Hoje Macau 9 OUT 2020 #4626

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MOP$10

SEXTA-FEIRA 9 DE OUTUBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4627

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

OPINIÃO

CENTRO PARA QUE TE QUERO

Em busca do foco

Sem outras explicações, além da já dada pela Casa de Portugal de ‘‘um problema de gestão interna’’, a teoria do encerramento da exposição do melhor fotojornalismo mundial por pressões políticas ganha consistência. Enquanto a Fundação World Press Photo procura, sem sucesso, a razão do encerramento, salientando que a liber-

MÁRIO DUARTE DUQUE

PLANO DIRECTOR

“Crises” da Novo Macau PÁGINA 5

MULHERES DE ITÁLIA (4) GONÇALO M. TAVARES

h

DONOS DA VERDADE ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

O ACTIVISTA DESEJÁVEL VALÉRIO ROMÃO

dade de imprensa é essencial, também os deputados Pereira Coutinho, Sulu Sou e Au Kam San manifestaram inquietações face à possibilidade de existirem questões políticas envolvidas. No entanto, há quem defenda a legitimidade do Governo para cancelar o evento, face à presença de imagens dos protestos em Hong Kong.

A FORMA CORRECTA SARA F. COSTA

BURLA

A farsa da Montanha PÁGINA 6

GRANDE PLANO

JUNKETS

Memórias de Packer PÁGINA 8

EPM | DOCUMENTÁRIO

Plástico em debate PÁGINA 10

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hojemacau

HENRIQUE DE SENNA FERNANDES

INESQUECÍVEL SUPLEMENTO


2 grande plano

9.10.2020 sexta-feira

A CAMARA OBSCURA

WORLD PRESS PHOTO FALTA DE ESCLARECIMENTOS GERA SUSPEITAS DE INTERFERÊNCIA POLÍTICA

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O encerramento antecipado da exposição de fotojornalismo, que estava patente na Casa Garden, gerou confusão e suspeitas de pressões políticas. Enquanto a Fundação do World Press Photo tenta perceber o encerramento, há fotógrafos locais a defender a legitimidade do Governo Central para encerrar o evento

S

E M qualquer aviso prévio a exposição World Press Photo foi encerrada no passado fim-de-semana, quando deveria ter permanecido patente ao público até 18 de Outubro. Oficialmente, a entidade organizadora, a Casa de Portugal, explicou o fecho prematuro com “um problema de gestão interna”. Também a Fundação Macau, um dos patrocinadores do evento, recusou ter feito qualquer pressão para encerrar a exposição que tinha fotografias das manifestações de Hong Kong. Até ao final do dia de ontem, a Fundação da World Press Photo não obteve respostas concretas sobre o sucedido: “Infelizmente, não conseguimos confirmar as razões que levaram ao encerramento prematuro da exposição”, foi reconhecido pela entidade, em comunicado. “O apoio às condições para a liberdade de expressão, de investigação e de imprensa é uma parte fundamental do nosso trabalho. Lamentamos o encerramento prematuro da nossa exposição anual em Macau. A nossa colaboração com a Associação

Casa de Portugal foi sempre positiva e esperamos poder regressar a Macau”, foi acrescentado por Laurens Korteweg, director da área de Exposições da Fundação da World Press Photo. Contudo, as explicações conhecidas ficaram longe de convencer a comunidade de fotógrafos locais, que entendem ser benéfico esclarecimentos adicionais. No entanto, há mesmo quem não afaste a hipótese de o encerramento ter partido do Executivo de Macau ou dos representantes directos do Governo Central, face à existência de fotografias de Hong Kong. Para acabar com o “mundo pantanoso da especulação”, o fotógrafo e advogado João Miguel Barros defen-

“Claro que havia fotografias de Hong Kong.... Mas aquilo foi um mero registo do que se passou nas ruas de Hong Kong.” CARMO CORREIA REPÓRTER FOTOGRÁFICA

deu a necessidade de esclarecimentos. “As explicações públicas que li nos jornais não esclarecem as razões do fecho antecipado. Mas houve, seguramente, razões preponderantes para que tal tivesse acontecido; de contrário a exposição estaria aberta até ao fim”, começou por indicar. O advogado pediu que as entidades assumam as responsabilidades das acções que tomam. “Não acredito que a Casa de Portugal ou a Fundação Oriente tenham motivos para antecipar o fecho. O que se espera é que as verdadeiras razões sejam assumidas por quem as tomou, de modo a sairmos deste mundo pantanoso da especulação.”

INTERVENÇÃO NATURAL

Por sua vez, Yau Tin Kwai, presidente do Clube Foto-Artístico de Macau, admitiu a hipótese do encerramento ter partido das indicações do Governo de Ho Iat Seng. “Se a exposição tinha fotografias sobre Hong Kong, então foi melhor encerrar antecipadamente. Há sempre a preocupação que estas fotos possam influenciar as perspectivas das pessoas, fazendo com que fiquem confusas”, declarou ao HM.

O fotógrafo apontou ainda que é muito fácil manipular as imagens: “As fotos são mais fortes que as palavras, mas podem ser tiradas através de ângulos diferentes, que fazem com que o conteúdo seja diferente do que aconteceu”, explicou o presidente da associação. Nesse sentido, deixou críticas a trabalhos feitos em Hong Kong: “Alguns fotógrafos não tiraram as fotografias quando os manifestantes atacaram os polícias. Só tiraram quando os polícias usaram a força, ou seja, essas imagens não são um retrato rigoroso do que aconteceu” sustentou. Quanto a eventuais pressões por parte do Governo, Yan Tin Kwai considerou naturais e deu o exemplo

“Se a exposição tinha fotografias sobre Hong Kong, então o encerramento antecipado foi o melhor.” YAU TIN KWAI PRESIDENTE DO CLUBE FOTO-ARTÍSTICO DE MACAU

de uma exposição que organizou recentemente, onde constava erradamente que a covid-19 tinha chegada a Macau através dos Estados Unidos. “Na minha exposição enganei-me na data de chegada da primeira pessoa infectada a Macau, por isso a Direcção de Serviços de Turismo [entidade responsável pelo espaço da exposição] ligou-me para corrigir o erro. Acho possível que possa ter havido um pedido para que a exposição encerrasse antecipadamente porque envolve os problemas de Hong Kong”, confessou. Yau Tin Kwai não afastou ainda o cenário da Casa de Portugal ter cedido: “Se calhar o Governo informou os organizadores que a exposição tinha de acabar mais cedo. E o organizador cedeu, porque pode ter achado que no futuro corria o risco de não ser autorizado a realizar mais eventos”, traçou como cenário. O presidente do Clube Foto-Artístico de Macau observou igualmente a hipótese de ter sido a Fundação Oriente, proprietária da Casa Garden, a pressionar para que a exposição fosse encerrada. O HM tentou contactar a Fundação


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sexta-feira 9.10.2020

Sobre o conteúdo da exposição, Carmo Correia, que esteve na inauguração do evento, referiu não ter visto nada nos materiais exibidos que lhe parecesse profissionalmente reprovável. “Nas fotografias não vi nenhuma falha ética ou problemas com os trabalhos apresentados. Claro que havia fotografias de Hong Kong.... Mas aquilo foi um mero registo do que se passou nas ruas de Hong Kong durante quase um ano”, opinou. “Para ser franca, já vi fotografias sobre Hong Kong muito mais fortes do que aquelas que estava expostas”, vincou. Em relação a um eventual impacto do encerramento na actividade dos repórteres fotográficos em Macau, Carmo Correia relativizou: “Obviamente, que pode haver um condicionamento [para os repórteres], mas se olharmos para Macau pode não ter efeitos práticos. É um território muito pacífico, onde não se passa muita coisa”, explicou. A fotógrafa traça um cenário de liberdade do exercício da profissão. “Nunca senti que houvesse qualquer tipo de pressão, ou fotografias que não se pudessem tirar. Aliás, quando andávamos nas manifestações, e em todos esses eventos, nunca houve qualquer restrição. Sempre tive toda a liberdade para fazer a fotografia que entendia”, partilhou.

LAMENTOS DE JORNALISTAS

Oriente, mas sem sucesso até à hora de fecho da edição.

ATAQUES EXTERNOS

Embora sem conhecer os detalhes que levaram ao encerramento da exposição, também o fotógrafo António Mil-Homens considerou que a existência de fotografias das manifestações de Hong Kong torna legitima uma eventual intervenção do Governo Central. Numa opinião que frisou ser pessoal, António Mil-Homens apontou que as autoridades de Pequim têm de se defender dos ataques externos, muitas vezes promovidos por entidades americanas. “Pessoalmente, reservo-me o direito de considerar que estão a ser utilizadas todas as formas possíveis e imagináveis para atacar a China, e esta [atribuição de prémios a fotografias sobre Hong Kong] é mais uma, para simplesmente promover o anticomunismo primário e atacar o Governo chinês”, afirmou Mil-Homens. “Se foram premiadas determinadas imagens por razões políticas, do meu ponto de vista, é também correcto politicamente que, se for o caso, o Governo

da República Popular da China pressione para que não seja feita publicidade a essas imagens em Macau”, acrescentou. “Macau é China”, rematou. Enquanto fotógrafo, António Mil-Homens não tem dúvidas que a imagem pode ser mesmo uma forma de ataque. “Claramente que as fotografias podem servir como forma de ataque ao Governo da China. A força de uma imagem é incrível”, apontou. No mesmo sentido, o fotógrafo achou normal a decisão para o encerrar prematuramente a exposição. “Não nos podemos esquecer que Macau é China e não nos podemos esquecer que o papel da direcção da Casa de Portugal é proteger, de forma geral e lata, os interesses da Casa e daqueles que representa, a comunidade portuguesa em Macau”, indicou. “Nessa medida, é perfeitamente entendível, do meu ponto de vista, a decisão de cancelar a exibição do World Press Photo”, declarou.

A MELHOR PUBLICIDADE

A repórter Carmo Correia afirma não ter compreendido as razões

da Casa de Portugal para fechar a exposição. Porém, no cenário do encerramento ter partido de pressões políticas para que não se falasse do tema, considera que os resultados alcançados vão ser opostos. “Se alguma coisa não estava bem na exposição, ou se era suposto ser criticável, então esta decisão de encerrar antecipadamente só vai levantar mais problemas. Temos de ser realistas e perceber que a World Press Photo é vista por meia dúzia de pessoas... Se estivessem sossegados isto teria passado despercebido”, disse Carmo Correia, ao HM.

“Se foram premiadas determinadas imagens por razões políticas, do meu ponto de vista, é também correcto politicamente que, se for o caso, o Governo da República Popular da China pressione.” ANTÓNIO MIL-HOMENS FOTÓGRAFO

Após a notícia ter sido avançada na quarta-feira pela Rádio Macau, também a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) tomou uma posição para lamentar o encerramento do evento que considerou promover o jornalismo na RAEM. “A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) lamenta o encerramento antecipado da exposição da World Press Photo em Macau por motivos ainda por esclarecer. [...] Salientamos que a exposição da World Press Photo reúne o melhor fotojornalismo a nível mundial e que a presença desta exposição em Macau ao longo dos últimos anos tem sido prestigiante para a cidade, valorizando a projecção do fotojornalismo de qualidade e da liberdade de imprensa”, consta no comunicado partilhado ontem de manhã. Por outro lado, a associação mostrou-se preocupada face à possibilidade de o encerramento ter sido motivado pelo conteúdo das imagens. “Se o encerramento estiver relacionado com pressões em torno de algumas fotografias da exposição, a AIPIM considera que estaremos perante algo de grave e um episódio preocupante que sinaliza uma erosão do espaço de liberdade de expressão”. Hoje Macau

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Paulo Cunha Alves: encerramento político não seria “positivo”

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cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, considera que caso se comprove que o encerramento da exposição World Press Photo se deveu a pressões políticas, que haverá impacto na liberdade de expressão. Quando questionado pelo HM, o representante diplomático de Portugal sublinhou ainda que tem havido liberdade de expressão artística o território. “Macau tem vindo a gozar, ao longo dos anos, um espaço de liberdade de expressão artística e, neste momento, nada nos indica que esse espaço se encontre comprometido. Desconheço os detalhes do episódio, mas, na eventualidade de se confirmar o que a imprensa refere, tal não seria certamente positivo para a liberdade de expressão na RAEM”, respondeu. Quanto à possibilidade do encerramento da exposição marcar o início de uma fase em que as actividades da comunidade portuguesa vão ter menos liberdade, o cônsul-geral deixou o desejo que tal não aconteça. “Não posso antecipar o futuro nem fazer conjecturas, mas espero que não sejam impostas limitações a actividades futuras de quaisquer associações empenhadas em promover na RAEM a cultura, as artes e a língua portuguesa”, desejou.

Vozes de deputados

Para Sulu Sou a importância do encerramento vai muito além do valor das fotografias expostas. No caso de se confirmarem pressões políticas, o democrata alerta para a redução de várias liberdades. “A importância desta exposição não se esgota nas fotografias exibidas, está também ligada às liberdades de expressão e de informação. Por isso, este é um aspecto que deve preocupar a população. As liberdades e os direitos humanos são como o ar que respiramos. Se perdermos o ar, morremos”, alertou. José Pereira Coutinho, disse em declarações à Lusa, que “é evidente que a presidente da Casa de Portugal sofreu pressões para acabar com a exibição” e “é evidente que foi por causa das imagens dos protestos de Hong Kong”. Au Kam San disse que “o Governo tem a responsabilidade de esclarecer o público” e que, tendo em conta o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ que vigora no território, “isso vai afectar a imagem de Macau”.


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Av i s o Candidatura para Projectos de Investigação Científica Co-financiados pelos Ministério da Ciência e da Tecnologia da República Popular da China e Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia de Macau para 2020 Conforme com o “Acordo entre o Ministério da Ciência e da Tecnologia da República Popular da China e o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia de Macau, relativo ao Co-financiamento de Projectos de Investigação realizados através da Cooperação entre o Interior da China e Macau”. O Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia de Macau (FDCT)e o Ministério da Ciência e da Tecnologia da República Popular da China (MOST) elaborar conjuntamente, o programa de co-financiamento de projectos de investigação para o ano de 2020. I.

II.

Projectos prioritários A fim de atender às necessidades de desenvolvimento social e económico de Macau e de usufruir plenamente das vantagens dos recursos de investigação do Interior da China, serão prioritariamente apoiados projectos relacionados com a sociedade da China e de Macau, bem como projectos de cooperação com a indústria, sobretudo no âmbito da informática, biomedicina, conservação de energia e protecção do ambiente, novos materiais, aeronáutica e astronáutica, ciência marinha. Método e requisitos de candidatura

i. A unidade de aplicação principal de Macau deve negociar com o parceiro do

Interior da China o conteúdo, o plano e a divisão de tarefas da investigação, preenchendo o Plano de Candidatura, assinando o acordo ou memorando de cooperação e apresentando a candidatura ao FDCT no prazo indicado; ii. O valor máximo de apoio financeiro deste género de projectos é de 2.5 milhões de patacas, com o prazo máximo de 3 anos, sendo atribuído periodicamente. A entidade de Macau financiada deverá realizar o projecto de acordo com o disposto na Declaração de Aceitação do Financiamento assinada com o FDCT; iii. O investigador principal (PI) da parte de Macau apenas se pode encarregar, durante o mesmo período, de um só projecto apoiado, financiamento conjunto com MOST-FDCT or financiamento conjunto com FDCT-NSFC. Não ficam sujeitos a esta restrição os membros. iv. O parceiro do Interior da China deverá simultaneamente entregar ao MOST, podendo as instruções relativas ao formato da mesma ser consultadas em detalhe do MOST. III. Processo de avaliação i. Findo o prazo de candidatura, o FDCT e o MOST irão verificar em conjunto a

lista dos projectos, sendo aceites como “Projectos FDCT-MOST” os projectos alistados simultaneamente pelo FDCT e pelo MOST. ii. O FDCT e o MOST procedem separadamente à avaliação dos projectos aceites, sendo o processo de avaliação do FDCT igual ao actual processo de avaliação dos projectos de investigação científica e tratado com prioridade. iii. Após a conclusão do processo de avaliação, o FDCT e o MOST seleccionam conjuntamente, a partir dos projectos aprovados, os projectos co-financiados, sendo a lista dos mesmos publicada simultaneamente por ambas as entidades.

IV. Data do requerimento

12 de Outubro 2020 até 27 de Novembro de 2020.

V.

Forma de preenchimento e Apresentação dos elementos Faça login no sistema de aplicativos on-line para concluir o aplicativo. Endereço: Av. Do Infante D. Henrique, no 43-53A, Edf. “The Macau Square” 11° K, Macau. Telefone: 28788777; Fax: 28722680 Correio electrónico: saf@fdct.gov.mo O Presidente do Conselho de Administração do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia Chan Wan Hei 07 de Outubro de 2020


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ATFPM RECEBIDAS QUEIXAS SOBRE HORAS EXTRAORDINÁRIAS

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Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) alertou para dificuldades financeiras de aposentados e pensionistas decorrentes da pandemia. De acordo com a ATFPM, este foi um dos temas abordados ontem numa reunião com o director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP). A associação sugeriu a divisão de apoio aos trabalhadores no activo e aposentados seja “mais proactiva” e os mecanismos de apoio “agilizados”. Outro problema identificado afecta quem ainda trabalha. “Recentemente, recebido muitas queixas de alguns serviços públicos alegando que não estão dispostos a pagar horas extraordinárias por falta de orçamento

devido à pandemia”, expôs a nota. A ATFPM acrescentou ainda que reduzir custos com a aquisição de serviços “seria mais do que suficiente para pagamento das ditas horas extraordinárias”. Além disso, a associação propôs que os trabalhadores com salários inferiores a 60 mil patacas recebam o subsídio no valor de 15 mil patacas por causa da pandemia, à semelhança de quem integra o sector privado. Na reunião com o director dos SAFP, Pereira Coutinho apelou também à revisão geral das carreiras, “com urgência”. De acordo com a associação, os problemas acumulados “[prejudicam] a moral da generalidade dos trabalhadores da Administração Pública”. S.F.

CTT ARRANCOU O PROCESSO LEGISLATIVO DA LEI DAS TELECOMUNICAÇÕES

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Directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações de Macau (CTT), Lau Wai Meng, revelou que o organismo concluiu a elaboração da proposta de Lei das Telecomunicações e que o respectivo processo legislativo foi oficialmente iniciado. O anúncio surge em resposta a uma interpelação escrita por Song Pek Kei no início de Setembro acerca do desenvolvimento do sector das telecomunicações, onde a deputada pediu ao Governo um ponto de situação sobre o trabalho legislativo do diploma, que tem como finalidade integrar “as quatro redes numa só”. Já em resposta ao que está a ser feito para resolver a “situação de concorrência desleal” no mercado de telecomunicações e atingir as expectativas de liberalização da rede fixa de Macau, os CTT esclarecem apenas que a nova operadora do sector se encontra ainda a

HOJE MACAU

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“aperfeiçoar” os trabalhos de instalação da rede e de acesso da fibra óptica aos edifícios. “A Direcção dos CTT tem vindo a monitorizar a situação da operadora, a qual tem cumprido os requisitos dos respectivos serviços públicos para instalar a rede”, pode ler-se na resposta. Sobre as medidas à disposição do Governo para promover a redução de tarifas e o desenvolvimento saudável do sector das telecomunicações, Lau Wai Meng apontou que é “difícil” estabelecer uma comparação objectiva entre diferentes territórios “apenas com base nos preços”, pois cada um diz respeito a mercados de diferentes dimensões. A responsável acrescenta ainda que o novo regime de convergência previsto na proposta de Lei das Telecomunicações “contribuirá para que os mecanismos de mercado funcionem de forma mais eficaz”. P.A.

Sulu Sou, deputado “Queremos proteger a nossa herança histórica e cultural única, e a imagem costeira cultural da cidade.”

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Associação Novo Macau (ANM) apelou ontem ao público para dar a sua opinião antes da consulta pública ao Plano Director terminar, de forma a “parar os danos irreversíveis e proteger o desenvolvimento sustentável” da cidade. As zonas C e D de Nam Van estão entre três “crises” identificadas pela Associação Novo Macau (ANM). Para preservar a paisagem da área, a associação defende que a altura máxima dos edifícios deve ser emtre 10 a 20 metros, dando como exemplos a Assembleia Legislativa e o novo edifício do Fórum Macau. “Queremos proteger a nossa herança histórica e cultural única, e a imagem costeira cultural da cidade”, disse ontem Sulu Sou em conferência de imprensa. A ANM pretende que as autoridades designem a área como um espaço verde e público, ligando os espaços recreativos dos lagos Nam Van, Sai Van e da Zona B. Relativamente à Taipa, a associação considera que os espaços públicos propostos são insuficientes para responder às necessidades, tendo em conta o crescimento populacional futuro. O documento de consulta refere estimativas

NOVO MACAU PEDIDA ALTURA ATÉ 20 METROS PARA EDIFÍCIOS NA ÁREA NAM VAN

Corrida contra o tempo

Alertando o público para aproveitar o tempo até ao final da consulta pública sobre o Plano Director de Macau, a Associação Novo Macau apontou ontem para a existência de três problemas: as zonas C e D da área Nam Van, o antigo terreno do Parque Oceanis e o Alto de Coloane

de que em 2036 a população seja aproximadamente de 793 mil pessoas, e que em 2040 o número suba para cerca de 808 mil. Além disso, Rocky Chan indicou que apesar de a Taipa

Grande e a Taipa Pequena estarem definidas como zonas de conservação ecológica, já foram desenvolvidas e há edifícios altos a rodear a área. O aproveitamento da zona onde estava prevista a

construção do Parque Oceanis também mereceu destaque. “Os residentes sempre esperaram que o Governo faça bom uso dos 134.891 metros quadrados do antigo terreno do Parque Oceanis que foi recuperado depois de muitos anos, e o desenvolva num espaço de recreação verde permanente”, explica o comunicado da associação.

INTERESSES PRIVADOS

A ANM destacou também a classificação como zona habitacional dos cerca de 56 mil metros quadrados do terreno do Alto Coloane recuperado pelo Governo. A associação acha previsível a destruição ecológica para se construir habitação de baixa densidade. “Não devemos danificar os bens ecológicos únicos de Coloane por causa dos interesses privados de uma minoria”, declarou Sulu Sou. Nesta situação, o deputado entende que o terreno deve ser incluído nas áreas não urbanas, de forma a preservar a integridade do Alto de Coloane. O projecto do Plano Director para o período entre 2020 e 2040 está em consulta pública até 2 de Novembro. Salomé Fernandes

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Semana Dourada Cerca de 139 mil visitantes em sete dias Ao final dos primeiros sete dias da Semana Dourada, Macau recebeu 139.280 visitantes, uma queda de 85,7 por cento comparativa mente ao mesmo período do ano passado, revelam dados publicados pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). O número de visitantes do Interior da China fixou-se em 129.967. De acordo

com as informações da DST, o volume de entradas na passada quarta-feira representa uma variação de menos 75,3 por cento face ao sétimo dia das celebrações do ano passado. No dia 7 chegaram a Macau 19.115 visitantes, a maioria dos quais através das Portas dos Cerco, seguindo-se o posto fronteiriço do Cotai e o aeroporto.

Habitação Preços com quebras de 0,3 por cento O Índice global de preços da habitação foi de 268,9 entre Junho e Agosto, tendo registado uma quebra de 0,3 por cento face aos meses de Maio e Julho, apontam dados ontem divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O

índice de preços relativo à península de Macau foi de 268,8, tendo diminuído 0,3 por cento, enquanto que o índice relativo às ilhas de Taipa e Coloane foi de 264,3, uma quebra de 0,6 por cento. Relativamente às casas já construídas, o índice de preços

“foi semelhante ao período anterior”, aponta a DSEC. O índice na península de Macau subiu apenas 0,1 por cento, enquanto que nas ilhas baixou 0,1 por cento. Face às casas em construção, o índice global de preços foi de 276,8, uma quebra de 0,8 por cento.

Uma publicação de 23 de Maio replica a primeira página do jornal Ou Mun, a noticiar a construção do Novo Bairro de Macau, anunciando a venda de apartamentos a partir do valor de um milhão (sem especificar a moeda)

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EPÚDIO total e a possibilidade de avançar para a justiça. Foi assim que a Macau Renovação Urbana reagiu à notícia de que grupos no Facebook e WeChat estariam a usar o seu nome para publicitar a venda de apartamentos no projecto Novo Bairro de Macau, que vai ser construído em Hengqin. Num grupo de Facebook, cujo nome traduzido seria algo como “Feira da Ladra de Macau”, uma publicação de 4 de Junho anunciou a venda de quatro tipos diferentes de apartamentos, com áreas compreendidas entre 73,8 e 22,9 metros quadrados num projecto adjacente ao Novo Bairro de Macau. Outras duas publicações no mesmo grupo, a mais antiga de 23 de Maio, replicam a primeira página do jornal Ou Mun, quando noticiou a

HENGQIN FALSOS AGENTES COLOCAM À VENDA IMÓVEIS NO NOVO BAIRRO DE MACAU

Casas na montanha

O Novo Bairro de Macau, em construção em Hengqin, foi usado num esquema fraudulento por um grupo que se faz passar pela Macau Renovação Urbana e colocou à venda apartamentos no projecto habitacional destinado aos residentes de Macau. A empresa de capitais públicos denunciou o esquema e ameaçou os autores com uma acção judicial

construção do Novo Bairro de Macau, anunciando a venda de apartamentos a partir do valor de um milhão (sem especificar a moeda) no projecto destinado aos residentes de Macau. As publicações partilhadas em vários grupos de Facebook e no WeChat sugerem que os interessados

devem enviar mensagem privada para os supostos agentes imobiliários. A Macau Renovação Urbana emitiu um comunicado a repudiar a desinformação e a sublinhar que se “reserva ao direito de avançar com acção legal”. A empresa de capitais públicos, liderada por Peter Lam, avisa a

população para que não se deixe enganar com anúncios falsos e recorda que o projecto Novo Bairro de Macau não terá um período de pré-venda.

A VERDADEIRA CONTA

Será lançado ainda este mês a conta oficial de WeChat da Macau Renovação Urbana,

conforme foi revelado no comunicado onde é sugerido que os interessados no projecto visitem a página oficial da empresa. Além disso, a empresa liderada por Peter Lam anuncia que os trabalhos de planeamento e de investigação geológica para o estabelecimento de fun-

dações estão concluídos, e que em breve serão lançados concursos para a construção. Importa recordar que o terreno em Hengqin para o projecto “Novo Bairro de Macau” foi comprado pela Macau Renovação Urbana S.A. com 5,8 mil milhões de renmimbis, financiados pelo Banco da China em Macau. O projecto será composto por 27 torres residenciais, com alturas compreendidas entre 22 e 26 andares, com cerca de quatro mil fracções. Os requisitos do Governo Municipal de Zhuhai implicam que pelo menos 80 por cento das fracções sejam T2 e prevê-se que as restantes sejam T3. O projecto inclui ainda 18 escolas primárias e 12 creches, de ensino gratuito, um centro de saúde, um centro para idosos e várias instalações desportivas. João Luz com Nunu Wu info@hojemacau.com.mo


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Acidente Mulher esmagada em padaria está nos cuidados intensivos

A funcionária de uma padaria localizada na Rua do Comandante Mata e Oliveira encontra-se em estado grave depois de ter ficado esmagada entre um expositor com várias prateleiras e um frigorífico. De acordo com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), citada pelo canal chinês da TDM – Rádio Macau, o acidente aconteceu na quarta-feira à hora de encerramento do estabelecimento, enquanto a funcionária de 26 anos retirava os pães que sobraram das prateleiras do expositor. Depois de ceder, o expositor caiu sobre a trabalhadora não residente do Interior da China, pressionando-a contra o frigorífico que se encontrava atrás de si. Quando os bombeiros chegaram ao local, a mulher estava em paragem cardiorrespiratória, vindo apenas a recuperar após ter sido assistida no hospital. A funcionária encontra-se ainda nos cuidados intensivos. A DSAL emitiu um alerta para o empregador voltar a fixar o expositor em questão.

Táxis DSAT apela à instalação de sistema de gravação

A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Trafégo (DSAT) publicou um comunicado no qual apela ao sector dos táxis para instalar em breve o sistema de terminal que inclui a gravação de som e imagem, e o aparelho de chamada da polícia. A DSAT apontou que até ao dia 3 de Dezembro todos os táxis têm que ter este sistema a funcionar. Até meados desta semana, mais de 1200 táxis ainda não o tinham instalado. A DSAT estima que seja precisa a instalação de pelo menos 30 sistemas por dia. A empresa responsável pela tecnologia e a entidade governamental vão colaborar para examinar e melhorar o sistema de gestão de táxis no final de Novembro. O sistema inclui outras ferramentas, sendo também composto por um terminal, taxímetro, bandeira, impressora de recibos e sistema de navegação global por satélite.

A

Polícia Judiciária (PJ) deteve duas irmãs de apelido Cheong, com 55 e 62 anos, por suspeitas de envolvimento num caso de burla de valor elevado, através de um esquema em pirâmide, que terá levado as vítimas a perder, no total, 3,7 milhões de patacas. Uma terceira mulher envolvida no caso, continua a monte. De acordo com informações divulgadas ontem pela PJ, as vítimas defraudadas são pelo menos sete e foram levadas a participar num falso plano de investimento afecto a uma empresa registada como “SKY” e localizada na Malásia.As vítimas têm entre 35 e 73 anos e terão ficado desfalcadas, cada uma, entre 47 mil patacas e 1,5 milhões de patacas. Tudo terá começado em 2017 quando, através do convite de amigos, as vítimas concordaram em participar numa palestra dedicada à divulgação dos planos de investimento da “SKY”, onde foi prometido que todo o montante investido seria recuperado no prazo de sete meses e que, a longo prazo, a taxa

BURLA IRMÃS ANGARIAM 3,7 MILHÕES ATRAVÉS DE ESQUEMA EM PIRÂMIDE

Tudo em família

Duas irmãs, suspeitas de burlar várias vítimas entre 47 mil e 1,5 milhões de patacas foram detidas pela Polícia Judiciária. O modo de actuar passava por angariar membros em cadeia, interessados em adquirir planos de investimentos de uma companhia localizada na Malásia. Os lucros eram calculados com base no número de membros recrutados e na posição hierárquica

de retorno seria superior a 300 por cento. Aos investidores era dada a oportunidade de pagar para obter uma filiação mais elevada dentro do grupo, sendo que, quanto maior fosse posto hierár-

As vítimas têm entre os 35 e os 73 anos e terão ficado desfalcadas, cada uma, entre 47 mil patacas e 1,5 milhões de patacas

quico, maiores seriam os lucros. Em alternativa, os investidores poderiam receber comissões baseadas no número de membros que fossem capazes de recrutar. Segundo a PJ, o website da “SKY” encontra-se inactivo desde 2018, tendo as suspeitas alegado, após a detençaõ, que a empresa foi adquirida ou o projecto modificado.

CRIME E CASTIGO

A irmã mais nova da família Cheong encontra-se desempregada, ao passo que a mais velha é proprietária de um cabeleireiro.

As duas suspeitas foram já encaminhadas para o Ministério Público, onde irão responder pelos crimes de burla de valor consideravelmente elevado e de Venda “em pirâmide”, podendo, por este último, ser punidas com pena de prisão até três anos ou com pena de multa não inferior a 120 dias. De acordo com a Lei, considera-se Venda “em pirâmide” a actividade que “promova ou efectue transacções de bens ou serviços em cadeia ou em forma semelhante e que faça depender a obtenção de um benefício para o participante

essencialmente do número de novos participantes que este consiga angariar”. Adicionalmente, pelo crime de burla de valor consideravelmente elevado, as irmãs poderão ser punidas com penas até cinco anos ou com pena de multa até 600 dias, podendo ser agravadas a penas de prisão entre 2 e 10 anos se fizerem da burla modo de vida ou as pessoas prejudicadas ficarem em situação económica difícil. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@hojemacau.com


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MICE Exposição de Franquia regressa de 22 a 24 de Outubro

A Exposição de Franquia de Macau 2020 (2020MFE) terá lugar entre os dias 22 e 24 de Outubro no hotel Venetian Macao. Segundo uma nota do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM), a feira irá realizar-se-á em conjunto com a 25.ª Feira Internacional de Macau (MIF) e a Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa 2020 (2020PLPEX). A mesma nota dá conta que, nos últimos anos, a MFE “tem vindo a melhorar os seus serviços como plataforma e a desempenhar, continuamente, o seu papel de guia profissional na franquia das marcas internacionais, apoiando as empresas participantes do mundo inteiro a procurar oportunidades de negócios”. No futuro, esta feira “continuará a prestar apoio às empresas para que estas possam explorar o mercado diversificado de comércio”.

EUA Vistos de diversidade mantém Macau e exclui Hong Kong JUNKETS JAMES PACKER QUESTIONADO SOBRE LIGAÇÕES COM MACAU E TRÍADES

Uma sessão escaldante O australiano James Packer “esqueceu-se” de Kai Si Wai, junket que salvou o casino Altira e que nos anos 90 foi alegadamente o principal inimigo do Dente Partido, durante a Guerra das Seitas. Porém, admitiu conhecer Alvin Chau, que está actualmente proibido de entrar na Austrália

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OI em 2007 que a concessionária Melco Crown fez um acordo com Kai Si Wai, histórico junket de Macau, e mudou os destinos do casino Altira. Após uma aposta falhada no mercado de massas, Kai Si Wai, que já nos anos 80 tinha criado com Stanley Ho o sistema de junkets, trouxe o seu conhecimento e contactos VIP e fez do Altira um casino lucrativo. A parceria entre Lawrence Ho, proprietário da Melco, e James Packer, maior accionista da Crown, entrava assim numa época dourada. No entanto, em declarações na comissão de inquérito que está a avaliar a idoneidade da Crown para abrir um casino em Sidney, o milionário afirmou não se recordar de Kai Si Wai. “Não me recordo”, respondeu, quando questionado se conhecia Kai, também conhecido como Ng Man Sun ou Ng Wai. Além de junket, Kai Si Wai foi uma das pessoas mais mediáticas

em Macau, principalmente nos anos 90, quando alegadamente se envolveu numa luta com o Won Kuok Koi, líder da 14 quilates, que terá dado origem à Guerra das Seitas. Kai Si Wai foi ainda o proprietário do Casino Greek Mythology, que liderou até este ser encerrado pela Direcção de Serviços de Turismo. Apesar do esquecimento, James Packer admitiu que desde 2012 tinha como objectivo importar o modelo junket para a Austrália: “O segmento VIP de Macau era tão grande, que se conseguíssemos trazer uma fracção mínima para a Austrália

“O meu entendimento sobre as ligações entre os junkets e o crime organizado é que são apenas rumores.” JAMES PACKER ACCIONISTA DA CROWN

seria um grande ganho”, confessou, segundo declarações citadas pelo The Sydney Morning Herald. Já quando confrontado sobre os métodos utilizados pelos junkets e os riscos ao nível do branqueamento de capitais, Packer disse não se lembrar se tinha ponderado esse assunto, quando apostou no mercado VIP e nos jogadores vindos da China.

COM ALVIN CHAU

Ao contrário de Kai Si Wai, James Packer não se esqueceu de Alvin Chau, proprietário da Sunctiy e ex-delfim de Won Kuok Koi. O australiano confirmou mesmo a existência de um encontro com Alvin em 2015, para discutir a criação de uma nova relação de trabalho, justificada por a Suncity ser o principal junket de Macau. A Suncity é o junket mais mediático na Austrália, depois de Alvin Chau ter sido proibido de entrar na ex-colónia britânica. Na base da decisão esteve o facto de

as autoridades acreditarem que a Suncity poderia estar envolvida no branqueamento de capitais. Outra empresa que Packer afirmou não se lembrar, foi a Meg-Star, junket com uma sala de jogo no andar 29.º do casino Crown Melbourne. Apesar de todas estas conexões, o australiano recusou ter uma ligação “íntima” com estas empresas de Macau. “Acho que me encontrei com dois, ou talvez três, junkets na minha vida. Não tenho nem nunca tive relações íntimas com agentes ou empresas junkets. E nunca tive nada a ver com a gestão e operação dessas relações”, esclareceu à comissão. Por outro lado, o milionário considerou que apesar de poder haver um risco sobre as ligações entre os junkets e as tríades locais, nunca passaram de boatos. “O meu entendimento sobre as ligações entre os junkets e o crime organizado é que são apenas rumores”, garantiu. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Os Estados Unidos vão continuar a emitir vistos para emigrantes de Macau e Taiwan ao abrigo do Programa de Vistos de Diversidade, mas vão excluir residentes de Hong Kong. As instruções constantes no anúncio divulgado ontem indicam que ficam de fora naturais de países que atingiram uma quota de 50 mil pessoas nos últimos cinco anos. É o caso da China, com a ressalva que a inelegibilidade se estende a Hong Kong pela primeira vez. O Departamento de Estado norte-americano administra anualmente o Programa de Vistos de Diversidade do Imigrante. A Lei de Imigração e Nacionalidade dos EUA prevê uma “classe de imigrantes de países com taxas historicamente baixas de imigração para os Estados Unidos”.

Saúde Pública Psicoterapeutas aumentaram 81% em cinco anos

Assinala-se amanhã o Dia Mundial da Saúde Mental, uma data assinalada pela Organização Mundial de Saúde para “aumentar a consciencialização pública sobre a saúde mental, eliminar a discriminação e o preconceito contra as pessoas com doenças mentais”, descreveram os Serviços de Saúde (SS) em comunicado. Este ano o tema é “Move for mental health: let’s invest”. De acordo com os SS, o Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar Conde São Januário conta com 17 médicos especialistas e 20 psicoterapeutas, o que representa um aumento de 21,4 e 81,8 por cento, respectivamente, comparativamente aos cinco anos anteriores. Além disso, existem consultas externas de cuidados de saúde mental em seis centros de saúde.


sociedade 9

sexta-feira 9.10.2020

Melody Lu, docente da UM “Muitos dos trabalhadores não residentes (TNR) que ficaram em Macau perderam o emprego, mas em alguns sectores, como o do trabalho doméstico, houve muita procura, porque não há trabalhadores suficientes.”

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E M todos os sectores económicos de Macau ficaram a perder com a pandemia da covid-19. Melody Lu, docente da Universidade de Macau (UM), disse ontem no debate “Blue Card Holders: The Unlovers?” que as empregadas domésticas passaram a poder negociar melhores salários e condições laborais, uma vez que muitos trabalhadores não residentes (TNR) deixaram o território. “Muitos dos TNR que ficaram em Macau perderam o emprego, mas em alguns sectores, como o do trabalho doméstico, houve muita procura. Penso que os que ficaram em Macau puderam discutir um melhor salário ou até escolher patrões. Em alguns sectores registou-se falta de trabalhadores”, disse. Esta situação foi confirmada ao HM por Nedie Taberdo, presidente da Green Philippines Migrant

TNR PANDEMIA AUMENTOU PODER DE NEGOCIAÇÃO A EMPREGADAS DOMÉSTICAS

Trunfo inesperado

Melody Lu, docente da Universidade de Macau, disse ontem num debate promovido pela Fundação Rui Cunha e pela Macau Business que as empregadas domésticas ganharam poder para negociar melhores condições laborais com a crise da pandemia. A falta de mão-de-obra foi a razão apontada Workers Union. “É verdade. Nas últimas semanas alguns amigos chineses e portugueses pediram-me recomendações. Muitas empregadas domésticas escolhem os seus trabalhos e as condições, e pedem melhores salários porque não há muitos trabalhadores para contratar.” Apesar disso, os salários continuam a ser baixos, muitos deles abaixo das quatro mil patacas. “Muitos

trabalhadores estão à procura de trabalhos com salários melhores”, assegurou Nedie Taberdo.

UMA LEI NEGATIVA

Melody Lu falou também dos efeitos negativos da nova lei dos TNR, que proíbe aos turistas a procura de trabalho, o que obriga o processo de recrutamento a passar por uma agência de emprego. Segundo a académica, tal pode afastar TNR do território.

“As trabalhadoras domésticas têm de pagar, em média, o dobro do seu salário, e os trabalhadores da indústria hoteleira pagam cerca de três meses de salário às agências. A intenção do Governo [com a lei] é boa, porque estabelece uma percentagem, não querem que as cauções sejam muito elevadas. Mas isso vai aumentar os custos para virem trabalhar para Macau, o que torna o território num lugar

menos desejável. Como residentes, temos de perguntar se queremos mesmo isto.” Nedie Taberdo também acredita que a situação não será fácil para os TNR nos próximos meses devido à lei. “Ninguém vem para Macau procurar trabalho. Algumas empregadas domésticas querem mudar para um patrão melhor, mas têm de candidatar-se através de uma agência e pagar as cauções, que são muito elevadas.”

Melody Lu pediu também que o Governo faça uma análise global das necessidades do mercado laboral para os próximos tempos. “Quando as fronteiras abrirem, a vinda destes trabalhadores não será igual, haverá algumas restrições. Esta é a altura de o Governo olhar para o panorama do mercado laboral. Se Macau quer ser um destino internacional de turismo não pode contar apenas com os locais, ou com os trabalhadores da China.” A docente da UM criticou ainda o facto de, após o período de confinamento, o Governo ter aberto a fronteira a apenas turistas ou trabalhadores não residentes (TNR) oriundos da China. “Temos de perguntar se é por uma questão de saúde pública ou de quarentena que temos esta política. O Governo não deu as devidas explicações sobre isso.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS MACAU DE FORA DA LISTA DE JURISDIÇÕES EM RISCO

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ACAU não consta na mais recente lista dos países e territórios sujeitos a monitorização reforçada ou com risco elevado de serem submetidos a acção por parte da Financial Action Task Force (FATF) relativamente aos crimes

de branqueamento de capitais, financiamento de terrorismo ou de armas de destruição maciça. Pelo contrário, países como o Irão ou a Coreia do Norte estam na lista das jurisdições em risco de serem alvo de iniciativas por parte da

FATF, enquanto que países como a Albânia, Bahamas ou Barbados, entre outros, devem estar sujeitos a uma monitorização reforçada por parte da FAFT por existirem “insuficiências” nestas matérias. O Grupo Conjunto Ásia-Pacífico

(APJG) do Grupo de Revisão da Cooperação Internacional para as áreas do branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo funciona sob égide da FAFT. Chu Un I, coordenadora do Gabinete de Informação Financeira, é a co-

-presidente do APJG, e participou em reuniões entre os dias 14 e 18 de Setembro no âmbito da elaboração das listas acima referidas. Nos dias 1 e 2 de Outubro, decorreram reuniões para o processo de apreciação e análise.


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`A procura de soluco DOCUMENTÁRIO POLUIÇÃO DE PLÁSTICO EM DEBATE NO AUDITÓRIO DA EPM

A Macau for Waste Reduction promove amanhã um evento sobre o impacto da poluiçã Macau. Além da exibição do documentário “Plastic China”, haverá ainda uma sessão ambientalistas locais, empresários e académicos

Capricor Leong, Macau Free-Cycle “Esp plástico trouxe à existência .”

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OM o intuito de aumentar a sensibilização para a poluição provocada pelo plástico e contribuir para a redução da produção de resíduos, a Macau for Waste Reduction irá exibir amanhã, no Auditório da Escola Portuguesa de Macau (EPM), o documentário “Plastic China”. Depois da projecção, será ainda promovida uma sessão de debate com ambientalistas, empresários e académicos locais. Contactada pelo HM, Capricorn Leong, activista e presidente do grupo Macau Free-Cycle, sublinha a importância do evento como ferramenta de discussão sobre um tema que tem vindo a ganhar relevância em Macau mas que

tem ainda “um longo caminho a percorrer”. “Através deste documentário espero que as pessoas percebam o perigo que o plástico trouxe à existência humana. Não é um perigo imediato como um incêndio (…) mas sim algo que está a ser ‘cozinhado em lume brando’”, vincou. Da autoria do premiado realizador chinês Jiuliang Wang, o documentário “Plastic China” pretende assim, de acordo com uma nota oficial, “mergulhar profundamente nos efeitos nocivos dos resíduos plásticos importados pela China”, que vêm um pouco de todo o mundo e são maioritariemente produzidos pela franja mais desvaforecida da população.

A obra foca ainda o facto de muitos profissionais que ganham a vida a separar resíduos de plástico em aterros, estarem constantemente sujeitos a contrair doenças causadas pela inevitável exposição a químicos tóxicos, por não usarem qualquer tipo de protecção. Outro dos pontos incontornáveis de “Plastic China” diz respeito à relativização espacial e temporal que este tipo de poluição acarreta. Isto porque, dado tratar-se de materiais extremamente resistentes, a poluição através do plástico pode circular por diferentes regiões do globo e ao longo de vários anos.

SOLUÇÃO CONJUNTA

Questionada sobre a situação de Macau, Capricorn Leong aponta

que “aqueles que produzem diariamente toneladas de lixo através do plástico, vão um dia pagar pelas consequências”. “A percentagem de reciclagem em Macau é muito reduzida. Além disso, apesar de a DSPA atribuir a elevada produção de lixo aos turistas, a situação não se alterou muito durante os meses da pandemia”, explicou a activista. Em busca de “soluções eficazes” para resolver o problema, além de Capricorn Leong, o painel de debate que terá lugar após a exibição do documentário, conta ainda com o académico David Goncalves, Diretor do Institudo de Ciência e Ambiente da Universidade de São José (USJ), Deep Ao, Gerente da companhia

de reciclagem TAI ON – Macau, a ambientalisa Benvinda dos Santos e Gilberto Camacho, fundador do grupo Econscious Macau. Numa perspectiva científica, o professor da USJ irá trazer à discussão, dados sobre os microplásticos e os químicos libertados pelos plásticos, e o seu impacto na função cerebral e no comportamento dos animais aquáticos. Como actor da indústria de reciclagem em Macau, Deep So irá partilhar informações sobre a actual situação e os desafios que o sector enfrenta, assim como sublinhar a importância de reciclar, quer seja dentro ou fora de Macau. Destaque ainda para o fundador do grupo ambiental Econscious Macau,


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pero que as pessoas percebam o perigo que o

que se tornou no primeiro empresário ecológico a introduzir sacos de compras feitos a partir de amido de milho em supermercados locais. O evento, que terá a capacidade para acolher uma audiência de 50 pessoas, terá início amanhã, a partir das 13h45. O documentário “Plastic China”, falado em chinês, irá dispôr de legendas em inglês, língua que irá também ser usada durante o debate. A participação no evento é gratuita, mas carece de inscrição prévia, podendo ser feita online através das plataformas sociais da organização. Pedro Arede

Pedro.arede.hojemacau@gmail.com

IIM FEIRA DO LIVRO DE 16 A 18 DE OUTUBRO NO FESTIVAL DA LUSOFONIA

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URANTE o Festival da Lusofonia, entre 16 e 18 de Outubro, as Casas Museus da Taipa vão receber a “Feira do Livro”, uma iniciativa promovida pelo Instituto Internacional de Macau (IIM). No dia 17 de Outubro, às 17h, é apresentado o livro “Retratos Luso-Asiáticos de Macau”, um ensaio fotográfico da autoria do arquitecto João Palla Martins que inclui textos, trilingue, da investigadora Sheyla Zandonai. A obra reúne um acervo de mais de 500 imagens captadas pelo autor, durante 10 anos, em diferentes locais por onde os portugueses passaram, desde o Myanmar ao Japão, e da Indonésia à Índia. Nesta primeira fase, a incidência vai para retratos das fisionomias de luso-descendentes de Macau e de Hong Kong. O mesmo tema foi motivo de duas exposições, uma realizada em Maio do ano passado na Universidade de Aveiro, e a outras, no final do ano, na Universidade de Macau. Segundo o IIM, vão estar disponíveis a preço especial, diversas obras publicadas pela Fundação Macau, como álbuns fotográficos e publicações sobre a História de Macau, passando por livros sobre gastronomia, memória e identidade Macaenses, a trabalhos sobre o papel de Macau como plataforma de intercâmbio cultural e económico entre a China e os Países de Expressão Portuguesa. As iniciativas têm a colaboração da Associação de Danças e Cantares Portuguesa “Macau no Coração” e o apoio da Fundação Macau.

Exposição Bienal Internacional de Mulheres Artistas arranca hoje

Começa hoje a nova edição da Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau (ARTFEM, na sigla inglesa), com uma exposição na Casa Garden, da Fundação Oriente. Esta mostra conta com obras de Meng Jiabao, da China, Isabel Nunes, de Portugal, Wong Si Teng, de Macau, Sara Nuyteman, da Bélgica, e Dawn Alane-Kelmenson, dos EUA, e Fernanda Lago, do Brasil, entre outras artistas. A exposição estará patente até ao dia 13 de Dezembro e tem entrada gratuita. A ARTFEM tem curadoria do arquitecto Carlos Marreiros, Alice Kok, Angela Li Zhenxiang, James Chu e Leonor Veiga, e vai mostrar o trabalho de 98 artistas em locais como a Casa Garden, Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Galeria Lisboa e Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino.

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ESTUDO DESCARBONIZAÇÃO VAI CUSTAR MAIS DE 4,25 BILIÕES DE EUROS

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China vai ter de investir mais de 4,25 biliões de euros se quiser atingir a neutralidade nas emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2060, segundo um estudo publicado ontem pela consultora especializada Wood Mackenzie. A soma corresponde à capacidade adicional de geração de energia de que a China precisará para generalizar o uso de electricidade fornecida por fontes renováveis, em sectores como os transportes, aquecimento ou indústria. “É uma tarefa colossal para um país cujo fornecimento de energia assenta 90 por cento em hidrocarbonetos, o que produz mais de 10.000 toneladas de CO2 anualmente e que, além disso, representa 28 por cento do total das emissões globais”, apontou a directora de Mercados e Transições na região da Ásia-Pacífico da Wood Mackenzie, Prakash Sharma. Segundo as previsões feitas no relatório, as emissões de gases com efeito de estufa da China entrarão num período de “rápida redução”, após atingirem o pico - Pequim prometeu fazê-lo em 2030 - e atingirão o seu nível mais baixo em termos líquidos após 2050. Mas, para cumprir com o objectivo estipulado por Pequim, o país terá de aumentar a capacidade de geração de energia solar e eólica - bem como a capacidade de armazenamento - para 5.040 gigawatts (GW), até 2050, o que significaria multiplicá-la por 11, em relação ao nível actual. A energia gerada pela queima de carvão deve ser reduzida em metade - o que também forçaria uma “transição social”, devido à perda de postos de trabalho e ao impacto económico nas províncias que dependem da mineração. O nível de consumo de gás deve ser mantido, apontou a consultora.

Covid-19 País soma 53 dias sem casos locais

A China somou ontem 53 dias consecutivos sem infecções locais de covid-19, mas registou 11 casos oriundos do exterior entre quarta e quinta-feira. A Comissão de Saúde da China indicou que os casos importados foram diagnosticados no município de Xangai e nas províncias de Sichuan, Zhejiang, Fujian e Shaanxi. As autoridades disseram que, entre quarta e quinta-feira, 16 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infectadas ativas no país se fixou em 200, entre os quais um estado grave. Desde o início da pandemia, a China registou 85.500 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2. As autoridades chinesas referiram que 838.333 pessoas que tiveram contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, das quais 8.712 permanecem sob observação.

9.10.2020 sexta-feira

HONG KONG ACTIVISTAS EXIGEM INFORMAÇÕES SOBRE GRUPO PRESO EM SHENZHEN

Protestos em Lantau

A agitação volta às ruas em Hong Kong. Desta vez em Lantau, junto à sede do Serviço de Aviação Governamental, onde um grupo, que contava com Joshua Wong e com o antigo deputado Chu Hoi-dick, protestou contra a falta de informações sobre os doze detidos em Shenzen. Os manifestantes afirmam ter provas de que o Governo enviou uma aeronave para rastrear os activistas que se deslocavam numa lancha para Taiwan a 23 de Agosto das restrições contra as concentrações de pessoas em locais públicos, acrescenta a RTHK. Os protestos surgem depois de o GFS ter anunciado, na quarta-feira, que não divulgaria quaisquer registos de voos de 23 de Agosto, considerando que esta é uma prática comum. A Chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse na terça-feira que a polícia de Hong Kong “não teve absolutamente qualquer papel” na detenção das 12 pessoas.

SEM CONTACTO

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M grupo de activistas e familiares de 12 detidos em Shenzhen, em que se inclui um jovem português, manifestou-se ontem em Hong Kong, exigindo informações sobre as detenções. O protesto realizou-se junto à sede do Serviço de Aviação Governamental de Hong Kong (GFS, em inglês), em Lantau, e entre os presentes estavam o activista Joshua Wong e o antigo deputado Chu Hoi-dick, que dizem ter provas de que o GFS

enviou uma “aeronave de asa fixa” para rastrear o grupo em 23 de Agosto, noticiou ontem a emissora local RTHK. Segundo a mesma fonte, os activistas não acreditam nas declarações das autoridades de

Hong Kong, que dizem não ter estado envolvidas nas detenções. Durante a acção de protesto, agentes da polícia estiveram no local e exigiram aos manifestantes que retirassem os seus cartazes e alertaram para o risco de violação

Durante a acção de protesto, agentes da polícia estiveram no local e exigiram aos manifestantes que retirassem os seus cartazes e alertaram para o risco de violação das restrições contra as concentrações de pessoas em locais públicos

Os 12 activistas pró-democracia, que incluem o estudante universitário Tsz Lun Kok, com dupla nacionalidade chinesa e portuguesa, foram detidos em 23 de Agosto pela guarda costeira chinesa, por suspeita de “travessia ilegal”, quando se dirigiam de barco para Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo político. O advogado em Hong Kong do estudante com passaporte português disse à Lusa em 4 de Setembro que as autoridades chinesas recusaram o acesso ao advogado mandatado pela família no continente chinês, alegando que “a investigação do caso não está concluída, e que [o detido] não tem o direito de ver um advogado”. Segundo familiares dos detidos, desde a detenção nenhum dos activistas pôde contactar a família nem ter acesso a advogados mandatados pelos seus familiares, tendo a China nomeado, em alguns casos, advogados oficiosos. O jovem de nacionalidade portuguesa Tsz Lun Kok tinha já sido detido em 18 de Novembro em Hong Kong, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território, sendo acusado de motim, por ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objectivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior.


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sexta-feira 9.10.2020

Embebo-me na solidão como uma esponja

entre oriente e ocidente

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FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

Gonçalo M. Tavares

Mulheres de Itália (4)

Alberta faz questão de todas as manhãs se pentear em frente ao espelho

Allegra tem vertigens e por isso diz que só quer ver filmes que se passem em planícies. Tem medo dos filmes do século XX por causa dos elevadores. Alma chora e grita e faz sons estranhos com a boca e acabou de fazer cocó. Altea não vê o namorado há dez dias e está em conversas sexuais com a amiga C. Trocaram ontem um sms e Altea disse: gostava de sentir muita vergonha ao pé de ti; e C disse: sou uma dissecadora de paisagens. E Altea não percebeu o que ela queria dizer e ficou com medo. Amalia está confusa e diante do frigorífico pensa se já disse ou não ao marido que, depois disto tudo acabar, não quer mais viver com ele. Amanda está bêbada e ri e experimenta fazer equilíbrio em cima do sofá e cai e abre a cabeça e começa a gritar. Amata está a narrar um conto a dois meninos irrequietos que não param de dizer asneiras porcas. Ambra tem uma dor intensa no lado esquerdo do peito e quer acalmar indo para a frente do espelho para assim ver que a dor no espelho não é no lado esquerdo, mas no direito.

ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES

Acredita que a troca do espelho basta para ela ficar curada. Amelia trabalha em cima de uma discoteca que toca música até às quatro da manhã e ela tenta dormir com os ouvidos cheios de algodão, mas não consegue e está a gritar para ver se a sua voz fica mais alta do que a música e assim consegue dormir. Mas não resulta. Amina pôe batom pomposo nos lábios e põe-se bela porque vai falar por Skype e não quer que logo no primeiro encontro descubram a cicatriz que ela tem no pescoço e por isso tem também um cachecol elegante o suficiente para que ninguém veja essa marca terrível da seringa que falhou. Anastasia acabou de fazer uma vigarice e enganou mais dois velhos e pensa que, com os dólares dos velhos, vai fazer uma grande festa com as amigas. Anatolia está carregada com compras para o mês e gosta de sentir o peso daquilo que vai comer e expulsar do organismo em pouco tempo. Chega a casa e levanta cada alimento frente ao espelho como se os alimentos também fossem vaidosos. São mesmo vaidosos, diz Anatolia.


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tonalidades António de Castro Caeiro

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que é a verdade? A pergunta não pode ser isolada da pergunta no sentido contrário: o que á a falsidade? Encontramos várias respostas na filosofia. Verdade é que acontece, da maneira que acontece e, na versão negativa, é o que não acontece da maneira que não acontece. Mas a definição da falsidade implica um olhar que é enganado. Achamos que acontece o que não acontece ou que não acontece o que, de facto, acontece. Ou então achamos que é de uma maneira diferente que acontece o que acontece. Do ponto de vista de Copérnico, o sol está parado e é a Terra que se move. Mas nós vivemos no mundo de Ptolemeu. Vamos ver o pôr-do-sol e não o levantar da Terra ou vamos ver o nascer do sol e não o baixar da Terra. Há evidências científicas ou experiências altamente sofisticas que nos comprovam que a Terra é esférica, mas localmente a Terra é plana ou assim o parece. Achamos que estacionamos o carro num sítio de uma determinada maneira e afinal o carro está noutro sítio e mal estacionado. Enganamo-nos nos dias, horas, sítios de encontros. A verdade é real e objectiva. A falsidade resulta de uma ilusão da lucidez. Com efeito, também a verdade está implicada num olhar de reconhecimento. Sabe-se da verdade, do que acontece e do modo como as coisas acontecem. Este “sabe-se” é uma forma de acesso à realidade, acesso de que somos portadores. Sabemos como as coisas são. Ainda que não saibamos tudo, temos noção das coisas, temos percepção das coisas. É por isso também que podemos ser iludidos e enganados. Quem estiver fora da realidade não pode ser enganado. A falsidade está implicada na realidade. Na mentira, dizem-nos coisas, na aparência, aparecem-nos coisas. Somos atraídos por fantasias, ilusões e coisas que não existem. Outra das definições da filosofia diz então que há uma adequação entre o que se pensa da realidade e a própria realidade, entre a nossa compreensão e as situações que acontecem na realidade. Falsidade é uma desadequação, um desfasamento, sem que tenhamos, porém, noção de que há um desfasamento. Só tem noção da desadequação quem mente. Quem mente diz que algo que acontece, quando não acontece ou se acontece não acontece do modo que diz que acontece. Quem mente diz coisas, mostra-as de alguma maneira. A miragem aparece. De outro modo, não nos enganava. A aparência existe. De outro modo não nos iludíamos. Sem nos apercebermos não existem verdades nem falsidades apenas quando

9.10.2020 sexta-feira

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Os donos da verdade somos chamados a tomar posição acerca de verdades e de falsidades. Não estamos sempre numa situação crítica em que temos de ver melhor para saber o que acontece ou de que modo acontece. Estamos continuamente no modo indicativo, sabemos o que acontece e o que não acontece, sabemos do modo como acontece e do modo como as coisas não acontecem. Não nos apercebemos também que se produz em nós uma adesão e colagem ao que acontece ou rejeição total da realidade. Onde estamos, que horas são, quem somos, o que estamos a fazer, a realidade dos objectos e a fantasia da imaginação, tudo é sabido sem que o digamos de nós para nós.

Mexe connosco quem diz mal do nosso clube, da nossa orientação política. Porque são os outros e não os nossos que estão errados E há situações em que estamos metidos e não percebemos que são fantasias produzidas por mestres prestidigitadores, mágicos poderosos, que sabem de que gostamos e de que não gostamos, das pessoas com quem queremos estar e são amigas e dos outros com quem não queremos estar e são nossos inimigos. As “fake news” são mentiras que se fazem insinuar nas nossas vidas sobretudo a princípio sobre matérias das quais não temos uma prova imediata, apenas remota. Mas depois são mentiras descaradas para quem não se deixa enganar e vê os outros, mesmo uma maioria ser enganada. Basta trabalhar com o ressentimento e todos temos motivos para estarmos ressentidos com a vida que é uma maneria de dizer que estamos ressentidos com os outros. Outro motivo fortíssimo é a inveja, o ciúme, a cobiça. Queremos ter mais e são os outros todos que têm tudo e nós não temos nada. A culpa é dos migrantes, das minorias étnicas, dos que não acreditam no que acreditamos ou dos que acreditam no que não acreditamos: se acreditam ou se não acreditam em Deus, se acreditam no meu Deus ou no Deus dos outros. E mexe connosco quem diz mal do nosso clube, da nossa orientação política. Porque são os outros e não os nossos que estão errados. Já não se pergunta pela verdade. Quer ter-se razão. Quer ser-se dono da verdade.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

sexta-feira 9.10.2020

OFício dos ossos

Valério Romão

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mais fácil do que parece. O activista desejável não precisa de ser inteligente. Pelo contrário. O seu desconhecimento face ao assunto em que milita é uma vantagem. O seu desconhecimento é, aliás, inversamente proporcional à força das suas convicções. Um activista preocupado com apreender a diversidade de pontos de vista disponíveis sobre um mesmo assunto pode paralisar sob o peso da escolha. Ou tornar-se moderado. A moderação está para o activismo como chantilly para a sardinha. Não combina. A criação de um activista depende de uma série de factores contextuais e esses dependem em última análise do tempo em que o sujeito vive. Não é possível condicionar o sujeito a adoptar uma causa demasiadamente datada, por mais justa e moral que esta pareça ser. Cada época tem o seu caleidoscópio de activistas e activismos e é dentro desse registo que se deve empurrar o sujeito para a escolha. Algumas causas são praticamente intemporais, indo e vindo em ciclos de indignação consoante a opinião pública as coloca mais ou menos em foco. Há assim períodos em que a floresta amazónica é o epicentro da revolta. Noutras ocasiões, uma catástrofe em

O activista desejável África recorda-nos momentaneamente de que há fome no mundo. Algumas causas são circunstanciais e existem apenas enquanto o problema não se resolve ou enquanto a indignação não encontra melhor ninho. É o caso de uma guerra, por exemplo, ou de uma espécie exótica ameaçada. Embora este tipo de activismo seja incapaz de mobilizar o sujeito para além do tempo da causa que lhe subjaz, é no entanto uma porta de entrada para o mundo da indignação geral

Um dos pilares do activismo é a sua forte componente moral. O activista tem de sentir que está do lado certo da história e que de algum modo participa no gesto geral da criação de um mundo melhor

onde o recém-formado activista pode rapidamente encontrar terreno mais fértil para a sua pulsão justiceira. Mas as causas fundamentais são aquelas contemporâneas ao sujeito. Um dos pilares do activismo é a sua forte componente moral. O activista tem de sentir que está do lado certo da história e que de algum modo participa no gesto geral da criação de um mundo melhor. Tal como no caso da inteligência, não é necessário que de facto o sujeito se encontre mesmo do lado certo. Precisa apenas de acreditar que está. A complexidade moral e as subtilezas éticas são dispensáveis. Só iam confundi-lo. E a confusão pode levar ao esclarecimento ou ao imobilismo, sendo qualquer um deles prejudiciais à manutenção do moralismo justiceiro que move o activista. Há que alimentar-lhe diariamente a indignação. No início convém ministrar-lhe doses generosas de injustiça. Podem ser requentadas. Basta colhê-la das páginas da história. Com o tempo, o paladar do activista torna-se mais refinado e já não aceita senão indignação fresca. A sorte é que nesse período da sua evolução, o activista precisa de muito menos alimento; qualquer espinha de iniquida-

de serve. O activista transforma a mais pequena das ocorrências num manjar capaz de saciar uma mesa de cardeais. O que o activista não dispensa é a companhia da causa. Podem não ser muitos, mas têm de ser engajados. Para o activista, todos os aspectos e momentos da vida reflectem de algum modo a causa a que se dedica. O activismo é um oásis à volta da qual se estende um imenso deserto, mesmo que nesse deserto vivam e cresçam pessoas. Enquanto o mundo não reflectir com precisão quântica o modo como o activista o deseja ver reflectido, está fundamentalmente errado. Para tal é preciso converter a mole ignara para a causa que assume o primeiro lugar no pódio dos males do mundo. A companhia reforça o activista, ampara-lhe as crises de fé e escuda-o da iniquidade que vê por toda a parte. Por último, convém que que o activista seja relativamente cego para a distinção do mundo em que vive e da realidade da sua causa. A maior parte dos activistas não habitam nos motivos da sua indignação. Felizmente, o humano vem equipado de série com a má-fé necessária para ser ambliope face à mais evidente contradição. Sigam-me para mais receitas.


HELEN DE CRUZ

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expectoracão Sara F.Costa

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meu pai sempre me disse: primeiro eu, depois eu, depois os meus, depois os outros. Por vezes dizia-o com alguma angústia, outras em tom sarcástico. Outras vezes parecia ser mesmo a sua explicação do mundo. O meu pai, no entanto, não é completamente egoísta nas suas acções. O que o faz defender esta ideia? Parece que é a razão que o leva a essa conclusão. No entanto, no exercício do seu dia-a-dia, ele é bastante mais benevolente do que o que pensa de si próprio. O amor exclusivo a si próprio e a defesa de interesses meramente pessoais, parece um modus operandis perfeitamente legítimo no pensamento contemporâneo. Por um lado, porque o capitalismo nos ensinou que tudo deve ser um meio para um fim e, por outro, porque a racionalização de toda a interpretação do real impera nos recursos argumentativos como possibilidade única. Isaiah Berlin criticava os filósofos do iluminismo por acharem que para todas as questões, mesmo as filosóficas, existia uma única resposta, que devia ser a correcta e à qual chegaríamos aplicando um método inteligível: a razão. Através da razão, seria possível descrever toda a realidade de uma maneira completamente coerente e organizada. Era uma concepção monista da realidade. Mas porque utilizo aqui o pretérito imperfeito, como que se este tipo de interpretação da realidade política e social estivesse já ultrapassado? Não nos libertamos tão facilmente da Jau-

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A forma mais correcta de encarar o mundo la de Ferro de Max Webber enquanto a racionalização e o desencantamento do mundo forem o principal eixo de pensamento à volta do qual organizamos o mundo. Mas não precisamos de ser tão ocidentais e modernos. Meng Zi (traduzido para Mêncio em português), já alertava para os problemas da excessiva racionalização. Proclamava a benevolência e a integridade da natureza humana - e é fascinante ver como era já tão preciso sobre o papel da construção social no desenvolvimento da natureza. “Aquele que não tem compaixão, não é humano. Contudo, o homem nem sempre consegue concretizar o seu potencial de benevolente. Está na natureza de um pessegueiro ter pêssegos, mas sem um bom ambiente, ele não os dará. Todos temos potencial para a benevolência e para a rectidão, mas devemos concre-

tizar esse potencial para nos tornarmos completamente virtuosos.” (Meng Zi, 2A6, 6A10). O confucionismo é, no ocidente, mais conhecido pela sua conceptualização da organização social através da piedade filial. No entanto, a “virtude” e o ser “virtuoso” são conceitos operacionais fundamentais para o pensamento confuciano. Esta é uma perspectiva milenar que já se referia à necessidade de se encarar o outro com benevolência - não porque isso iria ser benéfico num cenário pós-morte, como no cristianismo - mas antes porque a natureza humana é benevolente e é essa é uma vantagem igualmente lógica para a sociedade. Não sei se algum dia poderei apresentar o Meng Zi ao meu pai. Provavelmente, de entre os filósofos chineses, iria antes apresentar-um dos precursores do egoísmo ético, Yang Zhu. Meng Zi dizia sobre

Nunca fui boa nas perguntas de escolha múltipla porque conseguia ver muitas vezes várias respostas correctas e ficava confusa. Se alguém diz ser egoísta mas é na verdade benevolente, o mais sensato é abraçar o paradoxo e vê-lo expandir-se em todas as direcções

ele “Mesmo se ele pudesse tirar um fio de cabelo para proteger um império inteiro, não o faria”. (Meng Zi, 7A26) Yang Zhu, o filósofo do “cada um por si”, escrevia que todas as acções que beneficiam exclusivamente quem as faz são naturalmente éticas. Na realidade, Yang Zhu era apenas um naturalista que acreditava que qualquer forma de interferência com a vida alheia, poderia ser prejudicial para todos. Focar-se em si, não tentar ajudar ninguém, nem tentar magoar ninguém. Por vezes, gosto de pegar na visão que as pessoas que me rodeiam constroem do mundo, com a sua longa experiência de vida que me ultrapassa, e começar a enquadrar aquela perspectiva em filósofos que eu tenha lido. Descubro que há sempre duas ou três directrizes variáveis onde se pode enquadrar qualquer afirmação mas não gosto de chegar a uma única e correcta resposta. Nunca fui boa nas perguntas de escolha múltipla porque conseguia ver muitas vezes várias respostas correctas e ficava confusa. Se alguém diz ser egoísta mas é na verdade benevolente, o mais sensato é abraçar o paradoxo e vê-lo expandir-se em todas as direcções. Provavelmente, é esta a forma mais correcta de encarar o mundo: não ter uma forma correcta de encarar o mundo.


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Um filme de: Ric Roman Waugh Com: Gerard Butler, Morena Baccarin, Scott Glenn 14.15, 19.00

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Um filme de: Agnieska Holland Com: James Norton, Vanessa, Peter Saarsgard 16.30, 19.15

FALADO EM CANTONENSE Um filme de: Imai Kazuaki 14.30, 16.45, 19.00

THE CONFIDENCE MAN JP ESPISODE OF THE PRINCESS [B]

HOTEST THIEF [B]

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Um filme de: Mark Williams Com: Liam Neeson, Kate Walsh, Jeffrey Donovan,

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e a eficácia da vacina contra a covid-19 [da belga Janssen], o contrato permite que os Estados-membros adquiram vacinas para 200 milhões de pessoas”, tendo ainda “a possibilidade de adquirir vacinas adicionais para mais 200 milhões de pessoas”, explica a Comissão Europeia.

UMA EXPOSIÇÃO HOJE

WORLD PRESS PHOTO 2020 – ONLINE

MR.JONES [B]

DORAEMON THE MOVIE: NOBITA’S NEW DINOSAUR [A]

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Jai Courtney 16.30, 21.30

GREENLAND [B]

Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki 21.15

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TENET [B]

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A Comissão Europeia concluiu ontem um contrato com a farmacêutica belga Janssen, do grupo norte-americano Johnson & Johnson, para permitir que a potencial vacina para a covid-19 desenvolvida pela companhia chegue a 200 milhões de europeus. “Assim que se comprovar a segurança

VACINA PARA 200 MILHÕES

Cineteatro

MAX

FALADO EM JPONÊS LENGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Ryo Tanaka 14.30, 16.45, 21.30

I’M LIVIN’ IT [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Wong Hing Fan Com: Aaron Kwok, Miriam Yeung, Alex Man 19.00

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Como a exposição que celebra anualmente o melhor do fotojornalismo mundial já não se encontra em exibição em Macau, aconselho a visita o website oficial da World Press Photo. Entre as fotos premiadas, destaque para “Straight Voice” um poderoso retrato de Yasuyoshi Chiba, fotógrafo japonês da

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Agence France Presse, que mostra um jovem iluminado por telemóveis a recitar poesia de protesto numa manifestação durante um apagão em Cartum, no Sudão. Todas as fotos retratam questões sensíveis, de elevado melindre político, incluindo das manifestações em Hong Kong. João Luz

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confeitaria

JOÃO ROMÃO

Onsen

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quase meia noite a aproveito os últimos minutos do banho termal no terraço do hotel, com desafogada vista para o mar e até para o célebre portão de um dos mais simbólicos santuários xintoístas do Japão, a erguer-se sobre águas tranquilas e sob estrelas luminosas e um brilhante quarto crescente, mas coberto pela estrutura protectora das obras de renovação em curso, coisa para durar uns dois anos, tal a delicadeza do objecto. O tanque de água quente onde me estendo é pequeno mas suficiente, que o hotel tem nestes dias procura limitada e os banhos escassa utilização. Mesmo com os simpáticos descontos proporcionados pela campanha de subsídio ao turismo interno implementada no Japão, o confortável hotel normalmente bastante caro tem pouca gente e foram raros os outros hóspedes que encontrámos, mesmo no acolhedor restaurante do estabelecimento, onde de resto tivemos oportunidade de degustar tranquilamente magníficas iguarias locais. Há muito que não viajava, naturalmente. Coincidências das vidas pessoal e profissional tinham feito de 2019 ano de inusitada movimentação, durante o qual calhou estar em 10 países da Europa e da Ásia, mesmo não contando com escalas em viagem, coisa inédita e que certamente não se repetirá nos futuros previsíveis. Mas há farturas que acabam por dar em fome, por assim dizer, e 2020, o ano da grande pandemia global, é todo o contrário: tempo de fronteiras fechadas, grandes restrições à mobilidade international e algumas condicionantes às deslocações internas, hotéis fechados, restaurantes em crise, enfim, toda a soberba indústria das viagens e do turismo subitamente encerrada e sem soluções à vista. Também eu, naturalmente, passei o ano entre a casa e o

emprego, ainda que fosse dos privilegiados que mantiveram o trabalho (e o rendimento) em pleno - ou até mais, na realidade. Este foi então um tranquilo regresso à tranquilidade do “onsen”, o banho japonês com tradição milenar num país onde as nascentes de água termal são incomparavelmente mais abundantes do que em qualquer outro lugar. Ainda que haja nascentes a correr livremente na natureza, a maior parte dos banhos utiliza fontes naturais integradas em unidades hoteleiras. A maioria são os “ryokan” japoneses, de quartos amplos e preparados para o serviço de refeições, o chão em tapetes “tatami” e as camas em tradicionais “futons”, uma espécie de saco-cama. Mas há cada vez mais hotéis “convencionais”, com quartos e camas ao estilo europeu, que também oferecem serviço de banhos termais. Desta vez ficámos alojados algures a meio-caminho: um quarto com cama em estilo europeu e refeições em restaurante mas tapetes “tatami” e espaço suficiente para entreter uma hóspede com 3 meses de vida e a inerente volatilidade de humores, na sua primeira pequena viagem. O banho, em todo o caso, segue as estritas regras da etiqueta japonesa: ambiente recatado e silencioso a convidar à introspecção, separação dos balneários por sexo, nudez total e lavagem dos corpos antes da entrada na água, lugar de meditação e não de lavagem. Neste caso, havia também banho ao ar livre,

Percebem-se mal os critérios europeus e a falta de aprendizagem com o que passa e o que se faz na Ásia, onde os contágios começaram com pelo menos um trimestre de antecipação. Tem sido assim desde o princípio desta pandemia. Uma lástima

vista magnífica e ninguém por companhia – um regresso paradisíaco a ambiente tão tradicional do Japão. Este regresso à actividade turística no Japão vai-se fazendo com também com tranquila lentidão, à falta de alternativas razoáveis. Com o país ainda fechado à mobilidade internacional (com muito raras excepções), é o turismo interno que vai vagamente animando a economia de um sector em agonia que se prevê prolongada. Há subsídios do governo para promover o turismo que tornam os preços bem mais apetecíveis mas há também uma cultura generalizada que impõe longas jornadas de trabalho e curtas férias (mesmo que isso pouco contribua para a produtividade da economia). Também há precauções generalizadas em relação a possíveis contágios, que o vírus está longe de estar extinto. Neste caso, apesar de se tratar de uma pequena ilha com fácil acesso (menos de 10 minutos de barco desde zona urbana), notável atractividade nacional e internacional e preços manifestamente baixos, o número de visitantes era baixo, não havia qualquer tipo de congestionamento e os riscos para a saúde pública eram mínimos. Este modesto incentivo à recuperação do turismo centrada no mercado doméstico contrasta com o Verão europeu, onde se franquearam as portas à chegada de turistas internacionais, com mais ou menos restrições, mais ou menos atabalhoamento, mas em quantidades suficientes para se criarem congestionamentos diversos em transportes e respectivas infra-estruturas, incluindo estações e aeroportos, além de hotéis, restaurantes, bares e zonas centrais de animação estival. Não será a única causa mas certamente contribuiu bastante mais para o aumento do número de casos de infecções por covid-19 a que hoje se assiste em muitos países europeus do que para a recuperação das economias em geral ou do turismo em particular. Percebem-se mal os critérios europeus e a falta de aprendizagem com o que passa e o que se faz na Ásia, onde os contágios começaram com pelo menos um trimestre de antecipação. Tem sido assim desde o princípio desta pandemia. Uma lástima.


opinião 19

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MÁRIO DUARTE DUQUE

Plano Director II

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Centro, para que te quero? O ordenamento territorial da tradição ocidental, que se admite ser a matriz da cidade de Macau, e em aspectos em que a civilização chinesa sequer difere, a cidade não é um território de produção, mas a sua representação concentrada e centralizada, nomeadamente administrativa e económica, assim como o interface desse território que representa. Não é por acaso que estados optaram por fixar, ou por relocalizar as suas capitais nos centros mais geométricos dos seus territórios. Em causa está necessariamente a acessibilidade ao território que a cidade representa, de que serve de interface, e é daí que se retira o sentido da expressão que “todos os caminhos vão dar a Roma”. Outras modalidades existiram em que as cidades não foram a representação económica e administrativa de um território de produção, mas o próprio território de produção. Foi isso o que caracterizou o ordenamento territorial das civilizações maia, asteca e khmer, mas também condição que autores Costanza, Graumlich, Steffen, Tainter e Turchin, entre outros, atribuem ter resultado em incapacidade urbana de lidar com o crescimento e com a mudança, e o subsequente declínio e extinção.

Foram efectivamente as tradições urbanas de alta densidade e de matriz grega e romana, que caracterizam o chamado Velho Mundo, que se revelaram mais capazes e mais resilientes, fazendo uso eficiente do espaço, atingindo recorrentemente a saturação, mas também desenvolvendo capacidade instrumental para lidar com o crescimento e a mudança, para se adaptarem e para evoluírem. Chegados aqui, fácil é reconhecer que às cidades é intrínseco um sentido de espaço tanto de representação como de invenção, e é isso que nutre as componentes artísticas que as cidades tendem a desenvolver e pelas quais são conhecidas. Por sua vez, as cidades são territórios que, só por si, também carecem da sua própria representação, a qual serve de interface com outros sectores da mesma cidade, assim como com as outras cidades, e a que

No caso especial de Macau nunca existiu propriamente um território que Macau representasse, mas o centro de Macau sempre representou Macau, sem sombra de dúvida

chamamos “o centro”, onde designadas funções desejavelmente e necessariamente se “conCentram”. No caso especial de Macau nunca existiu propriamente um território que Macau representasse, mas o centro de Macau sempre representou Macau, sem sombra de dúvida. Muita da capacidade instrumental de que no passado foi necessário lançar mão não se prendeu apenas com o crescimento e com a saturação das cidades, mas também com a mudança de paradigmas nomeadamente de transporte, mas sempre persistindo ou prosseguindo a ideia de centro, que não necessariamente o castro histórico primitivo. Efectivamente sempre foi grande a determinação de manter consolidada a ideia de centro de cidade, independentemente do que o centro representasse. Tanto que, logo pela alvorada do transporte ferroviário, as estações centrais não foram construídas na periferia das cidades já consolidadas. Antes foram construídos viadutos, como também foram abertos túneis, para que o comboio chegasse ao centro das cidades, onde se contruíram elegantes “hotéis de gare”, geralmente pertencentes à mesma companhia concessionário do caminho de ferro, e de onde se rasgaram

elegantes bulevares que conduziam à praça do município, “a sala de visitas da cidade”. Se o transporte fosse o barco e não o comboio, a gare era então marítima, mas não se dispensava o hotel elegante junto à gare, nem o bulevar que conduz à sala de visitas da cidade”. Foi isso que existiu em Macau. A gare marítima foi o cais 16, o hotel elegante foi o Grand Hotel (kok chai), o bulevar que se rasgou foi a Av. Almeida Ribeiro, e a sala de visitas o Leal Senado. Mas também condições que atingiram nova saturação e necessidade de nova intervenção instrumental, senão por via novo paradigma, como aconteceu com o transporte aéreo. Aí as novas gares (os aeroportos) já se localizaram necessariamente na periferia. O transporte urbano mais generalizado passou a ser o automóvel que rapidamente saturou as cidades. Aos aeroportos chegava-se predominantemente de automóvel ou de táxi. Para isso, existiam baias a que chamaram “kiss and ride”, onde se largavam e apanhavam os passageiros. Poucas foram as cidades que cuidaram do acesso entre os aeroportos e o centro da cidade, como se cuidou na era do comboio. Conjuntamente com outros factores, as lojas elegantes e as sedes comerciais de prestígio começaram a abandonar os centros das cidades, os hotéis aí existentes baixaram de categoria, os residentes passaram a ser de outro grupo socioeconómico, em muitos casos a criminalidade instalou-se, e os centros outrora elegantes, passaram a ser lugares degradados. A continuar…


O tempo domestica-nos a todos, acalma-nos, seda-nos, embala-nos suavemente até ao sono final. PALAVRA DO DIA

Rafael Chirbes

sexta-feira 9.10.2020

Covid-19 Portugal registou ontem 1.278 infectados

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ORTUGAL voltou ontem a ultrapassar a barreira das 1.000 infecções diárias por covid-19, atingindo 1.278 casos, segundo o boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Desde o início da pandemia, em Março, este é o segundo maior número de casos de infecção. O maior foi em 10 de Abril com 1.516. Os dados de ontem revelam ainda que nas últimas 24 horas se registaram 10 mortes relacionadas com a covid-19. No total, Portugal já registou 2.050 mortes e 82.534 casos de infecção, estando ontem ativos 28.967 casos, mais 788 do que na quarta-feira. A DGS indica que das 10 mortes registadas, três ocorreram na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde também se verifica o maior número de infecções, cinco na região Norte e duas na região Centro. Na região de Lisboa e Vale do Tejo foram notificados mais 482 novos casos de infecção, contabilizando a região 41.707 casos e 814 mortes. A região Norte registava ontem mais 642 novos casos de covid-19, totalizando 30.111 e 905 mortos desde o início da pandemia. Na região Centro registaram-se mais 101 casos, contabilizando 6.662 infceções e 271 mortos. No Alentejo foram registados mais nove novos casos de covid-19, totalizando 1.604, com um total de 25 mortos desde o inicio da pandemia. A região do Algarve tinha ontem notificados mais 30 casos de infecção, somando 1.892 casos e 20 mortos. Na Região Autónoma dos Açores foram registados quatro novos casos nas últimas 24 horas, somando 291 infeções detectadas e 15 mortos desde o início da pandemia. A Madeira registou ontem 10 novos casos, contabilizando 267 infecções, sem óbitos até hoje.

Volta a Itália João Almeida segura liderança após sexta etapa

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O português João Almeida (Deceuninck-Quick Step) conservou ontem a liderança da Volta a Itália em bicicleta, após a realização da sexta etapa, ganha ao ‘sprint’ pelo francês Arnaud Démare (Groupama-FDJ). Démare, que já tinha vencido a quarta tirada, triunfou nos 188 quilómetros entre Castrovillari e Matera, após 4:54.38 horas, num ‘sprint’ em que cortou a meta bem à frente do australiano Michael Matthews (Sunweb), segundo classificado, e do italiano Fabio Felline (Astana), terceiro. Na geral individual, João Almeida, que cortou a meta no 25.º lugar, integrado no pelotão, segue com a camisola rosa vestida, com 43 segundos de vantagem para o espanhol Pello Bilbao (Astana), segundo colocado, e 48 para o holandês Wilco Kelderman (Sunweb), terceiro.

A Human Rights Watch descreve as condições em que vivem os membros deste grupo étnico, referindo estarem confinados em campos com “severas limitações de subsistência, de movimento, de educação e de saúde”, o que, segundo a organização, configura uma forma de “apartheid”

MYANMAR HUMAN RIGHTS WATCH DENUNCIA ‘APARTHEID’ DE 130 MIL ‘ROHINGYA’

Uma prisão sem fim

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AIS de 130 mil ‘rohingyas’ estão confinados em campos de concentração de Myanmar, o que ameaça o seu direito à vida, mas também o direito de votar nas legislativas do país, em Novembro, denunciou ontem a Human Rights Watch. Instando o mundo a pressionar o Governo de Myanmar (antiga Birmânia) para que liberte os ‘rohingya’ da detenção “arbitrária e indefinida” em que se encontram desde 2012, a organização humanitária sublinha que a situação “ameaça, cada vez mais, o seu direito à vida, além de outros direitos básicos”. Num relatório ontem divulgado em Banguecoque com o título “Uma prisão aberta sem fim”, a Human Rights Watch (HRW) descreve as condições em que vivem os membros deste grupo étnico predominantemente muçulmano, referindo estarem confinados em campos com “severas limitações de subsistência, de movimento, de educação e de saúde”, o que, segundo

a organização, configura uma forma de “apartheid”. O relatório foi publicado um mês antes das eleições legislativas marcadas em Myanmar para 8 de Novembro, nas quais os ‘rohingya’ não poderão votar nem concorrer, já que as autoridades já bloquearam as candidaturas de cinco políticos desta etnia. A grande maioria dos ‘rohingyas’ é apátrida, tendo perdido a cidadania de Myanmar no início dos anos 1990. Nessa altura, os membros desta etnia passaram a ser considerados como imigrantes ilegais do Bangladesh, embora vivam há séculos no estado de Rakhine, no oeste do país. Os campos de concentração foram criados em 2012, quando se registaram vários confrontos violentos entre os ‘rohingya’ e a comunidade ‘rakhine’ - um grupo étnico predominantemente budista maioritário em Rakhine – que resultaram na morte de centenas de pessoas e na destruição de milhares de casas. O conflito também desalojou milhares de pessoas do

grupo étnico ‘rakhine’, mas os budistas desalojados desfrutavam de liberdade de movimento e puderam voltar para casa, enquanto os membros da minoria muçulmana permaneceram detidos em campos e passaram a sobreviver apenas com a ajuda de organizações não governamentais e humanitárias.

SEGREGAÇÃO E GENOCÍDIO

No relatório hoje divulgado, a HRW também denuncia que as medidas recentemente tomadas pelo Governo para fechar os campos “parecem ter como objetivo tornar permanente a segregação e o confinamento dos ‘rohingyas’”. Em 2019, o Governo de Myanmar lançou um plano de encerramento dos campos, mas que, na prática e de acordo com a HRW, consiste em construir estruturas permanentes nas imediações dos campos onde os ‘rohingya’ vivem em casebres ou barracões. Os membros desta minoria étnica que ainda vivem em Rakhine - entre 200.000 e 300.000 pessoas - estão confinados às suas aldeias e sujeitos

a um regime de segregação que os impede de viajar tanto dentro como fora do Estado. Antes do conflito de 2012, estimava-se que vivessem em Rakhine cerca de um milhão de ‘rohingya’. Segundo dados da ONU, entre 2012 e maio de 2015, cerca de 170.000 ‘rohingya’ recorreram a redes de tráfico de seres humanos para fugir para a Malásia ou para a Tailândia, mas as autoridades desses países conseguiram desmantelar essas redes e reduzir o uso dessas rotas ao mínimo. Em Agosto de 2017, o exército de Myanmar lançou uma campanha contra os ‘rohingya’, após vários ataques de insurgentes do Exército de Salvação Arakan Rohingya contra a polícia e postos militares. A operação militar, pela qual o Myanmar tem de se defender da acusação de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, causou o êxodo de cerca de 725.000 ‘rohingya’ para o vizinho Bangladesh, onde continuam a viver, naquele que se tornou o maior complexo de campos de refugiados de todo o mundo.


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