Hoje Macau 8 JUN 2016 #3588

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

CARMO CORREIA

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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QUARTA-FEIRA 8 DE JUNHO DE 2016 • ANO XV • Nº 3588

PETIÇÃO

Enganos de Zhuhai PÁGINA 5

h

Patriota ou traidor? Feliz aniversário JULIE O’YANG

GRANDE PLANO

AMÉLIA VIEIRA

MONG-HÁ

hojemacau

Onde está a cultura? PÁGINA 7

AL DEPUTADOS QUEREM VER DIPLOMAS APROVADOS

As leis do desejo

A cerca de dois meses do fim da sessão legislativa, deputados manifestam preocupação com a necessidade de aperfeiçoamento e aprovação de vários diplomas. Tabaco, erro

médico, renovação urbana ou lei dos animais são exemplos dados. Há mesmo quem diga que se algumas das leis não forem agora aprovadas, poderão nunca o vir a ser.

PÁGINA 4

YOGA

CELEBRAR EM COLOANE EVENTOS

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BARCOS-DRAGÃO LENDAS DO MAR


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BARCOS-DRAGÃO MODALIDADE SERVE PARA REFORÇAR LAÇOS DE UNIÃO NA SOCIEDADE

A

S lendas são muitas, mas a que ouvimos vem da boca de Peter Tang, membro executivo da Associação Geral de Remo de Macau-China. “O grande poeta e ministro do rei de Chu foi destituído e exilado. Com a vergonha matou-se nas água do rio Miluo. As pessoas, que tanto gostavam dele começaram a bater em tambores para que os peixes não comessem o corpo do poeta, depois lançaram-se à agua com os barcos para alimentar os peixes com arroz enrolado em algas. Assim o corpo preservava-se”, explica, com ar de pouco convencido. Há outra lendas, continua, que indicam que os barcos entraram no rio para tentar salvar o poeta e por isso se rema com tanto empenho. Há ainda, quem, atentamente a ouvir a história, intervenha e diga “o poeta era apaixonado pelo rei, era um amor impossível”. No fundo não se sabe a origem, mas o quinto dia do quinto mês, de acordo com o calendário lunar chinês, é altura de comemorar o Festival dos Barcos-Dragão. Macau começou as sua regatas sem qualquer apoio, de forma voluntária, mas agora conta com o apoio do Governo. “Cada equipa

tem direito a 10 mil patacas com a inscrição”, começa por explicar Peter Tang. O Instituto do Desporto (ID) confirma, na sua página de internet, que “em Macau a actividade dos barcos-dragão era inicialmente organizada de forma voluntária por organizações não governamentais e não se realizava todos os anos de forma consecutiva”. “Desde 1979, esta actividade passou a ser promovida de forma anual como uma regata internacional de barcos-dragão, para a qual equipas de diferentes países têm sido convidadas a participar neste que é um evento desportivo tradicional em Macau”, pode ainda ler-se. Desde o estabelecimento da RAEM que a Regata Internacional de Barcos-Dragão de Macau é organizada em conjunto pelo ID e pela Associação de Barcos-Dragão de Macau, China. “Não só os barcos-dragão a remos se tornaram num evento festivo muito popular durante o Festival de Barcos-Dragão de Macau, como também as Regatas Internacionais de Barcos-Dragão de Macau se tornaram num evento desportivo muito importante. O nível da competição tornou-se cada

HOJE MACAU

UMA GRANDE ´ FAMILIA

HOJE MACAU

GRANDE PLANO

“Os atletas precisam de estar em forma, precisam de se preparar para a corrida. É preciso muita preparação física” “Aqui não há classes sociais. Somos todos iguais” PETER TANG ASSOCIAÇÃO GERAL DE REMO DE MACAU-CHINA

vez maior, contando cada vez com mais participantes, atraindo milhares de atletas chineses e estrangeiros que se reúnem todos os anos em Macau para participar neste grande evento. Desde 2001 que as categorias de homens e senhoras da Universidade Internacional de Estudantes de Barcos-Dragão passou a ser integrada na competição”, explica ainda o Governo. No passado, as corridas foram realizadas quer na Baía da Praia Grande quer no Lago Sai Van. No entanto, desde a inauguração do Centro Náutico da Praia Grande, que este passou a ser um local ideal para a realização desta competição.

LÁGRIMAS E SUOR

Estamos junto ao lago. Um lugar que sempre se apresenta calmo está cheio de vida. De um lado barcos pendurados. “Estes aqui são os mais pequenos, levam 12 pessoas, cinco para o lado direito, outros cinco a remar no lado esquerdo. Numa ponta a pessoa que bate no tambor e ao fundo a pessoa que guia, está ao leme”, continua a explicação enquanto percorremos o armazém provisório que acolhe todo o material. O espaço está ainda carregado de máquina de musculação. Ao

“Participa-se por amor e não pelo dinheiro” “Ficamos muito mais unidas, para além do trabalho temos isto. Não é uma questão de ganhar, é de trabalho de equipa” WINGS ATLETA perceber as questões que nos surgiam, Peter Tang prontamente se explica. “Os atletas precisam de estar em forma, precisam de se preparar para a corrida. É preciso muita preparação física”, aponta. De facto, logo à saída do armazém está um grupo de “mais ou menos 40 pessoas”, a ser fiel estão 44 atletas e um treinador. “Os barcos grandes levam 22 pessoas cada, dez para cada lado e os dois nas pontas. Não há equipas mistas, não aqui em Macau. Há equipas femininas e masculinas, até por uma


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Não é um desporto qualquer. Também não é uma corrida de barcos. São valores de união, companheirismo, sacrifício e trabalho de equipa. Desportistas e treinadores contam o que os move nas tão aclamadas Regatas dos Barcos-Dragão

SOMOS UM SÓ

“Aqui não há classes sociais. Somos todos iguais. Não somos mais ou menos ricos que uns, não há pessoa pobres, nem há pessoas ricas. Não é esse o espírito das regatas”, interrompe Peter Tang. Wings e as restantes membros da equipa não podiam estar mais de acordo. “Gostamos muito de

estar aqui, gostamos de participar. Divertimo-nos muito”, acrescenta a atleta. No fundo, não interessa ganhar ou perder. “Neste momento somos todos uma grande família”, frisa ainda o presidente da associação. Este é um festival espiritual de valores morais, embora o prémio final seja bem aliciante, é que a equipa vencedora, das 168 partici-

GONÇALO LOBO PINHEIRO

questão de força física”, continua, enquanto nos encaminha para o local dos treinos. Ao fundo ouvem-se gritos de incentivo e o rufar dos tambores. Ao pé de nós chega uma equipa feminina, representam o Galaxy, o ar é de satisfeitas, até porque o treino para a última corrida, já na próxima quinta-feira, correu muito bem. Surgem felizes mas cansadas. “Isto exige muito de nós. Desta vez começamos os treinos só em Fevereiro, mas treinamos três a cinco vezes por semana. Temos de estar em forma”, partilha Wings, atleta. Não é o primeiro ano que participa, e se a sorte o ditar também não será o último. “Nós ficamos muito mais unidas, para além do trabalho temos isto. Não é uma questão de ganhar, é de trabalho de equipa, de ajuda mútua, de exigir mais de nós, da nossa força”, conta-nos.

“O mais importante é eles perceberem que uns sem os outros nada são” VINCENT TREINADOR

pantes – das quais 146 de Macau -, vai levar para casa 10 mil dólares americanos.

ÁGUA SAGRADA

“Mas não é pelo dinheiro”, apressa-se em esclarecer Peter Tang. Pelo menos para a cultura chinesa, sendo que na próxima quinta-feira irão estar em concurso equipa da Filipinas, Tailândia, São Francisco, Malásia, Hong Kong, entre outras. As equipas, continua, nem sequer estão preocupada com o budget. “O subsídio dá para as despesas”, explica, frisando “participa-se por amor e não pelo dinheiro”. Junto à água não se pode deixar de notar nos paus de incenso a queimar. “É para dar boa sorte”, adianta-se em explicações, acrescentando “que há a crença de que qualquer água que receba os barcos-dragão fica abençoada e vai trazer boa sorte a quem é molhado por ela”. Há quem até mergulhe, recorda, mas bastam alguns pingos para a sorte bater à nossa porta. Francis ri ao ouvir a explicação da “água sagrada”. É membro da equipa que representa o empreendimento Macau Tower, da empresa Shun Tak. “Isto faz parte do programa adoptado pela empresa de

actividades para os seus funcionários. Há três anos que criámos uma equipa e participamos. É óptimo, divertimo-nos imenso, mas só entra quem quer muito participar, quem se entrega muito à equipa”, conta. Não espera ganhar, espera divertir-se e sair “com os laços reforçados com os seus colegas de trabalho”. Vincent participa nas corridas “há mais de dez anos”. Foi convidado para fazer uma equipa e agora “que já está velho” só a treina. “O mais importante é eles perceberem que uns sem os outros nada são. E isso só se consegue com muito empenho, muito espírito de equipa”, conta.

TRADIÇÃO ANTIGA

Os barcos são todos muito idênticos. “Esta quinta-feira só correm os grandes, os pequenos foram nas edições passadas”, reforça Peter Tang. Quando questionado sobre quem construía os barcos, o presidente da associação recorda um artesão “muito antigo” de Macau, que infelizmente “já não faz nenhum”. “O negócio era fraco aqui, porque agora os barcos já não são de madeira, são fibra. Vem tudo de fora”, conta. Peter Tang mostra-se orgulho do trabalho realizado. “Este é um

dos festivais mais importantes. São meses de empenho dos atletas, é muito suor, muita dedicação para uma sociedade que vibra com isto. É a nossa tradição, é amor à nossa cultura”, remata. Filipa Araújo (com A.K.)

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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AL A AGENDA DOS DEPUTADOS A DOIS MESES DO FIM DO ANO LEGISLATIVO

Correr atrás da lei

Q

A dois meses do fim de mais uma sessão legislativa no hemiciclo, os deputados confessaram ao HM quais os pontos da sua agenda: protecção infantil, renovação urbana, lei do erro médico e protecção dos animais são alguns dos problemas levantados ANTÓNIO FALCÃO

HOJE MACAU

ATERROS E EDUCAÇÃO

“A legislação de protecção das crianças deve ser melhorada”

“Há urgência na renovação urbana”

MELINDA CHAN DEPUTADA

SI KA LON DEPUTADO

“Preocupo-me se a intenção inicial do Governo, de proibir na totalidade o fumo, vai ser cumprida”

“Espero que a 1ª Comissão possa acabar a lei dos animais nesta sessão legislativa”

ELLA LEI DEPUTADA

AU KAM SAN DEPUTADO

HOJE MACAU

EMPREGO E ECONOMIA

Ella Lei continua focada na necessidade de reforçar o acesso ao emprego dos trabalhadores locais, dando atenção ao ajustamento da economia. “Quero ajudar ao aumento da competitividade dos residentes e é necessário que participem em planos de formação. O Governo precisa de exigir mais às operadoras de

A nova lei do ensino superior, o processo de construção dos novos aterros e a renovação urbana merecem a atenção do deputado Si Ka Lon. “Há urgência na renovação urbana porque há prédios antigos em má qualidade, mas a lei não teve um avanço, sobre questões de propriedade. O Conselho Consultivo da Renovação Urbana está criado mas preocupo-me que muito do trabalho só possa ser concluído daqui a dez anos.” Si Ka Lon deseja ainda que sejam dadas mais informações ao público sobre o processo dos novos aterros e como vai ser utilizado o espaço subterrâneo no futuro.

AINDA JINAN TIAGO ALCÂNTARA

UAIS as áreas que continuam a gerar dúvidas aos deputados a dois meses do fim de mais uma sessão legislativa? Os deputados com quem o HM falou pretendem avançar mais na lei da protecção dos animais, actualmente a ser discutida na especialidade, sem esquecer a problemática do fim do fumo nos casinos e ainda a atribuição de subsídios por parte da Fundação Macau (FM). Após a aprovação da Lei de Violência Doméstica, a deputada Melinda Chan considera que é necessário continuar a lutar por maior protecção das crianças, defendendo que a sociedade continua a ignorar essa questão. “A legislação de protecção das crianças deve ser melhorada. Refiro-me ao caso de um homem vietnamita que tentou raptar uma criança de dois anos. Preocupo-me com isso e acho que a ocorrência de um caso já é demais. As punições devem aumentar, tal como acontece na China.” Melinda Chan disse ainda que a lei não é rigorosa o suficiente. “Mesmo que as autoridades tenham detido o imigrante ilegal ele precisa de aguardar julgamento, sendo que durante esse período pode cometer um novo crime. As leis devem ser alteradas e o Governo tem de resolver este problema.” A deputada Kwan Tsui Hang, que tem em mãos várias leis como presidente da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), está preocupada com a necessidade de aprovação de várias leis antes do fim do ano legislativo. Com a conclusão da discussão sobre o diploma da administração de condomínios e regime de execução e congelamento de bens, a Comissão aguarda ainda a versão final por parte do Executivo. Kwan Tsui Hang diz ter a sua atenção centrada na questão do Metro Ligeiro e na concessão dos terrenos, esperando que o novo Estatuto dos Notários Privados possa ficar concluído ainda nesta sessão legislativa.

Jogo para que cooperem nesses planos”, disse. Depois da fusão do Gabinete de Recursos Humanos com os Serviços para os Assuntos Laborais, Ella Lei quer saber como vai ser garantida a qualidade do serviço e o controlo do recrutamento de não residentes. A representante da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM) preocupa-se também com a proibição total de tabaco nos casinos, tendo mostrado a sua opinião, ainda que não faça parte da comissão que discute o diploma. “Preocupo-me se a intenção inicial do Governo, de proibir na totalidade o fumo, vai ser cumprida. A maioria dos membros da comissão quer manter salas de fumo, mas não concordo”, disse.

O deputado Au Kam San continua a estar preocupado com a concessão de 100 milhões de renmimbi por parte da Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan, na China, alertando para a existência de um problema estrutural na Fundação Macau. “Está cheia de dinheiro e atribui subsídios e doações sem uma exigência rigorosa. O Governo poderia dividir uma parte deste dinheiro para quem mais precisa, como para o Fundo de Segurança Social.” O deputado pró-democrata teme que a Lei do Erro Médico e a Lei da Protecção dos Animais acabem por ficar pelo caminho. “Espero que a 1ª Comissão possa acabar a lei dos animais nesta sessão legislativa, caso contrário corre o risco de ser abandonada. Temo que a análise da Lei do Erro Médico não seja sequer concluída na próxima sessão. O Governo deve esforçar-se mais”, rematou. Flora Fong (revisto por A.S.S.) flora.fong@hojemacau.com.mo

Tomás Chio

info@hojemacau.com.mo


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Petição INVESTIDORES EM ZHUHAI QUEIXAM-SE AO CE

Gato por lebre HOJE MACAU

Residentes entregaram ontem uma petição a Chui Sai On para que o Governo lhes dê ajuda no caso de compra de habitações em Zhuhai. Cerca de 200 famílias queixam-se de terem comprado casas num condomínio que não corresponde às expectativas

representantes dos serviços públicos. É nestas reuniões que se debatem assuntos de muito interesse, tendo em consideração que cada vez mais as pessoas de Macau e do interior da China estão mais próximas e há sobretudo uma maior ligação na área da habitação, já que as pessoas têm cada vez menos capacidade para comprar uma fracção e adquirem mais fracções na República Popular da China (RPC). Há que encontrar mecanismos da protecção dos direitos dos consumidores, o Governo deve introduzir estes mecanismos na aquisição de bens e serviços.”

DESDE 2014

da petição. “São valores astronómicos. As famílias não encontraram aquilo que constava nas brochuras do projecto. As estruturas que haviam sido planeadas e mostradas não correspondem à realidade. Não se sabe o que se passa mas o promotor imobiliário

(Fomento Predial Fanyue SA) fez outros negócios com as partes do terreno que deviam fazer parte dessas moradias. Estas perderam o seu valor face à ausência de estruturas de floresta privada e condomínio privado. O que era para ser uma coisa de luxo

Reparação directa

Casos urgentes de condomínios não precisam de aprovação

urgente. O responsável das Obras Públicas explicou que qualquer condómino pode apresentar o pedido de reparação urgente por sua iniciativa, porque se for vitima de problema quer resolver o problema”, disse o deputado Chan Chak Mo, que preside à comissão.

DA MEDIAÇÃO

Chan Chak Mo referiu ainda que o Instituto da Habitação (IH) poderá ser chamado a analisar

o caso. “Há sempre conflitos, porque a vítima pode achar que sim (que é urgente a reparação) e os outros acharem que não, e pode sempre ser pedido o apoio do IH para verificar a situação. A vítima pode achar que é uma infiltração na fachada e outros acharem que é provocada pela sua própria casa”, explicou. Quanto às obras a realizar nas partes comuns do edifício, como os terraços ou as fachadas, os moradores que não concordarem

deixou de ser”, disse Coutinho aos jornalistas. Do Executivo Coutinho espera uma acção que proteja os direitos dos consumidores. “O Governo de Macau tem reuniões semestrais e anuais com a zona de Zhuhai e Cantão em que participam dezenas de

poderão não pagar as despesas. “Aí há que ter a aprovação de dois terços do condomínio, mas se os condóminos acharem que essas obras têm uma natureza voluptária e não concordarem com elas, e se o tribunal lhes der razão, o restante um terço das pessoas que não concordam podem não pagar. A pessoa pode no futuro pagar a sua quota parte para usufruir dessas inovações”, disse Chan Chak Mo. Um dos exemplos que pode ser dado é a construção de uma piscina no terraço de um edifício. A.S.S.

Assim que perceberam que tinham comprado gato por lebre os moradores não pararam. Na carta que entregaram ao Chefe do Executivo é referido que a partir de Agosto de 2015 foram feitos contactos com o promotor imobiliário, a Comissão do Partido Comunista Chinês (PCC) de Zhuhai e vários serviços públicos da cidade chinesa, sendo que “o promotor imobiliário recusou sempre abordar a questão e atendeu-nos com uma atitude muito negativa”. Coutinho aponta: “Foram contactados quatro ou cinco entidades do município de Tau Mun sem que tenham conseguido qualquer justificação para as razões das mudanças estruturantes do edifício”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

TIAGO ALCÂNTARA

A

S reparações mais urgentes a serem efectuadas em edifícios não vão necessitar da aprovação de dois terços dos membros do condomínio. É o que consta no Regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio, que foi ontem analisado pelos deputados da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). “Os casos considerados indispensáveis, como infiltrações, não terão de ser sujeitos à aprovação da assembleia-geral do condomínio, porque não há possibilidade de esperar pela decisão final, dado ser um caso

“São valores astronómicos. As famílias não encontraram aquilo que constava nas brochuras do projecto” PEREIRA COUTINHO DEPUTADO

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ARECIA difícil resistir a tal projecto imobiliário. Um condomínio em Zhuhai, intitulado Hills Beyond Sea, prometia uma floresta privativa, um “clube privado luxuoso” e serviços de administração semelhantes aos de um hotel. Cerca de 200 famílias de Macau investiram os seus recursos para comprar apartamentos na cidade vizinha entre 2012 e 2013, mas em 2014, quando o edifício ficou pronto, perceberam que faltavam a maior parte das infra-estruturas e acessos, sendo que será construído um jardim infantil privado que não estava previsto. Ontem os mesmos investidores dirigiram-se à sede do Governo para entregar uma petição a Chui Sai On, Chefe do Executivo, pedindo ajuda para “defender os interesses legítimos”, alegando estar em “completo desespero”. O deputado José Pereira Coutinho esteve presente na entrega

POLÍTICA


6 POLÍTICA

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Sem iniciativa

Governo diz-se em posição passiva face a rendas de escritórios

A

Jogo DEPUTADO FALA DE “RISCOS” POR NÃO HAVER TNR COMO CROUPIERS

Todos no mesmo saco

O deputado Cheang Chi Keong considera que se os residentes continuarem a ocupar exclusivamente o cargo de croupier nos casinos tal vai gerar consequências negativas na economia. Ella Lei não quer alterações e o Governo também não

D

ESDE 2005 que os residentes são os únicos que podem ocupar o cargo de croupier nos casinos. Contudo, o deputado indirecto à Assembleia Legislativa (AL) Cheang Chi Keong considera que a actual política deveria ser alterada. Em declarações ao jornal Ou Mun, Cheang Chi Keong alertou para o facto de, se todos os residentes continuarem a ser croupiers, tal vai gerar um impacto negativo na economia. O deputado apelou ao Governo e à própria sociedade para ponderar uma alteração e permitir a contratação de trabalhadores não residentes (TNR), devido à quebra consecutiva das receitas dos casinos nos últimos 24 meses. O deputado citou dados que mostram que até finais de 2014 as seis operadoras tinham 95 mil

trabalhadores, incluindo 72 mil locais. No âmbito do Jogo, existiam 53 mil trabalhadores, sendo que apenas dois mil são TNR. Nas áreas do entretenimento existem 41 mil trabalhadores nas operadoras, mas apenas 21 mil são locais. Referindo-se aos trabalhadores, Cheang Chi Keong, disse que pôr “todos no mesmo saco” não deverá acarretar riscos. Cheang Chi Keong sugere mesmo uma proporção na introdução de TNR na ordem dos 20 a 30%. “Todos podem pensar (que a introdução dos TNR) é também uma protecção para os trabalhado-

Cheang Chi Keong sugere uma proporção na introdução de TNR na ordem dos 20 a 30%

res locais. Caso uma operadora de Jogo decida cortar 5% na mão-de-obra, milhares de croupiers locais podem sofrer com as demissões”, apontou. O deputado considerou ainda que a introdução de TNR pode gerar maior competitividade e maior promoção na carreira para os locais. Um comunicado oficial ontem emitido revela que o Governo pretende manter a política tal como está. “O Governo sublinha novamente que irá manter a medida actual de importação de trabalhadores não residentes para os cargos de croupier dos casinos locais.”

VOZ CONTRA

Contactada pelo HM, a deputada indirecta Ella Lei disse que esta não é a melhor altura para uma alteração ao sistema, sendo que esta deputada sempre defendeu o emprego dos locais no hemiciclo.

“Quando houver mil vagas e mais de mil residentes queiram assumir as suas posições, deve-se contratar primeiro os locais. Isso está claro na lei. A introdução de TNR é apenas para os sectores nos quais os residentes não querem trabalhar. Se um sector já tem mão-de-obra local suficiente, mas pede a saída de uma parte dos trabalhadores locais, e caso seja definida uma proporção para a entrada de TNR, isso poderá contrariar a lei”, apontou. A deputada, que representa a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), lembrou que há sectores que excluem os residentes, por já existir um grande número de TNR. “Não é a altura para alterar a medida”, defendeu. Flora Fong (revisto por A.S.S.) flora.fong@hojemacau.com.mo

Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) disse que nada pode fazer em relação aos valores dos arrendamentos dos escritórios para os serviços públicos, porque existem sistemáticas trocas de proprietários. O Governo prevê a criação de um complexo perto do Terminal do Pac On para o grupo de forças de segurança, ainda assim, diz, não pode estar em constante alteração dos seus departamentos públicos. Iong Kong Leong, director da DSF, indicou, numa resposta a uma interpelação do deputado Chan Meng Kam, que apesar dos aumentos das rendas, o Governo prefere ficar nas mesmas instalações por questões de facilidade logística. Há departamentos, diz, que não querem estar sempre a mudar as suas instalações, pois isso traz várias desvantagens à população. Por tudo isto, o Governo está de “mãos atadas”. Chan Meng Kam argumentou, na sua interpelação, que as despesas de renda da instalações onde estão alojados os serviços públicos devem ser incluídas nas despesas orçamentadas. Só assim, diz, a população terá a noção real da despesas de cada departamento. A DSF diz concordar com a sugestão e o Governo já está a estudar essa hipótese, garante. O departamento acrescentou ainda que actualmente 17 secções públicas estão em escritórios arrendados em edifícios privados, mas que a maioria dos departamentos funciona em prédios públicos.

MAIS COMPLEXOS

Sobre as instalações administrativas governamentais, a DSF referiu que o Governo vai recuperar o terreno O1, situado ao lado do Terminal Pac On, para construir um complexo governamental. O espaço terá multifunções, servindo de escritórios e armazéns. Além disso, o Executivo vai ainda construir outro prédio para o sector da segurança, no terrenos E1 dos Novos Aterros. “Será publicada a informação com a área e calendário de trabalhos o mais depressa possível”, garantiu o director. As reacções surgem depois de Chan Meng Kam apontar o dedo ao Governo na aplicação do erário público. O deputado considera que são feitos demasiados gastos nos arrendamentos, por isso, é preferível que o Governo construa escritórios para não mais ter de pagar rendas. Tomás Chio (revisto por F.A.) info@hojemacau.com.mo


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INSCRIÇÕES PARA EXAME NACIONAL DE AGENTES DE PATENTES

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STÃO abertas as inscrições para o Exame Nacional de Qualificação de Agentes de Patentes que se vai realizar em 27 cidades da China nos dias 5 e 6 de Novembro. Os candidatos de Macau devem preencher os seguintes requisitos: ser cidadão chinês, residente permanente da RAEM; ter completado 18 anos de idade e possuir plena capacidade civil; possuir habilitações académicas no ramo politécnico em institutos superiores do Interior da China ou no ramo politécnico em institutos superiores de Hong Kong, Macau, Taiwan ou estrangeiros reconhecidos pelo Chinese Service Center for Scholarly Exchange (CSCSE) da R.P. China, e obtido os diplomas de graduação ou os certificados de grau académico; conhecer bem o direito de patentes e os conhecimentos jurídicos conexos; e ter experiência de trabalho superior a 2 anos na área de ciência e tecnologia, ou na área do trabalho jurídico. Os residentes de Macau podem ter acesso ao Exame Nacional em virtude da 2.ª fase do Acordo CEPA. As inscrições terminam a 29 de Julho podendo os candidatos inscrever-se em linha através do sítio da Direcção Nacional da Propriedade Intelectual (http://www.sipo.gov.cn) ou consultar a página da Direcção dos Serviços de Economia.

Depois da inauguração do espaço “Anim’Arte Nam Van”, o deputado Si Ka Lon critica a falta de novidades em relação ao anunciado pólo cultural de Mong-Há, onde se situam as vivendas na Avenida Coronel Mesquita

SOCIEDADE

Mong-Há QUESTIONADA AUSÊNCIA DE PÓLO CULTURAL

Então e nós?

O

deputado Si Ka Lon defendeu ao jornal Ou Mun que o Governo deve prestar mais atenção ao desenvolvimento cultural e artístico da zona de Mong-Há, uma semana após a inauguração da zona de lazer junto ao lago Nam Van, intitulada “Anim’Arte Nam Van”. Em declarações ao jornal Ou Mun, o deputado lembrou que o projecto pensado para a zona de Mong-Há continua por desenvolver, apesar de ter sido prometido nas Linhas de Acção Governativa (LAG). Por se tratar de uma zona que abrange a Avenida Coronel Mesquita e as tradicionais vivendas de traço colonial, o deputado Si Ka Lon considera que os departamentos públicos devem reforçar a sua cooperação e diminuir as burocracias, para que se possa avançar com o aproveitamento destas casas. Si Ka Lon disse ainda que não houve avanços quanto a esta promessa e que o projecto poderá demorar anos até que seja concretizado. Ao mesmo jornal de língua chinesa falou Lam Fat Iam, presidente da Associação da História Oral de

ESFAQUEEI-TE, MAS FOI SEM QUERER

O suspeito do caso do Edf. Jardim Nam Ngon negou em julgamento, que decorreu a 6 de Junho, ter agredido a vítima com uma faca intencionalmente. A agressão data do ano passado em que se registou um ataque num hotel ilegal no Edf. Jardim Nam Ngon. Wang, nome do suspeito da província de Jiangxi, assediou a vítima, Zhang para pedir estupefacientes por telefone. Na tentativa de escapar ao assédio, a vitima terá sido agredida com uma faca na barriga e na cabeça tendo estado em risco de vida. O suspeito por seu lado argumenta que terá pegado na faca em legítima defesa sendo que por se encontrar embriagado não teve consciência que causou ferimentos. De acordo com os testemunhos da polícia que chegou ao local, Wang estava consciente e tentava a ajudar Wu, um outro acusado, a fugir. A sentença será hoje dada a conhecer.

Macau, que defendeu que a zona de Mong-Há possui muitos recursos turísticos, apelando ao Governo a que não discuta a questão apenas no papel. Lam Fat Iam referiu que o Governo precisa de apostar em mais mão-de-obra para tratar de toda a documentação histórica relacionada com a zona de Mong-Há, defendendo que, sem esse acervo documental, a transformação em pólo cultural não será um projecto perfeito.

NO PAPEL

Em Outubro do ano passado, o Secretário para os Assuntos Sociais e

ETAR PROPOSTAS PARA CONCURSO PÚBLICO SUSPENSAS

Cultura, Alexis Tam, disse existirem planos para reaproveitar os recursos turísticos e culturais na zona de Mong-Há, as quais incluíam as 12 moradias tradicionais. A ideia seria criar uma nova zona de turismo com uma forte ligação à cultura. A ideia contida nas LAG fazia referência à realização de um “planeamento geral sobre o conjunto das vivendas situadas no cruzamento entre a Avenida do Coronel Mesquita, a Estrada do Coelho do Amaral e a Rua Francisco Xavier Pereira”. Estará a ser pensada a criação da Casa Memorial de Xian Xing Hai,

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) decidiu suspender o acto público de abertura de propostas para o concurso público para a “Operação e Manutenção da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da Península de Macau”, a qual está localizada na zona da Areia Preta. O acto público da entrega das propostas pelas empresas concorrentes teria lugar ontem e foi cancelado por “motivos relacionados com procedimentos preventivos e conservatórios de suspensão de eficácia em curso”, no Tribunal Administrativo, aponta um comunicado oficial. Segundo a Rádio Macau, a empresa CESL-Ásia está na origem do processo judicial. A DSPA não avançou a nova data para a realização do acto público de propostas do concurso público. Desde 2009 que o Governo tenta resolver o problema da sobrecarga da ETAR, sendo que o plano de expansão ainda está na fase de concepção, quatro anos depois.

para que a zona possa albergar um museu para atrair turistas. Alexis Tam prometeu um prazo de dois a três anos para a reutilização destas vivendas, com a inclusão do templo, do Forte de Mong-Há e do espaço artístico Armazém do Boi. O Secretário da tutela prometeu novas informações sobre a área até finais do ano passado, mas, meses depois, nada de novo foi avançado. Angela Ka

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SATISFAÇÃO COM RESTAURAÇÃO A DESCER

O índice de satisfação do consumidor de Macau 2016 foi tornado público pela Universidade de Ciência e Tecnologia em comunicado de imprensa. A pesquisa foi realizada de 4 a 16 de Maio e contou com a participação de 876 pessoas através de amostragem aleatória telefónica assistida por computador. Os factores avaliados foram essencialmente a qualidade alimentar e de produtos, a qualidade de serviços e a relação qualidade preço. Os resultados relativos à satisfação com restaurantes mostram que comparativamente ao ano passado os resultados caíram cerca de 1,3%. Zhuhai por seu lado registou um valor idêntico de quebra. Os factores analisados em comparação com 2015 mantiveram-se estáveis em Macau, sendo que a satisfação relativa à qualidade preço teve uma ligeira descida de 0,4%, enquanto que a qualidade alimentar e de serviço aumentaram 0,3% e 0,6% respectivamente, facto que acentua a maior subida em décadas. Já na vizinha Zhuhai a qualidade de serviço manteve-se enquanto que os restantes dois factores sofreram uma pequena quebra, tendo a qualidade alimentar descido cerca de 0,6% e a relação qualidade preço 1,5%.


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hoje macau quarta-feira 8.6.2016

Aviso de recrutamento Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 22 de Abril de 2016, se encontra aberto o concurso comum, de ingresso externo, de prestação de provas, para o preenchimento de dois lugares de intérprete-tradutor de 2.ª classe, 1.º escalão, da carreira de intérpretetradutor (nas línguas chinesa e portuguesa), em regime de contrato administrativo de provimento do Instituto de Habitação. Para mais informações queiram consultar o aviso de abertura do concurso publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.o 23, II Série, de 08 de Junho de 2016, ou deslocar-se durante os dias úteis à recepção deste Instituto, sito na Travessa Norte do Patane, n.o 102, r/c, Ilha Verde, ou visitar a página oficial deste Instituto: www.ihm.gov.mo. Instituto de Habitação, aos 6 de Junho de 2016. O Presidente, Arnaldo Santos


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NOMEAÇÃO DE JACK MA EM BOLETIM OFICIAL

Foram publicados ontem dois despachos em Boletim Oficial (BO) que dão conta da nomeação do patrão da Alibaba, Jack Ma Yun, para dois conselhos consultivos. Jack Ma, que também é dono do jornal de Hong Kong South China Morning Post, vai ser consultor no Conselho de Ciência e Tecnologia e no Conselho para o Desenvolvimento Económico. Jack Ma deu esta segunda-feira uma palestra na Universidade de Macau em que defendeu a aposta no comércio electrónico por parte das Pequenas e Médias Empresas.

Lai Chi Vun ARQUITECTO QUER PRESERVAÇÃO DE TODA A ÁREA

Fazer novo do velho

O MULHER DETIDA POR LEVAR UM MILHÃO PARA ZHUHAI Uma residente da RAEM suspeita de levar ilegalmente uma milhão de patacas para Zhuhai, foi interceptada pelas autoridades da alfândega do Interior da China. As autoridades disseram ao canal chinês da Rádio Macau que a mulher trazia dois sacos de papel que continham um milhão de patacas. Este é já o vigésimo sétimo caso este mês, adiantaram, sendo que foram registados 400 caso de tráfico ilícitos de moeda ao longo deste ano que envolviam um total de 50 milhões de yuans

SOCIEDADE

GOOGLE STREET VIEW

hoje macau quarta-feira 8.6.2016

arquitecto André Chak Keong Lui disse ao Jornal do Cidadão que o Governo deve preservar todas as casas e estaleiros da povoação de Lai Chi Vun, em Coloane, já que, caso seja mantida apenas uma parte, o valor histórico e cultural da zona vai perder-se. André Chak Keong Lui falou do exemplo da Avenida Almeida Ribeiro, em que todos os edifícios são mantidos, referindo que a povoação de Lai Chi Vun deve ser classificada e que devem ser conhecidos os detalhes do futuro planeamento. O responsável considera que é fácil resolver os problemas de

reparação e do risco de queda que actualmente afectam a maior parte dos estaleiros. “As casas podem ser transformadas em museu sem que sejam destruídas, como foi feito com a Casa do Mandarim, que também chegou a ser considerado um edifício em risco de queda, mas que foi reparado pelo Instituto Cultural. A melhor maneira para resolver o problema é manter a estrutura original e uma transferência da utilização desses espaços”, sugeriu. Actualmente os dez estaleiros estão em risco iminente de ruína e o Governo já referiu que não deseja prolongar a sua licença de ocupação, estando neste momento

fechados por uma questão de segurança, referiu ontem o Governo num comunicado. Houve suspeitas de que o Governo estaria a tentar recuperar os terrenos para a alçada

“As casas podem ser transformadas em museu sem que sejam destruídas, como foi feito com a Casa do Mandarim” ANDRÉ CHAK KEONG LUI ARQUITECTO

HOTEL ESTORIL SIZA VIEIRA ACEITA RECUO DO GOVERNO

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arquitecto português Álvaro Siza Vieira diz “naturalmente” aceitar a decisão do Governo de Macau de realizar um concurso público para a reconversão do antigo Hotel Estoril, apesar de o projecto ter sido encomendado ao Prémio Pritzker. “Tomei conhecimento da decisão em organizar um concurso para o projecto respectivo, decisão que naturalmente aceitei, comunicando-o ao excelentíssimo Secretário para os Assuntos

Sociais e Cultura”, disse o arquitecto, em resposta escrita à Agência Lusa. Na sexta-feira, o Secretário Alexis Tam anunciou que por uma “questão política”, o projecto do hotel deixaria de ser entregue por ajuste directo a Siza Vieira, já que muitos arquitectos locais manifestaram interesse em participar, o que só seria possível com um concurso público. Questionado, ainda na sexta-feira, sobre se já tinha informado o arquitecto português,

o governante respondeu que “muito por alto, informalmente”, indicando que Siza será convidado a participar no concurso. “Vai ser convidado, em vez de ser adjudicação directa. [O ajuste directo está] de acordo com a legislação. Só que isso foi a ideia do ano passado. Hoje em dia, a situação é diferente porque muitos arquitectos querem concorrer. No fim, é uma questão política”, afirmou Alexis Tam, citado pela Rádio Macau e pelo canal em português da TDM.

da Administração, mas a Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) já disse que não vai recuperar os terrenos onde estão os estaleiros.

SEM CONSENSO

Ao canal chinês da Rádio Macau, o presidente do IC, Ung Vai Meng, disse que o organismo já apresentou uma sugestão para a recuperação dos estaleiros de Lai Chi Vun mas que ainda não foi atingido consenso com a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), sendo que isso levou a que não tenham sido publicadas mais informações sobre o projecto. Li Canfeng, director da DSSOPT, confirmou que o Governo ainda não tomou uma decisão final sobre a zona e que ainda está a estudar a questão com outros departamentos. Li Canfeng referiu que, para já, a segurança dos estaleiros é a prioridade. Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo.


10 Yoga DIA INTERNACIONAL FESTEJADO EM MACAU

EVENTOS

HOJE N0 PRAT0 Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

CACAU Nome botânico: Theobroma cacao L. Família: Sterculiaceae. Nomes populares: CACAUATL (nome Maia); CACAUEIRO; CACAUZEIRO; CHOCOLATE; CHÓCOLATL (nome Asteca). Cotton Mather, um historiador natural norte-americano, enalteceu, em 1720, o Cacaueiro desta forma: «fornece aos Índios pão, água, vinho, vinagre, aguardente, leite, óleo, mel, açúcar, agulhas, linha, roupa, chapéus, colheres, vassouras, cestos, papel e pregos; madeira, coberturas para as casas; mastros, velas, cordame para os barcos; por fim, remédio para as doenças. Que mais se poderá desejar?». Pois… Nativo do México e da América Central, o Cacaueiro é actualmente uma das principais culturas das regiões tropicais de todo o mundo. O seu nome botânico Theobroma, deriva das palavras theo, deus, e broma, néctar ou alimento, o que literalmente significa alimento dos deuses. Considerado um alimento sagrado pelas civilizações pré-colombianas, o Cacaueiro era já apreciado pelos Olmecas (1.500-400 a.C.), que usavam as suas sementes na preparação de uma bebida. Os Maias e Astecas continuaram a tomar esta bebida refrescante e saborosa, embora um pouco amarga, e, em 1606, a bebida de Cacau chega à Europa, embora a receita já não fosse a original. Apesar da sua vasta utilização como alimento, o Cacau tem valor medicinal conhecido desde o século XVI. Actualmente é considerado um superalimento e as investigações têm comprovado os seus benefícios. São usadas as sementes, também designadas por grãos ou favas. Composição Um dos alimentos com maior complexidade fitoquímica, o Cacau contém lípidos, proteínas, triptofano, fibras, sais minerais (cálcio, cobre, ferro, magnésio, manganês, potássio, zinco) e vitaminas (A, B1, B2, B3, B5, C, E); contém ainda flavonóides (catequina, epicatequina, proantocianidinas), fitosteróis, endorfinas (anandamida), aminas biogénicas (feniletilamina) e alcalóides (cafeína, teobromina). Acção terapêutica Além da magnífica experiência sensorial, o Cacau influencia os níveis de neurotransmissores no cérebro provocando uma acção subtil sobre a mente e as emoções. Com efeitos tónicos e ligeiramente estimulantes sobre o sistema nervoso central, activa a função cerebral e contribui para a prevenção de doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer; melhora o humor, reduz a

ansiedade e o stress, favorece o sono e combate a depressão, proporcionando uma sensação de bem-estar. Tem ainda efeitos analgésicos e relaxa os músculos. É afrodisíaco. Um dos alimentos com maior capacidade antioxidante, o consumo de Cacau tem sido associado à diminuição do risco das doenças cardiovasculares. Tonifica o coração e o aparelho circulatório, dilata os vasos sanguíneos melhorando a circulação, diminui a pressão arterial, reduz o colesterol LDL e aumenta o HDL. Se pensarmos em termos calóricos, o Cacau não parece apropriado para regimes de emagrecimento mas, curiosamente, pode ser permitido, se consumido com moderação: inibe o apetite, acelera o metabolismo, melhora o metabolismo dos açúcares e reduz a resistência à insulina, mobiliza as gorduras acumuladas para serem usadas como fonte de energia e reduz o perímetro abdominal. Outras propriedades Nutritivo e levemente amargo, o Cacau estimula a actividade digestiva e, pelas propriedades adstringentes, auxilia a combater a diarreia. É um broncodilatador e supressor da tosse. Diurético, tonifica e desinflama o rim. É antibacteriano e anticancerígeno. Como consumir Uso interno: • O Cacau é o ingrediente básico do chocolate, a mais conhecida das iguarias. Dê preferência ao chocolate negro com uma elevada percentagem de Cacau (70% ou mais). • Como o processamento do Cacau pode originar perdas significativas de nutrientes e antioxidantes, além da adição de açúcares e gordura, tem vindo a ganhar popularidade o consumo de Cacau cru – comercializado em grão, pasta, pepitas ou pó –, o qual garante a integridade da sua composição e dos seus benefícios. • Com o Cacau ou chocolate são elaboradas inúmeras receitas de sobremesas. Podem ainda ser adicionados ao leite, iogurtes e cereais de pequeno-almoço, misturados com sementes no tempero de saladas, ou usados para aromatizar molhos. O fondue de chocolate e frutas é delicioso. Precauções O Cacau deve ser ingerido com moderação. Em doses elevadas ou em pessoas sensíveis, pode provocar perturbações gastrintestinais, reacções alérgicas na pele ou enxaquecas. Está contra-indicado em caso de alergia ao Cacau. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.

BEM ESTAR EM COLOA

No próximo domingo a ilha de Coloane vai ser pal de um conjunto de actividades destinadas a celebra


AR ANE

lco ar a efeméride

11 hoje macau quarta-feira 8.6.2016

EVENTOS

VERÃO COM PISCINA E CHILL OUT NO PACHA

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Verão está à porta e o Pacha Macau está a preparar-se para lançar uma pacote de eventos dedicados à época estival. À semelhança das festas do “Grand Opening” que marcaram o início do ano, o Pacha prepara-se para apresentar alguns dos maiores nomes do Djaying mundial bem como a abertura do espaço “El Cielo” e da série de festas na piscina “Summer Love”. O espaço ar livre “ El Cielo” convida à descontracção ao ar livre para um domingo chill out, segundo a organização. A iniciativa que decorre semanalmente entre as 16h00 e as 03h00 inclui para além do bar com os refrescos da época, um factor surpresa

aliado a apresentações e performances para dar vida à festa. Estão planeadas a companhia dos bailarinos da casa ou a presença de músicos como saxofonistas. O Verão continua com a estreia do “Summer Love”, imbuído no tema da tropicalidade. As festas na piscina têm inicio a 11 de Junho às 14h30 e conta para a abertura com a presença da mediática Paris Hilton. Para os interessados em partilhar uma tarde de Verão com a socialite americana o acesso tem o valor de 450 patacas. Para a inauguração a festa continua com um “after party” já “indoors” com início às 22h00 em que a convidada fica à frente dos discos. As festas com Djs de renome na praça também

fazem parte do cardápio de Verão. Kryoman vem de Miami animar a noite de 18 de Junho e 15 de Julho é a vez de Fatboy Slim (aka Norman Cook) assumir os comandos da música da noite. Para o director da empresa Eddie Dean o “Pacha está pronto para surpreender Macau com o lineup de Verão e estamos empenhados em elevar a fasquia e continuar a trazer os maiores talentos para a vida nocturna da RAEM.” O clube nocturno anunciou ainda a parceria com a líder de comércio de música de HMV Hong Kong. Com o acordo os fãs e festeiros podem comprar bilhetes na cidade vizinha para os eventos na discoteca de Macau.

GEORGE LAM FESTEJA ANIVERSÁRIO NO VENETIAN A estrela de pop cantonês George Lam vai incluir Macau na digressão que celebra o seu 40°aniversário. A festa é em forma de espectáculo que se realiza na Cotai Arena do Venetian Macau, a 16 de Julho. A digressão abriu com um concerto esgotado na terra PUB

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UMA organização do Grand Coloane Resort que cede o espaço e do Yoga Loft Macau, é festejada na RAEM a segunda edição de celebração do dia inteiramente dedicado ao Yoga. Se inicialmente o yoga é associado a uma prática antiga indiana, Rita Gonçalves proprietária do Yoga Loft e instrutora, afirma ao HM que o yoga “made in Índia” não corresponde totalmente à realidade”. A modalidade que tem vindo a sofrer múltiplas influencias de todo o mundo é cada vez mais uma mescla de técnicas e sugestões globais. “ O yoga hoje em, dia é propriedade do mundo” remata. Exemplo desta universalidade é a criação do seu dia internacional ter partido de uma sugestão da Confederação Portuguesa do Yoga que foi posteriormente reconhecida pela Organização das Nações Unidas em 2014. A data escolhida foi o 21 de Junho enquanto solstício de Verão mas é este ano antecipadamente celebrada na RAEM.

Em Macau, no ano passado, a efeméride foi comemorada no Yoga Loft enquanto dia aberto e na edição actual será celebrada ao ar livre contando com uma aula às 11h30 da manhã e uma outra às 15h30. Para um dia mais completo os participantes na iniciativa podem também usufruir de descontos nas piscinas do resort restaurantes ou no aluguer de bicicleta. As aulas serão “simples” adianta Rita, de modo a que todos possam participar. A modalidade conta ainda com um aumento de adeptos geral que segundo Rita Gonçalves é devido essencialmente à necessidade das pessoas estarem com elas próprias. “Vivemos numa sociedade com muitos estímulos e este é um momento em que as pessoas passam um bocadinho a tratarem de si e a mimarem-se” adianta, sendo que há uma “necessidade das pessoas de voltar a uma relação intima e carnal consigo próprias”, motivos que considera estar na génese desta paixão crescente.

natal do artista, Hong Kong, e conta com um repertório com temas de carreira e hits clássicos num espectáculo que pretende ser uma viagem nas memórias de carreira. Os bilhetes estão à venda desde ontem e conta com valores entre as 280 e as 1180 patacas.


12 CHINA

hoje macau quarta-feira 8.6.2016

PEQUIM GARANTE REDUÇÃO DA PRODUÇÃO DE AÇO

O mercado que nos guie Reduzir, sim, mas o Ministro das Finanças vai avisando que a economia planeada é história. Por isso, as reduções têm de se submeter ao mercado pois, argumenta, “mais de metade dos fabricantes de aço são privados”. Mas, pelo sim, pelo não, lançou uma campanha de verificação de consumos energéticos das unidades fabris. Quem gastar demais pode vir a fechar a porta

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China quer reduzir ainda mais o excesso de capacidade de produção na indústria do aço mas com base nas forças do mercado e não nas metas estabelecidas pelo governo, declarou o Ministro das Finanças, Lou Jiwei, na segunda-feira, no início do diálogo anual de alto nível entre a China e os Estados Unidos. A China dá grande importância ao corte da capa-

cidade industrial excessiva e tomou medidas para eliminar 90 milhões de toneladas de capacidade de produção de aço, disse Lou em uma conferência de imprensa. No entanto, descartou a possibilidade do governo estabelecer uma meta quantitativa. “A China tem dito adeus à economia planificada, por isso o governo não pode ditar às indústrias nada a esse respeito. Mais de metade PUB

EDITAL Edital n.º Processo n.º Assunto Local

: 65/E-BC/2016 :485/BC/2014/F :Início do procedimento de audiência pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) :Travessa Norte do Patane n.º 12, Edf. Mayfair Garden, Bloco 4, fracção 5.º andar J (CRP:J5), Macau.

Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/ SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que fica notificado Ma Kuok Chun, do seguinte: 1.

Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado existe a seguinte obra não autorizada: Infracção ao RSCI e motivo da Obra demolição Construção de um compartimento com janelas de vidro, Infracção ao nº 12 do artigo 8º, obstru1.1 gaiola metálica e cobertura ção do acesso aos pontos de penetração metálica para fechamento da no edifício. varanda da fracção. 2. As janelas e a varanda acima referidas são consideradas acessos em caso de operações de salvamento e de combate a incêndios, não podendo ser obstruídos com elementos fixos (gaiolas, gradeamentos, etc.), de acordo com o disposto no n.º 12 do artigo 8.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho. As alterações introduzidas pelo infractor nos referidos espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto pontos de acesso ao edifício e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, a obra executada não é susceptível de legalização pelo que terá necessariamente de ser determinada pela DSSOPT a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada. 3. Nos termos do n.º 7 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 12 do artigo 8.º, é sancionável com multa de $2 000,00 a $20 000,00 patacas. 4. Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, pode o interessado, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data da publicação do presente edital, requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI. 5. O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227). RAEM, 02 de Junho de 2016 Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man

dos fabricantes de aço do país são privados”, indicou.

QUEM GASTA DEMAIS, FECHA

Na sequência das tentativas de redução de capacidade, Lou Jiwei anunciou ainda o lançamento de uma investigação para recolher informação sobre o consumo de energia nas siderúrgicas do país. Segundo o jornal oficial Shanghai Daily, a campanha, promovida pelo Ministério da Indústria e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, encarregada da planificação económica do país, requer a supervisão dos governos locais e uma auto-avaliação das próprias empresas. Pequim exige a todos os governos e siderúrgicas que recolham dados sobre o consumo de energia das empresas até finais de Junho, para serem entregues antes do dia 10 de Julho. As empresas que apresentem níveis de consumo energético superiores ao

permitido oficialmente para o sector deverão corrigir esse problema ao longo dos próximos seis meses, com a possibilidade de o prazo ser prorrogado por três meses. As firmas que não cumprirem com aquela meta serão encerradas, informa o jornal.

A CULPA FOI DA CRISE

Lou Jiwei, contestou ainda as críticas dos Estados Unidos da América e União

Europeia ao excesso de capacidade de produção da China, afirmando que há “muito exagero” sobre este tema. Durante a oitava ronda do Diálogo Estratégico e Económico China - EUA, que decorreu até ontem, em Pequim, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jack Lew, afirmou que aquele problema “tem o efeito de distorcer e danificar os mercados globais”.

“A China tem dito adeus à economia planificada, por isso o governo não pode ditar às indústrias nada a esse respeito. Mais de metade dos fabricantes de aço do país são privados”

Lou recordou que boa parte do excesso de capacidade de produção na indústria pesada chinesa se deve ao plano de estímulo massivo lançado por Pequim após a crise financeira global, em 2008, quando o país se tornou no motor da economia mundial, representando mais de 50% do crescimento. “Nessa altura, o mundo aplaudiu a decisão da China e louvou o seu contributo para impulsionar o crescimento económico global”, assegurou, enquanto “agora, o mundo aponta para a China e diz que o excesso de capacidade é um obstáculo para o planeta, mas não dizem o mesmo quando a China contribui para o crescimento global”. O ministro assegurou ainda que Pequim “está a abordar com seriedade o problema do excesso de capacidade”, com uma redução da sua capacidade produtiva de aço a rondar os 90 milhões de toneladas anuais, em 2015, e planos semelhantes para os próximos exercícios. O 8º Diálogo Estratégico e Económico China-EUA é realizado num momento em que o excesso de capacidade de aço se tornou um importante desafio global. Os produtores de aço dos Estados Unidos recorrem cada vez mais a medidas comerciais e à protecção tarifária para superar um mercado desacelerado, uma prática a que se opõem fortemente os exportadores chineses. Manuel Nunes (com Lusa e Xinhua) info@hojemacau.com.mo

LOU JIWEI MINISTRO DAS FINANÇAS CHINÊS

HONG KONG DENISE HO ACUSA LANCÔME DE CENSURA

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ENISE Ho, cantora de Hong Kong, pediu explicações à marca francesa Lancôme depois de a empresa de cosméticos ter cancelado um concerto da artista, alegadamente devido às suas convicções políticas, segundo a emissora pública de Hong Kong, RTHK. O concerto promocional, agendado para dia 19, foi cancelado após reacções negativas nas redes sociais da China continental ao apoio de Ho ao Tibete e a movimentos pró-democracia como o Occupy Central. Em comunicado, Ho considerou a situação “extremamente lamentável”, indicando estar a ser castigada por

defender os seus direitos e afirmar as suas convicções. No domingo, a Lancôme disse que o evento foi cancelado devido a “possíveis motivos de segurança”. A reacção dos cibernautas chineses surgiu em resposta a uma publicação do jornal de Pequim Global Times, no micro-blogue Weibo. O jornal questionou o evento, acusando a empresa de cooperar com “veneno de Hong Kong” e “veneno do Tibete”, ou seja, com uma apoiante da autonomia de Hong Kong e do Tibete. Alguns cibernautas chineses começaram, então, a apelar a um boicote à Lancôme. Após o anúncio do

cancelamento do concerto, surgiram novas ameaças de boicote, desta feita do ‘outro lado da barricada’. O Gobal Times reagiu à notícia, dizendo que a marca francesa revelou “sabedoria” ao cancelar o concerto. Para o jornal, “os motivos são óbvios”: “Aparentemente, a Lancôme levou mais em consideração os sentimentos do público da China continental, porque representa um mercado muito maior do que Hong Kong”. “Como empresa, deve procurar ganhos comerciais, uma sabedoria que deve revelar em situações complexas”, escreveu.


13 hoje macau quarta-feira 8.6.2016

Safos, por enquanto

MILHARES DE AVES ABATIDAS EM HONG KONG

As autoridades de Hong Kong abateram ontem 4.500 aves após o vírus H7N9, de gripe aviária, ter sido detectado numa galinha num mercado local. Hong Kong está particularmente alerta no que toca à propagação de vírus, depois de um surto de pneumonia atípica ter atingido a cidade em 2003, causando a morte de 299 pessoas e infectado cerca de 1.800. Casos suspeitos de gripe aviária nos últimos anos levaram ao abate de mais de 20 mil aves, segundo o Governo local. A comercialização de aves vivas foi suspensa após as autoridades indicarem, no sábado, que o vírus foi encontrado numa amostra fecal de uma galinha, encontrada num mercado em Tuen Mun. As autoridades consideram o H7N9 uma estirpe particularmente preocupante porque não causa a morte dos animais infectados ou provoca qualquer sintoma, permitindo que o vírus se espalhe.

Activistas pró-democracia absolvidos em Hong Kong

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UATRO jovens activistas pró-democracia de Hong Kong, incluindo Joshua Wong, um dos líderes do movimento Occupy Central, foram ontem absolvidos da acusação de obstrução à polícia durante um protesto. Wong, de 19 anos, foi o rosto do que ficou conhecido como o Movimento dos Guarda-Chuvas, que levou à paralisação de zonas de Hong Kong durante mais de dois meses em 2014, com protestos nas ruas exigindo eleições totalmente livres para a escolha do chefe do Governo. “O resultado deste julgamento prova que se tratava de uma perseguição política”, disse Wong, após o veredicto do primeiro de muitos casos contra si. O jovem foi levado a tribunal devido a um protesto mais pequeno em Junho de 2014, antes das grandes manifestações, em que dezenas de pessoas se reuniram junto ao edifício da representação oficial de Pequim na cidade. Os manifestantes opunham-se ao “Livro Branco” da China que reafirmava o seu controlo sobre Hong Kong, chegando mesmo a queimar uma cópia do documento. Wong, o líder estudantil Nathan Law, e os activistas Raphael Wong e Albert Chan foram todos acusados de obstrução à polícia,

que pode ser punida com penas de prisão de dois anos. Os quatro declararam-se inocentes e foram absolvidos pelo tribunal. Cerca de 20 apoiantes reuniram-se junto ao tribunal antes de a decisão ser conhecida, transportando guarda-chuvas amarelos, o símbolo do movimento pró-democracia de Hong Kong. “Não vamos baixar a cabeça perante as autoridades da China”, disse Law, antes de entrar no tribunal.

MAS HÁ MAIS...

Num caso distinto, Wong foi julgado por uma manifestação em que os estudantes entraram dentro do recinto do complexo governamental, a 26 de Setembro de 2014, impulsionando protestos maiores que, dois dias depois, resultaram no lançamento, pela polícia, de gás lacrimogéneo contra a multidão. A decisão deverá ser conhecida no final deste mês. Wong enfrenta também acusações relacionadas com um protesto em Mong Kok, onde aconteceram os confrontos mais violentos do Occupy. Wong e Law foram ainda detidos no mês passado após tentarem parar, em plena estrada, a caravana onde seguia Zhang Dejiang, que preside à Assembleia Nacional Popular. Os dois foram libertados sob fiança.

CHINA

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h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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WANG CHONG

王充

OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG

Repousando na margem de um lago, sonhou encontrar um ser mágico. Da ressonância entre os géneros – 5

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UANDO o Primeiro Imperador [Huangdi], em visita de inspecção ao Leste do Império, acabou de realizar um sacrifício no Monte Tai, rebentou uma grande tempestade. Quando a velha dama Liu repousava próximo de um lago, uma tempestade rebentou, e o dia escureceu [NT: a dama Liu, mãe de Liu Bang, suposto fundador da dinastia Han]. O Primeiro Imperador era imortal e comparava-se aos reis sábios da Antiguidade. Mas, apesar de julgar ter inaugurado uma era de Grande Paz, o seu reinado foi todo desordem, o que tornaria compreensível a cólera celeste. Mas no caso da dama Liu, que, repousando na margem de um lago, sonhou encontrar um ser mágico, o que teve por resultado o nascimento do imperador Gaozu, por que teria o Céu revelado ira ante o nascimento de tão sábio imperador e provocado uma tempestade? Na época de Yao, uma tempestade causou desgraça, e Yao lançou flechas contra o Conde do Vento [NT: o Conde do Vento, Fengbo, o espírito que presidia aos ventos] durante as campanhas de Qingqiu. Quando Shun se retirou para as montanhas, também ele experimentou vento violento e uma tempestade. Yao e Shun foram os mais magníficos soberanos do seu tempo: de que seriam culpados para que o Céu lhes enviasse tempestades? Os Anais contam que em períodos de seca severa se ofereciam sacrifícios para fazer vir chuva. E Dong Zhonshu usava dragões de terra para atrair os fluidos yin, através da simpatia entre os géneros. Porém, a reacção do Céu a tais práticas seria, necessariamente, sob a forma de uma tempestade. E porquê? Porque, no verão e outono, a chuva se faz sempre acompanhar de trovoada. Seguindo as técnicas dos Anais e de Zhongshu, não provocaríamos assim a cólera celeste? Quando o Mestre Kuang [NT: famoso intérprete de qin da época dos Reinos Combatentes] tocou a canção “Neve branca”, produziram-se trovões e raios. E quando tocou a canção “Lua límpida”, produziu-se um vento violento acompanhado de chuva. Quem quiser ver nas tempestades uma manifestação da cólera celeste deverá pensar que o Céu não apreciava as melodias de Mestre Kuang, enraivecendo-se com ele. São estas as minhas objeções contra esta interpretação das tempestades. Tradução de Rui Cascais | Ilustração de Rui Rasquinho

Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseia-se na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.


15 hoje macau quarta-feira 8.6.2016

na ordem do dia 热风

Julie O’yang

Boy: patriota ou traidor? Em memória do 4 de Junho de 1989

Antes da partida, este grupo de jovens deixa-se fotografar em frente do edifício da Shanghai Merchants & Steamship Co. - 1871

祖国的杂种

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ABEM quem são os jovens da fotografia? Espero que algum dos meus amigos chineses reconheça nesta foto um dos seus antepassados e que fique orgulhoso de partilhar convosco uma estória há muito esquecida de um destes “boys”. Tudo começa num jogo de basebol, há 130 anos nos EUA. Este jogo ficou na História por ter sido ganho por uma equipa de jovens tímidos, vindos de um País muito, muito antigo: a China. As crianças da foto tinham, entretanto, crescido e eram, ao tempo, jovens que viviam na América há mais de 10 anos. A foto foi tirada em frente do edifício da Shanghai Merchants & Steamship Company, pouco antes da

viagem que os levaria a atravessar o Oceano Atlântico. Estas crianças tinham em média 12 anos de idade e sobre os seus pequenitos ombros já se fazia sentir o peso da responsabilidade. Nos seus olhos podemos adivinhar o medo e a curiosidade por aquilo que os esperava no Novo Mundo. Quando pisaram pela primeira vez solo estrangeiro, usavam as longas vestes Manchus e saudaram as suas famílias de acolhimento com um tímido dagong (que sejas bem-sucedido). As crianças tinham sido enviadas numa missão que ficou conhecida como: fuguoqiangbing (富国 强兵). (Tornem o nosso País próspero e as nossas Forças Armadas eficientes!), quatro caracteres que representam a essência da luta da China moderna, desde essa altura até aos nossos dias. A seguir foram distribuídos por diversas casas na Nova Inglaterra. Mais de 40 famílias americanas acolheram

os jovens chineses, que rapidamente se adaptaram ao exotismo de uma nova vida. Com esforço ultrapassaram a barreira da língua e cada um deles veio a ser o melhor da sua classe. Os adolescentes chineses acompanhavam os seus pares na patinagem, na dança e no basebol e, mais importante do que tudo, passaram a pensar em inglês. Tudo o que era novo passou a ficar inscrito no seu ADN. Quando somos muitos novos todas as experiências têm um impacto tremendo. Os jovens adaptaram-se, não só, à cozinha estrangeira, como e, sobretudo, aos novos valores! Mais tarde foram estudar para as Universidades de Harvard, Yale, Columbia e para o MIT. Passaram a viver lado a lado de algumas celebridades do seu tempo, como por exemplo, Mark Twain. Os valores e os costumes chineses deixaram de estar presentes na sua formação.

Quando finalmente foram obrigados a regressar a casa, prontos para dar o seu contributo e cumprir o dever de cidadãos exemplares, foi com relutância que se envolveram nos meandros da política chinesa. O dilema pessoal destes jovens passou a ser o dilema da Nação: sou patriota ou traidor? As suas histórias pessoais acabaram por sofrer diversas reviravoltas, onde beleza e tragédia andaram de mãos dadas. No fim das suas vidas, cada um dos protagonistas desta foto a preto e branco continuou a preferir que lhe chamassem: boy. Os episódios históricos na China não costumam ter um final feliz. A vida na China moderna parece-me sofrer uma oscilação febril entre avanços e recuos. É sabido que alguns dos boys ficaram nos EUA e que nunca mais regressaram a casa. Alguns deles não permitiram que os seus descendentes aprendessem chinês.


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hoje macau quarta-feira 8.6.2016

Amélia Vieira

V

OLTA e meia a Nação faz anos, ora por que lhe são atribuídas burlas Papais, ora porque foi ali que fora fecundada, ora pois porque gritou em galaico-português uma qualquer: EUREKA. Há ainda o esotérico que remete o nascimento para posições mais drásticas, só para alinhar com os astros de forma a ficarem de feição e nesta intempestiva tendência para o nascimento múltiplo se anda enredado nos dados históricos disponíveis, pois que há dados históricos indisponíveis, tal qual como o entendimento do chamado texto litúrgico, onde se deseja saber o quando e onde e quem, dado que entre o factual e a parábola há subtis distâncias que a mente materialista não processa e datas que nem são mencionadas em repositório de dias. Ora a Nação parece ter nascido em muitas datas, não se sabendo qual é a mais nascitura. Se fosse no mesmo ano teríamos o chamado parto fraseado, só que por vezes nem os anos coincidem, e com tanta data, legislação, código penal e nascimentos, deveria um Estado ter um desenvolvimento psíquico e social conforme a quantidade destes elementos civilizacionais, mas não! Entre um autóctone da Idade da Pedra e um Cibernético, vai um segundo no acelerador de partículas e, enquanto Deus assim quiser, haverá um hastear de bandeira, dado que estas coisas acontecem concomitantemente à perda de chão, de autonomia e de identidade, não se sabendo a razão para festejar um, por parcelas várias, ao tempo do moribundo. Há coisas que viramos e reviramos e não sabemos mais para o que servem: é este o caso, quando de alto-abaixo se olha para um país, e das faltas de consideração a que se está sujeito por diversas tentativas da vontade. Educadores do Povo, urgem! O Povo é malcriado e não raro ofende os seus poetas e ao fazê-lo, de seguida, claro está, merece a ruína. Mas para se vingarem dos poetas arranjaram uma manobra delatória: publicarem e dizerem que também o são. E vai disto, aquela verve toda emplastrada de nada e com a inventividade a zeros, para não esbarrar, é assim que a vingança se faz! Todos somos poetas. Todos sabemos escrever. Todos fazemos anos só que não é no mesmo dia. Não há como ocultar o riso sardónico entre estas opulências genuínas, nem como muito bem viu quem não estava cego, fazer disto um grande ensaio, eu só queria silen-

BOSH, JARDIM DAS DELÍCIAS

Feliz aniversário

ciar o tempo e entrar pelo sonho adentro dormindo entre beirais de aniversariantes. «Desiste e sê rei de ti mesmo»sim, por mim, e sabendo já o sucesso dos livros culinários, vou editar «A alimentação do poeta», gastronomia para os que não devem comer ou que comem tanto que parecem outra coisa. A rábula de Afonso Lopes Vieira entrará de soslaio para testemunhar a delícia e a elegância da falta de alimentos: batendo-lhe à porta, vinham então para jantar, pois ele, num arremesso de grande envolvência diz isto: só tenho massa de estrelas! Em vez de dizer com tom prático - então, vão aí comprar uns frangos! Pois não, não, nem só de pão vive o Homem, o homem e a mulher, que é género que habita no mesmo invólucro sem recipientes para os Bloquistas. Nós sabemos o quanto a fome nasce da concupiscência e de uma certa avidez descontrolável, do ente e do doente capitalista, pois que ao distribuir-se a vontade pelo todo nada mais fica em nós como ideia fixa esperando que o nível de entulho alimentar se transforme um dia em tu-

Ninguém se lembra, quando é feliz, dos laços que o fizeram desabrochar até aí. A felicidade gera um esquecimento tal, que tudo o mais não existiu

bos tão gentis como os de oxigénio, com todas as vitaminas e composições para que ninguém mais passe por ela. Nós sabemos como corre o tempo e sabemos de tal ordem identificá-lo que as datas de nascimento se entrelaçam como a corda manuelina numa janela ou jangada que dá sempre para o mar. Só que nem sempre se nasce de uma só vez, com mais tempo e sempre nascemos tanto, que da morte já não nos lembramos, mesmo que tudo tenha fenecido, tal como Portugal, irá um dia alguém dizer que nascemos em tal e tal data, nunca as mesmas, alternando assim o mote e o modo de uma natureza vária onde permanece uma enigmática vitória. É com estas alucinações que se constrói imortalidade, senão quando mais vontade de estar vivo, pois que ninguém se lembra quando é feliz, os laços que o fizeram desabrochar até aí. A felicidade gera um esquecimento tal, que tudo o mais não existiu. Num certo espectro visual e documentário passam enfileiradas datas de cuja autenticidade duvidamos pela noção única do nascer mas, se se quer estar vivo, temos de partir necessariamente de algum número do calendário romano. Neste caso, que não sendo ainda Nação à época da sua invasão, passou a contar nos registos da nacionalidade, bem como Cristo que se impôs à Roma Imperial e fundou na terra inimiga mais um marco civilizacional. Por cá, eramos girinos sem forma que só começaram a sair das águas com o ribombar das trombetas que traziam

Apocalipses, Direito Penal e outras civilidades. Depois de termos passado a batráquios tínhamos de nos tornar mamíferos e fundar a partir das fundições de outrem ou de alguém, um nascimento rigoroso que é difícil acertar. Nestas cosmopolitas e maravilhosas demonstrações se anda entretido a procurar o embrião e também o cordão umbilical cortado para absorver o sopro de elemento novo. É quando se dá a primeira respiração fora do útero que se nasce e absorvemos aquele registo que será doravante a anima, a alma, aquilo que anima, e num último instante expiramos a depô-la. É certo que um longo período de decrepitude pode gerar alienação de fronteiras, não se sabendo já da própria morte, mas, por ganância, nem a alma entregámos, ficando ela num Limbo inqualificável que apela ao nascimento. Mas os bons dos romanos também disseram: os deuses, esses, enlouquecem antes os que desejam perder. Pois bem, são magnânimos! Matar a frio é para cruéis e sanguinários, mas pode haver alguém que não enlouqueça e veja o mundo passar como um filme a várias dimensões e até exclame como Pessoa: sou lúcido, merda, sou lúcido; pois era, e depois? A data dele era 8 de Março e esta sim, festejo-a sempre, porque foi um poeta que a decretou. Quanto às” burlas” e bulas Papais está para ser inventada outra data mais a preceito. Vinte e cinco de Outubro também tem a envolvência do homem adâmico , diz-se que foi nesse dia que fomos expulsos do Paraíso e por aí fora até ontem. Espaço e tempo são matérias cientificas de monta que só Einstein conseguiu desvendar, e... levantam-se véus e não os vestidos das belas deidades. Por isso quero desejar a todos felizes aniversários em qualquer calendário litúrgico e soberanas independências, não vá a Terra mudar o eixo dos seus vastos equilíbrios e andarmos para trás à velocidade do som. Quando chegarmos à pedra façamos como os palestinianos, e se houver pedras, construamos muros, e também apedrejamentos vários por causa do adultério. E posto isto, só as pedras e as baratas, creio, sobreviverão ao caos que se adivinha, e por isso não é de bom tom comer insetos. Alguém tem de cá ficar! Que não testemunhe jamais a realidade de um tempo de pólvora, e secas as fontes, nos retiremos daqui como o último dos Mistérios.


17 hoje macau quarta-feira 8.6.2016

OPINIÃO

chá (muito) verde

FERNANDO ELOY | 义來

ALEX GARLAND, EX MACHINA

J

Á abordei várias vezes o advento da inteligência artificial (IA) nesta página, mas as notícias sucedem-se e, com elas, o intricado que é perceber o nosso futuro como espécie, se é que o temos. O meu último palpite é que vamos acabar transformados em máquinas. Humanóides, se quiser, mas não humanos. Esses podem ter os dias contados. Mas, antes disso, deixem-me partilhar as últimas que chegaram ao meu conhecimento. A primeira surgiu na Quartz onde se anuncia o primeiro guião de cinema escrito por um sistema IA (bit. ly/AIdoesSwrite). Oscar Sharp, o realizador, e Ross Goodwin, o geek, resolveram experimentar o que aconteceria. Assim, para acederem a um concurso para fazer filmes em 48 horas, deram a um sistema neural (neural network) uma série de ideias para um guião. Não saiu um trabalho de génio, mas tudo, desde instruções de movimentações no set a diálogos e até mesmo a letra de uma canção, foi escrito pelo sistema. Uma história futurista que, escreve o IA, “será uma época de desemprego massivo” onde “os jovens são obrigados a vender o próprio sangue”. Ou seja, até as máquinas já sabem o que vai acontecer. A este propósito, lembro que a proposta de lei Suíça, que mencionei um destes dias para a atribuição de um ordenado a todos, acabou chumbada na passada semana por receios que as pessoas se entreguem ao ócio. Todavia, os 20% que votaram a favor dão esperanças aos proponentes que a conversa não tenha ainda terminado. Agora, o ócio assusta mas em breve será o ócio a ditar a medida, ou a profecia da máquina de venda de sangue pode mesmo ser consubstanciada. Chegou-me também a notícia publicada na Vox da reconstrução do filme Blade Runner a partir de data não codificada, ou seja bits e bytes do filme de Ridley Scott (bit.ly/ AIdoesBrunner). O projecto foi gerido por Terence Broad, um londrino que se dedica à pesquisa sobre computação criativa. O objectivo de Broad foi o de aplicar “deep learning” — a característica fundamental destes sistemas de IA— ao vídeo; queria ele descobrir que tipo de criação um sistema rudimentar de IA conseguiria gerar se fosse ensinado a perceber data de vídeo e, na sequência, a ver um filme. O resultado foi de tal ordem que a Warner Brothers, detentora dos direitos do filme, pediu que o vídeo fosse apagado da plataforma Vimeo onde estava (está) em exibição. Mais tarde viriam a reconhecer o erro pois aquele não era o filme deles mas sim uma reconstrução.

Nós, as máquinas

“Ter um braço da Nike, umas ancas da Peugeot ou uns olhos da Leica não me parece tão ficção científica quanto isso” Ou seja, é cada vez mais claro que até mesmo as áreas criativas, que nós pensávamos ser o último reduto do homem, vão estar ameaçadas pelas máquinas. Qual será o nosso caminho, então? Neste momento, porque a realidade é dinâmica, acho que o nosso futuro vai ser transformamo-nos em máquinas. Senão vejamos, com o avanço dos sistemas neurais (IA) de um lado e o próprio avanço tecnológico que temos vindo a desenvolver do outro, não será difícil de imaginar que, num futuro não muito distante, vamos começar a substituir peças. Orgânicas e/ou feitas de outra coisa qualquer. Provavelmente, as feitas de outra coisa qualquer, resistentes a vírus, bactérias e afins, serão as mais populares. Faz sentido optar por um coração orgânico em detrimento de um, digamos, da Rolex?

Ter um braço da Nike, umas ancas da Peugeot ou uns olhos da Leica não me parece tão ficção científica quanto isso. Teoricamente, a substituição de peças vai-nos permitir viver mais tempo. Apesar disso, já hoje existem teorias várias que, mesmo nas condições actuais, o ser humano poderia durar muito mais. Alimentação, ar puro, etc. todos concorrem, mas com homens e máquinas trabalhando em simultâneo, não me parece que essa realidade seja nem utópica nem distante, tal como as expectáveis transformações radicais ao nível das soluções energéticas e das formas de locomoção. Aumentando a esperança de vida, com uma tecnologia avançada disponível e tempo de sobra nas mãos que nos resta? Viajar pelo espaço. Sair daqui para fora. Acho que será esse o futuro. Fica ainda uma questão para resolver, contudo, a essência. Quando começarmos a subsistir peças vamos continuar a ser nós? Se sim, o que faz de nós, nós? A alma, dirão os crentes. O fantasma dizia Masamune Shirow em “Ghost in the Shell” ou, dirão os mais pragmáticos, a informação armazenada no cérebro. Em relação a esta última possibilidade, talvez não seja preciso esperar muito

para verificar a sua veracidade. Isto é, se o neurocirurgião italiano Sergio Canavero for bem sucedido no transplante de cabeça que promete já para o ano que vem (bit. ly/Canavero), podemos vir a ter uma ideia sobre o assunto. Segundo ele, o problema era juntar a espinal medula, mas garante estar ultrapassado. Descobriu o segredo, diz, e até lhe deu um nome, Gemini (spinal cord fusion). Entre peças sintéticas, ou transplantes espectaculares, e sistemas IA cada vez mais evoluídos parece-me cada vez mais claro que a vida na Terra está prestes a mudar de uma forma absolutamente espectacular. Provavelmente, os humanos, esses seres frágeis e problemáticos, serão uma recordação tão longínqua como hoje a dos dinossauros.

MÚSICA DA SEMANA “Sweet Head” (David Bowie, 1972)

“See my eyes of blocked emotion, see my tremble, see my fall Traumatics thick and fast, your faith in me can last Besides I’m known to lay you, one and all”


18 (F)UTILIDADES TEMPO

hoje macau quarta-feira 8.6.2016

?

TROVOADA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “UNAMED” E CONCERTO DE SYLVIE XING CHEN Fundação Rui Cunha, 18h30

Sexta-feira

MIN

25

MAX

29

HUM

80-98%

EURO

9.08

BAHT

FILME “A CAÇA REVOLUÇÕES” (MARGARIDA RÊGO) FILME “AULA DE CONDUÇÃO” (ANDRÉ SANTOS, MARCO LEÃO) FILME “DESPEDIDA” (TIAGO ROSA-ROSSO) FILME “O REBOCADOR” (JORGE CRAMEZ) FILME “BALADA DE UM BATRÁQUIO” (LEONOR TELES) Cinemateca Paixão, 16h30 FILME “A TOCA DO LOBO” (CATARINA MOURÃO) Cinemateca Paixão, 20h00

O CARTOON STEPH

FILME “OS OLHOS DE ANDRÉ” (ANTÓNIO BORGES CORREIA) Cinemateca Paixão, 20h00

Diariamente

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau EXPOSIÇÃO “ARTS FLY” Broadway Macau (até 28/06) EXPOSIÇÃO “ARTES VISUAIS DE MACAU” Instituto Cultural (até 07/08) EXPOSIÇÃO DE TIPOGRAFIA “WEINGART” Galeria Tap Seac (até 12/06) SOLUÇÃO DO PROBLEMA 102

UM DISCO HOJE

EXPOSIÇÃO “TIBET REVEALED” Galeria Iao Hin (até 20/06) EXPOSIÇÃO DOS ALUNOS DE ARQUITECTURA DA USJ Creative Macau (até 18/06) EXPOSIÇÃO “DINOSSAUROS EM CARNE E OSSO” Centro de Ciência de Macau (até 11/09) EXPOSIÇÃO “REMINESCENT – PORTUGAL MACAU” Galeria Dare to Dream (até 22/07)

Cineteatro

PROBLEMA 103

C I N E M A

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA”, DE CHARLES CHAUDERLOT Museu de Arte de Macau (até 19/06)

1.21

DIVIRTA-SE, MAS NÃO FUME

Sábado

FILME “GIPSOFILA” (MARGARIDA LEITÃO) Debate “Produção Cinematográfica em Portugal e sua visibilidade pelo mundo” Cinemateca Paixão, 16h30

YUAN

AQUI HÁ GATO

NOITE COM PIANO Fundação Rui Cunha, 18h00

Domingo

0.22

Podia ser um slogan para o turismo. Se calhar até pega, considerando a cultura em vigência... Sou gato, não fumo, nem conheço nenhum que fume. O das Botas, talvez, não tenho a certeza. Mas entendo quem goste, como eu gosto de afiar as unhas nas cadeiras da redacção. Aqui, uma metade fuma, outra não. Temos uma zona de fumo. Ninguém se queixa, convivemos. É como a aldeia dos gauleses, um bastião onde os fiscais romanos não entram e as pessoas são felizes mesmo quando voam peixes pelo ar (os meus momentos preferidos). Isto, a propósito do exorbitante número de multas a fumadores que os Serviços de Saúde anunciaram esta semana. Quase 3000 em seis meses! A maioria eram residentes, porém, mais de 35% eram turistas. Ou seja, 1000 pessoas que experimentaram o famoso “Macau Welcomes You” foram para casa a contabilizarem uma multa por acenderem no local errado, quiçá num jardim à amena sombra de um chaparro oriental. Se contaram a história a, pelo menos, três pessoas, já foram 3000 a ficarem a saber. E por aí fora...Acidade do divertimento onde não se pode fumar nem num bar, num casino, ou até num canto tranquilo de um jardim é como bacalhau sem batatas ou won ton sem camarão. Perseguido por fiscais feios e quadrados sem as palavras tolerância ou compreensão no léxico, é de uma arrogância administrativa sem limites e, pior, típico da falta de visão do que é gerir um destino turístico. Até no Japão, onde a organização social é quase extrema, existem zonas para fumadores em praticamente todo o lado. Pensem bem suas abéculas, coloquem-se nas pantufas de um potencial frequentador de Macau e ponderem as possibilidades: Camboja, Vietname, Manila, Singapura... Macau? Porquê? Porque tem bolinhos de amêndoa e pastéis de nata? Nabos. Pu Yi

dEUS, POCKET REVOLUTION

De 2005, Pocket Revolution foi apenas mais um trabalho de sucesso dos belgas dEUS. Os seguidores do trabalho de dEUS sabem que durante a gravação deste álbum – o primeiro gravado em estúdio – a banda passou por alguns momentos inconstantes, com a saída e entrada de alguns membros do grupo. Pocket Revolution mostrou-se o melhor prémio depois de tantos percalços. Nothing really ends é a música de eleição, seguindo-se 7 Days, 7 Weeks. Filipa Araújo

NOW YOU SEE ME 2 SALA 1

NOW YOU SEE ME 2 [B] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 14.30, 16.45,19.15,21.30 SALA 2

THE JUNGLE BOOK [B] Filme de: Jon Favreau 14.30, 16.30, 21.30

THE JUNGLE BOOK [B][3D] Filme de: Jon Favreau 19.30 SALA 3

ANGRY BIRDS [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Fergal Reilly, Clay Kaytis 14.30, 16.30, 19.30

ANGRY BIRDS [A][3D] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Fergal Reilly, Clay Kaytis 21:30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


19 ÓCIOSNEGÓCIOS

hoje macau quarta-feira 8.6.2016

HANDMADE ARRAIOLOS VERA FERNANDES, FUNDADORA

“Fazemos isto porque é uma arte” workshops. Já fizemos umas apresentações na China, também”, disse ainda.

FACEBOOK

Há três anos Vera Fernandes veio viver para Macau e, juntamente com os pais, trouxe a Handmade Arraiolos, um negócio de família de produção e restauro dos tapetes de Arraiolos. Se em Portugal a tradição não pega, na China virou moda

AS IMITAÇÕES

Para além dos trabalhos que faz para fora, a Handmade Arraiolos também realiza workshops na Casa de Portugal em Macau, os quais “estão quase sempre cheios”. São a única empresa que se dedicam a manter viva a tradição, mas os alunos também fazem por isso. “Temos tido uma recepção muito boa e os cursos têm estado quase sempre cheios, com pessoas de todos os grupos, e cada vez mais temos pessoas que não são portuguesas. Há pessoas em Macau que fazem tapetes de Arraiolos porque as nossas alunas querem continuar a fazer depois dos workshops e acabamos por ser revendedores.”

“Temo-nos dedicado a várias vertentes do negócio, mas o principal objectivo é divulgar a cultura portuguesa”

P

FACEBOOK

ARA fazer tapetes de Arraiolos em Macau é necessário importar todas as telas e lãs e enfrentar um enorme calor enquanto se faz uma peça à mão com técnicas tradicionais utilizadas há vários anos, mas nem assim se desiste. De geração em geração, a Handmade Arraiolos chegou a Macau há três anos não tanto com a vontade de fazer negócio mas com o desejo de continuar a preservar a técnica de fazer estes tapetes que não existem em mais nenhum lugar do mundo. A avó e o pai de Vera Fernandes eram verdadeiros artesãos numa empresa fundada há 70 anos. Hoje, a Handmade funciona graças ao trabalho da mãe de Vera, já reformada, e com a proprietária, que, contudo, mantém outro emprego. “Não vivo dos tapetes de Arraiolos, infelizmente”, apontou Vera Fernandes. As encomendas feitas por portugueses escasseiam e são os chineses que mais compram. “Os portugueses percebem que podem adquirir em Portugal ou mandar fazer de novo. O Arraiolos não está assim tão na moda em Portugal. Os chineses ficam muito interessados. Escolhem mais os clássicos, os desenhos mais cheios, gostam que tenham o máximo de elementos e gostam muito das cores que tenham a ver com o azulejo português, com o azul, amarelo, branco. Pedem almofadas a imitar o

azulejo, já vendemos um tapete a imitar o azulejo de Lamego”, exemplificou Vera Fernandes ao HM. O atelier está montado em casa e existem mais de mil cores de lãs prontas a serem trabalhadas numa tela. Vera Fernandes não fala de preços, por variarem consoante a encomenda, mas confessa que um tapete de dois metros pode levar quase seis meses a fazer. “Em Macau não há tanto mercado para o restauro, não há muitos tapetes de Arraiolos, infelizmente, então dedicamo-nos à confecção de novos tapetes e damos

Outro dos desafios de ter a empresa em Macau é de lidar com as imitações que são feitas na China. “As pessoas, na sua grande maioria, não perceberem a diferença em termos de materiais e técnicas. As coisas na China não são feitas com a técnica tradicional e isso não ajuda muito à divulgação da cultura portuguesa.” “Temo-nos dedicado a várias vertentes do negócio, mas o principal objectivo é divulgar a cultura portuguesa. Mesmo havendo imitações na China a técnica continua a ser totalmente desconhecida, porque eles não a seguem”, revelou ainda Vera Fernandes. Para o futuro a empresa pretende continuar a inovar, mas mantendo sempre a técnica tradicional. “Tentamos manter a técnica o mais possível ligada à origem. Mas inovar em termos da aplicação da técnica sim. Para além dos tapetes e almofadas, temos bolsas, capas para telemóveis, malas e estofos para cadeiras.” “O nosso objectivo seria conseguirmos a partir de Macau levar os workshops a outros países. Depois de fazermos esta exposição podemos levá-la a outros sítios aqui na Ásia. Os tapetes de Arraiolos são algo muito português e esta técnica do ponto é única em Portugal. Fazemos isto porque é uma arte”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


Na imagem de um rio chinês / busco a água de tanta mágoa: / um verso de cada vez / vem ao poema como um navio / que vai ao largo e não volta mais. / Uma orquídea exilada / de um outro espaço / pousa ao pé desta casa: / dir-se-ia que um sábio antigo / abriu, / passo a passo, / o que há tanto se encobriu.”

quarta-feira 8.6.2016

José Maria Rodrigues

EVA CARNEIRO RETIRA QUEIXAS CONTRA CHELSEA E MOURINHO

O

Chelsea chegou a acordo com Eva Carneiro, colocando assim um ponto final no processo movido pela médica contra o ex-clube e contra José Mourinho. Os detalhes do acordo, alcançado esta terça-feira num tribunal de Londres, não foram revelados. «O clube lamenta as circunstâncias que levaram à saída da Dra. Carneiro do clube e, sem reservas, pede desculpa pelos incómodos causados», lê-se no comunicado do Chelsea, lembrando o lance que originou toda a polémica. «Quando entrou em campo, a Dra. Carneiro estava a seguir as regras do jogo e a cumprir a responsabilidade dele para com os jogadores, colocando a segurança

dos mesmos em primeiro lugar.» A 8 de Agosto de 2015, na recta final do Chelsea-Swansea, Eva Carneiro entrou em campo para assistir o extremo belga Eden Hazard, acção que não agradou a José Mourinho, na altura treinador dos blues. Eva Carneiro acabou por deixar a equipa médica do Chelsea pouco depois. «A Dra. Carneiro é uma médica de desporto altamente competente e profissional. Foi um elemento valioso na nossa equipa médica e o clube deseja-lhe todo o sucesso. José Mourinho também agradece a Dra. Carneiro pelo excelente e dedicado apoio que prestou enquanto médica do clube», conclui o comunicado.

Japão RAPAZ SAI DO HOSPITAL APÓS SER ABANDONADO NUMA FLORESTA

Um castigo selvagem

TAIPA BENFICA A DOBRAR EM JANTAR NO SANTOS

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EALIZA-SE hoje o jantar que celebra o título de tricampeões do Benfica de Macau e do Sport Lisboa e Benfica. “O Santos”, restaurante emblemático não só da cozinha portuguesa como do amor ao clube, é o promotor da iniciativa, que pretende juntar a equipa da casa e os adeptos benfiquistas num ambiente de festa. À semelhança de anos anteriores, Santos Manuel Bruno Pinto, mais conhecido por “Santos”, proprietário do restaurante homónimo na vila da Taipa, faz questão de marcar o 35º Campeonato do clube Lisboeta. “Já nasci benfiquista, está-me no sangue”, começa por frisar ao

HM, adiantando que o convívio de hoje à noite pretende comemorar as glórias do seu “querido Benfica”, que há anos não lhe dava uma vitória tão sofrida, e por isso, mais apreciada. O encontro, acrescenta, foi marcado no dia de folga do jogadores da equipa do Benfica de Macau para que todos possam celebrar juntos. O proprietário conta com casa cheia. As inscrições continuam a decorrer até ao final do dia de hoje. O jantar, que começa por volta das 20horas, tem um valor de 350 patacas, por pessoa, e explica o organizador está “tudo incluído”. “É com direito a tudo”, brinca.

O

rapaz de sete anos que sobreviveu durante quase uma semana após ser abandonado pelos pais numa floresta teve ontem alta do hospital, acabando com um drama que cativou o Japão e acendeu o debate sobre disciplina infantil. A polícia disse que os pais não vão ter nenhuma consequência por terem abandonado Yamato Tanooka como castigo por atirar pedras, apesar da revolta pública generalizada. Yamato estava muito alegre quando saiu do hospital municipal de Hakadate no norte da ilha de Hokkaido. Com um boné preto de basebol, parou a sorrir e acenou à multidão de jornalistas e curiosos. Segurava uma bola de basebol feita em papel que tinha mensagens de apoio escritas. Quando lhe perguntaram o que queria fazer, disse: “Basebol!”. Sobre se queria voltar à escola, respondeu com entusiasmo: “Quero ir!”.

Depois de alguns minutos, que incluíram aplausos, o seu pai levou-o para uma carrinha e foram embora.

PROCESSO DISCIPLINAR

O rapaz sobreviveu durante seis noites sozinho depois dos pais o terem deixado na estrada de uma montanha, no dia 28 de Maio, perto de bosques onde existem ursos. Muitos japoneses ficaram indignados com o casal, que disse ter forçado o filho a sair do carro para lhe dar uma lição depois de ele ter atirado pedras a carros e a pessoas. O pai disse que voltou atrás cinco minutos depois para o ir buscar mas não o encontrou.

O rapaz sobreviveu durante seis noites sozinho depois dos pais o terem deixado na estrada de uma montanha

O caso acendeu o debate no Japão sobre disciplina parental. Algumas pessoas pediram compreensão para os pais, mas a maioria condenou a atitude excessiva. “Não vamos considerar isto um caso criminal”, disse à AFP um porta-voz da polícia de Hakkaido, acrescentando que o caso seria apenas encaminhado para a segurança social. Toru Numata, um advogado que lida com casos violência doméstica e abuso, disse à AFP: “Considerando os factores por detrás do caso, as hipóteses de tornar o caso processável são muito pequenas”. Numata disse que o foco seria provavelmente a saúde mental do rapaz e o possível trauma do episódio. Depois de Yamato ter deixado o hospital, as redes sociais celebraram a sua recuperação, e uma pessoa escreveu no Twitter: “Que bom que ele foi salvo… Dêem-lhe muitos beijos”. Mas alguns mostraram-se incomodados com a grande cobertura dos media. “Os media precisam de andar atrás dele?”, escreveu um utilizador. “Era melhor deixarem-no em paz”. A equipa de salvamento e os soldados passaram dias a vasculhar as florestas da montanha depois de Yamato ter desaparecido. A criança foi finalmente descoberta na passada sexta-feira, abrigada numa cabana de um campo de treino militar a cinco quilómetros do sítio onde foi abandonada. Yamato estava desidratado e foi levado para o hospital. A polícia interrogou-o durante uma hora no hospital, na segunda-feira, acompanhado pela mãe e pelos médicos, informou o jornal Tokyo Shimbun. O diário citou o que o rapaz disse à polícia: “Eu andei sozinho e não encontrei ninguém”, acrescentando que às vezes parava para descansar e chegou à cabana quando estava escuro. Yamato manteve-se quente ali, durante as noites frias, ao dormir entre dois colchões. Bebeu água de uma torneira, mas não tinha nada sólido para comer. O pai, Takayuki Tanooka, de 44 anos, disse na segunda-feira que pediu desculpa ao filho e que o rapaz o perdoou. “Eu disse-lhe: ‘O pai fez-te passar por um período difícil. Desculpa’”, disse Takayuki à rádio TBS. “E depois, o meu filho disse: ‘Tu és um bom pai. Eu desculpo-te’”, acrescentou Tanooka.


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