Hoje Macau 08 AGOSTO 2023 #5308

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hojemacau

O ar que nos dão

O relatório mais recente da DSPA revela que em 2022 se registaram algumas melhorias na qualidade do ar que se respira em Macau. Para isso, contribuiu significativamente a diminuição dos valores dos poluentes atmosféricos. Em sentido contrário, estão os números de concentração de Ozono que registaram uma subida de 39%, face a 2006.

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 TERÇA-FEIRA 8 DE AGOSTO DE 2023 • ANO XXI • Nº5308
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DE AVENTURAS SEM SOMBRA DE AUSTERIDADE FINANÇAS PÚBLICAS DERRAPAGENS SEM CONTROLO FRC
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ENTREVISTA
CAMPO
| BD TRAÇOS ASIÁTICOS
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ZÉ EDUARDO OS TONS DO JAZZ
GCS
CARLOS PINTO
WALTER BENJAMIN E A PINTURA CHINESA Fernando Araújo Del Lama
BADA SHANREN

“Pensam que jazz é entretenimento”

Voltou recentemente de Macau para realizar um workshop e dar um concerto. Como foi este regresso após algum tempo de ausência?

Começo pelo fim. A última vez que fui a Macau foi em 2019, antes da pandemia. Em 2020, tinha planeado ir a Macau, os meus alunos iriam a Taiwan, e iria ainda a Banguecoque fazer um workshop. Foi tudo cancelado, até agora. Quando foram levantadas as restrições, os meus alunos falaram logo comigo e perguntaram se estava interessado em ir a Macau. Fui em Julho, comecei a dar aulas no dia 1, e estive três semanas. Costumava ficar quatro semanas, mas em três anos muitas coisas mudaram. Achei, em primeiro lugar, que Macau está um pouco diferente, tanto economicamente, pois vi muitos pequenos comércios fechados, mas depois explicaram-me que estavam em recuperação. Também me disseram que muitos portugueses foram embora. Realmente notei um impacto bastante grande da pandemia.

Em termos musicais, como encontrou Macau?

Encontrei muito menos alunos. Explicaram-me que isso se devia a

2 entrevista 8.8.2023 terça-feira www.hojemacau.com.mo
ZÉ EDUARDO MÚSICO
Zé Eduardo, um dos nomes cimeiros do jazz de Macau, voltou ao território recentemente para um workshop e um concerto em colaboração com a Associação Promotora de Jazz de Macau. O HM conversou com o músico que nota uma evolução qualitativa do jazz local, apesar de a profissionalização ainda estar a “décadas” de distância

vários motivos, um deles ao facto de este ter sido o primeiro Verão em que os residentes de Macau puderam sair de férias. Acredito que tenha sido essa a principal razão. Foi a primeira vez que tive 15 ou 20 alunos, costumava ter sempre, nos oito ou dez anos anteriores, até 50 alunos. Com equipas maiores, e quando o financiamento era do Governo, chegava a ter cerca de 80 a 90 alunos. Nota-se também o facto de eu ter deixado uma escola a funcionar, que é a Associação de Promoção do Jazz de Macau. É um grupo de jovens músicos chineses locais, com um ou dois portugueses. Há dez anos começaram a ter aulas comigo e agora os que foram meus alunos já dão aulas. Notei que os alunos que participaram agora neste workshop são muito melhores do que aqueles que encontrei até aos anos da pandemia. Nestes anos treinaram os alunos de base, os iniciados. Agora há um nível de entrada [na carreira musical] que não é nada mau, e foi isso que me surpreendeu pela positiva.

Fale-me um pouco deste projecto de ensino ligado à associação. Em 2012 um amigo, ex-aluno do primeiro workshop que fiz no território, em 1996, ainda por intermédio do Clube de Jazz de Macau, [apoiou-me], e consegui [contacto com] vários portugueses, ligados ao clube, que conseguiam arranjar financiamento. Depois tinha alguns alunos chineses e até filipinos, mas esses portugueses depois foram todos embora, à excepção de alguns. José Sales Marques também estava lá e sempre esteve muito ligado ao Clube de Jazz desde os anos 80. Não era músico, não se misturava, mas era da direcção. Um dos portugueses que ficou por lá foi Miguel Campina, arquitecto, meu amigo, que é músico amador, toca bateria, e fez parte desse grupo inicial. A partir daí, fui em 2001 ainda através de portugueses que já nada tinham a ver com o Clube de Jazz. Em 2012, voltei graças a uma senhora chinesa e um ex-aluno que me conhecia desde 1996. Foi nesse ano que conheci a Associação de Promoção de Jazz. Em 2013, continuei a ir lá, mas em 2015 as coisas começaram a correr mal, porque acabou o financiamento [público]. A minha amizade e ligações com a associação eram mais duradouras e a partir de 2016 já fui só a convite da associação [sem financiamento público]. Fui com muito menos dinheiro, porque eles recebem subsídio, mas sem ser aquelas quantias exorbitantes, ao ponto de nunca mais poder ir a Macau com um grupo de professores, passando a ir sozinho. Fui sempre, todos os anos, até à interrupção da covid-19.

Tem havido uma evolução positiva no panorama jazz do território?

Sem dúvida. Em 2019, fui contactado pela Fundação Jorge Álvares sobre o meu interesse na participação na conferência internacional que habitualmente organizam, sobre música e instrumentos chineses, com académicos de todo o mundo. Disse apenas que não percebia nada de música cantonense e que apenas era professor de jazz em Macau. Queriam que explicasse, precisamente, o “milagre” que tinha feito no território. Já nessa altura sabiam o que estava a ser desenvolvido. Muitos jovens fo -

“Os políticos em Portugal sabem que o jazz é cultura e só serve para perder dinheiro.

Em Macau pensam que é entretenimento. Está tudo dito, não preciso afirmar mais nada.”

“O jazz não é para se ouvir em grandes salas, mas em clubes, para trazer coisas boas, artistas que fazem criações como os pintores ou os poetas.”

ver relações mais pessoais, que é como gosto de trabalhar. Tudo isso resultou no facto de os alunos agora, apesar de menos, terem um melhor nível, porque quando se candidataram ao workshop já tinha sido feita uma selecção, e isso é muito importante. Em Portugal faz-se isso há 40 anos. Já temos o jazz no ensino superior, por exemplo, e Macau ainda precisa de umas décadas para chegar a esse nível. A semente está lançada e vai chegar lá. Só tenho pena de não viver mais 50 anos para ver isso concretizar-se. Muitos jovens vão hoje para fora, para Taiwan por exemplo, que é barato e onde se fala chinês, chegam a Macau e não têm trabalho, têm de dar aulas.

Não existem muitas saídas profissionais.

anos e fiz o que sempre quis fazer em Macau, mas que nem sempre consegui, devido a algumas crises e convulsões internas.

É um dos grandes nomes do jazz em Portugal. Quando olha para trás, sente que valeu a pena o percurso feito, como músico e educador?

ram estudar para fora e já tocam muito bem.

Considera que houve uma maior profissionalização do jazz. Muito maior. Não tem comparação. Quando fui a Macau em 2001 lembrava-me Portugal nos anos 70.

Quando o jazz era inexistente, nesse período do pós-25 de Abril. O jazz em Portugal era quase inexistente, éramos três ou quatro a tocar e os restantes eram todos músicos amadores. Eram arquitectos, tinham outras profissões. Macau, em 1996, ainda era pior, era Portugal antes do 25 de Abril. Portanto, a cena do jazz só começou mesmo a surgir em 2012, é algo muito recente, e tudo começou com a realização dos primeiros workshops irregulares. A regularidade, nestes casos, é muito importante. No início, quando levava muitos instrumentos e professores comigo, era demais para os alunos que tínhamos. O nível deles era muito básico. Depois, como disse, o financiamento do Instituto Cultural terminou e ainda bem, porque passou a ha-

Não. É como em Portugal, os jovens da chamada média burguesia, com dinheiro para estudar nos Estados Unidos ou Holanda, até constituírem família podem andar a fazer concertos por aí, mas se querem ficar em Portugal e ter uma casa, mulher e filhos, estão tramados, têm de ir para o ensino. Em Macau já estão alguns músicos assim, porque não há nenhuma saída, não há festivais de jazz, por exemplo.

Conhecendo Macau há alguns anos, é uma sociedade cujo sector do turismo continua a não ser muito receptivo, ou acolhedor, em relação ao jazz, por exemplo, para a organização de eventos?

São as tais décadas que ainda terão de passar. Em Portugal, esse processo também foi muito difícil, foram precisos muitos anos. Tive a sorte de não ter morrido e ter vivido isso tudo [a mudança]. Nem sequer foi com o 25 de Abril, foram precisos muitos mais anos.

Vim de Barcelona [para Portugal] em 1995, onde fui director de uma escola de música durante dez anos.

Fui para o Algarve e fiz tudo o que me veio à cabeça [para promover o jazz], sempre a pedir financiamento público. Fiz uma associação em 2001, e como tenho algum prestígio, deram-nos subsídio.

Qual é a associação?

Associação Grémio das Músicas, da qual ainda sou presidente. Organizava workshops todos os

Não me arrependi de nada. Ao contrário de muita gente, que tem de ir para o ensino porque não tem alternativa, eu gosto de ensinar. Não gosto de coisas e subsídios megalómanos, porque eu sou um formador por vocação, quase como o sacerdócio. Gosto de formar, e gosto acima de tudo quando os alunos estudam. Em Macau vai ser muito difícil, porque está ainda nos anos 70 de Portugal. Voltando à minha experiência no Algarve, fundei dois festivais de jazz, eu sei lá o que fiz. Só ao fim de 20 anos é que a cidade de Faro me deu a medalha de mérito cultural. Faça as contas de quanto falta a Macau. Quando é que Mars Lei [músico e fundador da Associação Promotora de Jazz] vai receber uma medalha de mérito? Ele também é jovem e ainda não fez muito do que eu já tinha feito com a idade dele. Mas, para mim, a forma como as pessoas se “mexem” [para realizar este tipo de actividades] é um pouco incompreensível, porque é uma sociedade um pouco diferente.

“A cena do jazz só começou mesmo a surgir em 2012, é algo muito recente, e tudo começou com a realização dos primeiros workshops irregulares. A regularidade, nestes casos, é muito importante.”

Há falta de sensibilidade, da parte da classe política de Macau, em relação ao jazz?

Claro que sim. Pensam que o jazz é entretenimento, e quando organizam actividades arranjam o jazz mais comercial que existe. O jazz não é para se ouvir em grandes salas, mas em clubes, para trazer coisas boas, artistas que fazem criações como os pintores ou os poetas. Os políticos em Portugal sabem, hoje, que o jazz é cultura e só serve para perder dinheiro. Em Macau, pensam que é entretenimento. Está tudo dito, não preciso afirmar mais nada. Enquanto pensarem assim vão ser necessárias muitas décadas [para mudar a mentalidade]. Andreia Sofia Silva

entrevista 3 terça-feira 8.8.2023

Bem prega frei Tomás

Pedida melhor comunicação e mais transparência

LEI Chan U defende que o Governo deve reforçar a transparência governativa e comunicar com a população de uma forma mais eficaz. Numa interpelação escrita, divulgada ontem, o deputado da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) aborda o caso do corte de várias árvores na Zona de Lazer da Baía Norte do Fai Chi Kei e da construção de uma Estátua de Kun Iam na Zona da Barragem de Hac Sá.

FINANÇAS PÚBLICAS CRITICADA FALTA DE TRANSPARÊNCIA E SUPERVISÃO

Números com opacidade

Au Kam San entende que poucos progressos foram conseguidos na supervisão das finanças públicas desde a criação da RAEM. A falta de transparência impossibilita o cumprimento das funções da Assembleia Legislativa, defende. O ex-deputado deu como exemplos da falta de supervisão o aumento do orçamento para construir o Campo de Aventuras de Hac Sá e os empréstimos à Viva Macau

MAIS de duas décadas depois do nascimento da RAEM, foram escassos os progressos na fiscalização da forma como o Governo gasta os dinheiros públicos, na óptica da Au Kam San. O ex-deputado publicou na noite de domingo um texto em que reflecte sobre a falta de supervisão das finanças públicas.

Com mais de 20 anos de experiência como deputado, Au Kam San defendeu que a Assembleia Legislativa (AL) não consegue exercer com eficácia o seu papel de fiscalização da acção governativa devido à falta de transparência na gestão dos cofres públicos. Neste capítulo, um dos principais problemas é a falta de informação fornecida pelo Executivo aos deputados. A ausência de detalhes e o parcelamento das despesas em trimestres e anos, em obras que se estendem ao longo de vários anos, impossibilitam a supervisão das finanças públicas.

“Se nos perguntarmos se os mecanismos de supervisão das finanças públicas melhoraram

muito nestes mais de 20 anos desde o retorno de Macau à pátria, creio que melhoraram um pouco. O Governo tem apresentado nos últimos 10 anos dados sobre a execução orçamental todos os trimestres e permitem que os deputados da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas solicitem informações adicionais. Porém, os dados trimestrais apenas conseguem transmitir um panorama geral, difícil de compreender num contexto alargado”, afirmou numa publicação de Facebook.

Na prática

O Campo de Aventuras Juvenis da Praia de Hac Sá foi um dos exemplos dados por Au Kam San para demonstrar a falta de supervisão

que permite derrapagens orçamentais. Recorde-se que o projecto que tinha inicialmente um orçamento de cerca de 230 milhões de patacas sofreu várias alterações até atingir 1,4 mil milhões de patacas.

“Muitos departamentos da máquina da Administração têm autonomia financeira e administrativa, como o Instituto para os Assuntos Municipais”, que acabam por financiar projectos como o Campo de Aventuras, “tornando impossível aos deputados e à comissão de acompanhamento supervisionar os seus gastos”, indicou.

O ex-deputado argumenta que a supervisão acaba por só acontecer, muitas vezes, depois da consumação dos factos, com os dinheiros do erário público já atri-

“Predominância do Executivo não significa arbitrariedade. Quanto maior for a liderança do Executivo maior deverá ser a supervisão, ou arriscamos que o exercício do poder seja desequilibrado e caótico.”

buídos e que a falta de transparência impossibilita os deputados de pediram explicações informadas ao Governo. Neste domínio, Au Kam San recorda que o Governo concedeu vários empréstimos consecutivos à companhia aérea Viva Macau através do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, sem que tenha havido qualquer reembolso. Quando tomou conhecimento do caso, já tinham sido aprovados empréstimos, antes que tivesse oportunidade para escrever a primeira interpelação a pedir explicações.

Au Kam San recordou ainda palavras da ex-presidente da AL Susana Chou, que no fim do seu último mandato pediu o reforço da supervisão às contas públicas. “Predominância do Executivo não significa arbitrariedade, ou que o Governo pode evitar a supervisão do órgão legislativo, muito pelo contrário. Quanto maior foi a liderança do Executivo maior deverá ser a supervisão, ou corremos o risco de o exercício do poder ser desequilibrado e caótico”, citou Au Kam San. Nunu Wu e João Luz

“A transparência é inseparável de uma boa governação. Por isso, melhorar a transparência governativa não só serve para satisfazer a necessidade de informação dos residentes, mas também permite receber os contributos da sabedoria da população, o que leva a uma maior a eficiência governativa”, indicou Lei Chan U.

O deputado apresenta depois uma lista de questões: “Como é que o Governo vai continuar a reforçar o direito de informação e supervisão dos residentes, reforçar a comunicação entre o Governo e os residentes, melhorar a transparência governativa, e promover uma boa governação no futuro?”, perguntou.

Por outro lado, o legislador pretende saber como é que o Executivo de Ho Iat Seng vai “melhorar as capacidades e o nível de governação, em resposta à diversificação das exigências sociais”, com o objectivo de criar “um governo que é orientado para a prestação e serviços claros, eficazes e convenientes para as pessoas e negócios”.

Das críticas

No documento, Lei Chan U aponta como maus exemplos de governação os casos do corte de várias árvores na Zona de Lazer da Baía Norte do Fai Chi Kei e a construção de uma Estátua de Kun Iam na Zona da Barragem de Hac Sá. Em relação ao primeiro caso, o legislador indicou que as “autoridades falharam ao comunicar e explicar os trabalhos” do corte de árvores, o que “acabou por criar muitas preocupações sociais”.

Sobre a construção da estátua, o deputado considera que a grande polémica se prendeu com “o ajuste directo” na compra da estátua no valor de 42 milhões de patacas.

“As polémicas sociais foram causadas pelo trabalho governativo insuficiente, o que reflecte a falta de transparência na governação. O Governo precisa de apresentar melhorias”, escreveu Lei Chan U. J.S.F.

4 política 8.8.2023 terça-feira www.hojemacau.com.mo
AU KAM SAM CITANDO SUSANA CHOU RÓMULO SANTOS

CAMPO DE HAC SÁ RON LAM QUER EXCESSO ORÇAMENTAL PARA APOIOS

Uma aventura em Macau

Ron Lam considera que o orçamento de 1,4 mil milhões de patacas para as obras do Campo de Aventuras Juvenis em Hac Sá é contraditório com a austeridade nos apoios sociais anunciada pelo Governo de Ho Iat Seng

ÓBITO DESTACADO PATRIOTISMO DE TONG CHI KIN

“UM patriota que toda a vida [...] foi sempre muito empenhado nos trabalhos da educação e cultivou quadros qualificados em todo o mundo”. Foi desta forma que Ho Iat Seng manifestou ontem o pesar por Tong Chi Kin, ex-porta-voz do Conselho Executivo, antigo deputado e ex-director da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, que faleceu no sábado.

O líder do Governo destacou que “Tong Chi Kin foi um patriota que toda a sua vida amou a Pátria e Macau, contribuiu para o desenvolvimento de Macau”. Ho Iat Seng sublinhou também que Tong “participou ainda com entusiasmo nos assuntos sociais e deu atenção especial aos operários, sendo profundamente respeitado por todos os sectores”, e que se dedicou “em promover a implementação bem-sucedida, estável e duradoura do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ em Macau”.

RON Lam considera que o orçamento para construir o Campo de Aventuras

Juvenis, planeado para a Praia de Hac Sá, deve ser mantido em 229 milhões de patacas, enquanto os restantes 1,1 mil milhões distribuídos em apoios sociais pela população. A sugestão do deputado foi feita através de um artigo publicado ontem no Jornal do Cidadão.

Inicialmente, o Campo de Aventuras Juvenis tinha um orçamento estimado de cerca de 229 milhões de patacas. Mais tarde, o Governo fez uma revisão do plano e apresentou um novo orçamento no valor de 1,4 mil milhões de patacas. A confirmação deste valor está dependente dos vários concursos públicos para a execução das obras.

Para o deputado Ron Lam, a construção do parque merece ser apoiada, no entanto, não faz sentido

gastar tanto dinheiro num projecto, quando a população ainda sente o forte impacto da crise económica que se sente desde a pandemia. “Em relação ao parque devia ser mantido o projecto original de 229 milhões de patacas [...] e os restantes fundos devem ser utilizadas em apoios sociais, que permitem responder àquelas que são as necessidades reais da população”, afirmou.

O legislador criticou igualmente a postura do Governo, que está sempre disposto a realizar novas obras com orçamentos de milhões, mas que quando foca os apoios sociais afirma atravessar um período de

austeridade. “A lógica financeira do Campo deAventuras Juvenis é completamente diferente da austeridade anunciada e aplicada aos gastos com despesas sociais, educação e cuidados de saúde”, atirou.

Lógicas diferentes

Como forma de criticar o orçamento estimado de 1,4 mil milhões de patacas, Ron Lam fez igualmente a comparação com a construção da barragem de marés no Porto Interior. Apesar de no início, as comportas terem sido apresentadas como solução para as cheias crónicas naquela zona,

“A lógica financeira do Campo de Aventuras Juvenis é completamente diferente da austeridade anunciada e aplicada aos gastos com despesas sociais, educação e cuidados de saúde.” RON LAM DEPUTADO

nos últimos meses o Executivo anunciou a intenção de desistir do projecto, por considerar que o investimento é demasiado elevado, face aos resultados expectáveis.

O “preço” da barragem de marés nunca foi anunciado, mas o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, admitiu numa sessão com os deputados que seria superior a mil milhões de patacas. “Anteriormente, o Governo apontou que o preço da construção da barragem de marés no Porto Interior era caro. Então, como é que pode avançar com um projecto de 1,4 mil milhões de patacas, sem procurar qualquer tipo de apoio e consenso público?”, questionou o legislador.

Quanto ao campo de aventuras em Hac Sá, Ron Lam avisou o Governo para “não destruir mais espaços verdes” em Coloane. João Santos Filipe

Ho Iat Seng destaca ainda o percurso de Tong enquanto membro da Comissão Preparatória da RAEM e da Comissão de Selecção do primeiro Governo da RAEM, antes da transição. Após a transição, o homem que morreu devido a doença prolongada, foi membro da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, membro e porta-voz do Conselho Executivo, deputado e presidente do conselho de administração do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia.

“O Senhor Tong Chi Kin deu contributos valiosos para o desenvolvimento e construção de Macau ao longo da sua vida. O seu espírito de dedicação e de serviço público constitui um exemplo para todos e deve ficar para sempre na nossa memória”, concluiu.

MP Álvaro Abreu Dantas fica mais dois anos

O contrato de Álvaro Abreu Dantas, como delegado coordenador do Ministério Público, foi renovado por um período de dois anos, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial, assinado pelo Chefe do Executivo. “Sob indigitação do Procurador, é renovado pelo período de dois anos, o contrato ao magistrado estrangeiro Álvaro Abreu Dantas, como Delegado Coordenador do Ministério Público”, pode ler-se. O despacho produz efeitos a partir de 18 de Outubro deste ano.

política 5 terça-feira 8.8.2023 www.hojemacau.com.mo
RÓMULO SANTOS

Falsos bancários

Autoridades alertam para burlas telefónicas

AAutoridade Monetária de Macau (AMCM) emitiu ontem um comunicado em português a alertar para a existência de uma nova onda de burlas, em que os criminosos se fazem passar por trabalhadores de bancos. O alerta para a situação foi deixado três dias depois do comunicado original ter sido publicado em chinês.

QUALIDADE DO AR NOVO RELATÓRIO PÚBLICO REVELA MELHORIA EM 2022

Poluentes em queda

O relatório anual relativo à qualidade do ar na zona do Delta do Rio das Pérolas, ontem divulgado pelo Governo, revela uma melhoria generalizada, tendo em conta que todos os cinco poluentes atmosféricos “mostram uma tendência de diminuição de longo prazo”

ADirecção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) divulgou ontem o Relatório Sobre a Qualidade do Ar relativo ao ano de 2022, elaborado conjuntamente com as autoridades da província de Guangdong e de Hong Kong, que conclui que “a qualidade do ar da região do Delta do Rio das Pérolas tem vindo constantemente a melhorar”, tendo em conta que “todos os cinco poluentes atmosféricos mostram uma tendência de diminuição de longo prazo”, revela a DSPA, em comunicado.

Estes cinco poluentes, que servem de parâmetro para a medição da qualidade do ar, são o Dióxido de Enxofre (SO2), partículas PM10 e Dióxido de Azoto (NO2), um poluente atmosférico secundário fotoquímico (ozono) e ainda o Monóxido de Carbono (CO) e Partículas PM2,5. Segundo

o documento, “comparando com 2006, os valores médios anuais de concentração de Dióxido de Enxofre (SO2), Partículas PM10 e Dióxido de Azoto (NO2), verificados em 2022, desceram 86, 52 e 45 por cento, respectivamente”. Por sua vez, “em comparação com 2015, os valores médios anuais de concentração de CO e de Partículas PM2,5 registados em 2022, diminuíram 16 e 38 por cento, respectivamente”.

O relatório conclui, no entanto, que se registou, no ano passado, uma subida de 39 por cento no valor médio anual de concentração de Ozono (O3) em relação a 2006. Tal demonstra que “a poluição fotoquímica na região do Delta precisa de ser melhorada”.

Novos estudos

O referido relatório é elaborado com base na Rede de Monitorização da Qualidade do Ar de Guangdong-Hong

Kong-Macau para a Região do Delta do Rio das Pérolas, que funciona desde Novembro de 2005 com um total de 23 estações.

As autoridades têm ainda desenvolvido novos estudos relativos ao estudo da qualidade do ar. Um dos projectos, ainda em desenvolvimento, é relativo à “Poluição fotoquí-

“Comparando com 2006, os valores médios anuais de concentração de Dióxido de Enxofre (SO2), Partículas PM10 e Dióxido de Azoto (NO2), verificados em 2022, desceram 86, 52 e 45 por cento, respectivamente.”

RELATÓRIO DA DSPA

mica de O3 na área da Grande Baía e a caracterização da deslocação regional e inter-regional de O3”, visando “compreender as origens dos precursores de O3 na Grande Baía, bem como o mecanismo de formação de O3 e as características do seu transporte regional e inter-regional, para fornecer uma base científica à elaboração de estratégias de controlo de ozónio”.

As três regiões estão também a analisar a possibilidade de realizar a monitorização “regular de compostos orgânicos voláteis da rede regional de monitoramento do ar”, estando a ser preparada, por parte de Hong Kong, a construção de um laboratório de qualidade do ar e uma superestação de monitoramento meteorológico em Hong Kong, para fornecer serviços de monitoramento de poluição regional do ar e meteorológico e serviços de previsão. A.S.S.

mações pessoais ou de realização de transacções” através dos meios indicados, as pessoas devem contactar imediatamente as instituições financeiras e a Polícia Judiciária (PJ).

Simulação de empresas

“A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) notou, recentemente, a existência de situações de burlas telefónicas em que os burlões fingiram ser funcionários do banco e tentaram a recolher ilicitamente informações pessoais dos cidadãos”, foi revelado. “Assim sendo, a AMCM vem por este meio alertar o público para ter atenção a esta situação e manter-se alerta, de modo a evitar situações de burla e prejuízos desnecessários”, foi acrescentado.

A mensagem esclarece ainda que “as instituições financeiras nunca solicitaram nem solicitarão aos seus clientes a prestação de informações pessoais, com recurso a telefonemas, emails, SMS, hiperligações, código QR ou anexos”.

Neste sentido, a AMCM informou igualmente que quando existe uma “prestação de infor-

Um comunicado semelhante foi emitido horas antes pela PJ, a alertar para uma nova forma de burla. Segundo a mensagem deixada, “os criminosos têm vindo enviar, de forma aleatória, SMS com links de fonte desconhecida, simulando serem uma empresa de aplicação de comunicações de telemóvel”.

Nestas mensagens, as vítimas são informadas que a sua conta vai ser cancelada devido a “um risco de segurança”, pelo que lhes é fornecido um link de atendimento ao cliente. Através deste link os utilizadores fornecem o “número de telemóvel e o código de verificação, uma informação que depois é utilizada pelos burlões para acederem às contas dos utilizadores.

“Tendo em vista que o link desconhecido é muito semelhante ao link oficial, se um cidadão clicar acidentalmente e introduzir dados, os criminosos poderão roubar a conta da aplicação de comunicação, e aproveitar estas contas para cometer fraudes e causar prejuízos à vítima”, foi comunicado pela PJ.

Face a esta vaga de crimes, a PJ apelou à atenção dos cidadãos e relatarem qualquer link suspeito. J.S.F.

UPM Expansão vista como ideia preliminar

A possibilidade da Universidade Politécnica de Macau (UPM) instalar representações fora de Macau é uma ideia preliminar. Foi desta forma que os representantes do Governo, onde se incluía a secretária para os Assuntos Sociais e Cultural, Elsie Ao Ieong U, abordaram a futura lei da UPM, que está a ser discutida na 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa. Na reunião, os deputados também questionaram o facto de as universidades públicas locais terem leis diferentes, em vez de

haver um regime uniformizado. No entanto, o Governo defendeu a diferenciação de regimes com a especificidade de cada uma das três instituições. Segundo as explicações oficiais, a Universidade de Macau é encarada como uma instituição internacional focada na investigação académica, a UPM é virada para a prática e formação de quadros qualificados, e o Instituto de Formação Turística é tido como a instituição de formação de quadros para as indústrias hoteleira e de turismo.

6 sociedade www.hojemacau.com.mo 8.8.2023 terça-feira

Metro ligeiro Pedido plano contra incêndios

O deputado Leong Hong Sai defende que o Governo deve ter planos de prevenção contra incêndios na linha da Barra do metro ligeiro.

O pedido foi feito num artigo publicado no Jornal do Cidadão, e surge na sequência dos testes na Estação de Metro Ligeiro na Barra, que deve entrar em funcionamento até ao final do ano. Segundo o jornal do Cidadão, o deputado dos Moradores explicou que a linha entre a Taipa e a Barra opera no tabuleiro inferior da Ponte de Sai Van, um espaço fechado, por isso, além do Governo precisar de reforçar a impermeabilização, é igualmente necessário realizar planos para retirar os passageiros do metro ligeiro, em caso de urgência. Por outro lado, o deputado também quer que o Governo melhore a correspondência entre as linhas do metro ligeiro, a rede de autocarros e o sistema pedonal da zona da Barra, para facilitar as deslocações para as atracções turísticas.

Consumo Sorteio de facturas final de Setembro

O Conselho dos Consumidores (CC) aceita a participação dos residentes, até ao dia 30 de Setembro, no sorteio “Guarde facturas na compra 2023”, com o objectivo de “reforçar a consciência do consumidor sobre a defesa dos seus direitos mediante a conservação de recibos”. Todos os residentes com idade igual ou superior a três anos podem inscrever-se no sorteio mediante a apresentação de um título comprovativo de consumo, por exemplo um recibo, com um valor superior a 50 patacas, emitido por uma Loja Certificada. O sorteio divide-se em duas fases, sendo que a primeira termina dia 30 de Setembro e a segunda dia 31 de Dezembro. O CC irá depois atribuir diversos prémios, no formato cheque-prenda bancário, que podem ir até às duas mil patacas.

AMCM Pagamentos móveis sobem 7,7%

No segundo trimestre do ano, o número de transacções com pagamentos móveis aumentou 7,7 por cento face ao período homólogo, o que significou um total de 73,9 milhões de transacções, num valor de 6,8 mil milhões de patacas. O valor médio por transacção foi de 92,2 patacas Os dados foram revelados ontem pela Autoridade Monetária de Macau com a publicação das “estatísticas relativas a cartões de pagamento e pagamento móvel”. O período em causa coincide com a instalação de novas máquinas de pagamento de estacionamento, que só aceitam pagamentos móveis. Em relação aos cartões de crédito, o número de cartões pessoais emitidos pelos bancos em Macau atingiu de 1,72 milhões, um acréscimo de 3,4 por cento relativamente ao ano anterior. O número de cartões de débito emitidos pelos bancos em Macau atingiu a 2.20 milhões, o que representa um crescimento de 8,8 por cento, quando comparado com o ano anterior.

TURISMO ENTRADAS DIÁRIAS DE AGOSTO PODEM ULTRAPASSAR AS DE JULHO

As regras da atracção

Amédia diária de 89 mil turistas registada no mês de Julho pode ser ultrapassada este mês. Nos primeiros três dias de Agosto, entraram em Macau mais de 93 mil turistas por dia.

Entretanto, o volume de passageiros que passaram pelo Aeroporto de Macau aumentou mais de um quarto no mês passado

OS primeiros três dias de Agosto parecem indicar que o volume de turistas que entram em Macau vai continuar a aumentar. O vice-presidente dos Serviços de Turismo (DST), Cheng Wai Tong, revelou que nos primeiros dias deste mês a média diária de turistas ultrapassou os 93.000, volume que indica uma tendência de crescimento face a Julho, quando a média diária de visitantes se fixou em 89.000. Importa referir que ainda não foram divulgados os dados oficiais

do número de turistas durante o mês de Julho.

Porém, de acordo com dados preliminares citados pelo responsável da DST, a larga maioria dos visitantes que têm alavancado a recuperação do sector continua a vir do Interior da China e de Hong Kong, com os mercados exteriores a registar fracas performances.

Para contornar a inércia da recuperação dos mercados estrangeiros, Cheng Wai Tong garantiu que o Governo irá continua a apostar na promoção do destino Macau no exterior.

Em termos comparativos, recorde-se que em Julho de 2019, antes do início da pandemia, visitaram Macau quase 140.000 turistas.

Pontes aéreas

No passado mês de Julho, passaram pelo Aeroporto Internacional de Macau mais de 550.000 passageiros com o número de voos a ultrapassar os 4.000, o que representa aumentos de 28 e 10 por cento, respectivamente, em relação ao mês anterior. Segundo um comunicado emitido ontem pela empresa que gere as opera-

ções do aeroporto, a estimativa para o presente mês de Agosto é de continuação do aumento do tráfego aéreo e do volume de passageiros.

A média diária de chegadas e partidas de passageiros em Julho foi de 17.000, com 129 movimentos diários (aterragens e descolagens). Apesar da recuperação mensal e anual, face a Julho de 2019, a recuperação do número de voos situou-se em 58 por cento dos níveis de 2019, enquanto o volume de passageiros atingiu 60 por cento. João Luz

sociedade 7 www.hojemacau.com.mo terça-feira 8.8.2023
Para contornar a inércia da recuperação dos mercados estrangeiros, Cheng Wai Tong garantiu que o Governo irá continua a apostar na promoção do destino Macau no exterior RÓMULO SANTOS

“Jogos de tinta”, semelhanças, imagens dialéticas:

NO INTERIOR da multifacetada experiência intelectual de Walter Benjamin, certamente a sinologia não é o mais recorrente dos temas. Com efeito, ele não é sinólogo, tampouco possui um conjunto de reflexões rigoroso e articulado sobre a China3; no entanto, algumas das incursões, esparsas por sua obra4, por temáticas relativas ao universo cultural chinês, são mobilizadas em função de ilustrar e auxiliar na iluminação de suas próprias elucubrações teóricas5. Ora, é exatamente isso o que ocorre no texto escolhido para servir de base a este artigo, a saber, “Pinturas chinesas na Bibliothèque Nationale”, redigido a propósito de uma exposição de pinturas chinesas da coleção de Jean-Pierre Dubosc6, intérprete da embaixada francesa em Pequim e colecionador de arte, ocorrida em Paris, em outubro de 1937 e publicado na edição de janeiro de 1938, no número 181 da revista mensal Europe. Como se pretende explorar nos parágrafos seguintes, Benjamin não dá, ao longo do texto, a esperada atenção às pinturas, tampouco analisa nenhuma delas em particular; em vez disso, como usual em sua atividade jornalística e ensaística nos anos de exílio, o texto sobre as pinturas chinesas se torna mero pretexto para refletir sobre outras questões, de teor filosófico mais profundo. A presente análise pretende desenvolver algumas relações entre a filosofia de Benjamin e certos aspectos da pintura chinesa a partir da leitura imanente do texto em questão; espera-se, ao fim do percurso, esboçar como, ao modo de uma “iluminação recíproca”, a filosofia benjaminiana ajuda a iluminar as pinturas chinesas, do mesmo modo como elas ajudam a iluminar os conceitos do filósofo.

***

No início de seu texto, Benjamin indica que tal exposição é uma oportunidade para uma revisão de julgamento do público europeu: graças a “certa opinião preconcebida (parti pris) e certa ignorância”, acolheu-se com louvor na Europa sobretudo a pintura chinesa das dinastias Song e Yuan – dos séculos X a XIV –, louvor este que não se repetiu na acolhida das dinastias Ming e Qing. “Essa admiração bastante confusa”, explica Benjamin, “pelos anos ‘Song-Yuan’ se transformou repentinamente em desprezo quando os nomes das dinastias Ming e Qing foram pronunciados”7.

A confusão ressaltada por Benjamin se deve à autenticidade bastante discutível das pinturas atribuídas aos períodos Song e Yuan, a era dita “clássica” da pintura chinesa: alguns estudiosos já haviam indicado quão raros eram os quadros indubitavelmente originais. “Parece, então, que se ficou extasiado

sobretudo diante das cópias”, ironiza Benjamin. Contudo, o objetivo da exposição era outro: “sem prejulgar a verdadeira grandeza da pintura chinesa das eras Song e Yuan, a exposição da Bibliothèque Nationale nos permitiu ao menos rever o julgamento que havia sido emitido com muita desenvoltura sobre os pintores chineses das dinastias Ming e Qing”, não um ou outro em particular, mas a “condenação tomava em bloco a ‘pintura Ming’, a ‘pintura Qing’ – colocadas sob o signo da decadência”8 Benjamin sugere alguns caminhos para operar tal revisão. A partir do texto de apresentação à coleção de autoria de George Salles, ele identifica nas obras Ming e Qing não o “signo da decadência”, mas uma espécie de consolidação da técnica artística, tal como Mallarmé fez, na poesia, em relação ao antigo verso alexandrino9. Outro autor francês mencionado no texto é Paul Valéry: de acordo com Benjamin, a formação estética de Dubosc foi essencialmente ocidental. Ela transparece em seu prefácio à exposição pela presença latente do ensinamento de Valéry sobre a figura do intelectual, do literato, do homem de letras – marcadamente em seu estudo sobre Leonardo da Vinci10 – que na China, é inseparável daquela do pintor. Ora, se Valéry fala de um Da Vinci como não sendo nem pintor, nem filósofo, nem homem de letras, mas todos estes aspectos ao mesmo tempo, é justamente na imbricação de pintura, literatura, caligrafia e poesia que reside a “visão sintética do Universo que caracteriza esses pintores-filósofos da China”11. E esse caráter da pintura chinesa é ressaltado por Benjamin a partir das caligrafias, que não simplesmente acompanham as pinturas, mas que são “parte do quadro”: em meio a elas, encontram-se comentários e referências a ilustres mestres e, mais frequentemente, simples anotações pessoais. Ele destaca duas “que poderiam ser extraídas de um diário íntimo, bem como de uma coletânea de poesias líricas”; ei-las:

Sobre as árvores, a neve permanece ainda congelada... O dia inteiro, não me canso desse espetáculo.

Ts’ien Kiang

Em um pavilhão no coração das águas onde ninguém alcança Eu terminei de ler os cantos de “Pin” Os do sétimo mês.

Lieou Wang-Ngan12

Após a citação dos dois fragmentos poéticos, o texto de Benjamin abandona a retomada descritiva dos textos de apoio que integravam o catálogo da exposição

e, subitamente, é alçado a um patamar argumentativo, passando a considerar seus próprios interesses em relação às pinturas, os quais Bush sintetiza acertadamente sob a rubrica de “modos pelos quais as pinturas discutem a ‘antinomia’ entre pintura e literatura”13

Benjamin insiste nas tensões antinômicas entre literatura e pintura que permeiam os quadros, tensões estas que se resolvem em um elemento intermediário que, longe de constituir a justa mediação entre literatura e pintura, “abraça intimamente aquilo em que elas se parecem mais irredutivelmente se opor, isto é, pensamento e imagem”14 Tal resolução se dá no plano da caligrafia. Benjamin se apoia em um estudioso chinês – Lin Yutang – para ampliar a compreensão do conceito de caligrafia:

A caligrafia chinesa enquanto arte (...) implica (…) culto e apreciação da beleza abstrata da linha e

da composição em caracteres reunidos de modo tal que eles dão a impressão de um equilíbrio instável (...). Nesta busca por todos os tipos teoricamente possíveis do ritmo e das formas de estruturas que aparecem ao longo da história da caligrafia chinesa, descobre-se que praticamente todas as formas orgânicas e todos os movimentos dos seres vivos que estão na natureza foram incorporados e assimilados (...). O artista (...) se apossa das pernas esbeltas da cegonha, das formas saltitantes do galgo, das patas esmagadoras do tigre, da juba do leão, da marcha robusta do elefante, e as tece em uma rede de mágica beleza15

O “equilíbrio instável” está na base desta concepção de caligrafia: ele se dá justamente pela presença flutuante, em movimento, de todas as formas orgânicas

VIA do MEIO 8.8.2023 terça-feira 8
BADA SHANREN, FLOR CAÍDA

dialéticas: Walter Benjamin e a pintura chinesa1

tateante, lúdica, incessante, ininterrupta, pela construção de sentido18. Outro conceito benjaminiano utilizado para a análise da caligrafia é o de “semelhança” (Ähnlichkeit). “Embora os sinais tenham”, caracteriza Benjamin ali, ligação e forma fixas sobre o papel, é a abundância de “semelhanças” que lhes fazem vibrar. Essas semelhanças virtuais, que são exprimidas em cada pincelada, formam um espelho onde o pensamento se reflete nessa atmosfera de semelhança ou de ressonância19.

(Continua)

da página em números arábicos. Quando necessário, são indicados na sequência, entre colchetes, título e página das traduções utilizadas, as quais podem ser conferidas nas referências bibliográficas ao final do artigo. Cabe, ainda, observar que as citações do texto-base para este artigo, traduzido neste número da Revista Limiar, são referenciadas de acordo com a edição GS e acrescidas das informações relativas à tradução através de indicação das páginas correspondentes, a serem conferidos neste mesmo número da Revista Limiar.

Notas

1. Uma primeira versão deste texto foi apresentada em uma sessão de comunicações na IV Jornada de Filosofia Oriental da USP, a cujos colegas participantes o autor agradece pela discussão inicial; uma versão mais lapidada foi discutida no Grupo de Orientação coordenado pelo Prof. Ricardo Terra, cujos participantes Rafael Barros, Otto da Rosa e Luciano Rolim, além do próprio coordenador, auxiliaram a dar a ele, bem como à tradução que o acompanha, a configuração aqui apresentada.

2. Doutorando em Filosofia na Universidade de São Paulo (USP) sob a orientação do Prof. Ricardo Ribeiro Terra, com pesquisa fomentada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo no 2017/05560-5. E-mail: dellama.f@gmail.com .

e todos os movimentos dos seres vivos integrantes da natureza em seus diferentes traços e pinceladas. “Para Benjamin”, acrescentam Gilloch e Kang, “ritmo, formas e movimentos da Natureza encontram seu corolário e perfeita expressão na própria rapidez da(s) pincelada(s), que deixa(m) para trás a miríade de linhas e trilhas de tinta, delineando a forma e proporcionando textura para a representação”16. Benjamin parece insistir no caráter aberto e incompleto destas formas e movimentos, uma vez que eles aparecem e desaparecem a depender do ângulo de observação das pinceladas; tanto é que, no parágrafo seguinte, Benjamin utiliza a expressão “jogos de tinta”17, de Dubosc, para caracterizar as caligrafias. Ora, o conceito de jogo – Spiel – possui um lugar fundamental na reflexão estética benjaminiana: grosso modo, é ele que permite a abertura de significação da arte, o jogo propriamente dito entre a imagem artística e seu possível significado, a busca

3. Apesar de seu manifesto diletantismo, cabe destacar, a título de curiosidade, três coletâneas de literatura chinesa lidas em sequência por Benjamin entre 1917 e 1918, Noites chinesas. Contos e histórias chinesas [Chinesische Abende. Chinesische Novellen und Geschichten], Histórias de fantasma e histórias de amor chinesas [Chinesische Geisterund Liebesgeschichten] e Contos chineses [Chinesische Novellen], respectivamente as entradas de número 520, 521 e 522 em sua Lista de obras lidas [Verzeichnis der gelesenen Schriften] – ver BENJAMIN, W. GS VII-1, p. 439. Os textos de Benjamin são citados de acordo com a edição Gesammelte Schriften, organizada por Rolf Tiedemann e Hermann Schweppenhäuser e editada em sete volumes pela editora Suhrkamp entre 1972 e 1989, abreviada por GS, seguida da indicação do volume em algarismos romanos e do tomo em algarismos arábicos, além da página, também em números arábicos. Os textos inseridos em volumes já publicados da edição crítica (Werke und Nachlaß. Kritische Gesamtausgabe) são indicados de modo complementar, através da abreviatura WuN, seguida da indicação do volume e página, ambos em algarismos arábicos. Do mesmo modo, as cartas são citadas de acordo com a edição Gesammelte Briefe, organizada por Christoph Gödde e Henri Lonitz e editada em seis volumes pela editora Suhrkamp emtre 1995 e 2000, abreviada por GB, seguida da indicação do volume em algarismos romanos, bem como

4. Christopher Bush apresenta uma série de exemplos a respeito da presença de temáticas chinesas em meio ao pensamento benjaminiano: “a história curta ‘Chinoiserie’, publicada sob o pseudônimo Detlef Holz em Quatro Histórias, algumas referências à China no livro sobre o Trauerspiel, uma analogia comparando Marx a Confúcio numa resenha do Dreigroschenroman de Brecht, citações – na resenha de A grande muralha da China de Kafka – das observações de Rosenzweig sobre a China n’A Estrela da Redenção... para o qual se poderia acrescentar o conhecimento de Benjamin dos escritos de Brecht sobre o teatro chinês, a resenha sobre a Bibliothèque Nationale (...), um ensaio sobre a atriz de cinema sino-americana Anna Mae Wong repleta de citações da poesia chinesa, uma carta de 1912 endereçada a Ludwig Strauss, que discute a forte reação pessoal de Benjamin ao A defesa da China contra ideias europeias de Ku Hung-Ming no contexto de seus sentimentos pessoais acerca do Sionismo (...)” BUSH, C. Ideographic modernism. China, writing, media. New York: Oxford University Press, 2010, p. 104.

5. Graeme Gilloch e Jaeho Kang seguem no mesmo sentido ao afirmarem que “referências curiosas e intrigantes a figuras e motivos retirados da cultura e da tradição chinesas (...) não são invocadas por Benjamin para explorar a cultura chinesa em si em qualquer sentido rigoroso ou sistemático, mas recorre-se a eles ad hoc para servir como momentos exemplares ou ilustrativos para a elaboração e iluminação de seus próprios quadros teóricos e conceituais” GILLOCH, G; KANG, J. “Ink-Play”: Walter Benjamin’s Chinese Curios. Sociétés, 2016, § 1.

6. Em carta a Max Horkheimer datada de 3 de novembro de 1937, Benjamin relata sua relação pessoal com Dubosc: “Recentemente, estreitei a relação com P. Dubosc, um adido da embaixada francesa em Pequim. Além disso, pude ocasionalmente visitar uma exposição de sua coleção de pinturas chinesas na Bibliothèque Nationale. Eu informo ao senhor à toute fin utile: havendo algo a ser feito pelo Instituto na China, o Sr. Dubosc pode talvez ser útil ao senhor” BENJAMIN, W. GB V, p. 601.

7. BENJAMIN. Pinturas chinesas na Bibliothèque Nationale. Tradução Fernando Del Lama. Limiar, vol. 6, nr. 11, p. 165. (GS IV1, p. 602)

8. BENJAMIN. Idem, p. 165. (GS IV-1, p. 602)

9. Benjamin discute mais amplamente noutro texto a inovação técnica introduzida por Mallarmé: no fragmento-capítulo de Rua de mão única intitulado “Guarda-livros juramentado”, é atribuído ao poe-

ta francês, com seu poema Um lance de dados, o vislumbre inaugural de uma poética adequada aos tempos modernos, regidos pelo choque. “Mallarmé”, afirma Benjamin neste texto, “como viu em meio à cristalina construção de sua escritura, certamente tradicionalista, a imagem verdadeira do que vinha, empregou pela primeira vez no coup de dés as tensões gráficas do reclame na configuração da escrita” (BENJAMIN,“Rua de mão única”, p. 26; GS IV-1, p. 102). Retornando, pois, à comparação citada com aprovação por Benjamin, ela parece indicar que, apesar da ruptura representada tanto por Mallarmé quanto pelos pintores Ming e Qing em relação a seus precursores, há também uma dimensão de retomada de certos aspectos/ consolidação da técnica artística propiciada pelo mesmo movimento.

10. VALÉRY, P. Introdução ao método de Leonardo da Vinci. Tradução: Geraldo Gérson de Souza. São Paulo: Ed. 34, 1998.

11. BENJAMIN. Pinturas chinesas na Bibliothèque Nationale, p. 166. (GS IV-1, p. 603.)

12. BENJAMIN. Idem, p.166. (GS IV-1, p. 603.)

13. BUSH, C. Ideographic modernism. China, writing, media. New York: Oxford University Press, 2010, p.

14. BENJAMIN. Pinturas chinesas na Bibliothèque Nationale, p.166. (GS IV-1, p. 603.)

15. YUTANG apud BENJAMIN. Idem, p. 167. (GS IV-1, p. 604.)

16. GILLOCH, G; KANG, J. Ink-Play”: Walter Benjamin’s Chinese Curios. Sociétés, 2016, § 19.

17. BENJAMIN. Idem, p. 167. (GS IV-1, p. 604.)

18. No sentido aqui empregado, tal conceito surge, é verdade, no contexto de suas reflexões sobre a recepção coletiva moderna, cujo exemplo paradigmático é o cinema. Segundo Miriam Hansen “Spiel fornece a Benjamin um termo, e conceito, que lhe permite imaginar um modo alternativo de estética adequada à experiência coletiva moderna” HANSEN, M. Room-for-play: Benjamin’s gamble with cinema. Canadian Journal of Film Studies, vol. 13, no 1, 2004, p. 4. Cumpre notar, no entanto, a pluralidade semântica inerente ao conceito de jogo: para além da experiência estética, a própria Hansen examina, no mesmo artigo, as várias conotações do conceito em questão no interior da obra de Benjamin, desde a brincadeira infantil nos fragmentos de Rua de mão única e de Infância berlinense por volta de 1900 até a aposta em um jogo de azar em Sobre alguns temas em Baudelaire, passando pelo jogo dado pela “imaginação e improvisação da criança” na busca de construir sentidos. Irving Wohlfarth acrescenta às conotações, por sua vez, o sentido de “espaço de jogo”/”campo de ação” (Spielraum) – que também intitula o artigo de Hansen citado há pouco –, relacionando-o à reflexão benjaminiana sobre as ambivalências da técnica, particularmente quanto a possibilidade de uma “segunda técnica” (zweite Technik), e sobre o conceito de materialismo antropológico – ver WOHLFARTH, I. Spielraum. O jogo e a aposta da “segunda técnica” em Walter Benjamin. Limiar, vol. 3, no 6, 2016.

19. BENJAMIN. Idem, p. 167. (GS IV-1, p. 604.)

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Araújo Del Lama2

DIPLOMACIA MNE DIZ QUE PEQUIM E BRUXELAS DEVEM MANTER “MAIS DIÁLOGO”

Em busca do tempo perdido

Wang Yi apelou ao representante da União Europeia para intensificar o diálogo entre as duas regiões de modo a compensar o hiato de três anos de pandemia que prejudicou o intercâmbio entre a China e a Europa.

Josep Borrel foi convidado a visitar Pequim no Outono

Oministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, pediu ontem ao Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Josep Borrell, mais “diálogo institucional” entre os dois lados, durante uma conversa por telefone.

Wang sublinhou que a cooperação é a “componente principal” na relação entre a China e a UE e que o diálogo é necessário para compensar a

“falta de intercâmbio”, registada durante os três anos da pandemia da covid-19, segundo um comunicado difundido pela diplomacia chinesa.

O ministro chinês convidou Borrell a visitar a China este Outono e garantiu que Pequim “atribui grande im-

portância ao encontro entre líderes da União Europeia e da China, agendado para este ano”.

Borrell disse a Wang que o plano europeu “Global Gateway” não visa antagonizar a iniciativa chinesa “Faixa e Rota”, mas sim

“complementá-la”, já que ambos “buscam promover o desenvolvimento global”.

O chefe da diplomacia europeia manifestou o desejo de visitar a China o “mais rapidamente possível” e manter o diálogo estratégico com Wang, e expressou soli-

dariedade após a destruição causada pelas recentes chuvas torrenciais que assolaram o norte do país asiático.

Wang e Borrell trocaram pontos de vista sobre “assuntos internacionais e regionais de interesse comum”, incluindo a “situação na Ucrânia e no

Níger”, disse o comunicado emitido pela diplomacia chinesa, sem avançar mais detalhes.

Sem rasto Borrell cancelou uma viagem prevista a Pequim, no mês passado, numa altura em que

SHULAN CHUVAS TORRENCIAIS CAUSAM PELO MENOS 14 MORTOS E UMA PESSOA DESAPARECIDA

AS chuvas que nos últimos dias devastaram a cidade de Shulan, na província de Jilin, nordeste da China, causaram pelo menos 14 mortos e um desaparecido, informou ontem a imprensa estatal.

Segundo as autoridades locais, o nível das águas nas albufeiras e principais rios desceu para um nível considerado “seguro”, depois de a cidade ter sofrido chuvas contínuas, desde terça-feira passada.

A chuva provocou inundações, deslizamentos de terra e interrupções no fornecimento de energia em várias áreas de Shulan, uma cidade com cerca de 700.000 habitantes, localizada perto da fronteira com a Coreia do Norte.

O governo local mobilizou várias equipas de resgate para retirar moradores, reparar estradas e restaurar o fornecimento de energia,

visando retomar a vida normal da população o mais rápido possível, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Shulan chegou a registar uma precipitação média diária de 111,7 milímetros, acima do limite de 60 milímetros, a partir do qual as chuvas são consideradas torrenciais.

A imprensa chinesa indicou no sábado que “dezenas” de rios das províncias de Liaoning e Heilon-

gjiang ultrapassaram os seus níveis de segurança. Várias barragens também acumularam mais do que o permitido e foram obrigadas a libertar parte da água.

As autoridades meteorológicas do país já tinham alertado, durante a semana, para chuvas “extremamente fortes” no nordeste do país, devido aos efeitos do tufão Doksuri.No final de Julho, Pequim registou as chuvas mais intensas

dos últimos 140 anos, que resultaram em mais de vinte mortes na cidade e arredores. Em 2021 e 2022, os Verões ficaram marcados por chuvas de intensidade sem precedentes em décadas no centro do país, que causaram mais de 300 mortos, e por uma seca persistente no sudoeste e sul. As autoridades chinesas alertaram recentemente para um alto risco de inundações e tufões em Agosto.

10 china www.hojemacau.com.mo 8.8.2023 terça-feira

O ministro chinês convidou Borrell a visitar a China este Outono e garantiu que Pequim “atribui grande importância ao encontro entre líderes da União Europeia e da China, agendado para este ano”

o anterior ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, desapareceu da vida pública, antes de ser substituído por Wang, que foi o seu antecessor. Foi a segunda vez este ano que o chefe da diplomacia europeia cancelou a sua deslocação à China, depois de, em Abril, ter testado positivo para a covid-19.

Borrell disse a Wang que o plano europeu “Global Gateway” não visa antagonizar a iniciativa chinesa “Faixa e Rota”, mas sim “complementá-la”, já que ambos “buscam promover o desenvolvimento global”

As relações entre a UE e Pequim atravessam um dos momentos mais difíceis das últimas décadas e deterioraram-se devido a tensões comerciais e à invasão russa da Ucrânia. Pequim recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo.

Rota da destruição

Japão permanece em alerta devido ao retorno do tufão Khanun

Osudoeste do Japão continua sob alerta meteorológico devido à mudança de trajectória do tufão Khanun, que deverá voltar a aproximar-se daquela área do arquipélago japonês, onde já causou estragos na semana passada.

Canhões da paz

China justifica uso de água contra navios filipinos para evitar confronto

AChina justificou ontem o uso de canhões de água pela sua guarda costeira contra navios filipinos no Mar do Sul da China, perto de territórios disputados entre os dois países, como forma de “evitar confronto directo”.

“Apesar dos repetidos avisos, as Filipinas enviaram dois navios para o Atol de Ren’ai (designado Ayungin por Manila), no último sábado, para reforçar a presença das tropas que mantêm ali ilegalmente”, disse a guarda costeira chinesa, em comunicado.

Segundo a mesma fonte, a guarda costeira chinesa emitiu “vários avisos”, após os quais “usaram canhões de água como aviso para evitar um confronto directo”.

“Foi uma operação profissional e medida. Não há espaço para críticas”, acrescentou o comunicado.

No domingo, as Filipinas classificaram as manobras da guarda costeira chinesa como “perigosas”. Manila disse que os seus navios transportavam comida, água e gasolina, entre outras coisas, para as tropas estacionadas no Atol de Ayungin, controlado por Manila.

O atol fica a cerca de 322 quilómetros da costa oeste do arquipélago filipino de Palawan e dentro da área económica exclusiva das Filipinas.

Essa distância, de 200 milhas náuticas, é o limite estabelecido pela ONU para determinar a

soberania marítima dos Estados, segundo uma convenção à qual a China aderiu, em 1996.

Segundo Pequim, o atol “sempre pertenceu às Ilhas Nansha”. Pequim acusa as Filipinas de “violar” a sua soberania.

“As Filipinas continuam a enviar grande quantidade de materiais de construção sob a desculpa de rotatividade de pessoal e remessa de suprimentos. A China expressou a sua preocupação às Filipinas por meio de canais diplomáticos, mas nunca obteve resposta”, lê-se no comunicado.

A mesma nota assegurou que a China vai “continuar a tomar medidas para salvaguardar a sua soberania territorial” e pediu às Filipinas que aceitem as suas propostas para “abordar a situação por meio do diálogo”.

Disputas antigas

A China e as Filipinas mantêm um conflito pela soberania de várias ilhas e atóis no Mar do Sul da China, que Pequim reivindica quase na totalidade por “razões históricas”, apesar dos protestos dos países vizinhos.

As tensões entre os dois países aumentaram nos últimos meses, enquanto o Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., fortaleceu a sua aliança de defesa com os Estados Unidos, revertendo a aproximação a Pequim promovida pelo antecessor, Rodrigo Duterte.

A maior parte das ilhas do sudoeste da província de Okinawa permanece em alerta para o risco de inundações, deslizamentos de terra e outros possíveis desastres provocados pelas fortes chuvas e ventos.

Às 17:00 de ontem, no horário local, o sexto tufão da temporada no Pacífico deslocava-se lentamente para o norte, a cerca de 160 quilómetros da autarquia de Amami, na província de Kagoshima, onde se espera que tenha um impacto mais forte entre amanhã e quinta-feira, segundo a Agência Meteorológica do Japão (JMA).

Nas ilhas do sudoeste de Kyushu e Shikoku, o tufão poderá causar chuvas de mais de 700 milímetros em 48 horas, o que é o dobro ou o triplo da média para todo o mês, explicou ontem um funcionário da JMA em conferência de imprensa.

Mudança de rumo

A aproximação do tufão a esta zona do arquipélago japonês ocorre após a alteração da sua trajectória, quando se estava a dirigir em direcção a Taiwan e à costa sudeste chinesa.

Esta impressionante mudança na direcção do tufão e a sua actual evolução a

baixa velocidade deve-se ao efeito das altas temperaturas nas águas marinhas da zona, entre os 29 e os 30 graus Celsius, segundo a mesma fonte.

Ontem, perto de uma centena de voos domésticos foram cancelados em Okinawa devido ao tufão, depois de o tráfego aéreo local ter sido paralisado na primeira metade da semana passada pelo mesmo fenómeno meteorológico, que também deixou dois mortos e dezenas de feridos.

A nova investida dos Khanun no sudoeste do país acontecerá na mesma semana em que se comemora no Japão o Obon, festival em homenagem aos antepassados falecidos e durante o qual muitos japoneses viajam para os seus locais de origem para se reunirem com suas famílias.

Neste contexto, a empresa ferroviária JR West alertou para uma possível interrupção das ligações ferroviárias de alta velocidade entre as cidades de Osaka (oeste) e Fukuoka (sudoeste) entre os dias 09 e 10 de Agosto.

Devido ao tufão, pela primeira vez em 60 anos, a cerimónia anual em memória das vítimas da bomba atómica lançada em 09 de Agosto de 1945, marcada para quarta-feira em Nagasaki, não acontece ao ar livre, mas num centro de convenções na cidade portuária.

O número de participantes foi, portanto, reduzido drasticamente e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, não comparecerá ao evento.

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terça-feira 8.8.2023
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Região

FRC INAUGURADA HOJE EXPOSIÇÃO COLECTIVA SOBRE BANDA DESENHADA

Manga & companhia

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A Fundação Rui Cunha acolhe, a partir de hoje, duas exposições, sobre banda desenhada asiática de Macau e Manga, em cooperação com a Associação de Promoção de Intercâmbio Cultural de Banda

Desenhada e Animação de Macau. O público pode ver 60 trabalhos, em datas diferentes, com curadoria de Howard Chan

INTITULA-SE “Exposição de Banda Desenhada Asiática de Macau + Exposição de Manga ArmourMan”, e são duas exposições que podem ser vistas a partir de hoje, em datas diferentes, na Fundação Rui Cunha (FRC). Em parceria com a Associação de Promoção de Intercâmbio Cultural de Banda Desenhada e Animação de Macau, a mostra sobre banda desenhada decorre entre hoje e 12 de Agosto, enquanto a exposição sobre Manga acontece entre os dias 14 e 19 deste mês.

Entre os dias 14 e 19 será a vez de ver de perto o trabalho mais recente do mestre de banda desenhada de Hong Kong, James Khoo Fuk Lung, considerado o pai de “ArmourMan” que se tornou num verdadeiro blockbuster da banda desenhada assim que foi lançado no território vizinho

Howard Chan, presidente da associação, é o curador da mostra que inclui, no total, mais de 60 obras, sendo que, na primeira semana, serão mostradas metade, da autoria de dez artistas asiáticos de banda desenhada, não só de Macau e Hong Kong, mas também de Singapura, Coreia e Japão. Serão depois exibidas as restantes 30 obras de banda desenhada de James Khoo, o autor da famosa série “Ar-

mourMan” e nome de referência no meio artístico de Hong Kong. Na primeira mostra, que é hoje inaugurada, revelam-se os mais recentes trabalhos de banda desenhada criados pelos membros da associação, incluindo nomes de artistas como Vincent Ho, Wing Mo, Greymon Chan, Leung Wai Ka, Z, Nasu, Hiroshi Kanatani, ST, Yeo Hui Xuan e Sean Kim.

Mestre de Hong Kong

Entre os dias 14 e 19 será a vez de ver de perto o trabalho mais recente do mestre de banda desenhada de Hong Kong, James Khoo Fuk Lung, considerado o pai de “ArmourMan” que se tornou num verdadeiro blockbuster da banda desenhada assim que foi lançado no território vizinho. As revistas semanais também conseguiram vendas record em Macau, com a maioria das bancas a esgotarem em 2 dias. James Khoo é um autor experiente de BD. A sua primeira obra-prima, “Iron Marshal”, vendeu 60.000 livros quando lançado.

Mais tarde vieram sucessos de bilheteira como “Eastern Invincible”, “DragonMan” e muitos outros. “ArmourMan” é o seu mais recente trabalho e tornou-se a revista semanal de BD mais vendida em Hong Kong. Por este motivo, James Khoo foi convidado para apresentar alguns dos seus trabalhos em Macau, com o objectivo de trazer até aos jovens locais e visitantes este super-herói da actualidade.

Na primeira mostra, que é hoje inaugurada, revelam-se os mais recentes trabalhos de banda desenhada criados pelos membros da associação, incluindo nomes de artistas como Vincent Ho, Wing Mo, Greymon Chan, Leung Wai Ka, Z, Nasu, Hiroshi Kanatani, ST, Yeo Hui Xuan e Sean Kim

A Associação de Promoção do Intercâmbio Cultural de Banda Desenhada e Animação de Macau surgiu em 2014 para apoiar o desenvolvimento profissional da indústria, o intercâmbio técnico e a cooperação entre ilustradores locais e estrangeiros, com vista a assegurar mais projectos de alta qualidade e em grande escala, bem como publicações, palestras e outras actividades que beneficiem a comunidade de Macau. A entrada é livre em ambas as exposições.

Aposta no saber

CCCM com cursos sobre Direito e tradução em Setembro

OCentro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, está a aceitar inscrições para dois cursos livres que arrancam em Setembro. Um deles, com candidaturas até 18 de Setembro, é um curso sobre tradução criativa ministrado pelo tradutor de poesia chinesa António Graça de Abreu e Ana Cristina Alves, académica na área da filosofia chinesa e coordenadora da área formativa do CCCM.

Este curso, que inclui módulos como a tradução de provérbios filosóficos chineses, métodos na tradução entre o chinês e o português ou ainda as técnicas utilizadas na tradução de chinês para português na poesia chinesa, com recurso a autores como Shi Jing, Yang Lian, Gu Cheng e Bei Dao. Os formandos podem ainda aprender mais sobre a poesia na dinastia Tang, entre os anos de 618 e 907 a.c., com nomes como Li Bai, Du Fu, Wang Wei e Han Shan, entre outros.

Pretende-se, com este curso, “ensinar a traduzir de chinês para português e de português para chinês, com base em materiais literários e filosóficos já traduzidos ou a traduzir durante as várias sessões”. Assim, serão traduzidos e analisados poemas e pequenos contos, como as

ÓBITO MORREU A HISTORIADORA FRANCESA HÉLÈNE CARRÈRE AOS 94 ANOS

Ahistoriadora Hélène Carrère d’Encausse, a primeira mulher à frente da Academia francesa e grande especialista na história da Rússia e da antiga União Soviética, morreu sábado em Paris aos 94 anos, anunciou a família.

A historiadora era membro eleito da Academia Francesa e desde 1999 “secretária perpétua” desta instituição, sendo a primeira mulher

a ocupar o cargo. Hélène Carrère nasceu em Paris em Julho de 1929, sendo o pai o economista e filósofo georgiano Georges Zourabichvili (assassinado em 1944), que emigrou para França após a revolução russa, e a mãe Nathalie von Pelken, uma aristocrata russo-alemã. Adquiriu a nacionalidade francesa em 1950.

Os seus estudos centraram-se na antiga União So-

viética e na Rússia, com monografias, grandes ensaios e biografias de personalidades como Lenine ou Estaline.

Este ano, Espanha atribuiu a Hélène Carrère o Prémio Princesa das Astúrias das Ciências Sociais 2023, tendo destacado o júri a importância da sua obra para «a compreensão do mundo contemporâneo».

Em 2022, poucos meses após a invasão da Ucrânia

pela Rússia, em declarações no canal de televisão LCI, Carrère afirmou que via sinais de um confronto entre a Rússia e os Estados Unidos na Ucrânia, considerando que Putin “está em guerra em solo ucraniano contra os Estados Unidos”.

Comparou ainda a guerra em curso na Ucrânia com a guerra da Rússia no Afeganistão (1979-1989) que terminou com o colapso da

colectâneas poéticas de António Graça de Abreu e as antologias de contos da escritora Isabel Mateus, tendo por base pedagógica o manual “Culturas em Diálogo: A Tradução Chinês-Português”, lançado pela Universidade de Macau em 2016.

Ensinar Direito

Outra acção de formação que decorre no CCCM a partir de 15 de Setembro, acontece na área do Direito, com o curso intitulado “Introdução ao Direito de família em Macau e em Portugal numa perspectiva jus-comparatística”, ministrado por Paula Nunes Correia, ex-professora da Faculdade de Direito da Universidade de Macau.

Este curso livre tem por objectivo “tratar de diversos aspectos relacionados com o Direito da Família em Macau e em Portugal” numa perspectiva comparada. Assim, “serão introduzidos tópicos como os vários tipos de casamento, o divórcio e até a adopção”, a fim de garantir aos alunos “uma introdução abrangente, embora abreviada, destes importantes aspectos sócio-culturais”. O curso termina a 3 de Novembro e decorre mediante um número mínimo de inscrições.

União Soviética, afirmando que para sair desse impasse o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, terá de negociar.

“Não terá escolha senão negociar, esperamos”, afirmou na mesma ocasião.

Hélène Carrère d’Encausse foi ainda deputada no Parlamento Europeu, entre 1994 e 1995, eleita pelo partido francês de direita Rassemblement pour la République (RPR).

eventos 13 terça-feira 8.8.2023 www.hojemacau.com.mo

Esta sugestão não tem spoilers, só uma apreciação superficial. Ainda não sei bem o que pensar do último filme de um dos meus realizadores preferidos. Claro que gostei, mas ainda não me bateu completamente. O final é apoteótico, pleno de violência e comédia, mas parece um bocado enxertado, aterra um pouco de pára-quedas narrativamente. Li pouco sobre o filme, mas pensei que incidiria mais sobre a família Manson. Não faz mal, perde-se em culto homicida, ganha-se em enorme interpretação de Leonard DiCaprio. Não spoilei muito, pois não? João Luz

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf. Tak Fok, R/C-B, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo

BANCO TAI FUNG, S.A. MACAU

(Número do Registo 576 SO)

REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA

DA ASSEMBLEIA GERAL

CONVOCATÓRIA

É convocada a Extraordinária da Assembleia Geral deste Banco, para se reunir no dia 23 de Agosto do corrente ano (quarta-feira), pelas 11,00 horas, na sede social estabelecida em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção nº 418, 21.º andar, Edifício “sede do Banco Tai Fung”, com a seguinte ordem de trabalhos:

1. O resgate e a emissão de obrigações;

2. Outros assuntos.

Macau, 8 de Agosto de 2023

TEMPO AGUACEIROS MIN 27 MAX 33 HUM 60-95% UV 12 (EXTREMO) • EURO 8.84 BAHT 0.23 YUAN 1.11
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O Presidente da Mesa da Assembleia Geral HO KEVIN KING LUN

CANADÁ COMBATE OS MALEFÍCIOS DO TABACO

A NOVA lei de controlo do tabaco no Canadá foi implementada a partir do passado dia 1 deste mês. A alteração mais importante é a exigência que os fabricantes imprimam avisos sobre os perigos do tabaco em cada cigarro. O Canadá é o primeiro país a implementar esta medida.

As línguas oficiais do Canadá são o inglês e o francês. Esta nova disposição obriga à impressão do referido aviso numa destas línguas. Frases como “O fumo do tabaco prejudica as crianças”, Os cigarros provocam leucemia” e “Veneno em cada passa”, etc., destinam-se a lembrar os fumadores dos malefícios do tabaco, esperando-se que o seu consumo seja reduzido.

Actualmente, a taxa de canadianos fumadores é de 13 por cento e o sistema nacional de saúde gasta anualmente 56 mil milhões de dólares com o tratamento das doenças relacionadas com o consumo de tabaco. O Governo canadiano acredita que, com a impressão dos avisos em cada cigarro, a taxa de fumadores vai baixar para 5 por cento, ou menos, até 2035.

Em Hong Kong, a lei anti-tabaco que proíbe que se fume no local de trabalho, nos restaurantes, em piscinas públicas, nas praias, nos bares, nos clubes nocturnos, nos balneários, nas casas de massagens, etc, entrou em vigor a 1 de Julho de 2007.

O Governo de Hong Kong publicou o “Documento de Consulta à Estratégia de Controlo do Tabaco” a 12 de Julho, deste ano, e lançou uma consulta pública por um período de um mês e meio. Os princípios desta estratégia são “controlar o fornecimento”, e “proibir a publicidade”, “aumentar as áreas restritas” e “apostar na educação”, que basicamente inclui três pontos. Em primeiro lugar, proibir a venda de tabaco a pessoas nascidas depois de uma determinada data, que tem como objectivo “Acabar com o Consumo de Tabaco”. Em segundo lugar, passa a ser proibido fumar enquanto se anda na rua. Esta medida reduz o fumo passivo e também o consumo dos fumadores. Em terceiro lugar, os produtos derivados do tabaco têm de ser embalados em invólucros que incluam em toda a sua dimensão avisos sobre os perigos do tabaco, bem como as medidas regulamentadas de cada cigarro, como o comprimento, o diâmetro, a cor, o formato, etc.

Lo Chong-mao, director do Hong Kong Medical and Health Bureau, afirmou que um Hong Kong livre do fumo do tabaco fará com que toda a gente seja mais saudável e viva mais tempo. Para atingir esta meta, é imprescindível reforçar os mecanismos de aplicação da lei.

Lu Chong-mao salientou, “As medidas de controlo do tabagismo do Governo de Hong Kong destinam-se a proteger a saúde de todos. O Governo de Hong Kong não está contra os fumadores. A saúde é um objectivo comum.”

Macau já tem uma lei de controlo do tabaco, que estipula que os Serviços de Saúde devem elaborar um “Relatório de Avaliação” de três em três anos com recomendações sobre o controlo do tabagismo.

O Relatório 2018-2020 assinalou que, em Macau, a lei de controlo do tabaco estava em vigor há 8 anos, e que a taxa de fumadores tinha baixado em 33 por cento. Nos casinos é proibido fumar desde 1 de Janeiro de 2019, excepto nas salas destinadas ao efeito. O relatório também recomenda a proibição dos cigarros electrónicos e a subida dos impostos sobre o tabaco.

Em 2022, a Assembleia Legislativa aprovou a alteração à “Lei do Controlo do Tabaco”, que proíbe o fabrico, distribuição, venda, importação e exportação de cigarros electrónicos, incluindo a proibição de entrada e saída destes produtos de Macau. Devido à recessão económica durante a epidemia, optou-se por não subir os impostos sobre o

tabaco. Finalmente, o Governo de Macau acredita que, como não existem zonas para fumadores nos espaços ao ar livre na cidade, será difícil proibir que as pessoas fumem em andamento.

A norma que obriga à impressão de avisos sobre os malefícios do tabaco em cada cigarro é nova. Esta abordagem, recorda aos fumadores, em cada cigarro que fumam, que o tabaco é prejudicial para a sua saúde e que este hábito deve ser evitado. É consensual que o tabaco faz mal à saúde. Apesar de os diferentes Governos possuirem leis diferentes, embora todos tenham o mesmo propósito, as suas práticas reflectem os seus valores. Na questão do controlo do tabaco, os Governos de Hong Kong e de Macau podem usar como referência, para ir mais além neste sentido, as medidas do Governo do Canadá.

Além de alargar a publicidade e a educação para alcançar o objectivo de melhor controlar o consumo do tabaco, é também muito importante reforçar a aplicação da lei. Nos restaurantes de Macau, vê-se várias pessoas a fumar apesar da proibição de o fazer. Esta prática flagrantemente ilegal, que leva a que os outros clientes sejam fumadores passivos conta a sua vontade, tem de acabar. Macau tem de ter um controlo do tabaco efectivo. Como foi mencionado por Lu Chong-mao, o controlo do tabaco favorece a saúde de todos. A saúde é a ambição comum e todos devem cooperar. Quem quiser fumar, tem de sair do restaurante.

Para evitar este flagelo, temos de ter um mundo livre de tabaco, mas este problema tem raízes históricas e não pode ser resolvido em poucas décadas. Chegará ao dia em que, depois de se ter promovido vigorosamente a proibição de fumar e de se ter feito cumprir a lei, o problema do tabagismo será gradualmente resolvido.

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do
• legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção
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Na questão do controlo do tabaco, os Governos de Hong Kong e de Macau podem usar como referência, para ir mais além neste sentido, as medidas do Governo do Canadá
David Chan macau visto de hong kong

UE CHEIAS E FOGOS FAZEM ESLOVÉNIA E CHIPRE PEDIR AJUDA AEslovénia

e o Chipre requereram no domingo o Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia (UE) por causa dos incêndios e das cheias que estão a assolar uma parte do território destes países.

Em comunicado, divulgado ontem, a Comissão Europeia anunciou o pedido feito pelos dois Estados-membros. Em resposta ao pedido esloveno, França vai enviar duas escavadoras e engenheiros e a Alemanha duas pontes prefabricadas, duas escavadoras e respectivo pessoal.

O Copérnico, o sistema de satélites da UE, apresentou diversos mapas das regiões afectadas na Eslovénia. As autoridades eslovenas consideraram as cheias dos últimos dias as piores na história recente do país.

Há vítimas e milhares de pessoas precisaram de deixar as casas para escapar às cheias, enquanto persistem as condições atmosféricas adversas para esta altura do ano e que continuam a fazer transbordar os rios.

Já Chipre solicitou o mecanismo europeu por causa dos incêndios que estão a devastar uma parte significativa do território. A União Europeia “vai mobilizar duas aeronaves Canadair” que estão na Grécia. Os helenos vão enviar 20 toneladas de líquido retardante de fogo através do Mecanismo de Proteção Civil e a UE “está preparada para ir mais longe se houver necessidade”.

LC Sporting de Braga contra Panathinaikos ou Marselha

O Sporting de Braga poderá defrontar o Panathinaikos ou o Marselha no play-off da Liga dos Campeões de futebol, caso afaste o Backa Topola na terceira pré-eliminatória, ditou o sorteio realizado ontem em Nyon, Suíça. Se ultrapassarem os sérvios, os bracarenses vão jogar a primeira mão em casa, em 22 ou 23 de Agosto, e a segunda mão fora, em 29 ou 30 de Agosto, sendo que o vencedor garantirá uma vaga na fase de grupos da ‘Champions’, em que já estão Benfica e FC Porto. Na terceira pré-eliminatória, o Sporting de Braga recebe hoje o Backa Topola, às 20:00 (hora de Lisboa), no Minho, enquanto os gregos do Panathinaikos jogam em casa com os franceses do Marselha, na quarta-feira. Os encontros da segunda mão estão agendados para 15 de Agosto.

ÍNDIA LÍDER DA OPOSIÇÃO RECUPERA LUGAR DE DEPUTADO

Olíder da oposição indiana, Rahul Gandhi, do histórico Partido do Congresso da Índia, recuperou ontem o lugar de deputado no Parlamento após o Supremo Tribunal suspender a condenação num caso de difamação.

“Tendo em conta a ordem do Supremo Tribunal da Índia”, declarou o secretariado da câmara baixa do Parlamento indiano, a desqualificação “deixou de vigorar, sob reserva de novas decisões judiciais”.

Em Março, um tribunal do estado ocidental de Gujarat condenou Gandhi a dois anos de prisão por difamação, depois de o político ter afirmado, num comício em 2019, que “todos os ladrões” partilham o apelido do primeiro-ministro, Narendra Modi.

Encontros em Jeddah

NATO, UE, sanções e acordo sobre cereais dominaram reuniões na Arábia Saudita

Aintegração da Ucrânia na NATO e na UE, as sanções à Rússia e a prorrogação do acordo sobre os cereais estiveram em destaque nas reuniões na Arábia Saudita, anunciou o Governo ucraniano.

No encontro com o representante europeu, o principal conselheiro para a política externa do presidente do Conselho Europeu, “foi dada especial atenção aos progressos realizados pela Ucrânia na via da adesão à UE e aos progressos registados na aplicação das sete recomendações da Comissão Europeia, que vão constituir a base para o lançamento das negociações de adesão”, de acordo com um comunicado, divulgado no domingo.

“A adesão da Ucrânia à UE é parte integrante das garantias de segurança para o nosso país e uma garantia de paz duradoura no continente europeu. O chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia [Andriy Yermak] apelou aos parceiros europeus para que

desenvolvam o próximo 12.º pacote de medidas restritivas da UE contra a Rússia”, indicou na mesma nota.

No encontro que juntou, em Jeddah, conselheiros de segurança nacional e representantes internacionais sobre o conflito na Ucrânia, Yermak e o conselheiro para a Segurança Nacional do Presidente dos Estados Unidos “chegaram a acordo sobre acções conjuntas no contexto da aplicação da Fórmula de Paz e dos preparativos para a Cimeira Mundial da Paz”. Kiev acrescentou que os interlocutores “trocaram igualmente pontos de vista sobre os resultados da Cimeira da NATO em Vilnius e sobre as novas medidas para a integração da Ucrânia na Aliança”, sendo que “Andriy Yermak avaliou positivamente o início das negociações com os Estados Unidos sobre um acordo bilateral relativo a garantias de segurança para a Ucrânia”.

Outras matérias Com os representantes do Qatar e da Arábia Saudita, a

discussão centrou-se nos contributos que estes dois países podiam ter para a libertação dos prisioneiros ucranianos e para a segurança alimentar, incluindo o prolongamento do acordo sobre os cereais, o tema que mereceu também um sublinhado na reunião entre Yermak e o representante turco: “a tónica foi colocada nas medidas conjuntas para assegurar o funcionamento da Iniciativa para os Cereais do Mar Negro”.

Por fim, com a Polónia “os interlocutores debateram em pormenor a questão de assegurar a exportação de cereais ucranianos por via terrestre para os países da UE no contexto do bloqueio contínuo dos portos ucranianos”, com o chefe do gabinete do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a manifestar “a esperança de que os países vizinhos da Ucrânia se abstenham de impor medidas restritivas unilaterais à exportação de produtos agrícolas ucranianos após 15 de Setembro”.

Gandhi foi imediatamente libertado sob fiança até à resolução do recurso, que se encontra agora no mais alto órgão judicial da Índia, mas o estatuto parlamentar foi revogado em Março na sequência da condenação.

O Supremo Tribunal, no entanto, decidiu na sexta-feira suspender a condenação enquanto analisa o recurso.

Filho, neto e bisneto de primeiros-ministros, Gandhi regressa ao Parlamento antes do debate de terça-feira sobre duas moções de censura contra o Governo de Modi, que, apesar de estarem condenadas ao fracasso, obrigam o primeiro-ministro a comparecer perante a onda de violência étnica no nordeste do país.

Rahul Gandhi renunciou ao cargo de presidente do Partido do Congresso da Índia em 2019, depois de perder as últimas eleições gerais para Modi, que obteve uma vitória esmagadora.

terça-feira 8.8.2023 “Com
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o amor não se brinca sem castigo.” August Strindberg PALAVRA

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