Hoje Macau 8 NOV 2016 #3691

Page 1

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

TERÇA-FEIRA 8 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3691

THE STANDARD

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

hojemacau

HONG KONG | LEGCO

Pontapé de saída Deputados pró-independência impedidos de tomar posse. Decisão vem da Assembleia Popular Nacional . Em causa o polémico juramento de fidelidade. AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

GRANDE PLANO

FÓRUM MACAU

TRANSPLANTES

CHINA

As farpas Tudo em Troca de de Coutinho família ministros PÁGINA 5

PÁGINA 7

PÁGINA 12

OPINIÃO

América

TÂNIA DOS SANTOS

Alquimia da jóia ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR

h


2 GRANDE PLANO

O Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional decidiu ontem que Sixtus Leung e Yau Waiching, os dois deputados protagonistas de uma controversa tomada de posse no Conselho Legislativo, vão ser afastados do órgão. Resta saber se é o início do fim de uma saga política em Hong Kong ou se o drama vai agora começar

HONG KONG ASSEMBLEIA POPULAR NACIONAL IMPEDE TOMADA DE POSSE DE DEPUTADOS

E PEQUIM BATEU O PÉ F

OI a quinta vez, em 19 anos, que Pequim decidiu fazer uma interpretação da Lei Básica de Hong Kong – e, desta feita, a decisão de intervenção do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) pode ter efeitos para a vida política da antiga colónia britânica que vão além do esclarecimento constitucional. Em causa estava o Artigo 104o da Lei Básica de Hong Kong, que dispõe sobre o juramento de fidelidade. O artigo é em tudo semelhante ao que dispõe a Lei Básica de Macau: basicamente, determina que o Chefe do Executivo, os titulares dos principais cargos e os deputados ao Conselho Legislativo devem defender o diploma fundamental da região, serem fiéis a Hong Kong e prestarem juramento de fidelidade à China. A interpretação feita pelo Comité Permanente da APN, um documento com oito páginas, veio determinar que os princípios de fidelidade não constam apenas da Lei Básica – devem ser incluídos no acto do juramento, por serem “requisitos legais e condições prévias” da participação nas eleições. “Alguém que preste juramento e que intencionalmente diga palavras que não estão de acordo com o guião definido por lei, ou que preste juramento de um modo que não é sincero ou solene, deve ser tratado como estando a declinar prestar juramento”, cita a Agência Xinhua. “Deste modo, o juramento é inválido e a pessoa fica desqualificada de assumir o exercício de funções.” Concluindo e resumindo: Sixtus Leung e Yau Wai-ching, os dois jovens deputados eleitos protago-

nistas de uma controvérsia inédita em Hong Kong, não vão poder ocupar os assentos para os quais foram escolhidos nas eleições de Setembro último.

NO TEMPO CERTO

Sixtus Leung e Yau Wai-ching não só não seguiram o guião – ao

utilizarem expressões insultuosas para a China –, como ainda levaram para a cerimónia de tomada de posse uma faixa onde se podia ler que “Hong Kong não é a China”. Li Fei, o presidente da Comissão da Lei Básica da região vizinha, comentava ontem que os dois activistas “violaram seriamente o

VEM AÍ O ARTIGO 23O?

O

Governo de Hong Kong “apoia” a interpretação da Lei Básica feita pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), declarou ontem de manhã o Chefe do Executivo da região vizinha, numa conferência de imprensa sobre a decisão do poder central em relação ao caso da cerimónia de juramento protagonizado pelos deputados eleitos Sixtus Leung e Yau Wai-ching. “Enquanto Chefe do Executivo, tenho o dever de implementar a Lei Básica de acordo com o Artigo 48o”, declarou C.Y. Leung. “Eu e o Governo da RAEHK vamos implementar a decisão de forma plena.” O líder do Governo destacou ainda que o Comité Permanente da APN “só interpretou” a Lei Básica por cinco vezes, o que demonstra que “Pequim tem sido muito cuidadoso ao exercer esta prerrogativa”. A interpretação ontem tornada pública “não teria acontecido se não fosse necessária”, defendeu, acrescentando que “o Governo Central tem total consciência do que está a acontecer em Hong Kong”. Questionado sobre a necessidade de se avançar para a polémica legislação prevista pelo Artigo 23o da Lei Básica, que dispõe sobre a segurança nacional, C.Y. Leung – que, em tempos, disse não ver necessidade urgente na sua adopção – parece agora ter mudado de ideias. “A RAEHK deve legislar [sobre o Artigo 23o]. No passa-

do, não víamos ninguém a defender a independência, mas agora vemos. Isto merece efectivamente a nossa atenção.” O politólogo Éric Sautedé recorda que, para que uma legislação deste género seja aprovada, é preciso fazer contas aos votos no Conselho Legislativo. “O que é realmente claro é que existe uma interferência de Pequim nos assuntos internos de Hong Kong”, observa. O analista acredita que todo este caso veio precipitar a “lenta, mas certa, erosão do alto grau de autonomia” de Hong Kong. “Claro que, em Macau, este alto grau de autonomia há muito que desapareceu – não sei se alguma vez existiu –, com Macau completamente alinhado com o que Pequim quer. Mas, em relação a Hong Kong, isto é preocupante, é um ponto de viragem muito mais importante do que 2003, porque na altura foi a constatação de que não havia apatia política, ao contrário do que muitas pessoas pensavam. Desta vez, existe a noção de que estes jovens têm apoio”, conclui. Em 2003, mais de 500 mil manifestantes saíram à rua contra o Artigo 23o – desde a transferência de soberania que não se via protesto de tal dimensão. A legislação acabou por ser engavetada. Em Macau, a lei foi aprovada em 2009, sem problemas de maior.

princípio ‘um país, dois sistemas’, a Lei Básica e as leis de Hong Kong”, acrescentando que o Governo Central “está determinado em confrontar firmemente, sem qualquer ambiguidade, as forças pró-independência”. “A explicação do Comité Permanente sublinha a forte determinação do Governo Central contra a independência de Hong Kong”, reiterou Li Fei. A interpretação vai ao encontro do “desejo comum” das pessoas de Hong Kong e da China Continental, “é totalmente necessária e é feita em boa altura”, disse também. O político fez ainda alusão “à minoria de pessoas que, nos últimos anos, tem desafiado o princípio ‘um país, dois sistemas’ e distorcido a Lei Básica”. “Desde as eleições legislativas, algumas pessoas têm vindo a defender a independência, dizendo que querem obtê-la através do Conselho Legislativo. A interpretação veio ajudar a defender a segurança nacional e a soberania.” Citado pela imprensa de Hong Kong, Li Fei contestou a ideia de que o Comité Permanente da APN só pode interpretar a lei fundamental da região após solicitação da justiça local. Quanto aos efeitos da interpretação ontem tornada pública, “são retroactivos, porque [a interpretação] reflecte a intenção legislativa”. O presidente da Comissão da Lei Básica preferiu, no entanto, não fazer qualquer comentário sobre a possibilidade de outros deputados serem desqualificados por causa do modo como tomaram posse e prestaram juramento. A decisão de Pequim em relação à interpretação da Lei Básica


3 hoje macau terça-feira 8.11.2016 www.hojemacau.com.mo

PRÓ-INDEPENDÊNCIA

surgiu depois de, em Hong Kong, o caso Sixtus Leung e Yau Wai-ching ter assumido proporções complicadas, ao deixar de ser um assunto meramente político e passar ao domínio das questões judiciais. Depois da polémica cerimónia de juramento, o presidente do Conselho Legislativo, Andrew Leung – também ele novo no exercício do cargo – decidiu dar uma segunda hipótese aos dois activistas pró-independência. O Chefe do Executivo, C.Y. Leung, não gostou da ideia. O líder do Governo e o secretário para a Justiça, Rimsky Yuen, avançaram então para tribunal, questionando a decisão de Andrew Leung. O Supremo Tribunal de Hong Kong ainda não se pronunciou sobre a matéria. A decisão ontem tomada pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, dizem as vozes mais críticas, veio colocar em causa a autonomia judicial de Hong Kong, e esvaziar a decisão que venha a ser tomada pela justiça local. O politólogo Éric Sautedé não tem dúvidas de que houve uma jogada de antecipação de Pequim. “Porque é que houve esta acção tão rápida? Acredito que Pequim está muito desconfortável com o sistema judicial. No passado, houve várias decisões do Supremo Tribunal sobre a independência de poderes”, recorda ao HM, lembran-

do que também esta é uma questão fracturante na antiga colónia britânica. “Se olharmos para uma das primeiras interpretações do Comité Permanente da APN, sobre o direito à residência, vemos que a justiça se tinha oposto à decisão do poder executivo.” Ontem, o presidente da Comissão da Lei Básica rebateu os efeitos da atitude de Pequim em relação ao sistema judicial local: “O significado essencial da independência judicial é agir de

“Tudo isto aumentou muito a falta de confiança entre todos os lados, a um nível que faz com que a única solução seja recorrer a meios legais para resolver problemas políticos. Todo o processo ilustra uma desconfiança política profunda.” SONNY LO POLITÓLOGO

acordo com as leis e não existe uma independência judicial que vá contra a Lei Básica”.

DESCONFIANÇA AUMENTADA

A saga da cerimónia de juramento – é assim que o caso é descrito pela imprensa de Hong Kong – passou da esfera política local para a judicial e, depois, para o domínio político nacional. Mas há também “um lado moral” em todo este incidente, com repercussões que se desconhecem: é preciso esperar para ver. “Levantou-se uma questão moral”, comenta ao HM o politólogo Sonny Lo. Em Hong Kong, a ideia de uma intervenção do poder central foi aplaudida por quem pertence ao campo pró-Pequim porque “as acções dos dois deputados eleitos são consideradas inaceitáveis”. Para o analista, o Governo Central não tinha outra hipótese além desta intervenção para acabar com “o estado de paralisia que levou ao impasse total” do Conselho Legislativo. Sonny Lo acredita que houve um erro de cálculo de Sixtus Leung e Yau Wai-ching – que tiveram “um comportamento altamente provocatório” – quando decidiram apostar nesta estratégia de ruptura com o sistema. “Provavelmente não calcularam bem a forte reacção de Pequim. Também não conseguiram antecipar a decisão do Comité Permanente da APN. Pequim acredita que o Conselho Legislativo de Hong

“Tudo é possível, tudo pode dar origem a um incêndio, existe electricidade no ar e, quanto mais tempo passa, mais a electricidade é de alta voltagem.” ÉRIC SAUTEDÉ POLITÓLOGO Kong está num impasse. Pequim acredita que este tipo de acções e comportamentos dos dois novos deputados eleitos são inaceitáveis”, observa. Já Éric Sautedé considera que Sixtus Leung e Yau Wai-ching estavam perfeitamente conscientes de que os actos teriam consequências. “Não digo que tivessem o controlo absoluto de todo o processo, mas estavam a testar os limites”, afirma o professor universitário. “Não acho, de modo algum, que tenham subestimado as reacções. Queriam marcar uma posição logo desde o início, mostrando que foi para isso que foram eleitos”, continua. Os dois jovens activistas pretendiam demonstrar que o sistema tem falhas, que “o rei vai nu” e, nessa medida, conseguiram atingir os objectivos.

Além de uma série de questões técnicas que agora terão de ser resolvidas, há em termos políticos um impacto a longo prazo que, para Sonny Lo, é claro: “Tudo isto aumentou muito a falta de confiança entre todos os lados, a um nível que faz com que a única solução seja recorrer a meios legais para resolver problemas políticos. Todo o processo ilustra uma desconfiança política profunda”. No domingo, na antecipação da interpretação do Comité Permanente da APN, Hong Kong voltou a ser palco de protestos, sendo que, pelo menos, quatro pessoas acabaram detidas. “Acredito que, no futuro imediato, iremos assistir a mais confrontos. É muito difícil prever se poderá acontecer algo com a dimensão do Occupy, considerando que, em Setembro de 2014, também ninguém conseguia imaginar o que acabou por acontecer”, aponta Sautedé. “Mas, desta vez, a tensão é muito maior, e existe a ideia de que tudo é possível”, diz o analista, a viver na região vizinha. “Essa é a grande lição do Occupy e, depois, dos confrontos em Mogkok: basicamente, tudo é possível, tudo pode dar origem a um incêndio, existe electricidade no ar e, quanto mais tempo passa, mais a electricidade é de alta voltagem.” Isabel Castro

isabel.castro@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

hoje macau terça-feira 8.11.2016

Segurança GOVERNO PENSA EM PLANO PRELIMINAR PARA SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS

De bem a melhor

O

regime para a regulamentação das substâncias perigosas, onde se incluem produtos inflamáveis, já tem plano preliminar e vai ser implementado em breve. A informação foi adiantada pelo Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, em entrevista ao jornal Ou Mun, em que revelou ainda que a proposta de lei que irá acompanhar o estabelecimento do centro de segurança cibernética está “praticamente concluída”. A explosão de um armazém de substâncias perigosas em Tianjin, ocorrida no ano passado, veio alertar a RAEM para a forma como se gere esta área. Consequentemente foi criada, já no mandato de Wong Sio Chak, uma comissão interdepartamental a fim de rever o regime no sector. Na entrevista, o Secretário para a Segurança revelou que os trabalhos relativos à revisão do diploma estão divididos em planos de curto, médio e longo prazo, salientando que os que estão reservados para ter efeito num período de tempo mais próximo “já estão a ser elaborados e vão ser postos em prática, em breve”. No que está planeado para curto prazo insere-se a criação de um mecanismo de inspecção e notificação de substâncias perigosas, bem como de uma base de dados. Wong Sio Chak adiantou ainda que, nos planos a médio prazo, se pretende elaborar um diploma para a

O

TIAGO ALCÂNTARA

A implementação de um regime para regulamentação das substâncias perigosas e a legislação para um centro cibernético foram duas medidas anunciadas pelo Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, em entrevista ao jornal Ou Mun

“Os crimes graves continuam a diminuir e os crimes ligeiros estão sob controlo eficaz.” WONG SIO CHAK

regime de previdência central não obrigatório já está na fase final de análise na especialidade, mas a deputada Ella Lei aponta numa carta as deficiências que a lei mantém, ao nível do retorno das contribuições e da forma de cálculo das mesmas. Kwan Tsui Hang, deputada que preside à 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), afirmou ontem ao canal chinês da Rádio Macau que a análise na especialidade do regime de previdência central não obrigatório está quase concluída, faltando apenas a reorganização por parte do Governo. Apesar disso, a deputada Ella Lei tornou ontem pública uma carta onde fala das deficiências existentes no diploma, exigindo um calendário para a implementação de contribuições obrigatórias. Para a deputada, as contribuições devem ser definidas conforme a “remuneração de

gestão e controlo integral deste tipo de substâncias, sendo que caberá nas iniciativas a longo prazo a criação de um depósito e a gestão unificada das componentes, tendo em conta uma localização específica.

TUDO A CORRER BEM

Tendo assumido a posse de Secretário para a Segurança há quase

dois anos, na entrevista ao Ou Mun, Wong Sio Chak faz ainda um balanço positivo no que respeita ao aperfeiçoamento do sistema de segurança, salientando que “os crimes graves continuam a diminuir e os crimes ligeiros estão sob controlo eficaz”. O dirigente sublinha ainda a optimização da imagem da polícia que tem vindo a

Receber a conta-gotas

Ella Lei aponta deficiências no regime de previdência central

base” paga ao trabalhador (que inclui outros pagamentos além do ordenado mensal) em vez de serem feitas à luz do “salário de base”, que não contempla outras regalias. Só desta forma as contribuições poderão reflectir a verdadeira remuneração do empregado, aponta. Ella Lei pede que seja seguido o exemplo previsto na lei laboral onde, independentemente das formas de cálculo ou definições de pagamentos, todos os pagamentos em dinheiro feitos ao trabalhador, fixados entre patrão e empregado de forma legal, são considerados “remuneração base”. Ella Lei pede ainda que os trabalhadores tenham direito ao retorno das con-

tribuições com base em todo o tempo de contrato e não apenas de forma parcial. Actualmente a proposta de lei em discussão prevê que só a partir de dois anos de contrato o trabalhador tenha direito a dez por cento da contribuição, valor que vai aumentando. Quem não cumprir dez anos de trabalho só pode ficar com uma parte das contribuições. “Esta prática é extremamente desfavorável aos empregados”, escreveu a deputada, que chamou a atenção para os dados oficiais referentes ao mercado de trabalho de 2015, que revelam que 70 por cento dos trabalhadores residentes prestam serviço para as respectivas empresas há menos de

ser feita, bem como da reacção das forças de segurança em casos de intervenção pública. “Os serviços no âmbito de segurança, tendo como base as directrizes e regulamentos nas Linhas de Acção Governativa, têm promovido e concluído os trabalhos em conformidade com os calendários, leis e procedimentos, e têm obtido bons resultados,” avaliou Wong Sio Chak . Desde que iniciou funções enquanto secretário para a Segurança, Wong Sio Chak promoveu a coordenação conjunta dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), os Serviços de Alfândega (SA) e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) no combate à imigração ilegal. O governante manifestou o seu agrado com os resultados que tem vindo a obter e que se traduzem num “aumento substancial do número de detenções e numa redução do número de deportações, o que demonstra que o mecanismo de coordenação é eficaz”. Quanto à instituição de regimes legislativos, o secretário salientou que os trabalhos não podem ser concluídos em apenas um ano, sendo que esta premissa é especialmente válida para a criação do centro de segurança cibernética, projecto que envolve a coordenação de cinco secretarias. De relevo para o dirigente é ainda o facto de se tratar de uma iniciativa que envolve várias áreas complexas e tem de ter uma cobertura interdisciplinar. “Sem legislação não se pode progredir na criação do centro cibernético”, afirmou. No entanto, adiantou que a proposta de lei está a ser feita e que já estará quase pronta, adiantando que, “no primeiro semestre do próximo ano, já será capaz de entrar no procedimento legislativo.” Angela Ka (revisto por SM) info@hojemacau.com.mo

dez anos. A deputada indirecta falou ainda da existência de lacunas para quem tem contratos a prazo na construção civil. A deputada que representa a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) pede ainda um calendário para a implementação das contribuições obrigatórias para o regime de previdência central. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Kwan Tsui Hang referiu ser difícil atingir um consenso nas reuniões da comissão, da parte dos representantes dos patrões e empregados. Os representantes do Governo afirmaram sempre que os direitos dos trabalhadores não devem ser postos em causa, ainda que o patronato tenha o poder de decisão para novos empregados. Para a deputada, será necessário pelo menos meio ano para que as empresas se preparem para o novo regime, ainda que as contribuições não sejam obrigatórias. A.K. (revisto por A.S.S.)


5 POLÍTICA

hoje macau terça-feira 8.11.2016

É

Fórum Macau CRISTINA MORAIS DIZ QUE SAIU POR “MOTIVOS PESSOAIS”

O lugar do morto

Cristina Morais resolveu não continuar como coordenadora do Fórum Macau, alegando “motivos pessoais” para a saída. O deputado José Pereira Coutinho diz que o Fórum Macau tem sofrido “intromissão de pessoas” e acusa o Secretário para a Economia e Finanças de “nunca se ter interessado” pelo organismo GCS

difícil encontrar respostas para o facto da coordenação do Fórum Macau em nome do Governo da RAEM continuar a não se pautar pela estabilidade, sendo raras as pessoas que queiram comentar o assunto. Após a saída de Rita Santos, que se reformou, Echo Chan ficou apenas oito meses no cargo e Cristina Morais está também de saída, ao fim de um ano em funções, conforme noticiou o Jornal Tribuna de Macau. Em declarações ao HM, Cristina Morais deu as mesmas explicações que Echo Chan deu em Outubro do ano passado para sair. “Findo o termo de uma comissão, é natural que as pessoas possam optar por ficar ou sair. No meu caso, optei por assumir funções diferentes, em vez de assumir a prorrogação. Foi por motivos pessoais que deixei o Fórum Macau.” “Optei por voltar à Direcção dos Serviços de Economia. Continuarei a fazer parte do Fórum Macau porque estarei no departamento de relações económicas internacionais”, disse ainda Cristina Morais, que traça um balanço positivo do seu trabalho. “Foram feitas muitas reportagens a esse respeito e talvez não seja necessário da minha parte acrescentar mais informações. Já foi anunciado um novo plano de acção e um novo memorando, e as expectativas são muito boas. No plano de acção há novas áreas de cooperação e penso que os países de língua portuguesa terão grande vontade em desenvolver essas áreas. Vamos ver de que forma serão organizados novos grupos de trabalho, para permitir que essas áreas sejam desenvolvidas. Tenho expectativas positivas”, disse ainda ao HM. Há já algum tempo que existia o rumor de que Cristina Morais sairia do Fórum Macau após a realização da 5ª Conferência Ministerial.

POUCA FORMAÇÃO

Coutinho fala ainda da “falta de formação do pessoal que trabalha no Fórum, que teve enormes dificuldades em informar os convidados”, tendo mesmo ocorrido “o abandono de uma das delegações dos países africanos, que falhou nos transportes de retorno ao país”. O deputado frisou ainda que o Fórum Macau “sempre sofreu intromissões por parte de pessoas estranhas, ávidas em colher louros e proveitos individuais por parte do pessoal do chefe de gabinete de Lionel Leong”.

“Vai ser muito difícil encontrar uma pessoa com perfil para o cargo”, diz Pereira Coutinho, que fala em “amadorismo e falta de profissionalismo” no Fórum Macau

PROBLEMAS INTERNOS

Convidado a comentar mais uma baixa do Fórum Macau, o deputado José Pereira Coutinho defende que “Cristina Morais saiu desde o primeiro dia em que foi nomeada para o Fórum”. “Vai ser muito difícil encontrar uma pessoa com perfil para o cargo”, acrescentou ainda o deputado, que fala em “amadorismo e falta de profissionalismo” no seio da entidade, que se reflectem “nos resultados externos dos trabalhos do Fórum. Coutinho faz ainda uma acusação directa a Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças. “O maior responsável pela confusão da última conferência ministerial é o Secretário Lionel Leong, que desde o início nunca se interessou pelo Fórum Macau.” O deputado dá como exemplo o facto de nenhum membro do

atento aos trabalhos relativos ao Fórum Macau”.

Governo de Macau ter ido ao aeroporto receber António Costa, primeiro-ministro português. O HM apurou que Costa foi recebido pela vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, e por Jackson Chang, presidente do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM). “Houve uma falha protocolar grave quanto ao esquecimento em receber o primeiro-ministro português no aeroporto de Macau,

já que nenhum Secretário ou chefe de gabinete estiveram presentes. Nem sequer havia um intérprete para traduzir a conversa entre o primeiro-ministro português e a vice-ministra do comércio chinês”, referiu Coutinho. Em resposta ao HM, o gabinete de Lionel Leong confirmou que o Secretário não pôde, de facto, estar presente no aeroporto por motivos de agenda, pois tinha de estar ao lado do primeiro-ministro chinês

na Torre de Macau para apresentar “a estratégia sobre a promoção da diversificação adequada da economia e do desenvolvimento sustentável industrial local”. “Esta forma de recepção foi combinada previamente após uma profunda comunicação e coordenação com a parte portuguesa”, explicou ainda o gabinete. Além disso, o governante afirmou ter estado presente na despedida de Macau de António Costa, tendo referido que está “muito

Glória Batalha Ung, vogal executiva do IPIM, confirmou ao HM que a entidade ainda não recebeu novas indicações sobre a pessoa que irá substituir Cristina Morais. “Saiu por assuntos particulares e vai ser substituída, penso que não haverá problema e que o Secretário vai coordenar bem o processo.Ainda não recebemos instruções sobre isso.” Um comunicado oficial divulgado ontem explicava apenas que Cristina Morais ponderou “por sua própria vontade os contextos e experiências profissionais de que dispõe”, tendo sido nomeada chefe do departamento de relações económicas externas da DSE. “Quanto ao sucessor para o cargo de coordenador do Gabinete de Apoio do Fórum Macau, será divulgado em tempo oportuno e de acordo com os termos processuais”, pode ler-se. Vítor Sereno, cônsul-geral de Portugal em Macau e representante de Portugal no Fórum Macau, não quis fazer comentários. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


6 PUBLICIDADE

hoje macau terça-feira 8.11.2016

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.

2. 3.

Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 «Lei de Terras», de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Travessa do Lido, n.ºs 3 e 5, Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 13 a 31 e Travessa do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 6 e 8, em Macau, (Edifício Kam Lei); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.º 33 e Travessa do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 9 a 15, em Macau, (Edifício Sio Fat); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.º 45 a 47A, em Macau, (Edifício Un Wai); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 49 a 49A, em Macau. - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 51 e 53, em Macau, (Edifício Hip Long Hin); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 57 e 57A, em Macau, (Edifício Kam I); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 59 a 61, em Macau, (Edifício Ngan Luen); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 63 e 65 e Travessa do Almirante Sérgio, n.ºs 10 a 14, em Macau, (Edifício Kong Son); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 18 a 18A e Travessa do Lido, n.ºs 1 a 1B, em Macau, (Edifício Fok Heng); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 20 a 20B, em Macau, (Edifício Vai Fu Kok); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 24 a 24B, em Macau, (Edifício Kwong Chon); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 26 a 28A, em Macau, (Edifício Hong Neng Kok); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 30 a 32A e Travessa do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 2 a 4A, em Macau, (Edifício Tong Fu); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 34 a 38 e Travessa do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 1 a 7, em Macau, (Edifício Veng Vo); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 40 a 42A, em Macau, (Edifício Kam Kei); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 50 a 54, em Macau; - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 56 a 58A, em Macau, (Edifício Man Ling); - Rua do Almirante Sérgio, nºs 60 a 62, em Macau; - Rua do Almirante Sérgio, n.º 66 e Travessa do Almirante Sérgio, n.ºs 2 a 4, em Macau, (Edifício Va Fu); - Avenida de Demétrio Cinatti, n.ºs 46 e 46A e Rua do Visconde Paço de Arcos, n.º 384, em Macau, (Edifício Sat Fat); - Avenida de Demétrio Cinatti, n.ºs 54 a 54A e Rua do Visconde Paço de Arcos, n.º 348, em Macau, (Edifício Tak Seng Lau); - Travessa da Escama, n.º 2D, em Macau; - Avenida da Amizade, n.ºs 427 e 445, em Macau; - Alameda Dr. Carlos D´Assumpção, (lote A2/a dos Novos Aterros do Porto Exterior), em Macau; - Avenida Comercial de Macau, n.ºs 310 a 357, Avenida Dr. Mário Soares, n.ºs 62 a 96, Praça de Jorge Álvares, n.ºs 94 a 106 e Travessa Norte da Praia Grande, n.ºs 17 a 43, em Macau, (Edifício New Yaohan); - Avenida Comercial de Macau, n.ºs 251 a 291, Avenida Dr. Mário Soares, n.ºs 122 a 142, Travessa Norte da Praia Grande, n.ºs 2 a 42 e Travessa Central da Praia Grande, n.ºs 11 a 41, em Macau, (Edifício Grand Emperor Hotel); - Estrada Marginal da Ilha Verde, s/n, em Macau, (Edifício Fábrica de Gelo); - Norte da Doca n.º 2 da Ilha Verde, em Macau; - Rua da Ilha Verde, s/n, em Macau, (Edifício Green Island); - Rua Nova à Guia, n.ºs 2 a 16, em Macau, (Edifício Si Fai); - Estrada da Areia Preta, n.ºs 46 a 48B e Rua das Indústrias, n.ºs 34 a 38, em Macau, (Edifício Son Long); - Estrada da Penha, n.º 380, em Macau. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento, Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 6 de Outubro de 2016. O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong

FALECIMENTO RAIMUNDO MAHER A família enlutada de RAIMUNDO MAHER, vem comunicar o falecimento do seu ente querido aos 74 anos. No dia 11 de Novembro de 2016 pelas 18:00 horas , será rezada uma missa pela sua alma na Casa Mortuária. No dia seguinte, a 12 de Novembro de 2016 pelas 11H00, será realizado o funeral e uma missa na Casa Mortuária, a que se seguirá a cerimónia de cremação. Antecipadamente se agradece a todos quantos queiram participar no piedoso acto.

EXTRACTO DE AVISO Faz-se público que, de harmonia com o despacho do Secretário para a Segurança, de 06 de Julho de 2016, se acha aberto o concurso comum abaixo indicado, de ingresso externo, de prestação de provas, para o preenchimento: l Em regime de contrato administrativo de provimento, de um lugar de assistente técnico administrativo de 1.ª classe, 2.º escalão (oficina de reparação de automóveis – área de bate-chapa), da carreira de assistente técnico administrativo da Direcção dos Serviços Correccionais (Concurso n.º 2016/I03/AP/ATA). O aviso do concurso encontra-se publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 43, II Série, de 26 de Outubro de 2016, com o prazo de inscrição entre 27 de Outubro e 15 de Novembro de 2016. Os interessados podem consultar o referido aviso, dentro das horas de expediente, no Centro de Atendimento e Informação da Direcção dos Serviços Correccionais (endereço: Avenida da Praia Grande, China Plaza, 8.º andar “A”, Macau) ou no Website da Direcção dos Serviços Correccionais: www.dsc.gov.mo. Para qualquer esclarecimento, é favor entrar em contacto, nas horas de expediente, através do tel. n.ºs 8896 1293 ou 8896 1218, com os trabalhadores da Divisão de Recursos Humanos. A Directora da DSC, substª Loi Kam Wan 18/10/2016


7 hoje macau terça-feira 8.11.2016

CPCS DOIS MEMBROS SAÍRAM A MEIO DA REUNIÃO DE ONTEM

D

Chui Yuk Lam deveu-se ao facto deste considerar que o Governo não informou o CPCS quanto à subida dos montantes para o Fundo de Segurança Social para 90 patacas, defendendo que o Executivo “não está a respeitar o funcionamento do Conselho”. Wang Sai Meng, outro representante dos patrões, também bateu com a porta. Este aumento foi decretado pelo Chefe do Executivo.

Este facto gerou um comunicado por parte do Governo, que disse estar “atento” à questão. “O CPCS sempre teve um papel de plataforma para o Governo, para ouvir as opiniões das partes empregadora e trabalhadora, de modo a permitir que o Governo possa funcionar adequadamente na implementação das políticas e medidas sócio-laborais, favorecendo o desenvolvimento da sociedade de Macau.”

Além disso, o Governo afirma dar “imenso respeito às opiniões das duas partes, continuando o CPCS como plataforma, empenhando-se em melhorar o seu papel de plataforma de comunicação, a fim de diminuir as divergências entre as duas partes. O Governo vai empenhar-se na realização de um bom trabalho de comunicação para convocar de novo uma reunião o mais breve possível”.

CARTÕES DE CRÉDITO CONTINUAM A AUMENTAR

O número total de cartões de crédito em circulação continuou a crescer no terceiro trimestre de 2016. A informação, dada em comunicado pela Autoridade Monetária de Macau, faz saber que, no final de Setembro passado, o número de cartões de crédito pessoal emitidos, directa ou indirectamente, pelas instituições de crédito autorizadas em Macau foi de 1.031.218, registando um acréscimo de 2,1 por cento relativamente a Junho deste ano. No total, os cartões de crédito denominados em patacas foram de 730.162, sendo que 87.607 foram em dólares de Hong Kong e 213.449 em yuan. No terceiro trimestre de 2016, o crédito usado foi de 4,7 mil milhões de patacas, o que corresponde a um crescimento trimestral na ordem dos 3,1 por cento. O adiantamento em numerário ultrapassou os 220 milhões de patacas, correspondendo a 4,7 por cento do total do crédito usado no período em análise. Por outro lado, o montante do reembolso, incluindo os juros e despesas, foi de quase cinco milhões de patacas e registou um aumento de oito por cento relativamente ao trimestre anterior.

GCS

OIS representantes do patronato no Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) bateram ontem com a porta a meio de uma reunião, que serviu para debater as compensações dadas aos empregados nas situações em que os feriados coincidem com as folgas e feriados, bem como a implementação do salário mínimo. Segundo a imprensa chinesa, a saída de António

SOCIEDADE

A

CONTECEU no domingo, com o apoio de uma equipa da China: “No dia 6 de Novembro, com a colaboração de equipas médicas do Centro Hospitalar Conde de São Januário e do primeiro hospital filiado da Universidade Sun Yat-sen, foi concluído o primeiro transplante renal num corpo vivo”, anunciou o director dos Serviços de Saúde de Macau, Lei Chin Ion, em conferência de imprensa. O transplante foi proposto pela família, com o rim da irmã mais velha, de 54 anos, a ser transplantado para a irmã mais nova, de 39. A cirurgia foi considerada um sucesso e, não havendo complicações, ambas devem ter alto dentro de dez dias. “Tem um significado histórico para o desenvolvimento médico de Macau”, disse He Xian Shun, subdirector do hospital filiado da Universidade Sun Yat-sen. A partir de agora passa a ser possível realizar em Macau transplantes de rins quando o próprio paciente apresenta um possível dador, que tem de ser seu familiar, com distância até três gerações. No entanto, ainda não é possível receber o órgão de um estranho, apesar de já terem sido fixados, em Abril, os critérios para a definição da morte cerebral, necessários para esse procedimento. O registo de dadores após a morte está previsto na lei desde

Saúde SÃO JANUÁRIO FEZ PRIMEIRO TRANSPLANTE DE UM ÓRGÃO EM MACAU

De uma irmã para a outra Está feito o primeiro transplante de um órgão em Macau. No território ainda não há, no entanto, uma base de dadores. Os órgãos têm de ser da família 1996, mas ainda não foi elaborada uma base de dados. Segundo os Serviços de Saúde, ao contrário do que se passa em Portugal, os potenciais dadores terão de manifestar intenção de o ser. “Vamos fazer divulgação sobre a assinatura do cartão de doação de órgãos, para que quando houver um acidente possam doar”, disse Lei Chin Ion, sem avançar com uma calendarização. Segundo o director dos Serviços de Saúde, há entre dez a 15 pessoas por ano aptas a doar órgãos na região, vítimas de, por exemplo, acidentes de viação.

“Mas teriam de assinar uma autorização”, ressalvou.

NA LISTA NACIONAL

A partir de agora, os doentes de Macau passam também a integrar a lista da China Continental, ou seja, podem receber órgãos de todo o país e, quando o sistema estiver regulamentado, os residentes na região podem também doar. “Lutámos para entrar nesta lista de espera. O número de dadores viáveis em Macau é muito baixo, cerca de 15” por ano, explicou. No entanto, os doentes de Macau têm

Ainda não é possível receber o órgão de um estranho, apesar de já terem sido fixados, em Abril, os critérios para a definição da morte cerebral, necessários para esse procedimento

prioridade para receber os órgãos de Macau, passando para a China se não forem compatíveis, esclareceu. O primeiro transplante foi renal “porque a técnica é consolidada e a taxa de sobrevivência alta”, explicou ainda Lei Chin Ion, indicando que “existem muitos doentes com disfunção renal em Macau”. Mais de 600 realizam hemodiálise, ainda que nem todos possam receber um novo rim. A equipa médica de Macau que participou nesta cirurgia recebeu formação em Zhongshan, no hospital filiado da Universidade Sun Yat-sen, que vai continuar a formar médicos de Macau neste sentido. Questionado sobre se algum cirurgião de Macau está apto a realizar a operação sozinho, Kuok Cheong U, director do São Januário, disse que “a capacidade dos médicos ainda não é muito madura e o importante é a segu-

rança dos pacientes”. “Penso que todos os médicos especialistas têm vontade de receber esta qualificação”, indicou. Para poderem liderar autonomamente um transplante, os médicos de Macau têm de ter participado em pelo menos 50 transplantes de rim e sido um dos cirurgiões em pelo menos 20, acrescentou o director do hospital. No futuro, os Serviços de Saúde esperam poder avançar para transplantes de fígado. Quanto ao custo da operação, sem indicar o valor total, Kuok Cheong U afirmou que o transplante de rim “não faz parte da cobertura de cuidados gratuitos”, mas se o paciente “for muito pobre pode pedir redução dos custos médicos”.


8 SOCIEDADE

hoje macau terça-feira 8.11.2016

DSAT ORGANISMO PROPÕE AUMENTO DE TARIFAS DE ESTACIONAMENTO

A

UMENTOS superiores a 100 por cento e diminuição dos períodos máximos de estacionamento são os

principais pontos apresentados na proposta de actualização de tarifas para os lugares de estacionamento com parquímetros. A tabela da proposta avançada ontem pelos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) aumenta em 100 por cento os parquímetros por um período de duas

O

máximo de estacionamento de cinco horas também pode vir a ser reduzido para quatro, mas com um aumento de valor na ordem dos 200 por cento: de uma pataca, a proposta sugere que se paguem três por hora. Já nos períodos de uma hora, o aumento é das seis para as 12 patacas e,

nos de duas horas, é de duas patacas horárias para seis. Os preços dos motociclos aumentam também para o dobro no que respeita ao período máximo de duas horas. Já nos períodos de quatro horas, a proposta não prevê qualquer alteração tarifária. S.M.

Kou Kun Pang, do Conselho Consultivo do Trânsito, revelou ontem que o serviço de autocarros pode atingir, este ano, um recorde de passageiros e chagar aos 200 milhões de utilizadores. “Verificámos um aumento constante do número de passageiros. Este ano, chega a 538 mil por dia. Prevemos que chegue até aos 200 milhões de passageiros”, disse Kou Kun Pang, citado pelo canal português da Rádio Macau. No ano passado, o número total foi de 185 milhões. A emissora contava ainda que existe a intenção de instalação de um sistema de contagem com câmaras de vídeo, para monitorizar com mais pormenor o número de passageiros, mas a ideia causou algumas reservas devido à protecção de dados pessoais.

PLANO PARA ACTUAÇÃO DE ARTISTAS NA VIA PÚBLICA EM VIGOR

`

As vezes na rua ANTÓNIO FALCÃO

S artistas de rua vão poder actuar em Macau sem serem detidos ao abrigo de um programa experimental do Instituto Cultural (IC) que arrancou ontem, mas que os circunscreve a três dias por semana e a três lugares. O programa experimental – que decorre até 31 de Janeiro – prevê que, desde ontem, os artistas de rua (locais e/ou estrangeiros) possam pedir um cartão de ‘busker’ para actuar na cidade, mas restringe as actuações às sextas-feiras, sábados e domingos, e a três pontos (Anim’Arte Nam Van, Casas-Museu da Taipa e Jardim da Fortaleza do Monte).

horas, no que respeita ao estacionamento de veículos pesados, passando de cinco para 20 patacas por hora. Já o período máximo de tempo para este tipo de veículo, que é de cinco horas, será reduzido quatro, sem aumento no pagamento. No que respeita a automóveis ligeiros, o período

AUTOCARROS RECORDE DE PASSAGEIROS

São três os tipos de actuações possíveis: artes performativas, artes visuais e demonstrações de artesanato De acordo com o regulamento do programa, nos lugares definidos, os artistas têm de observar os respectivos horários de funcionamento – das 10h às 21h, à excepção do Jardim da Fortaleza do Monte, que encerra às 18h – e apenas podem utilizar um dos pontos definidos por um período máximo de duas horas. São três os tipos de actuações possíveis: artes performativas, artes visuais e demonstrações de artesanato. Os artistas de rua poderão regressar ao mesmo local de actuação, mas com um intervalo de, pelo menos, quatro horas.

Há ainda outros requisitos como, por exemplo, que “as actuações não podem envolver publicidade comercial (incluindo

a publicidade a instituições de qualquer tipo), religiosa ou a actividades políticas”, nem “envolver animais, excepto cães-guias

para pessoas com necessidades especiais”. O cartão ‘busker’ pode ser solicitado através da Internet, mas o

requerente tem depois de efectuar o registo pessoalmente num balcão num dos três pontos autorizados.

CARTÃO EM VEZ DE ESQUADRA

O projeto-piloto, anunciado como uma forma de “proporcionar uma plataforma de actuação às artes e artistas”, surge na sequência de uma série de detenções em Macau. De acordo com dados da PSP, divulgados pela Rádio Macau, sete artistas de rua foram detidos em 2015 e pelo menos dois este ano. A polícia invocou, então, a necessidade de uma licença para actuações na rua que, contudo, nenhum serviço público de Macau tinha competências para emitir. Em declarações à agência Lusa, no final do mês passado, o chefe de departamento de desenvolvimento das artes do espectáculo do IC, Kent Iong Chi Kin, sublinhou que o programa constitui “um primeiro passo” e foi beber inspiração a outros países e cidades, citando referências retiradas da Austrália e de Londres. “Após o período experimental de três meses iremos verificar os resultados. Se forem bons, vamos abrir novos pontos” de actuação, disse. Kent Iong Chi Kin apontou ainda que o tratamento das formalidades é “simples”. “Por exemplo, no máximo de três dias úteis podemos emitir esse cartão”, afirmou, prometendo que o IC irá “fazer o melhor possível para facilitar os artistas”, ao ser questionado sobre se o processo não é demasiado demorado. Já para que os que vêm de fora tomem conhecimento do projeto-piloto, Kent Iong Chi Kin disse que vão ser feitas acções de divulgação e publicidade, “através de diferentes vias”.


9 hoje macau terça-feira 8.11.2016

PUB

Muitos morrem na praia Encontrados 51 cadáveres na costa em quatro anos

TIAGO ALCÂNTARAW

A

S autoridades de Macau encontram mais de meia centena de cadáveres na costa entre 2011 e 2015. Os números foram dados à Agência Lusa pela Polícia Judiciária (PJ), que admite que, em cerca de metade dos casos, a causa da morte foi considerada desconhecida. Em 2011, 13 pessoas foram encontradas mortas à beira-mar, na praia ou na água; oito foram encontradas em 2012; 11 em 2013; oito em 2014; e e 11 em 2015, perfazendo 51. Após a conclusão das investigações, 26 mortes foram classificadas como tendo “causa desconhecida”. Segundo a PJ, a morte “deu-se por afogamento”, mas “após a investigação, não foi confirmada a causa de morte, isto é, que o afogamento tenha resultado quer de suicídio, quer de acidente, bem como não foi descoberto qualquer indício de crime”. Quanto aos restantes 25 casos, 19 foram classificados como suicídio e seis fruto de acidente. De acordo com os dados fornecidos pela PJ, que não disponibilizou informação sobre o ano de 2016, nos cinco anos em questão morreram em Macau 2215 pessoas, incluindo 16 fruto de crime, 60 em acidentes, 360 por suicídio e 1750 por morte natural.

As notícias de corpos encontrados em zonas costeiras de Macau surgem com regularidade na imprensa local. Entre Maio e Outubro deste ano é possível encontrar notícias em língua portuguesa relativas a, pelo menos, cinco casos. Em três situações, os corpos foram encontrados na praia de Hac Sa: o de uma mulher com cerca de 30 anos foi descoberto a flutuar na água, o de um homem entre os 20 e os 40 anos estava na praia, e sobre o terceiro de uma mulher não há informação. Um corpo foi encontrado

SOCIEDADE

podem “oferecer algumas pistas”, mas o especialista admite ser “difícil para pessoas que não estiveram envolvidas na investigação saber quanta informação havia”.

A Polícia Judiciária admite que, em cerca de metade dos casos, a causa da morte foi considerada desconhecida

na zona costeira da Taipa e outro, de uma mulher com cerca de 30 anos, nas águas do Porto Interior. Em todos os casos, os cadáveres foram encontrados sem identificação.

NÚMERO QUE SURPREENDE

Spencer Li, criminologista da Universidade de Macau, diz dar conta “deste tipo de casos nos jornais, de vez em quando”, mas mostrou-se “surpreendido” com o número total. O especialista salienta o facto de os corpos serem encontrados sem identificação, o

que pode justificar o número de mortes de “causa desconhecida”. “Que eu saiba, a grande maioria destes casos [de cadáveres encontrados na costa] não entra para as estatísticas oficiais como assassínios ou homicídios. Se um corpo é encontrado sem identificação ou outro tipo de informação que se possa seguir, a polícia pode eventualmente decidir não tratar os casos como homicídios e abandonar a investigação”, comenta. É possível ainda recorrer a elementos como “o relatório do médico legista ou provas forenses” que

Ressalvando que desconhece os casos em concreto, Li recorda padrões que podem explicar estas mortes: “É concebível que muitas das mortes tenham sido fruto de suicídios, talvez de jogadores que perderam grandes somas de dinheiro e o desejo de viver. Podem também ser imigrantes ilegais que perderam a vida no mar, ou vítimas de crime organizado ou de rua, que intencionalmente se desfaz deles para dificultar a investigação da polícia”. “São tudo especulações, podemos nunca saber a verdadeira causa destas mortes”, remata.


10

Moda DEPOIS DE

EVENTOS

Humor e horror

Exposição de Tim Burton chega a Hong Kong

E ´

o mundo fantástico de uns dos realizadores mas aclamados da actualidade. Depois de passar por várias capitais mundiais, é a vez de Tim Burton trazer, a Hong Kong, a sua magia. A exposição, que se traduz num espaço labiríntico, alberga nove galerias temáticas e explora transversalmente o trabalho do realizador num caminho que vai da infância ao agora aclamado Tim Burton. Em Hong Kong, apresenta cerca de 500 obras que incluem esboços e projectos completos, pinturas, storyboards e fotografias em grande formato de trabalhos tão conhecidos como “Eduardo Mãos de Tesoura”, “O Estranho Mundo de Jack”, “Batman”, “Marte Ataca!” ou “Ed Wood”, não descurando o que ficou de trabalhos nunca materializados em obra editada.

A retrospectiva de trabalhos de Tim Burton foi concebida pelo MoMA, em 2009, e depois viajou para as cidades de Melbourne, Toronto, Los Angeles, Paris e Seul. O “Mundo de Tim Burton” foi crescendo e a ele foram acrescentados mais 150 itens para mostrar. A exposição conta com a curadoria independente de Jenny He, em colaboração com a Tim Burton Productions, e está patente na ArtisTree até 23 de Janeiro do próximo ano com bilhetes que vão dos 180 aos 220 HKD.

O AUTOR

Timothy Walter Burton nasceu em 25 de Agosto de 1958, em Burbank, no sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Enquanto adolescente, dedicava-se ao desenho e à produção de curtas-metragens, como forma de se alhear do tédio. Em 1976, entrou no

California Institute of The Arts e, alguns anos depois, em 1979, entrou para a The Walt Disney Company, onde foi estagiário de animação. A carreira na sétima arte de Burton começou em 1985 na Warner Bros, com “As Grande Aventuras de Pe-wee”, “Beetlejuice” (1988) e “Batman” (1989), e a sua reputação enquanto autor de um estilo visual único foi conseguida com o sucesso de “Eduardo Mãos de Tesoura” (1990) e “The Nightmare Before Christmas” (1993). Ao longo da sua produção cinematográfica, Burton explorou os mais variados géneros, entre eles, a biografia em “Ed Wood” (1994), a ficção-científica em “Marte Ataca!” (1996), o terror com “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), a fantasia de “Big Fish” (2003), stop-motion com “A Noiva Cadáver” (2005), a literatura infantil em “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate (2005)” e o musical em “Sweeney Todd” (2007).

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA MUDANÇAS • Mo Yan

Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

Em Mudanças, Mo Yan descreve, na primeira pessoa, as alterações políticas e sociais no seu país ao longo das últimas décadas, num romance disfarçado de autobiografia, ou vice-versa. Ao contrário da maioria dos escritos históricos sobre a China, que se limitam a narrar acontecimentos políticos, Mudanças conta a história do povo, numa perspectiva mais intimista de um país em transformação. Avançando e recuando no tempo, Mo Yan dá vida à História, descrevendo com acutilância e muito humor os efeitos dos acontecimentos do dia-a-dia na vida do cidadão comum. “A haver um Kafka na China, talvez ele seja Mo Yan. Tal como Kafka, Mo Yan possui a capacidade de analisar a sua sociedade através de uma multiplicidade de lentes, criando transformações fantasistas ao jeito da Metamorfose ou evocando a burocracia entorpecedora e a crueldade despreocupada dos governos modernos.” - Publishers Weekly

A colecção final de curso do macaense Nuno Lopes de Oliveira mereceu destaque na Vogue britânica e na Elle italiana. Findo o curso e com a marca estabelecida na capital inglesa, Nuno Lopes de Oliveira quer trazer a marca para a sua terra natal através do estabelecimento de uma loja online

N

A cabeça de Nuno Lopes de Oliveira o mundo pode ser dourado e brilhante, mas ao mesmo tempo leve e descontraído. As roupas têm tons fortes, mas também podem ser associadas ao chamado estilo street wear. O macaense, que recentemente terminou o curso de Design de Moda na Universidade Middlesex de Londres, conseguiu que algumas peças da sua colecção final de curso aparecessem nas revistas Vogue britânica e Elle italiana, que ditam tendências e criam estilistas. Com a marca estabelecida em Londres, Nuno Lopes de Oliveira quer agora estabelecer-se na terra que o viu nascer e de onde saiu há dez anos para fazer a sua formação como estilista. Ao HM, o designer confessou que o estabelecimento da sua marca em Macau far-se-á através da criação de uma loja online, devido aos elevados preços das rendas. “Vou manter o meu negócio em Londres enquanto tento trazer a minha marca para Macau. Será difícil, mas vai valer a pena”, confessou. “Vim a Macau participar num

OS

evento de moda da Feira Internacional de Macau (MIF), mas o meu objectivo é fazer uma pesquisa no mercado local e da Ásia, e tentar expandir a minha marca. Continuo a ter o meu negócio em Londres, mas estou neste momento à procura de fábricas na China com as quais possa trabalhar para implementar a minha marca”, explicou. Londres, há muito uma das principais praças mundiais da moda, é um local mais fácil para Nuno Lopes de Oliveira começar uma carreira, mas a aposta na sua terra natal é para manter. “A atmosfera em Londres, na indústria da moda, é mais vibrante e há mais oportunidades. É mais fácil chegar aos estilistas e que eles cheguem até mim, mas em Macau isso não acontece. É esse o contraste que existe. Mas não quero estabelecer-me em Hong Kong só e deixar Macau para trás, porque sou de Macau. Tenho o meu negócio em Londres que serve de apoio e penso que as coisas podem funcionar em Macau”, apontou.

TECIDOS COM GLAMOUR

Enquanto não expande o seu trabalho, Nuno Lopes de Oli-

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

CRÓNICA DO PÁSSARO DE CORDA • Haruki Murakami

A obra-prima do maior escritor de culto da actualidade. Toru Okada, um jovem japonês que vive na mais completa normalidade, vê a sua vida transformada após o telefonema anónimo de uma mulher. Começam a aparecer personagens cada vez mais estranhas em seu redor e o real vai degradando-se até se transformar em algo fantasmagórico. A percepção do mundo torna-se mágica, os sonhos invadem a realidade e, pouco a pouco, Toru sente-se impelido a resolver os conflitos que carregou durante toda a sua vida. Este livro conta com uma galeria de personagens tão surpreendentes como profundamente autênticas e, quase por magia, o mundo quotidiano do Japão moderno aparece-nos como algo estranhamente familiar. «Murakami é um forjador de mitos para o milénio, dono de uma sábia pretensão.» - New York Times Book Review


11

DE LONDRES, NUNO LOPES OLIVEIRA QUER VER MARCA POR CÁ

hoje macau terça-feira 8.11.2016

EVENTOS

HOMENS DOURADOS O designer acredita que as suas peças apareceram em duas grandes revistas de moda porque soube fazer diferente. “O dourado faz-me lembrar Macau e a sua arquitectura”

M

ACAU recebe a partir de hoje mais uma extensão do festival de cinema documental DocLisboa, que integra a exibição de filmes produzidos na região. É a quarta vez que o território acolhe uma extensão da iniciativa e a segunda que a produção de documentários locais integra a mostra, numa iniciativa do Instituto Português do Oriente (IPOR) que,

DOCLISBOA PARA VER MACAU este ano, conta com a colaboração da APORDOC - Associação pelo Documentário, do Programa Académico da União Europeia em Macau, da Creative Macau e da Inner Harbour films. A mostra arranca precisamente com filmes locais, com “Boat People”, de Filipa

Queiroz (que fez parte da selecção oficial do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau de 2015 e do 2015 Global Impact Festival em Washington), “Under the Neon”, de Grace Kou e Shirley Cheong (vencedor do EU Short Film Challenge) e de “Come, the Light”, de Chao

Koi Wang (Best local Entry no Sound and Image Challenge 2015 de Macau e Best Short Film do 8.º Bushwick Film Festival). A extensão a Macau do DocLisboa 2015 prossegue depois, até ao dia 18, com a exibição de filmes que passaram pelo festival internacional de filme documental e outros, como “obras que exploram o património de Macau”, segun-

do uma nota de imprensa do IPOR. É o caso de «Chá Legendário», de Catarina Cortesão e Tomé Quadros, ou «Plantação em Terra de Desperdício», de Tracy Choi. As sessões decorrem às 18h30 no auditório do Consulado-geral de Portugal em Macau, com excepção de sábado, dia 12, dia em que há duas sessões, às 16h30 e 17h30.

veira garante que as peças de roupa que faz não são muito comerciais e são apenas feitas por encomenda. O designer macaense tem ainda contactos com várias celebridades, sendo que a socialite Paris Hilton usou uma das suas criações quando actuou em Macau como DJ. O designer acredita que as suas peças apareceram em duas grandes revistas de moda porque soube fazer diferente. “O dourado faz-me lembrar Macau e a sua arquitectura. O dourado faz-me lembrar a minha casa, então é como mostrar que tenho saudades de casa. O meu design tem tudo que ver com o meu estilo. Reflecte o lado glamoroso de Macau. O meu estilo é também uma mistura de alta costura com roupa de rua, e as colecções captam isso, algo diferente, porque eu não sigo tendências. A parte boa de ser designer é que podes criar algo diferente.” Referindo que em Macau “há muitos estilistas talentosos”, Nuno Lopes de Oliveira defende que é bom que existam apoios governamentais, para uma maior diversidade de projectos económicos. “O Governo tem vários apoios financeiros para os novos negócios, mas o que falta em Macau são oportunidades. No fim de contas, o foco acaba sempre por ir parar aos casinos, mas Macau pode ter uma maior diversidade. Tanto o Governo como as pessoas de Macau devem estar mais envolvidas em actividades culturais e isso iria levar Macau a tornar-se uma cidade mais diversificada.” A preparar uma nova colecção, Nuno Lopes de Oliveira gostaria de levar as suas peças à próxima Semana da Moda em Londres. A participação na Semana da Moda de Shenzen, no próximo ano, já está garantida. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


12 CHINA

hoje macau terça-feira 8.11.2016

PEQUIM SUBSTITUI TRÊS MINISTROS, INCLUINDO O DAS FINANÇAS

Novos protagonistas

O MAR DO SUL TAIWAN ANUNCIA MANOBRAS DE RESGATE HUMANITÁRIO

Taiwan vai realizar manobras de resgate humanitário no Mar do Sul da China, cuja soberania é reclamada pela China e vários países do sudeste asiático, anunciou ontem a Administração da Polícia Costeira de Taiwan. A operação visa converter a ilha Taiping, no arquipélago das Spratly, reclamado, total ou parcialmente, pela China, Filipinas, Malásia, Taiwan, Vietname e Brunei, num centro de resgate humanitário e de logística. As manobras servem também para melhorar a protecção aos barcos de pesca de Taiwan e a capacidade de combater o terrorismo no mar, disse a polícia costeira em comunicado. Taiwan controla a ilha Taiping desde 12 de Dezembro de 1946 e reclama 200 milhas de águas territoriais. Em Julho passado, porém, o Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, ditou que Taiping não é legalmente uma ilha, mas antes uma rocha, não tendo portanto direito a 200 milhas de águas territoriais.

órgão máximo legislativo da China aprovou ontem uma remodelação do Governo que substitui três ministros, incluindo o das Finanças, noticiou a agência oficial chinesa Xinhua. Lou Jiwei, 65 anos, era ministro das Finanças desde Março de 2013 e a Assembleia Popular Nacional apontou como seu sucessor Xiao Jie, de 59 anos e vice-secretário-geral do Conselho de Estado da China, informou a Xinhua, sem avançar com mais detalhes. Xiao, natural da província de Liaoning, no nordeste

Lou Jiwei, 65 anos, era ministro das Finanças desde Março de 2013 e a APN apontou como seu sucessor Xiao Jie, de 59 anos e vice-secretário-geral do Conselho de Estado do país, trabalhou durante quase 20 anos no Ministério das Finanças e ocupou o cargo de director da Administração Estatal Tributária desde 2007.

CONTRA O POPULISMO

Lou, que faz parte do Conselho de Administração do Banco Asiático de

Investimento em Infra-estruturas, tem sido um dos principiais interlocutores sobre a economia chinesa, a segunda maior do mundo. No mês passado, Lou advertiu para a ascensão de políticos populistas, com posições contra o livre comércio e a globalização,

PUB HM • 2ª VEZ • 8-11-16

ANÚNCIO 訴訟費用執行案 Execução por Custas

nº. CV3-11-0045-CAO-A _______________________________

第三民事法庭 3º. Juízo Cível

EXEQUENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO; -------------------------------------------------------------------EXECUTADO: HU QI KANG aliás WU KAI HONG, ausente em parte incerta, com última residência conhecida em Macau, na Rua Luís Gonzaga Gomes, s/n, Edif. “Kam Fung”, 8º andar H.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------*** FAZ-SE SABER que, no próximo dia 09 de Janeiro de 2017, pelas 15:00 horas, neste Juízo, nos autos acima identificados, vai ser vendido, por meio de propostas em carta fechada, o seguinte bem:----------------------------------------------------------------------------------DIREITO PENHORADO Denominação: Do direito de 1/3 indivisa da fracção designada por “AR/C”.--------------- Situação: Nºs 79 a 79-B da Rua Carlos Eugenio e nºs 15 a 19 do Beco do Penacho, Taipa, Macau.---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fim: Para comércio.----------------------------------------------------------------------------------------- Número de matriz: 040645. ------------------------------------------------------------------------------- Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: 11728, a fls. 136, do livro B31.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Direito inscrito na Conservatória do Registo Predial a favor de executado Hu Qi Kang aliás Wu Kai Hong.--------------------------------------------------------------------------------------------------- O Valor base da venda: MOP46,666,500.00 (Quatro Milhões, Seiscentas e Sessenta e Seis Mil, Quinhentas Patacas).------------------------------------------------------------------------------------*** São convidados todos os interessados na compra daquele bem a entregar na Secretaria deste Tribunal, as suas propostas, até ao dia 06 de Janeiro de 2017, pelas 17:30 horas, sendo que, o preço das propostas deve ser superior ao valor acima indicado devendo, o envelope da proposta conter a indicação de “PROPOSTA EM CARTA FECHADA”, bem como o “NÚMERO DO PROCESSO CV3-11-0045-CAO-A”.----------------------------------------- No dia 09 de Janeiro de 2017, pelas 15:00 horas, no Tribunal Judicial de Base da RAEM, proceder-se-á à abertura das propostas de preço superiores ao valor base de venda, a cujo acto podem os proponentes assistir.--------------------------------------------------------------------- Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referido, podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite.----------------------------------------------------------------------------------------------------Macau, 25 de Outubro de 2016

afirmando que estão a colocar a economia mundial em perigo. “Esta tendência de profundo populismo contra a globalização inspirou ‘slogans’ de campanhas de políticos que procuram conquistar o apoio e votos dos eleitores. Isto trouxe-nos até à incerteza”, afirmou, em Washington, no encontro anual dos ministros da Finanças dos países do G20. “Precisamos de reconhecer os riscos políticos nas campanhas eleitorais em alguns países e economias grandes”, acrescentou, no que a imprensa norte-americana considerou ser uma referência ao candidato republicano nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, Donald Trump, que se realizam esta terça-feira. A China anunciou ontem também a substituição do ministro da Segurança, que controla os tribunais, polícia e a polícia secreta do país, Geng Huichang, por Chen Wenqing, de 56 anos, que era responsável pelo órgão máximo de disciplina do Partido Comunista Chinês. Li Liguo foi substituído por Huang Shuxian como ministro dosAssuntos Civis.

APROVADA LEI DE SEGURANÇA NA INTERNET

A

Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão legislativo da China, aprovou ontem uma lei de segurança na Internet muito criticada por organizações empresariais estrangeiras e grupos de defesa dos Direitos Humanos. Segundo a agência oficial Xinhua, a lei visa “controlar, defender e gerir os riscos da cibersegurança e as ameaças internas ou vindas do estrangeiro, protegendo informação chave de ataques, intrusão, alterações e danos”. O texto completo ainda não foi difundido, mas empresas estrangeiras e organizações não-governamentais (ONG) reagiram já, com a Amnistia Internacional

(AI) a apelar ao Governo chinês para revogar a lei. Com base na proposta de lei, a AI diz que a normativa permite às autoridades reprimir a liberdade de expressão e privacidade. Segundo o rascunho, publicado há um ano, o Governo terá mais poderes para aceder a informação, obter registos de mensagens e bloquear a difusão de dados que considere ilegais. Os fornecedores de serviços ‘online’ devem armazenar os dados na China, enquanto os dados armazenados no estrangeiro, por motivos comerciais, devem “ser aprovados pelo Executivo”, refere uma das cláusulas.

O projecto de lei diz ainda que as “agências governamentais” poderão “emitir outras directrizes” adicionais para salvaguardar a segurança em indústrias que considera “chave”, como as telecomunicações, energia, transporte, finanças, assuntos de defesa nacional e militares ou de administração governamental. Organizações empresariais condenaram estas e outras cláusulas por alegadamente serem demasiado vagas e abertas a interpretações que podem resultar numa discriminação no acesso ao mercado. O projecto de lei foi apresentando no ano passado, numa altura em que Pequim e Washington trocaram acusações mútuas de ciberespionagem.


à conversa com

h ARTES, LETRAS E IDEIAS

hoje macau terça-feira 8.11.2016

13

António Conceição Júnior

Manuela de Sousa e a alquimia da jóia C

ONHECI a Manuela de Sousa em Macau, nos finais do anos 1980. Eu era Coordenador do Gabinete do Complexo Cultural de Macau e ela dava aulas de joalharia na Academia de Artes Visuais. Cedo as nossas famílias frequentavam-se mutuamente, as crianças brincavam juntas e eu apercebi-me das coisas belíssimas que a Manuela fazia. Nessa altura era ela a única em Macau formada em joalharia e depois de muito ver, de a ouvir falar com aquela ingenuidade e integridade que sempre nela conheci, entendi que ela merecia a consagração em Macau, não apenas dela, mas também da arte da joalharia, que até ali tinha sido coisa para as lojas de jóias em ouro e brilhantes. Acho que a exposição na Galeria do Leal Senado foi a sua consagração em Macau e, também a percepção de que a joalharia deveria ter um estatuto que até então não tinha. A minha recente visita a Lisboa proporcionou um reencontro e uma conversa que ficou agendada para este espaço. Manuela, como surgiu a joalharia na tua vida? Sempre pensei em fazer escultura, mas no ano em que comecei no Ar. Co, o curso de escultura não aceitava mais alunos e decidi não ficar à espera e inscrevi-me em Joalharia. O tempo foi passando e acabei por ficar.

Naquela altura a AR.CO do Manuel Costa Cabral tinha muita pujança? Quando começaste a expor? Foi difícil? Sim, o surgimento do Ar.Co em 1973 foi muito importante no panorama do ensino artístico em Portugal, como escola independente e aberta à experimentação. Em 1978 foi criado o Departamento de Joalharia do Ar. Co, pelas joalheiras Alexandra Serpa Pimentel e Tereza Seabra e à semelhança dos outros departamentos e também do que já se fazia em vários países da Europa, o ensino de joalharia tornou-se mais experimental e abriu novos caminhos no panorama da joalharia em Portugal. Macau foi muito importante para mim em termos pessoais e profissionais. Tive a oportunidade de criar a primeira oficina e os primeiros cursos de joalharia no território, na Escola de Artes Visuais que então pertencia ao Instituto Cultural de Macau passando mais tarde para o Instituto Politécnico de Macau. Foi em Macau que realizei as minhas primeiras exposições individuais, tendo sido a do Leal Senado

por teu convite. Quando regressei a Portugal continuei a expor regularmente quer em Portugal quer noutros países da Europa e também nos Estados Unidos da América.

arte menor, mas esta questão ainda não se encontra bem definida, havendo uma diluição nas fronteiras entre a Joalharia Contemporânea e as outras formas artísticas.

Em termos de público, em Portugal, achas que já se conseguiu uma aceitação da joalharia sem ser como arte menor, coisa que sempre me fez confusão? Em Portugal a Joalharia Contemporânea tem cada vez uma maior visibilidade, tendo para isso contribuído a abertura de galerias, a realização de exposições, conferências, workshops e através do intercâmbio entre artistas nacionais e estrangeiros. Em Setembro de 2004 foi criada a PIN, Associação Portuguesa de Joalharia Contemporânea, tendo eu feito parte da sua direcção. Esta associação tem tido um papel muito importante na divulgação da Joalharia Contemporânea. A Joalharia Contemporânea ou Joalharia de Autor já está a outro nível de entendimento que não o de uma

Entre as artes do fogo, a cerâmica e a joalharia sempre me atraíram muito. Sei que neste momento te especializaste numa verdadeira alquimia da jóia. Por favor elabora. A arte de trabalhar o metal (ourivesaria), tem muito de alquimia. Ao falar contigo sobre a forma como crio as minhas peças, apercebi-me que neste processo de criação há uma pesquisa e experimentação permanente, no sentido de materializar a minha ideia criativa. A vontade de aplicar a cor no meu trabalho levou-me desde há algum tempo a dedicar-me à aprendizagem de técnicas de coloração.

“A arte de trabalhar o metal (ourivesaria), tem muito de alquimia”

“Macau foi muito importante para mim em termos pessoais e profissionais”

Para quando uma página nas redes sociais para vendas ao público, única forma de partilha dada a um artista? E uma exposição em Macau? Tenho oferecido alguma resistência às redes sociais, mesmo que seja para divulgar ou vender o meu trabalho, não me vejo ainda agora nesse registo. Mas tenho o meu trabalho em galerias e em sites dedicados à divulgação da joalharia. Gostaria muito de voltar a expor em Macau.


14

h

hoje macau terça-feira 8.11.2016

Amélia Vieira

De Profundis A

arte como epístola deixou há muito de fazer sentido dado que todas as formas de comunicação directa nos distanciaram deste exercício quase lendário que em muitos recantos de nós nos deixam vivas saudades. Aquela espera, aquele interesse nas linhas que dizendo nos indicavam e escavavam coisas tão ilegíveis como proféticas, tão enaltecedoras quanto expectantes... Foi assim, nesta busca de signos esculpidos pelos dedos quantas vezes nervosos, que demos ao amor uma carga imensa e nos fomos fazendo seres da escrita no que ela tem de mais narrativo, sentido, oculto e registador. Estávamos tecendo a renda interna das nossas emoções e tentando dar-lhes o suporte perfeito de um conteúdo: muita gente debruçada em folhas de papel foi educando os sentidos e deles unindo todas as letras que reverberaram em uniões sentidas e mantidas pela vida fora, pois que nelas inscreveram vontades e tudo o que se escreve a outro adensa o registo do que a ela nos une. Foram lendárias as cartas, desde Abelardo e Eloísa, a Rilke e Salomé, a Soror Mariana, a Pessoa e Ofélia, em outro registo de Laranjeiro a Unamuno, elas foram tecendo o melhor da identidade literária não podendo por isso serem passíveis de esquecimento ou ficarem num reduto silenciado da matéria da escrita. E é exatamente nesta linha que a longa carta de Oscar Wilde a Lorde Douglas insere neste texto a matéria do discurso. Wilde, que até esta monumental carta tinha sido o arauto do «esteticismo» na defesa da arte pela arte, na medida em que é a vida que imita a arte e nunca a arte que imita a vida, banindo todo o comprometimento moral e social, dado que a inteira liberdade nada tem que justificar, alcança aqui a transcendência do grande desconhecido de si mesmo: dir-se-ia que é o seu legado de redenção este momento em que em golfadas de deslumbrante e dádiva vai expor a sua natureza religiosa abrangente e mística no enaltecer poético de um cristianismo que lhe desconhecíamos. E é aqui, que ele eleva Cristo à figura do grande poeta do mundo, da beleza de ser sem roupagens. Ele que na sua qualidade de antigo “dandy” chorou lágrimas amargas até à consciência que aqui nos presenteia. Vem esta célebre carta a um tempo de queda e dor e também de tudo aquilo que o despiu de si, que se inicia como todos sabem com uma acção judicial onde vai procurar defender-se da difamação contra o pai do seu amante, Alfredo Douglas, Marquês de Queensberry. Enceta a sua defesa, mas perde, é condenado a uma pena de prisão e Paris vai encontrá-lo na miséria absoluta. Mas neste estertor, neste desmantelamento de si, ele vai então fazer a obra que nos fascina. Ele vai recordar-se então de muitas passagens bíblicas, vai interligar os factos, enumerá-los, compreendê-los, quase incarná-los na sua desdita que enuncia numa estranha paz para quem passa por tão desconhecido tormento. Ao longo desta leitura vamos nós mesmo pondo em causa tanta coisa... despindo-nos de outras e, não raro, marejarmo-nos de lágrimas, pois não é a sua dor que

paradoxalmente ele fica maior, tão grande, que tudo mingua. Ele fala das feridas como se se psicanalisasse para melhor entender o mistério do mundo, ele diz: – eu fiz, eu dei-te, eu estava... – mas não se lhe nota tristeza, creio que nunca esteve tão lúcido e tão admirado face ao resultado do mundo. “Os deuses tinham-me dado quase tudo. Tinha génio, um nome reconhecido, uma posição social elevada, brilho, coragem intelectual: tinha feito da arte uma filosofia e da filosofia uma arte ... despertei a imaginação do meu século... resumi todos os sistemas numa frase, e toda a existência num epigrama... diverti-me a ser um flâneur, um vaidoso, um homem da moda... “Estou na prisão há quase dois anos. Agora encontro, escondido no fundo da minha natureza qualquer coisa que me diz que nada, em todo o mundo é sem sentido, e o sofrimento menos que qualquer outra coisa e essa qualquer coisa escondida no fundo da minha natureza é a Humildade.”

Não há aqui, nem ódio, nem punição, aos carrascos, ao destino, aos fados maus: apenas é gigantesco o narrar daquilo que foi amor e nos faz pensar na estranha maravilha de quem ama, daqueles que são por natureza amantes nos interessa mas a capacidade que tem ao superá-la pelo entendimento da perda. Não o reconhecemos, quase, naquela outrora e genial soberba, naquela garbosa e distinta imagem de si mesmo. Ficamos por instantes atónitos, quase que molestados por tanto desassombro e, com ímpeto difícil de entender, começamos a pensar que este inimigo que o levou ao fundo foi afinal um anjo salvador: entender isto é um acto de pura iluminação, saímos limpos desta carta como de um banho no Jordão. Não há aqui, nem ódio, nem punição, aos carrascos, ao destino, aos fados maus: apenas é gigantesco o narrar daquilo que foi amor e nos faz pensar na estranha maravilha de quem ama, daqueles que são por natureza amantes. Wilde não esconde que é frágil, que está só, que fora abandonado, mas é aqui que

Todas estas linhas são litúrgicas e, sendo a verdadeira «Carta aos Coríntios», não deixa de ser também dirigida a cada um de nós, que julgamos e estigmatizamos, que procuramos a culpa e os culpados, que nas formas mais naturais de ser só somos enquanto emitirmos opinião e dela fizermos alarde. É uma carta aos Douglas escondidos em cada um de nós, tentando comer a presa gigante e derrubá-la por leviandade; a nós, cujos dons desconhecidos nos fazem enveredar pela protecção alheia, por isso tem duas leituras intensamente vividas em ambos os sentidos. Ele diz que embora Cristo não tenha dito aos homens «Vivei pelos outros», afirmou que não havia diferença entre as vidas dos outros e a nossa e que por isso mesmo deu ao homem uma personalidade titânica. Não sei se Douglas alguma vez a leu, talvez isso seja o mais irrelevante, pois não seria este Wilde aquele que lhe interessava , mas caso a tivesse lido, como foi a sua vida a partir de então?! Não se nos ocorre dizer muito, de algo que diz tudo, porque dizer de algo assim, é quase nada, é uma demostração de rotina linguística que pode até fazer o efeito contrário e, também, ainda não há exegetas literários em matéria de texto público... mas, detemo-nos a tentar, talvez ousadamente, neste algo em que a tentação foi para sempre banida. “Estava preso e era pobre, restava-me uma coisa bela: o meu filho! Subitamente, ele foi-me tirado pela lei, cai de joelhos, inclinei a cabeça e chorei. Encontrei a alma intacta como a de uma criança e entendi o que Cristo, enfim, dissera.” Uma carta para a Eternidade. Uma carta que não se diz. Não será com as cartas aos «Coronéis» que manteremos vivas as epístolas, nem sabotando o receptor que lhe iniberemos o gosto por outras leituras. Aqui, não há patentes, e fica patente, que o que se disser, não regista o que ela tão brilhantemente nos anunciou.


15 hoje macau terça-feira 8.11.2016

TEMPO

C H U VA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente

?

FRACA

MIN

20

MAX

28

HUM

70-95%

EURO

8.83

BAHT

O CARTOON STEPH

ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

PROBLEMA 116

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 115

Cineteatro

C I N E M A

TROLLS SALA 1

SALA 3

Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 14.30, 16.45, 21.30

FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 14.15, 16.00, 19.30

DOCTOR STRANGE [B]

DOCTOR STRANGE [B] [3D] Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 19.15 SALA 2

INFERNO [B] Filme de: Ron Howard Com: Tom Hanks, Felicity Jones, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

TROLLS [A]

UM LIVRO HOJE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” MACAU E LUSOFONIA AFRO-ASIÁTICA EM POSTAIS FOTOGRÁFICOS Arquivo de Macau (até 4/12)

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)

YUAN

1.18

O SILÊNCIO ENSURDECEDOR

DE

EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)

0.22 AQUI HÁ GATO

VAFA - SALÃO DE OUTONO Casa Garden EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha

(F)UTILIDADES

Sabe aquela sensação de estar numa ilha deserta e não saber o que se passa à volta? Eu não sei, mas tenho uma ideia só de estar em Macau. Temos todo um mundo político a acontecer à nossa volta: é um Presidente filipino louco que diz que mata pessoas e ainda é apoiado, é toda a China com coisas a acontecer e que até nos dá oferendas, qual pai que garante o futuro do filho primogénito. É Hong Kong aos gritos e gás pimenta – alguém sabe o que é gás pimenta em Macau? Por aqui tudo está tranquilo. Os bancos funcionam, há cheques para todos e os casinos estão cheios. Por que nos devemos preocupar? Porque o silêncio, caros amigos, incomoda. Faz tanto barulho às vezes que ninguém o pode ouvir. O silêncio impera em Macau, há meia dúzia de gatos pingados que tentam entrar na política, mas continua a faltar a génese da coisa. O nosso hemiciclo necessita de uma reforma urgente, e não falo sequer do sistema, porque esse não muda, porque não muda e acabou a conversa. Coloquem lá caras novas, por amor de Deus. Seja no directo ou indirecto, ou mesmo nos nomeados, ponham lá novas gerações que digam alguma coisa que represente as pessoas. Não andamos aqui a brincar. Chega de Fong Chi Keong e companhia. Pu Yi

A LOUCURA | MÁRIO DE SÁ CARNEIRO

A loucura é um romance que relata a história de Raúl Vilar, um ser particular a quem as pessoas, no geral, chamavam de louco. Um homem que apoderado pela culpa da traição e levado pelo desespero inicia um rol de acções que apenas a alguém que não estivesse no seu “perfeito juízo” poderiam ser atribuídas. Mas, não é o desespero tantas vezes camuflado pela palavra fácil da loucura? Um livro que se lê de uma assentada e que se relê ao mesmo ritmo. Sofia Mota

TROLLS [A] [3D] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 17.45

JACK REACHER: NEVER GO BACK [C] Filme de: Edward Zwick Com: Tom Cruise, Cobie Smulders, Danika Yarosh, Austin Hebert 21.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


16 OPINIÃO

hoje macau terça-feira 8.11.2016

A era das mudanças radicais

A

tecnologia inovadora está a mudar o mundo. A transformação é violenta, implacável e está a acontecer em todas as organizações. É uma nova era tecnológica com incrível potencial para alterar a vida quotidiana das sociedades, e as concepções económicas e políticas que prevaleceram até ao presente. As grandes mudanças de tecnologia terão impacto em três elementos, que são a sociedade, a política e a economia, e que irão mudar drasticamente a nossa vida e o mundo. Por exemplo, são de realçar marcos importantes, como a queda do comunismo, a “Grande Recessão de 2008”, a rápida ascensão do “Estado e Exército Islâmico”, o aparecimento do “Trumpismo” que não é alternativa a nada, segundo Paul Krugman, e o processo que terminou com o “Brexit”. Se nos concentrarmos no futuro, descobriremos cinco megatêndencias que terão um enorme poder de transformação, sendo a primeira o surgimento de robots, de uma outra forma de inteligência artificial, capazes de ocupar postos de trabalho, e executar actividades a velocidades sem precedentes, e que apenas era possível ser desenvolvida por seres humanos. A segunda será a subida incontrolável do nível das águas nos oceanos que submergirão as zonas costeiras. A terceira será a descoberta de outras manifestações de vida primitiva em todo o universo. A quarta serão partidos extremistas de direita capazes de tomar o poder em vários países da Europa, criando um grave prejuízo à ideia estabelecida de democracia e a quinta conduz à interrogação sobre o que aconteceria se o Irão desenvolver equipamentos bélicos nucleares? Quiçá as duas últimas megatêndencias pequem gravemente por exagero, ou talvez não, pois tudo depende de uma questão de perspectiva. Os robots fazem o trabalho, sendo que o custo da sua produção foi reduzido substancialmente, e são considerados especialmente úteis na indústria automóvel, onde começaram por ser utilizados, mas actualmente são usados praticamente em todas as indústrias, não apenas nos Estados Unidos e Europa, mas também com crescente rapidez, no Sudeste Asiático. O que inquieta é a velocidade a que é feita a deslocação humana, e que irá acontecer muito em breve na economia, em doses

elevadas, e não em um futuro distante. Os robots para além de realizarem muitas tarefas que são efectuadas por trabalhadores, estarão em condições de substituir muitos líderes e gestores, e de ocupar posições no campo dos serviços. É o bilhete-postal que intimida a larga classe média em todos os países, que prevê dramáticas consequências laborais para os seus empregos. O novo cenário laboral alterará substancialmente a forma como serão distribuídos os benefícios sociais. ALEX GARLAND, EX MACHINA

“There are times in politics when the Black Swan shows up; when a highly unlikely, highly improbable event shatters years’ worth of assumptions.” What If Trump Wins? Sometimes voters do break the rules Jeff Greenfield

As reformas, pensões e prestações de saúde são pagas através dos empregos actuais ou de pretérito. Quanto à subida do nível do mar, está cientificamente provado que o aquecimento global é real, mas com nuances. O aquecimento global cria violentas tempestades e alterações nos padrões climáticos em todo o planeta, bem como, o permanente aumento do nível dos oceanos e mares, tendo como resultado a existência de águas mais quente e o derretimento das plataformas de gelo no oeste da Antárctida, especialmente na Groenlândia.

Prevê-se que o aumento do nível do mar quadruplique, em 2100, o que agravará o problema, pois convém recordar que nas últimas décadas, milhões de pessoas se deslocaram do interior dos continentes para as zonas costeiras, numa migração contínua, para viverem próximo do mar, bem como aproveitar as vantagens das grandes cidades nas margens dos mares. Actualmente, existem seiscentos milhões de pessoas que vivem em áreas que são periodicamente inundadas. É de recordar que 40 por cento


17 hoje macau terça-feira 8.11.2016

OPINIÃO perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

da população dos Estados Unidos vive em zonas costeiras de alta concentração urbana, onde o mar avança impiedosamente e produz a erosão marinha. A nível global são muitas as cidades que estão em grave risco como Nova Iorque, Boston, São Francisco, Miami, Amesterdão, Veneza, Cidade do Cabo, Tóquio, Xangai, Hong Kong e São Petersburgo. O custo de realojamento de milhões de americanos que serão afectados em um futuro próximo pela subida das águas será de catorze milhões

de milhões de dólares, segundo um recente estudo do “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em língua inglesa) ”. Acresce ao actual fenómeno os milhões de refugiados devido às guerras e conflitos armados nacionais e regionais, fome, secas e inundações. Existirá uma nova classe de refugiados em todo o mundo, que serão os deslocados das zonas costeiras. A vida em outras partes do universo não está relacionada com ameaças ambientais, sociais ou mesmo políticas. Está relacio-

nada com questões existenciais básicas. O progresso científico e industrial faz que o conhecimento científico esteja cada vez mais disponível, a aceitar que a vida não se limita ao planeta Terra, e que pode existir em muitas outras partes do vasto universo. É conhecida a existência de água, calor e químicos orgânicos em grande quantidade fora do sistema solar. Os cientistas acreditam fortemente, por estas razões, que a raça humana está próxima de confirmar que existem condições de vida em muitas partes do universo. Prevê-se que essa confirmação se dê nos próximos dez a vinte anos. Não se trata de extraterrestres, pois essa convicção refere-se a pequenos microrganismos. A comprovação da existência de vida em outros planetas levará a abandonar uma visão centrada na Terra, que tem dominado a história da humanidade e todos os seus pensamentos. Os especialistas em política externa, durante muitas décadas, assumiram o facto de que o comunismo estava entrincheirado na ex-União Soviética e na Europa. Os líderes desses países construíram poderosos estados autoritários que monitorizavam os cidadãos, puniam os dissidentes e mantinham os seus partidos políticos no poder. Alguns académicos pensavam que esses regimes tinham contradições internas que os levariam à sua inexorável morte, mas tais profetas eram vistos como opositores, e não eram levados muito a sério, pelos principais líderes de opinião. Quando o Muro de Berlim caiu em 1989 e a União Soviética se dissolveu dois anos depois, a política interna e as economias de quase vinte países da Europa Central e da Ásia Central foram transformadas, suspendendo as alianças políticas em todo o mundo. Os principais investidores financeiros ficaram chocados em 2008, quando as principais instituições financeiras da Wall Street entraram em colapso, e uma grande recessão se desencadeou. Os bancos Bear Stearns e Lehman Brothers fecharam as suas portas, os mercados de acções em todo o mundo perderam metade do seu valor, e muitos bancos cessaram de conceder crédito. Durante décadas ninguém poderia conceber a possibilidade de outra Grande Depressão, o mundo de repente viu-se perigosamente próximo de um colapso financeiro global. O impacto económico devastador desencadeou a ira pública contra as grandes instituições financeiras e governos, e agravou a situação difícil da classe trabalhadora em muitos países. A maioria das pessoas no mundo ocidental foi apanhada de surpresa em 2014, quando um grupo de combatentes muçulmanos se auto denominou de “Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS na sigla em língua inglesa) ou (Daesh na sigla em língua árabe) ”, proclamando um califado, depois de tomar o controlo de grandes partes do Iraque e da Síria, e estabeleceu um império teocrático liderado por uma única figura religiosa e

política, parecia algo de medieval para a maioria do mundo, e os líderes do ISIS pouco fizeram para dissipar essa impressão, quando os seus seguidores começaram a decapitar publicamente reféns e a queimar vivos os adversários. O mundo interrogava-se como era possível existir esse tipo de barbárie na era da globalização, cosmopolitismo secular e extraordinário progresso científico. A população do Reino Unido, em 2016, confundiu os analistas e políticos ao votarem por 52 por cento contra 48 por cento o abandono da União Europeia (UE). Nas semanas que antecederam o referendo, as autoridades financeiras e diplomáticas alertaram sobre as terríveis consequências para a estabilidade fiscal, crescimento económico e comércio internacional se a saída fosse aprovada, mas sob uma onda de sentimentos nacionalistas e anti-Bruxelas, os eleitores apoiaram a saída da UE e um futuro independente para a Grã-Bretanha.

“Vivemos uma era onde os maiores eventos ocorrem numa base aparentemente regular, implicando mudanças dramáticas nos fenómenos sociais, económicos ou políticos” O movimento assustou o bloco comunitário, levando a uma venda dramática da libra inglesa, e agitou os líderes financeiros e políticos em todo o mundo. O acaso não origina a mudança em grande escala que está a ocorrer no período contemporâneo. Muitas das crenças e instituições que ancoraram os assuntos internacionais e domésticos tornaram-se fracas. Os maremotos políticos ocorreram em muitas partes do mundo. Vivemos uma era onde os maiores eventos ocorrem numa base aparentemente regular, implicando mudanças dramáticas nos fenómenos sociais, económicos ou políticos. Essas alterações podem incluir perturbações económicas, transtornos políticos ou conflitos sociais, entre outras situações. Qualquer um deles pode gerar ramificações que ultrapassam a pequena escala, mudanças graduais que tipificaram historicamente muitos desenvolvimentos societários. Ainda que a extensão e o ritmo da mudança pareçam excepcionalmente dramáticos, a época actual não é a primeira a mostrar evidências de mudanças em larga escala. Ao longo da história, impérios e civilizações apareceram e sucumbiram com regularidade. As nações cresceram em importância e depois entraram em colapso, devido a desafios económicos, invasões estrangeiras, conflitos internos ou desastres naturais.


18 OPINIÃO

hoje macau terça-feira 8.11.2016

macau visto de hong kong

Abusos sexuais e dúvidas razoáveis a lei impõe critérios muito elevados para que seja estabelecida prova num processo criminal. Estabelecer prova “para além de toda a dúvida razoável”, como o seu nome indica, quer dizer que a prova deve resistir a todas as dúvidas razoáveis apresentadas, e só assim o réu será considerado culpado. Esmiuçando um pouco mais; conclui-se que o réu só pode ser condenado, quando e se, a Acusação conseguir responder a todas as perguntas, razoáveis, bem entendido, que lhe tenham sido colocadas. É óbvio que, como neste caso, não se conseguiu estabelecer o motivo do aparecimento no mesmo lenço de papel, de vestígios de sêmen de Cheung e de ADN de X, “para MARTIN SCORSESE, CAPE FEAR

H

Á cerca de duas semanas, foi notícia em Hong Kong um caso de abuso sexual envolvendo Cheung Kin Wah, ex-presidente da sucursal de Kwai Chung, dos Lares de Assistência (para pessoas com deficiência). O caso ocorreu em 2013. Cheung terá tido relações sexuais com uma pessoa com deficiência mental, aqui designada por X. Segundo a Associação Americana da Deficiência Cognitiva e do Desenvolvimento, o termo “deficiência cognitiva” aplica-se quando o coeficiente de inteligência é significativamente inferior à média do escalão etário do individuo. O artigo fazia saber que fora encontrado no escritório de Cheung um lenço de papel com vestígios do seu sêmen e com ADN de X. Cheung alegou em sua defesa que o sêmen encontrado no lenço de papel tinha sido resultado de um sonho erótico que, pelos vistos, terá tido no escritório. Quando X chegou ao escritório, mexeu no cesto dos papéis quando deitou fora um pacote de leite de soja e, por isso, o seu ADN foi parar ao tal lenço de papel. Afirma que todo este processo durou apenas dois minutos. Inicialmente o Ministério Público de Hong Kong tinha decidido processar Cheung, mas as acusações acabaram por ser retiradas pelo Secretário para a Justiça. O Secretário para a Justiça é o chefe do Departamento Legal do Governo da RAEHK. De acordo com o artigo 63 da Lei Básica de Hong Kong, ao detentor deste cargo cabe, em exclusivo, a decisão de levantar um processo crime. Desta forma, Cheung ficou ilibado de qualquer processo criminal. E porque é que o Governo agiu desta forma? Porque a vítima sofre de “Síndrome de Stress Pós-Traumático” (SSPT). Devido ao SSPT e ao défice cognitivo de X, o Governo não conseguiu reunir provas acusatórias. Ou seja, a polícia encontrou no mesmo lenço de papel, sêmen de Cheung e ADN de X, mas não conseguiu estabelecer de forma irrefutável o motivo da descoberta. Se a polícia não consegue apontar um motivo, então o modelo legal que suporta um caso criminal – prova sustentada para além de toda a dúvida razoável –não se configura. “Para além de toda a dúvida razoável” é a fronteira que marca a abertura de um processo criminal em Hong Kong. É como num exame, se o estudante conseguir uma nota 10, passa. Se as provas que se reuniram contra o réu provarem ser verdadeiras “para além de toda a dúvida razoável”, o réu será condenado, e vice-versa. Na medida em que os meios do Governo da RAEHK são muito superiores aos do vulgar cidadão,

além de toda a dúvida razoável”. Desta forma, o processo criminal não resistiria à prova do Tribunal. Segundo a opinião de seis médicos, X foi considerada totalmente incapacitada para depor em Tribunal. Sem alternativas, o Secretário para a Justiça abdicou de acusar Cheung. A lei criminal de Hong Kong é diferente da de Macau. Se o réu ganhar o caso, pode pedir uma indemnização ao Governo. Como Cheung não foi acusado, pôde pedir o reembolso das custas legais. Mas o juiz rejeitou a petição, afirmando, “Não o vamos reembolsar das custas legais e, além disso, teve o senhor muita

DAVID CHAN

sorte por o Governo da RAEHK não ter podido estabelecer prova suficiente para o levar a Tribunal.” O caso voltou a dar que falar quando o pedido de reembolso foi rejeitado. A decisão de retirar a acusação criou grande celeuma em Hong Kong. Em geral as pessoas consideram que não se fez justiça a X, que não se cuidou dos seus direitos, particularmente no que à Justiça diz respeito. Em resposta a estas inquietações, o Secretário para a Justiça apresentou, no seu website, as suas razões para não levar por diante o caso contra Cheung. A principal é a, já bastamente citada, incapacidade de X de depor em Tribunal, de forma a poder explicar-nos como é que o sêmen de Cheung e o seu ADN se encontraram no tal lenço de papel. O Secretário para a Justiça ainda adiantou que vai considerar a revisão dos procedimentos legais em casos que envolvam pessoas com deficiência cognitiva.

“É bom saber que pode estar a ser considerada a revisão dos procedimentos legais em casos criminais que envolvam pessoas com défice cognitivo” Quer o Secretário para a Justiça venha um dia a acusar Cheung, ou não venha, o certo é que não se livra das críticas populares. Se decidir não acusar, como decidiu, as pessoas reclamam de injustiça contra X. Mas se decidir acusar Cheung, a reclamação tomará outra forma, passará a ser acusado de obrigar uma deficiente a depor em Tribunal. Vão dizer que obrigou X a reviver aqueles momentos terríveis, e obrigá-la a expor-se publicamente. Que não teve em conta os seus sentimentos, etc. Ao tomar uma decisão, o Secretário para a Justiça terá de estabelecer um equilíbrio entre o interesse de X e o que a sociedade de Hong Kong considera justo. É sem dúvida uma decisão difícil. Quer se seja a favor ou contra a presença de X em Tribunal para depor, a decisão do Secretário para a Justiça está tomada. Em Hong Kong, ninguém tem o direito de desafiar uma decisão tomada pelo detentor deste cargo. No entanto é bom saber que pode estar a ser considerada a revisão dos procedimentos legais em casos criminais que envolvam pessoas com défice cognitivo. É a única solução para estas situações. De alguma forma, nas suas declarações, o juiz que recusou o reembolso das custas legais a Cheung, salientou o essencial. Cheung pode considerar-se feliz por não ter sido acusado. Esperamos sinceramente que casos destes não se voltem a repetir em Hong Kong. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau


19 hoje macau terça-feira 8.11.2016

sexanálise

América

PAUL HENNING, THE BEVERLY HILLBILLIES

TÂNIA DOS SANTOS

N

ÃO posso deixar de constatar o óbvio. O juízo final está para muitíssimo breve, as presidenciais americanas estão finalmente aí. Não fossem os EUA das maiores potências mundiais e as presidenciais não nos interessariam um chavo, mas interessam... e muito. O resultado interessará além fronteiras porque as consequências irão além fronteiras, ainda que um deles queira fazer um ‘muro’. Nos últimos meses temos assistido à desgraça de campanhas políticas que têm surpreendido (negativamente) o mundo inteiro. No fundo, os americanos terão que escolher um de dois males. As agendas democratas e republicanas estão definitivamente lá, levada a esteróides por duas personagens com comportamentos e ideias muito distintas. Surpreendentemente ou não, o sexo veio muitas vezes à baila e foi ferozmente discutido, seja ele levado por políticas públicas ou pela misoginia de certos candidatos. Talvez em qualquer outra eleição presidencial o sexo não estivesse tão presente, mas desta vez foi diferente. Falamos de dois candidatos: um homem e uma mulher. Claro que ter uma ‘presidenta’ eleita para representar a grande potência económica é um passo gigante para a forma como as mulheres são representadas e o movimento feminista, mas acho que todos nós concordamos que isso não pode ser a única razão. Não se vota com a vagina. Ponto. Mas muito menos se aceitam comentários machis-

“Sim, há motivos para ficarmos preocupados. Por um lado temos uma mulher a carregar Wall Street ao colinho e por outro temos um homem que merecia experienciar a ira das senhoras que passam por tamanha misoginia e machismo” tas onde uma candidata é reduzida ao cliché feminino de fragilidade, ou pelas palavras do opositor ‘falta de stamina’. O outro candidato é de uma imbecilidade já familiar – já estamos cansados de o ouvir. Mas não sou capaz de deixar de relembrar a pura misoginia que o indivíduo tem tão levianamente espalhado, sem grandes consequências à sua popularidade. Como é que as contínuas denúncias de assédio sexual, como é que palavras, comentários e actos de desrespeito contra mulheres (e a que o mundo foi testemunha) não fazem fraquejar a sua posição? O mistério pode ser desvendado se nos depararmos com uma América pequena que pratica exactamente o que este sujeito de cabelo amarelo pratica: ignorância. Eis um exemplo: ‘Os bebés são arrancados do útero das mães dias antes do parto’. Esta é a fala quasi-verbatim proferida no último debate em reposta ao facto da mulher ‘da parada’ ter votado a favor de mais e melhores apoios para quem decidisse pelo aborto. O tópico é bem polémico, é certo, mas não significa que a discussão possa ser feita à toa sem qualquer conhecimento sobre o procedimento. No fundo pretende-se chocar os que são contra a prática com pormenores gráficos de fetos mortos antes de tempo, sem de facto saberem que isso é mentira. Mas o que importa? Há que ‘castigar’ as mulheres que o façam anyway. Ainda deste mesmo candidato, ainda há pouco tempo ‘saiu’ um vídeo de 2005 onde

ele explica como gosta de tratar as mulheres ‘eu beijo-as, agarro-lhes a c***, eu posso fazer tudo que quiser’. Para além de que as mulheres são gordas, porcas e animais nojentos. Não interessa o que as mulheres escrevem, desde que tenham um pedaço de rabo apetitoso. As mulheres devem ser tratadas como galdérias. A fulana é feiosa ou beltrana é gorda. E este é o dia-a-dia do candidato republicano. Não será de estranhar que ele era (já não é) o dono da maioria dos concursos de beleza, não fossem estes concursos o enaltecer da objectificação do sexo feminino. As alterações propostas por ele foram basicamente diminuir o tamanho dos fatos de banho e aumentar o tamanho dos saltos altos para serem usados pelas candidatas, e humilhar grandemente quem ele não achasse bonita e que não tivesse as proporções correctas. Por isso, sim, há motivos para ficarmos preocupados. Por um lado temos uma mulher a carregar Wall Street ao colinho e por outro temos um homem que merecia experienciar a ira das senhoras que passam por tamanha misoginia e machismo. Porque parece-me deveras preocupante que ele nem tenha vergonha ou filtro social para perceber que esta forma de tratamento é atípica no séc.XXI, e absolutamente ofensiva para as mulheres (e todas as outras pessoas que ele tem ofendido nos últimos meses). Mas seja o que o povo americano quiser. Resultados, tarda quase nada.

OPINIÃO


Mantenha a sua liberdade trancando-se em casa! ...longe das câmaras à sua vigilância!! $

terça-feira 8.11.2016

Atlântido

EI DERROTA EM MOSSUL PODE LEVAR A MAIS ATENTADOS

Perigo iminente

A

S sucessivas derrotas do Estado Islâmico durante a ofensiva sobre Mossul deverão levar a mais atentados na Europa como resposta, avança o jornal espanhol ABC, que cita fontes dos serviços de inteligência de Espanha. Desde o início da ofensiva liderada pelo exército iraquiano, que visa tomar o controlo do último bastião do Estado Islâmico no Iraque, a organização terrorista já perdeu cerca de 40% do território que tinha sob controlo, informa o Observador. “O Estado Islâmico necessita que aconteçam coisas, e a cada dia há mais elementos concretos em cima da mesa que apontam para que se esteja a preparar um ataque”, asseguram fontes dos serviços de inteligência e informação ao ABC. O último sinal foi a mensagem enviada pelo líder da organização, Abu Baker al-Baghdadi, aos combatentes, em que apelou aos militantes que resistam aos “ímpios”, que “causem estragos na sua terra” e que façam o “seu sangue correr como rios”. “Os objectivos mais previsíveis seriam as multidões desprotegidas, e como se viu em Nice nem sequer é necessário que o terrorista leve armas para causar um grande dano, basta ter a determinação necessária”, esclarecem as mesmas fontes, sublinhando que os alvos preferenciais serão recintos como estádios, teatros, concertos ou meios de transporte. Até que isso aconteça deverão passar alguns

cómodo ali e não é realista pensar que vai desaparecer daquela zona de todo, mesmo que formalmente se controle todo o país”. Depois, há ainda o objectivo de fundo da organização, que sempre foi manter aquele território como base e expandi-lo “para a Europa ocidental, Líbia, Afeganistão, Mali”.

EXPERIÊNCIA DE MORTE

Especialistas dos serviços de inteligência de Espanha admitem que há cada vez mais sinais que apontam para uma resposta na Europa do Estado Islâmico à derrota em Mossul anos, continuam as fontes ouvidas pelo jornal espanhol. “Parece que se dá por recuperada a cidade de Mossul, quando essa operação não vai ser rápida, nem limpa nem agradável”.

Apesar de este ser o cenário previsível, “há que ter em conta várias outras coisas”. Primeiro, porque o Estado Islâmico “não quer sair da Síria por razões religiosas, políticas e ideológicas”, visto que “está muito

Certo é que não é possível derrubar o Estado Islâmico apenas com um combate militar, porque a base da organização é religiosa. Como recorda o ABC, o derrube da Al Qaeda também foi anunciado pelos Estados Unidos, mas a verdade é que o grupo ainda existe e controla alguns territórios no Médio Oriente e em África. É este o destino que os especialistas prevêem para o Estado Islâmico: que se transforme numa organização clandestina, que sobrevive ilegalmente num outro regime. E, actualmente, os extremistas levam uma vantagem: muitos vieram dos serviços secretos iraquianos, antes de se radicalizarem, e “sabem o que pensam, quais vão ser os seus passos seguintes, e antecipam a resposta”. As fontes dos serviços de inteligência ouvidas pelo ABC asseguram: “Têm uma profundidade estratégica bestial”. Esta queda do Estado Islâmico vai representar uma grave ameaça para a Europa: os mais de três mil combatentes da organização provenientes dos países ocidentais deverão regressar aos seus países de origem, muitos deles ainda radicalizados. Estes combatentes retornados levam uma grande experiência de morte e de luta, e, sobretudo, levam os ideais da organização bem fixados, o que os torna num perigo iminente para as cidades ocidentais em que se instalarem.

FILIPINAS DUTERTE CANCELA COMPRA DE 26.000 ARMAS AOS EUA

O

PUB

Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, anunciou ontem que cancelou a compra de 26.000 espingardas para a polícia filipina aos Estados Unidos. Duterte declarou a sua intenção de procurar outro fabricante que tenha espingardas com a mesma qualidade e mais baratas

durante um discurso numa cerimónia no Palácio Presidencial de Malacañang, em Manila, segundo a cadeia de televisão GMA. O chefe de Estado filipino tinha falado, nos últimos meses, na possibilidade de comprar armamento à China ou à Rússia como alternativas aos Estados Unidos.

A outrora sólida relação entre as Filipinas e os Estados Unidos atravessa um período delicado desde o início do Governo de Duterte, que tem pela frente um mandato único de seis anos (2016 a 2022). O Presidente filipino lançou - no mesmo dia de assumiu o cargo, a 30 de Junho - uma campanha

nacional contra as drogas, que causou até ao momento a morte de 4.791 pessoas, 1.790 das quais em operações policiais e outras 3.001 às mãos de grupos civis auto-denominados “justiceiros”. O Governo dos Estados Unidos, assim com a ONU e a União Europeia, criticaram reiteradamente

as violações dos direitos humanos que se cometem nessa campanha. Duterte não recebeu bem as críticas e chegou a ameaçar retirar o país das Nações Unidas, além de ter virado a sua política externa para a China.

SEUL EM ALERTA FACE A EVENTUAL MÍSSIL DE PYONGYANG

O exército sul-coreano está em alerta perante a possibilidade de a vizinha Coreia do Norte lançar um míssil balístico de médio alcance coincidindo com a realização das eleições presidenciais norte-americanas esta terça-feira. “O exército sul-coreano aumentou a sua vigilância sobre a Coreia do Norte perante a possibilidade de uma nova provocação motivada pelas eleições dos Estados Unidos”, disse ontem à agência de notícias Efe um porta-voz do Ministério de Defesa de Seul. As forças armadas sul-coreanas acreditam que o regime de Pyongyang poderia aproveitar as eleições para enviar uma mensagem ao próximo inquilino da Casa Branca a propósito da sua intenção de continuar a desenvolver projécteis balísticos e armas atómicas, apesar da condenação internacional e das sanções. O porta-voz militar sulcoreano confirmou que as forças norteamericanas estacionadas na Península da Coreia também vigiam de perto a Coreia do Norte nestes dias.

BENFICA VALÊNCIA VOLTOU A AVALIAR GUEDES

Gonçalo Guedes, atacante de 19 anos, esteve novamente na mira do Valência, de Espanha, que está muito interessado no jogador e ameaça avançar para a contratação já em Janeiro. Informações recolhidas em Espanha indicam que técnicos do Valência fizeram quatro observações a Guedes na presente época, duas na Liga dos Campeões e outras tantas na Liga, pelo que ontem terá sido a quinta oportunidade de analisar detalhadamente o avançado das águias. Guedes está também a ser notícia em Valência por estar a valorizar demasiado para os cofres do emblema espanhol.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.