Hoje Macau 8 MAR 2016 #3768

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QUARTA-FEIRA 8 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3768

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hojemacau

TIAGO FIGUEIREDO

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

SÉRGIO GODINHO

Brilhozinho nos olhos AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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ENTREVISTA

JAMES WONG | VENEZA

SONHOS MEUS EVENTOS

MACAU | OLÍMPICOS

Instituto de poucas palavras PÁGINA 5

CASINOS

h

Mulheres Primavera e Picasso com vida Desejos de mais luz difícil JULIE O’YANG

PÁGINA 7

JOÃO PAULO COTRIM


2 ENTREVISTA

SÉRGIO GODINHO MÚSICO E ESCRITOR

Regressar a cidades onde já se esteve é ter a sensação de que o mundo não é só a nossa casa. Sérgio Godinho está a caminho de Macau, desta vez como romancista, para participar no festival Rota das Letras. Ainda em Lisboa, contou ao HM como nasceu o primeiro romance, que relação é esta com um novo tipo de escrita, e falou do disco novo que sai depois do Verão. Um álbum com uma cinematográfica ligação ao território “Há duas canções – e essas são letra e música minha – que são originalmente do filme do Ivo Ferreira que está a ser rodado aí em Macau.”

“Voltar é mesmo uma alegria” Como é que aparece este “Coração Mais que Perfeito”? Aparece um pouco na sequência, ao nível do ofício da escrita, do livro de contos que saiu há dois anos, “VidaDupla”. São nove contos nos quais descobri uma vontade de escrever e também uma linguagem própria, uma voz própria. Surgiu um pouco por acaso, porque me pediram um conto – que está no “VidaDupla” – e depois apeteceu-me continuar. Quando acabei, senti que tinha de me abalançar, no sentido de ter vontade e de ter esse ímpeto criativo, a algo de mais fôlego, mais extenso, em que estivesse mais tempo com as personagens, onde as criasse e elas convivessem comigo e crescessem, fossem aparecendo outras. O romance não tem muitas personagens: tem duas principais. Tem uma mulher, que é a personagem principal, e um homem que é muito importante para a acção. Depois, tem mais algumas – poucas – personagens. Mas foi esse fôlego mais longo no qual me abalancei durante ano e meio. Não sou pessoa que escreva muito por dia, mas todos os dias tenho vontade de escrever. Não me obrigo. E por isso foi um grande prazer.

joga com duas formas de expressão – a música e as palavras, as frases. A música tem códigos muito estritos, tem harmonias, tem progressões harmónicas, tem estribilhos, geralmente, tem regras muito fixas, dentro das quais há uma grande liberdade. As palavras têm uma métrica muito própria, que tem de ser musical, e não é por acaso que começo geralmente pela música. As palavras, quando aparecem, estão já a espraiar-se numa determinada frase musical. E têm rimas, quase sempre, é raro não ter uma canção com rimas, até porque gosto delas. Depois, há a conjugação dessas duas formas de expressão, para que pareça uma coisa única. A grande vitória de uma canção é nós sentirmos que aquela letra e aquela música sempre conviveram, e não podiam existir uma sem a outra. É evidente que também tenho versões instrumentais e já publiquei textos das minhas canções, mas é sempre uma parte de um todo. O todo é a canção, é o objecto canção. Portanto, são abordagens completamente diferentes. A escrita de ficção é uma escrita que vai acontecendo continuamente e que se vai estruturando. Uma canção é uma peça de joalharia. Ou de relojoaria.

Como é que se passa da escrita da canção para o poema, que tem outra estrutura, para o conto e, de repente, para o romance, que implica um envolvimento muito maior com as personagens e com a construção da narrativa? Foi uma aventura nova para mim porque nunca tinha tido uma coisa de continuidade assim, com todo esse tempo de maturação da história, das personagens, dos novos acontecimentos que vou descobrindo à medida que vou escrevendo. Não tinha uma estrutura fixa à partida. Tinha uma ideia de condução do fio da narrativa mas, depois, muitas coisas aconteceram, felizmente. Não tinha o esquema todo feito. Agora, como é que se passa? Não se passa. Embora nas canções, muitas vezes, haja personagens e narrativas, são actos completamente diferentes. A escrita de canções, desde logo,

“Coração Mais que Perfeito” é uma história de amor – e eu diria que não poderia ser de outra maneira. Eugénia é uma mulher que nos é apresentada através de um acontecimento trágico. Depois vamos voltar atrás mas, de facto, há um suicídio, embora não seja completamente expresso, de

um grande amor – e foi um amor mútuo. O amor não se degradou, simplesmente o homem, o Artur, começou a ter um processo de decadência psíquica em que vai perdendo o pé e ninguém o pode agarrar.

“A grande vitória de uma canção é nós sentirmos que aquela letra e aquela música sempre conviveram, e não podiam existir uma sem a outra.” E quem é esta Eugénia? “Fala de ti própria, Eugénia”, lê-se no primeiro capítulo. Eugénia é uma mulher forte – é uma sobrevivente –, embora os seus valores não sejam sempre os mais recomendáveis. Ela não é um exemplo, mas também não é um livro pedagógico, não tem de ser uma personagem exemplar. É uma mulher cheia de defeitos, os valores dela são fortes mas, por vezes, também são um pouco voláteis. Não tem muitas referências: a mãe não é referência para nada, o pai desaparece muito cedo, e ela vai vogando na vida sem grande rumo. Os trabalhos dela não têm um fito profissional, ela vai vivendo as coisas. Mas vai vivendo com intensidade. Há uma altura em que resolve prostituir-se, durante pouco tempo, porque sim, porque uma amiga o faz e ela tem

PALAVRAS E MÚSICA NO ROTA DAS LETRAS

A

primeira intervenção de Sérgio Godinho no festival literário de Macau está marcada para o próximo domingo, dia 12. Às 19h, no edifício do antigo tribunal, é apresentado o livro “Coração Mais que Perfeito”. No dia seguinte, no local que serve de sede ao Rota as Letras, pelas 18h, participa numa sessão com o autor guineense Abdulai Silá, em que vai estar em discussão o papel do escritor

na construção da identidade nacional. Sérgio Godinho vai ainda participar nas sessões destinadas aos mais novos: na segunda-feira, está na Escola Portuguesa e, no dia seguinte, na Escola Luso-Chinesa Luís Gonzaga Gomes. Na quarta-feira, o escritor de canções sobe ao palco do teatro do Venetian, para um concerto que começa às 20h30. O músico vem acompanhado pelo pianista Filipe Raposo.

uma certa atracção por isso, por experimentar – mas, a certa altura, aquilo corre mal. É o contrário dele: ele é um actor, que esteve na escola de teatro, que sempre teve um fito na vida. Quando comecei a construir as personagens, não descobri logo o que é que ele faria, qual seria a sua profissão, porque achei que deveria ter uma profissão que o interessasse. A personagem do actor sempre me interessou porque eu estou a criar personagens – no fim de contas, estou a ser um dramaturgo. E o actor, à sua maneira, está a criar personagens – já existem, mas está a dar-lhes o seu corpo, a sua intenção, a sua voz estilística. E esse sim, é mais próximo de mim, porque também já fiz trabalho de actor e achei que esse desdobramento de uma vida noutras vidas era interessante. Como se verá, é também por essa outra vida que tem que ver com o teatro que ele começa a perder o pé psiquicamente. Depois fica mesmo psicótico, mas é um processo longo, que ocupa a segunda parte do romance. Esse desdobramento de uma vida noutras vidas acontece também no segundo romance, que já está escrito? Não. É outra coisa, é um assunto completamente diferente. Está escrito. Daqui a um ano, espero, falaremos outra vez, mas não. É um assunto diferente, um romance mais concentrado, no sentido em que tem quase exclusivamente duas personagens e, a dois terços do livro, aparece uma terceira. É mesmo outro assunto. Este assunto passa-se ao longo de vários anos, num período extenso de tempo, e o outro não. O terceiro [livro] está parado porque estou de volta das canções. Este ano sairá ainda um novo álbum, lá para Setembro. Sobre esse novo disco, o que é que já está pensado? O disco vai ter várias parcerias musicais. Já aconteceu, nalgumas canções, outros compositores fazerem as músicas e eu fazer as letras todas – desde as colaborações brasileiras aos Clã, com “O Sopro do Coração”, que tem música do Hélder Gonçalves e letra minha. Aqui, quis levar um pouco mais longe isso e, portanto, há canções que vão estar neste disco em que a música não é minha, mas em que estou a fazer também esses casamentos. Há duas canções – e essas são letra e música minha – que são originalmente do filme do Ivo Ferreira que está a ser rodado aí em Macau, e que são cantadas no filme pela Margarida Vila-Nova. O filme tem três canções minhas – duas delas, vou cantar à minha maneira no álbum.


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RITA CARMO

Há quase seis anos, quando falámos a propósito dos 40 anos de carreira, dizia que tinha vontade de voltar a Macau. Na altura, não era algo que estivesse em perspectiva. Depois disso, já houve dois convites e uma participação num filme que está a ser rodado aqui. Macau está a entranhar-se cada vez mais. É a sexta vez que vou a Macau. A primeira vez que fui, Macau era muito diferente, como é evidente. Foi em 1990. A Fun-

dação Oriente convidou-me e fiz aí um concerto, depois também fomos a Goa e a Pangim, fui para a abertura oficial da delegação. Na altura, o Lisboa era o grande casino e depois havia os casinos flutuantes. Depois, há quase 12 anos, estive no Festival de Artes de Macau, mas entretanto tinha voltado lá. Estive no 10 de Junho há dois anos e agora regresso. Macau está a tornar-se cada vez mais familiar, porque vou conhecendo gente, outras pessoas com quem

“É mesmo com alegria que volto a Macau. Gosto muito de voltar aos lugares que vou conhecendo, ver o que está intacto, o que mudou.”

me cruzo. Estou muito curioso em relação ao festival Rota das Letras. Há dois anos, tinha estado com o Hélder Beja e o Ricardo Pinto, que tinham manifestado a vontade de ir ao festival e o aparecimento do romance propiciou isso. É mesmo com alegria que volto a Macau. Gosto muito de voltar aos lugares que vou conhecendo, ver o que está intacto, o que mudou, passear por ruas que já me foram familiares. Gosto muito de descobrir lugares, mas também

gosto muito de voltar. Estive no início do ano no Rio de Janeiro, um lugar onde tenho onde ficar, em casa de amigos, que é uma cidade extremamente familiar e é muito bom tornar a calcorrear aquelas ruas. É a sensação de que o mundo também nos pertence. Sou um observador do que está à volta – observador em todos os aspectos, até no criativo – e voltar a Macau é mesmo uma alegria. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com


4 POLÍTICA

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GCS

Pobres a tempo inteiro

Ella Lei preocupada com trabalhadores que vivem na pobreza

A

Tabaco COMISSÃO VOLTA A ANALISAR O DIPLOMA NA ASSEMBLEIA

Regresso ao passado Há mais de seis meses que os deputados não se debruçam sobre a revisão do regime de prevenção e controlo do tabagismo, que prevê o fim das salas de fumo nos casinos. O regresso à análise na especialidade de um diploma polémico está marcado para a próxima terça-feira

É

uma lei cujo processo de revisão tem sido feito de avanços e recuos, mas parece que, desta vez, vão ser dados passos em frente. Há mais de seis meses que a 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) não se encontra para analisar na especialidade o regime de prevenção e controlo do tabagismo, mas está agendada uma nova reunião para a próxima terça-feira. Esta sessão de trabalho decorre depois de o Governo ter mostrado abertura para a permanência de salas de fumo nos casinos, desde que com padrões mais rígidos. No período em que a análise na especialidade ficou em banho-maria, as operadoras de jogo tornaram públicos dois relatórios que comprovam que, afinal, as salas de fumo desempenham bem o seu papel. Do outro lado, as associações de trabalhadores

do jogo têm refutado essas conclusões. A última vez que a comissão presidida pelo deputado Chan Chak Mo reuniu foi em Junho do ano passado. Nessa altura, foi referido que a elaboração de uma nova proposta iria atrasar os trabalhos, uma vez que sete deputados da comissão se mostravam a favor das salas de fumo e apenas dois estavam a favor da proibição total do tabaco nos casinos.

Esta sessão de trabalho decorre depois de o Governo ter mostrado abertura para a permanência de salas de fumo nos casinos

Muitos consideravam então o documento de trabalho de revisão da lei “parcial”, pelo que se impunha a necessidade de prolongar a análise. “É para ser mais democrático. Há deputados que entendem que o memorando não está bem redigido porque não reflecte bem as suas opiniões”, referiu Chan Chak Mo na altura. Em Agosto, o deputado Au Kam San mostrou-se preocupado com a possibilidade de o diploma ficar esquecido nas gavetas do hemiciclo. Na altura, o HM questionou a Assembleia sobre o facto da discussão em torno do diploma estar parada, sendo que muitos deputados defenderam que a revisão não era prioritária. Ng Kuok Cheong, o seu colega de bancada, chegou mesmo a dizer que poucos gostariam de ver a revisão da lei avançar.

AS CONTRADIÇÕES

Pelo meio falou-se de uma contradição: se na generalidade a revisão da proposta de

lei passou com a aprovação da maioria dos deputados, no seio da comissão as opiniões revelaram ser diferentes. Numa ocasião pública, o deputado Leong Veng Chai frisou isso mesmo. “Na altura, a maioria dos deputados votou a favor mas depois, quando chegou à comissão, só dois deputados mantiveram essa opinião. Percebem a contradição?”, questionou. Em Fevereiro deste ano chegaram as declarações que, segundo o Governo, não representam uma reacção a pressões. “Se as salas de fumo forem bem instaladas e não afectarem os outros, então não há problema”, disse Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Resta saber quais as conclusões da próxima reunião da 2.ª comissão permanente da AL. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

deputada Ella Lei instou o Executivo a achar solução para as famílias que, apesar de empregadas, vivem no limiar da pobreza. Ao problema social acresce a ausência de salário mínimo em Macau e restrições no acesso a subsídios sociais. O problema de quem trabalha mas que, ainda assim, vive em situação de pobreza foi um tema tratado numa interpelação escrita dirigida ao Executivo. A deputada argumentou que um dos problemas nesta matéria é o facto de não existir um salário mínimo estabelecido para todos os sectores laborais. Neste momento, apenas “trabalhadores das áreas da limpeza e segurança na actividade de administração predial” têm um rendimento mínimo estabelecido, como se pode ler na interpelação. Ella Lei acrescenta que outro dos problemas prende-se com as restrições nas medidas provisórias do subsídio complementar aos rendimentos do trabalho. O problema é que só se aplica a quem tenha “completado 40 anos de idade, cumpra o número de horas de trabalho fixadas por mês e que seja trabalhador a tempo inteiro com um rendimento total inferior a 15 mil patacas por trimestre”, explica. A deputada considera que estas limitações deixam muitas pessoas de fora. Nomeadamente, famílias de trabalhadores de classes mais baixas que têm dificuldades para assegurar a subsistência do agregado familiar.

TRABALHAR PARA POUCO

Apesar dos apoios prestados pelo Instituto de Acção Social (IAS), Ella Lei considera que o Executivo deve pensar na situação das pessoas que ganham um pouco mais do que o índice que garanta as prestações sociais. Aquilo a que chama de “working poor”. Ella Lei é da opinião de que a sociedade deve incentivar a auto-sustentação das pessoas. “Portanto, o Governo deve definir políticas públicas para reconhecimento e apoio às famílias com baixos rendimentos, com vista a promover a sua motivação para trabalhar.” A deputada acrescenta que Macau devia tomar o exemplo de Hong Kong e “implementar o subsídio de apoio às famílias empregadas e com baixos rendimentos”. Esta medida tem como objectivo incentivar a auto-sustentabilidade e atenuar a transmissão intergeracional da pobreza. No mesmo sentido, a deputada acrescenta na interpelação que o IAS devia prestar apoio financeiro e colocar os serviços sociais ao dispor de famílias empregadas com baixos rendimentos. João Luz

info@hojemacau.com.mo


5 Depois de o Chefe do Executivo ter dito que Macau aceita o facto de não ser um Estado soberano para pertencer ao Comité Olímpico Internacional, o Instituto do Desporto nada diz sobre o que tem sido feito nesse sentido desde 2007. Resta a promessa de participação em eventos do Conselho Olímpico da Ásia PUB

Fechados em copas

POLÍTICA

GCS

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ID em silêncio sobre processo de adesão ao Comité Olímpico

O

Instituto do Desporto (ID) não adianta qualquer informação sobre as etapas que têm sido levadas a cabo na tentativa de adesão de Macau ao Comité Olímpico Internacional (COI). O HM quis saber o que tem sido feito nos últimos dez anos, bem como se Macau iria mesmo “desistir” do processo de adesão ao COI, após as declarações do Chefe do Executivo, Chui Sai On. Contudo, o ID apenas afirmou que os atletas locais e as instituições desportivas vão continuar a participar em eventos sob alçada do Conselho Olímpico da Ásia (COA). “O ID vai continuar o seu esforço no apoio ao desenvolvimento do desporto em Macau e, enquanto membro do COA, Macau vai participar de forma activa nos eventos por si organizados e em outras competições internacionais. [Tal irá] providenciar o de-

senvolvimento do desporto local, o qual irá realizar-se com condições favoráveis por forma a atingir novas metas de desenvolvimento”, explicou o organismo ao HM através de resposta escrita. Esta segunda-feira, no âmbito de um encontro com Gou Zhongwen, director da Administração Geral do Desporto e presidente do Comité Olímpico da China, Chui Sai On disse que a RAEM “compreende que, por não ser um país sobera-

Da parte do Instituto do Desporto, nada mais há a acrescentar à história oficial que já se conhece

no, não poderá integrar o Comité Internacional, apesar das alterações introduzidas nas regras do COI”. Hong Kong que, tal como Macau, não é um país, faz parte do COI desde 1951.

MAIS DO MESMO

Da parte do ID, nada mais há a acrescentar à história oficial que já se conhece. “No seguimento da criação do Comité Olímpico de Macau, em 1987, foi submetida a candidatura de adesão ao COI e ao COA. Enquanto que a candidatura ao COA foi aprovada em 1989, a revisão dos estatutos do COI feita em 1996 significou que apenas ‘Estados independentes’ seriam reconhecidos, e Macau não poderia ser aceite como membro do COI.” Em declarações ao HM, Manuel Silvério, antigo presidente do ID, considerou que as palavras do Chefe do Executivo não representam a total desistência da RAEM,

Chui Sai On e Gou Zhongwen

tendo dito ainda que, em 2007, o território estava prestes a fazer parte do COI. “Como pessoa ligada ao desporto e residente digo que, se Macau desistir, e se as pessoas pensarem em não levar para a frente essa luta, não estamos a fazer as

coisas de acordo com a Lei Básica, não estamos a fazer as coisas como Hong Kong fez e somos nós próprios que estamos a recusar um direito que é nosso”, acrescentou Manuel Silvério. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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Anúncio 【N.º 49/2017】 Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são por esta via notificados os seguintes representantes dos agregados familiares candidatos a habitação económica: Representante do agregado familiar candidato a habitação económica

Número do boletim de candidatura

YUNG CHUN SZE JOYCE

82201331966

LAM SUT PENG

82201341745

Causa e fundamento legal da exclusão de adquirente seleccionado Falta de entrega dos documentos necessários para a avaliação do requerimento no prazo fixado (Nos termos da alínea 2) do n.º 1 do artigo 28.º da Lei n.º 10/2011, alterada pela Lei n.º 11/2015)

Nos termos do artigo 93.º e do artigo 94.º do Código do Procedimento Administrativo, os representantes dos agregados familiares candidatos a habitação económica acima mencionados podem apresentar, por escrito, a sua contestação e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou demais provas, no prazo de 10 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Caso não procedam à respectiva entrega dentro do prazo referido, não serão considerados. Em caso de dúvidas, poderá dirigir-se ao Instituto de Habitação, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar a Sr.a Lei, através do tel. n.º 2859 4875 (Ext. 747), para consulta do processo. Instituto de Habitação, aos 6 de Março de 2017. O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng

Aviso ﹝N.º 86/2017﹞ Assunto: Notificação de audiência Local: Estrada de Lai Chi Vun n.o 22-12-09-023-001, em Coloane (assinalado no quadro anexo) Comunica-se aos utilizadores da barraca acima mencionada Lo Chan Ieng e outros que, na sequência de verificações efectuadas por este Instituto, se detectou que a actividade de fábrica de parafusos e pregos de navios na barraca n.º22-12-09023-001 se encontra encerrada por um período superior a 45 dias consecutivos. Nos termos da alínea a) do artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro, é cancelado o registo no recenseamento de estabelecimento, se for verificado por este Instituto o encerramento ou interrupção de actividade, sem motivo justificado, por período superior a 45 dias consecutivos. De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código de Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, pode apresentar, por escrito, contestação e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou demais provas, no prazo de 10 dias, a contar da data da publicação do presente aviso. Se não for apresentada contestação por escrito no prazo fixado ou a mesma não for aceite por este Instituto, de acordo com o disposto do artigo 13.º do DecretoLei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro, este Instituto irá proceder ao cancelamento de respectivo registo no recenseamento de estabelecimentos; além disso, de acordo com a alínea d) do artigo 17.o do mesmo Decreto-Lei, deve proceder-se ao encerramento dos estabelecimentos comerciais e industriais cujo recenseamento tenha sido cancelado pela verificação de algumas das circunstâncias previstas no artigo 13.º; no caso de o estabelecimento ser efectivamente encerrado, este Instituto irá iniciar o processo de desocupação e demolição da edificação informal de acordo com o previsto nos artigos 21.º, 24.º e 28.º do mesmo Decreto-Lei. Para consulta do respectivo processo, podem dirigir-se ao IH, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar a Divisão de Fiscalização Habitacional deste Instituto através do tel. n.º 2859 4875. Instituto de Habitação, aos 6 de Março de 2017 O Presidente, Arnaldo Santos


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SOCIEDADE

JOGO RECRUTAMENTO SUBIU NA RECTA FINAL DE 2016

O

número de trabalhadores recrutados para o sector das lotarias e outros jogos de aposta em Macau subiu 76,1 por cento no último trimestre de 2016, em comparação com o mesmo período do ano anterior, revelam dados oficiais. Segundo os Serviços de Estatística e Censos, nos

últimos três meses do ano passado, foram recrutados 662 trabalhadores, um número significativamente superior aos 376 registados no quarto trimestre de 2015. No final do trimestre, 55.794 pessoas trabalhavam a tempo inteiro no sector das lotarias e outros jogos de

Estão em maioria, mas não são elas as escolhidas quando chega a hora de subir na carreira. As funcionárias do sector do jogo queixam-se de discriminação e dizem que não é fácil conjugar turnos e família. As ideias foram deixadas num colóquio para assinalar o Dia Internacional da Mulher

aposta, menos 0,8 por cento em relação ao fim do mesmo trimestre em 2015 – destes, 24.039 eram croupiers, que diminuíram 2,4 por cento em termos anuais. Ainda assim, a remuneração média subiu: os trabalhadores do sector das lotarias e outros jogos de

aposta auferiam 21.990 patacas em Dezembro de 2016, mais 1,7 por cento do que no mês homólogo de 2015. Os croupiers, em particular, ganhavam 18.840 patacas mensais, mais 0,3 por cento que em Dezembro de 2015. No fim do trimestre em questão existiam 555 postos

de trabalho vagos no sector das lotarias e outros jogos de aposta, mais 93 que no quarto trimestre de 2015. A maioria das vagas dizia respeito a

Casinos TRABALHADORAS DIZEM-SE DISCRIMINADAS NA PROGRESSÃO PROFISSIONAL

Má sorte nascer mulher

ideia é garantir às mulheres grávidas um horário laboral fixo, sem estarem sujeitas a turnos. Este sector da população activa também sente dificuldades na conciliação do trabalho com os filhos. Mais uma vez, são os turnos que criam obstáculos. “Algumas mães não conseguem ter um contacto constante com as crianças porque, quando chegam a casa, os filhos já estão a dormir. Por isso, não conseguem ter tempo suficiente para as crianças, o que poderá ter consequências para a relação entre mães e filhos”, observou.

“Algumas mães não conseguem ter um contacto constante com as crianças porque, quando chegam a casa, os filhos já estão a dormir.”

A

S mulheres que trabalham na principal indústria do território continuam a sentir-se discriminadas em relação aos homens, apesar de estarem em maioria. Além disso, dizem ter dificuldades na conciliação da profissão com a vida familiar, devido ao trabalho por turnos. Depois, há ainda a falta de flexibilidade das entidades patronais durante a gravidez. Estas foram algumas das queixas ouvidas ontem num colóquio organizado pela Associação Aliança de Povo de Instituição de Macau, uma iniciativa liderada por Song Pek Kei, deputada à Assembleia Legislativa e vice-presidente da organização. Em debate estiveram assuntos relacionados com a vida e o trabalho das funcionárias dos casinos – o objectivo foi oferecer uma plataforma para que os problemas possam ser discutidos. Ao HM, Song Pek Kei explicou que espera que, através das opiniões deixadas, se incentive a criação de um mecanismo de protecção e estratégias de apoio para que se possam resolver os

“empregos administrativos” e “pessoal dos serviços e vendedores”.Amaioria destas vagas requeria habilitações académicas iguais ou superiores ao ensino secundário complementar (85,2 por cento) e o domínio do mandarim (94,8 por cento), e 43,6 por cento exigiam domínio do inglês.

SONG PEK KEI DEPUTADA

dilemas dos trabalhadores do jogo, sobretudo do sexo feminino. “Nos dias que correm, as mulheres, além do trabalho, precisam de cuidar da família. Por isso, o stress que têm pode ser muito grande”, apontou a deputada. “A indústria de jogo é a parte principal da economia de Macau e há muitas mulheres que trabalham como croupiers”, acrescentou. “Como sabemos, os

croupiers trabalham por turnos. As mulheres têm um stress maior, uma vez que têm de conciliar o trabalho e a família”, sublinhou Song Pek Kei.

GRÁVIDAS COM TURNOS

De acordo com os dados deixados no debate, em meados do ano passado havia 55.708 funcionários a tempo inteiro no sector do jogo, com as mulheres a ocuparem 56,4

por cento dos postos de trabalho. Do total, 92,7 por cento de trabalhadores dos casinos estavam sujeitos ao trabalho por turnos. Song Pek Kei explicou que as funcionárias grávidas têm mais problemas relacionados com a saúde por causa do trabalho. “Algumas delas esperam que as operadoras possam ajustar, de forma flexível, as funções que podem desempenhar”, contou.A

Não são só as questões familiares que preocupam as mulheres. “De facto, hoje em dia muitas delas apontam a questão da ascensão profissional, porque alguns chefes preferem dar aos homens a oportunidade de progressão na carreira”, lamentou Song Pek Kei. “As trabalhadoras do sector do jogo querem que as empresas lhes dêem possibilidade de frequentarem acções de formação e ajustem os horários de modo flexível, porque algumas delas não conseguem assistir a estes cursos por causa da família.” Vítor Ng (com Isabel Castro) info@hojemacau.com.mo


8 SOCIEDADE

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Segurança ENTROU EM VIGOR NOVO SISTEMA DE ALERTA DE VIAGENS

AMBIENTE “LAI-SI” RECOLHIDOS POUPAM 61 ÁRVORES

A

Direcção dos Serviços de ProtecçãoAmbiental (DSPA) recolheu mais de um milhão e meio de envelopes de “lai si” durante uma campanha de incentivo à reciclagem deste tipo de material, muito utilizado por altura do ano novo chinês. O programa terminou no passado sábado, com a DSPA a dar conta agora dos resultados e a elogiar a adesão da população à iniciativa. Ao todo, foram recolhidos quase 4500 quilogramas de envelopes vermelhos. Depois de terem sido seleccionados, foram contados cerca de 610 mil – ou 1800 quilogramas – que podem ser reciclados. Para a direcção de serviços, “o programa alcançou a eficácia pretendida”. O programa foi lançado a 2 de Fevereiro. Foram disponibilizados mais de 200 postos de recolha em diversas zonas de Macau, sendo que a DSPA contou com o apoio de diversos serviços públicos, associações, escolas, bancos, supermercados,

empresas de jogo e hotéis. Pretendeu-se assim “facilitar aos cidadãos a prática dos actos ambientais através de uma rede comunitária”. Os envelopes recolhidos tinham de estar intactos, para poderem ser reutilizados. “Ofereceu-se, assim, o apoio aos trabalhos de carácter ambiental através de acções pessoais e reduziu-se o desperdício de materiais”, sublinha a DSPA no balanço da iniciativa. Segundo as estimativas da direcção de serviços, os “lai si” aproveitados na campanha evitam o abate de 61 árvores. “Alguns envelopes serão utilizados como materiais amigos de ambiente em actividades e workshops, e os envelopes de melhor qualidade serão distribuídos ao público através da colaboração” com várias associações para que possam ser de novo usados. A DSPA promete continuar com campanhas relacionadas com a reciclagem e redução de resíduos. PUB

HM • 1ª VEZ • 8-3-17

ANÚNCIO INTERDIÇÃO nº

CV3-17-0002-CPE 3º Juízo Cível

Requerente: O MINISTÉRIO PÚBLICO. Requerido: CHAN MENG CHON. *** FAZ-SE SABER que, foi distribuída ao 3º Juízo Cível deste Tribunal, a Acção acima mencionada, contra CHAN MENG CHON, do sexo masculino, internado actualmente no Complexo de Serviços de Apoio ao Cidadão Sénior Pou Tai, sito na Ilha da Taipa, em Macau, em para efeito de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica. RAEM, aos 17 de Fevereiro de 2017. ***

Quem te avisa...

Macau passou a ter um novo sistema de alerta para os cidadãos que queiram viajar. O objectivo é permitir aos residentes obterem informações sobre as condições que vão encontrar nos destinos que pretendem visitar

Q

UEM mora em Macau passou a poder planear melhor as suas férias, ou deslocações de trabalho, em segurança, com a entrada em vigor do sistema de alerta de viagens. É pelo menos essa a expectativa do Governo, com a revisão do esquema de alerta de viagens. O sistema é gerido pelo Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) e tem como objectivo permitir, de forma fácil, disponibilizar informação relativa a situações de crise, emergência ou catástrofe que afectem diferentes partes do mundo. Desta forma, quem viaja pode tomar decisões com maior consciência da situação no terreno.

O dispositivo cobre os 77 países, ou destinos de viagem, mais procurados pelos residentes de Macau, categorizando-os em três níveis diferentes, e progressivos, de perigosidade. Num primeiro nível de gravidade os residentes que estejam prestes a viajar para o destino em questão, ou que lá se encontrem, devem manter-se alerta quando

à sua segurança pessoal. Neste patamar é sugerido que se mantenham atentos ao desenvolvimento dos acontecimentos potencialmente perigosos para o seu bem-estar.

OUTROS NÍVEIS

O segundo patamar de alerta representa um aumento do grau de ameaça à segurança pessoal do viajante. Neste nível de

O sistema de alerta abarca o terrorismo, situações extremas de condições meteorológicas adversas, conflitos políticos e armados, ou questões relacionadas com a saúde pública

perigosidade é aconselhado aos residentes de Macau que reconsiderem a viagem. Aliás, todas as deslocações ao país em questão que não sejam essenciais devem ser evitadas. O nível três é o que representa uma ameaça pessoal extrema para os viajantes. Neste estágio de perigosidade é aconselhável que as pessoas compreendam a gravidade da situação e da assistência oficial que pode ser prestada em casos de necessidade de ajuda eminente. Para estes destinos, o GGCT sugere que se cancelem as viagens ou que quem lá esteja abandone o local de imediato. As situações de segurança que este sistema de alerta abarca são o terrorismo, situações extremas de condições meteorológicas adversas, conflitos políticos e armados, ou questões relacionadas com a saúde pública. Além da precaução no planeamento das viagens, o GGCT aconselha o uso dos seguros de viagem, com opção de cobertura para o Sistema de Alerta de Viagens da RAEM e evacuação médica de emergência internacional. Os residentes que estejam em processo de planear uma viagem, se se quiserem precaver, podem consultar o sistema de alerta no site do GGCT. Acrescente-se que os alertas são meramente consultivos, pelo que fica ao critério de cada um segui-los ou não.

ESTUDO CONSTRUÇÕES EM MACAU ENTRE AS MAIS CARAS DA ÁSIA Um estudo publicado pela consultora de arquitectura Arcadis indica que Macau é a segunda cidade mais cara da Ásia para o sector da construção. Em termos regionais, o território só é ultrapassado por Hong Kong, sendo que, ao nível internacional, ocupa o quinto lugar da tabela. De acordo com o responsável da Arcadis para as regiões administrativas especiais, o custo de construção de

Macau tem uma explicação: os casinos que, ao longo dos anos, têm vindo a ser edificados no território. Ainda assim, a cidade tem sido capaz de recrutar mão-de-obra ao exterior, com impacto para a redução de custos, uma situação diferente da que se vive em Hong Kong. Aqui ao lado, o sector depara-se o envelhecimento dos trabalhadores locais, mas é resistente à importação de recursos humanos.


9 hoje macau quarta-feira 8.3.2017

XINJIANG OFERECE ALTOS SALÁRIOS PARA RECRUTAR POLÍCIAS

As autoridades chinesas da região do Xinjiang, no oeste da China, estão a oferecer altos salários e outros benefícios visando recrutar polícias para uma região que é frequentemente palco de atentados sangrentos perpetuados por separatistas. O ‘site’ oficial do governo de Kashgar, cidade do Xinjiang próxima da fronteira com o Afeganistão e Paquistão, anunciou o recrutamento de 3.000 polícias, do sexo masculino, por um vencimento mensal de 5.000 yuan, bem acima da média regional. As autoridades do Xinjiang têm reforçado a segurança na região, onde membros da minoria muçulmana local uigur são acusados de atacar alvos do governo e migrantes da maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional.No mês passado, oito pessoas morreram durante um ataque à faca, incluindo os três atacantes, que foram abatidos pela polícia, no condado de Pishan. Com uma área quase 18 vezes superior à de Portugal, a região do Xinjiang faz fronteira com o Afeganistão, Paquistão e Índia.

PROMETIDAS MEDIDAS “RESOLUTAS” APÓS IMPLANTAÇÃO DO THAAD

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China vai defender “resolutamente” a sua segurança, disse ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, depois de os Estados Unidos terem iniciado a implantação do sistema de defesa antimísseis THAAD na Coreia do Sul. “Opomo-nos firmemente à implantação do Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude (THAAD, na sigla em inglês) na Coreia do Sul pelos Estados Unidos e Coreia do Sul. A China tomará resolutamente as medidas necessárias para defender os seus interesses de segurança”, disse o porta-voz do ministério, Geng Shuang. “Os Estados Unidos e a Coreia do Sul vão arcar com todas as consequências”, acrescentou, depois de Washington ter anunciado na noite passada

que começou a implantar elementos do seu sistema antimísseis THAAD na Coreia do Sul. A Coreia do Sul e os Estados Unidos tinham concordado no ano passado instalar o sistema THAAD, que a China denunciou repetidamente como uma ameaça à sua segurança. A acção dos Estados Unidos seguiu-se ao lançamento na segunda-feira pela Coreia do Norte de quatro mísseis, três dos quais caíram em águas japonesas. A China, principal apoiante da Coreia do Norte, distanciou-se de Pyongyang nos últimos tempos por causa dos últimos testes de armamento, mas opõe-se igualmente à presença do escudo antimíssil THAAD, instalado pelos Estados Unidos, na Coreia do Sul.

CHINA

EMPRESAS EUROPEIAS DENUNCIAM FAVORECIMENTO CHINÊS ÀS FIRMAS LOCAIS

O que é nacional é bom

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Câmara do Comércio da União Europeia (UE) na China denunciou ontem o favorecimento dado pelo Governo chinês às empresas locais, em prejuízo das firmas estrangeiras, no seu projecto de modernização da indústria nacional “Made in China 2025”. Num comunicado publicado na terça-feira, em Pequim, o grupo reclama um tratamento igual para todas as empresas, independentemente do país de origem, em cumprimento com a lei chinesa. A iniciativa “Made in China 2025” foi lançada em Maio de 2015 para potenciar o desenvolvimento de sectores considerados estratégicos pelas autoridades para o futuro da economia chinesa, como a robótica ou a biomedicina. Segundo a Câmara do Comércio, o plano de modernização da estrutura industrial da segunda maior economia do mundo supõe investimentos de centenas de milhões de euros. “O aparecimento (do conceito) de ‘inovação indígena’, em conjunto com referências à necessidade de alcançar a ‘auto-suficiência’ é particularmente importante”, lê-se no relatório. “Sugere que as políticas chinesas vão distorcer a paisagem competitiva a favor das firmas domésticas”, explica.

A mesma nota denuncia que algumas empresas europeias tiveram “problemas” ao participarem naquele plano, como fabricantes de automóveis que produzem veículos movidos a “novas fontes de energia” e que foram pressionados para “ceder” tecnologia avançada, como condição para entrar no mercado chinês.

OUTRAS QUEIXAS

O grupo [Câmara do Comércio da União Europeia] reclama um tratamento igual para todas as empresas, independentemente do país de origem, em cumprimento com a lei chinesa

O relatório advertiu ainda que os subsídios de Pequim ao sector da robótica “estão a contribuir para gerar excesso de capacidade” nos segmentos médio e baixo e que, para algumas firmas europeias do sector das tecnologias de informação, o acesso ao mercado chinês “se tornou ainda mais difícil”. A Câmara de Comércio da UE lamentou também que a implementação desta estratégia industrial não siga os princípios da economia de mercado e que os funcionários chineses tenham escolhidos eles mesmos os sectores que acreditam que vão conduzir a economia chinesa no futuro. No entanto, o grupo empresarial reconheceu que o plano “apresenta oportunidades atractivas para algumas empresas europeias” e que muitas destas se associaram com firmas locais para proporcionar componentes e tecnologia.

PEQUIM ASSEGURA QUE A DÍVIDA PÚBLICA ESTÁ “SOB CONTROLO”

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dívida dos Governos central e local da China alcançou os 38,7% do Produto Interno Bruto do país e está “sob controlo”, disse ontem o ministro chinês das Finanças, Xiao Jie.

No total, a dívida do Estado chinês somava 27,33 biliões de yuan, no final do ano passado, disse Xiao em conferência de imprensa. “Os riscos da dívida da Administração chinesa estão, no geral, sob controlo”, assegurou o ministro das Finanças, que recordou que a previsão de crescimento económico do país para este ano, de 6,5%,

suporta essa política de expansão moderada. Xiao sublinhou ainda que “o nível de dívida do Governo chinês é relativamente baixo, face a outros países, o que deixa uma margem suficiente para possíveis ajustes” na política económica. No domingo, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, anunciou uma redução dos im-

postos para as empresas no valor de 350.000 milhões de yuan e a redução de 200.000 milhões de yuan em taxas diversas. Xiao Jie destacou ontem que as autoridades locais vão continuar com o seu programa de redução da dívida, lançado em Novembro passado, e que inclui, entre outros pontos, o lançamento de emissões de títulos em troca de dívida.


10 Artes MACAU A CAMINHO DA BIENAL DE VENEZA

EVENTOS

ALBERGUE GALA APOIA PROJECTO DE SOLIDARIEDADE NA CHINA

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Albergue SCM vai acolher, no próximo sábado, uma gala destinada à recolha de fundos para apoiar o projecto de solidariedade “Across China by Bike 2017”. A iniciativa é organizada pela Jack’s Kitchen e tem como mentor o chef responsável, Jack. O chef francês, há muito radicado no território, viajou de bicicleta com alguns colegas de profissão de Zhuhai a Pequim. Ao longo da viagem, elaboraram uma lista de produtos que identificavam como necessários às populações mais carenciadas. Feita a lista, o grupo tratou do envio dos bens a partir de Macau e, ao mesmo tempo, prestou ajuda na construção de escolas e na compra de bicicletas. O sucesso da iniciativa fez com que tivesse surgido o

projecto “Across China by Bike 2017”. A viagem vai repetir-se, desta feita com escalas em Xangai e Chongqing, sendo que, nos 3600 quilómetros a percorrer, Jack espera sinalizar as carências das populações mais vulneráveis e desenvolver acções de sensibilização para a importância do meio ambiente, do desporto e dos cuidados para com a comunidade. “Across China by Bike 2017” terá lugar entre os meses de Abril e Maio. A gala do próximo sábado tem como objectivo a recolha de fundos para apoiar a viagem, aquisição de livros e material escolar, e outros bens necessários.

ROTA DAS LETRAS HOLOCAUSTO E BD EM DESTAQUE

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festival literário Rota das Letras continua hoje e o destaque vai para a banda desenhada e o cinema documental. Às 18h30, o edifício do antigo tribunal acolhe “Banda desenhada – um acto de resistência”, uma sessão que conta com a presença de Clément Baloup. O autor tem ascendência francesa e vietnamita, e foi numa viagem às origens no Sudeste Asiático que deu início à produção gráfica com dois romances. Seguiu-se uma ficção passada no império colonial francês e o trabalho “Mémories de Viet Kieu”, livro que se debruça sobre os problemas da emigração asiática, galardoado com vários prémios e acolhido positivamente pela crítica. Actualmente, tem as obras

espalhadas entre colecções privadas um pouco por todo o mundo e o seu trabalho está exposto no Palais de la Porte Dorée. Ainda às 18h30, é realizada a sessão “A atracção do romance” com os autores portugueses José Rodrigues dos Santos e João Morgado. Para 20h30 está marcada a projecção da película “ALista de Chorin”, com a presença da realizadora Sofia Leite. A realizadora é jornalista da RTP desde 1989 e o filme, agora projectado em Macau, conta com a co-autoria de António Louçã. “A Lista de Chorin” relata a actividade dos diplomatas portugueses em defesa dos judeus e o desfecho da arriscada negociação entre Ferenc Chorin e as SS na Segunda Guerra Mundial. S.M.M.

MARCO POLO IN Foi apresentada uma mostra do trabalho de James Wong que vai representar Macau na 57.ª Exposição Internacional de Artes – Bienal de Veneza 2017. O artista plástico leva à reputada exposição um conjunto de trabalhos intitulados “O Bonsai dos Meus Sonhos”

N

O sentido contrário da viagem de Marco Polo, James Wong vai do Oriente à conquista de Veneza. São hoje expedidas para Itália 17 peças do artista local a fim de representar Macau na 57.ª Bienal de Veneza. “Espero que todas as peças cheguem em segurança”, comentou à margem da apresentação de uma pequena amostra dos trabalhos que vai mostrar no prestigiado certame. As peças que leva a Itália são, sobretudo, tridimensionais. As esculturas dominam a colectânea, onde também pontificam fotografias, quadros e instalação. O título da exposição, “O Bonsai dos Meus Sonhos”, aponta para um cenário

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

onírico que reflecte o desejo da vida ascética, simples e plena de elegância. A peça principal, que dá título à colecção, é a representação de uma cabeça cortada por um jardim numa das vistas emblemáticas da cidade. “É um reflexo da minha sensação pessoal de Macau, da sua evolução, do espaço onde nos movemos que está cada vez mais tenso e estreito”, desvenda James Wong. Assim sendo, o artista procurou mostrar nesta escultura o desejo de criar “um pequeno jardim, ou um bonsai, a crescer na cidade, um lugar” para onde se possa retirar, comenta. Esta peça surgiu naturalmente, uma vez que o criador gosta de subir à Colina da Penha, em especial à noite, e deixar que

a inspiração lhe surja da vista da cidade.

DO CLÁSSICO AO MODERNO

Uma das inspirações centrais para o conceito da colecção é o classicismo chinês, daí não

ser de estranhar que um dos fios condutores transversais sejam as descrições no clássico chinês Shan Hai Jing (Clássico das Montanhas e dos Mares). James Wong retirou destes escritos ancestrais

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DOS PÁSSAROS • Valter Hugo Mãe

A CONFISSÃO • John Grisham

O vento anda muito sozinho a soprar pelos céus. Muito cansado dessa solidão, resolve então ensinar a voar algumas criaturas - uns passarocos e umas galinholas que andam a bicar o chão. Escolhe uns que sejam bem leves, pois assim será mais fácil elevá-los no ar, e dá-lhes uns empurrõezinhos até eles se conseguirem manter sozinhos a voar. Foi assim que tudo começou e é por isso que hoje os nossos céus estão cheios de aves de todos os tipos.

A poucos dias de ser executado, só um assassino o pode salvar. Em 1998, numa pequena cidade do Texas, Travis Boyette raptou, violou e estrangulou uma rapariga da sua escola. Enterrou o seu corpo para que nunca fosse encontrado e em seguida, assistiu com espanto à prisão e condenação de Donté Drumm, uma estrela local do futebol. O Corredor da Morte foi o seu destino. Agora, nove anos depois, Donté está a quatro dias da sua execução e Travis, pela primeira vez na vida, decide fazer o que está certo e confessar. Mas como pode um homem culpado convencer advogados, juízes e políticos de que estão prestes a executar um homem inocente?


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INVERTIDO

hoje macau quarta-feira 8.3.2017

HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Marmeleiro Nome botânico: Cydonia oblonga Mill. Sinonímia científica: Cydonia vulgaris Pers.; Pyrus cydonia L. Família: Rosaceae. Segundo alguns autores, o Marmeleiro é originário do Médio Oriente, desde a Turquia até ao norte do Irão, junto ao Mar Cáspio, onde ainda cresce em estado selvagem; porém, para outros, é oriundo da Ilha de Creta. Era cultivado na Babilónia há 4.000 anos e foi introduzido na Europa pelos Gregos e Romanos. Habita em sebes e pequenas matas, sendo também cultivado, sobretudo na região mediterrânica, para a produção de frutos, os Marmelos. Trata-se de uma pequena árvore de folha caduca, que pode alcançar 5 metros de altura; apresenta folhas ovais, verde-acinzentadas, e bonitas flores esbranquiçadas ou rosadas; os frutos, com um aspecto semelhante ao da Pêra, são amarelos e emanam um aroma doce. Conhecido pelos Gregos pelo menos desde o século VII a.C., o Marmelo era muito apreciado como alimento e remédio. Designado por “Maçã-de-ouro”, foi consagrado a Afrodite, estando representado no templo de Zeus, em Olímpia (450 a.C.). Muito estimado pela sua adstringência, foi considerado um dos frutos mais sãos e úteis desde o tempo de Hipócrates até ao século XVII. Embora a sua reputação não seja a de outrora, o Marmelo continua a ser um fruto apreciado. É ainda um dos frutos menos manipulados pelo Homem, mantendo por isso o seu aspecto e características. Em fitoterapia, além dos frutos, são também usadas as sementes.

informação sobre religião, história e geografia da China Antiga de há dois milénios. Este foi o veio condutor, assim como a imaginação do autor influenciado pelas vistas e as vivências de Macau. O artista tinha esta exposição guardada no seu imaginário, a apurar, há anos. “Já tinha tido as ideias originais há muito tempo”, estavam espalhadas em livros de anotações, foi apenas uma questão de as escolher e torná-las físicas. Nesse aspecto, James não trabalhou com os materiais que queria, ferro, por exemplo, que levariam a que algumas peças pudessem chegar às duas toneladas. Dessa forma, a criação teve de respeitar

“É um reflexo da minha sensação pessoal de Macau, da sua evolução, o espaço onde nos movemos está mais tenso e estreito.” JAMES WONG ARTISTA PLÁSTICO todos os aspectos logísticos do local onde será exposta. James Wong passou dois meses a preparar esta exposição. O curador do Museu de Arte de Macau, Ng Fong Chao,

revela que o artista é influenciado pela ambivalência da cidade, onde se podem encontrar “cultura ocidental e oriental”. “Podemos encontrar vestígios de clássicos asiáticos, assim como traços de catolicismo no seu trabalho, vistos, por exemplo, nas vestimentas das esculturas que se assemelham às dos missionários católicos”, explica o curador. A exposição que James Wong leva a Veneza expressa o seu ponto de vista destes dois mundos que se intersectam, filtrados pela visão e experiência do artista. O Pavilhão de Macau na Bienal estará aberto de 13 de Maio a 12 de Novembro. João Luz

info@hojemacau.com.mo

EVENTOS

Composição Frutos: Hidratos de carbono em forma de açúcares, proteínas e gorduras em baixo teor, aminoácidos livres, vitaminas (complexo B, C e E) e sais minerais (cobre, ferro, fósforo, magnésio, potássio); contém ainda mucilagem, propectinas, pectinas, taninos, procianidinas oligoméricas, ácidos orgânicos (málico, quínico), ácidos fenólicos, flavonóides e óleo essencial; elevado conteúdo em água e baixo valor calórico. Sementes: Mucilagem em quantidade significativa, taninos, óleo gordo, ácidos orgânicos (cítrico, málico, quínico) e vitamina C; contém também uma pequena quantidade de glicósidos cianogénicos (amigdalósido), bem como a enzima que os hidrolisa (emulsina). Acção terapêutica Com notável actividade adstringente, o Marmelo seca e desinflama a mucosa intestinal, combatendo a diarreia; tem ainda

acção emoliente, suavizando as paredes do intestino, e favorece o trânsito fecal; é igualmente antioxidante, digestivo, tónico e reconstituinte. A sua principal indicação é como primeiro alimento sólido após uma fase aguda de diarreia devido a gastroenterite ou colite; pode igualmente ser muito útil na presença de gastrite, debilidade do estômago, digestões lentas, vómitos, trânsito intestinal rápido e flatulência. Além disso, é um bom alimento, ideal para crianças debilitadas, idosos e convalescentes, e pode integrar dietas hipocalóricas (emagrecimento) ou com restrição em hidratos de carbono (diabetes). Por ser uma fonte de antioxidantes, combate as alterações induzidas pelos radicais livres, prevenindo as patologias associadas. Tem também uma forte acção diurética e contribui para reduzir os níveis de colesterol no sangue. Com idênticas propriedades, as sementes são usadas nas afecções digestivas já referidas e ainda nas constipações, tosse e bronquite. Outras propriedades Externamente, o Marmelo é usado no tratamento de úlceras da boca, afecções nas gengivas, dores de garganta e inflamações da pele. Pelas propriedades nutritivas e suavizantes está indicado para a limpeza e hidratação das peles secas e sensíveis. As sementes são empregues nas feridas, queimaduras, cieiro, aftas, tosse, mamilos gretados das lactantes, gretas nas mãos, rugas da cara, hemorróidas, bem como inflamações da pele ou das articulações. Como tomar Uso interno: • Em geleia, compota ou marmelada: a forma tradicional de consumi-lo. • Marmelo cozido ou assado. • Decocção dos frutos: cortar o Marmelo aos pedaços e ferver em água. • Decocção das sementes: 1 colher de sopa por chávena de água. Uso externo: • Decocção dos frutos: em bochechos e gargarejos. • Cataplasmas com a polpa dos frutos: aplicar topicamente nas inflamações da pele. • Misturar as sementes moídas com azeite ou óleo de Amêndoas-doces: aplicar directamente na zona da pele afectada. • Decocção das sementes: em lavagens, compressas, bochechos e gargarejos. Precauções Não são conhecidas contra-indicações, nem efeitos secundários ou efeitos adversos. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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na ordem do dia 热风

Julie O’yang

GUO XI, COMEÇO DA PRIMAVERA (PORMENOR)

PICASSO, MULHER COM GOLA AZUL (PORMENOR)

O que tem a Primavera chinesa a ver com Picasso?

Pois, realmente o que será? Vou começar por uma pessoa que quase ninguém conhece. Guo Xi 郭熙 (1020 – 1090) foi um pintor chinês shanshui que viveu durante a Dinastia Song do Norte. Era um cortesão, um literato, um pintor culto que desenvolveu um sistema incrivelmente detalhado de pinceladas distintivas. Este sistema veio a revelar-se importante para artistas que vieram depois dele. O que é uma pintura Shanshui. As pinturas Shanshui retratam montanhas e temas aquáticos e implicam um grande rigor na criação de um equilíbrio quase místico entre uma série de requisitos complexos, a composição e a forma. Todas as pinturas shanshui devem ter três componentes básicos: Os Trilhos- Os trilhos nunca devem ser a direito. Devem ser sinuosos como um curso de água. Este truque ajuda a dar

毕加索的山水画 profundidade à paisagem conferindo-lhe vários planos. O trilho, ou passagem, pode ser um rio, o caminho que o ladeia, ou um raio de sol que atravessa o céu sobre o dorso da montanha. Prevalece o conceito de nunca criar padrões inorgânicos, mas sim de mimar os padrões criados pela Natureza. O Limiar – Os trilhos devem conduzir a um limiar. O limiar está lá para nos receber e para nos dar umas especiais boas vindas. O limiar pode ser uma montanha, a sua sombra projectada no solo, ou o seu recorte contra o horizonte. A ideia é que a montanha, ou o que a contorna, sejam definidos claramente. O Coração – O coração é o ponto focal da pintura e todos os elementos devem conduzir-nos a ele. O coração define

o significado do quadro. Cada quadro deve ter um único ponto focal e todas as linhas desenhadas devem levar-nos directamente para lá. Uma verdadeira pintura shanshui não deve representar a paisagem que o pintor viu, mas sim a paisagem que o pintor “pensou”. Ninguém quer saber se as cores e as formas do quadro são parecidas com a realidade. A pintura shanshui vai contra as ideias feitas sobre o que um quadro deve ser. Os quadros não são uma janela aberta aos nossos olhos, são uma janela aberta à nossa mente. A pintura shanshui é um veículo para a Filosofia. Uma das obras Shanshui mais famosas de Guo Xi é a Primavera Antecipada, datada de 1072. Nela podemos ver as técnicas

inovadoras na criação de múltiplas perspectivas, que ele designava por “ângulo da totalidade”, mas que também ficou conhecida por “Perspectiva Flutuante,” uma técnica que faz deslocar o observador e o seu olhar. As montanhas de Guo e os seus cursos de água primaveris são luminosos e sedutores como um sorriso… O jardim do Templo Ditoku-ji em Quioto, construído originalmente em 1509, é uma cópia viva das pinturas de Guo Xi, inspirado na estética da Perspectiva Flutuante. Para apreciar cada canto e cada pedra do jardim, o visitante deve deslocar-se à sua volta e mudar de posição. Aqui, o jardim passou a ser um modo de vida. Muitos anos mais tarde, quando ainda estava na China e andava no Liceu, vi pela primeira vez rostos e corpos femininos de Picasso e aí compreendi, de repente, o significado do “ângulo da totalidade” de Guo Xi.


13 hoje macau quarta-feira 8.3.2017

diário de um editor

João Paulo Cotrim

Desejos de mais luz SANTA BÁRBARA, 26 FEVEREIRO Continuo sem perceber este preconceito em relação ao conto, que o desvaloriza como mero exercício literário entre a sublime poesia e o trabalhoso romance, que o arruma sem mais na prateleira das fracas audiências. Que género se aplicaria melhor ao ritmo de vida de hoje, ao nosso nível de literacia, ao tamanho do metropolitano de Lisboa? Ainda assim, há quem insista, por exemplo, em traduzir o cubano Virgilio Piñera, um dos grandes contistas latino-americanos, além de poeta, enfim, intelectual, a merecer leituras em cabal que inclui dramaturgia, romance, ensaio e percurso. Aliás, na lista de projectos, desesperante para apenas 24 horas em cada dia e uma conta bancária despida, tenho a edição do seu notabilíssimo La isla en peso, traduzido pelo Cabrita. Deixemos para depois o depois que acontecerá e concentremo-nos na certeza deste «O Grande Baro e Outras Histórias», com escolha e tradução de Rui Manuel Amaral, a partir de três volumes (de 1956, 1970 e no póstumo de 1987). O cubano cria ambientes claustrofóbicos, constrói exímias arquitecturas narrativas, esculpe íntimas personagens tendo o absurdo como pano de fundo, mas sustentando-se em uma cirúrgica atenção aos mecanismos do quotidiano. No beco sem saída dos dias, a escapatória pode estar no muro. A nenhum conto, maior ou menor, lhe falta a lógica interna de uma granada, com diálogos afiados, detalhes luxuriantes e olhar raiado de ironia. Leia-se pedaço d’«A Carne», que abre o cuidado volume (e rima com a contracapa). «Ali chegado, fez saber que cada pessoa deveria cortar da nádega esquerda dois bifes, em tudo semelhante a uma amostra de gesso que pendia de um reluzente arame. E declarou que deveriam ser dois bifes e não um, porque se ele próprio cortara da nádega esquerda um belo bife, convinha que a coisa avançasse a bom ritmo, isto é, que ninguém comesse um bife a menos. Assentes estes pontos, todos se dedicaram a cortar dois bifes das respectivas nádegas esquerdas. Era um espectáculo glorioso, mas que dispensa mais descrições». Detalhe de importância: assim começa a Snob, editora que absorve a livraria homónima de Guimarães, entretanto arrumada em caixas e tornada nómada pelo Duarte Pereira, com a cumplicidade da Rosa Azevedo. Procura, além de personalidade literária virada para raridades, estratégias outras de financiamento e circulação. Longa vida ao absurdo de editar!

SANTA BÁRBARA, 28 FEVEREIRO Perdido nas correrias, nem vi chegar a festa da carne. Não consegui a pausa, apenas o bálsamo de umas quantas páginas editadas por outros. A Anne, da Chandeigne, no meio da confusão da abertura da nova Librairie des éditeurs associés, teve tempo e gentileza para me enviar o encantatório álbum Le Chant du Marais, no qual Pascal Quignard vai de compor, com a ajuda ilustrativa de Gabriel Schemoul, uma perturbadora melodia sobre o desejo e a inveja. Um jovem cantor mata o seu concorrente sem com isso conseguir calar a voz que maravilhava a Paris do século XVI. Ainda parece ganhar com o sucedido, mas apenas o tempo necessário para que a armadilha se estenda em barroco esplendor. Schemoul põe a passar, em baixo contínuo, uma corrente de naturezas mortas, flores e raízes, restos, aqui um peixe, pequenos seres obreiros da de-

composição, mariposas, ali um crânio. O fluxo passa por construções de carpintaria absurda, cruzamento de instrumento de tortura com exercício de geometria descritiva. Poderosa metáfora, a inveja feita máquina que se alimenta dos restos mortais do desejo. Nestas águas navega também «O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja», assinado pelo director do Hoje Macau. (Hesitei em escrever nestas páginas sobre ele, evitando mal-entendidos talvez morais. No espírito do diário, entendo dever obediência apenas aos apetites do dia, pelo que). Qual contador, são inúmeras as gavetas, portas, passagens e compartimentos secretos deste poderoso romance disfarçado de histórico, que fervilha de ideias. Pisando o chão do milenar confronto entre metades do mundo, possui como núcleo o projecto católico, centrado em Macau, de um arquivo de

Retrato de Almada, patente na exposição da Fundação Calouste Gulbenkian

confissões destinado a facilitar o entendimento dos males do mundo. Dele se extrai caso exemplar, este de Vasques. Com ele andaremos por Coimbra, pelo desejo de partida, baloiçaremos em caravelas, instigaremos motins, conheceremos o exótico, o delírio, mas sobretudo o fel pestilento da inveja. Vasques rouba manuscrito de Camões e por ele se deixa devorar em crescendo. «Aquela obra era demasiado genial para lhe ser permitida a existência. Nós, os mortais, não aguentaríamos viver à sua sombra. Destruí-la seria um acto humanitário, uma bondade digna do grande amigo do Homem.» O achado desta narrativa, a pimenta desta viagem encontra-se na construção fantasmática de Camões, que nunca aparece estando omnipresente, magnífica e tóxica paisagem. Por instantes desfaz-se em volutas de perfume, quase sempre se ergue tornado arrasador. Causado sempre por aquele que em seu escravo se converteu. A inveja faz de nós escravos necrófagos. BIBLIOTECA PÚBLICA, PONTA DELGADA, 2 MARÇO «Amem a noite os magros crapulosos,/ E os que sonham com virgens impossíveis,/E os que se inclinam, mudos e impassíveis,/ À borda dos abismos silenciosos…» O lançamento da Poesia Completa de Antero, na sua terra natal, aconteceu intenso por via do atentíssimo Luiz Fagundes Duarte, pelo olhar esclarecido de Leonor Sampaio, pelas leituras de Nelson Cabral, e as versões criadas por Ana Paula Andrade para a voz dos alunos do Conservatório Regional. Mas não consigo esquecer a carta. A Biblioteca, pela mão de Iva Matos e de Margarida Mota Oliveira, preparou pequena mostra de manuscritos e primeiras edições. E nela brilha com a luz do enigma uma simples missiva dirigida, como hoje, uma quinta-feira, «á noite», ao seu médico. «Peço-lhe o obséquio d’uma nova visita sua, amanhã, por qualquer hora que mais lhe convier, desde a uma da tarde até ao anoitecer. Sinto-me cada vez peor e desejaria ser novamente interrogado e examinado.» No dia seguinte, ao anoitecer, suicidava-se não longe daqui. Ajudará este volume a vencer esta morte? «Eu amarei a santa madrugada,/ E o meio-dia, em vida refervendo,/E a tarde rumorosa e repousada.//Viva e trabalhe em plena luz: depois,/Seja-me dado ainda ver, morrendo,/O claro sol, amigo dos heróis!» (de Mais Luz!)


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WANG CHONG

王充

OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG

É necessário um lapidador ou um joalheiro para revelar o jade escondido na pedra ou a pérola escondida nas entranhas do peixe. Fragmentos de “Autobiografia” –7&8

E

SCREVI a minha obra Crítica da Moral por reprovar os costumes da minha época; escrevi Dos Assuntos Políticos porque me pesava ver os governantes, a despeito da sua boa vontade e reflexão, não adoptar os métodos apropriados e não saber em que sentido dirigir os seus esforços; os Discursos Ponderados foram escritos por não suportar ler tanta efabulação e erro em todas as obras em voga. Tendo os sábios há muito desaparecido, a sua doutrina explodiu em todas as direcções e foram fundadas múltiplas escolas. Os escassos espíritos penetrantes que se deram conta dos danos nada puderam fazer contra as ideias erróneas transcritas e repetidas de geração em geração há mais de cem anos, há tanto tempo, na verdade, que a sua própria idade basta para garantir a sua aceitação. Estão hoje tão gravadas nos espíritos que as gentes não conseguem livrar-se delas por si mesmas: eis por que escrevi os Discursos Ponderados e o fiz num estilo vivo e incisivo, sem deixar passar o mínimo erro, o menor embelezamento da realidade, aproveitando apenas o simples e o sólido, lutando contra os costumes do meu tempo para regressar aos do tempo de Fu Xi [NT – Segundo a lenda, primeiro soberano da China. Os chineses da Antiguidade consideram frequentemente a história como um declínio.]

* * * Os meus livros são claros e fáceis de compreender, daí a crítica frequente: – Os discursos do orador brilhante, os escritos do autor hábil devem ser profundos. Os Clássicos, como os ensinam os antigos sábios, são majestosos, elegantes, incompreensíveis logo à primeira, ao ponto dos actuais leitores precisarem de comentários para os lerem. Possuidores de talentos tão vastos, os sábios não poderiam exprimir-se como o vulgo...É necessário um lapidador ou um joalheiro para revelar o jade escondido na pedra ou a pérola escondida nas entranhas do peixe. Tais como essas matérias preciosas se desvelam ao olhar, as grandes verdades são necessariamente profundas e difíceis. O objecto de Crítica da Moral era a instrucção do povo, daí a sua transparência de pensamento e claridade de estilo. Mas por que se passa o mesmo com estes Discursos Ponderados? Será que por o autor ser tão pouco dotado que o seu estilo é tão transparente? O que justificaria uma escrita tão simples, que tanto choca com a dos Clássicos?

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseia-se na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.


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O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

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ROTA DAS LETRAS | PROJECÇÃO DE “A LISTA DE CHORIN” DE SOFIA LEITE 20h30 | Edifício Antigo Tribunal

Amanhã

ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “PENSAR A CRÍTICA LITERÁRIA” COM INOCÊNCIA MATA E PEDRO MEXIA 18h | Edifício Antigo Tribunal

O CARTOON STEPH

ROTA DAS LETRAS | PROJECÇÃO “LOVE MARRIAGE IN KABUL” DE AMIN PALANGI 20h30 | Edifício Antigo Tribunal

Sexta-feira

ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “SER NERD É FIXE, HISTÓRIAS PARA MIÚDOS” COM OLIVER PHOMMAVANH 16h30 | Edifício Antigo Tribunal

Cineteatro

C I N E M A

THE GIRL WITH ALL THE GIFTS SALA 1

SALA 3

Filme de: Colm McCarthy Com: Gemma Arterton, Sennia Nanua, Paddy Considine 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Filme de: Gore Verbinski Com: Dane DeHann, Mia Goth, Jason Isaacs 14.30, 21.00

SALA 2

SALA 3

Filme de: Chad Stahelski Com: Keanu Reeves, Ian Mcshane, Ruby Rose, Common 14.30, 21.30

Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.15

SALA 2

SALA 3

Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 16.45, 19.15

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Filme de: Keizo Kusakawa 17.15, 19.15

THE GIRL WITH ALL THE GIFTS [C]

JOHN WICK: CHAPTER TWO [C]

LA LA LAND [B]

A CURE FOR WELLNESS [C]

PROBLEMA 192

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 191

UM FILME HOJE

SUDOKU

DE

ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “ESCRITORES NA IMPRENSA” COM BRUNO VIEIRA DO AMARAL 19h | Edifício Antigo Tribunal

ROTA DAS LETRAS | PERFORMANCE “HYDRA E ORPHEU” POR DEMO 20h | Edifício Antigo Tribunal

YUAN

1.15

PACIENTE ZERO

ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “BANDA DESENHADA, UM ACTO DE RESISTÊNCIA” COM CLÉMENT BALOUP 18h30 | Edifício Antigo Tribunal

ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “AUTORES E OS SEUS LIVROS” COM BRUNO VIEIRA DO AMARAL E NATÁLIA BORGES POLESSO 18h | Edifício Antigo Tribunal

0.22 AQUI HÁ GATO

ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “A ATRACÇÃO DO ROMANCE” COM JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS E JOÃO MORGADO 18h30 | Edifício Antigo Tribunal

ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “OS NOVOS CAMINHOS DA LITERATURA TAIWANESA” COM WANG CONG-WEI 18h | Edifício Antigo Tribunal

(F)UTILIDADES

Em Macau somos todos candidatos a paciente zero, à génese, origem do apocalipse zombie. Não por qualquer pandemia, furto imparável de canibalismo ou possessão demoníaca, mas por falta de horas de sono profundo. Podem esquecer as tradicionais formas de contaminação zombie, vírus misteriosos não chegam aos calcanhares da construção civil. Por cá os seres que querem cérebros fazem-se da ausência de sono tranquilo, viram progressivamente de manhã a manhã. Mudam-se chãos do outro lado de paredes de papel, jardins-escola brotam de buracos e cortam ferro no meio da rua, prédios nascem de buracos onde é preciso partir pedra com enormes martelos pneumáticos. Uma sinfonia de construção que se esconde por trás de ténues biombos. Mesmo no silêncio parece haver um eco de metal em pedra, de sólidos em perfusão que nos deixam os miolos líquidos. Pelas ruas de Macau hordas de possíveis pacientes zero arrastam as olheiras em direcção a máquinas de café. É uma questão de tempo até alguém começar a roer o braço de outra pessoa, ou a decomposição tomar conta da carne. Estamos todos para lá da letargia, como os surtos de dança de São Vito, num estertor prévio à viragem. Macau devia ser dirigido por George Romero, o maestro destas manhãs eternas de mortos-vivos, um devaneio de Sam Raimi em direcção ao todo em putrefacção. Cérebros, cérebros!!! Pu Yi

“THE EVIL DEAD” – SAM RAIMI

Longe de pertencer à galeria de melhores filmes, melhor fotografia, por aí fora, “The Evil Dead”, de Sam Raimi, é uma pérola cinematográfica orgulhosa e ostensivamente má. Um clássico dos filmes de terror de baixo orçamento do início dos anos 1980, com um péssimo actor como protagonista, Bruce Campbell, que chegou ao estrelato do cinema série Z desta série de filmes “Evil Dead”. A “história” gira em torno do clássico grupo de jovens que vai para uma cabana na floresta, onde encontra um livro feito de pele, escrito a sangue. O livro dos mortos, claro. Obviamente, contra todas as regras de bom senso, lêem o livro desencadeando um rol de horrores sobrenaturais. Um extraordinário mau filme. João Luz

LA LA LAND [B]

KANCOLLE THE MOVIE [B]

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


16 OPINIÃO

hoje macau quarta-feira 8.3.2017

“Environmental leaders confront complicated and seemingly intractable problems. They consider the impacts of a growing world population, increased energy demand, and resource scarcity. They wrestle with misconceptions of the trade-offs between economic growth and environmental protection. Environmental leaders help us understand the environmental impacts of our actions and design the educational programs that reach out to the world’s inhabitants.” Environmental Leadership: A Reference Handbook Deborah R. (Rigling) Gallagher

O

Grande Delta do Rio das Pérolas (GPRD na sigla em língua inglesa) é uma região de megacidade no sul da China, composta por Dongguan, Foshan, G u an g zh o u , H o n g Kong, Huizhou, Jiangmen, Macau, Shenzhen, Zhaoqing, Zhongshan e Zhuhai como principais cidades na província de Guangdong, e duas regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau. O GPRD tem uma população de mais de cinquenta milhões de habitantes e abrange uma superfície de quarenta e três mil quilómetros quadrados. Além da província de Guandong e das Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau, ainda engloba as províncias de Fujian, Jiangxi, Hunan, Guangxi, Hainan, Sichuan, Guizhou e Yunnan, representando na sua totalidade um quinto da superfície do país, um terço da sua população e do seu PIB. A sua população é similar à dos Estados-Membros da União Europeia. Tendo em consideração apenas a província de Guangdong como parte do GPRD, é de recordar que há aproximadamente vinte e cinco anos a província de Guangdong era constituída em grande parte por aldeias rurais subdesenvolvidas. A partir de 1991 tem-se produzido uma enorme transformação. A política de reforma e abertura da China teve um impacto dramático na sociedade e na economia nos últimos trinta e cinco anos, permitindo que o país entrasse numa era de rápido desenvolvimento. As regiões de megacidade, como o GPRD, são um dos precursores desta transformação. Mas esta rápida mudança levou a um desenvolvimento que não só é enviesado em termos de progresso económico, mas também criou uma sociedade com desigualdades e carências. O GPRD, economicamente, tornou-se uma fábrica de renome mundial, enquanto Hong Kong foi reestruturado como um centro de serviço regional, fornecendo indústrias com funções “frontend”, tais como pesquisa, marketing e distribuição. Uma divisão regional do trabalho, o modelo das “front shops, back factories” começou a tomar forma na década de 1990.

CURTIS HANSON, THE RIVER WILD

A liderança ambiental no Gr

O GPRD, em termos espaciais, como um todo tornou-se cada vez mais policêntrico e muitas cidades e vilas que antes eram áreas periféricas e rurais desenvolveram-se em centros económicos activos. A forma espacial policêntrica combinou-se com a ascensão do empreendedorismo urbano, resultando em um ambiente político em rápido desenvolvimento que incentiva as cidades a competir umas com as outras por mobilidade do capital. Ao contrário do que muitos defendem não se descortinam consequências indesejáveis da fragmentação política que estão a tornar-se cada vez mais agudas, bem como os impactos de Hong Kong e Macau, sob o modelo de um país, dois sistemas, possam vir a ser complicações adicionais a esta fragmentação. Assim, não será também de levar em conta que as fronteiras políticas impedem o planeamento coorde-

nado, bem como socialmente, o GPRD tenha enfrentado desafios causados pelo aumento da população residente, que tem esmagado os governos locais. A inundação da migração rural para as áreas urbanas agravou a infra-estrutura nas cidades e levou a um tremendo crescimento de áreas urbanas mal preparadas, onde milhões de trabalhadores migrantes não têm acesso a serviços básicos. Há também uma necessidade urgente de enfrentar os problemas de uso generalizado da terra, expansão urbana, congestionamento do tráfego, saneamento deficiente e qualidade de vida em declínio em todas as cidades, especialmente naquelas que estão ameaçadas por crescimento rápido e frequentemente descontrolado, inadequado e mal conservadas infra-estrutura, industrialização e a crescente circulação de automóveis e motocicletas.

A sustentabilidade na urbanização está estreitamente ligada à competitividade, especialmente a económica. No entanto, a competitividade não inclui o sucesso não económico ou aceita as consequências, como a polarização social e a poluição ambiental. O favorecimento do crescimento económico tem consequências sociais problemáticas mais amplas. Logo, o conceito de competitividade está a ser modificado para incorporar critérios sociais e ambientais, pois afecta a qualidade de vida. O estudo “Measuring the urban competitiveness of Chinese cities in 2000” de Yihong Jianga e Jianfa Shen, publicado em 2010, sugere que a competitividade global de Guangzhou entre 20 cidades chinesas está a cair devido ao menor desempenho social e ambiental. A competitividade de Guangzhou exige um equilíbrio do crescimento económico com o desempenho social e am-


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OPINIÃO perspectivas

ande Delta do Rio das Pérolas

biental, o que, por sua vez, afecta significativamente a qualidade de vida. É importante referir neste contexto o “Programa Asiático de Incubação de Líderes Ambientais (APIEL sigla na língua inglesa) da Universidade de Tóquio, que se recomenda e propôs ajudar a entender esse equilíbrio. A APIEL é um programa educacional projectado para promover líderes ambientais, especialmente direccionados para questões de sustentabilidade na Ásia, em que parte do seu conteúdo descreve a estrutura e discute as circunstâncias sob as quais a teoria da actividade, pode ser usada para um programa de liderança ambiental, e para ajudar a construir uma melhor qualidade de vida nas cidades, dentro da região do GPRD, que se urbanizam rapidamente. Tal unidade assume a liderança ambiental como uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida durante a rápida

urbanização, bem como o desenvolvimento sustentável no GPRD. Além disso, essa unidade ilustra o uso da liderança ambiental para um futuro sustentável nas cidades do GPRD, utilizando a estrutura da teoria da actividade e estudos de casos, concentrando-se principalmente em domí-

Sendo o GPRD uma das regiões de maior desenvolvimento mundial e tendo a liderança ambiental um papel preponderante, é de considerar as futuras estratégias e políticas futuras neste âmbito

nios importantes para a qualidade de vida urbana, explorando o intrincado relacionamento com a urbanização, bem como são utilizados métodos baseados na teoria da actividade para conduzir a dita unidade e gerir os processos de colheita e análise de dados, concluindo com uma discussão da relevância e adequação da teoria da actividade como modelo para os problemas complexos actuais na promoção de futuros líderes ambientais. A teoria da actividade é sócia psicológica com raízes no trabalho do psicólogo russo Lev Vygotsky, realizado durante a primeira metade do século XX. A percepção importante de Vygotsky sobre a dinâmica da consciência, é de ser essencialmente subjectiva e moldada pela experiência social e cultural de cada pessoa. Além disso, o psicólogo viu a actividade humana como distinta de entidades não humanas. É mediada por ferramentas, sendo a mais significativa, a linguagem. A teoria da actividade teve várias influências posteriores, tendo actualmente como fundamento, a ideia de que as pessoas mudam ou aprendem quando se envolvem na actividade produtiva, e nessa actividade também mudam o seu sistema. A teoria da actividade para promover futuros líderes futuros sugere que a liderança ocorre através da interacção do líder com outros componentes de um sistema de actividade, como as ferramentas que têm disponíveis e as pessoas com quem interagem numa divisão de trabalho. A procura por um futuro sustentável tornou essencial a promoção de líderes ambientais, especialmente para a mediação entre as sociedades do conhecimento e a comunidade. Estudos têm mostrado três comportamentos que parecem relevantes para a liderança ambiental, como sejam os de articular uma visão atraente com elementos ambientais, mudar percepções sobre questões ambientais e tomar acções simbólicas, para demonstrar um compromisso pessoal com as questões ambientais. A APIEL relativamente ao GPRD enfatiza seis atributos para a educação em liderança ambiental, como a informação, ou a capacidade de encontrar, entender e transmitir a inclusão de informações necessárias ou ouvir e usar todas as habilidades e ideias disponíveis; a decisão ou definir e prosseguir uma agenda de acção; a expedição (acção), ou fazer as coisas agora, em vez de mais tarde; a definição de padrões, ou formular a definição de sucesso e a humanidade, ou usando empatia e humor a lidar com os outros. A APIEL, nos últimos anos, construiu redes amplas entre as universidades da Ásia. Os laços com a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST na sigla na língua inglesa) e a Universidade de Sun Yat-sen (SYSU na sigla na língua inglesa) cresceram fortemente através da realização de um exercício de campo denominado GRPD Unit durante três anos consecutivos.

JORGE RODRIGUES SIMÃO

Durante o primeiro ano do programa (2010), usando estudos de casos, foram analisadas matérias relativas às questões ambientais e a necessidade de líderes ambientais na Ásia. Os temas amplos de discussão incluíram o ambiente, a necessidade de líderes ambientais, exemplos de liderança na Ásia, bem como um ambiente sustentável e gestão no GPRD. O programa nos anos seguintes focou o desenvolvimento urbano sustentável no GPRD, tendo sido discutidas a deslocalização urbana sustentável e a regeneração de regiões industriais. Desde que o GPRD é uma das principais regiões económicas no sul da China e um grande centro de manufactura, combinado com a economia em expansão e as influências ocidentais de Hong Kong, criou um portal económico atraindo capital estrangeiro para a China. Nesse âmbito, vários tópicos foram escolhidos para os participantes discutir, e ao fazê-lo, construir as suas habilidades de liderança. Os temas incluíram questões transfronteiriças e programas colaborativos para combater a poluição atmosférica regional e por sua vez, lidar com as alterações climáticas, a regeneração urbana e a deslocalização da indústria para o desenvolvimento sustentável no GPRD. Foram ainda revistas as abordagens que foram utilizadas para o desenvolvimento urbano do GPRD e as cargas ambientais relacionadas nas últimas três décadas, ou seja, as abordagens utilizadas na orientação do desenvolvimento urbano foram estudadas e discutidas. Além disso, o peso ambiental relacionado com as últimas três décadas foi estudado, tendo em Março de 2008, o ex-chefe executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, Sir Donald Tsang Yam-kuen, proposto ao secretário do partido de Guangdong, Wang Yang, que os dois territórios deviam formar conjuntamente um “Círculo de Vida de Qualidade Verde no Grande Delta do Rio das Pérolas”. Os princípios norteadores foram a promoção da protecção ambiental e do desenvolvimento sustentável. O exercício foi realizado em 2012 e os estudos recaíram sobre o desenvolvimento urbano do GPRD, incluindo a formação urbana, a deslocalização da indústria, o desenvolvimento económico, a equidade social e a conservação da biodiversidade. A liderança ambiental é sobre crescimento pessoal ou mudança dentro de um grupo para orientar o desenvolvimento positivo em direcção a uma visão de um futuro ambientalmente amigável e melhor, pelo que encontrar assunto comum, negociação e cooperação são mais adequados para a maioria dos problemas complexos e de longo prazo enfrentados pelos líderes ambientais. Sendo o GPRD uma das regiões de maior desenvolvimento mundial e tendo a liderança ambiental um papel preponderante, é de considerar as futuras estratégias e políticas futuras neste âmbito.


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ÓCIOSNEGÓCIOS

HOUSE OF BEIJO, LOJA DE VINHOS E CONSERVAS GORDON YUEN, FUNDADOR

Natural de Hong Kong, Gordon Yue já importava vinhos de vários países, mas o sabor do néctar português não o fascinava. Um convite à região do Douro mudou tudo. Há dois anos abriu a House of Beijo, loja de vinhos, conservas e produtos de cosmética, por ser uma palavra que apela ao amor e à felicidade, juntamente com um copo na mão

N

ÃO foi amor à primeira vista. Até há quatro anos, Gordon Yuen não conseguia encontrar um único vinho português de que gostasse. “Sempre achei que o sabor era uma porcaria. De verdade. Naquela altura, quando vinha a Macau e tentava provar algum vinho, todos tinham um mau sabor”, contou ao HM. Um convite para ir à região do Douro acabou por mudar a sua percepção sobre os produtos e, hoje, a loja que Gordon Yuen possui na Calçada do Amparo, em Macau, obteve o nome graças a uma das zonas com mais história em termos de produção de vinhos. House of Beijo, ou Casa do Beijo, roubou o nome ao vinho “Quinta do Beijo”. “Recebi um convite para ir ao Douro, então pensei ‘nunca estive em Portugal e tenho aqui uma viagem grátis, com tudo pago’. Foi a primeira vez que fui ao Douro. Havia uma prova de vinhos e achei o vinho incrível. Não conhecia nada sobre aquela região, e comecei a partir daí a adorar esse vinho e a promovê-lo”, contou ao HM. As viagens a Portugal começaram a ser uma constante. “Vou ao Douro, a Lisboa, a várias zonas produtoras de vinho. Mas continuo a achar que o vinho do Douro é o melhor.”

O PORTUGUÊS É QUE VENDE

Durante a entrevista, Gordon Yuen foi à estante buscar uma garrafa de “Quinta do Beijo”, enquanto degustava um copo de vinho de outra nacionalidade. A razão? As fracas vendas dos vinhos franceses, ame-

ricanos ou espanhóis na loja, e o sucesso do vinho português junto dos turistas. “Se abrisse a loja de novo não escolheria esta localização e levava a maioria dos vinhos para Hong Kong, à excepção dos portugueses e do vinho do Porto. São os melhores. Todos os clientes que chegam aqui, sejam da China, de Taiwan ou da Coreia, só procuram vinhos portugueses. Não sabem que há vinhos franceses ou italianos. Compram três e quatro garrafas. Os outros fazem-me perder tempo, acabo por ser eu a bebê-los”, apontou.

HOJE MACAU

Douro, um amor tardio

O SABOR DAS CONSERVAS

Além das estantes cheias de garrafas de vinho, a House of Beijo tem também várias conservas, um sucesso junto de quase todos os turistas que por ali passam. Gostam da qualidade do produto, do sabor do peixe com os vários temperos. Há também produtos de cosmética para a pele e cabelo, vindos de França e feitos com ingredientes naturais. Voltando ao vinho, Gordon Yuen assegura que, na hora de vender para casinos e hotéis, é o vinho francês que acaba por ser sinónimo de qualidade e elegância dentro de um copo. “Quando os clientes vão jogar procuram mais esses vinhos”, aponta, referindo que a culpa é da falta de estratégia de marketing por parte dos portugueses. “O vinho francês é mais conhecido. O vinho português é muitas vezes considerado um vinho barato e nem todos os clientes VIP gostam. Um vinho francês é quase sempre considerado muito bom.”

OS ENTRAVES

Com as portas abertas há dois anos, e com o negócio de importação a correr sobre rodas em Hong Kong, Gordon Yuen explica que o volume de vendas na House of Beijo poderia ser maior. “Tenho de dizer que a localização desta loja não é a ideal, porque não há muita gente a passar por aqui. Está um

As viagens a Portugal começaram a ser uma constante. “Vou ao Douro, a Lisboa, a várias zonas produtoras de vinho. Mas continuo a achar que o vinho do Douro é o melhor.”

pouco aquém das minhas expectativas. Se abrisse de novo não escolhia esta localização”, referiu. Gordon Yuen falou ainda dos entraves que podem existir na relação empresarial com os produtores portugueses. “Em Portugal, o estilo de vida é considerado mais importante do que o negócio. Se eu disser que quero este e aquele produto, dizem-me: ‘ok, está acordado’, mas três meses mais tarde continuo a não ter a minha encomenda. Não

é fácil fazer negócio, sobretudo na área dos vinhos. Precisam de ter grandes encomendas para enviar aos importadores, para não ser tão caro, e precisamos de esperar.” Tudo isto é dito com o sorriso de quem ultrapassa as diferenças culturais na hora de negociar. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

HOUSE OF BEIJO • Calçada do Amparo, n.o 2A - Macau


Há ruído/movimento/pelas ruas da cidade/festejando a ocasião!/E qualquer ressentimento/ zanga ou inimizade/tem desculpa e tem perdão!”

José Carvalho Rego

FILIPINAS APROVADA PENA DE MORTE PARA CRIMES DE DROGA

TAILÂNDIA APREENDE 422 DENTES DE ELEFANTE

As autoridades da Tailândia apreenderam 422 dentes de elefante escondidos num carregamento identificado como pedras preciosas não processadas, e prenderam um cidadão da Gâmbia suspeito de tráfico de marfim, afirmaram ontem as autoridades do país. De acordo com a Associated Press, a busca foi feita porque as autoridades suspeitaram da proveniência da mercadoria - o Malaui - e porque no passado um carregamento de marfim proveniente de Moçambique foi escondido da mesma forma, disse o director-geral do departamento de alfândegas do país, Kulit Sombatsiri. O responsável disse que a apreensão de 330 quilos de marfim, no valor de cerca de 480 mil dólares, foi a primeira na Tailândia este ano, depois de no ano passado terem sido apreendidos mais de 1.200 quilos de marfim em nove casos separados. Os traficantes têm morto dezenas de milhares de elefantes africanos para abastecer a procura de marfim na Ásia, colocando as espécies em grande perigo.

BENFICA SEM FEJSA EM DORTMUND

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Ljubomir Fejsa é ausência na comitiva do Benfica que na manhã desta terça-feira rumou a Dortmund para disputar o acesso aos quartos de final da Liga dos Campeões. O médio sérvio não recuperou de entorse na tibiotársica esquerda que já o tinha deixado de fora dos últimos três jogos dos encarnados, ante Chaves, Estoril e Feirense. Em sentido inverso, o brasileiro Filipe Augusto, que também estava a recuperar de lesão, surge na lista de 22 convocados por Rui Vitória.

quarta-feira 8.3.2017

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Pingue-pongue de risco Coreia do Norte proíbe cidadãos da Malásia de saírem do país

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Coreia do Norte anunciou ontem que proíbe todos os cidadãos da Malásia de saírem do país até que o caso do homicídio do meio-irmão do líder norte-coreano em Kuala Lumpur “se resolva adequadamente”. A Malásia acusa Pyongyang de fazer dos malaios “reféns” e reagiu com outra interdição, proibindo a saída de diplomatas norte-coreanos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte notificou a embaixada da Malásia em Pyongyang de que não permitirá a saída a nenhum malaio do país, até que seja garantida a segurança dos cidadãos norte-coreanos na Malásia. O anúncio surge um dia depois de Pyongyang ter declarado o embaixador da Malásia na Coreia do Norte persona non grata, em represália pela expulsão do seu embaixador na Malásia, Kang Chol, ordenada por Kuala Lumpur no passado sábado depois das suas críticas à investigação pelo homicídio de Kim Jong-nam, meio-irmão de Kim Jong-un. Kim Jong-nam, meio-irmão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, foi assassinado, a 13 de

Fevereiro, por duas mulheres que, segundo as autoridades malaias, lançaram veneno VX contra o seu rosto, provocando a sua morte poucos minutos depois Na quinta-feira, um emissário da Coreia do Norte enviado à Malásia para reclamar o cadáver de Kim Jong-nam negou que este tenha sido assassinado com veneno e atribuiu a sua morte a um ataque de coração. Pyongyang defende que a morte foi causada por um ataque cardíaco e acusou as autoridades

“Este acto é horrendo, os nossos cidadãos estão efectivamente a ser mantidos reféns, em total desrespeito de todas as leis e normas internacionais diplomáticas” NAJIB RAZAK PRIMEIRO-MINISTRO DA MALÁSIA

malaias de conspirarem com os seus inimigos.

RESPOSTA MALAIA

Em resposta, as autoridades da Malásia anunciaram que os funcionários diplomáticos da Coreia do Norte estão impedidos de abandonaram o país. “Nenhum oficial ou funcionário da embaixada da Coreia do Norte está autorizado a abandonar o país”, refere o Ministério do Interior da Malásia em comunicado. Os cidadãos da Malásia estão reféns na Coreia do Norte, disse ontem o primeiro-ministro, após Pyongyang ter proibido de sair do país todos os malaios no âmbito da disputa sobre o homicídio do meio-irmão do líder norte-coreano. “Este acto é horrendo, os nossos cidadãos estão efectivamente a ser mantidos reféns, em total desrespeito de todas as leis e normas internacionais diplomáticas”, disse o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak em comunicado. Najib Razad exigiu a libertação imediata de todos os cidadãos malaios retidos na Coreia do Norte e convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional.

Câmara dos Deputados das Filipinas aprovou ontem a reintrodução da pena de morte no país por crimes relacionados com drogas, ficando agora a cargo do Senado a decisão final sobre a matéria. A lei, que foi aprovada com 216 votos a favor, 54 contra e uma abstenção, tem o apoio do Presidente filipino, Rodrigo Duterte, fazendo parte da sua política de linha dura contra as drogas. As Filipinas suspenderam a pena de morte em 2006, durante o mandato de Glória Macapagal Arroyo (2001 a 2010), que se encontra actualmente entre os principais aliados políticos de Duterte. O projecto de lei 4727, cuja aprovação da Câmara dos Deputados requereu três sessões, indicou prisão perpétua para um total de oito crimes relacionados com drogas. A pena de morte é reservada, entre outros, para tráfico de estupefacientes a partir de certas quantidades, como 500 gramas de haxixe ou 10 de cocaína, assim como para os assassínios cometidos sob influência de drogas. A proposta inicial incluía 21 crimes, entre os quais sequestro, assassínio e violação, mas a Câmara dos Deputados decidiu limitar aos casos relacionados com drogas para agilizar a sua tramitação e com a intenção de mais tarde incluir os itens agora retirados, segundo a porta-voz da Câmara, Pantaleon Alvarez. O projecto para o Senado, formado por 24 senadores, local em que se prevê um debate mais aceso do que ocorreu na Câmara dos Deputados. Nos primeiros sete meses do Governo de Duterte, que assumiu o cargo em 2016, mais de 7.000 pessoas foram assassinadas no país. As organizações de defesa dos direitos humanos, assim como a igreja católica das Filipinas, já enviaram múltiplas petições ao Governo para que abandone o plano de voltar a instaurar a pena de morte.


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