DE 8 A 13 DE DEZEMBRO
MIFF ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO HOJE MACAU DE 30 DE NOVEMBRO DE 2016 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
F I T A S C Á D A C A S A
MIFF
REALIZADORA LOCAL DESTACADA NOS FILMES ASIÁTICOS
Falta sempre qualquer coisa
A
estreia de “Our Seventeen”, de Emily Chan, está agendada para dia 9 na Torre de Macau. O filme integra a secção “Hidden Dragons”, que aborda a produção asiática. Emily Chan, realizadora e produtora de Macau, não deixa de manifestar satisfação com o acontecimento. “Estou feliz porque é um evento internacional e é bom fazer parte dos dois filmes realizados por autores locais e que vão estar em exibição”, explica ao HM. O convite para a participação foi súbito. “Cheguei a pensar que o filme não estaria pronto a tempo, visto ter sido acabado este Verão, mas conseguimos, apesar de passar muito tempo em Pequim”, explica. Também foi devido a um encontro em Pequim que soube do festival. E foi assim que o ex-director do evento, Marco Muller, a desafiou a participar. A realizadora, que já passa grande parte do tempo dividida entre a capital chinesa e Macau, considera que é necessário que as produções locais se dividam entre filmes artísticos e filmes comerciais. Apesar de referir que o Governo se mostra empenhado em apoiar a indústria, acha que “o que é realmente necessário é que exista público para ver os filmes”. Por outro lado, e de forma a dar lugar à profissionalização, “os artistas locais também precisam de sair e fazer coisas fora de Macau”. “Our Seventeen”, que se passa na altura da transferência de Ad-
“É um fi
“Sisterhood”, a primei Choi mostra-se especia
SOFIA MOTA
Emily Chan estreia “Our Seventeen” na secção dedicada ao cinema asiático do Festival Internacional de Cinema de Macau. A realizadora local, que divide o tempo e a profissão entre Pequim e Macau, fala acerca das expectativas, da película e do futuro
ENTREVISTA | TRACY CHOI – R
Como é ter a estreia do primeiro filme no Festival Internacional de Cinema de Macau, logo na primeira edição? É uma situação que me deixa especialmente feliz. Além de ser a minha cidade natal, é um filme que também teve parte das rodagens no território e que fala dele. Também tenho aqui os meus amigos e família, e é uma oportunidade de assistirmos juntos à estreia. Estou muito contente que isso tenha acontecido.
ministração, trata de um grupo de jovens que procuram a concretização do sonho de serem músicos, ao mesmo tempo que exploram os seus processos de auto-descoberta e de definição de valores. A realizadora diz que é uma película que trata sobretudo da ausência. “Neste filme estamos perante qualquer coisa que falta. As pessoas não estão satisfeitas, há sempre alguma coisa que não está presente”, menciona. Para Emily Chan, a questão da ausência é uma característica de Macau. “O território está a evoluir demasiado rápido e, neste contexto, o meu objectivo é chamar a atenção para a necessidade de as pessoas pararem um pouco e se encontrarem a si mesmas.” Emily Chan opta por uma abordagem com uma baixa intensidade emocional, transversal à película. “Na verdade, a emoção do filme nunca é demasiado alta ou baixa e a ideia é que a atmosfera seja sempre caracterizada por uma calma relativa, porque a vida em
“É uma boa oportunidade para ter mais um filme em portfólio e dar a conhecer o meu trabalho.”
Macau também tem uma certa calma, sendo que falta sempre qualquer coisa.” As expectativas para a estreia de “Our Seventeen” não são exacerbadas. “É uma boa oportunidade para ter mais um filme em portfólio e dar a conhecer o meu trabalho, visto que o evento pode atrair muitas pessoas, nomeadamente ligadas à indústria internacional. Não tenho qualquer expectativa em especial, estou calma e receptiva ao que aparecer”, ilustra, até porque “enquanto realizadora, o que há a fazer é sempre dar o melhor que se pode”.
UMA OPORTUNIDADE AOS LOCAIS
Tal como a realizadora de Macau Tracy Choi (ver texto nestas páginas), a inclusão de artistas de Hong Kong na produção deste trabalho de Emily Chan acontece porque, “dada a sua experiência, são muito profissionais”. No entanto, a realizadora fez questão de “incluir e proteger a participação de elementos locais na equipa”, sendo a maioria. O orçamento de cerca de três milhões de patacas que, apesar de situar a película numa produção de baixo custo, poderia contribuir para a contratação de mais gente da China Continental ou mesmo de Hong Kong, foi essencialmente usado para “a construção de uma equipa constituída em 90 por cento por pessoas de Macau, porque são estas que precisam de uma oportunidade, nomeadamente de poderem participar num filme dito a sério”.
“Algumas das pessoas que acabaram por financiar este filme são da China e também pediram para integrar mais elementos de Hong Kong, mas fiz questão de proteger a minha equipa maioritariamente constituída por profissionais locais”, refere ao HM.
REBELDE E CONTADORA DE HISTÓRIAS
O cinema apareceu na vida de Emily Chan quando ainda era muito nova. “Era muito rebelde, mas fui-me apercebendo que conseguia escrever histórias e expressar-me através de meios ligados à imagem”, recorda. Ainda na faculdade, onde tirava um curso em Comunicação, começou por fazer alguns documentários mas, com o tempo, começou a criar histórias de ficção. Com a paixão pela realização acordada percebeu que Macau não era o lugar para a desenvolver. “Descobri que aqui não existia espaço para poder ser realizadora. Fui para Pequim e, até agora, a minha vida é de idas e vindas entre Pequim e Macau”, refere. No geral, a maior inspiração para as histórias que conta “é a vida do quotidiano, no presente”. “Considero-me uma escritora e realizadora de histórias de amor”, diz, enquanto adianta que já está a trabalhar num novo guião que trata a história de um homem natural da China Continental que vive em Macau. S.M.
É um dos filmes que está em competição na principal secção do festival. Sim. Ainda não vi os restantes filmes em competição, mas já vi os trailers. Parecem ser filmes muito bons e é uma honra poder partilhar esta secção com eles. Quais são as expectativas que tem para esta competição? Nenhumas. Porquê? Porque, apesar de não ter visto ainda os filmes, penso que já têm um carácter muito internacional. Parecem todos muito bons. Vai apresentar “Sisterhood”. Como é que apareceu este trabalho? Foi o projecto do meu mestrado em Hong Kong. Já tinha esta história na cabeça e quando me graduei candidatei-me a um fundo de apoio do Governo de Macau. Na altura não tinha ainda este nome, penso que se chamava “Sweet Home”, mas a história era muito idêntica. Acabei por ter um financiamento de 1,5 milhões de patacas e fui bater à porta de outras produtoras em Hong Kong para acabar de financiar o filme. Consegui, juntamente com o meu orientador de mestrado, produtoras interessadas e começámos por contratar um guionista para tratar melhor da história e escrevê-la de uma forma mais complexa e densa. Depois, o resto do processo foi acontecendo.
REALIZADORA
“Além de ser a minha cidade natal, é um filme que também teve parte das rodagens no território e que fala dele.”
hoje macau quarta-feira 30.11.2016
filme acerca de memórias”
ira longa-metragem da realizadora de Macau, estreia na edição inaugural do Festival Internacional de Cinema. Tracy almente satisfeita por ser o público de Macau o primeiro a ver a obra que entra na secção de competição do evento
SOFIA MOTA
E que história conta? É sobre uma mulher natural de Macau que foi para Taiwan onde viveu 15 anos. Acaba por regressar ao território, mas já não consegue dizer que se sente em casa porque não sente uma ligação à terra. Macau também tinha mudado muito ao longo desses 15 anos de ausência, pelo que não mais reconhecia a “casa”. Mas o filme também se chama “sisterhood” porque aborda a história de uma relação entre a personagem principal e uma amiga antes de ir para Taiwan, ainda nos anos 90, e da percepção de como
essa relação tinha mudado ao longo do tempo. Um paralelismo entre as mudanças de Macau e das relações? Sim. A história começa quando a personagem principal, que se chama Sisi, mas é sempre tratada com o número 19, o número de massagista que tinha antes de ir embora, recebe a notícia de que a sua melhor amiga de juventude tinha morrido. É então que regressa a Macau no intuito de “rever” a companheira pela última vez. No regresso, encontra amigos em comum e o filho da tal amiga, que tinha ajudado a cuidar
enquanto bebé. São estes encontros que lhe trazem as memórias da relação e da vida antes da partida. É um filme acerca de memórias. Que assuntos motivam os seus filmes? São essencialmente questões acerca de mulheres e de género. Acabam por ser os temas que mais me atraem. A escolha de Gigi Leung, a conhecida actriz de Hong Kong, foi uma estratégia? Sim, para atrair outro público, mas foi também uma coincidência. En-
viámos o guião e ela gostou muito, pelo que aceitou fazer o papel sem pedir o cachet normal. No início foi estranho para mim trabalhar com ela, sentia-me nervosa. Mas ela é muito profissional e vinha sempre muito bem preparada para as filmagens. Passou de uma produção muito independente para um filme de uma maior produção. Teve de fazer alguma alteração significativa ao que queria inicialmente? No geral, não. Tive acima de tudo oportunidade de trabalhar numa escala maior e contar com profis-
sionais de Hong Kong. Mas, e tal como pretendia, consegui envolver na equipa pessoas de Macau. Sempre quis que fosse uma produção partilhada com Macau. Qual é o problema da indústria cinematográfica em Macau? Penso que o maior deles é não ter audiências. Por exemplo, se foram filmes mais independentes é muito difícil conseguir algum retorno em Macau porque nunca há público suficiente. Daí a necessidade de que o filme seja vendido para outros mercados. Mas, se pensarmos no mercado continental, ficamos limitados, porque nem todos os temas são aceites. Se pensarmos em Hong Kong, temos sempre de conseguir a presença de uma estrela da indústria local de modo a que tenha público. Taiwan é outra alternativa. Mas é muito difícil o cinema de Macau encontrar um caminho. No entanto, e à semelhança da realizadora Emily Chan, a colaboração com a China Continental pode ser uma opção para o cinema de Macau. Considera que o festival pode vir a contribuir para a indústria do cinema em Macau? Ainda não sabemos. Claro que é uma boa oportunidade para encontrarmos profissionais de outras partes do mundo. Mas, na verdade, ainda não sabemos o que vai acontecer no festival. Estamos também ansiosos por ver o que vai acontecer. Planos para o futuro? Estou a trabalhar em novos projectos. A concretização de “Sisterhood” acabou por abrir muitas portas. Estou também a escrever um novo guião. A história vai ser sobre Macau e sobre a vida de uma mulher que trabalha num casino. Quero trabalhar acerca do mundo actual, e dos constrangimentos e preconceitos que ainda se vivem em Macau, especialmente por parte das mulheres. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
MIFF CURTAS DA CASA
Termina hoje o prazo de inscrição para a competição de curtas-metragens de Macau. Com a iniciativa, promovida pelo Festival Internacional de Cinema pretende-se, de acordo com a organização, “encorajar os residentes a criar os seus próprios filmes e dar uma oportunidade para que os seus trabalhos sejam vistos pela indústria internacional”. A
votação para a lista final decorrerá entre 8 e 12 de Dezembro e o prémio para os cinco finalistas é de 2500 patacas. O júri é constituído pelo cineasta Sérgio Perez, que representa os serviços de Turismo de Macau, pelo apresentador Rony Chan, da Macau Film & Television Productions and Culture Association, pelo realizador de Hong Kong Fire Lee e pelas cineastas locais Emily Chan e Tracy Choi.
Perfil SHEKHAR
KAPUR
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PRESIDENTE
DO
JÚRI
S
hekhar Kapur é realizador de cinema indiano, produtor e contador de histórias. A sua estreia na realização foi com “Masoom”, que veio a ganhar o prémio “Filmfare Critics” para melhor filme do ano, e declarado um dos “100 melhores filmes indianos de todos os tempos” no centenário do cinema daquele país. Obteve reconhecimento mundial com o filme Bandit Queen. Com estreia na secção “Quinzena de Realizadores” do Festival de Cinema de Cannes em 1994, o filme que conquistou a cidade francesa, catapultou o realizador para o sucesso internacional. Mais tarde, Shekhar Kapur contou com Cate Blanchett no premiado com dois Óscares “Queen Elizabeth”. Em 2010, fez parte do júri da competição internacional no 63.º Festival de Cinema de Cannes. Contou ainda com participações no London Film Festival, no Tokyo Film Festival, e foi um dos patrocinadores do International Indian Film Festival em Goa. Shekhar Kapur é ainda um dos principais activistas em questões ambientais e de sustentabilidade hídrica no seu país.
“ CITAÇÃO
Este é o tempo da Ásia. Ao longo dos últimos anos, o consumismo catapultou o mercado asiático para a faixa internacional, mas o que estamos a viver agora é o renascimento da cultura inspirada pelas comunidades asiáticas. Como realizador indiano, estou animado por presidir ao júri do Festival Internacional de Cinema. Tanto Macau, como a Índia, no que respeita ao contar histórias, têm muito em comum com a forma chinesa de o fazer. Esperemos que estas novas formas de contar tragam o mundo para uma melhor compreensão de si mesmo. SHEKHAR KAPUR
hoje macau quarta-feira 30.11.2016
APRENDER COM A EXPERIÊNCIA
Na primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau, destaque para as duas masterclasses que vão ser realizadas. O dia 10 de Dezembro é dedicado ao tema das grandes produções e aos filmes independentes. Da agenda faz ainda parte a discussão acerca do que a Ásia e Hollywood podem aprender com as experiências de cada um. A iniciativa vai estar a cargo do produtor americano Gianni Nunnari. No dia seguinte, é a vez do escritor e guionista Tom McCarthy falar da arte de contar histórias através do uso de elementos pessoais. Os bilhetes estão à venda a partir de amanhã.