DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
SEXTA-FEIRA 8 DE ABRIL DE 2016 • ANO XV • Nº 3547
Na raiz da Lei
hojemacau
PÁGINA 5
OPINIÃO Lições da História MARION TESSIER
PAUL CHAN WAI CHI
SALLY VICTORIA BENSON
CINEMA NA PELE EVENTOS
FAUNA E FLORA
Contra o bando PÁGINA 6
h
Elliot em Cantão Os 500 Arhats JOSÉ SIMÕES MORAIS
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
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MICHEL REIS
MIGUEL POIARES MADURO
Em busca da democracia europeia ENTREVISTA
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GONÇALO LOBO PINHEIRO
BILINGUISMO
MOP$10
2
MIGUEL POIARES MADURO ACADÉMICO E EX-MINISTRO PORTUGUÊS
“Tive pena de não ter tido tempo para concluir o que me parecia importante para uma reforma da Lusa”
Em Macau para falar da União Europeia e dos Direitos Fundamentais, Miguel Poiares Maduro defende que a Europa e o mundo cometeram falhas no processo de acolhimento de refugiados. Quanto ao terrorismo, o ex-Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional em Portugal acredita que o fecho das fronteiras não é uma solução viável “Os mecanismos de protecção dos Direitos Fundamentais [na UE] são frágeis. Esse é o novo grande debate”
“Europa pode ter resposta mais forte contra terrorismo” Deixou a política para regressar à carreira académica. Como Ministro, o que ficou por fazer? Fica sempre algo para fazer, mas acho que fizemos muito nas minhas áreas. Fizemos uma reforma profunda na comunicação social, mas gostava de ter feito mais com a agência Lusa. Não pudemos avançar tanto e não podemos concluir o contrato de concessão que era suposto só ser concluído no final deste ano. Tive pena de não ter tido tempo para concluir o que me parecia importante para uma reforma da Lusa. No domínio dos fundos europeus deixamos totalmente preparado o Portugal 2020. Tenho pena de não ver a aplicação em concreto desse novo quadro e de não garantir que todas as reformas que empreendemos e que estão no papel sejam realmente implementadas. Gostava de ter tido a oportunidade de ter uma maior margem financeira e que a capacidade orçamental do Estado permitisse fazer outras coisas. Os constrangimentos financeiros são muito grandes, há certo tipo de coisas que gostaríamos de fazer e que não pudemos. Direi que tive uma ou duas frustrações de coisas que tive muito próximo de conseguir fazer e não consegui. Quais são? Uma delas foi o regime de registo e transparência do lobbying. Parecia-me importante esse registo de interesses para Portugal. Tive também uma segunda frustração que é o regime do Televisão Digital Terrestre (TDT), que infelizmente a forma como foi criada em Portugal faz com que seja difícil formar. Tenho muito cepticismo face à realização de uma reforma que permita tornar viável a TDT com uma oferta alargada de canais como eu achava que devia acontecer. Mas devido às circunstâncias, de existir um operador com direitos contratuais e de existir um sistema jurídico também controverso, relativamente aos direitos dos operadores, vai ser muito difícil formar a TDT como ela deveria ser
formada. Temos uma expressão que é “o que nasce torto tarde ou nunca se endireita”. E o regime da TDT nasceu muito torto. Mas ao atribuir direitos a certos operadores, torna muito difícil reformar, porque, para a TDT ser viável, implicava um alargamento muito grande da oferta. Quando íamos testar se era possível uma reforma séria da TDT, a PT (Portugal Telecom, o operador) mudou a sua estrutura accionista. Falando da Agência Lusa. É importante reformar e reforçar as delegações no estrangeiro, até para a própria expansão do Português? Há três aspectos fundamentais para o futuro da Lusa. Um tem a ver com a sua internacionalização. Aí não é simplesmente uma questão de promoção das delegações no estrangeiro, é de reorganizar o posicionamento da Lusa nesse contexto. Talvez assumir algumas prioridades em vez de outras do passado. Fazer mais parcerias estratégicas. Mas era muito importante reforçar o papel da Lusa ao nível da digitalização, com a oferta de conteúdos digitais e também como escola de Jornalismo. Claro que esta visão estratégica tem uma dificuldade: há um problema que é aquilo que pode ser importante para o futuro da Lusa está, em alguns pontos, em conflito com os interesses de alguns dos accionistas privados da [agência]. Seria importante reformar a própria estrutura accionista da agência e ter o Estado português em maioria para permitir esse desenvolvimento. Numa altura em que os meios de comunicação social dependem tanto de uma agência de notícias, esta torna-se, de facto, num bem público. E é fundamental garantir os interesses estratégicos da Lusa. Era muito importante para mim a participação do Estado, para permitir um modelo de maior independência e desgovernamentalização. Em relação à RTP, a RTP Internacional é hoje um canal que satisfaz
as necessidades da comunidade migrante em todo o mundo? O papel de um Ministro nesta área, e foi isso que procurei fazer, é criar uma estrutura institucional na RTP que possa promover uma maior independência e o foco naquilo que devem ser as prioridades do serviço público. A minha expectativa é que possamos melhorar a qualidade da RTPe a sua cultura de funcionamento e institucional, com mais independência e conteúdos diferenciadores. E isso também tem de acontecer no serviço internacional. Deve ser uma prioridade e, no novo contrato de serviço público que celebramos com a RTP, definimos que no seu serviço internacional deve servir a comunidade portuguesa mas também promover a cultura e economia portuguesas. Estou convencido que progressivamente isso vai acontecer.
“A resposta da UE à crise dos refugiados é insatisfatória” Vem a Macau falar da União Europeia , dos Direitos Fundamentais e da sua “relação complicada”. Nos últimos anos tem-se tornado uma relação assim? A principal tensão do papel dos Direitos Fundamentais no quadro da UE é que, inicialmente, os Direitos Fundamentais surgiram na UE como forma de garantir que a própria UE não os violaria. Mas à medida que houve um alargamento, quer da área de intervenção da UE, quer na própria composição, com mais Estados Membros, surgiu a necessidade de garantir que o poder que a UE exerce seja compatível com esses Direitos Fundamentais. Daí a criação da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais, que hoje em dia é vinculativa. Depois surgiu a questão de que a UE deve ter o papel de protecção dos direitos
ao nível dos Estados Membros. Não podemos ter um espaço europeu social, económica e politicamente integrado sem que haja alguma coesão e um nível de protecção dos Direitos Fundamentais nos diferentes Estados. Isso já existe no processo de adesão à UE. Mas uma vez aderindo os mecanismos de protecção dos Direitos Fundamentais são frágeis. Esse é o novo grande debate e a UE tem dois grandes desafios. Quais são? À medida que os seus poderes se alargam, na política de emigração, em poderes em matéria criminal e de combate ao terrorismo, surgem questões sobre se a UE garante ou não esses direitos. Por outro lado, à medida que a diversidade dos Estados Membros aumenta, surgem questões como a que surgiu recentemente com a Polónia e com matérias que dizem respeito à liberdade de expressão e pluralismo dos média. Surgem questões relativas à necessidade da UE ter um papel na garantia de salvaguarda dos Direitos Fundamentais dos diferentes Estados Membros. Se não tivermos pluralismo de informação em todos os Estados Membros, não poderemos ter eleições para o Parlamento Europeu que sejam genuinamente democráticas. Por isso é fundamental que a UE tenha um papel mais forte na garantia dos Direitos Fundamentais. Mas ao assumir esse papel, também significa que a União assume mais poder de intrusão na soberania desses Estados, gerando tensão entre a necessidade de integrar a Europa, em termos económicos e políticos, e salvaguardar a soberania e espaço de autonomia. Portugal tem hoje pluralismo de informação, dado o encerramento de vários jornais? Não acho que estejamos numa situação em que possamos dizer que não temos pluralismos de informação. Temos hoje um serviço público com maiores garantias de independência e isso é muito importante. Sem dúvida
GONÇALO LOBO PINHEIRO
ENTREVISTA
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que a crise que os média atravessam hoje apresenta problemas não apenas em Portugal mas na Europa. A crise financeira apresenta um duplo risco para a comunicação social e o pluralismo: a diminuição do número de títulos e o risco de que possa existir algum controlo desses meios de comunicação social por razões que não têm a ver apenas com a sustentabilidade do órgão de comunicação social mas por interesses de outro tipo. É por haver esse risco de outros interesses no controlo económico dos meios de comunicação social que promovemos um novo regime de transparência e conflitos de interesse relativos aos meios de propriedade.
“A resposta adequada ao terrorismo deve ser o reforço das políticas de integração europeia, um reforço de Schengen” Enquanto Ministro coordenou o processo de acolhimento de refugiados em Portugal. A Europa cometeu aqui muitas falhas? Cometeram-se e continuam a cometer-se falhas importantes no âmbito da UE. A resposta da UE à crise dos refugiados é insatisfatória. Mas demonstra também a dificuldade de funcionamento das próprias democracias hoje. O discurso populista transformou aquilo que era uma atitude humanitária na Europa, no início, para uma atitude de receio e mesmo rejeição. Isso deve-nos suscitar uma grande preocupação quanto ao funcionamento das nossas democracias hoje em dia. A democracia, para funcionar, precisa de uma dimensão de paixão e de racionalização. E estamos a perder os instrumentos de racionalização. Esse falhanço das democracias nacionais que depois leva ao fracasso da resposta europeia à crise de refugiados. Mas a obrigação de acolher refugiados é a nível internacional, não só na Europa, e a Europa até tem feito mais do que muitos outros países. É importante olhar para os dois lados da resposta europeia: é insatisfatória mas é uma resposta que é mais positiva que outros membros da comunidade internacional. Está a referir-se aos Estados Unidos... Sim, aos Estados Unidos e outros membros. A China, por exemplo, poderia ter sido mais activa neste processo? A China também poderia ter. Hoje
em dia, com a capacidade económica e com a posição política que tem, poderia ter tido um papel relevante. O terrorismo tem sido outra das grandes questões na Europa. A resposta, no combate ao Estado Islâmico, tem sido eficaz? Ao contrário do que aquilo que alguns populistas defendem, que é o restabelecimento das fronteiras e colocar em causa o Acordo de Schengen, é o contrário. O terrorismo é, na maior parte dos casos, um terrorismo dos próprios Estados, como se viu em França ou Bélgica. O que a Europa pode é oferecer uma capacidade de resposta mais adequada ao fenómeno do terrorismo e este é um terrorismo diferente do que vimos num passado recente, por exemplo da Al-Qaeda. A Europa pode ter uma capacidade de resposta mais forte e o fundamental é reforçar laços e Schengen é o instrumento mais poderoso para promover a troca de informações. A resposta adequada ao terrorismo deve ser o reforço das políticas de integração europeia, um reforço de Schengen. As fronteiras não são eficazes. Aqui mantemos o Direito de Macau. Acredita na sua manutenção além de 2049? A sua identidade fundamental tem que ser mantida porque é esse o factor distintivo de Macau.Assimilar Macau, incluindo a sua cultura jurídica, na China seria errado, porque então que valor diferenciador é que Macau teria para a China? Não creio que isso seja sequer uma vontade das autoridades da China. Mas o facto de manter a entidade do ordenamento jurídico da [RAEM] não significa que ele não possa obter e ser influenciado por outros regimes jurídicos. Com o envolvimento de tantas empresas internacionais aqui, americanas, pouco a pouco alguns elementos da cultura da Common Law possam ter alguma influência, ou até da própria China. Num contexto de globalização todos os sistemas jurídicos são miscigenados. Portugal poderia fornecer mais instrumentos para a manutenção desse Direito? Portugal deve fazer o máximo possível e ter a maior disponibilidade para a cooperação. Deve utilizar também a sua presença na UE, porque a sua presença na UE também é um instrumento para manter a identidade do ordenamento jurídico de Macau. É importante que o território tire cada vez mais partido desse posicionamento estratégico que penso que pode ser um pólo de comunicação e encontro de diferentes culturas, sociais, económicas e políticas. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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CHEFE DO EXECUTIVO NO PLENÁRIO A 22 DE ABRIL
PREOCUPAÇÕES COM ATRASOS NO HOSPITAL DAS ILHAS
O Chefe do Executivo vai estar no plenário a 22 de Abril, naquela que é a primeira vez que Chui Sai On se desloca este ano à Assembleia Legislativa para responder a perguntas dos deputados. A sessão começa às 15h00 e, como é habitual, será transmitida em directo na rádio e televisão de Macau. O Chefe do Executivo desloca-se duas vezes por ano à Assembleia Legislativa, para responder às “indagações do plenário” sobre assuntos sociais, sendo a segunda vez em Agosto.
Os deputados querem evitar falhas no âmbito da lei de congelamento de bens, tendo criticado o Executivo pelo atraso na preparação do diploma aprovado em Março
A
1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) analisou ontem a proposta de Lei de Congelamento de Bens, votada na generalidade em Março. Segundo a Rádio Macau, os deputados querem evitar erros no processo, já que,
Wong Kit Cheng quer saber novidades sobre as fundações por estacas do edifício de residência dos profissionais e do Instituto de Enfermagem do novo hospital das ilhas, que deveriam estar concluídas em Fevereiro. A deputada diz, numa interpelação, que não há novidades sobre o assunto e quer saber qual a fase de trabalhos das plantas. Wong Kit Cheng pergunta se o Governo está confiante em terminar o projecto a tempo. O novo hospital das ilhas deverá estar pronto em 2019 e Wong Kit Cheng diz que, de acordo com informação no site do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, o concurso para a construção das fundações do laboratório não foi ainda iniciado, o que está a preocupar a deputada.
Congelamento de bens DEPUTADOS QUEREM EVITAR ERROS
Em cima do joelho
em dez anos, em 16 casos de verificação de identidade, os nomes eram diferentes da lista de pessoas sujeitas ao congelamento de bens pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, no âmbito de casos de combate ao financiamento do terrorismo ou comércio de armas e destruição maciça. “É nosso dever e obrigação acautelar a funcionalidade e operacionalidade desta proposta de lei e evitar qualquer prejuízo ou lesões dos interesses das pessoas de Macau”, disse, segundo a Rádio Macau, a presidente da Comissão, Kwan Tsui Hang. A deputada terá referido ainda que o congelamento de bens vai sempre depender de uma investigação e do quadro
jurídico local, que protege a propriedade privada. O diploma vai obrigar as instituições financeiras locais a confirmar a entidade de pessoas que estejam nas listas da ONU e a elaborar
uma lista de agentes ligados ao financiamento de actividades terroristas.
CORRIDA CONTRA O TEMPO
Desde 2003 que o Governo tem um texto de trabalho sobre
COMBATE À FUGA AO FISCO
O
Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, disse ontem que o Executivo tem meios para evitar casos de fuga ao fisco e abertura de contas em offshores. Questionado sobre o facto de 25 empresas de Macau surgirem nos Documentos do Panamá, Lionel Leong disse que Macau não é um território offshore, algo que “toda a gente sabe”. “Qualquer coisa relacionada com fiscalidade, os Serviços de Finanças, através dos seus contactos, têm canais para fazer essa troca de informações fiscais”, disse, segundo a Rádio Macau. Liu Dexue, director dos Serviços para os Assuntos de Justiça, disse que “não tem qualquer informação” até porque a questão “não pertence” às funções que exerce. Segundo a rádio, Liu foi questionado se não interessa às autoridades saber que ligações existem entre empresas locais e a firma de advogados e o responsável afirmou que “não”.
este diploma, mas só agora é que a lei está a ser analisada. A Assembleia Legislativa (AL) terá de a aprovar na especialidade atéAgosto, altura em que o Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais vai realizar uma análise às medidas apresentadas pelo Governo nesta matéria. “Se esta proposta de lei não for aprovada no primeiro semestre deste ano, no segundo semestre, quando Macau for sujeito a uma nova avaliação pelas instituições internacionais, poderá ter problemas”, disse a deputada. “Quando apresentamos estas críticas publicamente, damos conhecimento ao público de que estamos assim: numa situação bastante difícil.
“É nosso dever e obrigação acautelar a funcionalidade e operacionalidade desta proposta de lei e evitar qualquer prejuízo ou lesões dos interesses das pessoas de Macau” KWAN TSUI HANG DEPUTADA Por um lado, temos de dar cumprimento às obrigações internacionais. São iniciativas legislativas que contam com o apoio de toda a Assembleia. Por outro, estamos numa posição passiva”, acrescentou Kwan Tsui Hang, citada pelos microfones da rádio.
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SAFP PROMETEM ELABORAÇÃO DAS LEIS NAS DUAS LÍNGUAS
Um território mesmo bilingue
A
S leis da RAEM vão passar a ser redigidas do zero em ambas as línguas oficiais do território, em vez de traduzidas. A promessa é dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), que não avançam com um calendário. Foi Ho Ion Sang quem levantou a questão: num território onde o Português e o Chinês são duas línguas oficiais, porque é que a “maior parte da versão chinesa das leis em vigor é uma tradução da versão portuguesa”? Numa interpelação escrita entregue ao Governo, o deputado aponta que “as duas línguas são totalmente diferentes e, aquando da tradução, surgem facilmente ambiguidades ao nível da interpretação em relação às versões traduzidas das leis”. Em resposta, os SAFP asseguram que, “no futuro”, a forma de elaboração das leis vai ser alterada. Tanto, que o organismo “está a discutir com aAssembleia Legislativa (AL) orientações sobre a técnica legislativa”, enquanto que, para já, está a ser reforçada a comunicação com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça para “melhorar os trabalhos de tradução”. Mas a tradução pode ser um método que vai ser eliminado. “No futuro, o Governo quer promover que a legislação seja bilingue [do zero], para substituir a tradução jurídica, a fim de garantir que as propostas de lei possam ter maior rigor e segurança jurídica. Desta forma, os utilizadores da lei que apenas conhecem o Chinês conseguem perceber os diplomas e aumenta-se, desta forma, a credibilidade da operação da língua chinesa no sistema jurídico”, explicou Kou Peng Kuan, director dos SAFP.
COMO DISSE?
Ho Ion Sang atribui o problema da “ambiguidade”
ANTÓNIO FALCÃO
Em vez de serem traduzidas, as leis vão ser feitas em Chinês e Português de raiz. É o que asseguram os Serviços de Administração e Função Pública, para responder a críticas do deputado Ho Ion Sang, que aponta lacunas e ambiguidades em diplomas traduzidos
“No futuro, o Governo quer promover que a legislação seja bilingue [do zero], para substituir a tradução jurídica, a fim de garantir que as propostas de lei possam ter maior rigor e segurança jurídica”
“Pode constatar-se claramente que a redacção da versão chinesa de algumas leis e códigos importantes de Macau corresponde a traduções que não foram testadas na prática”
KOU PENG KUAN DIRECTOR DOS SAFP
HO ION SANG DEPUTADO
na tradução das leis à falta de profissionais bilingues no Executivo, especialmente “na área jurídica” e de “alta qualidade na área da tradução”. Enquanto os documentos oficiais do Governo “são elaborados e publicados nas duas línguas”, o mesmo não acontece com as leis. O deputado fala numa tradução “literal” e estilo “robot”, que nem sempre acaba bem. “A Língua e o Direito pertencem a áreas profissionais diferentes. Por forma a salvaguardar a fidelidade das traduções tem-se vindo, ao longo da nossa história, a recorrer a uma tradução feita palavra por palavra ou quase, a tradução literal”, começa por dizer, referindo-se a estudos feitos por académicos. “Pode constatar-se claramente que a redacção da versão chinesa de algumas leis e códigos importantes de Macau corresponde a traduções que não foram testadas na prática.” Ho Ion Sang dá como exemplo a tradução do artigo relativo à personalidade e capacidade jurídica: se, em Português, a lei diz que “a tutela da personalidade (...) abrange as lesões provocadas no feto”, em Chinês lê-se “as lesões do feto estão na tutela”, diz o deputado, que interpreta que “por outras palavras, a lei protege este acto lesivo”. O deputado contesta ainda uma justificação dada pelo Governo, que disse, segundo Ho Ion Sang, que a população não percebe as leis e, por isso, é que elas são ineficazes. “A falta de intérpretes tradutores na área jurídica atinge os 91%”, atira, citando um outro estudo. Na resposta, os SAFP garantem que vão continuar a promover Macau como local de formação de profissionais bilingues e citam programas, como o de
aprendizagem de tradução nas duas línguas, assegurando ainda que vão colocar os formandos em módulos práticos para poderem treinar as traduções. Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
Tomás Chio
info@hojemacau.com.mo
DSAJ ADMITE FALTA DE PESSOAL
O
director dos Serviços para os Assuntos de Justiça, Liu Dexue, admitiu ontem a falta destes profissionais e conta que haja “talentos suficientes” apenas daqui a “dois ou três anos”. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Liu Dexue disse ontem que a DSAJ “sente muita falta de talentos de tradução de leis, tornando-se [este problema] num ponto de obstrução da elaboração de leis com eficácia”. O director frisa que as exigências para estes profissionais são muito altas e passam tanto por compreender as línguas chinesa e portuguesa, como por dominar bem as leis. E o problema actual está nas promoções. “Actualmente os trabalhadores mais excelentes tornaram-se magistrados ou assessores superiores do Governo. A DSAJ já tomou medidas visando a falta de talentos de tradução de leis: recrutamos novos talentos e promovemos a formação específica para os funcionários, depois da fusão com a Direcção dos Serviços da Reforma Jurídica e do Direito Internacional”, frisou Liu Dexue. F.F.
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Fauna e Flora MULTAS PESADAS PARA CONTRABANDO
Comércio em vias de extinção? Tinha prometido fazê-lo no ano passado, mas foi ontem que o Governo apresentou a nova lei sobre o comércio de fauna e flora em vias de extinção. As multas vão, de facto ser mais pesadas, subindo até às 500 mil patacas
O
Governo vai implementar a Lei de Execução da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, aumentando as multas para quem traficar estes itens. O diploma chega 30 anos depois de ter entrado em vigor o regulamento para aplicação no território da Convenção sobre o Comércio Internacional destas espécies, ratificado pela RAEM. “Para acompanhar os progressos feitos a nível internacional e para que fique mais aproximado aos actuais critérios, o Governo elaborou [esta] lei”, indicou ontem o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng. Com a lei, as multas actualmente em vigor para o comércio de espécies em vias de extinção sobem de forma exponencial, em cerca de 10000%: passam de
um máximo de cinco mil patacas para sanções entre as 200 e as 500 mil patacas. O diploma tem ainda anexos referentes não só a espécies em vias de extinção e extintas, como as que podem correr esses riscos. Segundo dados apresentados por Leong Heng Teng, nos últimos anos mais de “sete mil casos” de contrabando foram registados e, em Macau, “tem aumentado o comércio” destes itens. Só nos últimos anos, o contrabando de produtos destes envolveu “600 milhões de patacas”. Com a nova lei, o comércio, importação, exportação e reexportação, bem como a criação e detenção de espécies de fauna e flora – onde se incluem, por exemplo, algumas espécies de orquídeas – é preciso obter licenças e certificados do Executivo. O diploma - que ficará a cabo da Direcção dos Serviços de
Não há espaço
Autocarros Deputado apela a resolução de falta de terrenos
D
EPOIS de terem sido dados como recuperados dois terrenos da operadora de autocarros Transmac, Ho Ion Sang quer saber como é que o Governo vai resolver o problema da falta de espaço para estes veículos. Numa interpelação escrita, o deputado apela ao Governo que resolva a questão da falta de locais que possam servir de oficina de autocarros e de local de recolha. O também presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas da Assembleia Legislativa disse que vai também acompanhar a questão dos restantes terrenos não aproveitados numa reunião em “meados do mês”. Tal como noticiado ontem, o Governo declarou a recuperação
de três lotes que integravam a lista dos terrenos não recuperados pelo Executivo anteriormente. Dois deles eram da Transmac e ficam na Ilha Verde e no Pac On, sendo aqui que a empresa colocava autocarros e fazia a manutenção diária. A empresa diz mesmo que não considera que os terrenos estavam desocupados e discorda que não tenham sido “desenvol-
Economia em colaboração com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e Serviços de Alfândega – tem como principal objectivo “evitar que Macau seja aproveitado como paragem intermediária de contrabando”.
DA HISTÓRIA
As multas actualmente em vigor para o comércio de espécies em vias de extinção (...) passam de um máximo de cinco mil patacas para sanções entre as 200 e as 500 mil patacas vidos”, justificação que levou à recuperação pelo Executivo.
FUTURO EM ABERTO
Para Ho Ion Sang, o uso futuro desses lotes recuperados é ainda um “desconhecido”, mas o deputado apontou que o Governo não acompanha a situação de uso de terrenos da Transmac há 20 anos, sublinhado que tem de se ter em atenção que a operadora – como as outras - precisa mesmo de local para arranjar os veículos. “O Governo deve ter um planeamento prospectivo e uma consideração completa. Pode aproveitar um terreno para colocar os autocarros das três empresas ao mesmo tempo, por exemplo. É preciso que o Governo nos explique esta questão”, apontou. O também presidente da Comissão recordou que existem outros lotes cujo período de concessão expirou mas ainda não foram tratados, criticando a má gestão do Governo neste sentido. F.F.
No ano passado, o IACM assegurou que iria ser a entidade responsável pelo comércio e posse de fauna e flora ameaçadas de extinção, tendo dito também que a lei iria ser apresentada em 2015. Foi numa resposta ao deputado José Pereira Coutinho pelo Gabinete do Secretário para a Segurança que foi anunciada também a subida das multas. Tal como o HM noticiou na altura, o deputado pediu a revisão do regulamento. Numa resposta ao HM, em 2014, os SA explicaram que não há uma aplicação específica para o marfim – o mais comercializado - apreendido em Macau. Este ou segue para organizações com fins de estudo, ou é destruído, já que nada pode ser vendido. A nova lei terá agora de dar entrada na Assembleia Legislativa, para ser apreciada e votada pelos deputados na generalidade e especialidade, antes de entrar em vigor. Joana Freitas (com A.S.S.) joana.freitas@hojemacau.com.mo
ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS COM SUBSÍDIO PARA MATERIAL
Os estudantes do ensino superior vão continuar a receber subsídios para material escolar, anunciou ontem o Governo. O Conselho Executivo deu luz verde ao regulamento administrativo que permite a atribuição deste apoio no novo ano lectivo, com idênticos critérios ao do ano passado. Os alunos podem candidatar-se a um máximo de três mil patacas, desde que sejam titulares do BIR e estejam em instituições universitárias no território ou exterior, desde que reconhecidas pelo Governo. Os estudantes têm até 31 de Maio para se candidatarem e o Executivo prevê que haja 33 mil interessados, o que implica um investimento total de quase cem milhões de patacas.
COLOANE SECRETÁRIO REITERA POSSIBILIDADE DE CASINOS
Em 2009, Pequim afirmou que Coloane deveria ser uma reserva ecológica, mas Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, continua a admitir a possibilidade de nasceram casinos na zona. “Toda as vezes que recebemos pedidos, os nossos colegas vão ter em conta todos os factores, especialmente se isso contribui para o desenvolvimento do centro de lazer e turismo. Desde que não seja contra a lei, temos de tolerar todos os pedidos”, disse ontem, citado pela Rádio Macau, à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa. O HM já tentou perceber junto da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos se o resort The 13, em Coloane, terá casino, mas o organismo garante que não houve ainda qualquer pedido nesse sentido. Já a empresa não responde à questão, apesar das diversas tentativas.
7 hoje macau sexta-feira 8.4.2016
SEGUROS IFF CRIA PROTOCOLO COM UNIVERSIDADE CIDADE DE MACAU
A
Autoridade Monetária de Macau (AMCM) tomou a iniciativa de avançar com um Plano de Formação Contínua para mediadores de seguros, os quais ficarão obrigados a cumprir um número mínimo de horas de formação. Para tal, o Instituto de Formação Financeira (IFF) vai assinar amanhã um protocolo com o Instituto Aberto da Universidade Cidade de Macau (UCM). Ao HM,António Félix Pontes, presidente da direcção do IFF, garantiu que caberá a esta entidade “analisar as acções que sejam mais relevantes para a formação profissional dos mediadores”. A AMCM possui actualmente 5135 mediadores de seguros inscritos, mas os profissionais que estarão
sujeitos ao plano de formação “é de alguns milhares”. António Félix Pontes explicou ainda que, para além da UCM, estão a ser pensadas parcerias com outras universidades. “Durante alguns anos o IFF teve uma parceria com outra universidade num programa de planeamento financeiro, mas essa instituição decidiu cancelar o acordo, pelo que se seguiu a UCM, com quem temos tido a melhor colaboração nesse mesmo programa. Com as restantes universidades com quem estamos em negociações também esperamos, a curto prazo, assinar acordos similares, ou, pelo menos, trocarmos cartas de intenções.” A.S.S.
SOCIEDADE
Português UC, IPM E CANTÃO COMEÇAM MESTRADO EM SETEMBRO
Os primeiros passos
É já em Setembro deste ano que a Universidade de Coimbra põe em marcha um novo curso de Mestrado em Português como língua estrangeira, em parceria com a Universidade de Línguas Estrangeiras de Guangdong. O IPM dá uma ajuda no corpo docente
Investidas no idioma UM cria Associação de Estudos de Língua Portuguesa da Ásia
A
Universidade de Macau organiza hoje e amanhã uma conferência internacional sobre ensino e aprendizagem de Português como língua estrangeira durante a qual será criada aAssociação de Estudos de Língua Portuguesa da Ásia (AELPA). A Associação é criada à imagem de outras associações de professores, investigadores e académicos de estudos portugueses espalhados pelo mundo, como por exemplo a American Portuguese Studies Association (APSA) na América, indica o programa da conferência. A AELPA terá a sua primeira sede na UM durante dois anos e os seus estatutos e primeiro comité executivo serão aprovados durante a conferência. “Esta é a primeira conferência dirigida para as pessoas que ensinam Português na China e na Ásia”, disse à agência Lusa a presidente da comissão organizadora, Inocência Mata. “O que se pretende é direccionar para os colegas chineses que ensinam Português e fazer com que a UM seja uma plataforma de diálogo entre colegas”, acrescentou a professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e docente de Literaturas e Culturas em Português da UM. A conferência vai contar com 52 comunicações e participantes oriundos do interior da China, Japão, Coreia do Sul e Índia. Também participam professores das várias instituições de ensino em Macau e de Portugal. “Na verdade, estamos muito empenhados em que a UM possa
ser uma referência do ensino de Português na Ásia. Esta universidade tem 35 anos e o seu curso de Verão [de Português] vai ser o 30.º este ano, o que já demonstra a persistência (…), mas gostaríamos que ela pudesse ser o lugar de encontro das pessoas que trabalham no ensino da língua”, observou.
DIMENSÕES MÚLTIPLAS
Na conferência vão ser abordadas, entre outros assuntos, “as literaturas de Língua Portuguesa, as metodologias e propostas curriculares, nomeadamente as que melhor respondem ao perfil dos falantes de língua chinesa, que não pode ser a mesma proposta curricular aplicada a um falante de Francês, Espanhol ou Alemão. Há uma grande diferença no imaginário histórico-cultural dos países de europeus e de Língua Portuguesa em África e no Brasil” em comparação com “o acervo do estudante chinês” que estuda Português, afirmou Inocência Mata, sublinhando que essa particularidade deve ser atendida no ensino da língua na Ásia. Outro objectivo, segundo a presidente da comissão organizadora da conferência, é que o ensino da língua lusa seja visto “além da sua dimensão utilitária e que tenha uma dimensão humanística”, porque “aprender as diferentes culturas dos outros povos também é importante para a economia”. “Não podemos perder de vista a dimensão cultural das relações económicas”, concluiu. LUSA/HM
A
Universidade de Coimbra (UC) e a Universidade de Línguas Estrangeiras de Guangdong, em Cantão, vão arrancar já no ano lectivo de 2016/2017 com um curso de Mestrado em Português como língua estrangeira, que dará resposta aos muitos licenciados e docentes que procuram uma maior formação na língua de Camões. Esta é a primeira vez que se cria um Mestrado desta natureza com a participação de Portugal, China e Macau. O curso é da UC, que vai enviar quatro docentes para Cantão, sendo também a universidade responsável pela atribuição dos diplomas aos alunos. O Mestrado será avaliado pela Agência Portuguesa de Avaliação e Acreditação. O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, do Instituto Politécnico de Macau (IPM), vai enviar mais dois docentes, conforme explicou ao HM Carlos André, coordenador do Centro. “Para chegar aqui começámos a trabalhar quando cheguei, há três anos. É um grande passo no sentido da cooperação, ainda que a agência
seja uma autoridade independente do Governo. Mas esta agência irá à universidade em Cantão avaliar o curso. O primeiro ano será feito em Cantão e o segundo, que é a preparação da tese, já tem uma parte substancial que decorre em Coimbra, com os orientadores. A defesa da tese será em Coimbra”, referiu Carlos André. Para já estima-se que o Mestrado possa acolher 20 alunos. “A universidade em Cantão fez um estudo de mercado, não se partiu para isto do nada, e eles avaliaram a possibilidade do número poder
“É um grande passo no sentido da cooperação, ainda que a agência seja uma autoridade independente do Governo” CARLOS ANDRÉ COORDENADOR DO CENTRO PEDAGÓGICO E CIENTÍFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, DO IPM
chegar a 20. Foi fundamental saber isso porque entendemos que o curso deve avançar se houver o mínimo de dez alunos”, garantiu ainda o director do Centro Pedagógico e Científico do IPM.
ACIMA DAS EXPECTATIVAS
Carlos André, que durante três anos tem realizado visitas a todas as universidades da China que ensinam o Português, já tem os dados finais do levantamento que fez sobre as necessidades existentes. “Não é fácil ter os dados sequer e só nas universidades os números surpreendem. Sem falar de Macau, eu apontava para a existência de 1700 estudantes, mas ultrapassam os 2500. Em Macau existem 1300 estudantes de Português nas universidades, entre cursos [da língua] ou disciplinas opcionais.” O novo Mestrado “não responde às necessidades do sistema”, garantiu Carlos André. “Nada do que qualquer um de nós está a fazer responde às necessidades do sistema, porque a China é muito grande”, rematou. Andreia Sofia Silva
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hoje macau sexta-feira 8.4.2016
Aviso Programa de Devolução do Imposto Profissional do Ano de 2014 Nos termos do artigo 18º da Lei n.º 15/2015, a Direcção dos Serviços de Finanças vai devolver 60% da colecta do imposto profissional, até ao limite de 12.000,00 patacas, pago pelos contribuintes que, em 31 de Dezembro de 2014, sejam titulares do bilhete de identidade de residentes da Região Administrativa Especial de Macau, e que pagaram o imposto profissional referente ao ano de 2014 não se procedendo, no entanto, à devolução do imposto de valor inferior a 50,00 patacas. O montante da devolução é pago por cheque cruzado, por transferência bancária e por título de pagamento M/7. A Direcção dos Serviços de Finanças vai proceder em Março e Abril do corrente ano, à devolução do imposto aos contribuintes que reúnem os requisitos para o efeito, por: - Transferência bancária: trabalhadores de estabelecimento de ensino que recebam o subsídio directo, e pessoal docente que receba o subsídio para o desenvolvimento profissional, previstos nos Despachos do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura n.ºs 66/2004 e 76/2012; contribuintes que trataram das formalidades junto dos bancos visados para receber o montante da devolução, por transferência bancária, e os organismos autónomos) e por eles recebam remunerações. - Cheque cruzado a enviar por via postal: contribuintes cujo montante da devolução não seja efectuado por transferência bancária. Os dados relativos à devolução podem ser obtidos da seguinte forma: 1) Os utilizadores do “Serviço Electrónico” dos Serviços de Finanças podem consultar detalhadamente os dados de devolução, através do respectivo sistema;
2) Consulta sumária, através da página electrónica dos Serviços de Finanças, no campo “Consulta do Programa de Devolução do Imposto Profissional”; 3) Nos quiosques da Direcção dos Serviços de Finanças instalados nos diversos locais de atendimento, ou nos quiosques da Direcção dos Serviços de Identificação instalados nos Serviços Públicos, sendo necessário para o efeito o BIR; 4) Podem dirigir-se aos seguintes locais: Núcleo de Informações Fiscais / 2º Centro de Serviços, sitos no Edifício Finanças, r/c e sobreloja, respectivamente; Centro de Atendimento Taipa; ou Centro de Serviços da RAEM. Caso não tenham recebido o cheque cruzado até 18/04/2016, os contribuintes podem solicitar a emissão de 2ª via do mesmo, mediante apresentação do “Pedido de emissão de 2ª via do cheque do Programa de Devolução do Imposto Profissional do Ano de 2014”, durante as horas de expediente, nos seguintes locais: Núcleo de Informações Fiscais, sito no Edifício “Finanças”, r/c; Centro de Atendimento Taipa; ou Centro de Serviços da RAEM. Aos 23 de Março de 2016. O Director, Iong Kong Leong
AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.
2. 3.
Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Rua de Pequim, n.ºs 112A a 136 e Rua de Xangai, n.ºs 93A a 125, em Macau, (Edifício Comercial I Tak); - Avenida de Marciano Baptista, n.ºs 8 a 54C e Avenida da Amizade, n.ºs 1287 a 1309, em Macau, (Edifício Centro Comercial Chong Fok); - Rua do Comandante João Belo, n.ºs 2A a 2E, Rua da Concórdia, n.ºs 30 a 54, Avenida do General Castelo Branco, n.ºs 41 a 67 e Rua do General Castelo Branco, n.ºs 1 a 5, em Macau, (Edifício Wang On); - Estrada Marginal do Hipódromo, n.ºs 2 a 12 Estrada da Areia Preta, n.ºs 40 a 40F e Rua Sete do Bairro da Areia Preta, n.ºs 19 a 39, em Macau, (Edifício Jardim Kam Sau); - Estrada Lou Lim Ieok, n.ºs 711 a 789, na Ilha da Taipa, (Edifício Jade Garden); - Estrada da Ponte de Pac On, n.º 187 e Estrada Nordeste da Taipa, n.º 973, na Ilha da Taipa, (Edifício Island Park); - Rua Son Keng, n.ºs 19 a 95, Rua da Prosperidade, n.ºs 22 a 138 e Avenida Son On, n.ºs 168 a 224, na Ilha da Taipa, (Edifício Industrial Viron). Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do -chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 15 de Março de 2016.
O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong
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SOCIEDADE
Gás Natural GOVERNO CONCLUI ESTE ANO REDE DE DISTRIBUIÇÃO NAS ILHAS
Promessas de estabilidade Este ano, Taipa e Coloane vão ter gás natural. É o que assegura o Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético, que diz, contudo, ainda estar a analisar o pedido da CEM para alargar o número de instalações para geradores
H
OI Chi Leong, coordenador do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE) garantiu que a rede de distribuição de gás natural nas ilhas vai ser concluída este ano. O anúncio surge numa resposta ao deputado Au Kam San, que questionou o Governo sobre a questão. Numa interpelação, o deputado tinha acusado o Executivo de “se mostrar indeciso” face à implementação do gás. O coordenador do GDSE referiu que a conclusão das instalações nas ilhas vai acontecer este ano e diz mesmo que o território terá uma maior estabilidade no fornecimento de gás natural. Au Kam San tinha dito ainda que, com a inclusão do gás nas ilhas, a CEM poderia haver o abastecimento
O coordenador do GDSE referiu que a conclusão das instalações nas ilhas vai acontecer este ano e diz mesmo que o território terá uma maior estabilidade no fornecimento de gás natural PJ DETÉM MENOR CHINESA QUE SE PROSTITUÍA EM MACAU
A Polícia Judiciária (PJ) deteve ontem um suspeito do interior da China, com 19 anos, acusado de tráfico humano de uma jovem de apenas 15 anos, do interior da China, que se prostituía em Macau. Segundo a Mastv, a PSP descobriu a jovem no mês de Março na ZAPE. Durante a investigação da PJ, a jovem assumiu ser proveniente da província de Heilongjiang e disse que, como a família é pobre e precisa de dinheiro, decidiu enveredar pelo caminho da prostituição. Há um ano conheceu o suspeito e decidiu vir para Macau. Lei Hon Lei, porta-voz da PJ, referiu ontem que o homem foi quem organizou e pagou as despesas de alojamento e de passaporte da jovem, tendo ainda feito folhetos de prostituição para distribuir a clientes. A polícia está ainda a investigar o montante total que o suspeito e a jovem conseguiram angariar.
da Companhia de Electricidade de Macau (CEM), mas, no mesmo documento, o Governo diz que ainda está a ser analisado o pedido feito pela empresa para alargar o número de instalações para geradores de gás natural, algo que já tinha sido prometido.
DEPENDÊNCIAS
Sobre o problema da produção de electricidade através do gás natural, o GDSE explicou que a rede visa o fornecimento a habitações e lojas, sendo que o fornecimento de gás natural está dependente da Sinosky. Hoi Chi Leong explicou que a rede utilizada para esse fim já foi estabelecida em 2008, estando prevista a sua utilização assim que o Governo solucione o problema do preço e fornecimento de gás natural. Conforme já foi noticiado, o Governo tem tentado solucionar a falta de fornecimento de gás natural com a Sinosky, tendo sido referida a possibilidade de rescisão do contrato. Sobre o pedido da CEM para o alargamento de novas instalações para geradores de electricidade a gás natural, Hoi Chi Leong sublinhou que a empresa teve de entregar mais documentos para uma análise da eficácia económica e a influência que poderá existir ao nível das tarifas. O Governo deixou a promessa de continuar a estudar o pedido. Tomás Chio
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TABACO MAIS DE 33 MIL ACUSADOS
Desde a entrada em vigor da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo em 2012, mais de 33 mil pessoas foram acusadas por fumar em locais proibidos, depois de agentes de fiscalização terem feito mais de um milhão de inspecções. Entre Janeiro e 31 de Março deste ano foram registadas 1969 acusações, incluindo 1965 casos de fumadores ilegais e quatro casos de venda de produtos de tabaco “que não satisfaziam as normas de rotulagem”. A esmagadora maioria dos fumadores (1833 casos) é do sexo masculino e 58,3% são residentes de Macau. Em 79 casos foi necessário o apoio das Forças de Segurança. Desde o início do ano de 2016 que 1546 pessoas (78,5%) pagaram a multa, sendo que os cibercafés continuam a surgir no topo dos estabelecimentos infractores.
TRÁFICO HUMANO CASOS DE 2015 APONTAM PARA DIMINUIÇÃO
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S autoridades contabilizaram dois casos de tráfico humano no ano passado em Macau, apontam dados da Polícia de Segurança Pública analisados pelo HM. Mas os números poderiam ter sido mais altos e estão envolvidos menores. No total, a polícia chegou a entregar cinco casos de “suspeita de tráfico” de pessoas ao Ministério Público, mas nem todos foram acusados por este crime. “Três dos casos foram acusados de crime de exploração de prostituição, associação criminosa e lenocínio de menores pelo MP e remetidos ao tribunal para julgamento”, pode ler-se na informação disponibilizada no site da PSP. Apesar de ter sido dada continuidade a dois casos, apenas um seguiu para acusação e julgamento, sendo que, noutro caso, “a sentença do Tribunal de Fevereiro de 2016 julgou improcedente a acusação do crime de tráfico de pessoas” e arquivou o processo. No total, foram duas as vítimas envolvidas. Em 2014, as autoridades detectaram quatro casos de tráfico de pessoas, envolvendo o mesmo número de vítimas, mas três foram arquivados e apenas um se mantém em acompanhamento, sendo que não há arguidos no crime de tráfico. Um deles foi “qualificado pelo MP como caso de exploração de prostituição”. J.F.
10 EVENTOS
SALLY VICTORIA BENSON ACTRIZ
“Indústria chinesa do ci
Tais como? Mais oportunidades para as pessoas. Devo reconhecer que tinha uma vida privilegiada. Era uma criança expatriada com uma boa vida e não de uma família com poucos rendimentos a lutar pela sobrevivência numa cidade com uma má economia. Que significa então “divertido”, se havia pouco para fazer? Toda a gente se conhecia. Não havia telemóveis nem iPads. Íamos para o parque de skate (que já não existe) perto do Hollyday Inn, jogávamos à bola, andávamos de bicicleta na vila da Taipa antes da renovação. Também frequentávamos muito Cheoc Van, o que ainda é uma tradição pois felizmente tem sobrevivido ao desenvolvimento. E era barato viver aqui. Por isso quando tínhamos dinheiro, pouco que fosse, dava para imensas coisas. Entretanto, já na Austrália, foi estudar representação... Sim, fui para o Actor’s Center em Sidney e depois, como todos os actores em todo mundo, percebi rapidamente quão difícil era encontrar trabalho. (risos)
“Sou parte dos residentes [de Macau] que vivem num hiato de nostalgia”
E continuou na Austrália? Ainda estudei Jornalismo como plano B, para estar preparada para apresentadora de TV porque lá é preciso saber escrever para desempenhar o lugar e eu não sabia. Enquanto estava entre agentes e trabalhos em restaurantes como os actores fazem, resolvi ir para a China pensando que se aprendesse a língua, como tinha um ar diferente, talvez tivesse alguma hipótese. A ideia era participar nalgumas séries, juntar dinheiro e depois ir para Los Angeles.
Mas demorou o seu tempo até chegar o momento de partir para Hollywood... Sim, acabei por estar muito mais tempo na China do que pensava e só acabou por ser uma opção muito recentemente. Pensava eu, ingenuamente, que ao final de um ano já conseguia dominar o Chinês mas demorou-me três anos até me sentir confortável no “set”. Mas tem um plano específico para Hollywood? Assim que tiver visto, vou. Mas o grande objectivo é estar disponível para trabalhar lá e deixar de perder castings. Por isso, candidatei-me a um visto para artistas especiais baseado no facto de falar Mandarim. Mas tenho compromissos em Macau nos próximos seis a oito meses. O que está a acontecer em Macau? Está efervescente o meio? Não sei se está efervescente mas sinto que há muita gente com vontade de fazer coisas. Para já começo a filmar hoje o novo filme do Thomas Lim (“Mar de Espelhos” – ver HM de 6 de Abril). É uma boa história e gosto do meu papel. Que papel vai ser esse? O de Isabel, uma actriz americana, meio acabada, que vem para Macau à procura de algo. E o sotaque americano vai sair? Espero bem que sim. Tenho andado a ter lições nos últimos tempos. Como praticamente tenho feito tudo em Chinês isso tem afectado a minha gama de sotaques em Inglês. Voltando atrás e à paixão pela representação. É tudo uma questão de imagem, de aparecer? Acho que foi sempre muito óbvio enveredar por este caminho. Sempre fui muito expressiva e criativa. Na Escola das Nações, onde não havia teatro nem nada disso, existia apenas um concerto religioso por ano. Tinha
“O cinema esteve sempre na minha vida sem eu própria perceber” Mas porquê actriz? Porque não realizadora ou outra coisa qualquer? Para ser famosa? Mentiria se dissesse que isso não me passou pela cabeça quando tinha os meus 20 anos mas não penso muito nisso agora. Talvez tivesse sido uma motivação quando as coisas corriam menos bem. Acho que escolhi ser actriz porque não sabia o que pretendia fazer e achei que, como actriz, podia ser qualquer coisa. Na secundária tive teatro, peças de Shakespeare, mas isso nunca me atraiu muito. Mas quando comecei na escola de drama a filmar, o processo todo fascinou-me. Acho que tem muito a ver com a minha personalidade por ser estruturado e organizado e a minha necessidade de ser criativa e de representar.
me adaptar. Não me ensinaram isso na escola mas deviam. Além disso que mais aprendeu a fazer filmes na China? A trabalhar no duro e a estar preparada, a deixar-me ir no fluxo. Porque não há horários e toda a gente faz tudo. Podem não ser os melhores em tudo mas fazem. Não têm tempo para os nossos problemas, para a nossa atitude. Cada noite, à meia noite, metem-me um horário para o dia seguinte debaixo da porta do quarto e as cenas para filmar no dia, mas 99,9% das vezes muda tudo e temos de adaptar os diálogos. Já alguma vez trabalhou com uma produção que não fosse chinesa? O ano passado, com uma australiana. Foi interessante, organizado, refrescante e fácil, diria. Como vê a indústria chinesa do cinema hoje? Fantástica. Acho que se vai transformar na maior do mundo. Há muitos cineastas talentosos e muita gente com dinheiro. Talvez pela primeira vez na história do cinema há gente que pretende mesmo gastar dinheiro em filmes. Não sei se é pela estrutura, pela forma como as coisas são mostradas e que torna muito mais fácil para um investidor ter o retorno de capital ou por ser uma questão de face para dizerem que estão envolvidos no cinema. Do ponto de vista do espectador, acho que os filmes também estão a evoluir. Há mais cuidado. Uma vez ia filmar e não havia som. Perguntei o que se passava e a resposta foi que depois faziam o som em estúdio porque assim filmavam mais depressa...
Qual foi a coisa mais importante que aprendeu na escola de drama? (pausa) Para ser sincera, acho que o mais importante que aprendi foi nos “film sets” na China. Na escola foi a dissecar os guiões e a memorizar. Um exemplo de uma lição em filmagem... Esta foi inesquecível: num dos meus primeiros filmes na China tinha algumas cenas com o actor principal e quando chegou a altura do “close-up” ele foi-se embora e apareceu um assistente de produção com um papel à frente da minha cara. Não queria acreditar. Tive de representar com o papel e ainda por cima tinha de chorar. Foi terrível. Saiu tudo mal, ninguém me tinha preparado para uma coisa dessas. Depois disso aconteceu-me várias vezes e tive de
R
Mas ainda assim era divertido... Era. Acho que o que me dificulta a vida aqui como adulto são essas memórias do passado a que ainda me agarro e a luta para aceitar o novo Macau. Claro que há coisas boas que vieram com isso...
Acha que ainda é preciso estar em Hollywood nos dias de hoje? Existem dois lados: pode-se realmente viver num lado qualquer se se tiver contactos e agente. Mas é sempre preciso um visto e ainda agora perdi dois papéis em filmes chineses que estavam a ser filmados em LA porque não consegui um visto a tempo.
uns nove anos e convenci o reitor a criar um grupo de alunos para ensaiarmos uma peça após as aulas. Aconteceu e, a partir daí, passou a fazer parte do evento todos os anos. Às vezes até me custa a acreditar como fiz isso com aquela idade e a pressão que fazia junto da minha mãe para me levar para os ensaios. Queria mesmo representar. Além disso via muitos filmes em casa com o meu pai. Cresci com o John Wayne e os westerns todos. O cinema esteve sempre na minha vida sem eu própria perceber.
ESSIE
Como foi crescer em Macau? Sou parte dos residentes que vivem num hiato de nostalgia. Foi incrível. Divertido, seguro e interessante. Mas não havia muito para fazer, não havia formas de expressar a criatividade.
O que finalmente parece que vai acontecer... Sim, estou à espera do visto e espero ir em breve.
ION T
Como começou a relação com Macau? Vim para aqui em 1993, tinha oito anos. O meu pai treinava cavalos no Jockey Club. Vivi em Macau até aos 16 anos e depois voltei para a Austrália para acabar a escola secundária.
MAR
Cresceu em Macau, estudou Artes Dramáticas na Austrália mas fez toda a sua carreira de actriz em mais de 15 filmes na China. Hoje começa a rodar o seu primeiro papel em Inglês e em breve espera aterrar em Los Angeles. Em princípio recusaria filmar nua a menos que fosse Scorsese ou Di Crapio a proporem
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EVENTOS
inema é fantástica” Qual o papel que adorava fazer? Todos os que a Kate Blanchett faz. Ela nunca tem um mau papel. Penso sempre que adorava ter aquele guião na minha mesa. Que tipo de actriz é? Onde se sente mais confortável? Acho que sou uma boa actriz mas com muito para aprender. Especialmente agora que começo a fazer papéis em Inglês. Esta participação no “Mar de Espelhos” vai ser a primeira na minha língua. Trabalho no duro, sou fácil de dirigir, mas também acho que sou melhor para um determinado tipo de papéis. Quando temos um papel que encaixa connosco fazemo-lo melhor.
Por exemplo... Em situações sociais, sei que pareço inacessível e rude então papéis desse género, de uma pessoa fria, meio cabra, encaixam melhor. Tenho feito papéis assim e acho que fiz um bom trabalho. Mas também já fiz o papel
“Escolhi ser actriz porque não sabia o que pretendia fazer e achei que, como actriz, podia ser qualquer coisa”
esfuziante, cabeça no ar e acho que não estive mal. Mas como actriz tento não lutar contra o meu tipo. Pode ser uma faca de dois gumes. Acha que os papéis podem influenciar a personalidade do actor? Pode acontecer, sim, mas depende da profundidade do papel. Como tenho trabalhado na China e os estrangeiros nunca têm papéis principais, tenho mais tempo para entrar e sair do personagem. Como entra nos personagens? Penso em imagens. Crio uma imagem mental de como a personagem deve ser. Então acho que tem razão quando
diz que comigo é tudo uma questão de imagem. Não penso tanto como o personagem sente ou nos valores que possa ter mas como se apresenta, no seu visual. E depois comigo a encarná-la, que imagem vai ter. Só aí leio o guião e começo a entrar no lado emocional. Qual foi o papel em que se sentiu mais emergida? Dois. Um filme rodado na Roménia, o que permitia o outro lado tomar conta. Estava num ambiente diferente, não tinha de ir para casa, levar o cão à rua e isso ajudou. Que papel era esse? O de uma rapariga fria e rica (risos) cujo namorado foge para China e ela vai atrás dele. O outro filme foi um de época, antes da queda da dinastia Qing. Fazia o papel de uma menina rica, filha de um homem negócios. Foi o meu primeiro grande papel e entrei mesmo no personagem.
“Talvez pela primeira vez na história do cinema há gente que pretende mesmo gastar dinheiro em filmes” Os personagens que encarna perpassam para a vida real? Não muito mas já dei comigo a pensar que gostava de ser como o personagem e pensar que nunca faria aquilo mas depois vejo-me numa situação real a reagir de uma forma que não estava à espera. Então quer dizer que não podemos confiar num actor... Acho que sim. Os actores, numa definição alargada, são grandes mentirosos. Não quero diminuir a minha profissão, porque ser actor é tornar ficção em realidade. Qual o realizador com que gostaria de trabalhar e porquê? O Feng Xiaogang que fez “You Are The One” porque quando vejo o filme dele aprendo sempre alguma coisa. Apesar de não ser chinesa os filmes dele tocam-me. Não têm é o reconhecimento que deviam ter. E não chinês? Martin Scorsese. E porque adoro filmes de acção, também diria Chris Nolan. Scorsese porquê? Adoro todos os filmes dele. Podemos sempre dizer que ele não faz o filme
sozinho e tem muita gente de qualidade a trabalhar com ele. O cinema, de facto, é um trabalho de equipa, mas os filmes dele são diferentes. Histórias que quero ver e onde queria estar, é difícil dizer porquê. Entremos na máquina do tempo. Vamos para daqui a 40 anos. Que gostaria de poder dizer sobre a sua carreira nessa altura? Que tentei mesmo. Posso ou não estar ao nível de sucesso que pretendia mas tentei. Na Austrália, na China, em Macau, em Hong Kong e, se tudo correr bem, em Los Angeles. Aí não terei arrependimentos. Quero poder dizer que fiz. O que é o sucesso? Uma combinação de ser feliz, ter orgulho no que se fez e ser financeiramente estável o que, às vezes, é difícil de atingir nesta indústria. Hollywood metia-me medo. Não tive de coragem de ir quando tinha 21 anos. O que me faz agora querer ir é, por um lado ter trabalho feito e sentir-me mais confiante e, por outro, tenho trabalhado em casting e percebi que o processo às vezes é ridículo e tem pouco a ver com o talento. Que aconteceu? O ano passado sentei-me com um amigo para o ajudar a escolher uma actriz para uma curta. Chegou uma que era perfeita mas ele recusou-a. A razão? Fazia-o lembrar demasiado a ex-namorada. Nesse momento percebi que não vale a pena ter medo e comecei a trabalhar para ir para LA. Não tenho nada a perder e é melhor agora do que depois de ser velha demais. O papel que nunca faria? Nunca pensei nisso. Nunca me aconteceu aparecer um papel que não gostasse. Nunca fiz papel de má, de assassina... Mas talvez aparecer nua. Mas isso pode acontecer em Hollywood... Até estar na cama com alguém... Ainda há dias falava do “Lobo de Wall Street” com uma amiga e dissemos as duas ao mesmo tempo que se fosse com o Scorsese ou o Di Caprio faríamos. Com outros duvido. Felizmente há imensos papéis e estou em condições de dizer não sem ter medo de não poder pagar a renda. Então a resposta seria não... Teria de ser um grande benefício. Caso contrário para quê fazer? Mas só posso dizer: “nunca digas nunca” e decidir caso a caso. Manuel Nunes
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12 CHINA
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operação “Papéis de Panamá”, que revelou um alegado esquema gigantesco de evasão fiscal, evidenciou Hong Kong como um centro de criação de empresas “offshore”, utilizadas por chineses do continente para transferir capital além-fronteiras. Segundo novos dados revelados ontem pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), os escritórios na China da Mossack Fonseca, a firma de advogados panamiana no centro do furacão, criaram 16.300 empresas de fachada. O caso reacendeu o debate sobre os meios utilizados pelas classes abastadas da China para salvaguardar as suas fortunas e fugir às restrições cambiais impostas por Pequim. Devido à proximidade ao continente chinês e à liberdade que caracteriza o seu sistema financeiro, a
Papéis do Panamá HONG KONG É VIA PARA CONTORNAR RESTRIÇÕES
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O bom estrangeiro
EGUNDO a Xinhua, agência oficial chinesa, o Presidente Xi Jinping pediu às organizações do Partido Comunista da China (PCC) de todos os níveis que trabalhem para garantirem a efectividade de uma campanha de um ano para difundir as regras e bons valores nos membros do Partido. Xi efectuou a declaração durante uma instrução sobre a campanha de educação recém lançada, que se foca no estudo da Constituição do Partido e respectivas regras.
No centro da evasão ex-colónia britânica funcionará mesmo como uma plataforma. “Os chineses estão a transferir o seu dinheiro para fora devido ao abrandamento da economia”, disse à agência France Presse Andrew Collier, director do centro de investigação Orient Capital Research, com sede em Hong Kong.
“O mercado imobiliário está em declínio em muitas zonas do país e existe apreensão com a campanha anti-corrupção e o impacto que poderá ter na segurança do capital na China”, explicou. Através da subfacturação de bens exportados a partir de Hong Kong ou da subvalorização das importa-
ções para a cidade, é possível gerar dinheiro extra, que é depois colocado em contas “offshore”, explica Collier. “Muita gente refere que existem imensas facturas falsas de produtos transaccionados entre a China e Hong Kong, e que Hong Kong está a ser utilizado como uma via para retirar capital do país”, descreve.
ESQUEMA EM MOVIMENTO
“Muita gente refere que existem imensas facturas falsas de produtos transaccionados entre a China e Hong Kong, e que Hong Kong está a ser utilizado como uma via para retirar capital do país” ANDREW COLLIER CENTRO DE INVESTIGAÇÃO ORIENT CAPITAL RESEARCH
PCC Campanha marxista e autodisciplinar em curso
Xi avisou que a campanha é “uma importante tarefa ideológica e política” e crucial para a estratégia de “Quatro Abrangentes”, especialmente para a promoção da administração estrita do Partido em níveis de base. A estratégia “Quatro Abrangentes” refere-se à construção de uma sociedade economicamente ajustada em todos os sentidos, ao
aprofundamento da reforma, ao avanço do Estado de direito e ao governo rigoroso do PCC. Exaltando os resultados das campanhas anteriores na regulamentação dos membros e funcionários do Partido e na correcção dos seus defeitos deles, Xi disse que o trabalho ideológico e político exige esforços de longo prazo.
As empresas chinesas podem então obter dinheiro em moedas estrangeiras junto dos bancos chineses, destinado a pagar produtos importados, mas sobrestimando o montante necessário, que é depois movimentando para contas na cidade. “É muito difícil para um banco distinguir quais
“A nova campanha de estudo é um passo para expandir a educação dentro do partido de ‘alguns importantes’ para mais membros do Partido, e a transferência do estudo centralizado para um estudo conduzido com mais frequência”, disse Xi. O Presidente chinês destacou ainda que a campanha visa consolidar as posições marxistas dos membros do Partido e garantir que todo o Partido mantenha um alto grau de consistência ideológica e política com o Comité Central do PCC.
facturas são verdadeiras ou falsas”, considera Collier. Pequim limita o montante de capital que pode ser transferido por pessoa além-fronteiras a 50.000 dólares por ano, mas através de contas secretas em Hong Kong é possível superar esses valores, explica à AFP o investidor David Webb. Webb argumenta que a cidade carece de transparência no seu mercado de capitais e nas empresas que aí se registam, em parte porque não quer afastar o negócio alimentado pela China. “Adoptaram a política do ‘não perguntes, nem digas nada’, sabendo que a epidémica corrupção no continente é a origem de muitos dos negócios”, refere.
“Estão preocupados que [mais regulação] reduza a quantidade de negócios e a atractividade de listar empresas em Hong Kong”. A China limita a quantidade de dinheiro que cada turista pode levar para fora do país a um máximo de 20.000 yuan e o equivalente a 5.000 dólares em moedas estrangeiras. As restrições geram, entretanto, o fenómeno designado de “mulas do dinheiro”: contrabandistas que carregam cintas de notas coladas ao corpo ou em malas através das alfândegas. Outro esquema envolve a emissão de cheques em moeda estrangeira por bancos ilegais na China em troca de yuan, a moeda chinesa. Lojas de câmbio em Hong Kong servem também de facilitadores para transferir dinheiro para fora. “Enquanto maiores são as restrições impostas pelo Estado, em qualquer país, à movimentação de capital, maiores são os fluxos financeiros ilegais”, conclui Webb.
TÚMULO DE 2000 ANOS AQUI AO LADO
Segundo o Diário do Povo, foi descoberto um túmulo antigo do final da Dinastia Han do Leste (25-220), com cerca de 2.000 anos, na Região Autónoma da Etnia Zhuang de Guangxi, de acordo com um comunicado emitido na quarta-feira pelas autoridades locais. Os arqueólogos desenterraram cerâmicas, potes, tigelas de cobre e moedas. Descobriram ainda brincos de ágata, um espelho de cobre e uma ferramenta de fiação, o que sugere que este pertencia a uma mulher. O túmulo situa-se na bacia do Rio Siqinjiang, um trecho da Rota da Seda marítima, uma rota comercial antiga através da qual a China vendeu seda, cerâmica e chá para os países estrangeiros. De acordo com Chen Xiaolin, director do departamento de relíquias culturais local, os achados no túmulo vêm oferecer informações vitais para a pesquisa levada a cabo em torno da Rota da Seda marítima.
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CHINA
EXÉRCITO CHINÊS ACUSA FILME DA DISNEY DE SUBVERSÃO
O
jornal do Exército de Libertação Popular (ELP), as forças armadas chinesas, acusa o mais recente filme de animação da Disney, “Zootrópolis”, de servir de propaganda subliminar de valores norte-americanos em países como a China. O filme, que está a ser um sucesso de bilheteira na China,
“distorce a realidade e a moral ao trocar os papéis do predador e da presa no seu argumento”, sublinha um artigo de opinião publicado por aquele jornal. Em causa estão os papéis de polícia, atribuído a um coelho encarregado de investigar o desaparecimento de predadores, e
de um dos principais vilões, protagonizado por um cordeiro, num universo em que os animais agem como seres humanos. “Neste mundo cruel, são sempre os lobos a comer os cordeiros, e não o contrário. Um conceito tão fundamental, e que até uma criança pode entender, foi inver-
tido por Hollywood”, destaca o artigo, assinado por Wang Chuanbao, professor de ciência política do ELP. Wang sugere ainda outros exemplos do que designa de “manipulação silenciosa” de Hollywood, como o filme de acção “Pacific Rim”, que retrata as lutas travadas
por monstros e robots gigantes no Mar do Sul da China, actual fonte de tensão entre Pequim e Washington. O “Zootrópolis” é actualmente o oitavo maior sucesso de bilheteira de sempre na China, com receitas no valor de 1.500 milhões de yuan.
Pequim CENTRO FINANCEIRO EXPANDE-SE PARA O SUBSOLO
Enterrar o tesouro
O
jornal Beijing Youth Daily apurou na reunião de oficiais do centro financeiro da capital chinesa, que teve lugar na quarta-feira passada, que um megaprojecto de cinco anos de duração está já em curso. O projecto em questão é um corredor subterrâneo de vários pisos, onde irão existir infra-estruturas dedicadas ao comércio, redes de transportes, acessos para pedestres e automóveis, parques de estacionamento, entre outros. A primeira fase da construção, nas imediações da região norte do centro financeiro, foi já concluída. O corredor subterrâneo será o maior empreendimento no núcleo do centro financeiro da capital chinesa. Deverá ter uma extensão de 400 metros entre o norte e o sul, e 500 metros entre as extremidades este e oeste. No total serão construídos cinco pisos. A secção na região norte do centro financeiro, cujos trabalhos de construção foram já concluídos, perfaz apenas 5% da totalidade do projecto.
O corredor subterrâneo será o maior empreendimento no núcleo do centro financeiro da capital chinesa. Deverá ter uma extensão de 400 metros entre o norte e o sul, e 500 metros entre as extremidades este e oeste De acordo com o responsável do comité de gestão do centro financeiro, o primeiro piso será destinado ao trânsito de pedestres e à actividade comercial. Após darem entrada no local, as pessoas poderão percorrer a rua e visitar os vários edifícios ali presentes. Estará ainda prevista a inclusão de uma estação de metro nas imediações. O segundo piso deverá ter uma auto-estrada, um passeio pedonal, e um parque de estacionamento. O terceiro piso, para além de garagens, será dedicado a dispositivos de aquecimento e outro tipo de maquinarias eléctricas. O quarto e quinto pisos serão reservados para unidades de protecção civil e garagens.
MAIS VERDURA
Para além deste empreendimento, o centro financeiro já começou a mover diligências no sentido de aumentar a área de arborização e da presença de plantas para uma área total de cinco hectares. A presença de elementos de decoração urbanística aquáticos deverá ser também mais proeminente na Praça Xiachen.
Gigante açucarado Cerca de 500 milhões em risco diabético
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AIS de 110 milhões de chineses, cerca de dez por cento da população, “sofrem actualmente de diabetes”, enquanto 500 milhões apresentam “elevado risco de sofrer” da doença, alertou ontem a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por ocasião do Dia Mundial da Saúde, este ano dedicado ao combate à diabetes, a OMS assinala que a falta de exercício físico e uma dieta desequilibrada levaram a que a percentagem de diabéticos na China dobrasse desde 1980. “Mais do que um assunto sanitário, derrotar os diabetes é também uma questão social e económica que requer uma solução que abranja toda a sociedade”, assinalou o director do escritório da OMS, em Pequim, Bernhard Schwartlander. Segundo aquele responsável, 13% das despesas com saúde na China destinam-se ao tratamento de diabetes. Grande parte dos doentes chineses - e 90% a nível mundial - sofrem de diabetes tipo 2, em consequência de dietas com muitas gorduras e açucares ou insuficiente exercício físico. Schwartlander defende profundas mudanças nos hábitos da população chinesa, incluindo os mais jovens. “Mais de quatro em cada cinco adolescentes chineses não fazem actividade física suficiente, e as taxas de sobrepeso e obesidade subiram de menos de 3%, em 1985, para 10%, nos rapazes, e 20%, nas raparigas, em 2010”, frisou. Estima-se que a diabetes cause cerca de um milhão de mortos anualmente na China, entre os quais 40% em idade prematura (antes dos 70 anos), sublinhou a OMS.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Elliot pretende residir em Cantão
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8 de Abril de 1837, segundo o sinólogo macaense Luís Gonzaga Gomes, “O capitão Elliot, plenipotenciário da Inglaterra na China, que residia em Macau por não lhe ser permitida a sua estadia em território chinês, escreveu ao Governador de Cantão, informando-o de que um navio inglês salvara dezassete náufragos chineses e fazendo votos pela continuação da boa amizade entre as duas nações.” É sobre o desenvolvimento cronológico dessa pequena história, onde os ingleses pretendem ganhar a confiança dos chineses e irá terminar na I Guerra do Ópio, assim como o papel nela desempenhado pelo Capitão Elliot, que aqui iremos tratar. Mas antes disso, faremos referência à data de 8 de Abril de 1973 para invocar a morte em Mougins, França, de Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno Maria de los Remédios Cipriano de la Santíssima Trinidad Ruiz y Picasso, artista espanhol nascido em Málaga a 25 de Outubro de 1881, que se dedicou à pintura e escultura e com Georges Braque foi o fundador do Cubismo. De salientar ter o desenho de Pablo Picasso a leitura do Espaço, versus a da forma que representa, pois é o ver pelo interior. Também neste dia, mas a 2013 morreu Margaret Thatcher, a “dama de ferro”. 8 de Abril é o Dia Mundial da Astronomia, excelente para dar atenção ao Céu da humanidade, cuja consciência foge do animal e apenas em laboratório teorizado entra pelas leis científicas da máquina. Sendo ela o protótipo do Ser Humano, que a todo o custo os engenheiros tentam aperfeiçoar, é-nos a máquina agora servida como imagem modelo, e assim por elas normalizados. Observando-nos fora do todo, sem intuição alguma do ânimo, é nesse individual que colectivamente somos legislados. E dizem que andamos em Luta contra o Cancro, que hoje se celebra com um dia mundial e assim, complementamos os dias do calendário anual.
INGLESES NA CHINA
A história seguinte foi compilada pelas Efemérides de António Feliciano Marques Pereira e na Cronologia de Luís Gonzaga Gomes e o que delas citamos não leva aspas para não complicar a
leitura, pois são muito frequentes neste texto e trazem muitas vezes as mesmas palavras. Muita água se tinha passado desde que em 1793, o rei britânico Jorge III tentou estabelecer relações comerciais com a China e para isso enviou uma embaixada de setecentas pessoas com inúmeros presentes entre os quais telescópios, cronómetros planetário e modelos de navios de guerra. Mas só dois anos depois da chegada a Beijing, foi concedida ao emissário Lorde Macartney uma audiência com o Imperador Qianlong, já que este não se entendia quanto ao ritual de submissão do ajoelhar e bater com a testa no chão nove vezes antes de falar com o imperador. Ajoelhando-se apenas sobre um joelho pediu que fosse dada permissão para representantes comerciais residirem na China. Num édito chinês foi-lhes recusada residência e a Grã-Bretanha, um potentado mercantil e em vias de industrialização, tendo a Armada mais poderosa do mundo, bombardeou Nanjing. Os manchus entram em decadência em 1796, quando na China foi pela primeira vez proibida a importação de ópio, o único produto que os britânicos desde 1781 traziam para comerciar nos portos chineses, substituindo-o à prata como pagamento do chá, seda, laca e porcelana. Então a Companhia Inglesa das Índias Orientais decide fazer de Macau o centro para o comércio desta droga. Local para o qual o seu pessoal tinha em 1772 recebido licença do Vice-Rei da Índia para residir, mas apenas no período de intervalo entre as feiras de Cantão. “Já desde o início da década de 1780 que os ingleses mostravam um evidente descontentamento com a submissão à jurisdição chinesa em Cantão, por um lado, e à jurisdição portuguesa mista em Macau, pelo outro. Daí que não tivessem levado muito tempo a empreender o projecto de conseguir um acordo entre Calcutá e Goa, de forma a tornear o problema e passarem a gozar do mesmo estatuto privilegiado de que já gozavam em Portugal”, como refere Jorge de Abreu Arrimar. E com ele continuando, “Fechada a China aos seus planos, os ingleses passaram então a exercer pressão sobre Lisboa e Goa, de forma a poderem vir a estabelecer-se em Macau.” Ainda numa nota citan-
do Ângela Guimarães: “O período das duas primeiras décadas de Oitocentos é para Macau de permanente e intensa resistência ao avanço do expansionismo britânico na região, o qual se processa no contexto mais alargado da rivalidade imperialista franco-britânica.”
A SORTE DE MACAU
Por três vezes a Inglaterra tentou tomar Macau, com o pretexto de vir ajudar os portugueses a se defenderem dos franceses mas, tal como os portugueses não viam com bons olhos esse auxílio, também os chineses se opunham. A primeira tentativa ocorreu em 1802, a segunda em 1807, tendo a 9 de Julho o Governador de Xiangshan enviado uma chapa ao Senado de Macau questionando a razão de aí haverem chegado tantos barcos de guerra ingleses. Por fim, no ano de 1808 vem a ocupação de Macau pelos Ingleses durante três meses. Aí desembarcaram a 21 de Setembro de 1808, com o intento de se
apoderarem da cidade e estabelecerem uma grande feitoria da Companhia; e, tomando ao depois o porto de Vampú (Huangpo) para lugar de repouso e passagem, querem fazer subsequentemente outra feitoria da mesma Companhia na metrópole de Cantão, para tomarem a si todas as fazendas dos outros reinos e ficarem cobrando deles os direitos da alfândega. Pela chapa de 12 de Outubro de 1808 dirigida da Casa Branca ao Vice-Rei de Cantão, ao tempo em que o almirante Drury ocupara com tropas inglesas a cidade de Macau, fica-se a saber o que os chineses pensavam sobre o carácter dos ingleses e a diferenciação que faziam do dos portugueses. Texto publicado no ‘hojemacau’ em 4 de Dezembro de 2015. Ao fim de um mês de ocupação de Macau pelas forças inglesas, principiaram os distúrbios entre os chineses e os soldados da força inglesa. A 18 de Dezembro de 1808 o mandarim de Heangshan informou o procurador de
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José Simões morais
que se à meia-noite ainda lá estivessem as tropas inglesas, o exército chinês entraria em Macau, em conformidade com o decreto imperial. No dia seguinte, para alívio e alegria da cidade partiu o esquadrão. Mas os barcos da Companhia Inglesa das Índias Orientais continuavam a fazer comércio em Macau, até que, devido à tarifa imposta aos estrangeiros por Arriaga, os importadores ingleses passam a ancorar os seus barcos com ópio na ilha de Lintin. Arriaga negoceia o tráfico português com os mandarins, mas sem grandes resultados e em 1823 foi tentado levantar as restrições sobre o ópio estrangeiro em Macau. Já os ingleses estavam consolidados em Lintin e por tal não se interessaram com a nova proposta de Arriaga. Tal foi a sorte de Macau, senão “a crise que levou à Guerra do Ópio teria acabado fatalmente com a histórica colónia como possessão portuguesa.” Montalto de Jesus
IR VIVER EM CANTÃO
É aqui que entra o Capitão Elliot, nomeado a 7 de Junho de 1836 pelo governo inglês para superintendente do comércio britânico na China, em substituição de Sir G. B. Robinson. De salientar que a 22 de Abril de 1834, os privilégios da Companhia Inglesa das
Por três vezes a Inglaterra tentou tomar Macau, com o pretexto de vir ajudar os portugueses a se defenderem dos franceses mas, tal como os portugueses não viam com bons olhos esse auxílio, também os chineses se opunham Índias Orientais na China foram extintos e suspensa a sua sucursal chinesa “devido ao progresso do contrabando privado de ópio”, Jacques Gernet. No entanto, só em 14 de Dezembro é que tal nomeação chegou a Macau. Segundo Marques Pereira diz, “O capitão Elliot, nomeado pelo seu governo presidente da comissão de superintendência do comércio inglês na China, dirige de Macau ao governador da cidade de Cantão, um ofício, pedindo que se lhe permita mudar para aí a sua residência”. E com ele continuando, a 22 de Dezembro ainda desse ano, sem respon-
der à carta que Elliot lhe dirigira, “o governador da cidade de Cantão envia a Macau dois delegados seus, com ordem de inquirirem tudo o que houvesse de verdade acerca da nomeação que Elliot dizia ter recebido do seu governo. Nas instruções dadas aos mesmos mandarins se ordenava também que Elliot fosse constantemente vigiado e que se lhe não permitisse sair de Macau.” O governador de Cantão só a 18 de Março de 1837 deferiu o pedido para Elliot residir naquela cidade. No fim desse mês, num ofício ao governo inglês, Elliot queixava-se da humilhação que sofre no modo de corresponder-se com as autoridades chinesas. – “Dirigem as suas respostas, - diz ele, - aos negociantes chinas, de sorte que falam de mim às vezes, mas nunca me falam a mim”. Uma semana depois, com votos pela continuação da boa amizade entre as duas nações, o capitão Elliot escreve uma carta ao governador de Cantão, informando-o de que um navio inglês salvara dezassete náufragos chineses. A 11 de Abril seguiu finalmente de Macau o capitão Elliot, Ministro da Inglaterra em Cantão para essa cidade. A 19 de Abril de 1837, “o governador da cidade de Cantão, mandou um edital aos negociantes chinas, denominados annistas, que instruíssem o enviado inglês Elliot sobre os termos de respeito que deveria empregar nas petições que houvesse de dirigir a ele governador, - convindo principalmente que nunca o mesmo Elliot se esquecesse de designar a China com as palavras Celeste Império, e bem assim que jamais se enfunasse, como tinha por costume, com a louca suposição de vínculos de paz e amizade entre o Grande Imperador e a pequena Inglaterra. Para evitar de futuro semelhantes ofensas da mais rudimentar cortesia, dispôs também este edital que as petições fossem previamente submetidas ao exame dos annistas, a quem pertenceria verificar se eram formuladas em termos devidos, rejeitando-as quando o não fossem”. Marques Pereira retirou estas informações do Chronology of affairs in China e adita: “Três dias depois Elliot enviou uma carta ao governador de Cantão, expondo a impossibilidade de sujeitar os seus escritos ao exame dos negociantes chinas”. Conseguirá em 25 de Abril, quando “o Governador de Cantão, depois de longas recusas, consente em receber ofícios do enviado Elliot, superintendente do comércio inglês na China, declarando porém que lhe não responderá directamente. Elliot concorda”. Mas seis meses depois, as autoridades de Cantão, isto
é, do perfeito da cidade e do militar mais graduado do distrito, enviavam-lhe directamente uma primeira comunicação a 29 de Setembro de 1837. Já anteriormente, a 1 de Junho, tinha também obtido dos mandarins “licença para entrar e sair do porto de Cantão, numa embarcação própria, todas as vezes que assim lhe convenha, não podendo contudo fazê-lo sem lhes participar com antecedência os dias da sua partida e chegada provável”. O conteúdo da comunicação de 29 de Setembro intimava o enviado Elliot ao dever de expulsar desde logo todos os negociantes e navios ingleses que traficavam em ópio. Ordem que só passado um ano deu aos seus concidadãos pois, por intervenção secreta, o chefe superintendente do comércio britânico na China aconselhava os mercadores a não levarem a sério tal proibição e assim o comércio continuou a fazer-se. A 12 de Julho de 1838, chegou a Macau, num navio de guerra, o almirante Maitland, com instruções para proteger o comércio inglês. Encontrava-se já a Rainha Vitória no trono do Reino Unido. Os governantes Qing, apercebendo-se do perigo que corriam com os ingleses, nomearam Lin Zexu em Dezembro de 1838 para acabar com tal comércio, maioritariamente feito pelo porto de Guangzhou. Só a 18 de Dezembro de 1838 “o plenipotenciário Elliot faz uma intimação aos navios ingleses, empregados em comércio de ópio, para saírem do rio de Cantão no prazo de três dias”. A 31 de Dezembro de 1838, “vencido pela impossibilidade de, por outra forma, se dirigir por escrito às autoridades chinesas, Elliot sujeita-se a dar às suas representações a designação do caractere pân (requerimento) e a redacção que em tais documentos se emprega. (China, por Montgomery Martin, vol. II)”, como refere Marques Pereira. Já segundo Alfredo Gomes Dias, “O ano de 1839 iniciou-se com a nomeação, em 3 de Janeiro, do célebre comissário Lin Zexu para delegado imperial em Cantão, tendo por tarefa prioritária terminar de uma vez por todas com o tráfico do ópio. Sem perder tempo, logo no dia 10, as autoridades imperiais de Cantão publicaram uma nota onde proíbem o tráfico do ópio naquela vasta região triangular Cantão, Macau e Hong-Kong, cujo centro era a ilha de Linding (Lintin), base de toda a distribuição da droga naquela vasta região da China.” O confronto que se seguirá, conhecido pela I Guerra do Ópio, tem no início o comando de Lin Zexu, pela parte chinesa e da inglesa, o Capitão Elliot.
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AKASHI Murakami é um dos mais internacionalmente aclamados artistas contemporâneos dos nossos dias. Nascido em 1962 em Tóquio, estudou na Universidade de Artes desta cidade, onde concluiu a sua licenciatura, mestrado e doutoramento. Fundou a fábrica Hiropon em Tóquio em 1996, que mais tarde se transformou em Kaikai Kiki, uma corporação de produção e de gestão de arte. Para além da produção e marketing da arte de Murakami e trabalhos relacionados, Kaikai Kiki funciona com um ambiente que apoia e promove artistas emergentes, colabora com músicos e marcas corporativas e produz cinema e animação. Um autêntico pára-raios de diferentes valências culturais (antiga/moderna, oriental/ocidental), Takashi Marukami acredita que o artista é alguém que compreende as fronteiras entre os mundos e que faz um esforço para os conhecer. Com o seu distintivo estilo e etos “Superflat”, que emprega técnicas altamente refinadas de pintura japonesa clássica para retratar um conteúdo que mistura conteúdos sobrecarregados de Pop, anime e otaku (termo japonês para pessoas com interesses obsessivos, vulgarmente fãs de anime e manga) num plano figurativo representacional espalmado, Murakami movimenta-se livremente num campo sempre em expansão de questões estéticas e inspirações culturais. Paralelamente a temas utópicos e distópicos, evoca e revitaliza narrativas de transcendência e esclarecimento, envolvendo frequentemente especialistas alheios. Minando temas religiosos e seculares favorecidos pelos chamados “excêntricos japoneses” ou artistas não-conformistas do início da era moderna, comummente considerados como sendo homólogos à tradição romântica ocidental, Murakami situa-se a si mesmo no seio do seu legado de forte e activo individualismo de uma forma que é inteiramente sua e do seu tempo. Para além da uma exposição retrospectiva sua, que teve início no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (“©Murakami”) em 2007, e que viajou para museus proeminentes em todo o mundo, Murakami realizou instalações de grande escala em vários locais como o Palácio de Versailles (“Murakami Versailles”) em 2010, e no Qatar (“Murakami – Ego”) em 2012, deixando a audiência global perplexa com a escala massiva e a qualidade polida das suas obras. No entanto, tais exposições têm sido extremamente limitadas no Japão. Na sua há muito aguardada exposição a solo no Japão, no Museu Mori em Tóquio, que acaba de encerrar, a pintura de Murakami, “Os 500 Arhats” (os discípulos iluminados de Buda), com 100 metros de comprimento por 3 metros de altura, uma das maiores pinturas alguma vez produzidas na história global da arte,
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Michel reis
“Os 500 Arhats” A magnum opus de Takashi Murakami
foi exposta no Japão pela primeira vez. A obra foi criada como prova de gratidão ao Qatar, um dos primeiros países a oferecer assistência na sequência do Grande Terramoto e Tsunami do Leste do Japão, revelado em Doha em 2012. A exposição integrou “Os 500 Arhats” e uma série de obras novas de pintura e escultura, nas quais este artista maduro, que trabalha com uma energia, talento artístico e escala surpreendente, continua a oferecer novos desafios à história da arte contemporânea. A exposição proporcionou ainda uma oportunidade de examinar o papel da arte e da religião no que respeita à agitação social e à mortalidade humana, assim como tomar contacto com a profunda exploração do poder da arte para iluminar a nossa compreensão da condição humana e das realidades do mundo em que vivemos. Recrutando mais de 200 alunos de universidades de arte japonesas, Takashi Murakami levou a cabo a árdua tarefa
de completar a sua magnum opus “Os 500 Arhats”, num espaço de tempo muito curto. A obra consiste em quatro secções ostentando os nomes dos lendários guardiões chineses dos quatro pontos cardeais (Dragão Azul – este, Tigre Branco – oeste, Pássaro Escarlate – sul, e Tartaruga Negra – norte). Abordando os temas da religião e da arte, da mortalidade e das limitações, pode dizer-se que esta obra monumental abre um novo caminho na criatividade de Murakami. Revelada pela primeira vez fora do Japão, a exposição realizada no Museu Mori constituiu o “regresso a casa” e a estreia mundial da obra completa de “Os 500 Arhats”, visto que alguns elementos e detalhes lhe foram acrescentados. Além disso, ao expor partes de materiais vastos usados na produção, tais como desenhos, materiais de pesquisa, e instruções de esboços, a exposição permitiu ainda vislumbrar o sistema de produção de obras de arte de Murakami.
Os 500 arhats são tidos como discípulos de Buda que espalharam os seus ensinamentos e conferem às pessoas comuns a salvação dos desejos mundanos. A fé nos arhats foi levada ao Japão durante o período Heian (sécs. VIII - XII) e floresceu através do país durante o período Edo (sécs. XVIII - XIX) na forma de pinturas e esculturas. Os Quinhentos Arhats de Kano Kazunobu (1816-63), que se encontram no tempo Zojoji em Shiba, em Tóquio, consistindo numa série de 100 pinturas em rolo que retratam as vidas e feitos dos lendários 500 discípulos budistas, foram expostos no Japão pela primeira vez na sua totalidade no Museu Edo de Tóquio imediatamente a seguir ao Grande Terramoto e Tsunami do Leste do Japão e na Galaria Arthur M. Sackler, do Museu Smithsonian em Washington D.C., em 2012. Ambas as exposições foram alvo de uma tremenda atenção do público. Desde o início da sua carreira que Takashi Murakami vem tentando capturar personagens de anime e manga como uma extensão da tradição Nihonga. A pintura com 30 metros de comprimento A Picture of Lives Wriggling in the Forest at the Deep End of the Universe, exibida na exposição, é a sua última variação sobre 727, uma importante obra anterior na qual surge a personagem original de Murakami, o Sr. DOB, montado numa nuvem de uma forma reminiscente à pintura em rolo do período Heian Shigisan Engi (A Lenda do Monte Shigi). Esta pintura recente, na qual as várias personagens e temas que Murakami retratou nos últimos 20 anos são combinados num único plano, pode ser comparada a um álbum dos “maiores êxitos” no qual as obras-primas do artista são coligidas. Tradicionalmente, os espectadores podem tentar discernir o significado de uma obra através do seu título, mas aqui, de facto, não há ligação entre as duas coisas. Murakami pretende que os espectadores imaginem a obra através da leitura do título e que então se achem perplexos com a pintura real, ou como ele próprio coloca a questão, “estar no limiar de compreender a obra mas acabar perplexo”. De acordo com Murakami, “guardar uma distância avassaladora da realidade quando se está a ver uma obra” é uma parte importante da arte. Nas quase psicadélicas pinturas abstractas de Murakami, podemos observar uma mistura de efeitos especiais tipo Star Wars, pintura japonesa e americana avant-garde do pós-guerra, e caligrafia, manifestando-se em formas da Nova Pintura dos anos 80 e em fantasmas do manga de Mizuki Shigeru. As suas pinturas ensō representam simbolicamente não apenas o esclarecimento, a verdade, e a natureza de Buda, mas também o universo na sua totalidade. Ao regressar a temas tradicionais como a transcendência e o esclarecimento e ao revisitar pinturas clássicas assim como o seu próprio trabalho, Murakami dá vida nova ao passado e afirma estar a “prolongar a vida da pintura”.
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O QUE FAZER ESTA SEMANA Sábado MUNDO DE SHAKESPEARE PELA ORQUESTRA DE MACAU Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes entre as cem e 200 patacas
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HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau
C I N E M A
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1.23
AI SE NÃO FOSSEM AS SETE VIDAS
Diariamente
Cineteatro
0.22 AQUI HÁ GATO
WORKSHOP SOBRE MATISSE COM ANA PESSANHA Creative Macau, 15h00 Entrada livre
EXPOSIÇÃO “COLOUR EXCHANGE” (ATÉ 10/04) Casa Garden
(F)UTILIDADES
Pois é, sou de facto um ser com sorte, por ser gato e ter uma catrefada de vidas ao dispor. E porquê? Ora bem, vivo num jornal, um sítio seguro e muito agradável, mas tenho aquele instinto felino que me compele a umas saídas. Felino mas nem tanto, porque andar na rua de pata no chão, às vezes, não é comigo. Logo opto pelos transportes públicos da península. Até aqui tudo bem, se a forma como são conduzidos não me tivesse já dado cabo de umas tantas vidas. Aprimeira estava eu deitadinho lá no banco de trás - no central para ir vendo as vistas bem de frente - quando, assim de súbito, dei por mim esparramado no vidro da frente. Pareceu-me que foi uma travagem, nada suave, mas foi tão rápido e tão abrupto que nem deu para perceber bem. Lá se foi uma vida, fui ao além e voltei. Na vez seguinte sentei-me à janela, mas agora, entre o encosto da frente e o meu: foram tantos os encontrões do pára-arranca “à bruta” que mais parecia uma peluda bola de ping pong em campeonato chinês da modalidade. Recordo ainda aquela outra, em que fiz o upgrade para o pinball: agarrei-me aos varões como se não houvesse amanhã, o autocarro cheio e lá veio o frenesim da condução que me pôs aos encontrões por entre os pés dos humanos que me serviam de amparo. Só saí quando se abriu a porta, enxotado pelo balanço. Senhores motoristas, não há necessidade. Eu tenho uma data de vidas, mas os humanos não e não têm que andar a fazer jogos de equilíbrio e até serem magoados por esta falta de contenção nos vossos pezinhos e mãozinhas. Pu Yi
“THE MOBFATHERS” (HERMAN YAU, 2016)
Está na hora de selecionar um novo dirigente para um grupo de mafiosos de Hong Kong, mas só nove dos seniores do grupo é que têm direito a voto. A Chi, membro da tríade, quer quebrar este sistema de eleição e concorre contra o seu adversário, de nome “Grande Lobo”. Os dois candidatos mostram todo o seu poder para conseguir obter votos, através de... claro, ilegalidades. Uma espécie de sátira às eleições para o Chefe do Executivo de Hong Kong, com humor à mistura. Tomás Chio
THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR SALA 1
THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR [C]
Filme de: Cedric Nicolas-Troyan Com: Chris Hemsworth, Charlize Theron, Emily Blunt 14.30, 16.30, 21.30
THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR [3D] [C]
Filme de: Cedric Nicolas-Troyan Com: Chris Hemsworth, Charlize Theron, Emily Blunt 19.30 SALA 2
BATMAN V SUPERMAN [C]: DAWN OF JUSTICE
Filme de: Zack Snyder Com: Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence Fishburne
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ZOOTOPIA [A]
FALADO EM CANTONÊS Filme de: Byron Howard, Rich Moore 17.00, 21.45 SALA 3
TRIVISA [C]
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Frank Hui, Jevons Au, Vicky Wong Com: Lam Ks Tung, Richie Jen, Jordan Chan
ZOOTOPIA [A]
FALADO EM CANTONÊS Filme de: Byron Howard, Rich Moore 19.30
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18 OPINIÃO
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um grito no deserto
ZACK SNYDER, 300
Lições da História
A
famosa Batalha do Rio Fei marcou a história da China quando um exército de 800.000 soldados, de uma tribo do Norte, foi derrotado pelo exército do povo Han, de apenas 80.000 homens. Os Han ocupavam os territórios a sul do Rio Fei, fronteira entre as duas tribos. Como os homens do Norte não dispunham de veículos para atravessar o rio decidiram aceitar a sugestão do inimigo, ou seja, esperarem que estes o atravessassem e, na margem norte, travarem a batalha decisiva. O comandante do exército do Norte pretendia
atacar os sulistas mal estes desembarcassem, apanhando-os desprevenidos. Contudo a este comandante faltava habilidade e capacidade para organizar, dar directrizes e comunicar de forma eficaz com um exército daquela dimensão. Por seu lado as forças sulistas tinham consciência da sua inferioridade numérica e da sua posição desfavorável, mas eram meticulosos e reuniram informação detalhada sobre todos os pontos fracos do inimigo. Assim que desembarcaram, os homens do Sul lançaram-se ao ataque e, dentro do campo adversário, fizeram correr
o boato de que “O exército do Norte já tinha sido derrotado”. Este rumor causou o caos e desmoralizou os homens do Norte levando-os à derrota. O passado não volta, mas situações idênticas podem repetir-se muitos anos mais tarde. É o caso da “simulação de encerramento das escolas devido a chuvas torrenciais” ocorrida a 21 de Março. Esta história pode ser uma preciosa lição para o povo de Macau. Estes exercícios de simulação são realizados há muitos anos sem qualquer tipo de problema. Mas com o passar do tempo as
Os macaenses sempre prezaram a harmonia e a tolerância. Não dão grande importância ao que está certo e errado. Este “deixar andar” acabará por trazer problemas. A história do simulacro é uma lição para o povo de Macau, e para mim também!
PAUL CHAN WAI CHI
pessoas têm ficado menos atentas. Estava fora de questão que este exercício de simulação fosse anunciado pela TDM como um encerramento a sério. Depois de comunicados onde foram passadas informações incorrectas, foram posteriormente emitidos outros a corrigi-los. No entanto devido ao lapso de tempo entre as duas peças informativas, e ao mau tempo que se fazia sentir nesse dia, a correcção da notícia em vez de esclarecer a situação, ainda gerou mais confusão. Há alguns anos atrás, quando o avião da TransAsia Airways se despenhou em Taiwan, o piloto comunicou que estava a haver uma falha do motor e accionou o botão para o desligar de imediato. Infelizmente, pressionou o botão errado e provocou a queda do avião. O que conta, quando se lida com emergências, é a capacidade de dar prontamente a resposta adequada. As autoridades em Macau estão obviamente falhas dessa capacidade. O produtor e o editor da TDM deveriam ter sido responsabilizados por esta negligência. Embora a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) tenha actuado de acordo com os regulamentos, não revelou estar preparada para uma crise, nem ter capacidade para responder a uma emergência. Este caso mostrou alguns problemas preocupantes, também evidenciados pela forma como o departamento responsável lidou com a desinformação nesta matéria. A TDM adiantou-se e veio apresentar um pedido de desculpas, afirmando que o pessoal envolvido seria responsabilizado. Entretanto a DSEJ prestou esclarecimentos através de uma conferência de imprensa. Quando surgiram mais questões sobre as responsabilidades, a DSEJ emitiu um comunicado de imprensa onde apresentava as suas desculpas, uma forma de pôr ponto final no assunto. Se o director da DSEJ tivesse apresentado as suas desculpas em primeira mão aos estudantes, aos pais e às escolas afectadas, poderiam ter sido entendidas pelo público como “desculpas de mau pagador”. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura também foi involuntariamente envolvido neste caso por ter confessado a sua desorientação “quando foi levar a filha à escola”. Estas afirmações levaram os média a proceder a umas investigações, porque se descobriu que em declarações anteriores tinha afirmado que as suas duas filhas estavam a estudar em Portugal. Acabou por se apurar ter afirmado publicamente noutra altura que a filha mais nova estava a estudar em Macau. Eu simpatizo comAlexis Tam, mas ele deveria ter tido sabido da notícia onde se dizia que as suas duas filhas estudavam em Portugal. Os macaenses sempre prezaram a harmonia e a tolerância. Não dão grande importância ao que está certo e errado. Este “deixar andar” acabará por trazer problemas. A história do simulacro é uma lição para o povo de Macau, e para mim também! Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático
19 hoje macau sexta-feira 8.4.2016
PERFIL ANN CHAN
ANN CHAN, ARTISTA DE AGUARELAS
C
“Sempre tive interesse em pintar”
ONHECEMOS Ann Chan na feira “Sun Never Left”, organizada todos os sábados em frente ao Albergue SCM. Foi aqui que percebemos que a jovem de Macau é também artista: no local vendia muitas aguarelas e as imagens que pinta, de gatos, são tão delicadas que nos despertaram curiosidade. “Tenho gatos em casa há muitos anos mas nunca os desenhava. Por acaso, um dia, os meus amigos perguntaram-me se pensava em desenhar gatos e naquele momento surgiu a ideia. Comecei por tentar desenhar os meus dois gatos, o Man Kei e o Tai Fei”, explica-nos Ann Chan quando a questionamos. A ideia, acrescenta ainda, surgiu em 2013 e, desde aí, nunca mais parou. A jovem, que nasceu e cresceu no interior da China, foi convidada para ser uma das artistas que apresentam as suas obras aos residentes e turistas na feira. No início, Ann não vendia as obras, optando antes por fazer retratos de pessoas. Contudo, confessa-nos, a reacção de clientes não foi tão positiva quanto esperava e a jovem decidiu mudar a forma de fazer as coisas. Agora, Ann até recebe pedidos especiais para pintar. Clientes mostram fotografias de gatos que já faleceram, para que a jovem os pinte e estes fiquem, para sempre, na memória dos seus donos. A nós, a jovem confessa que gosta disto – até prefere ganhar menos com a venda das obras, só pelo prazer de
ajudar outras pessoas a relembrar os seus amigos de quatro patas.
DA ARTE À PUBLICIDADE
Ann nasceu e cresceu no interior da China e relembra que, desde pequenina, que as aguarelas lhe despertaram interesse. Por isso mesmo, começou formação em Arte na escola secundária e tirou um curso para ser docente desta técnica em Cantão. Apesar disso, quando começou a trabalhar, o caminho não foi o de artista nem o de professora e Ann decidiu trabalhar em publicidade. “Não cheguei a ser professora porque comecei a ter outras ideias. Resolvi trabalhar em publicidade gráfica, no início no interior da China e depois em Macau”, conta-nos. Ann veio para o território há sete anos e está a trabalhar na secção de Marketing de uma empresa de venda a retalho, mas continua a utilizar os seus conhecimentos profissionais. Os outros. “Nunca deixei para trás o que estudei, porque é sobre estética. Acho que quem estudou Economia, pode não conseguir fazer publicidade. Faço muitos cartazes para a minha empresa, que precisa de mim”. Mas Ann tem agora ‘duas vidas’ uma de trabalho e uma artística. “São duas coisas separadas. Quando trabalho e quando desenho. Esforço-me muito no horário de trabalho e só crio nos tempos livres”.
Para Ann Chan, Macau tem muito mais recursos e maneiras de fazer Arte, comparativamente ao interior da China. “Sempre tive interesse em pintar, mas quando trabalhei na China, não fazia arte por causa do ambiente, não existe uma atmosfera como em Macau. Muitos colegas meus também deixaram o meio artístico, a não ser os que são professores”. Mas Ann não deixou o sítio onde nasceu só por causa disto. A área onde trabalha foi outra das razões, já que “é muito difícil trabalhar” em publicidade na China continental: trabalhava dia e noite por causa das exigências dos clientes, algo que a deixava exausta. Mas teve sorte. Conseguiu trabalho em Macau e conheceu um mestre de aguarelas por cá, voltando a relembrar como se pinta. Ann Chan não se fica só pelos gatos e gosta muito de desenhar paisagens, objectos e retratos. A jovem diz que Macau dá muitas oportunidades a pintores e artistas. Ainda não é suficiente, diz contudo, questionando: “o que é mesmo uma indústria cultural e criativa? Não é apenas de quem sabe desenhar. É preciso um planeador para ajudar os artistas, criando a imagem deles e dando valor às suas obras. É verdade que existe um grupo de artistas em Macau e o Governo apoia muito, mas acho que está em falta um planeador em Macau, há uma desconexão entre os artistas e os consumidores”, disse.
No ano passado, Ann Chan organizou a sua primeira exposição: “Paint whatever you like”, onde mostrou principalmente aguarelas de gatos. A exposição foi inspirada por uma voluntária que ajuda felinos abandonados. “Fiquei muito triste depois de visitar a voluntária, que adoptou um grupo de gatos em casa, algumas das fêmeas até estão grávidas. Acho que a sociedade deve dar atenção à importância de esterilização de animais abandonados para que não se reproduzam mais”. Na exposição, Ann vendeu as suas obras e as receitas foram todas para ajudar a voluntária. No início deste ano, a jovem fez parte de outra exposição - “Brush Together” - com sete pintores locais. As obras de Ann foram novamente os gatos pintados a aguarela, duas paixões da jovem. Ann vai agora participar em mais uma exposição juntamente com outros artistas locais, mas desta vez as obras em exposição são paisagens, ainda que pintadas na mesma a aguarela. Olhando para futuro, a jovem ainda não tem um plano muito claro, mas sabe que não quer continuar pelo caminho das exposições dos seus trabalhos. “Quero fazer uma pausa, pensar no caminho para o resto da vida”. Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
“
se o tempo / que se isola / a arrefece / no muro / em que se finda / e nos separa / para quê / pedra / musgo / orquídeas bravas / vegetando / no tronco / que envelhece / melhor / a morte / que valor / nos desse”
Alberto Eduardo Estima de Oliveira
Portugal JOÃO SOARES PROMETE “BOFETADAS” A COLUNISTAS DO PÚBLICO
Bengaladas à antiga
ças de agressão física a alguém que usou do direito da opinião crítica”, disse o crítico ao PÚBLICO. Já Vasco Pulido Valente, que escreveu recentemente sobre a saída deAntónio Lamas do CCB referindo a “insignificância e a grosseria” de Soares, diz ao PÚBLICO, sobre as eventuais consequências políticas deste acto do ministro: “Não sei o que é permitido e o que não é permitido neste Governo”. Quanto às ameaças de João Soares, riposta: “Fico à espera, para me dar as bofetadas”. Entretanto, à Antena 1, o ministro da Cultura reafirmou as suas declarações escritas no Facebook embora sem querer gravar as suas declarações.
BE CRITICA, PS E PCP EM SILÊNCIO
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ministro da Cultura, João Soares, ameaçou na manhã desta quinta-feira dar “bofetadas” aos colunistas Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente na sequência de um artigo de opinião de Seabra que critica os seus primeiros quatro meses de governação. Para Augusto M. Seabra, a ameaça de João Soares “é inqualificável” por parte de um membro de um “governo democrático”. Já Pulido Valente diz: “Fico à espera, para me dar as bofetadas”. Através da sua conta na rede social Facebook, (ver caixa), o ministro recorda: “Em 1999 prometi-lhe publicamente um par de bofetadas. Foi uma promessa que ainda não pude cumprir, não me cruzei com a personagem, Augusto M. Seabra, ao longo de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa sorte. Lá chegará o dia”. Mais à frente no seu post, João Soares diz: “Estou a ver que tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente, para as salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também”.
O ministro socialista que tem também a tutela da comunicação social pública (da RTP, da RDP e da agência Lusa) escreve após a publicação no site do PÚBLICO do artigo de opinião “Tempo velho” na Cultura, na quarta-feira, em que o crítico e programador cultural se debruça sobre a nomeação e percurso, até agora, de Soares à frente da pasta da Cultura. Passando em revista casos como o do Centro Cultural de Belém (CCB), a nomeação de Pacheco Pereira para a administração do Museu de Serralves ou a orçamentação do sector, Seabra critica a afirmação de “um
estilo de compadrio, prepotência e grosseria” e diagnostica “uma situação de emergência” no sector cujas raízes atribui já ao governo Sócrates. No texto, que será publicado na edição do suplemento Ípsilon desta sexta-feira, Seabra descreve ainda João Soares como um “derrotado nato”, referindo-se às suas participações nas eleições autárquicas em Lisboa e em Sintra e para o cargo secretário-geral do PS. Para Augusto M. Seabra, a ameaça de João Soares “é inqualificável”: “Acho inqualificável que, num governo democrático, um membro desse governo faça amea-
DO FACEBOOK
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sexta-feira 8.4.2016
m 1999 prometi-lhe publicamente um par de bofetadas. Foi uma promessa que ainda não pude cumprir. Não me cruzei com a personagem, Augusto M. Seabra, ao longo de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa sorte. Lá chegará o dia. Ele tinha, então, bolçado sobre mim umas aleivosias e calunias. Agora volta a bolçar, no “Publico”. É estória de “tempo velho” na cultura. Uma amiga escreveu: “vale o que vale, isto é: nada vale, pois o combustível que o faz escrever é o azedume, o álcool e a consequente degradação cerebral. Eis o verdadeiro vampiro, pois alimenta-se do trabalho (para ele sempre mau) dos outros. “Estou a ver que tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente, para as salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também.”
Entre os partidos, o PSD foi o único a fazer uma declaração oficial. Hugo Soares, vice-presidente da bancada parlamentar social-democrata, disse no Parlamento que as declarações de João Soares são “inqualificáveis e “demonstram um padrão de falta de respeito pela liberdade de expressão”. Contudo, Hugo Soares evitou pedir a demissão do ministro, com o partido a não seguir a posição pessoal de Sérgio Azevedo, outro vice-presidente da bancada parlamentar, que no Facebook apontou a porta da saída a João Soares. “Um ministro (sim com m pequeno, minúsculo) que promete ‘bofetadas’ a um crítico, para além de ser um tipo pequenino, só tem um caminho: a demissão!”, escreveu o deputado na sua página pessoal no Facebook. É a opinião de Daniel Oliveira, comentador político fundador do Bloco de Esquerda e fundador do Livre, que pede também a demissão de João Soares. “Um ministro que ameaça fisicamente quem o critica não pode ser ministro”, escreve o comentador no Facebook. Oliveira considera que depois do post no Facebook, “João Soares tem de se demitir, António Costa tem de se demarcar desta ofensa à democracia e os partidos que sustentam o governo têm de ser muitíssimo claros. Não há inimputáveis em política e se permitimos que a ameaça física passe a ser a forma dos governos reagirem à crítica tudo é possível”.
Os responsáveis do Bloco de Esquerda não vão fazer declarações públicas, mas o partido já tomou uma posição através de uma fonte oficial ouvida pelo PÚBLICO: “No caso do ministro João Soares são coisas que um governante não deve dizer. Não é o cargo que se deve adaptar ao titular, é o titular que se deve adaptar ao cargo.” Contactado pelo PÚBLICO, o grupo parlamentar do PS diz que “está em silêncio”. As bancadas do PCP e do CDS ainda estão a ponderar se vão assumir uma posição pública sobre a ameaça do ministro. Questionado pelo PÚBLICO sobre o que as declarações do ministro representam no âmbito da liberdade de expressão, o Sindicato dos Jornalistas “vinca a defesa da liberdade de expressão como algo fundamental em democracia, rejeitando qualquer tentativa de a limitar e ameaçar, e recorda a propósito a responsabilidade de detentores de cargos públicos, nomeadamente governantes, na garantia de que esse direito possa ser exercido livremente e sem condicionamentos de qualquer espécie”. Isabel Salema e Sofia Rodrigues Publico
WYNN PALACE SÓ EM AGOSTO
A Wynn confirmou ontem um novo adiamento da abertura do seu terceiro casino, estimando agora que a inauguração seja a 8 de Agosto. A abertura do Wynn Palace esteve inicialmente anunciada para Março passado, depois foi adiada para 25 de Junho e agora surge a confirmação de nova data, como os responsáveis pela Wynn Resorts, do norteamericano Steve Wynn, já tinham sugerido que poderia acontecer. “Esperamos abrir em Julho ou talvez na primeira semana de Agosto. Estamos a pensar em [oito de Agosto]”, disse Steve Wynn, afirmando que são “uma espécie de números da sorte”, numa referência à associação entre o oito e a prosperidade. O dono da Wynn Resorts, citado pelo portal especializado em jogo GGRAsia, falava na quarta-feira à noite, numa apresentação a investidores em Las Vegas.