Hoje Macau 09 NOVEMBRO 2023 #5370

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HOJE MACAU

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUINTA-FEIRA 9 DE NOVEMBRO DE 2023 • ANO XXII • Nº5370

JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO

NA ROTA DOS PORTUGUESES

hojemacau

ENTREVISTA

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Crescer devagar HOJE MACAU

A proposta do Governo de subida do salário mínimo foi ontem aprovada na generalidade. O vencimento mensal dos mais desfavorecidos passa das actuais 6.656 patacas para 7.072 patacas. Para Novembro de 2024, está prometida uma nova revisão salarial. PÁGINA 4

OS CLÁSSICOS CONFUCIANOS André Levy

TURISMO

BANQUETE DE CONSUMO GRANDE PLANO

BNU

LUCROS A DUPLICAR PÁGINA 6

ZONA NORTE

LUGAR AOS VELHOS PÁGINA 7


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TURISMO “MACAU É UM LABORATÓRIO DE CONSUMO”, DIZ ACADÉMICO

O grande tubo principais sítios para onde os TimSimpson,docentedaUniversidade dos turistas vão”, pelo que analisar o permite “perceber o comde Macau, acaba de lançar o livro território portamento dos turistas chineses”. com dez anos “Betting Macau - Casino Capitalism Projecto Este livro começou a ser desenhado pensado em meados de 2003 e and China’s Consumer Revolution”, e2004, quando o académico iniciou a vida profissional e teve que foi apresentado na última edição acesso privilegiadoemaMacau um mundo mudança relativamente ao jogo do festival literário Rota das Letras. em e ao turismo do território. anos depois de me muO académico analisa como Macau dar “Três para Macau abriu o Sands, o casino inaugurado no se tornou um epicentro de consumo, primeiro território depois da liberalização Subsequentemente, tudo à medida que o turismo chinês se doemjogo. Macau mudou dramaticamente e de forma muito rápida. Tive a oportunidade de assistir a todos modifica e expande esses episódios e à transformação

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partir da liberalização do jogo nada ficou igual, muito menos a partir da política dos vistos individuais para cidadãos chineses que passaram a poder viajar para Macau e Hong Kong. Verificou-se então um boom económico e de consumo em Macau associado à mudança de paradigma do turismo chinês. Esta é uma das ideias essenciais do novo livro do académico da Universidade de Macau (UM) Tim Simpson, intitulado “Betting Macau - Casino Capitalism and China’s Consumer Revolution”, uma edição da Imprensa da Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos, e recentemente lançado na última edição do festival literário Rota das Letras. Ao HM, Tim Simpson explica que a obra aborda as questões “do consumo e da transformação que ocorreu nos consumidores e sociedade chineses, e no papel que Macau teve em toda essa mudança”. “Não me apresento aqui como um analista da área dos estudos de consumo, mas estou de facto mais interessado [em perceber] o lugar que Macau tem no capi-

talismo mundial. [O território] é, de facto, um laboratório para os consumidores chineses e uma componente da transformação pós-economia socialista que ocorreu na China.” O académico estabelece mesmo um paralelismo com a própria história de Macau como entreposto comercial desde o século XVI, “envolvido na economia mundial devido ao comércio com a China”. “Macau foi criada graças a essa ligação à extensão do capitalismo no seu início. De certa maneira, acabou depois por cair na obscuridade, em que houve um período em que as pessoas se esqueceram de Macau, voltando depois a emergir para desempenhar um novo papel no capitalismo global, que será provavelmente dominado pela China.” Em “Betting Macau” é analisado “o crescimento de Macau nos últimos 20 anos”. “O que vemos é um exemplo exagerado das mudanças que ocorrem na China nos dias de hoje”. Trata-se de um país que, aos olhos do autor, “está a movimentar a economia mundial e os turistas chineses são um factor essencial para a economia chinesa”. Neste contexto, Macau “é um

que ocorreu em Macau, tanto a nível cultural como da própria paisagem da cidade. Então comecei a interessar-me por escrever sobre isso e documentar toda essa transformação”, contou. Tim Simpson recorda-se do período em que começou a trabalhar na UM quando o campus estava ainda situado na Taipa. “Via diariamente centenas de turistas que frequentavam o hotel New Century. Tentava compreender esse fenómeno quando ia trabalhar, então comecei a investigar mais sobre o turismo em Macau.” É para este tipo de turistas que o território «é uma espécie de laboratório de consumo, porque

“Caminho pelos resorts e há ainda muitos espaços fechados. Parece-me que as grandes marcas ainda estão presentes, mas negócios mais pequenos ainda não conseguiram recuperar. Esse é o desafio.” essa função não existe para os locais”, sendo uma componente que “faz parte da transformação económica da China, que passou de uma economia socialista para uma economia de mercado”. “É nesse ponto que Macau se integra, na criação das zonas económicas especiais, que se tornaram laboratórios de produção. Macau e Hong Kong tornaram-se laboratórios de consumo”, ressalvou.

Os efeitos da SARS

Tim Simpson recorda que o consumo desenfreado que começou a verificar-se no território foi espoletado pelo arranque da política dos vistos individuais para os turistas chineses, destinados a Macau e Hong Kong. “Desde meados do século XIX, Macau tem sido um lugar onde o jogo é legal. Não penso que seja um exemplo exagerado de uma sociedade de consumo. As pessoas vinham para jogar e não havia muitas actividades que estivessem separadas do jogo. Mas com a

ocorrência da SARS [Síndrome Respiratória Aguda Grave], em 2002, prejudicou a economia de Macau e de Hong Kong, porque os turistas não viajavam para estas duas regiões com o medo de contágio. O Governo Central criou então o esquema de vistos individuais que, pela primeira vez, permitiu a cidadãos chineses comuns visitar as duas regiões.” A SARS teve um impacto bastante mais negativo, em matéria de saúde pública, em Hong Kong, mas a verdade é que os vistos individuais levaram à recuperação económica das duas regiões administrativas especiais. “A China tentou estimular ambas as economias ao criar os vistos individuais, e foi aí que se deu o boom: havia mais jogadores, mais visitantes em restaurantes e a adquirir produtos de luxo.” Questionado sobre a existência de semelhanças ou diferenças face ao período da pandemia, Tim Simpson recorda que “a covid-19 representou uma crise de saúde pública muito mais grave, no sentido em que teve contornos globais”. “Houve o encerramento de fronteiras e muitas restrições às viagens. O que vemos agora é o regresso dos turistas e, de repente, as pessoas estão a gastar dinheiro de novo, mas é um processo gradual. Parece-me que esta fase não vai mudar Macau para a fase anterior em que estava, antes da covid-19”, salientou. Depois de vários anos de implementação da política de vistos individuais, e com todas as mudanças ocorridas no sector do jogo, Tim Simpson destaca que hoje “os turistas já não jogam como jogavam antes da covid-19, parte da explicação para isso é que a indústria está a mudar, limitando o jogo VIP”. Relativamente ao consumo, o académico recorda que já não se observa apenas o típico turista que compra roupas, joias e outros produtos de luxo.


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de ensaio “Três anos depois de me mudar para Macau abriu Sands, o primeiro casino inaugurado no território depois da liberalização do jogo. Tudo em Macau mudou dramaticamente e de forma muito rápida.”

“Há uma nova geração de jovens que visita Macau e que está menos interessada no jogo, preferindo outras actividades de entretenimento. Provavelmente, há ainda um grande número de pessoas a comprar produtos de luxo e a gastar dinheiro nesse tipo de comércio, mas tudo depende da confiança que existe na economia

chinesa. Quanto mais confiantes estiverem os turistas chineses, mais vão gastar. Em termos gerais, temos mais turistas, mas se calhar não gastam tanto como antes da pandemia.” O académico entende que, mesmo com a recuperação da economia, há pontos a melhorar. “Caminho pelos resorts e vejo ainda muitos espaços fechados. Parece-me que as grandes marcas ainda estão presentes, mas negócios mais pequenos ainda não conseguiram recuperar. Esse é o desafio, fazer com que os negócios regressem ao que eram. Mas não tenho mais dados sobre se as principais marcas de moda e de luxo estão a fazer mais dinheiro agora ou antes da covid-19.”

Tempo de solidificar

Relativamente ao futuro, Tim Simpson considera que é tempo de as concessionárias consolidarem os investimentos feitos e trazer novos produtos ao mercado. “Todas as seis concessionárias conseguiram ver as licenças renovadas, e desta vez por um período de dez anos. As empresas têm pequenas janelas de oportunidades com uma concessão de dez anos, então há que consolidar os negócios, gastando menos em novas propriedades, pois esse investimento irá demorar mais tempo a ser recuperado. Além disso, não há tantos terrenos disponíveis para a extensão de projectos, pelo que alguns resorts vão tentar consolidar os projectos que já têm.”

“Há uma nova geração de jovens que visita Macau e que está menos interessada no jogo, preferindo outras actividades de entretenimento.” O académico considera que as maiores mudanças prendem-se com as “expectativas em relação à diversificação daquilo que as operadoras oferecem aos turistas, com mais elementos não jogo por exigência do Governo. Todas as concessionárias têm esse compromisso de investir noutro tipo de atracções, como concertos, exposições e convenções ou eventos desportivos.” Tim Simpson destaca também os acordos assinados pelas concessionárias com o Executivo para revitalizar bairros históricos, passando a ter “mais responsabilidades pelo seu desenvolvimento”. Andreia Sofia Silva


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Natalidade Deputada Wong Kit Cheng pede mais medidas de incentivo A deputada Wong Kit Cheng está preocupada com a redução da taxa de natalidade e o impacto na sociedade e economia, e questiona o Governo sobre as medidas que pretende lançar. A legisladora ligada à Associação Geral das Mulheres de Macau quer saber que medidas podem ser lançadas para apoiar

mais as famílias e melhorar “o ambiente de vida” no território. Ao mesmo tempo, defende que o Governo deve considerar uma prioridade encontrar incentivos mais eficazes que levem as famílias locais a terem “vários filhos”. Por outro lado, Wong sugere que se siga o exemplo de várias províncias do Interior e de

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alguns países desenvolvidos onde são disponibilizados mais apoios às famílias, como o prolongamento da licença de maternidade, ou o pagamento de subsídios mais altos, como Hong Kong vai fazer no próximo ano. “Que planos existe a este nível nas linhas de acção governativa do próximo ano?”, pergunta.

Gabinete do Chefe do Executivo Hoi Lai Fong renova Hoi Lai Fong vai manter-se até ao final do próximo ano como chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, de acordo com a informação publicada ontem no Boletim Oficial. “Renovada a comissão de serviço, pelo período de um ano, para o

As pequenas notas Na apresentação da proposta, Lei Wai Nong comprometeu o Governo com uma nova revisão do salário em Novembro do próximo ano. O secretário para a Economia e Finanças recusou comparações com regiões vizinhas, devido às características únicas de Macau

do Executivo, a comissão de serviço de Hoi Lai Fong como secretária-geral do Conselho Executivo foi igualmente prolongada, pelo período de um ano. Esta renovação também entra em vigor a partir de 20 de Dezembro do corrente do ano.

esta diferença?”, questionou. “Ao ritmo actual, a diferença para Hong Kong vai ser cada vez maior”, vincou. No entanto, o secretário para a Economia e Finanças recusou comparações. “Cada região tem as suas regalias e regime fiscal, cada cidade e região tem a sua estrutura económica. Nós também temos a nossa que é muito única, porque mais de 95 por cento das empresas são pequenas, médias ou micro”, argumentou Lei Wai Nong. O aumento do salário mínimo significa também uma actualização do subsídio complementar aos rendimentos do trabalho para trabalhadores portadores de deficiência. Estes trabalhadores não são abrangidos pela lei do salário mínimo, mas têm um apoio do Governo. Lei Wai Nong revelou ainda que no segundo trimestre deste ano, houve 222 pedidos de trabalhadores para receber o subsídio especial, sendo que 212 foram aprovados. Estes subsídios representaram um montante de 1,58 milhões de patacas.

Patrões pediram apoios

Maior distância para HK

Por sua vez, Ron Lam fez a comparação entre o salário mínimo em Macau e Hong Kong, Taiwan e Singapura. “Há um atraso evidente no valor do salário mínimo em Macau face a outras regiões. Como podemos resolver

exercício do cargo de chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, [...] em vigor, a partir de 20 de Dezembro de 2023”, pode ler-se no extracto do despacho divulgado ontem. Além da renovação do mandato para a posição de chefe de Gabinete do Chefe

SALÁRIO MÍNIMO APROVADA SUBIDA PARA 7.072 PATACAS

GCS

S deputados aprovaram ontem, na generalidade, a proposta do Governo para aumentar o salário mínimo mensal para 7.072 patacas, face às actuais 6.656 patacas, o que significa um incremento de 6,25 por cento. O novo montante deve ser votado a tempo de entrar em vigor no início do próximo ano. Apesar da aprovação por unanimidade, a sessão ficou marcada por algumas intervenções de deputados como Leong Sun Iok, dos Operários, ou Che Sai Wang, ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, que pediram ao secretário para a Economia e Finanças explicações sobre os critérios que levam o Governo a decidir quando aumentar o salário mínimo. O secretário respondeu que a Direcção de Serviços Estatística e Censos (DSEC) faz a recolha de vários dados, que depois são ponderados, sem especificar quais os critérios. Ao invés, Lei Wai Nong apontou que daria mais pormenores nas reuniões à porta fechada da comissão permanente que vai discutir o diploma na especialidade. “Em sede de comissão vamos entrar em pormenores”, prometeu o governante, repetindo a fórmula usada no plenário de terça-feira. Outra das críticas prendeu-se com o facto de o Governo ter atrasado a revisão do aumento salarial, ao contrário do que seria expectável, uma vez que a lei do salário mínimo indica que tem de haver uma revisão do valor a cada dois anos. “As pessoas preocupam-se que a revisão seja feita num período mais curto, mas temos de ver os dados e outros factores, para podermos estudar [o aumento]. Nem sempre pode haver aumentos ou reduções”, afirmou Lei Wai Nong. Ainda assim, o Governo prometeu que a próxima revisão vai avançar a “1 de Novembro de 2024”.

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O salário mensal passa para 7.072 patacas, o semanal para 1.632 patacas e o diário para 272 patacas

Vários deputados ligados ao patronato focaram a necessidade de o Governo promover medidas de apoio às empresas, dado o ambiente económico difícil. “A pandemia causou grandes impactos nas PME, o Governo tem dado ajuda, mas nesta fase as PME ainda estão a enfrentar muitas pressões e a actualização do salário pode trazer certas pressões”, disse Ângela Leong, numa intervenção feita também em nome do deputado e empresário Chan Chak Mo. “Espera-se que o Governo possa adoptar medidas para apoiar as empresas, especialmente para as empresas com sede nos bairros antigos”, acrescentou. Chui Sai Peng fez um pedido semelhante: “Na especialidade, esperamos que o Governo tenha em conta as dificuldades das PME, e que tenha medida de alívio”, frisou. Com as alterações, o salário mínimo mensal passa para 7.072 patacas, o semanal para 1.632 patacas e o diário para 272 patacas. O pagamento por hora passa para 34 patacas. João Santos Filipe


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ID LUÍS GOMES ESCOLHIDO PARA VICE-PRESIDENTE

Salto em frente Desde 2020, Luís Gomes foi chefe de três divisões diferentes na DSEDJ e ainda chefe de Departamento do Ensino Não Superior. A posição deixada em aberto vai ser ocupada por Choi Man Chi

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UÍS Gomes, até agora chefe do Departamento do Ensino Não Superior da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), é o novo vice-presidente do Instituto do Desporto (ID). A informação foi divulgada ontem através do Boletim Oficial. De acordo com o despacho de Elsie Ao Ieong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, o novo vice do ID é nomeado “em comissão de serviço” pelo prazo de um ano. A secretária justificou a escolha com o facto de considerar que o novo vice “possui competência profissional e aptidão para o exercício do cargo”. Licenciado em Educação Física e Desporto pela Universidade Politécnica de Macau, e com um mestrado em Ciência da Educação, na vertente

Educação Física e Desporto, pela Universidade de Macau, Luís Gomes assumiu maior relevo na Administração, a partir de 2020 com a pandemia de covid-19. Gomes participou em várias conferências de imprensa diárias sobre a pandemia para anunciar e detalhar os planos de algumas medidas, como organização das escolas e a realização de testes em massa.

Percurso na Educação

Desde que ingressou na Administração, em 2011, o

percurso de Luís Gomes foi feito na actual DSEDJ, onde assumiu primeiramente as funções de técnico superior. Cerca de cinco ano depois, o novo vice do ID, passou a ser director do Centro de Actividades Juvenis da Areia Preta, cargo que manteve até 2018. A partir desse ano, assumiu as mesmas funções, mas no Centro de Actividades Juvenis do Bairro do Hipódromo, onde permaneceu até 2019. A partir de Abril de 2019, Luís Gomes subiu a chefe da

Licenciado em Educação Física e Desporto pela UPM, e com um mestrado em Ciência da Educação, na vertente Educação Física e Desporto, pela Universidade de Macau, Luís Gomes assumiu maior relevo na Administração, a partir de 2020 com a pandemia de covid-19

TAIPA GOVERNO ANULA CONCURSO PARA ATRIBUIÇÃO DE TERRENO concurso público para a atribuição do terreno LoteBT8, situado na Avenida de Kwong Tung, na Taipa, foi oficialmente anulado, de acordo com a informação publicada ontem no Boletim Oficial. “Por despacho do Senhor Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 26 de Outubro de 2023, foi anulado o concurso público para a adjudicação [...] de um terreno, situado na ilha da Taipa, na Avenida de Kwong Tung, designado por lote BT8, por ter ficado deserto”, foi justificado. O terreno tem uma área de 3.509 metros quadrados e o Governo tinha definido um preço mínimo de licitação de 1,136 mil milhões de patacas,

no concurso que decorreu em Setembro. O espaço BT8 foi recuperado pelo Governo, à luz da polémica Lei de Terras, num processo que ficou finalizado em 2018, depois de uma longa “batalha” judicial. Concessionado pela primeira vez em Outubro de 1964, por um prazo de 50 anos, à Fábrica de Artigos de Vestuário Estilo Limitada, em Dezembro de 1999, a concessão foi transmitida para a Sociedade Fomento Predial Socipré. Como o novo prazo de aproveitamento de 42 meses que também não foi cumprido, em Maio de 2015, o então Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, declarou a caducidade da concessão.

como chefe do Departamento do Ensino Não Superior, primeiro, como substituto, e depois com uma nomeação definitiva, em Maio de 2022.

Novas oportunidades

Com a ida de Luís Gomes para o ID, o cargo de chefe do Departamento do Ensino Não Superior vai ser assumido por Choi Man Chi, que desde 2010 faz parte da DSEDJ e desempenhava as funções de chefe da Divisão

de Ensino Primário e de Ensino Infantil. Choi Man Chi é licenciada em Serviço Social, pela Universidade Politécnica de Macau, e ao longo da carreira na DSEDJ assumiu as posições de técnica, directora do Centro de Actividades Juvenis da Areia Preta, chefe da Divisão de Desporto Escolar e Ocupação de Tempos Livres, técnica superior e ainda chefe da Divisão de Ensino Primário e de Ensino Infantil. João Santos Filipe

GRANDE BAÍA HO IAT SENG APELA À FIXAÇÃO DE EMPRESAS DE EXCELÊNCIA NO TERRITÓRIO GCS

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Divisão de Desporto Escolar e Ocupação de Tempos Livres, seguindo-se, em 2020, o cargo de chefe da Divisão de Formação e Apoio ao Associativismo Juvenil. Em Fevereiro de 2021, é escolhido para a posição de chefe da Divisão de Desenvolvimento de Jovens, onde ficou sete meses, até que em Setembro passou a ser o chefe da Divisão de Desenvolvimento Geral de Estudantes. Por último, em Fevereiro de 2022, foi nomeado

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Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, apelou ontem à fixação de empresas em Macau. Num discurso proferido virtualmente na conferência da Conferência Global de Promoção do Investimento para a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau 2023, o Chefe do Executivo

adiantou que “todas as empresas de excelência e de qualidade são bem-vindas a instalarem-se em Macau e a participarem na construção e exploração de Hengqin”, além de “partilharem os benefícios provenientes do desenvolvimento da Zona de Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”. Ficou ainda prometido que Macau, “sendo uma das quatro principais cidades da Grande Baía, irá continuar a melhorar o seu ambiente comercial e a estrutura industrial, no sentido de demonstrar mais iniciativas e responsabilidades” neste contexto.

No mesmo discurso, Ho Iat Seng prometeu ainda “optimizar os trabalhos de captação de investimento, permitindo que os investidores estrangeiros utilizem Macau e Hengqin como ponto de partida para explorar oportunidades provenientes do enorme mercado do Interior da China”. AConferência Global de Promoção do Investimento para a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau 2023 termina hoje e foi co-organizada pelos governos da província de Guangdong, da Hong Kong e da RAEM. O evento tem lugar em Guangzhou.

CCAC Ao Ieong Seong reconduzida como adjunta

O mandato da adjunta do Comissário contra a Corrupção (CCAC), Ao Ieong Seong, foi renovado pelo período de um ano, de acordo com a informação publicada ontem no Boletim Oficial. Ao Ieong Seong é licenciada em Direito pela Universidade de Macau, onde também completou um mestrado, na mesma área. Foi estagiária do curso de formação dos oficiais de justiça, de 2006 a 2007; investigadora do Comissariado contra a Corrupção, em 2007; assistente da Universidade de Macau, de 2007 a 2011; estagiária do Curso de Formação de Magistrado, de 2011 a 2013; e é magistrada do Ministério Público, desde 2013, onde ocupa as funções de delegada do Procurador. Desde Dezembro de 2019, que passou para o CCAC, tal como Chan Tsz King, actual comissário, apesar de ambos fazerem parte dos quadros do Ministério Público.


O Banco Nacional Ultramarino anunciou ontem lucros de 459,9 milhões de patacas nos primeiros nove meses do ano, mais do dobro do verificado no mesmo período de 2022, apesar de “incertezas no crescimento económico”

BNU LUCROS DUPLICAM APESAR DE “INCERTEZAS”

Ver a dobrar

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OS primeiros nove meses de 2023, o Banco Nacional Ultramarino (BNU) registou lucros de 459,9 milhões de patacas, valor que representa um crescimento, face a 2022, de 102 por cento. A subida dos lucros do banco foi impulsionada “principalmente pelo aumento de 205,2 milhões de patacas, ou 38 por cento, nas receitas líquidas de juros, devido ao aumento das taxas de juro”, indicou o banco em comunicado. A Autoridade Monetária de Macau aprovou três aumentos da principal taxa de

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operadora de jogo em Macau Melco Resorts and Entertainment anunciou lucro de 94,7 milhões de dólares no terceiro trimestre do ano, o primeiro resultado positivo desde o início da pandemia. O lucro registado pela empresa entre Julho e Setembro contrasta com os prejuízos no segundo trimestre deste ano (23,4 milhões de dólares) e em igual período de 2022 (198,5 milhões de dólares). De acordo com um comunicado enviado à bolsa de valores Nasdaq, em Nova Iorque, as receitas da Melco mais que quadruplicaram em comparação com o terceiro trimestre do ano passado, atingindo 1,02 mil milhões de dólares. No comunicado, a operadora de quatro casinos em Macau atribuiu o aumento das receitas “ao relaxamento das restrições relacionadas com a covid-19 em Macau em Janeiro de 2023” e à abertura da

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juro de referência este ano, a última das quais uma subida de 0,25 pontos percentuais, introduzida em Maio, seguindo a Reserva Federal norte-americana. “No entanto, as receitas líquidas de taxas e comissões caíram 13,1 milhões de patacas ou 16 por cento em relação ao ano anterior, reflectindo as incertezas no crescimento económico” da cidade, disse o BNU. O Produto Interno Bruto de Macau cresceu 71,5 por cento na primeira metade de 2023, em comparação com igual período de 2022, após quase dois anos consecutivos em queda, uma recuperação “impulsionada pelo desempenho” do turismo e do jogo. Ainda assim, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos sublinhou que a economia da região ainda só representa 71 por cento dos níveis registados antes da pandemia de covid-19.

Cofres robustos

O BNU revelou ainda que sofreu perdas de 21,8 milhões de patacas com crédito malparado e aplicações financeiras entre Janeiro e Setembro, menos 74,4 por cento do que em igual período de 2023. O banco afirmou que as despesas operacionais cresceram 2 por cento em comparação com os primeiros nove meses de 2022, sobretudo devido ao “aumento das despesas com a digitalização”, apesar da “redução de custos”. O aumento das despesas operacionais

Regresso ao dourado

Melco volta aos lucros no 3.º trimestre após três anos

segunda fase do empreendimento integrado Studio City. Com as receitas a subir, a Melco registou, pelo terceiro trimestre consecutivo, um lucro operacional, neste caso de 280,6 milhões de dólares, mais 4,9 por

cento do que no período entre Abril e Junho deste ano. O presidente da empresa, Lawrence Ho Yau-lung, disse em comunicado que “a recuperação de Macau continuou a acelerar no terceiro trimestre de 2023, especialmente durante os meses de Verão”. O filho do falecido magnata do jogo Stanley Ho disse que a Melco teve “um desempenho sólido” durante a chamada Semana Dourada do 1.º de Outubro, um dos picos turísticos da China continental, e no resto do mês.

Panorama geral Lawrence Ho

Entre Janeiro e Outubro, as receitas do jogo em Macau mais que quadruplicaram em comparação com

igual período de 2022, atingindo 148,4 mil milhões de patacas. As seis concessionárias, MGM, Galaxy, Venetian, Melco, Wynn e SJM, acumularam durante a pandemia prejuízos sem precedentes em Macau. Apesar disso, as seis operadoras renovaram, em 16 de Dezembro de 2022, o contrato de concessão para os próximos dez anos e que entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2023. As autoridades exigiram no concurso público a aposta em elementos não jogo e visitantes estrangeiros, na expectativa de diversificar a economia do território. A Melco prevê gastar cerca de 10 mil milhões de patacas no segmento além-casino numa década, incluindo no “único parque aquático em Macau com instalações interiores abertas durante todo o ano”.

também se ficou a dever à “reengenharia de agências, incluindo a agência principal, que se tornou mais moderna, interativa e alinhada com o novo paradigma bancário”, declarou o banco em comunicado. O BNU referiu que mantém “um robusto rácio de solvabilidade de 24 por cento (…), bem acima do requisito regulatório mínimo de 8 por cento, e fortes níveis de liquidez” e que o desempenho financeiro demonstra “a sua força e resiliência, apesar da volatilidade económica”.

“As receitas líquidas de taxas e comissões caíram 13,1 milhões de patacas ou 16 por cento em relação ao ano anterior, reflectindo as incertezas no crescimento económico.” BNU O banco tinha apresentado lucros de 288,4 milhões de patacas na primeira metade do ano, um aumento homólogo de 125,2 por cento. O BNU tem sede em Macau e pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), sendo, juntamente com o Banco da China, banco emissor de moeda na região administrativa especial da China. João Luz com LUSA

Ambiente Fórum florestal a 21 e 22 de Novembro

O “Fórum da Indústria Global de Madeira Sustentável 2023”, o primeiro evento dedicado aos sectores florestal e madeireiro em Macau, realiza-se nos dias 21 e 22 de Novembro no Centro Internacional de Convenções de Galaxy Macau. Com organização do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), o fórum será subordinado ao tema “Ligar, Cooperar e Partilhar para Promover a Recuperação do Mercado Mundial das Madeiras Tropicais”. O evento irá reunir representantes governamentais ligados à indústria florestal de diversos países, representantes de empresas líderes da cadeia da indústria florestal e madeireira a nível nacional e internacional, organizações certificadas, peritos e académicos. Durante o fórum, “serão divulgados os resultados de dois grandes projectos de investigação resultantes de cooperação internacional, nomeadamente a ‘criação da plataforma do índice global de madeira’ e a ‘investigação de ligação de sistemas de rastreamento de origem de madeira com base na tecnologia de blockchain’”.

RÓMULO SANTOS

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ZONA NORTE POPULAÇÃO PEDE MAIS CENTROS PARA IDOSOS

Os anos de ouro

AACM Drones proibidos durante o Grande Prémio

A Autoridade de Aviação Civil (AACM) anunciou ontem que o Governo vai proibir “as actividades com aeronaves não tripuladas (drones) na Península de Macau durante o 70º Grande Prémio de Macau, a fim de garantir a segurança da actividade”. A proibição é alicerçada legalmente no Regulamento de Navegação Aérea de Macau, em que se determina que “a AACM proíbe a operação de drones na Península de Macau nos dias 11 e 12 de Novembro e de 16 a 19 de Novembro de 2023, a fim de garantir a segurança do ambiente das corridas”. Os infractores podem ser punidos com multa de 2.000 a 20.000 patacas pela AACM.

Um inquérito da FAOM revelou que a população da zona norte de Macau quer o reforço das estruturas de apoio a idosos, com mais centros de dia e auxílio a cuidadores. Apesar do tempo de espera, horário reduzido e inconveniência da localização, mais de 80 por cento estão satisfeitos com a qualidade dos serviços

A FAOM sugere a simplificação do processo de estabelecimento de empresas que prestem serviços de cuidados a idosos, para encorajar o desenvolvimento do sector

Habitação Preços com quebra de 2,1 por cento

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que o Índice de Preços da Habitação (IPH) foi de 243 pontos entre Julho e Setembro deste ano, tendo registado uma quebra de 2,1 por cento face aos três meses anteriores, ou seja, de Junho a Agosto. O comunicado da DSEC dá ainda conta que o IPH na península foi de 240,6 pontos, uma quebra de dois por cento, enquanto o IPH das ilhas de Taipa e Coloane foi de 252,6 pontos, menos 2,3 por cento face ao período de Junho e Agosto. Em termos anuais, o IPH baixou três por cento face aos meses de Julho a Setembro de 2022.

elevada densidade populacional e onde se concentra uma larga parte da população idosa. Na conferência de imprensa de ontem, conduzida pela deputada Ella Lei, foi sugerido o reforço da cobertura dos serviços para idosos com cuidados temporários quando o cuidador estiver indisponível ou a trabalhar. Neste caso, foi indicado que os horários de funcionamento dos centros de dia devem ser alargados, alteração que pode marcar a diferença entre a vida e a morte em casos de emergência. A deputada reconheceu ainda que apesar da enorme e crescente procura de serviços de cuidados a idosos não existem empresas privadas do sector em Macau, o que leva a população a depender do Governo. Assim sendo, foi exigida uma análise rigorosa ao sistema regulatório do sector para apurar se existem restrições que limitem o sector privado.

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OM o envelhecimento populacional e a baixa taxa de natalidade em Macau, os serviços públicos dedicados à terceira idade ganham cada vez mais preponderância na qualidade de vida dos residentes. A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) apresentou ontem os resultados de um inquérito sobre a cobertura e qualidade dos serviços da rede de apoio a idosos. Mais de metade dos inquiridos respondeu que gostaria de ver alargado o alcance e cobertura dos

centros de dia e dos serviços. No cômputo geral, mais de 80 por cento dos inquiridos estão satisfeitos com a qualidade dos serviços prestados à população idosa, apesar de reconhecerem existir margem para melhorias, nomeadamente devido ao elevado tempo de espera para aceder a serviços, localizações inconvenientes e horários de funcionamento demasiado curtos. Outra conclusão tirada do inquérito apresentado ontem pela FAOM, foi a esperança de que o Governo reveja as regulamentações do sector para permitir a prestação de serviços

de cuidados temporários de forma a atenuar a pressão de cuidadores. No plano oposto, quando questionados se alguma vez ponderaram trabalhar no sector, mais de 80 por cento dos inquiridos recusou a carreira devido à “falta de atractividade” em termos profissionais. Ao mesmo tempo, quase metade admitiu não ter uma compreensão alargada sobre os serviços em causa.

O que fazer

A FAOM explica que o estudo incidiu sobre a zona norte da península de Macau por ser uma zona com

Ella Lei referiu ainda que o Executivo devia estudar a possibilidade de simplificar o processo de estabelecimento de empresas que prestem serviços de cuidados a idosos, para encorajar o desenvolvimento do sector. Além disso, foi aconselhado o alargamento de serviços a cuidados de enfermagem para idosos em locais geridos por associações comunitárias. O inquérito foi realizado na zona norte da península de Macau entre Agosto e Outubro deste ano e contou com 1.557 respostas válidas. João Luz

SAÚDE INFECÇÃO ATINGE CINCO CRIANÇAS NO COSTA NUNES

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S Serviços de Saúde de Macau (SSM) foram informados da ocorrência de um caso de infecção por enterovírus, conhecida como a doença das mãos, pés e boca, esta terça-feira, que afectou cinco crianças do jardim de infância D. José da Costa Nunes. Segundo um comunicado dos SSM, os sintomas começaram a manifestar-se em quatro meninos e uma menina na última

sexta-feira, tendo alguns recebido tratamento médico. Os SSM apontam que “não houve registo de casos críticos nem complicações graves ou casos de internamento”. A infecção também não gerou “sintomas anormais ao nível do sistema nervoso”. O jardim de infância já reforçou a limpeza e o sistema de ventilação das instalações. A infecção por enterovírus pode ser causada pelo grupo de

Coxsackievírus, Echovírus ou Enterovirus 71, afectando crianças com menos de cinco anos. Além deste caso, ocorreram ainda três casos colectivos de gripe em diversas escolas, também registados pelos SSM esta terça-feira. No caso da Escola de Aplicação Anexa à Universidade de Macau, foram infectados oito alunos, enquanto na Escola Secundária Ilha Verde se registaram infecções em

seis alunos. Já o terceiro caso ocorreu na Escola de Talentos Anexa à Escola Hou Kong, onde se contabilizaram =oito casos. Os sintomas, nomeadamente febre, tosse e dor de garganta, começaram a manifestar-se no dia 1. No caso da Escola de Aplicação Anexa à Universidade de Macau houve um caso de internamento devido à ocorrência de febre alta, mas “o seu estado clínico está estável”.


VIA do MEIO

Os Clássicos

André Tradução Ra

(continuação do número anterior) O TERCEIRO dos Si shu, os Analectos de Confúcio ou Lunyu (论语) ou seja “Palavras [do Mestre] em ordem racional”, é, sem dúvida, o mais prestigiado dos clássicos confucianos, reverenciado em toda a Ásia oriental. É aqui que Confúcio em pessoa nos fala; deste ponto de vista, existe um paralelo com os Evangelhos que não parece excessivo, mesmo tendo a crítica indígena demonstrado que a recolha só foi compilada uma ou várias gerações a seguir ao Mestre e que os últimos cinco dos vinte “livros” seriam de origens diferentes. A versão que prevalece nos nossos dias só foi estabelecida no séc. III da nossa era, a partir da edição do Estado de Lu (versão Lu), revista à luz de duas outras, a do Estado de Qi (versão Qi) e a dos caracteres antigos1. O Confúcio que nele se descobre tinha muito para causar entusiasmo nos “filósofos” racionalistas do nosso “século das Luzes”. Com efeito, o chefe da doutrina ortodoxa do regime imperial exprime-se através de diálogos vividos, uma sabedoria terrena, levando a crer num ateísmo que seria comum à maior parte dos letrados chineses. A famosa resposta do Mestre a Zilu (子路)2 é ditada apenas pela preocupação de consagrar o seu ensinamento relativamente à conduta a adoptar pelos seus discípulos, servir o homem servindo o Estado: (XI, 12) Interrogado por Zilu sobre o serviço dos deuses e dos demónios, o Mestre replicou: “Como seremos capazes disso, se ainda nem os homens sabemos servir?” “Posso questionar sobre a morte? ”“Que sabe da morte aquele que ainda não compreende a vida? ” Modéstia mais do que agnosticismo? (II, 17) O Mestre disse: “Zilu, vou ensinar-te o que é saber; saber é o que sabes e o que não sabes, eis o que é o saber!” A posteridade exaltou Confúcio até fazer dele um shengren (圣人) , um termo sem implicações religiosas, apesar de se traduzir por “santo”. Diz ele de si próprio: (VII, 26) Os “santos”, não me foi dada a oportunidade de vê-los. Já seria muito bom se encontrasse um “homem honesto”. (VII, 34) Tratando-se de “santida-

de” e de “bondade”, como ousarei eu pretender tal coisa? Quanto muito poderei dizer que me esforço incansavelmente e que as prego sem me fartar. A “bondade”, ren (仁), é a virtude cardinal que Confúcio prega e, que se crê melhor traduzida por “altruísmo”, “humanidade” ou simplesmente “virtude”. O ideal moral é o do “filho do soberano”, o junzi (君子), que Couvert traduziu por “sage” (port. “sábio”), conceito esse já associado à palavra xian (贤); Pierre Ryckmans prefere, com justa razão, “homem honesto”, por não existir o equivalente a “gentleman” em inglês, ou “homem superior”; “homem de pouco”, xiaoren (小人), corresponde à noção oposta. Não há fórmula mais feliz para ilustrar a posição de Confúcio do que esta: (VIII, 13) Quando um Estado segue o bom Caminho (道, dao), ser pobre e de baixa posição é vergonhoso, mas quando o dao não persiste num Estado, ser rico ou de alta posição ainda o é mais. Mas Confúcio rejeita as consequências extremas que delas tiram os eremitas:

(I, B, 8) ...[O rei Xuan do Estado de Qi, Qi Xuan Wang (齐宣王)]:“Será permitido aos súbditos assassinar o seu príncipe?”“A quem rouba a bondade, chamá-lo-ei ladrão e a quem viola a moral, chamá-lo-ei violador.”Ladrões ou violadores são apenas simples indivíduos. Ouvi falar do castigo infligido ao tirano Zhou (纣)3, um indivíduo, não do assassinato de um soberano. O livro de Mêncio é talvez a mais antiga das obras filosóficas onde o estilo, desprovido de arcaísmos, flui através de apaixonantes discursos dialogados, ao longo dos quais a argumentação é sustentada mediante comparações em sentido figurado: (VI, A, 2) “A natureza humana”, retoma Gaozi (告子), é como um curso de água impetuoso. Abre-se-lhe uma passagem a leste e a água precipitar-se-á. Mas também se escoará, de igual modo, a oeste, se uma passagem aí for aberta. A natureza humana não distingue o bem do mal, do mesmo modo que

(XVIII, 6) “O mundo encontra-se, por todo o lado, a braços com uma vaga tão poderosa que ninguém a consiguirá deter. Não é melhor seguir aquele que foge do mundo do que seguir o letrado que foge das pessoas? ”respondeu ele a Zilu, sem parar de limpar. O discípulo reportou tais palavras a Confúcio e este suspirou:“Não saberia juntar-me aos pássaros e aos animais selvagens. Com quem ficaria então, uma vez que condeno a companhia dos homens? Se o mundo seguisse o dao, eu não procuraria mudá-lo.” A “bondade” do Mestre transcendia mesmo a humanidade: (VII, 27) Embora pescasse à linha, o Mestre nunca pescava com a rede e não atirava sobre as aves empoleiradas. O último dos Quatro Livros é o de Mêncio, Mengzi (孟子) (390-305), que foi também o derradeiro a figurar entre os clássicos confucianos, no século XII. E o único a ser momentaneamente excluído no século XIV, por justificar o tiranicídio nos seguintes termos, ao advogar a bondade inata da natureza humana:

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a água flui indiferentemente para leste ou para oeste. ” Mêncio: “A água, seguramente não distingue o leste do oeste, mas acontecerá o mesmo com o alto e o baixo? A natureza humana é propensa à bondade, tal como a água tende a deslizar para baixo. Não há nenhum homem que não seja naturalmente bom, assim como não existe água que não deslize para baixo. Claro, se for agitada a água invadirá as margens, forçada, ela galgará as colinas; mas estará isso na sua natureza? A água submete-se às circunstâncias, tal como o homem quando confrontado com o mal.” Totalmente diferente dos Analectos, o livro de Mêncio, em virtude do seu estilo, mostra-se igualmente cativante, devido à riqueza das ideias nele expostas


VIA do MEIO

Confucianos

é Levy aúl Pissarra

e que o seu mestre Confúcio não aprofundara ou sequer abordara. Faltam apenas três clássicos para atingir o número treze da edição completa com glosas e comentários, o Shisan Jing Zhushu (十三经注疏), que foi publicada em 1815 pelo letrado Ruan Yuan (阮元). O Clássico da Piedade Filial, o Xiao jing (孝经) é um opúsculo relativamente tardio que não tem muito mais importância literária que o Erya (尔雅), um léxico que classifica as palavras em dezanove categorias e pode ser considerado como o mais antigo dicionário de chinês que chegou até nós. De referir finalmente o mais importante dos clássicos, sob o ponto de vista literário, o da poesia, o Shijing (诗经) ou Clássico da Poesia, uma antologia de 305 poemas que o próprio Confúcio teria escolhido, entre mais de três mil. A versão corrente, a única completa que chegou até nós, inclui um comentário às interpretações morais e políticas atribuídas a um certo Mao Heng (毛亨), que viveu no século III antes da nossa era; a edição terá sido transcrita por Liu Xin (刘歆) (50 A.C.23), que foi um dos mais ardentes defensores da autenticidade das versões em

caracteres antigos. A antologia contém peças de datas e géneros bastante distintos, odes, hinos e cantigas de amor, indo, segundo alguns críticos, dos séculos XII ao V A.C.. O amor é precisamente o tema do primeiro poema da recolha, traduzido por Marcel Granet e publicado em 1911 na sua tese sobre as Fêtes et chansons anciennes de la Chine, corroborando a interpretação anteriormente desenvolvida por Zhu Xi (朱熹) (1130-1200), o futuro padrão da ortodoxia: Em uníssono gritam as gaivotas na ribeira sobre as rochas! A filha pura retira-se companheira perfeita do Senhor Alta ou baixa, a lentilha de água: à esquerda, à direita, procuremo-la! A filha pura retira-se, de dia, de noite, clamemos por ela ! Clamemos por ela! Pedido em vão!...

de dia, de noite, pensamos nela!... Ah ! Que pena!... Ah ! Que pena!... daqui, de lá, nós nos viramos!... Alta ou baixa, a lentilha da água: à esquerda, à direita, agarremo-la! A filha pura retira-se: guitarras, alaúdes, acolhem-na ! Alta ou baixa, a lentilha da água: à esquerda, à direita, colhamo-la! A filha pura retira-se: sinos e tambores, festejêmo-la! Os cento e sessenta poemas da parte consagrada aos “ares dos [quinze] estados”, guofeng (国风), preservam, na sua maioria, uma tradição oral e popular, como parece acontecer também nas “pequenas odes”, xiaoya (小雅) (números 161 a 234), que são cantigas de celebrações menores. As grande odes, daya, (大雅) (números 235-265) celebram as grandes ocasiões, acompanhando especialmente as danças guerreiras. Os “hinos”, song (颂) (números 266-305) aparentam fazer parte de rituais religiosos. Repetições, refrões, ritmos e assonâncias, por vezes ainda perceptíveis, são características comuns às cantigas populares de todo o mundo. O recurso à evoca-

ção metafórica, xing (兴), a comparação inspirada na natureza, bi (比), e a “descrição”, fu (赋), das peças de prestígio, introduzem procedimentos reconhecidos como fundamentais na tradição da prosódia chinesa. Mas o Clássico da Poesia, onde, por vezes, a posteridade livresca verá sobretudo um meio de enriquecer o seu vocabulário relativo à fauna e à flora, desempenhava todo um outro papel na Antiguidade, carregado de alusões morais e políticas, verdadeiro tesouro de um bem cultural comum à “confederação” chinesa. Confúcio sublinhava já este duplo papel nos seus Analectos. (XVII, 9) “Meus filhos, por que não estudais os Poemas? Os Poemas permitem estimular, permitem observar, permitem comungar, permiter protestar... E vós aprendereis lá os nomes de muitas aves, animais, plantas e árvores.” (XVI, 13) Chen Kang (陈亢) perguntou ao filho de Confúcio se o seu pai lhe tinha prodigalizado ensinamentos particulares. “Não. Certa vez em que ele estava sozinho e eu atravessava precipitadamente o pátio, perguntou-me se eu já tinha estudado os Poemas. Ainda não, respondi. Sem os estudares, nunca saberás exprimir-te...” Asseguram-nos que Confúcio se esforçava por citar os Poemas sem ligar à pronúncia dialectal, como se o Mestre tivesse já consciência de transmitir um fundo cultural comum. Com as glosas e os comentários regulamentares, os treze clássicos, Yijing, Shujing, Shijing, Zhou li, Yili, Liji, Chunqiu-Zuo zhuan, Gongyang zhuan, Gouliang zhuan, Xiaojing, Lunyu, Mengzi e Erya totalizam cerca de seis milhões de caracteres e os próprios textos, que todos os candidatos aos exames, a partir do século XIV, tinham de decorar, são compostos por perto de meio milhão de palavras, funcionando como uma base de formação literária que não se deve substimar.

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A versão Lu contem vinte capítulos e a Qi vinte e dois, incluindo dois capítulos não encontrados na Lu. Dos vinte capítulos em comum a Lu tem mais passagens. Cada versão tem os seus próprios mestres, escolas e transmissores. Nome de cortesia de Zhong You (仲由), um dos mais fiéis discípulos de Confúcio. Último soberano da dinastia Shang de nome Di Xin (帝辛)


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China vai atingir a meta de crescimento económico oficial de “cerca de 5%” este ano, enfatizou ontem o governador do Banco do Povo da China (banco central), Pan Gongsheng. Pan afirmou que, com o “efeito continuado das políticas de ajustamento macroeconómico”, a dinâmica de crescimento “reforçou-se”, com a “recuperação estável da produção e do consumo”, uma “melhoria global do emprego e dos preços”, um “saldo base da balança de pagamentos” e uma “tendência positiva dos indicadores principais”. As declarações do governador foram feitas durante um fórum económico realizado em Pequim, no qual sublinhou que a China “manteve uma posição de liderança entre as principais economias do mundo”. O responsável afirmou ainda que a transformação económica da China “tem

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BANCO CENTRAL CRESCIMENTO VAI ATINGIR CERCA DE 5%

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avançado de forma constante”, com um “rápido crescimento do investimento nas indústrias de alta tecnologia” e uma “contribuição do consumo para o crescimento económico de 83 %”, durante os três primeiros trimestres do ano, o que “cria condições para manter a estabilidade económica e dos preços”. “A economia chinesa precisa de um ritmo razoável, mas o mais importante é alcançar um desenvolvimento sustentável e de alta qualidade, e mudar o tipo de crescimento económico é mais importante do que perseguir altas taxas de crescimento”, disse Pan. A economia da China vai crescer 5,4 % este ano, mas abrandará para 4,6 %, em 2024, devido à “contínua fraqueza” do mercado imobiliário e à “fraca” procura do exterior, previu na terça-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI).

COMÉRCIO CUBA QUER VOOS DIRECTOS PARA PEQUIM

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primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz, manifestou ontem interesse em estabelecer voos directos entre Pequim e Havana, uma medida destinada a facilitar o comércio e os negócios entre as duas nações. “Espero que possamos lançar o voo directo amanhã. Mas infelizmente ainda não temos um calendário claro. Penso que poderá começar no próximo ano”, disse Marrero num fórum empresarial em Pequim. A proposta surge numa altura em que a cooperação económica e comercial entre China e Cuba se intensifica, gerando uma procura crescente de voos directos, disse Marrero, de acordo com o jornal oficial Global Times. O líder cubano também enfatizou a importância de atrair investimento estrangeiro e aprimorar a autonomia na produção de alimentos, afirmando ainda que Cuba está a trabalhar na transformação do seu sistema ener-

gético, incluindo projectos de energia eólica e solar, e na digitalização da televisão cubana em colaboração com o gigante chinês das telecomunicações Huawei. Relativamente ao encontro na segunda-feira com o Presidente chinês, Xi Jinping, Marrero sublinhou a “relação especial de amizade inquebrável” entre a nação insular e o país asiático e o crescimento progressivo destes laços. O primeiro-ministro cubano agradeceu o apoio contínuo da China e reiterou a oposição ao embargo norte-americano. “Posso garantir, e posso dizer com confiança, que sem um bloqueio, Cuba seria um país que teria alcançado um grande desenvolvimento económico”, declarou Marrero. O líder cubano iniciou a viagem oficial à China em Xangai, a “capital” económica do país, onde este fim de semana participou na 6.ª Exposição Internacional de Importação da China e se reuniu com o homólogo chinês, Li Qiang. Esta é a primeira visita de Marrero à China desde que foi nomeado primeiro-ministro, em 2019.

AMBIENTE ANUNCIADAS MEDIDAS PARA REDUZIR EMISSÕES DE METANO

Pressão atmosférica As medidas implementadas para reduzir as emissões do gás com efeito de estufa incidem em áreas como a exploração mineira e a agricultura

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China, o maior emissor mundial de metano, anunciou ontem que vai reforçar a monitorização, a comunicação de informações e a transparência dos dados para

reduzir as emissões deste gás com efeito de estufa. O ministério da Ecologia e do Meio Ambiente detalhou ontem num documento as estratégias para reduzir as emissões de metano de sectores como a exploração mineira e a agricultura. De acordo com a declaração, a China tenciona criar um sistema de monitorização, contabilidade, comunicação e verificação das emissões de metano, melhorar a legislação, as normas e as políticas de incentivo económico e promover a inovação tecnológica e a cooperação internacional neste domínio, embora não estabeleça objectivos específicos de redução. O metano é um gás com efeito de estufa com “elevado potencial de aquecimento” e “o controlo das emissões de metano tem benefícios

O metano é um gás com efeito de estufa com “elevado potencial de aquecimento” e “o controlo das emissões de metano tem benefícios climáticos, económicos, ambientais e de segurança” climáticos, económicos, ambientais e de segurança”, lê-se no documento. O plano reconheceu os desafios à sua implementação, incluindo a “falta de uma base estatística e de monitorização sólida, a inadequação do sistema de regulação e normativo e a necessidade de melhorar a capacidade técnica”.

Combate em curso

Em Julho passado, o enviado dos EUA para as questões climáticas, John Kerry, instou a China a descarbonizar o sector energético, reduzir as

emissões de metano e diminuir a desflorestação. A fonte da grande maioria das emissões de metano da China relacionadas com a produção de energia é o carvão, que produz mais de metade da electricidade do país asiático. A China é o maior emissor mundial de metano relacionado com produção energética, com 28 milhões de toneladas por ano, seguida da Rússia (18 milhões) e dos EUA (17 milhões), de acordo com a Agência Internacional da Energia.


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Uma visão para o futuro Xi Jinping pede que internet beneficie melhor pessoas de todos os países

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Presidente chinês, Xi Jinping, pediu esta quarta-feira que a internet beneficie melhor as pessoas de todos os países ao discursar na cerimónia de abertura da Cimeira Wuzhen da Conferência Mundial da Internet 2023 (WIC) através de videoconferência. Xi afirmou que a visão de construir conjuntamente uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço, que propôs na segunda WIC em 2015, tem obtido amplo reconhecimento internacional e respostas positivas. A visão responde às questões de nossos tempos relacionadas à solução do déficit de desenvolvimento, ao enfrentamento dos desafios de segurança e ao fortalecimento do aprendizado mútuo entre as civilizações, explicou, citado pelo Diário do Povo. O Presidente chinês enfatizou que a comunidade internacional precisa de aprofundar os intercâmbios e a cooperação prática para promover conjuntamente a construção de uma comunidade

PUB.

com um futuro compartilhado no ciberespaço para uma nova etapa. O líder chinês pediu também que se priorize o desenvolvimento para que os frutos do desenvolvimento da internet beneficiem mais países e pessoas. Xi enfatizou a necessidade de melhorar o acesso público a serviços baseados em informação,

Xi sublinhou a importância de mais produtos culturais online de alta qualidade e esforços para mostrar plenamente as realizações excepcionais das civilizações humanas e promover activamente a preservação e o desenvolvimento da civilização

superar a barreira digital e melhorar a subsistência das pessoas com o desenvolvimento da internet. Pedindo a construção de um ciberespaço mais pacífico e seguro, sublinhou a necessidade de se respeitar a soberania cibernética, a forma de governação da internet e a necessidade de cada país para se opor à busca de hegemonia, ao confronto de blocos e à corrida armamentista no ciberespaço.

Ética e segurança

Xi ressaltou ainda a necessidade de se reprimir os crimes cibernéticos, fortalecer a segurança de dados e a protecção de informações pessoais e responder adequadamente aos riscos e desafios trazidos pelo desenvolvimento científico e tecnológico às regras, à sociedade e à ética. A China está disposta a trabalhar com todas as partes para implementar a Iniciativa Global de Governança da Inteligência Artificial e promover o desenvolvimento seguro da IA, garantiu. O Presidente chinês pediu ainda a

construção de um ciberespaço mais igualitário e inclusivo, destacando que é preciso promover melhor os valores compartilhados da humanidade. Xi sublinhou a importância de mais produtos culturais online

de alta qualidade e esforços para mostrar plenamente as realizações excepcionais das civilizações humanas e promover activamente a preservação e o desenvolvimento da civilização.


12 entrevista

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JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO

“A investigação é sempre FOTOS HOJE MACAU

Eterno viajante e investigador por conta própria da presença portuguesa nos países e regiões do Sudeste Asiático, Joaquim Magalhães de Castro acaba de lançar um novo livro, resultado de crónicas e textos dispersos. “Portugueses no Extremo Oriente - Antes e Depois de Fernão de Magalhães” revela os sinais da presença portuguesa no século XVI nas Filipinas, norte da ilha de Java e no actual Brunei no contexto da viagem de Circum-Navegação do navegador Fernão de Magalhães

AUTOR DE “PORTUGUESES NO EXTREMO ORIENTE”

Como foi o percurso traçado até à edição desta obra? Este livro deveria ter saído em 2021, porque foi nesse ano que se celebraram os 500 anos da [rota de] Circum-Navegação [de Fernão de Magalhães], mas a covid ofuscou todo este processo. Iria participar num projecto que implicava integrar a viagem da Circum-Navegação feita pelo navio [português] Sagres, mas a operação foi abortada. Só agora consegui editar o livro, daí o título ter a parte “Antes e Depois de Fernão de Magalhães”. Isso tem também a ver com o facto de a

obra revelar aspectos menos conhecidos da presença portuguesa no Extremo Oriente e o Sudeste Asiático, em zonas como as Filipinas, o Mar de Java e o Bornéu [actual Brunei]. A obra divide-se, precisamente, em três partes. Sim. Primeiramente falo da presença portuguesa nas Filipinas. Fernão de Magalhães deu inicialmente ao território o nome de Ilhas de São Lázaro, tendo este sido adoptado oficialmente pelos portugueses até existir a denominação Filipinas, em honra

“Essa comunidade [Bayingyi] foi-se formando a partir de portugueses forasteiros que andavam por ali à revelia da Coroa portuguesa. Tinham objectivos comerciais, eram pessoas com os seus negócios, mas estavam fora do controlo da Coroa.”

de Filipe de Espanha. A segunda parte do livro aborda o Bornéu, que logo depois da conquista de Malaca [1511] passou a ser frequentado pelos portugueses, que o utilizavam com frequência, sempre com boas relações com o sultão local. Isso explica que Fernão de Magalhães tenha sido recebido depois de forma amistosa por ele. Na terceira parte do livro continuo, no fundo, o trabalho que comecei no meu primeiro livro, “Mar das Especiarias”, sobre a presença portuguesa na ilha de Java, na Indonésia. Desta vez concentro-me no norte da ilha e


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entrevista 13

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um trabalho inacabado” muito astuto. Contribuiu bastante para essa relação que ainda hoje é visível em muitos aspectos. Esses pormenores da influência portuguesa nas Filipinas via Macau são muito pouco conhecidos. Aliás, [a influência] é patente na toponímia, mas também nos apelidos de filipinos, que sabem dessa origem portuguesa. Isso vai de encontro à primeira parte do livro, que mostra que os portugueses já andavam por aquela região antes de Fernão de Magalhães lá ter chegado. Malaca foi um importante ponto de partida para esta presença comercial? A partir do estabelecimento de Malaca os portugueses começaram a estabelecer acordos com a Indonésia e outros lugares e passaram a ser respeitados, até pelo temor que as pessoas lhes tinham desde a posse de Malaca. Houve depois um interregno de vários anos em que os espanhóis não voltaram às Filipinas, até que houve uma expedição [liderada por] Miguel Logaspi, que ficou em Cebu, tendo os portugueses questionado [essa presença]. Porque é que os portugueses não ficaram nas Filipinas? Porque não havia especiarias, como o cravo e noz-moscada, que existiam na zona nas ilhas Molucas. Mas há provas [da presença portuguesa nas Filipinas], com acordos e pactos de sangue. Houve uma série de viagens feitas pelos portugueses que antecederam a presença definitiva dos espanhóis no país.

no que restou dos contactos com os portugueses, algo que está pouco estudado. Naqueles portos da costa norte fazia-se comércio, pois não havia portos no sul de Java. Todo o livro reúne, essencialmente, crónicas de viagens. Em que período as realizou? Tenho viajado nos últimos anos. Trata-se de [uma compilação] de crónicas que fui publicando n’O Clarim. Começando pelas Filipinas, o livro aborda a figura de Bartolomeu Landeiro, que esteve em Macau a investir na obra dos jesuítas.

Fale-me mais sobre esta personalidade. Era de origem judaica e digamos que foi um elo fundamental na posterior relação entre Macau, China, Japão e Filipinas. Os espanhóis tentaram, sem sucesso, entrar na China, e só conseguiram fazê-lo através de Macau. Bartolomeu Landeiro desempenhou um papel importante nessa ligação entre Manila, Macau, China e Japão, mas sobretudo entre Manila e Macau. Foi o personagem mais importante como comerciante e diplomata, jogava um pouco em ambos os mundos, era alguém

A presença da pimenta em Java é então o grande factor explicativo para a presença dos portugueses nessa zona da Indonésia. Quanto tempo durou essa presença? Sim. Cerca de 150 anos até à chegada dos holandeses, que nos afastaram de lá. Macau foi de facto o único sítio em que não conseguiram afastar os portugueses. Java não era uma colónia nossa, mas o Sri Lanka [antigo Ceilão] poderia considerar-se praticamente uma colónia portuguesa. Sempre fizemos comércio em Java, juntámo-nos aos hindus para combater os muçulmanos e fizemos acordos consoante os interesses, mas nunca estabelecemos uma colónia. Ficámos lá a partir de 1513 e durante cerca de 150 anos.

“As ilhas Molucas [na Indonésia], por exemplo, é uma zona muito rica em presença portuguesa. Penso visitá-las um dia destes.” A capa do livro faz referência a uma comunidade de lusodescendentes que são os Bayingyi, no Myanmar. É também um grupo étnico muito pouco conhecido. Sim. Tenho falado bastante sobre essa comunidade, mas ela

“Java não era uma colónia nossa, e o Sri Lanka [antigo Ceilão] poderia considerar-se praticamente uma colónia portuguesa. Sempre fizemos comércio nessa zona.”

continua a ser pouco conhecida. Digamos que [o seu maior reconhecimento] tem sido uma das minhas bandeiras. Essa comunidade foi-se formando a partir de portugueses forasteiros que andavam por ali à revelia da Coroa portuguesa. Tinham objectivos comerciais, eram pessoas com os seus negócios, mas estavam fora do controlo da Coroa. Vendiam os serviços aos reinos locais, houve miscigenação. Porque é que esta é a sua bandeira? Porque foi aí que começou o meu trabalho de investigação sobre alguns aspectos portugueses da expansão. Tudo começou com uma conversa com Luís Sá Cunha [académico e residente em Macau] que me falou dessa comunidade. Visitei-a nos anos 90 e comecei a escrever sobre ela, a fotografar e a fazer documentários. O meu primeiro livro, de fotografia, foi sobre esta comunidade também. Editar esta obra chama a atenção para estes portugueses perdidos a Oriente? O meu foco é sempre o mesmo: dar a conhecer aspectos que não são conhecidos do grande público e que talvez só o sejam junto da academia. Tento mostrar sempre [as informações] com base num conhecimento feito no terreno. Actualmente vivo na Indonésia, na zona de Java, a minha esposa é, precisamente, de uma zona que foi um entreposto de comércio de portugueses, por volta de 1525. Há ainda muito a explorar no seio destas comunidades? Há ainda muito por investigar, é sempre um trabalho inacabado. As ilhas Molucas [na Indonésia], por exemplo, é uma zona muito rica em presença portuguesa. Penso visitá-las um dia destes. Andreia Sofia Silva


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UM58LIVRO HOJE

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(ALTO) • EURO 8.58 BAHT 0.22 YUAN 1.10

CINETEATRO A CASA GOLDEN | SALMAN RUSHDIE

5 3 7 6 2 8 4 9 1 6 1 4 9 7 3 2 5 8 Este livro de Salman Rushdie é um retrato da América dos dias de hoje. Um país em 2 8 9 1 5 4 3 7 6 carne viva politicamente, fracturado e 1 7 8 4 9 5 6 3 2 sempre à beira da violência é o contexto que a família Golden encontra quando se 3 4 6 7 8 2 9 1 5 muda para Nova Iorque. Nero Golden e os filhos fogem da Índia depois de um 9 2 5 3 6 1 7 8 4 seus episódio traumático. “A Casa Golden”, o 7 9 2 5 1 6 8 4 3 13º romance do escritor indo-britânico, uma narrativa familiar num contexto 4 6 1 8 3 9 5 2 7 tem político de germinação do radicalismo, 8 5 3 2 4 7 1 6 9 onde a verdade é subjectiva e o fanatismo o prato do dia.

5

THE MARVELS [B]

Um filme de: Nia DaCosta Com: Brie Larson, Park Seo-joon, Samuel L. Jackson 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 2

FIVE NIGHTS AT FREDDY’S [C]

Um filme de: Emma Tammi Com: Josh Hutcherson, Elizabeth Lail, Kat Conner Sterling, Piper Rubio 14.30

DIGIMON ADVENTURE 02 THE BEGINNING [B]

FALADO EM CANTONÊS Um filme de: Tomohisa Taguchi 16.45, 19.30

IN BROAD DAYLIGHT [B]

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS

Um filme de: Lawrence Kan Com: David Chiang, Jennifer Yu, Bowie Lam 21.30 SALA 3

SANA [C]

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Takashi Shimizu Com: Alan Shirahama, Ryota Katayose, Hayato Komori, Reo Sano 14.30, 21.30

DUST TO DUST [B]

FALADO EM PUTONGHUA E CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Jonathan Li Com: Da Peng, Lam Ka Tung, Zhang Songwen, Qi Xi, Sunny Sun 16.30, 19.30

João Luz

60 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 59

9 7 6 3 2 1 5 4 8 1 3 8 5 4 6 2 7 9 4 2 5 8 9 7 6 3 1 7 6 4 9 5 8 3 1 2 5 8 3 2 1 4 9 6 7 2 9 1 6 7 3 4 8 5 8 1 9 4 6 2 7 5 3 3 4 2 7 8 5 1 9 6 6 5 7 1 3 9 8 2 4

3 7 6 4 2 1 8 9 5 1 2 5 6 9 8 4 7 3 9 4 8 3 5 7 1 2 6 THE MARVELS 4 9 1 5 7 6 3 8 2 6 8 7 2 4 3 5 1 9 5 3 2 1 Propriedade 8 9 6Fábrica4de7Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; José Simões Morais; Julie Oyang; 2 6 3 9 Paulo 1 4 5 Rosa 8 Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Maia e7 Carmo; 7www. 5 4 8 Paula 6 Bicho; 2 9Tânia3dos 1Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária hojemacau. de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 8 1 9 7 Morada 3 5Pátio2da Sé,6n.º22, 4Edf. Tak Fok, R/C-B, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo com.mo

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HM • 1ª vez • 9-11-23

ACÇÃO ORDINÁRIA nº

ANÚNCIO CV3-26 0072 CAO

HM • 2ª vez • 9-11-23

3º Juízo Cível

LEI SIO KUAN, solteira, maior, residente em Macau, na Avenida do Conselheiro Borja, Edf. lat Lai, Bloco 5, 3º andar AG a NA. Réus: CHOI TAK CHAM ou CHOI TAK CHAN, casado, residente em Macau, na Rua Dois do Bairro lao Hon, nº 67, Edf. Kat Cheong, 1º andar, Apartamento nº 148; e INTERESSADOS INCERTOS. *** FAZ-SE SABER que, pelo 3º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base da RAEM, correm éditos de TRINTA (30) DIAS, a contar da segunda e última publicação dos anúncios, citando, o 2º réu INTERESSADOS INCERTOS, acima identificado, para no prazo de TRINTA (30) DIAS, decorridos que sejam os dos éditos, contestar, querendo, a acção supra identificada, sob pena de não o fazendo no dito prazo, não se consideram reconhecidos os factos articulados pela Autora, seguir o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Em síntese, a Autora pede que a acção seja julgada procedente por provada e, em consequência, seja proferida a sentença que reconheça que a ora Autora é solteira. Consigna-se que é obrigatória a constituição de advogado, no caso de querer contestar. Tudo conforme melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 3º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderão ser levantados nesta Secretaria Judicial nas horas normais de expediente. RAEM, aos 30 de Outubro de 2023. *** Autora:

C I N E M A

SALA 1

Inventário Obrigatório Proc. n.º

ANÚNCIO CV2-19-0016-CIV

2º Juízo Cível

Sum Ka Ming, também conhecida por Sam Ka Meng (沈家 沈家 明), de sexo feminino, maior, de nacionalidade chinesa, residente em Macau, na Rua de Coelho do Amaral, n° 61, Edifício Mei Wa, 8° andar D. Inventariado: Sam Hoi, também conhecido por Sum Hoi (沈開 沈開), de sexo masculino, era casado com Tsang Yip Sim (曾葉嬋 曾葉嬋), e tinha a sua última residência em Hong Kong. Nos autos supra identificados, foi designado o dia 9 de Janeiro de 2024, pelas 11:15 horas, neste Tribunal, para a venda por meio de propostas em carta fechada, o bem abaixo identificado. Verba Única - Bem Imóvel Denominação da fracção autónoma: “BR/C”, rés-do-chão “B”. Situação: Em Macau, na Rua de Francisco Xavier Pereira nºs 131 a 131-C e Avenida do Ouvidor Arriaga n°s 63 a 63-B. Fim: Para comércio. Número de matriz: n°. 037001. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: n° 19209, a fls. 168V do Livro n° B39. Valor a anunciar para a venda: MOP$54.590.000,00 (Cinquenta e Quatro Milhões, Quinhentas e Noventa Mil Patacas). Não são aceitas propostas com valor inferior ao valor a anunciar para a venda acima indicado Os interessados na compra devem entregar a sua proposta em carta fechada, com indicação nos envelopes das propostas, a seguinte expressão “proposta em carta fechada”, “2° Juízo Cível” e o “Processo Número: CV2-19-0016-CIV”, na Secção Central deste Tribunal, até o dia 8 de Janeiro de 2024, até 17:45 horas, podendo os proponentes assistir ao acto da abertura das propostas. Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referido, podem, querendo, exercerem o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do art° 787° do C.P.C.M. Macau, aos 30 de Outubro de 2023. *** Cabeça-de-Casal:


quinta-feira 9.11.2023

vozes 15

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in sapo24

Patrícia Reis

JOSE SENA GOULÃO | EPA | LUSA

ISTO NÃO É UM PAÍS, É UMA TELENOVELA

FAITES VOUS Jeux, disse em tempos uma personagem criada por Herman José. O jogo é demasiado importante para ser feito por líderes wanna be. Pena que o realizador e guionista não sejam de qualidade, acrescente-se. No meio do caos instituído com as buscas e as acusações, detidos e arguidos, o primeiro ministro fez o que deveria fazer: despediu-se. Teve uma posição condigna com a sua função. Tomou uma atitude em prol do país e da seriedade do cargo que ocupou. Marcelo Rebelo de Sousa aceitou a demissão. Os partidos da oposição podem esfregar as mãos de contentes, mas será por pouco tempo, digo eu. O dano para a democracia será grande. Para a imagem do país no exterior. E pior do que tudo a alternativa a António Costa não é a melhor.

Alguns defendem o regresso de Passos Coelho, o que só comprova que Luís Montenegro não tem peso enquanto líder de oposição. Outros falam de uma geringonça à direita ou um revival à esquerda, desta feita sem Costa. Ventura deve estar no auge da sua excitação política. A janela de

O que fará Marcelo com tudo isto? O que farão os portugueses?

oportunidade para o populismo abre-se mais um pouco. O que fará Marcelo com tudo isto? O que farão os portugueses? Pelo sim, pelo não, aposto já um cafezinho que as próximas eleições legislativas terão uma abstenção alta. Como se não tivéssemos nada a ver com isto. São quase 50 anos de democracia e a sociedade civil ainda não se mentalizou da sua extrema importância na decisão sobre quem e como se manda no país. E, já agora, convém registar isto: será que desta vez a justiça funcionará? Ou é apenas uma coisa para inglês ver? Para usar a expressão popular. P.S.: E, entretanto, a guerra já não existe, não é? Voltámos para o Portugal dos pequeninos.


“A arte é o lugar da liberdade perfeita.” PALAVRA DO DIA

CLIMA EL NIÑO DEVERÁ CONTINUAR ACTIVO ATÉ 2024

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David Sisk, Melco “Estamos agora a remontar o espectáculo e temos estado a trabalhar muito no teatro que irá acolher o ‘House of Dancing Waters’ para o preparar.”

Águas de regresso Espectáculo “House of Dancing Waters” volta a Macau no próximo ano

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Melco Resorts & Entertainment vai voltar a acolher o espectáculo residente “House of Dancing Waters” a partir do último trimestre de 2024. Segundo o portal Macau News Agency (MNA), a notícia foi avançada ontem à margem da conferência de imprensa de apresentação dos resultados financeiros da operadora de jogo. David Sisk, director de operações dos resorts de Macau da Melco, disse que já arrancaram campanhas publicitárias em Hong Kong e na China sobre o evento a fim de atrair os turistas para um espectáculo que, durante anos, atraiu muitos visitantes até ser suspenso em 2020 devido à covid, levando

a que 137 trabalhadores não residentes tenham perdido o emprego. “Estamos agora a remontar o espectáculo e temos estado a trabalhar muito no teatro que irá acolher o ‘House of Dancing Waters’ para o preparar. Começámos agora a fazer os nossos primeiros espectáculos lá», disse David Sisk. O responsável adiantou que, neste momento, decorre uma produção nesse teatro, com alguns espectáculos musicais a acontecer semanalmente. “Em meados de Novembro, voltaremos a sair de lá e a remontar o ‘House of Dancing Waters’”.

Mais gastos

Os dirigentes da Melco anunciaram o regresso do espectáculo

no momento em que foram questionados sobre as despesas operacionais da empresa, que atingiram cerca de 2,5 milhões de dólares por dia no último trimestre face aos 2,4 milhões registados no segundo trimestre deste ano. Geoffrey Davis, vice-presidente executivo e director financeiro da Melco, garantiu que a previsão é de que “no quarto trimestre esse número se aproxime dos 2,6 milhões de dólares”. “Quando pensamos em como isso pode mudar no próximo ano, a única coisa que posso destacar é a reabertura do espectáculo The House of Dancing Water”, acrescentou. “Isso acrescentaria cerca de 0,1 por dia [aos gastos operacionais] quando isso acontecer”, rematou.

Clockenflap De La Soul é último trunfo do festival A lendária banda de hip hop De La Soul actua em Hong Kong no segundo dia do Clockenflap, 2 de Dezembro às 19h45, antes dos Pulp. O concerto foi anunciado ontem, no último lote de artistas que encerra o cartaz do festival que se realiza entre 1 e 3 de Dezembro no Central Harbourfront. O trio de Nova Iorque regressa ao maior festival da região vizinha, depois da estreia no mesmo palco em 2012, e PUB.

9.11.2023

André Suarès

EUA ISRAEL NÃO DEVE REOCUPAR GAZA secretário de Estado norte-americano declarou ontem que Israel não deveria reocupar a Faixa de Gaza no final do conflito em curso com o Hamas, após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 em Tóquio. “A única forma de alcançar uma paz sustentável será através do não deslocamento de palestinianos em Gaza, da não reocupação da Faixa [de Gaza] e da não realização do bloqueio ou da redução do território”, disse Antony Blinken numa conferência de imprensa. Os EUA já tinham manifestado a sua oposição a uma possível reocupação do território palestiniano na terça-feira, depois de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter declarado no dia anterior que o seu país assumiria “a responsabilidade geral pela segurança” de Gaza “por um período indefinido”. “Fomos muito claros desde o primeiro dia: Gaza não pode ser governada pelo Hamas, Israel não pode ocupar Gaza e não pode haver deslocamento de palestinianos”, afirmou Blinken, acrescentando que encontrou uma “grande unidade” entre o G7. De acordo com o secretário de Estado norte-americano, será necessário também “colocar as vozes e aspirações do povo palestiniano no centro da governação em Gaza” depois da guerra e tornar este território “unificado” com a Cisjordânia sob o controlo daAutoridade Palestiniana. Deve ainda ser criado, segundo Blinken, um “mecanismo sustentável para a reconstrução de Gaza” e será necessário encontrar “uma forma de permitir que israelitas e palestinianos vivam lado a lado nos seus próprios espaços, nas mesmas condições de segurança, liberdade, oportunidades e dignidade”. Blinken destacou o papel do Japão - país que ocupa actualmente a presidência e é o anfitrião da reunião de dois dias do grupo, que terminou ontem -, nomeadamente pelos seus esforços no alívio das tensões no Médio Oriente e na ajuda humanitária a Gaza.

quinta-feira

do regresso no ano seguinte ao clube Dragon-i, em Central. A organização do festival adicionou ainda ao cartaz o jovem cantor britânico Tom Grennan, a banda tailandesa de rock alternativo Tilly Birds, o cantor australiano Tones and I e a banda neozelandesa The Beths. Foram ainda anunciadas duas propostas sul-coreanas bem distintas, o Dj 250 e o trio de rockeiros Idiotape.

Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicou ontem que o fenómeno climático El Niño, que normalmente está ligado ao aumento das temperaturas, continuará pelo menos até Abril de 2024, antecipando que o próximo ano será mais quente do que 2023. Na sua actualização regular sobre o fenómeno, a organização sediada em Genebra, na Suíça, antecipa que o El Niño, que normalmente se mantém entre nove e 12 meses e começou em meados de 2023, “contribuirá para um aumento ainda maior das temperaturas tanto na superfície da Terra como nos oceanos”. O El Niño, fenómeno que ocorre de forma periódica mas irregular (com intervalos entre dois e sete anos), “tem impacto na temperatura global especialmente no ano seguinte ao seu desenvolvimento, neste caso em 2024”, segundo um relatório do secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. “Como resultado das temperaturas recordes da superfície e dos oceanos desde Junho, 2023 está a caminho de ser o ano mais quente já registado, mas o próximo ano será ainda mais quente”, alertou o especialista finlandês. Taalas lembrou que isto não se deve apenas à influência do El Niño, mas também ao aquecimento global causado pelas emissões de gases com efeito de estufa provocados pela atividade humana. “Fenómenos extremos como ondas de calor, secas, incêndios, chuvas torrenciais e inundações vão aumentar em algumas regiões, causando grandes impactos”, previu Taalas, que apelou à continuação da implementação do programa da OMM para universalizar os sistemas de alerta precoce contra estes desastres climáticos. De acordo com a OMM, o El Niño deste ano desenvolveu-se rapidamente entre Julho e Agosto, atingiu força moderada em Setembro e deverá atingir o seu pico de força entre Novembro e Janeiro, com 90 por cento de probabilidade de persistir durante todo o inverno boreal (Verão austral).


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