OS CEMITÉRIOS Subia as escadas a matutar na urgência de despachar as provas do livro da Hilda Hilst, quando ouvi salmodiar. Tinha quatro anos. Uma menina. Bonita e airosa como a mãe. Morava no 12º

andar e encontrava-as na escada, borboletas arquejantes, lamentando sorridentes a eterna avaria do elevador. A menina era propensa às laringites e decidiram operá-la. Jaz agora na hirta rigidez da tumba. A operação degenerou em espíritomiríade e tornou-lhe avaros os dedos, prometidos a búzios e pianos. A mãe lembra agora uma formiga preta consumida por dois canhões nos olhos. Negligência médica. Foi o mês passado. O de hoje tinha treze anos. Era tão gordo que na sua alma ouviam-se os batuques que afastam os hipopótamos. Mas era um bom menino, amigo dos seus amigos, e estivesse o céu crivado de estrelas ou de chuva não faltava aos seus deveres de guarda-redes. Na véspera de começar a gabar-se “gosto de estar entre miúdas nices” (desconheço se tinha o afinco para isso), deslocou um pé. Coisa mais grave quando se não é mais leve que um cedro libanês. Vi-o três vezes a arrastar-se com o gesso para descer ou subir ao quarto andar, a mãe no comando da operação de desmantelamento & resgate, e desejei-lhe as melhoras. O gesso foi mal colocado. Provocou uma ferida que gangrenou. Depois o sangue tomou antenas invisíveis e a locusta decapitou-o. Há quatro dias que se sucedem os cerimoniais, e até os degraus da escada se consternam sem saber que fazer sem todo aquele pólen que o miúdo carregava. Deus, nestas paragens, tem mais mortos que dentes: eis o desdentado padrão, em fundo. AS COISAS QUE IMPORTAM As televisões anunciam: revólver de Al Capone leiloado em Londres. E eu em Maputo. Serei sempre como a figueira, molenga, uma alma que é uma espelunca-de-aluger e incapaz de frutificar a tempo de ter as raízes pisadas pelas olorosas sandalinhas de Cristo. Já perdi por um fio a guilhotina de Robespierre, um tufo da melena de Hitler, uma sela marchetada a marfim de Bush, o texano, um selo exortativo da Grã Perenidade de Mugabe e dois botões de punho de Kadhaffi. Só nos últimos 6 meses. É isto, sem nada para deixar aos filhos. Talvez um 123 para porem as farófias no ponto, mas, é lá o mesmo! A minha vida deslaça sem que eu adira, ainda que simbolicamente, a um crime de monta, uma crueldade com estardalhaço que vergue de medo a própria sombra. Que tristeza ó minha mãe, que me erodiste a ruindade: eis-me um podengo do bem! Uma revoluçãozinha, onde eu pudesse fuzilar os refractários e alguns poetas mais burgueses! Chamava-lhes um figo. Hum! Não há aí quem queira leiloar esta minha incapacidade para estar onde as coisas que importam acontecem? Eu vendo, por muito dinheiro!


14 (f)utilidades TEMPO

MUITO

8.10.2020 quinta-feira

NUBLADO

MIN

AURORA CRIMINOSA

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Um filme de: Ric Roman Waugh Com: Gerard Butler, Morena Baccarin, Scott Glenn 14.15, 19.00

DORAEMON THE MOVIE: NOBITA’S NEW DINOSAUR [A] FALADO EM CANTONENSE Um filme de: Imai Kazuaki 14.30, 16.45, 19.00

3

Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki 21.15 SALA 2

HOTEST THIEF [B] Um filme de: Mark Williams Com: Liam Neeson, Kate Walsh, Jeffrey Donovan,

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GREENLAND [B]

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HUM

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C I N E M A

TENET [B]

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 36

36

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PROBLEMA 37

S375 7U4 1D9 3O2 6K0 U 8

Cineteatro SALA 1

MAX

-80% ´

EURO

O partido neonazi Aurora Dourada, que chegou a ser o terceiro maior no parlamento grego, em 2015, foi ontem considerado uma organização criminosa pelo Tribunal de Atenas, uma sentença histórica que finaliza cinco anos de julgamento. O tribunal condenou vários dos ex-deputados do partido por

6 4 7 8 1 0 3 9 5 2

34

0 8 3 7 2 9 6 6 3 67 1 4 9 8 0 2 7 6 1 32 5 58 4 2 5 9 1 0

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Jai Courtney 16.30, 21.30 SALA 3

MR.JONES [B]

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Um filme de: Agnieska Holland Com: James Norton, Vanessa, Peter Saarsgard 16.30, 19.15

THE CONFIDENCE MAN JP ESPISODE OF THE PRINCESS [B] FALADO EM JPONÊS LENGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Ryo Tanaka 14.30, 16.45, 21.30

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I’M LIVIN’ IT [B]

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FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Wong Hing Fan Com: Aaron Kwok, Miriam Yeung, Alex Man 19.00

1

1

MR. JONES

9.40

BAHT

0.25

YUAN

1.17

participarem numa organização criminosa, e considerou outros culpados de liderarem uma organização criminosa. A sentença foi recebida com aplausos de mais de 15 mil pessoas que aguardavam a decisão na rua com faixas onde se liam frases como “O fascismo não é uma opinião, é um crime”.

UMA SÉRIE HOJE “Oscuro Deseo” é uma tentação para quem tem saudades de ver um thriller criminal, pelo menos olhando para o trailer. A narrativa gira em torno de um casal e do pequeno ciclo social e sexual que os rodeia. Bem produzido e com uma fotografia decente, “Oscuro Deseo” derrapa por ter demasiados episódios, o que obriga à multiplicação de ganchos de argumento (cliffhangers) e torna a série aborrecida. Uma pena. “Oscuro Deseo” acaba por ser uma das frustrações do catálogo da Netflix, quando podia ter sido muito mais simples, traída pelo loop inconsequente de revelações. João Luz

OSCURO DESEO I LETICIA LÓPEZ MARGALLI

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3 5 7 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 6 Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo3 Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje www. 4 Chan; João1 Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare hojemacau. com.mo Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro 4ComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone28752401Fax28752405e-mailinfo@hojemacau.com.moSítiowww.hojemacau.com.mo 1 4


opinião 15

quinta-feira 8.10.2020

a propósito de

OLAVO RASQUINHO*

A

As atividades antropogénicas e o decréscimo da biodiversidade

O longo dos cerca de 4,5 mil milhões de anos de existência do planeta Terra, as várias espécies animais e vegetais sofreram cinco grandes extinções em massa. As modificações que o clima tem vindo a sofrer ao longo do tempo desempenharam um papel importante em quase todas essas extinções. A grande exceção talvez tenha sido a última, que ocorreu há cerca de 66 milhões de anos, e foi atribuída ao choque de um asteroide com o nosso planeta. A maioria destas cinco extinções em massa ocorreram ao longo de milhares de anos, sem qualquer envolvimento da espécie humana, pela simples razão de que ainda não existia. A grande influência do Homem sobre a natureza começou no início do Holocénico (época geológica que está a decorrer), há cerca de 12 mil anos, quando foram dados os primeiros passos na agricultura, estimando-se que a população humana nessa altura não excedia cinco milhões. Antes de se dedicarem a esta atividade, os nossos ancestrais limitavam-se a ser caçadores-recoletores, ou seja, viviam da caça e da recolha do que a natureza lhes disponibilizava espontaneamente, na forma de sementes, frutos e plantas silvestres. Acontece, porém, que a espécie humana tem vindo a aumentar, por vezes exponencialmente, e, como resultado disso, a natureza não se consegue recompor da degradação que desde então tem vindo a ser alvo. Muitas espécies de animais e plantas têm vindo a desaparecer, e já se fala na sexta extinção em massa, atribuída a causas antropogénicas. Trata-se de um assunto controverso, mas a realidade é que o desaparecimento de muitas espécies tem ocorrido principalmente devido à caça e pesca exaustivas, destruição de habitats por fogos florestais e desflorestação acelerada para exploração pecuária e agrícola. A maioria das cinco grandes extinções ocorreu durante milhares de anos, enquanto que a que presumivelmente está a ocorrer se verifica apenas desde a Revolução Industrial, o que, em tempo geológico, não é mais do que a duração de um piscar de olhos. Desde então deu-se início a uma injeção anual de milhões de toneladas de gases de efeito de estufa na fina camada gasosa em que vivemos, a atmosfera, e de efluentes que são sistematicamente despejados nos rios, mares e oceanos, o que, certamente, tem contribuído para extinção de espécies a um ritmo cada vez mais acentuado.

Um pequeno macaco e sua mãe agonizante, vítimas de incêndio

Aspeto das consequências de fogos na Amazónia

A extinção de espécies, causada pelo hoO relatório Living Planet Report 2020, da World Wide Fund for Nature (WWF) é bem mem, é uma realidade que não podemos ignorar. claro sobre a influência humana na biodiver- As redes sociais e os meios de comunicação sidade. Esta organização recorre ao Índice difundem com grande frequência imagens lanPlaneta Vivo (Living Planet Index - LPI) cinantes de florestas e de cadáveres de animais para contabilizar a perda da biodiversidade a calcinados, ou animais em agonia devido aos nível global. Este índice dá-nos a medida do fogos florestais. As imagens obtidas pelo fotóestado da diversidade biológica a nível global grafo brasileiro Ueslei Marcelino são exemplos e é baseado nas tendências populacionais de de testemunhos desta realidade, que alertam os espécies de vertebrados terrestres, de água mais distraídos para os dramas causados pelos doce e marinhos. Foi adotado pela Conven- incêndios. Uma delas, a de um pequeno mação da Diversidade Biológica (Convention caco agarrando a mãe agonizante, faz lembrar of Biological Diversity - CBD) como um a célebre escultura Pietá, de Miguel Ângelo. indicador do progresso de medidas eficazes Segundo veterinários da cidade Porto Velho, capital do Estado brasileiro de e urgentes para deter a Rondónia, esses pequenos perda de biodiversidade. animais foram atropelados A evolução deste índice ao fugirem de um incêndio reflete o ritmo alarmante na Amazónia. da perda da diversidade O mais grave é que há da vida na Terra, o que se governantes de grandes traduz no declínio médio, potências que contribuem entre 1970 e 2016, de para acelerar o desapareci68% das populações de mento irreversível de numamíferos, aves, peixes, merosas espécies. Apesar répteis e anfíbios. da grande resistência da Esta é a grande preomaioria da comunidade cupação dos que pensam, científica, esses governão no futuro imediato, nantes têm vindo a demitir mas no que será o nosso cientistas de postos implaneta, onde, a pouco e portantes por estes discorpouco, numerosas espécies Ricardo Galvão, diretor do INPE (2016-2019) darem das suas políticas. da fauna e flora selvagens se vão extinguindo, havendo o risco de, num É o caso, por exemplo, do presidente do futuro não muito longínquo, restarem apenas Brasil, que demitiu Ricardo Galvão, Diretor escassos exemplares em reservas, parques e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais jardins zoológicos. A ocorrência, ou não, da (INPE) entre 2016 e 2019, pelo simples facto sexta extinção em massa é ainda um assunto de ter divulgado dados sobre a desflorestação controverso, mas não há dúvida que o desapa- da Amazónia. Em contrapartida, a prestigiada recimento de espécies está a ocorrer a um ritmo revista científica britânica Nature apresentou-o muito mais acelerado do que em qualquer outra como o primeiro de uma lista das dez personaaltura desde a extinção dos dinossauros e de ou- lidades mais relevantes para a ciência em 2019. Também o cientista Carlos Nobre, investra megafauna, há cerca de 66 milhões de anos. São cada vez mais frequentes os incên- tigador do Instituto de Estudos Avançados da dios florestais não só na Amazónia, Pantanal Universidade de São Paulo, em declarações à (Brasil), Indonésia, Oeste Americano, Euro- BBC News Brasil, desmentiu o que o presidente pa Meridional e Austrália, mas também em do Brasil afirmou no discurso de abertura da regiões onde não seriam previsíveis esses Assembleia Geral da ONU, em 22 de setembro acontecimentos com tanta frequência e de 2020. Segundo Bolsonaro, a maioria dos intensidade, como recentemente na Sibéria, incêndios na Amazónia são provocados por caboclos e índios, o que foi contrariado por Alasca e Região Ártica.

Carlos Nobre, que afirmou serem os grandes agricultores os verdadeiros autores desses incêndios. Segundo este cientista, a floresta amazónica está prestes a atingir o ponto de não retorno, a partir do qual aquele ecossistema perderia a capacidade de se regenerar. A estação quente e seca 2019/2020, na Austrália, foi caracterizada por fogos florestais que causaram dezenas de vítimas humanas e destruíram milhões de animais, alguns dos quais correm o risco de extinção, como os coalas, no leste do país. Há mesmo quem preconize, no meio científico, que já estamos em plena época geológica do Antropocénico, termo de origem grega com o sentido de “época de dominação da espécie humana”. Pelo menos esta é a opinião de alguns cientistas (nomeadamente Eugene F. Stoermer, limnologista estado-unidense, e Paul Crutzen, holandês, um dos laureados com o Prémio Nobel da Química de 1995), que argumentam com o facto do impacto ambiental da sociedade humana ser de tal modo intenso que podemos ter entrado numa nova era geológica. Decorrem ainda discussões sobre este assunto, tendo sido mesmo criado um grupo de trabalho (Anthropocene Working Group), no âmbito das atividades da União Internacional das Ciências Geológicas (International Union of Geological Sciences - IUGS). De acordo com recomendações da maioria dos elementos deste grupo de trabalho, o Antropocénico é estratigraficamente real, pelo que se deve proceder à sua classificação como época geológica com início em meados do século XX.

Os fogos florestais na Austrália foram particularmente frequentes e intensos em 2019/2020

Em plena época do hipotético Antropocénico, será que ainda estamos a tempo de travar a progressiva destruição da biodiversidade? A resposta não é fácil, mas talvez ajudasse deixar de se dar tanta importância ao Produto Interno Bruto (PIB), e passar a recorrer, para avaliar o progresso dos países, a outros indicadores, como o Índice de Desenvolvimento Humano (Human Developmet Index - HDI) ou o Índice Planeta Vivo. *Meteorologista. O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico


Um segredo tem sempre a forma de uma orelha. Jean Cocteau

Banco Mundial Mais 150 milhões em pobreza extrema em 2021

Nova Iorque Tribunal ordena a Trump a entrega de declarações fiscais

número de pessoas em situação de pobreza extrema no mundo vai aumentar em 150 milhões em 2021 devido à pandemia de covid-19, segundo previsões do Banco Mundial ontem divulgadas. Segundo a instituição presidida por David Malpass, é o primeiro aumento em mais de 20 anos, já que à pandemia de covid-19 se associam as alterações climáticas e situações de conflito em vários pontos do globo. “A pandemia e a recessão global podem causar que mais de 1,4 por cento da população mundial caia na extrema pobreza”, disse Malpass, citado em comunicado da organização. De acordo com o relatório, a pandemia deverá empurrar “mais 88 a 115 milhões de pessoas para a extrema pobreza este ano, com o total a chegar aos 150 milhões em 2021, dependendo da severidade da contracção económica”. A extrema pobreza é definida conceptualmente como a vivência com menos de 1,90 dólares (1,61 euros) por dia e deverá afectar cerca de 9,1 por cento e 9,4 por cento da população mundial em 2020, segundo o relatório ontem divulgado. Os números “representariam um regresso à taxa de 9,2 por cento em 2017”, e segundo o Banco Mundial, caso não tivesse existido a pandemia, a taxa deveria baixar para 7,9 por cento. “De forma a reverter este retrocesso sério ao desenvolvimento do progresso e à redução da pobreza, os países vão ter que se preparar para uma economia diferente depois da covid-19, ao permitir que o capital, o trabalho, as competências e a inovação se movam para novos negócios e sectores”, considerou o presidente do Banco Mundial. Segundo o relatório, “muitos dos novos pobres estarão em países que já têm altas taxas de pobreza”, e “um número de países com rendimentos médios verão números significativos de pessoas passarem para baixo da linha da extrema pobreza”, estimando que 82 por cento do total serão nesses países.

S contabilistas de Donald Trump vão ter de entregar as declarações fiscais do Presidente norte-americano ao procurador do Estado de Nova Iorque, decidiu ontem um tribunal de recurso. O segundo tribunal de recurso de Nova Iorque, em Manhattan, anunciou que a suspensão da decisão do tribunal de primeira instância permanecerá em vigor, para que os advogados de Trump possam recorrer da decisão junto do Supremo Tribunal. Um juiz distrital rejeitou os esforços dos advogados de defesa para invalidar uma intimação que o escritório do procurador distrital de Manhattan, Cyrus Vance, emitiu junto dos contabilistas de Donald Trump. Um porta-voz do Departamento de Justiça disse que o Governo norte-americano está neste momento a analisar a decisão do juiz distrital. Cyrus Vance e Trump estão num braço-de-ferro jurídico desde Agosto de 2019, quando o procurador pediu a entrega de declarações fiscais do Presidente referentes a oito anos, no âmbito de uma investigação sobre a sua actividade empresarial. Um dos casos diz respeito a um alegado pagamento a uma actriz pornográfica, com dinheiro angariado para a campanha presidencial de 2016, para obter o seu silêncio sobre um caso sexual. Os advogados de Trump têm negado a entrega de quaisquer documentos, alegando que o Presidente em exercício não pode ser investigado, um argumento que nunca foi testado nos tribunais e que deverá terminar no Supremo. O Supremo Tribunal decidiu em Julho, com uma maioria de sete contra dois juízes, contra os apelos de Trump, e uma nova resolução não será possível antes das eleições presidenciais, marcadas para 3 de Novembro.

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quinta-feira 8.10.2020

PALAVRA DO DIA

O elefante na sala Casa de Portugal justifica encerramento com um “problema de gestão interna”

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exposição World Press Photo, que decorria na Casa Garden, foi encerrada antecipadamente numa decisão que poderá estar relacionada com a exibição de fotografias das manifestações de Hong Kong. A notícia foi revelada ontem pela Rádio Macau, onde se avança que a mostra deixou de estar disponível no passado fim-de-semana, depois de ter inaugurado a 25 de Setembro. Segundo a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, o encerramento prendeu-se com um “problema de gestão interna”. A responsável recusou prestar mais esclarecimentos à emissora, limitando-se a dizer que a exposição World Press Photo “está encerrada desde o fim-de-semana”, quando o encerramento apenas deveria acontecer a 18 de Outubro. Ao HM, Amélia António manteve a explicação, e recu-

sou associar o encerramento com o facto de as fotografias poderem ser consideradas material sensível para as autoridades centrais e locais. “Do nosso lado não tem nada a ver com isso. Como já disse, o encerramento deveu-se a problemas de gestão interna. Se são materiais sensíveis, se as pessoas gostam ou não das imagens, isso é uma questão que nos ultrapassa. Não tem nada a ver connosco”, esclareceu. Recentemente, devido ao corte nos apoios às associações locais por parte do Governo, a Casa de Portugal já havia anunciado que ia deixar de promover esta exposição nos próximos anos. Amélia António recusou que essa decisão tenha sido influenciada por este problema interno, que diz não discutir em público. “Eu já tinha dito que este era o último ano que íamos trazer esta exposição a Macau, porque era evidente que haven-

“O encerramento deveu-se a problemas de gestão interna. Se são materiais sensíveis, se as pessoas gostam ou não das imagens, isso é uma questão que nos ultrapassa. Não tem nada a ver connosco.” AMÉLIA ANTÓNIO PRESIDENTE DA CASA DE PORTUGAL

do diminuição dos subsídios tínhamos que escolher reduzir os eventos. A escolha passou por abdicar dos que não estão directamente ligados à nossa cultura. Era um assunto que já estava decidido [antes das questões internas]”, adiantou.

SEM PRESSÃO

No mesmo sentido, o HM tentou obter uma posição sobre o encerramento antecipado junto de Marika Cukrowski, curadora do World Press Photo, que prometeu uma tomada de posição para mais tarde. A organização do evento que está a cargo da Casa de Portugal tem contado com o patrocínio do Governo local, através da Fundação Macau. À Rádio Macau, Wu Zhiliang, presidente da fundação, recusou ter havido qualquer pressão para que o encerramento fosse antecipado. “Da nossa parte não houve nada”, afirmou Wu Zhiliang. As fotografias sobre as manifestações em Hong Kong encontravam-se em exibição na Casa Garden porque tinham sido distinguidas nas principais categorias do concurso anual da Fundação World Press Photo. J.S.F.


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