Hoje Macau 9 NOV 2016 #3692

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

QUARTA-FEIRA 9 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3692

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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MOP$10

hojemacau WEB SUMMIT CIMEIRA DE LISBOA SEM STARTUPS LOCAIS

Oficialmente sós INDÚSTRIAS CULTURAIS

FRACA APROVAÇÃO

mundial de tecnologia. Ao contrário da maioria dos países e regiões asiáticas, de Macau apenas alguns empresários locais viajaram até Lisboa de forma individual.

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BNU

Dinheiro em caixa

SOFIA MOTA

GRANDE PLANO

h PÁGINA 8

Cólera dos fantasmas Cool na China antiga Rever Godard WANG CHONG

JULIE O’YANG

RUI FILIPE TORRES

SAÚDE

Cuidado com as doses PÁGINA 9

HAN LILI

LUGAR AOS LIVROS EVENTOS

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

Nem as palavras do primeiro-ministro portuguêsAntónio Costa, aquando da sua passagem por Macau, fizeram com que o território se apresentasse na cimeira


2 GRANDE PLANO

WEB SUMMIT EVENTO EM LISBOA SEM STARTUPS DE MACAU

OTECNOLOGICO ´

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Macau não respondeu aos apelos do primeiro-ministro português António Costa e não tem nenhuma startup representada na Web Summit, uma das principais cimeiras mundiais de tecnologia que começou há dois dias em Lisboa. Alguns empresários locais participam de forma individual para analisar o evento e o mercado

M olhar para a lista de empresas que participam na edição deste ano da Web Summit, em Lisboa, permite chegar à conclusão de que Macau não levou nenhuma startup à capital portuguesa, ficando atrás no contexto asiático que, este ano, tem muita expressão numa das maiores cimeiras mundiais de tecnologia. Regiões como Taiwan e Hong Kong estão presentes com várias empresas, incluindo a China, o Japão e a Índia. Nem o Sudeste Asiático escapa à presença na Web Summit, existindo empresas da Tailândia, da Malásia e até do Myanmar, que começa agora a abrir-se ao mundo. O HM confirmou junto do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM) que não foi enviada qualquer delegação de Macau a Lisboa, apesar dos recentes apelos deixados pelo primeiro-ministro português, António Costa, aquando da sua visita ao território. A vinda de Costa a Macau foi mesmo pautada pela assinatura de um memorando de entendimento para “promover o empreendedorismo e o apoio às startups”, celebrado num evento destinado a olhar para a criação destas empresas ligadas à tecnologia, internet e redes sociais.

“Na economia de hoje, assente no conhecimento, na criatividade e inovação, se há algo que é essencial é estabelecer pontes (...) entre o talento e a diferença. É esse trabalho que queremos prosseguir à escala global, acolhendo em Portugal em Novembro, e nos próximos três anos, o maior evento mundial na área da inovação e do empreendedorismo, que é o Web Summit”, disse António Costa na altura.

OLHAR LÁ PARA FORA

Ao HM, o economista José Sales Marques recorda-se das declarações do governante português e confessa ter até ficado “entusiasmado” com a possibilidade de as empresas de Macau se poderem mostrar em Lisboa. “Não é uma notícia agradável porque fiquei com a impressão de que Macau estaria representado. O evento em Lisboa é de muitíssima importância e teria sido também muito importante que empresas de Macau participassem”, aponta. “As empresas de Macau têm de ir lá para fora, faz parte do processo de diversificação que Macau quer empreender e é necessário que as empresas sejam competitivas.” O economista considera que as Pequenas e Médias Empre-

sas (PME) de Macau devem conseguir ir além dos apoios do Governo. “A iniciativa privada e o empreendedorismo são fundamentais e, nessa perspectiva, a aquisição de experiências novas e a entrada em ambientes mais competitivos faz as empresas e os projectos ganharem força. O apoio de qualquer um só faz sentido se for complementar. O fundamental é que esses projectos ganhem o interesse dos mercados e investidores privados.” “É evidente que o caminho a percorrer é só um, e exige que as nossas empresas apareçam e façam aquilo que referi. O apoio do Governo pode ser fundamental em certos aspectos, mas nunca será apenas por essa via que as nossas empresas irão expandir-se”, referiu o economista.

OS QUE FORAM SOZINHOS

Apesar da ausência de uma delegação oficial, a Web Summit conta com a participação de alguns empresários locais que foram sobretudo analisar o evento e o próprio mercado. O HM apurou que o empresário Jorge Neto Valente está presente, bem como outros empresários do território. A participação de Manuel Correia da Silva, um dos fundadores da marca de moda Lines Lab, surgiu


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OMC DEFENDE NECESSIDADE DE APOSTAR NA TECNOLOGIA

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“A Web Summit vai continuar por mais dois anos em Lisboa e vamos ter a oportunidade de ter Macau representada de alguma maneira, seja mais governamental ou independente.”

“O apoio do Governo pode ser fundamental em certos aspectos, mas nunca será apenas por essa via que as nossas empresas irão expandir-se.”

MANUEL CORREIA DA SILVA DESIGNER

JOSÉ LUÍS SALES MARQUES ECONOMISTA

da realização do evento sobre startups em Macau e do protocolo assinado. O designer foi a Lisboa apresentar o seu mais recente projecto a convite da Fábrica de Startups Portuguesa e do Turismo de Portugal. A startup que Manuel Correia da Silva quer implementar chama-se “I’m Mo” e trata-se de “uma plataforma online que gere e cria valor ao tempo livre que nós temos, para que possamos saber o que podemos fazer, onde e como”, conta. “O projecto está ainda a desenvolver-se e é fruto da licenciatura que temos na Universidade de São José, que tem vindo a desenvolver-se fora da faculdade.”

Manuel Correia da Silva falou da adesão massiva que as pessoas têm tido em relação ao evento, com longas filas e muitos bilhetes comprados. “Esta é a primeira vez que participo numa Web Summit e interessava-me saber o formato e os conteúdos de uma cimeira como esta. Já tinha participado num evento de Hong Kong ligado às startups, mas com uma escala completamente diferente. Queremos aproveitar a vinda de todas estas pessoas a Lisboa para lançar algumas parcerias, algumas que já temos e que estão presentes e estamos a aproveitar para trabalhar com elas.”

Sobre a ausência de Macau da cimeira, o designer acredita que, nos próximos dois anos, haverá possibilidades de maiores participações. “Seria importante haver uma representação mas também teríamos de saber como seria feita, e por quem. A Web Summit vai continuar por mais dois anos em Lisboa e vamos ter a oportunidade de ter Macau representada de alguma maneira, seja mais governamental ou independente”, conclui. A cimeira tecnológica que nasceu em 2010 na Irlanda, e que se realiza pela primeira vez em Portugal, vai manter-se em Lisboa até 2020 e poderá prolongar-se por mais dois anos, havendo uma expectativa de retorno financeiro na ordem dos 175 milhões de euros para a edição de 2016. Entre os mais de 50 mil participantes estarão 7787 portugueses. Além dos que vêm da área tecnológica, muitos são de sectores tradicionais como o retalho, a construção, a advocacia e a agricultura. Os participantes são oriundos de mais de 165 países, incluindo a presença de mais de 20 mil empresas e mais de duas mil startups. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

director-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo, considerou que o comércio é o “alvo fácil” das sociedades, quando é a inovação e a tecnologia que estão a reduzir os postos de trabalho nos empregos tradicionais. “Temos um problema e está aí. E o problema é que hoje no mercado de trabalho existem sentimentos de incerteza, sentimentos de abandono, de as pessoas terem sido deixadas para trás, de não terem oportunidades suficientes”, disse o responsável brasileiro da OMC na abertura da Web Summit em Lisboa. Roberto Azevêdo disse que “muita desta culpabilização do comércio é uma forma de encontrar um alvo fácil, o inimigo fácil, o forasteiro”. “Apontar o que é diferente e que vem de fora. E isso é injusto. Mas se formos honestos e virmos o que está a acontecer com o mercado de trabalho, não tem nada que ver com o comércio”, disse o responsável da OMC. O dirigente da entidade que regula o comércio mundial admitiu que “dois em cada dez empregos que se perdem nas economias avançadas têm que ver com o comércio”. “Mas oito em dez ou mais tem que ver com novas tecnologias, tem que ver com maior produtividade, com inovação. E não podemos estar

contra essas coisas, não podemos lutar contra essas coisas. Temos de as abraçar e perceber que são o futuro”, disse Roberto Azevêdo. O director-geral da OMC deu como exemplo o serviço de entrega “em grande escala” de encomendas e pacotes por drones ou por camiões automáticos, sem condutor. “Só nos Estados Unidos há 3,5 milhões de condutores de camiões. Esses tipos vão perder os seus empregos. E não só eles? Todos os da assistência à beira das auto-estradas, cafés, restaurantes, estações de serviço. O que vai acontecer com todas estas pessoas?”, questionou o dirigente perante muitos milhares de jovens que assistiam à abertura da Web Summit. Roberto Azevêdo também considerou que não vale a pena dizer “daqui a uns anos que não se sabia que isso ia acontecer”. “Isto vai acontecer. A questão é saber como lidas com isso. Se não perceberes qual é o problema vais receitar o remédio errado, e o remédio errado é o proteccionismo”, disse o responsável da OMC, para quem essa receita significa “esmagar as oportunidades de milhares de pessoas como as que estão aqui hoje”. “Jovens que querem ser empreendedores, que querem conectar-se e fazer negócios. O comércio não é o monstro, mas também não é a panaceia”, concluiu. HM/LUSA


4 É um erro transferir a Assembleia Legislativa para a zona B dos novos aterros, diz Au Kam San. Numa interpelação ao Chefe do Executivo, o deputado defende que, em vez de se transferir o que já existe em Nam Van, há que construir o que falta nos muitos terrenos vazios naquela área

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Zona B AU KAM SAM QUER TRIBUNAIS E EDIFÍCIOS DA ADMINISTRAÇÃO EM NAM VAN

Não mexer e acrescentar entende que esse mesmo conceito pode ser transferido para Nam Van, onde se encontra já a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Segunda Instância e o Tribunal de Última Instância.

HOJE MACAU

POLÍTICA

LUSÓFONOS TAMBÉM

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Á uns anos seria difícil imaginar um discurso com este teor: Au Kam San foi à gaveta da memória recuperar declarações de Susana Chow para tentar convencer o Governo a pensar bem no que vai fazer da zona B dos novos aterros. O pró-democrata recorda que,

compra e venda de votos vai entrar para a lista de crimes ligados à lavagem de dinheiro, independentemente da gravidade dos casos. A intenção do Governo – de que deu ontem conta a Rádio Macau – está incluída na proposta de revisão da lei contra o branqueamento de capitais, aprovada na passada semana pelo pelo Conselho Executivo e já foi admitida para votação na Assembleia Legislativa (AL). O diploma deu entrada na AL apenas três semanas depois do procurador da RAEM, Ip Son Sang, ter dado conta da alta taxa de arquivamento dos casos relacionados com lavagem de dinheiro e defendido alterações à lei, em vigor há dez anos. A mudança é de fundo, passando a haver uma relação de causa/efeito entre a lavagem de dinheiro e todos os crimes de corrupção previstos em Macau. Actualmente, só os crimes punidos com mais de três anos de prisão são considerados crimes que permitem a acusação de lavagem de dinheiro. O Governo pretende deixar claro que a compra e venda de votos será sempre considerado um crime precedente do crime de branqueamento de capitais. O mesmo vale para todos

mal a hipótese foi aventada, a antiga presidente da Assembleia Legislativa alertou para o erro que será transferir de local o edifício que alberga o órgão legislativo. O deputado concorda com a posição de Chow e deixa a ideia agora por escrito, numa interpelação ao Executivo em que faz uma proposta alternativa para a área de

edifícios da Administração e do sector judicial. “Há dez anos que existe este plano para a zona B. Já não será o mais adequado”, começa por escrever, lembrando que, desde que foi anunciado, já foi objecto de contestação por diversas vezes. Para a zona B dos aterros está pensada a concentração de vários serviços públicos: Au Kam San

O deputado considera que a falta de espaço dos dois tribunais é uma questão que poderá ser facilmente ultrapassada. Quanto à Assembleia, o edifício foi construído recentemente, sublinha, pelo que é de preservar.As restantes entidades que precisam de casa nova – como o Comissariado contra a Corrupção e o Comissariado da Auditoria – poderiam vir a ocupar um dos vários terrenos vazios no local, que “estão por aproveitar há 20 anos”. Na interpelação escrita, o deputado salienta ainda que está planeada, para aquela zona da cidade, a construção de um centro de negócios China-lusofonia, um plano que se poderá manter, porque

Atrás de todo o dinheiro sujo Compra de votos incluída na lei de branqueamento de capitais

O edifício da Assembleia Legislativa foi construído recentemente, sublinha Au Kam San, pelo que é de preservar espaço não falta. “É mais razoável construir tudo em Nam Van”, insiste, acusando o Governo de estar a projectar a zona B sem ter em consideração as desvantagens da transferência dos órgãos que já têm instalações apropriadas. A rematar a missiva, Au Kam San pergunta ao Governo se a opção que apresenta poderá ser objecto de reflexão.

actos de corrupção relacionados com a eleição do Chefe do Executivo e até mesmo para o recenseamento eleitoral, esclarece a emissora. Na lista, entram também os crimes de exploração de prostituição e crimes relacionados com contrabando e direitos de autor. Mas a proposta vai mais longe e estabelece, por exemplo, que quem abrir contas bancárias ou fizer transferências para esconder a origem criminosa do dinheiro ou proteger o autor do crime está a cometer o crime de branqueamento de capitais. A proposta do Governo fixa ainda que uma pessoa não precisa ser condenada por corrupção para um tribunal dar como provado que lavou dinheiro. O diploma obriga ainda os bancos a comunicarem movimentos suspeitos no prazo de 24 horas. Um juiz passará também a ter poderes para suspender a movimentação das contas e decidir qual a autoridade que fica a controlar estas contas. De acordo com o Governo, estas alterações surgem no sentido de dar “resposta às deficiências identificadas” durante a avaliação efectuada pelo Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais (APG).


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Autoridade Monetária e Cambial (AMCM) confirmou que está a rever o regime jurídico das sociedades de locação financeira, em vigor desde 1993. Em resposta a uma interpelação escrita do deputado Ho Ion Sang, ficou clara a intenção da AMCM em mudar a definição deste tipo de sociedades, que operam em conjunto com os bancos, no sentido de criar melhores circunstâncias externas para os negócios e administração de património. “O regime jurídico das sociedades de locação financeira vigente define as sociedades como entidades de crédito e aplica-se nelas o regulamento de supervisão em vigor para os bancos. Contudo, na prática, é proibido a estas sociedades receberem depósitos em dinheiro de clientes, as quais, em comparação com os bancos, enfrentam menos riscos financeiros”, explicou a AMCM. Está, para já, a decorrer uma consulta ao sector sobre o assunto. Esta revisão, confirma o organismo liderado por Anselmo Teng, articula-se com o “desenvolvimento de um sector financeiro com características próprias”, um objectivo que consta no último relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) e no Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM. Segundo a AMCM,

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análise do Regime do Ensino Superior deverá ficar concluída ainda este mês. A garantia foi dada ontem pelo deputado Chan Chak Mo, que preside à 2a Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), responsável pela análise do diploma na especialidade. “Não há qualquer problema por ser no mesmo mês da

POLÍTICA

Finanças AMCM QUER REVER REGIME DAS SOCIEDADES DE LOCAÇÃO FINANCEIRA

Um novo leasing a caminho Em vigor desde 1993, o regime jurídico das sociedades de locação financeira, acção também conhecida por leasing, vai ser revisto. A garantia foi dada pela Autoridade Monetária e Cambial em resposta a uma interpelação escrita do deputado Ho Ion Sang há muito que o sector financeiro clama por uma actualização da legislação nesta área.

DA DIVERSIFICAÇÃO

De acordo com o decreto-lei em vigor, as sociedades de locação financeira não podem constituir-se com um capital social inferior a 30 milhões de patacas. Já na altura se previa que poderia “constituir um

A Autoridade Monetária recorda que há muito que o sector financeiro clama por uma actualização da legislação nesta área

instrumento útil de apoio à diversificação e renovação do actual parque industrial, bem como à dinamização do sector dos serviços”. Ho Ion Sang referiu na sua interpelação que o desenvolvimento do sector financeiro está a enfrentar dificuldades devido às lacunas existentes ao nível da legislação. O deputado citou ainda o Governo quanto à possibilidade do sector financeiro, na área da banca e dos seguros, poder ajudar na diversificação económica do território, por já representar 4,6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), valor que poderá aumentar para 18 por cento em 2020. O membro da Assembleia Legislativa (AL) lembrou ainda que, segundo estimativas do sector, a indústria financeira irá ocupar cerca de dez por cento da economia nos próximos cinco anos, tornando-se num

pilar importante da economia nos próximos 20 anos, lado a lado com o sector do jogo. Em resposta, a AMCM voltou a garantir que está a aperfeiçoar “gradualmente” os diplomas financeiros

De manhã também se trabalha Regime do Ensino Superior concluído este mês, apesar das LAG

apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG), já que poderemos reunir durante a manhã e poderemos encerrar a discussão. Com apenas mais uma ou duas reuniões poderemos concluir a análise”, explicou.

Areunião de ontem serviu para analisar as mudanças feitas pelo Governo ao articulado, tratando-se de “alterações significativas” ao nível da definição do acesso ao ensino superior e realização de matriculas, entre outras áreas.

Foram introduzidas mais dez definições, sendo que o Governo “decidiu eliminar a finalidade de investigação e ensino (nos cursos de mestrado e doutoramento). Tudo vai depender da aprovação do Gabinete de Acesso ao Ensi-

bem como as políticas relacionadas, tendo o objectivo de reforçar a criação de um sistema financeiro com características próprias.

no Superior (GAES), porque o diploma vai deixar de prever esses casos”, rematou Chan Chak Mo. O diploma, que prevê mais autonomia para as instituições de ensino superior, foi aprovado na generalidade em Fevereiro do ano passado, após terem passado vários anos até existir uma decisão quanto à revisão da lei em causa. A título de

Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

exemplo, outra das mudanças projectadas prende-se com a possibilidade de o Instituto Politécnico de Macau (IPM) poder leccionar mestrados e doutoramentos, ao contrário do que acontece actualmente. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

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E X T R A C TO D E AV I S O Faz-se público que, de harmonia com o despacho do Secretário para a Segurança, de 06 de Julho de 2016, se acha aberto o concurso comum abaixo indicado, de ingresso externo, de prestação de provas, para o preenchimento: l Em regime de contrato administrativo de provimento, de um lugar de assistente técnico administrativo de 1.ª classe, 2.º escalão (oficina de reparação de automóveis – área de bate-chapa), da carreira de assistente técnico administrativo da Direcção dos Serviços Correccionais (Concurso n.º 2016/I03/AP/ATA). O aviso do concurso encontra-se publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 43, II Série, de 26 de Outubro de 2016, com o prazo de inscrição entre 27 de Outubro e 15 de Novembro de 2016. Os interessados podem consultar o referido aviso, dentro das horas de expediente, no Centro de Atendimento e Informação da Direcção dos Serviços Correccionais (endereço: Avenida da Praia Grande, China Plaza, 8.º andar “A”, Macau) ou no Website da Direcção dos Serviços Correccionais: www. dsc.gov.mo. Para qualquer esclarecimento, é favor entrar em contacto, nas horas de expediente, através do tel. n.ºs 8896 1293 ou 8896 1218, com os trabalhadores da Divisão de Recursos Humanos. A Directora da DSC, substª Loi Kam Wan 18/10/2016

Anúncio Faz-se saber que no concurso público n.o 48/P/16 para a «Prestação de Serviços de Vigilância ao Centro Hospitalar Conde de S. Januário», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 42, II Série, de 19 de Outubro de 2016, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 5.º do programa do concurso público pela entidade que o realiza e que foram juntos ao respectivo processo. Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita no 1º andar, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau (Antigo Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo), e também estão disponíveis no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Serviços de Saúde, aos 3 de Novembro de 2016. O Director dos Serviços Lei Chin Ion


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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO PARA “OBRA DE REORDENAMENTO DA PRAÇA DOS LÓTUS NA ILHA VERDE ” 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12.

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Entidade que põe a obra a concurso: Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Modalidade de concurso: Concurso Público. Local de execução da obra: Praça dos Lótus na Ilha Verde.. Objecto da Empreitada: Arruamento e drenagem. Prazo máximo de execução: 120 dias de trabalho (cento e vinte dias de trabalho) (Para efeitos da contagem do prazo de execução das obras da presente empreitada, somente os domingos e os feriados estipulados na Ordem Executiva n.º60/2000 não serão considerados como dias de trabalho.). Prazo de validade das propostas: o prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do encerramento do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no Programa de Concurso. Tipo de empreitada: a empreitada é por Série de Preços. Caução provisória: $150 000,00 (cento e cinquenta mil patacas), a prestar mediante depósito em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução aprovado nos termos legais. Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). Preço Base: não há. Condições de Admissão: Serão admitidos como concorrentes as entidades inscritas na DSSOPT para execução de obras, bem como as que à data do concurso, tenham requerido a sua inscrição ou renovação. Neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição ou renovação. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Atendimento e Expediente Geral da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, R/C, Macau; Dia e hora limite: dia 1 de Dezembro de 2016, Quinta-feira, até às 12:00 horas. Em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora limite para a entrega de propostas acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora limites estabelecidas para a entrega de propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Local, dia e hora do acto público do concurso : Local: Sala de reunião da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 5º andar, Macau; Dia e hora: dia 2 de Dezembro de 2016, Sexta-feira, pelas 9:30 horas. Em caso de adiamento da data limite para a entrega de propostas mencionada de acordo com o número 12 ou em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora estabelecida para o acto público do concurso acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora estabelecidas para o acto público do concurso serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público do concurso para os efeitos previstos no artigo 80º do Decreto-Lei n.º74/99/M, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. Línguas a utilizar na redacção da proposta: Os documentos que instruem a proposta (com excepção dos catálogos de produtos) devem estar redigidos numa das línguas oficiais da RAEM, quando noutra língua, devem ser acompanhados de tradução legalizada, a qual prevalece para todos e quaisquer efeitos. Local, hora e preço para obtenção da cópia e exame do processo: Local: Departamento de Infraestruturas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 16º andar, Macau; Hora: horário de expediente (Das 9:00 às 12:45 horas e das 14:30 às 17:00 horas) Na Secção de Contabilidade da DSSOPT, poderão ser solicitadas cópias do processo de concurso mediante o pagamento de $350,00 (trezentas e cinquenta patacas). Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: Factores de Avaliação Proporção Preço da obra 10 Prazo de execução da obra 4 Plano de trabalhos 2 Parte relativa à técnica Experiência e qualidade em obras semelhantes 2.6 Integridade e honestidade 1.4 Pontuação final = Pontuação da parte relativa ao preço x Pontuação da parte relativa à técnica. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer no Departamento de Infraestruturas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 16º andar, em Macau, a partir de 16 de Novembro de 2016 (inclusivé) e até à data limite para a entrega das propostas, para tomarem conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Parte relativa ao preço

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Macau, aos 3 de Novembro de 2016.

O Director dos Serviços, substituto Shin Chung Low Kam Hong

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO PARA “EMPREITADA DE OBRA DE NOVAS INSTALAÇÕES NO CENTRO DE GOLDEN DRAGON,21 º E 22 º ANDARES” 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13.

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Entidade que põe a obra a concurso: Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Modalidade de concurso: Concurso Público. Local de execução da obra: Centro de Golden Dragon, 21 º e 22 º andares,situado na Avenida Xian Xing Hai nº 105, Macau. Objecto da Empreitada: Novas Instalações do Comissariado da Auditoria . Prazo máximo de execução: 300 dias de trabalhoúteis ( trezentos dias úteisde trabalho) (Para efeitos da contagem do prazo de execução das obras da presente empreitada, somente os domingos e os feriados estipulados na Ordem Executiva n.º60/2000 não serão considerados como dias de trabalho.Na contagem do prazo de execução das empreitadas de obras públicas, somente os domingos e feriados públicos não serão considerados dias úteis) contínuos. Prazo de validade das propostas: o prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do encerramento do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no Programa de Concurso. Tipo de empreitada: a empreitada é por Série de Preços. Caução provisória: $800.000,00 (oitocentas mil patacas), a prestar mediante depósito em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução aprovado nos termos legais. Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). Preço Base: não há. Condições de Admissão: Serão admitidos como concorrentes as entidades inscritas na DSSOPT para execução de obras, bem como as que à data do concurso, tenham requerido a sua inscrição ou renovação. Neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição ou renovação. A sessão de esclarecimentos relativa à empreitada será realizada em 17 de Novembro de 2016 (quinta-feira), pelas 10:00 horas, no local da obras,sendo o local de encontro a entrada do Centro de Golden Dragon na Avenida Xian Xing Hai nº 105,em Macau. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Atendimento e Expediente Geral da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, R/C, Macau; Dia e hora limite: dia 30 de Novembro de 2016 (quarta-feira), até às 12:00 horas. Em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora limite para a entrega de propostas acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora limites estabelecidas para a entrega de propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Local, dia e hora do acto público do concurso : Local: Sala de reunião da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 17º andar, Macau; Dia e hora: dia 1 de Dezembro de 2016 (quinta-feira), pelas 9:30 horas. Em caso de adiamento da data limite para a entrega de propostas mencionada de acordo com o número 12 ou em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora estabelecida para o acto público do concurso acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora estabelecidas para o acto público do concurso serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público do concurso para os efeitos previstos no artigo 80º do Decreto-Lei n.º74/99/M, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. Línguas a utilizar na redacção da proposta: Os documentos que instruem a proposta (com excepção dos catálogos de produtos) devem estar redigidos numa das línguas oficiais da RAEM, quando noutra língua, devem ser acompanhados de tradução legalizada, a qual prevalece para todos e quaisquer efeitos. Local, hora e preço para obtenção da cópia e exame do processo: Local: Departamento de Edificações Públicas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 17º andar, Macau; Hora: horário de expediente (Das 9:00 às 12:45 horas e das 14:30 às 17:00 horas) Na Secção de Contabilidade da DSSOPT, poderão ser solicitadas cópias do processo de concurso mediante o pagamento de $740,00 (setecentas e quarenta patacas). Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: Factores de Avaliação Proporção Preço da obra 10 Prazo de execução da obra 4 Plano de trabalhos 2 Parte relativa à técnica Experiência e qualidade em obras semelhantes 2.6 Integridade e honestidade 1.4 Pontuação final = Pontuação da parte relativa ao preço x Pontuação da parte relativa à técnica. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer no Departamento de Edificações Públicas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 17º andar, em Macau, a partir de 16 de Novembro de 2016 (inclusivé) e até à data limite para a entrega das propostas, para tomarem conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Macau, aos 04 de Novembro de 2016. O Director dos Serviços, subst.º Shin Chung Low Kam Hong Parte relativa ao preço

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Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais

Aviso Faz-se público que se encontra aberto o concurso comum, de ingresso externo, de prestação de provas, para a admissão de trinta (30) inspectores de 2ª. classe. O aviso de abertura do concurso encontra-se publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau no. 45, II Série, de 9 de Novembro de 2016, bem como na página electrónica desta Direcção de Serviços. (http://www.dsal.gov.mo). Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, aos 09 de Novembro de 2016. O Director de Serviços, Wong Chi Hong


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SOCIEDADE

EDUCAÇÃO KAIFONG QUEREM AVALIAÇÃO DE ALUNOS ALÉM DOS EXAMES

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Centro de Política de Sabedoria Colectiva, ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM ou Kaifong), pretende que os alunos das escolas passem a ser avaliados de uma forma diferente e que os exames não sejam apenas o único factor tido em conta. A ideia vem no seguimento da consulta pública que está a ser realizada ao sistema de avaliação do desempenho dos alunos da educação regular, que visa implementar novas formas de avaliação nas escolas. Para os Kaifong, a avaliação formativa deveria ocupar cerca de 50 por cento do total da avaliação, defendendo que não seria difícil mudar o actual panorama. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Chan Ka Leong, vogal do centro, indicou que as escolas de outras regiões

têm apostado numa avaliação com base na formação do aluno e até na sua auto-avaliação, sendo que em Macau continua a dominar o modelo baseado em exames escritos. Algo que para Chan Ka Leong está “demasiado desactualizado”. O documento de consulta pública divulgado pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) propõe o fim dos chumbos nos quatro anos do ensino primário e um limite máximo de chumbos nos níveis superiores, faltando um limite para a retenção de alunos no ensino secundário complementar. Sobre isto, os Kaifong entendem não existirem problemas caso não haja regulação, pois este nível de ensino não só não entra no ensino obrigatório, como tem baixas taxas de chumbos. O Centro de Política de Sabedoria Colectiva sugere ainda que a educação compensatória deve ser bem implementada, tendo sugerido a promoção do ensino em diferentes níveis, para que os alunos possam escolher aquele que mais se adapta às suas competências.

CROUPIERS DESPEDIDOS PEDEM AJUDA AO GABINETE DE DADOS PESSOAIS

A Associação Nova dos Direitos e Interesses dos Trabalhadores de Jogo, em representação dos empregados que dizem ter sido despedidos do casino Kam Pek, pediu a intervenção do Gabinete de Protecção de Dados Pessoais, por considerar que a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) violou a privacidade dos trabalhadores. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, um dos croupiers contou que, depois do alegado despedimento feito pela SJM, foram colocados em todas as salas de descanso dos casinos da operadora avisos sobre a queixa que foi feita à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Na visão dos croupiers, tal acção violou a sua privacidade.

FIC MAIORIA DOS CANDIDATOS SEM APOIO

Ajuda contida Das 45 candidaturas recebidas este ano, apenas 17 foram aprovadas para obter financiamento por parte do Fundo das Indústrias Culturais. Para o organismo, este é um apoio secundário que visa essencialmente a promoção da marca “Macau”

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Fundo das Indústrias Culturais de Macau (FIC) apoiou, até Outubro deste ano, uma pequena parte das candidaturas que recebeu, com um montante total de 28 milhões de patacas, concedidos a 17 projectos na área das indústrias culturais. A informação foi dada a conhecer ontem pelo organismo que, em conferência de imprensa, anunciou a recepção de 45 candidaturas ao apoio financeiro para a criação de projectos na área das indústrias culturais – um dos sectores em que o Governo tem apostado no âmbito da diversificação económica. Dos projectos recebidos foram aprovados 17, sendo que 13 deles correspondem a candidaturas de novas empresas. Os representantes do FIC, fundo criado em 2013, fizeram ainda o balanço dos apoios dados entre 2014 e o ano corrente. No total, o organismo recebeu cerca de 400 candidaturas, sendo que apenas 113 viram os seus projectos aprovados. O montante disponibilizado até à data foi de 138 milhões de patacas, em que 100 milhões foram atribuídos na modalidade de subsídio a fundo perdido e 40 milhões como empréstimos sem juros.

Os projectos dividem-se em plataformas de serviços em que nove empresas foram apoiadas com 50 milhões de patacas, e projectos comerciais que contam com 104 entidades, apoiadas num total de 88 milhões de patacas. As áreas de destaque para ajuda ao financiamento são o design em que a marca “Macau” é de relevo. Por outro lado, são ainda tidas em consideração as plataformas que tenham como missão a divulgação e distribuição dos produtos locais. Segundo os dados ontem divulgados, 42 por cento dos projectos aprovados são dirigidos ao design,

“Às vezes faltam noções sobre o desenvolvimento do mercado e os planos de evolução não estão em ordem.” DAVINA CHU MEMBRO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO FIC

seguindo-se a área de “digital media”, com 27 por cento.

REJEITADOS POR INVIABILIDADE

Davina Chu, membro do conselho de administração do FIC, justificou a taxa de rejeição com a inviabilidade comercial de parte das candidaturas: “Às vezes faltam noções sobre o desenvolvimento do mercado, os planos de evolução não estão em ordem, para um projecto comercial é preciso ponderar vários elementos”. A representante do FIC esclarece ainda que “há projectos que foram inicialmente rejeitados e que, após reelaboração por parte dos candidatos baseados nas apreciações dadas, quando voltaram a ser apresentados já apresentaram as características necessárias para que fossem aprovados”. Davina Chu salienta igualmente que “não há limite no que respeita às áreas que possam ser aprovadas” e que “originalidade, criatividade e viabilidade do plano de desenvolvimento do projecto são os principais elementos de avaliação pelo júri que decide a concessão do apoio do FIC”. A responsável salienta também que “o papel principal não é o apoio do Governo, e que este só dá uma pequena parte para que o projecto possa ser viabilizado”. A maioria dos empresários candidatos tem entre 30 e 40 anos e equipas até dez pessoas. Muitos destes negócios são “pequenas lojas em bairros comunitários, que oferecem rendas mais baixas e, como tal, mais competitivas”, destacou Leong Heng Teng, presidente do conselho de administração do FIC. A atenção prestada aos bairros é ainda justificada enquanto medida de reabilitação destas zonas. O FIC tem um orçamento anual de 200 milhões de patacas e “não tem de ser gasto na totalidade”, remata Davina Chu. Lusa/ HM


8 SOCIEDADE

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hoje macau quarta-feira 9.11.2016

Banca LUCROS DO BNU CRESCERAM NOVE POR CENTO ATÉ SETEMBRO

Sempre a abrir

O BNU em Macau obteve lucros de 47,4 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Feitas as contas, são mais nove por cento do que no mesmo período ao ano passado ano passado, para 8,8 mil milhões de euros. O número de clientes aumentou cinco por cento em termos anuais, para um total de quase 222 mil, perto de um terço da população da cidade, e os empréstimos subiram 2,9 por cento,

menos que no passado, tendo o banco já registado crescimento de crédito a dois dígitos. O contexto da economia local, em que as receitas do sector do jogo desceram durante mais de dois anos, justifica esta situação, explicou.

“Nos últimos anos, os ‘drivers’de crescimento foram as PME [Pequenas e Médias Empresas], mas com o [panorama do] mercado [de Macau] tem havido menos procura e teve algum impacto”, disse. No entanto, com a retoma do crescimento das receitas

5%

foi o aumento do número de clientes desde Agosto, Pedro Cardoso nota já “alguma melhoria, um aumento da produção de crédito hipotecário”. “São sinais positivos”, destaca ainda. As despesas do BNU subiram três por cento em relação aos primeiros nove meses de 2015, um aumento que, ainda assim, acrescenta o responsável, é menor que o dos proveitos, que subiram 10,4 por cento. O rácio de custos face aos proveitos (‘cost to income’) subiu ligeiramente, de 29,26 por cento até Setembro de 2015

para 29,84 por cento até Setembro deste ano.

NA MONTANHA EM BREVE

Em relação à sucursal que o BNU anunciou abrir ainda este ano na Ilha da Montanha, em Zhuhai, Pedro Cardoso disse estar praticamente terminada: “Temos a agência pronta para abrir, toda equipada, temos as normas e procedimentos prontos, temos as autorizações do Governo de Macau. Contamos fazer uma ‘soft opening’ em Dezembro e abertura formal no início do ano”. Os resultados do BNU de Macau representaram 43 por cento da actividade internacional da CGD em 2015 e a instituição está entre os três maiores bancos portugueses ou com participações de bancos portugueses no estrangeiro, em termos de resultados e activos.

TIAGO ALCÂNTARA

S números foram dados à Agência Lusa pelo presidente executivo do Banco Nacional Ultramarino (BNU): os lucros da entidade bancária chegaram aos 47,4 milhões de euros entre Janeiro e Setembro deste ano. Pedro Cardoso destacou que este resultado líquido segue “a senda dos anos anteriores, com aumento do volume de negócios” do BNU, que pertence ao grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD). Segundo os dados que revelou à agência de notícias portuguesa – que são publicados hoje em Boletim Oficial –, o volume de negócios cresceu 13,7 por cento no acumulado do ano até ao final de Setembro, em comparação com o período homólogo do

Ferreira do Amaral sem data para melhorar Assuntos de Tráfego estão a estudar concepção do terminal de autocarros

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questão ainda está a ser analisada, mas a promessa fica feita: a Praça de Ferreira do Amaral vai ter um terminal de correspondência de autocarros com melhor “ambiente de trabalho para os condutores de autocarros e de espera para os passageiros”. Os trabalhos preparatórios para a concepção do terminal já foram iniciados, mas “não se dispõe da respectiva calendarização”.

É assim que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) responde a Ella Lei. Em Julho deste ano, a deputada tinha escrito ao Governo sobre a rotunda por onde passam muitos dos autocarros que servem a península e as ilhas, e onde aguardam diariamente por transporte milhares de pessoas. À chuva ou ao sol, as várias paragens de autocarros da rotunda não dispõem de locais onde

os utentes dos autocarros possam esperar, sendo que, nas horas de maior afluência de passageiros, a situação é, frequentes vezes, caótica. Na volta do correio, a DSAT começa por dizer que “tem dado grande importância ao ambiente das paragens dos autocarros, procedendo ao aperfeiçoamento das mesmas”, para depois dar conta dos planos concretos para a Ferreira do Ama-

ral. Quando o projecto agora em concepção for colocado em prática, vão ser instalados toldos e reordenadas as vias do terminal. Lê-se ainda na resposta que vai ser feito “o aperfeiçoamento da plataforma de espera e o melhoramento das condições de circulação”. “A DSAT tem em consideração a criação de instalações complementares na referida plataforma, de forma

a melhorar o ambiente de espera de autocarros e formação das filas de espera”, escrevem também os serviços. “Por outro lado, foi solicitado às operadoras de autocarros o destacamento de pessoal nas horas de ponta, de forma a prestar apoio aos passageiros na entrada dos autocarros e manter a ordem na zona de espera.”

INCÊNDIO CHAMAS NO ATERRO

Registou-se ontem um incêndio no aterro para resíduos de materiais de construção. Em nota à imprensa, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) explica que os bombeiros foram para o local mal receberam a participação, sendo que no local esteve também pessoal da DSPA para ajudar à escavação do aterro. As chamas deflagraram na zona para a deposição de resíduos de materiais de construção civil. A DSPA explica que não arderam escórias ou pneus usados. A origem do incêndio ainda está a ser investigada, mas há já uma suspeita: acredita-se que os utilizadores do aterro possam ter deixado fogos nus (objectos ou equipamentos que, ao ar livre, podem facilmente provocar chamas ou faíscas) quando despejaram os materiais. A DSAP garante que o incidente não afectou o funcionamento do aterro, apelando aos utilizadores da estrutura que tenham cuidado para evitar problemas deste género. Os serviços começaram, no mês passado, a primeira fase das obras das instalações de prevenção contra incêndios no local, sendo que se prevê que os trabalhos estejam concluídos ainda no final deste mês.


9 hoje macau quarta-feira 9.11.2016

Várias associações de médicos de Macau juntam-se no próximo sábado para falarem de medicamentos. Os cuidados a ter com os fármacos e o modo como lidar com a medicina tradicional chinesa são alguns dos temas de uma iniciativa da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa

Debate IMPORTÂNCIA E CUIDADOS A TER COM OS FÁRMACOS

Na dose certa chinesa, da responsabilidade de Savio Yu. Este é um dos pontos principais do fórum. “Queremos fazer uma reunião em que estejam médicos ocidentais e médicos de medicina tradicional chinesa precisamente para trocarmos ideias, o que é muito importante”, indica Jorge Sales Marques. Numa altura em que há várias tendências de fuga à medicação

convencional, e tendo em conta o contexto cultural de Macau, torna-se pertinente chamar à discussão outros métodos e formas de lidar com a doença, para que se evite estar de costas voltadas. “Na cultura chinesa, foram sempre utilizados medicamentos de várias espécies que, ao nível ocidental, não foram reconhecidos, mas que,

nalgumas situações, sabemos agora que poderão ter algum interesse terapêutico em certas situações”, aponta o presidente da AMLP. “Hoje em dia, temos de olhar para a medicina tradicional chinesa de uma forma um bocadinho diferente – nem tudo faz mal, nem tudo faz bem.” O médico sublinha, no entanto, que “é preciso ter muito cuidado” – e daí a importância da vigilância. “Tudo isto tem de ser feito com muita prudência e, acima de tudo, com indicação terapêutica.” A influência dos fármacos na função renal, com uma apresentação de Kuok Un I, as lesões no fígado, numa abordagem de Sheeva, e a histopatologia, a cargo

S

ÃO dos melhores aliados que médicos e pacientes têm: os comprimidos, as injecções e os xaropes certos, nas doses certas e nas horas certas, aliviam dores, curam maleitas e salvam vidas. Mas os fármacos são um assunto complicado, exigem cuidados e vigilância. É a pensar na utilidade dos medicamentos que a Associação dos Médicos de Língua Portuguesa (AMLP) organiza, no próximo sábado, o 3º Fórum das Associações Médicas de Macau, uma reunião com o tema “Fármacos: Há mar e mar, há ir e voltar”. Jorge Sales Marques, presidente daAMLP, explica ao HM a importância de um debate sobre medicação: “Tem que ver fundamentalmente com a vigilância, os efeitos secundários, os problemas de alergia, alterações ao nível da coagulação”. Em debate vão estar questões como os riscos do envenenamento, as reacções adversas e a chamada polifarmácia. “Hoje em dia é muito comum as pessoas levarem muitos medicamentos para casa, o que pode aumentar o risco de efeitos secundários”, alerta o médico.

PENSAR DIFERENTE

A reunião abre com uma intervenção sobre medicina tradicional

SOCIEDADE

de Di Fang, são os temas que se seguem ao debate sobre a medicina tradicional chinesa. Ainda durante a manhã, vai falar-se de envenenamento, com Tse Man Li, e de farmacovigilância, com Venus Li.

“Queremos fazer uma reunião em que estejam médicos ocidentais e médicos de medicina tradicional chinesa precisamente para trocarmos ideias, o que é muito importante”, indica Jorge Sales Marques Já durante a tarde, cabe a Ricardo Coelho pronunciar-se sobre alergias aos medicamentos e Monica Pon vai debruçar-se sobre a polifarmácia. Depois, Francis Chan faz uma intervenção sobre anticoagulação e hemorragias do sistema digestivo. O fórum encerra com o tema “Além dos fármacos”, por Lao Kun Leong. A iniciativa conta com a colaboração de cinco associações médicas do território. Isabel Castro

isabel.castro@hojemacau.com.mo

TABACO FISCAIS OMNIPRESENTES

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M apenas 10 meses, os Serviços de Saúde levaram a cabo mais de 264 mil inspecções no âmbito da aplicação da lei do tabaco. Em média, foram feitas por dia 868 inspecções. De acordo com um comunicado dos serviços liderados por Lei Chin Ion, entre Janeiro e Outubro foram registadas 5606 acusações: 5600 casos dizem respeito a pessoas que foram encontradas a fumar em locais proibidos e seis casos são relativos

a ilegalidades nos rótulos dos produtos de tabaco. A esmagadora maioria dos prevaricadores era do sexo masculino (92,5 por cento). Relativamente à proveniência dos infractores, 3473 multas foram aplicadas a residentes de Macau (62 por cento), 1893 turistas foram multados (33,8 por cento) e 234 das infracções foram cometidas por trabalhadores não residentes (4,2 por cento). Em 205 casos foi necessário o apoio das forças de segurança.

Mais de 80 por cento dos infractores já pagaram as multas. Quanto ao tipo de estabelecimento com maior número de casos, os cibercafés continuam a surgir no topo dos infractores, com um total de 1029 casos, e nos parques/ jardins e zonas de lazer foram detectados 684 casos. Entre 1 de Janeiro e 31 de Outubro, foram efectuadas em conjunto pelos Serviços de Saúde e pela Direcção de Ins-

pecção e Coordenação de Jogos 413 inspecções aos casinos de Macau. Neste contexto, foram alvo de acusação 536

indivíduos que fumavam ilegalmente. Desde a entrada em vigor da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo, em Janeiro de 2012, que os agentes de fiscalização de controlo do tabagismo realizaram, no total, 1.240.348 inspecções a estabelecimentos e registaram 36.751 acusações a pessoas que foram identificadas a fumar em locais proibidos. Até ao passado dia 31 de Outubro, foram realizadas em média, 702 inspecções diárias.


10 Han Lili LITERATURA LOCAL É DE QUALIDADE MAS PRECISA DE DIVULGAÇÃO

EVENTOS

E PRECISO ´

A literatura de Macau está bem e recomenda-se. A ideia é passada pela académica Han Lili que esteve no Fórum do Livro de Macau em Lisboa para apresentar e discutir a produção e necessidades da actividade literária local

MOSTRAR É

necessário divulgar a literatura que se produz em Macau. A sugestão é deixada pela académica e poetisa Han Lili, após ter participado no primeiro Fórum do Livro de Macau em Lisboa. A também professora do Instituto Politécnico de Macau foi, a convite da Associação Amigos do Livro, dar a conhecer um pouco da produção literária que se faz na região, de modo a suscitar a discussão acerca da temática. Um dos problemas que a produção literária local atravessa é a falta de divulgação e o Fórum proporcionou um momento para que tal fosse feito. Com um balanço “muito positivo” do evento, Han Lili não deixa de sublinhar o facto de mesmo as pessoas que são de Macau e que es-

tavam presentes em Lisboa desconhecerem algumas das traduções que já existem de obras escritas em chinês na região. A situação demonstra que “a produção literária que por cá se faz não é suficientemente divulgada, e o Fórum proporcionou um momento de debate acerca das dificuldades e caminhos a seguir de modo a motivar a literatura local”, refere Han Lili no balanço que faz da sua participação na iniciativa.

DIVULGAÇÃO É PRIORIDADE

“Os escritores locais enfrentam muitos desafios, porque o mercado não tem muita procura”, afirma a académica, pelo que considera “imperativo que sejam divulgados na China Continental e com iniciativas como o Fórum do Livro de Macau”, para que as traduções

“Para dar a conhecer livros é necessário que as pessoas saibam que existem e que os leiam, é preciso público.” HAN LILI ACADÉMICA E POETISA

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA UMA MENTIRA MIL VEZES REPETIDA • Manuel Jorge Marmelo

PRÉMIO CORRENTES D’ESCRITAS 2014 Para escapar ao anonimato de uma vida comum, à solidão da escrita e ao esquecimento dos futuros leitores, o narrador de “Uma Mentira Mil Vezes Repetida” inventou uma obra monumental, um autor - um judeu húngaro com uma vida aventurosa - e uma miríade de personagens e de histórias que narra entusiasticamente a quem ao pé dele se senta nos transportes públicos. Assim vai desfiando as andanças literárias de Marcos Sacatepequez e o seu singular destino, a desgraça do Homem-Zebra de Polvorosa, o caos postal de Granada, a maldição do marinheiro Albrecht e as memórias do velho Afonso Cão, amigo de Cassiano Consciência, advogado e proprietário do único exemplar conhecido de Cidade Conquistada, a obra-prima de Oscar Schidinski. Enquanto o autocarro se aproxima de Cedofeita, ou pára na rua do Bolhão, quem o escuta viaja do Belize a Budapeste, passando pelas Honduras, por estâncias alpinas, por Toulon ou por Lisboa. Mas se o nosso narrador não encontrou a glória - senão por breves momentos e na mente alheada de quem cumpre uma rotina - talvez tenha encontrado o amor. Ou será ele também inventado?

possam ser incentivadas e as obras possam rumar a outros continentes. “Há falta de informação em Macau acerca do que cá se produz literariamente, e é preciso divulgar e materializar esta ponte entre as duas culturas”, ilustra ao HM. No cerne das questões debatidas em Lisboa esteve a necessidade de apoio social e institucional para divulgar a literatura de Macau. “Para dar a conhecer livros é necessário que as pessoas saibam que existem e que os leiam, é preciso público.” Neste sentido, é urgente que se passe à sensibilização social de modo a fomentar o hábito de ler obras escritas por locais. Han Lili considera ainda que “se houver este mercado e esta procura, será uma forma de incentivar os próprios tradutores a realizar um trabalho

mais exaustivo e elaborado, de modo a ter o sucesso necessário na sua função”. No entanto, a dificuldade em traduzir este tipo de obras, e especialmente a poesia, é vivida na primeira pessoa pela académica. Paralelas à necessidade de tradução para uma maior divulgação estão as dificuldades associadas ao processo de passar conceitos, nem sempre concretos, para um outro sistema linguístico. No sentido de promover o bilinguismo e a sua materialização no que respeita à tradução literária, Han Lili considera que as directivas de Pequim no sentido de desenvolver a língua portuguesa são fundamentais e “já se notam”. “A estratégia do Governo Central e respectiva implementação das Linhas de Acção Governativa já se reflectem, por exemplo, nos

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

A TERCEIRA MISÉRIA • Hélia Correia

PRÉMIO LITERÁRIO CORRENTES D’ESCRITAS/CASINO DA PÓVOA Poetisa e dramaturga, foi enquanto ficcionista que Hélia Correia se revelou como um dos nomes mais importantes e originais surgidos durante a década de oitenta, ao publicar, em 1981, “O Separar das Águas”. É também autora de obras infanto-juvenis, com a colecção “Mopsos, O Pequeno Grego” e o recente volume “A Chegada de Twainy”, além das suas versões de Shakespeare. A sua escrita para teatro tem privilegiado os clássicos gregos. Na poesia, tem uma vasta colaboração em antologias e jornais e publicou obras como “A Pequena Morte/ Esse Eterno Canto” (em díptico com Jaime Rocha) e “Apodera-te de Mim”, e na Relógio D’Água edita ainda “A Terceira Miséria”.


11 hoje macau quarta-feira 9.11.2016

SOFIA MOTA

cursos de Tradução que são motivo de cada vez mais candidaturas”, explica, sem deixar de salientar que é preciso mais. Para traduzir uma obra literária não basta ser tradutor, há que ter sensibilidade e dominar por completo as culturas em que as línguas com que se trabalha se inserem. “No mercado é muito difícil encontrar tradutores de qualidade, sobretudo de obras literárias, área em que não chega ter o curso e é preciso ter a sensibilidade necessária para, por exemplo, poder traduzir poesia.” A ilustrar a situação, Han Lili dá o seu próprio exemplo enquanto poetisa. “Não traduzo os meus poemas, ou os escrevo em português ou em chinês, porque há elementos que não podem ser traduzidos”, explica. No entanto, na opinião da académica, os escritores locais estão cada vez mais incentivados e precisam de mais iniciativas por parte das próprias instituições. A académica, que foi falar de literatura chinesa de Macau à capital portuguesa, considera que o tema engloba não só a literatura produzida por autores locais, mas também a que foi escrita por outros desde que seja sobre o território, ou feita por quem por cá tenha passado. “Para poder alargar a dimensão que abrange a literatura de Macau, recorri à definição proposta por José Seabra Pereira, em que literatura de Macau não significa que seja escrita por pessoas de Macau, mas sim aquela que é sobre a terra, porque Macau não é um conceito geográfico”, explica Han Lili ao demonstrar que o tema é alargado.

NA CALHA PARA O FUTURO

Macau já tem uma produção literária “sólida”, afirma ao HM, que se reflecte tanto no que respeita à escrita em português como em chinês, e mesmo em obras traduzidas, algumas pelos próprios autores. Han Lili destaca Yao Jingming, que escreve em chinês, português ou mesmo inglês. No entanto, “apesar de Yao Jingming fazer as suas traduções, tem muitas obras que ainda não têm versão em português”. Para a professora, o académico é um exemplo do que de sólido e de qualidade se faz em Macau ao nível da escrita”. “Além de ter uma sensibilidade poética, [Yao Jingming] consegue escrever em línguas diferentes, sem que interfiram uma com a outra”, explica. Outra referência proposta para futura tradução é a poetisa Susana Yun ou Tai Ki, que “é uma excelente romancista”. Ao recorrer a pequenas histórias, Tai Ki consegue tecer um argumento complexo e muito estruturado, o que lhe valeu o prémio de literatura, durante três anos, atribuído pela Fundação Macau: “Isto demonstra que a qualidade começa a ser reconhecida”. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

EVENTOS

VHILS DESENHA JOSÉ SARAMAGO EM MADRID

O artista português Alexandre Farto, mais conhecido como Vhils, realiza desde ontem, até quinta-feira, um graffiti com o rosto do Nobel português da literatura, José Saramago, na fachada da Universidade Carlos III de Madrid. Esta “intervenção” num espaço público, onde passam diariamente milhares de pessoas, faz parte da programação da mostra de cultura portuguesa que decorre em Espanha até ao fim do ano. Diogo Infante e Rodrigo Leão estão entre os vários artistas portugueses presentes na 14ª. Mostra Cultura Portugal, organizada pela embaixada de Portugal em Madrid.

DANÇA DO LEÃO VOLTA AO MGM

O próximo fim-de-semana é dedicado a mais uma edição do Campeonato MGM de Dança do Leão. Este ano, a iniciativa conta com a participação de 15 equipas masculinas provenientes de dez países e regiões: China, Hong Kong, Macau, Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietname. Da casa, marcam presença a Associação Desportiva e Recreativa de Hong-Wai de Macau e Associação Desportiva do Leão Acordado, Lo Leong. O campeonato, que decorre durante dois dias, será também o primeiro, a nível local, que conta com participação feminina. A dança do leão é baseada na tradição da modalidade do Sul da China e consiste numa performance realizada por uma equipa de duas pessoas, que alternam movimentos sincronizados de modo a imitar e simular os diferentes humores e movimentos físicos de um leão, explica a organização.

“AD LIB” KONSTANTIN BESSMERTNY NO MAM

É inaugurada na próxima sexta-feira a exposição “Ad Lib”, de Konstantin Bessmertny, no Museu de Arte de Macau (MAM). O artista plástico russo, há longos anos residente no território, é considerado um dos nomes de relevo do continente asiático e traz ao MAM um conjunto de 34 obras que incluem técnicas como a pintura, escultura, instalações ou técnica mista. Konstantin Bessmertny vive em Macau desde 1993 e utiliza o absurdo e o humor na criação de obras que exprimem conceitos que vão da filosofia à política, e que podem passar pela história, cinema ou religião, indica a organização. A exposição é inaugurada às 16h30 e estará patente até 28 de Maio.


12 CHINA

hoje macau quarta-feira 9.11.2016

PEQUIM FAZ “ESFORÇOS” PARA MELHORAR RELAÇÕES COM O VATICANO

Santas aproximações

EXPORTAÇÕES CAEM PELO SÉTIMO MÊS CONSECUTIVO

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S exportações da China diminuíram em Outubro pelo sétimo mês consecutivo, com a fraca procura global a constituir um obstáculo para a segunda maior economia do mundo, apesar da estabilização do ritmo de crescimento económico. O resultado surge numa altura em que as empresas exportadoras da China, a maior potência comercial do planeta, apresentam reduzidas margens de lucro, devido a um aumento dos custos da mão-de-obra e crescente competição dos países do sudeste asiático. As exportações chinesas recuaram 7,3% no mês passado, face ao mesmo pe-

ríodo de 2015, enquanto as importações caíram 1,4%, com ambos os indicadores a ficarem abaixo do previsto pela agência Bloomberg. No total, as exportações chinesas somaram 178,2 mil milhões de dólares e as importações 129,1 mil milhões . No conjunto, o ‘superavit’ da balança comercial chinesa caiu 49,1 mil milhões de dólares num mês. A queda nas exportações ocorre apesar da desvalorização da moeda chinesa, o yuan, que atingiu na semana passada o valor mínimo dos últimos seis anos, face ao dólar norte-americano, tornando os produtos chineses mais baratos. PUB

HM • 1ª VEZ • 9-11-16

ANÚNCIO 勒遷案 第 Proc. Despejo n.º

CV3-16-0008-CPE

第三民事法庭

3.º Juízo Cível

Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO.--------------------------------------------------Réu: PORFÍRIO ANTÓNIO VASQUES DE AZEVEDO TEIXEIRA, com a última residência em Macau, na Rua de Pedro Coutinho, n.º 53, edf. Residencial Coutinho, 14º andar B, ora em parte incerta.------------ FAZ-SE SABER que pelo Tribunal, juízo e processo acima referidos, correm éditos de TRINTA DIAS, contados a partir da data da 2ª e última publicação do presente anúncio, citando o Réu, acima identificado, para no prazo de TRINTA DIAS, findo o dos éditos, contestar, querendo, a petição inicial dos autos acima indicados, apresentada pelo Autor, na qual pede que deverá a presente acção ser julgada procedente por provada e em consequência o Réu condenado a entregar voluntariamente a fracção à R.A.E.M., bem como ser condenado ao pagamento de todas as rendas vencidas, no montante total de MOP$60,879.00 bem como de todos demais rendas vincendas até trânsito em julgado da presente acção, acrescendo de juros de mora e taxa legal vencido e vencendo sobre o capital em divida, conforme tudo melhor consta da petição inicial, cujo duplicado se encontra na secretaria à sua disposição.------------------ O citando fica advertido de que ao contestar pode deduzir em reconvenção o seu direito a benfeitorias ou a uma indemnização, e ainda que é obrigatória a constituição de advogado nos termos dos artºs.932º e 74º do Código de Processo Civil, e a falta de contestação não importa a confissão dos factos articulados pelo Autor, caso a mesma permaneça na situação de revelia absoluta.-------------------------------------------------------------------------------------Macau, aos 14 de Outubro de 2016.

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China disse ontem realizar “esforços constantes” para melhorar as relações com o Vaticano e que quer alcançar “novos resultados”, numa altura em que ambas as partes estarão a negociar um acordo sobre a ordenação dos bispos. “Estamos sinceramente dispostos a melhorar as nossas relações e fazemos esforços constantes nesse sentido”, disse ontem Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa conferência de imprensa em Pequim. Segundo páginas na Internet de informação ligada à igreja católica, a Santa Sé e Pequim estão a negociar um acordo que prevê que o papa reconheça quatro dos oito bispos da Associação Patriótica dos Católicos Chineses, que anteriormente recusou consagrar. Aquele organismo estatal é o único reconhecido pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e todos os seus bispos são nomeados pelo Governo, sendo independente do Vaticano. A China e a Santa Sé não têm relações diplomáticas desde 1951 e uma das maiores divergências entre ambos os lados reside precisamente na nomeação dos bispos. Lu Kang assegurou que “existem canais de comunicação (com o Vaticano) nesse sentido” e que Pequim gostaria de cooperar com a Santa Sé para “impulsionar os laços bilaterais e alcançar novos resultados”.

CAMINHO PAPAL

Oficialmente, o número de cristãos na China continental rondará os 24

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República Popular da China tem 1,34 milhões de milionários, segundo uma unidade de investigação com sede em Xangai, o que pressupõe que um em cada mil chineses tem mais de um milhão de dólares. De acordo com a análise da Hurun Report Inc, até Maio deste ano houve mais 130.000 chineses que se tornaram milionários, um aumento de 10,7%, face ao mesmo período do ano passado. Segunda maior economia do planeta, a seguir aos Estados Unidos da América, a China é também o país mais populoso, com 1.368 milhões de habitantes - cerca de 18% da humanidade.

“Estamos sinceramente dispostos a melhorar as nossas relações e fazemos esforços constantes nesse sentido” LU KANG PORTA-VOZ DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS CHINÊS milhões, o que não chega a dois por cento da população. A Academia Chinesa de Ciências Sociais estima que haja cerca de 130

milhões de cristãos ligados às chamadas “igrejas clandestinas”, aquelas que se mantêm aliadas ao Vaticano. Desde que foi eleito, em 2013, o papa Francisco tem procurado uma reconciliação com a República Popular da China, tendo já assumido o desejo de visitar o país, o que seria um acontecimento inédito. Nos últimos meses, ambas as partes manifestaram a sua vontade em melhorar as relações e Pequim apelou por várias vezes ao Vaticano para que dê “passos concretos”. O Governo chinês exige ainda que a Santa Sé rompa os laços diplomáticos que mantém com Taiwan e que não interfira nos assuntos internos do país.

Rico oriente

Um em cada mil chineses é milionário

No total, 0,1% da população chinesa, ou um em cada mil chineses, tem mais de um milhão de dólares. A Hurun, considerada a Forbes chinesa, estima ainda que existam agora 89.000 de bilionários no país, mais 11.000 do que em 2015. Guangdong, no sul da China, é a província que concentra mais milionários - cerca de 240.000 - destronando Pequim. Mais de metade dos chineses com uma fortuna superior a um milhão de euros vive nas províncias de

Guangdong e Zhejiang, no sul e leste do país, respectivamente, e nos municípios de Pequim e Xangai. Já Pequim é a cidade com mais milionários ‘per capita’, com um em cada 100 residentes na capital chinesa a possuir mais de um milhão de dólares.

ACTIVOS DE FORA

A Hurun destaca ainda que os milionários chineses preferem investir além-fronteiras, principalmente em divisas estrangeiras. O yuan, a moeda chinesa, caiu 9%, desde

Agosto de 2015, levando muitos investidores chineses a procurar activos denominados em dólares ou euros. A China representa 10% da riqueza mundial e desde o início do século o Produto Interno Bruto (PIB) chinês quintuplicou. Apesar de a Constituição continuar a definir o país como “um Estado socialista liderado pela classe trabalhadora e assente na aliança operário camponesa”, o fosso social mantém-se acima do “nível alarmante” definido pela ONU. Segundo os critérios do Banco Mundial, cerca de 200 milhões de chineses vivem na pobreza.


13 hoje macau quarta-feira 9.11.2016

O

britânico Rurik Jutting, ex-funcionário do banco Merryl Linch, foi ontem declarado culpado do homicídio de duas mulheres em Hong Kong em 2014. Os nove elementos do júri do tribunal de Hong Kong que julgou o caso foram unânimes em considerar Rurik Jutting, de 31 anos, culpado da morte de duas mulheres indonésias. Rurik Jutting incorre agora numa pena que pode chegar à prisão perpétua. No início do julgamento, a 24 de Outubro, o britânico declarou-se culpado do homicídio involuntário das duas mulheres encontradas no seu apartamento em Hong Kong, mas alegou “responsabilidade diminuída”. Seneng Mujiasih e Sumarti Ningsih, ambas na casa dos 20 anos de idade, foram encontradas mortas no apartamento de Jutting na madrugada de 1 de Novembro de 2014, após o próprio chamar a policia. Jutting foi considerado apto para ser julgado, após avaliação psiquiátrica.

CENÁRIO DE TERROR

Os investigadores encontraram Seneng Mujiasih nua, na sala, com ferimentos de arma branca nas pernas e nádegas. O corpo em decomposição de Sumarti Ningsih PUB

A cara dos horrores

Britânico declarado culpado do homicídio de duas mulheres em Hong Kong

foi encontrado horas mais tarde dentro de uma mala na varanda. Durante o julgamento, o tribunal mostrou ao júri vídeos em que Rurik Jutting tortura e admite ter

matado uma das duas mulheres. O júri assistiu a cerca de 20 minutos de imagens do telemóvel de Jutting, em que este ataca Sumarti Ningsih, de 23 anos.

Segundo a acusação, a mulher foi torturada durante três dias depois de ter entrado no apartamento de luxo de Jutting a 25 de Outubro de 2014, após o britânico

CHINA

Os investigadores encontraram Seneng Mujiasih nua, na sala, com ferimentos de arma branca nas pernas e nádegas. O corpo em decomposição de Sumarti Ningsih foi encontrado horas mais tarde dentro de uma mala na varanda lhe ter oferecido dinheiro em troca de sexo. A acusação mostrou depois uma série de vídeos em que Jutting fala para a câmara após matar Ningsih. “Há cerca de cinco minutos matei, assassinei esta mulher”, diz. “Tomei muita cocaína. Torturei-a muito”, acrescenta. O início das imagens mostra um breve vislumbre do corpo de Ningsih deitada no chão do chuveiro. “Sinto-me um pouco triste porque ela era boa pessoa, mas não me sinto culpado”, afirma para a câmara.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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WANG CHONG

王充

OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG

Veneram os fantasmas, mas provocam certamente a sua cólera. O exame dos livros – 1

O

antepassado dos confucionistas é Confúcio; o dos moístas é Mo Zi. A doutrina dos confucionistas foi transmitida até nós, enquanto que a dos moístas se perdeu. Tal se deve ao facto de a primeira ser praticável, enquanto que a segunda é difícil de aplicar. Que prova daria eu de tal facto? Os moístas propõem funerais simples e veneração dos fantasmas, mas a sua doutrina contradiz-se e contradiz a realidade, o que a torna difícil de seguir. E em que se contradiz? Se os fantasmas não são os espíritos subtis dos mortos, de que valeria a pena venerá-los se não têm consciência? Ora, os moístas estimam que os fantasmas são verdadeiramente os espíritos subtis dos mortos, tratando-os generosamente mas ignorando o cadáver, o que significa venerar os espíritos subtis dos mortos enquanto se negligencia o seu cadáver. A sua veneração não se mostra coerente, as suas práticas são contraditórias, só podendo irritar os fantasmas e atrair dissabores: veneram os fantasmas, mas provocam certamente a sua cólera [NT – De assinalar que Wang Chong não acreditava na existência de fantasmas. Aqui, o seu argumento é puramente retórico]. Por natureza, o homem aspira à consideração e detesta a falta de respeito, o que deve suceder também com os espíritos. Com o método dos moístas, espera-se atrair benesses pelo serviço aos fantasmas, mas tais benesses são bem esparsas, e a maior parte do tempo só se atraem desgraças. E este é só um exemplo entre centenas, a doutrina dos moístas é toda ela deste tipo, sendo fácil compreender porque foi esquecida. Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseia-se na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.


15 hoje macau quarta-feira 9.11.2016

na ordem do dia 热风

Julie O’yang

Ser “cool” na antiga China 八雅

E

STAMOS a falar do chinês “cool” e não do coolie chinês Ser cool na antiga China significava ter adquirido as “oito graças”: 八雅。 Cítara, Go, caligrafia, pintura, poesia, “apreciar” bebidas, arte floral, praticar o ritual do chá. Estes oito “ingredientes” faziam duma pessoa uma “brasa” da Antiguidade. Cítara 琴 Vou dedilhando e trauteio quando estou ébrio Quantos cordas partirei até ficar sóbrio outra vez? Não se trata de um poema que promova o alcoolismo, mas sim de um poema que nos fala do antigo culto da cítara. A cítara, o Go (jogo chinês de tabuleiro), a caligrafia e a ilustração representam quatro disciplinas eruditas; quatro requisitos para quem queria “dar nas vistas”. A cítara, 琴ou古琴 era o supra-sumo destas habilidades e continha as “nove virtudes”. Ficou conhecida como o “instrumento dos cavalheiros” e era símbolo de bom gosto e de honra. A cítara é sinónimo da verdadeira música. Go棋 Sonho com a minha vida entre cada jogada Gosto de pensar três vezes antes de agir. Jogar Go é uma arte. O Go foi um elemento importante da vida cultural na Antiguidade. Totalmente distinto de qualquer outro jogo recreativo, acreditava-se que redimensiona a perspectiva moral do jogador, o seu comportamento e a sua noção de estética. Fornece formas alternativas de pensamento. Caligrafia 书 Traços fortes e curvas elegantes escrevem palavras intemporais, O passado esconde-se dentro de cada pincel. Diz-se que Cang Jie inventou os caracteres chineses, que são também pictogramas. A escrita chinesa contém a um tempo o som e a imagem, razão pela qual continua a ser um dos meios mais importantes para a comunicação do conhecimento.

Pintura tradicional画 Como fazer permanecer a Primavera? Só a pintura capta o perfume das suas flores. A pintura tradicional na China centra-se na beleza da Natureza e só indirectamente reflecte a vida social da época. Mergulhava-se o pincel na tinta para pintar em papel ou seda. O tema poderá ser a paisagem, as flores, os pássaros, imaginários ou reais, e surgem quadros de sonho. Poesia 诗 Flores primaveris e a chuva do Outono tecem os meus poemas A Lua da aurora e a geada da noite entoam as minhas canções. A capacidade pictórica da escrita chinesa torna a poesia clássica rica em imagens. Estes poemas são imagens em movimento, livres das regras da gramática, e permitem que o leitor mergulhe de imediato na visão do poeta. Licores 酒 Viajo até ao fim do mundo para encontrar o caminho do regresso Mas só esta taça de vinho sabe amar a minha terra natal. Os vinhos e licores são tão antigos quanto a poesia chinesa. Associa-se frequentemente os poetas chineses a episódios anedóticos sobre embriagados, alguns divertidos, outros trágicos. Arte Floral 花 A Primavera convida um imenso esplendor ao meu jardim A brisa sopra sobre a terra / vestida de todos os perfumes. Mais conhecida nos nossos dias por ikebana, a antiga arte floral era considerada essencial para a felicidade espiritual. O ritual do chá 茶 As folhas de chá bebem a essência do sol e da lua, Penso na solidão, quando as mergulho em silêncio na água cristalina. O ritual do chá é uma experiência estético-artística. É uma prática que defende a privacidade e o amor à solidão.


h

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hoje macau quarta-feira 9.11.2016

cidade ecrã

Rui Filipe Torres1

Godard em retrospectiva integral C

IDADE ecrã, é nome escolhido para este espaço de escrita sobre cinema que aqui hoje começa. Parece com interesse explicitar o porquê do nome. Trata-se de indicar a cartografia assumida, a assunção de que o cinema, em que a definição das fronteiras estéticas, identitárias, temáticas, que respondem à pergunta feita por André Bazin em 1958 “Qu´est-ce le cinema? “, não se fecham, e não se querem fechadas, entendendo-se que a definição de fronteiras fixas enquanto cartografia do território cinema é por definição uma impossibilidade e um caminho do não-cinema. Não se trata de um espaço que trabalha a relação particular do cinema com a arquitectura, embora também o posso ser. A “cidade” de que aqui se fala tem origem na “polis” grega mas trabalha o tempo contemporâneo. Este nosso tempo de cidade planetária, paradoxal, receosa, ciosa e orgulhosa da sua identidade mas também cosmopolita, aberta e desejosa de mundos. Cidade de contaminação permanente, fluxos constantes, em que o cinema, a língua das imagens em movimento nos múltiplos suportes ecrã, contamina e é contaminado por comportamentos, percepções, desejos, visões, medos e vontades, na construção continuada da cidade. O território do cinema na cidade ecrã é esta relação permanente de transgressão de fronteiras que o cinema é e de que se alimenta. Um cinema que tem por objecto o real sabendo-se cinema. Se se quiser, um cinema que é sempre uma instalação do mundo.

LISBON & ESTORIL FILM FESTIVAL ’16

1. Ser eterno e depois morrer, Jean-Luc Godard Feita a breve nota explicativa do título destas crónicas críticas, género jornalístico difuso, onde a reportagem com pretensões de objectividade e a reflexão sobre o que se olha se cruza de forma assumida, avancemos directo para o enorme acontecimento cinematográfico que é o Lisbon & Estoril Film Festival ’16. De 4 a 13 de Novembro os ecrãs dos Cinemas Monumental, Nimas, Casino Estoril, Casa das Histórias Paula Rego, Cinemas Cascais Shoping, Teatro da Trindade, Centro Cultural de Belém, Teatro Nacional D. Maria II, são ocupados com a programação desta 10ª edição que reconfirma a re-

levância e afirmação deste festival que tem este ano na retrospectiva integral da obra de Jean-Luc Godard, um dos grandes acontecimentos cinematográficos mundiais de 2016, é a primeira vez que uma retrospectiva integral da obra do cineasta fundador da “nouvelle vague” acontece no mundo. Não. Godard, não está morto, em breve fará 87 anos, está activo no cinema à 57 anos e é de esperar que o seu fazer cinematográfico não tenha terminado. O festival tem identidade desenhada no seu director, o produtor Paulo Branco, e no director adjunto António Costa (o assistente de Manuel Oliveira, que mais contribuiu para a obra do Mestre). Os nomes do comité de selecção são Michel Demopoulos, Roberto Turigliatto e o já referido António Costa. A retrospectiva de Godard é só por si um acontecimento cinematográfico. O movimento “ Nouvelle Vague” configura a relação epidérmica do cinema com os contextos sociais culturais e tecnológicos, relação mais do que epidérmica, todo um sistema orgânico, abusando da biologia sem excesso de falta de pudor porque é afinal do humano e da falência da máquina antropológica, se quisermos seguir o pensamento de Giorgo Agamben, a que este movimento dá fala e corpo cinema. As pesadas máquinas de cinema, na década de 50/60, são objectos tecnológicos do passado, torna-se possível filmar fora do estúdio com equipas mais reduzidas, este processo foi ainda mais

radical com a chegada do vídeo e do digital, que tão bem conhecemos em décadas posteriores. Socialmente nos países do capitalismo avançado como a França, uma nova geração tem acesso ao ensino superior e está culturalmente preparada para uma relação mais exigente com o cinema, porque também é essa a sua exigência com o mundo em que vive, mundo onde é ainda possível a visão de duas construções possíveis, a da sociedade capitalista e da sociedade socialista. O movimento da crítica cinematográfica francês, fortemente politizado, tem a sua expressão maior nos “cahiers du cinema” revista fundada em 1951, entre outros por André Bazin , revista que no seu movimento originário “Revue du Cinéma” tem nomes como Cocteau, Bresson, Astruc ou Éric Rohmer. Jean-Luc Godard é um dos nomes maiores deste movimento que se pode denominar como cinema de autor, em oposição ao dominante cinema estúdio americano, no qual quando um filme entra em rodagem, nada, ou muito pouco do que já pré-determinado pode, tem espaço, para ser alterado. Este movimento, e particularmente Jean-Luc Godard, tem exactamente na fenomenologia, na abertura ao real no momento preciso da sua fixação na obra no suporte cinematográfico a, então radical, metodologia de trabalho. Não se trata de o realizador não saber o que pretende com a obra, mas de a criar numa abertura constante com a materialidade que esta fixa, o tempo e o movimento, o corpo e a dinâmica dos actores.

Não se trata de recusar o cinema americano, nem sequer o cinema narrativo, mas de ousar novos caminhos em que novos temas e exercícios formais são matéria fílmica. A retrospectiva começou com O Acossado – A Bout de Soufle, título original, primeira longa metragem do Godard, e foi recebida com enorme entusiasmo na sala cheia do Nimas, longa metragem de 1959, protagonizada por Jean-Paul Belmonte e Jean Seberg. Neste filme, é revisitado o universo do “film noir”, mas toda a operacionalização da narrativa vivem de uma nova estética com recurso a citações; literatura, pintura e, claro, o próprio cinema. A montagem do filme recusa a linearidade, obrigando a uma nova relação do espectador com a narrativa na tela. Reinventa signos, como o do polegar a roçar o lábio, hoje icónico do glamour em atitude irreverente comercialmente usado em publicidade, caso da publicidade ao Martini. É todo um novo retrato da vida urbana de uma capital cosmopolita, Paris, que tem aqui uma singular nova voz, em que irreverência, marginalidade e juventude se cruzam, num mundo onde o afecto é fragmentado e sujeito ao acaso e modelos de sobrevivência, em que a liberdade ainda se sonha possível. É deste filme, a fala Jean-Pierre Melville, à protagonista na sua condição de repórter, o que importa é : ser eterno e depois morrer. FICHA TÉCNICA Título Original: À Bout de Souffle Realização: Jean-Luc Godard Guião: Jean-Luc Godard, baseado numa história de François Truffaut Género: Policial Tempo de Duração: 86 minutos Ano de Lançamento (França): 1959 Estúdio: Impéria / Société Nouvelle de Cinématographie / Les Films Georges de Beauregard Distribuição: Impéria Produção: Georges de Beauregard Música: Martial Solal Fotografia: Raoul Coutard Desenho de Produção: Claude Chabrol Montagem: Cécile Decugis e Lila Herman 1 - Cineasta. Licenciado em Ciências da Comunicação pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Mestrando em Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. O texto não segue o novo acordo ortográfico.


17 hoje macau quarta-feira 9.11.2016

TEMPO

C H U VA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente

?

FRACA

MIN

18

MAX

22

HUM

75-95%

EURO

8.82

BAHT

O CARTOON STEPH

ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

PROBLEMA 117

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 116

Cineteatro

C I N E M A

UM LIVRO HOJE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” MACAU E LUSOFONIA AFRO-ASIÁTICA EM POSTAIS FOTOGRÁFICOS Arquivo de Macau (até 4/12)

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)

YUAN

1.18

PRETO

DE

EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)

0.22 AQUI HÁ GATO

VAFA - SALÃO DE OUTONO Casa Garden EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha

(F)UTILIDADES

Há dias muito cinzentos, cinzentos pálidos. Ontem foi um deles. Acordei pardo, em vez de preto, com a cabeça noutro sítio que não aqui, nesta redacção onde, na maior parte dos dias, falta tempo para umas festas na barriga. Porque acordei pardo, em vez de preto, decidi saltar a janela e descer devagarinho pelos bambus da obra aqui no prédio. Queria esticar as pernas e as ideias, entorpecidas e pardas, cinzentas pálidas.Não fui longe. Há horas do dia em que esta zona da cidade onde me encaixaram tem dificuldade em respirar – quanto mais em se mexer. Do nível a que ando no chão, sendo um gato sem asas, começo por ver muitos tacões de mulheres elegantes. Elas não me vêem e eu, pequenino e pardo como o chão – que ontem não consegui ser um gato preto – faço o difícil exercício de passar por entre as pernas apressadas sem levar uma picadela de um salto agulha. Ando uns metros e o calçado diversifica-se: há muitos ténis, sandálias, chinelos. Vejo muitos sacos também, cheios de compras, de coisas mais ou menos úteis, quase sempre dispensáveis, mas os humanos gostam de gastar patacas em caixas e tralhas e pechisbeques. Por entre a multidão, a um canto, ao pé de uma fonte de água suja, uma mãe segura um rapaz aflito, pequenino, de calças no chão. Segue-se o irmão. O pai aparece, cheio de sacos e com uma sanduíche trincada, a mulher agarra nos filhos e seguem caminho. As ruas da cidade estão pardas, sujas. Eu regresso ao meu canto, por entre os saltos altos e os passos apressados de quem volta ao trabalho, a pensar que hoje só saio à noite, quando as ruas se tornarem escuras, pretas como eu, e disfarçarem o quanto Pu Yi a cidade deixou de ser minha.

O SENTIDO DO FIM | JULIAN BARNES

É o livro que deu a Julian Barnes o Man Booker Prize de 2011. Um romance sobre a imperfeição da memória, “O Sentido do Fim” conta a história de Tony Webster, um homem reformado que, de repente, se vê confrontado com o passado, com o rapaz que foi no final do liceu. Um livro com uma história tensa, forte, que pode ser um murro no estômago, escrita por um incontornável autor. Isabel Castro

TROLLS SALA 1

SALA 3

Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 14.30, 16.45, 21.30

FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 14.15, 16.00, 19.30

DOCTOR STRANGE [B]

DOCTOR STRANGE [B] [3D] Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 19.15 SALA 2

INFERNO [B] Filme de: Ron Howard Com: Tom Hanks, Felicity Jones, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

TROLLS [A]

TROLLS [A] [3D] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 17.45

JACK REACHER: NEVER GO BACK [C] Filme de: Edward Zwick Com: Tom Cruise, Cobie Smulders, Danika Yarosh, Austin Hebert 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau quarta-feira 9.11.2016

ALEXANDRA LUCAS COELHO Público

1. Centenas de milhões e eu torcemos para que amanhã (hoje) os estado-unidenses impeçam Trump de chegar à Casa Branca. Digo estado-unidenses porque, infelizmente, nem todos os americanos, nem sequer todos os norte-americanos podem votar para impedir Trump. Provavelmente nunca houve uma eleição em que tanta gente gostasse de votar, mas sobretudo tenho pena de que todos aqueles norte-americanos do México não possam ir às urnas para tirar de vez este lixo do nosso alcance, um homem que insulta a todo o momento mexicanos, muçulmanos, negros, emigrantes, mulheres. 2. É ciclicamente difícil acreditar na democracia, 2016 ainda não acabou mas já conteve o bastante para ser um daqueles auges da descrença, e os Estados Unidos são o melhor exemplo de uma grande democracia em que se dão brutalidades extremas, internas e externas. Quem acredita na democracia dirá que isso acontece apesar da democracia e lutará de algum modo para a melhorar. Quem não acredita dirá que a própria democracia se sustenta na brutalidade e esperará que ela impluda. É um longo debate, talvez a guerrilha volte em força brevemente, por naufrágio da democracia. O fortalecimento eleitoral de extremistas em tantos países, os referendos com a vitória do “Brexit” e a derrota do Acordo de Paz na Colômbia ou o que aconteceu no Brasil, do “impeachment” de Dilma à eleição carioca de Crivella, são resultados melancólicos para a democracia. Digo melancólicos por ainda acreditar nela. 3. Então, nestas vésperas da eleição nos EUA perguntaram à superstar Slavoj Zizek em quem votaria se fosse eleitor lá. Psicanalista marxista com notável queda para os holofotes, Zizek tornou-se um pensador-sensação, pelo menos até parte da esquerda começar a ter dúvidas sobre o que ele queria, se é que ele próprio sabia. Entrevistado agora pelo Channel Four, declarou sem hesitar que votaria em Donald Trump. Sim, sente-se “horrorizado” com Trump mas “o verdadeiro perigo” é Hillary Clinton. Aliás, diz ele, quando Bernie Sanders apoiou Hillary “foi como alguém do movimento Occupy Wall Street apoiar a Lehman Brothers”. Se Trump ganhar, julga Zizek, “algo pode acontecer”, poderá haver “um grande despertar”. A tal implosão do sistema, presume-se (quanto pior, melhor). É um vídeo em que o protagonista é o nariz do pensador, afagado de dois em dois segundos. Enquanto isso, Zizek simplesmente não cheira o lixo cá fora. Ou talvez tudo resulte de ele ser tão um pensador superstar, e não um mexicano ilegal nos EUA, não um muçulmano, não um negro, não uma daquelas mulheres que Trump assediou, maltratou, e insulta. Talvez o ego de Zizek seja tão grande que ele acredite que constrói a revolução a partir do seu divã mesmo à custa de dizer que votará no homem que insulta de forma degradante centenas de milhões de pessoas. Não questiono a obra de Zizek para trás (nem poderia fazê-lo, li um par de livros e pouco mais). O ponto aqui é o insulto que representa para tantos

STEPHEN KING, IT (1986)

O lixo de Trump e o nariz de Zizek

Se Zizek acha que o perigo é Hillary, ou prefere Trump porque quer rebentar com tudo, o problema de Zizek está um pouco acima do nariz. Mas a esquerda não tem de o partilhar milhões alguém com audiência intelectual, e uma suposta crença num mundo solidário, dizer estas barbaridades. E preocupa-me que parte da esquerda possa acreditar de facto que Trump e Hillary são ambos maus, ou que nada é pior do que Hillary. 4. Trump e Hillary não são ambos maus porque Trump é indescritivelmente pior. Não sou uma simpatizante de Hillary, sempre achei que nunca votaria nela a não ser em

caso de emergência. É coisa de pele, de antes dos escândalos. Cobri a segunda campanha de Bill Clinton para a Casa Branca há 20 anos, andei pelo Arkansas onde eles moraram, observei-a ao vivo, e já não gostava do estilo. Em 2008 não apenas torci por Obama na corrida para a nomeação Democrata, em que Hillary era a rival, como depois tirei uma semana de férias para festejar no Harlem a vitória dele. Tenho várias ques-

tões com Barack Obama (começando pela falta de firmeza em relação ao governo de Israel), mas vou ter muitas saudades dele, e da estupenda Michelle. Talvez um dia os estado-unidenses possam votar em Michelle Obama para a Casa Branca. Tirando aquele momento “maior nação do mundo” que ela e o marido sempre têm, e sempre me parece mais do que dispensável, foi antológico o discurso que ela fez depois do “vídeo balneário” de Trump, esse pândego quando se trata de assaltar mulheres. Michelle disse que nestas eleições não se trata de política como de costume mas de decência humana mínima, e tem razão. É um caso de emergência, como foi o da prefeitura do Rio de Janeiro: ainda que as pessoas não gostassem de Freixo era preciso impedir Crivella, e o seu projecto de poder nacional e internacional para a Igreja Universal do Reino de Deus. No caso do Rio, acresceu a circunstância trágica de Freixo ser um excelente candidato. Infelizmente, o impacto da eleição de amanhã é sobre todo o planeta e Hillary não é uma excelente candidata. Às questões de estilo somam-se problemas passados e previsíveis problemas futuros (por exemplo, se o governo de Israel agiu como inimputável com Obama mais agirá com Hillary, é o que o seu comportamento anterior leva a crer). Ainda assim, não se trata de escolher entre dois males, e portanto não votar, ou votar num alternativo. Só votar Hillary impede Trump de ganhar, e quem não votar nela terá ajudado Trump a ganhar. Agora pensem um minuto na hipótese real de aquele homem ser presidente. 5. A actriz Susan Sarandon disse à BBC que não votaria Hillary porque não vota com a vagina. Ainda bem, o ideal de facto é que toda a gente vote com a mão comandada pela cabeça. E por isso é que não entendo como ela diz que vai votar em Jill Stein para reforçar os votos alternativos, já que Hillary e Trump são igualmente maus. Quero acreditar que só o diz, como alguma esquerda também diz, porque não acredita que Trump possa mesmo ganhar. Votos alternativos são óptimos, claro, mas se Trump chegar à Casa Branca o melhor é passarmos já à guerrilha. Cada voto faz diferença: nem quatro anos, nem quatro meses, nem quatro dias. Alguém que chama violadores em massa aos emigrantes mexicanos e acha que pode pôr a mão no sexo de qualquer mulher só porque é famoso não pode ser presidente do condomínio dele, quanto mais dos Estados Unidos da América. Um dos perigos, aliás, é Trump estar convencido de que vai governar o mundo como governa o seu condomínio. Em suma, se Zizek crê verdadeiramente que o verdadeiro perigo é Hillary, ou prefere Trump porque quer rebentar com tudo, então o problema de Zizek está um pouco acima do nariz. Mas a esquerda não tem de o partilhar. E, sendo optimista, acredito que a democracia tenderá a travar alguns dos problemas de Hillary como governante. Ela estará sob todas as luzes.


19 hoje macau quarta-feira 9.11.2016

ÓCIOSNEGÓCIOS

MINI EDUCATION CENTER, ESTÚDIO DE DESPORTO KID NG, RESPONSÁVEL

O Mini Education Center é um estúdio de desporto que aposta em aulas de exercício funcional, um tipo de treino que visa explorar as capacidades básicas pessoais. O criador do projecto, Kid Ng, procura incorporar a nova tendência de exercício físico na vida quotidiana das pessoas de Macau

Apesar dos muitos benefícios trazidos pelo treino, há riscos de lesões. “Será melhor contar sempre com a supervisão de um especialista”, explica Kid Ng, referindo que o centro prefere oferecer treinos com turmas pequenas, constituídas, no máximo, por dez alunos, de modo a assegurar a comunicação e a supervisão. “Damos prioridade à qualidade, em vez da quantidade,” diz. “Guiamos os participantes para que sintam a alegria de fazer exercício e assim entenderem, nesta sociedade ocupada, a importância e os benefícios que os exercícios podem trazer, deixando-os coexistir com a vida.” Kid Ng investiu na decoração do centro, para que esteja em consonância com a filosofia do tipo de treino que ali se disponibiliza. Quando se entra no espaço, nota-se logo que a concepção do local pretende criar a atmosfera de “exercício incorporado com a vida”, diferente dos ginásios ou estúdios de exercício mais comuns. A zona de serviço, junto à entrada, está equipada com um bar, uma televisão, dardos e bebidas, para que os clientes possam ouvir música ligeira, enquanto conversam com os amigos ou trocam dicas e experiências com outros amantes de desporto.

MINI EDUCATION CENTER

Encaixar o desporto na vida

PAGAR PARA SUAR

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HAMA-SE exercício funcional e é hoje uma das tendências mais populares no plano de treino físico, mas em Macau a ideia parece ainda não estar a ter muita atenção. Kid Ng, jovem nascido e criado no território, introduziu este recente modelo de treino para Macau com a criação do Mini Education Center, pretendendo disponibilizar aos amantes de desporto – de todas as idades, profissionais ou amadores – cursos de exercício modernos e dinâmicos integrados com exercícios funcionais. O treino funcional é considerado um método de trabalho mais dinâmico do que os treinos convencionais, caracterizado por conjugar diferentes capacidades físicas num único exercício. Os movimentos no treino trabalham a força muscular, a flexibilidade, o condicionamento cardiorrespiratório, a coordenação motora e o equilíbrio. Assim, o foco passa de um grupo muscular isolado para todo o corpo.

Kid Ng acredita que em Macau uma consciência social cada vez maior em relação aos benefícios do exercício: as pessoas procuram formas de diversão mais saudáveis, mas ainda se notam bastantes reticências em relação ao pagamento de aulas deste género. “Provavelmente deve-se às medidas desportivas ou medidas de aprendizagem oferecidas pelo Governo, que fazem com que os eventos desportivos ou arrendamento das instalações desportivas sejam gratuitos ou a preços muito baixos, o que faz com que as pessoas não queiram pagar para fazer exercício”, refere. Para tentar dar a volta a este problema, o responsável pelo centro pediu a integração dos cursos

Quando se entra no espaço, nota-se logo que a concepção do local pretende criar a atmosfera de “exercício incorporado com a vida”

no Programa de Aperfeiçoamento Contínuo dos Serviços de Educação e Juventude, para que os residentes possam utilizar o subsídio dado pelo Governo. Além das turmas pequenas, o centro também oferece a possibilidade de se fazerem turmas em cooperação com companhias e organizações, para que os trabalhadores possam, através do exercício, procurar combater o stress. Kid Ng explica que esta modalidade é já uma alternativa às empresas que querem enriquecer o pacote de benefícios dos seus empregados.

Além disso, o Mini Education Center disponibiliza treino gratuito para os atletas profissionais locais, por considerar que, em Macau, são poucos os recursos dados a quem faz desporto de competição. Kid Ng espera poder, deste modo, contribuir para o desenvolvimento do desporto local. Angela Ka

info@hojemacau.com.mo

MINI EDUCATION CENTER • Rua de Francisco António N. 167, Edf. Tak Yip, R/C D, Macau


Será que nos EUA democráticos os índios têm direito a voto?

quarta-feira 9.11.2016

Atlântido

COREIA DO SUL RETIRADA NOMEAÇÃO DE PM

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Presidente da Coreia do Sul, Park Guen-hye, anulou ontem a recente nomeação do novo primeiro-ministro perante a resistência da oposição, devido ao escândalo político ligado à alegada interferência de uma amiga sua em assuntos de Estado. Numa reunião com o presidente da Assembleia Nacional, Chung Sye-kyun, a chefe de Estado aceitou que sejam os deputados da câmara baixa a eleger o novo primeiro-ministro do país, de acordo com uma breve mensagem transmitida após o encontro. Park também informou o seu interlocutor de que o novo primeiro-ministro será responsável por controlar o gabinete, ao invés da própria Presidente, envolvida no maior escândalo político dos últimos anos na Coreia do Sul. No passado dia 2, a Presidente nomeou como novo primeiro-ministro Kim Byong-joon, um político ligado à oposição, na tentativa de atenuar os contínuos pedidos de demissão. No entanto, a proposta necessitava da ratificação da Assembleia Nacional, que provavelmente não iria acontecer devido à rejeição dos dois partidos da oposição – em maioria -, que acreditam que, com a nomeação unilateral, Park pretendia afastar de si responsabilidades pelo caso Choi Soong-sil. Choi é uma amiga da Presidente que, apesar de não ter qualquer cargo público, alegadamente modificou os seus discursos, interveio em assuntos de Estado e captou fundos de forma ilícita utilizando a sua influência para se apropriar de parte deles, segundo suspeita o Ministério Público. Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se em Seul no sábado, exigindo que Park abandone a presidência. O mandato da Presidente termina dentro de 15 meses. Caso Park se demita antes, a lei determina que têm de ser realizadas eleições presidenciais no prazo de 60 dias.

Fórum ANGOLA PEDE CAPITAL E TECNOLOGIA À CHINA

Venham lá os milhões Quase 500 empresários chineses estiveram reunidos em Luanda, durante um Fórum de Investimento, onde terão sido assinados acordos estimados em mais de 1,2 mil milhões de dólares

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ministro da Economia de Angola reiterou ontem, em Luanda, o desejo angolano de contar com o capital e recursos intelectuais, de gestão e tecnológicos da China, para promover o desenvolvimento nacional. Abraão Gourgel discursou ontem no encerramento do Fórum de Investimento Angola-China, que durante dois dias reuniu, em Luanda, mais de 450 empresários chineses, tendo resultado na assinatura de acordos de intenção e tramitação de projectos de investimentos

privados, avaliados em mais de 1,2 mil milhões de dólares.

PRIORIDADES DEFINIDAS

O ministro afirmou que as infra-estruturas continuam a ser as prioridades do Governo de Angola, que conta com uma maior participação do sector privado, inclusive o de estrangeiro, sob certas condições e com as garantias adequadas. Segundo Abraão Gourgel, os sectores do agro-negócio, da indústria, da geologia e minas, comércio externo e turismo dispõem também de oportunidades de investimento com taxas de retorno diferenciadas e grande potencial de crescimento.

“O Estado angolano continuará, para esse efeito, a assegurar as necessárias garantias jurídicas aos investidores privados, bem como a implementar os quadros reguladores adequados à protecção dos interesses nacionais”, referiu o ministro. O titular da pasta da economia de Angola frisou que o Governo tem desenvolvido todos os esforços para mitigar as vulnerabilidades provocadas pela baixa do preço do petróleo no mercado internacional, com reformas estruturais “para abraçar um modelo de desenvolvimento assente nas forças endógenas do país”. Para Abraão Gourgel, o fórum permitiu dar início a um novo momento das relações económicas e empresariais bilaterais entre Angola e a China, o “momento do investimento directo privado chinês em Angola”. “Os números do evento são claros e expressivos, podemos estar em presença do maior evento empresarial a nível bilateral entre os dois Estados, o que traduz bem a vontade e o interesse do sector privado chinês em participar de forma activa e conjuntamente com o empresariado angolano no processo de desenvolvimento económico e social do nosso país”, frisou. O fórum é ainda, segundo Abraão Gourgel, a demonstração da abertura do Estado angolano ao investimento privado externo e do suporte institucional e político que Angola concede à construção de parcerias empresariais mutuamente vantajosas.

MAN. UNITED FERGUSON ESCOLHE MELHOR ONZE DE SEMPRE Alex Ferguson, nome que se confunde com a história do Manchester United, escolheu aquele que, na sua opinião, é o melhor onze de sempre do clube de Old Trafford. Cristiano Ronaldo, contratado ao Sporting em 2003 por indicação do escocês, é um dos eleitos. Eis as escolhas de Ferguson: Peter Schmeichel; Gary Neville, Rio Ferdinand, Nemanja Vidic, Patrice Evra; David Beckham, Paul Scholes, Roy Keane; Cristiano Ronaldo, Cantona e Van Nistelrooy.

FILIPINAS MARCOS NO CEMITÉRIO DOS HERÓIS

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Tribunal Supremo das Filipinas autorizou ontem o enterro do ex-Presidente Ferdinand Marcos no Cemitério dos Heróis, em Manila, apesar das petições das famílias das vítimas do regime do ditador para que isso não aconteça. Os magistrados do Supremo rejeitaram com nove votos a favor e cinco contra as diversas petições contra a trasladação para aquele cemitério dos restos mortais de Ferdinand Marcos, que morreu em 1989, três anos depois de ter sido deposto numa revolta popular. O actual Presidente filipino, Rodrigo Duterte, anunciou em Agosto a trasladação do corpo do ditador para o Cemitério dos Heróis, mas o processo foi suspenso por causa das petições que deram entrada no Supremo. Os juízes argumentaram que Marcos foi Presidente e chefe das Forças Armadas condecorado com a mais alta distinção do país. Por outro lado, consideraram que o seu enterro no Cemitério dos Heróis não põe em causa o reconhecimento dos abusos cometidos durante o seu regime (1965-1986) nem contraria a Constituição de 1987. Ferdinand Marcos, que impôs a lei marcial nas Filipinas entre 1972 e 1983, é acusado da morte, tortura e detenção ilegal de mais de cem mil filipinos. É ainda suspeito de se ter apropriado ilicitamente de entre cinco e dez mil milhões de dólares, segundo as estimativas da organização não-governamental Transparência Internacional. O ditador morreu no exílio no Havai, Estados Unidos.


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