Director carlos morais josé
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Rui Rasquinho
hojemacau
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hoje macau sexta-feira 9.1.2015
Charlie Hebdo Comunidade da RAEM chocada com “atentado bárbaro”
Macau est aussi Charlie
Um acto bárbaro, chocante, que manchou de sangue a sátira em cartoon no mundo inteiro e que acabou com a vida dos mais importantes cartoonistas dos últimos tempos. Eric Sautedé, António Conceição Júnior, Rodrigo de Matos, Rui Rasquinho e Xavier Garnier: todos eles falam daquele que já é considerado o 11 de Setembro de França. A Alliance Française fez um minuto de silêncio pelas vítimas Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
O
Charlie Hebdo era controverso e gostava disso. Dizia respeitar a lei francesa e mais nenhuma. Não ligava aos avisos da autoridade e outras ameaças e punha a liberdade de expressão acima de todas as coisas. Os cartoons que o jornal publicou a visar o Estado Islâmico e Maomé custaram esta quarta-feira a vida a 12 pessoas, entre elas o director do jornal, Stéphane “Charb” Charbonnier, e Jean “Cabu” Cabut, Georges Wolinski e Verlhac “Tignous” Bernard. Para os cartoonistas de Macau, este atentado em Paris representa também o silenciamento de importantes profissionais, que criaram um estilo muito próprio. “Eram uma referência para mim e para toda a gente, sobretudo o Wolinski”, disse ao HM Rui Rasquinho. “Eles não mataram apenas 12 pessoas, mataram uma escola do cartoon, de desenho e sátira
O
ataque perpetuado aos profissionais do Charlie Hebdo poderá mudar a forma como o cartoon e o próprio jornalismo abordarão as questões ligadas ao islamismo e Estado islâmico? Quais as consequências para uma França que não esperava um acto desta natureza e que pode ver-se a braços com a necessidade de reagir de imediato a ataques terroristas? Para as personalidades ouvidas pelo HM, uma coisa é certa: o Charlie Hebdo não vai morrer. Não pode morrer. “Quem perpetuou o atentado quer que mudemos a nossa maneira de pensar e ver o mundo. É importante darmos uma resposta contrária a isso, fazer as coisas como estamos a fazer e até de forma mais entusiástica, porque estamos a lutar contra um inimigo muito poderoso”, disse Rodrigo de Matos, cartoonista
política, uma geração inteira. Uma geração inteira que representa um estilo muito francês de humor desapareceu: foi um pedaço amputado”, aponta ainda. Para António Conceição Júnior, “o acontecimento é mais um
cru episódio de uma lamentável barbárie e extremismo que está a conduzir o mundo a níveis de violência incomparáveis”. “A Europa perdeu alguns dos mais importantes cartoonistas. Sendo lamentável, [o acto] vem
demonstrar o poder da imagem desenhada e os valores ocidentais da liberdade de pensamento e expressão com os quais me identifico plenamente”, considerou. Rodrigo de Matos, cartoonista que já ganhou um prémio europeu na área, mostra-se igualmente chocado com o atentado. “Tratando-se de um ataque em princípio motivado por uma questão de divergência de pensamento. Pessoas serem mortas pelo facto de não pensarem de determinada maneira, acho grave. É um tipo de situação que contribui para um clima de terror para a humanidade: de repente ninguém é livre de dizer o que pensa”, aponta.
Um minuto de silêncio na Alliance
Junto da comunidade francesa radicada em Macau, a reacção é também de choque. Os jornais, televisões e redes sociais alimentam a perplexidade à distância. A Alliance Française de Macau fez ontem dois minutos de silêncio pelas vítimas, um de manhã e outro à tarde. Ao HM, o seu di-
rector, Xavier Garnier, mostra-se consternado. “Todos eles são profissionais que fazem parte do nosso imaginário. Estamos todos tristes com tudo o que aconteceu e emocionados em relação ao que está a acontecer no país. Penso que nesta altura o povo francês não quer muito falar do lado político porque isso pode levar a divisões junto das pessoas. As pessoas querem juntar-se neste momento”, realçou. Éric Sautedé, académico na área da Ciência Política, começou a seguir de perto o caso assim que viu os amigos a fazerem publicações nas redes sociais. “Foi um acto extremamente chocante. Faço parte da geração que cresceu a ver os trabalhos destes profissionais. Todos eles eram um pouco anarquistas, desafiantes em relação à autoridade, e claro que o Charlie Hebdo estava muito ligado à religião e os movimentos religiosos internacionais e focou-se ainda mais nos movimentos extremistas. Para França é uma espécie de 11 de Setembro, um acto chocante para todos, que aconteceu no centro de Paris”, apontou. Mais do que isso, o especialista em Ciência Política olha para o facto dos alegados autores do “atentado terrorista”, como já foi considerado pelo presidente francês François Hollande, serem cidadãos franceses. “Espero que surja a seguinte questão: como é que isto acontece num mundo dito civilizado e parte de pessoas que são francesas? Independentemente de onde venham, se são franceses de segunda geração, de países como a Nigéria... são franceses. Então o que é que aconteceu?”, questiona Sautedé.
Ataque não pode impedir continuação da liberdade, dizem residentes
Charlie Hebdo não vai vergar-se do jornal Ponto Final, Macau Daily Times e Expresso. “Imagino que continue e até em termos de mercado [este acto] pode, ironicamente, acabar por ter um reflexo positivo, porque haverá muita gente que não ligava ao Charlie Hebdo e a esse tipo de jornais e que passe a dar uma outra importância”, acrescenta o cartoonista. António Conceição Júnior diz mesmo que “o poder do cartoon, da imagem, tão pouco simpática para o fundamentalismo islâmico, não pode e não deve ceder à questão islâmica, até porque o verdadeiro Islão não é isto”. Para o também designer, “as consequências terão de ser uma firme afirmação de
repúdio e de afirmação dos valores do Ocidente que já emergiram do obscurantismo”. Para o artista macaense, o “mundo vive dias de grande insegurança” e, daqui para a frente, o Governo francês deverá apostar na “firmeza de acções de captura e segurança”. “O povo parisiense e francês saberá gritar novamente LIBERTÉ, EGALITÉ,
FRATERNITÉ, a que eu me associarei com um JE SUIS CHARLIE AUSSI!” Para Eric Sautedé, o tiroteio em Paris leva-nos a pensar como encaramos a questão da segurança nacional e também em termos de comunidade. “Penso que vão surgir imensas questões daqui em diante, se há até uma organização por detrás”, diz ao HM.
“O que todos andam a dizer é que, apesar de este ser um acto completamente bárbaro, é capaz de dar alguma força aos mais extremistas da Europa, neste caso franceses. É mais uma ferramenta para eles. O que se passou é inadmissível”, considera Rui Rasquinho, ilustrador. “Espero que para além de toda a segurança e combate a estes actos terroristas, se
“Quem perpetuou o atentado quer que mudemos a nossa maneira de pensar e ver o mundo. É importante darmos uma resposta contrária a isso, fazer as coisas como estamos a fazer e até de forma mais entusiástica, porque estamos a lutar contra um inimigo muito poderoso” Rodrigo de matos Cartoonista
pense porque é que pessoas que são cidadãos franceses, criados num país democrático [fazem estes actos]. Depois de séculos de luta pela igualdade e liberdade e da posição do indivíduo, como é que pessoas que vêm desta comunidade se tornam defensores de ideologias alternativas? Foi um acto condenado por muitos e ninguém pode dizer que é a verdadeira interpretação do Islão, mas como é que indivíduos podem juntar-se e legitimar este tipo de acções?”, questiona o docente. Para Rodrigo de Matos, “estas coisas quando acontecem também contribuem para que as coisas estejam mais propensas a aceitar abrir mão de liberdades em troco de uma suposta maior segurança. É de se esperar o aumento da vigilância e subidas no orçamento para a segurança”, frisa ao HM. - A.S.S.
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EPA
bém se fizeram notar. “Estamos profundamente chocados com o ataque terrorista e condenamo-lo vigorosamente”, disse um porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hong Lei. “Fazemos luto pelas vítimas e damos as nossas condolências às famílias dos mortos”, acrescentou. Nas próprias redes sociais, pessoas que se assumem como muçulmanas condenam o atentado, que dizem nada ter a ver com a fé e a religião no profeta que deu o mote para que três homens armados matassem mais de uma dezena de pessoas e ferissem outras tantas.
O terror continua
Solidariedade invade as ruas por todo o lado. Autoridades revelam detenções
O mundo não se ajoelha Filipa Araújo*
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
O
terror chegou aos escritórios do jornal Charlie Hebdo na quarta-feira: 12 pessoas assassinadas. Vítimas de um atentado, de uma vingança em nome da religião. Mas, os profissionais do ‘Charlie Hebdo’ não estão sozinhos. Numa reacção de indignação, frustração, perda, apoio e solidariedade, o mundo mexeu-se, saiu à rua e fez-se notar. Arrepiando quem os olhou atentamente, quem sente o mesmo. No dia 7 de Janeiro foram registadas e agendadas pelo menos 180 vigílias de apoio às vítimas jornalistas e polícias mortos -, aos feridos e às suas famílias. Foram muitos os países que organizaram, logo após o atentado, vigílias e caminhadas pelas principais cidades. Cidadãos do Canadá, Estados Unidos, Brasil, Espanha, Itália, Guiana Francesa, Equador, Chile, Argentina, Rússia, Egipto, Tunísia, Croácia, Áustria, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Reino Unido, Irlanda. Todos se fizeram notar, todos se uniram. O jornal francês Le Monde criou uma lista, que está em constante actualização, marcando no mapa cada uma das vigílias e a sua hora de começo.
Pequim também se levantou. Portugal também, através de vigílias e minutos de silêncio. Também as capas dos principais meios de comunicação internacional dedicaram as suas páginas a Georges Wolinski, Bernard Verlhac, Jean Cabu e ao director do jornal satírico, Stephanie Charbomier, mais conhecido por “Charb”. São eles os famosos cartoonistas, os que nunca se ajoelharam.
Grito silencioso
Movimentos pela liberdade de expressão romperam as ruas francesas poucas horas depois do acto terrorista. Organizadas por sindicatos, partidos políticos e tantos outros grupos, a “Marcha dos Republicanos”, assim intitulada nas redes sociais, começou às 17 horas e uniu mais de 35 mil pessoas na Praça da República da cidade das luzes. Os principais média franceses relatam que o silêncio sentido era, e tem sido, perturbador. Uma jornalista francesa confirma aos jornais que de facto “o silêncio é o mais assustador”. Os cartazes “Je Suis Charlie” [Eu sou o Charlie] ou apelando à liberdade de expressão são os mais comuns, criando até uma corrente nas redes sociais de solidariedade. Em poucos momentos o hashtag ‘#jesuischarlie’ atingiu milhares de partilhas, com fotografias, cartoons
ou até a famosa frase do director do jornal, dita numa entrevista ao Le Monde em 2012, “Prefiro morrer em pé a viver ajoelhado”. Mas não foi apenas Paris que se fez ouvir, com um sentimento unânime todo o país saiu à rua, enfrentando as temperaturas baixas que muito se têm feito sentir nas últimas semanas. Lyon reuniu em uma das suas praças principais mais de 15 mil pessoas. Toulouse levou para a rua dez mil. Dados oficiais mostram que, no cair da noite da negra quarta-feira, mais de cem mil pessoas saíram de casa para prestar a sua homenagem. Ontem, tal como o presidente francês, François Hollande, declarou, viveu-se o primeiro de três dias de luto. O Governo francês convocou uma vigília a partir do meio dia de ontem, reunindo milhares de pessoas, solidárias ao ataque mais negro dos últimos anos.
Palavras de cima
Foram vários os representantes oficiais que se manifestaram, prestando o seu apoio e solidariedade, relativamente ao atentado. Angela Merkel, a chanceler alemã, afirmou que “não há justificação” para tamanho acto. “Este acto repugnante não é apenas um ataque à vida dos cidadãos franceses e à segurança interna francesa. Representa também um ataque à liberdade de ex-
pressão, um elemento essencial da nossa cultura livre e democrática, para o qual não há justificação”. O presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, classificou o acto como um “terrível ataque”, reforçando a necessidade de levar os “terroristas” à justiça. Obama reforçou ainda, segundo os principais média, que os “pensamentos e orações” do povo norte-americano estão neste momento com o povo francês. Do Vaticano surge o porta-voz do papa Francisco, Frederico Lombardi, avançando que o líder da igreja católica intitulou o acto de “horrível atentado”, sublinhando que o ataque “semeou a morte, levando consternação a toda a sociedade francesa e afectando profundamente todas as pessoas amantes da paz, muito além das fronteiras da França”. Vladimir Putin, também se fez notar afirmando que Moscovo condena “firmemente o terrorismo em todas as suas formas”. Em Portugal, Cavaco Silva, o presidente da República, numa carta dirigida a François Hollande escreveu que o atentado abalou a liberdade de imprensa, um, segundo escreve, “princípio fundamental da democracia”. O presidente português mostrou ainda a sua “condenação e repúdio” pelo acto. Os ecos do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros tam-
O primeiro-ministro francês disse ontem que várias pessoas foram detidas durante a busca pelos dois irmãos suspeitos do ataque. Um dos homens, de 18 anos, condutor do carro entregou-se às autoridades. “Muitos [suspeitos] foram detidos durante a noite”, disse o primeiro-ministro francês Manuel Valls à rádio RTL, acrescentando que os Serviços Secretos conheciam os dois suspeitos, que ainda não foram encontrados, e estavam “sem dúvida” a seguir os seus movimentos antes do ataque de quarta-feira. Mais tarde, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, precisou serem sete as pessoas sob custódia policial. A circulação nas imediações do jornal Charlie Hebdo está cortada pelas autoridades, que lidam com o elevado número de jornalistas e curiosos. Há flores, velas, uma bola de râguebi da Escócia, uma garrafa de cerveja com um desenho do Pai Natal e grandes cartazes a preto e branco com a frase “Somos todos Charlie”. Há ainda fotografias dos quatro cartoonistas assassinados: Wolinsky, ele próprio judeu que satirizava todas as religiões, Cabu, Charb e Tignous. No chão, um pinheiro de Natal decorado com uma bandeira de França e um ramo de rosas brancas. Hamyd Mourad, de 18 anos, já se entregou então às autoridades e os outros dois suspeitos, os irmãos Said Kouachi e Cherif Kouachi, de 32 e 34 anos, estão a monte. Entretanto, a França treme com outros atentados que se seguiram a este e que ainda se desconhece se estão ou não ligados ao atentado: dois polícias foram feridos por dois homens armados na localidade de Montrouge, em França, à saída do metro, ontem de manhã. A agente atingida acabou por não sobreviver aos ferimentos, como avança a imprensa local. Minutos depois, uma explosão destruiu parte de um restaurante junto a uma mesquita na localidade Villefranche sur Saône, tendo destruído também parte de um restaurante árabe. De acordo com a imprensa francesa, a explosão teve origem criminosa, mas não provocou vítimas. - * com Joana Freitas e agências
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Lígia Anjos, em Paris info@hojemacau.com.mo
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Presidente François Hollande decretou o dia de ontem como de luto nacional e decidiu colocar as bandeiras a meia haste em homenagem às 12 vítimas do atentado terrorista, mas o luto invade também o estado de espírito dos portugueses que por cá vivem. Num momento em que todos estão em estado de choque, o doutorando português na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, Rui Miguel Pereira, levanta algumas questões e dá conta que, com os dados que dispõem até ao momento, as autoridades já sabem quem foram os autores do atentado ou, pelo menos, têm suspeitas fortes. “As pessoas eram conhecidas dos serviços policiais franceses e este dado deixa muitos de nós a pensar: por que motivo não prenderam estas pessoas mais cedo? Esta é uma das questões que vamos ouvir nos próximos dias e é uma questão legítima, mas que leva a outra questão que é o que é que a França vai fazer para responder a estes ataques?”
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Portugueses em Paris em estado de choque com atentado
Um luto mais que visível
“A mensagem que nós queremos passar é a de não ter medo e não deixar aos terroristas margem para que isso aconteça” Hermano Sanches Ruivo Vereador da CM de Paris
A resposta parece ser apenas uma para Clementino Matias, residente em Paris há mais de trinta anos. E essa é dramática. “Se há momentos em que deveria ser aplicada a pena de morte em França, este é um deles. Não percebo como é que ideologias religiosas conduzem as pessoas a este radicalismo. Vamos voltar a prendê-los durante três anos para saírem e voltarem a cometer atentados? Não faz sentido.” O vereador socialista dos Assuntos Europeus na Câmara Municipal de Paris, Hermano Sanches Ruivo, disse ao HM que a França está a viver uma situação que “qualquer responsável público sabia que poderia acontecer”, uma vez que o país recebe há vários anos ameaças de atentados. “Só não sabemos onde e quando é que estes podem ocorrer, mas desde 1995 não vivemos nada de assim tão radical”, relembra.
em Montrouge, seis pessoas e matou um polícia e vários ataques a mesquitas durante a noite. A reacção agora é actuar e precaver este tipo de situações e fazer pagar os autores da barbárie”, diz, falando em vários atentados em mesquitas, algo que traz novidades perante o que se sabe através da imprensa em Macau, onde ainda se falou apenas num ataque. Em 2014, o reforço de segurança em França foi elevado um grau e ontem atingiu a escala de atentado, o que significa um maior controlo em espaços públicos, transportes públicos, monumentos e espaços religiosos. Os vídeos amadores registados durante o atentado à sede do semanário ‘Charlie Hebdo’ evidenciam a escala de violência que fez tremer não só o país, como a comunidade internacional. O atentado foi condenado por muitos líderes mundiais, entre eles o primeiro-ministro português. Numa carta enviada ao seu homólogo Manuel Valls, Pedro Passos Coelho descreve o acto como “de um terrorismo odioso que mergulhou a França num imenso luto que partilhamos com desgosto e profunda solidariedade”. Mais sucinto foi o comunicado do Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, que também condenou “veementemente o violento atentado que provocou mais de uma dezena de mortos e vários feridos”. No discurso transmitido, ontem à noite, a partir do Palácio do Eliseo, o Chefe de Estado francês François Hollande descreveu o atentado terrorista como um ataque ao coração da França e sublinhou que “a nossa melhor arma é a unidade”.
Historial que levou à morte
Aumentar a vigilância, segurança e evitar situações de risco foi o plano de actuação imediato por parte do Governo francês. “A mensagem que nós queremos passar é a de não ter medo e não deixar aos terroristas margem para que isso aconteça”, sustenta
o vereador socialista da Câmara de Paris.
Uns atrás dos outros
Ontem de manhã, Paris acordou com um novo tiroteio: um homem armado com uma metralhadora. Segundo o vereador português
Hermanos Sanches Ruivo, até ao momento não há ligação estabelecida com o atentado ao ‘Charlie Hebdo’. “Sabemos que depois do terramoto de ontem há novas réplicas, nomeadamente o ataque que feriu [ontem de] manhã no sul de Paris,
A publicação ‘Charlie Hebdo’ é conhecida por estar sempre pronta a avançar contra todos os tabus. Percorrendo o historial da publicação, por várias vezes o semanário publicou representações do profeta Maomé. E é este espírito de enfrentar tabus, que sustenta e é a alma desta publicação considerada esquerdista. Ao meio dia, a França fez um minuto de silêncio e ouviram-se, de seguida, os sinos da Catedral de Notre-Dame de Paris em homenagem às vitimas do atentado. Na quarta-feira à noite estiveram reunidas várias milhares de pessoas na praça da República, em Paris, como forma de homenagem. ”Nós somos o Charlie Hebdo. Nós jornalistas e nós todos” é a frase que corre pelas redes sociais e o presidente francês lembrou, uma vez mais, que a mensagem de liberdade pela qual luta a França vai continuar a ser defendida, em nome de todas as vítimas que morrem em prol dessa mesma liberdade.
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Charlie Hebdo: a banalidade do Mal
A
Arnaldo Gonçalves info@hojemacau.com.mo
s palavras saem difíceis perante o horror das notícias que chegaram de França com o assassinato bárbaro de doze pessoas, num atentado islamista contra o jornal satírico ‘Charlie Hebdo’. Atentado que vitimou um elevado grupo de jornalistas e o seu director, Stéphane Charbonnier. Foi um assassinato a sangue frio, cuidadosamente planeado com várias semanas de antecedência, em que participaram três radicais islamitas de nacionalidade franco-argelina, tendo por propósito decapitar um dos órgãos da imprensa livre de França. A imprensa esteve sempre na primeira linha da defesa da liberdade, da democracia, da cultura de tolerância e o móbil primeiro de forças totalitárias é silenciá-la. O episódio lembra-me as acertadas palavras de Hannah Arendt, escritas após o Julgamento de Nuremberga, de que o verdadeiro mal radical surge em sistemas em que os homens se tornam supérfluos, isto é, meios e não fins em si mesmos. Arendt ligou isso ao sistema que vigorava em determinado tipo de Estado – o Estado totalitário – mas a observação pode hoje compreender-se no quadro do terrorismo. Os pilares de um e o outro são idênticos: a ideologia e o terror. O atentado ultrapassa as meras fronteiras de uma língua e de uma sociedade para nos
tocar a cada um de nós: humanistas, intelectuais, mulheres e homens de Paz, jornalistas, cidadãos comuns. É o opróbrio na sua mais primária definição, o ódio gratuito e sanguinário contra os que pensam diferente, designadamente os que não se acolhem a uma fé e uma crença ou a polemizam. É um sinal manifesto de que a vingança continua e de que os que, aderindo à aventura terrorista, se especializaram nas técnicas do terror e do assassínio e regressaram às suas terras de origem para mais um ajuste de contas. Não se trata de um acto de justiça em nome de uma religião, explicável pela interjeição Allahu Akbar ()ربكأ هللا, mas um acto de provocação à autoridade do Estado democrático e à tradição europeia de convivência, pluralismo e tolerância. Deve ter, por isso, uma resposta ao nível de ameaça para que a Europa continue, como tem sido até aqui, um continente de Paz, de tolerância, de convivência de todos os credos e fés e dos que não o têm. Um lugar em que como poucos lugares do mundo o direito de professar a sua Fé, no lugar de culto da sua escolha, é escrupulosamente respeitado. Não interessa se o jornal é de esquerda e se a crítica satírica foi levada a um ponto considerado ofensivo para os que se reconhecem na religião do Profeta Maomé. A capacidade de rirmos dos nossos deuses e dos nossos ídolos foi sempre um sinal de inteligência, de racionalidade e de saúde das civilizações. No caso vertente, o ‘Charlie Hebdo’ sempre distribuiu o seu olhar crítico e por vezes contundente pelas várias religiões
e os seus principais ícones sem que um acto de tamanha violência fosse previsível. Sabe-se já os nomes dos presumíveis autores dos atentados – Said Kouachi, Chérif Kouachi e Hamyd Mourad - cidadãos de nacionalidade francesa com largo historial no recrutamento de jovens para as brigadas islamitas e participação activa na guerra civil da Síria. Não é crível que se trate de uma iniciativa isolada, mas de um acto de criminalidade organizada que poderá ter sequência. As circunstâncias dos atentados do 11 de Setembro de 2001 repetem-se agora na cidade da Luz com o uso de armas de guerra e tácticas de guerrilha urbana. Questão também importante é reflectir no que fazer com as comunidades muçulmanas europeias, uma população estimada em 45 milhões de crentes, cerca de 6% da população europeia. Seria lamentável que a indignação que um acto criminoso desta
Seria lamentável que a indignação que um acto criminoso desta gravidade despertou nos cidadãos comuns conduzisse a uma explosão de islamofobia e perseguição destas comunidades
gravidade despertou nos cidadãos comuns conduzisse a uma explosão de islamofobia e perseguição destas comunidades. Vozes importantes das organizações muçulmanas europeias vieram a terreiro declarar que os assassinos nada têm a ver com os seguidores e os ensinamentos do Profeta Maomé, uma religião que se reivindica de paz e harmonia. O problema é, contudo, mais profundo e tem a ver com a ausência de hierarquia entre os líderes religiosos no Islão, a fragmentação da umma em grupos rivais e hostis que interpretam de forma diversa os ensinamentos do Corão. Vários imãs intitulam-se porta-vozes dos ‘verdadeiros’ muçulmanos espalhando uma mensagem de ódio e vendeta nas mesquitas sem que uma autoridade central imponha ordem. Enquanto os muçulmanos não chegarem a essa uniformização doutrinária e teológica o perigo da radicalização em nome da religião é permanente. As autoridades europeias poderão exercer uma vigilância severa e extraditar os agitadores que constituírem uma ameaça à segurança nacional e europeia mas isso é apenas possível quanto aos que detêm nacionalidade estrangeira. Não quanto aos que possuem dupla nacionalidade. A responsabilidade de vigilância é de todos os cidadãos europeus e é importante que o sentimento de indignação não se esgote com a passagem do tempo. Aos que tombaram é devido o acalento das consternação e do respeito sabendo que nunca ajoelharam e recuaram na defesa das liberdades de pensamento e de expressão.
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Política
Filipa Araújo*
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
E
nquanto o grupo Arco-Íris de Macau não desiste da sua luta pela inclusão dos casais homossexuais na Lei de Prevenção e Correcção da Violência Doméstica, advogados do território dividem opiniões sobre se a possibilidade é ou não contra a lei de Macau. Especialistas ouvidos pelo HM admitem ser possível a integração destes casais na lei, não através do casamento, mas da união de facto. Mas isso, para outros advogados, não é possível. Ontem, o Arco-Íris de Macau voltou a entregar uma petição à Assembleia Legislativa, onde a apreciação da lei acontece na segunda-feira, para pedir que os casais do mesmo sexo fossem também contemplados na lei. Algo que, aliás, acontecia na primeira versão da proposta do Executivo, mas que foi, mais tarde, retirado. Não é a primeira vez que activistas e defensores da comunidade LBGT tentam que isto aconteça, algo que é “completamente exequível” para o advogado Miguel de Senna Fernandes. “Vejamos assim: se um casal de namorados, mesmo que seja do mesmo sexo, é violento um para o outro, porque é que a lei não poderá contemplar?”, começa por defender o advogado, referindo-se ao facto de este casal não ser também casado. Para Senna Fernandes, é preciso perceber que em causa está a vivência conjunta. “O pano de fundo é sempre uma situação, uma vivência, um convívio com as mesmas características de uma família ou casal”, explica, sublinhando que a Lei da Violência Doméstica inclui situações de casados – sendo este o protótipo – e depois a união de facto. “E os namorados? E os casais homossexuais?”, questiona, sem negar, contudo, que consegue juridicamente perceber a não inclusão destes casais na lei, pois “a homossexualidade não tem dignidade legal na ordem jurídica de Macau”. Assim também explica o advogado Óscar Madureira. Para que a lei contemplasse os casais homossexuais era necessário que a lei fizesse uma integração do estatuto jurídico do casal homossexual. “Ou via reconhecimento desta mesma regulação ou então – que seria a forma mais apropriada – classificando a união de facto. Ou de uma forma avulsa, apesar de ser uma coisa mais complicada”. Questionado sobre a possibilidade de integração, o advogado não tem dúvidas. “Não vejo porque não. Esta lei poderia integrar os casais homossexuais, em princípio seria possível”. Em termos práticos, explicam os advogados não é preciso reco-
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Violência Doméstica Juristas admitem possibilidade de integração de casais homossexuais na lei
Pôdi, num pôdi?
Os casais do mesmo sexo até que podiam ser integrados na Lei de Prevenção e Correçcão da Violência Doméstica, mas há outros factores a criar obstáculos, que passam pela legislação local, como a do casamento, que refere que para se ser cônjuge tem de se ser de sexo diferente
Académico aponta falta de rigor na lei Zhao GaoQiang, professor de Direito da UM, aponta que existem várias lacunas na Lei da Violência Doméstica que, diz, está pouco rigorosa. Em declarações ao Jornal Ou Mun, o académico aponta que a definição da violência doméstica na proposta da lei nunca classifica o “abusador” e o “não abusador”, fazendo com que todos os actos possam ser
nhecer o casamento homossexual para que os mesmos sejam contemplados por esta lei. “[Bastaria] apenas a união de facto”, diz Óscar Madureira, explicando que em jurisdições onde a Lei da Violência Doméstica é estendida aos casais do mesmo sexo, isso “não está necessariamente dependente do
classificados como crime público, sejam eles uma ou várias vezes. O Governo, recorde-se, diz na lei que os crimes passam a ser públicos se forem frequentes, mas não indica detalhes sobre isto. Ora, para Zhao, isto é “irracional” e faz com que esta lei “seja rara”. Para o académico, a lei deveria ter uma atitude mais tolerante “quando não passar de uma discussão”.
casamento” e “poderá ser aplicável às situações de união de facto”.
Mas não é bem assim
Posto isto, importante será perceber se, apesar do Governo não reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo, poderá reconhecer a união de facto dos
mesmos. Ora, isso é algo que não acontece em Macau, como explica a advogada Ana Fonseca ao HM. “A união de facto tem que ser em condições análogas às dos cônjuges, portanto remete para a Lei do Casamento, que obriga a serem de diferentes sexos”, esclarece. Analisando a respectiva
lei, é então reforçado que o casamento é “o contrato que se celebra entre duas pessoas de diferentes sexos”, diz. A possível contemplação dos casais do mesmo sexo na respectiva lei, poderá dar a entender, segundo explica Miguel de Senna Fernandes, que o Governo está disposto a reconhecer o casamento homossexual - algo que poderá vir a acontecer na visão do causídico. Apesar de compreender a relutância, o advogado defende que o que “está em causa é a violência doméstica, o que implica actos que podem constituir crime. “Então se existe violência doméstica em casais do mesmo sexo, porque não haveremos de a admitir?”, argumenta. No comunicado enviado ontem às redacções, depois de ter entregue mais uma petição aos deputados, o grupo Arco-Íris de Macau justifica mais uma tentativa com o facto de o Governo estar a discriminar os homossexuais e volta a referir convenções internacionais dos direitos do homem. Jason Chao, porta-voz do grupo, recorda ainda que o caso foi explicado a André Cheong e que este, assegura o activista, disse que iria averiguar a situação. “Até agora, não recebemos qualquer resposta das autoridades”, frisa Chao, que acrescenta ainda que os casais homossexuais estão contemplados nas leis anti-violência doméstica de Hong Kong e Taiwan, que não aprovam o casamento, e que estava já contemplada na de Portugal, antes do país ter autorizado o casamento entre o mesmo sexo. Mas Jason Chao diz mais: “numa reunião com o Instituto de Acção Social (IAS), este assegurou que, on futuro, os serviços de apoio às vítimas de violência doméstica iriam cobrir ‘as relações do mesmo sexo, independentemente do âmbito da lei’”, começa por apontar ao HM. “Se a lei não autoriza essas medidas, então os serviços providenciados pelo IAS serão bastante limitados em casos de violência doméstica entre casais do mesmo sexo”. Recorde-se que, em 2011, a proposta de lei incluía os casais do mesmo sexo e classificava estas ofensas como crime público. No entanto, depois de submetida a consulta pública, a proposta foi retirada e esses dois factores chave, apontados como progressistas, foram eliminados. Na altura, o ex-director dos Serviços para os Assuntos de Justiça, André Cheong, explicou que os casais do mesmo sexo não iriam ser incluídos nesta nova versão “para evitar conflitos futuros com as leis do registo matrimonial”, como contou Anthony Lam, presidente do Arco-Íris ao HM, na altura. *com Joana Freitas e Flora Fong
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Anselmo Teng assegura ter entregue um pedido de revisão do Regime Legal do Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel, algo que deverá alargar o âmbito do fundo financeiro e permitir às vítimas de acidentes de viação sem posses que recebam ajuda hospitalar sem terem de esperar
Acidentes de Viação AMCM pede revisão da lei para pagamento adiantado de despesas
Uma mão cheia de ajuda
Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
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presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), Anselmo Teng, assegura que vai entregar um pedido de revisão do Regime Legal do
Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel. A decisão pretende ajudar a pagar, por adiantamento, as despesas urgentes do hospital respeitantes às vítimas de acidentes de trânsito que
não tenham capacidade financeira para cobrir os custos. Algo que, de acordo com o presidente, deverá vir a acontecer. A promessa de Anselmo Teng surge em resposta a uma interpe-
lação escrita da deputada Song Pek Kei, que sugere ao Governo a criação de um fundo de segurança para pagar as despesas médicas aos feridos com dificuldades económicas. A sugestão da deputada é
Bill Chou diz ter sido avisado para diminuir críticas sobre política
Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, reuniu esta quarta-feira com a Associação de Conterrâneos de Kong Mun (ACKM) e a Aliança do Povo de Instituição de Macau (APIM), no âmbito da preparação das próximas Linhas de Acção Governativa (LAG). Nos encontros, o apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME) voltou a ser um dos temas em destaque, com a APIM a pedir uma desburocratização e facilitação dos processos e dos meios de negócio. “Foram transmitidas ao Secretário as dificuldades encontradas
pelas PME na contratação de trabalhadores não-residentes (TNR) e na exploração das suas actividades, incluindo matérias relacionadas com os impostos prediais que incidem sobre as moradias arrendadas, a oferta de recursos humanos, o pedido de abastecimento energético aquando da instalação de nova empresa na zona antiga e o pedido de licenciamento para os restaurantes”, pode ler-se no comunicado ontem divulgado. As associações desejam ainda “que os serviços competentes melhorem os procedimentos administrativos relevantes e respectivas
formalidades, proporcionado às empresas melhores ambientes para a exploração dos seus negócios”. A ACKM chamou a atenção para “os inúmeros problemas detectados nos procedimentos administrativos dos diversos serviços públicos, bem como os problemas respeitantes ao ambiente de negócios nos bairros antigos, esperando que o Governo possa executar, verdadeiramente, um trabalho eficiente, aperfeiçoando os diversos projectos da governação e revitalizando as actividades económicas nos bairros antigos”. Em relação à revisão da Lei de Enquadramento Orçamental, a associação “sugeriu que sejam definidas regras que permitam um controlo mais rigoroso sobre as despesas estimadas para todas as obras públicas”. Lionel Leong prometeu continuar a ouvir as opiniões do sector comercial, industrial e financeiro por forma a garantir o emprego à população e o bom ambiente de negócios para as empresas locais, sem esquecer a importância da cooperação regional. - A.S.S.
Gonçalo lobo pinheiro
Associações exigem facilitação de processos para PME
Em nome dos negócios O
justificada como forma de diminuir as pressões psicológica e financeira de que os pacientes são alvo. Anselmo Teng respondeu recentemente que a revisão do regime vai alargar o âmbito do seguro do Fundo de Garantia Automóvel e Marítimo, passando a incluir fatalidades como prejuízos físicos por actos de terrorismo ou a morte em automóveis com seguro obrigatório. Assim, todas as vítimas que se prove terem dificuldades financeiras e que apresentem uma acção judicial e comprovativo relativo às despesas médicas sofridas nesse período, poderão ter apoio. Anselmo Teng garantiu que o pedido de revisão da lei será entregue brevemente. O responsável acrescentou ainda que a AMCM não tem autorização para distribuir empréstimos ou pagar despesas médicas adiantadas às vítimas por si própria. Dados apresentados pela deputada mostram que houve mais de dez mil acidentes até Agosto do ano passado, sendo que, por mês, há cerca de 37 feridos como consequência.
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ex-professor de Ciência Política da Universidade de Macau (UM), Bill Chou, assegura ter sido avisado para diminuir as críticas tecidas às políticas públicas do interior da China. Isso mesmo escreveu ontem o académico, num blogue pertencente à publicação Macau Concelears. De acordo com Bill Chou, Wang Jianwei, o Chefe de Departamento da sua secção na UM terá sido o porta-voz do aviso que incluía “uma diminuição das críticas sobre as políticas públicas do interior da China, mas também as críticas aos Estados Unidos”. “Quando ainda era professor da UM, foi-me solicitado pelo Chefe do Departamento,
Wang Jianwei, que diminuísse as críticas sobre [isso]. Além disso, planeei ainda realizar um seminário académico sobre as políticas da região autónoma de Xinjiang, acção que foi suspensa pelo mesmo Chefe por considerar que esta era uma política sensível”, escreveu o académico. O ex-professor recorda ainda que o reitor, Wei Zhao, demitiu-o por considerar que este não tinha neutralidade política no ensino, algo que Bill Chou diz ser incoerente com o que o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) salientou recentemente, de que “avaliaria as instituições de ensino superior pelo desempenho dos estudantes, em que está incluído o item [sobre o amor à pátria]”. Portanto, para Bill Chou, a avaliação mostra que é possível aos professores não ensinar as teorias mais polémicas, históricas e políticas, aquelas que poderão ser chamadas de “ideias políticas incorrectas ou anti-patrióticas”, mas que é possível falar das políticas de amor à pátria. Algo que, diz, interfere com a liberdade académica. - F.F.
Sociedade
Os jovens ainda não tem consciência da lei e, por isso mesmo, a PJ decidiu reforçar o combate aos crimes que os envolvem. A maioria das pessoas assegura que “Macau se está a tornar uma cidade cada vez mais complexa” e que são precisos mecanismos mais efectivos
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Segurança PJ reforça combate a crimes que envolvem jovens
Insuficiências a mais Tiago Alcântara
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Leonor Sá Machado
leonor.machado@hojemacau.com.mo
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Polícia Judiciária (PJ) vai reforçar o combate a crimes que envolvam jovens, principalmente menores de idade. Ontem, durante um encontro entre a PJ e representantes de associações educativas e escolas, o director da PJ, Chau Wai Kuong, disse que o combate tem que ser intensificado, justificando esta necessidade com a prática de crimes recentes. “A consciência de cumprimento da lei e de prevenção criminal entre os jovens continua insuficiente, sendo necessário aprofundar e ampliar as acções de educação sobre prevenção criminal”, explicou o responsável. O encontro contou com a presença de associações do sector da Educação, incluindo de escolas secundárias, básicas e colégios privados. Directores, reitores e o restante público tiveram oportunidade de expressar as suas opiniões, a grande maioria apoiando a tese de que “Macau se está a tornar uma cidade cada vez mais complexa” e que por isso mesmo são precisos mecanismos mais efectivos para combater crimes como aqueles recentemente cometidos. As associações do sector da Educação que deram a sua opinião consideram que é necessário haver uma maior empenho na cooperação entre escolas e a PJ. Uma das medidas pensadas, disse o director da PJ, integra a identificação de jovens não autorizados a estar em espaços nocturnos e posterior aviso aos seus pais. Os responsáveis recordavam o caso de um polícia local que abusou sexualmente de nove raparigas depois de se fazer passar por uma modelo feminina na internet, pedindo-lhes fotografias sem roupa.
Síndrome de atenção?
Os crimes, normalmente perpetrados pela internet, fazem muitas vezes com que jovens locais fujam
Estudo Residentes mais confiantes na compra de casa
O Índice de Confiança dos Consumidores (ICC) referente ao quarto trimestre do ano passado, elaborado pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST), mostra que o índice de confiança dos residentes é de 87.35 pontos numa escala até 200 pontos. Os dados mostram, assim, um aumento de 1,03% quando comparado com o período homólogo de 2013, e de 2,29% quando comparado com o último trimestre do mesmo ano. Entre os seis índices do inquérito, apenas o da economia local caiu 0.21%, mantendo-se comentários positivos dos consumidores à economia em geral. A situação de empregabilidade mantém-se com notas altas – 124.88 pontos. No que toca ao índice de compra de fracções, este aumentou 7.45 pontos, o que significa que as expectativas dos consumidores sobre a compra de casa aumentaram claramente. Mesmo assim, é ainda um índice com menos pontuação – 45.79 pontos.
DSSOPT Inauguração de loja proibida devido a obras ilegais
de casa, faltem à escola e passem mesmo a fronteira procurando algo que sentem não encontrar no território. Há quem considere que a legislação relativa à distribuição de folhetos pornográficos devia ser imediatamente revista e a sua implementação devia incluir multas mais pesadas. “As autoridades judiciais precisam de rever a legislação porque a penalização não é suficiente”, sugeriu um dos elementos da plateia, mas outra das preocupações de pelo
menos cinco dos presentes tem que ver com a falta de presença dos pais e professores no desenvolvimento saudável das crianças e jovens. Houve mesmo quem sugerisse a proliferação da figura do conselheiro nas escolas. “Há assuntos que os jovens têm dificuldade em discutir com os pais, mas não têm problemas em partilhar com elementos das escolas”, esclareceu uma das presentes. Alguns participantes expressaram as suas preocupações enquanto pais, referindo que “é di-
fícil” impedir o acesso dos jovens à internet. “Antes, era fácil impedi-lo de ter computador no quarto, mas hoje em dia a restrição de acesso online é quase impossível”, lamentou ainda uma das pessoas. Houve, ainda, quem tivesse expressado preocupação pela implementação de sessões de educação sexual. “Talvez as jovens procurem saber certas coisas na internet porque não têm quem lhes ensine e sentem curiosidade”, disse outra das participantes.
A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) impediu uma loja de abrir devido a obras ilegais. O estabelecimento, que se encontra localizado no número 26 da Calçada de Santo Agostinho, no résdo-chão do edifício Hou Wang, foi encerrado a 30 de Dezembro, quando as autoridades policiais colocaram um aviso para que as pessoas respeitem a ordem governamental. De acordo com resposta da DSSOPT ao HM, a loja foi fechada devido a uma “queixa devido a obras ilegais”, tendo sido emitida uma ordem de proibição pela entidade depois da mudança da porta de protecção de metal.
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FAOM fala em “pressão” de recursos humanos na área social
Porque nem só o dinheiro interessa Alexis Tam reuniu ontem com a Federação das Associações dos Operários de Macau e ouviu queixas sobre as “grandes pressões” existentes ao nível dos recursos humanos na área social e de reabilitação. O Secretário garantiu que a função do Executivo “não é só dar dinheiro” mas também apoiar as ONG Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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em sido uma semana de encontros com a realidade da sua tutela. Depois de visitar o hospital público, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, reuniu esta quarta-feira com representantes da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Segundo um comunicado, os representantes da associação falaram da existência de grandes pressões criadas pela perda de recursos humanos nas áreas da reabilitação e dos serviços sociais. Para resolver essa questão, que se torna “cada vez mais proeminente”, o novo Executivo deve “alterar a forma como se olha para os problemas”, sendo fundamental “prestar atenção à
Flora Fong
Flora.fong@hojemacau.com.mo
Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
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m incêndio levou ontem à evacuação do estaleiro da segunda fase do Galaxy, no Cotai. Não houve feridos, mas seis mil trabalhadores tiveram de ser retirados do local. O incêndio deflagrou por volta das 11h00 da manhã, de acordo com o que explicou ao HM uma porta-voz do hotel. “Aconteceu no último andar da torre da fase dois do Galaxy, onde a construção está ainda em progresso.” O Galaxy diz ainda estar a investigar o incêndio, mas um responsável do Corpo da Divisão de Operações e de Ambulâncias das Ilhas do
melhoria das regalias do pessoal na área da assistência social, assim como planear e proporcionar a formação profissional”, como pede a organização. Ao novo Secretário foi dada a sugestão de “melhorar os serviços do hospital público”, devendo ainda “dar importância ao desenvolvimento dos cuidados de saúde nos bairros comunitários, através de um aumento do investimento”. Alexis Tam deixou claro que a função do Governo não se cinge a distribuir dinheiro, mas sim a apoiar grupos vulneráveis, tais como os idosos, deficientes e pessoas com baixos rendimentos. O novo Secretário frisou ainda dar muita importância aos problemas identificados e às sugestões da FAOM, tendo afirmado ainda que “na área dos
cuidados de saúde vai estudar a coordenação entre o hospital público, as associações e sector privado, estando atento à estabilidade do pessoal da área dos cuidados de saúde nos bairros comunitários e o seu desenvolvimento”. Quanto à melhoria das regalias, Alexis Tam prometeu “rever, de forma abrangente, o mecanismo de cooperação que existe actualmente entre Governo e Organizações Não-Governamentais (ONG), incluindo a questão das regalias do pessoal da área da assistência social, com o objectivo de responder melhor às exigências sociais”. Alexis Tam garantiu ainda dar atenção à falta de espaço e infra-estruturas na actual rede escolar, problema que é actualmente sentido por muitas escolas.
Galaxy Seis mil trabalhadores retirados devido a incêndio
Mais vozes do que nozes Corpo de Bombeiros Bombeiros, Chan Kuok Tong, acredita que o fogo terá começado devido ao facto
de os operários estarem a realizar trabalhos de soldadura no telhado do edifício, tendo deixado materiais de
“decoração” junto ao local, o que desencadeou o incêndio. De acordo com a Galaxy, todos os trabalhadores
foram retirados do edifício “em segurança e sem que fossem registados feridos”. O hotel assegura estar ainda a trabalhar de perto com as autoridades para perceber as causas do incidente e diz ainda que este “não irá afectar as obras de construção da segunda fase do Galaxy”. Testemunhas disseram ao HM que não houve qualquer emissão sonora de aviso do incêndio, porque os alarmes ainda estão desligados pela torre não estar ainda aberta ao público. As testemunhas asseguram que só souberam do
incêndio através do aviso “boca-a-boca” dos colegas. O HM questionou o Galaxy sobre o assunto, mas não recebeu qualquer resposta até ao fecho desta edição. Apesar do grande aparato, o incêndio foi controlado “cinco minutos depois”, apesar do responsável dos bombeiros admitir que “como a obra ainda estava em andamento, os corredores estavam cheios de materiais e não foi possível chegar ao lugar de imediato”. Após apagar o incêndio foi ainda necessário “arrefecer” o edifício com um jacto de água. Os seis mil trabalhadores, de acordo com os Bombeiros, pertenciam a 150 sub-empreitadas diferentes.
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Eventos Carlos Morais José
hoje macau sext
a outra face
Os estúpidos
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precisamente contra aqueles que, na realidade, ntem, pelas três da tarde, sempre os defenderam, os que através dos seus escrevia um pequeno texto cartoons, do seu humor e da sua irreverência, sobre o fundamentalismo sempre lutaram contra os que os exploravam e religioso e a sua expressão oprimiam. Não se tratava, no caso do Charlie no espaço público, dizendo Hebdo, de um órgão de comunicação social que pouco me interessava comprado pelos poderes vigentes, mas de se era islâmico, cristão ou um grupo de talentosos loucos que exigiam budista. Devo ser um profeta. liberdade e crítica, do mesmo modo que a Deus deve, do alto da sua maior parte aceita prescindir delas para comer inexistência, iluminar-me e um naco de um pão melhor. Não eram ricos, fazer prever os acontecimentos. Já noite dentro não tinham agenda política, não queriam fui surpreendido e chocado por uma linha da o poder, nem oprimir ninguém. Com a sua Lusa: dizia que tinha ocorrido um atentado genialidade, expressa em desenhos simples, no Charlie Hebdo. Voltei atrás e refiz a última procuravam apontar as inconsistências das página deste jornal. Hoje fizemos tudo para religiões, das falsas políticas e a maldade obter comentários de gente de Macau sobre soberana dos interesses económicos. os horripilantes factos que decorreram numa Anteontem pagaram por essa independência, das cidades que alguém, num momento raro por essa capacidade de criticar e, sobretudo, de lucidez, disse ser mais importante para pela coragem com que insistiram em denunciar, mim do que qualquer mulher. É verdade: através dessa arma mortífera chamada humor, amo Paris. É a terra que associo à liberdade as atitudes dos que pretendem subjugar os seres inteligente, à existência de livrarias, de bons humanos às suas ideias e aos seus interesses. cinemas, excelentes exposições, de gente Tinham sido avisados, ameaçados, atacados. capaz de comigo manter uma discussão normal Mas continuaram, persistiram e morreram por sobre filosofia, religião, sociologia ou política. Numa palavra, uma isso. São um exemplo cidade que me faz a seguir que, nesta A França, apesar de todos constantemente pensar terra chamada Macau, e questionar-me a pouco existe. Repare-se os defeitos e excessos que mim mesmo. Fiquei por aqui foi uma lhe reconheço, é o país onde que verdadeiramente instituição universitária horrorizado e esse de índole religiosa a permanece realmente a efeito ainda não primeira a proibir a cultura europeia, os seus passou. A França, liberdade de expressão. apesar de todos os Para eles, é normal, valores democráticos, defeitos e excessos porque valores mais que lhe reconheço, é o altos se levantam e políticas sociais país onde permanece esses valores são a abrangentes e, sobretudo, realmente a cultura expansão da sua fé, europeia, os seus que é como quem diz a liberdade para debater, valores democráticos, do seu poder. Cada políticas sociais um terá os seus e isso criticar, opinar, algo que abrangentes e, faz parte integrante as pessoas que vivem em sobretudo, a liberdade da liberdade, como a para debater, criticar, o pensamento Macau não conseguem, por crítica, opinar, algo que as libertário e mesmo pessoas que vivem falta de capacidade ou por o ateísmo, que tanto em Macau não continua a meter medo de perder o emprego medo conseguem, por falta a todos, simplesmente de capacidade ou por porque em cada um medo de perder o emprego. Paris é a cidade de nós existe um medo irracional que recusa onde em cada esquina encontro um estímulo a inexistência desta sensação de “eu” depois para o pensamento, para a interrogação sobre o da morte. De facto, é preciso coragem para mundo e mesmo a beleza que me inebria e faz estar sozinho, para aceitar que temos um sentir um ser humano melhor. O atentado de limite, ¿ nós que somos capazes de conceber anteontem foi contra tudo isto, na sua irracional o infinito, como admitir que somos finitos?, crueldade, uma manifestação de ódio cuja para além da memória que as nossas obras e origem remonta aos que, por professarem uma acções poderão, eventualmente, deixar. Os crença, entendem poder ditar aos outros os seus bandidos que atacaram o Charlie Hebdo, com éditos e exterminá-los se não os aceitarem. Bem o seu desespero e intolerância, sentiram-se sei que as suas raízes serão sociais, coloniais, certamente parte de algo maior, sensação que e poucos terão advertido tanto para isto como as suas tristes vidas certamente não permitiria. eu, desde os bancos da faculdade onde fui Julgam que lhes está destinado um paraíso criticado porque entendia que os muçulmanos qualquer depois da morte, ganho pelo crime seriam um problema no futuro, não por causa que acabaram de cometer. Sei bem onde está da sua religião mas pelas condições sociais essa ideia: é nos livros, nos mitos infantis, que que lhes foram proporcionadas, quer nos seus vós ledes e reledes e nos quais acreditais sem países, quer numa Europa que explorou, à questionar, porque essa intolerância é única grande e à francesa, os seus pais e remeteu coisa que vos faz sentir superiores. A estupidez os filhos para bairros de lata. Tudo o que se é um direito mas, como a liberdade, acaba onde passa hoje no mundo era previsível desde começa a estupidez dos outros. E acreditem os anos 80 do século XX. Mas o que me cada vez mais sinto que, ao contrário do que choca mais é o facto dos atrasados mentais seria de esperar, vivo num mundo cheio de que cometeram este atentado o terem feito estúpidos. Aqueles e os outros.
Aurélie de Sousa
Arnaldo Branco
David Pope
Jim Brenneman
À venda na Livraria Portuguesa A Vida Privada de Estaline • Lilly Marcou
Um homem generoso e dedicado, que gostava de ter a sua família perto de si em almoços n que dificilmente associaríamos a Estaline, o responsável pela morte de milhões de pessoas e u polémicas do século XX. Mas esta obra evidencia como as atrocidades do regime conviviam dor e desvenda o homem por trás do mito, sem com isso ignorar os crimes que lhe conhecem em trinta anos de pesquisas, a historiadora francesa Lilly Marcou recorreu a fontes originai profundamente nos arquivos abertos ao Ocidente após o fim da União Soviética e entrevistou taline que sobreviveram à «Grande Purga».E o resultado surpreende. Sem se pretender prom terror estalinista, o resultado é um Estaline de carne e osso, humano, ainda que não menos vu
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Lucille Clerc
Evan Bartlett
Joep Bertrams
Tommy Dessine
na casa de campo. Esta é uma imagem uma das personagens mais marcantes e m com a esfera privada na vida do ditamos. Para escrever este livro, com base is, inéditas na sua maioria. Mergulhou u familiares e pessoas próximas de Esmover um novo julgamento dos anos de ulnerável às acusações da posteridade.
Philip de Franco
Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net
A Mística de Putin • Anna Arutunyan
Uma visão invulgar e original da figura de Vladimir Putin, no seguimento de uma longa linha de autocratas por quem o povo russo, aparentemente, tem precisado ou até desejado ser governado. Misturando antropologia, sociologia e reportagem, Anna Arutunyan relata as mais importantes «histórias» de Putin da última década, apresentando uma perspectiva de bastidores do poder de um homem cujas acções são bem dissonantes dos padrões da democracia europeia, mas que estão em consonância com a tradição da autocracia russa.
Ao Serviço de Sua Majestade • Dickie Arbiter
“Ao Serviço de Sua Majestade” é o testemunho inédito e privilegiado de Dickie Arbiter, assessor de imprensa e porta-voz da Família Real durante 12 anos. Estas são as suas memórias sobre os casos mais mediáticos e controversos da monarquia britânica e os pormenores do dia a dia no Palácio de Buckingham.- A coroação de Isabel II- O casamento de Carlos e Diana- A educação dos herdeiros- As disputas entre os membros da família real- O divórcio do futuro rei- A morte e o funeral de Diana e muitos outros momentos reveladores.
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china
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HK Governo disponível para alterar as propostas de eleição do Chefe do Executivo
Um guarda-chuva que deixou marcas A Secretária-chefe de Hong Kong, Carrie Lam, disse ontem que o Governo está preparado para alterar as propostas para a eleição do Chefe do Executivo, em 2017, de modo a obter o apoio necessário à aprovação no Conselho Legislativo (LegCo). A número dois do Governo de Hong Kong re-
conheceu, em entrevista à Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), que o consenso sobre a reforma política é cada vez mais difícil de obter, sobretudo depois da campanha de desobediência civil “Occupy”. Carrie Lam disse que as opiniões estão bastante polarizadas e que está pouco optimista quanto à obtenção do apoio de dois terços dos
deputados para a aprovação da proposta final sobre a reforma política. A responsável afirmou também que o Governo não vai desistir e que vai considerar fazer alterações às propostas para conseguir o apoio dos pró-democratas no LegCo. Não obstante, indicou que as alterações deverão estar de acordo com o quadro restritivo estabele-
Joshua Wong critica Governo em tribunal
Ele não desiste J
oshua Wong, o jovem rosto dos protestos pró-democracia de Hong Kong, criticou ontem as autoridades durante uma sessão em tribunal relacionada com a sua participação na campanha de desobediência civil que ocupou as ruas da cidade por 79 dias. Wong foi um dos 29 activistas que compareceu numa audiência preliminar no Tribunal de Última Instância sobre possíveis acusações do crime de desobediência por tentar impedir os trabalhos de remoção das barricadas nos locais de protesto, em Novembro. Na origem da contestação está o descontentamento com a proposta de reforma política apresentada por Pequim. Há muito que tinha sido prometido que Hong Kong
poderia eleger o líder do Governo em 2017 por sufrágio universal, mas o Governo Central anunciou em 2014 que tal só vai acontecer se os candidatos forem seleccionados por um comité de número reduzido e que é visto como próximo do poder. A decisão gerou uma onda de protestos que durou mais de dois meses e que foi considerada ilegal, com a polícia a prometer acusar “os principais instigadores”. Os activistas tiveram a oportunidade de falar ao tribunal e alguns gritaram “Quero democracia verdadeira”, um pedido que teve eco entre apoiantes sentados na galeria aberta ao público. “O Governo está a usar os procedimentos legais para reprimir o Movimento dos Guarda-Chuvas”,
cido por Pequim. O Governo Central decidiu no final de Agosto que os residentes de Hong Kong podem eleger o próximo chefe do executivo em 2017, mas apenas depois de os dois ou três candidatos ao lugar serem previamente validados por um comité. A decisão esteve na origem dos protestos que ocuparam as ruas de Hong Kong
durante mais de dois meses, até 15 de Dezembro. No programa da RTHK, Carrie Lam disse ainda que o Governo vai analisar com especial atenção a proposta de “voto em branco” apresentada pelo professor de Direito e membro da Comissão da Lei Básica Albert Chen Hung-yee. O académico defendeu, na semana passada, a ideia
de que a eleição para o chefe do executivo seja declarada inválida caso sejam apurados mais de metade dos votos em branco quando os candidatos oficiais forem finalmente submetidos à votação da população. O Secretário para os Assuntos Constitucionais de Hong Kong, Raymond Tam, disse também, citado ontem pelo jornal South China Morning Post (SCMP), que a proposta de Albert Chen merece ser considerada. Por outro lado, afirmou que os deputados da bancada pró-democrata iriam enfrentar consequências se vetarem a proposta final de reforma política na votação no LegCo. A segunda consulta pública sobre a reforma política foi lançada na terça-feira e vai decorrer durante dois meses. Entre outros aspectos, a nova consulta pede a opinião dos residentes sobre se os aspirantes a candidatos a líderes de Hong Kong devem garantir pelo menos cem a 150 recomendações dos 1200 membros do comité de nomeação antes de passarem por uma votação interna naquele órgão. Tal como na primeira fase de consulta, a que está actualmente em curso preconiza o apuramento pelo comité de nomeação dos dois ou três candidatos oficiais que serão finalmente sujeitos ao voto directo da população.
disse Wong, referindo-se ao nome pelo qual ficou conhecida a campanha pró-democracia de Hong Kong por usarem guarda-chuvas amarelos nos protestos. “É gastar dinheiro dos contribuintes para impedir as pessoas de tomar acções no futuro», criticou. Wong, de 18 anos, é o fundador do grupo Scholarism e tornou-se uma das vozes mais proeminentes do movimento pró-democracia. Outro líder estudantil, Lester Shum, de 21 anos, acusou as autoridades de “abusar dos procedimentos legais”. “O tribunal está a ser usado como instrumento político para a repressão”, acusou. O departamento de Justiça disse ontem que vai avançar com casos de desobediência criminal contra 22 activistas, incluindo Wong e Shum, mas não apresentou ainda uma acusação oficial, pedindo mais tempo para recolher documentação.
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China assina acordos de mais de 20 mil milhões com a Venezuela
Maduro conseguiu o que queria A Venezuela e a China assinaram novos acordos de cooperação bilateral no valor de mais de 20 mil milhões de dólares, para financiar projectos energéticos, industriais e de desenvolvimento. A assinatura dos acordos foi anunciada na quarta-feira, em Pequim, pelo Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, após um encontro com o seu homólogo chinês Xi Jinping, onde Maduro já tinha conseguido a promessa de novos investimentos.
“Estamos a confirmar um conjunto de alianças, associações de carácter económico e financeiro, comercial (…). Mantivemos um dia intenso e muito completo de trabalho com todos os nossos parceiros chineses, bancos, empresas de energia para garantir um conjunto de programas”, disse numa intervenção televisiva em que destacou a importância da cooperação bilateral. Segundo o canal estatal ‘Venezuelana de Televisão’, os novos acordos incluem ainda investimentos em pro-
Xi Jinping eleva investimento na América L atina O Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou ainda que a China fixou uma meta para elevar o investimento na América Latina até 250 mil milhões de dólares nos próximos 10 anos. Num discurso feito perante os presidentes do Equador (Rafael Correa), Venezuela (Nicolás Maduro) e Costa Rica (Luis Guillermo Solís), Xi Jinping definiu esse investimento como um dos grandes objectivos para as relações entre as duas partes, seguido do comércio bilateral que o líder do continente quer ver duplicar no espaço de uma década até aos 500 mil milhões de dólares. “A China está disposta a trabalhar com a América Latina e o Caribe para criar uma nova plataforma de cooperação”, assinalou Xi Jinping, numa cerimónia no Grande Palácio do Povo, perante delegações governamentais de 30 países da CELAC (Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe). O Presidente chinês destacou que durante o I Fórum China-CELAC vão ser elaboradas as regras para o financiamento permanente deste novo mecanismo de diálogo, nascido por iniciativa do próprio Xi. O líder explicou ainda que será assinada a “declaração de Pequim”, que definirá as directrizes de cooperação entra a China e a CELAC, e será também anunciado um plano para 2015-19 de cooperação em áreas como segurança pública, comércio, investimento, finanças, infra-estruturas, energia, recursos, indústria, agricultura e ciência.
jectos de desenvolvimento conjunto e matéria petrolífera e social, prevendo-se que empresas energéticas chinesas ampliem a participação na Faixa Petrolífera do Orinoco, a sudeste de Caracas. A Venezuela negoceia com o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco da China o fortalecimento dos mecanismos de financiamento bilateral através do Fundo Conjunto Chinês - Venezuela e do Fundo de Grande Volume. Segundo o Presidente Nicolás Maduro, a China e a Venezuela vão ainda avançar com a construção de vários projectos de habitação social, ao abrigo dos programas governamentais venezuelanos ‘Missão Habitação Venezuela’ e ‘Missão Bairro Novo Multicor’. Por outro lado, Xi Jinping prometeu uma “cooperação reforçada” com a Venezuela “em todos os domínios”. O Presidente Nicolás Maduro viajou domingo para a China, para procurar apoio financeiro após a queda do preço do petróleo, num périplo que o levará também a vários países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O preço do barril de petróleo venezuelano caiu mais de 50% desde Junho de 2014, estabilizando nos 46,97 dólares em Dezembro. Apesar de a Venezuela ter as maiores reservas de crude do mundo, as suas finanças sofrem o impacto da queda dos preços do petróleo, já que o país depende fortemente das suas receitas de crude, que garantem 96% das suas divisas.
região Equipas à procura da cauda do avião da AirAsia
Coreia do Norte pede levantamento de sanções aos EUA
A
O
s equipas de resgate da Indonésia centraram ontem os seus esforços em recuperar a secção da cauda do avião da AirAsia que se despenhou no Mar de Java a 28 de Dezembro com 162 pessoas a bordo. A atenção das equipas na cauda do avião prende-se com o facto de ser este local onde estarão as caixas negras da aeronave que registam o diálogo entre os pilotos e todos os registos do voo. “Estamos no 12.º dia de operações do resgate do AirAsia.
Esperamos recuperar a secção da cauda do avião”, assinalou o chefe das Forças Armadas indonésias, o general Moeldoko, na sua conta do Twitter antes de partir para supervisionar os trabalhos. As autoridades indonésias confirmaram visualmente na quarta-feira tratar-se da cauda do avião da AirAsia que se encontra a cerca de 28 metros de profundidade no Mar de Java. O Airbus A-320-200 da AirAsia sob o número QZ8501 descolou de Surabaia, na
Indonésia, e deveria ter aterrado duas horas depois em Singapura, mas despenhou-se 40 minutos após o início do voo no Mar de Java. A bordo seguiam 162 pessoas entre 155 indonésios, três sul-coreanos, um britânico, um francês, um malaio e um natural de Singapura. Até agora foram já recuperados 40 corpos e as autoridades acreditam que a maioria possa estar presa dentro das partes da fuselagem que se encontram no fundo do mar.
regime da Coreia do Norte pediu ontem aos Estados Unidos que levantem as últimas sanções impostas ao país e voltou a rejeitar qualquer vinculação ao ciber-ataque à
Sony no passado Novembro. “Os Estados Unidos deviam levantar todas as sanções irracionais impostas à República Popular Democrática da Coreia em todos os sectores”, afirmou a Comissão Nacional de Defesa da Coreia do Norte num comunicado citado pela agência estatal KCNA. No passado dia 2 de Janeiro, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, autorizou a imposição de novas sanções contra a Coreia do Norte em resposta ao ataque sofrido pela empresa Sony, que Washington considera ter sido da autoria de Pyongyang. O regime norte-coreano disse que a resposta dos Estados Unidos
é baseada numa “hostilidade empedernida e repugnância” para com o país comunista e assegurou que as sanções foram impostas “sem qualquer justificação clara”. Neste sentido, reclamou que Washington aceite a sua oferta para levar a cabo uma investigação conjunta sobre o ciber-ataque à Sony. As sanções surgiram como uma reacção ao ciber-ataque de 24 de Novembro, que os Estados Unidos acreditam ter sido uma retaliação pelo filme “The Interview”, uma comédia sobre uma conspiração para assassinar o líder norte-coreano, Kim Jong-un.
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ANÚNCIO A Direcção dos Serviços de Turismo faz público que, de acordo com o Despacho de 5 de Dezembro de 2014, do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto concurso público para “Prestação de Serviços do Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau”. O Programa do Concurso e o Caderno de Encargos encontram-se disponíveis, para efeitos de consulta no Balcão de Atendimento da Direcção dos Serviços de Turismo, no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, 12.° andar, Macau, a partir da data de publicação do presente aviso, dentro do horário normal de expediente, e as respectivas cópias poderão ser levantadas mediante o pagamento de MOP500,00 (quinhentas patacas). Para quaisquer esclarecimentos, a partir da data da publicação do aviso e até dez (10) dias antes do termo do prazo para a entrega das propostas, os interessados podem apresentar as suas questões, na página electrónica da Direcção dos Serviços de Turismo (http://industry.macautourism.gov.mo), sendo as respostas, também, dadas nesta mesma página electrónica. O limite máximo do valor do concurso é de MOP20.000.000,00 (vinte milhões de patacas). Os critérios de apreciação das propostas e os respectivos factores de ponderação são os seguintes: - Conhecimento do conteúdo de prestação de serviços do plano (35%); - Método do plano e programa de trabalho das diferentes fases (20%); - Preço (15%); - Experiência (30%). Os concorrentes devem entregar as suas propostas redigidas em chinês, português, ou inglês no Balcão de Atendimento da DST, no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’ Assumpção, n. os 335-341, 12.° andar, Macau dentro do horário normal de expediente, cujo prazo de entrega é até às 17:45 horas do dia 2 de Março de 2015. Devem, ainda, os concorrentes prestar uma caução provisória, no valor de MOP400.000,00 (quatrocentas mil patacas). A forma de pagamento dessa caução provisória pode ser: 1) mediante depósito bancário à ordem, do Fundo de Turismo, no Banco Nacional Ultramarino; 2) garantia bancária; 3) depósito entregue nesta Direcção dos Serviços de Turismo em numerário, em ordem de caixa ou em cheque visado, emitidos à ordem do Fundo de Turismo; ou 4) por transferência bancária para a conta do Fundo de Turismo, no Banco Nacional Ultramarino de Macau (conta n.º 8003911119) . O acto público do concurso realizar-se-á no Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’ Assumpção, n.os 335-341, 14.° andar, Macau, pelas 10:00 horas do dia 3 de Março de 2015. Em caso de encerramento desta Direcção de Serviços, por causa de tempestade ou força maior, o termo do prazo de entrega das propostas, a data e a hora de abertura das propostas serão adiadas para o primeiro dia útil, imediatamente seguinte, à mesma hora. Os representantes legais dos concorrentes deverão estar presentes no acto público do concurso para efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados ao concurso, nos termos do artigo 27.° do Decreto-Lei n.° 63/85/M, de 6 de Julho. Direcção dos Serviços de Turismo, aos 18 de Dezembro de 2014. A Directora dos Serviços Maria Helena de Senna Fernandes
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artes, letras e ideias
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Flores de Plástico na Guarita
Zhang Er
Uma poetisa chinesa na capital do império
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poetisa sino-americana ZHANG ER nasceu em Pequim, China, e mudou-se para Nova York em 1986. É também médica. Publicou quatro antologias de poesia em chinês, a mais recente Yellow Walls: A String of Doors (2010), além de edições bílingues como So Translating Rivers and Cities (2007) e Verses on Bird (2004). Foi co-editora da importante colectânea de poesia chinesa contemporânea Another Kind of Nation: An Anthology of Contemporary Chinese Poetry (2007). Reside em Olympia, Washington. Leciona actualmente no Evergreen State College, em Washington.
Acha que a leitura de poesia tem algum efeito? Sim, para mim a poesia é a essência da vida. Sem ela, a vida seria pura rotina. Por isso, o “efeito” é que ainda estou aqui e gostando de nossa imperfeição.
Lê poesia? Sim, naturalmente.
Qual o melhor efeito que imagina para a prática da poesia? “Praticar poesia” é uma frase fascinante que abrange mais do que apenas escrever / ler / publicar. Implica viver uma vida poética. Praticar poesia, para mim, significa conservar a curiosidade para com a vida, para com outras mentes, para com outras mentes possíveis.
Que poesia lê? Leio poesia chinesa clássica e contemporânea. Também leio o trabalho de poetas americanos, uma vez que agora vivo nos Estados Unidos. Adoro ler poesia de outras línguas traduzida para o chinês.
O que espera ao escrever poesia? Como toda jornada para uma selva desconhecida, nunca se sabe completamente o que esperar do novo poema a ser escrito, ou mesmo do novo verso. O elemento intrigante de escrever poesia é, em parte, devido à imprevisibilidade da empresa.
Acha que a sua poesia tem interesse público? Sim, pois eu sou parte do público. Qual o melhor suporte para a sua poesia? O trabalho de outros poetas e uma imprensa livre. Qual o melhor resultado que espera da publicação da sua poesia? Algum reconhecimento e uma resenha séria seriam óptimos. Qual o melhor leitor do seu livro de poesia? Alguém que ame a poesia e que se interesse o suficiente para oferecer uma análise crítica. O que mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia? Ter mais tempo livre para escrever e mais oportunidade de publicar meu trabalho futuro.
Não fique refazendo o quotidiano! Beleza em si, não – a busca pelo mesmo. Em 500 anos, o plástico indigesto emerge agora como Arte Clássica. Quanto a você, você é a Eternidade: fluindo sem parar, prestando toda atenção voraz aos limites das coisas. A tesoura silhueta recorta o espaço para vários volumes e superfícies! Muito bem, então, como tratar da vida, e suas necessidades transitórias? A fome, por exemplo, o sexo e (ta lá!) o contrato de casamento? Montanhas, rios todos se precipitam homens , mulheres, suas entusiásticas criações onde metê-las todas? O que sustenta isso? Um céu sem sentido combina com o vaso de flores de plástico, floresce um luminoso sorriso industrial. Que seja diferente. Que seja puro. não se mova, não se mexa não queira caixinhas de macarrão instantâneo, pontas de cigarro, garrafas de soda não queira lenço-papel, coração de fruta, saco de lixo não queira um outro prato frio ou galinha em dados com molho ao alho não queira em cores, negativo ou positivo não queira som, nem o enredo não queira uma grande cena, nem os atores não queira lágrimas, nem mágoa não precisa de roupas de grife, maquiagem nem de sutiãs, calcinhas floridas não queira sangrar não exploda a velha casa não represe o rio, construa ao invés a ponte me conte a história, não pontifique não me olhe desse jeito não me dê maçã em caroço me abrace apertado não permita que essa mão cheia de cristal claro se mude em sopa turva me abrace apertado não deixe sua correnteza escura arrastar essas manhãs, tardes, noites cheias de riso cheias de Tradução para português de Aurora Bernardini
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Desporto
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“Taça da Corrida China” espera regressar ao Circuito da Guia
Vontade de pôr o pé na RAEM
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epois da estreia em 2014 no programa do Grande Prémio de Macau, os organizadores da “Taça da Corrida Chinesa” ambicionam voltar ao Circuito da Guia este ano. Em declarações ao portal de automobilismo português SportMotores.com, Leo Zhang Yi, um dos responsáveis da Shanghai Lisheng Racing Co, a empresa chinesa promotora do campeonato, afirmou a vontade de regressar ao carismático evento da RAEM no final do ano. “Já começámos a trabalhar para 2015. Os técnicos já estão a
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selecção portuguesa de futebol manteve-se no sétimo lugar no primeiro ranking da FIFA de 2015, publicado ontem, continuando a partilhar a posição com a França, numa lista que ainda é liderada pela Alemanha, campeã mundial. Três meses depois de ter reentrado no top-10, o que não acontecia desde Julho, Portugal, orientado por Fernando Santos, mantém-se seguro entre a elite do grupo dos dez melhores, que não sofreu qualquer alteração na primeira tabela do ano. A Alemanha continua a liderar a hierarquia, seguida da Argentina, vice-campeã mundial, e da Colômbia, enquanto o Brasil perma-
trabalhar nos carros no Circuito Internacional de Guangdong”, disse Zhang Yi, salientando ainda que “o calendário desta temporada ainda não foi decidido”. Sobre a eventualidade do patriótico troféu monomarca regressar ao histórico Circuito da Guia no próximo mês de Novembro, o responsável chinês realçou que se está a “trabalhar na corrida de Macau agora, mas antes da Conferência de Imprensa do Grande Prémio, nada é certo”. A prova do ano transacto nas ruas do território completou um mini-calendário de quatro even-
tos realizados em Penbay (Taipei Chinês), Guangdong, Xangai e Macau. Cada federação da “Grande China” tem a sua equipa cujos representantes são facilmente reconhecidos pelas cores do carros: vermelho para a equipa da Federação do Desporto Automóvel da China (FASC), verde para a da Associação Geral de Automóvel de Macau-China (AAMC), amarelo para a Associação de Automóvel de Hong Kong (HKAA) e azul para a equipa da Associação do Desporto Automóvel de Taipé Chinês (CTMSA). Cada associação tinha à sua disposição cinco carros Se-
nova D70 ou “Shenbao” D70, um carro que tem como base o Saab 9-5. Todos os carros são iguais e equipados com pneus, acessórios e componentes “made in China”,
Para além da Grande China Wesley Wan Wai Hei, o sempre opinativo ex-presidente da Associação Automóvel de Hong Kong, disse, na sua habitual crónica mensal na revista Automobile de Hong Kong, que o conceito da “Taça da Corrida Chinesa” mereceu rasgados elogios dos organizadores do Campeonato do Mundo FIA de Carros de
FIFA Selecção portuguesa no sétimo lugar do ranking
Posição partilhada
preparados pela mesma equipa, sendo que um dos cinco bólides deveria ter sido conduzido por um piloto do sexo feminino, o que apenas não aconteceu porque Macau foi incapaz de nomear a sua concorrente. Contudo, a nova época poderá trazer novidades no que respeita às equipas participantes. “Em 2014, havia quatro equipas na Taça Chinesa, que representavam a China continental, Hong Kong, Macau e o Taipé Chinês. Em 2015 vão ser cinco, pois haverá uma quinta [equipa] para convidados”, confirmou Zhang Yi. A introdução de “wild cards”, ou pilotos pagantes, foi estreada precisamente no Grande Prémio de Macau, com os lugares na prova a serem cotados no mercado por cerca de 190 mil patacas. Para a história da competição altamente patrocinada pelo construtor automóvel chinês BAIC e também do Grande Prémio fica a vitória de Samuel Hsieh, à frente do veterano Kenneth Look, numa dobradinha dos pilotos de Hong Kong, enquanto Guo Hai Sheng, da China continental, completou o pódio. David Zhu, também da China, foi o campeão e a FASC venceu a competição de federações. A AAMC terminou na última posição da primeira edição deste torneio que juntou as quatro associações automóveis da Grande China, sendo que o seu melhor representante foi o macaense Hélder Assunção que terminou na nona posição.
Turismo (WTCC) e apelou a uma maior sinergia entre as duas competições. Wan, filho de um antigo membro do Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e grande impulsionador desta competição, também expressou que gostaria de ver este conceito expandir-se no Sudeste Asiático nos próximos anos.
nece no sexto posto. Para a lista do mês de Janeiro foram contabilizados 16 jogos internacionais, 11 deles disputados ainda em 2014. Entre os Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Cabo Verde, que prepara em Portugal a participação na Taça das Nações Africanas (CAN2015), na Guiné Equatorial, desceu uma posição, surgindo hoje no 40.º lugar. Na CAN2015, Cabo Verde, pela segunda vez consecutiva numa fase final da prova, estreia-se a 18 de Janeiro, frente à Tunísia e, três dias depois, defronta a República Democrática do Congo, terminando a fase de grupos a 26, frente à Zâmbia.
Tal como a selecção cabo-verdiana, Angola, que falhou o apuramento para a CAN2015, caiu uma posição, para o 81.º posto da hierarquia mundial. O Irão, orientado por Carlos Queiroz e que também está prestes a disputar a Taça das Nações Asiáticas, mantém o estatuto de melhor de melhor selecção da Ásia, a apenas uma posição do ‹top-50› (continua em 51.º). O Gabão, que o treinador português Jorge Costa ajudou a qualificar para a CAN2015, subiu três lugares e surge este mês na 62.ª posição, enquanto a Etiópia, treinada por Mariano Barreto, recuperou dois lugares, seguindo agora em 109.º.
( F ) utilidades
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Cineteatro
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45-70%
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euro
9.4
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Com: Jeff Bridges, Julianne Moore, Ben Barnes 14.30, 16.30, 21.30
taken 3 [c]
Um filme de: Oliver Megaton Com: Liam Neeson, Forest Whitaker, Famke Janssen 14.00, 15.55, 17.50, 21.30
seventh son [3d] [C]
Um filme de: Sergei Bodrov Com: Jeff Bridges, Julianne Moore, Ben Barnes 19.30
night at the museum: secret of the tomb [B]
Um filme de: Shawn Levy Com: Ben Stiller, Robin Williams, Owen Wilson 19.45
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yuan
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O que fazer esta semana
Seventh Son Sala 1
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Sala 3
women who flirt [b] (Falado em mandarim com legenda em chinês e inglês) Um filme de: Pang Ho-Cheung Com: Zhou Xun, Huang Xiao Ming 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Sala 2
seventh son [C]
Um filme de: Sergei Bodrov
Aconteceu Hoje
• Hoje Exposição Fotográfica de Tam Kai Hon “Brilhante” Centro UNESCO de Macau, 18h30 Entrada livre
8 de janeiro
Nasce Nixon, o mais polémico Presidente dos EUA • A 9 de Janeiro, recorda-se uma figura histórica dos EUA: Richard Nixon, 37.º Presidente norte-americano, cujos mandatos estão associados ao escândalo Watergate. Nixon nasceu neste dia, em 1913. Richard Nixon foi eleito Presidente dos EUA em 1968, sucedendo a Lyndon Johnson. Viria a recandidatar-se em 1972, derrotando o senador democrata George McGovern, de forma esmagadora, com triunfos em 48 dos 50 estados. Nixon ainda hoje é o único Presidente dos EUA que decidiu renunciar ao cargo. Esta decisão, em 1974, surge na sequência do seu envolvimento em denúncias de escutas ilegais, no Partido Democrata, num caso que provocou cinco detenções. Nixon sabia deste escândalo, que marca eternamente a história política dos EUA. Uma obra polémica publicada recentemente dá conta de uma relação que Richard Nixon terá mantido com um banqueiro norte-americano. O livro, chamado ‘Nixon’s Darkest Secrets’, da autoriadeDonFulsom,jornalistacorrespondentedaCasaBranca, levanta o véu sobre “o mais problemático Presidente dos EUA”. A obra revela ainda que o antigo Presidente norte-americano era conhecido entre os seus assessores como “O Nosso Bêbado”. Segundo o autor Don Fulsom, Richard Nixon, além de “alcoólico”, era “muito violento com a sua mulher” e maltratava-a de forma reiterada. ‘Os Segredos Mais Obscuros de Nixon: A História do mais Problemático Presidente da América’ conta ainda a história de uma relação homossexual entre Nixon e um banqueiro com alegadas ligações à máfia: Charles Rebozo. Segundo o FBI, Rebozo – figura sempre presente na Casa Branca – tinha um relacionamento muito próximo com Santo Trafficante e Alfred Polizzi, os maiores gangsters da década de 60. A proximidade com Nixon foi íntima: ambos terão sido vistos, num jantar, de mão dada. Para escrever este livro, Fulsom recorreu a informações que foi recolhendo, ao longo dos tempos em que foi jornalista e correspondente da residência oficial do Presidente, nos tempos em que Nixon liderava os EUA. Mas o autor foi buscar relatórios oficiais e realizou diversas entrevistas com funcionários da Casa Branca.
João Corvo
• Amanhã Palestra “Um País Fantástico: A Compreensão da História Chinesa por Michał Boym e pelos Sinólogos Europeus da Sua Época” Biblioteca Sir Robert Ho Tung, 15h00 Entrada livre
• Diariamente Exposição “Ponto de Partida: Pinturas de Dennis Murrel e dos seus Artistas” (até 31/01) Fundação Rui Cunha, 18h30 Entrada livre
U m D isco H oje ‘Jayesslee EP (Studio Sessions)’ (Jayesslee, 2012) As gémeas coreanas Janice e Sonia nasceram na Austrália e começaram em 2008 a cantar músicas populares e a partilhar as suas vozes no YouTube. Sonia toca sempre guitarra, enquanto Janice é sempre a vocalista. Mesmo que ainda não sejam artistas oficiais, as irmãs já foram convidadas para cantar na China, Singapura, Estados Unidos e outros países. Este é o primeiro disco e conta com a canção original ‘Offically missing you’, em que as manas cantam o amor e a saudade que se sente de uma pessoa que está longe de nós. - Flora Fong
fonte da inveja
Cada cor seu paladar. E todas sabem mal.
Exposição de sândalo vermelho (até 22/03) MGM Resort Entrada livre Exposição de pintura “113º 55’ E 21’ 11’N”, de Sofia Areal (até 12/01) Casa Garden Entrada livre Exposição de pintura “Korean Art”, com Oh Young Sook e Kim Yeon Ok (até 15/02) Galeria Iao Hin Entrada livre Exposição de Design de Cartazes “V•X•XV:” (obras de 1999, 2004 e 2009) [até 15/03] Museu da Transferência da Soberania de Macau, 10h00 às 19h00 Entrada livre Exposição “Transmutation” e “Foam Tip” (pintura e porcelana, por Carol Kwok e Arlinda Frota) Signum Living Store, 18h30 Entrada livre
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opinião
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jorge rodrigues simão
perspectivas
As conclusões da COP 20 “Nitrous oxide (N2 O) emissions continue to increase globally. N2 O is a powerful greenhouse gas that causes stratospheric ozone layer depletion. Sometimes referred to as the ‘forgotten greenhouse gas’, it is over 300 times more effective at trapping heat in the atmosphere than carbon dioxide (CO2) over a 100-year period.”
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UNEP YEAR BOOK 2014: Emerging issues in our global environment
“Conferência das Partes (COP 20) ”, como órgão máximo da “Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC na sigla inglesa) ‘ realizada em Lima, entre 1 e 14 de Dezembro de 2014, com a participação de mais de dez mil delegados de 195 países, tinha como objectivo reduzir as concentrações de “gases de efeito de estufa (GEE) ” na atmosfera. As “Partes” reúnem-se uma vez por ano, durante duas semanas, para estudar a aplicação da “Convenção” e desenvolver o processo de negociação face a novos compromissos. As “Partes’’, por força da “Convenção”, têm responsabilidades comuns, ainda que diferenciadas, tendo em consideração o carácter específico das suas prioridades nacionais e regionais de desenvolvimento, objectivos e circunstâncias. As suas responsabilidades são a de adquirir e partilhar informação sobre as emissões de “GEE”, políticas nacionais e melhores práticas. As “Partes”, têm ainda, o dever de executar as estratégias nacionais para prevenir e reduzir o problema das emissões de “GEE”’, adaptarem-se aos impactos das mudanças climáticas previstos, determinar a prestação de apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento, bem como cooperar, tendo em vista, a preparação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. A “COP 20”, conjuntamente, com a “Cimeira sobre o Clima”, realizada a 23 de Setembro de 2014, em Nova Iorque, foram indubitavelmente dos eventos mais importantes do passado ano, pela magnitude que revestiu a discussão dos temas apresentados, deles dependendo o consenso dos intervenientes para a elaboração de um “Acordo Universal sobre o Clima”, a ser assinado, aquando da realização da “COP 21”, entre 1 e 15 de Dezembro de 2015, em Paris, e que irá substituir o “Protocolo de Quioto”, a partir de 2020. As duas semanas de negociações, entre todos os intervenientes activos, permitiram fazer alguns avanços, não tão importantes como se desejaria e como a organização propagandeou. As expectativas, ainda que ténues, esperavam pela elaboração de uma minuta de trabalho suficientemente abrangente e sólida que evitasse negociações árduas e complexas, em 2015, e que contivesse todos os elementos base do novo “Acordo Universal sobre o Clima”. O do-
cumento que resultou da “COP 20”, contém alguns elementos do novo acordo, não estando definitivamente assentes, tendo os países chegado a consenso quanto a algumas regras, como por exemplo, nas referente à forma como podem contribuir para a elaboração do documento final, durante o primeiro trimestre de 2015, ou seja, que tudo continua em aberto e à espera de um consenso global. As “Contribuições Intencionais Nacionalmente Determinadas (INDC na sigla em inglês)” serão os pilares da acção climática posterior a 2020, quando entrar em vigor o novo acordo. Os elementos contidos no novo acordo apenas sofreram uma pequena evolução durante a “COP 20”, esperando-se que continuem a progredir na “Reunião de Genebra”, de Fevereiro de 2015 e durante o “Evento de Alto Nível”, a realizar, a 29 de Junho de 2015, em Nova Iorque, promovido pelo Secretário-geral da ONU, que tem por objectivo dinamizar o processo, para que assinatura do novo acordo possa ser uma realidade durante a “COP 21”. As conclusões da “COP 20” que tinha por tema “Apelo de Lima para a Acção Climática” e continha aspectos como a mitigação, adaptação, perdas e danos e financiamento, foi aprovado após a apresentação de diversos documentos polémicos, não definindo muitos dos objectivos ambicionados e essenciais que ficaram remetidos para discussão nas duas reuniões que antecedem a “COP 21”.
vimento, perfazem o montante de 10,2 mil milhões de dólares, ultrapassando o objectivo inicial de 10 mil milhões de dólares. É de esperar que na sequência da “COP 20”, sejam adoptados mais “Planos Nacionais de Adaptação”, capazes de ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas em contínua evolução negativa e que seja assegurado o necessário financiamento. A “Declaração Ministerial de Lima sobre Educação e Consciencialização” apelou aos países que incluíssem as mudanças climáticas nos seus currículos escolares, bem como a consciencialização climática contida nos planos nacionais de desenvolvimento. A Secretária Executiva da “UNFCCC’’, afirmou algo muito importante, traduzido no facto dos países terem iniciado os trabalhos da “COP 20”, condicionados por uma vaga de informações positivas e optimistas, fruto das comunicações das acções climáticas da UE, China e Estados Unidos, bem como do aumento das contribuições para o “Fundo Verde para o Clima”. É de realçar que existe a ideia que os países saíram da “COP 20”, reforçados em termos positivos e optimistas, com um inicial consenso quanto a um conjunto de decisões fixas e com agendas de acção que incluem a forma de fazer aumentar o financiamento à adaptação, bem como medidas florestais e em educação, pelo que se assim for, algo de relevante se conseguiu.
A ratificação é necessária à tomada de decisão quanto ao momento preciso para a acção climática até 2020. A “COP 20” apresentou o novo portal de acção climática como parte da “Agenda de Acção Climática de Lima” O Ministro do Ambiente do Peru e Presidente da “COP 20” afirmou que o seu país impulsionou o processo de negociações, com o fim de acelerar a adaptação e construir a resiliência num mundo em desenvolvimento, e o fortalecimento da ligação entre o financiamento e os planos nacionais de adaptação. Os países concluíram a “COP 20” com a clara sensação de que será a “Reunião de Genebra” que irá traçar o esboço final do novo acordo. O cenário não é muito optimista, dado que o conteúdo do novo acordo irá criar duras responsabilidades aos países, principalmente, aos desenvolvidos, criando sérios obstáculos ao seu desenvolvimento, agravando os problemas sociais das recessões económicas não terminadas e do novo fantasma da deflação, em que, a União Europeia (UE) se encontra mergulhada. Todavia, e porque nem tudo é negativo, a “COP 20”, adoptou decisões importantes, como a criação de metas no processo climático internacional. Os anúncios de contribuições para o “Fundo Verde para o Clima”, pelos países desenvolvidos e em desenvol-
As negociações da “COP 20” atingiram um novo nível de realismo e entendimento sobre as acções a realizar em 2015 e nos anos e décadas futuros, se quisermos fazer face de forma determinada às mudanças climáticas. A “Iniciativa de Lima em Conhecimento e Adaptação”, animou os trabalhos, realizando progressos, como o de elevar a questão da adaptação ao mesmo nível que a limitação e a redução de emissões de “GEE”. Os “Planos Nacionais de Adaptação (NAP na sigla inglesa) ” foram reconhecidos, como sendo, um importante instrumento para a criação de resiliência. O mecanismo de discussão com o “Fundo Verde para o Clima” que servirá de apoio aos países quanto aos seus “Planos Nacionais de Adaptação” foi aprovado, devendo aumentar o número de planos que irão conseguir tal ajuda. A “Iniciativa de Lima em Conhecimento e Adaptação” é um projecto-piloto nos Andes na linha de acção do “Programa de Trabalho de Nairobi” que pretende demonstrar, que a definição das necessidades de adaptação das comunidades pode ser abordadas com sucesso.
Os países apoiaram a ideia de exportar este projecto aos países menos desenvolvidos, como os “Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento” e a África. O “Comité Executivo para o Mecanismo Internacional de Varsóvia para Perdas e Danos” foi confirmado por um período de mais dois anos com uma representação equilibrada de membros de países em desenvolvimento e desenvolvidos. Foi acordado um programa de trabalho com a supervisão do Comité Executivo. O programa de trabalho contém uma rica variedade de áreas de acção, que têm por objectivo aumentar o entendimento de como as perdas e danos causados pelas mudanças climáticas afectam, particularmente, os países em desenvolvimento mais vulneráveis e as suas populações, inclusos os grupos indígenas e as minorias. O programa procurará um maior entendimento sobre como as mudanças climáticas afectam as migrações humanas e a deslocação. O Presidente da “COP 20” criou a “Rede Global NAP”, constituída pelo Peru, Estados Unidos, Alemanha, Filipinas, Togo, Reino Unido, Jamaica e Japão. Quanto a financiar a resposta às mudanças climáticas, os países fizeram progressos no que diz respeito à coordenação das contribuições ao financiamento climático, bem como dos diversos fundos existentes. A Noruega, Austrália, Bélgica, Peru, Colômbia e Áustria anunciaram as suas contribuições ao “Fundo Verde para o Clima”. A Alemanha, anunciou a contribuição de 55 milhões de euros ao “Fundo de Adaptação”. A China anunciou a contribuição de 10 milhões de dólares destinados à cooperação Sul-Sul, duplicando essa soma em 2015. A “Emenda de Doha ao Protocolo de Quioto” foi aceite por Nauru e Tuvalu que apresentaram os seus instrumentos de aceitação. A “Emenda” foi aceite por vinte e um países, sendo necessária a aceitação de mais cento e quarenta e quatro países para a sua entrada em vigor. A ONU incentiva os países a acelerarem a ratificação do segundo período de compromissos do “Protocolo de Quioto”, como tratado internacional para a redução de emissões de “GEE”. A ratificação é necessária à tomada de decisão quanto ao momento preciso para a acção climática até 2020. A “COP 20” apresentou o novo portal de acção climática como parte da “Agenda de Acção Climática de Lima”. O novo portal de acção climática apresentado pelo Peru, com apoio na “UNFCCC” visa aumentar a visibilidade da abundância de acções climáticas que realizadas pelas cidades, regiões, empresas e investidores, incluindo as iniciativas de cooperação internacional. O portal, chamado “Portal NAZCA de Acção Climática”, está desenhado para introduzir um ímpeto adicional ao processo do “Acordo Universal sobre o Clima”, demonstrando a riqueza da acção que levam a cabo os actores não estatais.
opinião 19
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Isabel Castro
contramão
1. Não deve haver estatísticas sobre o assunto, mas aposto que as pessoas com sentido de humor devem estar em minoria no mundo. Ter sentido de humor não se aprende na escola, não vem nos livros, não se adquire com medicação, não há vitaminas que fortaleçam o riso sentido. Parte do mundo passa a vida em guerras estúpidas e fomes evitáveis. A outra parte, a mais serena, é também deprimente quanto baste, ainda que por outras razões. Quando nos nascem os filhos não temos a preocupação de educar as crianças para a necessidade do riso. E é importante rirmo-nos de nós, aprendermos a ironizar com aquilo que somos, porque só assim crescemos saudáveis. O que aconteceu esta semana na redacção do Charlie Hebdo vem demonstrar que o mundo não cresceu. Queremos acreditar que os séculos passam e a civilização conquista maturidade, mas não, não estamos sincronizados no modo como vemos o mundo, como sentimos os outros. Temos risos demasiado diferentes para podermos ser considerados iguais uns aos outros, apesar de, em teoria, sermos iguais uns aos outros. A verdade é que há um mundo que parou, outro que voltou para trás, outro que anda em círculos, e depois há também pessoas que querem que o mundo ande para a frente. Os três encapuzados que entraram a matar numa redacção de uma publicação satírica pertencem à categoria dos medievais, daqueles que vivem na idade das trevas, que não sabem o que é ser feliz, porque não descobriram ainda como é bom rirmo-nos de nós. É o riso mais saudável de todos, aquele que sabe melhor e o que garante a paz. 2. Por cá, onde alturas há em que os nossos problemas se tornam risíveis, a semana chegou com uma declaração que mereceu o aplauso de muitos e as dúvidas de outros tantos. Alexis Tam, o novo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, disse em voz alta, para os gravadores dos jornalistas, aquilo que a população que recorre aos serviços de saúde anda a dizer, em voz baixa e às vezes em voz alta também, há uma mão cheia de anos. Em traços gerais, o responsável pela tutela da saúde veio dizer que a saúde que temos é mal gerida, não basta, tem de ser emendada. E deu um ano aos responsáveis pelo sector para darem a volta ao texto, o que, no caso, significa fazer uma revolução. Ou dar corda aos sapatos. Antes de mais, agrada-me a ideia de um governante desta terra concordar com o que as pessoas dizem. É cansativo o discurso oficial do contra em prol da harmonia,
“The Virgin Spring”, Ingmar Bergman
Do riso e da negação
Assumir o que deve ser assumido é bom. Faz-nos crescer. É como sermos capazes de nos rirmos de nós numa tentativa parvinha de tapar o sol com a peneira, de gatos escondidos com rabos de fora, de negação do que é evidente. Só porque decidiu não ser assim, não agir assim, agrada-me a postura de Alexis Tam. Sempre serve para arejar o que cheira a mofo. Sucede, porém, que as palavras não bastam. São importantes porque já são acção, mas não chegam – e no caso con-
creto, no caso da saúde, as palavras serão claramente insuficentes se não existirem consequências, porque as consequências de serviços de saúde sem qualidade são graves. Sem piada. Talvez paradoxalmente, o secretário preferiu manter, por enquanto, uma equipa que, de acordo com o próprio, não tem sido capaz de dar conta do recado. Outros fariam de forma diferente – afastariam quem não tem capacidade de gerir e optavam por iniciar a revolução agora, porque urge e não se compadece com compassos de espera. É mesmo preciso dar corda aos sapatos. Nesta promessa de uma saúde com qualidade, Alexis Tam subiu a fasquia, assumiu um compromisso concreto com quem vive aqui – algo a que também não estamos
habituados. Um compromisso concreto e grande, de peso, importante. Espero que se revele acertada a opção da manutenção de pessoas que têm andado a ver se escapam entre os pingos da chuva. Que o aviso que lhes foi deixado sirva para acordarem do torpor em que têm andado. Que o exemplo do secretário – o reconhecimento de que as coisas não estão bem – faça com quem tenham a noção de que também elas têm de reconhecer que as coisas não estão bem. Não deve haver estatísticas sobre o assunto, mas aposto que a negação é das características mais comuns entre quem decide. Assumir o que deve ser assumido é bom. Faz-nos crescer. É como sermos capazes de nos rirmos de nós.
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com. mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
hoje macau sexta-feira 9.1.2015
Portugal Governo reforça combate ao terrorismo
A ministra da Justiça afirmou ontem que os diplomas aprovados em Conselho de Ministros são essenciais para um combate “intransigente” e “reforçado” à criminalidade internacional, incluindo o terrorismo e a exploração sexual. Segundo Paula Teixeira da Cruz, parte dos quatro diplomas aprovados estão relacionados com a “cooperação judiciária internacional” e são “essenciais” no combate à criminalidade internacional, designadamente o terrorismo e a exploração sexual. Questionada sobre as implicações do atentado em Paris, a ministra da Justiça assegurou que todos os países da união europeia têm “planos nesta matéria”, nomeadamente em termos de “coordenação das forças de segurança”. Deixou ainda uma palavra de tranquilidade aos portugueses, dizendo que “há uma monotorização constante” da situação e o “acompanhamento das experiências análogas”.
Del Piero Ronaldo é o futuro
Alessandro del Piero, avançado que joga pelos indianos do Delhi Dynamos, teceu enormes elogios acerca de Cristiano Ronaldo, considerando que o internacional português é o futebolista do “futuro”. “As estatísticas pessoais de Cristiano Ronaldo são verdadeiramente impressionantes. Muito se tem falado sobre o conceito do jogador moderno... Ronaldo não é apenas moderno, é também o futuro”, começou por afirmar em entrevista ao site da FIFA. “Messi, por seu lado, é o verdadeiro número 10.”, explicou. Apesar dos elogios ao português e ao argentino, Del Piero aponta o guarda-redes alemão Manuel Neuer como possível vencedor da Bola de Ouro: “Não vou dizer que é o meu preferido mas vou arriscar numa previsão e dizer Neuer”.
cartoon por Stephff
decapitação da torre Eiffel
FIFA excluiu Português da sua página oficial
A língua portuguesa foi excluída da página oficial da FIFA desde o início do ano de 2015 ficando assim indisponíveis os conteúdos para mais de 200 milhões de pessoas no mundo que têm o português como língua nativa. A poucos dias da cerimónia de entrega da Bola de Ouro 2014 em que há um candidato finalista português, a FIFA retirou os conteúdos em língua portuguesa da sua página oficial ficando apenas disponíveis os serviços em inglês, espanhol, francês, alemão e árabe. Numa mensagem intitulada “Do Brasil à Rússia”, o organismo máximo que rege o futebol mundial despede-se dos momentos vividos no Brasil em 2014 deixando a promessa de futuros conteúdos em russo devido ao próximo campeonato do Mundo em 2018.
Charlie Hebdo Suspeitos do massacre localizados em Aisne
Papa condena atentado O
s dois suspeitos do atentado contra o semanário Charlie Hebdo foram vistos esta quinta-feira em Aisne, no norte de França, a 105 km de Paris. Os dois homens estão fortemente armados e andam num Renault Clio, afirmou à France Press o dono de uma bomba de combustível próximo de Villers-Cotterêt. Entretanto, outra fonte citada pela mesma agência disse que “os dois homens estavam encapuzados, tinham kalachnikov e lança-roquetes”. Os dois irmãos, Cherif Kouachi e Said Kouachi, de 32 e 34, continuam a monte, enquanto que o terceiro suspeito, o mais novo, de 18 anos, Hamyd Mourad, já se entregou às autoridades ainda na quarta-feira à noite. Cherif é um jihadista conhecido dos serviços antiterroristas franceses. Em 2008, participou numa rede de envio de combatentes para a Al-Qaeda no Iraque, crime pelo qual foi condenado a três anos de prisão, 18 meses dos quais a pena suspensa. Entretanto, o ataque ao Charlie Hebdo levou a que durante a madrugada de quinta-feira três locais de culto muçulmanos fossem atacados. Não há informação de vítimas, segundo fontes judiciais citadas pela France Press. Um dos casos aconteceu contra uma mesquita em Le
Mans, onde foram lançadas três granadas de exercício. Uma sala de oração muçulmana em Port-la-Nouvelle também foi atacada por dois tiros e um restaurante em Lyons, perto de uma mesquita foi alvo de explosão .
“Crueldade humana”
Por seu lado, o papa Francisco disse ontem que o atentado contra a revista francesa Charlie Hebdo foi um acto de “crueldade humana” e pediu orações pelas vítimas. “O atentado de ontem (quarta-feira) em Paris faz-nos pensar na grande crueldade humana. No terrorismo, nos actos isolados e no (terrorismo) de Estado”, disse Francisco. “O homem é capaz de tanta crueldade”, referiu o papa, na tradicional missa da manhã no Vaticano, antes de pedir uma oração pelas vítimas do ataque contra a revista francesa. O papa Francisco pediu também para os católicos rezarem “pelos cruéis, para que o Senhor lhes mude o seu coração”. Francisco expressou na quarta-feira uma “firme condenação pelo horrível atentado que semeou morte” juntando-se à consternação da sociedade francesa. Através de um comunicado, o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, informava que o papa rezava “pelo sofrimento dos feridos” e pelas famílias dos 12 mortos.
O papa Francisco manifestou-se também contra a “difusão do ódio e a qualquer forma de violência física e moral” que possam destruir a vida, violar a dignidade, atingindo radicalmente a convivência pacífica entre as pessoas e os povos. Segundo o gabinete de imprensa do Vaticano, o papa endereçou os pêsames às famílias das vítimas do atentado unindo-se “à dor e à tristeza de todos os franceses”.
Le Pen promete pena de morte
“Pessoalmente acredito que a pena de morte deveria integrar o nosso arsenal legal. Vou oferecer a França um referendo sobre a pena de morte, porque na minha opinião essa possibilidade deveria existir”, disse ontem Mariane Le Pen. Com linguagem bélica, a líder da extrema-direita aproveitou, esta manhã, o sangrento ataque de ontem ao jornal “Charlie Hebdo” em Paris, que provocou 12 mortos, para prometer reintroduzir a pena de morte em França caso seja eleita presidente nas próximas eleições de 2016. “Sempre disse que que iria oferecer aos cidadãos franceses a possibilidade de se expressarem sobre esse assunto num referendo”, sublinhou a filha do histórico líder de extrema-direita, Jean Marie Le Pen, que é a actual líder do partido Frente Nacional.
PS apresenta diploma sobre adopção por casais gay
O PS deverá apresentar na Assembleia da República um diploma próprio que legalize a adopção por casais do mesmo sexo, de modo a que suba a plenário no debate agendado para 21 de Janeiro pelo Bloco de Esquerda para debater o projecto o reconhecimento deste direito. No mesmo plenário deverá ainda ser discutido um diploma dos Verdes sobre o mesmo assunto. O BE apresenta também o projecto sobre apadrinhamento civil. António Costa apoia esta alteração à lei.
Cuba libertou presos políticos
Cuba libertou uma parte dos 53 presos políticos cuja libertação era reclamada pelos Estados Unidos, no quadro da reaproximação diplomática anunciada em meados de Dezembro. A libertação foi confirmada nesta terça-feira pela porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Jennifer Psaki. Não foi esclarecido o número de pessoas envolvidas, tendo apenas sido indicado que faziam parte de uma lista de 53 nomes apresentada pelo Governo dos Estados Unidos a Cuba. As autoridades de Havana não prestaram qualquer informação sobre o assunto e a comissão cubana dos direitos humanos, uma organização não autorizada mas tolerada, informou a AFP não ter conseguido confirmar qualquer nome de presos libertados.