Hoje Macau 9 DEZ 2016 #3713

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

HO CHIO MENG

Dia de acusações PÁGINA 7

PAULO JOSÉ MIRANDA

Objecto de si ANABELA CANAS

ROTA DAS LETRAS

Primeiros capítulos

CAROL EBETHUEL

EVENTOS

MIFFA

JÁ RODA PUB

EVENTOS

IVO M. FERREIRA

De um filme para o outro

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ENTREVISTA

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SEXTA-FEIRA 9 DE DEZEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3713


2 ENTREVISTA

IVO M. FERREIRA

Ainda a sentir réplicas de “Cartas da Guerra”, filme pré-seleccionado para os Óscares, e com destaque em tudo que é festival de cinema internacional, Ivo Ferreira volta a Macau para fazer um filme. O cineasta abriu as portas do seu escritório e recebeu o HM O que pode dizer-nos acerca deste novo projecto? Comecei a escrevê-lo, precisamente, durante a paragem do “Cartas da Guerra”. É um filme que revisita uma Macau dos últimos cinquenta anos, ou dos próximos dez. É meio intemporal e assenta na ideia da erosão, da destruição física da cidade, como um catalisador que cria unidade e entidade. A ideia é um bocado romântica, louca, drástica e divertida, espero. E a narrativa? A narrativa gravita à volta de um hotel, que não é bem um hotel, é um prédio muito degradado onde os hóspedes acabam por ficar a viver, fazendo as suas casas dentro dos quartos. O dono é um português, que vive com a filha no topo do edifício, sem se preocupar com qualquer tipo de manutenção. Nisto, há um personagem que chega à cidade e que pretende deitar o edifício abaixo para construir um hotel novo. No fundo, é uma estória de resistência. De onde lhe surgiu a ideia para o filme? Vim para Macau em 1994, estive cá quase quatro anos e depois fui voltando. Filmei cá a minha primeira longa-metragem, “O Estrangeiro”. Apeteceu-me revisitar a cidade. Crio relações especiais com os lugares, algo que não tenho em mais nenhum lado do mundo, a não ser Lisboa. Quando regressei

O bom filho à casa torna para rodar “O Estrangeiro” tentei revisitar esses primeiros dias de Macau, o hotel de prostitutas onde vivi, por exemplo. Os sítios que queria filmar tinham desaparecido e, pronto, fui filmar o vazio. Foi a minha tentativa inicial de somatizar a primeira experiência de Macau. Havia outro filme para fazer, eu sabia, e haverá outros. Pode ser que me saia o Euromilhões... Olha, gastava tudo mal gasto. Neste momento, vivo um estado compulsivo, estou a fazer este projecto, mas já estou a preparar um trabalho sobre os FP 25. Será um grande filme, muito caro e bastante explosivo. Como está a ser voltar a trabalhar num filme em Macau? Eu gosto muito disto, tenho uma relação muito especial com a cidade. Gosto imenso de Portugal, mas dá-me uma seca imensa passado um tempo, aborrece-me. As pessoas queixam-se muito, e pior, a maioria das vezes têm razão. Este sempre foi o meu plano, filmar dos dois lados. Mesmo sabendo que em Macau é muito, muito difícil. Mesmo apesar do passo enorme que o Instituto Cultural deu, espero que tenham consciência que o próximo passo tem de ser maior ainda, mas este primeiro já é de louvar. Sinceramente, é um desafio porque é muito difícil filmar cá. Posso dar-te um exemplo: uma coisa que há em Macau em abundância são quartos de hotel,

“As rodagens em Angola foram horríveis, apesar do apoio local do exército angolano. Foi muito duro, também por questões inerentes à natureza do projecto.”

HOJE MACAU

REALIZADOR DE CINEMA

mas estou há oito meses a pedir licença para filmar uma cena num quarto de hotel. Uma coisa completamente normal, ainda para mais com uma estrela de Taiwan, Rhydian Vaughan. Qualquer hotel no mundo até lhe pagaria o quarto. Aqui não, nada. Tudo é assustador, há uma espécie de medo que não sei explicar. A Sophia Coppola no Lost In Translation transformou o bar do hotel num destino turístico, as pessoas querem ficar lá por causa do filme. Estou há um ano para ter resposta do turismo, outro exemplo. As coisas avançam a um ritmo muito lento. É, absolutamente, desesperante, falta um bocadinho de frescura e dinâmica. O “Cartas da Guerra” tem corrido os festivais internacionais e foi pré-seleccionado para os Óscares... Devia estar em Washington agora, o filme está a passar lá. Para teres hipóteses nos Óscares precisas gastar pelo menos 300 mil euros. Primeiro, tens de anunciar nas revistas, depois vêm as sessões privadas. Mas ser pré-candidato é muito bom, é super sexy e cria buzz em torno do filme. É muito bom sair de um filme e entrar noutro, mas por outro lado é horrível. Este mês perdi alguns 15 festivais fantásticos. No entanto, a exposição dá muito jeito, por exemplo, para falar aqui com um co-produtor de Hong Kong. É óptimo, agradeço imenso a toda a gente que votou em mim e, se chegar lá é muito bom, principalmente na repercussão que trará às vendas.

isso. Pronto, se calhar lá terei de ir passear na red carpet, o que, sinceramente, não tem assim tanta graça, mas a Margarida adora vestidos e ainda arranjamos uns descontos. Mas dá muito trabalho, não tenho vida para isso.

Tirando os benefícios práticos, como tem sido lidar com o protagonismo? O que me assusta mais é a conta bancária. Continuo teso, a ver vamos se isto alguma vez endireita. Agora, a sério. Fico muito contente, mas a verdade é que este filme, de certeza absoluta, não o teria montado financeiramente com esta velocidade se não fosse tudo

Voltando ao “Cartas da Guerra”. Quais foram as maiores dificuldades? A montagem foi um paraíso, agora, até lá foi tudo horrível. Primeiro concorremos e ganhámos o financiamento do ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual], o que é importante para depois pedir mais dinheiro lá fora. Estava tudo a correr bastante bem, mas de-

pois Portugal foi à falência e não chegámos a receber o dinheiro. Depois, outros eventuais parceiros que existiam também saltaram fora. Começámos aí uma travessia do deserto. Assumimos que não iríamos ganhar dinheiro com o filme, porque se ia gastar tudo na rodagem. Era algo que estava assumido, e a única forma de poder filmar em Angola. Não iria esperar mais não sei quantos anos para tentar financiamento. Já tinham passados tantos, que era agora ou nunca, e se continuasse a arrastar, às tantas também já não queria fazer o filme. De repente, em três horas, o filme estava financiado. Houve uma viragem total. Não


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na casa do pai do António Lobo Antunes, onde a Maria José e o António viveram, num segundo andar. Havia caixotes no chão, e eu fui lá ver o apartamento só por curiosidade. Decidi filmar tudo dentro da casa, porque não queria mais ninguém no plano, assim tudo aquilo poderia ser uma memória dela. Foi no último dia, estávamos todos estoirados, mas eu queria filmar planos que retratassem o encontro, desencontro, a perda, uma espécie de intangibilidade. Um ambiente que criasse intimidade. Avisei-a uns dias antes quanto à cena de amor. “Olha, se calhar vais ter de te masturbar na cena. “Ah, não, nem penses”. Não disse mais nada. Era uma cena de intimidade, e faltava-me os dois juntos, apesar de não se tocarem. Uma história de amor do caraças sem uma cena de cama, oh Ivo, que conceptual do caraças. Já tinha filmado a cena do Miguel, evidentemente, a pensar nisso.

foi nenhuma sorte, foi o filme em si que fez isso. O filme que nos deu pesadelos, também nos deu a bonança e a felicidade. Finalmente, avançámos. Foi uma rodagem problemática. As rodagens em Angola foram horríveis, apesar do apoio local do exército angolano. Foi muito duro, também por questões inerentes à natureza do projecto. Quis filmar numa zona que se parecesse com o local onde se desenrolou a acção. O próprio sítio foi um dos maiores inimigos. Houve muitas doenças, paludismo, febre tifóide, foi muito chato. Era tudo tão duro

“Ser pré-candidato aos Óscares é muito bom, é super sexy e cria buzz em torno do filme.” e absurdo. Tivemos acidentes muito graves na equipa. Nessa altura, realmente, pensei: “Epá, nunca mais quero fazer filmes”. Depois chegava ao quarto e pensava “faz-se mais um dia”, e assim se foi andando. Agora, como já passou algum tempo, a memória selectiva leva-me para as coisas positivas, ficamos com

uma imagem mais romântica à distância. Então e a montagem? A montagem foi super simpática. Temos uma casa no campo e montámos lá um estúdio. Essa parte foi fixe, podia estar com os putos. Como foi trabalhar com a Margarida Vila-Nova? Ninguém acreditava que eu ia pôr a voz da Margarida, nem que a ia filmar. Não sabia como é que havia de filmar, tinha vários décors em mente, como a Praia das Maçãs, que é muito referida no livro. Mas o décor foi

É um filme que suscita emoções. Tenho ouvido muito falar nisso. Foi muito importante para mim o contacto que tive com aqueles homens que me acolheram e que me puseram dentro da companhia. A ante-estreia em Lisboa foi no âmbito do IndieLisboa, no 25 de Abril, o filme estava por todo um mundo, era absurdo não passar por Portugal. Sabia que estavam lá os camaradas, até tinham farnel. Não os vi, procurei-os porque queria dedicar-lhes a sessão. Eles estavam lá ao fundo, na última fila da Culturgest, para não serem vistos. Assim podiam sair caso não gostassem do que estavam a ver. Nunca lhes mostrei nada. Claro, mostrei à Zé e à Joana. Depois, chegámos ao fim do filme e lá estavam com lágrimas nos olhos. Um dos antigos combatentes dizia para outro: “Conheço-te há 50 anos, estivemos num funeral de um grande amigo e nunca te vi chorar, o que é esta merda? E o outro diz “olha lá para ti”. Mesmo as mulheres deles ficaram muito emocionadas, porque os maridos nunca lhes haviam falado da guerra. Uma das esposas disse-me: “Ao longo de todos estes anos o meu marido nunca falou disto comigo, eu sabia que depois do filme ele ia ter pesadelos, e teve. Teve pesadelos, acordou e começou-me a falar de coisas de quais nunca me tinha falado em 40 anos”. As coisas também têm uma altura para acontecerem e os portugueses têm tendência para lidarem muito mal com as

suas coisas, adiar eternamente. Procurei aquilo que me pareceu ser a essência daquela vivência, sobretudo o isolamento, a vida interrompida. Não sei bem porquê, chora-se muito à volta deste filme. É muito forte, mesmo para mim, não é só o filme, a forma, o que aconteceu, os camaradas que me ajudaram em todo o processo. Acho que agora já passou, mas eu e o Ribeiro tivemos alturas em que olhávamos um para o outro e ficávamos com lágrimas nos olhos sem razão alguma.

“Este sempre foi o meu plano, filmar dos dois lados. Mesmo sabendo que em Macau é muito, muito difícil.” E como foi a relação com o António Lobo Antunes? Toda a gente que achava que poderia correr mal, não houve um único problema entre nós ao longo destes anos todos. No momento que propus a ideia disseram-me que era louco, aquilo nem era para sair em livro, mas foi uma vontade expressa da Maria José antes de morrer. O António disse-me uma vez que nunca o tinha lido, apesar da personagem não estar só neste livro, está também nos “Cus de Judas”, e no “Memória de Elefante”. Sabia que historicamente teria de ser certeiro. Nunca tinha visto uma pistola na vida, nem fui à tropa. De repente, tenho uma estória intimíssima que duas amigas me estão a deixar adaptar, com detalhes da intimidade da sua mãe, e de não sei quantas pessoas. Também explora o lado biográfico de um grande escritor vivo, e uma personagem bastante particular. Desde o início, nós tivemos a relação que o António quis ter. Agora, olhando para trás, recordo as grandes conversas que tive com ele e, também, os grandes silêncios enquanto ele fumava sem parar. Em retrospectiva, tudo o que aconteceu foi o que eu queria que tivesse acontecido. O António tem problemas em ver o filme, porque não está ainda preparado, segundo ele. É algo muito pessoal, porque ela foi o grande amor da sua vida, são episódios muito importantes. Sei que já fez algumas tentativas, e haverá um tempo. Gostava que ele visse o filme, se ele o quiser ver, mas se lhe fizer aflição, não faz mal. HM


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Subsídio residência DEPUTADOS RECEBEM CARTA A PEDIR INTERVENÇÃO DO GOVERNO

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Agua mole em pedra dura

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aumento do subsídio de residência para os funcionários públicos, o qual será votado na especialidade na próxima quinta-feira, na Assembleia Legislativa (AL), levou “um cidadão” a apresentar uma carta aos deputados que compõem a 1ª Comissão Permanente da AL. O documento visava pedir intervenção do Executivo quanto ao não pagamento do referido subsídio a quem transferiu as suas reformas para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), aquando da passagem de Macau para a China. A informação consta no parecer da referida comissão. “Na sequência de uma carta enviada a esta Comissão, durante a apreciação da presente proposta de lei, por um cidadão, via e-mail, na qual se aborda a questão do recebimento do subsídio de residência por parte dos indivíduos que, antes do retorno de Macau à pátria, já se tinham aposentado e transferido a responsabilidade do pagamento das suas pensões para a CGA de Portugal, a Comissão entende que a proposta de lei em análise não visa tratar a questão respeitante ao gozo do direito de tal subsídio, mas sim apenas alterar o seu subsídio, pelo que só resta reencaminhar a referida carta ao Governo”, pode ler-se.

PROPOSTA DE ALTERAÇÃO AO CÓDIGO PENAL JÁ ESTÁ NA AL

Tanto a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) como a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) confirmaram ao HM nada ter a ver com este envio, apesar de terem vindo a defender a atribuição do referido subsídio. José Pereira Coutinho, deputado e presidente da ATFPM, continua a referir que o não pagamento do

A Assembleia Legislativa (AL) já tem em mãos a proposta de lei que visa a alteração ao Código Penal, a qual vai criar novos crimes, incluindo o crime de recurso à prostituição de menor e o crime de pornografia de menor, os quais são passarão a ser considerados crime público. Para além de eliminar a diferença de género nos crimes de violação, a proposta prevê ainda que o atentado ao pudor seja apenas crime semi-público. A proposta será agora agendada para votação na generalidade no hemiciclo.

“O Governo sistematicamente lida com questões da Função Pública como pasta de dentes.” PEREIRA COUTINHO DEPUTADO

subsídio não faz sentido, apesar do tribunal já ter referido que os pensionistas da CGA não têm esse direito. “Embora tenham transferido as suas pensões para a CGA, não deixaram de contribuir para aquilo que a RAEM é hoje.”

PELA GLOBALIDADE

O parecer mostra que os deputados apoiam o aumento do subsídio de residência, o qual vai representar

um aumento para os cofres do Governo, já no ano que vem, no valor de 380 milhões de patacas. Foi proposto um aumento de dez pontos no índice para o subsídio de residência, por forma a que os trabalhadores da camada de base tenham direito a um aumento mais significativo. Desta forma, os funcionários públicos abrangidos “vão passar a receber mais 890 patacas, calculadas segundo o valor de 83 patacas por índice, independentemente das suas categorias”. Isso faz com que o aumento para os trabalhadores da camada de base tenha mais expressão. “O subsídio de residência tem um peso significativo nos salários dos trabalhadores da camada de base, por isso essa actualização constitui uma medida mais favorável para esses trabalhadores. De acordo com a explicação do Governo, e segundo o cálculo baseado no valor indiciário de 110 pontos, a taxa de aumento aproxima-se dos 7,79 por cento para os respectivos trabalhadores (da camada de base). Por seu lado, para aqueles que auferem pelo índice 1100, a taxa total de aumento ronda os 3,3 por cento.” Ainda assim, o deputado José Pereira Coutinho lamenta que os subsídios não sejam aumentados na totalidade. “O Governo sistematicamente lida com questões da Função Pública como pasta de dentes. O Governo ao tocar na questão dos subsídios deveria tocar nesse assunto em termos globais. Muitos dos subsídios que foram atribuídos aos trabalhadores da Função Pública não foram revistos há mais de 25 anos a 30 anos. Falo dos subsídios de chefia funcional, de turno, nocturno. Para além de outros, não são revistos e isso não está correcto. O Governo não está a ter em conta nesta revisão a globalidade da questão. Não se deve tratar as questões de uma forma isolada”, disse ao HM. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

RUI RASQUINHO

Os deputados da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa receberam uma carta de “um cidadão” a pedir a intervenção do Executivo quanto ao pagamento do subsídio de residência aos antigos funcionários públicos que recebem pensões de Portugal

GCS

POLÍTICA


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O

embaixador da China em Lisboa disse que Portugal tem “uma atitude mais aberta” ao investimento externo e que Pequim quer reforçar a cooperação com Lisboa e alargá-la a novas áreas, segundo um comunicado divulgado em Macau. “O embaixador Cai Run informou (...) sobre a situação atual das relações sino-portuguesas nos anos recentes, período em que o invesPUB

Ir a Lisboa e voltar Lionel Leong faz balanço da viagem a Portugal

estreitas”, prossegue o comunicado, referindo-se às considerações do embaixador que, segundo o mesmo texto, “salientou o papel positivo de Macau nas relações sino-portuguesas”.

GCS

O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esteve em Lisboa para dar seguimento às ideias definidas no último Fórum Macau. Regressou a Macau com uma mensagem do embaixador chinês na capital portuguesa

OUTROS ENCONTROS

timento das empresas chinesas em Portugal tem aumentado continuamente e, de facto, Portugal assume uma atitude mais aberta sobre o investimento externo em comparação com os países europeus, notando-se, assim, investimentos realizados nos sectores de energia, de saúde, de seguros e de serviços bancários”, lê-se num comunicado sobre a visita do secretário da Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, a Lisboa, esta semana.

De acordo com o mesmo texto, o embaixador Cai Run “espera que seja reforçada a cooperação entre as empresas portuguesas e os investidores chineses nas áreas de cooperação da capacidade produtiva, cooperação marítima, de empreendedorismo, de medicina tradicional chinesa, de turismo e de educação”. “Com a abertura de voos diretos entre os dois países nos meados do próximo ano, a cooperação e as ligações bilaterais serão mais

Durante os dias em que esteve em Lisboa, Lionel Leong e a delegação que o acompanhou reuniu-se ainda com três secretários de Estado do Governo português: João Vasconcelos (Indústria), Paulo Ferreira (Comércio) e Jorge Costa Oliveira (Internacionalização). A visita a Lisboa visou “implementar os trabalhos definidos” no “memorando de entendimento para a promoção do empreendedorismo e da cooperação económica e empresarial” entre Portugal e Macau, assinado em Outubro, durante a quinta conferência interministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. No comunicado divulgado, o Governo de Macau reitera o seu empenho “no reforço da coope-

POLÍTICA

ração luso-chinesa” através da “transformação de Macau numa plataforma de serviços financeiros entre a China e os países de língua portuguesa” e num “centro de liquidação de renminbi para os países lusófonos”.

O embaixador da China em Portugal “salientou o papel positivo de Macau nas relações sino-portuguesas.” Nos encontros com os secretários de Estado, foram discutidos temas como o reforço do papel de Macau na entrada de produtos portugueses na China e acordada a criação de “grupos especializados para coordenar trabalhos relacionados”, indica o comunicado. Os dois lados trocaram ainda informação sobre “o desenvolvimento das empresas ‘startups’”, tendo discutido “directrizes futuras de cooperação”.


6 POLÍTICA

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O polémico estatuto Governo garante que perda de direitos na Função Pública não está em causa

O

Orçamento PLANO DE INVESTIMENTOS É “EXTREMAMENTE AMBICIOSO”

As vozes do hemiciclo

O

S deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) consideram o plano de investimentos públicos para o próximo ano “extremamente ambicioso”, alertando para as dificuldades de execução. “Trata-se, sem dúvida, de um plano de investimentos públicos extremamente ambicioso e porventura de difícil alcance a uma taxa de execução orçamental elevada ou mesmo razoável”, referem os deputados no parecer relativo à proposta de Lei do Orçamento para 2017, que deve ser em breve votada na especialidade. No Orçamento para 2017, o Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) aumenta 37,8%, para 15.256 milhões de patacas, quando esta rubrica normalmente apresenta baixas taxas de execução, o que tem suscitado críticas no seio do órgão legislativo. Nesse

sentido, constata-se no parecer que “a baixa taxa de execução orçamental do PIDDA no ano em curso – de 28,7% – no período de Janeiro a Outubro (…) faz antever que transitem para 2017 parte das acções de investimento não realizadas anteriormente”. A 1.ª Comissão Permanente da AL indica que, à semelhança do ano anterior, o Governo apresentou 20 programas orçamentais para 2017, cujo orçamento total representa a quase totalidade do valor proposto para o PIDDA. Contudo, e embora notem que a informação prestada constitui “um significativo progresso”, os deputados defendem que “carece eventualmente de ser melhorada

e eventualmente contemplada na futura lei de enquadramento orçamental”. Isto no que respeita “a uma definição clara dos objectivos de cada programa, balanço dos custos/benefícios, entidades públicas envolvidas e responsáveis, encargos totais estimados com cada programa orçamental, incluindo os de anos anteriores e posteriores, calendarização e respectivas acções do investimento e pressupostos em que assentam as estimativas dos encargos futuros”, lê-se no parecer.

POUCA CLAREZA

Os deputados afirmam ainda que “subsistem dúvidas” quanto à natureza e delimitação ou à tutela

“Trata-se, sem dúvida, de um plano de investimentos públicos extremamente ambicioso e porventura de difícil alcance a uma taxa de execução orçamental elevada ou mesmo razoável.”

e entidades envolvidas nesses 20 programas e invocam, em particular, o de maior relevância financeira – a Ilha Artificial Fronteiriça da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau –, cuja dotação representa um quinto do valor do PIDDA, argumentando que “deveria ser objecto de uma melhor explicitação”. “Acresce, por outro lado, que é muito importante definir o que deve ser considerado como programa orçamental e não deixar de fora certo tipo de investimentos públicos de valor muito significativo e que se estendem por mais de um ano orçamental”. No parecer, os deputados também salientam que “o Governo não disponibilizou à AL o relatório intercalar sobre a execução orçamental até 30 de Junho, o que facilitaria a análise financeira da presente proposta de orçamento”. HM/LUSA

Governo assegura, através de um comunicado oficial, que a revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM) não irá proibir os funcionários públicos de faltarem ao trabalho em casos de acompanhamento de familiares a consultas médicas. As críticas terão sido feitas no âmbito do processo de consulta pública, que decorre até à próxima quarta-feira. “Consta-se que alguns funcionários públicos apresentaram opiniões diferentes sobre a proposta da necessidade de compensar o tempo, durante o qual se ausentarem para acompanhamento do cônjuge ou parente no primeiro grau da linha recta sujeitos a consulta médica ou tratamento ambulatório (sendo também conhecido por “faltas por acompanhamento familiar”). As faltas dadas por funcionários públicos, sejam por motivo de doença da própria pessoa ou de familiares, devem ser sujeitas ao regime de faltas por doença. O ETAPM em vigor prescreve que, salvo os tratamentos ou consultas seguintes realizadas de acordo com as prescrições médicas, qualquer período em falta dos funcionários públicos tem de ser compensado mesmo que seja para efeito de consulta médica própria”, explicam os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP).

EQUILÍBRIOS

“O documento de consulta sobre a revisão do ETAPM propõe que seja determinada expressamente a necessidade de compensação do tempo de ausência ao serviço dos funcionários públicos por motivo do acompanhamento dos familiares a consultas médicas ou consultas seguintes, no sentido de evitar qualquer impacto significativo na prestação de serviços ou no funcionamento dos serviços públicos, não tendo esta proposta nenhuma intenção de impedir o acompanhamento familiar dos funcionários públicos às consultas médicas ou consultas seguintes.” Os SAFP garantem ainda que pretendem “equilibrar a garantia dada às necessidades de acompanhamento familiar dos funcionários públicos para efeitos de consulta e a minimização do impacto causado ao funcionamento dos serviços públicos e, está disposto a auscultar, com toda a seriedade, as opiniões dos funcionários públicos e dos serviços públicos.”


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Ainda não foi desta

Justiça JULGAMENTO DO ANTIGO PROCURADOR DA RAEM ARRANCA

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Começa hoje o julgamento do ex-responsável máximo pelo Ministério Público de Macau. Prevê-se uma sessão dedicada à leitura da acusação, que é longa. Ho Chio Meng vai ser julgado por mais de 1500 crimes

Grupo Polytec perde direito a prosseguir com a obra do Pearl Horizon G rupo Polytec, responsável pela construção do empreendimento habitacional Pearl Horizon, voltou a perder a segunda acção em tribunal, noticiou a Rádio Macau. A empresa avançou com uma providência cautelar para suspender a reversão do terreno para o Governo até que o tribunal decrete a última decisão sobre o processo. Esta providência cautelar tinha sido apresentada em Novembro, tendo sido rejeitada pelo Tribunal de Última Instância. Veio agora confirmar-se a negação do pedido da empresa. Segundo o acórdão do tribunal, a empresa apresentou vários argumentos para pedir a autorização para continuar a obra, tal como a possibilidade de falência da Polytec e o facto do tribunal não se ter debruçado sobre essa possibilidade. Algo que os juízes negaram. “Entende a reclamante (Polytec) que a não suspensão do acto administrativo em causa (recuperação do terreno) implica necessariamente a sua falência. Não se trata, a nosso ver, duma questão propriamente dita. A verdadeira questão colocada ao tribunal reside em saber se se verifica o requisito de prejuízo de difícil reparação, sobre a qual o tribunal não deixou de tomar uma decisão.” Para o tribunal, a Polytec não depende do terreno localizado na zona da Areia Preta para prosseguir os seus negócios na área do imobiliário. “Não nos parece que a não suspensão irá necessariamente provocar a inactividade da requerente. Quer dizer, o facto de não ser decretada a suspensão de eficácia apenas impedirá a requerente de continuar esta obra em concreto nos tempos mais próximos, mas não a impedirá de prosseguir a sua actividade noutras obras e noutros empreendimentos em curso ou em projecto. Na realidade o despacho em causa tem os seus efeitos confinados ao terreno em causa e não implica a cessação da sua actividade construtiva e de comercialização imobiliária noutros terrenos – a sua ou a outrem concessionados – em Macau ou noutras paragens mais ou menos próximas”, lê-se no acórdão. A.S.S.

RELATÓRIO SOBRE URBANISMO APRESENTADO QUARTA-FEIRA

A próxima reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), realizada na próxima quarta-feira, dia 14, irá servir para analisar o relatório de estudo sobre a “Estratégia de Desenvolvimento Urbano da Região Administrativa Especial de Macau (2016-2030)”. O público poderá inscreve-se para assistir ao debate do CPU mediante inscrição até amanhã.

SOCIEDADE

Hoje é dia de leitura

É

hoje. Depois de um adiamento de quatro dias, o antigo procurador da RAEM, Ho Chio Meng, vai começar a ser julgado esta manhã. A primeira audiência do julgamento de Ho Chio Meng tinha sido inicialmente marcada para segunda-feira, mas foi adiada na semana passada na sequência de um requerimento apresentado pela defesa do ex-procurador, que pedia o afastamento do presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), onde vai ser julgado, um pedido que foi recusado pelo tribunal esta terça-feira. “Não se nos afigura existente motivo sério e grave que possa gerar desconfiança sobre a imparcialidade do juiz visado, nem se mostram violados (ou irão ser violados) os direitos do arguido, pelo que se deve recusar, desde logo, o requerimento apresentado pelo arguido, por ser manifestamente infundado”, refere o acórdão do TUI. O pedido de recusa de Sam Hou Fai foi formalizado com base nas duas intervenções daquele juiz no processo: por ter sido presidido à audiência sobre o pedido de ‘habeas corpus’ e, já na fase de inquérito, por ter autorizado o pedido do Comissariado Contra a Corrupção para ter acesso às declarações de rendimentos e interesses patrimoniais do arguido e da mulher.

MAIS DE MIL PÁGINAS

Ho Chio Meng, que liderou o Ministério Público de Macau

Ho Chio Meng, que liderou o Ministério Público de Macau entre 1999 e 2014, é acusado de mais de 1500 crimes entre 1999 e 2014, é acusado de mais de 1500 crimes, incluindo burla, abuso de poder, branqueamento de capitais e promoção ou fundação de associação criminosa, em autoria

ou co-autoria com outros nove arguidos. Os restantes nove arguidos serão julgados num processo conexo, a partir de 17 de Fevereiro, no Tribunal Judicial de Base.

O antigo procurador encontra-se em prisão preventiva desde Fevereiro. O caso de Ho Chio Meng arrisca-se a entrar para a história judicial de Macau como sendo o maior de sempre, em termos físicos: são mais de 30 mil páginas, contando com os 36 volumes da acusação principal e os 81 volumes de apensos. Só o despacho de pronúncia tem mais de mil páginas.


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DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMO ANÚNCIO A Direcção dos Serviços de Turismo do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, faz público que, de acordo com o Despacho de 18 de Novembro de 2016, do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto o concurso público para a “Prestação de serviços de Concepção e Remodelação do balcão de informações para a Direcção dos Serviços de Turismo (no novo Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa)”. Desde a data da publicação do presente anúncio, nos dias úteis e durante o horário normal de expediente, os interessados podem examinar o Processo do Concurso na Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 12.° andar, e levantar cópias, incluindo o Programa de Concurso, o Caderno de Encargos e demais documentos suplementares, mediante o pagamento de MOP 200,00 (duzentas patacas); ou ainda consultar o website da Direcção dos Serviços de Turismo (http://industry. macaotourism.gov.mo), e fazer livremente o “download” do mesmo. Os concorrentes poderão comparecer no Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, sito no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335341, 14.° andar, Macau, pelas 15:00 horas do dia 14 de Dezembro de 2016, para uma sessão de esclarecimento de dúvidas referentes ao presente concurso público. O limite máximo do valor global da prestação deste serviço é de MOP 5.000.000,00 (cinco milhões patacas) Os critérios de apreciação das propostas e respectivos factores de ponderação são os seguintes: - Planeamento e concepção do espaço (35 %); - Preço Global (35 %); - Equipamentos do sistema Multimédia e desenhos para a sua interface e programação (15 %); - Experiência do concorrente (5 %); - Prazo de execução de serviço (10 %) Os concorrentes deverão apresentar as propostas na Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 12.o andar, durante o horário normal de expediente e até às 17:00 horas do dia 5 de Janeiro de 2017, devendo as mesmas ser redigidas numa das línguas oficiais da RAEM, prestar a caução provisória de MOP 100.000,00 (cem mil patacas), mediante: 1) depósito nesta Direcção dos Serviços em numerário, em ordem de caixa ou em cheque visado, emitidos à ordem da Direcção dos Serviços de Turismo, ou 2) garantia bancária. O acto de abertura das propostas realizar-se-á no Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, sito no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, 14.° andar, Macau, pelas 10:00 horas do dia 12 de Janeiro de 2017. Em caso de encerramento destes Serviços por causa de tempestade ou outras causas de força maior, a data e hora de sessão de esclarecimento, o termo do prazo de entrega das propostas e a data e a hora estabelecidas de abertura de propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte. Os concorrentes ou os seus representantes legais deverão estar presentes no acto de abertura das propostas para efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados ao concurso, nos termos do artigo 27.° do Decreto-Lei n.° 63/85/M, de 6 de Julho. Os representantes legais dos concorrentes poderão fazer-se representar por procurador devendo, neste caso, o procurador apresentar procuração notarial conferindo-lhe poderes para o acto de abertura das propostas. Direcção dos Serviços de Turismo, aos 30 de Novembro de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


9 SOCIEDADE

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Entre Janeiro e Julho, subiram quase 23 por cento as movimentações de capital que levaram as autoridades a avançar com investigações

AUMENTARAM TRANSACÇÕES SUSPEITAS NA PRIMEIRA METADE DO ANO

Dinheiro para desconfiar 1118 135 participações entre Janeiro e Junho

foram enviadas para o Ministério Público

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S autoridades de Macau registaram no primeiro semestre do ano 1118 participações de transacções suspeitas de branqueamento de capitais e/ou financiamento de terrorismo, mais 22,9 por cento face ao período homólogo de 2015. Dados publicados pelo Gabinete de Informação Financeira (GIF) de Macau indicam que do universo de 1118 participações entre Janeiro e Junho – mais 208 do que na primeira metade de 2015 –, 135 foram enviadas para o Ministério Público. A indústria do jogo manteve-se como a actividade que deu origem a mais denúncias (780 ou 69,7 por cento do total), seguindo-se instituições financeiras e companhias de seguros (305 ou 27,3 por cento). No cômputo do ano passado, houve 1807 participações de transacções suspeitas de branqueamento de capitais e/ou financiamento de terrorismo. Os sectores referenciados, como os casinos, são obrigados a comunicar às autoridades qualquer transacção igual ou superior a 500 mil patacas.

O Departamento de Estado norte-americano tem vindo a propor, em relatórios sobre Macau, uma diminuição do valor mínimo que os casinos são obrigados a reportar para três mil dólares, um valor 20 vezes inferior ao aplicado actualmente, para ir ao encontro dos padrões internacionais. Foi precisamente para atender a padrões internacionais que o Governo de Macau avançou recentemente com a revisão da lei contra branqueamento de capitais

(de 2006) – que, entre outros aspectos, aumenta a lista de “crimes precedentes”, passando a contemplar todos os crimes de corrupção, incluindo os relacionados com eleições – e da lei sobre a prevenção e repressão dos crimes de terrorismo.

PARA RESOLVER O MAL

Estas alterações foram feitas para dar “resposta às deficiências identificadas” durante a avaliação do Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais (APG)

em 2007 e às 40 recomendações no âmbito do combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo emitidas pelo Grupo de Ação Financeira (GAFI) em 2012 e actualizadas em Outubro último. Além da revisão daquelas duas leis – aprovadas na generalidade em Novembro pela Assembleia Legislativa, onde se encontram em análise na especialidade –, o Governo de Macau avançou, este ano, com outras medidas.

Uma delas prende-se com a criação do regime de execução de congelamento de bens, que entrou em vigor em Agosto, que surgiu com o reconhecimento da “insuficiência” de um mecanismo que permita uma execução eficaz do congelamento de bens decretado pelo Conselho de Segurança da ONU. Em causa estava uma carência corroborada no Relatório de Avaliação Mútua, em 2007, em que Macau obteve nota “negativa” no parâmetro relativo à recomendação especial sobre a matéria por parte daquele organismo internacionalmente reconhecido com competência para estabelecer padrões no campo do combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, o que fez da região “parcialmente cumpridora”. Esperado há mais de uma década, o regime surgiu na iminência de uma nova avaliação agendada para este ano. A avaliação estava prevista para o final de Novembro, desconhecendo-se, de momento, os resultados da mesma. Já na semana passada foi revelado o teor de uma outra proposta de lei que obriga à declaração nas fronteiras do transporte de dinheiro no valor igual ou superior a 120 mil patacas. Esse diploma também visa responder a uma das 40 recomendações emitidas pelo GAFI.

AUTOCARROS HORÁRIOS DE ALGUMAS CARREIRAS MUDAM ESTE SÁBADO

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Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) decidiu alterar, já a partir deste sábado, os horários e a frequência das carreiras dos autocarros 6B, 35, 50, 55, e N5, sendo esta uma medida adoptada “na sequência da avaliação de passageiros das carreiras de autocarros, em conjun-

to com as companhias de autocarros”. Desta forma, o 6B deixa de funcionar aos domingos e feriados, continuando a circular de segunda-feira a sábado, entre as 6h15 e as 23h30. A carreira 35 passa a circular, todos os dias, das 10:00 às 15:00 e das 20:00 às 23:00, enquanto que a carreira

50, em direcção à vila de Coloane, passa a partir, todos os dias, a cada 24 a 26 minutos, das 10:00 às 15:00 e das 20:00 às 21:45; e em direcção à Praça de Ferreira do Amaral, parte a cada 24 a 26 minutos, das 10:00 às 15:00 e das 20:00 às 22:15, e 12 a 18 minutos nas restantes horas de serviço. A carreira

55 passa a partir a cada 15 a 18 minutos, das 2.as-feiras aos sábados, das 10:00 às 16:00 e das 20:00 à 00:00, e a cada 10 a 12 minutos nas restantes horas de serviço; nos domingos e nos feriados públicos tem uma frequência de 15 a 20 minutos. Já a carreira nocturna N5 passa a sair a cada 20 minutos entre a

meia noite a seis horas da madrugada. Estas mudanças devem-se ao facto do “maior fluxo de passageiros dos autocarros ocorrer essencialmente nas horas de ponta diurnas e nocturnas”, sendo que “algumas carreiras de autocarros têm baixa utilização fora das horas de ponta”.


10 CHINA

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PEQUIM ADVERTE EMPRESAS SOBRE INVESTIMENTOS “IRRACIONAIS”

Cuidado com as aquisições

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China advertiu as empresas do país sobre investimentos “irracionais” além-fronteiras, numa altura em que o ‘boom’ de aquisições no estrangeiro alimenta preocupações face à fuga de capitais e viabilidade duvidosa de alguns activos. O aviso de Pequim, noticiado pela agência noticiosa oficial Xinhua, não menciona nenhuma empresa, mas destaca as áreas do desporto, hotelaria e entretenimento.

O

responsável máximo das estatísticas da China acusou ontem funcionários locais de “adulterarem” os dados sobre a economia e avisou que os infractores serão “severamente punidos”, ilustrando a pouca fiabilidade dos dados oficiais no país. “Tem havido casos ocasionais de sectores locais que adulteram as estatísticas e cometem fraudes, que violam as regulações e leis para as estatísticas”, escreveu Ning Jizhe, director do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês. Num artigo publicado pelo Diário do Povo, o

“Advertimos as empresas a tomar decisões com cautela”, lê-se num comunicado emitido em conjunto pelo Ministério do Comércio chinês e outras entidades do Governo. “Os órgãos reguladores estão também a seguir atentamente a tendência irracional nos investimentos além-fronteiras, em áreas como imobiliário, hotelaria, cinema, entretenimento e clubes desportivos”, aponta. O ‘boom’ das aquisições no estrangeiro por empresas chinesas tem dificultado os esforços de Pequim em

travar a fuga de capitais, que levou à desvalorização da moeda chinesa, o yuan. Nos primeiros oito meses do ano, os investimentos chineses fora do país atingiram 61,7 mil milhões de dólares.

ÀS COMPRAS

Em Portugal, o país asiático tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores, comprando participações em áreas da energia, seguros, saúde e banca. Os investidores chineses correspondem também a 74% dos vistos

O mau funcionário

Chefe das estatísticas expõe adulteração de dados económicos

jornal oficial do Partido Comunista da China, Ning afirmou que Pequim tem “tolerância zero” para com quem falsifica os números e que estes pagarão um “preço verdadeiramente alto”. As autoridades “desejam criar um ambiente onde eles não se atreverão, não pensarão sequer em infringir a lei”, realça. “Um número de casos que envolvem a falsificação das estatísticas foram já investigados e resolvidos”, escreveu o responsável.

Funcionários e analistas, chineses e estrangeiros, frequentemente questionam o rigor dos dados económicos da China, apontando suspeitas de que os governos locais

manipulam os números, para que a economia pareça mais robusta. A promoção dos funcionários locais depende da performance económica dos sítios

Li Keqiang

‘gold’ emitidos desde a criação do programa, em Outubro de 2012. “Uma das razões pela qual os reguladores tomaram esta posição é a tendência de queda do yuan, assim como a dificuldade em travar a fuga de capitais”, comenta em Pequim um analista da consultora DealGlobe. A agência Bloomberg estima que o país asiático tenha registado uma fuga de capitais privados recorde em 2015, estimada em um bilião de dólares (927.000 milhões de euros). As reservas cambiais da China, as maiores do mundo, caíram 69 mil

onde estes exercem os cargos, numa política que incentiva a que falsifiquem os dados. O próprio primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, expressou já dúvidas sobre a credibilidade dos dados estatísticos do país, numa conversa com o embaixador dos Estados Unidos na China, em 2007, revelada no Wikileaks. O antecessor de Ning como director do GNE, Wang Baoan, foi expulso do PCC em Janeiro, por “gostar de luxo” e usar a sua “posição para obter favores sexuais”.

“Os órgãos reguladores estão a seguir atentamente a tendência irracional nos investimentos além-fronteiras, em áreas como imobiliário, hotelaria, cinema, entretenimento e clubes desportivos.” milhões de dólares em Novembro, pelo quinto mês consecutivo, para 3,05 biliões de dólares, a maior queda desde janeiro.

ANGOLA RECEBE PRIMEIRAS LOCOMOTIVAS CHINESAS

Angola está a receber desde Novembro o primeiro lote de 15 locomotivas adquiridas na China para reforçar as empresas de caminhos-de-ferro do país, anunciou esta quarta-feira o ministro dos Transportes angolano. Augusto Tomás avançou os dados à imprensa no final de um encontro com o governador da província de Luanda, Higino Carneiro, no qual analisaram os problemas de trânsito e de mobilidade da cidade de Luanda. O governante frisou que já desembarcaram locomotivas nos Portos de Luanda, Lobito e Namibe, para os Caminhos de Ferro de Luanda (CFL), de Benguela (CFB) e de Moçâmedes (CFM). Segundo Augusto Tomás, há um esforço do Governo para a modernização e ampliação da capacidade de transportação de mercadoria, com vista a alavancar a produção de bens e serviços nos sectores da agricultura, pescas, pecuária, indústria mineral e transformadora e comércio. As novas locomotivas servirão para transporte colectivos urbanos, intermunicipal e interprovincial, tendo a construção das máquinas sido reforçadas para se adaptarem ao actual estado das vias angolanas.


11 hoje macau sexta-feira 9.12.2016

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China deve aumentar “significativamente” os gastos militares e construir mais armas nucleares, preparando-se para o Presidente eleito dos Estados Unidos da América, Donald Trump, defendeu ontem um jornal próximo do Partido Comunista Chinês (PCC). O país deve “construir mais armas nucleares estratégicas e acelerar a instalação dos mísseis balísticos intercontinentais DF-41” para proteger os seus interesses, caso Trump proceda de “forma inaceitável” para com o país. Em editorial, o Global Times, jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, defende “um aumento significativo das despesas militares da China, em 2017”. Trump atacou frequentemente a China durante a campanha presidencial, designando o país como o “inimigo” que faz dos EUA “palermas”. Mas o norte-americano indicou também que não deseja projectar o poder dos EUA além-fronteiras, afirmando que a América está cansada de pagar para defender aliados como o Japão e a Coreia do Sul. Trump chegou a sugerir que esses países construam as suas próprias armas nucleares.

Global Times CHINA DEVE TER MAIS ARMAS NUCLEARES

A culpa é de Trump

CONCLUÍDA CIRCUNVALAÇÃO COM MIL QUILÓMETROS DE EXTENSÃO

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EQUIM inaugurou ontem a circunvalação mais externa da cidade, com uma extensão total superior a mil quilómetros, que liga as localidades de Zhuozhou e Miyun, e visa aliviar o trânsito na capital chinesa, informou a imprensa local. Designada “Auto-estrada de Circunvalação da Capital” ou “Sétimo Anel”, aquela via permite diminuir em uma hora o trajecto de automóvel desde Pequim a Tianjin, cujos centros urbanos estão separados por 150 quilómetros. As autoridades esperam também reduzir a presença dos camiões de carga, que se dirigem à província de Hebei, nas vias próximas às duas cidades. O novo acesso faz parte de uma estratégia do Governo central para criar um centro urbano com cerca de 212 mil quilómetros quadrados - mais do dobro do território de Portugal continental - e 110 milhões de habitantes. Pequim, Tianjin e a província de Hebei, que confina com ambas, seriam assim incorporadas numa mega metrópole designada Jing-Jin-Ji A capital chinesa inaugurou a sua primeira circunvalação, o “Segundo Anel”, em 1992. O “Sexto Anel”, até agora o mais externo de Pequim, tem 187 quilómetros de extensão, e ficou completo em 2009. Nesta rede concêntrica não existe, porém, um “Primeiro Anel”, visto que este corresponderia a uma via que existiu em torno da Cidade Proibida, o centro geográfico de Pequim.

PONTO DE PARTIDA

O editorial do Global Times surge na sequência de um ‘post’ de Trump na rede social Twitter, em que critica as políticas externa e comercial da China, e da conversa por telefone deste com a líder de Taiwan, Tsai Ing-wen. Pequim considera Taiwan parte do seu território, pelo que o contacto de alto nível com Taipé sugere um apoio às aspirações independentistas do território. Em editorial, o Global Times escreveu: “Precisamos de nos preparar melhor militarmente, para garantir que aqueles que advogam a independência de Taiwan serão castigados, e tomar precauções em caso de provocação dos EUA no Mar do Sul da China”. Trump escolheu esta semana o governador do Estado de Iowa, Terry Branstad, que tem laços antigos com o Presidente da China, Xi Jinping, para embaixador norte-americano em Pequim. A escolha sugere que o magnata quer manter boas relações com o país, mas o jornal estatal China Daily permanece também pessimista quanto ao futuro das relações entre as duas maiores potências do planeta.

CHINA

SETE MORTOS EM EXPLOSÃO EM MINA DE CARVÃO

“O que aconteceu nas últimas semanas sugere que as relações entre a China e os EUA atravessam um período de incerteza nunca visto antes, contando que Trump pode não só ladrar como morder também.” GLOBAL TIMES

“A China tem de estar preparada para o pior”, escreveu em editorial, na edição de ontem. “O que aconteceu nas últimas semanas sugere que as relações entre a China e os EUA atravessam um período de incerteza nunca visto antes, contando que Trump pode não só ladrar como morder também”, afirmou.

Sete mineiros morreram e quatro continuam desaparecidos devido a uma explosão de gás ocorrida numa mina de carvão no centro da China, no mais recente acidente fatal na indústria mineira chinesa, noticiou quarta-feira a imprensa oficial. Em comunicado, o governo local afirmou que as equipas de resgate continuam as buscas entre os escombros, após a explosão registada na segunda-feira à noite, na província de Hubei. Trata-se do terceiro acidente em minas chinesas no espaço de uma semana, aumentando para 60 o número total de mortos. A China é o maior produtor de carvão do mundo. Cerca de dois terços da energia consumida no país assentam naquele combustível fóssil. Segundo dados oficiais, em 2015, o país registou 281.000 acidentes laborais, que causaram 66.182 mortos.


12 Literatura ROTA DAS LETRAS ACONTECE ENTRE 4 E 19

EVENTOS

Só lá para meados do próximo mês é que o programa completo é divulgado, mas a organização do evento decidiu já deixar algumas pistas do que vai ser a sexta edição. O Rota das Letras vem aí, com vontade de trazer mais autores internacionais a Macau -vous à Macao”. Há quatro anos, Philippe Graton decidiu ressuscitar Michel Vaillant, retomar as aventuras deste piloto de automóveis inventado pelo pai e continuar a série. Vaillant celebra 60 anos em 2017 – na presença em Macau, Graton vai falar do seu trabalho e inaugurar TIAGO ALCÂNTARA

B

RUNO Vieira do Amaral é um autor português. Clara Law é uma realizadora nascida em Macau a viver na Austrália. Philippe Graton é fotógrafo, escritor e autor de banda-desenhada, herdeiro de uma obra que colocou Macau no mundo da BD. Graeme Burnet é escocês e esteve quase a ganhar o Booker deste ano. Nas duas primeiras semanas de Março, vão passar por cá – fazem parte da lista de convidados do Rota das Letras, o festival literário de Macau. À sexta edição, o formato é para manter, explica ao HM Hélder Beja, director de programação do evento. O festival continua a ter várias dimensões: em torno da literatura, elemento principal, concentram-se outras manifestações artísticas. Vai haver cinema, artes plásticas e música. “Haverá com certeza uma aposta forte num dos segmentos que é revelado aqui nesta pequena breve apresentação do festival: a banda desenhada, os comics”, explica Hélder Beja. “Pela primeira vez, o festival vai explorar esse campo e anunciará, nos próximos tempos, mais alguns convidados nessa área.” O nome revelado por ora é Philippe Graton. O fotógrafo e escritor belga é filho de Jean Graton, criador da série de BD Michel Vaillant, da qual faz parte o icónico álbum “Rendez-

“Fizemos o festival crescer para os 15 dias e este ano não vamos sair daí. A escala será exactamente a mesma. Acho que o festival não precisa de crescer mais do que já cresceu.” HÉLDER BEJA DIRECTOR DE PROGRAMAÇÃO DO ROTA DAS LETRAS

uma exposição. Quem por lá passar vai poder ver as provas originais do álbum “Rendez-vous à Macao”, um trabalho de 1963.

O MELHOR DOS PRIMEIROS

De Portugal chega Bruno Vieira do Amaral, um autor que é, para o director de programação do Rota das Letras, aquele que tem o melhor primeiro romance de todos os escritores que se estrearam na literatura portuguesa nos últimos sete ou oito anos. “‘As Primeiras Coisas’ é um livro especial porque não é uma narrativa de grande fôlego, são curtas narrativas que, todas juntas, criam um todo. É como se fossem contos que fazem parte todos da mesma história. Passa-se na margem sul de Lisboa, de onde ele é natural. É um livro escrito de uma forma muito peculiar”, explica Hélder Beja. Sobre Bruno Vieira do Amaral, o responsável pelas escolhas do Rota das Letras diz que “é um escritor imensamente bem-humorado na melhor tradição de alguns dos nossos melhores escritores, como Eça de Queirós, que sabem olhar para a realidade e subvertê-la de uma forma muito rara, com uma linguagem muito contemporânea e com histórias dos nossos dias”. Todos os caminhos foram dar, de certa maneira, a Bruno Vieira do Amaral, um autor com as características que o Rota das Letras procurava. “Publicou este livro pela

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA A VIDA QUER É CORAGEM • Ricardo Batista Amaral “A Vida Quer é Coragem” é mais do que a biografia da presidente do Brasil, Dilma Rousseff. É também um retrato do Brasil moderno, pujante, a respirar esperança e optimismo. O livro intercala momentos da vida da presidente, como a infância, a vida universitária, a clandestinidade e a prisão; com o contexto histórico que vai da ditadura à fundação do PT, as Directas e ainda a eleição de 2010.

AS PRIME COISAS D FESTIVAL

Quetzal com Francisco José Viegas, que já foi convidado do festival, também por isso não nos é de todo estranho. Trabalha há muitos anos na revista Ler, com Francisco José Viegas”, prossegue Hélder Beja. Com o romance “As Primeiras Coisas”, o escritor de 38 anos venceu, no ano passado, o Prémio Literário José Saramago. A obra valeu-lhe também o Prémio Fernando Namora 2013 e o Prémio PEN Narrativa do mesmo ano. “Recebeu tudo o que podia receber, ao ponto de ter deixado de trabalhar numa editora para se dedicar a tempo inteiro à

escrita”, assinala o director de programação do festival de Macau. Vieira do Amaral foi ainda uma das dez novas vozes da literatura europeia pela Literature Across Frontiers. “Curiosamente, é uma instituição cuja directora também já esteve em Macau, no ano passado. Todas estas ligações faziam sentido”, afirma. “Provavelmente até pode ser que tentemos trazer mais alguém que seja seleccionado para este programa das novas vozes da literatura europeia através da Literature Across Frontiers, com quem gostaríamos de continuar a

trabalhar, já que o fizemos no ano passado para trazer um autor do País de Gales e um autor espanhol, e há a possibilidade de voltarmos a tentar fazer isso.”

DA ESCÓCIA E DO PASSADO

Ainda em relação a escritores, o Rota das Letras de 2017 vai contar com a presença do autor escocês Graeme Burnet, que chega ao festival através de uma parceria com a Universidade de Macau. Burnet foi um dos finalistas do Prémio Man Booker 2016, com o livro “His Bloody Project: Documents relating to the case of Roderick Macrae”.

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2032: A NOVA IDADE DE OURO • Diana Cooper O dia 21 de Dezembro de 2012 assinala o fim de um período astronómico de 26 000 anos e o início de uma nova era. As energias envolvidas nessa transição irão ter um enorme impacto no planeta, nos seres humanos e em áreas específicas como a economia, política e clima. Diana Cooper, reconhecida mestre espiritual, desvenda aquilo que será a evolução do mundo até 2032, um ano-chave. Nesta obra visionária, o leitor irá encontrar informação preciosa que o ajudará a compreender as mensagens das antigas profecias e a antecipar as incríveis mudanças planetárias que ocorrerão nos próximos 20 anos. Explica ainda, país a país, os principais acontecimentos da colossal transição que se prevê durar até 2032. Prepare-se para esta nova era, conhecendo as fantásticas oportunidades que estarão à sua disposição para elevar a sua consciência e abraçar um futuro de prosperidade.


13 DE MARÇO

MEIRAS DO L

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“Haverá com certeza uma aposta forte num dos segmentos que é revelado aqui nesta pequena breve apresentação do festival: a banda desenhada”, explica o director de programação A obra, que conta a história de um jovem de 17 anos que comete um triplo homicídio, foi a mais vendida de entre todas as finalistas do Booker, nota a organização. Antes, com “The Disappearance of Adèle Bedeau”, o escritor venceu o Scottish Book Trust New Writer Award em 2013. Hélder Beja adianta que, na componente literária do festival, o evento vai trazer a Macau escritores de países lusófonos e da China Continental, e cada vez mais autores internacionais. “É uma aposta clara, estamos também a trabalhar para tentar ter alguns autores do Sudeste Asiático. Tive oportunidade de ir agora à conferência em Cantão da Asia Pacific Writers & Translators, onde conheci muitos escritores também dessa região do mundo, porque

trabalham muito não só com os escritores australianos e neozelandeses, mas também com escritores do Sudeste Asiático. Haverá novidades nesse campo e também será um novo passo do festival em relação ao passado”, explica. “Depois, teremos autores de língua espanhola, de língua inglesa, de língua francesa. Estamos agora a trabalhar muito arduamente para tentar fechar o programa o mais rapidamente. É sempre complexo, mas o conceito será semelhante.” Em 2017 há ainda um regresso a Camilo Pessanha. “Provavelmente no início de Janeiro anunciaremos mais algumas novidades sobre o que pensamos fazer. Não será à escala do ano passado, porque entretanto não faria sentido, mas achamos importante voltar a assinalar e também porque houve coisas que quisemos fazer no ano passado e não pudemos, pessoas que quisemos trazer, pelo que vamos aproveitar e trazê-las agora”, conta Hélder Beja.

AS OUTRAS TELAS

Quanto ao cinema, está já anunciada a participação da cineasta Clara Law. “Não será a única atracção ao nível do cinema no festival. Estamos também a trabalhar noutras direcções e algumas delas já bastante avançadas.”

“Bruno Vieira do Amaral recebeu tudo o que podia receber, ao ponto de ter deixado de trabalhar numa editora para se dedicar a tempo inteiro à escrita”, assinala Hélder Beja “Nascida em Macau e radicada desde os anos 1990 na Austrália, Clara Law regressa ao território para mostrar algumas das suas obras. Autora de filmes como ‘Autumn Moon’, vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Cinema de Locarno em 1992; e de ‘Temptations of a Monk’ (1993), ‘Floating Life’ (1996) e ‘The Goddess of 1967’ (2000), igualmente aplaudidos e premiados no circuito internacional, Clara Law fez também uma incursão pelo documentário com ‘Letters To Ali’ (2004), história de um jovem refugiado afegão que procura asilo na Austrália”, resume a organização. Quase 50 anos depois deixar Macau, Clara Law esteve recentemente no território a filmar parte do seu novo filme, “Drifting Petals”, parcialmente passado na cidade.

EVENTOS

“Também teremos artes plásticas neste festival. Quanto aos concertos, a música continuará a fazer parte. Estamos também a tentar perceber em que moldes. No ano passado, não fizemos os concertos de grande dimensão no Venetian, mas fizemos concertos também com uma grande dimensão no Centro Cultural de Macau. Estamos agora a tentar tomar uma decisão até ao final do ano e perceber qual será a escala da presença musical no festival”, explica o director de programação.

O PÚBLICO QUE FALTA

Para Hélder Beja, o Rota das Letras deverá manter a dimensão que atingiu na última edição – “uma edição comemorativa, especial”, a dos cinco anos de existência. “Fizemos o festival crescer para os 15 dias e este ano não vamos sair daí. A escala será exactamente a mesma.Acho que o festival não precisa de crescer mais do que já cresceu”, defende. Quanto ao público que se quer chamar para o evento, o responsável assume que, “claramente, é preciso continuar a apostar muito junto das comunidades locais chinesas”, mas também diz que “não é esse o público que falta captar”. “Já conseguimos esse público, mas queremos muito mais do que aquilo que já temos. Isso passa muito por fazer mais parcerias com entidades locais, por estar mais presente nos meios de comunicação de língua chinesa, o que não é nada fácil, mas é preciso continuar esse caminho.” Hélder Beja assinala, no entanto, que há um segmento da população local que ainda tem uma participação tímida no festival: a comunidade anglófona. “Tivemos algumas pessoas no ano passado mas, para a escala que sabemos que a comunidade tem aqui, não foi relevante. Estamos a tentar perceber porquê: se é porque a informação não chega ou se é porque, de facto, é uma comunidade muito especial, porque sabemos que é muito ligada ao ramo da hotelaria, que poderá não ter, à partida, grande interesse por este tipo de actividade cultural. Mas não podemos ter esse preconceito, não queremos tê-lo e vamos fazer um esforço para tentar captar essa franja da sociedade de Macau”, vinca. O Festival Literário de Macau voltará a ter por base o edifício do Antigo Tribunal. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com


14 EVENTOS

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CAROL EBETHUEL

A BAILARINA DO FACEBOOK

Anastasia Shevtsova, dá corpo a “Polina”. A actriz russa estreou-se no grande ecrã com este filme porque a “encontraram no facebook”. Bailarina da Mariinsky Theater, foi convidada através da rede social a participar nos castings para “Polina”. Foram três selecções na Rússia e uma em França. Conseguiu o papel, aprendeu francês e movimentou-se, pela primeira vez, na dança contemporânea. Se a personagem do filme, desde pequena, sentia que a dança ia além do clássico, a actriz descobriu isso mesmo com as rodagens de “Polina”. “Foi uma óptima experiência enquanto actriz e também enquanto bailarina. Tenho formação clássica e não estava habituada à dança contemporânea”, disse em conferência de imprensa. Aprendeu ao longo das filmagens e tal como a personagem, agora prefere a dança contemporânea. “Com este filme também se abriu qualquer coisa nova dentro de mim e espero que resulte”, afirmou.

UM COREÓGRAFO NO CINEMA

Foi ontem exibido “Polina, danser sa vie” de Valerie Muller e Angelin Preljocai . O filme que marcou a abertura do festival Internacional de Cinema de Macau é também a primeira aventura cinematográfica do coreógrafo Angelin Preljocai. Para o agora realizador, “foi muito interessante realizar um filme especialmente em conjunto com Valérie Muller”. O facto de ter a vida associada à dança e agora integrar a realização cinematográfica, não é de estranhar. “Penso que fazer um filme é, tradicionalmente, um acto que inclui música e dança, podemos ver o Fred Astaire por exemplo”, ilustrou. Mas o mais importante, é a ligação óbvia que se sente entre a música e o cinema: “dança é movimento e na minha opinião o cinema também. São ambos movimento e ritmo”.

MIFFA SHEKHAR KAPUR CONSIDERA O CINEMA ASIÁTICO “DOS MELHORES DO MUNDO”

Drama e misticismo

DESEJO VERSUS DESTINO

Teve início ontem a primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. A abertura foi marcada pela conferência de imprensa com o júri da secção de competição. À comunicação social falaram essencialmente das diferenças e particularidades do cinema asiático

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cinema asiático é mais melodramático, é místico”. A ideia foi deixada ontem pelo presidente do júri do festival internacional de cinema de Macau (MIFFA, na sigla em inglês), Shekhar Kapur. “Às vezes tento explicar aos meus amigos em Hollywood que, o que eles entendem por melodrama, nós (na Ásia) chamamos de misticismo”, expli-

cou na conferência de imprensa que marcou a abertura do festival. Para o cineasta indiano, que tem desenvolvido carreira em Hollywood, a forma como a vida é encarada na Ásia também é diferente da do mundo ocidental. “Penso que aqui aceitamos a ideia que o nascer, o morrer, a traição, o ter filhos, etc, são um conjunto de temas místicos pelos quais temos de passar e acho que é a isto que o ocidente chama de melodrama”, salientou.

Se há traço unificador no cinema asiático, será esta ligação mística, e que abrange não só o cinema, mas é ainda comum à própria cultura. “Aqui temos uma grande ligação ao misticismo e não temos medo disso. Eles chamam-lhe melodrama e nós misticismo”, reiterou. Já para Giovanna Fulvi, membro do júri e que tem no currículo a programação do Festival de Cinema de Toronto, “comparado com o cinema ocidental, o cinema

ter sempre uma história completa”. Muitas vezes o filme faz mais questões do que dá respostas”, disse.

asiático tem a capacidade de contra uma história através das imagens em que os guiões não são tão importantes como são no ocidente.” A ideia é partilhada por Kapur que considera que “no ocidente as pessoas esperam que o guião seja o filme, e isso nunca deveria acontecer”. Outra questão de relevo entre as diferenças do cinema asiático e o ocidental, para o cineasta indiano, é que “na Ásia um filme não tem de

O cinema ocidental é, muitas vezes, sobre desejo e o asiático é mais acerca do destino, considerou. “Há, claro, diferenças entre a forma de contar histórias japonesa e indiana, mas ainda assim, são mais próximas entre si do que com o cinema ocidental”, explicou, referindo-se aos traços comuns entre tanta diversidade no continente asiático. Ainda em contraponto com o ocidente, nomeadamente com Hollywood, onde Kapur tem estado mais presente, o cineasta considera que “agora há uma tendência para que os filmes sejam menos melodramáticos. O objectivo é que os filmes sejam uma experiência agradável para o público”. No entanto é com esta tendência que quem quer contar histórias está a distanciar-se das grandes produções feitas com orçamentos elevados e a dirigir-se para produções com custos mais baixos e que venham a ser distribuídas pela televisão.

O cinema asiático está a caminho do ocidente e “o MIFFA já é um passo importante nesse sentido” SHEKHAR KAPUR PRESIDENTE DO JÚRI DO MIFFA “É por isso que vemos cada vez mais bons filmes nas plataformas OTT - distribuição de conteúdos de áudio e vídeo através da Internet”. O cinema asiático está a caminho do ocidente e “o MIFFA já é um passo importante nesse sentido” salientou Kapur. A primeira edição do MIFFA começou ontem e acaba no próximo dia 13. Fazem parte do júri da secção de competição Shekhar Kapur, Giovanna Fulvi, Stanley Kwan, Jung Woo Sung e Makiko Watanabe. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


15 hoje macau sexta-feira 9.12.2016

GRANDE PRÉMIO INTERNACIONAL DE KART DE MACAU CORRE-SE ESTE FIM-DE-SEMANA

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N T E M , no Kartódromo de Coloane, já se ouviram os rugidos dos motores de mais uma edição do Grande Prémio Internacional de Kart de Macau, evento que tem como cabeça de cartaz o Campeonato CIK FIA Ásia-Pacífico KZ e que também acolhe uma série de outras competições asiáticas. A prova tutelada pela Comissão Internacional de Kart da Federação Internacional de Automobilismo (CIK-FIA) e a mais importante do sudeste asiático contará este ano com vinte e oito participantes, de catorze diferentes países ou territórios, mais seis que o ano passado. A edição de 2015, ganha pelo italiano Lorenzo Camplese (Parolin/TM Racing – Chassis/Motor), ficou ligeiramente aquém no que respeita à qualidade do leque e número de pilotos internacionais à partida. Na tentativa de atrair mais e melhores participantes, Macau voltou a colocar à disposição dos concorrentes estrangeiros um pacote de incentivos, incluindo um cheque de 3,000 dólares norte-americano a cada participante internacional. Segundo a entidade que rege esta modalidade do automobilismo a nível mundial, a aposta terá, em certa medida, resultado: “A Associação Geral de Automóvel de Macau-China (AAMC) fez o seu melhor para cobrir uma parte significativa dos custos, particularmente no que respeita à acomodação. Esta iniciativa atraiu seis pilotos europeus e cinco australianos,

AAMC

Há Karting em Coloane

Os pilotos de Macau não desiludiram e é expectável que venham a subir posições durante o desenrolar do fim-de-semana contra três pilotos de Macau e cinco de Hong Kong. O nível da competição é esperado ser mais alto que em 2015”, diz o comunicado emitido pela CIK-FIA. A maior novidade em termos desportivos da prova rainha do programa é a possibilidade dos pilotos escolherem os seus

pneus, isto de um leque colocado à disposição pela CIK FIA. Esta medida poderá apimentar a competição, dada a importância da escolha de pneus a este nível.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Quinta-feira, como é habitual, foi dia de testes com os pilotos e

DESPORTO

De Portugal ao Japão Vitória de Setúbal participa no Torneio de Veteranos

equipas a experimentarem novas afinações e a terem um primeiro contacto com um asfalto que irá comportar-se de forma diferente com o decorrer do evento. O mais rápido na última sessão do dia foi o australiano Joshua Fife (Ricciardo Kart / Parilla) que bateu por duas décimas o favorito Francesco Celenta (Formula K / TM Racing), que o ano passado foi o segundo classificado aqui na RAEM. O português de 16 anos Yohan Azedo Sousa (CRG / TM Racing), que se estreia em Macau e ao mesmo tempo na categoria KZ, onde se inserem os karts mais rápidos e equipados com caixa de velocidades, foi o nono mais rápido. Os pilotos de Macau não desiludiram e é expectável que venham a subir posições durante o desenrolar do fim-de-semana. Andy Chang Wing Chung (CRG / TM Racing), que este fim-de-semana troca os monolugares pelos karts, foi o 15º, uma posição à frente de Charles Leong Hon Chio (Tony Kart / Vortex), o promissor piloto de 15 anos que ainda recupera de uma lesão num braço. O veterano João Afonso (Parolin / TM Racing) ficou com a 23ª marca. Numa organização da Associação Geral de Automóvel de Macau-China, com o apoio do Instituto do Desporto e da Direcção dos Serviços de Turismo, as corridas têm entrada gratuita para os quatro dias. A Pré-Final está marcada para às 10h15 de domingo, enquanto a Final tem a partida marcada para as 15h15. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo

A

edição deste ano do Torneio da Soberania, organizado pela Associação dos Veteranos de Macau, conta com a participação da equipa portuguesa de futebol Vitória de Setúbal, a qual vem a Macau, neste âmbito, pela primeira vez. O torneio, que arranca na próxima sexta-feira, irá ainda contar com a presença de uma equipa japonesa. “Temos duas novidades: pela primeira vez vem a equipa do Vitória de Setúbal, e a segunda novidade, a maior, que vem, também pela primeira vez, uma equipa japonesa. Ao longo dos anos nunca decidimos trazer uma equipa do Japão. Este ano o torneio vai ser um pouco mais rico”, contou Francisco Manhão, presidente da associação, ao HM. O presidente espera uma maior adesão por parte das pessoas para um torneio que visa marcar a transferência de soberania do território. “O nosso torneio foi muito divulgado pelas próprias equipas portugueses que participaram nos torneios anteriores. Conhecem tudo e têm mostrado interesse em participar. As equipas japonesas são bastante organizadas e disciplinadas e nesta zona geográfica o futebol japonês tem um nível acima da média. Espero que venha esta equipa para destronar a Coreia do Sul, que tem sido a campeã das últimas edições”, acrescentou ainda. O responsável pela Associação dos Veteranos lamenta que o torneio não tenha uma maior dimensão, dada a total dependência de apoios financeiros. “Claro que não podemos convidar toda a gente. Temos limitações em relação ao número de equipas participantes, e no máximo só podem participar oito equipas. Não podemos ir além disso porque somos uma associação sem fins lucrativos e estamos sempre dependentes dos subsídios do Instituto do Desporto e da Fundação Macau.” Todos os jogos irão decorrer no campo de futebol do Canídromo, na península de Macau. A.S.S.

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DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS Aviso Venho por este meio informar a V. Exa. que a Direcção dos Serviços de Finanças irá realizar um seminário de esclarecimento sobre o projecto de lei da “Troca de informações em matéria fiscal”. Gostaríamos de o convidar a inscrever-se e a estar presente. No seminário, darse-ão a conhecer o enquadramento, o objectivo e as questões-chaves da consulta, esperando-se recolher comentários e sugestões de todos os sectores que possam auxiliar no aperfeiçoamento da elaboração da lei sobre “Troca de informações em matéria fiscal”. Designação: Seminário de esclarecimento sobre a elaboração de diplomas legais da “Troca de informações em matéria fiscal” Data: 14 de Dezembro de 2016 (Quarta-feira) Horário: 15:00-17:30 Local: Na sala do auditório, cave do edifício da Direcção dos Serviços de Finanças Destinatários: Associação bancária, Associação de seguros, representantes de respectivo Associação e outros interessados Língua: Cantonês, com tradução simultânea para Português Inscrição (Tel): 8599 0185 ou 8599 0826 (por ordem cronológica) Prazo limite: 13 de Dezembro de 2016 Em conformidade com a política de protecção ambiental, os documentos de consulta sobre o projecto de lei da “Troca de informações em matéria fiscal” encontram-se já disponíveis no sítio da internet da Direcção dos Serviços de Finanças (www.dsf.gov.mo). Desde já se informa que os mencionados documentos não serão facultados em suporte de papel no seminário. Obrigado pela atenção! Aos 2 de Dezembro de 2016. O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong

Aviso Tendo terminado a fase de classificação da lista definitiva das 658 candidaturas admitidas ao Concurso Público – Atribuição de Moradias da RAEM aos Funcionários dos Quadros Locais de Nomeação Definitiva dos Serviços e Organismos Públicos, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 39, Série II, datado de 28 de Setembro de 2016, avisamse os candidatos que, a lista de classificação final já obteve homologação de Sua Exa.ª o Chefe do Executivo, nos termos da alínea c) do n.º 2 do artigo 12º e do artigo 16º do Decreto-Lei n.º 31/96/M, e encontra-se afixada na sobreloja da Direcção dos Serviços de Finanças, Av. da Praia Grande n.ºs 575-579 e 585, Edifício Finanças, no Centro de Serviços da RAEM, Rua Nova da Areia Preta, n.º 52, Macau, no Centro de Atendimento da Taipa, Rua de Bragança, n.º 500, R/C, Taipa, e também no website da Direcção dos Serviços de Finanças (http://www.dsf.gov.mo/asset/asset_houseallocate.aspx), dado o número de candidatos ter ultrapassado os duzentos. Mais, informamos que, nos termos n.º 2 do artigo 16º e artigo 13º, ambos do Decreto-Lei n.º31/96/M, de 17 de Junho, os candidatos podem recorrer para o Chefe do Executivo no prazo de 10 dias a contar da data de publicação da lista classificação final. A Direcção dos Serviços de Finanças, em 01/12/2016 A Presidente do Júri do Concurso, Ho Silvestre In Mui


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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de o respirar solto, afinal, como bicho manso a escoicear de alegria. Infantil, afinal. Como guizos límpidos e sem intenção. Ecos de uma montanha para outra. Em que recesso da memória se transcendeu para sempre o andar. Como se já não houvesse que haver fim. Mas só caminho. Só caminho. E a lenta lentidão das pedras a avançar de lá para cá. Serenas e brancas. Lavadas de chuva. Fascina-me o desenho curvilíneo e sobreposto de viadutos sobre viadutos. Braços múltiplos de um ser estranho percorrido de uma circulação ruidosa. Como em vias de agitar todos aqueles tentáculos. Sempre como se à beira desse movimento. Mas tudo isso visto de longe, de cima, numa imagem captada do alto, sem realidade próxima. E só. Gosto de pontes. Das outras. Coisas de imagem frágil que se aventuram em voo entre margens. Lançadas calmamente num movimento único sobre águas serenas e imparáveis. Às vezes entranhadas de um movimento quase imperceptível. E os carros. Sobre as pontes. A fluir sobre o que já é eternamente fluido nos dois sentidos. Pontes. Como uma asa delicada e solícita poisada no ar, e congelada em todo esse momento. Qualquer momento. E no entanto, serenamente prestáveis ao poder das metáforas. Na arte da engenharia como na arte da guerra. Lançadas. Explodidas. Depois. Entro na vida pela mão que tem que ser – a pensar que me apetecia hoje viver fora de mão, mas pelo meio de um campo qualquer - e abro uma escrita lenta e mal acordada a ver que palavras se desprendem desta preguiça de ter que escolher. Entre tantas ainda em pijama e sem vontade de competir por uma verdade qualquer. Olho pela janela que diz que vai ser de sol. Para lá de uma luz ainda pálida a escorregar na parede em frente. Ainda muito cedo para a agilidade de cair a pique. Tímida, ou também ainda na lentidão do sono deixado sem vontade. A pensar porque será ser uma palavra tão curtinha e trabalho aquela em que se tem que saltar três amplas

sílabas. Um destino que nem todos os animais têm. Porque uns, ocupam a vida em tarefas cíclicas e sem fim que não daquela. E outros, não. E em nós que tanto ocupa já de si o pensamento, acresce ainda essa espécie de natuANABELA CANAS

U

MA pessoa viaja. Viaja-se ao fim do mundo e de si dia após dia. Um desfiar de ritmos registados no relógio meticulosamente e sem parar. Sem encontrar fim. Viaja-se. Eu viajo. Dia colado a outro dia sem distinção que não a da luz. Uma alternância, no fundo, artificial a uma continuidade de busca. Um número abstrato no calendário dos dias. Uma página morta da agenda. Viajo. Viaja-se no passado. No futuro. No imediatamente agora, no ainda há pouco, e no já mesmo a seguir. Em tempos, em espaços, nomes e rostos. Em projectos e sonhos. Sem parar. À procura talvez de um sinal. Mas chega-se ao fim do dia, e a resposta, a única resposta possível e válida está ali. No espelho da casa de banho, com azulejos brancos e sem padrão, meio escondida nessa espécie de sorriso forçado pela escova e enevoado pela pasta de dentes. Hoje está uma lua nítida, recortada e fresca, quase uma espécie de sorriso no céu limpo de nuvens. Deitada de costas. Como se com uma placidez lunar, diria, se não fosse a lua ela própria. E sorridente, como disse. Ontem não vi. Anteontem nem me lembrei. A semana passada, já não sei, e a próxima também não. Há dias de noites assim, em que tudo é recortado no assombro liso do céu como se nada duvidasse. Estranho. Se bem que as coisas não contêm em si a dúvida. A dúvida é da matéria orgânica em agitação mental. Onde se esconde este redesenho que subjaz a todo o viaduto dos dias por sobre os dias, como vidas por sobre outras vidas, ou ideias de uma coisa e outra, e volta com a ironia de dizer estava ali sempre. Mas era o refazer do desenho original. O que é modelo ancorado por detrás de um olhar que afere escolhas e fere de materialidade depois aquilo que não era palpável. E um desenho não é. Também não é. Mas a dizer que estava ali sempre. Como essa lua reclinada, plácida, e de rosto limpo e luminoso. Ou em que luminosa foice cortante se desata o escuro de um torno de outras marés. Em que agonia imprecisa se despren-

Objecto reza de empréstimo, que traz ocupações delirantemente enfileiradas, dia após noite e assim sucessivamente, coisas estranhas que se alimentam a si próprias. Balcões de finanças, caixas de correio, papéis. Sacos de lixo em


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de tudo e de nada

Anabela Canas

de si testemunho de uma complexidade de que sobra tanto desperdício. Abro todos os dias oitenta vezes o contentor antiquado onde se empilham os cúmulos dos restos. E dos restos dos restos, e fico a espreitar, de olhar fixo, perple-

xa. Penso então que tanto se explica aí. E andar de transportes públicos. Aqueles mais impessoais que são comboios. Por sítios abstratos e subterrâneos como passagens num tempo fora de órbita. Como o tempo do xadrez

em Duchamp. E pensar que não me apetece tropeçar em palavras mas e no entanto e talvez. E depois. O problema do ruído. Por todo o lado pode até tudo estar calado e nunca está. O problema do estrondo, é que fere os tímpanos de uma dor que impede de ouvir o sussurro que sobra. A reverberar como uma membrana num orgasmo subtil. A mim, que raiva, tudo me enternece. Tudo me embevece. Tudo me causa impressão. Chego a casa impressa de sinais que nem todas as águas diluem numa frescura de bem- estar. Tudo me enternece no universo, quando olho para fora de mim. Tudo me embevece, tudo me intriga, tudo me aborrece. À vez. O mar. Grande e lindo porque me transcende e me transporta. Me remete para a escala ínfima que sou e tudo de caminho, implodido nesse instante de verdade entre escalas e sofrimentos. Mas, por me transcender parece reportar-se a mim como referência que não sou, excepto para mim. E na essência do transcendente está, o ultrapassar desse centralismo incontornável. Mas, transcendendo ou ultrapassando, ou sendo maior, ou submergindo, não encontro as palavras que de um modo diferente se abstraiam de um ser a partir do qual tudo se mede. Mesmo na transição para o absolutamente maior. O inalcançável. Será que ninguém se deteve por segundos que fosse a inventar nas palavras a ausência de si, do ser como aparente medida de tudo e de nada, mesmo do nada a que o remeta a transcendência de si por outrem… Tudo me causa algo de alguma sensação de algum sentimento de alguma prostração. E às vezes eu queria simplesmente alguma indiferença algum descanso e alguma superficialidade confortável de ser de sentir e de ver. Mas tudo me faz qualquer coisa de dizível e pior, algumas vezes, alguma coisa de indizível. Mau estar. Ou bem. Tão bem, tantas vezes, que é encantamento sedimentado e enraizado em algo de mim que também é o resto. E depois o dizer. Os dilemas do dizer. Desperto em todos os segun-

dos nessa tremenda batalha de luzes e confetis. Todas as coisas se baralham na ânsia de encontrar caminhos de estrelas, mas se arrastam por vezes bem rente ao solo e bem amesquinhadas da dúvida. De que matéria se faz o estigma da liberdade. De que crueldade respirada e oferecida com formas de flores, às vezes, inadvertidas flores nas formas, dores de golpe seco por detrás de uma pétala, só como se fosse. E não é. Não era, ou é como se não fosse. De que rendas se tece esse paradigma de liberdade de que nunca encontramos o ponto final, nunca um parágrafo deixa por estender mais umas linhas de perplexidade - dúvida com método. Cadeias a inibir um sistema linfático de tentativa e erro na delimitação alheia da liberdade própria. Querida e sonhada. Como uma pintura em projecto. Nítida e pertinente. Cores definidas e composição. E depois, a desmultiplicação das vertentes de um caminho montanhoso de que às vezes sobra uma luz, uma intenção imprecisa e nada mais do que a decisão do passo seguinte. Em memória, um fantasma que se dilui na coragem do olhar. Um pouco isso. Mas tudo me ajoelha a alma, de uma constatação de ser outro e que não parte, e em nenhum outro momento que não de ser assim. Objecto de uma natureza que se rebela à concepção de objecto de si, se não for a mera circunstância de ser olhar. Alvo. De. Passiva pessoa numa definição, por proximidade com outro, olhar de outro. Ou mesmo outro olhar. Simples olhar roubo de alteridade pura. Mesmo essa, remetente ao ser aquém. Farta de mim como ser. Farta de ser sujeito. Compreendome na contemplação do objecto. Fora de mim. E depois. A falar comigo, assim, diz-me em que matéria se rende a minha solidão quando há. Diz-me em que presas se prende o pequeno golpe de asa quando há. Em que vastidão afogar o olhar mentiroso. Em que grãos subjugar a pele. Castigar tudo o que a não ser. Diz-me, digo. Vamos beber mais vinho. O que ontem não foi nada em depois.


18

h

José Simões Morais

Cinema documental sobre Macau dos anos 20 N

UMA semana em que Macau está virada para o cinema, perguntamos a quem nos souber responder, onde se poderão ver os documentários de propaganda sobre Macau, realizados pela Empresa Cinematográfica Macaense, criada por Lucrécia Maria Borges em 1924? Sim, os que foram no último dia da Feira e Exposição Industrial, a 12 de Dezembro de 1926, exibidos numa sessão dedicada ao Governador Tamagnini Barbosa e ao Almirante Hugo de Lacerda. O Almirante Hugo de Lacerda Castel Branco foi Governador interino de Macau de 29 de Julho de 1926 até à chegada do titular Artur Tamagnini de Sousa Barbosa, o que ocorreu a 8 Dezembro e por isso, a Exposição foi prolongada até à meia-noite de Domingo dia 12. O novo Governador, chegando de Hong Kong, desembarcou com a esposa e os cinco filhos no cais provisório do novo porto exterior, sendo recebido pelas autoridades civis, militares e eclesiásticas da cidade. Para lhes dar tempo a irem para a praça do Leal Senado, Tamagnini foi dar uma volta pelas obras do novo porto. Assim, quando o carro parou em frente ao edifício do Município ali encontrou a mesma guarda de honra que o recebera à saída do barco. Subindo para o salão nobre e perante a vereação da Câmara tomou posse do Governo de Macau, “pela simbólica entrega da chave de ouro por parte do Presidente da Câmara” Damião Rodrigues. Depois, seguiu para o Palácio do Governo. À noite foi visitar a Exposição, sendo recebido pela Comissão que dera corpo àquele projecto, ficando bem impressionado. No campo da exposição havia um serviço permanente de bufete servido pelo Grand Restaurant e nesse local tocaram várias bandas, entre elas de jazz.

CINEMA NA FEIRA

É preciso lembrar ter sido o cinema inventado nos finais do século XIX e em 1895, os irmãos Lumière foram os primeiros a projectar um filme documental num café em Paris. Na Exposição Industrial de 1926, como a Comissão não poderia dar atenção a tantos trabalhos, entregou a exploração do Cinematógrafo da Feira

à Empresa Cinematográfica Macaense de Mário Borges & C.º. Desde 1924 Lucrécia Maria Borges tinha “o exclusivo dessa exploração no território da Colónia pelo prazo de dez anos” e ficou encarregue de realizar documentários sobre Macau, “onde serão apanhados todos os assuntos mais notáveis da vida da colónia”. No entanto, Beatriz Basto da Silva refere existir em 1922 o Cinematógrafo Macau, onde foi exibida “uma fita sobre Macau, destinada à Exposição do Rio de Janeiro” (...) “inteiramente feita por um amador, Sr. Antunes Amor.” Já na quarta reunião da Comissão, a 24 de Abril de 1926, o Presidente disse que ia oficiar para Portugal a pedir várias fitas cinematográficas panorâmicas a fim de também se fazer propaganda ao nosso país, pois este apenas era conhecido pelo Vinho do Porto vindo de Portugal e do Ópio, em Macau. A 4 de Dezembro de 1926 A Pátria refere que, no salão cinema da Exposição vão ser exibidas umas fitas produzidas em Macau pela Empresa Cinematográfica Macaense (ECM) e outras de Portugal. No dia 11 de Dezembro foi projectada a fita Os Fidalgos da Casa Mourisca, tirado do romance de Júlio Dinis, que pela segunda vez passou em Macau, sendo a sessão dedicada ao Exército de Terra e Mar. O preço de 60 avos incluía a entrada no recinto da Feira, encontrando-se os bilhetes à venda na Papelaria Progresso e Po-Man-Lau, na Livraria Portugália e na bilheteira do Teatro. Dedicada ao Governador Artur Tamagnini Barbosa e ao Almirante Hugo de Lacerda houve no dia 12, pelas 21:30, uma sessão de cinema com filmes produ-

zidos pela ECM, assim referido no anúncio que A Pátria publicou. Entre estes filmes de propaganda, o primeiro a ser apresentado foi “O Vôo Audaz das Águias Portuguesas”, que mostrava a chegada a Macau dos aviadores, Major Brito Pais, Capitão-tenente Sarmento Beires e o mecânico Alferes Manuel Gouveia. Tendo partido de Vila Nova de Milfontes com dois aviões no dia 7 de Abril de 1924, tinham programado chegar a Cantão, para poder evolucionar sobre Macau, visto esta cidade não ter campo de aterragem. Na Índia perderam um avião e a 45 milhas de Macau, às 15 horas do dia 20 de Junho, caiu o avião onde viajavam, sendo recolhidos pela canhoneira Pátria que os trouxe para Macau, onde foram recebidos em grande festa pela população a 25 de Junho de 1924. É sobre a recepção do desembarque à chegada a Macau que trata o documentário. O segundo filme era sobre “Os Funerais de um Capitalista”. Já o terceiro,

Seria interessante ter disponíveis estes documentários sobre Macau de há 90 anos, assim como todos os filmes realizados anteriormente e os que depois se fizeram, para criar a cinemateca da RAEM

“Comemoração do Quarto Centenário de Vasco da Gama”, levanta-nos algumas questões. Seria sobre a abertura da Avenida Vasco da Gama, para comemorar o IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia? Tal parece impossível pois esta ocorreu em 1898 e encontrando-se o cinema nos primórdios, seria possível haver já em Macau câmaras de filmar? Ao ler sobre o que retratava o documentário, aparecem duas hipóteses mais plausíveis. Ou era da inauguração em 31 de Janeiro de 1911 do busto de Vasco da Gama do escultor Tomás da Costa, hipótese menos provável, ou sobre o Quar to Centenário da morte de Vasco da Gama, que ocorrera em 1524 e assim já poderia ser uma produção da ECM. É uma reportagem cinematográfica onde consta o desfile do cortejo cívico na Praia Grande, na Avenida de Vasco da Gama, junto da estátua do insigne navegador, com homenagens da Colónia, das comunidades holandesa e chinesa e dos portugueses de Hong Kong, no Leal Senado, uma missa campal e vários aspectos da iluminação na cidade e no porto. O quarto filme tratava sobre “O Casamento de Mr. & Mrs. Francis Young Po Nam” e o quinto, uma produção muito recente, “O Voo Madrid-Manila” filmado em Maio de 1926, aquando da passagem por Macau dos Ases Espanhóis Capitão Gallarza e Loriga. “O Concílio Episcopal em Xangai” foi o sexto filme exibido. Por último, o documentário de propaganda sobre “As Obras do Porto de Macau”. Uma reportagem completa da cerimónia da dragagem do último metro cúbico de lodo do canal de acesso do novo Porto da Rada, ocorrida a 26 de Agosto de 1926 no Porto Exterior. A Empresa Cinematográfica Macaense resolveu filmar os pavilhões, barracas e vários aspectos da Feira da Exposição Industrial de Macau e convidou o público a aparecer no recinto no dia 11 de Dezembro pelas 15 horas, “para que o filme possa ficar o mais movimentado possível”. Faltava um dia para esta fechar. Seria interessante ter disponíveis estes documentários sobre Macau de há 90 anos, assim como todos os filmes realizados anteriormente e os que depois se fizeram, para criar a cinemateca da RAEM.


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em modo de perguntar

És actor, encenador, realizador, trabalhas no teatro, no cinema e na TV, e és também escritor. Editaste recentemente uma peça de teatro, O Nosso Desporto Preferido Presente, que faz parte de uma tetralogia, e no ano passado editaste Albertine (livro pelo qual viajamos na terça-feira passada, na Máquina Lírica). Quando estudavas teatro já escrevias, pretendias fazê-lo, ou foi algo que aconteceu mais recentemente? Foi algo que aconteceu mais recentemente. Na verdade, eu e a actriz Carla Maciel, com quem eu sou casado, pedimos a um escritor para adaptar um volume - ou uma “parte”, quanto muito -, da obra Em Busca do Tempo Perdido do Marcel Proust para teatro. O escritor disse-me que não lhe interessava a proposta e que, o melhor, seria eu, Gonçalo, escrever a peça. Foi assim que me apareceu a obra Albertine, O Continente Celeste.

Gonçalo Waddington

“O cinema e o teatro estão com uma pujança incrível”

Para além do teatro, quais as tuas leituras mais frequentes, para além obviamente do Proust? Sebald, Holderlin, Hofmannsthal, Lucrécio, Pynchon, Rui Nunes, Trakl, Ingeborg Bachmann, Michaux, João Miguel Fernandes Jorge, António José Forte, Herberto... entre muitos outros e outras.

“Há filmes (curtas e longas) a estrear em todos os grandes festivais mundiais.” Como vês este nosso tempo em relação ao cinema e ao teatro em Portugal? O cinema e o teatro estão com uma pujança incrível. Há filmes (curtas e longas) a estrear em todos os grandes festivais mundiais, veja-se o exemplo da curta-metragem PEDRO, da dupla André Santos e Marco Leão, que irá estrear no mítico festival Sundance Film Festival. É a primeira curta- metragem portuguesa neste festival. No teatro temos o caso do Tiago Rodrigues, a Praga, a Mala Voadora, o Miguelinho Loureiro, a Companhia Maior, os Possessos, os SillySeason, o Tonan Quito... tantos e tantas que têm projectos incríveis. Quais os próximos projectos em que estás a trabalhar, de momento? Agora estou a escrever uma nova versão do guião da minha primeira longa-metragem PATRICK, que será rodada no primeiro semestre de 2018. Depois

irei para a segunda parte da tetralogia d’O Nosso Desporto Preferido - Futuro Distante. Explica-nos melhor esse teu projecto da tetralogia, por favor. O Nosso Desporto Preferido é uma tetralogia em que proponho uma reflexão sobre a nossa evolução como espécie

“Futuro Longínquo, é uma pequena amostra do que serão, daqui a cem mil anos, os Homo Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens.”

Paulo José Miranda

“No teatro temos o caso do Tiago Rodrigues, a Praga, a Mala Voadora, o Miguelinho Loureiro, a Companhia Maior, os Possessos, os SillySeason, o Tonan Quito... tantos e tantas que têm projectos incríveis.” universal. A primeira parte da obra, com o sub-título Presente, é composta por cinco personagens, encabeçada por um cientista misantropo que sonha com a criação de uma espécie humana livre das necessidades básicas como a alimentação, digestão e, talvez a característica mais importante para a peça, a reprodução — tornando-se assim uma espécie exclusivamente dedicada ao hedonismo e à abstracção, seguindo, de acordo com a sua visão, o caminho da evolução natural da nossa civilização tipo 0 para tipo 1, em que seremos finalmente uma sociedade global, multicultural, multiétnica e científica. A segunda parte: Futuro Longínquo, é uma pequena amostra do que serão, daqui a cem mil anos, os Homo Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens – ou, recorrendo a um neologismo Houllebecquiano, os Neo-Humanos – de uma Civilização Tipo 3, de acordo com a escala Kardashev, o astrofísico russo que se propôs medir a evolução tecnológica de uma civilização, particularmente no que concerne à produção e consumo de energia. Este grupo será composto por quatro a cinco actores de diferentes nacionalidades. Estes supra-seres dedicam-se apenas a esperar pela morte: consumidos pelo tédio, uma vez que os seus corpos têm uma durabilidade cem vezes maior da que a dos seus antepassados – nós –, tentando compreender a razão de tal desvio evolutivo que levou à espécie humana a que agora pertencem. O seu único desejo é comunicar o seu desagrado pela sua presente condição, tentando, em vão, emitir uma qualquer mensagem que atravesse o Espaço-Tempo e alerte o grupo de cientistas da primeira parte – Agora –, seus criadores, para a tragédia que eles, sem o saberem, irão – no passado – 3 desencadear com as suas experiências. Enquanto não desaparecem, dedicam-se à compreensão da Filosofia, da Arte, da Religião e das Ciências humanas, sociais e políticas, uma vez que eles, seres racionais e científicos, são incapazes de tais abstracções. Conversam e jogam Badminton.


20 (F)UTILIDADES TEMPO

POUCO

hoje macau sexta-feira 9.12.2016

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8.32

BAHT

Amanhã

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE MACAU CINEMA | SOUND AND IMAGE CHALLENGE INTERNATIONAL FESTIVAL Teatro D. Pedro V

Sexta-feira

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE MACAU

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “ALMA” DE OMAR CAMILO Casa Garden EXPOSIÇÃO “UM AMANHÃ MELHOR” Edifício do Antigo Tribunal (Até hoje) EXPOSIÇÃO CONJUNTA DE PINTURA DE WANG LAN E GU YUE Fundação Rui Cunha (Até 8/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” Museu de Arte de Macau (Até 8/12)

C I N E M A

PROBLEMA 137

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 136

UM FILME HOJE

SUDOKU

DE

Diariamente

Cineteatro

1.12

UNHAS AFIADAS

CINEMA | SOUND AND IMAGE CHALLENGE INTERNATIONAL FESTIVAL Teatro D. Pedro V

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

YUAN

AQUI HÁ GATO

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “O TEMPO CORRE! DE LAI SIO KIT Casa Garden 18h30

CINEMA | SOUND AND IMAGE CHALLENGE INTERNATIONAL FESTIVAL Teatro D. Pedro V

0.21

Ontem levaram-me ao médico e não percebi nada do que me estava a acontecer. Queriam enfiar-me à força dentro de uma caixa para levar uma vacina e eu não sabia como nem porquê. Lá fui, contrariado, mas pelo caminho pensei: ao menos sabem cuidar de mim! Fui ao médico, levei a pica, não tugi nem mugi e voltei ao mesmo lugar de sempre. Agora pensem aqueles animais que não têm a mesma sorte! Cujos humanos os põem dentro de caixas para servir de refeição a alguém, ou simplesmente para serem maltratados de forma gratuita! Há dias li que, em Portugal, andam a envenenar aves raras só porque sim, por pura crueldade. Há ainda gente muito boa que adora animais e que os trata como se fossem da família, e é a essas pessoas que temos de agradecer. A crueldade contra os animais mostra aquilo que as pessoas no fundo são – às vezes são uns chamados amores de pessoas para com colegas e familiares, mas depois viram pequenos assassinos contra quem é indefeso. Bem tentei sair do caixote com as minhas unhas afiadas, mas depois deixei-me ir: afinal sou um gato bastante sortudo! Pu Yi

JANELA INDISCRETA | ALFRED HITCHCOCK | 1954

É sempre bom regressar aos clássicos, que mostram uma outra forma de fazer cinema, quiçá mais genuína, ainda mais se for com Hitchcock. Em “Janela Indiscreta”, Hitchock conseguiu criar uma trama com suspense e mistério apenas nas traseiras de um prédio: a imaginação de um dos moradores, fotógrafo, que crê ter descoberto um homicídio da sua janela, vai compondo a história. Grace Kelly, a actriz que foi princesa do Mónaco, é a namorada com um amor não correspondido, mas que acaba por ser fundamental para o desenlace. Andreia Sofia Silva

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM SALA 1

SALA 2

FALADO EM COREANO, LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Kwon Soo-kyung Com: Cho Jung-seok, Doh Kyung-soo, Park Shin-hye 14.30, 16.30, 21.30

Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller 14.15, 16.45, 19.15, 21.45

MY ANNOYING BROTHER [B]

YOUR NAME [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 19.30

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B]

SALA 3

THE YOUNG MESSIAH [B] Filme de: Cyrus Nowrasteh Com: Adam Greaves-Neal, Sara Lazzaro, Vincent Walsh 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


21 hoje macau sexta-feira 9.12.2016

contramão

ISABEL CASTRO

Pernas curtas ROBERTO BENIGNI, PINOCCHIO

isabelcorrreiadecastro@gmail.com

N

ÃO é a primeira vez que escrevo sobre o assunto, mas aqui vai, de novo: prefiro a realidade, mesmo sabendo que, muitas vezes, cheira mal e de imediato faz pior, do que a suave mentira, feita de delicadas penas mas com pernas demasiado curtas para chegar, sequer, às Portas do Cerco. A realidade é chata, incomoda, mas é ela que nos dá chão; a mentira, agradável ao toque, é sinónimo de queda, de doloroso trambolhão. A culpa é das pernas curtas. Num mundo ideal, não nos andávamos aí a enganar uns aos outros. Dizíamos as coisas e pronto: porque seria esse o ponto de partida da nossa educação, ninguém ficaria particularmente chocado com a verdade. Mas crescemos todos com aquela mania de que temos de ser jeitosinhos, mansinhos, queridinhos.Amenina não diga isso, a menina não faça aquilo. A menina esteja aí quietinha nesse cantinho, não chateie, não fale, não respire. Esta coisa da estúpida verdade e da amorosa mentira não é, sequer, uma questão cultural. Há coisas em que somos todos inacreditavelmente parecidos. É um problema mais ou menos universal que encontra tradução plena na política: aquele momento em que nós, gente, nos vemos com todo o poder para mentir. Raimundo do Rosário voltou a Macau e não embarcou na retórica do costume:

começou por explicar que não é político, apesar de ter assumido um cargo político. Avisou que fica por um mandato, que é mais ou menos a mesma coisa que dizer que não está para isto e que não está interessado em mais. Ao longo destes dois anos de mandato, tem dito várias vezes que não faz milagres, que há problemas, que não se resolvem os pecados por actos e omissões do passado de um dia para o outro, e que lhe falta gente para trabalhar. O secretário para os Transportes e Obras Públicas não é homem de figuras de estilo: diz e está dito. Esta semana explicou, na Assembleia Legislativa, que não é Deus. A afirmação isolada do contexto seria, no mínimo, estranha. Sucede que os seus interlocutores são estranhos. Ao contrário de Raimundo do Rosário, gostam de metáforas e de dizeres populares na retórica política. Mesmo os mais agrestes são macios, levezinhos, preferem a piedosa mentira à verdade que faz cócegas. Como não sabem lidar com o discurso directo, como não encaixam as respostas de quem não lhes promete um vamos-ver, vamos-fazer-um-estudo, vamos-analisar-a-sua-sugestão-senhor-deputado, tolhem-se. Mas o recolhimento não é silencioso nem reflexivo: é altamente dotado de imaginação.

Esta coisa da estúpida verdade e da amorosa mentira não é, sequer, uma questão cultural. Há coisas em que somos todos inacreditavelmente parecidos

O metro, essa ficção científica que Raimundo do Rosário herdou: depois da sugestão da substituição do sistema de metro ligeiro na península por um monocarril, todas as ideias são possíveis. Com um jeitinho e não muita imaginação, alguém irá propor carruagens decoradas com a Hello Kitty e um percurso especial até ao Canídromo, com um espectáculo assegurado por animais amestrados a bordo. Todas as sugestões são possíveis e toda a gente quer inventar alternativas, soluções mágicas para uma questão que só o tempo pode resolver. O metro, esse ovo de Colombo à la Macau: vivi no Porto na altura em que estava a ser feito o metro da cidade. O Porto é uma cidade muito muito antiga, muito muito acidentada, com ruas estreitas e outras menos estreitas, com pessoas que concordam com certas coisas e com pessoas que concordam com outras e com pessoas que não concordam com coisa alguma. O Porto decidiu fazer um metro, as obras não foram fáceis, eu passava horas dentro de um carro para fazer um percurso que, antes do início do projecto, me dava dez minutos ao volante. Saí do Porto farta de obras de um metro em que não cheguei a andar enquanto lá vivi e, poucos meses depois, estava a ouvir um governante a falar do metro que queria fazer em Macau. Catorze anos depois e ainda sem metro, há quem ache que pode inventar uma linha melhor, fazer um metro mais giro, descobrir a solução para todos os problemas. São os políticos das almofadas, que nos querem felizes e a andar ternamente ao engano. Depois, há um secretário que diz que não sabe, não promete e não é Deus. Para que não haja ilusões. A realidade é desagradável mas as mentiras, essas, são mesmo chatas e cheiram muito, mas muito pior.

OPINIÃO


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 9.12.2016

um grito no deserto

PAUL CHAN WAI CHI

As consequências do motim 1-2-3

O FRANK LLOYD, MUTINY ON THE BOUNTY

debate em torno das questões das diferentes áreas de governação, que se prolongou por vários dias, está finalmente concluído. Para além das sessões de interpelação oral, todo este processo assemelhou-se mais a uma conferência de imprensa do que outra coisa. Com esta sessão foram encerrados os debates da 5ª Assembleia Legislativa. Mas é possível que em 2017 venhamos a ouvir o mesmo grupo de deputados na Assembleia, porque a “Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau”, ainda em revisão, dificilmente poderá deter a corrupção eleitoral. Os ricos e poderosos continuam a desfrutar de absoluta vantagem no processo eleitoral. As provisões recentemente introduzidas na “Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau” vêm reforçar o controlo da liberdade de expressão, o que evidentemente coloca em desvantagem as novas gerações da oposição. No entanto, estas novas disposições não foram contestadas por nenhuma das bancadas do hemiciclo. Há alguns dias atrás fui com alguns membros da

Associação de Novo Macau à Assembleia entregar um manifesto de objecção às novas adendas, mais especificamente no que diz respeito à alínea em que se diz que “os candidatos à Assembleia Legislativa devem declarar o seu apoio à Lei Básica e demonstrar a sua lealdade à Região Administrativa Especial”. A nossa acção destinou-se a chamar a atenção do público para a crescente redução de liberdades. Embora sabendo que será muito difícil que o Governo venha a retirar estas adendas, acreditamos que é necessário ter a coragem de lutar contra as “impossibilidades” e que essa deve ser a atitude de todos os combatentes pela democracia. No fundo é pôr em acção as palavras do famoso filósofo chinês Hu Shih (1891-1962), “Antes morrer por falar do que viver em silêncio”. O que está a acontecer actualmente em Macau está directamente relacionado com os incidentes do “Motim 1-2-3”. Quando estes episódios terminaram, há 50 anos atrás, Macau tornou-se um local onde só passaram a ter lugar na política pessoas com um certo tipo de pensamento. A grande centralização do poder e a monopolização da informação impediram a transformação da estrutura social. A RAEM queixa-se frequentemente de falta quadros qualificados. Mas a razão para que isso suceda prende-se com o facto de muita gente ser excluída das posições de decisão e portanto haver pouco por onde escolher. Para assinalar o 50º aniversário do “Motim 1-2-3”, diversas organizações realizaram

em conjunto três eventos nos dias 3 e 4 de Dezembro. Os meios de comunicação social chineses deram pouco ou nenhum destaque aos acontecimentos. No entanto perguntamos o que levará o “campo patriótico” a evitar conotações com o “Motim 1-2-3”? Será certamente o carácter político do “Motim 1-2-3”!

“Quando numa sociedade não existe pluralismo de pensamento não pode existir diversidade de desenvolvimento.” Alguns dos intervenientes que falaram nestes eventos comemorativos pensavam que esta revolta não tinha sido encorajada pela Revolução Cultural. Mas é inegável que se não fosse a movimentação decorrente da Revolução Cultural, o conflito despoletado pela construção da escola na Taipa não se teria transformado numa luta de grandes dimensões. Claro que quando grupos de manifestantes empunhando o livrinho de “Citações do Presidente Mao Tsé Tung” se dirigiram ao Palácio do Governador, tornou-se inevitável que os protestos se tivessem transformado em confrontos. Antes de 1966 Macau era um local muito agradável para se estar no mês de Outubro. No dia 1 tínhamos as comemorações do Dia Nacional da China. Logo a seguir, no dia 5, comemorava-se a Implantação da República Portuguesa. Dia 10, eram as comemorações do Dia Nacional da República da China (Taiwan). Salvas de artilharia faziam-se ouvir e a cidade ornamentava-se de bandeiras patrióticas. Mas depois do “Motim 1-2-3” de 1966, as forças do Kuomintang (Partido Nacionalista) foram retiradas de Macau e a influência da Igreja Católica diminuiu. Aos poucos, Macau foi ficando sob a influência de frentes políticas que utilizavam nas suas manobras slogans como “amor à Pátria, amor a Macau”. Após o regresso de Macau à soberania chinesa, em 1999, estas frentes tornaram-se o reflexo do próprio Governo de Macau. Uma sociedade deve ser um fórum de troca e debate de diferentes pontos de vista. Quando as pessoas vivem em locais onde não devem fazer análises nem ter um pensamento independente, acabam por ficar semelhantes a robots. A História não se repete! As consequências do “Motim 1-2-3” fizeram-se sentir e os macaenses transformaram-se em actores secundários na cena política. Quando numa sociedade não existe pluralismo de pensamento não pode existir diversidade de desenvolvimento. Para mitigar todos estes factores negativos, podemos encarar as eleições do próximo ano como um ponto de viragem. Mas isso vai depender dos eleitores e de haver ou não vontade para exigir reformas radicais. Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático


23 hoje macau sexta-feira 9.12.2016

PERFIL

TERESA CORREIA, ANTIGA FUNCIONÁRIA PÚBLICA

“Tenho muitas saudades do meu Macau antigo”

P

ISOU pela primeira vez o território em 1983 e trazia uma missão: organizar, juntamente com outros colegas, o sistema de conservatórias de Macau. Quando Teresa Correia, hoje reformada, foi convidada para vir para o sul da China, aceitou de imediato, quase como que por impulso. “Adelina Sá Carvalho, antiga secretária-adjunta, foi ter à nossa conservatória e pediu funcionários para vir organizar e montar todas as conservatórias em Macau. O meu chefe disse se estava interessada em ir para Macau e na altura estava farta de estar em Portugal, eram greves atrás de greves, já não podia mais com aquele ambiente. Disse logo: “ontem já era tarde”. O meu ex-marido também era funcionário da conservatória dos registos centrais e concordamos em vir com os miúdos.” Aqui estava tudo no início: havia uma conservatória do registo predial, outra comercial e só uma do registo civil. Teresa Correia lembra com saudade os primeiros tempos em que, para fazer o trabalho, teve de andar com um dicionário de português-chinês na mão. “Foi um desafio, sem falar

uma ponta de chinês, organizar todos os documentos necessários, andávamos com um dicionário na mão, à procura das coisas. Ao fim de um tempo dissemos que aquilo seria impossível, que tínhamos de ter um tradutor. O que nos valeu é que as pessoas de bastante idade falavam bem português.” Tudo terminou em 1999, com a transição de Macau para a China, mas Teresa Correia já tinha criado laços em Macau. Não queria ir, tentou ficar, mas Rocha Vieira, à altura governador, não deixou. Em Portugal, a antiga funcionária pública voltou ao posto que tinha deixado, mas já nada era o mesmo: “não descansei enquanto não me reformei”. “Macau já é a minha terra, e quando me fui embora nem queria acreditar, porque achei que ficava para sempre. Custou-me muito ir embora, fiz de tudo para cá ficar. Disseram-me erradamente que tinha de ir embora, mas afinal podia ter ficado, como todos os funcionários públicos portugueses.”

FALTA DE HIGIENE

Teresa Correia acabou por voltar após a transição e é aqui que se sente em casa. Ainda

assim, é do passado que tem saudades. “O meu Macau dos anos 80! Não tem nada a ver. Quando cheguei a Macau detestei, fiz uma ideia de uma coisa que não era.” A residente recorda um período em que não abundava a limpeza das ruas e a recolha do lixo não era algo permanente como é hoje. “Tive amigas minhas que apanharam com sacos do lixo na cabeça. Os cheiros para mim foram o pior. Na zona de São Domingos tive quatro meses para conseguir entrar em algumas ruas. Fazia-se tudo na rua, a comida, a queima da pele do porco, a própria sujidade. Não havia higiene em Macau, não havia caixotes do lixo. Adorei tudo o resto. A Taipa era um descampado, não tinha prédios nenhuns. Coloane não tinha nada.” À época, Teresa Correia sentia-se livre. “Era uma sensação de liberdade, de respirar, não digo ar puro, porque nunca houve. Respirava-se, e sentia-me completamente liberta. Aos poucos e poucos houve uma melhoria enorme na limpeza das ruas.” Quase 17 anos passados desde a transferência de soberania, Teresa Correia vive no

seu Macau, mas um território bem diferente daquele que conheceu a primeira vez. “Tenho muitas saudades do meu Macau antigo. Também tenho muitas saudades das amizades que havia, do companheirismo.” E dá exemplos. “Todos os meus colegas macaenses ficavam parvos comigo. Quando entrava num restaurante chinês, quando me sentava à mesa traziam-me sempre um prato com pão, ainda que não comessem pão, só arroz. Hoje já não fazem isso, não há essa preocupação. É disso que tenho saudades. Havia mais comunicações entre os chineses e nós, e hoje não noto tanto isso.” A comunidade portuguesa era bem diferente também. “Éramos muito unidos, e fizemos amizades cá. Havia uma união muito grande, o que não se sente hoje. É raro.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo



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