Hoje Macau 23 JUN 2017 #3838

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

INCÊNDIOS

Kwan está preocupada PÁGINA 5

CHINA-PORTUGAL

Os casos difíceis

LIGA DE ELITE

Quem vai morrer na praia? FRANCIS BACON, OEDIPUS

PÁGINA 20

h

Tonalidades A ESTREIA DE

ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

CHINA-EUA

Este Kim que nos une

Risco operário ELLA LEI CORRE PELAS DIRECTAS

A deputada resolveu abandonar o conforto das indirectas e vai-se apresentar ao escrutínio público. A FAOM revelou quem a substitui.

SOFIA MARGARIDA MOTA

PÁGINA 14

ALFREDO CEYNA

O ARTESÃO DAS LANTERNAS EVENTOS

PÁGINA 4 | ÚLTIMA

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GRANDE PLANO

SOFIA MARGARIDA MOTA

hojemacau

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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SEXTA-FEIRA 23 DE JUNHO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3839


2 GRANDE PLANO

CASO EDP RELAÇÕES CHINA-PORTUGAL NÃO SOFREM AS MÁS INFLUÊNCIAS DOS CASOS DE CORRUPÇÃO

Prudência parece ser a palavra de ordem do lado da China perante o caso EDP, onde a China Three Gorges é a accionista maioritária. Analistas garantem que o alegado caso de corrupção não vai afectar as relações entre China e Portugal, nem mesmo outros processos semelhantes, como é o caso do que está relacionado com os vistos dourados. Os chineses preferem mesmo esperar para ver

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S suspeitas de corrupção que envolvem os patrões da Electricidade de Portugal (EDP), António Mexia e Manso Neto, já constituídos arguidos, é o mais recente escândalo de corrupção em Portugal. Contudo, não é o único que se imiscui as relações económicas que a China e Portugal têm mantido nos últimos anos. Na EDP, a empresa estatal China Three Gorges é hoje a accionista maioritária, tendo pago, em 2011, 2,7 mil milhões de euros ao Estado português por 21,35 por cento do capital da empresa ligada ao sector energético. Convém ainda lembrar o processo que decorre em tribunal relacionado com a política de captura de investimento dos vistos dourados. Dados relativos ao mês de Maio mostram que a atribuição dos chamados Vistos Gold caiu para metade, sendo que a excessiva burocracia é também culpada por esses números. Há ainda as acusações de corrupção de um milionário chinês exilado nos Estados Unidos, de nome Guo Wengi, que atingem o grupo HNA, accionista da companhia área portuguesa TAP através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul. Até onde irão as consequências destes casos para as relações dos dois países? Referindo-se ao caso EDP, Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, garante que não se avizinha, para já, um impacto negativo. “A comunidade chinesa não tem opinião sobre esta matéria, a opinião dos portugueses sobre este assunto é mais negativa. Os portugueses pensam que as empresas chinesas estão a roubar o seu lugar, mas nunca pensaram que a EDP, com a entrada das acções chinesas, obtivesse muitos benefícios”, disse ao HM. Para Y Ping Chow, “as relações entre os dois Governos não estão afectadas, e o Governo português reconhece que não foram prejudicados com a entrada do capital chinês”.

PRUDÊNCIA A QUANTO OBRIGAS

A China já reagiu ao caso EDP, mostrando uma postura atenta e, ao mesmo tempo, prudente. Num comunicado enviado à Agência Lusa, não se revelam sinais de quebra de relações e defende-se, sobretudo, a importância da colaboração com as autoridades portuguesas no processo de investigação. “A China Three Gorges Europa apoia todas as partes envolvidas a colaborarem inteiramente com os procedimentos da investigação”, pode ler-se. Além disso, a empresa diz continuar a acreditar

OS BONS

que as autoridades portuguesas “continuarão a manter um quadro regulamentar estável para o sector energético”. A China Three Gorges afirma ainda esperar que “todas as partes se comprometam com o conteúdo de todos os acordos válidos, incluindo os Custos para Manutenção do Equilíbrio Contratual”. Estes custos dizem respeito aos apoios que o Estado português atribui para a produção de electricidade e energia, as chamadas “rendas”. Segundo a edição do semanário Expresso da semana passada, o Estado poderá cobrar

“Não haverá um grande impacto nos investimentos portugueses que são feitos na China e nos investimentos chineses que estão a ser feitos em Portugal.” WANG JIANWEI DOCENTE DA UNIVERSIDADE DE MACAU

500 milhões de euros em rendas que foram indevidamente recebidas pela empresa, relativas a um período superior a dez anos. Na visão do académico Arnaldo Gonçalves, a China tem revelado, acima de tudo, uma postura prudente. “A posição da China perante estas coisas, como é habitual na diplomacia chinesa, é uma posição de enorme prudência, ver exactamente o que se passa.” O especialista em relações internacionais lembra que ainda é cedo para avaliar potenciais consequências negativas. “A situação está a evoluir e numa direcção que


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PARCEIROS envolvidas. Se o caso envolver políticos chineses ou empresas estatais, terá eventualmente algum impacto nas relações entre os dois países, sobretudo se os dois Governos tiverem diferentes visões sobre as pessoas envolvidas e a natureza do caso”, defendeu. A curto prazo, tanto o caso EDP, como outros semelhantes “não terão um grande impacto nos investimentos portugueses que são feitos na China e nos investimentos chineses que estão a ser feitos em Portugal”. “O caso pode ser controverso para os dois lados, pois podem existir duas visões diferentes sobre esse assunto”, frisou ainda Wang Jianwei.

CORRUPÇÃO NO MUNDO LUSÓFONO

António Mexia. Agora mexe menos

ainda não percebemos muito bem para onde é que ela vai. São várias circunstâncias que estão a ocorrer ao mesmo tempo. As relações, para já, são boas. O clima é amistoso, quer do lado de Portugal, quer do lado da China.” Wang Jianwei, especialista em política externa chinesa e docente da Universidade de Macau, considera que podem existir algumas mudanças nesta relação bilateral, ainda que seja cedo para traçar um cenário. “Não temos ainda muitos detalhes sobre o caso e a natureza do crime, das pessoas que estarão

“A posição da China perante estas coisas, como é habitual na diplomacia chinesa, é uma posição de enorme prudência, ver exactamente o que se passa.” ARNALDO GONÇALVES ANALISTA

Arnaldo Gonçalves prefere olhar para fora de Portugal: afinal de contas, os casos de corrupção têm ocorrido com frequência nos países com quem a China tem relações económicas. “Se pensarmos nas relações da China com África, países onde, ciclicamente, se falam em casos de corrupção, a China tem sempre uma posição de grande prudência e contenção no uso das palavras. E colocam-se na mesma posição em relação a Portugal. Fazem a declaração que qualquer parceiro fará, de colaboração com a justiça.” “Os problemas da corrupção são mundiais e transversais”, acrescenta o académico, lembrando que, ao nível interno, a China tem a sua própria campanha anti-corrupção. “Temos visto nos últimos meses casos de nepotismo, de favorecimento, de pessoas ligadas a figuras do Partido e do Politburo. Quase todas as semanas vemos notícias de alguém que é suspeito ou acusado. A China tem esse problema dentro de portas e tenta actuar com muita prudência.” Casos como o da EDP ou Vistos Gold não preocupam o analista. “A China espera que as coisas se clarifiquem. Não há nenhuma quebra de confiança e nem faria sentido. O problema da corrupção é genérico e atravessa todos os continentes. Angola, que

é um regime socialista também, onde há problemas de corrupção gravíssimos”, lembrou. O comunicado enviado pela China Three Gorges à Lusa aconteceu duas semanas depois de Mexia, presidente da EDP, e João Manso Neto, presidente da EDP Renováveis, terem sido constituídos arguidos, no âmbito de um inquérito a eventuais crimes de corrupção activa e passiva e participação económica em negócios na área da energia.

“A comunidade chinesa não tem opinião sobre esta matéria, a opinião dos portugueses sobre este assunto é mais negativa. Os portugueses pensam que as empresas chinesas estão a roubar o seu lugar, mas nunca pensaram que a EDP, com a entrada das acções chinesas, obtivesse muitos benefícios.” Y PING CHOW PRESIDENTE DA LIGA DOS CHINESES EM PORTUGAL Já foram constituídos mais cinco arguidos, incluindo antigos assessores do Ministério da Economia no tempo em que Manuel Pinho assumia a tutela, bem como ex-administradores da EDP e responsáveis da Rede Energéticas Nacionais. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Só sei que nada sei

ALERTAS DIRECTOS “CONTRA QUALQUER FORMA DE CORRUPÇÃO”

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O comunicado enviado à Lusa, a China Three Gorges deixa ainda bem claro que é “contra qualquer forma de corrupção”, esperando que os arguidos disponibilizem um “acesso ilimitado à informação”, para que todo o processo de investigação decorra sobre os “princípios da abertura, transparência e objectividade”. A empresa estatal chinesa afirma ser “contra qualquer forma de corrupção e práticas de negócio impróprias”, tendo adiantado que “vai continuar a promover a colaboração estratégica e industrial com a empresa [EDP], o desenvolvimento da economia portuguesa e o rigoroso cumprimento das leis e regulamentos da República de Portugal”. Quatro dias depois das buscas à sede da EDP, o presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, Eduardo Catroga, garantiu que os accionistas manifestaram “a sua solidariedade com a gestão da EDP”, na sequência do processo de investigação. Eduardo Catroga lembrou que “aquilo que foi comprado não pode ser espoliado”, realçando que nenhum Governo “quer um litígio jurídico com accionistas que compraram uma empresa com as receitas que integram este litígio”, referindo eventuais alterações aos apoios à produção de energia.


4 POLÍTICA

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SOFIA MARGARIDA MOTA

CHUI SAI ON XANGAI E MACAU MAIS UNIDOS

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Ponha aqui o seu votinho, devagar, devarinho...

Operários ‘‘NÃO É CERTA ELEIÇÃO DE SEGUNDO DEPUTADO’’

O jogo da cadeira

Ella Lei é candidata à Assembleia Legislativa pelo sufrágio directo e diz que isso parte de uma “decisão pessoal”. O analista político Larry So acredita que será difícil aos Operários a eleição de um número dois, pelo facto de estar a apostar nas gerações mais jovens e menos conhecidas do eleitorado uma ideia nesse sentido e acho que preciso de assumir essa posição.”

APOSTA JOVEM

Para o analista político Larry So, o nome de Ella Lei é a prova de que a FAOM está a apostar nas novas gerações para o seu percurso político. Contudo, poderá não estar garantida a eleição de um número dois.

“Se conseguem eleger um segundo deputado? Vamos ver como é que a estratégia vai correr. Diria que a FAOM está a lutar muito para pôr as gerações mais jovens à frente. Não diria que vão ter menos votos, mas enfrentam um risco.” Larry So acredita mesmo que a lista com ligação aos Operários pode perder parte do seu eleitorado mais tradicional. “Há jovens a concorrer, mas os eleitores mais

“Há jovens a concorrer, mas os eleitores mais tradicionais podem desistir deles. Um lugar está garantido, mas vão ter mais dificuldades a eleger um número dois.” LARRY SO ANALISTA POLÍTICO

A PRIMEIRA VEZ

Há muito que Ella Lei assume uma posição de destaque no trabalho que é desenvolvido pela FAOM, apesar de ser uma deputada eleita pela via indirecta. É uma voz interventiva nos plenários, tendo inclusivamente feito um pedido de debate, além das muitas interpelações que apresenta. O analista político Larry So denota isso mesmo. “Mesmo que seja uma deputada eleita pela via indirecta, o seu desempenho e comportamento é melhor do que muitos dos deputados eleitos pela via directa. Nesse caso diria que ela está preparada para as eleições.” “Na corrida às eleições pelo sufrágio directo todos têm a sua primeira vez. Não me surpreendo, mas penso que ela está bem preparada”, acrescentou Larry So. Andreia Sofia Silva (com V.N.)

andreia.silva@hojemacau.com.mo

GCS

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participação das listas com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) sofreu uma reviravolta este ano. Ella Lei, que em 2013 foi pela primeira vez eleita deputada pelo sufrágio indirecto, é este ano candidata por sufrágio directo. Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang estão de saída, depois de décadas a assumir posições políticas. Ao HM, Ella Lei disse apenas que a decisão de concorrer a um assento pelo sufrágio directo foi pessoal. “Não tem que ver com mais nenhuma razão. A equipa tem os seus mecanismos e requisitos. Tendo em conta os últimos quatro anos, quero candidatar-me pelo sufrágio directo. Já tinha

tradicionais podem desistir deles. Um lugar está garantido, mas vão ter mais dificuldades a eleger um número dois.” Ainda assim, dificilmente estes eleitores irão virar-se para outros candidatos, como, por exemplo, as listas do universo Chan Meng Kam. “Têm eleitorados diferentes. Chan Meng Kam concorre pelos clãs, e não pelos trabalhadores. Não vejo Chan Meng Kam a roubar votos aos Operários, mas estes podem ter alguns problemas neste ponto.”

INANÇAS, turismo, educação, ciência e tecnologia, desporto. São estas as principais áreas em que Macau e Xangai deverão reforçar a cooperação. A ideia saiu da reunião mantida ontem entre o Chefe do Executivo e o secretário do Comité Municipal do Partido Comunista Chinês (PCC), Han Zheng, e o presidente do município, Ying Yong. De acordo com um comunicado do Governo, foi considerado na reunião que “a base de cooperação bilateral é firme”, pelo que se espera agora “fortalecer o intercâmbio em várias vertentes”. Durante o encontro, Chui Sai On fez um balanço dos resultados alcançados com os mecanismos estabelecidos, tendo defendido que ambas as partes “criaram uma base vantajosa para colaborar, particularmente com a assinatura do ‘Memorando de Cooperação Financeira entre Xangai e Macau’, em 2012”. Este entendimento permitiu à RAEM participar no projecto da zona de comércio livre, sublinhou, tendo ainda recordado que Xangai e Macau desenvolveram uma série de acções de cooperação no âmbito do turismo, cultura, comércio e educação, entre outras áreas. Por sua vez, Han Zheng explicou que, seguindo as instruções e programação do país, Xangai tem-se dedicado ao desempenho das funções de “vanguarda da reforma e abertura” e “precursor no desenvolvimento por inovação”, bem como ao aprofundamento da reforma da zona pioneira de comércio livre, no sentido de impulsionar o desenvolvimento contínuo da metrópole. O secretário do Comité Municipal do PCC defendeu que “os contactos entre Xangai e Macau são muito estreitos”, com uma base de ligação “bem delineada”. E deixou uma promessa: Xangai continuará a apoiar o desenvolvimento de Macau. Na deslocação à capital económica chinesa, Chui Sai On e a comitiva que o acompanha estiveram presentes nas comemorações do 75.º aniversário do Banco Tai Fung e cerimónia de inauguração da sucursal em Xangai. O regresso a Macau aconteceu ainda ontem.

Quando fores a Macau, vais ver o que é bom


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POLÍTICA

GCS

Incêndios KWAN TSUI HANG APELA A REVISÃO URGENTE DE REGULAMENTO

Actualizações demoradas Relógio lento

LEI DE TERRAS SÓNIA CHAN PRECISA DE TEMPO secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, disse em declarações reproduzidas pelo canal chinês da Rádio Macau que recebeu há dias a proposta de revisão à lei de terras submetida pelos deputados Leonel Alves e Zheng Anting, mas que precisa de tempo para as analisar. O problema prende-se com o facto de o documento estar em português e necessitar de tradução, assim como o número elevado de artigos. Esta semana, antes de partir para Xangai, Chui Sai On disse que o processo legislativo está a “seguir os trâmites normais”. O Chefe do Executivo acrescentou que “é necessário fazer uma análise profunda e a secretaria [da Administração e Justiça] irá entregar um relatório”. Sónia Chan garantiu apenas que vai analisar o documento o mais rapidamente possível, não havendo para já uma data confirmada para a emissão de um relatório. Se o Chefe do Executivo não tomar uma decisão em breve, será difícil discutir o diploma na actual legislatura, partindo do princípio que dá autorização para a iniciativa legislativa dos deputados. Se o tempo for insuficiente, o projecto de lei terá de ser de novo apresentado depois das eleições, sendo que um dos proponentes, Leonel Alves, já não será deputado, uma vez que anunciou publicamente esta semana que não se recandidata à Assembleia Legislativa.

IACM LO CHI KIN TOMA POSSE COMO VICE-PRESIDENTE

O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) tem um novo vicepresidente. Ontem, Lo Chi Kin prestou juramento, na cerimónia de tomada de posse, perante a secretária para Administração e Justiça, Sónia Chan. Lo Chi Kin chefiou a Divisão de Obras da antiga Câmara Municipal de Macau Provisória, foi chefe da Divisão de Vias Públicas do IACM até 2010, tendo em seguida passado para o comando dos Serviços de Saneamento, Vias e Manutenção Urbana. A nomeação tem um período de dois anos.

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deputada Kwan Tsui Hang pede informações acerca do processo de actualização do regulamento de segurança contra incêndios. Em causa está a sua desactualização e, em interpelação escrita, a deputada solicita ao Governo que seja conhecida a informação do respectivo processo. Kwan Tsui Hang pede ao Executivo que aproveite a revisão da matéria para proceder à introdução de um mecanismo de carácter periódico que garanta que os requisitos exigidos acompanham o desenvolvimento local. A deputada justifica o pedido com as queixas que têm sido feitas pelos sectores de arquitectura e engenharia. Apesar de, no ano passado, o Executivo ter avançado com uma consulta pública para a definição e uma actualização do regulamento em causa, Kwan Tsui Hang afirma que, até à data, não foi divulgada mais nenhuma informação acerca do processo. “O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, respondeu que tal proposta já tinha entrado no processo legislativo. No entanto, para já não há um calendário para a sua apreciação na Assembleia Legislativa”, lê-se na missiva.

MATÉRIA URGENTE

Para a deputada, a questão da segurança contra incêndios é urgente. Trata-se de uma matéria, sublinha, que envolve as vidas de quem mora no território e, como tal, deve constituir uma prioridade na agenda do Executivo. O presente regulamento não sofre alterações desde 1995 pelo que, diz Kwan Tsui Hang, está desactualizado e precisa de

ser optimizado tendo em conta a nova configuração do território e as necessidades que acarreta, sendo que, agora, os requisitos relativos à segurança são com certeza mais e diferentes dos que eram há duas décadas.

SOFIA MOTA

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A revisão do regulamento de segurança contra incêndios já entrou no processo legislativo, mas a deputada Kwan Tsui Hang quer saber em que ponto está. A matéria tem carácter urgente e é necessário levar o diploma à Assembleia Legislativa

Apesar de, no ano passado, o Executivo ter avançado com uma consulta pública para actualização do regulamento em causa, Kwan Tsui Hang afirma que, até à data, não foi divulgada mais nenhuma informação acerca do processo Na prática, a deputada pede ainda informações detalhadas quanto às intenções do Governo na revisão do regulamento em causa, incluindo pormenores acerca das reacções dos materiais de construção ao fogo e dos procedimentos quanto aos padrões de avaliação. Kwan Tsui Hang recorda ainda que, no ano passado, o Governo recebeu os sectores de arquitectura e engenharia para recolha de opiniões, sendo que a deputada quer, agora, saber os contributos dos sectores em causa. Victor Ng (com S.M.M) info@hojemacau.com.mo

‘Tá qui ‘tá tudo àrder


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OI ontem publicada a regulamentação da Lei da Nacionalidade, que visa a atribuição da cidadania portuguesa a netos de portugueses nascidos no estrangeiro. O novo diploma vai obrigar os requerentes a cumprir uma série de requisitos para que possam ser cidadãos portugueses, sendo um deles o domínio da língua. “Verifica-se que o conhecimento da língua portuguesa será obrigatório em todos os casos”, referiu José Cesário, deputado à Assembleia da República eleito pelo Círculo Fora da Europa. A nova lei irá admitir a dispensa do domínio do português “nos casos de naturais de países com língua oficial portuguesa há pelo menos 10 anos, aos que residem em Portugal há cinco anos ou a quem tenha frequentado estabelecimento de ensino reconhecido nos termos da lei portuguesa ou devidamente acreditado pelo Instituto Camões”. José Cesário traça, contudo, algumas críticas a

POLÍTICA desejávamos para se fazer justiça a milhares de netos de cidadãos nacionais, que anseiam por ter a nacionalidade portuguesa, de uma forma simples e objectiva”.

É difícil, muito difícil, excessivamente difícil...

Nacionalidade a ferros Cesário alerta para dificuldades na obtenção da cidadania

um diploma que há muito estava por regulamentar. “A versão agora publicada desilude muito as expectativas criadas nos últimos tempos. Tal como havia já prognosticado, as decisões serão casuísticas e ficarão

fundamentalmente nas mãos da Ministra da Justiça e dos serviços da Conservatória dos Registos Centrais.” O reconhecimento imediato da cidadania só acontece caso os netos de cidadãos portugueses residam em

Portugal. “A deslocação regular a Portugal e a participação habitual nos últimos cinco anos nas actividades de associações culturais e recreativas da comunidade portuguesa serão um elemento de ponderação a

ser apreciado no processo decisório”, alertou ainda José Cesário.

UM PROCESSO COMPLICADO

Em Macau haverá alguns casos de netos de portugueses que terão condições para pedir a nacionalidade, mas não tantos como os que se verificam noutros países. No mesmo comunicado, José Cesário considera que “fica-se muito aquém do que

Em Macau haverá alguns casos de netos de portugueses que terão condições para pedir a nacionalidade Ainda assim, o deputado e ex-secretário de Estado das Comunidades Portuguesas defende que a regulamentação da Lei da Nacionalidade “permitirá que os diversos casos possam ser formalizados e ter os primeiros resultados”, embora lhe pareça que “os aguarde um processo relativamente moroso”. Andreia Sofia Silva

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DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS EDITAL IMPOSTO COMPLEMENTAR DE RENDIMENTOS

Faço saber, face ao disposto no n.º 1 do artigo 43.º do Regulamento do Imposto Complementar de Rendimentos, aprovado pela Lei n.º 21/78/M, de 9 de Setembro, que ao exame dos contribuintes referidos no n.º 3 do artigo 4.º, do mesmo Regulamento, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 6/83/M, de 2 de Julho, estarão patentes os respectivos rendimentos colectáveis atribuídos pela Comissão de Fixação. Poderão os contribuintes, de 16 a 30 de Junho do corrente ano, reclamar para a Comissão de Revisão, caso não se conformem com o rendimento fixado, não terminando, porém, o prazo, sem que hajam decorridos vinte dias sobre a data do registo dos avisos postais enviados aos contribuintes. Ao 1 de Junho de 2017. O Director dos Serviços Iong Kong Leong

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Anúncio【105/2017】 De acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se, por este meio, o seguinte agente imobiliário: Nome do agente imobiliário CHAN LAP SUN WANG, ZHENYOU HOI, CHI FONG CHOI, KAI WAI LEI, KIN MENG ZHENG, SHAOJIA LAM CHIN KAN LI, HON WAN HU, KEPING CHOI FUN IENG LEI KAM MENG HUANG QIUJU LEI CHI IP LEE CHI WA

N.º do procedimento

N.º da licença

41/DL-AI/2017 45/DL-AI/2017 53/DL-AI/2017 58/DL-AI/2017 62/DL-AI/2017 67/DL-AI/2017 72/DL-AI/2017 73/DL-AI/2017 74/DL-AI/2017 84/DL-AI/2017 91/DL-AI/2017 92/DL-AI/2017 116/DL-AI/2017 118/DL-AI/2017

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Data de levantamento da licença 17/07/2015 09/10/2014 16/10/2014 27/04/2015 14/11/2014 17/11/2014 30/12/2014 01/12/2014 20/01/2015 27/02/2015 09/02/2015 26/02/2015 12/05/2015 03/11/2015

De acordo com os dados deste Instituto, verifica-se que, dentro do prazo de validade da licença de agente imobiliário, o agente imobiliário acima referido não teve vínculo laboral com qualquer mediador imobiliário durante cento e oitenta dias seguidos, pelo que há indícios de que não exerceu a actividade durante aquele período; de acordo com o n.º 2 do artigo 15.º da Lei n.º 16/2012, alterada pela Lei n.º 7/2014 (Lei da actividade de mediação imobiliária) e, de acordo com a alínea 4) do n.º 1 do artigo 15.º da mesma lei, pelo que, nos termos legais, a referida licença pode ser cancelada. Nos termos dos artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, o agente imobiliário acima referido pode apresentar, por escrito, a sua defesa e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou demais provas que sejam favoráveis à sua contestação, no prazo de 15 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Caso não seja entregue contestação, por escrito, dentro do prazo ou a contestação não seja aceite por este Instituto, nos termos da alínea 4) do n.º 1 e n.º 2 do artigo 15.º da mesma lei, a respectiva licença do agente imobiliário acima referido será cancelada. Além disso, de acordo com o n.º 2 do artigo 10.º e o n.º 1 do artigo 16.º da mesma lei, caso seja cancelada a licença do agente imobiliário, o seu titular é obrigado a cessar imediatamente o exercício da actividade de mediação imobiliária, sem prejuízo de poder requerer a concessão de uma nova licença, desde que preencha os requisitos previstos na Lei da actividade de mediação imobiliária. Em caso de dúvidas, poderá dirigir-se à Delegação das Ilhas do Instituto de Habitação, sita na Rua de Zhanjiang, n.os 66-68, Edifício do Lago, 1.º andar D, Taipa, durante as horas de expediente, ou ligar para o número de telefone 28519709, para consulta do processo. Instituto de Habitação, aos 20 de Junho de 2017. O Presidente, Arnaldo Santos


8 SOCIEDADE

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GRAND EMPEROR FICHAS ROUBADAS NO VALOR DE 12,9 MILHÕES

A empresa Emperor Entertainment Hotel, que opera o casino Grand Emperor, sofreu um desfalque na ordem dos 12,9 milhões de dólares de Hong Kong. A notícia foi avançada pelo site GGR Asia, que cita um comunicado do grupo à bolsa de Hong Hong. A perda deveu-se ao furto de fichas de jogo por um funcionário sénior. O homem foi detido pelas autoridades e já foi julgado, tendo sido condenado. Não são dadas pistas sobre o modo como o caso aconteceu e se na origem terão estado procedimentos pouco seguros no tratamento das fichas de jopo. Apesar do incidente, os lucros anuais da Emperor Entertainment – que opera ao abrigo da licença da SJM –, aumentaram 35,2 por cento no último ano fiscal, chegando aos 346,5 milhões de dólares de Hong Kong. A empresa atribui o valor à diminuição das perdas no câmbio dos depósitos em yuan e ao investimento no sector imobiliário. O Grand Emperor tem seis salas de jogo, com 67 mesas destinadas ao mercado de massas, dez mesas VIP e capacidade para 170 slots. O grupo opera ainda o Inn Hotel Macau na Taipa.

Ó marquês! Volta cá abaixo outra vez!

DSAT FERREIRA DO AMARAL TEM OS TRABALHOS DE MANUTENÇÃO EM DIA

Uma praça mais funcional

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manutenção das instalações para o acesso a peões e a desactivação dos elevadores que não apresentam condições de funcionamento estão feitas na Praça Ferreira do Amaral. A informação é dada pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) em resposta a Ella Lei, deputada à Assembleia Legislativa. De acordo com o Governo, já foi exigido aos responsáveis pela gestão do parque de estacionamento o reforço dos serviços de fiscalização para manter o bom estado do equipamento. Na mesma resposta, o responsável máximo pela DSAT, Lam Hin San, garante ainda que a

fiscalização no auto-silo da praça Ferreira do Amaral irá ser reforçada em duas vertentes: tanto nas acções periódicas, como pontuais. No que diz respeito aos trabalhos de limpeza, a DSAT considera que têm sido feitos e que estão em conformidade com a manutenção das boas condições de utilização daquela área. Por outro lado, quanto aos espaços arborizados, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Munici-

pais continua a contratar fiscais para assegurar a limpeza da zona.

HÁ LUGARES PARA TODOS

A disponibilização de lugares de estacionamento para ciclomotores e motociclos na cave 1 do auto-silo não se justifica, diz a DSAT, até porque não é um local muito procurado, pelo que há espaço suficiente para que todos tenham um lugar.

De acordo com o Governo, já foi exigido aos responsáveis pela gestão do parque de estacionamento o reforço dos serviços de fiscalização para manter o bom estado do equipamento

Por outro lado, as zonas de estacionamento que circundam o auto-silo devem ser aproveitadas para melhorar a circulação de peões e para optimizar as acções de recolha e entrega de mercadorias. A razão é evitar o desperdício de espaços públicos. Ella Lei tinha sugerido ainda, na interpelação enviada ao Executivo em Abril, que fossem instalados equipamentos de lazer no rés-do-chão do auto-silo da Praça Ferreira do Amaral. A DSAT não concorda e reitera o que já tinha sido dito pelo IACM: a medida traz inconvenientes no acesso àquela zona. Vítor Ng (com S.M.M.) info@hojemacau.com.mo

CEPA MAIS 27 PRODUTOS ISENTOS DE IMPOSTOS ADUANEIROS

Especiarias, vinho e diamantes passam a integrar a partir de 1 de Julho a lista de produtos isentos de taxas aduaneiros no posto fronteiriço de Gongbei. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, a autoridade alfandegária deste posto fronteiriço deu ontem a conhecer a medida, que se insere no âmbito do acordo de estreitamento das relações económicas e comerciais entre o Continente e Macau (CEPA, na sigla inglesa). O chefe do Gabinete de Gestão das Regras de Origem de Gongbei da Administração Geral das Alfândegas, Deng Weiguang, disse ainda que dos 27 produtos que constam da nova lista de isenções muitos são de origem portuguesa. O objectivo, afirmou, é ajudar no investimento lusófono no território. O responsável considera que a medida pode contribuir para a concretização de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa.


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SOCIEDADE

DETECTADA PRESCRIÇÃO INADEQUADA DE MEDICAMENTOS ONCOLÓGICOS

Negócios com vidas alheias

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S Serviços de Saúde de Macau (SSM) detectaram casos suspeitos de prescrição inadequada de medicamentos contra o cancro por clínicas privadas, no valor de 80 milhões de patacas. Num comunicado enviado pouco depois da meia-noite de ontem, os SSM explicam que, suspeitando do caso, que “pode ter efeitos adversos nos pacientes”, realizaram fiscalizações surpresa em sete estabelecimentos privados de cuidados de saúde, sendo que em quatro se mantiveram as suspeitas, dois estão ainda a ser investigados e num caso o centro médico foi ilibado. Os fiscais verificaram que, em casos de prescrição

de medicamentos destinados ao tratamento de carcinoma pulmonar, os processos clínicos dos pacientes estavam incompletos ou em falta e havia diferenças de quantidade entre a compra e a prescrição. Os produtos suspeitos foram selados, bem como os processos clínicos. O valor total dos medicamentos contra o cancro que terão sido prescritos inadequadamente é de cerca de 80 milhões de patacas. Os SSM explicam ainda que os medicamentos em questão “não foram registados oficialmente em Macau”, tendo sido solicitada por importadores uma licença especial para que pudessem ser utilizados por determinados pacientes, o

Visita à Europa

Alexis Tam quer jovens com “visão internacional”

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secretário Alexis Tam encorajou uma delegação de 20 estudantes do ensino superior de Macau, que se desloca à União Europeia (UE) e à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO), a “aproveitarem a oportunidade para expandirem a sua visão internacional, para promoverem Macau no exterior e impulsionar o intercâmbio”. Alexis Tam afirmou que “o Governo valoriza os trabalhos de formação de quadros qualificados, tendo-se empenhado em criar condições para permitir que os estudantes do ensino superior tenham a oportunidade de participar ou planear diversos tipos de actividade, que reforcem as suas capacidades globais e competitivas”. O Secretário acrescentou que é uma “oportunidade rara”

que foi autorizado pelos SSM. No entanto, “algumas entidades de saúde procediam à venda ilegal deste tipo de medicamentos a pacientes do interior da China para obtenção de lucro”, o que pode incorrer em fraude, contrabando e evasão fiscal. Os SSM alertam que, se se concluir que a infracção constitui “crime contra a saúde pública, a multa será acrescida de suspensão de licença e, em caso de reincidência, do seu cancelamento”. Além disso, se a prescrição não corresponder à “realidade do processo clínico, não será excluída a possibilidade de envio do caso ao Ministério Público para apuramento da responsabilidade penal”.

ESTACIONAMENTO ABERTO CONCURSO PARA GESTÃO DE QUATRO AUTO-SILOS

A Ide e estudai

para compreender o funcionamento da UE e da UNESCO, conhecer “a sociedade, a economia, a política e a cultura da Europa, para aumentar os seus conhecimentos, ampliar a sua visão internacional e pensamento, criando assim ideias positivas sobre os valores de vida”. Desde 2011 que o GAES, com o apoio da Delegação Económica e Comercial de Macau, junto da União Europeia, em Bruxelas, organiza, anualmente, uma delegação de estudantes, do ensino superior de Macau, para se deslocar à União Europeia, para intercâmbio e visita.

Toma o comprimido que isso passa. De vez

Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) recebeu 14 propostas de companhias que estão interessadas em explorar e gerir o Auto-Silo da Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, o Auto-Silo Pak Lek, o Auto-Silo Praça de Ferreira do Amaral e o Auto-Silo da Estrada Flor de Lótus. No que diz respeito às contrapartidas com pagamento trimestral, os valores de referência propostos variam entre as cem mil e os 3,66 milhões de patacas. Das companhias que concorreram 11 foram admitidas, uma chumbou e duas foram admitidas condicionalmente. Os

auto-silos em questão serão submetidos a obras de reparação que são asseguradas pelos adjudicatários. O prazo de adjudicação do concurso é de seis anos, sendo que os critérios de avaliação do concurso se prendem com o valor da contrapartida proposta e com os compromissos assumidos pelo concorrente. Outros aspectos que serão avaliados pelos júris do concurso prendem-se com o programa de gestão e exploração dos parques, o plano de investimento para instalar equipamentos e a experiência do concorrente na gestão de auto-silos.

SOHO RESTAURANTES FISCALIZADOS DESDE 2016

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S restaurantes fechados no espaço Soho, no City of Dreams, já estavam a ser fiscalizados desde o ano passado por falta de licenciamento. Em declarações à Rádio Macau, a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, disse ainda que, em 2016, “tinha começado já uma série de processos administrativos sancionatórios, incluindo multas e ordens de encerramento temporário”. Foram oito os estabelecimentos encerrados mas, de acordo com Senna Fernandes, há um total de 13 restaurantes suspeitos de estarem em funcionamento sem as respectivas licenças, sendo que os restantes estão, neste momento, em fase de audiência e recurso. No que respeita ao atraso das licenças concedidas a estes estabelecimentos, a directora dos Serviços deTurismo justifica a situação com as obras que

decorrem em hotéis e casinos do território. Senna Fernandes referiu que, entre 2016 e 2017, “alguns foram encerrados por iniciativa própria, enquanto outros foram encerrados por condução dos procedimentos sancionatórios pelo funcionamento ilegal”. No entanto, os investidores podem “reiniciar a actividade de restauração após a emissão da respectiva licença”. A Melco, questionada sobre o caso, indicou que os restaurantes no espaço Soho “operam com diferentes tipos de licenças”, e que a empresa e operadores de restauração “têm trabalhado de perto com as autoridades nos procedimentos de licenciamento relevantes” e “o recente encerramento de certos restaurantes na zona Soho faz parte da renovação da propriedade e que tem como objectivo melhorar e refinar a experiência global”.


10 SOCIEDADE O diário Correio da Manhã escreve que o negócio da compra de 30 por cento da Global Media por parte da KNJ só deverá concretizar-se em Setembro, quando estava prometido para Março deste ano. Paulo Rêgo não comenta

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ECORRIA a conferência ministerial do Fórum Macau, em Outubro do ano passado, quando foi selado o pré-acordo da compra de 30 por cento da Global Media por parte da empresa local KNJ Investment, liderada pelo empresário Kevin Ho, sobrinho de Edmund Ho. O advogado Daniel Proença PUB

hoje macau sexta-feira 23.6.2017

Ainda falta o quase...

Negócio entre KNJ e Global Media adiado

de Carvalho, presidente do conselho de administração da Global Media, esteve em Macau, fazendo-se acompanhar pelo jornalista Paulo Rêgo, mediador das negociações. Meses depois o negócio continua por fechar. Segundo o diário português Correio da Manhã (CM), o acordo deverá ser selado apenas em Setembro, quando fora anunciado para Março deste ano. “Contudo, sabe o CM, o negócio, a concretizar-se, não deverá acontecer antes de Setembro. De referir que recentemente uma comitiva da KNJ esteve em Portugal, tendo visitado as instalações do grupo de media em Lisboa e no Porto”, escreve o jornal. Contactado pelo HM, Paulo Rêgo não quis co-

mentar esta notícia. O HM tentou ainda contactar Daniel Proença de Carvalho via e-mail, mas até ao fecho desta edição não obtivemos qualquer reacção.

Serão cardos? Serão prosas?

AS REACÇÕES

Em declarações à Agência Lusa, em Setembro do ano passado, Kevin Ho considerou que o grupo Global Media, que detém títulos como o Diário de Notícias, a TSF e O Jogo, terá “grande potencial após uma reestruturação”. “A KNJ Investment Limited expressou interesse inicial no grupo Global Media”, disse Kevin King Lun Ho, esclarecendo que a KNJ se trata de “uma empresa de investimento e não se limita ao negócio do imobiliário”. De acordo com o registo comercial, a KNJ, fundada

em 2012, dedica-se ao investimento imobiliário, médico e de saúde, bem como à restauração. “Se um negócio for fechado, a empresa pretende

expandir para diferentes áreas”, acrescentou. O negócio tem gerado algumas reacções em Portugal. Num artigo de opinião pu-

“O negócio, a concretizar-se, não deverá acontecer antes de Setembro. De referir que recentemente uma comitiva da KNJ esteve em Portugal, tendo visitado as instalações do grupo de media em Lisboa e no Porto.” CORREIO DA MANHÃ

blicado no jornal Público, o colunista João Miguel Tavares questionou “que negócio, afinal, foi este?”, num artigo intitulado “A Global Media e o nosso homem em Macau”. “Perplexidade 5: As movimentações accionistas via Macau não espantam apenas pela estranha empresa KNJ, que supostamente investe ‘na área do imobiliário, saúde e restauração’ (entradas no Google sobre a KNJ Investment antes de 2016: zero)”, escreveu Tavares. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


11 hoje macau sexta-feira 23.6.2017

Cinemateca Paixão SEGUNDO FESTIVAL DE DOCUMENTÁRIOS

Portugueses na tela

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EIS filmes de realizadores portugueses integram o segundo Festival Internacional de Documentário de Macau (FIDM ou MOIDF, na sigla em inglês), que arranca a 8 de Julho, na Cinemateca Paixão. “Ama-san”, documentário que Cláudia Varejão rodou no Japão, acompanhando uma comunidade de mulheres que se dedica à prática milenar de pesca por mergulho em apneia é uma das produções portuguesas apresentadas no certame. Falado em japonês, com legendas em inglês e chinês, o filme premiado no DocLisboa 2016 resulta de um trabalho de pesquisa de Cláudia Varejão, no Japão, em torno de pescadoras que apanham moluscos e bivalves, mergulhando sem garrafas de oxigénio, respeitando técnicas tradicionais e rituais antigos. Com um total de 27 filmes de várias partes do mundo, incluindo Taiwan e Hong Kong, o festival inclui uma Secção Portuguesa com cinco documentários. “Rio Corgo” (2015), da polaca Maya Kosa e do português Sérgio da Costa, e que recebeu o prémio para melhor filme português no Festival DocLisboa, é o primeiro dos filmes em exibição nesta secção. Outro dos destaques na secção dedicada aos criativos portugueses é a “A Caça Revoluções” (2014), o primeiro filme de Margarida Rêgo, uma animação experimental sobre fotografia, que tem como mote a Revolução

Este ano a sardinha anda arredia. Não é, ó comadre?

de Abril de 1974, a partir de uma fotografia tirada na época.

LEONOR TELES EM MACAU

“Balada de Um Batráquio” (2016), curta-metragem da realizadora Leonor Teles, vencedora do Urso de Ouro do Festival de Berlim e premiada no Festival Internacional de Cinema de Hong Kong em 2016, também vai ser exibida em Macau. Do luso-americano Gabriel Abrantes chega “Uma Breve História da Princesa X” (2016), a escultura na base do escândalo do Salão Internacional de Arte de Paris, em 1920, dedicado ao escultor Constantin Brancusi e à escritora Marie Bonaparte, um filme que no ano passado teve a sua antestreia na Tate Britain, em Londres, no Reino Unido. “Cidade Pequena” (2016), a curta-metragem

que valeu a Diogo Costa Amarante o Urso de Ouro no festival de Berlim deste ano, encerra os filmes da secção portuguesa.

TEMPO E CRESCIMENTO

O 2.º Festival Internacional de Documentário de Macau é uma colaboração entre a Cinemateca Paixão e a Comuna de Han-Ian. Assente em dois conceitos – “Tempo” e “Crescimento” –, e no tema “Imagem do Tempo”, o festival abre com “Small Talk” (Taiwan), uma complexa história sobre a cineasta Hui-chen, que venceu o Prémio Teddy para Melhor Documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2017. A cineasta japonesa Naomi Kawase vai ser a “realizadora em foco” da segunda edição do FIDM, com a exibição de seis dos seus documentários, incluindo “Embracing”,

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA FERNADO PESSOA POR JOÃO VILLARET E MÁRIO VIEGAS (AUDIOBOOK) • Fernando Pessoa

Audiobook ditado pela Companhia Nacional de Música sendo que a primeira parte – Álvaro de Campos, Fernando Pessoa (Ortónimo), Ricardo Reis (4 odes), Alberto Caeiro (Três poemas de “O Guardador de Rebanhos”) – é recitada por João Villaret e a segunda – Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos; Alguns «Poemas Inconjuntos” – por Mário Viegas.

“Katatsumori” e “Chiri”, os quais retratam a mesma personagem ao longo da vida. Nascida em Nara, no Japão, Naomi Kawase tornou-se em 1997 a mais jovem realizadora de sempre a ganhar a Camera d’Or no 50.º Festival Internacional de Cinema de Cannes e vai estar em Macau para partilhar a sua experiência com o público (ver texto nesta página). Outros destaques do certame são o filme de ficção “Suzaku”, também de Naomi Kawase, “Brothers”, descrito como uma versão documentário do filme “Boyhood”, e “Still Tomorrow”, filme de Jian Fan sobre uma mulher agricultora que se torna poeta, distinguido no Full Frame Documentary Film Festival (IDFA). O segundo Festival Internacional de Documentário de Macau termina a 30 de Julho.

EVENTOS

As possibilidades criativas da dor Naomi Kawase

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USÊNCIA e perda. Na filmografia da cineasta japonesa Naomi Kawase, é comum observar experiências de vida que envolvem a aprendizagem dos personagens com a dor inevitável de um acontecimento trágico, sem no entanto sucumbir ao ressentimento ou à culpa. Diferente da produção audiovisual da indústria que reproduz determinados padrões de género, o cinema de Kawase explora imagens sensoriais que redimensionam a relação entre corpos filmados e câmara, por meio de filmes dotados de motivação autobiográfica. As suas primeiras curtas são filmes caseiros, onde ela mesma procura lidar com elementos claramente pessoais, como o abandono do pai e a iminência da morte da tia-avó. Por meio de um inventário de imagens registadas na sua própria casa ou nos arredores da bucólica cidade de Nara, tais filmes caseiros absorvem nuances sentimentais de curiosidade e esquadrinham uma intimidade. Com uma Super 8, Kawase regista momentos de sua vida quotidiana que são dignos de ser guardados e, por meio desta colecção de instantes, monta seus filmes domésticos de forma descontínua, como forma de preservar aquilo que é mais caro nas imagens: sua dócil presença. Tal sensibilidade é enfatizada em Caracol (1994), no momento em que Kawase toca o rosto de sua tia-avô, após tê-la observado da janela de sua casa. O acto de acariciar a imagem, de fazer do contacto o gesto primordial, sugere a aposta em uma “câmara-pele”, como explica o ensaísta Luis Miranda em El Cine en El Umbral. Kawase explicita a necessidade de tocar alguém que se ama e, por meio de tal gesto, sustentar uma materialidade que fatalmente se perderia com a morte da tia-avó.Amodulação da ausência também é presente

em outros documentários caseiros da cineasta, como Em seus braços, em que ela mostra sua busca pelo pai biológico; ou Cartas de uma cerejeira amarela em flor, onde relata suas visitas a um amigo crítico de fotografia, que estava na beira da morte. Nos filmes de ficção, a potência de vida das personagens é tanta que a perda nunca é compreendida como algo negativo. Dentro dos seus limites, os personagens dos longas de Kawase esforçam-se por provocar bons encontros que aumentem ao máximo sua acção no mundo. A tristeza transforma-se em alegria; a obscuridade em luz. É o caso de Shara, que narra como uma família lida com o desaparecimento de um ente querido; ou A Floresta dos Lamentos, em que um viúvo fortalece a amizade com uma moça que acaba de perder o filho. Cada filme passa a ser a expressão intensa dos esforços dos seus personagens em organizar, cada um a seu modo, encontros alegres, apesar da dor da perda. Aqui o sofrimento não depõe contra a vida. As trajectórias dos personagens são marcadas pela contingência, pela diversidade de regularidades e acasos. E assim é a vida: cheia de erros e acertos, descobertas e fracassos. No cinema contemporâneo, Kawase começou a ter reconhecimento quando recebeu o prêmio Camera D’Or no Festival de Cannes, em 1997, tornando-se a mais jovem directora a ser premiada no evento, com a sua primeira longa-metragem Suzaku. Excertos de um texto de Jo Takahashi

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1937 - O ATENTADO A SALAZAR • João Madeira

Esta é a extraordinária história, quase cinematográfica, do único atentado contra a vida de António de Oliveira Salazar, que o historiador João Madeira nos conta ao longo destas páginas. Por pura sorte, António de Oliveira Salazar escaparia sem um arranhão deste atentado. No final, enquanto uns lhe pediam repouso, mantendo a pose bem afivelada, sorriu e respondeu: «Como fiquei vivo terei de continuar a trabalhar». Reconstituindo factos, o livro segue a investigação policial que imediatamente foi montada com exames, inspeções, denúncias e teses contraditórias e se torna numa verdadeira caça ao homem. É preciso encontrar culpados, a todo o custo. E é então que surge o fantástico «grupo terrorista» do Alto do Pina.


12 EVENTOS

ALFREDO CEYNA

Manter viva a tradição ARTESÃO

Foi professor do ensino primário nas Filipinas e agora é mestre da arte de construir lanternas. Alfredo Ceyna passa todos os anos o conhecimento da tradição a quem quiser aprender. Este ano, o workshop tem lugar de 17 a 28 de Julho

O que vê nestas lanternas? Do que sei, penso que simbolizam prosperidade. Na sua origem, acho que serviam para iluminar os caminhos quando as pessoas saíam de casa. Com o passar do tempo foram sendo desenvolvidas as técnicas e as formas: no início era usado o bambu para fazer a estrutura, e depois era unido e coberto com papel de arroz. Este método tradicional tem agora variações. Pode ser usado o arame e o ferro, por exemplo, e vários tipos diferentes de papel ou mesmo outros materiais sintéticos. Mas não há nada como a construção tradicional. O papel de arroz é um material

muito frágil e delicado, mas especial quando falamos de textura e de cor. Tem um workshop marcado para o próximo mês. A iniciativa tem lugar todos os anos. Qual é a importância da sua realização? Fazer estes workshops anualmente é fundamental. As lanternas já começam a ser esquecidas em muitos locais, nomeadamente na China Continental. Em Macau, as lanternas do coelhinho são uma demonstração da cultura local que não podemos deixar desaparecer. Queremos mostrar, a quem estiver interessado, como podem fazer estes objectos. Por outro lado, é uma forma de alertar as pessoas para a importância das lanternas em Macau. Tecnicamente, ensino as competências a ter, como fazer as estruturas depois da ideia, e de como juntar e pintar o material que as vai cobrir. De facto, não é muito complicado fazer estas lanternas desde que se saibam as técnicas mais básicas. Claro que inicialmente é uma coisa difícil, principalmente a materialização da ideia em estrutura. Apesar de gostar mais do bambu, aqui aprendemos a usar o arame e penso que esta é a parte mais difícil.

“Macau é um lugar bonito está cada vez mais a ter em conta o património e as tradições.” Porquê? É como uma escultura. As pessoas começam sem saber ao certo o que vão fazer. Tem de ser feito primeiro um plano e depois conseguir materializar a ideia em arame. Isso tem sido o mais complicado.

SOFIA MARGARIDA MOTA

Como é que aconteceu a passagem do ensino de artes industriais no seu país à mestria na construção das lanternas típicas do território? Nunca tinha pensado nisso. Quando o arquitecto Carlos Marreiros me pediu para fazer este trabalho pensei que teria de fazê-lo e não via nenhuma razão para que isso não acontecesse. Foi a partir de 2009, quando participei com o arquitecto na construção do Pavilhão da Lanterna do Coelhinho, na Expo de Xangai de 2010. Na altura, o arquitecto quis começar com o festival das lanternas em Macau por ser uma tradição local, nomeadamente com as lanternas do coelhinho. Pediu-me para aprender o ofício. Aprendi tudo o que sei com o Carlos Marreiros. Foi ele o meu mestre. Mostrou-me como se fazia, como se construía, como se podiam fazer estruturas e forrar com vários materiais. A partir daí desenvolvi as competências necessárias para poder construir as lanternas do coelhinho. Apesar de não esperar vir a tornar-me um artesão e dominar este ofício, acabei por perceber que é um trabalho muito bonito e que fazia peças também muito bonitas. Foi ainda uma prova que dei ao Carlos Marreiros que sempre me apoiou e incentivou a fazer mais e melhor.

Este workshop é dirigido a um nível avançado. Porquê? Sim. Chamamos de avançado porque não são dadas orientações. O processo é acompanhado, mas as pessoas fazem o seu próprio projecto. Fazem a sua estrutura e depois cobrem-na com o material que preferirem. É avançado porque deixo os alunos decidirem tudo o que tenha que ver com o que vão fazer. Não sou eu que

controlo o resultado ou que forneço os esboços. Se assim fosse, seria tudo muito uniforme e eu quero que sejam todos diferentes. Qual é a sua opinião acerca da adesão a esta iniciativa? A adesão aos workshops vai variando de ano para ano. Às vezes temos mais participantes, outras menos. Tive uma vez uma criança, mas é

uma arte muito difícil de ensinar quando as pessoas são muito novas. Do que tenho notado, é que são os mais velhos que, por vezes, se mostram mais interessados, sendo que a faixa média de idades não aparece tanto. Não sei porquê, talvez achem aborrecido. No entanto, os que frequentam os workshops terminam a formação muito satisfeitos. No final conseguem ver o produto que lhes


13 hoje macau sexta-feira 23.6.2017

EVENTOS

ARTE VISITA GUIADA E CONCERTO NA CASA GARDEN

É amanhã que a pintora Ana Maria Pessanha fará uma visita guiada à sua exposição “O Mar”, que está patente na Casa Garden. Segue-se um espectáculo aberto ao público, com a voz de Deborah Cardinal e música de Luís Bento e Miguel Noronha. O evento acontece a partir das 16h30.

CONCERTO FÊTE DE LA MUSIQUE NA PONTE 16

O evento anual que decorre hoje no Hotel Sofitel arranca com uma maratona enóloga musicada por acordeões. Quem for à Ponte 16 terá vinhos franceses e do sul da Austrália, canapés e carnes variadas para petiscar. Por volta das 19h, os acordeões dão lugar às guitarras e teclados que acompanham a vocalista da banda Claret Apéro Chic. O concerto fará a sua performance no Mistral Pool Terrace do Sofitel.

Do esboço ao concreto

Giulio Acconci expõe pela primeira vez no Centro de Design

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Um dia quero fazer lanternas de artesãos, refilou o coelhinho

saiu das mãos e que foi fruto de um trabalho duro. Também temos um limite de dez participantes, o que faz com que não possam integrar as formações muitas pessoas. Mas também não podem ser mais, para que seja um trabalho bem feito. Por falar em participantes, recordo uma senhora que vem todos os anos. Acho que ela gosta realmente deste ofício.

Pode ser um dos últimos mestres desta arte em Macau. Como é que vê o futuro da tradição no território? Penso que esta é uma forma de manter a tradição viva. Por outro lado, o apoio de patrocinadores, especialmente para a construção de lanternas tradicionais em bambu, pode realmente ser um contributo importante para que o conhecimento e a construção se mantenham. É ainda

importante o contributo do Governo. Se isso acontecer, a tradição não estará ameaçada e continuará. Macau é um lugar bonito e está cada vez mais a ter em conta o património e as tradições. Não acho que ainda esteja a ser feito tudo o que é possível para a sua preservação, mas está a ser feito um trabalho nesse sentido. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

AZU - A Solo Exhibition By Giulio Acconci” é uma estreia absoluta no mundo da pintura. Como se costuma dizer, há uma primeira vez para tudo. Uma frase que deve andar pela cabeça de Giulio Acconci há, pelo menos, um ano. Apesar de ter um passado ligado às artes plásticas, o artista expressou-se principalmente através da música, enquanto trabalhava como designer gráfico. “Esta não só é a primeira vez que faço uma exposição, mas também a primeira vez que faço obras completas de pintura”, explica. O público pode apreciar os primeiros trabalhos de Giulio no Centro de Design de Macau, a partir de terça-feira, dia 27, até ao dia 10 de Julho. Até 2016, o artista nascido em Macau fazia apenas pequenas experiências que não passavam de esboços e desenhos em papéis isolados e blocos. Uma vez uma mão, noutras uma perna, sempre sem coerência de uma obra sólida. No ano passado, Giulio Acconci começou a concretizar as experiências em algo mais completo e o resultado deu-lhe coragem para prosseguir e dedicar-se, efectivamente, à pintura. “O que as pessoas podem ver é uma jornada que começou por curiosidade, para ver até que ponto poderia ir com a pintura”, conta o artista. O resultado é a combinação dos anos de designer gráfico e de todos os conceitos que foi absorvendo em leituras e em experiências de vida com manifestações estéticas.

MEMÓRIA SURREAL

A inspiração para as pinturas partiu de uma visão da deusa Mazu, que empurrou Giulio Acconci para um “universo paralelo pela vida da pintura surrealista”. Nos seus quadros existem leões, dragões e pessoas em cenários surpreendentes. O artista quis dizer algo sobre Macau nestas obras que considera como memórias surreais da cidade. “Não estou a tentar passar uma

Nunca é tarde

mensagem particular, os meus trabalhos são muito abstractos e conceptuais, misturam elementos do Oriente e Ocidente”, explica. “Adeusa Mazu foi a centelha que ateou o fogo mais surreal e o universo paralelo das minhas pinturas, é uma divindade com lendas inspiradoras”, desvenda Giulio Acconci. O artista foi criado no seio de uma família com forte ligação às artes. Neste capítulo importa mencionar que o seu avô, Oséo Acconci, fez o painel em mosaico que decora a fachada do Hotel Estoril. As obras que constituem a primeira mostra de Giulio Acconci foram concebidas usando aguarela, tinta-da-china e lápis de aguarela para apurar detalhes, numa mistura que une elementos oníricos a imagens recorrentes. João Luz

info@hojemacau.com.mo


14 CHINA

hoje macau sexta-feira 23.6.2017

Em nome da paz

China promete cooperação com ASEAN no Mar do Sul

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encontro – primeiro estabelecido sob um novo marco de contactos de alto nível pelo presidente americano, Donald Trump, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Abril – contou com a presença do conselheiro de Estado chinês, Yang Jiechi, e o general Fang Fenghui, chefe do Estado Maior do exército chinês, do secretário de Estado, Rex Tillerson, e o secretário de Defesa, Jim Mattis. Por seu lado, a parte chinesa indicou que os dois países devem tratar de forma objectiva as questões estratégicas bilaterais. O conselheiro de Estado explicou que a intenção da China é clara: defender a própria soberania, segurança, interesses de desenvolvimento e trabalhar para concretiza o sonho chinês de grande revitalização da nação chinesa. Além disso, foi esclarecido que, “persistindo no caminho do desenvolvimento pacífico, a China deseja estabelecer um novo modelo de relações internacionais. O país privilegia a cooperação com ganhos mútuos e deseja construir uma comunidade de destino comum da humanidade”. Numa breve conferência de imprensa, no

Ó faz favor, pode passar o sal?

ENCONTRO BILATERAL DE SEGURANÇA EUA-CHINA

Unidos mas não convencidos Os Estados Unidos asseguraram nesta quarta-feira, após um encontro de alto nível sobre segurança e defesa com a China, que o gigante asiático partilha sua posição perante as provocações da Coreia do Norte e enfatiza a necessidade de pôr fim ao programa nuclear da dinastia Kim. encerramento do primeiro diálogo bilateral de Defesa e Segurança, o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, assegurou que, no que diz respeito à não-proliferação nuclear, “as nossas posições são as mesmas”. Por seu lado, o secretário de Estado, Rex Tillerson garantiu que ambos países fazem um alerta para “uma desnuclearização completa, verificável e irreversível na Península da Coreia”.

PRESSÃO POR PRESSÃO

No entanto, apesar do bom ambiente, os Estados

Unidos instaram Pequim a aumentar a pressão sobre o regime norte-coreano: “Reiterámos à China que ela tem a responsabilidade diplomática de exercer uma maior pressão económica e diplomática sobre o regime (norte-coreano), se quer evitar uma nova escalada na região”, disse Rex Tillerson. O secretário de Estado espera igualmente que a China “faça a sua parte” contra as “actividades criminosas” às quais Pyongyang recorre para financiar as suas actividades nucleares e balísticas,

como o “branqueamento de capitais”, a “cibercriminalidade” ou a “extorsão de fundos”. As duas partes ainda discutiram várias outras questões como Taiwan, Tibete, Mar do Sul da China. O secretário de Estado norte-americano afirmou que o seu governo persiste na política de uma só China, reconhece o Tibete como parte do território chinês e não apoia as actividades de separação do país asiático. A Coreia do Norte, que realizou vários testes de mísseis desde que Trump assumiu o poder em Ja-

neiro, centrou o primeiro diálogo de trabalho chinês com o governo de Trump.

UM JOVEM SEM SORTE

O encontro aconteceu um dia depois que o jovem americano Otto Warmbier morreu em Ohio, uma semana após voltar da Coreia do Norte, onde esteve detido acusado de roubar um cartaz de propaganda, em coma e com danos cerebrais. Mattis criticou a Coreia do Norte por seu “desprezo à lei e à ordem, à humanidade e à responsabilidade” básica que se esperam de um país. O caso de Warmbier piorou ainda mais as relações entre EUA e Coreia do Norte, que o governo Trump esperava reconduzir para a reabertura de um diálogo com o regime de Kim Jong-un com a ajuda da China, o principal aliado norte-coreano. O próprio Trump afirmou no Twitter que valoriza os esforços da China para conter o regime da Coreia do Norte, mas que, em sua opinião, “não funcionaram”. Apesar das sanções internacionais, a Coreia do Norte tem armas nucleares e desenvolve mísseis balísticos que poderão ameaçar o Japão, a Coreia do Sul e talvez um dia as cidades norte-americanas, escreve a agência de notícias France Presse.

China prometeu nesta quarta-feira efectuar diligências conjuntas com os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) para garantir o sucesso da reunião dos chanceleres China-ASEAN em Agosto e promover a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, fez a declaração em resposta a uma pwergunta sobre os comentários recentes da secretária assistente das Relações Exteriores das Filipinas para os assuntos da ASEAN, Maria Hellen De La Vega. A diplomata filipina disse que o estabelecimento da linha vermelha de diplomatas seniores entre a China e os países da ASEAN e a aplicação do Código para os Encontros Não Planeados no Mar (CUES, em inglês) no Mar do Sul da China, ajudarão a melhorar as relações China-ASEAN. Geng elogiou os comentários da diplomata filipina, acrescentando que a situação actual no Mar do Sul da China é estável e mantém um ímpeto de desenvolvimento saudável. As partes relacionadas têm impulsionado as consultas sobre o Código de Conduta (COC, em inglês) no Mar do Sul da China, além da cooperação marítima, disse Geng. O diplomata chinês acrescentou que as partes chegaram a um acordo sobre a estrutura do COC. No ano passado, concordaram em estabelecer uma linha vermelha de diplomatas seniores para lidar com emergências marítimas e aplicar o CUES no Mar do Sul da China. A linha vermelha está na fase de experiência durante a primeira metade deste ano, segundo Geng. “Todas essas medidas têm desempenhado papéis importantes para fortalecer a confiança entre as partes e evitar assuntos inesperados”, acrescentou.


15 CHINA

hoje macau sexta-feira 23.6.2017

CONSUMIDORES DE CARNE DE CÃO DEFENDEM A SUA FESTA

A diversificação da gula Embora mais discreta, a festa de Yulin abriu e os cães são devorados como sempre. Alguns locais não percebem onde está o problema. E sentem-se no direito de comer o que muito bem lhes apetece.

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A última selfie

festa da carne de cão mais popular da China começou nesta quarta-feira, com barracas cheias de cães refogados ou salteados, e uma população determinada a defender suas tradições diante da incipiente ameaça de proibição. Este evento gastronómico ocorre anualmente na cidade de Yulin pelo solstício de Verão, em 21 de Junho. E, todo o ano, causa polémica no estrangeiro e no país. A associação americana Humane Society International afirmou, no mês passado, que as autoridades chinesas proibiriam a venda de carne canina durante esta edição. Mas, nesta quarta-feira, os talhantes cortavam pedaços de carne de cão e salteava-os em woks tradicionais. Os vendedores exibiam as carcaças amareladas dos cães mortos e despedaçados, com os rabos esticados e os dentes de fora. No restaurante de Yang, os clientes pedem macarrão de arroz para o café da manhã,

mas ao meio-dia exigem carne de cão. “Durante a festa, as nossas vendas aumentam nove vezes. E não tenha dúvida de que sempre conseguimos ter o suficiente”, afirma Yang, com a esperança de vender seis por dia durante o festival. Segundo associações de defesa dos animais, as autoridades chegaram a um acordo com os vendedores, autorizando duas carcaças por barraca. Mas alguns vendedores ultrapassam essa cota.

POLÍCIA POR ALI

“A proibição não atinge todo o comércio de carne de cão. Mas a festa parece menos grandiosa do que no ano passado, com menos cães sacrificados nessa indústria cruel”, declarou à AFP Irene Feng, da ONG Animals Asia. A cada ano, mais de 10.000 cães costumam ser abatidos para esta festa em condições atrozes, segundo os defensores dos animais: alguns, a marretadas, e outros, queimados vivos. Muitos polícias estavam posicionados do lado de fora

do principal mercado de cães da cidade. Segundo Liu Zhong, proprietário de uma loja de ervas medicinais, a polícia vigia “muito de perto” a actividade no mercado de Yulin. Alguns comerciantes vendem cães às escondidas, directamente nas suas casas ou em outros lugares, relata. “É só um pouco mais discreto” do que no ano passado, comentou Liu, que parou de

“Qual é a diferença entre cão, frango, vaca e porco? Faz parte da cultura local. Não se pode impor uma escolha às pessoas. O que as pessoas comem é da conta de cada um.” LI YONGWEI MORADOR DE YULIN

comer carne de cão há dez anos e tem sete cães como animais de estimação. Alguns donos de restaurantes modificaram os seus rótulos de “carne de cão” para “carne saborosa”. Um chegou a cobrir com papel amarelo a palavra “cão”. Outros vendedores intercalam pedaços, como fígado, com outros produtos como língua de vaca ou pata de porco. Todos os anos, morrem na China de 10 a 20 milhões de cães para consumo, de acordo com a Humane Society International. Apesar de não ser ilegal, comer carne de cão é minoritário e suscita uma oposição crescente. Para Li Yongwei, morador de Yulin, não há nada de estranho. “Qual é a diferença entre cão, frango, novilho e porco?”, pergunta. “Faz parte da cultura local. Não se pode impor uma escolha às pessoas. Assim como não se pode forçar alguém a ser cristão, budista, ou muçulmano”, considera Li. “O que as pessoas comem é da conta de cada um”, completa.

EMPREENDEDORISMO MAIS BASES DE DEMONSTRAÇÃO

Um negócio de alta rotação

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A

China pretende impulsionar o espírito empreendedor e a inovação em massa ao construir mais 92 bases de demonstração”, anunciou na quarta-feira o Conselho de Estado. O governo decidiu apoiar o estabelecimento de mais bases de demonstração para o espírito empreendedor e a inovação, porque o primeiro grupo de 28 bases do mesmo tipo tem tido um papel importante na actualização e inovação industrial, de acordo com o Conselho de Estado. O segundo grupo de 92 bases, inclui 45 bases de demonstração regionais, como o distrito de Shunyi, em Pequim, 26 bases de demonstração de universidades e institutos de

pesquisa como a Universidade de Pequim, e 21 bases de demonstração corporativas como a Companhia da Indústria Aeronáutica da China. As bases aproveitarão os subsídios da política de expansão de mercado, protecção de propriedade intelectual, finanças e impostos. Segundo o Conselho de Estado, as autoridades locais devem construir um ambiente de política saudável para promover o espírito empreendedor e a inovação, devem simplificar as aprovações administrativas, delegar o poder aos escalões inferiores e encorajar os serviços de aprovação profissionais nas bases de demonstração.

Aldeia chinesa enriquece com boom de “barrigas de aluguer”

indústria de “barrigas de aluguer” é desde há uma década uma importante fonte de receitas para a aldeia chinesa de Qili, na província de Hubei, apesar de a gestação de substituição estar proibida no país. Em Qili, um casal infértil pode alugar um ventre por preços que variam entre 150.000 e 250.000 yuan, um valor quinze vezes superior ao rendimento médio anual no interior de Hubei - 11.844 yuan-, segundo uma reportagem difundida pela estação de televisão Shandong TV. A indústria floresce na aldeia desde há uma década, apesar de ser ilegal na China. Penas leves, altos lucros e um aumento da taxa de infertilidade no

país - de três por cento, há 20 anos, para quase 15%, actualmente - têm levado ao ‘boom’ no uso de barrigas de aluguer, indica a reportagem. No Baidu, o principal motor de busca chinês, uma pesquisa pelas palavras-chave “barriga de aluguer” permite encontrar centenas de agências. Muitas mulheres estão dispostas a correr riscos, alugando o ventre em idades já avançadas ou acedendo a engravidar logo após dar à luz. Num caso, uma família foi indemnizada em “dezenas de milhares de yuan”, depois de a sua filha ter morrido durante a gravidez. A indústria gera também abusos contra as mulheres de Qili, que são enviadas para Wuhan, a capital

de Hubei, ou para a província de Cantão ou Xangai, onde ficam trancadas em casas disponibilizadas pelos intermediários, até que o bebé nasça. Em Fevereiro passado, o porta-voz da Comissão Nacional da Saúde e Planeamento Familiar da China, Mao Qunan, afirmou que a gestação de substituição é um “tema complexo”, que envolve questões legais, éticas e sociais, e que a comissão continuará a punir. Apesar de a China ter já mais residentes em áreas urbanas do que rurais, a família continua a ser fundamental na sociedade chinesa, com o casamento e ter filhos a constituírem quase um dever.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

16

José Simões Morais

A ideia de construir uma larga avenida N

O primeiro número do hebdomadário noticioso, histórico e literário Ta-Ssi-Yang-Kuo (resposta de Mateus Ricci, para dizer de onde vinha: ‘Grande Reino do Mar de Oeste’) de 8 de Outubro de 1863, nas Notícias Diversas e título Alargamento da Cidade refere António Feliciano Marques Pereira: “Quem é que não tem observado que, no Bazar, há uma acumulação de casas e habitantes, muito e muito além do que o local permite”. Já o estudo de Maria Calado, Clara Mendes e Michel Toussant, refere “tal como no século anterior, a cidade portuguesa permanecia organizada em torno das igrejas e conventos, envolvidos por amplos espaços abertos e públicos, em contraste com a zona chinesa, situada a norte, entre Santo Agostinho, São Paulo e o mar. Esta caracterizava-se por quarteirões de forma alongada, cortados por becos e travessas estreitas, era preenchida por habitações de dois pisos, dos quais o inferior era ocupado por comércio familiar e pequenas unidades industriais de carácter artesanal. Os becos correspondiam, em regra, a espaços de circulação de peões, mas como não tinham saída adquiriram uma certa privacidade...”. A actividade dos chineses desenrola-se no Bazar, que enquadrava o Convento de São Domingos e integrava as ruas dos Mercadores, dos Ervanários, das Estalagens e da Palha, segundo refere Pedro Dias. Já o Director das Obras Públicas, o Engenheiro Augusto Abreu Nunes, que chegara a Macau em 1893, pouco tempo antes de Camilo Pessanha, no final da sua comissão arquitectou um plano para “construir uma Avenida larga e espaçosa, que estabeleça uma comunicação directa entre a Rua Marginal do Porto Interior e o centro da cidade, entre estas duas ruas de principal movimento: a rua da Felicidade e a rua das Estalagens; e alargar as comunicações transversais destas três ruas, será sem contestação, um melhoramento de primeira ordem para a Colónia, debaixo de todos os pontos de vista, porque facilitará o comércio e o trânsito e melhoraria as condições higiénicas da cidade, dando ocasião, também, a que se construa um cano colector na Avenida para os esgotos, e canos nas ruas transversais, melhorando assim consi-

deravelmente, o estado deplorável em que se encontra a canalização da cidade. Dado este primeiro passo para o saneamento do Bazar chinês, o que faltará para o pôr completamente em boas condições, efectuar-se-á depois rápida e naturalmente, como consequência deste primeiro melhoramento”.

EXPROPRIAÇÕES

Na memória descritiva e justificativa, o engenheiro Augusto Abreu Nunes refere o projecto de construção de uma avenida desde o Largo do Senado até à Rua Marginal do Porto Interior e alargamento das ruas dos Mercadores, do Mastro, do Aterro Novo e travessa da Cordoaria. “As obras que se propõem para realizar este melhoramento consistem pois: na construção de uma Avenida, com 15 metros de largura desde o largo do Senado à rua marginal do porto interior, reservando-se para mais tarde o seu prolongamento até à Praia Grande, por ser mais dispendioso e menos urgente a sua construção, porque são melhores as suas condições de trânsito actual; alargar as ruas dos Mercadores, do Mastro e Aterro Novo, dando-lhes a largura de 10 metros, e prolongar a

travessa da Cordoaria até à rua da Felicidade. Estas obras trarão, ainda, como consequência, (sem outra despesas), o alargamento da rua da Caldeira e da parte das ruas do Matapau, Barca da Lenha e Nova d’ El Rei; a abertura dos becos do Professor, do Paralelo, do Louceiro, do Barbeiro, do Cotovelo, do Poço etc. e ainda, a supressão de muitos pátios, de vários moradores cada um, e que são outros tantos focos de infecção que empestam a cidade pela dificuldade de se exercer nelas a devida fiscalização, além da falta de ar e luz que ali existe”. “Para se realizar este melhoramento importantíssimo, é necessário fazerem-se importantes expropriações; mas eu entendo que, sendo este melhoramento quase exclusivamente para utilidade dos chineses, deverão ser eles que devem principalmente pagá-lo, evitando onerar os cofres da Fazenda com despesas para o conseguir e reservando a sua receita para outros melhoramentos de que tanto carece a Colónia e cuja importância não é tão fácil fazer recair sobre eles. “Nesta instrução eu entendi que devia fazer a avaliação das expropriações não tomando por base o rendimento

A zona chinesa caracterizava-se por quarteirões de forma alongada, cortados por becos e travessas estreitas, era preenchida por habitações de dois pisos, dos quais o inferior era ocupado por comércio familiar e pequenas unidades industriais de carácter artesanal. Os becos correspondiam, em regra, a espaços de circulação de peões, mas como não tinham saída adquiriram uma certa privacidade

dos prédios, não só porque é completamente desconhecido este rendimento exacto por serem as avaliações das matrizes incorrectas e mal feitas, o que tornaria portanto desigual qualquer avaliação feita sobre este rendimento, mas porque sendo em geral grande o rendimento das propriedades, seria enorme o custo das expropriações calculada sobre esta base. Além disso, esta circunstância poderia impossibilitar o Governo de intentar um melhoramento que sendo de primeira necessidade para o saneamento da Colónia, visitada anualmente pelas epidemias de cólera e peste, traria a meu ver outros prejuízos muito maiores e principalmente para os mesmos indivíduos sobre quem recai estes sacrifícios. Não hesitei por isso em pôr de parte este sistema de fazer as avaliações e limitei-me a fazê-las sobre a base unicamente do valor da construção, como se tem feito até aqui, por motivos análogos. “Creio que se poderá porém compensar as consequências deste modo de fazer as avaliações das expropriações, dando aos proprietários, a quem se fazem as expropriações, a preferência na aquisição dos terrenos que sobrarem dos melhoramentos projectados. “Procedendo deste modo, os terrenos que sobram da abertura e alargamento das ruas poderão ser vendidos depois, por um preço muito mais elevado do que o custo das expropriações, como é natural, por isso que ficam marginando avenidas e ruas largas, bem ventiladas e bem canalizadas, e eu suponho que a importância destes terrenos cobrirá todas as despesas da expropriação e ainda da construção do pavimento e canalização das ruas. “A Avenida projectada, como disse, tem uma largura de 15 metros, mas nesta largura compreende-se a de 2,5 metros que cada lado, as construções devem deixar no pavimento térreo para servir de passeios, cobertos em arcadas, abrangendo as construções estes espaços nos pavimentos superiores, ficando portanto a Avenida com 10 metros de largura para o trânsito de carros entre estes passeios. Para nos convencermos que esta largura é suficiente bastaria dizer que a rua principal, Ducerio Road, em Hong Kong, tem entre os passeios 10,5 metros de largura”.


17 hoje macau sexta-feira 23.6.2017

tonalidades

António de Castro Caeiro

U

MA tonalidade é uma tradução para o que Heidegger escrutina como formas radicais de acesso ao mundo. São maneiras de ser. A palavra alemã é “Stimmung”. Traz à colação o fenómeno do estado-de-ânimo. É uma disposição. A palavra equivale, de certo modo, à inglesa mood. No étimo, está a palavra “Stimme” (voz). Uma tonalidade é uma cadência acústica, uma melodia, um modo. É assim que na nossa vida estamos dispostos. Vibram em nós disposições, cadências musicais rítmicas. Heidegger usa tanto metáforas acústicas: “uma tonalidade é um modo de ser no sentido em que é uma melodia, a qual não paira sobre o ser humano que existe aí, mas indica o som do seu ser, é o jeito e a maneira que determina e tonaliza o seu do ser humano (GBM, 101)” ou como metáforas meteorológicas: “Parece que a tonalidade está desde sempre aí, como uma atmosfera na qual nós já imergimos e ela ressoa em nós completamente” (GBM, 100). Nós temos em português expressões como “estar um ambiente de cortar à faca” ou “de cortar a respiração”, apontando assim para uma densidade extraordinária, uma atmosfera que não só paira em suspenso sobre as coisas, vibra sobre elas, mas perpassa tudo. Isto é o que dá disposição de ir ou de não apetecer ir. Não é uma coloração que pode ser detectada nas coisas (alegria rosa, melancolia negra), que acompanha o estarmos aí. É o que abre ou fecha, de todo em todo, atmosferas. Nós existimos entre possibilidades extremas de disposições vibrarem. O mais das vezes não estamos nem bem nem mal. Aparentemente neutraliza-se a disposição. Fecha-se o olhar, para dar conta dessa mesma presença. Isto serve para situar o acontecimento do esvaziamento de sentido, no nada da angústia ou do tédio. O nada dá ritmo à vida, dá-lhe uma melodia peculiar, desde sempre, desde a primeira vez das primeiras vezes. A sua cadência é a da asfixia, do estrangulamento do próprio sentido do tempo. Encontrarmo-nos no meio das coisas no seu todo não significa que o meio seja determinado por uma qualidade espacial (a equidistância). Por estarmos dentro de um determinado sítio não

FRANCIS BANCON, OEDIPUS

Das tonalidades

O mais das vezes não estamos nem bem nem mal. Aparentemente neutraliza-se a disposição. Fecha-se o olhar, para dar conta dessa mesma presença. Isto serve para situar o acontecimento do esvaziamento de sentido, no nada da angústia ou do tédio

estamos dentro desse sítio: na praia, na esplanada, no mundo. Não é por estarmos entre quatro paredes que estamos na sala. Estar na sala de jantar a comer e a jogar às cartas é diferente. Se não captamos a totalidade da natureza e história. A disposição não apenas qualifica o sítio específico em que estamos (só esta sala). Ela faz-nos explodir para fora da sala, do edifício, para fora da cidade, tinge o céu, contamina tudo no seu todo. É centrífuga e claustrofóbica. O meio das coisas refere a cadência, o ritmo, a atmosfera e o clima em que nos encontramos. Fazemos a experiência de como cada um se encontra ou acha fora do âmbito perceptivo ou cognitivo. Cada pessoa é uma onda ou uma vibração. Cada pessoa encerra em si um espectro de modulações e tonalidades que metamorfoseiam o tempo, circunstâncias e situações. Cada pessoa é uma onda que modula o tempo e atinge a totalidade dos entes. A priori eu sei que quando me encontro com tonalidades diferentes: azul, rosa ou negro. Não apenas como um fenómeno cromático, mas como atmosferas que antecipam todos e quaisquer conteúdos. Há disposições a priori que podem não ser anuláveis. Podemos anular a chatice de um filme, saindo da sala do cinema para nos expormos a outros estímulos. Mas só manipulamos as disposições até certo ponto (com um copo de whisky sexta-feira à noite, por exemplo). Os estados de espírito são calculados. Rejeitamos convites porque sabemos que nos vamos aborrecer. Mas há disposições incontroláveis. Independentemente de onde estamos – no pátio, mar do sul, outra galáxia – estaremos sempre numa cadência com o mesmo tom. Não é necessário percorrer todos os compartimentos, todas as regiões de ser para interrogar sobre o que ainda escapa. À partida está ganho o horizonte e a confiança para nele estarmos: o horizonte onde vibram tonalidades. Há um tom para cada um de nós? Qual é? Conseguimos escutar-nos uns aos outros? Como? GPM: “Grundprobleme der Metaphysik” (Problemas fundamentais da Metafísica)


18

h

S

ÃO como marcos. Na beira da estrada. Às vezes penso que a vida não aparenta grandes mistérios, que não possam ser reflectidos nas ínfimas manifestações inconsequentes de momentos de uma noite ou um dia, sem espectadores prováveis ou pressentidos. Por vezes, move-se como se nada ou ninguém mais existisse. Por isso a vida das vizinhanças, mesmo estas de passagem, sempre me fascinou pela presença incógnita do espectador, inadvertido e próximo, se bem que invisível, ignorado com indiferença, naquela estranha e ocasional liberdade de existir sem o olhar dos outros. Agudizada às vezes pelo silêncio da noite e pela amplitude da rua. Como uma caixa-de-ressonância inesperada. Gosto dessa emergência do real, nas suas tonalidades inconsistentes, e sem desenvolvimentos visíveis. Talvez por isso mesmo. É a vida que passa pontualmente, em caminhos cruzados com os de outras vidas, sem se lhe conhecer o início nem a consequência. Um instante a planar nos momentos de outras existências, que por vezes agem como pequenos fragmentos de espelho sem mais questões a relatar do que a circunstância em si. E mesmo essa, por vezes plena de densidade e implicações. Mesmo quando desconhecidas. Ou as rotinas. As pequenas e redundantes obsessões. Fragmentos. Instantâneos. Talvez um certo desgosto de histórias completas. De finais. Já basta o prédio da frente, sempre repleto de últimos capítulos. E que um dia, recentemente encerrou. E com ele ficaram por narrar esses, imaginados, inventados do seio das possibilidades e inevitabilidades de um jardim de gente no fim. Perdi o sono daquelas solitárias mulheres já quase depois da idade, no seu dormir irregular com janelas abertas sobre os últimos vestígios do mundo. Que lhes era possível. As suas telefonias minúsculas a partilhar a almofada. Os bens em saquinhos de plástico, bem enrolados sobre si próprios. A proteger em novelo a parca colecção de pequenos tesouros, um pente, um gancho… E agora, onde andará a vida desse casarão? Que aguardará a vida desse casarão? Não quero que lhe levantem a cabeça mais um andar. O alto da cabeça. Com esta longa franja de telhas vãs um pouco acima dos olhos. Ficar sem essa fatia de céu que vinha presa à janela. Não quero trocar este excesso de luz diurna e o sono nocturno de velhinhas quase sem género

nem silêncio, porque as próprias palavras as tinham abandonado e com elas a possibilidade dos intervalos, por janelas a incidir olhares turísticos em mergulho a pique sobre as minhas. Quero essa luz em demasia que me invade a casa até ao fim do corredor, quando me apanha as portadas distraídas. E fechá-las para não ferir as velhinhas antes do sono, com o espectáculo de beijos, mais do que um fugaz minuto que as faça sonhar memórias ou histórias de fantasia. As velhinhas que abalaram. Já lá não estão. No lar de idosas. Odeio esta palavra. Idosas. Como se velhinhas sofrendo da doença má da idade. Da qual alguém quis curar a casa grande. Por agora fecha serenamente esses cílios desmultiplicados, como de mosca poisada. A aguardar. Não digo que durma. Espera. Simplesmente. Mas a vida abrandou nela. Já não sou surpreendida por uma respiração mais forte. Audível como se não houvesse paredes entre nós. Em algumas noites. Já não oiço. Sim, espera. De respiração parada, suspensa, em receio do que vem. Como eu. No outro dia alguém tentava ruidosamente abrir-lhe a porta. Sem o saber de dono e de hábito. Mas um homem bem- posto, e, de facto, com ares de dono novo. Não foi fácil. Abalei antes do fim da história a sorrir para dentro da dificuldade que o pobre casarão abandonado estava a tentar interpor entre o passado e o futuro. Na medida das suas possibilidades. Não deixando abrir a boca com a ausente sofreguidão de um futuro. Não se entregando assim, num primeiro assalto do desconhecido. Bem- posto. E com ares de dono. Alguém grita lá em baixo na rua: Nuno – o nome é irrelevante e é outro dia, outra noite – donde vens, para onde vais e quem és…eu sei que vivo numa amálgama infantil de porquês, na ânsia de entender, e na vontade de perguntar, mas não chego a tanto nos meus assomos de coragem ou impertinência e nas perguntas que faço. Acho… Chego? Perguntar é uma arte que não tenho bem desenvolvida, que exige estratégia ou espontaneidade, e – sobretudo - silêncio. A margem de respiração onde pode nascer algo. E ali, de resposta veio nada. Que se ouvisse daqui de cima. Como as pessoas dão pouca importância às perguntas destes anseios. Está bem. Era a brincar. Por vezes quem pergunta não quer saber. Já me aconteceu. E a frustração de não responder está bem ao nível daquela de não ter respostas…é a vida…

ANABELA CANAS

Nocturnos

Não sigo Nuno nem sigo o perguntador. A esta hora, uma outra hora, um outro dia, na rua, a mesma rua, alguém toca um saxofone. E domina toda a noite vazia. Quase vazia. Ou é talvez clarinete. Um improviso melancólico e doce vindo não entendo de onde. Perto. Sem melodia. Da janela vejo pouco mais gente

que aquela figura de mulher a subir a rua. Copo na mão. Avança dificilmente mas sem parar, e se não fosse o movimento de elevar a mão ao rosto não entenderia o copo. Avança aos tombos. Entre uma parede e um eixo que vai procurando assegurar. E de novo de encontro a uma parede. Só. Tem que trazer uma amargura ímpar na alma. Uma pessoa. Um


19 hoje macau sexta-feira 23.6.2017

de tudo e de nada

Anabela Canas

e diurnos

amor. Uma desilusão. E agora passou. O improviso também. Ficar à janela num dia de noite suave. Por mais que pise este palco do tempo, se é o palco não é a minha peça. Se é a peça não é o dia. Assim é estar fora de tudo. Num andar alto mas não demasiado alto para ser fora do mundo. Só na margem. Como uma ausência. E quando à noite o

céu se abre em estrelas, é talvez a miopia que lhes dá vida. Em crescendo, alaradas e pulsantes. Mesmo se já não o forem, lá dos confins deste universo realmente grande, e se a notícia não tiver chegado ainda. Como tantas vezes retemos na vista, na alma algo que afinal já não é. Só não sabemos. Mas assim, dizia, é uma noite mais rica e plena. E nela, o instante

é o beijo da eternidade. Um objet trouvé, um dessain trouvé uma realidade paralela a passar ao lado. Em mutação. Mas aqui, é porque estou. À varanda, nesta noite como as outras. E a pensar que a solidão é sentir que só existimos em nós. O que é muito, mesmo assim. Mas as camadas que se cruzam com outras translacções são demais e de menos. Umas vezes uma coisa. Outras, outra. Ouvir vozes. Vindas do fim dos tempos ou do fim dos dias. A mesma terra de ninguém. Ou deste submundo parcial que se torna uma espécie de freak show em que nos desenhamos na estranheza ou se desenha a estranheza dos outros. Ou, nas margens, nos desentranhamos da estranheza dos outros. A certas horas. Uma mistura entre freak show e wonderland. Há coisas que de tantas leituras possíveis, acabam por não ter leitura nenhuma. Escreveu Kafka algures: “The right understanding of any matter and a misunderstanding of the same matter do not wholly exclude each other.”. Sobra o fascínio. A coisa mais estúpida que alguma vez já fiz foi ter escrito o teu nome no braço com um canivete. Uma tarde que podia ser noite. Um lamento telefónico. Como uma voz off. Um rosto invisível, e o outro, invisível e sem voz. Lindo. Apetecia-me dizer bravo. Nas traseiras, num ponto qualquer da minha vida e de outras pessoas invisíveis no momento. Invisíveis sempre e para sempre irreconhecível aquela voz. Como aqueles sapatos poisados no parapeito da janela da voz. Ou de outra voz. Como vestígios únicos e visíveis de duas figuras a caminhar pé ante pé na beira do espaço vazio. Como vizinhos visivelmente invisíveis acima dos sapatos., alinhados em fila. Antes do salto. Talvez de invisíveis mãos dadas para tal. Mas eu farto-me por vezes de vozes. Prefiro rostos. Mãos. No seu aparente alheamento mútuo. No seu silêncio. Sem raramente voltarem costas uma à outra. Que não num momento de transição, num gesto de flamenco. É tão fácil carregar num botão, fazer um clic e iniciar uma palavra. Mas esta nem sempre é líquida. Por vezes é mesmo sólida. E rola inadvertida em função de factores como força, impulso, peso, superfície, textura. Indominável. Como um dado de jogar. Que rola e estaca no 1 ou no 6. Nada feito. É o aleatório ou os dados estão viciados. Como os fragmentos de vida. De dias. De noites que me tocam de passagem.

Mas é ao crepúsculo que a Senhora vem. E com ela muitos, circunspectos, em procissão, nas datas nomeadas. As vozes monótonas a desfiar a melopeia. E as velhinhas do lar fazem tudo bem. Faziam. Colchas bonitas à janela e cestinhos com pétalas de rosa, para atenuar a caminhada da Senhora e lhe emprestar o perfume da emoção com que lhe sentem e seguem a visita. Visita de médico. (Coisa para um curar cuidar rápido ou seguir os medicamentos). Que outra razão teria a Senhora para passar aqui…Vem por elas a Nossa Senhora delas. E a Senhora passa de olhar ausente, preso no infinito da sua alma de pedra. Em trajes de vir à rua. Um momento bom. Lento mas talvez não o suficiente para encher um pouco mais os dias. Delas. Mesmo eu, fico encostada à ombreira a fumar e a querer eternizar o momento. Só um pouco mais. Emocionam-me e invejo-as. Gosto que ela passe aqui. Fetichismo talvez. Ou, somente gosto que as velhinhas gostem. E agora que se foram, se a Senhora vem, pergunto-me. O outro sobe a rua. De há uns tempos. A falar alto, sempre com a mesma voz de reclamação, numa espécie de lamúria mesclada de uma espécie de sacrifício que o empurra rua acima. Todos os dias o suave jugo. Sempre a descompor. Johnny! Sempre a mesma coisa, f…se. Lá está a palavra em f. sempre a pontuar-lhe as frases. Nunca mais venho contigo à rua que c. lá está a palavra em c. a ritmar-lhe cada duas frases. Alternada com a outra. Johnny! Ai, ai, ai, ai, ai! F…se, Johnny! Repete sem se cansar nem gastar o nome rua acima. A insultar, sempre naquele tom. Espreito. Da primeira vez. Uma espécie de rapaz velho. Encorpado. Johnny! É sempre a mesma coisa. F…se. E intercala regularmente dois ou três palavrões e sempre os mesmos. Também. Com o mesmo valor de Johnny. É todos os dias a mesma coisa. Diz. Digo. E continua rua acima. Todos os dias o mesmo tom lamuriento que se lhe desprende como serpentinas soltas ao longo da rua. Soltas mas seguidas e sem interrupção que não breves silêncios. E o cãozito, ordeiro e pela trela, nem água vai e segue na frente pelo passeio. Antecipa-o calmamente. Rua acima. Silencioso. Na sua vida de cão cheio de paciência para aquele dono que o adora. Lambidela aqui, lambidela ali. Na sua vida de cão. Os dois, na sua vida a dois. Todos os dias. F…se, Johnny! O raio do cão. Diz. Sempre a lamber o chão. Sempre a mesma coisa. Sim. E por aí fora…


20 DESPORTO

hoje macau sexta-feira 23.6.2017

LIGA DE ELITE

ANTEVISÃO da jornada por João Maria Pegado

Dias de sprint final

B

é que a derrota com os encarnados atirou o CPK para terceira posição e, neste momento, para voltarem a liderar o campeonato precisam de um verdadeiro milagre. Os encarnados têm que perder pontos, assim como os canarinhos, tendo que a equipa liderada por Inácio Hui vencer ambos os jogos que faltam. O primeiro desses dois jogos realiza-se no domingo, pelas 20:30, frente à Polícia. Na primeira volta o CPK venceu por 2-0. Nesta segunda volta não se afigura um jogo fácil porque a derrota para o grupo da Polícia poderá indicar a descida de Divisão, algo que a equipa de Ka Li Man quer evitar a todo custo.

TATIANA LAGES

ENFICA, Monte Carlo e CPK, entram nesta penúltima jornada com hipóteses reais de serem campeões, nunca a Liga Elite teve tantos potenciais candidatos a levantarem o troféu como esta época. Contudo, as probabilidades são diferentes para os três.

BENFICA DE MACAU

O Benfica, com a vitória do passado Sábado sobre o então primeiro classificado CPK, colocou-se na frente para renovar o título de campeão e conquistar o seu quarto campeonato seguido. Neste momento os encarnados são a única equipa a depender de si própria para levantar o troféu. Para tal precisa de somar 6 pontos. Três desses seis pontos podem ser conquistados já este Sábado às 18:30 frente ao Kei Lun. No jogo da primeira volta o Benfica teve uma vitória fácil por 4-0, mas a equipa de Josicler melhorou muito desde então tendo vindo a realizar boas exibições, como aquela que empatou com o Monte Carlo. Henrique Nunes, técnico dos encarnados, sabe que este não vai ser um jogo fácil mas ao vencer dificilmente o titulo lhe escapará e poderá mesmo ser campeão esta jornada se vencer e o dois perseguidores não ganharem.

RESTANTES JOGOS Fónix! Falhei!

Roberto terão que ganhar os seus dois jogos finais e esperar por um deslize dos encarnados. Aequipa canarinha está a terminar o campeonato em alta, prova disso foi a vitória frente ao Benfica que relançou o campeonato e perante as equipas da parte de baixo da tabela tem goleado. Entretanto este domingo, às 18:30, vão ter um adversário complicado: o Cheng Fung. Na primeira volta os canarinhos venceram por uns expressivos 7-2 mas é sabido a apetência desta equipa, liderada por João Rosa, para tirar pontos aos líderes da tabela, como fez por duas vezes esta época aos encarnados.

MONTE CARLO

Os canarinhos ainda hoje devem pensar no empate frente ao Kei Lun, pois não fosse a perda desses dois pontos e hoje estaria em primeiro lugar da Liga Elite. Para conseguirem quebrar a sequência de títulos do Benfica, os pupilos de Cláudio

CPK

A equipa capitaneada por Diego Patriota é das três a que tem a situação mais complicada, o que não era verdade a semana passada. A verdade

Sexta feira, 21:00. Sporting vs Development Team. A equipa liderada por Nuno Capela vai realizar o jogo de uma época. Com uma vitória sobre os jovens da associação irão realizar o que o muitos pensavam impensável antes do início do campeonato e grande objectivo deste grupo de trabalho: a manutenção. Entretanto, vão apanhar uns jovens da associação feridos no orgulho após a derrota com o Lai Chi, que os deixou numa situação muito complicada e só uma vitória neste encontro poderá ainda dar esperanças aos jovens de Macau. Sábado, às 20:30, Ka I vs Lai Chi. A equipa capitaneada por William Carlos Gomes tem praticamente a sua situação resolvida, só uma grande combinação de resultados os colocavam acima dessa posição ou até abaixo. Já o Lai Chi ganhou nova vida e uma vitória aqui e uma derrota da Polícia poderá colocá-los a uma jornada do fim acima da linha de água.

CLASSIFICAÇÃO

J

V

E

D

P

BENFICA

16 13 2 1 41

MONTE CARLO

16

13

1

2

40

C.P.K.

16

13

0

3

39

KEI LUN

16

7

3

6

24

CHING FUNG

16

5

8

3

23

TAK CHUN KA I

16

5

3

8

18

SPORTING

16 3 4 9 13

POLICIA

16 2

4 10 10

LAI CHI

16

3

DEVELOPMENT

16 2 2 12 8

2

11

9

Vruumm...ou ficas em casa

Tudo ou nada

Zhuhai recebe a jornada decisiva de apuramento

O

Circuito Internacional de Zhuhai acolhe este fim-de-semana a segunda e última jornada da edição 2017 do Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sigla inglesa), que, para além de atribuir os títulos das competições locais, tem como finalidade apurar os pilotos para a Taça CTM de Carros de Turismo de Macau do 64º Grande Prémio de Macau. Depois da jornada dupla inicial do mês de Maio, este Festival de Corridas de Macau será decisivo para determinar quais os pilotos de Macau, e este também das regiões vizinhas, que irão participar no grande evento do mês de Novembro. Em jogo estão 25 vagas para na categoria “AAMC Challenge 1.6 Turbo” e outros 25 lugares na classe “AAMC Challenge 1950cc ou Acima” (ex-Macau Road Sport Challenge).

AO RUBRO

A categoria “AAMC Challenge 1.6 Turbo” assistiu na primeira jornada a dois triunfos de pilotos macaenses. Célio Alves Dias ganhou o primeiro braço de ferro, enquanto Filipe Souza fez jus ao título de campeão que ostenta e triunfou no segundo confronto. Contudo, é o piloto de Hong Kong e histórico das corridas de carros de Turismo, Paul Poon, quem lidera o campeonato. A luta pelo ceptro estará ao rubro, pois Poon contabiliza 25 pontos, contra 24 de Leong Chi Kin e 20 de Alves Dias e Souza, quando há 40 pontos ainda em cima da mesa. Nas contas do apuramento, com trinta inscritos, apenas cinco pilotos vão ficar de fora. Jerónimo Badaraco e Rui Valente tiveram uma primeira

jornada não livre de complicações, mas os dois deverão estar “a salvo”. Já Eurico de Jesus e Hélder Rosa terão obrigatoriamente que pontuar este fim-de-semana se quiserem voltar ao Circuito da Guia.

TAMBÉM POR DEFINIR

Na categoria “AAMC Challenge 1950cc ou Acima” as contas são mais complicadas, porque há cinquenta e cinco concorrentes e vinte ficarão de fora. Lo Kai Fung, vencedor da segunda corrida do primeiro evento, lidera as contas do campeonato, com 35 pontos, seguido de Ng Kin Veng, com 24 pontos, e Yam Chi Yuen, com 21 pontos. No que respeita aos pilotos macaenses, Luciano Castilho Lameiras e o estreante Delfim Mendonça Choi estão “livres de perigo”, pois são décimo segundo e décimo terceiro, respectivamente, na tabela de pontos. O mesmo não podem dizer HélderAssunção e Jo Rosa Merszei, que terão que fazer um esforço suplementar para se qualificar.

MAIS UMA CORRIDA

Para além das provas das categorias “AAMC Challenge 1.6 Turbo” e “AAMC Challenge 1950cc ou Acima” haverá também mais uma corrida, a Taça Richburg. Esta corrida, que já o ano passado se realizou, está aberta a viaturas 2.0l Turbo, como são os TCR e as viaturas do campeonato chinês de Turismo, 1.6l Turbo e da categoria GTC. O real propósito desta corrida é desconhecido, mas os poucos participantes da Taça Richburg o ano passado conseguiram entrada directa na Corrida da Guia. Sérgio Fonseca

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21 hoje macau sexta-feira 23.6.2017

TEMPO

?

NEBULADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Sábado

SATURDAY NIGHT JAZZ - MACAU AND HK JAZZ FRIENDS CONCERT Fundação Rui Cunha | 21h às 23h

MIN

27

MAX

32

HUM

70-90%

EURO

8.69

BAHT

MACAU JAZZ SUNDAY SESSIONS Live Music Association | a partir das 21h

Diariamente

CICLO DE CINEMA SOBRE REALIZAÇÃO NO FEMININO Cinemateca Paixão | Até 9/07

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “CONTELLATION” DE NICOLAS DELAROCHE Galeria do Tap Seac | Até 08/10 EXPOSIÇÃO “O MAR” DE ANA MARIA PESSANHA Casa Garden | Até 31/08 EXPOSIÇÃO “A ARTE DE ZHANG DAQIAN” Museu de Arte de Macau | Até 5/8

EXPOSIÇÃO “DESTROÇOS” DE VHILS Oficinas Navais, nº. 1 | Até 31/11 EXPOSIÇÃO “AS MUDANÇAS DE HENGQIN” Armazém do Boi | Até 16/07

Cineteatro

C I N E M A

TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT SALA 1

TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT [2D][B] Fime de: Michael Bay Com: Mark Wahlberg, Laura Haddock Anhtony Hopkings 14.00, 16.45, 21.30

THE MUMMY [2D][C]

TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT [3D][B]

PROBLEMA 64

UM DISCO HOJE

Os humanos precisam de terra, os gatos precisam de areia. Os humanos lançam-se em guerras sanguinárias por território, matam, pilham e violam, salgam terra, incendiam aldeias de pessoas mais escuras, acrescentam solo onde antes havia mar, agigantam a propriedade horizontal, verticalmente, em direcção aos céus. Em Macau há uma abundância de quase tudo, mas não há habitação. Edificam-se torres, sucedâneos “condomínicos” da Babel pós-diluviana que inverte a história de Noé, uma fábula onde é o território que ganha terreno à água. Aqui, como em todo o lado, há uma aspiração a quatro paredes e um tecto, um dos itens do edifício da dignidade humana. O confinamento ao “domus”, ao acolhedor e doce lar. Em terras de cofres públicos repletos de fichas de casino, onde a construção civil faz parte do ADN da cidade, casa não devia ser uma preocupação das pessoas. Abrem concursos e são sete cães a um osso no cruel jogo da oferta & procura, sempre com a ganância à espreita. Este é um jogo viciado, onde os únicos vencidos são os moradores. No lado civilizado do reino animal não há nada disto. Tirando os detalhes da cadeia alimentar, os predadores não especulam com a dignidade das presas. Propriedade é um conceito só ao alcance da imaginação sádica dos humanos. Nós, garbosos gatos, mijamos em areia de sílica. A nossa pátria é a cama e um vislumbre de luar. O único chão que nos interessa e ao qual chamamos casa é onde nos deitarem comida. Pu Yi

LOADED | VELVET UNDERGROUND

O disco derradeiro da seminal banda Velvet Underground, “Loaded”, já anunciava a carreira a solo de Lou Reed, compositor de todas as faixas do álbum. Com um pendor mais amigável para a rádio, afastado da onda escura avant-garde influenciada por Andy Warhol, assim que “Loaded” foi gravado Reed abandonou a banda, dois anos depois da saída de John Cale. É um grande álbum, apesar de aparecer deslocado da curta discografia dos Velvet Underground. Tem clássicos que ficaram na história do rock como “Sweet Jane”, “Rock & Roll” e “Oh! Sweet Nuthin”. Um disco essencial que sepultou, definitivamente, os anos 1960. João Luz

SALA 3

A FAMILY MAN [2D][B] Fime de: Mark Williams Com: Gerard Butler, Gretchen Mol, Williem Dafoe, Allison Brie 14.30, 16.30, 21.30

SALA 2

Falado em cantonês legendado em chinês e inglês Fime de: Emily Chan Nga Lei Com: Sean Pang, Angela Yuen, King Wu Kyle Li, Mary MA 19.30

Falado em inglês legendado em chinês Fime de: Takanori Tsujimoto 14.30, 16.30, 21.45

1.14

Fime de: Michael Bay Com: Mark Wahlberg, Laura Haddock Anhtony Hopkings 19.00

Fime de: Alex Kurtzman Com: Tome Cruise, Sofia Boutella, Annabelle Wallis, Jake Johnson 19.30

RESIDENT EVIL: VENDETTA [C]

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 63

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “NOCTURNO” DE FILIPE DORES Albergue SCM | Até 09/07

EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7

YUAN

QUATRO PAREDES

BOK PLUS Terra Coffee House | 19h30 às 22h30 (evento inserido no festival de teatro BOK)

EXPOSIÇÃO “COLOUR/SHAPE/LOVE” DE JOAQUIM FRANCO Macau Art Garden | Até 16/07

0.22

AQUI HÁ GATO

Domingo

EXPOSIÇÃO “25+10” DE RODRIGO DE MATOS Consulado de Portugal | Até 30/06

(F)UTILIDADES

OUR SEVENTEEN [2D][B]

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 23.6.2017

contramão

ISABEL CASTRO

A perda EDVARD MUNCH, TARDE EM KARL JOHAN, 1892

isabelcorreiadecastro@gmail.com

C

HEGUEI a Macau num contraciclo de viagens. Ainda se contavam os amigos e colegas que tinham ido logo depois da meia-noite, os que tinham partido nos dias seguintes, os que tinham deixado os carros no aeroporto, com as chaves na ignição. Cheguei quando

pouca gente chegava. Isso foi um enorme azar e uma sorte também. Aterrei sozinha, com tudo o que a solidão implica, mas não cheguei no meio da multidão, o que pode ser uma vantagem. Houve quem tivesse tempo para mim e eu tive de ter tempo para os outros, para os outros que eram diferentes e que não tinham chegado comigo. Cheguei pouco tempo depois das eleições legislativas de 2001. Macau ainda era todo transferência: vivia-se da comparação, politicamente falando, como se fosse possível comparar séculos a dois anos incompletos. Aterrei na Assembleia Legislativa e por ali fiquei uma legislatura completa, a mais completa

de todas as legislaturas que acompanhei. Passei horas na sala de imprensa a aguardar o fim de reuniões de comissões permanentes. Ali consumi muita literatura. Passei horas e horas em plenários, alguns agressivos, em que a palavra ‘portugueses’ vinha à baila mais do que estaria à espera. Como se eu estivesse à espera de alguma coisa. Eu que não percebia nada daquilo. Eu que fui percebendo alguma coisa lentamente, com a ajuda de quem se interessa por quem não chega no meio da multidão. Eu que agora percebo cada vez menos daquilo. Naqueles tempos as preocupações políticas eram outras. A dignidade do órgão também. Aprendi

a ler os silêncios e os ruídos, o que uns e outros queriam dizer. Aprendi que há mais, muito mais, do que se faz e diz publicamente. Tentei ler os bastidores, na leitura possível de quem aterra de fora, sozinha, sem a multidão por perto.

Ninguém anda ali para grandes pensamentos. Quer-se estar naquele sítio porque o cargo dá a dignidade que não se conquistou cá fora

Quis perceber o que se estava ali a construir. Cheguei à conclusão, naqueles meus primeiros anos, que também são os primeiros anos disto que aqui temos, que a preocupação principal era impedir a destruição. As pessoas eram outras. Não todas, mas muitas delas. Todas elas tinham memória, apesar de algumas dizerem que não, que não tinham. As pessoas que eram outras foram sendo substituídas e o processo nem sempre correu da melhor forma. Houve um declínio da preparação técnica, uma quebra no discurso político, um crescente aumento da falta de pudor, que é coisa que cai bem nestas instâncias. O discurso da comparação morreu, para aparecer apenas pontualmente, mas não deu lugar a algo substancialmente melhor. A agressividade pontual serve apenas as freguesias. Ou os bairros. Ou as origens, sobretudo as origens. Ninguém anda ali para grandes pensamentos. Quer-se estar naquele sítio porque o cargo dá a dignidade que não se conquistou cá fora. Esta semana, ficámos a saber que Leonel Alves está de partida. Não se recandidata em Setembro. Há teorias que correm por aí que em nada me interessam. São 33 anos daquilo, os anos todos da mudança, os anos todos da mudança pós-mudança. É o deputado com mais anos de exercício de funções, um homem que há muito entrou para a história política do território, se um dia alguém se interessar por ela e se os outros deixarem que seja feita. A Assembleia Legislativa ficará mais pobre. Nas ideias, na capacidade técnica, na diversidade, no Q.I.. Nós, comunidade de língua portuguesa, também ficamos mais pobres. Leonel Alves falou sempre em português, à excepção de raríssimas situações em que mudou de registo linguístico para evitar que os seus interlocutores se escudassem nas traduções. Ficamos mais pobres porque a língua diz muito e ele era o único a defendê-la verdadeiramente. A língua não é só a língua, é muito mais. Não sei o que virá depois de Setembro, mas sei que não será certamente melhor. Este Verão é o início do fim de qualquer coisa. Daqui a dois anos saberemos todos melhor o que acabou.


23 PERFIL

KANE AO IEONG

hoje macau sexta-feira 23.6.2017

KANE AO IEONG, CANTOR

S

EGUIR uma fantasia e concretizá-la é algo que não está ao alcance de todos. Kane Ao Ieong é uma das pessoas que leva exactamente a vida com que sonhou desde que era miúdo. “Quando estudava na escola secundária queria muito ser cantor”, lembra o jovem de 23 anos. Para concretizar a aspiração que tinha desde tenra idade, o artista local começou a participar em vários concursos de canto e a habituar-se a pisar o palco. Mas a paixão pela música era uma evidência bem antes de se atrever a subir a um palco ou a entrar em competições de canto. O pai de Kane Ao Ieong trabalhava junto de um local com karaoke. Portanto, a visão de pessoas a pegar no microfone a lançar-se em versão de canções populares foi algo que sempre esteve presente no quotidiano do jovem. Passou a ser uma ocupação de tempos livres, sempre que podia insistia com a família para o levarem a cantar no karaoke. O hábito rapidamente tornou-se paixão, com uma forte tendência a transformar-se num modo de vida. Para dar forma a este sonho, o jovem decidiu que, para levar as coisas mais a sério, teria de ter aulas de

Cidadão Kane canto, uma condição essencial à evolução que projectava. Através dos concursos de canto em que entrou em Macau, foi conhecendo mais cantores e artistas locais, pessoas com aspirações e sonhos semelhantes. Hoje em dia, Kane Ao Ieong é cantor a tempo inteiro e o seu projecto musical levou-o a assinar contrato com a editora Easy Music. As sonoridades nas quais se gosta de expressar são muito assentes no R&B e nas influências da pop da Coreia do Sul. O jovem de Macau ainda se dedica à representação e à música clássica e, numa perspectiva mais contemporânea, anima festas como MC. À medida que a sua carreira avança, Kane enfrenta “o stress da necessidade de ter de evoluir e chegar a palcos maiores”. O artista considera que Macau é uma terra com grande margem de crescimento no que toca às artes de palco, mas é difícil furar e chegar a mais gente. Até bem recentemente achava que havia poucas oportunidades para os cantores locais encontrarem o seu espaço num panorama musical muito pequeno. Nesse aspecto,

Kane é da opinião que “o desenvolvimento do sector da música em Macau é muito limitado, funciona de uma forma muito lenta”. Ainda assim, o jovem cantor está contente porque sente que cada vez mais a população da cidade aprecia as vozes dos artistas locais. Apesar de a abertura ser progressiva, os projectos musicais de Macau começam a ter público.

AULA COREANA

Numa tentativa de acrescentar algo às suas performances, Kane Ao Ieong fez-se à estrada e partiu para a Coreia do Sul para estudar canto e dança. O artista considera que os coreanos estão no caminho certo no que à música pop asiática diz respeito. “Nos últimos tempos o público de Macau, Hong Kong e Taiwan, virou-se para a música coreana”, revela. No entendimento do cantor, este fenómeno de popularidade deve-se ao profissionalismo da produção musical da Coreia do Sul, que exporta artistas e bandas de grande qualidade. “O meu objectivo é cantar cada vez melhor, juntar a dança à minha música e trazer o que há de bom da pop da Coreia do Sul para Macau”, projecta Kane.

Os tempos que passou em solo sul coreano fizeram-no enfrentar carências de interpretação que tinha, além de o terem despertado para o papel da dança num contexto pop. A experiência foi tão enriquecedora que o jovem de Macau pondera visitar outro país com a finalidade de ir buscar influências exteriores e evoluir como performer. Um dos frutos da sua passagem pela Coreia do Sul é a colaboração que tem na forja com uma rapper coreana que espera que venha a acrescentar algo novo no contexto do panorama musical de Macau. Kane Ao Ieong vê neste projecto uma oportunidade para colocar cá fora tudo o que aprendeu na formação que teve e dar um novo rumo à música que tem vindo a fazer. Ou seja, dar ritmo às melodias mais lentas e emocionais que têm dominado o seu repertório. O resultado desta coligação musical deve estar concluído ainda este ano e será um novo passo na carreira de Kane Ao Ieong. Vítor Ng e João Luz

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“ Empréstimos talvez fatais Regulador investiga Fosun e HNA

O

regulador chinês pediu aos bancos do país informações sobre os empréstimos concedidos a empresas que fizeram importantes investimentos além-fronteiras, como a Fosun e a HNA, depois de a China registar no ano passado uma fuga recorde de capital. Segundo a agência de informação financeira Bloomberg, entre as empresas abrangidas pelo pedido da Comissão Reguladora do Sector Bancário Chinês (CBRC) constam a HNA, accionista da TAP através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul, e a Fosun, dona de várias empresas em Portugal. A comissão pediu ainda informações sobre o grupo Wanda, a seguradora Anbang, que foi candidata à compra do Novo Banco, e o Xheijang Rossoneri, que faz parte do grupo que detém o clube italiano de futebol AC Milan. A medida deverá levar a uma redução do investimento chinês no estrangeiro, isto já depois de uma queda homóloga de 56%, na primeira metade do ano, devido às medidas adoptadas por Pequim para prevenir a saída de capital. A China tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações importantes nas áreas da energia, dos seguros, da saúde e da banca. Ao atingir alguns dos homens mais ricos na China, o Presidente chinês, Xi Jinping, poderá estar a enviar um sinal do seu compromisso em sanear o sistema financeiro do país, a poucos meses de um importante congresso do Partido Comunista Chinês. Depois de o pedido da CBRC ter sido tornado público, as ações do Fosun International, que é o accionista maioritário do Millenium BCP e controla a Fidelidade e a Luz Saúde, afundaram 7,1% na bolsa de Hong Kong.

INDIRECTAS FAOM JÁ TEM CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES

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A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) elegeu ontem à noite os dois candidatos ao sufrágio indirecto das eleições legislativas de Setembro. Havia quatro candidatos para duas vagas: Lam Lon Wai e Lei Chan U foram os escolhidos, com 84 e 83 votos, respectivamente, num universo de 114 eleitores, que podem votar em dois candidatos. Lam Lon Wai, o cabeça-de-lista, é o subdirector da Escola para os Filhos e Irmãos dos Operários de Macau. Lei Chan U é coordenador de um departamento responsável por estudos das políticas e informação da FAOM. São ambos subdirectores da federação.

que fossem todas as flores como a peónea / aumenta a minha sede de vinho / sinto-me cheio como uma baleia / vivi um dia como se fossem cem anos” Luo Tianchi

A

S nossas forças estavam a avançar, na zona histórica de Mossul. Estavam a 50 metros da mesquita de Al-Nuri quando o Daesh cometeu outro crime histórico ao explodir as mesquitas de Nuri e de Hadba”, disse o comandante da ofensiva de Mossul, general Abdulamir Yarallah, num comunicado divulgado na quarta-feira. Foi na mesquita de Al-Nuri, no Verão de 2014, que Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do Daesh, auto-proclamou o “califado” nos territórios que o grupo radical islâmico controlava na Síria e Iraque. O Ministério da Defesa iraquiano condenou a destruição da mesquita e do seu icónico minarete, conhecido como al-Hadba, quando combatentes detonaram explosivos dentro das estruturas na noite de quarta-feira. O Pentágono mostrou na quarta-feira imagens da mesquita construída há 800 anos destruída. As fotografias mostram que na explosão desapareceu o minarete da Al-Nuri, também conhecida por Grande Mesquita de Mossul. O minarete, com uma inclinação semelhante à da Torre de Pisa em Itália, era uma das mais conhecidas imagens de Mossul. “Quando as forças de segurança iraquianas se estavam a aproximar da mesquita, o Daesh destruiu um dos maiores tesouros de Mossul e do Iraque”, disse o chefe das forças terrestres da coligação internacional, liderada pelos Estados Unidos, em comunicado. “Este foi um crime contra o povo de Mossul e do Iraque e é um exemplo dos motivos pelos quais esta brutal organização deve ser aniquilada”, disse o major-general Joseph

Daesh destrói mesquita histórica de Mossul

Crime após crime

Martin, que reconheceu que a batalha pela total libertação de Mossul não foi concluída. O labiríntico centro histórico de Mossul está a permitir que o Daesh continue a manter focos de resistência, depois de ter perdido a maior parte da cidade e toda a linha de abastecimento.

“AS PESSOAS VÃO TRABALHAR APENAS 4 HORAS POR DIA, 4 DIAS POR SEMANA”

O

ITO horas por dia vai ser coisa do passado, acredita Jack Ma, fundador da maior loja online na China, a Alibaba. Nas próximas três décadas “as pessoas só vão trabalhar quatro horas por dia, e quatro dias por semana. O meu avô trabalhou 16 horas por dia nas terras agrícolas e [pensou que estava] muito ocupado. Hoje trabalhamos oito horas, cinco dias por semana e pensamos que estamos muito ocupados”, disse Ma à CNBC. Mas Jack Ma acredita também que esta pode ser a razão para uma III Guerra Mundial. “A primeira revolução tecnológica causou a 1ª Guerra Mundial. A

sexta-feira 23.6.2017

segunda revolução tecnológica causou a 2ª Guerra Mundial. Esta [referindo-se à inteligência artificial] é a terceira revolução tecnológica”, disse, citado pelo Independent. Ma admite que não gosta da ideia de máquinas e robôs “como ser humanos”. “Devemos garantir que a inteligência artificial possa fazer coisas que os seres humanos não conseguem”. E este não é o primeiro aviso do bilionário em relação à tecnologia. Em Abril advertiu que a sociedade deveria preparar-se para décadas complicadas, à medida que a Internet perturba a economia.

O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, escreveu no Twitter que a destruição da mesquita significa que o Daesh sabe que perdeu a que era a segunda maior cidade do Iraque. “A destruição do minarete e da mesquita de Al-Nuri é uma declaração formal da sua derrota”, disse al-Ababi.

CHINA AI DENUNCIA DETENÇÃO DE ACTIVISTA

A Amnistia Internacional (AI) denunciou ontem a detenção, no passado dia 4 de Junho, em Pequim, do activista chinês Li Xiaoling, por comemorar o 28.º aniversário do massacre de Tiananmen, e apelou às autoridades que o libertem “imediatamente”. A ONG afirma que Li foi detida, depois de a polícia ter encontrado na Internet, no dia anterior, fotos da activista com um cartaz em que celebra o massacre de Tiananmen, tiradas próximo da praça. Segundo AI, Li foi detida por “causar distúrbios”, apesar de sofrer de glaucoma - uma doença ocular que pode provocar cegueira -, estando privada do tratamento médico necessário desde a sua detenção. “As autoridades só lhe permitem usar gotas para os olhos três vezes por dia, apesar de os médicos a terem advertido que deve usar a cada duas horas”, refere o comunicado. Outros oito activistas dos Direitos Humanos foram também detidos por acompanhá-la naquele dia, e apesar de não aparecerem nas fotografias. A organização apelou a que todos fossem colocados em liberdade “imediatamente”.


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