Hoje Macau 21 JUN 2017 #3836

Page 1

CARL CHING

Sufrágio universal faz falta

h

QUARTA-FEIRA 21 DE JUNHO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3837

JULIE O’YANG

As cores do arco-íris chinês

GCS

SOFIA MARGARIDA MOTA

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

HABITAÇÃO PÚBLICA

Maldito concurso PÁGINA 4

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

hojemacau

REVISTA MACAU

ENTREVISTA

‘‘Meu filho, um dia todo este bairro será teu’’ PÁGINA 7


ENTREVISTA

CARL CHING LÍDER DA ASSOCIAÇÃO SONHO MACAU

Entrou nas lides políticas em Hong Kong, há mais de três décadas, na sequência da participação activa num associação de cariz social. Membro de uma lista candidata às legislativas em 2013, Carl Ching é desta vez o cabeça-de-lista da Associação Sonho Macau. Tem o sufrágio universal como principal cavalo de batalha, mas também diz preocupar-se com as contas públicas, o património e a cultura Entrou no mundo da política, não em Macau mas em Hong Kong, há já vários anos. Como é que surgiu esse interesse? Fui para Hong Kong depois de ter concluído os estudos na Escola Secundária Pui Ching. Já depois de lá estar a viver, tentei candidatar-me às eleições distritais, mas não cheguei a ser oficialmente candidato, porque não consegui assinaturas suficientes. Tinha uma participação activa em associações da área dos serviços sociais e pensava que a candidatura poderia ser uma maneira de expressar a opinião dos cidadãos. Também participei na realização de actividades de luta pela democracia. Em Hong Kong, é relativamente fácil ser-se candidato aos conselhos distritais, mas claro que é difícil conseguir um assento. A situação é diferente em Macau. E como foi essa experiência em Hong Kong? A situação de Hong Kong é muito politizada. A política lá foca-se

“Deputados indirectos e nomeados têm uma postura que se opõe às opiniões dos cidadãos” sobretudo na democracia, nomeadamente no Conselho Legislativo. Mas nos conselhos distritais a carga política é menor, porque os residentes votam e o resultado das eleições está directamente relacionado com o trabalho que viram ser feito na área social. É fácil para um membro de um conselho distrital conseguir a renovação do mandato, sendo difícil desafiar quem já lá está e conseguir um assento. Por exemplo, o Long Hair [Leung Kwok-hung, deputado ao Conselho Legislativo] desafiou um membro da Aliança Democrática para a Melhoria e o Progresso de Hong Kong, mas não conseguiu ser eleito. Faltavam-lhe mais de 200 votos. Ainda assim, foi um bom resultado. A sua intervenção política em Hong Kong tinha também como objectivo o sufrágio directo universal para o Chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo? Apoiei o sufrágio universal para ambas as eleições. Penso que existe esta necessidade, quer em Hong Kong, quer em Macau. A partir do momento em que me mudei para Hong Kong, deixei de prestar tanta atenção ao que foi acontecendo em Macau. Depois, em 2010, cheguei à conclusão de que as eleições aqui no território se assemelhavam ao referendo que, à época, houve em Hong Kong – o referendo que envolveu os cinco distritos, em que cada um deles solicitou a um deputado para deixar o cargo, para que os substitutos fossem eleitos por toda a população. Nesse mesmo ano obtive o Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Macau e em 2013 participei nas eleições legislativas, juntei-me a uma lista. Pensei que seria uma oportunidade de representar as opiniões dos cidadãos e acreditava que em Macau era necessário lutarmos pelo sufrágio universal. Como é que olha para o processo democrático em Macau, em comparação com o de Hong Kong? Em Macau não se fala muito sobre o sufrágio universal. As pessoas pensam que não precisam de lutar por isso. Mas considero que se trata de uma forma de pensar incorrecta. Na

“Se fosse adoptado o sufrágio universal antes de 1999, os deputados seriam todos macaenses ou portugueses. Por isso, durante aquele período, justificava-se a nomeação.” Lei Básica não está previsto qualquer conteúdo relativo ao sufrágio universal, mas tal não representa que não possa existir. Os residentes de Macau têm direito a casar e a ter filhos. Mas a Lei Básica não diz quando é que as pessoas se podem casar e ter crianças. Será que os residentes precisam de esperar pela permissão do Governo Central para se casarem? Não, o casamento tem que ver com a decisão dos indivíduos. Segundo a lei, caso haja dois terços dos deputados de acordo, a metodologia das eleições pode ser alterada, o que significa que é possível alcançar o sufrágio universal. É óbvio que não é nada fácil que dois terços dos deputados estejam de acordo com essa ideia. Por outro lado, se continuarmos a adoptar os métodos utilizados durante a Administração portuguesa, o direito da população local de eleger e de ser eleito continuará a ser restringido. Por que tem o Chefe do Executivo o direito de nomear sete deputados? Durante a Administração portuguesa, esta medida dava jeito porque, na altura, se fosse implementado o su-

“O Governo Central não proíbe a implementação do sufrágio universal, só diz que o povo de Macau deve amar a pátria. Mas como é que definimos o conceito de amar a pátria?”

frágio universal, os chineses teriam receio. Hoje em dia, dizemos que os locais não reagem de forma activa à política mas, naqueles tempos, as pessoas eram ainda mais passivas. Se fosse adoptado o sufrágio universal, os deputados seriam todos macaenses ou portugueses. Por isso, durante aquele período, justificava-se a nomeação. Constata que, desde então, houve alterações no modo como a população lida com a política. Hoje em dia há muitos estudantes universitários e a população queixa-se através do canal de rádio. O que se passou com o regime de garantia dos titulares do cargo de Chefe do Executivo e dos principais cargos permitiu-me perceber que os deputados eleitos pela via indirecta e os nomeados pelo Chefe do Executivo têm uma postura que se opõe às opiniões dos cidadãos. Em 2013, dos dez deputados eleitos por via directa, só três votaram contra esse regime. Esses três deputados têm coisa um aspecto em comum: defendem o sufrágio universal. A proposta levou 20 mil pessoas às ruas e sete mil manifestaram-se em frente à Assembleia Legislativa (AL). Os manifestantes pediam que a proposta fosse retirada, mas os deputados não o fizeram. Os seis deputados oriundos de três listas, que apoiavam o regime, tiveram menos votos do que o número total de manifestantes. Porque é que não apoiam o sufrágio universal? Porque o “avô” [o Governo Central] não gosta. Os programas políticos desses deputados não foram feitos com base nas necessidades dos residentes. Além disso, não fiscalizam bem os trabalhos do Governo e deixam engordar os funcionários dos principais cargos da função pública. Por isso, o objectivo da minha candidatura é fiscalizar a acção do Governo e mostrar as opiniões reais dos cidadãos. Ainda em relação ao processo democrático em Macau, entende que existem condições para se ir mais longe? O processo democrático em Macau pode ser acelerado, porque aqui não há tanta polémica como

SOFIA MARGARIDA MOTA

2


3 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

em Hong Kong, onde existe uma grande divergência de opiniões. Há quem diga que isto se deve à administração de C.Y. Leung. Acredito que, se as pessoas de Macau não querem ver acontecer o que sucedeu em Hong Kong, devem caminhar o mais rapidamente possível para a democracia. O Governo Central não proíbe a implementação do sufrágio universal, só diz que o povo de Macau deve amar a pátria. Mas como é que definimos o conceito de amar a pátria? Por outro lado, as pessoas de Macau são muito inteligentes. Este ano realizam-se as primeiras eleições após o regime de garantia dos titulares dos principais cargos. Se o Governo não for composto por membros eleitos pelos votos da população, por melhores que sejam, as medidas não fazem sentido. Por isso, vamos tentar que mais de metade dos eleitores apoiem listas de candidatos com programas políticos relativos ao sufrágio universal, para que possam substituir os deputados que actuam contra as opiniões dos cidadãos. Apelo aos eleitores que votem pelas listas que apoiam o sufrágio universal. Acredita que consegue ser eleito? Não sei ainda. Mas fizemos bem os trabalhos de preparação. No entanto, as eleições deste ano são mais difíceis. Em primeiro lugar, por causa da privacidade, é difícil obter o número de bilhete de identidade dos eleitores para eles subscreverem o pedido de reconhecimento. Depois, as pessoas têm medo de arranjarem problemas e de serem acusadas de assinar em pedidos diferentes, pelo que respondem todas que já assinaram outra lista. Ouvi dizer que alguns candidatos tentam recolher mais assinaturas do que as necessárias, porque assim os outros candidatos têm menos assinaturas. E alguns candidatos decidiram candidatar-se em duas listas separadas. Quando olhamos para as eleições de 2009 e de 2013, constatamos que há apenas aqueles nove grupos de candidatos. Nas eleições, o resultado não muda. Uma vez que os programas políticos não envolvem o sufrágio universal, isto significa que esses candidatos só seguem as direcções do “avô”. Mas nós também amamos a pátria – só que amamos de um modo muito mais exigente. Expressar a nossa ideia através de manifestações não significa que não amamos a pátria. Se a minha comissão de candidatura não for aprovada, vamos ainda tentar, ainda temos várias coisas para fazer. Mas como já submetemos 340 assinaturas, estamos confiantes. Não sabemos se conseguimos ser eleitos. As pessoas dizem que nós apoiamos o sufrágio universal só porque queremos ganhar os votos dos eleitores. Se acharem que não vale a pena votarem em nós, não o façam. Mas não votem naqueles candidatos que estão contra as opiniões dos cidadãos, que apoiaram a

ENTREVISTA

“O objectivo da minha candidatura é fiscalizar a acção do Governo e mostrar as opiniões reais dos cidadãos.” proposta do regime de garantia dos titulares dos principais cargos. Quem são os seus apoiantes? São pessoas que, nestes anos, se têm manifestado nas ruas, sobretudo contra o regime de garantia dos titulares dos principais cargos. Não só aqueles que se manifestaram nas ruas, mas também os que não querem que os deputados contra a voz dos cidadãos continuem a desempenhar funções na AL. Quais são as principais ideias políticas da Associação Sonho Macau? As nossas ideias principais estão relacionadas com dois aspectos. Em primeiro lugar, a Associação Sonho Macau gostaria que as aspirações da população fossem correspondidas, sobretudo as dos novos eleitores, dos jovens e das pessoas que chegaram depois de 1999. Também prestamos atenção a questões como a arte e a cultura. O sufrágio universal é um dos nossos sonhos. Acreditamos que é difícil tornar os sonhos realidade por causa do sistema político, em que menos de metade dos deputados são eleitos por via directa. Muitas pessoas, sobretudo os jovens, acham que a participação nas eleições não tem qualquer significado. Porque é que temos de seguir as directrizes do Governo Central? Há várias coisas que podemos fazer. Por exemplo, a medida dos cinco dias de trabalho não se aplica a Macau. Como é que descreve as pessoas que fazem parte desta associação? Tem quantos membros? A associação só foi criada no ano passado, sendo que não temos muitos membros. Mas nunca contámos quantos membros temos. Quanto ao número de membros activos, são cerca de dez, são amigos que têm ideias semelhantes. Alguns deles são do sector de jogo, outros são estudantes, por exemplo. Se for eleito, quais são os assuntos que gostaria de ver discutidos? As despesas que envolvem montantes muito elevados devem ser aprovadas pela Assembleia Legislativa. Também defendemos a abertura do concurso para a habitação pública e a preservação do património cultural. Há pouco tempo, a UNESCO emitiu um alerta ao Governo de Macau, pelo que pedimos às autoridades que façam os devidos trabalhos de preservação do património. Vítor Ng

info@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

GCS

Raimundo do Rosário explicou que “quando há pressão, trabalhase mais”. Dessa forma, o Executivo vai abrir concurso para atribuição de 19 mil fracções no último trimestre deste ano

A

PÓS congratular o Governo quanto à abertura do concurso para atribuição de habitação pública, o deputado Au Kam San perguntou a Raimundo do Rosário a razão para anunciar a medida no debate na Assembleia Legislativa (AL). O secretário para os Transportes e Obras Públicas explicou que “quando há pressão trabalha-se mais”. Dessa forma, o Executivo vai abrir concurso para atribuição de 19 mil fracções no último trimestre deste ano. Adeputada Ella Lei, que suscitou o debate sobre a habitação pública, comentou ao HM que espera que “a abertura do concurso aconteça o mais rápido possível”. A tribuna acrescentou que “as pessoas levam meses para entregar os documentos”, sendo ainda necessário um período de apreciação dos pedidos pelos serviços antes de se definir a lista de candidatos e se entregar a chave. A deputada refere que o Governo dispõe, actualmente, de 800 fracções sociais prontas para serem entregues, além de mais 300 que se encontram em manutenção. Ou seja, Ella Lei não encontra razão para que não avance com a abertura imediata de concurso para estas casas.

PROCESSO MOROSO

A fluidez do processo foi uma das preocupações avançadas pelos

Habitação CONCURSO PARA CASAS PÚBLICAS ATÉ AO FINAL DO ANO

Passos de caracol

Raimundo do Rosário anunciou que irá abrir concurso público para atribuição de 19 mil fracções de habitação pública no quarto trimestre deste ano. Quanto ao mecanismo permanente de candidatura, acusado de lentidão, o secretário admite debater o assunto quando a lei da habitação social for revista deputados. Au Kam San enalteceu o pragmatismo de Raimundo do Rosário, mas deixou a ressalva para a morosidade resultante dos vários passos de apreciação dos procedimentos. O deputado pró-democrata sugeriu ao Governo

12223

agregados familiares moravam em fracções sociais e 22096 em económicas, de um universo global de 188564, segundo dados dos Intercensos, em Agosto de 2016.

que o processo seja simplificado com apenas um passo de avaliação. Outra das propostas para agilizar os procedimentos foi avançada por Tommy Lau, que questionou Raimundo do Rosário se o Instituto de Habitação terá reforço de pessoal. A deputada Kwan Tsui Hang também se referiu aos recursos dos serviços como uma desculpa que tem sido dada noutras situações, realçando que é um desperdício construir e não atribuir as casas por ineptidão dos serviços em dar vazão aos pedidos. O secretário para os Transportes e Obras Públicas respondeu referindo que o orçamento para os seus serviços se mantém igual ao ano

passado, ou seja, o IH não será reforçado.

REGIME PERMANENTE

Por seu lado, Song Pek Kei interrogou os membros do Executivo se a acumulação de problemas será uma prática pontual ou parte da cultura governativa. A deputada referia-se ao facto de o Governo deixar ampliar a procura de habitação pública, para depois abrir

800

casas estão prontas para entregar. Falta o concurso

um concurso com um número de fracções que impossibilita o IH de avaliar todos as candidaturas em tempo útil. É de salientar neste domínio que desde 2013 que não é aberto um concurso para atribuir casas públicas. Song Pek Kei considera que o problema pode ser solucionado com a implementação de um regime permanente de candidatura, um mecanismo que pode “tranquilizar a população”. A solução mereceu consenso entre os deputados que intervieram no debate. Ella Lei, em modo de rescaldo, refere que “espera que o Governo reveja a lei tendo este aspecto em consideração, uma vez que a maioria dos colegas que falaram apoia o regime permanente”. Neste domínio, Raimundo do Rosário referiu que os trabalhos para a revisão da lei que rege a habitação social está em curso e que a “proposta de revisão deve ser apresentada mais cedo, ou mais tarde”. O secretário para os Transportes e Obras Públicas acrescentou que quando for discutida a proposta de revisão, os deputados terão oportunidade para discutir a pertinência do regime permanente de candidatura. Ou seja, os cidadãos poderem-se candidatar a habitação pública sem necessidade de concurso. Quanto à avaliação da procura de habitação pública, Raimundo do Rosário reiterou que será apresentado um estudo em Setembro para dar a conhecer a situação. Os deputados Zheng Anting e José Chui Sai Peng sugeriram a entrega de candidaturas pela Internet como um passo significativo para a eficácia das políticas de habitação social. Por um lado, corresponderia à ideia do Governo electrónico, mais próximo da população. Por outro, traria pragmatismo, uma vez que em caso da candidatura não ser bem preenchida não seria recebida, evitando um passo de triagem por parte dos serviços. João Luz e Vítor Ng

info@hojemacau.com.mo


5 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

Função Pública ATFPM CONTRA NOVO SISTEMA DE APRESENTAÇÃO DE QUEIXAS

Comissão para nada

ELEIÇÕES JUSTIÇA DE MACAU QUER ENTRAR NA CORRIDA

LEGISLATIVAS CAEAL APROVA NOVO MACAU

O pedido de reconhecimento de constituição de comissão da candidatura da Associação Novo Macau (ANM) foi aprovado pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. A notícia foi avançada pelo canal chinês da Rádio Macau, que cita Paul Chan Wai Chi, dirigente da ANM. O pedido de reconhecimento foi submetido com 500 assinaturas. A emissora dá ainda conta das declarações de Sulu Sou, que explicou que, com a candidatura, pretende-se dinamizar a Assembleia Legislativa (AL) e garantir o desenvolvimento sustentável de Macau. Sulu Sou referiu também que do programa político constam ideias sobre o aperfeiçoamento do regime da habitação, e acerca da evolução do sistema político e da democracia.

CONTAS SUFRÁGIO DIRECTO COM 25 CANDIDATURAS

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) recebeu um total de 31 pedidos de verificação da admissibilidade entregues pelas comissões de candidatura. Deste total, 25 são para o sufrágio directo e seis para as eleições de base corporativa. Em comunicado, a CAEAL explica que, em relação ao sufrágio directo, já foram verificados seis pedidos. Ontem era o último dia para o cumprimento desta primeira fase com vista às eleições de 17 de Setembro. A partir de agora, não é possível proceder a aditamentos ou substituições na lista dos membros da comissão de candidatura. Se o requerimento não satisfizer algum dos requisitos previstos na lei, a CAEAL notifica o mandatário da comissão de candidatura, que terá cinco dias para corrigir a situação. Até ao dia 29 deste mês a CAEAL toma uma decisão sobre a legalidade de todos os pedidos.

É a reacção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau ao novo sistema de apresentação de queixas para os funcionários da Administração. Pereira Coutinho entende que a comissão de gestão e tratamento será apenas mais uma, sem qualquer utilidade SOFIA MARGARIDA MOTA

A lista Justiça de Macau apresentou ontem o pedido de reconhecimento de constituição de comissão da candidatura às legislativas de Setembro próximo. O movimento liderado por Lei Sio Kuan submeteu 366 assinaturas de eleitores, tendo deixado para o último dia o cumprimento desta formalidade do sufrágio. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a lista deverá ser composta por entre cinco a oito candidatos, oriundos de “grupos vulneráveis e das classes mais desfavorecidas” da sociedade. Lei Sio Kuan afirmou que, com a candidatura, pretende-se prestar atenção a assuntos relacionados com a habitação para os jovens, emprego, serviços médicos e custo de vida.

POLÍTICA

A

Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) não está contente com o novo sistema de apresentação de queixas criado pelo Governo, publicado na passada segunda-feira em Boletim Oficial. O regime ainda não entrou em vigor – só em Setembro é que tal acontece –, mas o movimento liderado por Pereira Coutinho detectou já uma lista de problemas. Para o também deputado, não há dúvidas de que a comissão responsável pela análise das queixas “será mais uma das muitas comissões que já existem em Macau, pouco efectivas e de fraca utilidade”, que contribuirá para “o dispêndio do erário público”. Em nota de imprensa, a ATFPM começa por destacar “a suposta vontade do Governo” de combater as ilegalidades dentro dos serviços públicos. Mas, para Pereira Coutinho, este desígnio do Executivo peca, desde logo, pela forma de apresentação das queixas, que terão de ser assumidas pelos seus autores. “Alegam que ‘as queixas não podem ser anónimas porque podem envolver apenas duas pessoas’ deixando de fora situações em que mais de duas pessoas se comprometem a agir em conjunto para praticar ilegalidades”, observa a associação. Teme-se que as denúncias feitas resultem em “perseguição conjunta do grupo até o quei-

“Se o actual sistema no CCAC fosse fiável e merecedor da confiança dos trabalhadores, não haveria necessidade de implementar este novo regime.” PEREIRA COUTINHO PRESIDENTE DA ATFPM

xoso ser ‘escovado’ do posto de trabalho”. O director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) garantiu, em declarações aos jornalistas, que as queixas anónimas poderão ser alvo de acompanhamento. Também aqui a ATFPM tem dúvidas, perguntando quais serão os critérios para a aceitação (ou não) de queixas não identificadas.

CONFIANÇA ZERO

O responsável pelos SAFP acredita que a obrigatoriedade de identificação do autor não fará com que as pessoas desistam da apresentação das queixas. “Esta afirmação é como querer “tapar o sol com a peneira’”, rebate Pereira Coutinho. Os anos de experiência da ATFPM dizem-lhe que, mesmo existindo um sistema paralelo no Comissariado contra a Corrupção (CCAC), “não tem sido fácil apresentar queixas por medo de represálias”. O presidente da associação vai mais longe: “Se o actual sistema no CCAC fosse fiável e merecedor da confiança dos trabalhadores, não haveria necessidade de implementar este novo regime”. As reservas de Pereira Coutinho estendem-se ainda ao sistema de gestão e tratamento de queixas, que estará a cargo de uma comissão. O deputado assinala que os membros deste grupo serão propostos pela secretaria da Administração e Justiça, pelo que estarão dependentes da tutela. “Não acreditamos que essas pessoas escolhidas pela secretaria da Administração e Justiça possam inspirar confiança e credibilidade junto dos trabalhadores da sua tutela, muito menos dos trabalhadores das outras tutelas”, atira Coutinho. O presidente da ATFPM é peremptório na conclusão a que chega: “Os princípios invocados serão meros slogans como quase sempre fomos habituados no passado”. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com


6 POLÍTICA

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

Macau parte 2

A

ideia de criação de um “quarto espaço”, já apresentada pelo Governo, voltou a ser objecto de uma interpelação oral apresentada pelo deputado Si Ka Lon. O número dois de Chan Meng Kam na Assembleia Legislativa defende que o novo aterro deverá ter a mesma dimensão que a RAEM já possui. “Vão efectuar uma avaliação global, partindo do desenvolvimento a longo prazo de Macau, para pedir ao Governo Central a construção de 30 quilómetros quadrados de terrenos no quarto espaço, para criar mais uma parte nova de Macau?”, questionou o deputado. Si Ka Lon diz ainda serem necessários mais estudos para o planeamento deste futuro aterro. “Concordo plenamente com a criação de um Macau novo, para atenuar a

TIAGO ALCÂNTARA

Si Ka Lon quer “quarto espaço” com dimensão igual à do território

grave contradição entre as pessoas e os terrenos. As autoridades já realizaram, em conjugação com a tendência do crescimento populacional e a exigência de criar uma cidade habitável e adequada ao turismo, alguma avaliação sobre os recursos de solos necessários para a concretização deste objectivo?”, lançou. Ao nível das dificuldades existentes para a aquisição de habitação, Si Ka Lon pede que sejam criados incentivos para os jovens que queiram comprar a sua primeira casa. “Em relação às dificuldades na aquisição de habitação por parte dos jovens com idade inferior a 35 anos, de entre os diversos estudos encomendados pelas autoridades, já foram apresentadas algumas sugestões específicas? Vão tomar como referência a prática da região vizinha, lançando em Macau o “plano de primeira aquisição de imóvel”, para que as famílias dos jovens e da classe média consigam suportar os encargos com a habitação?”, rematou. A.S.S.

OBRAS VIÁRIAS MELINDA CHAN PEDE CALENDÁRIO

A

deputada Melinda Chan interpelou o Governo quanto à necessidade de elaboração de um calendário para a realização de obras nas vias públicas. “O Governo deve desenvolver um calendário respeitante ao desenvolvimento de obras nas vias públicas da Taipa e efectuar uma fiscalização rigorosa para as obras serem concluídas a tempo, melhorando assim a rede rodoviária da Taipa em geral”, defende a deputada, que acredita que a situação piorou bastante desde que o metro ligeiro começou a ser construído. “Desde o início das obras do metro ligeiro que a situação do trânsito nas ilhas piorou.Actualmente, estas estão praticamente finalizadas, mas ainda há muitas obras de grande envergadura e obras nas vias públicas, como flores a brotar, por isso não há melhorias quanto ao problema dos engarrafamentos.” Melinda Chan alerta para o facto de “o ambiente do trânsito continuar muito complexo, levando a muitas inconveniências, tanto para os residentes que utilizam os transportes públicos,

como para aqueles que conduzem a sua própria viatura”. Ainterpelação oral que a deputada apresentou ao Executivo inclui ainda críticas ao sistema de parques de estacionamento. “O Governo deve criar mais zonas de estacionamento de duração limitada, oferecendo mais lugares, para satisfazer as necessidades da população relativamente ao estacionamento nocturno.” Melinda Chan lembra ainda que, no parque de estacionamento do parque central da Taipa, continua a não existir um meio electrónico de pagamento, através do Macau Pass, apesar de este auto-silo ter 2600 vagas para veículos. A deputada entende, por isso, que deve ser melhorado o sistema de pagamento nos parques de estacionamento públicos. Os membros do Executivo terão de ir à Assembleia Legislativa dar explicações sobre esta matéria. O debate que servirá para responder a esta interpelação oral ainda não está agendado. A.S.S.

PUB

Anúncio

Concurso Público para Prestação de Serviços de Fornecimento de Leite e Leite de Soja às Escolas nos anos escolares de 2017/2018 e 2018/2019 1.

Entidade que põe o serviço a concurso: Fundo de Acção Social Escolar.

2.

Modalidade do concurso: concurso público.

3.

Objecto do concurso: fornecimento de leite ou leite de soja nos dias lectivos aos alunos do ensino infantil ao 6.º ano do ensino primário, das escolas da Região Administrativa Especial de Macau, participantes no “Programa de Leite e Leite de Soja”.

4.

5.

6.

Período da prestação dos serviços: do mês de Outubro de 2017 ao mês de Julho de 2018 e do mês de Outubro de 2018 ao mês de Julho de 2019. Prazo de validade das propostas: é de noventa dias, a contar da data do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no programa do concurso. Caução provisória: $947 000,00 (novecentas e quarenta e sete mil patacas), a prestar, mediante garantia bancária aprovada nos termos legais ou depósito em numerário, à ordem do Fundo de Acção Social Escolar, no Banco Nacional Ultramarino (Conta n.º 9003857873).

7.

Caução definitiva: 4% do preço total da adjudicação.

8.

Preço base: não há.

9.

Condições de admissão: podem candidatar-se as pessoas singulares e pessoas colectivas que possuam registo comercial na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis de Macau e que exerçam a actividade de venda de produtos alimentares há um ano ou mais.

10. Local, data e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Arquivo e Expediente Geral da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Avenida de D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar; Data e hora limite (Nota 1): até às 12:00 horas do dia 12 de Julho de 2017.

(Nota 1):

Em caso de encerramento da DSEJ na data e na hora originalmente determinadas para a entrega das propostas, por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora limite para a entrega das propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. A data e a hora do acto público do concurso estabelecidas no número 11 serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte à data limite para a entrega das propostas.

11. Local, data e hora do acto público do concurso: Local: sala de reuniões, na sede da DSEJ, Avenida de D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar; Data e hora (Nota 2): às 10:00 horas do dia 13 de Julho de 2017. (Nota 2):

Em caso de encerramento da DSEJ na data e na hora originalmente determinadas para o acto público do concurso, por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora estabelecidas para o acto público do concurso serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte.

Em conformidade com o disposto no artigo 27.o, do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho, os concorrentes ou os seus representantes legais devem estar presentes no acto público do concurso para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos constantes nas suas propostas. 12. Local, data e hora para exame do processo e obtenção da cópia: Local: Secção de Arquivo e Expediente Geral da DSEJ, Avenida de D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar; Data: a partir da data de publicação do presente anúncio e até à data do acto público do concurso; Hora: dentro das horas de expediente.

Outras observações: os interessados podem obter a cópia do processo do concurso, mediante apresentação da cópia do modelo M/8 (Contribuição Industrial - Conhecimento de Cobrança), cópia do modelo M/1 (Contribuição Industrial – Declaração de Início de Actividade/Alterações) ou carimbo da pessoa colectiva (qualquer uma das formas referidas) e o devido registo. 13. Critérios de apreciação das propostas e respectivos factores de ponderação: ﹣ Preço das bebidas: 30% ﹣ Ingredientes das bebidas: 25% ﹣ Experiência do concorrente no fornecimento de leite e/ou leite

de soja: 15%

﹣ Histórico das marcas das bebidas: 15% ﹣ Certificado de qualidade das bebidas: 10% ﹣ Informações sobre os veículos do concorrente utilizados no transporte de leite e/ou leite de soja para as escolas: 5% 14. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes devem comparecer na sede da DSEJ, na Avenida de D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar, a partir da data de publicação do presente anúncio e até à data limite para entrega das propostas do concurso público, para tomarem conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Aos 15 de Junho de 2017. A Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Acção Social Escolar, Leong Lai(A Directora)


7 SOCIEDADE

HOJE MACAU

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

A tradicional festa do São João esteve ameaçada, mas há arraial no próximo fimde-semana no bairro de São Lázaro e, afinal, ocupa mais espaço do que nas edições anteriores. A organização também conta com mais uma entidade: a Associação dos Jovens Macaenses

São João ARRAIAL COM MAIS ESPAÇO EM SÃO LÁZARO

Por esse bairro acima

Q

UE o arraial, um dia, ocupe o bairro todo”, são as palavras da presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António, visivelmente satisfeita não só com a permanência da festa popular no Bairro de São Lázaro, como, dada a adesão, com o alargamento do próprio espaço para acolher mais uma edição do arraial. O evento esteve ameaçado quando a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego quis impedir a sua realização naquela zona, mas o bom senso acabou por ganhar. “As pessoas acabaram por ponderar e perceber que era melhor continuar a ter esta festa e manter a atracção para os turistas que já vêm para o arraial, nomeadamente de

Hong Kong”, disse ontem Amélia António na apresentação de mais uma edição do São João. Valores mais altos se levantam e, neste caso, “o valor das coisas acaba por se impor”, sublinhou. Além de manter a localização, a festa vai ter, afirma a presidente da CPM, “um bocado mais de rua”. A razão, apontou a responsável, tem que ver com o cada vez maior número de interessados em participar através da exploração das barraquinhas que

a organização coloca ao dispor, gratuitamente, de quem quiser. A festa vai contar com cerca de 40 tendas comerciais, sendo que, admite o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, os esforços vão continuar a ser por um crescimento constante e por, finalmente, o arraial de São João poder vir a ser considerado na agenda da própria Administração. Já Amélia António pretende que, no futuro, “todas

“As pessoas acabaram por ponderar e perceber que era melhor continuar a ter esta festa e manter a atracção para os turistas que já vêm para o arraial, nomeadamente de Hong Kong.” AMÉLIA ANTÓNIO PRESIDENTE DA CASA DE PORTUGAL EM MACAU

as casas estejam decoradas para a festa”. A razão, aponta, é este poder vir a ser um factor de diferenciação relativamente a outros eventos no território e mesmo na região.

FESTA PARA TODOS

Mais do que uma festa portuguesa, o Arraial de São João pretende vir a ser a festa de todos e para todos. A comissão organizadora lamenta, no entanto, que a maior adesão, nomeadamente às tendas comerciais, seja feita por portugueses, sendo que o objectivo é de que, com o tempo, os pedidos comecem a vir das várias comunidades que integram o território. Miguel de Senna Fernandes sublinha ainda o empenho que a organização tem tido em tentar fazer entender a população

de que não se trata apenas de uma festa de portugueses. Para o responsável da ADM, os contactos são feitos anualmente com as associações de moradores. No entanto, se por um lado estas entidades não se mostram com vontade de fazer parte das actividades, por outro, afirma, “são cada vez mais os membros da comunidade chinesa que aproveitam este fim-de-semana para ir a São Lázaro e assistir a uma festa diferente”. Foi também ontem assinado o documento de adesão da Associação de Jovens Macaenses ao protocolo da comissão organizadora do Arraial de São João. Para Amélia António, é mais “um novo fôlego de capacidade e trabalho” que se junta à iniciativa. O Arraial de São João tem anualmente um orçamento fixo entre 400 mil a 500 mil patacas, um apoio dos Serviços de Turismo que se destina a assegurar as despesas básicas inerentes à logística do evento. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


8 SOCIEDADE

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

Droga ARTM DESTACA SUCESSO DO PROGRAMA DE SERINGAS

Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau, diz que é cedo para avaliar o impacto da nova lei de estupefacientes, mas destaca o sucesso do programa de recolha de seringas

A

INDA é cedo para avaliar os impactos práticos da nova lei de proibição da produção, do tráfico e do consumo ilícitos de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, que agravou as molduras penais para os consumidores. Quem o diz é Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), que organiza, no sábado, uma palestra sobre o consumo e tráfico de drogas, através do projecto Be Cool. “A maior parte dos casos que estão a ser julgados baseia-se ainda na lei antiga. Vai demorar um certo PUB

tempo até termos uma ideia se a nova lei está a resultar ou não”, apontou ao HM. Passaram apenas seis meses desde que a nova lei entrou em vigor, sendo que Augusto Nogueira destaca o sucesso do programa de recolha de seringas. “Os programas de metadona e distribuição de seringas estão a ser bastante efectivos, e é por isso é que levámos quase com um ano e meio com zero novas infecções entre os consumidores de droga”, frisou. Apesar do agravamento das penas implementado com a nova legislação, Augusto Nogueira nega que em Macau exista uma política de tolerância zero em relação aos

consumidores de estupefacientes. “Não falo da total descriminalização, porque seria utópico estar a falar nisso. Mas Macau apoia a redução de danos e por isso é que existe o programa de distribuição de seringas. Existem também outros programas de redução de danos levados a cabo por outras associações.” Ainda assim, “se podem ser feitas mais coisas, ter outro tipo de abertura, ou uma estratégia diferente de encaminhamento, penso que sim, que haveria outros caminhos a seguir”, frisou Augusto Nogueira.

DEBATER DEPENDÊNCIAS

Em Novembro a ARTM organiza a conferência mundial sobre a prevenção, tratamento e redução de danos no campo das dependências, que vai servir também para Augusto Nogueira assumir a presidência da Federação Internacional de Organizações Não-governamentais para a Prevenção das Drogas e Abuso de Substâncias (IFNGO), por um período de dois anos.

HOJE MACAU

Na recolha é que está o ganho

João Goulão, médico e director do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências em Portugal, será um dos oradores de um evento que pretende debater todo o tipo de dependências, não apenas da droga, mas também do álcool e do jogo. Davis Fong, académico da Universidade de Macau, irá falar sobre o jogo. Augusto Nogueira lembra que esta será a primeira vez em que dois pólos diferentes se reúnem: o da criminalização e o do tratamento fora das prisões.

“Um dos meus objectivos é unir estes dois pólos para podermos procurar uma melhor solução para o problema da toxicodependência.” Augusto Nogueira tem também este objectivo enquanto presidente da IFNGO que, explica, está mais posicionada para a criminalização. “Vou tentar modernizar essa entidade para aquilo que, de momento, se está a passar, que é uma maior tendência para a redução de danos, e está mais que provado que tem bons resultados”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


9 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

SOCIEDADE

TRIBUNAL DE SEGUNDA INSTÂNCIA DÁ RAZÃO A RÉUS DO SIN FONG

Recorreram e foram ouvidos. Os processos vão ser apensados e decorrerá apenas um julgamento

A

S duas acções relacionadas com o edifício Sin Fong vão ser julgadas em simultâneo. É o que resulta da decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI), que decidiu conceder provimento a um recurso interposto por três réus, revogando um despacho de um juiz que considerava que os processos deveriam ser avaliados em separado. O TSI teve um entendimento diferente, pelo que serão apensados. Em causa está uma acção instaurada pelo Ministério Público, em representação da RAEM, e outra da iniciativa do Instituto de Acção Social. Os dois processos não têm

PEDRÓGÃO GRANDE SANTA CASA DE MACAU DOA 200 MIL EUROS

os mesmos réus, mas três são comuns. Foram precisamente estes réus – Ho Weng Pio, a Companhia de Engenharia e Construção Weng Fok (construtores do Edifício Sin Fong Garden) e Joaquim Ernesto Sales (responsável pela direcção de obras de estruturas e fundações do edifício) que interpuseram recurso. Na acção, em que é autora a RAEM, pede-se a condenação dos primeiros três réus na restituição de mais de 12,8 milhões de patacas, valor gasto pelo Governo na consolidação de pilares estruturais e na protecção de paredes exteriores, de modo a prevenir o colapso do edifício Sin Fong Garden. Este montante inclui ainda a inspecção do edifício afectado e dos prédios nas imediações. Quanto ao processo movido pelo IAS, pede-se que os três réus indemnizem o instituto pelos encargos e subsídios que assumiu para com os moradores afectados com a situação do edifício Sin Fong. Avaliado o recurso, o TSI entendeu que em ambas as acções a causa próxima é a mesma: a situação perigosa

A Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCMM) decidiu apoiar as vítimas do incêndio em Pedrógão Grande, em Portugal, com um donativo de 200 mil euros. Em comunicado, a SCMM explica que enviou uma mensagem de condolências à Misericórdia de Pedrógão Grande, manifestando “o mais profundo pesar e consternação pela enorme tragédia que se abateu sobre o concelho, com o devastador incêndio do passado fim-de-semana, que causou grande número de vítimas e avultados danos materiais, nas várias localidades atingidas”. Na mesma mensagem, ficou expressa a vontade de apoiar as vítimas através do envio de um donativo no valor 200 mil euros, para que possam ser auxiliadas as famílias mais afectadas pela destruição causada pelas chamas.

HOJE MACAU

Dois processos num só julgamento

do edifício. “Ou seja, numa e noutra haverá que discutir a questão central factual que levou à situação de perigo para os moradores do Sin Fong.” O tribunal nota que o depoimento de testemunhas acabará por ser o mesmo em ambos

SEGURANÇA OPERADORAS JÁ ENTREGARAM RELATÓRIOS

As seis operadoras dos casinos do território já submeteram às autoridades os relatórios sobre o reforço da segurança nas salas de jogo, noticiou ontem o canal chinês da Rádio Macau. A informação foi avançada por Chau Wai Kuong, director da Polícia Judiciária (PJ), que referiu que as propostas estão agora a ser estudadas. Depois de concluída a análise às propostas, a PJ vai voltar a estar reunida com as operadoras e com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, para discutirem os aspectos que podem eventualmente ser melhorados. Em cima da mesa vai estar ainda o aperfeiçoamento do mecanismo de comunicação entre os seguranças dos casinos e a polícia, bem como o aumento de agentes às entradas das salas de jogo. As medidas de reforço de segurança foram exigidas às operadoras pelas autoridades depois de, no início deste mês, um homem armado ter entrado num casino em Manila e ter causado um incêndio que fez 38 vítimas mortais.

os processos, “e da prova que assim se obtiver sairá a resposta central à causa de pedir de traço comum”. Assim sendo, “por razões de economia processual, de celeridade, de redução de custos e de uniformidade de julgamento, é aconselhável

que se proceda à apensação, evitando-se assim decisões díspares para a mesma situação de facto essencial”. Quanto ao facto de as partes não serem as mesmas em ambas as acções, o TSI realça que “na apensação cada uma

das acções não perde a sua autonomia, o que quer dizer que os respectivos processos não se fundem num só”. O Sin Fong Garden foi evacuado em Outubro de 2012 por perigo de derrocada, após a descoberta de fissuras.

SIMULACRO DE INCÊNDIO NO TERMINAL DE KÁ-HÓ

• O Corpo de Bombeiros e a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água ajudaram a Sociedade de Gestão do Terminal de Combustíveis de Macau, Lda., (MOT) a realizar ontem, pelas 11h00, um exercício de incêndio e evacuação no Terminal de Combustíveis do Porto de Ká-Hó. Ao que parece, os resultados foram positivos.


10 CHINA

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

MOÇAMBIQUE APOIO DE 58 MIL DÓLARES PARA FORMAÇÃO

A

ENCONTRO COM OS EUA PARA DEBATER COREIA DO NORTE E MAR DO SUL

Um imbróglio chamado Kim Na sequência do encontro entre Trump e Xi, China e EUA realizam o seu primeiro encontro bilateral sobre segurança. Kim Jong Un vai ficar com as orelhas a arder.

O

desenvolvimento armamentista da Coreia do Norte vai ser a prioridade do primeiro diálogo de segurança e diplomacia entre os EUA e a China, que se realiza em Washington hoje, quarta-feira, informou o Departa-

mento de Estado norte-americano. A reunião é o primeiro resultado do acordo alcançado em Abril entre os presidentes norte-americano e chinês, para intensificar a cooperação de alto nível entre ambos países. Em teleconferência, a encarregada em funções do Departamento

PEQUIM E SEUL EM DIÁLOGO ESTRATÉGICO

A

China e a Coreia do Sul realizaram ontem, terça-feira, em Pequim, o oitavo diálogo estratégico de alto nível entre os seus ministérios dos Negócios Estrangeiros. O porta-voz do MNE, Geng Shuang, informou que o vice-ministro dos NE, Zhang Yesui, e o primeiro vice-ministro dos NE coreano, Lim Sung-nam, co-presidiram o diálogo. Geng, sublinhando que as relações China-Coreia do Sul estão num período crucial, disse que os dois lados trocaram opiniões sobre relações bilaterais, a situação na Península Coreana, e outros assuntos de preocupação comum. Segundo Geng, a China espera que o diálogo desempenhe um papel positivo na promoção da comunicação e a confiança mútua entre os dois lados, e ajude os países a lidar adequadamente com as disputas e melhorar o desenvolvimento das relações bilaterais.

de Estado para os Assuntos da Ásia-Pacífico, Susan Thornton, afirmou que “a Coreia do Norte vai ser uma prioridade nas conversações, com o objectivo de avançar na cooperação com a China para uma resolução pacífica da ameaça nuclear e de mísseis”. Este primeiro encontro vai contar, do lado dos EUA, com os secretários de Estado, Rex Tillerson, e da Defesa, James Mattis, e, do lado chinês, com o conselheiro de Estado Yang Jiechi e o chefe do Chefe de Estado-Maior do Exército, general Fang Fenghui. Os EUA esperam que, com ajuda da China, a Coreia do Norte pare com as violações flagrantes das resoluções da ONU que limitam seu programa de mísseis e o desenvolvimento de armas nucleares. A China deu sinais de colaborar para isolar em alguns aspectos o regime de Kim Jong-Un, que tem em Pequim seu maior aliado comercial e diplomático. Thornton disse esperar que o diálogo sirva para somar a China ao “eco global” de pressão sobre a Coreia do Norte para que Pyongyang respeite as resoluções da ONU e desista da ideia de obter um míssil intercontinental nuclear. Além disso, os EUA esperam encontrar entendimento sobre as disputas no Mar do Sul da China. “A nossa postura é que todas as partes interrompam a construção ou a militarização nesta região para criar um espaço e as condições necessárias para a diplomacia”, indicou Thornton. “Não esperamos resolver todas as nossas diferenças com a China numa ronda de diálogo ou num dia, mas esperamos obter resultados concretos”, concluiu.

China ofereceu um cheque no valor de 3,5 milhões de meticais (cerca de 58 mil dólares) para apoiar iniciativas de formação de jovens moçambicanos. O acto, que teve lugar na segunda-feira, em Maputo, foi testemunhado pelo embaixador chinês, Su Jian, e pelo Secretário-Geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), Mety Gondola. O financiamento faz parte de uma iniciativa intitulada Amizade do Povo Chinês para com a Sociedade Civil Africana. “Ė uma iniciativa que visa apoiar projectos de formação de jovens no âmbito do combate à pobreza. A educação e formação profissional são áreas prioritárias na cooperação entre a China e Moçambique desde os primórdios da luta pela independência de Moçambique, disse o embaixador chinês. O diplomata anunciou que a China vai aumentar este ano 100 bolsas de estudo por forma a oferecer

mais oportunidades de formação aos jovens moçambicanos. Segundo Su Jian, cerca de 500 estudantes moçambicanos frequentam, actualmente, universidades chinesas. No ano passado, mais de uma centena de estudantes moçambicanos licenciados e mestrados regressaram ao país. O diplomata acrescentou que o empresariado chinês que opera no país também tem feito esforços para facilitar a inserção no mercado de emprego de estudantes formados na China. Por seu turno, o Secretário-Geral da OJM disse que “a história permite-nos visualizar o grande contributo da China na construção do nosso país”. “São relações que vêm desde antes da independência nacional. Como jovens estamos apostados em abraçar o povo chinês e eternizar a cooperação. Hoje iniciamos um capítulo em que nos comprometemos em tudo fazer para que a cooperação continue frutífera”, disse Gondola.

ANGOLA CHINA DESTRONADA POR PORTUGAL NAS IMPORTAÇÕES

P

ORTUGAL voltou a ser o país que mais vendeu a Angola, em 2016, apesar de o volume de negócios ter reduzido 12% face a 2015, sendo superior a 1,6 mil milhões de euros, suficiente para destronar a China. Os dados constam do anuário do comércio externo de 2016, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), apenas agora libertado. O documento refere que Portugal atingiu uma quota de 14,89% de todas as importações angolanas, equivalente a 342.517 milhões de kwanzas (1.630 milhões de euros). Já a China viu as compras angolanas caíram 36% de 2015 para 2016, para uma quota de 12,54%, equivalente a um volume de negócios de 253.884 milhões de kwanzas (1.373 milhões de euros). Os Estados Unidos da América tornaram-se no terceiro principal país fornecedor de Angola, com um volume de negócios em todo o ano de 2016 superior a 217.719 milhões de kwanzas (1.770 milhões de euros), que corresponde a uma quota de 10,75%. No plano inverso, a China reforçou a posição de maior

comprador de Angola, com uma quota de 45% das exportações angolanas de 2016 (essencialmente petróleo). Traduz-se em vendas globais 2,187 biliões de kwanzas (11,8 mil milhões de euros), um crescimento superior, em valor, a 28%, face às compras realizadas pela China em 2015. O petróleo bruto representou um peso de 93% de todas as exportações angolanas no último ano. No segundo lugar, a Índia também aumentou as compras (4,92%) a Angola, que em 2016 atingiram os 330.894 milhões de kwanzas (1.789 milhões de euros) e uma quota de 6,89% do total, seguido dos Estados Unidos da América, com uma quota de 5,11% e compraram 245.698 milhões de kwanzas (1.328 milhões de euros) das exportações angolanas, um aumento de 54% face a 2015. Portugal foi apenas o nono destino das exportações angolanas, representando um volume de negócios de 153.536 milhões de kwanzas (830 milhões de euros), um aumento de 8,28% face a 2015, mas ainda assim uma quota de 3,20%.


11 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

DRONES DISTRIBUEM ENCOMENDAS EM ZONAS RURAIS

CHINA

Como cultivar batatas na Lua?

Voos para o futuro O

Primeiro passo para uma colónia humana

A

Amazon foi a primeira companhia a mostrar a possibilidade de entregar pedidos através de drones, mas enquanto a companhia americana ainda investiga esse tipo de tecnologia, a JD.com, da China, já transformou a ideia em realidade. Desde o ano passado que, em algumas regiões do país, especialmente montanhosas e remotas, a imagem de um drone a transportar pacotes é algo habitual. E a companhia, a segunda maior do comércio electrónico chinês depois da Alibaba, planeia uma expansão. “O nosso objectivo são as áreas rurais, onde a infra-estrutura não é boa e o sector de transportes não é tão desenvolvido. Por isso, é muito mais barato enviar drones para lá”, explicou o vice-presidente para Assuntos Internacionais da JD, Josh Gartner. “O grande desafio é o fornecimento de energia aos drones”, explicou o executivo na sede central da JD, um edifício nos arredores de Pequim no qual trabalham milhares de funcionários e onde muitos destes drones são exibidos. Seis dos sete modelos de drone usados pela JD são eléctricos. Apenas o maior deles, um grande equipamento de quase dois metros de envergadura e capacidade para transportar até 30 quilos, é alimentado com gasolina. Os drones,

por enquanto, não levam os pedidos ao comprador final. São recebidos por um encarregado da empresa na cidade mais próxima ou na qual vive o cliente, explicou Gartner. “Depositamos as entregas nas cidades, e ali temos o que chamamos de ‘promotor local’ que o recebe e o leva ao cliente nos últimos passos”, conta o vice-presidente. O espaço aéreo é altamente controlado e o uso de drones é proibido nas cidades chinesas, o que limita o sistema de transporte a regiões rurais. A JD tem permissão para fazer entregas em quatro das 30 regiões administrativas do país. A empresa pode utilizar drones na província de Sichuan,

uma das mais montanhosas do país, Jiangsu, Guizhou e as regiões não urbanas dos arredores de Pequim. Mas a JD quer mais. “Queremos expandir no futuro e actualmente temos 40 drones em operação”, explica Gartnet. Não é acaso que o transporte por drones foi desenvolvido primeiro na China. O país lidera a produção desses equipamentos para uso civil e já possui 45 mil registados. O número real, porém, pode ser muito maior. Na próxima década, a estimativa é que o mercado de drones da China gere US$ 11 mil milhões por ano, segundo um estudo da iResearch. Tanto a JD como sua principal rival, a Alibaba - que concentra 80% do comércio electrónico na China - estão a trabalhar para conseguir um maior avanço sobre as regiões rurais do país, nas quais vivem 650 milhões de pessoas. Enquanto a Alibaba focou na criação das chamadas “aldeias Taobao”, áreas que vivem quase integralmente do comércio electrónico, a JD trabalha na melhoria do serviço de entrega, que não só se limita ao uso de drones, mas também prevê a construção de mini-aeroportos para a utilização coordenada dos equipamentos. Os camponeses das regiões mais remotas do país é melhor prepararem-se a ver pacotes ser entregues pelo ar.

PUB

EDITAL Edital n.º Processo n.º Assunto Local

: 65/E-BC/2017 :132/BC/2017/F :Início de audiência pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) :Travessa de Martinho Montenegro n.º 6, EDF. Kou Yee, parte do terraço sobrejacente à fracção 5.º andar B, Macau.

Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/ SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que fica notificado o dono da obra do local acima indicado, cuja identidade se desconhece, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizou-se a seguinte obra não autorizada: Infracção ao RSCI e motivo Obra da demolição 1.1 Construção de um compartimento com Infracção ao n.º 4 do artigo cobertura metálica, paredes em alvena10.º, obstrução do caminho ria de tijolo, janelas de vidro e gradeade evacuação. mento metálico. 2.

Sendo o terraço do edifício considerado caminho de evacuação, deve o mesmo conservar-se permanentemente desobstruído e desimpedido, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho. As alterações introduzidas pelo infractor nos referidos

3.

4.

5.

espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto caminhos de evacuação e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, a obra executada não é susceptível de legalização pelo que a DSSOPT terá necessariamente de determinar a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou de segurança do edifício. Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, podem os interessados, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data da publicação do presente edital, podendo requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI. O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227).

RAEM, 14 de Junho de 2017

Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man

Centro de Exploração Espacial da Universidade de Chongqing iniciou um projecto que pretende iniciar o cultivo de batatas na Lua já no próximo ano. Baptizada de “Chang’e 4”, a missão será completada através de uma sonda que pousará na face oculta do planeta, carregando um habitat de 3 quilos com sementes de batatas, sementes da flor Arabidopsis thaliana e ainda ovos de bichos da seda. O engenheiro do Centro de Exploração Espacial Zhang Yuanxun está a coordenar as experiências que pretendem criar “mini-ecossistema na superfície lunar”. De acordo com Zhang, o recipiente (de 18 por 16 cm) manterá a humidade e temperatura adequadas a cada forma de vida. “Ailuminação natural da Lua também será levada para o habitat através de tubos de luz, para ajudar ao crescimento das plantas no seu interior”, revelou. Xie Gengxin, designer-chefe do projecto e vice-directora do Centro, disse que a germinação e florescimento das plantas, bem como a incubação dos ovos de bicho da seda, serão transmitidas ao vivo para o mundo todo usando câmaras dentro da cápsula. O objectivo é verificar se as batatas podem crescer e os insectos conseguem sobreviver na Lua. De acordo com a Academia de Ciências da China, este será um passo importante

para estabelecer uma colónia humana totalmente operacional em Marte. O projecto agrega ideias de cientistas e investigadores de 28 universidades chinesas, que estão a trabalhar na projecção do hardware necessário para realização dos diversos testes. Além disso, cientistas das áreas de biologia, telecomunicações, engenharia, materiais, aeronáutica e astronáutica de todo o país estão envolvidos no projecto.

PUB

A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Macau manifesta o mais profundo pesar e consternação pela enorme calamidade que se abateu sobre o concelho de Pedrógão Grande, no passado fim-de-semana, com grande número de vítimas e avultados danos materiais. Presta ainda as sentidas condolências e homenagem à memória de todos quantos pereceram na trágica ocorrência, solidarizando-se com as populações e dirigindo uma palavra de louvor e apreço às forças civis, portuguesas e estrangeiras, e aos milhares de voluntários que lutam para socorrer as vítimas e para controlar as chamas e a destruição. Macau, 21 de Junho de 2017


12

JASON LEI

EVENTOS

“Cabe à fotografia preservar a memória” FOTÓGRAFO

processo foi ter verificado que algumas das imagens que tinha eram de espaços que já não existem. Há lugares que fotografei há anos que, agora, já não estão lá. Foram substituídos por prédios e outras construções. Ao ver estas fotografias, acabei por fazer também outro tipo de escolha para que parte da exposição integrasse fotografias de lugares que já não são mais do que memórias. Acabam por ser documentos. Com o registo em imagens, tenho uma forma de recordar e de fazer recordar aos outros este território que está sempre em transformação. Cabe à fotografia preservar a memória. Esta ideia só me surgiu com a preparação da exposição. Quando comecei a fotografar não pensava nestas coisas. Gostava de fotografar e era isso que fazia. Penso que é inevitável, com o desenvolvimento, que os espaços se modifiquem e acredito que, em breve, Macau venha a ser completamente diferente.

JASON LEI

“A Glimpse of Macau” é a exposição de Jason Lei que está a partir de amanhã na galeria da Creative Macau. Os trabalhos são uma compilação de imagens obtidas em filme nos últimos dez anos. Na altura da inauguração da mostra, é lançado o livro homónimo, para que fique o registo de uma cidade que vai desaparecendo O que vamos ver nesta exposição? “A Glimpse of Macau” apareceu por acaso, após o convite da responsável pela Creative Macau, Lúcia Lemos. Não tinha qualquer ideia acerca do que fazer quando me foi dito que havia um período de tempo em que poderia expor ali. O que fiz foi ir aos meus arquivos e tentar perceber o que poderia acontecer. E o que é que encontrou? Há dez anos que fotografo Macau. Saio para a rua para disparar por hábito, é algo que gosto de fazer. Pensei que poderia fazer alguma coisa com este trabalho contínuo. Peguei nas imagens do arquivo e resolvi ver o trabalho desenvolvido. Escolhi as minhas favoritas e achei que tinha material para a exposição e para o livro que também vai ser lançado amanhã. Eram mais de mil fotografias armazenadas. Como é que fez a selecção tendo em conta tanto material?

Tive de ser criterioso. Além de optar por aquilo que emocionalmente mais me fazia sentido, por exemplo as imagens que demonstrassem algum calor humano, tive critérios mais técnicos. Fui buscar as fotografias que, para mim, apresentavam uma luz mais bem trabalhada, um preto e branco mais perfeito e uma escala de cinzentos de qualidade dentro do que mais aprecio. No entanto, a selecção também acabou por ir mudando. Um aspecto curioso que aconteceu neste

A MAGIA PRESERVADA

H

á no território uma associação disposta a que a fotografia analógica sobreviva e cresça. É a Associação de Fotógrafos a Preto e Branco de Macau, presidida por Jason Lei. Além da preferência pelos métodos tradicionais da fotografia, a importância de fundar uma entidade dedicada ao analógico começou a ser clara para o fotógrafo há quase dez anos. “Comecei a perceber que havia uma população mais jovem que queria conhecer os processos antigos, nomeadamente a revelação na câmara escura”, diz. Em 2010 a ideia concretiza-se e nasce a associação. “Acabei por juntar um grupo de amigos que gostavam de fotografar em filme e, neste momento, temos cerca de 60 membros”, explica. São, na sua maioria, jovens locais que não encontram no ensino da fotografia

digital informação satisfatória, até porque “os fotógrafos mais velhos com conhecimentos na área analógica também se renderam ao sistema digital e os jovens que aprendem fotografia com eles acabam por só saber acerca deste método actual”. No entanto, o digital continua a encantar. “É a magia”, justifica Jason Lei, que explica que o facto de a fotografia se transformar num objecto real feito com as próprias mãos é um dos motivos que cativam quem opta pelo processo tradicional. Das actividades promovidas pela organização, sobressaem as ligadas à formação. “Desenvolvemos seminários e disponibilizamos os meios que temos para que os interessados possam adquirir conhecimentos na matéria e pôr em prática o que vão aprendendo”, diz Jason Lei.

Porquê a escolha do preto e branco? Em primeiro lugar, porque gosto muito. Depois, as imagens foram todas feitas em filme e fui eu que revelei os rolos. Posteriormente digitalizei os negativos para poder fazer a escolha. Por outro lado, o preto e branco é um processo mais associado à memória. Penso que as memórias são a preto e branco. É mais fácil fazer as pessoas recordar com imagens monocromáticas. Um outro aspecto que considero importante é o facto de o preto e branco ter uma imagem mais limpa em que as pessoas se podem aperceber melhor dos detalhes. São maioritariamente fotografias de rua. Sim. Apesar de trabalhar profissionalmente como fotógrafo e, nesse âmbito, ir de encontro ao que me é pedido pelos clientes, quando faço o meu trabalho pessoal é isto mesmo que mais gosto de fazer. Pegar na câmara


13 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

EVENTOS

SOFIA MARGARIDA MOTA

Massive Attack em Hong Kong Já são conhecidos os primeiros nomes do festival Clockenflap

A

analógica e ir pelas ruas à procura dos momentos que vão acontecendo. Gosto de incluir tudo: lugares, pessoas e animais. Na inauguração de “A Glimpse of Macau” vai também lançar um livro. Sim, e é também o meu primeiro livro. É uma publicação que reúne não só os trabalhos expostos, como muitos outros que não tinham espaço para o ser. Como já referi, foram muitas imagens as que recolhi ao longo destes dez anos. Para todo o trabalho, exposição e livro estive cerca de um mês para escolher as que mais se adequavam. Quais são as expectativas relativamente a esta primeira exposição individual? Nunca tinha pensado que seria tão difícil de fazer. Tive de ter um patrocinador e foi muito complicado. Por outro lado, é uma óptima oportunidade para mostrar o meu trabalho pessoal, em que acabei por compilar o que fiz ao longo dos últimos dez anos. Foi bom perceber que, depois de tanto tempo, tenho realmente alguma coisa para mostrar.

Vai continuar com este projecto contínuo? Sim, sem dúvida, penso que este é um trabalho para a vida. Enquanto fotografar vou tentar sempre ir para a rua fazer os meus registos em filme. Porque é que insiste na fotografia analógica, num tempo em que o digital domina a imagem? No processo analógico não se podem ver as imagens que se tiram no momento. Temos de esperar. Temos de as pensar primeiro para que fiquem bem e depois temos de ter paciência: esperar muito tempo até as revelarmos e vermos efectivamente o que conseguimos captar. Gosto muito deste processo. Por outro lado, é um método que, com o tempo, nos dá mais confiança quando disparamos. Com a experiência, vamos vendo o que temos de mudar e melhorar e, passados uns anos, já disparamos com toda a convicção. Depois há outro factor: quando finalmente conseguimos ver a fotografia, a sensação é muito boa e acabamos por dizer com satisfação: eu fiz isto, um produto que envolveu um

processo, um pensamento, tempo e técnica. Quando as pessoas fotografam com um telemóvel, por exemplo, disparam repetidamente e acabam por ter muitas imagens que nunca voltam a ver e muito menos a materializar em impressões. Com o processo analógico, pelo menos o negativo já é uma materialização e, depois de revelado o filme, fazemos uma escolha, imprimimos provas e temos sempre uma impressão. Depois acabamos por ampliar as que mais gostamos. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

INDA faltam cinco meses para Hong Kong receber o maior festival de música que se realiza na região, mas a organização divulgou ontem alguns nomes do cartaz, incluindo aquela que será a principal atracção do evento: os Massive Attack vão tocar no dia 19 de Novembro. Entre os principais convidados para a edição de 2017 do Clockenflap estão ainda a cantora Feist, os Tinariwen e os The Dandy Warhols. Formado em 1988 em Bristol, o trio que compõe os Massive Attack não teve de esperar para ver o trabalho reconhecido: o álbum de estreia, “Blue Lines”, foi lançado em 1991 e o single “Unfinished Sympathy” rapidamente conquistou o público e a crítica. Em 1998, o álbum “Mezzanine” veio confirmar que o grupo de trip hop sabia o que andava a fazer. “Teadrop”, a música a que Liz Fraser empresta a voz, foi nomeada para vários prémios. O disco esteve no primeiro lugar da lista dos mais vendidos no Reino Unido, o que aconteceu em 2003 com “100th Window”, o quarto álbum em estúdio dos Massive Attack. Tanto “Blue Lines”, como “Mezzanine” estão na lista dos melhores 500 discos de sempre da Rolling Stone. A banda recebeu vários prémios ao longo da carreira. Com apenas cinco discos de originais, vendeu mais de 11 milhões de cópias. O concerto de Feist no Clockenflap está marcado para sexta-feira, dia 17 de Novembro, o primeiro dia do festival. A cantora canadiana, que se situa entre o indie e o pop, é também guitarrista e actua tanto a solo, como no

MAIS MÚSICA Sexta-feira: Matthew Dear (Estados Unidos) Higher Brothers (China) Sábado: Cashmere Cat (Noruega) Blossoms (Reino Unido) Dean (Coreia do Sul)

grupo de indie rock Broken Social Scene. O primeiro disco lançado a solo, “Monarch”, data de 1999. Foi com “Let it Die”, de 2004, e “The Reminder”, de 2007, que conquistou projecção internacional. A participação num dos discos dos noruegueses Kings of Convenience também ajudou à descoberta da voz doce de Feist. Conta com vários prémios no currículo.

DO SAHARA PARA AQUI

Quem for ao Clockenflap no sábado, pode assistir a um concerto num registo completamente diferente: os Tinariwen chegam do Norte do Mali com um misto de sonoridades que lhes permitiram fazer mais do que música do mundo. O grupo do deserto do Sahara surgiu em 1979, na Argélia, mas só em 2007 é que estes músicos

Fan Hung (Hong Kong) Hello Nico (Taiwan) Domingo: MØ (Dinamarca) Ibibio Sound Machine (Reino Unido) Bob Moses (Canadá) Per Se (Hong Kong) Supper Moment (Hong Kong)

tuaregues foram aclamados, com o disco “Aman Iman” e a presença na rota dos festivais internacionais. Noutro registo completamente diferente, os norte-americanos The Dandy Warhols compõem o cartaz de domingo com o rock alternativo que fazem desde 1994. Oriundos de Portland, conquistaram um lugar na cena musical quando foram descobertos pela Capitol Records e lançaram o disco de estreia, “The Dandy Warhols Come Down”, em 1997. Em 2001, um dos temas da banda foi escolhido para um anúncio publicitário nos Estados Unidos, o que lhe deu uma projecção massiva. Até à data, The Dandy Warhols têm dez álbuns em estúdio, duas compilações, seis EPs e 27 singles. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

CHINA CENSURA BEIJO GAY DE FASSBENDER

A China censurou o beijo gay de Michael Fassbender em “Alien: Covenant”. Segundo a revista Hollywood Reporter, a cena, que mostra um beijo dos cyborgs Walter e David, ambos interpretados pelo actor, foi removida do filme. A película chegou ao país na sextafeira passada. “Alien: Covenant”, sequência de Prometheus, é o primeiro filme de uma nova trilogia, que pretende introduzir a história de origem das criaturas. Dirigido e escrito por Ridley Scott, diretor do Alien original, o filme estreou em Maio. Esta, no entanto, não é a primeira vez que isto acontece. O filme “Brokeback Mountain”, por exemplo, não foi autorizado na China. O conteúdo com temas homossexuais é também rotineiramente bloqueado na televisão e nos serviços de streaming de vídeo.


h

diário de um editor

ARTES, LETRAS E IDEIAS

14

SETÚBAL, 10 JUNHO Lemos como se estivéssemos em pleno acontecer, mas não será nunca assim. A esta distância percebo que o dia maior da Festa da Ilustração, a segunda leva de inaugurações, será marcado pelos tempos, até os contratempos, além das geografias e dos lugares. Tem-se pouca noção da quantidade de trabalho exigido, do esforço envolvido, das horas perdidas, dos milhentos acertos e vontades que precisam coincidir para que o milagre aconteça. Este ano, por inúmeras razões, foi particularmente difícil. Justifica-se, também por isso, mais a festa. Por coincidência, o país celebra-se em dia mítico, torturando Camões e torturado pelo calor, que se abate sobre nós com desejada brutalidade. A jornada começa pelo futuro, a meio da tarde, no Convento de Jesus, onde a metade ainda em obras se abriu para acolher a «Ilustração Portuguesa». Cenário apropriado, portanto. Ano após ano, continuo surpreendido com a biodiversidade nacional: paisagens, palcos, experiências, desenvolvimentos, cores e corpos, abstrações e perspectivas, gestos e retratos, reflexões e deslumbramentos. Estranho e maravilhoso país, este. À beira-mar, no Cais 3, está ancorada uma fatia de passado, entre 1895 e 1969: grande selecção, feita pelo Jorge [Silva], a partir da sua ímpar colecção de publicações, de anúncios ilustrados pelos melhores artistas portugueses (de Lima de Freitas a Fred Kradolfer, de Alonso a Jorge Barradas, de Cottinelli Telmo a Roberto Nobre, de Carlos Botelho a Bernardo Marques, de Maria Keil a Piló, de Luís Filipe de Abreu a Lázaro e tantos outros). O armazém contém, em altas torres, «Anúncios Classificados», essas inúmeras variantes de que é feito o horizonte mirífico do desejo de saúde e bem-estar, de beleza e prazer, de comida e bebida, de cultura e progresso. O humor está omnipresente, bem como a ideologia. Além do delirante conjunto de imagens, testemunho gritante de outros tempos. Dá gozo ver quem vê a exposição, com os seus comentários e sublinhados, com as suas gargalhadas e indignações. A tarde finda-se virada a sul. «O Alentejo do Espanto e do Sonho» será, muito provavelmente, a maior e mais animada das (poucas) retrospectivas

João Paulo Cotrim

Tempos e lugares leitura criativa, ao alcance de qualquer um: ler criticamente, partilhadamente, acaloradamente, cada vez mais livros, velhos ou novos. Mas afinal não se edita demais?

dedicadas a Manuel Ribeiro de Pavia (ilustração ao lado), cujo centenário do nascimento se celebra, enquanto, ao mesmo tempo, se lamentam os 50 anos passados sobre a sua morte, no mesmo exacto dia 19 de Março. Fica bem vincado o carácter onírico do trabalho de Pavia, o seu olhar sobre o feminino e a paisagem, todas as formas irmanadas em ondas e massas, momento e movimento. Uma parede inteira de capas de livros, na sua grande maioria de autores neo-realistas, abrem curiosa janela. Não se consegue escapar à tragédia e ao mito criado, com a revista Vértice a celebrar na morte o que não soube fazer em vida. Diria Eugénio de Andrade: «Morreu o Manuel Ribeiro de Pavia. Levou-o uma pneumonia que o foi encontrar depauperado por uma vida quase de miséria. Passava fome! Tinha uma única camisa! Não pagava o quarto há imenso tempo! E nós a falarmos-lhe de poesia...» FEIRA DO LIVRO, LISBOA, 11 JUNHO A Inês [Fonseca Santos] entrevistou dezenas de escritores em busca de resposta para a pergunta: «Vale a Pena?». O pequeno volume, da prolixa Retratos da Fundação, outra das preciosas colec-

ções dirigidas pelo António [Araújo] para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, contém afinal mais interrogações, mas que permitem retrato breve e dinâmico do panorama literário nacional, sobretudo nos seus aspectos mais funcionais. Pretexto para conversa, em tarde quente, com a autora, Mário de Carvalho e Paulo José Miranda, acerca dos lugares onde foi arrumando os criadores: começa pelo nevoento e disperso do intelectual na actual praça pública, com o desaparecimento do diálogo crítico, entra depois quarto adentro, sítio maior da indispensável solidão, avança pela aprendizagem, depois pelo dinheiro, sua importância e quase ausência, para chegar ao mercado, subtil tirano. Não haverá por aqui consensos, e estranho seria se assim fosse, mas há muitas concordâncias. Estará a vida literária ameaçada pela extinção, seja da voz activa do intelectual, de um lado, e a do olhar-leitor, do outro? A vocação, a impossibilidade de sobrevivência sem o uso da palavra e da imaginação, parece impor-se a cada vicissitude mais ou menos prática, mais ou menos filosófica. O resto, em ideia cara ao Paulo [José Miranda], terá que resolver-se com a

LARGO DE S. SEBASTIÃO, S. BRÁS DE ALPORTEL, 15 JUNHO Temo que seja ignorado, este «Escrytos», volume que reúne os ensaios do Paulo Pires, programador e criador completo, tocando tão bem a escrita como o acordeão, sobre cultura contemporânea, com que inauguramos a colecção Doença Crónica, na Arranha-céus. Tenho pena, pois as suas reflexões, por exemplo sobre leitura ou programação cultural (autárquica), são muito desafiantes. Pensam a partir de uma prática quotidiana, cruzam-se com as leituras mais diversas, praticam a cultura como o fole vital do acordeão: respirando. Quase uma centena de pessoas enfrentaram a canícula em pleno Largo de São Sebastião, sob os auspícios das palavras de Roberto Nobre e à sombra mínima do busto de Bernardo Passos, cuja poesia tenho que visitar, para ouvir Ana Isabel Soares enquadrar com sabor e saber: «Escrever, fixar o vocabulário do pensamento, é uma atitude de resistência ao adormecimento cultural ou à aceitação das sucessivas crises (que sempre vêm). Paulo Pires, escrytor, oferece aqui o seu contributo para contrariar aquilo a que, em Vocabularies of the economy, Doreen Massey chamou a hegemonia do neoliberalismo , nas pérfidas consequências que impõe às várias formas de manifestação cultural dos povos.» FEIRA DO LIVRO, LISBOA, 17 JUNHO Suo as estopinhas, na boa companhia do Pedro [Lourenço], para apresentar à sociedade uma senhora das sombras: Dona Antónia. Inclui-se na colecção Vidas Portuguesas, parceria da Imprensa Nacional, do Duarte [Azinheira], com a Pato Lógico, do André [Letria], modos de fazer que se unem, o do património ao de laboratório, passados e futuros. Foi custoso de processos, mas acabou sendo prazeroso nos finalmentes, com o Pedro a desenvolver metáforas visuais e cores que até no escuro deixam brilhar o lado solar das encostas do Douro. Sabemos pouco sobre a figura, quanto baste para acender o fascínio. Teremos chegado perto?


15 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

na ordem do dia 热风

Julie O’yang

As cores do arco-íris chinês

Q

UANDO um designer ocidental ou um produto querem agradar ao mercado chinês “vestem-se” de VERMELHO e toda a gente exclama imediatamente: uau fixe, isto é a China! Evidentemente os chineses aplaudem por simpatia, porque os chineses são pessoas educadas e nunca explicam que o vermelho é … bem, não é uma cor chinesa, nem o verde, ou o cliché da combinação verde/ vermelho, a não ser na cozinha Sichuan que usa muitos pimentos destas cores. De facto, a China tradicional não pintava tudo de vermelho. Durante milhares de anos os chineses colecionaram centenas de belíssimas cores. Espertos, não é verdade? Neste artigo vou falar-vos da sensibilidade cromática chinesa.

Por exemplo, estes nomes curiosos descrevem duas cores que vocês não vão conseguir adivinhar quais são: 竹月, literalmente “o mês do bambu”. Esta cor é descrita através da sensação que nos transmite um bambu erguido à luz de um luar prateado, metálico, com um toque de azul e violeta. 百草霜, literalmente “orvalho em cem plantas”. Pensei imediatamente num qualquer tom de branco, mas não. É cinzento escuro. O seu significado vem de uma mezinha da medicina tradicional, uma combinação cinzas com uma mistura de ervas. Estas cinzas resultavam da queima de certas plantas e são tão leves como o orvalho. Na antiga China, o povo pintava toda a complexidade das suas vidas, incluindo

a política e a religião, com cinco cores, que condensavam a visão chinesa do mundo. Estas cinco cores eram: vermelho, amarelo, azul esverdeado, preto e branco. As cores apontam direcções e correspondem aos cinco elementos cósmicos. Os antigos chineses tinham uma imaginação cromática muito rica. Por exemplo: o branco corresponde ao metal e aponta para Ocidente. É representado pelo tigre branco. O metal está associado às armas e à matança. O preto é a cor do Norte, representa a água e o seu animal é a tartaruga negra. O preto significa também “mistério” e “profundo”. É a cor que podemos divisar em torno de uma estrela cintilante num céu nocturno, profundamente

misterioso e com um leve toque de vermelho. E o azul esverdeado, como é que esta cor é percepcionada pelos chineses? Cabelo azul esverdeado 青丝 significa cabelo negro. Céu azul, escreve-se 青天 e relva verde, 青草。É por isso uma cor muito caprichosa. Mas imagine uma montanha coberta do viço verde de inúmeras plantas. Se olharmos de longe torna-se azul, mas quando colocada no horizonte longínquo veste-se de cinzento escuro. A porcelana chinesa azul representa a cor do céu que se vislumbra entre as nuvens, depois da chuva torrencial. É um azul belo, delicado, nada berrante. Os chineses coloriram o seu mundo com uma sabedoria muito peculiar.


16 PUBLICIDADE

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

MACAU NOVA ERA DE AUTOCARROS PÚBLICOS, S.A. BALANÇO Em 31 de Dezembro de 2016 MOP Activos não correntes Activos relativos aos serviços exclusivos Activos por impostos diferidos Activos correntes Mercadorias armazenadas Quantias e outras por cobrar Numerário e/ou activos equivalentes a numerário

131,450,417 3,188,647 134,639,064 1,760,009 88,921,520 5,122,495 95,804,024

Passivos correntes Quantias e outras por pagar Empréstimos a pagar aos accionistas – inferior a um ano Provisão de imposto

32,132,597 38,900,000 4,291,533 75,324,130

Valor liquido de activos correntes

20,479,894

Passivos não correntes Previdência por desligação do serviço a pagar ao pessoal Previdência por incentivo do longo prazo ao pessoal Empréstimo a pagar aos accionistas – superior a um ano

19,502,056 7,070,000

Valor liquido de activos

72,646,902

55,900,000 82,472,056

Capital social e reserva Capital social Reservas Lucros não distribuídos

50,000,000 1,200,000 21,446,902

Capital próprio

72,646,902

Sumário do Relatório do Conselho de Administração De acordo com a legislação vigente na Região Administrativa Especial de Macau, bem como os Estatutos da “Macau Nova Era de Autocarros Públicos, S.A.” (adiante designada por “Nova Era”), o relatório de actividades e contas do ano fiscal de 2016 devem ser apresentados ao Conselho de Administração para efeitos de apreciação e votação. No referido ano, segundo o deliberado pela Assembleia Geral de Accionistas, foram desenvolvidos vários trabalhos pelo Conselho de Administração e pela Comissão de Gerência, nomeadamente: I. Em 2016, começou a entrar em funcionamento a carreira 30X, que liga a Rua de Lei Pou Ch’ôn e a Taipa. Até essa data, a Nova Era dispunha de 33 carreiras, que representam 40% do número total das carreiras em Macau. Face ao ano anterior, a frequência aumentou 7% e a capacidade de passageiros aumentou 6%, diariamente. II. A fim de elevar a qualidade de serviço e melhorar o ambiente de trabalho, foi tomada uma série de medidas em 2016, incluindo: 1. Eliminação contínua dos autocarros velhos com a norma de emissão Euro III. A fim de reforçar a capacidade de transporte, em 2016 a Nova Era investiu mais de 29 milhões de patacas com a aquisição de 40 autocarros novos, cujo comprimento é de 10,8 m. Assim, após a compra de 100 autocarros novos, o número total de autocarros passou a ser 315. 2. Promoção do ensaio de autocarros eléctricos em Macau. Em resposta ao desenvolvimento de autocarros eléctricos no território, um plano promovido pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, em colaboração com a Sociedade de Transportes Colectivos de Macau, S.A. (TCM), a Nova Era proporcionou aos cidadãos duas carreiras gratuitas (E02 e E03), por forma a verificar a viabilidade da iniciativa e elaborar o respectivo relatório de análise; 3. Aperfeiçoamento activo das carreiras. Para resolver o problema da dificuldade de apanhar um autocarro durante as horas de pico, foi lançada a carreira 30X destinada aos passageiros da zona das Portas do Cerco. Ao mesmo tempo, os autocarros da carreira 3A passaram de médio porte para grande porte e os autocarros da carreira 8 passaram de pequeno porte para médio porte, com vista a transportar mais passageiros; 4. Promoção activa da regularização do sistema de segurança. Para o efeito, não só foram realizadas várias actividades, formações e exercícios de simulação respeitantes à segurança, como também foi efectuada a instalação de “Quebrador de Vidro por um Segundo” em todos os autocarros. Relativamente ao ano 2015, a taxa de acidente rodoviário diminuiu 27% e não aconteceu nenhum acidente resultando em ferimentos graves. Sem dúvida, este progresso decorre da sensibilização dos condutores para questões relacionadas com a segurança. 5. Instalação de “Alarme de Emergência”. Em caso de emergência, o condutor poderá pressionar o botão de alarme, o qual, mediante o sistema de vigilância em tempo real no veículo, permite aos funcionários do centro de controlo conhecer imediatamente o que se passa e efectuar oportunamente o respectivo tratamento;

6. Instalação de “Quebrador de Vidro por um Segundo” em todos os autocarros, com o objectivo de proporcionar aos passageiros, em caso de emergência, uma via de evacuação; 7. Realização de “Segurança Nossa, Participação Activa”, com o objectivo de incentivar os funcionários a revelarem activamente não só os perigos escondidos existentes mas também as suas sugestões destinadas à gestão de segurança, possibilitando assim o aumento da sua consciência em relação à questão de segurança; 8. Melhoria da visualização das marcas de destino (LED), as quais passaram de vermelho para amarelo, de modo que os passageiros possam distinguir facilmente o número das carreiras; 9. Aumento do factor de segurança dos autocarros. Para esse efeito, foram adicionados não só sinais luminosos destinados ao travão de mão e à pressão atmosférica, como também sinais sonoros de alarme, por forma a lembrar que os condutores devem puxar travão de mão e colocar a alavanca em “neutro” antes de saírem dos autocarros e manter uma pressão atmosférica suficiente durante a condução. Em simultâneo, a velocidade máxima de todos os autocarros foi ajustada para 50 km/h, com vista a fazer com que o respectivo andamento seja mais seguro; 10. Optimização do custo operacional e controlo interno. A este respeito, foram desenvolvidas revisões regulares pelos chefes departamentais em relação ao cálculo salarial, fiscalização de despesas destinadas aos combustíveis, pneus e reparações, processo de aquisição, com o objectivo de melhorar constantemente o nível de gestão; 11. Fornecimento de assistência médica e seguro de vida. A fim de aperfeiçoar o sistema de benefício destinado aos funcionários, a Nova Era começou a proporcionar aos funcionários um exame físico anual, por forma a permitir-lhes conhecer melhor o seu estado físico e facilitar a transferência interna dos recursos humanos; 12. Optimização contínua das instalações nos Terminais. Com o propósito de proporcionar aos condutores um ambiente de trabalho mais confortável, a Nova Era tem actualizado constantemente as respectivas instalações. Por exemplo, no Terminal Lei Pou Ch’ôn e no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior, não só foi efectuada a ampliação das salas dos funcionários, mas também foram adquiridos os respectivos equipamentos necessários; 13. Realização de cursos de formação destinados à condução de autocarros pesados. Para lidar com a questão de falta de condutores profissionais, no período compreendido entre Maio e Dezembro já foram formados 8 condutores a tempo integral, cuja idade média é 38 anos; 14. Realização de visita de estudo no exterior para os funcionários com melhor desempenho profissional. A fim de promover uma melhoria de operação e incentivar os funcionários a elevarem constantemente a qualidade de serviço, foi desenvolvida uma visita de estudo a uma empresa de transportes em Taipei, a qual contou com a participação de 71 funcionários. Esta visita permitiu aos participantes, por um lado, aliviar o stresse do trabalho, e por outro lado, experimentar efectivamente o funcionamento das empresas exteriores, tendo por objectivo alargar o horizonte dos funcionários e ganhar energia positiva para o desenvolvimento da Nova Era. III. Segundo o resultado de avaliação dos serviços, no primeiro semestre de 2016, a classificação da Nova Era passou de 75,4 para 80, alcançando um avanço significativo face ao período homólogo, nomeadamente em relação ao intervalo de partidas, gestão do número de frequência, taxa de falha dos veículos, circulação pelo itinerário indicado, canal das reclamações, eficiência de tratamento das reclamações e auto-aperfeiçoamento. Em 2017, a pontuação da avaliação dos serviços deverá ser igual ou superior a 82, com vista a concluir a meta estabelecida pela Nova Era. IV. Em 2016, a Nova Era registou um lucro líquido de MOP$ 20.915.842,00. O Conselho de Administração recomendou que este resultado transitasse plenamente para o seguinte ano fiscal. Por último, o Conselho de Administração gostaria de manifestar o agradecimento profundo àqueles que têm apoiado, directa e indirectamente, o desenvolvimento da Nova Era. O agradecimento dirigese igualmente a todos os colegas pela vossa dedicação. Como sempre, a Nova Era vai continuar a envidar todos os esforços para proporcionar aos cidadãos um melhor serviço.

Representante do Conselho de Administração Fang Liqun Macau, 28 de Março de 2017

RELATÓRIO DE AUDITOR INDEPENDENTE SOBRE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS RESUMIDAS Para os accionistas da Macau Nova Era de Autocarros Públicos, S.A. (Sociedade anónima incorporada em Macau) Procedemos à auditoria das demonstrações financeiras da Macau Nova Era de Autocarros Públicos, S.A. relativas ao ano de 2016 nos termos das Normas de Auditoria e Normas Técnicas de Auditoria da Região Administrativa Especial de Macau. No nosso relatório, datado de 28 de Março de 2017, expressámos uma opinião sem reservas relativamente às demonstrações financeiras. As demonstrações financeiras a que se acima se alude compreendem o balanço, à data de 31 de Dezembro de 2016, a demonstração de resultados, a demonstração de alterações no capital próprio e a demonstração de fluxos de caixa relativas ao ano findo, assim como um resumo das políticas contabilísticas relevantes e outras notas explicativas. As demonstrações financeiras resumidas preparadas pela gerência resultam das demonstrações financeiras auditadas da sociedade. Em nossa opinião, as demonstrações financeiras resumidas são consistentes, em todos os aspectos materiais, com as demonstrações financeiras auditadas da sociedade. Para a melhor compreensão da posição financeira da sociedade e dos resultados das suas operações, no período e âmbito abrangido pela nossa auditoria, as demonstrações financeiras resumidas devem ser lidas conjuntamente com as demonstrações financeiras das quais as mesmas resultam e com o respectivo relatório de auditoria. Ieong Lai Kun, Auditor de Contas KPMG Macau, 28 de Março de 2017


hoje macau quarta-feira 21.6.2017

h

17

A Poesia Completa de Li He

示弟 別弟三年後,還家一日餘。 醁醽今日酒,緗帙去時書。 病骨猶能在,人間底事無? 何須問牛馬,拋擲任梟盧!

Para Mostrar ao Meu Irmão Mais Novo Há três anos deixei meu irmão mais novo, Já estou de volta a casa há quase dez dias. Esta noite temos o bom vinho de Lu-ling1 E os nossos livros amarelados de há muito. Consegui aguentar vivos os meus fracos ossos. Mas neste mundo as aflições vêm em alcateias. De que serve perguntar quem é búfalo e quem é cavalo?2 Lançam-se os dados, e saem “corujas” ou “pretos”.3

1 2

3

Famoso vinho feito com a água do Lago Ling, em Heng-yang, no Henan. “Búfalo” e “cavalo” eram os nomes de dois dos animais simbólicos no sistema chinês de “ramificações”. Estas ramificações eram utilizadas na adivinhação. De notar também que “búfalo” e “cavalo” também eram termos utilizados no jogo de “Shu-pu” descrito abaixo. Os dois versos são ricos de sentidos. O sucesso e o insucesso na vida dependem sobretudo do acaso. (a) Então, porquê preocupar-se com o seu destino? (b) Para quê consultar adivinhos? Para quê preocupar-se com que posto oficial cada um tem? No jogo conhecido por Shu-pu wu-mu, jogado com cinco dados pretos e brancos de madeira, o melhor lançamento era cinco pretos. A coruja – animal de mau agoiro – era o nome dado ao pior lançamento, ou seja, dois brancos e três pretos.

Tradução de Rui Cascais • Ilustração de Rui Rasquinho Li He (790 a 816) nasceu em Fu-chang durante a Dinastia Tang, pertencendo a um ramo menor da casa imperial. A sua morte prematura aos vinte e sete anos, a par da escassez de pormenores biográficos, deixam-nos apenas com uma espécie de fantasma literário. A Nova História dos Tang (Xin Tang shu) diz-nos que He “nunca escrevia poemas sobre um tópico específico, forçando os seus versos a conformarem-se ao tema, como era prática de outros poetas [...] Tudo quanto escrevia era inquietantemente extraordinário, quebrando com a tradição literária.” Segundo um crítico da Dinastia Song, o alucinátorio idioma poético de Li He é a “linguagem de um imortal demoníaco.” A versão inglesa de referência aqui usada é a tradução clássica da autoria de J.D. Frodsham, intitulada Goddesses, Ghosts, and Demons, publicada em São Francisco, em 1983, pela North Point Press.


18 PUBLICIDADE

hoje macau quarta-feira 21.6.2017


19 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

MOURINHO ACUSADO DE DEFRAUDAR FISCO EM 30 MILHÕES DE PATACAS

Jogada especial

A

secção de delitos económicos da procuradoria de Madrid apresentou uma denúncia contra o treinador de futebol português José Mourinho, por ter defraudado o Estado espanhol em cerca de 30 milhões de patacas (3,3 milhões de euros), segundo a agência EFE. Citando a procuradoria da capital espanhola, a EFE dá conta de que a queixa apresentada a uma instância judicial de Alarcón se refere aos impostos sobre os rendimentos obtidos nos anos 2011 e 2012, quando treinou o Real Madrid. O ministério público espanhol calcula que

os montantes ascendam a 3.304.670 euros, dos quais 1.611.537 relativos a 2011 e 1.693.133 referentes a 2012. A autoridade tributária espanhola informou a Procuradoria que Mourinho fez um contrato antes de 17 de Setembro de 2004, em que cedia os seus direitos de imagem a uma sociedade com sede nas ilhas Virgens britânicas, a Kooper Services S.A. Nesse mesmo dia rubricou um novo contrato de cedência dos direitos de imagem entre a Kooper e a irlandesa Multisports Image Management Limited e quatro anos mais tarde esta subscreveu com a Polaris

Sports Limited, empresa com o mesmo domicílio fiscal, um contrato de representação e negociação de contratos comerciais. “Todas estas estruturas societárias foram utilizadas pelo acusado com o objectivo de tornar opacos os benefícios provenientes dos seus direitos de imagem”, refere a procuradoria. José Mourinho assinou com o Real Madrid em 31 de Março de 2010 um contrato de trabalho e transferiu a sua residência para Madrid, razão pela qual, refere a EFE, adquiriu a condição de residente fiscal em Espanha. A nota sublinha que o técnico apresentou as suas declarações fiscais de 2011 e 2012, mas sem incluir as receitas obtidas com a cedência dos direitos de imagem. Em 23 de Julho de 2014, o fisco espanhol comunicou ao treinador que estava a investigar as suas declarações dos exercícios entre 2010 e 2012 e de 2013 como não residente. As autoridades fiscais observaram que as receitas não declaradas por direitos de imagem eram de 3.249.521 euros em 2011 e 2.805.903 euros em 2012. Em 3 de Julho de 2015, Mourinho reconheceu a falta da declaração de direitos de imagem e aceitou pagar uma coima de 1,14 milhões de euros. O assunto não ficou, porém, resolvido, visto que o fisco teve conhecimento que a Kooper Services “foi criada pelo acusado com o objectivo

CR7 CONVOCADO PARA DEPOR EM TRIBUNAL

O

tribunal de instrução de Alarcón, em Madrid, convocou Cristiano Ronaldo para depor a 31 de Julho, no âmbito da acusação do Ministério Público de o futebolista português ter defraudado o fisco espanhol em 14,7 milhões de euros. Em 13 de Junho, o Ministério Público de Madrid acusou o futebolista português de ter, de forma “consciente”, criado uma sociedade para defraudar o fisco espanhol em 14,7 milhões de euros, segundo a agência EFE. O futebolista português é acusado de quatro delitos contra os cofres do Estado, cometidos entre 2011 e 2014, que contabilizam uma fraude tributária de 14.768.897 euros. Numa declaração enviada ao tribunal de instrução de Alarcón, o Ministério Público cita a recente sentença do Supremo Tribunal contra o futebolista Lionel Messi, do FC Barcelona, que o condenou a 21 meses de prisão por ter defraudado o fisco em 4,1 milhões de euros, e escreve que Ronaldo aproveitou-se de uma sociedade criada em 2010 para ocultar ao fisco as receitas geradas em Espanha pelos seus direitos de imagem. Isto, para o fisco espanhol, supõe um incumprimento “voluntário” e “consciente” das obrigações fiscais de Cristiano Ronaldo em Espanha. Na base da acusação estão os direitos de imagem do jogador português ao serviço do Real Madrid desde 2009 e que, desde 1 de janeiro de 2010, é considerado residente fiscal em Espanha. Cristiano Ronaldo pode incorrer numa multa superior a 28 milhões de euros e em prisão efectiva de um mínimo de sete anos.

BRUNO FERNANDES E MATHIEU NO SPORTING

O de ocultar os seus direitos de imagem”, salientando que o português é titular a 100% dessa sociedade, através da Kaitaia Trust, com sede na Nova Zelândia, e da qual Mourinho também é fundador e beneficiário, juntamente com a sua mulher e filhos, segundo a Procuradoria. “Dado que não existe diferença entre o acusado e a sociedade Kooper, o acusado apresentou documentação relativa a gastos da sociedade que não correspondem à realidade”, prossegue o comunicado. Mourinho, de 54 anos, orientou o Real Madrid entre 2010 e 2013. Antes, o actual treinador do Manchester United comandou Chelsea, Inter Milão, FC Porto, União de Leiria e Benfica.

DESPORTO

Sporting tem tudo acertado para a contratação do internacional sub-21 Bruno Fernandes, a troco de nove milhões de euros. O ainda jogador da Sampdoria chegou também a um entendimento com os leões para assinar um contrato válido para as próximas cinco temporadas, até 2022. Aos 22 anos, o jogador que fez grande parte da sua formação no Boavista, antes de rumar ao Novara de Itália em 2012, está assim de regresso a Portugal, onde já no ano passado chegou a ser apontado ao FC Porto. O médio, capitão da selecção de Sub-21 que disputa actualmente o Europeu da categoria, foi um pedido de Jorge Jesus, que vê no jogador as qualidades necessárias para preencher a mais que provável saída de Adrien, bastante cobiçado. Entre Sporting e Sampdoria está também tudo acertado, a troco de nove milhões

de euros, sendo que consoante alguns objectivos alcançados pelos leões e ainda Bruno Fernandes o clube italiano possa vir a receber mais alguns milhões em bónus. Por outro lado, Jérémy Mathieu esteve em Lisboa na segunda-feira e está também prestes a ser apresentado como reforço do Sporting. O ainda central do Barcelona passou os últimos dias na capital e acertou todos os detalhes do contrato que o vai ligar aos leões durante duas temporadas. O defesa francês, de 33 anos, terá feito cedências de ordem salarial, deverá voltar nos próximos dias a Portugal, de onde se ausentou para ultimar assuntos pessoais. A um ano de terminar contrato com os catalães, o polivalente defensor gaulês preferiu vestir de verde e branco, apesar do interesse manifestado por Fenerbahçe e Olympiacos.

PUB

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMO ANÚNCIO A Direcção dos Serviços de Turismo do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, faz público que, de acordo com o Despacho de 5 de Junho de 2017 do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto concurso público para adjudicação do serviço de organização do “Festival de Luz de Macau 2017” . Desde a data da publicação do presente anúncio, nos dias úteis e durante o horário normal de expediente, os interessados podem examinar o Processo do Concurso na Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 12.o andar, e ser levantadas cópias, incluindo o Programa do Concurso, o Caderno de Encargos e demais documentos suplementares, mediante o pagamento de duzentas patacas (MOP200,00); ou ainda consultar o website da Direcção dos Serviços de Turismo: http://industry.macaotourism.gov.mo , e fazer “download” do mesmo. A Sessão de esclarecimento será realizada no Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 14.o andar pelas 10:00 horas do dia 26 de Junho de 2017. O limite máximo do valor global da prestação do serviço é de MOP20.000.000,00 (vinte milhões de patacas) Critérios de adjudicação e factores de ponderação: Critérios de adjudicação Preço Criatividade - Descrição:  Dos espectáculos de vídeo “Mapping”;  Das instalações luminosas;  Dos jogos interactivos e da aplicação desenvolvida para “smart phones” . - Utilização de nova tecnologia e equipamentos; - Elementos culturais e criativos locais (incluindo a participação de artistas locais). Maior garantia de segurança e eficiência na prestação do serviço - Informações sobre os equipamentos a serem utilizados; - Plano de controle de ajuntamento de pessoas; - Plano dos recursos humanos e respectiva distribuição dos trabalhos; - Plano de transporte; - Plano de montagem e desmontagem; - Informações técnicas para a realização dos espectáculos; - Planta dos locais. Experiência do concorrente

Factores de ponderação 30% 30%

30%

10%

Os concorrentes deverão apresentar as propostas na Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 12.o andar, durante o horário normal de expediente e até às 17:45 horas do dia 20 de Julho de 2017, devendo as mesmas ser redigidas numa das línguas oficiais da RAEM ou, alternativamente, em inglês, prestar a caução provisória de MOP400.000,00 (quatrocentas mil patacas), mediante: 1) depósito em numerário à ordem da Direcção dos Serviços de Turismo no Banco Nacional Ultramarino de Macau 2) garantia bancária 3) depósito nesta Direcção dos Serviços em numerário, em ordem de caixa ou em cheque visado, emitidos à ordem da Direcção dos Serviços de Turismo 4) por transferência bancária na conta do Fundo do Turismo do Banco Nacional Ultramarino de Macau. O acto público do concurso será realizado no Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 14.o andar pelas 10:00 horas do dia 21 de Julho de 2017. Os representantes legais dos concorrentes deverão estar presentes no acto público de abertura das propostas para efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados a concurso, nos termos do artigo 27.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho. Os representantes legais dos concorrentes poderão fazer-se representar por procurador devendo, neste caso, o procurador apresentar procuração notarial conferindolhe poderes para o acto público do concurso. Em caso de encerramento destes Serviços por causa de tempestade ou por motivo de força maior, o termo do prazo de entrega das propostas, a data e hora de sessão de esclarecimento e de abertura das propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora. Direcção dos Serviços de Turismo, aos 15 de Junho de 2017. A Directora Maria Helena de Senna Fernandes


20 PUBLICIDADE

hoje macau quarta-feira 21.6.2017


21 hoje macau quarta-feira 21.6.2017

TEMPO

?

TROVOADAS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

CONCERTO P.K. 14 Live Music Association | 21h30

Amanhã

MIN

25

MAX

30

HUM

80-98%

EURO

8.73

BAHT

SATURDAY NIGHT JAZZ - MACAU AND HK JAZZ FRIENDS CONCERT Fundação Rui Cunha | 21h às 23h

Domingo

BOK PLUS Terra Coffee House | 19h30 às 22h30 (evento inserido no festival de teatro BOK)

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “25+10” DE RODRIGO DE MATOS Consulado de Portugal | Até 30/06 EXPOSIÇÃO “COLOUR/SHAPE/LOVE” DE JOAQUIM FRANCO Macau Art Garden | Até 16/07 EXPOSIÇÃO “NOCTURNO” DE FILIPE DORES Albergue SCM | Até 09/07 EXPOSIÇÃO “CONTELLATION” DE NICOLAS DELAROCHE Galeria do Tap Seac | Até 08/10 EXPOSIÇÃO “O MAR” DE ANA MARIA PESSANHA Casa Garden | Até 31/08 EXPOSIÇÃO “A ARTE DE ZHANG DAQIAN” Museu de Arte de Macau | Até 5/8

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 61

EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7

UM DISCO HOJE

EXPOSIÇÃO “DESTROÇOS” DE VHILS Oficinas Navais, nº. 1 | Até 31/11 EXPOSIÇÃO “AS MUDANÇAS DE HENGQIN” Armazém do Boi | Até 16/07

Cineteatro

PROBLEMA 62

C I N E M A

SUDOKU

DE

CICLO DE CINEMA SOBRE REALIZAÇÃO NO FEMININO Cinemateca Paixão | Até 9/07

YUAN

1.14

PERDIDOS EM PAPEL

Sábado

Diariamente

0.23 AQUI HÁ GATO

IV CICLO DE CINEMA CRED-DM - SISTEMA PRISONAL “PAPILLON” Casa Garden | 19h30 às 21h30

MACAU JAZZ SUNDAY SESSIONS Live Music Association | a partir das 21h

(F)UTILIDADES

A livre circulação de pessoas e bens é um sinal de fluidez, de liberdade. Mas, volta e meia, os humanos esbarram em bloqueios auto-impostos, em fronteiras que ultrapassam o estado físico. A burocracia é uma barreira de papel que, além de ser responsável por muitos cabelos brancos, impede esse fluir de gentes. Quem já passou pela experiência de pedir um visto, singelo, limpo, para viajar como turista, sabe do que este gato fala. Claro que os felinos não têm qualquer respeito por esta autoridade de papel, construída para constranger. Pede-se tudo e mais alguma coisa. Documentos que caducaram, árvores genealógicas, cópias das reservas de avião e hotel, fotografias com as orelhas à mostra e uma porção de listas que parecem não ter objectivo além do esgotar da paciência. Que perguntem quantas vezes se comeu porco na vida e porquê. Quantas vezes se lava os dentes diariamente e um inventário completo do número de cáries desde a infância. Historial de picadas de mosquito, disco preferidos, se se prefere o pai ou a mãe. Que se inquira tudo até à derradeira perda de paciência. Todos os humanos transformados em K., o herói esmagado contra a máquina kafkiana de “O Castelo”, porque não estamos a falar de sistema judicial. A incompreensão e o desespero preenchidos em formulário A4, devidamente documentada por coisa nenhuma. Pu Yi

LET LOVE IN | NICK CAVE

O álbum é de 1994 mas podia ter saído hoje. É Nick Cave grave e perdido que aborda os demónios de todos como só ele sabe fazer. “Do you love me” abre o disco e já é quase um clássico. Seguem-se mais nove temas e “Let Love In” termina com uma espécie de “eterno retorno”. Numa fase entre Deus e Diabos Nick Cave fala canta o amor entre a melodia e o caos. Há discos que não se podem esquecer, que não têm tempo e este é um deles. Sofia Margarida Mota

THE MUMMY SALA 1

THE MUMMY [2D][C] Fime de: Alex Kurtzman Com: Tome Cruise, Sofia Boutella, Annabelle Wallis, Jake Johnson 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 2

RESIDENT EVIL: VENDETTA [C] FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS

Fime de: Takanori Tsujimoto 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3

WHO KILLED COCK ROBIN [C] FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Fime de: Cheng Wei-hao Com: Hsu Wei-Ning, Ko Chia-Yen, Christopher Lee Meng Soon 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


22 OPINIÃO

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

MICHAEL SCHUMAN in Bloomberg

UITA gente presume que a China tomará o lugar dos EUA como economia mais indispensável do mundo. No entanto, um factor pode limitar a marcha aparentemente incansável do país e lançar dúvidas sobre a perspectiva da China se tornar uma economia avançada: a produtividade vacilante. A China de facto progride a olhos vistos em termos de património, tecnologia e conhecimento. Mas nada na economia é inevitável. Com a alta dos custos e a diminuição da mão-de-obra devido a décadas de política de filho único, a China precisará extrair muito mais de cada trabalhador para continuar a crescer. Caso contrário, poderá sucumbir à trajectória de lentidão que ameaça seu futuro e também o futuro de toda a economia global. Apesar da reputação de autoritarismo eficiente, o país não é imune à tendência global de diminuição dos ganhos de produtividade. Usando estimativas ajustadas de crescimento económico, o instituto Conference Board calcula que a produtividade dos trabalhadores chineses avançou 3,7 por cento em 2015, caindo em relação à média anual de 8,1 por cento apurada entre 2007 e 2013. Mesmo reduzido, este ritmo é muito maior do que sonham as autoridades em outras partes do mundo. A produtividade aumentou apenas 0,7 por cento nos EUA e 0,6 por cento na zona do euro em 2015. Porém, os ganhos menores na China são problemáticos porque a diferença é grande. Os trabalhadores chineses são muito pouco produtivos quando comparados aos americanos. Pelos cálculos do Conference Board, em 2015, cada trabalhador empregado na China gerava somente 19 por cento do PIB gerado por um americano. Os chineses não são muito melhores que os indianos, com uma parcela de 13 por cento.

Como outras nações asiáticas, a China sofre as consequências do passado bem sucedido. Estes países conseguiram crescer rapidamente ao transferir camponeses pobres para a indústria e inserindo-os na cadeia global de rendimentos. Isso desencadeou enormes ganhos de produtividade, quando gente que trabalhava com a terra começou a fabricar de ursos de peluche e iPhones. Ou seja, a China potenciou o seu desenvolvimento ao transferir mão-de-obra e capital sub-utilizados para uma moderna economia capitalista. Mas, com o tempo, o resultado de cada investida diminui. Recursos financeiros continuam a ser desperdiçados em empreendimentos ineficientes, por vezes estatais, em sectores inchados, incluindo as companhias ditas “zombies” de siderurgia, carvão e cimento. Assim, os recursos são tirados de empresas mais produtivas. Há subsídios generosos para sectores específicos, como o de veículos eléctricos, e dinheiro fácil para startups. Deste modo, o governo interfere nos mercados e não permite que as companhias verdadeiramente produtivas liderem. As consequências para a China podem ser graves. Economistas do Rabobank alertam que a produtividade lenta pode causar a desaceleração do crescimento quando o rendimento atingir nível substancial, mas não elevado. E como as contribuições da China para o crescimento global são tão grandes, a sua desaceleração prejudicaria o mundo todo. Para evitar esse desfecho, o Rabobank recomenda políticas de aumento da produtividade, como fortalecer o capital humano por meio da educação e melhorar o ambiente regulador para estimular a inovação. O governo precisa permitir que as forças do mercado realizem a alocação de dinheiro e talento para as empresas e sectores mais competitivos e produtivos. Para os EUA, há um lado bom nisso. A menos que a China consiga ficar mais produtiva, a sua vantagem em relação às economias mais avançadas vai diminuir. Pelos cálculos da Boston Consulting Group, contabilizando a produtividade superior do trabalhador americano, o custo de manufactura na China e nos EUA costuma ser o mesmo. Os fracassos da China podem tornar os problemas de produtividade do Ocidente mais fáceis de suportar.

MALEVICH, O CEIFEIRO

M

O maior problema da China

Há subsídios generosos para sectores específicos, como o de veículos eléctricos, e dinheiro fácil para startups. Deste modo, o governo interfere nos mercados e não permite que as companhias verdadeiramente produtivas liderem


23 ÓCIOSNEGÓCIOS

hoje macau quarta-feira 21.6.2017

I WANT COFFEE CHRIS IP, PROPRIETÁRIO

Porque o café não é todo igual e porque a arte pode estar associada à estética da apresentação do latte, Chris Ip abriu o “I Want Coffee”. Servir um produto bonito e saboroso, ter opções para comer e ainda poder dar formação na decoração dos latte são os objectivos deste recente café do território

I WANT COFFEE, CHRIS IP

A arte do café latte

O

“I Want Coffee” não é mais um café em Macau. É um espaço onde a perícia e a arte se juntam para decorar o café, nomeadamente o latte. O gosto pela actividade começou, para o proprietário Chris Ip, quando foi convidado, há cerca de dois anos, para dar uma ajuda a um amigo. Na altura, com funções administrativas, teve o seu primeiro trabalho em que lidava com café. O contacto fez m que começasse a explorar os desenhos que poderiam ser feitos nas várias bebidas derivadas e, não tardou, estava tornar as chávenas “mais bonitas”. “Descobri um novo interesse”, diz. Do interesse à profissionalização foi um pulo. Autodidacta, Chris Ip dedicou-se à visualização de tutoriais do You Tube e foi aperfeiçoando a sua arte. Pouco tempo depois era concorrente assíduo nas competições que se dedicam a destacar os melhores neste sector. No entanto, ainda sem espaço próprio, e a trabalhar para outrem, os conflitos com a chefia começaram a surgir. “O meu chefe apoiava-me na participação de concursos, no entanto percebi que quando pedia autorização para ir não se mostrava satisfeito. O resultado foi tomar a decisão de abrir o meu próprio café”, conta. Em Maio do ano passado materializou o desejo e abriu um pequeno espaço dedicado exclusivamente à venda de cafés e lattes para fora. “A ideia era que as pessoas que fossem passando aproveitassem para parar e comprar a bebida que depois levariam com elas”, refere. Insatisfeito, o projecto que tinha em mãos ficava longe do que ambicionara. “Aplicar os conhecimentos que tinha naquilo a que chamo de arte do latte e desenvolvê-los não era possível”, diz, en-

quanto explica que “era muito difícil fazer os desenhos num copo de plástico que era de imediato fechado e levado”. Por outro lado, era um espaço com pouco conforto em que “as pessoas não tinham onde se sentar a saborear o seu café”. Em conversa com amigos, o proprietário do “I Want Coffee” foi aconselhado a investir noutro tipo de espaço. “Resolvi aceitar as sugestões que me foram dando e em Março consegui abrir este”, afirma satisfeito.

IR MAIS LONGE

Mas o “I Want Coffee” não se fica pelo menu de comidas e bebidas personalizadas. Dos serviços prestados, consta a realização de cursos de formação na “arte do latte”. Para o proprietário é uma área que representa uma grande vantagem e um investimento naquilo que considera uma actividade a ser desenvolvida. A ideia do “I Want Coffee” é, para Chris Ip, ajudar no fomento da cultura do café e das suas bebidas associadas e, acima de

tudo, desmistificar alguns preconceitos que encontra no território. “As pessoas pensam que os cafés com desenhos não são tão bons, tão deliciosos, mas acredito que sou capaz de fazer um café bonito e que, ao mesmo tempo, tenha todo o sabor que os clientes pretendem ter nesta bebida”, afirma. Por questões de sobrevivência, o “I Want Coffee” aposta também em refeições e

“As pessoas pensam que os cafés com desenhos não são tão bons, mas acredito que sou capaz de fazer um café bonito e que, ao mesmo tempo, tenha todo o sabor que os clientes pretendem ter nesta bebida.”

https://www.facebook.com/bohomemacau/

noutros bens alimentares, até porque “seria muito difícil manter a casa aberta se não tivesse este tipo de opções”. A “obrigatoriedade” não significou, no entanto, limitações ao menu. Da carta constam saladas, pastas, muitas especialidades de pastelaria e sobremesas. As maiores dificuldades que sente com o novo negócio têm que ver com algumas diferenças que o território tem relativamente a outras regiões vizinhas, nomeadamente no que respeita à cultura do próprio café. O proprietário explica: “Em Macau, as mudanças são muito lentas. As pessoas pensam que os cafés que fazemos são iguais àqueles que se vendem nos estabelecimentos tradicionais de comida chinesa e não percebem a diferença”. Para o futuro, Chris Ip quer continuar a investir na área da formação para “atrair mais jovens para o sector e, desta forma, contribuir para um maior conhecimento do produto e da actividade de desenhar no latte”. Vítor Ng (com Sofia Margarida Mota) info@hojemacau.com.mo


“Ias belo pela sombra / Pela sombra te detinhas / Mas não te afecta nem lembra / Quem por ti comeu sardinhas” Alice Tazem

quarta-feira 21.6.2017

Embaixador alemão apela à libertação de bispo XI JINPING ENVIA MENSAGEM A MARCELO REBELO DE SOUSA

O Presidente chinês, Xi Jinping, enviou uma mensagem ao homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, endereçando condolências pelo incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, fazendo 64 mortos, informou ontem a agência noticiosa oficial Xinhua. Na mensagem, o líder chinês diz ter ficado “chocado” ao saber que o incêndio em Portugal causou grande número de vítimas e prejuízos materiais. Xi Jinping “endereçou sentidas condolências e um sincero pesar às vítimas e seus familiares, em nome do Governo e do povo chinês e dele próprio”, acrescenta. O também secretário-geral do Partido Comunista da China disse acreditar que os portugueses vão ultrapassar o desastre e reconstruir a sua terra natal, sob a liderança do Presidente e Governo de Portugal.

SEUL LAMENTA MORTE DE NORTE-AMERICANO

Seul lamenta morte de americano O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, qualificou ontem de “lamentável” a morte do estudante universitário norte-americano Otto Warmbier, detido pela Coreia do Norte no ano passado e repatriado na semana passada em coma. Otto Warmbier, de 22 anos, que esteve preso durante 17 meses na Coreia do Norte, foi libertado por Pyongyang em estado de coma no passado dia 13. O estudante estaria há mais de um ano nessa condição, segundo a sua família que informou, na segunda-feira, da morte do jovem na sua terra natal (Ohio). Otto Warmbier foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados pelo Supremo Tribunal norte-coreano em Março de 2016, depois de ter admitido ter roubado um cartaz decorado com uma palavra de ordem de cariz político num hotel em Pyongyang, onde estava hospedado, no âmbito de uma digressão em Janeiro desse ano. Actualmente, existem três cidadãos norte-americanos presos na Coreia do Norte.

A cruz do costume

O

embaixador alemão na China apelou ontem às autoridades chinesas para que libertem um bispo católico, alegadamente sob detenção domiciliária, num caso de repressão da igreja no país oficialmente ateísta. Michael Clauss diz que o bispo Shao Zhumin estará detido em sua casa, depois de ter sido forçado a mudar-se por quatro vezes, para locais desconhecidos, no espaço de menos de um ano. Num comunicado difundido através da embaixada alemã, Clauss apelou a que a liberdade total de movimento de Shao seja restabelecida. O embaixador afirmou também que está preocupado com as emendas propostas aos regulamentos para os assuntos religiosos, que os activistas dizem que servirá para aumentar as restrições. Shao é bispo na cidade de Wenzhou, no sudeste do país. Foi nomeado em Setembro pas-

sado pelo Vaticano, não sendo reconhecido pelas autoridades chinesas. Pequim e a Santa Sé não têm relações diplomáticas, divergindo sobretudo na nomeação dos bispos, com cada lado a reclamar para si esse direito. O portal noticioso AsiaNews, que está vinculado ao Vaticano, noticiou que a polícia deteve Shao em 18 de maio passado. Na semana passada, Shao foi visto a chegar ao aeroporto de Wenzhou, na província de Zhejiang, acompanhado por funcionários do Governo, que depois o conduziram para um local desconhecido, detalhou o portal. O seu desaparecimento fará parte de uma tentativa para o persuadir a juntar-se à Associação Patriótica Católica da China, a igreja aprovada pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e independente do Vaticano. Nos últimos anos, as autoridades de Zhejiang removeram centenas de cruzes e outros

símbolos exteriores de fé cristã, afirmando que estes violam as normas de construção. Associações cristãs denunciaram a campanha como inconstitucional e humilhante. Clauss afirmou ainda que está preocupado com algumas regras novas, numa proposta de regulamento para os assuntos religiosos, sem especificar quais. “Se não forem alteradas, podem representar mais restrições no direito à liberdade religiosa e de crença”, afirmou o embaixador. As alterações propostas, que foram tornadas públicas em Setembro, alarmaram os activistas, que afirmam que estas visam reprimir as manifestações católicas fora da igreja oficial. Estas incluem cláusulas que dizem que locais religiosos devem seguir os regulamentos de planeamento urbano, numa tentativa de remover símbolos religiosos, como cruzes, das igrejas.

NICOLE KIDMAN “A VIDA NÃO ACABA AOS 40”

PUB

Os eurodeputados da comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu adoptaram esta terça-feira uma resolução na qual defendem a suspensão das negociações com a Turquia para a adesão à União Europeia se as alterações propostas à Constituição se confirmarem. A resolução, que condena a “resposta desproporcionada” à tentativa de golpe de Estado no país, concretamente o despedimento em larga escala de funcionários públicos, o encerramento de órgãos de comunicação social, escolas e universidades, e a detenção de jornalistas, juízes e defensores dos direitos humanos, foi hoje aprovada em sede de comissão parlamentar com 51 votos a favor e apenas três contra (e 14 abstenções), devendo ser votada pelo plenário na sessão de Julho. Manifestando preocupação com as violações a nível de Estado de direito, direitos humanos, liberdade de imprensa e luta contra a corrupção, os eurodeputados condenam veementemente “o apoio repetidamente declarado” pelo Presidente turco à reintrodução da pena de morte, o que, sublinham, levaria automaticamente ao fim imediato das negociações para a adesão à UE.

SÉRIE DE LIVROS SOBRE INVASÃO JAPONESA

EX-EXECUTIVOS DO BARCLAYS ACUSADOS DE FRAUDE

O Gabinete Antifraude do Reino Unido divulgou ontem que acusou o banco Barclays e quatro pessoas, entre elas um ex-director da instituição, de fraude durante a crise financeira com recurso a fundos do Qatar. John Varley, antigo director do Barclays, é um dos acusados. O Gabinete Anti-fraude britânico indicou que se trata de movimentos de capital provenientes do Estado do Qatar entre os meses de Junho e Novembro de 2008. Outros três executivos do banco foram também acusados pelas autoridades anti-fraude do Reino Unido.

TURQUIA PARLAMENTO EUROPEU DEFENDE FIM DE NEGOCIAÇÕES

•Nicole Kidman acreditou durante muito tempo que, quando chegasse aos 50 anos, que celebrou ontem, iria afastar-se dos ecrãs. Agora, confessa que estava enganada e que este é, definitivamente, um dos melhores momentos da sua vida. “Quando tinha 40 pensava que, aos 50, iria reformar-se. De forma nenhuma!”, disse a actriz durante os British Glamour Awards. Envolvida em cerca de uma dezena de projectos desde o início do ano passado, garante que foi esta “criatividade” que a fez mudar de perspectiva. E é por isso que, neste dia em que comemora meio século de vida, quis deixar uma mensagem a “todas as mulheres”: “A vida não acaba aos 40. Pelo contrário, ela começa! E começa ainda mais aos 50”, completou.

A China publicou na segunda-feira uma série de livros históricos sobre as atrocidades das forças japonesas, por ocasião da aproximação do 80º aniversário do “Incidente de 7 de Julho” de 1937. Os 51 livros coleccionam dados como telegramas e documentos secretos do exército japonês e do governo na época. O comité editorial seleccionou, categorizou e copiou mais de 20 mil páginas relacionadas com o “Incidente de 7 de Julho” e a invasão, segundo Tang Zhongnan da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Os livros são uma série de confissões sobre o militarismo do Japão e “provas firmes” da invasão criminosa do Japão, comentou o Museu da Guerra do Povo Chinês contra a Invasão Japonesa. O museu organizou a publicação para celebrar o 80º aniversário da resistência nacional contra a invasão japonesa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.