DE 8 A 14 DE DEZEMBRO
MIFF
SOFIA MARGARIDA MOTA
ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO HOJE MACAU DE 15 DE DEZEMBRO DE 2017 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
UMAESTREIADEOURO
MIFF
Um tesouro da SOFIA MARGARIDA MOTA
Dos 11 filmes em competição, apenas seis saíram da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau premiados. A cerimónia decorreu ontem e o galardão para o melhor filme foi entregue à jovem realizadora Natalia Garagiola, com o filme “Hunting Season”. Os dramas familiares levaram a melhor no que respeita à angariação de estátuas, mas o juro fez questão de sublinhar a qualidade de todos os trabalhos cinematográficos seleccionados para competição
PRÉMIOS PRIMEIRO FILME DE REALIZADORA ITALIANA VENCE FESTIVAL
O
galardão para o melhor filme da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi para o drama familiar filmado na Patagónia, “Hunting Season”. A primeira longa metragem da jovem realizadora italiana, Natalia Garagiola conquistou o júri. Para Natalia Garagiola, o facto de ter sido reconhecida em Macau pode vir a ter um papel de peso na sua carreira. Está neste momento a trabalhar no seu segundo filme, ainda sem nome mas que trata “da vida de uma médica que se debate
entre o medo e a ciência e que pode vir a ter, com o reconhecimento, mais facilidade em ser financiado”, referiu aos jornalistas após a cerimónia de ontem de entrega de prémios”. A película vencedora conta a história de Nahuel que regressa a casa do pai, Ernesto, um respeitado caçador da Patagónia argentina. Nahuel é acolhido numa nova família que o despreza e está agora com um pai que o abandonou e não traz boas memórias do passado onde o filho se insere. É, no entanto, numa caçada que os dois, sozinhos na imensa Patagónia, têm
oportunidade de se reencontrar. As filmagens, todas feitas em ambiente natural tiveram, as suas complicações, na sua maioria associadas às dificuldades em trabalhar com o frio que se fazia sentir, referiu a realizadora. O filme em competição da China também foi destacado. “Wrath of silence” do realizador natural da Mongólia Interior, Yukun Xin arrecadou os prémios do júri e de melhor actor atribuído a Song Yang. Song Yang faz o papel de um pai mineiro que procura o filho desaparecido e acaba por se confrontar com o
submundo ligado à corrupção da exploração mineira.
PRÉMIOS REPETIDOS
Já o francês Xavier Legrand levou o prémio para o melhor realizador com “Custody”. A premiação não é uma novidade para Legrand que apesar de ser conhecido pelo seu trabalho de actor de teatro, com “Custody”, a sua primeira longa metragem, foi já galardoado com o prémio de melhor realizador no Festival de Veneza no passado mês de Setembro. O filme que trata dos dramas de uma criança filha de pais separados e que se vê como
Para Natalia Garagiola, o facto de ter sido reconhecida em Macau pode vir a ter um papel de peso na sua carreira
a Patagónia assassino em série, ganhou o prémio de melhor contribuição técnica e de melhor actriz. No que respeita à contribuição técnica, o sector premiado foi a fotografia de Benjamim Keacun, enquanto a actriz premiada foi Jessia Buckley. O argumentista e realizador israelita Samuel Maoz ganhou o prémio de melhor argumento com o filme “Foxtrot”. Samuel Maoz aos 13 aos já filmava em 8mm e aos 18 anos contava com vários filmes feitos quando foi obrigado a integrar o exército e destacado para a guerra no Líbano. O seu primeiro filme, “Lebannon” ganhou, em 2009 o Leão de Ouro em Veneza e “Foxtrot” arrecadou, este ano, também o prémio do júri no mesmo evento. Já o público de Macau escolheu como vencedor do festival a história dos tenistas Björn Borg e Joe McEnroe. A produção sueca do realizador galardoado pela crítica em Cannes com o filme “Armadillo” em 2010, Janus Metz trouxe ao grande ecrã os bastidores do campeonato de Wimbledon de 1980.
É TUDO BOM
SOFIA MARGARIDA MOTA
Uma selecção de filmes com muita qualidade, foi a afirmação do júri para descrever as 11 películas que
alvo de luta pela custódia. O papel interpretado por Thomas Goria, valeu ao jovem actor o prémio para o melhor actor jovem revelação da segunda edição do evento internacional. “Beast” do britânico Michael Pearce, depois de ter créditos ganhos nos BAFTA ed estreado na secção “Plataforma” Toronto International Film Festival deste ano, leva também duas estatuetas para Inglaterra. O filme que trata da história de Moll Huntford, uma jovem de 27 anos que vive na ilha de Jersey, ao largo da costa da Inglaterra e se apaixona por um suspeito de ser
Vencedor do melhor filme chinês
estiveram em competição nesta segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. O cineasta francês que presidiu ao júri, Laurent Cantet, miostrou-se impressionado. “São filmes de realizadores muito novos e que já apresentam uma qualidade invulgar”, afirmou em conferência de imprensa após a entrega de prémios. Já o escritor Lawrence Osborne manifestou um sentimento comum por parte do júri relativamente à escolha do filme vencedor. “Todos sentimos que “Hunting Season” trazia alguma coisa de particular, que estava muito bem construído e contava com interpretações incríveis por parte destes jovens actores”, referiu. Para o também membro do júri tratava-se de uma película que aborda de uma forma cuidadosa e original a relação entre um pai e um filho. Apesar de mais de metade dos filmes em competição não arrecadar nenhum tipo de prémio, Cantet fez ainda questão de notar que “não foi por falta de qualidade”. Sofia Margarida Mota
sofia.mota@hojemacau.com.mo
sexta-feira 15.12.2017
VENCENDORES • MELHOR FILME “Hunting Season” Natalia Garagiola • MELHOR REALIZADOR Xavier Legrand “Custody” • MELHOR ACTRIZ Jessia Buckley
“Beat”
• MELHOR ACTOR Song Yang
“Wrath of Silence”
• MELHOR JOVEM ACTOR/ACTRIZ Thomas Goria “Custody” • MELHOR ARGUMENTO Samuel Maoz “Foxtrot” • MELHOR CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA Benjamim Keacun “Beast” • PRÉMIO DO JÚRI “Wrath of Silence” Yukun Xin • PRÉMIO DO PÚBLICO “Borg McEnroe” Janus Metz
“São filmes de realizadores muito novos e que já apresentam uma qualidade invulgar.” LAURENT CANTET PRESIDENTE DO JÚRI
UDO KIER REGRESSA COMO JÚRI PARA O ANO
O
prémio de carreira foi dado ao actor que já conta com participação em mais de 200 filmes ao longo dos seus 50 anos de carreira. Udo Kier, não se mostrou surpreendido com o prémio mas sim, com a qualidade dos filmes a que assistiu no festival. Para o actor de “Blade”, “Armagedon” ou “Drácula”, “é bom estar num festival que salienta o talento de jovens realizadores e que aposta no cinema independente”, disse. Udo Kier adiantou ainda que para o ano vai regressar ao território e com funções definidas: vai integrar o júri da terceira edição do Festivalk Internacionald e Cinema de Macau.
FESTIVAL VAI TER NOVAS SECÇÕES
A
próxima edição do Festival Internacional de Cinema vai ter novidades. Entre elas está a criação de uma secção dedicada ao cinema asiático e de países de língua portuguesa, A informação foi deixada pela directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, à margem da cerimónia de entrega de prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. “Já tive uma reunião com o director artístico Mike Goodridge, e com o nosso embaixador deste ano, o realizador Shekar Kapur, e já estamos a preparar as edições futuras. Há a possibilidade de criar uma secção para a Ásia e uma para os países de língua portuguesa”, referiu a responsável. Por outro lado, estão na agenda melhorias. “Vamos ainda tentar perceber os pontos fracos em que ainda temos de fazer melhorias mas ouvi muitos elogios a esta edição”, apontou Helena de Senna Fernandes. Este ano o festival teve algumas alterações relativamente à edição anterior e a aposta em filmes de jovens realizadores vai se manter. “Fizemos uma grande mudança em termos de regulamento para os filmes em competição e a partir deste ano só podem entrar na corrida filmes que sejam o primeiro ou segundo trabalho do realizador”, começou por dizer, sendo que considera que a resposta a esta mudança foi muito positiva. “Esta acção teve um bom feed back por parte da indústria porque somos um evento novo é bom ter esta associação com os jovens realizadores”, apontou Helena de Senna Fernandes.
MIFF Está no festival enquanto presidente do júri. Que critérios tem quando está a avaliar um filme? Penso que não temos elementos precisos. Somos cinco e entre os cinco elementos do júri se calhar não pensamos todos da mesma forma, mas penso que o primeiro elemento que temos em conta é a forma como o filme nos toca. Depois disso podemos discutir a qualidade da representação ou dos guiões. Mas o que é importante para mim, quando estou num júri deste género é o facto de não sabermos nada do que vamos ver aqui. Os filmes em competição são os primeiros ou segundos filmes de cada um dos realizadores. Entramos aqui completamente virgens no que respeita aos filmes que vemos. Entramos na sala e é uma descoberta, o que também é um momento muito bom. O que nos pode dizer dos filmes em competição? Estou impressionado com a diversidade dos filmes que tenho visto, de diferentes partes do mundo e de diferentes géneros. É uma selecção muito boa. Penso que todos os membros do júri estão muito felizes com o que vimos. Tem sido uma boa surpresa. Lembra-se quando é que descobriu que queria ser um contador de histórias através do cinema?
Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar Comecei pela fotografia e com ela descobri que queria fazer cada vez mais séries fotográficas. O objectivo era poder contar pequenas histórias. Paralelemente também gostava de escrever e escrevia contos que muitas vezes acompanhavam os conjuntos de imagens. Penso que isso me levou, mais tarde, a optar por fazer filmes. Mas o momento mais importante para mim foi ter sido aceite numa escola de cinema. Quando lá entrei não sabia nada do que era fazer um filme. Três anos depois tinha feito cinco filmes e trabalhado em muitos mais. Foi ali que, realmente tudo ficou decidido.
SOFIA MARGARIDA MOTA
F
OI vencedor da Palma de Ouro, em Cannes em 2008, e nomeado para o melhor filme estrangeiro para os Óscares com “Entre Les Murs”. Laurent Cantet presidiu ao júri da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. Aos jornalistas, o realizador falou do que mais importa quando vê um filme e da paixão que tem pelo cinema japonês e coreano.
LAURENT CANTET CINEASTA E PRESIDENTE DO JÚRI DO FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA
“Estou impressionado com a diversidade dos filmes que tenho visto, de diferentes partes do mundo e de diferentes géneros.”
Como é que é o seu processo de fazer um filme? O que quer dizer? Quando faço um filme tento descrever o mundo onde vivo. Tento descrever e situar a história num contexto e todos os filmes têm uma forma própria de serem feitos. Não penso que tenha um estilo. Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar. Talvez a particularidade dos meus filmes, e que se poderá encontrar em todos eles, tenha que ver com o facto de serem feitos com actores profissionais e não profissionais. Para mim é importante ouvir o que as pessoas têm a dizer acerca da sua própria vida, da vida real e tento dar um espaço onde as pessoas que normalmente não têm voz, possam expressar-se, falar de si, das suas histórias e realidades.
sexta-feira 15.12.2017
É a primeira vez em Macau. O que acha a cidade? Acho incrível a forma como os dois universos, ocidental e oriental, coexistem no mesmo espaço. Podemos ir ao centro histórico e sentir isso através, por exemplo, da arquitectura. Mas iinda conheço muito pouco. O que pensa do cinema que está a ser feito actualmente na Ásia? Alguns dos meus realizadores preferidos são japoneses e coreanos. Infelizmente não conheço tanto do cinema chinês, mas no que respeita a cinema coreano e japonês temos muito acesso a ele em França, especialmente nos últimos dez anos. Actualmente, faz mesmo parte da cultura cinematográfica francesa e já não nos podemos alhear do cinema asiático. O que mais gosta nos filmes do Japão e da Coreia? Talvez a sua ligação com o contexto em que são feitos. Também mostram, de uma forma muito particular, as relações entre as pessoas. São relações muito muito diferentes da nossa forma de nos ligar-mos uns aos outros. Penso que no cinema tanto japonês como coreano, há um exotismo humano e das relações entre as pessoas que é muito especial. Como vê a situação do cinema francês? Penso que, como em todos os lados, temos dificuldades em fazer filmes. Há muitos realizadores e, mesmo que se consiga fazer um filme, temos dificuldade em lança-lo e distribui-lo. A coisa mais importante é, se calhar, manter a diversidade do cinema francês viva. Também é difícil vender os nossos filmes a outros países. Mas, ainda assim, a França produz cerca mais de 200 filmes por ano o que é muito bom. Sofia Margarida Mota
sofia.mota@hojemacau.com.mo
GOLPE DE MESTRE Michelle Yeoh foi a actriz em foco no Festival Internacional de Cinema actriz em foco da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi Michelle Yeoh, uma escolha estratégica da primeira Bond girl oriental que fez carreira com sucesso a ocidente e a oriente. Mestre de kung fu, Michelle Yeoh não se fica pela espetacularidade dos golpes personalizados que a tornaram famosa no cinema da região vizinha. A actriz orgulha-se da componente de representação que lhe tem sido reconhecida em filmes com “Memórias e uma gueixa”, “Crouching Tiger”, “Hidden Dragon” e “The Lady”, e mais recentemente, na série Startrek”. Aos jornalistas Michelle Yeoh recordou a opção pelo cinema com uma forte componente física. “Quando comecei a fazer filmes, os
que envolviam artes marciais e as comédias eram os mais populares nas salas de cinema. Pensei que não conseguia fazer comédia porque na altura o meu cantonês era muito mau e não lia chinê que, polo não conseguia ler guiões. Por isso pensei que o mais fácil para mim seria mesmo optar pelos filmes de artes marciais”. Tratava-se de entrar num mundo essencialmente dominado por homens, mas Michelle Yeoh não se inibiu e optou por criar um estilo próprio. “Porque é que escolhi desenvolver os meus golpes? Porque podia. Não o fazemos só porque queremos, fazemos porque podemos. Comecei a treinar muito e como tinha um passado dedicado à dança o meu corpo era muito flexível”, começou por contar.
Por outro lado, a actriz considera que nos momentos de acção há que defender uma causa. “Tenho de ter uma razão pela qual lutar: Não é a mesma coisa uma mulher lutar para proteger um, filho, ou um amor, ou um inimigo do país, referiu. O estilo de luta vem também com a personagem”, referiu. Em 1997 deu o pulo para Hollywood ao participar no filme do James Bond “Tomorrow nerver dies”. Este filme, assim como o “The Lady” marcam uma mudança no rumo de carreira em no reconhecimento enquanto actriz, pois deixou de ser apenas a “mestre de kung fu de Hong Kong”.
UMA ACTRIZ DE CAUSAS
Na tela, Michelle Yeoh defende causas que têm es-
sencialmente que ver com a igualdade de género. “Todos os papéis que fiz, são de alguma forma, inspirados em mulheres que conheço. Apesar de representar muitas mulheres diferentes, é como se fosse uma homenagem a todas elas, a todas as mulheres que lutam”, apontou. “Não sou feminista, mas acredito em igualdade de oportunidades e que todos podemos contribuir para um planeta melhor”, referiu tendo em conta a participação activa que tem tido em diferentes organizações, nomeadamente ligadas à luta contra a pobreza. Mas, sublinhou, “cada um de nós pode fazer a sua parte no que respeita às mudanças climáticas, à pobreza e à violência”, rematou Michelle Yeoh. S.M.M.
SOFIA MARGARIDA MOTA
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