Hoje Macau 09 MAIO 2023 #5245

Page 1

hojemacau

Ao deus dará

Apesar de ter inaugurado há pouco mais de cinco meses, o projecto de restauro e reabilitação da antiga Fábrica de Panchões parece estar votado ao abandono. Cobras e centopeias invadem o local carregado de lixo e cujos edifícios e muros ameaçam ruir saturados de bolor.

PUB.
7 ENTREVISTA
PÁGINA
REUTERS GONÇALO LOBO PINHEIRO | LUSA DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 TERÇA-FEIRA 9 DE MAIO DE 2023 • ANO XXI • Nº5245 www.hojemacau.com.mo • facebook/hojemacau • twitter/hojemacau MAHATHIR BIN MOHAMAD
FAROL DA GUIA GOVERNO MUDO PÁGINA 4
PRESERVAR VALORES
OS TALISMÃS FU Cláudia Ribeiro

MAHATHIR BIN MOHAMAD

EX-PRIMEIRO-MINISTRO DA MALÁSIA, PERSONALIDADE DE REFERÊNCIA NA ÁSIA

“Os ocidentais descartaram

Enquanto as tensões entre a China e os EUA fervilham por causa da ilha de Taiwan e da crise na Ucrânia, o Sudeste

Asiático mantém uma diplomacia proactiva.

Mahathir bin

Mohamad, antigo primeiro-ministro da Malásia, expressa as suas opiniões sobre as relações entre a China e os EUA e o impacto global da crise na Ucrânia.

Mahathir

Qual é a sua perspectiva para as relações entre a China e os EUA nos próximos 10 anos? Haverá um conflito entre os dois países, especialmente sobre a questão de Taiwan?

Acho que os EUA gostam de provocar. Por exemplo, a visita do Presidente do Congresso a Taiwan é uma provocação. Antes disso, a relação entre a China continental e Taiwan era bastante calma. Existiam relações, não havia confrontos. Mas quando a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA visitou Taiwan, a China continental respondeu mostrando que é contra a visita e insistiu que Taiwan faz parte da China. Desde então, há tensão por causa da visita. E quando há tensão, há preparação para a guerra. A China vai reforçar a sua capacidade militar. Taiwan também está a fazer o mesmo, mas Taiwan tem de comprar as armas à América. Isso significa que a América beneficia com o aumento das tensões. Sem tensões, os Estados Unidos não vendem armas a Taiwan. Por isso, espero que os americanos e os chineses compreendam que os confrontos e as ameaças de guerra não beneficiam nem a China nem os Estados Unidos. Devemos aprender a viver juntos porque o mundo está a ficar mais pequeno. Somos todos vizinhos uns dos outros. Se houver tensões, gastaremos o nosso tempo não a enriquecer e a desenvolver os nossos países, mas sim a gastar dinheiro em confrontos e na preparação para a guerra, o que não vai ajudar ninguém. Os países da ASEAN querem ser amigos de todos os países. Temos relações comerciais com a China. A China é o nosso maior parceiro comercial. Mas também temos grandes trocas comerciais com os EUA. Por isso, se houver paz, todos os países irão prosperar.

Acha que a China e os EUA são capazes de gerir as suas diferenças ideológicas?

É difícil, porque as ideologias são diferentes. Mas como a Malásia, por exemplo, queremos ser amigos de todas as nações do mundo, independentemente da ideologia. Não nos interessa se são socialistas, comunistas ou capitalistas, mas queremos negociar com eles. Isso é assunto interno deles. Não exportem a vossa ideologia e então haverá paz. Portanto, se os EUA não tentarem promover a democracia noutros países, o mundo estará

em paz. Mas a ideia de que toda a gente quer ganhar apoio para a sua ideologia é uma ideia errada. As pessoas devem poder ter a sua própria forma de governo.

Os ministros da ASEAN estão a discutir a redução da dependência do dólar americano. Qual é a sua opinião sobre o processo de desdolarização em curso em várias partes do mundo?

Há muito tempo sugeri que uma moeda de troca fosse utilizada apenas para o comércio na região da ASEAN, bem como nos países do Nordeste Asiático. Isto é, o Japão, a Coreia do Sul e a China. Se utilizarmos a nossa própria moeda, é óbvio que não utiliza -

“Quando há tensão, há preparação para a guerra. A China vai reforçar a sua capacidade militar. Taiwan também está a fazer o mesmo, mas Taiwan tem de comprar as armas à América. Isso significa que a América beneficia com o aumento das tensões.”

remos a moeda americana. Se não utilizarmos a moeda americana, não há procura de moeda americana. Isso significa que a moeda americana será desvalorizada. Os EUA beneficiam do facto de terem a moeda americana como moeda de troca. Por isso, quando sugerimos a sua substituição por uma moeda comercial da Ásia Oriental, os EUA não ficam satisfeitos e fazem campanha contra. Actualmente, muitos países estão a rejeitar a utilização da moeda americana no comércio. A Rússia, por exemplo, insiste em que o comércio deve ser efectuado em rublos, a moeda russa. E muitos outros países sentem que precisam de comprar moeda america -

2 entrevista 9.5.2023 terça-feira www.hojemacau.com.mo
ocupou um lugar muito especial na história da Malásia e foi um estadista influente no Sudeste Asiático.
FOTOS REUTERS

os seus valores”

na. E quando se compra a moeda americana, a moeda americana adquire um valor elevado. Por isso, se puderem utilizar a sua própria moeda ou outra, gostariam de o fazer. O sentimento do mundo actual está a mudar. Ao invés de aceitarem o Acordo de Bretton Woods, que diz que o comércio deve ser efectuado na moeda americana, muitos países querem agora utilizar outras moedas. A minha sugestão de que deveríamos ter uma moeda para o comércio na Ásia Oriental é agora algo que é aceitável para muitos países. Quando isso acontece, é possível avaliar as exportações em relação às importações. Se as importações forem maiores

“Ao invés de aceitarem o Acordo de Bretton Woods, que diz que o comércio deve ser efectuado na moeda americana, muitos países querem agora utilizar outras moedas. A minha sugestão de que deveríamos ter uma moeda para o comércio na Ásia Oriental é agora algo que é aceitável para muitos países.”

do que as exportações, só o país paga. Caso contrário, não paga. De certa forma, é um tipo de comércio melhor, em que não se trocam mercadorias, mas sim o valor das mercadorias com que se negoceia. Por exemplo, se a Malásia vender mais à China, no ano seguinte a China terá de aumentar as suas exportações para a Malásia para equilibrar a balança comercial. Caso contrário, a China terá de pagar à Malásia a diferença entre as exportações da Malásia. A diferença será numa moeda de troca especial.

Como é que avalia as implicações da guerra da Ucrânia na ordem global?

Sou contra a guerra. A guerra não resolve nada. Muitas pessoas serão mortas, muitos danos serão causados. No final, terão de encontrar uma solução. É preferível que falem uns com os outros, discutam, negociem, arbitrem ou recorram a um tribunal para resolver o seu problema. Penso que não há necessidade de os europeus se dividirem entre Leste e Oeste, porque estão sempre a confrontar-se, sempre a pensar em guerra uns contra os outros. Resolverão os problemas através da força militar, o que não é uma boa ideia, porque já travaram guerras antes. E mesmo que ganhem, continuam a perder muito. Por isso, a guerra não resolve os problemas. Na Europa, a Ucrânia esteve em tempos no bloco russo, mas a Rússia decidiu libertar a Ucrânia. Penso que a Europa deveria sentir-se muito feliz com isso, mas eles queriam que a Ucrânia fosse contra a Rússia para aderir à NATO. E quando isso acontece, a Rússia sente-se ameaçada. O convite à Ucrânia para aderir à NATO é uma provocação. De facto, se a Ucrânia não aderir à NATO, penso que a Rússia se sentirá menos ameaçada e não haverá confrontos. Mas assim que o processo for iniciado, a Rússia tomará medidas preventivas. Agora, há uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas as nações da NATO não estão envolvidas, porque a Ucrânia não é membro da NATO, por isso não têm de lutar com a Ucrânia. Mas a Ucrânia tem de lutar contra a Rússia, o que lhe está a causar muitas perdas. A China assumiu um novo papel que é invulgar, porque a China tornou-se agora um pacificador. A China está a tentar resolver os problemas entre a Ucrânia e a Rússia, instando-os a fazer a paz e a resolver os seus problemas. Este é um bom papel para a China. A China já foi muito bem sucedida como pacificadora. Por exemplo, o confronto entre o Irão e a Arábia Saudita dura há mais de 40 anos. Mas depois da intervenção da China, deixou de haver confrontos entre a Arábia Saudita e o Irão. Trata-se, portanto, de um grande êxito para a China. E a China deve continuar. Assim, a China será reconhecida como um país que quer ver a paz no mundo e promover o comércio e a prosperidade conjunta. Os EUA e a NATO não querem que a China desempenhe este papel, mas o facto é que a guerra não vai resolver o seu problema. Eles podem continuar a lutar e a matar. E talvez a Ucrânia seja totalmente destruída. E, no entanto, não há vitória nem para a Rússia nem para a Ucrânia. Haverá sempre confrontos entre eles.

Qual é a probabilidade de a guerra evoluir para uma guerra mundial?

Nós já fomos afectados. O resto do mundo é afectado. O custo de vida aumentou. O fornecimento de cereais, por exemplo, que vem da Ucrânia, é agora difícil de obter. Portanto, isto afecta todas as outras nações do mundo. Os EUA vão tentar que outros países se juntem à acção contra a Rússia, e a Rússia também terá de encontrar países amigos que a apoiem. Haverá um confronto entre o bloco oriental e o bloco ocidental. E isto vai escalar e tornar-se numa guerra mundial.

Qual é a diferença entre os valores asiáticos e os “valores universais” apregoados pelo Ocidente? Porque é que está tão optimista em relação à Ásia?

Vemos diferenças entre os valores asiáticos e os valores ocidentais. Por exemplo, actualmente, os ocidentais são muito liberais e já abandonaram muitos dos seus valores morais. O casamento já não é respeitado. Até as famílias são objecto de interpretações diferentes. Tudo gira em torno da liberdade. Muitos dos valores do Ocidente mudaram. Mas na Ásia, continuamos a abraçar os nossos próprios valores. Continuamos a pensar que os valores morais são muito importantes. Continuamos a respeitar as instituições do casamento e da família. A China, por exemplo, continua a ser guiada por pessoas como Confúcio. Mantemos os nossos próprios valores. Os ocidentais descartaram os seus valores. Para além disso, politicamente, o Ocidente quer que mudemos e nos tornemos uma democracia, que derrubemos o governo, que criemos novos regimes, e fazem-no de uma forma muito perturbadora. in Global Times

entrevista 3 terça-feira 9.5.2023 www.hojemacau.com.mo
“Na Ásia, continuamos a pensar que os valores morais são muito importantes. Continuamos a respeitar as instituições do casamento e da família. Mantemos os nossos próprios valores. Os ocidentais descartaram os seus valores.”

FÁBRICA DE PANCHÕES COUTINHO ALERTA PARA “ESTADO DEGRADANTE” E LIXO

Um património selvagem

IAS Pagamentos um mês após prova de vida

Pereira Coutinho denuncia a “sensação

de completo abandono” sentida por quem visita o espaço da antiga Fábrica de Panchões Iec Long, na Taipa Velha. Desde a inauguração do passadiço da antiga fábrica, o deputado recebeu queixas de visitantes sobre a degradação de paredes, a abundância de lixo, serpentes e insectos

Adois dias do Natal, o passadiço da antiga Fábrica de Panchões Iec Long foi inaugurado. Em pleno surto de covid-19 que varreu o território, a inauguração da estrutura foi o resultado de um projecto de restauro e reabilitação liderado pelo Instituto Cultural (IC), cuja concepção pretendia “apresentar as memórias históricas e os elementos do ambiente original da antiga fábrica, permitindo ao público apreciar a beleza natural das estruturas históricas e das plantas do local.”

Cerca de cinco meses após a inauguração, Pereira Coutinho denuncia aquilo que caracteriza como “estado degradante de muitas das estruturas físicas, nomeadamente as paredes de grandes dimensões, em risco de desabamento”. Em interpelação escrita, o deputado aponta que as estruturas correm risco agravado com a aproximação da época em que normalmente Macau é assolada por “fortes chuvas e tufões”.

Citando queixas recebidas no seu gabinete de atendimento aos cidadãos, Coutinho indica que “as estruturas físicas se encontram comprometidas pela envolvência

do arvoredo circundante, num cenário de emaranhamento que transmite a sensação de completo abandono”.

Mas não é só a flora que afecta a antiga Fábrica de Panchões Iec Long, a fauna também é mencionada na interpelação, com Coutinho a referir que proliferam “na área grandes quantidades de centopeias que deambulam pelas extensas paredes internas, e externas da fábrica e pequenas serpentes”, tornando o local perigoso “para os visitantes e principalmente os trabalhadores encarregados da segurança do recinto.” Coutinho chega mesmo a indicar que os seguranças do recinto têm de usar botas de borracha grossa para evitar picadas das cobras.

Sombras e detritos

Outra presença indesejada no local, é a paleta variada de detritos. “Os visitantes assinalaram também a acumulação de grande quantidade de lixo, tais como garrafas e outros produtos de plástico, vidro e chinelos, meio soterrados em extensas áreas de terrenos baldios, para além de pequenos montes de terra batida alguns contendo parte de ossadas desconhecidas”, indica o deputado.

Segundo Pereira Coutinho, os seguranças do espaço da antiga Fábrica de Panchões Iec Long têm de usar botas de borracha grossa para evitar picadas das cobras

Na óptica de Pereira Coutinho, este cenário é o ideal para a proliferação de “focos de reprodução de grande quantidade de mosquitos, que constitui uma ameaça à saúde pública, aumentando o risco de transmissão de doenças”.

Face ao panorama apresentado, o deputado pergunta ao Governo que medidas concretas serão im-

plementadas para salvaguardar as actuais estruturas físicas da antiga Fábrica de Panchões Iec Long.

Coutinho questiona ainda se o Instituto para os Assuntos Municipais irá efectuar vistorias e poda das árvores do local, e sugere uma operação de limpeza geral dos terrenos baldios da antiga Fábrica de Panchões Iec Long. João Luz

AMCM PRIMEIRO TRIMESTRE COM MAIS CARTÕES DE CRÉDITO E DÉBITO ESTATÍSTICAS

divulgadas ontem pela Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) dão conta de um aumento do número de cartões de crédito e débito emitidos no primeiro trimestre deste ano. No final de Março, tinham sido atribuídos 1.724.841 cartões de crédito pessoais, um aumento

de 1,3 por cento face ao último trimestre de 2022. Em relação aos cartões de débito, o aumento foi de 2,2 por cento, com um total de 2.156.407 cartões emitidos pelos bancos.

Mais cartões significou um aumento do montante de crédito utilizado, bem como do valor gasto em pagamentos com cartões de débito.

Até ao final de Março, o limite de crédito relativo aos cartões emitidos pelos bancos atingiu 49,5 mil milhões de patacas, um aumento de 1,7 por cento relativamente ao final de 2022, com o saldo das dívidas cifrado em 2,5 mil milhões de patacas. Por outro lado, o rácio de débito não pago, medido com base no rácio de va-

lores em mora por mais de três meses contra o saldo das dívidas cifrou-se em três por cento, diminuindo um ponto percentual em relação ao final de 2022.

Quanto ao crédito utilizado nos primeiros três meses do ano foi de 5,5 mil milhões de patacas, um aumento de 10,9 por cento. Já o número de transacções realizadas com

O Instituto de Acção Social (IAS) irá dar apoio no envio do cheque pecuniário aos beneficiários dos subsídios de invalidez e para idosos, pois estes podem receber o montante do Governo no mês imediatamente a seguir à conclusão do processo de entrega da prova de vida, caso este decorra depois de 15 de Junho. Todos os beneficiários que terminarem a entrega da prova de vida antes de 15 de Junho irão receber o cheque em Julho, conforme o calendário já estipulado. O IAS aponta ainda que irá continuar a verificar os processos de atribuição de subsídios aos idosos “para melhor gestão do erário público e o acompanhamento da situação dos beneficiários”.

ALIMENTAÇÃO IAM VISITA A JIANGMEN

OInstituto para os Assuntos Municipais (IAM) realizou, no passado dia 26 de Abril, um encontro com representantes e empresas do sector alimentar de Jiangmen, na província de Guangdong, embora a informação só ontem tenha sido divulgada. A delegação do IAM foi composta por 29 pessoas que se reuniram com representantes da Administração de Regulação do Mercado de Guangdong, daAdministração de Regulação do Mercado da cidade de Jiangmen e das empresas alimentares no local, tendo sido trocadas “opiniões quanto à situação da gestão de segurança alimentar das duas regiões”.

Os representantes do sector que participaram neste intercâmbio são principalmente provenientes daAssociação Industrial de Macau, da Associação da União dos Fornecedores de Macau, da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau, da Associação das Pequenas e Médias Empresas de Restauração de Macau, daAssociação de Gestão de Segurança Alimentar de Macau [Macau Food Safety Management Association] e ainda das empresas de produção alimentar do território.

cartões de débito, não incluindo o levantamento de numerário, totalizou 330 mil patacas, o que representou um acréscimo de 1,1 por cento. O valor total de compras efectuadas com cartões de débito atingiu 675,9 milhões de patacas, correspondendo a um crescimento de 5,4 por cento relativamente ao trimestre anterior.

O IAM espera que, através da organização de visitas presenciais ao Interior da China, “se possa reforçar o intercâmbio entre os sectores alimentares dos dois lados, promovendo a inovação das técnicas de produção alimentar, e elevando o nível da segurança alimentar”.

GONÇALO LOBO PINHEIRO LUSA 4 política 9.5.2023 terça-feira www.hojemacau.com.mo

GRIPE NOVAS OCORRÊNCIAS EM ESCOLAS NA SEXTA-FEIRA

OS Serviços de Saúde de Macau (SSM) registaram mais casos de gripe nas escolas do território na passada sexta-feira. Um deles diz respeito a uma turma da Escola Secundária Choi Kou (Sheng Kung Hui), com cinco alunos dos seis aos sete anos a serem afectados. Por sua vez, o segundo caso registou-se na Escola Secundária Luso-Chinesa de Luís Gonzaga Gomes, tendo sido infectados mais cinco alunos, com idades compreendidas entre os oito e os nove anos. Os sintomas, como febre ou tosse, entre outros, começaram a manifestar-se dois dias antes. Apesar de algumas crianças terem sido submetidas a tratamento médico, não se registaram casos graves.

Também na sexta-feira, foi detectado um caso de infecção colectiva por enterovírus numa turma da Escola das Nações. Cinco alunos entre os três e quatro anos começaram, no dia 1, a ter sintomas da doença, sendo o seu estado de saúde ligeiro, sem se registarem casos de internamento, sintomas anormais do sistema nervoso ou outras complicações graves.

Os SSM apontam ainda que a criança de oito anos diagnosticada no dia 17 de Abril com gripe A, e que acabou por ter complicações por infecção pulmonar, encefalopatia necrosante aguda e hemorragia cerebral, permanece ainda em estado crítico na unidade de cuidados intensivos do serviço de pediatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ).

Uma outra doente de 64 anos, diagnosticada a 28 de Abril com gripe A, e que teve complicações por infecção pulmonar e insuficiência respiratória, teve o ventilador desligado na última quinta-feira por ter registado algumas melhorias, mas continua internada na unidade de cuidados intensivos do CHCSJ.

É também considerado crítico o estado de saúde do homem de 41 anos internado nos cuidados intensivos do hospital público com uma infecção pulmonar, com origem num caso de covid-19, detectado no dia 28 de Abril.

COVID-19 NOVOS CASOS PROVOCAM 15 INTERNAMENTOS EM TRÊS DIAS

Adivinha quem voltou

Entre sexta-feira e domingo, 15 pessoas foram submetidas a internamento hospitalar na sequência de infecções por covid-19, numa altura em que se estima que os novos casos diários ultrapassem os 20. As autoridades garantem que vão continuar a monitorizar a evolução das infecções, apesar de a OMS ter declarado o fim da pandemia

NO espaço de três dias, foram sujeitos a internamento hospitalar 15 pessoas em resultado de infecções por covid-19.

Segundo avançou ontem o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, no domingo foram internados nas instalações de isolamento e tratamento dos Serviços de Saúde sete doentes, seis dos quais foram admitidos no Hospital Kiang Wu e o outro foi internado no Centro Hospitalar Conde de São Januário. No sábado, as autoridades contabilizaram cinco internamentos, enquanto que na sexta-feira foram internadas três pessoas

infectadas com covid-19, revelando uma tendência ascendente dos casos que obrigam a hospitalização. O centro de coordenação e contingência salienta, porém, que não foram registadas mortes resultantes de infecções por covid-19.

O aumento do número de infecções já havia sido mencionado várias vezes por responsáveis governamentais da área da saúde, através do alerta para um eventual surto pandémico este mês.

Em declarações proferidas no fim-de-semana, o director do Centro Hospitalar Conde de São Januário, e subdirector dos Serviços de Saúde, Kuok Cheong U afirmou que o número de novos casos diários

de covid-19 no território deve ultrapassar as duas dezenas.

Em declarações citadas pelo jornal Ou Mun, o responsável salientou que o ressurgimento das infecções, passados cinco meses na vaga de Dezembro que infectou quase toda a população de Macau, é um fenómeno imunológico normal.

Ciclo da vida Kuok Cheong U realçou que os Serviços de Saúde vão continuar a acompanhar de perto a propagação da nova estirpe da covid-19, assim como os casos de gripe, monitorizando aspectos como o tempo de espera dos doentes no serviço de urgências e, se necessário, destacar pessoal e material

adicional para fazer face a situações de emergência.

Recorde-se que na sexta-feira o director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência global para a covid-19 a nível global, aceitando a recomendação do comité de emergência.

“No último ano, o comité de emergência e a OMS

O centro de coordenação e contingência salienta, porém, que não foram registadas mortes resultantes de infecções por covid-19

têm analisado os dados com cuidado, considerando quando seria o tempo certo para baixar o nível de alarme. Ontem [quinta-feira], o comité de emergência reuniu-se pela 15.ª vez e recomendou-me que declarasse o fim da emergência global. Eu aceitei esse conselho”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus em conferência de imprensa. Segundo afirmou, o levantamento da emergência de saúde pública global (PHEIC, na sigla em inglês), o nível mais alto de alerta que pode ser decretado pela organização, “não quer dizer que a covid-19 terminou como uma ameaça de saúde”. “Na última semana, a covid-19 reclamou vidas a cada três minutos e estas são apenas as mortes que sabemos. Actualmente, milhares de pessoas em todo o mundo estão a lutar pela vida nos cuidados intensivos e outros milhões continuam a viver com os efeitos debilitantes da condição pós-covid-19”, alertou o director-geral da OMS. De acordo com Tedros Adhanom Ghebreyesus, o coronavírus SARS-CoV-2 “está para ficar” e continua a evoluir, o que faz com que permaneça o risco do surgimento de novas variantes eventualmente causadoras de surtos e mortes. João Luz com Lusa

sociedade 5 terça-feira 9.5.2023 www.hojemacau.com.mo

Dez startups do Brasil e de Portugal vão participar na feira de tecnologia

Beyond Expo 2023, que arranca em Macau amanhã.

O organizador do evento, Jason Ho (filho do Chefe do Executivo), quer aproximar os investidores chineses dos mercados lusófonos

UMA dezena de startups portuguesas e brasileiras vão marcar presença na Beyond Expo 2023, que decorre entre amanhã e sexta-feira no Centro de Convenções do Venetian, num evento que se propõe a fomentar contactos empresariais entre China e os países lusófonos.

“Sendo Macau uma cidade onde se fala português, creio ser muito importante manter esta tradição e esperamos ajudar as startups lusófonas a conhecer melhor os mercados chinês e asiáticos”, disse o cofundador da Beyond

BEYOND EXPO STARTUPS LUSÓFONAS PROCURAM INVESTIMENTO EM MACAU

A começar lá por cima

Expo, Jason Ho Kin Tung, filho do Chefe do Executivo Ho Iat Seng, em declarações à Lusa.

O programa da feira inclui, na quinta-feira, a segunda edição do Brazil-Portugal Innovation Company Roadshow (em português, Mostra de Empresas de Inovação Brasil-Portugal).

A Beyond Expo vai contar com “pelo menos 60 grandes fundos de capital de risco”, incluindo o fundo soberano de Singapura, Temasek, para os quais os países lusófonos ainda estão “algo fora do radar”, disse Jason Ho.

Apesar de admitir que “vai haver um período de aprendizagem”, o empresário acredita que vários grandes grupos financeiros chineses poderão investir em startups como um primeiro passo para entrar nos mercados de Portugal e Brasil.

Jason Ho elogiou ainda “o espírito de aventura” das startups que tentam, através de Macau, dar o salto para a China, “um mercado imenso, com muito potencial, mas também com enorme competição”.

Céu é o limite

Quatro das dez startups foram distinguidas em concursos de inovação e empreendedorismo organi-

zados em Macau para tecnológicas de Portugal e do Brasil, incluindo a Biosolvit, biotecnológica luso-brasileira na área da protecção ambiental que venceu em 2021 a primeira edição do concurso.

Duas outras empresas distinguidas em 2021 vão participar: as brasileiras Bioo, que desenvolve soluções de saúde para diabéticos, e Pocket Clinic, que quer desenvolver uma seringa inteligente para doenças crónicas

Com o carro em ponto morto

Governo Central nega envolvimento em feira automóvel em Macau

OMinistério do Comércio chinês negou o envolvimento ou participação no World Vehicle Congress, um evento que foi anunciado para os dias entre 14 e 16 de Junho em Macau.

A organização afirmou que o congresso contaria com o apoio do gabinete de desenvolvimento do comércio externo do Ministério do Comércio, alegação que foi negada por Pequim. O ministério emitiu um comunicado a sublinhar que nunca supervisionou, instruiu ou participou no World Vehicle Congress, realçando que nenhuma organização governamental alguma vez firmou relações com o evento.

O ministério lançou ainda um alerta às instituições regionais ligadas ao Governo

Central, assim como a organizações privadas, para terem atenção à possibilidade de o evento representar uma fachada fraudulenta.

O website oficial do evento, que, entretanto, já não está online, listava ainda entre as instituições associadas a Câmara de Comércio da China para a Importação e Exportação de Maquinaria e Produtos Electrónicos e a Associação de Acessórios de Modificação Automóvel da China, ambas as organiza-

ções igualmente associadas ao Ministério do Comércio.

Apesar de ter divulgado alguns detalhes sobre o evento no seu website, que também foram apagados, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) afirmou ao canal chinês da Rádio Macau que nunca participou ou apoiou o World Vehicle Congress.

Em todo o lado

O World Vehicle Congress 2023 foi amplamente no-

que requerem injecção contínua de medicamentos.

A lista inclui ainda a vencedora da segunda edição do concurso, em 2022, a portuguesa Virtuleap, que combina neurociência e realidade virtual para ajudar a aumentar os níveis de atenção, no tratamento de doenças cognitivas e para retardar o início do declínio cognitivo.

Após duas edições da Beyond Expo limitadas pela pandemia, Jason Ho disse que não foi possível

ticiado nos órgãos estatais de comunicação chineses, como na CCTV, na agência Xinhua e no Diário do Povo.

Aliás, no website da CGTN ainda aparece a notícia sobre o evento, que cita inclusive um dirigente associativo que, aparentemente, também não está ligada à organização.

“O congresso irá convidar concessionários de automóveis, compradores e organizações relacionadas com a indústria dos países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), bem como dos países envolvidos na iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’, disse Li Rengui, director da Associação de Acessórios de Modificação Automóvel da China, num artigo publicado a 19 de Abril. O dirigente associativo afirma ainda que o evento “irá expandir as exportações da China e promover a globalização da indústria automóvel chinesa”. J.L.

convidar mais startups, porque Macau abriu as fronteiras a todos os estrangeiros “de forma tão repentina”, a 5 de Janeiro.

O organizador disse esperar que em 2024 possa contar com mais projectos de países lusófonos além de Portugal e do Brasil, mercados onde “o ecossistema para startups já está mais maduro”.

Após duas edições da Beyond Expo limitadas pela pandemia, Jason Ho disse que não foi possível convidar mais startups, porque Macau abriu as fronteiras a todos os estrangeiros “de forma tão repentina”, a 5 de Janeiro

Mais de 600 empresas vão participar este ano na feira, mas Jason Ho não esconde uma ambição maior: “até 2026, queremos que, quando o mundo quiser conhecer a inovação tecnológica na Ásia, venha à Beyond Expo”.

HABITAÇÃO PREÇOS A SUBIR NO PRIMEIRO TRIMESTRE

ENTRE Janeiro e Março deste ano, o índice global de preços da habitação cresceu 1,3 por cento em comparação com o período anterior (entre Dezembro do ano passado e Fevereiro), informou ontem a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSCE).

Analisando por zonas, os serviços estatísticos referem que o índice de preços na Península de Macau aumentou 1,5 por cento, enquanto que no segmento da Taipa e Coloane os preços da habitação subiram 0,7 por cento.

Porém, em comparação com o primeiro trimestre de 2022, a DSEC observou uma diminuição do índice global de preços da habitação de 4,2 por cento, com a quebra mais

acentuada a verificar-se na Península de Macau, onde os preços caíram 5,1 por cento, enquanto na Taipa e Coloane a depreciação ficou-se pelos 0,4 por cento.

Analisando por trimestre, no primeiro trimestre de 2023 o índice global de preços da habitação aumentou 0,7 por cento, face ao registado no quarto trimestre de 2022.

A DSEC revela ainda que os preços das habitações construídas aumentaram 1,3 por cento no primeiro trimestre, face ao período anterior de três meses, mais uma vez com a Península de Macau a liderar o aumento com 1,5 por cento, face aos 0,5 por cento de subida de preços verificados nas Ilhas. J.L.

6 sociedade 9.5.2023 terça-feira www.hojemacau.com.mo
VCG BEYOND EXPO

Património Governo acusado de falta de iniciativa

O deputado Ron Lam U Tou queixa-se de que o Governo revela falta de iniciativa na protecção do património, lamentando que o estudo de avaliação patrimonial à concepção urbana na avenida dr. Rodrigo Rodrigues só foi encomendado para responder às exigências do comité do património mundial da UNESCO. Citado pelo Jornal do Cidadão, o deputado lembrou que a lei do planeamento urbanístico está em vigor desde 2013, mas, até à data, o Governo não elaborou o Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau nem a respectiva legislação. Ron Lam U Tou entende que muitos dos conflitos existentes entre a construção e a preservação do património só podem ser resolvidos com legislação, o que permite que os problemas sejam resolvidos antes de serem mencionados pela UNESCO. O deputado destacou o caso do prédio na Calçada do Gaio, defendendo que a actual altura de 81,32 metros deve ser mantida, uma vez que já foi emitida a licença de obra e é um limite máximo de construção igual aos edifícios em redor.

Malásia Air Asia vai ligar Macau e Kota Kinabalu

A partir de Julho, a companhia low-cost Air Asia irá operar quatro voos semanais entre Macau e a cidade malaia de Kota Kinabalu, indicou o jornal The Borneo Post. Neste momento, a companhia aérea oferece ligações de Macau para Banguecoque, Manila e Kuala Lumpur.

Ciclistas Travessia de pontes provoca 16 processos

Desde o início do ano, o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) abriu 16 processos relativos a pessoas que circularam de bicicleta pelas pontes de Macau. Em comunicado, as autoridades sublinham que este comportamento representa um sério perigo para os próprios e para os outros condutores, e que como tal é proibido. O CPSP recorda ainda que “tanto os residentes como os visitantes são obrigados a respeitar o código da estrada de Macau”.

Estudo às escuras

Chan Tak Seng, representante do Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia, defendeu ao HM que houve falta de comunicação da parte do Executivo para a elaboração do estudo de impacto patrimonial relativo à urbanização da avenida dr. Rodrigo Rodrigues. O responsável teme maior desigualdade pelo facto de serem definidos diferentes limites máximos de construção nas áreas em torno do farol

OGrupo para a Salvaguarda do Farol da Guia aponta o dedo ao Governo relativamente à alegada falta de comunicação com a sociedade civil para a elaboração do estudo de impacto patrimonial à concepção urbana na avenida dr. Rodrigo Rodrigues, cuja paisagem é marcada pelo Farol da Guia.

Em declarações ao HM, Chan Tak Seng, responsável do grupo e antigo vogal do Conselho do Património Urbanístico (CPU), entende que o Governo deveria ter comunicado mais com esta entidade e com a sociedade civil durante o período de elaboração do estudo.

“Quanto à gestão do centro histórico de Macau deveria haver uma consul -

ta pública em vez de serem consultadas apenas certas associações ou individualidades. Pedimos a atenção do comité do património mundial da UNESCO e queixamo-nos de que o Governo não comunicou connosco, mesmo depois de eu ter apresentado imensas sugestões para o território [na qualidade de vogal do CPU]”, defendeu.

O responsável lembrou que, quando estava no CPU, pediu várias vezes a divul-

gação do plano urbanístico para a zona da colina da Guia, mas o CPU não só não respondeu como apenas tornou públicas algumas partes do plano.

“Sempre apresentei várias opiniões sobre a prática do Governo em relação ao planeamento urbanístico e preservação do património, pois não consegue atingir um nível internacional e não tem uma perspectiva [global]. O actual Governo faz os trabalhos do dia a dia e não tem em conta os

“Quanto à gestão do centro histórico de Macau deveria haver uma consulta pública em vez de serem consultadas apenas certas associações ou individualidades.”

projectos a desenvolver pelos futuros Executivos. Realizar um planeamento urbanístico exige perspectiva e inovação.”

Desigualdades?

Outro ponto destacado por Chan Tak Seng, prende-se com o caso da construção do prédio na Calçada do Gaio que esteve embargada desde 2008 devido ao facto de a altura máxima, de 81,32 metros, ultrapassar os 52,5 metros definidos pelo despacho de 2008 assinado pelo então Chefe do Executivo, Edmund Ho. Contudo, o promotor já tem uma nova licença para construir, com validade até Janeiro de 2026. O Instituto Cultural explicou, em 2019, em resposta ao então deputado

Sulu Sou, que a UNESCO não se opôs à manutenção da actual altura do prédio, mesmo que tape a vista do farol.

“Porque é que o Governo entregou um estudo à UNESCO e, ao mesmo tempo, permitiu a execução da obra de um edifício que já tinha ultrapassado o limite máximo de altura? Se não houve consenso, tal também nos deveria ter sido indicado.”

O estudo, apresentado na sexta-feira, propõe uma redução da altura dos edifícios a construir à volta do farol, nomeadamente o limite máximo de 28 metros de altura para o lote do edifício do Ministério Público, entre 60 e 90 metros para o lote 133 e 70 metros para o lote 134, ambos próximos do Arco do Oriente.

Chan Tak Seng entende que a definição de diferentes alturas de construção pode originar uma situação de desigualdade entre promotores de obras. “Porque é que se define uma altura máxima de construção inferior [à do prédio da Calçada do Gaio], permitindo-se que um edifício não inaugurado continue a ser construído?

A lei deve ser igual para todos. Os lotes de terreno têm diferentes limites máximos de construção em altura, porque é que se regula desta forma? Não é justo para os restantes promotores de empreendimentos”, acusou.

sociedade 7 terça-feira 9.5.2023 www.hojemacau.com.mo
CHAN TAK SENG GRUPO PARA A SALVAGUARDA DO FAROL DA GUIA
FAROL DA GUIA GRUPO QUEIXA-SE DE FALTA DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO
MACAO DAILY NEWS

A literatura

Entre a dinastia Sui (581 a 618 d.C.) e a dinastia Yuan (1271 a 1368 d.C.), grande parte dos talismãs fu encontrava-se em textos de cariz religioso. Entre os textos taoístas clássicos acerca da criação de talismãs fu conta-se o célebre Baopu Zi (抱朴子, O Mestre que Abraça a Autenticidade), escrito por volta de 317 d.C. por um alquimista de renome, Ge Hong. A obra divide-se em Capítulos Exteriores e Capítulos Interiores e é nestes últimos que os temas relacionados com a alquimia e a magia são abordados. Encontram-se aí imagens e descrições de talismãs fu como os que se designam por Cinco Entradas Através das Montanhas, atribuídos ao próprio Ge Hong, que visam oferecer protecção durante as viagens, em especial às Cinco Montanhas Sagradas. Através de uma rede de locais (em especial, montanhas, rios, labirintos e grutas) associados aos Imortais, o taoísmo desenvolveu toda uma geografia sagrada que se inseria num sistema de correspondências com a arquitectura e os seus elementos, assim como com o corpo humano. Era nesses locais sagrados que conduziam a câmaras secretas que se podia deparar com revelações divinas, como talismãs fu e escritas celestes. E a posse de um talismã fu com um diagrama, ou “forma verdadeira” 真 形 (zhenxing), de uma montanha sagrada permitia ao praticante deambular por ela através de práticas meditativas.

Os escritos do tio-avô de Ge Hong, um 方士 (fangshi, o termo que entre 300 a.C. e 500 d.C. designava os mágicos, xamãs, adivinhos, exorcistas e alquimistas) do Período dos Três Reinos (222-280 d.C.) de nome Ge Xuan, foram compilados na dinastia Song do Sul num volume intitulado灵宝无量度人上经大法 (Ling Bao Wuliang Du Ren Shang Jing Da Fa, As Escrituras Ling Bao dos Grandes Rituais de Libertação Universal), onde se encontra a descrição da estrutura e activação de um talismã fu para exorcizar demónios. O San Dong Shen Fu Ji (三洞神符记, Registo dos

Os talismãs

Divinos Talismãs Fu das Três Cavernas), do início do séc. V, é parte do Dao Zang (道 藏, o Cânone do Dao). No capítulo intitulado Shen Fu Lei (神符类, Tipos de Talismãs Fu Divinos) encontra-se uma escrita celeste bem conhecida, “a escrita das nuvens”, uma vez que a escrita mágica se deve assemelhar “à condensação das nuvens”. Em 437, foi dado à estampa o San Huang Wen (三皇文, A Escrita dos Três Soberanos), com instruções pormenorizadas acerca da forma de criar talismãs fu. Tornou-se num dos textos fundamentais para a ordenação de monges, visto conter os caracteres celestes de todos os nomes de divindades e demónios do panteão taoísta. Com o tempo, passou a partilhar muitas das características do lu. Outra obra de grande importância é o Huangdi Yin Fu Jing (皇帝阴符 经, O Clássico dos Talismãs Fu Ocultos do Imperador Amarelo) porque é nele que se podem encontrar as directrizes, não para a criação de talismãs fu, mas para a maneira de os activar de modo a exercerem magia. A primeira referência conhecida a esta obra data da dinastia Tang (618-907 d. C.) mas poderá eventualmente incorporar fragmentos que remontam à dinastia Zhou (1046-256 a. C.).

A cosmovisão subjacente

Não é possível entender os talismãs fu sem dominar a cosmovisão que lhes subjaz e que ficou consolidada na dinastia Han. Essa cosmovisão diz respeito ao Qi

(气 o Sopro), ao par yin e yang (阴阳), à trindade “céu, terra e homem” (天地人 tian di ren), aos trigramas (八卦bagua) do Yi Jing (易经, Clássico das Mutações), considerados como os blocos fundamentais de tudo quanto existe, às Cinco Fases (五行 wuxing: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água) e à numerologia (em especial os “quadrados mágicos” 河图 hetu e洛书luoshu (ver Figura 11) e astrologia chinesas, além de todo um sistema de correspondências associadas, como as Cinco Direcções (五方 wufang) e os seus Cinco Soberanos (五上帝 wu shangdi), as Cinco Cores (五色 wuse), etc., concebido através de um misto de observação fina da natureza e de pensamento analógico.

qi emergem os oito trigramas do Yi Jing; e que há que manipular o yang para fazer mover os espíritos, e manipular o yin para fazer mover os fantasmas.

A estrutura

O aspecto dos talismãs fu varia de acordo com aquilo que se pretende. Como apresentam inúmeras estruturas diferentes, debruçar-me-ei aqui apenas sobre as mais comuns. Costumam ser inscritos à mão com um pincel de bambu ou de sândalo e a tinta negra, com cinábrio vermelhão, ou com sangue. São inscritos em geral sobre papeis rectangulares, mais longos em altura do que em largura. Tradicionalmente, utilizava-se papel de arroz. Também se pode recorrer a tecidos, como a seda. O papel é, em geral, de cor branca ou amarela, preferencialmente amarelo “imperial”. Mas pode apresentar outras cores, como verde e dourado, caso se pretenda atrair riqueza e sorte. A cor do papel e a cor da tinta têm significados determinados e não podem ser escolhidas aleatoriamente ou por razões puramente estéticas. O vermelho é prepon-

De acordo com o Huangdi Yin Fu Jing, e segundo a interpretação de Wen (2016), aquele que pretende praticar a escrita de talismãs fu deve estar ciente de que terá de se alinhar com o céu ou a divindade; terá de conseguir que o universo inteiro se manifeste através da própria mão; terá de entender os sinais do céu que tornam possível desencadear mecanismos capazes de alterar o destino; de saber que poderá manipular céu e terra mas apenas quando estes propiciarem a ocasião adequada e caso os fins almejados sejam pacíficos; e que essa manipulação acontece através das Cinco Fases e através do conhecimento de que os astros e a numerologia se relacionam; que nada disto será possível se desconhece ainda que é uma entidade também espiritual; e que a manipulação de céu e terra só terá lugar quando controlar a sua mente; que se vê mais quando não se escuta e se escuta mais quando não se vê; que o céu não favorece nenhum dos iniciados em especial mas será aquele que melhor controlo mental exercer quem mais beneficiará; que para entender a magia não é necessário entender o céu e a terra, basta entender as mudanças presentes nas quatro estações e nas quatro direcções; que yin e yang se implicam mutuamente; que do

VIA do MEIO 9.5.2023 terça-feira 8
Cláudia (Continuação do
Figura 9. Talismãs fu do Baopu Zi. Domínio público. Figura 10. Representação do sistema de correspondências da cosmovisão chinesa numa bússola geomântica. Domínio público. Figura 11. Quadrados mágicos luoshu (à esquerda) e hetu (á direita). Domínio público. Figura 12. Talismã circular em metal com a forma das antigas

talismãs fu (符)

Ribeiro

número anterior)

derante porque se acredita ser capaz de extinguir possessões demoníacas e forças malignas. Por tradição, o de maior excelência é o vermelho cinábrio, um dos ingredientes principais do elixir da imortalidade. Existem também talismãs quadrados (ver Figuras 2 a 6) e ainda octogonais e circulares, estes últimos sendo frequentemente feitos em metal (ver Figura 12), pedra ou madeira. Antes da dinastia Han, eram feitos de jade ou bambu. Os ofuda e omamori do Japão descendem directamente dos talismãs fu dos taoístas chineses.

Grande parte dos talismãs fu apresenta uma estrutura que lembra um edifício semelhante a um pagode e é no interior dos seus limites que se encontra inserida a maior parte dos caracteres. No topo vê-se por vezes um “telhado”, um V invertido, cruzes de poder – dois traços horizontais atravessados por um vertical - de cada lado ou três pequenos v no vértice (ver Figuras 13 e 14), que simbolizam a trindade “céu, terra e homem” e ainda os três traços superiores do caracter 光 guang, luz, a Luz Branca sagrada que só o adepto do Dao consegue atingir. Logo abaixo sur-

ge amiúde o caracter ou caracteres da divindade ou da força natural invocada como, por exemplo, o Supremo Soberano上帝 shangdi, o Imperador de Jade 玉皇 yühuang (ver Figura 13), Xuan Wu Shen玄武神, o Enigmático Deus da Guerra, ou Buda, 佛 fo.

Os talismãs fu são formados com códigos e escrita sistematizados dos quais fazem parte “escritas celestes” ilegíveis, linhas sinuosas yin ou angulosas yang (ver Figuras 9 e 15), círculos e diagramas, por exemplo, das constelações ou dos trigramas do Yi Jing (ver Figura 16) e sinais que apenas um iniciado conseguirá decifrar. Cada caracter ou símbolo é entendido como uma realidade orgânica dinâmica e carregada de poder mágico.

Também se utilizam caracteres legíveis, mas em geral escritos de forma bizarra e quase indecifrável em 符文 fuwen, a escrita fu, e formados pela multiplicação, abreviação e reconfiguração dos seus elementos. Vê-se também amiúde o mesmo caracter repetido várias vezes, por exemplo, 病 (bing, doença) ou 杀 (sha morte),

蛊 (gu, infestar) 宰 (zai, abater) e 破 (po, destruir) para lhes dar ênfase e assinalar a sua importância (ver Figura 17). Lida-se com o sobrenatural, com fantasmas e demónios, daí estes caracteres associados à violência. Os talismãs fu também apresentam ocasionalmente caracteres ou símbolos referentes a insectos, porque um antigo exorcismo contra os demónios implicava fazê-los manifestar como insectos de modo a aprisioná-los depois no interior de um recipiente.

ficadores de energia yin ou yang, respectivamente, e o seu número associa-se ao significado numerológico.

É comum os talismãs fu tomarem ainda de empréstimo algum vocabulário utilizado nos decretos imperiais, como o termo 圣旨 (sheng zhi, decreto) e令 (ling, ordem, mandato), o que remete para os primeiros deles, que representavam decretos celestes. Outro caracter bastante vulgar é 鬼 gui, fantasma. E ainda o Sol日 ri e a Lua, 月 yue (ver Figura 18), as estrelas, 星xing, Órion (em chinês, 参宿, shenxiu, O Local de Descanso das Três Estrelas) e a Ursa Maior (em chinês, 北斗 beidou, A Concha do Norte), de enorme importância na astrologia e na mundivisão chinesas tradicionais. Por vezes, os talismãs fu são dominados por um caracter como气qi, o Sopro (ver Figura 19) ou 魔mo, magia. Utilizam-se muitas vezes linhas curvas e serpenteantes que servem para amplificar a energia circulante do qi. Séries de círculos ou quadrados (ver Figuras 1, 8, 18, 20), amiúde entrelaçados, são ampli-

Existem também talismãs fu com a forma dos quadrados mágicos hetu e luoshu (ver Figura 11) ou que são estruturados em quadrados e rectângulos (ver Figuras 21 e 22) onde se inserem caracteres, símbolos e figuras. Estes últimos costumam ser guardados em caixas, elas próprias decoradas com simbologia mágica adicional.

VIA do MEIO 9.5.2023 terça-feira 9
(Continua)
antigas moedas chinesas. Domínio público. Figuras 13 e 14. Domínio público. Figuras 15 e 16. Domínio público. Figura 17. Talismã fu com três caracteres de “doença” e três de “morte”. Domínio público. Figuras 18, 19 e 20. Domínio público. Figuras 21 e 22. Domínio público

DIPLOMACIA

Água na fervura

Espaço Nave regressou depois de 276 dias em órbita

Um veículo espacial reutilizável experimental retornou ontem à China depois de passar 276 dias em órbita, informou a agência de notícias oficial Xinhua. O sucesso deste teste “marca um avanço importante na pesquisa de tecnologia de naves espaciais reutilizáveis”, informou a agência, sem especificar o local de pouso do aparelho. A reutilização de veículos espaciais “vai fornecer uma maneira mais conveniente e económica de ir e regressar do espaço”, apontou a Xinhua. A China concluiu recentemente um teste de pouso vertical de um foguete, numa plataforma marítima, estabelecendo as bases para a recuperação e posterior reutilização dos aparelhos. Na última década, Pequim fez grandes investimentos no programa espacial e alcançou marcos como o pouso bem-sucedido de uma sonda no lado da Lua não visível a partir da Terra, em Janeiro de 2019, uma conquista que nenhum país tinha alcançado até à data.

Aviso sobre pedido de junção de restos mortais em sepultura perpétua

Eu, Yeung Kwok Hung (楊國雄), nos termos da alínea 3) do n.º 1 e dos n.os 2 a 4 do artigo 26.º-A do Regulamento Administrativo n.º 37/2003, alterado pelo Regulamento Administrativo n.º 22/2019, apresento um pedido da junção das ossadas de Young Ching Cheong

(楊正祥) na sepultura n.º CN-1-E-0292 do Cemitério Municipal de Coloane, nessa sepultura. O defunto cujos restos mortais se pretende juntar era filho da falecida já ali depositada, a primeira inumada, Chio Choi (趙彩).

Venho por este meio informar as pessoas indicadas no n.º 1 do artigo 26.º-A do Regulamento Administrativo acima referido de que podem apresentar objecção por escrito no prazo de 30 dias, contados a partir da data da publicação do aviso, ao IAM. A objecção escrita deve ser entregue no escritório dos assuntos de cemitérios da Divisão de Higiene Ambiental do IAM, sito no 3.º andar do Edifício Comercial Nam Tung, na Avenida da Praia Grande n.º 517.

Se o IAM não tiver recebido objecção por escrito dentro do prazo determinado, o pedido de junção pode ser autorizado.

Aos 9 de Maio de 2023

Yeung Kwok Hungu

Oministro dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, garantiu ontem que “estabilizar as relações” com os Estados Unidos é uma “prioridade”, durante um encontro com o embaixador norte-americano em Pequim, Nicholas Burns.

Segundo uma nota publicada pelo ministério dos Negócios

Estrangeiros da China, Qin lamentou que uma “série de acções erradas” de Washington estivessem a “minar o ímpeto positivo”, gerado pelo “consenso” alcançado entre os líderes dos Estados Unidos e China, Joe Biden e Xi Jinping, respectivamente, num encontro realizado na ilha de Bali, na Indonésia, em Novembro passado.

Segundo Qin, as “acções equivocadas” dos Estados Unidos levaram à “ruptura da agenda acordada de diálogo e cooperação entre os dois lados” e ao “congelamento das relações”.

O ministro chinês exortou Burns a evitar “incidentes” e que os laços entre Pequim e Washington “caiam numa espiral de deterioração” e pediu aos Estados Unidos que “corrijam a sua percepção da China”.

Observando que Pequim “adere aos princípios do respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação” nas suas relações com Washington, Qin disse ter esperança de que os EUA “voltem à racionalidade”

Observando que Pequim “adere aos princípios do respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação” nas suas relações com Washington, Qin disse ter esperança de que os EUA “voltem à racionalidade”.

Qin Gang afirmou ainda que os EUA “devem parar de esvaziar o conteúdo do princípio ‘Uma só China’” e “parar de apoiar as forças separatistas” em Taiwan.

De mau a pior

As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se

Segundo Qin, as “acções equivocadas” dos Estados Unidos levaram à “ruptura da agenda acordada de diálogo e cooperação entre os dois lados” e ao “congelamento das relações”

rapidamente, nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China.

Nos últimos meses as tensões foram renovadas por questões como o derrube em território norte-americano de um balão da China alegadamente usado para fins de espionagem, a posição de Pequim sobre a guerra na Ucrânia e a possível proibição nos EUA da aplicação de vídeo TikTok, desenvolvida pela empresa chinesa ByteDance. A nota da diplomacia chinesa não deu detalhes sobre as afirmações de Burns.

EDP RENOVÁVEIS CONCLUÍDO PROJECTO SOLAR PARA AUTO-CONSUMO AEDP

Renováveis (EDPR) concluiu a construção de um projecto de energia solar de geração distribuída para autoconsumo de 19 Megawatts-pico (MWp) no telhado de uma fábrica na província chinesa de Anhui, informou ontem a empresa, em comunicado.

“A EDP Renováveis (EDPR) concluiu a construção de um projecto de energia solar de geração distribuída para autoconsumo de 19 Megawatts-pico (MWp) na província chinesa de Anhui”, lê-se na nota enviada à comunicação social, que refere ainda tratar-se do “maior parque solar de geração distribuída já concluído pelo grupo

EDP nas instalações de um cliente”.

O projecto, cuja construção começou no início do ano, foi instalado no telhado de uma fábrica de electrónica de consumo, tem um contrato de longo

prazo a 20 anos e está estruturado com 35.000 painéis solares.

Segundo a empresa, vai gerar mais de 22 Gigawatts-hora (GWh) de energia por ano, o que equivale a compensar cerca de 19.000

toneladas de emissões de carbono (utilizando o factor de emissão da China de 0,828 quilogramas de dióxido de carbono equivalente por Quilowatt-hora de eletricidade produzida (kg CO2e/kWh)).

“Este projecto faz parte da capacidade instalada adicional de 150MWp de energia solar que a EDPR quer desenvolver na China e do compromisso em investir em projectos distribuídos e em centrais solares de larga escala, de forma a apoiar o objectivo do país de atingir emissões líquidas zero de carbono até 2060”, lê-se no comunicado. Através da aquisição da Sunseap em 2022, a EDPR tem mais de 730 Megawatts (MW) de capacidade solar nos mercados da região Ásia-Pacífico (APAC), representando atualmente 5 por cento do portfólio global de energias renováveis da empresa.

10 china www.hojemacau.com.mo
9.5.2023 terça-feira
PUB.
PEQUIM PEDE AOS ESTADOS UNIDOS PARA “ESTABILIZAR AS RELAÇÕES”
A diplomacia chinesa continua a desenvolver esforços para que as relações entre as duas maiores economias mundiais alcancem uma plataforma de entendimento estável
TWITTER

Jogos com fronteiras

Comité Olímpico Internacional alertado para “politização”

AChina expressou preocupação ao Comité Olímpico Internacional (COI) com a “politização de eventos desportivos”, após incidentes como o boicote diplomático liderado pelos Estados Unidos aos Jogos de Inverno de 2022 e erros na execução do hino chinês.

A questão foi levantada durante a reunião entre o presidente do COI, Thomas Bach, em Pequim, este fim de semana, com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o presidente do Comité Olímpico Chinês, Gao Zhidan, informou ontem a imprensa local.

Li disse que a China “sempre atribuiu grande importância ao desenvolvimento do desporto, participou activamente nos assuntos olímpicos internacionais e teve uma cooperação frutífera com o COI”, de acordo com o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

O primeiro-ministro chinês também prometeu “trabalhar com o COI para se opor à politização do desporto e fazer mais contribuições para o movimento olímpico”.

Bach prometeu “defender o espírito olímpico e opor-se à politização do desporto”, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua.

Maus exemplos

Entre os incidentes apontados pela China está o boicote diplomático dos Estados Unidos e alguns dos seus aliados aos Jogos Olímpicos de Inverno, que se realizaram em Pequim, em Fevereiro do ano passado, devido a alegados abusos dos Direitos Humanos de minorias étnicas de origem muçulmana em Xinjiang, no noroeste da China.

Pequim negou as acusações e disse que se opõe a qualquer tentativa de politizar eventos desportivos.

IA POLÍCIA INVESTIGA NOTÍCIAS FALSAS GERADAS PELO CHAT GPT

Apolícia chinesa lan-

çou uma investigação a um portal de notícias que usava o popular programa de inteligência artificial ChatGPT para gerar e divulgar artigos falsos, com o objectivo de obter grandes quantidades de tráfego e lucro.

Os agentes descobriram inicialmente um artigo na Internet que informava sobre o descarrilamento e incêndio de um comboio em Pingliang, na província ocidental de Gansu, que resultou em vários mortos.

Após verificarem que se tratava de uma informação falsa, a polícia abriu uma investigação e descobriu que o artigo foi publicado

por 21 contas do Baidu, o principal motor de buscas chinês, criadas por uma empresa com sede em Shenzhen, no sul da China.

O representante legal da empresa, de sobrenome Hong, e o

seu irmão mais novo são suspeitos de fabricar e espalhar boatos.

Segundo a polícia, o irmão mais novo de Hong comprou um grande número de “contas Baijia”, um serviço fornecido pelo Baidu

que permite aos utilizadores criar e difundir conteúdo original, e editou as notícias com recurso ao programa de inteligência artificial ChatGPT, que gera textos a partir de palavras-chave.

O objectivo era obter uma grande quantidade de tráfego e lucro através da difusão de notícias sensacionalistas e falsas.

A polícia prendeu o irmão mais novo e congelou as contas bancárias relacionadas ao caso.

A investigação ainda está em andamento e as autoridades alertaram os internautas para não acreditarem ou espalharem boatos ‘online’.

Nas últimas semanas, este tipo de ‘chatbots’ tem despertado grande interesse no país asiático, ao ponto de a imprensa oficial já ter alertado para uma possível “bolha” no mercado devido ao “excesso de entusiasmo” com esta tecnologia.

A China também apontou os erros na execução do hino chinês em competições internacionais envolvendo equipas de Hong Kong.

Em Novembro passado, um voluntário tocou uma música ligada aos protestos antigovernamentais que abalaram a região semiautónoma, em 2019, em vez do hino nacional chinês, num torneio de rugby, na Coreia do Sul. Em Fevereiro, algo semelhante aconteceu no Campeonato Mundial de Hóquei no Gelo na Bósnia-Herzegovina.

O Governo de Hong Kong emitiu directrizes para evitar a repetição de tais incidentes e pressionou o motor de buscas Google a tornar o hino nacional chinês como o principal resultado para pesquisas relacionadas.

A China expressou ainda preocupação com o possível uso da bandeira e do hino de Taiwan em eventos desportivos internacionais.

O COI permite que Taiwan compita sob o nome de “Taipé Chinês”, sem se apresentar como uma nação soberana, mas alertou a ilha de que poderia perder o direito de participar em eventos internacionais se mudasse o seu nome para Taiwan.

Durante a visita, Bach felicitou ainda a China pelo sucesso e legado dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022, que registaram um excedente de 350 milhões de yuans, de acordo com dados divulgados pelas autoridades chinesas.

china 11 www.hojemacau.com.mo terça-feira 9.5.2023
GETTY IMAGES

TOMAR FESTA DOS TABULEIROS NO PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL

AFesta dos Tabuleiros, em Tomar, foi inscrita no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, segundo um anúncio publicado ontem em Diário da República, após o período de consulta pública.

O anúncio está datado de 19 de Abril e é assinado pela subdirectora-geral do Património Cultural Rita Jerónimo.

“A inscrição da ‘Festa dos Tabuleiros’ no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial […] [destaca] a importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e os processos sociais e culturais nos quais teve origem e se desenvolveu a manifestação do património cultural imaterial na contemporaneidade”, pode ler-se no anúncio ontem publicado.

A fundamentação científica para integrar a Festa dos Tabuleiros no Património Cultural Imaterial nacional foi entregue em 31 de Julho de 2019, invocando a antiguidade e o facto de esta ser “uma festa única no país e no mundo”, ser “do povo, feita pelo povo e para o povo”, como realçou, na altura, a presidente da Câmara de Tomar, Anabela Freitas.

Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu carácter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel, sendo os tabuleiros da festa de Tomar únicos com esta forma nas tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país.

XANGAI RESTAURANTE PORTUGUÊS SUPEROU PANDEMIA E PREPARA ANIVERSÁRIO

Brunch e companhia

Há dez anos que existe na cosmopolita Xangai, sobreviveu ao duro período da pandemia e agora celebra mais um aniversário. Viva!, fundado por André Zhou, é um dos poucos restaurantes portugueses na cidade chinesa e ganhou este mês o prémio para o “melhor brunch”

UM dos poucos restaurantes portugueses em Xangai foi este mês distinguido com o prémio de melhor ‘brunch’, por uma publicação local, e prepara-se para celebrar dez anos, após sobreviver aos bloqueios

que abalaram a cidade devido à pandemia.

“Foi um período muito difícil, mas não podemos perder tempo a lamentar-nos”, disse à agência Lusa André Zhou, proprietário do Viva!, que se prepara para celebrar uma década, depois de

um ano marcado por bloqueios que paralisaram os negócios na capital económica da China. “Este foi o caminho que escolhi e vou seguir em frente”, assegurou. Em 2022, Xangai foi submetida a medidas de quarentena e bloqueio, no âmbito da estratégia de ‘zero

casos’ de covid-19, que vigorou na China até Dezembro passado. A mais próspera e cosmopolita cidade chinesa foi particularmente afectada por um isolamento de dois meses, na Primavera do ano passado, que ficou marcado por cenas de violência e escassez de

12 eventos www.hojemacau.com.mo
9.5.2023 terça-feira
A That’s Shanghai, revista local em língua inglesa popular entre a comunidade de expatriados, atribuiu ao Viva! o prémio de melhor ‘brunch’, a refeição que combina pequeno-almoço e almoço FOTOS FACEBOOK / TRIPADVISOR

terça-feira 9.5.2023

alimentos e outros bens de primeira necessidade. O Viva! mudou, entretanto, de localização, para Wuding Lu, onde está concentrada a vida nocturna da cidade, e quase triplicou o espaço, para 270 metros quadrados.

Este mês, a That’s Shanghai, revista local em língua inglesa popular entre a comunidade de expatriados, atribuiu ao Viva! o prémio de melhor ‘brunch’, a refeição que combina pequeno-almoço e almoço. A publicação destacou o menu de domingo, composto por frango piri-piri na grelha, costeletinhas de porco ibérico e chouriço assado. “Num verdadeiro estilo português, a proteína ocupa um espaço central nas refeições de fim de semana”, descreveu a That’s Shanghai. “Mas, além de partilhar a cozinha portuguesa com os clientes, [André] apresenta a cultura e o ‘design’, a História e os sabores – e, claro, a célebre hospitalidade – para trazer a verdadeira essência de Portugal para Xangai”, lê-se.

Mão de Paulo Quaresma

Painéis de cortiça e de azulejo cobrem o tecto e as paredes do estabelecimento. Os pratos e os talheres são também ‘Made in Portugal’. “O paladar é importante, mas, no mundo de hoje, o aspecto visual é também muitíssimo importante”, afirmou o empresário. “No mercado de Xangai, o cliente, mais do que comer, quer viver uma boa experiência, e isso abrange a decoração e o conforto do espaço”, notou.

O menu do Viva!, escolhido por Paulo Quaresma, ‘chef’ e consultor português radicado na China desde 2010, inclui ainda amêijoas à bulhão Pato, bacalhau à Brás, feijoada de polvo, arroz de pato ou francesinha, servida com ovo e batata frita e regada no molho especial, fiel à versão ‘tripeira’. A sapateira também sai bem: “É um prato bonito”, observou André Zhou.

“Primeiro está o mercado local”, disse. “Nós escolhemos sempre os pratos que são adaptáveis ao paladar chinês”, contou. “Eu não vou escolher muitos pratos de bacalhau, porque o bacalhau é um prato muito salgado que o cliente local não vai gostar. Nós escolhemos pratos que têm molho de tomate, porque eles estão habituados ao molho de tomate. Os coentros, que são muito usados na cozinha chinesa. O marisco. [Os chineses] também gostam muito das nossas moelas”.

A lista de sobremesas inclui serradura e mousses de chocolate ou de manga.

Natural de Braga, André Zhou fala com sotaque do Norte e torce pelo Futebol Clube do Porto, mas considera-se “filho de dois mundos diferentes”.

Franceses em Macau

Livro do historiador Ivo Carneiro de Sousa apresentado hoje na Fundação Rui Cunha

Éhoje apresentado, a partir das 18h30, na Fundação Rui Cunha (FRC), o mais recente livro do historiador Ivo Carneiro de Sousa, intitulado «Memórias, Viagens e Viajantes Franceses por Macau (16091900)», uma edição em quatro volumes do Instituto Cultural. A apresentação será feita por Joaquim Ramos de Carvalho, da Universidade Politécnica de Macau. Resultado de quase uma década de investigações primárias em bibliotecas e arquivos centrais, regionais e privados da França, esta obra publica e estuda uma colecção de 295 memórias textuais de Macau escritas entre 1609 e 1900. Produzidas pelos mais diferentes autores e editores, estendendo-se por prestigiados viajantes marítimos a missionários, militares, diplomatas, médicos da marinha, geógrafos, jornalistas, cientistas ou os primeiros assumidos turistas, estas memórias em viagem por Macau iluminam os mais diversos aspectos da vida social, económica, das gentes e dos espaços que tornaram Macau um território fundamental para o acesso da França ao grande império do meio.

O menu do Viva!, escolhido por Paulo

Quaresma, ‘chef’ e consultor português radicado na China desde 2010, inclui ainda amêijoas à bulhão Pato, bacalhau à Brás, feijoada de polvo, arroz de pato ou francesinha

Além de partilhar a cozinha portuguesa com os clientes, [André] apresenta a cultura e o ‘design’, a História e os sabores – e, claro, a célebre hospitalidade –para trazer a verdadeira essência de Portugal para Xangai”

Os pais do empresário fazem parte da primeira geração de imigrantes chineses em Portugal: “Começaram por trabalhar em feiras, depois abriram uma loja e um restaurante”. Quando saía da escola, ele ia trabalhar “na caixa ou nas limpezas, a lavar copos, fritar crepes ou a servir à mesa”. “É um negócio que exige muita energia”, disse. “Mas já me está no ADN”. Depois de se licenciar em Economia pela Universidade do Minho, em 2008, André Zhou foi para Xangai estudar língua chinesa. Entretanto, passaram 16 anos: “Foi amor à primeira vista”.

Os bloqueios altamente restritivos durante a pandemia, em Xangai, e fricções geopolíticas causaram uma queda abrupta no número de residentes estrangeiros na China. Mas André Zhou está decidido: “Estou aqui e não quero sair”. “Quero desenvolver a minha carreira e talvez também casar e ficar por cá”, assegurou. “As coisas aqui acontecem com muito mais rapidez”.

guerra do ópio ergueram mesmo um hospital militar em Macau, tratando mais de 2.000 feridos franceses, o profundo interesse da França pelo pequeno enclave do delta do rio das Pérolas mobilizava enorme atenção tanto da imprensa diária quanto de muitas revistas científicas e literárias que, a cruzar a esta biblioteca única de memórias, ajudam a perceber quanto a imaginação francesa da cidade, das suas pessoas e coisas contribuiu generosamente para escorar a representação cultural com que se foi seleccionando em textos e imagéticas o que se queria destacar como património e história de Macau.

Carreira de mérito

Descobrem-se volumes muito ocupados a editar com rigor estas memórias que, deslindando autorias e apurando os seus sentidos narrativos, oferecem também aos leitores vários outros capítulos em que se estuda sobretudo com as metódicas da história cultural a oceânica atenção intelectual, diplomática e política que aproximou sucessivamente a França de Macau, culminando até 1859 com a activa presença dos seus embaixadores nomeados para ministros plenipotenciários na China que transformaram a legação francesa na cidade num dos principais espaços de sociabilidade da elite e cosmopolita da época. Se entre 1857 e 1862 a ofensiva colonial francesa na Indochina e a sua participação militar na chamada segunda

Ivo Carneiro de Sousa é professor associado no Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa na Universidade Politécnica de Macau (UPM). Foi professor catedrático e ‘Associate Dean’ na Universidade da Cidade de Macau entre 2012 e 2018, tendo sido aind vice-reitor, professor catedrático e “personal chair in History” na Universidade de São José, entre 2006 e 2012, além de possuir experiência académica na Europa, nomeadamente nas universidades do Porto, Salamanca e Nápoles. Doutor em Cultura Portuguesa, em 1993, e professor agregado em História, título obtido em 1999, é autor de 22 livros académicos, incluindo quatro títulos referenciais sobre história social, cultural e religiosa de Macau, e três obras importantes sobre história e antropologia cultural de Timor-Leste.

Ivo Carneiro de Sousa publicou mais de 200 artigos científicos em diversas revistas científicas da especialidade, coordenou vários centros e projectos de investigação, encontrando-se desde 2011 a desenvolver ampla pesquisa sistemática em arquivos e bibliotecas públicas e privadas sobre memórias, viagens e viajantes estrangeiros em Macau, de finais do século XVI a 1900.

eventos 13 www.hojemacau.com.mo

www.hojemacau.com.mo

SUDOKU

Faça chuva ou faça sol, ver um filme da trupe de humor britânica Monthy Python é sempre uma boa forma de passar o tempo. “O sentido da vida” anão é excepção. Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle e Terry Jones desfiam as várias fases da vida, do nascimento até à morte, com o sarcasmo que lhes é habitual, mas desta feita mais apurado. O objectivo é descobrir um dos maiores mistérios da existência: o seu sentido. A missão porém acaba por ficar esquecida enquanto os absurdos do quotidiano vão sendo dissecados. Um filme para ver e rever, como qualquer um dos Monty Phyton. Hoje Macau

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf. Tak Fok, R/C-B, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo

TEMPO AGUACEIROS MIN 21 MAX 25 HUM 75-95% UV 5 (MODERADO) • EURO 8.92 BAHT 0.23 YUAN 1.16
www. hojemacau. com.mo
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 54 PROBLEMA 55 8169703425 2751648390 3496520781 0324179856 4618235079 9075864132 7582091643 1203987564 5947316208 6830452917 52 8456302791 2194785036 7635910824 0821693475 5312874609 4760529318 1908467253 6243051987 3079148562 9587236140 54 6905371824 2170498356 4859623701 3064517289 7316082945 5287964130 0492135678 1628750493 9743806512 8531249067 6831740295 9243586170 0154927863 7502631984 3418059627 2670893541 5987412306 8726305419 4369178052 1095264738 6472108953 8217953064 9031465782 5924837601 1759026348 0863541279 2348790516 7106382495 3590614827 4685279130 57 3691584072 0289367415 58 6874913052 2096785314 1345207698 5260194837 0512368749 4789532106 7931846520 3427650981 8103479265 9658021473 4806312975 6259078143 1794235806 7041926538 2583160794 9638754012 60 8349207516 7218356094 6502419783 9035871642 1926043875 4683725901 0751694238 2160938457 3874560129 5497182360 55 32 2367 049273 506398 1896 7035 984130 863059 3985 97 56 57 61840 845 54706 7468 40935 68504 6579 07951 237 73452 5983 0124 7216 9380 342609 792 98043 59 60 CINETEATRO CINEMA BORN TO FLY SALA 1 GUARDIANS OF THE GALAXY VOL.3 [B] Um filme de: James Gunn Com: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista 14.00, 18.30, 21.15 THE SUPER MARIO BROS. MOVIE [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Aaron Horvath, Michael Jelenic 16.45 SALA 2 BORN TO FLY [B] FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Liu Xiaoshi Com: Wang Yibo, Hu Jun, Yu Shi, Zhou Dongyu 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 3 HACHIKO [A] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Ang Xu Com: Feng Xiaogang, Joan Chen 14.15, 19.15, 21.30 GUARDIANS OF THE GALAXY VOL.3 [B] Um filme de: James Gunn Com: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista 16.30 UM FILME HOJE O SENTIDO DA VIDA | MONTY PYTHON PUB. Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo www.hojemacau.com.mo 14 [f]utilidades 9.5.2023 terça-feira

AUMENTO DE CONTRIBUIÇÕES (II)

A SEMANA passada, assinalámos que a Mandatory Provident Fund Schemes Authority (Autoridade para o Regime do Fundo de Previdência Obrigatório) tinha apresentado um relatório ao Governo de Hong Kong, onde propunha aumentar o tecto contributivo para o Hong Kong Mandatory Provident Fund (MPF) (Fundo de Previdência Obrigatório de Hong Kong) de 1.500 dólares de Hong Kong (HKD) mensais para 2.750. Alguns dos residentes de Hong Kong têm na generalidade reservas em relação a esta proposta, porque acreditam que a pandemia não terminou por completo e que a economia ainda não recuperou, por isso pensam que este aumento contributivo não é adequado. Há também quem pense que esta medida só vai aumentar os custos das empresas e que muitas não os vão conseguir suportar. Outras pessoas defendem que o MPF só beneficia as empresas de investimentos e falha quando se trata de apoiar os residentes de Hong Kong. Estas críticas reflectem os problemas deste sistema.

Actualmente, em Hong Kong, foi sugerida uma medida que raramente é mencionada: o aumento da idade da reforma. Esta sugestão implica um adiamento voluntário da reforma. Os problemas sociais dos idosos, as questões relacionadas com o MPF e os problemas com que lida a Segurança Social poderiam ser naturalmente e efectivamente resolvidos de forma gradual e as pessoas poderiam continuar a trabalhar, a receber salários e a ter autonomia financeira depois dos 65 anos.

O aumento da idade da reforma deve ser voluntário e abordado com cuidado, como ficou demonstrado em França. A França alterou recentemente os termos do regime de pensões, estabelecendo um período mínimo de 40 anos de trabalho para que o trabalhador possa ter acesso à reforma por inteiro. Além disso, a idade da reforma foi aumentada dos 62 para os 64 anos. Estas medidas deram origem a uma onda de protestos em todo o país. Não temos ideia do número de pessoas envolvidas nos protestos, nem do número daqueles que apoiam estas medidas, por isso é que o prolongamento voluntário da vida activa pode evitar estes conflitos. Quem quiser continuar a trabalhar para lá da idade da reforma pode fazê-lo, quem não quiser desfruta do merecido descanso. Como é que pode haver conflitos quando a decisão cabe à própria pessoa?

Em primeiro lugar, no quadro actual, o aumento voluntário da idade da reforma deve ser regulado pela legislação, que todos devem respeitar, para evitar situações em que os empregadores não querem contratar trabalhadores com mais de 65 aqnos. Em segundo lugar, para além do aumento da idade de reforma, o funcionamento existente não pode ser alterado, caso contrário o aumento da idade de reforma não seria voluntário. Em terceiro lugar, se o Governo permitir que se faça primeiro o aumento voluntário

Seja qual for o país em que vivemos, o aumento voluntário da idade da reforma parece ser uma forma rápida, simples, directa e eficaz de resolver o problema da segurança na aposentadoria

da idade da reforma nos seus departamentos, as pessoas podiam verificar a sua eficácia, e depois considerar o seu aperfeiçoamento e implementação.

A situação em Macau e Hong Kong é semelhante, o salário médio é de 20.000 patacas, mas Macau só será uma sociedade envelhecida em 2026. Por conseguinte, Macau ainda tem tempo para se preparar. Desde que a pandemia esteja sob controlo e deixe de constituir uma ameaça à sociedade, a economia de Macau pode definitivamente recuperar antes de 2026. Além disso, o Governo de Macau recebeu um relatório, que sugere que deve ser implementado o Fundo de Previdência Obrigatório em 2026. Este regime implica que tanto os empregadores

como os empregados têm de contribuir mensalmente, com uma verba correspondente a 5 por cento dos salários. Se este regime for implementado, o sistema de pensões de Macau continuará a desenvolver-se. Além disso, é preciso notar que, de acordo com o actual sistema de benefícios socias de Macau, as pessoas já recebem cerca de 6.000 patacas mensais depois dos 65 anos. É este o sistema de apoio aos reformados na cidade. A longo prazo, o valor que os reformados auferem deriva da protecção que lhes é assegurada pela segurança social e pelos seus próprios preparativos pessoais. A segurança social é garantida pelo Governo. Devido aos recursos limitados do Executivo, é necessário alocar mais meios para continuar a desenvolver o apoio aos reformados, que poderão ser gerados pelo aumento dos impostos. Mas esta medida não vai agradar a todos. Os preparativos pessoais para a reforma podem ser feitos de várias formas, e uma delas é a criação de um fundo de reforma pessoal. Quanto mais cedo se der início a estes preparativos, melhor será o resultado. O Fundo de reforma dos trabalhadores vai depender da contribuição das empresas, e a contribuição que fizerem para os trabalhadores será uma manifestação de responsabilidade social. Será injusto, quer para as empresas quer para os trabalhadores, pedir um aumento de contribuições se não vier a haver um aumento de segurança na reforma, mas apenas aumento das despesas mensais para ambos os lados. Seja qual for o país em que vivemos, o aumento voluntário da idade da reforma parece ser uma forma rápida, simples, directa e eficaz de resolver o problema da segurança na aposentadoria.

vozes 15 terça-feira 9.5.2023 www.hojemacau.com.mo
legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau •

SUDÃO UNIÃO AFRICANA PEDE CESSAR-FOGO HUMANITÁRIO COM URGÊNCIA

Opresidente da Comissão da União Africana (UA) instou ontem as partes em conflito no Sudão a chegarem a um cessar-fogo humanitário com urgência, no dia em que decorrem as conversações promovidas pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos.

Em comunicado, Moussa Faki Mahamat disse estar a acompanhar de perto as conversações entre as Forças Armadas sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF, sigla em inglês), que começaram ontem em Jeddah.

Para Mahamat, um cessar-fogo humanitário com urgência será o “primeiro passo para permitir o fornecimento imediato de materiais de socorro para aliviar o sofrimento dos civis sudaneses, que têm suportado o peso desta crise”.

O presidente da UA apelou também às partes do conflito para aceitarem a abertura imediata de “corredores humanitários para facilitar a distribuição de bens essenciais e o restabelecimento dos serviços”.

E reiterou “o imperativo de as partes cumprirem o direito internacional humanitário e o direito internacional dos direitos humanos e silenciem permanentemente as armas, no supremo interesse do povo do Sudão”.

Moussa Faki Mahamat sublinhou a necessidade urgente de a comunidade internacional conjugar os seus esforços numa acção colectiva para exprimir a sua solidariedade com o povo sudanês em prol da paz, da democracia e do desenvolvimento.

O conflito no Sudão, que começou a 15 de Abril, provocou 700 mortos, 5.000 feridos, 335.000 deslocados e 115.000 refugiados.

TURQUIA GOVERNO AFASTA-SE DE SANÇÕES À RÚSSIA

Oministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, descartou ontem a possibilidade de Ancara vir a unir-se ao programa de sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra a Rússia por causa da invasão da Ucrânia.

Cavusoglu disse que o Governo de Ancara não vai juntar-se às sanções “unilaterais” contra Moscovo, tentando manter a postura de neutralidade em relação ao assunto, disse o chefe da diplomacia turca à estação de televisão Lider Haber.

Brancura fatal

Cidadã filipina infectada com gripe A morre após tratamento cosmético

UMA mulher oriunda das Filipinas morreu no sábado em circunstâncias que as autoridades ainda estão a investigar, sem haver, para já, uma causa de morte apurada. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), a mulher, com idade na casa dos 30 anos, sentiu-se mal depois de ter sido submetida a um tratamento cosmético clandestino de clareação da pele.

A vítima deu entrada nos serviços de urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário na sexta-feira, com sintomas de febre alta sem conseguir responder a questões, apesar de estar consciente, onde lhe foi diagnosticada gripe A.

A sua colega de quarto informou as autoridades de que no dia em que se sentiu mal, a mulher teria recebido uma de três doses intravenosas de um produto para clarear a pele num apartamento na Travessa dos Ca-

lafetes, perto do Jardim Camões. As autoridades sublinham que já no dia anterior ao “tratamento” cosmético, a vítima teria sido afectada por febre.

Branca da cobra

De acordo com a PJ, a administração das injecções terá sido feita por uma empregada doméstica, oriunda da Indonésia. No apartamento, foram encontradas

No apartamento foram encontradas grandes quantidades de material de clareação de pele, assim como seringas para administrar os produtos, que terão chegado a Macau por via postal

grandes quantidades de material de clareação de pele, assim como seringas para administrar os produtos, que terão chegado a Macau por via postal.

A mulher acabou por ser detida e admitiu ter servido dez outras pessoas, cobrando 1.000 patacas por tratamento. Quanto às habilitações para administrar as clareações, apesar de não ter qualificações profissionais para o fazer, a suspeita argumentou ter efectado alguns cursos de enfermagem, onde aprendeu a administrar injecções, na Indonésia há mais de uma década.

Segundo o jornal Ou Mun, a PJ indicou que se as autoridades apurarem que a causa de morte foram as injecções, a mulher pode responder criminalmente.

Para já, o caso foi encaminhado para o Ministério Público pela suspeita dos crimes de usurpação de funções e por praticar actos médicos sem licença para o fazer. Nunu Wu com J.L.

EUA / Coreia do Sul Maiores exercícios com fogo real da sua história

Os Estados Unidos e a Coreia do Sul vão realizar entre 25 de Maio e 15 de Junho as maiores manobras conjuntas com fogo real da sua história, para celebrar o 70.º aniversário da aliança e o 75.º da criação das

Forças Armadas sul-coreanas, foi anunciado no domingo. Em comunicado, o Ministério da Defesa da Coreia do Sul indicou que as manobras vão-se concentrar no Campo de Tiro de Soungjin, 52 quilómetros

a noroeste da capital, Seul, segundo noticiou a agência sul-coreana Yonhap. Nestas operações vão ser usados aviões de combate F-35A, helicópteros de ataque AH-64 Apache, carros de combate K2

e lança-mísseis Chunmoo. Os últimos exercícios militares semelhantes ocorreram em 2017, quando foram mobilizadas 48 unidades norte-americanas e sul-coreanas e mais de 2.000 militares.

Neste sentido, o ministro sublinhou que a Turquia vai continuar a “levar em consideração” os interesses do próprio país, valorizando a prosperidade da Turquia, que este mês vai a eleições.

“Estamos a garantir o respeito pela Convenção de Montreux”, disse Cavusoglu, referindo-se ao acordo internacional sobre o movimento marítimo nos Estreitos do Bósforo e Dardanelos, que regula a navegação de navios de guerra estrangeiros.

O chefe da diplomacia de Ancara criticou directamente os comentários do principal opositor turco, Kemal Kiliçdaroglu, que admitiu recentemente dar “prioridade às relações com o Ocidente e não com o Kremlin» em caso de vitória nas eleições do próximo dia 14 de Maio.

Para Cavusoglu, trata-se de uma afirmação incoerente porque, Kemal Kiliçdaroglu, acusou o ministro, disse no passado “que nada iria fazer para ameaçar as relações entre a Turquia e a Rússia”. No dia 14 de Maio realizam-se eleições gerais e presidenciais na Turquia.

terça-feira 9.5.2023
“Quem lê muito e anda muito, vai longe e sabe muito.”
PUB.
OLGA SANTOS

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.