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10 entrevistas
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7 resenhas de shows
nยบ4 - Dezembro/Janeiro 09
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A marcha da humanidade
entrevistas:
burst Textures chipset zero deadlock Overcast one man army and the undead quartet
Amon Amarth ao vivo: p.o.d.
seita musicbox superhero hornsup #2
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August burns red c millencolin c abc pro hc 12 c mudhoney
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Resenhas Ao vivo
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Editorial Edit torial Rockin’’ Around the Xmas Tree Nº4 • Dezembro/Janeiro 2009
Editor-Chefe Matheus Moura
Colaboradores nesta edição André Henrique Franco, Andréa Ariane, Bruno Pereira, Charline Messa, Gláucio Oliveira, Igor Lemos, João Henrique, Julio Schwan, Luiz Felipe Leite, Odilon Herculano, Paulo Duarte, Paulo Vitor, PT
Fotos Luiz Felipe Leite, Charline Messa, Pedro Roque, Jeremy Saffer, Micke Johansson, Emma Svensson, Bruce Bettis, Ellen van Heezen, Caio Paifer, Rafael Melo.
Design, Paginação, Webdesign Matheus Moura
Revisão Paulo Vitor
Publicidade huinfo@hornsup.net
Website
Fim de ano é a mesma “lenga-lenga” de sempre. Fazer aquele balanço do ano, elaborar planos para o ano seguinte e agradecer. Aqui na HORNSUP o ano fecha com saldo positivo. Temos recebido um bom feedback por parte dos leitores e tudo tem corrido da melhor forma. Para o próximo ano, teremos algumas mudanças que já estão sendo trabalhadas e serão divulgadas futuramente. Nada de revolucionário, apenas alguns upgrades que já se fazem necessários. O ano se encerra sem ressentimentos ou frustrações, apenas com agradecimentos. São tantos que não vale a pena “dar nome aos bois”. A peça fundamental de todo esse esquema é você, que lê, acompanha, participa e aguarda com ansiedade pelo lançamento de uma nova edição. Não são muitos, mas são os melhores! A HORNSUP deseja a todos boas festas e mais todas aquelas merdas que as pessoas dizem as outras nessas horas, por default. Porra, essa conversa me deu vontade de comer um panetone inteiro. Será que já estão à venda aqui em Portugal? Ok, se não achar me vingo num Bolo-Rei mesmo! Bom, agora tenho que ir ao supermercado com urgência. Fui! HO-HO-HORNSUP! Matheus Moura
www.hornsup.net
Myspace www.myspace.com/hornsupmag
Envio de material
Gan Ganhe! nhe!
Portugal/Europa HORNSUP Att: Matheus Moura Rua Dr. Coutinho Paes, 167 8ºC 2725 Algueirão-Mem Martins Portugal Brasil HORNSUP Att: Paulo Vitor Macêdo Rua Joaquim Gois, nº 88, Edifício Mansão Drummond, Apartamento 102 13 de Julho Aracaju - Sergipe Brasil CEP: 49020-130
“O natal é a Disneyficação do cristianismo” (Don Cupitt)
PS: A partir desta edição, todos os links e anúncios estão “linkados” no arquivo em PDF, portanto, é possível clicar para ver o material relacionado (se está lendo no Issuu, essa funcionalidade é inválida).
Para concorrer as promoções visite www.hornsup.net e saiba com se inscrever. Sorteio: 30 de Janeiro de 2009
A banda paranaense Socialmente Incorreto vai dar aos leitores da HORNSUP cinco (5) cópias do seu álbum de estréia, “Socialmente Incorreto”.
A Travolta Discos e a banda Fim do Silêncio estão oferecendo essa camiseta acima (1) para os leitores da HORNSUP. Tá esperando o que pra ganhar a tua?
Três (3) cópias de “Convicção: Dignidade, Respeito e Honra”, álbum da banda paulista Sangue Inocente, serão sorteadas aqui na HORNSUP. Vai ficar sem o teu?
Concorra a uma dos dois (2) CDs “Ciclo Interminável”, da banda Ponto Nulo no Céu. Aqui só não ganha quem não quer!
Contato huinfo@hornsup.net
HORNSUP Rua Dr. Coutinho Paes, 167 8ºC 2725 Algueirão-Mem Martins Portugal
Procura-se Estamos sempre em busca de novos colaboradores. Se acha que pode se tornar parte de nossa equipe, envie um e-mail para huinfo@hornsup.net e mostre do que é capaz!
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Vencedores das promoções HORNSUP #3 - Skin Culture: Lucio Marcos de Freitas (Taubaté/SP), Gabriela Monteiro Vitorino de Lima (Carapiuíba/SP), Ricardo Vivas (Salvador/BA), Silvio Romero (Petrolina/PE), Heloisa Tanimoto (Lorena/SP) / W.A.K.O.: Nuno Gonçalo da Silva Vasconcelos Dores (Montijo - Portugal), Helena Manuela dos Anjos Granjo (Oliveira do Douro - Portugal) / Imminent Chaos: Vanessa Cristina Libério (Rio de Janeiro/RJ)
not notícias tíc cias
por André Henrique Franco
GUNS N’ROSES A espera acabou
Protesto N.Y.H.C. Tá bom, tá bom, me comprometo a dar um tempo de N.Y.H.C. depois desta coluna. Encerro a trilogia, que teve nos dois capítulos iniciais o debate sobre mitos e fatos da cena novaiorquina, com um manifesto muito inteligente contra o documentário American Hardcore. Não sei se vocês tiveram a oportunidade de ver o filme. Muito bem acabado. Videografia obrigatória no meio. Só que com um escorregão histórico colossal, sublinhado de modo irretocável num artigo que leva a assinatura do Mitts, guitarrista do Madball.
Após 17 anos de espera, enfim sai “Chinese Democracy”, novo álbum do Guns N’Roses. Este é o primeiro álbum de inéditas da banda desde os CDs “Use Your Illusion I” e “Use Your Illusion II”, ambos de 1991. Após esses dois registros, a banda ainda lançou “The Spaghetti Incident?” em 1993, disco de covers de músicas punk e rock dos anos 70 e 80. “Chinese Democracy” saiu no último dia 23 de Novembro pela Best Buy. O Guns N’Roses conta com a seguinte formação: Axl Rose (vocal), Richard Fortus e Bumblefoot (guitarras), Tommy Stinson (baixo), Frank Ferrer (bateria), Dizzy Reed (teclados, pianos e percussão) e Chris Pitman (teclados e programação eletrônica).
DESPISED ICON Montreal Assault Os canadenses do Despised Icon já têm data marcada para lançarem o primeiro DVD de sua carreira: 27 de janeiro. O registro recebeu o nome de “Montreal Assault Live” e será lançado pela Century Media, trazendo toda a intensidade da banda em um concerto ao vivo em sua cidade natal filmado em diversas câmeras, além de documentários e todos os seus clipes. De acordo com os comentários do vocalista Alex Erian: “O DVD ‘Montreal Assault Live’ está finalmente completo. Os sons ao vivo soam maciços. O registro foi feito por nada menos que nosso exguitarrista Yannick St-Amand. Nosso amigo Felix também criou alguns de seus doentios artworks. A filmagem e a edição do show foram espetaculares. David Brodsky (In This Moment, Unearth) e sua equipe capturaram toneladas de momentos cheios de adrenalina. Em 27 de janeiro, você será capaz de reviver o show ao vivo, os stage-dives, os circle-pits, os chutes e os gritos que fizeram deste ‘Montreal Assault’ show em nossa terra natal uma noite para se recordar”.
LAMB OF GOD A ira de Deus O quinto álbum do Lamb Of God já tem data prevista de lançamento e título anunciado. “Wrath” deve sair pela Epic Records, nos Estados Unidos, e pela Roadrunner United, fora da América do Norte, no dia 24 de fevereiro. O álbum foi produzido por Josh Wilbur e gravado em estúdios de Nova York, Virginia e New Hampshire. A banda passou o ano inteiro de 2008 fora da estrada, sem fazer shows e se dedicando apenas ao processo de composição do novo disco. O Lamb Of God irá abrir os shows do Metallica durante todo o mês de dezembro e, a partir de 6 de fevereiro, embarca em sua primeira tour em suporte ao novo registro. Segundo o baterista Chris Adler, este álbum irá surpreender muita gente: “Normalmente, bandas que chegam ao ponto onde nos encontramos em nossa carreira começam a dar uma folga, sentir o cheiro das rosas e regurgitar. Nós escolhemos um caminho diferente. Ninguém quer ouvir outro membro de uma banda fazendo propaganda de um álbum novo. ‘Wrath’ não precisa disso. Nós nos superamos e em 24 de fevereiro vocês irão sentir isso”.
REVEILLE Renascimento Após anos de silêncio, os cinco membros originais da banda Reveille irão se reunir para um último show. O concerto, chamado de “Reveille Reborn”, será realizado no The Palladium, em Worcester, Massachusetts, dia 26 de Dezembro. A banda possui dois álbuns lançados: “Laced” (1999) e “Bleed The Sky” (2002). O vocalista Drew Simollardes declarou: “Nenhum de nós jamais imaginou que estaríamos dividindo o mesmo palco novamente. Quando nos separamos, cada um de nós sentiu que isso estava completamente acabado para sempre. Esse é o motivo do show se chamar ‘Reveille Reborn’ pois o Reveille está literalmente voltando dos mortos”.
Não sei se ele publicou o texto em algum outro lugar, mas achei uma versão no Headbanger’s Blog, ligado ao programa da MTV que tem a apresentação do Jamey Jasta. Eu iria traduzir alguns trechos, mas acho mais eficaz vocês darem um google com os termos “mitts american hardcore” e seguirem o link. Neste espaço, acho suficiente destacar os três pontos que ele critica. A saber: a) Nada contra Bad Brains, Minor Threat ou Black Flag, mas faltou citar Agnostic Front, D.R.I., Cro-Mags e Suicidal Tendencies. b) O filme gasta um tempão em cenas como Califórnia, Washington D.C. e Boston e escanteia Nova York. c) O release do documentário fala que o gênero se extingiu em 1986. Como assim, cara pálida? E aí valem duas citações traduzidas do Mitts -- “Este é o tipo de merda que você ouve de gente amarga por não ter mais 17 anos de idade” e “A única razão pela qual estes palhaços conseguem lançar um filme com ‘hardcore’ no título é porque o gênero ainda existe e há toda uma geração interessada nas suas raízes”. O guitarrista encerra o artigo com a informação de que o Madball prepara um DVD para reparar os tropeços do American Hardcore. Com toda a atenção dispensada ao Freddy e ao Hoya, fica difícil para o grande público perceber as qualidades do Mitts, o cara que substituiu o Stigma e o Matt Henderson na banda. O cabelo grisalho disfarçado por fios loiros e um boné onipresente - e a cara de tiozinho escondem um sujeito bom de papo, fãzaço de futebol (soccer mesmo) e dedicado à história do hardcore, em especial, claro, a do próprio Madball. Por mais que eu questione a relevância da cena de Nova York hoje -- aliás, de qualquer cena --, não posso deixar de assinar embaixo o comentário que o Mitts faz. A visão do diretor de American Hardcore (e dos autores do livro que inspirou o documentário) traz de volta aos holofotes o que o pczismo -- pc para politicamente correto -- tem de pior. Lá nos Estados Unidos e aqui no Brasil. Não se enganem: há um montão destes teóricos esnobes entre nós. pt saudações
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Tesouros do
not notícias tíc cias DEFTONES Baixista sofre grave acidente
Job For A Sponge www.youtube.com/watch?v=4p6_WZJJNBw
Raimundos no Planeta Xuxa www.youtube.com/watch?v=PIZt9Ip93t0
O baixista do Deftones, Chi Cheng, 38, se encontra em coma após um grave acidente automobilístico ocorrido no dia 3 de Novembro em Santa Clara, Califórnia. No momento, Chi Cheng está internado em um hospital na cidade de San Jose e, de acordo com o vocalista do Deftones, Chino Moreno, a situação do baixista é grave, mas estável. Quem dirigia o carro no momento do acidente era a irmã de Cheng, porém, a causa do mesmo ainda permanece desconhecida. A banda estava trabalhando em seu sexto álbum de estúdio, intitulado “Eros”, que tinha data de lançamento prevista para 2009.
SEPULTURA Sem lei
Korzus quer biscoito www.youtube.com/watch?v=qMoOj8grf5g
“A-Lex” é como se chamará o próximo álbum do Sepultura. O disco tem data prevista de lançamento para 23 de Janeiro no Brasil e também na Alemanha, Áustria e Suíça via SPV Records. No resto da Europa, o CD chega às prateleiras no dia 26 e no dia seguinte é a vez de Estados Unidos e Canadá. O novo registro é baseado no livro “A Laranja Mecânica” de Anthony Burgess, de 1962 e que, anos mais tarde foi adaptado ao cinema por Stanley Kubrick. “A-Lex” foi gravado no Trama Studios, em São Paulo e é o primeiro disco que conta com a presença do baterista Jean Dolabella, que substitui Iggor Cavalera desde 2006. No último dia 13 de Novembro, o Sepultura foi uma das bandas a se apresentar no Latin Grammy Awards 2008. A banda tocou um cover de “Garota de Ipanema” e também uma nova música, chamada “We’ve Lost You”.
SERJ TANKIAN / MIKE PATTON Rede de amigos
Peido Maiden http://www.youtube.com/watch?v=S1WKYmx4i1Q
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O vocalista do System Of A Down, Serj Tankian, e Mike Patton, vocalista do extinto Faith No More, uniram forças e gravaram juntos uma nova música, chamada “Bird’s Eye”. A faixa, que foi co-escrita com o compositor Marc Streitenfeld, fará parte do filme “Body Of Lies” (no Brasil sob o título “Rede de Mentiras”). “Bird’s Eye” tocará durante os créditos finais do filme e já é possível escutá-la na página
oficial do Myspace de Tankian (http://www. myspace.com/serjtankian). Quando perguntado sobre sua colaboração com Mike, Serj disse: “Patton é um grande amigo e está sempre convidado a toda festa em que eu estiver”
SLAYER Três novas faixas Os membros do Slayer passaram parte do mês de Outubro em um estúdio no sul da Califórnia se dedicando à gravação de três novas músicas, que estarão possivelmente no novo álbum da banda, esperado para 2009. Na internet, é possível ver alguns pequenos clipes dos caras em estúdio durante a gravação da faixa “Psychopathy Red”, inspirada no serial killer russo Andrei Chikatilo. A banda é a principal atração da “Unholy Alliance Tour, Chapter III”, turnê européia que se prolonga até o dia 27 de Novembro em Helsinki, na Finlândia, ao lado das bandas Trivium, Mastodon e Amon Amarth. O Slayer pretende retornar aos estúdios no início do ano que vem para finalizar as gravações do novo disco.
GOD FORBID Sangue da Terra Após lançarem o primeiro DVD de sua carreira, “Beneath The Scars of Glory and Progression”, o God Forbid se prepara para o lançamento de seu próximo álbum de estúdio, intitulado “Earthsblood”, que deve sair pela Century Media Records em Fevereiro de 2009. O registro foi produzido por Eric Rachel (Atreyu), com Christian Olde Wolbers (Fear Factory) como responsável pela gravação dos vocais. O guitarrista Doc Coyle comentou que a inspiração para o título do álbum veio após assistir o filme “There Will Be Blood” (no Brasil sob o título “Sangue Negro”) e lançou uma reflexão envolvendo as letras do álbum, escritas por Byron Davis e Dallas Coyle: “Seriam o sangue de nossos corpos e o sangue da terra apenas um e os mesmos? [...] Este não é um álbum maçante, tendencioso ou com uma proposta a ser ‘verde’, nem um álbum conceituoso. É apenas uma observação abstrata do planeta em que habitamos”
not notícias tíc cias BURNT BY THE SUN Coração queimado Originários de New Jersey, o Burnt By The Sun se encontra em meio ao processo de composição de seu novo registro, “Heart of Darkness”, que sairá pela Relapse Records. No Myspace da banda é possível ouvir a primeira demo do novo disco, “F-UNIT”. A banda deve entrar em breve no Trax East Recording Studio para a gravação do material, porém, o produtor do álbum ainda não foi escolhido. O último CD de inéditas dos caras foi o álbum “The Perfect Is The Enemy Of The Good”, de 2003. Segundo o frontman da banda Mike Olender, o álbum é conceitualmente inspirado na clássica novela de Joseph Conrad, que leva o nome do registro.
EARTH CRISIS Reunião na América do Sul Considerada recentemente pela revista Alternative Press como uma das 23 bandas mais importantes da história do Hardcore/Punk mundial, o Earth Crisis trará a sua formação clássica para três apresentações na América do Sul durante o mês de janeiro. Através da Liberation Music Company, a banda, que é considerada um verdadeiro mito da música agressiva dos anos 90, passará por Argentina, Chile e Brasil
Abre aspas... entre os dias 09 e 11 de janeiro de 2009. O show em São Paulo encerrará a tour, no dia 11, Domingo, às 18hs e também marcará o último show do Children Of Gaia, única banda brasileira a se apresentar na noite. O Earth Crisis é conhecido por ser uma das bandas mais revolucionárias e influentes no cenário Hardcore, promovendo sempre o estilo de vida vegan straight-edge. A banda já terminou as gravações de seu próximo álbum, que sairá pela Century Media Records e em breve começará o processo de mixagem com o produtor Tue Madsen (Dark Tranquility, The Haunted). Confira as datas da tour sul-americana: 09/01/2009 – XLR (Buenos Aires, Argentina) 10/01/2009 – Teatro Novedades (Santiago, Chile) 11/01/2009 – Hangar 110 (São Paulo, Brasil)
ROADRUNNER UNITED Todas as estrelas em DVD A Roadrunner Records irá lançar no dia 9 de Dezembro de 2008 o DVD “Roadrunner United – The Concert”. O registro será lançado quase três anos após o memorável show no Nokia Theater, na Times Square, Nova York, realizado em 15 de dezembro de 2005. O show foi realizado em comemoração ao lançamento do álbum “Roadrunner United – The All-Star Sessions”, que reuniu 56 artistas de 44 bandas diferentes que fizeram e ainda fazem parte dos 25 anos de história do selo.
“As drogas terão um grande efeito sobre o meu trabalho pelo resto da minha vida, esteja eu usando ou não.” Layne Staley (Alice in Chains)
Old School Pode parecer clichê, mas não é. Todo mundo diz que “Black Metal” é um clássico e que continuará sendo. Baseado no que podemos ver através dos anos que se passaram, não há como negar. Esse foi o grande trunfo do Venom! O álbum que leva o nome do estilo que eles criaram (hoje, muito diferente, mais voltado à estética em vez da música, como todo mundo sabe e cansou de ver, representado por Dark Funeral, Marduk e outros), algo original para a época. Reuniram o que havia de melhor entre o Thrash Metal e a tosqueira Punk, adicionaram letras satânicas (algumas bem humorísticas, mas que foram levadas a sério) e, voilà, surgiam clássicos como “Don’t Burn The Witch”, “To Hell and Back” e a faixa-título - executadas até hoje nos shows. É difícil de explicar, mas há algo atraente e eterno nesse disco, mesmo com as décadas passando. É algo que influenciou diversas bandas e acabou por desen-
cadear atitudes mais “sérias” por outras bandas, as quais saíram a queimar igrejas e realizar atos contra muitos, poucos anos mais tarde. Na época desse disco, o Venom passou a fazer mais shows, chegando a realizar turnês mundiais. Uma delas passou aqui pelo Brasil, onde, segundo os próprios, aconteceram diversas loucuras, como roubo de aparelhagem e o guitarrista indo aprender a tocar bossa-nova em um barzinho (quem diria, hein?!). Entre os shows mais memoráveis, destaca-se os da Combat Tour, em 1985, ao lado de Slayer e Exodus. Você pode baixá-lo facilmente no eMule, mas vai ser difícil achar em k7. E tudo isso por causa deste álbum! Apesar de terem tantos outros, quando se fala em Venom o assunto é “Black Metal”, por unanimidade! Então, leitores, “lay down your souls to the Gods rock and roll”! Escutem e divirtam-se! Julio Schwan
venom “Black Metal” (1982)
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Sangue Novo por Bruno Pereira
Ne Obliviscaris A Austrália nunca foi conhecida pela sua cena Metal. Ne Obliviscaris tenta contrariar essa idéia. Formados em 2003, este sexteto de Melbourne (a banda consiste em 2 guitarras, baixo, bateria, vocal e violino) pode orgulhar-se de possuir um som realmente único, através de uma variedade enorme de influências, incluindo o Metal neo-clássico, Black Metal, Melodic Death Metal e Progressive Metal. Lançado em 2007, “The Aurora Veil”, a demo de estréia da banda, possui “apenas” 3 faixas (no
Krallice Formada por Mick Barr (Ocrilim, Orthrelm) e Colin Marston (Behold… The Arctopus, Dysrhythmia, Byla), Krallice acaba por ter muito mais em comum com Weakling, Wolves in the Throne e Xasthur do que com algum dos outros projectos dos músicos em questão. O Black Metal praticado pela banda é complexo e técnico, dois adjectivos que muito raramente são usados para descrever este gênero de música, que é normalmente
associado a ambientes mais obscuros e à simplicidade ao invés da técnica. O álbum self-titled de estréia dos nova-iorquinos contem apenas 6 faixas, que vão desde os 6 aos 15 minutos de duração, mostrando bem as influências do US Black Metal clássico no som da banda, e reforçando a idéia de que o Black Metal é cada vez menos um gênero “preso” ao continente europeu. Uma banda promissora do catálogo da Profound Lore,que provavelmente agradará aos fãs de Black Metal pouco convencional e experimental.
upcleftcrightcabc+start “O nome é... algo difícil de decorar” (e o facto da banda ser conhecida de várias formas, como up c down c,upcdownc,upc downcleftcrightc+abc+start, não ajuda) é a única justificação para o relativo anonimato destes ingleses. Banda formada no início da década, só após vários EP’s é que upcdownc “descobriram” o seu som, ao lançar o debut, adequadamente intitulado “And the Battle is Won”. Um álbum fantástico, que mistura o lado mais “bruto” do Post-Rock, riffs
Caina Formado por Andrew Curtis-Brignell nos finais de 2004, Caïna começou por ser mais uma banda de Raw Black Metal, fortemente inspirada pela cena norueguesa, para ir sofrendo mutações ao longo do tempo, deixando transparecer influências de gêneros tão diversos como Shoegaze, Dreampop, Doom, Progressive Rock, Classic Rock, PostRock, Noise, Industrial e Neo-Folk. Depois de várias demos, Caïna lança em 2006 o seu debut, “Some People Fall”, um álbum muito ambicioso, apesar de inconsistente, que mostra Andrew ainda a tentar encontrar
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total, 33 minutos), nas quais mostra uma maturidade incrível, variando, em todos os aspectos mas ainda assim, conseguindo manter uma coerência pouco habitual numa banda tão nova. Depois de uma estréia tão bem recebida e promissora, as expectativas para o follow-up estão muito altas, e esperemos que as mudanças no line-up (a banda trocou de guitarrista em 2008) não venham a condicionar (muito) o crescimento da banda, que é uma autêntica lufada de ar fresco num panorama musical tão pretensioso e elitista como o do Progressive Metal.
a maneira ideal de juntar a dureza do Black Metal com a sensibilidade melódica do Shoegaze e Post-Rock. No ano seguinte, já pela Profound Lore Records, lança “Mourner”, álbum que mostra uma maior maturidade e consistência, conseguindo atenção e críticas favoráveis em muitas revistas da especialidade, um pouco por toda a Europa. Já este ano, em Outubro, o jovem músico inglês lança “Temporary Antennae”, um álbum mais variado e ambicioso que os anteriores, que promete dar muito o que falar no underground e finalmente consolidar Caïna como uma das mais importantes bandas do Black Metal experimental actual.
pesados e crescendos esmagadores com o lado mais melancólico do Rock instrumental, com a utilização de um quarteto de cordas. Em Outubro de 2008, depois de sucessivos atrasos, “Embers”, o mais recente álbum do quarteto de Kent foi lançado. Depois do aclamadíssimo debut, as expectativas eram altas. A banda respondeu à altura, lançando um álbum que é, para mim, o mais forte candidato a álbum do ano. Mais coeso do que o debut, “Embers” funciona melhor como “um todo”, sendo um trabalho bem mais emotivo e negro. Sem dúvida, um dos grandes nomes do Post-Rock actual.
MEU TOP 5 “JANE DOE” CONVERGE
É o meu álbum favorito de todos os tempos e Converge é também a minha banda favorita. Pela altura em que este álbum me chegou às mãos, já Converge era uma banda referência do panorama Metal/Hardcore. A primeira cena que ouvi de Converge foi o Split com Agorophobic Nosebleed que me ofereceram original (“The Poacher Diaries”). O“Jane Doe” é um álbum pesado, caótico, densamente constituído por riffs técnicos e músicas assentes em estruturas musicais que considero épicas. O Jacob Bannon é possuidor de uma voz visceral, intensa, directamente vinda dos infernos, à qual somo ainda o seu talento poético inquestionável. Ele escreve como quem pinta verdadeiramente. Muito honestamente, este álbum tem o valor simbólico de um catalisador, de um confidente, de um professor, de um poeta...e depois de tudo isso, e ainda consegue ser uma dimensão paralela autêntica, um ambiente impossível de recriar que não na nossa cabeça, intransmissível e irrepetível como uma colecção de memórias, Tétrico, trágico. Em ruínas.
“WE’RE DOWN TILL WE’RE UNDERGROUND” GIVE UP THE GHOST Foi dos primeiros álbuns de hardcore que ouvi. Foi um amigo meu de Oeiras, chamado João, que me enviou uma cópia para casa. Tínhamos por hábito trocar uns álbuns. Ele fez questão de me orientar neste percurso mais underground, tendo em conta que até então só ouvia metalada mais old-school e gótico dos anos 80. Acho que posso, de certo modo, atribuir-lhe a ‘culpa’
Saudações Headbangers! Mais um trimestre se passou e muitos eventos espetaculares aconteceram aqui em “Terra Brasilis”. Para começar, tivemos o grande Judas Priest que mostrou mais uma vez porque são os verdadeiros “Reis do Metal”. Trazendo para o Brasil um show baseado no seu ultimo álbum de estúdio, o regular “Nostradamos”. Os velhinhos mostraram que ainda têm muito pávio para queimar. Apesar das músicas novas não empolgarem muito, principalmente os fãs mais antigos, clássicos absolutos como “Hellion/Eletric Eye”, “Metal Gods”, “Hellpatrol”, “Angel” e obviamente, a apoteótica “Painkiller” fizeram os headbangers ficarem de pescoço dolorido. Inesquecível! Do lado mais brutal tivemos outro show memorável, afinal de contas não é todo ano que os headbangers do Brasil (e do mundo) são presenteados com uma tour do Carcass. E eles não decepcionaram dece os fãs brazucas, pois abriram em
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pela minha paixão pelo género. Lembro-me de ter ficado completamente apaixonada por Give Up The Ghost, e particularmente por este álbum. A perfeita harmonia entre os powerchords, riffs rápidos e pesados, aos quais se junta uma cadência peculiar cativou-me de imediato. É um álbum que é, por um lado, reflexo de uma agressividade descontida e que, por outro lado, aborda em si um efeito colateral, ao qual se revelou impossível ficar indiferente: o conteúdo lírico. Acima de tudo, este álbum faz-me sentir. Sentir, de facto.
“COLD BLUE” thE HOPE CONSPIRACY Devia ter os meus 17 anos quando ouvi este álbum pela primeira vez. Lembro-me perfeitamente da sensação dos pelos a arrepiarem-se nos meus braços aos primeiros acordes de “Fragile”, a primeira música do CD. É um álbum com uma carga emotiva esplêndida, sem perder o seu núcleo mais rude and crude. “Youth and Its Burden”, “Bled Across the Wire” , “Truth and Purpose” e “You´ve Been Warned” são as músicas que mais repito quando o ouço. O único senão é mesmo o facto de ser um álbum que se ouve e se fica à espera de mais uma faixa. Dez músicas demolidoras, concentradas em 22:11 minutos de puro feeling. É mesmo de ouvir e chorar por mais.
“TO RIDE, SHOOT STRAIGHT AND SPEAK THE TRUTH” ENTOMBED Estes senhores são os co-criadores da sonoridade sueca mais suja, e considerados pela crítica como os pioneiros do death n´roll. Músicas como a ”Lights Out”, “It´s the Devil´s Night, Do You Dare?”-, a “Parasight” - com a clássica
alto estilo com “Necroticism”, e daí para frente foi um clássico atrás do outro. O setlist foi pra fazer qualquer fã de Death surtar: “Carnal Forge”, “Incarnate Solvent Abuse”, “No Love Lost”, “Heartwork”, entre outros. E a noite teria sido ainda mais memorável se não fosse pelo fato de as bandas de abertura, todas brasileiras, terem sido cortadas da festa uma semana antes. Uma delas, o Pentacrostic, esteve em nossos estúdios comentando sobre essa tremenda palhaçada e os músicos se mostraram bastantes decepcionados com o ocorrido. Mas nem tudo foi tristeza, afinal de contas tivemos a honra de dividir o mesmo metro quadrado com os integrantes do Shadowside, outra banda brasileira que vem se destacando muito no exterior. Oriundos da cidade de Santos, no litoral sul paulista, a banda já tem certo tempo de estrada e, mesmo estando ainda no primeiro álbum, o fantástico “Theater of Shadows”, a banda já colhe muitos bons frutos no exterior, como o
intro das raparigas aos gritos no concerto de Beatles, ou “Uffe´s Horrorshow” fazemme vibrar dos pés à cabeça e vice-versa, Sofia Loureiro claro. Em oposição a (We Are The Dam todas estas malhas, ned) mas em consonância com todo o desenvolvimento conceptual do álbum, surge a “DCLXVI”. Composta unicamente em piano, é uma aproximação a um interlúdio que pinta uma atmosfera deveras negra e é indubitavelmente das minhas faixas favoritas, apesar de ser a mais curta. Transporta-me para uma realidade paralela de filme de terror. Tenebrosa q.b.
“THE SHAPE OF PUNK TO COME” REFUSED À revelia de uma grande parte dos meus amigos, eu continuo a achar este álbum um verdadeiro marco aquando das origens do Post-Hardcore. E, se não fosse a tensão entre a banda na altura em que o álbum foi composto, talvez o resultado nunca tivesse sido esta obra-prima. Acho que todos eles canalizaram o seu ódio do melhor modo e acabaram por criar magia. Um verdadeiro manifesto musical pleno de um carisma irreverente e revolucionista, com letras que ilustram ideais políticos e de cariz anti-sistemático que em muito me fascinam. Politização lírica e muita raiva aliam-se a um talento inesgotável na criação de músicas inesquecíveis tais como “New Noise”,” Summerdays vs. Punkroutine” ou a própria música que é também o nome do álbum, o hino “The Shape Of Punk To Come”.
Indianápolis Metal Fest além de outros shows nos E.U.A. e Espanha. Além disso, boa parte do material do próximo álbum intitulado “Dare To Dream” já está pronto. A produção ficou a cargo de ninguém menos que Dave Schiffman (System Of A Down, Audioslave, Avenged Sevenfold e outros), no LCM Studio, em São Paulo. Já a masterização ficou a cargo de Howie Weinberg (Aerosmith, Iron Maiden, Metallica, e outros), no Masterdisk Studio, em New York. Este trabalho será lançado mundialmente por uma nova gravadora e no Brasil, este disco será lançado pela LCM Records/SkyBlue Music. E para os metallers que estão com saudades do Angra, Edu Falaschi e seu Almah lançaram mais um disquinho. O fantástico “Fragile Equality” é de longe muito mais coeso que seu irmão mais velho. E para que os fãs fiquem ainda mais satisfeitos, Rafael Bittencourt, pôs na estrada o seu “Bittencourt Project” e o primeiro álbum da banda “Brainworms”. Ah, vocês querem mais? Pois saibam que as duas bandas estão excursionando juntas. Resta saber se haverá uma turnê mundial nesses mesmos moldes. Vale a espera! E enquanto isso, no cenário underground, nós do Metalsplash demos o pontapé inicial no nosso mais ambicioso projeto: o “Metalsplash Fest”, que terá a presença das revelações do metal underground (descobertos por nós, digase de passagem): Red Front e Army of Agony, além de três gigantes do underground brazuca: Blasthrash, Breakdown e Chaosfear. Logo iremos bombardear a imprensa especializada com banners, cartazes, spams, vírus e tudo que a gente tem direito! Até lá e KEEP ROCKING FRIENDS! Sérgio Leopoldo
CalmManner
Conseguimos extrair de Rafael Ribeiro, vocalista da banda Calm Manner, algumas informações de “Desintegration Of Humanity In Progress”, o disco de estréia desse quinteto paulistano.
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afael, até o presente momento, como está o trabalho? Numa escala de 0 a 10 (considerando o 10 como um disco finalizado), onde se enquadra o futuro debut do Calm Manner? O trabalho está ficando muito melhor do que todos da banda esperavam, realmente entrar em estúdio é uma coisa muito complexa e um enorme aprendizado. Hummm... Podese considerar que 7,5. Ainda faltam alguns ajustes para poder começar a mixagem. Quem está a cargo da produção, mixagem, masterização, e arte gráfica do álbum, respectivamente? A produção foi inteira do Calm Manner com algumas dicas do Luiz Portinari (Embrioma),
Artwork Carlos Barbosa é o responsável pela Artside, uma empresa de design quem vem se destacando na prestação de serviços à diversas bandas.
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omo surgiu a idéia da Artside? Surgiu após alguns trabalhos realizados para minha banda, com isso decidi tocar o negócio mais a sério como designer, fui estudando e aprimorando o meu conhecimento, estou sempre me atualizando com novas tecnologias, ferramentas e sempre observando tendências. Hoje tenho uma satisfação relativamente boa, mas pretendo expandir mais os meus trabalhos.
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a mixagem está a cargo de Luiz Portinari, na masterização pode haver alteração para o caso de não rolar com o Luiz, e a arte gráfica está na mão do nosso guitarrista Rodolfo. Qual estúdio foi escolhido para realizarem a gravação desse disco de estréia da banda? Todos os instrumentos estão sendo gravados nesse mesmo local? Escolhemos o estúdio 1202, localizado no bairro da Santa Cecília em São Paulo. Todos instrumentos foram gravados nesse estúdio. O álbum será composto por quantas faixas? São uma mistura de regravações e composições novas? Pretendem incluir o videoclipe de “War of Silence”?
A Artside atende a que tipo de cliente? Principalmente o meio artístico mais voltado para o musical como: bandas, músicos de carreira solo, produtoras, gravadoras e selos. Entretanto, com a expansão que busco, quero atingir outros meios, portanto quem tiver uma empresa, jornal, revista e precisar de trabalho relacionado a designer, meus serviços estão disponíveis. O pouco interesse e investimento em música pesada no Brasil tem reflexo no teu trabalho? Hoje o mundo sofre uma grande crise, e não estou falando de economia, vamos falar mais do lado cultural, todo tipo de material voltado ao meio artístico vem sofrendo uma grande desvalorização. Ninguém se importa mais com o lado significativo da coisa, só querem ganhar grana, e quem se dá bem é quem faz coisas mais comerciais, música pesada nunca teve investimento pesado no Brasil. Um dos maiores eventos que o País já teve foi o Monsters of Rock e não durou muito. Como isso afeta no meu trabalho? Simples, se ninguém compra,
O álbum será composto por 8 faixas, uma mistura de regravações e composições novas. Não vamos incluir. A música “War of Silence” gravada nesse cd está com uma cara nova do que a música do clipe. A obra já tem um título definido? Há algum conceito maior, ou temática geral que englobe todas as letras? Sim, já temos. O nome é “Desintegration Of Humanity In Progress”. Com certeza tem muita temática envolvendo as letras, as letras do Calm Manner falam sobre guerra, ganância, falsidade, problemas sociais, aquecimento global, corrupção, etc. Paulo Vitor www.myspace.com/calmmanner
não haverá interesse em vender...E se ninguém quer vender para que vai investir? Resultado disso – “selos independentes” as bandas passam a criar tudo por conta própria, gravação, produção visual e etc. Quando a banda resolve contratar algum profissional pra fazer o trabalho ela não tem recursos como tem uma banda comercial, acabo às vezes precisando ser flexível demais com relação a preços e condução do trabalho. Que tipo de material gosta mais de produzir (websites, merch, capas de CDs, etc)? Todo tipo de arte que tenho o privilégio de criar. A cada dia e a cada trabalho que faço eu tenho uma preferência pessoal. É tudo muito renovável, então não dá pra firmar uma escolha, os métodos sempre sofrem modificações. Mas hoje tenho uma preferência em criar capas de CDs e myspace, principalmente quando a banda já me traz uma idéia boa, parece que isso alimenta a mente. Matheus Moura www.artside.com.br
entrevista
Fotos: Jeremy Saffer
A marcha da humanidade
Com o recente lançamento de “The March”, o Unearth se consolida como uma das bandas mais agressivas do Metal extremo nos dias de hoje. Em entrevista exclusiva a HORNSUP, o vocalista Trevor Phipps revela todo o processo de gravação do novo disco, que aborda a fatídica luta da raça humana por liberdade em meio ao controle exercido por aqueles que estão no poder. 14
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rimeiramente, nos conte sobre a origem do Unearth. Quando e onde começaram a tocar juntos? Como foram os primeiros anos de banda? Nós todos nos conhecemos de outras bandas nas quais tocávamos. Todos nós tínhamos bandas no colégio e terminamos por fazer shows juntos localmente. Após um tempo nos tornamos unidos o suficiente para conversarmos sobre diferentes coisas que queríamos fazer e tentar e, então, o Unearth nasceu. Os primeiros dias foram de shows em garagens e porões, vários shows cancelados e tempos difíceis. Mantivemo-nos mesmo com tudo isso, colocando a mão na massa e seguindo adiante. As coisas ficaram melhores a cada ano e ainda continuam melhorando. “The March” é o quarto full-length da banda e foi lançado em 14 de Outubro. Qual sua opinião sobre esse disco se comparado aos anteriores? No momento eu sinto que é o nosso melhor álbum até agora. É óbvio que o tempo o dirá, mas esse álbum captura tudo o que trouxemos à tona com o Unearth, com melhores composições e mais dinâmica da parte de todos. As guitarras foram as que mais se sobressaíram para mim, com os dois (guitarristas) intensificando seu jogo e adicionando a quantidade certa de riffs, harmonias, melodias e solos para se fazer um grande registro doentio de Heavy Metal. A bateria de Derek Kerswill e o baixo de Slo foram exatamente o que precisávamos, uma seção rítmica e uma espinha dorsal extremamente sólida. Eles fizeram os sons mais pesados com sua força motriz. Com as músicas ficando mais dinâmicas, isso permitiu que eu variasse um pouco mais minha voz se comparado ao ultimo álbum. Eu tive a oportunidade de trazer algo mais da minha voz desta vez e sinto que isso contribuiu para a audição do álbum como um todo. Eu não gosto de colocar vocais limpos e “pop’s” no Metal geralmente, mas gosto de algumas palavras faladas e momentos energéticos e ansiosos com vocais metade ásperos, metade limpos. O principal foco desse álbum era escrever as músicas da maneira mais completa possível e eu sinto que alcançamos justamente isso. Como as letras de “The March” se encaixam neste conceito do álbum, de explorar ambos os lados bons e ruins da humanidade? Nós, como raça humana, podemos seguir um dos dois caminhos: 1. Continuamos deixando os que estão no poder levarem nossa liberdade e ditar nosso mundo enquanto nos tornamos escravos dessa agenda global ou 2. Deixamos de lado nossas diferenças e nos unimos para termos de volta nossa liberdade e nossas vidas e vivermos do jeito que gostaríamos. Creio firmemente que se formos empurrados o suficiente, iremos empurrar de volta dez vezes. Após trabalharem com Terry Date na produção de “III: In The Eyes Of Fire”, a banda volta a convocar Adam Dutkiewicz em “The March”. Adam produziu também os dois primeiros álbuns do Unearth (“The Stings Of Conscience” e “The Oncoming Storm”) e já ouvi vocês dizendo que o consideram como um sexto membro da banda. Por que esse retorno ao Adam? Como é trabalhar com ele?
Trabalhar com Terry foi incrível, ele é um excelente produtor e um cara muito gente boa, mas como banda perdemos esse sentimento de “sexto membro” enquanto gravávamos aquele álbum. Adam nos conhece a fundo como pessoas e como músicos. Ele sabe do que somos capazes e sabe como tirar o melhor de nós. Ele é simplesmente o produtor certo para a gente. Como foi trabalhar com Dave Brodsky na gravação do clipe de “My Will Be Done”, primeiro vídeo em suporte ao novo disco? Gostaram do produto final? Claro que sim. David e seu time sabem como capturar ótimos momentos e fazer um belo vídeo. Neste início de 2008, a banda lançou seu primeiro DVD “Alive From The Apocalypse”. O que acharam do registro? Ele conseguiu captar tudo o que o Unearth representa? Este DVD é tudo sobre o Unearth. Um disco possui um show completo ao vivo em um clube da Califórnia gravado no fim do ano passado, assim como um segundo disco de documentários que mostra todos os 10 anos de nossa carreira. Existem vídeos e imagens que englobam desde o nosso início e todo o caminho até os dias de hoje. Tem entrevistas com alguns de nossos amigos de bandas antigas e de bandas novas. Também possui vídeos extras ao vivo de festivais na Alemanha e no Japão assim como todos nossos clipes até o álbum “In The Eyes Of Fire”. Esse DVD mostra realmente quem somos, de onde viemos, o que fazemos e para onde estamos indo. Estamos todos orgulhosos desse DVD. Além do DVD, este é o terceiro álbum que lançam pela Metal Blade Records. Estão satisfeitos com a parceria? A Metal Blade é maravilhosa em promover suas bandas e em divulgar seus álbuns nas lojas. Eles são reconhecidos mundialmente como um selo que sabe como trabalhar com o Metal. Além disso, eles nos tratam como uma família. Estamos felizes desde que assinamos com eles no fim de 2003. Em Fevereiro a banda fez o seu primeiro show na América do Sul. Nos conte como foi tocar no Brasil. Gostaram do que viram? Tem pretensões de voltar? Nós fizemos dois shows, um em Santiago, Chile e outro em São Paulo, Brasil. Ambos os shows foram bem divertidos. O público curtiu os shows e nos tratou bem, então, sim, temos planos de voltar em 2009.
Preferem tocar em shows pequenos ou em grandes festivais? Eu prefiro espaços pequenos porque é mais íntimo e cheio de energia. Mas também aprecio grandes festivais de vez em quando, por ser um desafio tocar para dezenas de milhares de pessoas. Como é o processo de composição das músicas no Unearth? Existe um único responsável pelas letras? De onde tiram inspiração para as músicas? Nosso método para escrever começa com Buz ou Ken trazendo alguns riffs para praticar e se ter uma idéia de como a bateria deve se encaixar por trás disso. Todos dão sua contribuição, deixamos o baterista fazer seu trabalho e então juntamos as peças em uma música. Quando o som está pronto, isto pode demorar tão pouco como um dia ou até dois meses; eu sento com o produto final e deixo minhas idéias fluírem. Uma vez que eu capturo a energia da música eu posso mergulhar nas minhas inspirações para as letras. Eu escrevo sobre qualquer coisa que me inspire, seja sobre experiências pessoais, política, pontos de vista, eventos atuais, filmes, livros, etc... Falando em inspiração, quais são as principais influências da banda? Todos nós temos diferentes influências, mas uma vez que somos todos quase da mesma idade, nós dividimos várias influências similares. Metal old school como Black Sabbath, Metallica e Slayer são três grandes bandas que todos temos em comum. Ken, Derek e eu gostávamos muito de Testament, Pantera, Anthrax e Megadeth quando garotos, enquanto Buz era mais um skatista punk rock. Eu sei que Slo adora seu Prog-Rock e Prog-Metal. Para alguns de nós, o Hardcore ajudou a moldar nossas influências no colégio, em bandas como Sick Of It All, Slapshot, VOD, Snapcase e Earth Crisis. Nós gostamos de diferentes coisas, de Rock clássico, Hip Hop até Country old school. Apenas gostamos de ouvir e tocar música. Ponto. Alguns membros da banda possuem projetos paralelos ao Unearth (outras bandas, selos, gravadoras)? O Unearth é a responsabilidade profissional número um de cada membro, mas é de música que vivemos e a maioria de nós possui alguns outros hobbies. Eu tenho uma gravadora independente chamada Ironclad Records. Ken grava bandas em seu estúdio assim como tem um projeto paralelo em uma banda de pop rock e Derek também é o baterista de outras duas bandas: Seemless e Kingdom Of Sorrow.
fazemos “Nós realmente amamos o que de como e isso é uma expressão natural palco nos sentimos quando estamos no tocando.” (Trevor Phipps) hornsup #4 4
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entrevista Como estão sendo as tours? Não ficam cansados uns dos outros, fazendo shows atrás de shows? De onde vem tanta energia? Nós aprendemos a lidar com as peculiaridades de cada um com o tempo. A saúde em longo prazo ao fazer algo que amamos é muito mais importante do que focar nas pequenas coisas de cada um que pode nos incomodar. A energia vem de dentro de cada um. Nós realmente amamos o que fazemos e isso é uma expressão natural de como nos sentimos quando estamos no palco tocando. Com quais bandas gostariam de tocar, mas ainda não tiveram a oportunidade? Metallica, Megadeth e Testament são três bandas que me influenciaram bastante quando garoto e seria uma grande honra fazer uma turnê com eles. Em relação a bandas novas, eu gostaria muito de fazer uma turnê com o Gojira. Eles escrevem muita coisa boa. Sobre pedidos estranhos de fãs: é verdade que já assinaram um testículo com hérnia de um fã? Este foi o pedido mais estranho que já ouviram? Isso aconteceu em 2005, em Sacramento, Califórnia. Ainda é o pedido mais estranho que eu já ouvi. Foi estranho para dizer
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o mínimo. Pobre garoto, parecia que ele estava com alguma dor. Com que bandas vocês mantém fortes relações de amizade durante todo esse tempo? Nós costumamos sempre nos tornar amigos das bandas que estão em turnê com a gente, então quando fazemos turnês juntos algumas vezes, eventualmente nos tornamos grandes amigos. Eu diria que algumas das bandas com as quais temos feito várias turnês são Every Time I Die, Terror, Killswitch Engage, Lamb Of God e Walls Of Jericho. Mas como eu disse, somos amigos de quase todas as bandas com as quais fazemos turnês. Qual é a próxima parada do Unearth? Com o lançamento do novo álbum, esperamos viajar pelo mundo nos próximos 20 meses promovendo-o através de turnês. Então existem chances de estarmos perto de vocês em algum momento. No que diz respeito ao futuro, você nunca pode prever. Eu apenas sei que nossa intenção é fazer isso enquanto existirem pessoas se importando em ir aos shows e em nos ver tocando. André Henrique franco www.myspace.com/unearth
Unearth The March Metal Blade
O nome Unearth está umbilicalmente ligado ao Metalcore. Não é à toa que o coletivo de Massachusetts se tornou uma das bandas mais relevantes nesse segmento, e conseguem manter esse status a cada novo lançamento. Seu quarto álbum, “The March”, vem reforçar, ainda mais, a sonoridade que nos foi introduzida em outras ocasiões. A verdade é que esse registro não apresenta grandes novidades, principalmente se compararmos diretamente com seu antecessor, “III: In the Eyes of Fire”, de 2006. Isso não chega a ser de todo mau, dado que mantêm as influências Thrash Metal que conquistaram no álbum anterior e toda a potência que o caracteriza, entretanto, não demonstram uma evolução significativa. Há algum aumento no dinamismo e na qualidade das composições, o que amplifica o poder de “The March”, porém, ficam longe de surpreender ou trazer algo de realmente novo. O retorno da produção as mãos de Adam Dutkiewicz (Killswitch Engage) é bem-vindo e faz-se sentir na força de “My Will Be Done” e na melodia de “We Are Not Anonymous”. As guitarras de Ken Susi e Buz McGrath debitam riffs de alto nível, misturando técnica e groove de maneira cativante. A voz de Trevor Phipps mantem-se agressiva e faz o encaixe perfeito com as composições, porém, nada disso é novo para quem está a par da sonoridade praticada pelo quinteto. A semelhança entre as faixas também contribui para uma audição demasiadamente linear e previsível. “The March” é um autêntico álbum do Unearth, com qualidade e defeitos, entretanto fica longe de surtir o efeito bombástico causado por “The Oncoming Storm” há 4 anos. Matheus Moura
entrevista
Amon Amarth Foto: Micke Johansson
A montanha da perdição e o Deus do Trovão Ted Lundström, baixista da banda sueca Amon Amarth, revela a HORNSUP tudo sobre o esperado novo álbum, “Twilight Of The Thunder God”, bem como a possibilidade de pisarem, pela primeira vez, em solo sul-americano em breve.
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riginalmente, a banda chamava-se Scum. Por que mudaram para Amon Amarth? Voltando ao ano de 1992, Scum/Amon Amarth teve várias mudanças na formação. Sentimos que já era uma nova banda, então, decidimos “recomeçar” com um novo nome e com novas idéias para realizar. A banda escreve letras sobre vikings heróicos, Odin e outras histórias/divindades épicas. Vocês realmente acreditam nessas crenças? Se você me perguntar pessoalmente, eu vou para o lado do ateísmo. Mas isso é parte da nossa história, até enxergo mais como uma filosofia do que como uma religião. Por que o baterista Martin Lopez deixou a banda para seguir sua carreira com o Opeth, em 1998? Martin recebeu a proposta, e creio que no Opeth ele pode tocar mais do jeito dele. Ele
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chegou a tocar nas duas bandas por um curto tempo, mas concluiu que não poderia se dedicar 100% nas duas e, portanto, decidiu seguir com o Opeth. Amon Amarth tem, sem dúvida, uma sonoridade única. Diga-nos o que a faz ser assim. É difícil dizer o que nos torna diferente das outras bandas. Eu acredito que seja uma mistura do nosso modo de escrever as músicas e gravar os álbuns. Quando você está numa banda, não fica pensando nessas questões, desde que você apenas escreva e toque a música que há em seu coração. Falando sobre “Twilight Of The Thunder God”. Neste álbum, a banda retornou com melodias mais épicas e memoráveis. Qual a importância desse álbum na carreira? Acho que teremos que esperar um pouco para ver o que este álbum nos trará. Nós sabemos que temos um álbum matador e esperamos que ele nos leve a um nível superior.
Com o que você pôde ver até o presente momento, qual foi o impacto deste CD nos fãs? Vem sendo muito incrível, tanto na Europa como nos EUA, onde estamos fazendo a turnê, no presente momento. Dá para ver claramente que os fãs estão curtindo bastante, e as resenhas de todos os sites e revistas especializadas do mundo estão sendo positivas. Infelizmente, vocês nunca tocaram aqui no Brasil. Há alguma chance de virem com a turnê desse novo álbum? Esperamos poder fazer uma turnê sulamericana com esse álbum e estamos trabalhando duro para isso acontecer. Podemos apenas esperar e ver o que acontecerá nesse futuro próximo. A banda postou um making of do novo clipe, “Twilight Of The Thunder God”, no YouTube. Parece bem interessante! Qual a importância da internet para a banda?
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A internet é um grande canal para a banda apresentar seu material aos fãs de todo o mundo. Ao mesmo tempo, você tem o prejuízo com os lançamentos vazando muito antes do que “deveriam”.
grandiosos e estão no pacote. Tentamos pegar o máximo de músicas possíveis do nosso catálogo e colocá-las no DVD, assim as pessoas que não têm todos os álbuns puderam e poderão ouví-las.
Em “With Oden On Our Side”, o que prevalece é a velocidade, uma característica incomum aos outros discos. Foi isso natural ou proposital? Isso foi natural para nós. Compomos músicas com o que vem na mente, e algumas vezes deve ser veloz, entretanto, no outro dia pode ser algo mais lento e épico. Nunca planejamos como um álbum deve sair no final.
Vocês são da Suécia, um país prolífero em todas as áreas, inclusive em revelar bandas de Metal. Diga qual é a sua banda favorita de lá. Existem muitas bandas boas na Suécia para mencionar apenas uma. Eu gosto de bandas como In Flames, Dark Tranquility, Engel, Grave, Entombed e muitas outras.
O DVD triplo da banda, “Wrath of the Norsemen”, contém várias performances ao vivo, entre outras coisas. Qual é a melhor parte disso tudo? O disco principal, com o show viking de Colônia, é, de fato e de longe, a melhor parte do DVD, e nos esforçamos muito na gravação dele. Mas os shows antigos também são
Fale sobre os planos futuros da banda. O próximo ano, talvez os dois próximos, será apenas para fazer turnês. Agora, estamos fazendo uma turnê norte-americana e, depois, iremos direto à Europa para fazer uma tour com o Slayer, e assim continuará... Esperançosamente, creio que poderemos fazer a primeira turnê sul-americana no próximo ano. Saudações a todos! Julio Schwan
A banda sueca Amon Amarth, que ganhou notoriedade fazendo um Death Metal com temáticas que fazem referências aos vikings, o que lhes rendeu o título de “Viking Metal”, vem ao longo de sua carreira lapidando e refinando seu trabalho a cada álbum sempre em busca da obra perfeita. Com isso os suecos sempre figuram na vanguarda do estilo. Pois bem, com a chegada de “Twilight of the Thunder God”, seu sétimo trabalho de estúdio, a banda enfim, atingiu o estado da arte. O registro apresenta características clássicas do Death Metal, melodias épicas e sobretudo boas composições, reforçadas pelas participações especiais do vocalista do Emtombed, Lars Göran Petrov, em “Guardians of Asgaard”, do guitarrista do Children of Bodom, Roope Latvala, no solo da faixa-título “Twilight of the Thunder God” e participação dos violoncelos dos finlandeses do Apocalyptica em “Live for the Kill”. Destaques entre as composições que integram esse repertório não faltam, pois os integrantes mostram a todo momento músicas expressivas com um ritmo pesado que, sem dúvida, são candidatas a clássicos do estilo, como “Where is Your God” e seus riffs rápidos e cadência vertiginosa, e “Varyags of Miklagaard” com sua vibe nórdica, nos remete às antigas celebrações Vikings. Com “Twilight of the Thunder God”, o Amon Amarth alçou vôo num patamar jamais alcançado por outra banda do estilo, conseguindo aprimorar ainda mais seu trabalho e lançar um dos mais belos álbuns do viking Metal até os dias atuais. Musicalmente, um exemplo a ser seguido. Um senhor lançamento. Um puta clássico! Odilon Herculano
www.myspace.com/amonamarth
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A volta dos que não foram
Foto: Emma Svensson
Apesar de não gozarem da popularidade de outras bandas suecas, o Burst, a cada novo álbum, arrebanha mais e mais seguidores para o seu “culto”. A mídia especializada já havia se rendido a eles em “Origo”, o álbum anterior. Será que agora com “Lazarus Bird” vão atingir o sucesso à nível de público e crítica? Acompanhe a seguir a conversa que a HORNSUP teve com o vocalista Linus Jägerskog.
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Q
uando começou a compor este álbum, já tinha o conceito elaborado como um todo ou as coisas foram tomando forma parte por parte? Algumas das idéias já existiam bem antes do processo de composição começar. Quando começamos a planejar o que iríamos fazer e que direções tomaríamos com relação ao novo material, queríamos algo mais “Metal” e ao mesmo tempo, explorar outras influências que ainda não tínhamos experimentado nos álbuns anteriores. Pensamos em músicas mais grosseiras e primitivas. O resultado são composições mais gélidas, arrogantes, e que exigem muito mais do ouvinte. Ah, claro, também pode ouvir a paixão dos nossos guitarristas e baixista por Metallica!
Qual a temática lírica que envolve o álbum? Antes de tudo não sou eu que escrevo as letras, apenas as berro! As letras falam sobre envelhecer, relacionamentos pessoais terríveis, auto-conhecimento, compreensão do mundo que nos rodeia, comunicação, líderes mundiais perigosos, inimigos, acordar os mortos, seus pesadelos, olhar pela janela, crescer em uma cidade pequena, deuses gregos, andar por ruas de grandes cidades... tudo isso envolvido em algum contexto geopolítico ou histórico-religioso. Qual a importância de Fredrik Reinedahl para o Burst? Fredrik é um velho amigo da banda e sempre quando se tratar de gravar um novo álbum, ele se torna praticamente o sexto elemento do Burst. Ele nos conhece bem e sabe exatamente o que buscamos em termos de som, o que é de extrema importância. Ele gravou quase todos nossos álbuns e é um cara legal para sairmos e nos divertirmos. É excelente em superar obstáculos no que diz respeito a produção musical. Quem teve a idéia de convidar Ulf Eriksson para tocar saxofone na faixa “Nineteenhundred”? Ulf trabalha na mesma agência dos correios de o Jonas (Rydberg , guitarrista). Os dois são uns nerds que gostam do mesmo tipo de Prog Rock velho e sinistro. Ulf tinha comprado um saxofone novo e o Jonas o convidou para vir ao estúdio e gravar alguma coisa, e assim ele fez. Acabou sendo bem legal. Passamos uma bela tarde bebendo cerveja e vendo Ulf arrebentando no saxofone! Os seus lançamentos anteriores tiveram boas críticas na mídia especializada em todo mundo. Isso afeta a banda de alguma maneira? Bem, antes de mais nada, criamos músicas para nós próprios baseado no que os membros do Burst acham interessante e desafiador. Se quisessemos garantir boas críticas teríamos feito outro “Origo”, mas, ao invés disso, escolhemos seguir em frente e continuamos a experimentar e criar músicas interessantes, pois sentimos que esse é o nosso caminho. Claro que é agradável ter boas críticas! Isso significa que há outras pessoas por aí que também gostam de músicas novas e interessantes! Qual foi a pior e a melhor descrição do Burst dada pela impressa? Já deram muitos nomes estranhos ao nosso som. Desde descrições que indicam que vivemos numa caverna, vestidos de couro e peles cobertos de rebites e bebendo sangue, até as que dizem que somos a banda mais gay do universo. O normal é dizerem que soamos como Neurosis ou Isis. Me lembro de um que dizia que
parecíamos com Neurosis com vocal do Sick Of It All (risos). Tem planos para gravar algum vídeo clip? Nós queríamos um vídeo, porém o nosso selo, não. Portanto esse vai ser o primeiro álbum sem vídeo. O problema está relacionado a termos faixas muito longas. Os primeiros shows da turnê de divulgação do “Lazarus Bird” foram na Rússia e na Ucrânia. Como foi tocar lá? Foi muito legal! Tínhamos aquela idéia genérica dos países do bloco do leste e estávamos meio céticos sobre ir até lá, mas quando chegamos foi surpreendente! As pessoas são amigáveis e prestativas. Os promotores fizeram um grande trabalho. Os shows também correram muito bem. Se tiverem a chance de ir até lá, não hesitem! Já tem mais turnês agendadas? Estamos agendados shows nesse momento. Esse ano ainda faremos uma turnê pela Escandinávia. No ano que vem tentaremos tocar nos máximo de países possíveis. Ainda não posso dizer nada com relação as datas, mas pretendemos fazer uma grande turnê para divulgar o “Lazarus Bird”. Alguma chance de virem a Portugal? Um dos países que ainda não fomos é Portugal, e se tornou uma das prioridades na nossa agenda. Diversas bandas amigas disseram boas coisas sobre os shows em Portugal e estamos ansiosos para ir até aí! Há alguma banda nova que esteja curtindo no momento? Claro! Não sei se são consideradas novas, de qualquer forma aí vai: Trap Them, banda incrível que soa como Entombed das antigas mais deteriorado. Confiram! Switch Opens é uma banda de Estocomo, Suécia. Mudaram de nome, pois se chamavam Fingerspitzengefuh e ninguém conseguia dizer ou escrever o raio do nome. Não deixe de ouvir! Abandon de Gotemburgo, Suécia. A única banda de Doom que precisa conhecer. É lenta e quebra tudo! Matheus Moura
Linus Jägerskog
Recomenda
Bloodbath “The Fathomless Mastery” Quando estou ouvindo esse álbum sempre tenho um sorriso nos lábios. O melhor disco de Brutal Death Metal desde “Domination” do Morbid Angel! Esse é o resultado do pessoal que ouviu Death Metal desde sua infância e agora presta seu tributo ao Brutal Death Metal bem tocado! Muito bom mesmo. Tem muitas referências a discos antigos. Adoro esse álbum! É uma lição de história que todos devem conhecer!
www.myspace.com/burstrelapse
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entrevista
Luz e sombra
Apontada como uma das mais proeminentes bandas do Metal holandês, o Textures vem conquistando seu espaço a cada novo lançamento. O álbum mais atual, “Silhouettes”, é mais arrojado e potente tanto a nível de peso quanto de melodia. O guitarrista Bart Hennephof explica a HORNSUP o que relevam essas silhuetas.
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o início, todos sempre os comparavam ao Meshuggah. Como se sentiam a respeito disso? Realmente não nos importamos. Claro que sempre é preciso colocar um rótulo que especifique a sua música. O Meshuggah é uma grande banda e não é mau ser comparado a eles. Nós apenas tocamos com uns ritmos mais duros, assim como eles. É só uma maneira de tornar nossa música mais diversificada. Acredita que conseguiram finalmente atingir a sonoridade própria do Textures com “Silhouettes”? Estamos sempre fazendo experiência com o nosso som e, com certeza, chegamos muito perto do som que tínhamos em mente quando começamos o álbum. A cada novo álbum será sempre uma busca por um novo som. Isso é que torna um álbum especial. Crescemos muito na estrutura de composição das músicas, as mesmas tem mais unidade e fluidez entre as
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partes caóticas e serenas, ao invés de trocas bruscas, que deixariam o álbum menos coerente. A banda demonstrou uma grande evolução desde “Polars” de 2003. Essa forma atual do Textures veio para ficar? Acho que sempre vamos evoluir internamente, portanto nunca sabemos o que irá acontecer no álbum seguinte. Isso pode ser meio assustador, mas acreditamos que esse é o charme de compor. Poder experimentar e ver aonde a música nos leva ao invés de delimitar fronteiras antes de começar a escrever. Dessa forma, a música se mantém livre e tudo pode acontecer. No final das contas, vai soar como Metal poderoso com melodia, pois esse é o fio condutor das nossas músicas. Para além disso, tudo é possível. O vocalista Eric Kalsbeek explora muito mais a sua voz limpa nesse novo álbum. Essa abordagem mais melódica partiu dele próprio?
Sim, a maioria das músicas são mais lentas que nos álbuns anteriores. Isso acontec eu naturalmente e achamos que era a ocasião perfeita para a colocar a voz do Eric no nível seguinte. Ele tem uma grande voz, então por que não utilizá-la mais nas nossas músicas? Acreditamos que ainda tem partes agressivas suficientes, portanto isso acaba não deixando a banda mais leve, pois iremos sempre manter o peso nos nossos próximos álbuns. Os fãs das partes mais pesadas não devem se preocupar! (risos) Qual a temática por trás de “Silhouttes”? “Silhouttes” descreve a luta entre a luz e a escuridão. Se iluminar um objeto, a sombra irá aparecer. Não existe luz sem um lado escuro. As letras falam sobre histórias pessoais contadas de maneira simbólica e lutas internas entre o lado bom e mal de cada um de nós.
Bart Hennephof
Eu gosto
(mas não conte a ninguém, ok?)
Quando começaram a construir “Silhouttes”, visualizaram todo o álbum como uma peça única? Não, com esse álbum abordamos cada música de forma diferente. Nos concentramos em dar a cada faixa a sua própria história, tanto musicalmente, quando liricamente. Nos álbuns anteriores tínhamos transições entre as músicas e nesse álbum resolvemos evitar isso, o que fez com que tirássemos o máximo proveito de cada música.
temos os meios. Por exemplo, o Remko (Tielemans, baixo) e o Eric manjam de design, então eles tratam do artwork, merch, website, adesivos e todas outras coisas promocionais. Sendo assim , não precisamos de uma agência externa para cuidar disso. Desta maneira é mais rápido, barato e produtivo. Jochem (Jacobs, guitarra) e eu cuidamos da produção e assim por diante. Cada um de nós tem suas tarefas para manter a máquina em funcionamento.
Há um elemento comum no álbum? Sim, por exemplo: fazemos alguns sons parecerem iguais em diversas músicas. Sons de sintetizador, efeitos de guitarra e coisas assim. Também criamos alguns acordes que usamos em diversas músicas, mas em posições diferentes. Dessa maneira é o mesmo acorde, mas soa diferente.
Como tem sido a resposta ao álbum em termos de audiência? Muito, mas muito impressionante. Recebemos todos os dias mensagens no Myspace e por e-mail. Mais e mais pessoas nos conhecem, especialmente através desse novo álbum. Nos shows, muitas pessoas deliram, e mesmo fora da Holanda, podemos ver mais fãs cantando junto as músicas, até as do novo álbum. Isso significa que nossa música está se espalhando e é muito legal ver isso acontecer.
Vocês tem o controle de tudo que circunda a banda. Produção, gravação, mixagem, artwork. Fale um pouco sobre esse estilo de trabalho. Sempre quisemos manter o controle artístico de nossas coisas, é verdade. Fazemos isso porque
Algum de vocês está envolvido em algum outro projeto além do Textures?
Kate Bush “Hounds of Love” Gosto por causa da maneira única de composição dela. Utilização ímpar de voz e sons. Esse álbum mudou drasticamente a minha visão sobre composição musical. Me abriu novas portas para experimentar nos ambientes com as músicas e deixá-las contar uma história, ao invés de torná-las numa canção pop.
Sim, nesse momento o Stef (Broks, bateria) toca no Exivious, uma banda holandesa de Fusion Metal, com membros do Cynic. Muito boa banda. O novo álbum irá sair em breve, não percam! Alguns outros projetos que tínhamos anteriormente: Eric tinha o Sengaia, banda de holandesa de Death Metal progressivo. Remko tocou no Isle of Man (Death Grid) e no 37 Stabwoundz (Metalcore). Eu ocasionalmente toco com o Brutus, minha antiga banda (Death Metal). Matheus Moura www.myspace.com/textures
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entrevista
Conformismo Zero Na luta por um lugar ao sol desde 1997, o Chipset Zero vem consolidando uma imagem firme na cena underground brasileira. “Red-o-Matic”, o novo disco da banda, e outros pontos importantes desses onze anos de estrada foram os temas da entrevista que Ayka, Jamil e Alê (baixista, baterista e sampler, respectivamente) concederam à HORNSUP.
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eria tolice de minha parte perguntar se o show que abriram para o Slipknot foi marcante para vocês, certo? Ao invés disso, peço que contem tudo o que lhes vem à memória sobre essa ocasião memorável. Alê - Um puta palco, sonzera foda, coração batendo a mil, a humildade dos caras do Slipknot, um sonho realizado (o de tocar para quase 30 mil pessoas), um mar de gente, orgulho de estar representando a cena underground do Brasil. Jamil – Sinceramente, eu só me lembro de flashs do show, mas posso assinar tudo que está escrito pelo Alê. Simplesmente DUCARALHO, essa é a palavra. Alguns dizem que se inspiraram no “Roots” do Sepultura, e outros dizem, por outro lado, que puxaram ao próprio Slipknot. Na verdade, o uso de samplers e percussão no som de vocês é, de fato, uma influência de alguma dessas bandas ou apenas mera coincidência? Ayka - Na verdade, quando começamos a usar samplers no Chipset Zero, isso em 97, as únicas bandas que nos inspiravam eram o Front 242, o Ministry e algumas de EBM como o Pouppée Fabrikk, tanto que chegamos a fazer versões ao vivo em homenagem a essas bandas (o vídeo do cover de “Thieves”, do Ministry, está disponível no Youtube). Em relação às percussões, também era um lance de misturar as batidas em latões e metais
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tipo Einstürzende Neubauten e Loop B com as batidas da Nação Zumbi, na época com o Chico Science ainda vivo. Qual é a idéia que há por trás do nome Chipset Zero? Esclareça também o significado do símbolo que usam nas costas das mãos – o zero cortado. Ayka - Usamos um zero cortado na mão até hoje, que nada mais é do que o símbolo do zero na informática, para simbolizar o valor do ser humano nessa sociedade escrava dos número$ e valore$ de hoje. Acredito que todo mundo já se sentiu assim, um zero, impotente e nulo perante esse sistema financeiro e burocrático que favorece quem tem dinheiro e poder, e esmaga países e pessoas sem “condição financeira sustentável” em nome dos lucros. O Chipset Zero como não poderia deixar de ser coerente à sua própria temática, mostrase bastante interado com relação às ferramentas cibernéticas, fazendo bom uso destas na divulgação da banda. Exemplo disso é o “download remunerado” que disponibilizaram do novo disco. Por acaso, seria este o lado bom das máquinas? Ayka – O lado bom ou mal, definitivamente, não está nas máquinas, e sim nas intenções dos humanos. Se você usar a tecnologia para fazer algo bom, isso simplesmente reflete a
intenção do ser que a utiliza. Acho a Internet um veículo poderoso, sincero, e temos que mantê-lo livre. Quem gosta do seu trabalho, vai lá baixa o mp3, curte, passa para os amigos, e quando o cara curte de verdade, ele faz questão de comprar o CD para ter fisicamente o trabalho. Eu mesmo tenho a coleção completa do Fear Factory e do NiN, porque sou fã incondicional dessas bandas e para mim é questão de honra prestigiar a arte envolvida nos trabalhos desses artistas como um todo. Não só nas freqüências do som, mas na arte do CD, letras e tudo mais. Só não venha me pedir emprestado que não empresto nem fudendo (risos). Como nasceu “Red-O-Matic”? Descreva-nos o seu processo de composição. Ficaram orgulhosos do segundo filho? Jamil - O processo de gravação do novo álbum foi bem dinâmico, correria com trampo correto e com gente que realmente sabia o que estava fazendo – em matéria de timbres e arranjos. Um dos produtores, o Brendan, que é californiano, tem a nossa faixa etária e fala a mesma língua, pois curtiu a mesma época: o auge do metal nos Estados Unidos. Foi bem fácil chegarmos aonde queríamos. Já o Adriano é batera, e até recebeu prêmios e indicação no Grammy. Estávamos muito bem calçados. Foi bem legal porque as coisas saíram de certa forma até bem rápidas, para
vocês terem noção, as gravações duraram apenas 2 semanas. Estamos muito orgulhosos do nosso filho. Afinal de contas nós somos total “highlanders”, tocando metal no país do samba e carnaval. Só quem ama mesmo a música e esse mundo underground consegue perpetuar isso por mais de 10 anos. Isso é um puta troféu para nós. Os produtores do disco foram: Brendan Duffey e Adriano Daga. A gravação, mixagem e masterização do mesmo ocorreram no Norcal Studios (SP). Há participações de Egypcio (Tihuana) em “Hybrid Song”, e Edu Ardanuy (Dr.Sin) em “Biochip”. O novo disco já conta com os novos integrantes: o Japa (guitarra), e o Jaime (percussão). Qual foi o impacto da entrada desses novos membros? Jamil – O Japa foi um dos primeiros caras a ver um ensaio do Chipset Zero, sempre foi fã do trampo e um amigão de todos. Não tem o que falar. A parada encaixou como uma luva no momento certo e ele veio somar muito ao Chipset Zero. Já o Jaime, estava em todos os shows, conhecia as músicas, é novo, tá na pegada e tem talento. Também veio para somar com certeza. Alê – O Japa sempre foi brother da gente, inclusive por indicação nossa entrou no CReal. Na verdade, isso confirmou o que já era pra ter acontecido há muito tempo, o cara tinha que estar nesse barco com a gente, não teve como escapar. Quanto ao Jaime, a gente conhecia o cara dos rolés daqui da cidade. O muleque sempre foi envolvido e coincidiu de, ao mesmo tempo, o Jhaba pular fora, o Jaime estar próximo. Oportunidade na hora certa e com o cara certo. Tomando como referencial a data de início da banda, 1997, levou-se um certo tempo para lançarem o disco de estréia (“Deep Blue” em 2003). Acreditam que alcançaram uma estrutura ideal para manterem a frequência atual de produção de material inédito?
Ayka – De forma alguma existe uma regra quanto a isso. O “Deep Blue” saiu em 2003 porque foi uma data onde estávamos com condições e oportunidades de lançar um álbum digno e com qualidade. O mesmo rolou com o “Red-o-Matic” esse ano. Como não temos uma gravadora ou selo que banque os custos dos nossos álbuns, temos que trabalhar e pagar por eles. Se nós pudéssemos, lançaríamos um álbum a cada 2 anos no máximo. Gradativamente vêm ganhando nome, sendo que hoje já podem ser considerados um dos grandes nomes do cenário underground brasileiro. Sentem que estão sendo devidamente reconhecidos pelo trabalho que têm realizado ao longo desses 11 anos de banda? Ayka – Desde o início do Chipset Zero até os dias de hoje sempre obtivemos ótimas respostas sobre nosso trabalho. Somos reconhecidos sempre por aqueles que realmente conhecem e enxergam o que é a verdadeira correria do underground brasileiro. Somos reconhecidos por sobreviver no underground. Isso se dá pela sinceridade musical que cultivamos em todos esses anos. Se não fosse pelo amor à música, sem dúvida já teríamos parado. Fizeram diversas apresentações marcantes na carreira ao lado de nomes como Kittie, Mortification, Korzus, Sepultura, entre outros. No entanto, a banda alcançou ainda outros feitos consideráveis, creio eu. Entram nessa categoria: todos os clipes gravados; participações em programas de televisão; músicas da banda tocando em rádios e na trilha sonora de um documentário estrangeiro; e alguns prêmios recebidos? Vêem isso como um sinal de que não são uma banda da moda, passageira? Ayka – Nunca fomos uma banda que acompanha a moda. Sempre fomos para caminhos diferentes e contrários aos que a moda “mandava”. Simplesmente por não compartilhar da
forma idiota de pensamento desse tal mercado musical. Acho que é mais uma questão de personalidade do que qualquer outra coisa. No Metal, independente do estilo ou vertente, quem entra nessa, sabe muito bem que, se está por modinha, vai ser esmagado e logo sai fora, virando a casaca. Quem é sincero e curte de verdade, curte pra sempre, toca pra sempre. Tocar com o Mortification, Sepultura ou com o Slipknot, eu acredito que foi mais um prêmio por ser fiel à nossa forma de pensar e dar asas à nossa música. Mais um resultado de um bom trabalho. Sem dúvida seu trabalho fala por você e fala sempre. Modinha é coisa de Rede Globo com Funk e Emo em novelinha, de SBT com Rebeldes e outros veículos e mecanismos da moda. A sensação que tenho é de estar realmente cumprindo com o propósito inicial: fazer o que gostamos, o resto é consequência... Jamil - Posso definir isso em apenas uma palavra: fidelidade. Podemos aguardar alguma novidade do Chipset Zero? Um novo videoclipe, talvez? Ayka - Sem dúvida vamos preparar alguns vídeos do álbum novo... Eu mesmo editei um vídeo de “Asphixia” com imagens das gravações do “Red-o-Matic”, mas sem dúvida queremos videoclipes para algumas faixas do disco. Também está nos planos do CZ um DVD contendo diversas imagens de todos esses 11 anos da banda... Quem sabe o 3º filho não será esse DVD?! Alê – Tivemos um videoclipe de “Mental Cage”, mas infelizmente a edição não ficou do jeito que queríamos. Estamos tentando ajustar essa parada e com certeza, logo mais tem um clipe pra rapaziada! Jamil – Não queremos lançar algo tosco, somos chatos. Quando sair alguma coisa pode ter certeza que vai ser do nível que todos esperam. Paulo Vitor www.myspace.com/chipsetzero
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entrevista
Metal e atitude Em uma conversa muito descontraída, Johannes Prem, vocalista da banda alemã Deadlock, diz aos leitores da HORNSUP tudo o que devem saber sobre “Manifesto”, o novo álbum do coletivo, além disso, fala sobre a sua postura Straight Edge e com é ter um menina no “clube do bolinha”.
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que mudou este ano no Deadlock entre “Wolves” e este novo álbum? Eu poderia dizer que a maior mudança aconteceu antes do CD “Wolves”. Sabe do que estou falando? Claro, a Sabine integrou o Deadlock como um membro oficial! Esta foi a mais importante mudança na história da banda e trouxe na maioria das mudanças drásticas, não apenas para o nosso comportamento social (risos), mas também para a nossa música. As mudanças do “Wolves” pro “Manifesto” não são tão curiosas, apenas tentamos incluir Sabine no nosso estilo e colocá-la junto do meu vocal explorando os extremos, para fazer nosso novo álbum menos previsível e mais surpreendente para os ouvintes. E acho que, felizmente, alcançamos isso. A arte do álbum é uma obra surrealista. Qual sua conexão com a arte? A arte do “Manifesto” foi feita por Adam Wenteorth (www.the663.com). Ele já trabalhou com grandes bandas como Coheed and Cambria ou A Life Once Lost. Achamos que ele tinha feito um ótimo trabalho com aquelas obras primas doidas. A fim de ajudá-lo
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a começar com o trabalho, falamos com ele sobre nosso sentimento pessoal a respeito do álbum e o que nosso novo “bebê” iria ser e como isso iria soar. Nós amamos como ele colocou nossa informação e a trouxe para um desenho único. A única conexão que eu tenho com a arte é que a irmã de minha namorada está pintando, talvez não seja a conexão certa para isso, mas pelo menos é uma conexão (risos). Eu gosto da coloração amistosa da arte de “Manifesto”, porque ela mostra que Deadlock é muito mais do que Brutal Dark Metal e que lá ainda há espaço para algumas “cores” atualmente na cena Metal. Existe alguma subjetividade nisso? “Manifesto” é nossa declaração sobre esta, cada vez mais e mais, degenerada sociedade. Fala das fragilidades da vida e seres vivos, para cuidarmos do planeta e de todos os humanos e animais. Altruísmo e respeito são os mais importantes e, infelizmente, os mais raros sentimentos atualmente. Nós tentamos colocar todo nosso pensamento, positividade e entrega do nosso estilo de vida numa gravação, e o que surgiu no fim foi “Manifesto”. Aquela mulher que sai das mãos da
raiz, mostra a forte conexão entre a terra e a humanidade. Nosso manifesto que ela segura nas mãos é apenas um símbolo para o quão difícil é não se entregar, e ainda acreditar nos seus ideais. As cores claras e as pequenas flores vermelhas mostram o quão belo o mundo pode ser se pudéssemos lutar pelo que acreditamos e lembrarmo-nos da beleza deste planeta. Vocês tiveram algumas participações neste álbum. Quem são elas e como isso funcionou? Uma super especial colaboração com certeza está na música ”Death Race”, onde tivemos uma parte Hip-Hop muito legal no final. Os caras do HitFarmers nos perguntaram se poderíamos fazer algo juntos, porque já mencionamos que somos fãs de Hip-Hop. Ficamos loucos com esta idéia desde o começo. Nós procuramos, juntamente com eles, por samples que pudéssemos colocar no nosso som e finalmente nós encontramos o “Death Race” Loop e então, aquele som teve um final muito legal e especial com o Warpath e Sick Since. Eu sou o motorista do caminhão nas letras desta música (muito legal, eu sempre quis dirigir um caminhão).
Falo sobre o cotidiano do meu trabalho, como carregar os animais no meu caminhão e os entregar no tempo certo para ganhar dinheiro. Todos podem ver que ninguém dá a mínima se os animais se machucam ou são torturados no caminho do matadouro. No final da música, os caras do Hip-Hop passam pelo nosso caminhão e falam sobre como a humanidade, independente e brutal, trata todos os outros seres de forma desumana. Então, você vê que isso é mais do que somente provocar as massas com mistura de Metal e Hip-Hop. Isso é sobre transportar uma mensagem e não deve haver limites quando uma missão é para informar as pessoas sobre o que está errado. Nas palavras do HitFramers “Animais não podem falar, mas nós podemos!” Nós usamos muito mais samples do que antes, você deveria por exemplo, procurar pelo rugido do leão na música ”The Brave/Agony Applause”, que também pode ser encontrado no youtube. A colaboração do cara no Saxofone foi idéia de Sebastian (Reichl, guitarrista), porque ele ficou todo animado em fazer um solo no final do “Fire at will”. É notável o uso de elementos eletrônicos em algumas faixas. Como as pessoas reagem a isso? É aí que amor e ódio se encontram (risos). Nós já tínhamos ouvido sobre o fato de que nossa intro não é a queridinha de todos, mas isso não importa, porque nós gostamos dela! Não é sobre fazer música sem brutalidade, gostamos muito da banda com o que a música eletrônica oferece e pensamos que, às vezes, se encaixa perfeitamente no nosso som, então decidimos incluir alguns desses samples no “Manifesto”. Amo como aquela introdução Techno se converte no Metal devastador de “Martyr to Science”. Não poderia haver outra oportunidade de criar uma tensão crescente. Como foi a produção de “Manifesto” e quais são suas expectativas sobre o CD? Gravamos todo o material, exceto a bateria, no estúdio do Sebastian. Escolher o Slaughter´s Palace foi simplesmente a melhor decisão que poderíamos ter feito, porque sempre tivemos tempo de ouvir diretamente as faixas gravadas, fazendo um intervalo por dia, checando se todos estavam satisfeitos com a música e mudando alguma coisa para melhor, quando necessário. Outra coisa boa neste jeito de gravar foi que podíamos nos encontrar depois e antes do trabalho, nos finais de semana, tarde da noite ou quando pensávamos que era hora de cuidar do nosso “bebê”. Isso fez o período de gravação muito tranquilo e nos deu a chance de mudarmos coisas que teríamos de aceitar como inalteráveis num modo de gravação convencional devido a falta de tempo. Para gravar a bateria, mixar e fazer a masterização final de “Manifesto” decidimos ir para a Dinamarca encontrar com o Jacob Hansen. Não pensamos em outros caras para este trabalho, pois trabalhar com Jacob foi ótimo quando ele masterizou o “Wolves”, então decidimos ir para o estúdio do Jacob na última fase da gravação de “Manifesto”. O que eu posso te dizer é que ele fez exatamente o que esperávamos dele. Fez com que o nosso CD tivesse o melhor som possível.
Como é ter uma mulher no meio de tantos caras numa banda? Para nós é ótimo, agora temos apenas que encontrar uma van com lugar para cozinhar e máquina de lavar (risos). Ai meu Deus! Eu escrevi isso mesmo? Desculpe... não! Tô brincando! Isso não é muito diferente, porque não somos esse tipo de banda de Metal. Ouvir Christina Aguilera entre Soilwork e Dimmu Borgir foi a única coisa difícil para nós (risos). Você acha que as pessoas podem tratar vocês de forma diferente por causa da Sabine? Eu não acho que as pessoas irão nos tratar diferente por ter a Sabine na banda, apenas os caras que querem chegar nela (risos). Esses caras tem que ser muito gente boa com todos nós, nos trazer café e coisas assim. Claro que nossa turnê mudou desde que ela entrou para a banda. Agora pedimos chuveiros, espelhos enormes, make-up e tudo isso nos bastidores. Este é o segredo porque estamos tão bonitos no palco. Vocês estão na cena por mais de 10 anos. O que têm mudado na cena local do seu país de origem? Nunca fizemos parte de nenhuma cena, então é difícil responder esta questão. Em mais de 10 anos de existência da banda nós vimos muitas tendências ir e vir. Nós não ligamos muito para essa coisa de “cena” porque é sempre a mesma coisa, as pessoas gostam de ouvir Hardcore, a seguir, amam Metal, depois o Metalcore e assim vai. Tendências surgem, vão e desaparecem, mas o Deadlock está aqui pra ficar (risos). Que ótimo slogan de promoção! Além de serem Vegan Straight Edge vocês integram alguma outra causa? Sim, Deadlock é uma banda de Vegan Straight Edge e principalmente nossas letras tratam de temas como nossos estilos vidas, porque isto é algo muito importante em nossas vidas. “Seal Slave”, por exemplo, foi previamente gravada para a campanha do Peta2. Nos sentimos muito orgulhosos pela Peta2 nos perguntar se estávamos interessados em gravar uma música pro “The Canadians” (coletânia) e como uma banda Vegan Straight Edge não pensamos duas vezes e começamos a gravar imediatamente “Kill, Kill, Kill”. Isso é inacreditável a brutalidade com que esses idiotas tratam e torturam os filhotes de focas. Nenhum humano normal seria capaz de aceitar isso como um trabalho normal, eu acharia melhor morrer do que alimentar minha família com dinheiro conseguido do sangue desses lindos animais. Música é um forte instrumento e acho que sempre deve ser combinado com alguma mensagem. Música sem mensagem para mim é como uma pistola sem munição, ou um carro sem rodas, simplesmente sem efeito. Nossas músicas sempre tratam dos direitos dos animais e conscientização ambiental, a única chance de tornar este planeta em um melhor lugar para se viver é encontrar um caminho de volta ao autruísmo e respeitar todos os seres humanos e não-humanos no planeta Terra, esta é a mais importante mensagem na música de Deadlock. O que vocês esperam num futuro próximo? A melhor coisa para nós será a turnê européia no começo de 2009 com The Haunted e All that Remains! Estamos sem-
[8] Deadlock Manifesto Lifeforce
O Deadlock tem tudo para ser mais uma banda de Metalcore alemã, mas nunca o quiseram ser. Sempre experimentaram novos sabores e procuraram seus próprios caminhos. Esse novo álbum, “Manifesto”, é, sem sombra de dúvida, seu passo mais ousado. Em seu trabalho anterior, “Wolves”, de 2006, a vocalista Sabine Weniger, já ganhava mais espaço e figurava em todas as faixas, atualmente, assume completamente o protagonismo, sendo que lhe é conferido um destaque ainda maior. Continuam apostando na relação paradoxal entre a voz doce e segura de Sabine, em contraste com os berros e urros de Johannes Prem, o outro vocalista. Os elementos eletrônicos do último álbum estão de volta como pode ser notado perfeitamente na, algo sarcástica, faixa de abertura, “The Moribund Choir Vs. the Thumpets Of Armageddon”. Os elementos eletrônicos, a presença de Sabine adicionado a mistura já característica entre Death Metal melódico e Metalcore não surpreenderão quem já os conhece. O maior choque, principalmente para os mais conservadores, é a porção Hip-Hop da faixa “Deathrace”. Sem aviso, os rappers alemães Warpath e Sick Since transformam totalmente a música com seus beats e rimas politicamente corretas (os beats dessa música foram feitos exclusivamente para a PETA2). A qualidade da música é boa, já a necessidade desse enxerto Rap é questionável. Além disso, outros elementos experimentais aparecem de maneira heterogênea, como, por exemplo o saxofone no final de “Fire At Will”. Se esforçam em fazer algo diferente, porém o seu diferencial não se funde e nem transforma consideravelmente a personalidade do Deadlock. O álbum encerra com um cover muito interessante de “Temple of Love” do Sisters Of Mercy. Em suma, “Manifesto” apresenta uma banda mais potente, mais ousada e também mais acessível. As experimentações não “colaram” muito bem, mas será que deveriam? Matheus Moura
pre procurando datas pra turnês e existem muitos países distantes onde não pudemos ir. Então, este vai pra todas as moças e rapazes da Dinamarca, Suécia e França, se preparem que Deadlock chegará nos seu país no começo de 2009. Isto é uma honra para nós sair em turnê com grandes bandas como The Haunted e All that Remains. Também é muto bom poder viajar para outros países e ver a reação das pessoas com nossa música e o pacote com The Haunted e All That Remais é tão animador que eu acho que iremos encontrar muitos de novos fãs lá. Esperamos também fazer uma turnê em Portugal em breve! Obrigado pelo tempo e interesse no Deadlock! Veganize! Gláucio Oliveira
www.myspace.com/xdeadlockx
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Foto: Bruce Bettis
entrevista
Renascidos Contando com futuros membros de Shadows Fall e Killswitch Engage, o Overcast foi uma das bandas pioneiras em juntar o Metal ao Hardcore no início dos anos 90. Tendo anunciado seu fim em 1998, eles voltam dez anos mais tarde com “Reborn To Kill Again”, uma compilação das clássicas faixas do grupo. Em bate-papo com a HORNSUP, o guitarrista Scott McCooe conta um pouco da história da banda e da decisão de voltarem à ativa após uma década focados em outros compromissos.
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e onde surgiu a idéia de formarem o Overcast? Todos da banda já se conheciam quando formaram o grupo? Na verdade, daquilo que sei é que tudo começou por partes. Brian (Fair, vocal) e Mike (D’Antonio, baixo) se conheciam do skateboarding e queriam começar uma banda. Eles conheciam Pete (Cortese, guitarra) e Jay (Fitzgerald, bateria) de bandas locais e os envolveram no projeto. Eu entrei nessa história anos mais tarde após eles terem se separado de seu guitarrista original, Shaun Rounds. Mike estava namorando uma vizinha
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minha naquela época e todos se conheciam a partir do momento em que eu também tocava numa banda local chamada Dive, que tocou ao lado do Overcast em vários shows. O Overcast teve seu início em 1991 e permaneceu na ativa até 1998. Nos conte sobre esses sete primeiros anos de carreira da banda. Quais os sonhos, as realizações e as dificuldades desse começo? Eu não posso te dizer sobre a minha experiência até 1994, mas o que sei é que no começo eram 5 caras que apenas queriam
tocar música pesada e extrema. Obviamente, ganhar alguns fãs pelo caminho era apenas um bônus. Mas eu acho que tínhamos expectativas bem modestas: sermos capazes de gravarmos um disco, tocar ao vivo e ter alguns fãs. Pensar que você irá tornar isso uma coisa grande e se esforçar para que isso aconteça é uma longa caminhada e é normalmente o caminho errado para se seguir. Nós sabíamos que este é um mercado duro para se crescer e as dificuldades foi o que nos deu determinação de seguir em frente mesmo após péssimos momentos.
Qual a razão que levou ao fim do Overcast em 1998? Isso se tornou cansativo para alguns de nós, continuar tocando ao lado de veteranos de guerra, fazer pouco dinheiro e algum sucesso fora de todo o nosso trabalho duro. Muitas outras bandas estavam assinando com selos e nós acreditávamos tanto em nós mesmos que sentimos que nossa música estava sendo mal interpretada. Tínhamos vários fãs, mas os eventos necessários para nos manter acabaram não acontecendo. E quais os motivos que fizeram vocês retornarem quase uma década depois? A principal razão foi o pedido dos fãs para a gente voltar. O sucesso do Shadows Fall e do Killswitch Engage fizeram com que Brian e Mike rodassem o mundo inúmeras vezes, e eles encontraram pessoas em todo lugar que pediam o retorno do Overcast. Aliado a questão da cena ter melhorado, parecia a oportunidade certa para voltar enquanto o ferro ainda estava quente. Nós fomos rotulados como os “inovadores do Metalcore”, então pareceu certo nos dar mais uma chance e ver o que aconteceria. Mas também, o mais importante têm a ver com o fato de que ainda somos amigos e adoramos tocar as músicas do Overcast. É gratificante quando a combinação certa de pessoas estão numa sala fazendo música e isso é exatamente o que sentimos quando estamos juntos e tocando. A banda lançou um álbum de regravações de suas clássicas músicas da década de 1990, chamado “Reborn To Kill Again”, em Agosto desse ano. Por se tratar de um disco de regravações, qual a principal diferença que a banda notou ao tocar e gravar novamente essas músicas? A banda se preocupou em inovar em algum sentido ou preferiu manter a mesma base de seus primórdios? A principal diferença foi o processo de gravação. Com as novas tecnologias digitais, tudo é muito diferente hoje. As coisas são um pouco mais fáceis do que nos tempos de fita, mas isso é bom. A era do computador têm feito a maioria de nossas vidas mais fáceis em todos os sentidos. A banda queria que os sons antigos tivessem aquela mesma vibe do Overcast de antigamente mas com a qualidade de produção atual. Ao regravar os velhos sons, nós mudamos pequenas coisas aqui e ali para melhor (em nossa visão). Então fizemos os sons novos, que eram músicas semi-acabadas de 1998, pouco antes de nossa parada. Foi especialmente legal finalizar esses sons e lançá-los ao final. Como se deu a parceria com a Metal Blade Records para o lançamento de “Reborn To Kill Again”? A Metal Blade Records basicamente veio com a melhor oferta e nos sentimos muito bem em nos juntarmos a eles por várias razões. Desde o início houve uma primeira rodada de ofertas que se azedou ao longo do tempo. A Metal Blade veio à tona mais tarde e o acordo foi selado com eles. Como foi trabalhar com Adam Dutkiewicz (Killswitch Engage) na produção do álbum? Foi ótimo. O produto final foi fantástico e ele é um cara engraçado, que mantém as coisas descontraídas no estúdio.
As gravações de “Reborn To Kill Again” terminaram ainda no primeiro semestre de 2006, mas o álbum só foi lançado neste ano de 2008. Por que toda essa demora envolvendo o lançamento do disco? A razão para isso foi a demora em conseguirmos fechar um acordo. Foi um longo processo coordenar Shadows Fall e Killswitch Engage (que trabalham juntos para o Overcast) e descobrir qual seria o melhor acordo para todos os envolvidos. Acho que os motivos foram o gerenciamento de suas agendas ocupadas, juntamente com o fato de que o registro não possuia uma data limite crucial. “Reborn To Kill Again” foi trazido à mesa como sendo um acordo em que poderíamos ou não ser capazes de suportá-lo com uma tour ao fim de tudo. Então, provavelmente, foi por causa disso. O Overcast tem a pretensão de lançar um álbum de inéditas no futuro? Isso está no ar. Por agora, estamos dizendo que sim. Mas eu penso que isso irá refletir em como este álbum será aceito e quão rápido conseguirmos escrever um novo álbum em que todos estejamos satisfeitos. Mas por agora, estamos inclinados a dar uma chance à isso. De onde partiu a decisão de se unir Hardcore e Metal no início dos anos 90, num período onde os dois estilos andavam muito mais separados do que hoje em dia? Eu acho que nós gostávamos das idéias e da agressividade do Hardcore, ao lado do peso do Metal. Nós não seríamos uma banda apenas de Metal, cantando músicas sobre decapitações e Satã. Mas ao mesmo tempo, nós não atingíamos os tópicos normais ao Hardcore, como união e perseverança. Nós ficamos no meio dos dois estilos e pegamos aspectos de ambos, tanto liricamente quanto musicalmente porque era isso que estávamos dispostos a fazer. O que perceberam em relação a base de fãs da banda? Mantiveram os fãs antigos e continuam a arrebatar a nova geração ou perceberam alguma mudança nesse cenário? Bom, isso é o que estamos descobrindo agora. Existem, definitivamente, vários fãs antigos saindo de sua aposentadoria do mosh assim como novos fãs conferindo nosso som. Nós somos muito diferentes de Shadows Fall e Killswitch Engage e definitivamente temos nosso próprio estilo que acho que é completamente único. E isso é uma boa qualidade para se ter. Todos os membros da banda se juntaram a outros grupos após o fim do Overcast. Brian Fair (vocal/Shadows Fall), Mike D’Antonio (baixo/Killswitch Engage), Pete Cortese (guitarra/Seemless), Scott McCooe (guitarra/Transient) e Jay Fitzgerald (bateria/ Tunnel Drill). Como todos encontraram tempo suficiente para se dedicarem a esse retorno da banda? Existe a possibilidade de se dedicarem exclusivamente ao Overcast? Todos nós adoramos tanto a música que não poderíamos estar fora dela. É como se fosse uma máfia ou uma milícia. Não é fácil se separar dela. Uma vez que você está numa banda bem conhecida, você recebe várias propostas para se juntar a outras bandas e acho que não poderíamos recusar a oportuni-
dade de tentar algo novo e continuar sendo criativos. Não é fácil coordenar todas as nossas agendas, mas quando podemos, nós fazemos. Shadows Fall e Killswitch Engage estão na mesma rotina de turnês e gravações, então quando eles dão uma parada nós pegamos o touro do Overcast pelos chifres. Já pensaram em fazer uma tour com o Overcast abrindo para Shadows Fall e Killswitch Engage? Nós havíamos pensado nisso, mas turnês são difíceis para alguns de nós que possuem família. Eu posso dizer que isso irá acontecer numa escala menor. Nós estamos tocando num festival de tatuagens em Rhode Island onde todas as bandas estão nas paradas. Seria interessante, para dizer o mínimo! André Henrique Franco
[7] Overcast Reborn To Kill Again Metal Blade
Formado em Agosto de 1991, o Overcast foi um dos pioneiros há juntar o Metal e o Hardcore, numa época em que a fusão desses dois estilos era bem menos comum do que a que se vê de maneira saturada nos dias de hoje. Após uma série de 6 registros lançados, entre full-lengths e EPs, a banda encerra sua trajetória em Novembro de 1998 e seus membros seguem seus próprios caminhos no cenário musical. O vocalista Brian Fair se torna o frontman do Shadows Fall; Mike D’Antonio, baixista, se junta em um projeto chamado Killswitch Engage, e ambos acabam por moldar a cena que o Overcast havia iniciado. Eis que 10 anos depois, sob a chancela da Metal Blade e com a produção de Adam Dutkiewicz, a banda originária de Boston, retorna das cinzas com “Reborn To Kill Again”. O álbum é uma regravação de 11 faixas clássicas da carreira da banda e ainda conta com 2 músicas inéditas. Contando também com Pete Cortese e Scott McCooe nas guitarras e com Jay Fitzgerald nas baquetas, o registro apresenta os primórdios da fusão Metal/Hardcore. Os sons mesclam partes lentas e pesadas, deixando o som bem arrastado em alguns momentos; com partes rápidas e agressivas. Tudo bem ajustado sob as linhas de guitarra e as fortes batidas de Fitzgerald. O baixo de D’Antonio dá o tom do registro, enquanto o vocal de Fair se mostra furioso e cheio de energia. Com as mudanças em relação às versões anteriores das faixas ficando principalmente a cargo da melhor gravação do disco, não é de se estranhar a veia old school presente no álbum. O disco não se torna cansativo e traz o que o Overcast fez de melhor durante seu período de atividade, aliado ao fato de seus músicos estarem muito mais experientes e conscientes hoje em dia. Resta agora saber se a banda irá realmente voltar com seus trabalhos, lançar novos álbum e se tornar um projeto paralelo entre seus membros ou se a investida foi somente uma forma de resgatar e trazer à memória suas origens. André Henrique Franco
www.myspace.com/overcastrocks
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Histórias do exército Johan Lindstrand, líder e vocalista do One Man Army and the Undead Quartet contou à HORNSUP os principais pontos do novo álbum, “Grim Tales”, a origem do nome do grupo e até um incidente bizarro que ocorreu num show.
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nome da banda soa bem curioso. Tem esse nome porque no início você estava gravando um CD demo por conta própria, e logo mais tarde os outros rapazes se juntaram a ele para criar a banda? Sim, é isso. Eu estava referindo a mim mesmo como o “Exército de um homem”, no começo, antes de saber exatamente o que fazer com o material. Mas, então, quando gravei a demo “When Hatred Comes To Life”, estava tão feliz com ela, que disse a mim mesmo “Por que não fazer uma banda de verdade com isso?”. Perguntei ao cara que eu tinha contratado para gravar os solos se ele gostaria de ser um membro permanente, ele imediatamente disse sim . O resto dos rapazes vieram com o tempo e o resto é a história da banda. Como eles entraram, precisávamos algo mais que “One Man Army”, portanto também dei a eles um nome. (risos).
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Para mim, o Death e o Thrash Metal deram uma boa trepada, daí nasceu o som de vocês. Como você descreve a sonoridade da banda? Eu gosto de nos descrever como “um passeio numa montanha russa infernal”. É tudo como um grande drama aos meus olhos. Quero dizer que é basicamente Death/Thrash Metal direto na mente, mas todo o sentimento das nossas letras e músicas trazem um algo a mais. Mas, de fato, eu tenho uma visão distorcida das minhas próprias coisas, assim como a maioria dos outros músicos, creio eu. Mas para deixar fácil a quem ler isso: É Death Metal como um soco na sua cara! Um soco muito forte! Vocês estão na estrada desde 2004. Conte-nos como foram esses anos. Bom, não estamos fazendo turnês desde 2004, se foi isso que você quis dizer. Mas fizemos um monte de shows em festivais com o passar do tempo. Amamos tocar ao vivo e nosso som fica melhor dessa maneira,
então é algo que queremos fazer frequentemente. Quanto mais álbuns vendermos, mais shows conseguiremos, você sabe. Vamos torcer para que “Grim Tales” chegue aos ouvidos de muita gente. “Grim Tales” é o terceiro álbum, certo? Eu li no site da banda que ele será um clássico! Diga-nos porquê. Ter dito que será um clássico talvez tenha sido a palavra errada, mas quisemos expressar que é um clássico para nós. Este é um álbum onde trabalhamos extremamente e estamos completamente satisfeitos. Tudo, desde a produção aos sons! Para nós será um clássico na discografia. Mas temos esperanças de que algumas pessoas o chamarão de clássico, em alguns anos. Em comparação aos outros álbuns, o que mudou? Mudamos a formação. Nosso antigo guitarrista, o Pekka Kiviaho, decidiu nos deixar
por falta de motivação, somada ainda ao fato de não se sentir bem nas turnês. Agora, temos um novo cara que se encaixa melhor na banda. O nome dele é Mattias Bolander, e é um grande homem! Além dessa mudança, você pode escutar uma sonoridade mais madura, se comparada aos outros 2 álbuns. Somos músicos melhores e conseguimos trabalhar melhor quando em grupo, o que pode ser também ouvido. Ou seja, você pode ver claramente que trabalhamos mais arduamente do que nunca, então foi basicamente isso o que mudou. Estamos mais fortes! Com este novo álbum, tenho certeza que vocês farão uma grande turnê. Quais países irão lhes ver? Até o momento só agendamos a turnê com Unleashed e Krisiun, a qual será realizada na Europa, mas esperamos poder fazer mais. América, Japão, Austrália e todos os outros lugares que ainda não pudemos ir, seriam ótimos, mas o tempo dirá, pelo que acredito. A respeito da turnê com o Unleashed, eles têm um grande número de fãs, os quais irão lhes ver. Qual a expectativa? Nossas expectativas são muito altas, mas também aprendemos a não considerar nada como garantido. Isso é Death Metal e é impossível dizer se essa turnê será bemsucedida ou não. Mas será divertida, sem dúvidas, e estamos a aguardá-la.
Conte qual foi a coisa mais louca que ocorreu durante um show. A coisa mais extrema foi quando um cara subiu no palco, numa cidade da Alemanha, e começou a me puxar. Ele estava irritado por alguma razão, e Marek, nosso baterista, parou de tocar e correu contra o cara, arremessando-o ao chão! O palco tinha aproximadamente 1 metro de altura, e aposto que ele sentiu uma verdadeira dor ao cair (risos)! Era um tremendo idiota que não deveria estar no show e teve o que merecia. Se você pudesse escolher uma banda para lhes acompanhar na turnê, qual escolheria? Realmente não sei, pois há muitas bandas boas e eu realmente não escuto as novatas. Mas como não somos muito grandes, seria legal ter alguma outra banda do mesmo selo, que também não fosse muito grande, como o Darkane, Legion of the Damned, talvez. Vocês são bem desconhecidos aqui no Brasil. Deixe uma mensagem a todos que leram essa entrevista. Primeiro de tudo: Agradeço à HORNSUP por isso! Não costumamos dar entrevistas para o Brasil. Ao povo brasileiro: Confiram “Grim Tales”, se quiserem ouvir uma verdadeira agressão de Thrash Metal! Estou muito orgulhoso disso e creio que vocês gostarão! Julio Schwan www.myspace.com/onemanarmyandtheundeadquartet
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One Man Army and the Undead Quartet Grim Tales Massacre
A intro pode causar uma primeira impressão bem terrível, pois deixa aquela sensação de “lá vem mais uma banda de Metal melódico com arranjos sinfônicos”. Por mais que o ditado seja popular, nem sempre “a primeira impressão é a que fica”. É só esperar o vocal agressivo aparecer - muito parecido com os dos conterrâneos do Unleashed, diga-se de passagem - junto das guitarras e bateria à la Thrash para mudar de conceito e perceber que One Man Army and the Undead Quartet passa longe desses tipinhos de bandas inofensivas. Iniciada por Johan Lindstrand, após a sua saída do The Crown, a banda surgiu de uma situação bem estranha. Tudo era para ser um CD demo de Johan, mas os músicos trabalharam tão bem junto a ele, mas tão bem, que pensou “é ridículo isso ser um projeto a solo!”. Feito isso, em 2004, logo assinaram com a Nuclear Blast, e o resultado de tudo isso está aqui em “Grim Tales”, terceiro álbum deles. De forma geral, é um álbum mediano, não fede nem cheira. Em alguns momentos consegue dominar a atenção do ouvinte, como no solo veloz e na empolgante cozinha de “Cursed by the Knife”, bem como em “Bonebreaker Propaganda”, mas, por outro lado, em várias músicas ficam executando algo sem sal, previsível e nada criativo. Todavia há mais partes sem graça do que boas. Os vocais variados são bem responsáveis pelas partes boas, visto que Johan consegue mandar um “rasgado sussurado” e não satura nossos ouvidos com guturais a todo o momento, nos mais de 45 minutos de pancada. A boa dose de Thrash com Death, muito incomum, também contribui. “Grim Tales” é aquele álbum que você escuta uma vez e até pode dizer “ah, legal”, mas dificilmente voltará a escutá-lo. Caso decida fazer isso, certamente selecionará apenas algumas poucas faixas, pois, sem dúvida alguma, há bandas melhores para se escutar. Julio Schwan
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Foto: Ellen van Heezen
entrevista
À procura de seguidores Diretamente da “cidade do pecado”, a banda Seita, esse quarteto de brasileiros radicados na Holanda, fala à revista HORNSUP sobre suas origens, seu EP de estréia e recém-saído do forno, o “Imprint Forever”, e ainda, sobre a legião de seguidores que pretende arrebanhar.
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ntes de mais nada, o trivial: por que formaram o Seita? O quê pretendem conseguir com a banda? André Sparta – O Seita foi formado porque gostamos de tocar, e porque acreditamos que temos o que acrescentar no cenário metal, expressando nossas idéias sobre o que acontece ao nosso redor e no mundo. Qual foi o pontapé inicial da formação da banda e como aconteceu a reunião do grupo? Todos já se conheciam previamente? Dom Mura – O pontapé inicial foi dado quando minha outra banda (With Pride) se dissipou em 2006. Então eu e o Michel, que já nos conhecemos de longa data do Brasil, resolvemos entrar em estúdio e começar a compor algum material. Após alguns ensaios vimos que as composições tinham potencial para sair do
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estúdio e serem apresentadas ao público, daí convidamos o guitarrista Edson Munhoz para acrescentar mais idéias e criatividade nas composições, e por último o baixista André Sparta foi agregado ao grupo completando assim o nosso line-up. Eu e o Michel tivemos uma banda há uns 10 anos atrás. O Edson também é da nossa área, e o André conhecemos aqui na Holanda. Em qual medida a história da banda brasileira Retturn relaciona-se com a do Seita? Michel Gambini – A relação entre as bandas é que eu vim com o Retturn para a Holanda, e tempos depois foi formado o Seita em Amsterdã. A sonoridade da banda é uma fusão de vários estilos. Quais são, portanto, as principais referências deste “caldo” musical?
Banda – A sonoridade como você pode ouvir nesse EP/Mcd é basicamente Metal com influências do Death Metal e Hardcore. Procurando não se limitar, e focando mais o lado criativo e artístico. “Imprint Forever” é uma produção caseira e independente. No entanto, o acabamento sonoro, a arte gráfica e a embalagem do disco me fizeram duvidar disso, tamanha a qualidade do mesmo. Como esse trabalho tornou-se possível? E a quê creditam o alto nível alcançado no resultado final? Dom Mura – Muita dedicação, suor, trabalho sério, e experiências anteriores. Procuramos profissionais que nos ajudaram a realizar esse trabalho, e que ficassem 100% envolvidos nisso.
[8] Seita Imprint Forever Independente
A nova empreitada de Michel Gambini (Retturn) e Dom Mura (With Pride) atende pelo nome de Seita. Agregaram-se também a esse projeto: André Sparta (baixo); e Edson Munhoz (guitarra). Mesmo vivendo na Holanda já há alguns anos, este quarteto não se esqueceu do background vivido no Brasil. A dura realidade experimentada na pele em águas passadas é o combustível que alimenta toda a energia e brutalidade em “Imprint Forever”, o EP de estréia da banda. Misturando elementos de Death Metal e Hardcore, com leves pitadas de Grindcore, o grupo mostra a personalidade que lhe é bastante peculiar: mescla de domínio técnico com originalidade nas composições. Paralelos podem ser traçados, mas não é fácil chegar a um acordo sobre o gênero em que se enquadram, muito em parte por experimentarem várias ambientações. “Dethrone The King” é um bom exemplo: inicia-se com um andamento cadenciado e, de repente, evolui para um turbilhão de notas sequenciais, para depois, assim como surgiu, desaparecer. Michel Gambini apresenta interessantes técnicas vocais, que mesmo trabalhosas, não soam forçosas em momento algum. Sua guitarra é sincronicamente complementada pela de Edson. André Sparta insere vigorosas linhas de contrabaixo, o que acaba conferindo mais peso e concretude ao som. Dom Mura atesta sua competência e experiência mantendo-se equilibrado a todo instante: sabendo imprimir impacto e rapidez nos momentos oportunos. O ápice desta atividade coletiva, é sem dúvida, a faixa homônima do disco. Os méritos do trabalho são ainda mais consideráveis quando se observa que trata-se de uma produção caseira e independente.”Imprint Forever” é uma estréia triunfal, portanto. Há de se esperar muito destes rapazes, que com comprometimento e seriedade, certamente fazer-se-ão grandes. Paulo Vitor
O quê dizer do trabalho de Danny O’Really (Deicide, Biohazard, Napalm Death, entre outros), responsável pela mixagem e masterização do disco? Edson Munhoz – Danny O’Really foi um desses profissionais que ajudaram nesse resultado final. Cuidamos excessivamente dos trabalhos de mixagem e masterização para que ele tirasse o que nós queríamos e que deixasse o som da banda com a nossa cara, da melhor forma possível.
afinal de contas somos brasileiros e quando esse momento chegar será muito especial.
[Bélgica, Netherlands (Holanda), Luxemburgo] da Resistance Tour com o Eminence.
Estão à procura de algum selo ou gravadora, ou preferem que o trabalho mantenha-se na esfera da independência? Banda – Estamos iniciando nosso trabalho de maneira independente. O nosso foco é mostrar a nossa música, e acreditamos que no futuro poderemos fazer alguma parceria para alcançar o público de uma maneira mais visível.
Uma apresentação em Portugal: fato consumado ou ainda um plano futuro? E no Brasil, ainda está longe de acontecer? Michel Gambini – Acabamos de lançar o “Imprint Forever” e estamos focados no trabalho na Europa, e com certeza Portugal está nos nossos planos futuros, assim como o Brasil,
Como estão os shows? Têm se apresentado com freqüência? Já houve o caso de dividirem o palco com algum peso-pesado do metal internacional? Dom Mura – Os shows estão acontecendo, e a freqüência está boa. Já estamos com uns 20 shows concluídos e fizemos a parte Benelux
Dom Mura, virá ao Brasil ainda em Dezembro e por aqui ficará até Janeiro. Detalhe melhor a razão de sua vinda, e se possível, adiante-nos alguns outros planos que estão por vir. Dom Mura – Irei ao Brasil para apresentar o EP/MCD “Imprint Forever” de uma maneira geral, e tentar arrumar algumas parcerias para o desenvolvimento da banda. Queremos tocar no Brasil, é um objetivo, e vamos dar os primeiros passos para a realização desse acontecimento. Bom, no momento estamos muito agradecidos pela entrevista, desejando boa sorte para você, Paulo Vitor, e revista HORNSUP, muito obrigado por tudo! Paulo Vitor www.myspace.com/seitaofficial
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entrevista
Musicbox Superhero Punhaladas e cicatrizesizes Victor e Johnny, baterista e vocalista da banda catarinense Musicbox Superhero, falam a HORNSUP sobre a dificuldade de se dar bem no Brasil apenas fazendo músicas próprias, além de comentar sua presença de palco que é, no mínimo, insana.
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ocês são uma banda com bastante experiência. Há quantos anos estão tocando? Conte alguns detalhes sobre como eram as coisas no início. Victor: Ano que vem completamos cinco anos de banda. Desde o início, nossa proposta sempre foi tocar músicas próprias, nunca tocamos covers. E sempre com letras em inglês. Talvez por isso, no começo, foi difícil “conquistar” o público. Quando a banda estava perto de completar um ano, trocamos o vocalista e abandonamos todas as músicas feitas até então. Começamos do zero de novo e isso foi outro obstáculo. Mais ou menos um ano depois do Johnny (atual vocalista) entrar na banda, gravamos nosso primeiro EP e foi a partir daqui que começamos a conquistar nosso público. Como consequência do grande número de convites para shows em outras cidades de SC e fora do estado, tocamos muito, bancando do próprio bolso a maioria das viagens, mas o resultado é muito bom! Johnny: A experiência por si só decorre das situações adversas com que a gente se depara, e como a gente se vira para contornar cada situação, mas isso é um processo natural. Sobre o início da banda, pelo menos para mim, houve um entrosamento muito rápido, eles
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já tocavam há algum tempo com a formação da época (depois o baixista foi substituído) e todos da banda já tinham certa experiência de outras bandas. Hoje a recepção do público já é diferente? Victor: É, sim. Bastante gente conhece as músicas, a galera pede no show. Depois de lançado o EP, a galera começou a se interessar pelo trabalho. Agora, mais ainda com o CD novo. Falando sobre o EP “The Five Stabs”, soube que ele caiu nas mãos dos caras do Alexisonfire. Depois disso, os caras fizeram contato e etc. Fale um pouco sobre como isso ocorreu e o que eles lhes disseram. Victor: Um amigo do Gui (baixista) mora (ou morava, não sei) no Canadá e a namorada dele, que também mora lá, era amiga dos caras do Silverstein e do Alexisonfire. Aí eles mostraram nosso CD para eles e surgiu o interesse de fazer uns shows nossos com eles por lá, mas isso não foi para frente porque o Alexisonfire acabou. Eles mandaram alguns elogios pra gente, como “wow, fucking great!” Muito interessante! Mas sobre “The Scars Collection”, o álbum atingiu mais de 3500
downloads, logo na primeira semana online. A que acham que isso se deve? Fale também um pouco sobre as músicas e suas temáticas. Victor: Olha, divulgamos muito o lançamento do CD, que ocorreu em parceria com o MySpace, que ajudou bastante. As músicas continuam com as mesmas temáticas, evoluímos bastante e as músicas estão mais trabalhadas e pesadas, além de uma produção melhor que a do EP. Johnny: Esse número reflete bem a recepeção do público que a gente vem conquistando, particularmente pelo fato de fazer shows pelo Estado de SC, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. A gente gosta de classificar nosso som como “rock paulêra”, porque é um estilo diferente, tem um pouco de vários gêneros musicais, e a temática das músicas é sempre um processo abstrato, metafórico, que falam de experiências, desilusões, desejos, frustrações, etc. Então, fale mais detalhadamente aos leitores: Sobre o que falam as letras? No que são inspiradas? Johnny: Isso é uma questão que todo mundo faz para mim. Eu tento sempre abordar nas músicas, de uma maneira não tão literal, minhas frustrações, desejos sádicos, aquela raiva contida, aquele desejo de matar, e no final das
contas é tudo muito triste, são pensamentos patéticos, “o segredo é continuar respirando”. Minha inspiração acontece, na maioria das vezes, de experiências passadas com aquele papinho de amor, paixão e desilusão, e também desejos, segredos, vontades, não há um tema específico, cada música é um sentimento diferente. Mas, infelizmente, nem tudo são rosas. Apesar de todos os bons momentos, aposto que vocês já passaram por algo desagradável. Conte alguma situação bizarra que ocorreu em um show ou viagem, ou até algo que já lhes falaram. Victor: Cara, lembro de uma vez que tocamos em Rio do Sul, no quintal da casa de um cara. Aí rolou um festival durante a tarde. Construiram um palco e tudo mais... Só que não tinha iluminação, era de dia e os shows rolavam a luz do sol. Só que começamos a tocar no final da tarde, escurecendo. Fizemos quase todo o show na escuridão, com um louco com uma lanterna na frente do palco. Teve outro lance em Porto Alegre... O João passou muito mal horas antes do show, culpa de um hambúrguer bizarro que comemos. Teve que ir pro hospital e tudo, pegamos ele no hospital e fomos direto pro show, de ônibus. Tocamos pra 10 pessoas (contando o dono do bar), e a fila da balada ao lado dava a volta na quadra! Entre todos os shows que fizeram, qual é o que mais deixa lembranças na sua memória? E por quê? Victor: Teve um em Campinas que fizemos no começo de 2008, estava com uma vibe irada dentro e fora do palco, um puta clima de camaradagem. O show de lançamento do nosso CD aqui também foi irado, pico cheio só para ver a gente. E teve outro aqui em Floripa, recentemente. Só tinha nossos amigos, estava bem vazio mas estava altas vibe, muito foda.
Depois do lançamento do CD, surgiu mais algum convite internacional? Victor: Convites não, mas a gente é muito afim de tentar alguns shows nos EUA, ir na loucuragem mesmo. Quais bandas vocês consideram como influência direta na composição dos sons? Victor: Emery, Thursday, Underoath, Alexisonfire, Hopesfall, Glassjaw... nessa linha. A presença de palco de vocês é surpreendente! Não são todas as bandas que conseguem tanta agitação com todos os membros no feeling. Consegue descrever o que sente lá em cima e que desencadeia tudo isso? Victor: Cara, a gente curte mesmo o som que toca. Tocar ao vivo pra gente é o ápice disso tudo, para conhecer o Musicbox Superhero por completo, precisa ir num show. Eu mesmo não gosto de tocar nem com protetor auricular, nem com click por que eu quero ouvir o som ao vivo. A gente fica meio “possuído”no palco. Quando o Poison The Well veio ao Brasil, vocês foram umas das bandas mais pedidas para abrir, mas acabou não rolando. Porém, pegaram o Alesana na sequência. Por problemas no aeroporto, eles não vieram, mas soube que agora virá o Underoath e vocês quem abrirão. Qual a espectativa para esse show? Victor: É um sonho se tornando realidade. O Gui mesmo tá se borrando todo! (risos) A expectativa é imensa, ainda mais depois da “bad-trip” do Alesana. É também um reconhecimento do nosso trabalho. Temos orgulho de saber que tudo que conquistamos foi com nosso suor, sempre fazendo o que gostamos, do jeito que gostamos. Para finalizar, deixe uma mensagem aos leitores da revista. Se também quiser deixar um agradecimento a alguém, agora é a hora. Victor: Aos leitores, peço que, para quem não conhece ainda nosso som, procure pra ouvir, nossos dois discos tão inteiros para download na net, vários vídeos no youtube, etc. A agradeço você e à HORNSUP pela oportunidade e agradeço também a todos que nos ajudam e nos apóiam de alguma forma, não vou citar nomes porque vou acabar esquecendo de alguém. Julio Schwan
[8] Musicbox Superhero The Scars Collection Independente
Após cinco punhaladas, nada mais lógico que uma coleção de cicatrizes. Talvez foi pensando nisso que os catarinenses da Musicbox Superhero decidiram nomear o primeiro longa, pois, em 2005, lançaram um EP de 5 músicas, chamado de “The Five Stabs”. E eles voltam com tudo! “Some Kind Of Mistake” - a primeira faixa após a intro - já mostra a banda focada naquilo que se propõe a ser: uma leva de sentimentos, agressivos ou calmos, muito bem representados por vocais muito gritados ou muito chorados, levados por guitarras marcantes, caóticas ou belas, as quais se complementam junto ao baixo e a bateria. Digo que a fórmula do EP foi muito bem aperfeiçoada, e apesar de declararem possuir influências de Underoath, Thursday e várias outras, não há grandes similaridades. Claro que todas possuem gritos e vocais melódicos, mas a Musicbox Superhero não soa como cópia de nenhuma delas. No Brasil e dentro do estilo, é a mais atraente das bandas, principalmente ao vivo, porque possuem tremenda energia que só vendo para entender. Outras faixas, como “Like Ghosts and Snow” (grande interpretação vocal na primeira parte) e “All The Time I’d Lost” (caoticagem comanda!) vão tornando a audição bem agradável. Sem dúvida alguma, estamos diante de um nome promissor. Se será aqui ou lá fora, não sabemos ao certo, todavia oportunidade de ser lá não faltou. Quer saber por quê? Leia a entrevista ao lado! Julio Schwan
www.myspace.com/musicboxsuperherobr
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Foto: Tom Barnes
resenhas
des destaque staque
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Trap Them Seizures In Barren Praise Deathwish Inc.
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É impressionante como a reputação de uma banda pode ser construída de forma eficaz em um par de anos. Pois é, foi em 2007 que o Trap Them lancou seu debut album, “Sleepwell Deconstructor”, desde então, assinou com a Deathwish Inc. (gravadora de Jacob Bannon, líder do Converge), lançou alguns EPs, um split com os renomados Extreme Noise Terror e agora chegam com seu novo álbum, “Seizures in Barren Praise”. Rapidamente criou-se uma apreensão com relação a esse álbum, pois não se sabia se iriam tomar algum direcionamento diferente. As expectativas eram altas, mas o novo álbum não deve deixar ninguém desapontado. Pelo contrário, é o melhor registro já apresentado pelo Trap Them. Sua fórmula elaborada de Crust Hardcore com nuances Grind e Sludge foi aprimorada, se tornando ainda mais fluída e viciante. Letras marcantes com frases de efeitos adicionadas a um maior dinamismo instrumental são as provas de evolução encontrada em “Seizures in Barren Praise”. Sem reduzir a podridão e aspereza, conseguem introduzir passagens memoráveis. Já na arrastada faixa de abertura detectase esse pormenor. “Fucking Viva” é tão imperativa que fica difícil não memorizar as frases berradas por Ryan McKenney (“The vertigo/ The death threats/ The funerals/ They’ll never end!”). A seguir, “Targets” entra matando, sem fazer prisioneiros, dando o compasso veloz e brutal que irá reinar durante a audição do disco. Esse novo álbum revela também um upgrade técnico acentuado, como pode ouvir nos riffs insanos de “Guignol Serene” e “Reincarnation Of Lost Lones”. Os escassos, porém extremamente intensos, minutos de duração do registro são encerrados da melhor forma. “Mission Convicers” é uma pérola Sludge hipnótica, que mostra que se o Trap Them quiser também apostar mais nesse estilo, podem fazê-lo sem receios. Uma banda que tem tudo para se tornar um culto, se já não é. Um belo presente para pedir ao Papai Noel. Matheus Moura
[6] Bison B.C. Quiet Earth
dentre outros acontecimentos, mostram o quanto a I Am Ghost precisa amadurecer como banda e fazer o que eles realmente sabem: boa música. Em resumo, um álbum fraco comparando ao que eles são capazes, músicas entediantes e idéias descartáveis. Decepcionante. Igor Lemos
Metal Blade
[8] Bring Me The Horizon Suicide Season Visible Noise
Banda iniciante, mas muito promissora. Quatro rapazes canadenses formam o Bison B.C., essa banda cujo som é, de certo modo, um pouco inovador. Ok, todos aqui já escutaram Thrash Metal e bandas com vocais “plagiados” do Mastodon, eu sei, porém a maneira como esses caras fazem tudo isso, soa um tanto quanto original. É o Thrash Metal mais sujo e pesado dos últimos tempos! Sem dúvidas, pela produção à la Sludge Metal, totalmente saturada de peso e distorção. Mas aí é que está o grande lance, pois, como já falei, eles não tocam Sludge, mas sim, Thrash Metal, e, incrivelmente, com algumas escalas e solos de blues (!), bem como passagens recheadas de loucura (Stoner Metal? Provável) e alta progressão em algumas faixas. “Quiet Earth” nos mostra uma banda fazendo um som bom e com maestria, fatos que melhorarão com o passar do tempo, pois certamente farão muitos shows e tocarão com mais frequência. No momento, contudo, é um pouco de exagero falar que se trata de algo grandioso, mas está a caminho. Enquanto isso, vá escutando a pegadona “Dark Towers”, ou viaje com a longa e estranha “Wendigo Pt. 1 (Quest For Fire)”. Julio Schwan
[4] I am Ghost Those We Leave Behind Epitaph
Utilizando o Post-Hardcore com diversos elementos góticos (muito mais no vestuário do que no som), o grupo californiano I Am Ghost lança o segundo álbum de estúdio, muito inferior ao ótimo “Lovers’ Requiem”. O que irá pesar negativamente será, principalmente, a saída de integrantes que davam o diferencial na sonoridade. A maior perda foi a violinista e também vocalista Kerith Telestai, além do baixista Brian Telestai, que são casados e, por serem cristãos, acabaram entrando em conflito com o resto da banda, resultando na saída dos mesmos. Com isso, o que antes era um grande chamativo, se transformou em genérico, com poucas faixas de destaque. Apesar das alterações, o vocalista Steve Juliano manteve suas ótimas melodias, um dos pontos fortes do full-lenght. Porém, as guitarras de Timoteo Rosales III e Chad Kulengosky ficaram devendo, pois são capazes de fazer algo mais maduro. Mostraram isso anteriormente, mas não repetiram o feito. Importante citar que são excelentes instrumentistas. O baixista Ron Ficarro ainda conseguirá ajudar na faixas, diferentemente do baterista Justin McCarthy, que ficou um pouco apagado em alguns momentos. Cabe agora citar os pontos positivos, que são as faixas “Don’t Wake Up”, “Those We Leave Behind” e a “So, I Guess This Is Goodbye”. Polêmicas com rótulo de banda cristã, choro de integrante após o vocalista dizer ‘fuck’ em um show,
[8] The Haunted Versus Century Media
É sempre bom ouvir bandas pesadas que mesclam um pouco sua sonoridade na composição de seu repertório e quem conhece a banda The Haunted, sabe que eles trocaram a pancadaria dos primeiros álbuns por esta fase, mas é claro, sem perder o peso. Instrumentais marcantes, paletadas rápidas e cavalgadas de guitarra, adicionados a um vocal que além de ser berrado, também é cantado, “Versus”, novo álbum da banda sueca, lançado em Setembro pela Century Media, pode ser uma grande aquisição para quem gosta de bandas que não martelam sempre na mesma tecla. O álbum é bem interessante. As músicas não são exageradas (o que não te deixa de saco cheio) e alguns refrões são bem marcantes (a faixa de abertura “Moronic Colossus” mostra bem isso). O instrumental é bem desenhado e os solos de guitarra funcionam nos lugares certos e sem exagero. A bateria é um pouco simples, mas apesar disso, o álbum não perde qualidade. É provável que em algumas faixas você faça uma pequena comparação com o som do Slayer e In Flames, mas apenas em alguns pequenos trechos, nada mais! São 11 faixas que transitam por muita pancadaria e harmonia. Destaque para as músicas “Moronic Colossus”, “Little Cage”, “Crusher” (a mais violenta) e “Iron Mask” (por ser a mais diferente musicalmente). Este é o sétimo álbum da banda que, apesar de possuir menos faixas, é bem parecido com o álbum anterior, “The Dead Eye”, inclusive é notável a semelha na intro de algumas faixas em ambos os álbuns. Podemos inclusive pensar ser uma continuidade, porém, “Versus” possui músicas mais envolventes e cativantes. Gláucio Oliveira
[7] This or the Apocalypse Monuments Lifeforce
Metalcore com Meshuggah ou Screamo com Mathcore? Fica à gosto do freguês. Sinceramente não sei dizer ao certo, mas a verdade é que encontramos todos elementos citados acima em “Monuments”, segundo álbum da banda norte-americana This Or The Apocalypse. Esses meninos demonstram uma identidade saliente, apresentando uma sonoridade personalizada, mesmo que não sendo muito cativante. Praticam um Metalcore dissonante, com um vocalista que berra em tempo integral
O novo álbum do Bring Me The Horizon, banda britânica de Deathcore, foi uma grande lição, antes de mais nada. “Suicide Season” se assemelha a uma experiência que você tem em sua vida, acha diferente, mais depois acaba se acostumando. Quem for ouvir este full-lenght com os pré-conceitos do álbum anterior, vai tomar um grande banho de água fria. O grupo, liderado por Oliver Skykes, vem com uma mudança no paradigma sonoro, que fará com que muitos fãs apreciem ainda mais a evolução que tiveram em suas composições. Os gritos de Oli estão muito bem encaixados com as novas linhas das guitarras de Lee Malia e Curtis Ward. Apesar dos breakdowns ainda existirem, estão melhores conceituados, mais inteligentes e não tão frequentes. Contrariando muitas bandas que usam toda sua energia nas guitarras, o baixo de Matt Kean é de grande contribuição no resultado final, pois ele participa diretamente da criação do álbum. Por fim, o baterista Matt Nicholls, se mostrando mais experiente e com batidas ainda mais cativantes. As três primeiras faixas, “The Comedown”, “Chelsea Smile” e “It Was Written In Blood” são uma perfeita apresentação da evolução do grupo. Elementos alternativos também estão inseridos, além de uma ambientação mais densa e provocante. Participações especiais são mais um chamativo para “Suicide Season”. JJ Peter, do Deez Nuts, contribui nos vocais na agressiva “Football Season Is Over”, além de Sam Carter, do Architets, nos vocais de “The Sadness Will Never End” e Luis Dubuc, do The Secret Handshake, nos samples, em “Chelsea Smile”. O BMTH convida a todos para uma jornada alucinante com seu segundo álbum. Para os fãs mais ortodoxos, se preparem, é completamente diferente; aos que não conhecem, aproveitem ao máximo. Igor Lemos
e guitarras recheadas de harmonias estridentes. As trocas de tempo amalucadas e os breakdowns matemáticos são as características que mais se destacam, além de dar um toque de imprevisibilidade ao álbum. Inserem, ocasionalmente, algumas ambientações mais expansivas que logo nos remetem a comparações com Misery Signals. “We Are Debt” apresenta bem tanto a lado mais melódico, expresso no refrão, como a fração matemática dos breakdowns truncados e fills de bateria supersônicos. Apesar das faixas exigirem alguma técnica por parte dos músicos, conseguem manter um equilíbrio interessante, sem que tudo se torne num festival de virtuosismo. “Memento Mori” é a faixa calma que aparece pra lá da metade do álbum para nos dar algum descanso aos ouvidos. Porém o “relax” de pouco mais de 3 minutos é interrompido pela brutal “Maua Kea”. “Monuments” é um álbum de uma banda que pretende fazer algo minimamente diferente e apresenta um belo potencial. Matheus Moura
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resenhas [7] Thursday/Envy Split Temporary Residence Ltd
Trinta minutos do que de melhor se pode fazer dentro do Post-Hardcore, é o resultado deste split entre Envy e Thursday. Os primeiros são uma das melhores bandas japonesas da actualidade, fundindo características do Shoegaze e do Post-Rock no seu Post-Hardcore épico. Os segundos são uma das grandes bandas da cena Post-Hardcore norte-americana, que, apesar de terem passado um período algo atribulado nos últimos anos, com mudanças de editora, estão de volta à boa forma. O split começa com 4 faixas de Thursday, duas delas instrumentais, mostrando uma faceta da banda que até agora era desconhecida: o gosto pelo lado mais electrônico da música ambiente, soando, em determinados momentos, próximos de bandas como Lights Out Asia e Lymbyc Systym. Nas restantes duas faixas, já com vocais, o sexteto mostra o seu Post-Hardcore habitual, energético e poderoso, a contrastar com o que tinham feito no álbum anterior, “A City by Light Divided”, lançado em 2005, em que a banda parecia algo contida, não conseguindo, devido a isso, fazer um álbum equilibrado como “War All The Time”, de 2002. No plano geral, estas 4 faixas mostram que Thursday estão em boa forma, dando espaço ao teclista, Andrew Everding, que se juntou à banda em 2003, para ter uma contribuição mais ativa ao som da banda. Em relação ao quinteto japonês, as novidades não são muitas. A banda continua a explorar gêneros como o Shoeagaze e o Post-Rock, misturando-os com o seu PostHardcore épico e melancólico. As três faixas estão bem conseguidas, apesar das novidades serem poucas. Qualquer uma destas faixas poderia facilmente fazer parte do EP “Abyssal”, o último lançamento da banda. Em resumo, um bom lançamento, que junta duas das melhores bandas da cena Post-Hardcore da atualidade. Bruno Pereira
[7] A Static Lullaby Rattlesnake! Fearless
Após o péssimo “Faso Latido” de 2004, e o regular “A Static Lullaby” de 2006, eis que surge o quarto álbum de estúdio da banda californiana A Static Lullaby, intitulado “Rattlesnake!”. Aos que esperavam um material parecido com o excelente “...And Don’t Forget to Breathe”, de 2003, desistam. Porém, conseguiram melhorar consideravelmente a sonoridade, partindo para uma linha mais pesada. Este será o primeiro full-lenght com quatro integrantes. A saída do guitarrista John Martinez não foi preenchida, sendo utilizado apenas um instrumentista para turnês em seu lugar. Joe Brown, o vocalista do ASL, está furioso desta vez, gritando constantemente com uma potência incrível. Suas melodias estão cativantes, vide as faixas “Bear Trap”, “The
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Turn” e “Aller Au Diable”. O guitarrista Dan Arnold criou riffs pesados, assim como elementos melódicos marcantes. “Morning Would Come” ficou excelente nas seis cordas. Dane Poppin, o baixista, irá aparecer com frequência, o que será notável. A faixa “Scavenger” é um bom exemplo do seu trabalho. O baterista Tyler Mahurin está animal, exercendo muito bem sua função, com batidas fortes e uso do pedal duplo. Todos estes pontos confirmam a nova fase da banda, ou seja, mais brutal. “The Prestige” é uma das composições mais agressivas da história do ASL. Como se não bastasse, ainda há duas surpresas: o vocalista Greg Puciato, do Dillinger Escape Plan, na faixa “The Pledge”, e a cover da música “Toxic” da Britney Spears. Um bom álbum, surpreendeu em diversos pontos de forma positiva. Igor Lemos
[5] Lotus Porcus
aparece mais nítido que nunca. Com uma produção cristalina, às vezes até demais, é possível ouvir cada palhetada e cada beat com perfeição. O lado bom é que podemos desfrutar cada pormenor das composições sem dificuldade, por outro lado, essa característica acaba por amenizar o peso em geral, tornando tudo um pouco seco e mecânico. De qualquer forma, é incrível ouvir Joe Haley debulhando a guitarra à uma velocidade absurda. Aliás, velocidade devia ser o sobrenome dos irmãos Haley, já que o brother de Joe, Dave, é um exímio baterista, que concilia perfeitamente agilidade e criatividade. O vocalista Jason Peppiatt, assim como o restante do grupo, se apresenta variado e abrangente, cumprindo seu papel com louvor. O fato de darem demasiada ênfase a técnica, acaba por tirar o mérito das músicas em linhas gerais, pois o ouvinte fica tão atento aos pormenores que acaba não dando a devida atenção as composições, que por si só também não são muito marcantes. “(Ob)servant” é absurdamente técnico, maciço e brutal, mas ainda lhe falta algum elemento unificador mais atraente. Matheus Moura
Camarão Bastardo
[7]
Independente
Uma boa piada! Essa é a intenção dos Lotus Porcus. Os homens são de Portugal, tocando apenas guitarra e baixo, mandando também os vocais e programando o resto. A dupla consegue soar bem caricata em alguns momentos. Você começará a perceber isso no refrão da primeira faixa, “Bacalhau Personalizado”, onde o vocalista canta com voz extremamente aguda uma frase do tipo: “Sinta o poder da minha espada!”. Porém, isso só acontecerá caso você não veja primeiramente as fotos de algum dos integrantes (o baixista lembra muito o falecido Pit Bicha, do Zorra Total). A priori, tirando as zoeiras, o som deles é totalmente Black Metal old school, também com traços de Heavy. Apresenta algumas boas bases e solos na dose exata. “Camarão Bastardo” é a demo que marca pela retomada das atividades, as quais estavam paradas há alguns anos. Por se tratar de uma demo produzida pelos próprios integrantes, é mais conveniente ser flexível, já que os caras têm atitude. O problema é que essa sonoridade caseira de demo deixa tudo sem peso, soando como algo retirado de uma fita cassete, anulando a possibilidade de ser menos “duro” na crítica. Por tal feito, por mais que as músicas sejam engraçadas, não há como escutar muito sem enjoar. Uma pena, pois há demos que, mesmo sendo demos, apresentam certo peso e uma sonoridade mais “na cara”. Julio Schwan
[7] Psycroptic (Ob)servant Nuclear Blast
Quando se fala em Death Metal ultra-técnico nos dias que correm, o nome Psycroptic não pode ser deixado de fora. Esses australianos moldaram seu legado baseados em precisão, perícia e velocidade, e é isso que voltam a apresentar no seu quarto álbum, “(Ob)servant”. Como de costume, o aspecto técnico logo se destaca, porém, nesse registro,
Escape the Fate This War Is Ours Epitaph
Após um episódio triste na linha histórica da Escape The Fate, que foi a prisão do vocalista Ronnie Radke (envolvimento em uma cena de assassinato com arma de fogo), muitos deram a banda como enterrada. Porém, não foi o que aconteceu exatamente. Não bastasse o sucesso que o grupo vem fazendo, o ETF conseguiu fazer com que o competente Craig Mabbitt, exvocalista do Blessthefall, entrasse. O resultado: um bom álbum. O processo de composição buscou se diferenciar ao máximo das antigas linhas sonoras, soando praticamente como uma nova banda, ainda mais madura e experiente no cenário Post-Hardcore. É inegável que irão fazer um grande sucesso com “This War Is Ours”. Solos de guitarra de Bryan Money, além de riffs muito inteligentes e sarcásticos; a bateria mais que precisa de Robert Ortiz; o baixo cativante de Max Green; tudo isso somado ao talento nato de Craig, que caprichou ainda mais nas melodias. O segundo álbum da banda, lançado pela Epitaph, e o primeiro sem o vocalista Ronnie Radke e o guitarrista Omar Espinosa, conseguiu ser proporcional às expectativas positivas dos fãs e da mídia. “On To The Next One”, com seus riffs surpreendentes; “Ashley”, que lembra a Paramore, e “You Are So Beautiful” são praticamente babações para as mulheres tamanha melosidade e amor declarado; “The Flood” foi uma agitação quando saiu na internet. Em pouco tempo chegou a 50.000 vezes tocada no myspace da banda, provavelmente será o primeiro single; “Let It Go”, uma faixa animada, diferente das outras composições do grupo pode fazer muitos torcerem o nariz; “This War Is Ours (The Guillotine Part II)”, a faixa mais agressiva do álbum, mostrará toda a competência da banda; a baladinha “Harder Than You Know” e a pseudoassustadora “It’s Just Me”, muito divertida, compõem o time das faixas em destaque. Difícil comparar com o seu antecessor, o ótimo “Dying Is Your Latest Fashion”, porém, a mudança não fez mal para o grupo. Igor Lemos
[8] Sylosis Conclusion Of An Age Nuclear Blast
Após 8 anos de carreira, nos quais lançaram dois EP’s, os ingleses Sylosis chegam quebrando tudo em seu CD de estréia, esse bem-aventurado “Conclusion Of An Age”. Além de nos apresentar uma temática conceitual, envolvendo letras e capa, que sugerem um futuro desastroso devido aos males do homem moderno (guerras, conflitos religiosos, destruição do meio-ambiente), onde, incrivelmente, apenas a natureza prevalecerá (essa é a idéia da capa), nos mostram um Metal de primeira linha, composto por diversas influências dos mais apreciados estilos (Heavy, Thrash e Death). É a típica banda que você entende porque usa dois guitarristas, justamente porque ambos aparecem bastante, devido às belas (às vezes melódicas demais, mas nada que deixe piegas) escalas em dupla, bem como as bases e alguns riffs. Injusto não falar dos solos, porque é na maioria deles que despejam suas influências Thrash, calcadas em muita velocidade (isso não quer dizer que também deixam de solar nos padrões de Heavy Metal). Possuem também um vocalista completamente versátil, mandando bem nos gritos rasgados, nos guturais e - o mais inesperado - em alguns refrãos limpos e emotivos, os quais aparecem somente em algumas das 12 faixas. Menos notáveis, mas nem por isso omissos, o baterista e o baixista desempenham seus respectivos papéis com classe, não deixando a desejar. É um excelente álbum do início ao fim, e tudo que foi dito ali em cima serve como base para entender, mas, como há quase em todos os álbuns, de todas as bandas, alguns momentos marcam mais, como podemos averiguar no refrão da “After Lifeless Years”, no solo da faixa-título, na intro à la balada “Metallicana” de “Swallow The World”, em toda a empolgante “Withered”, entre outras partes. Um dos melhores álbuns de 2008! Músicas bem-feitas, firmeza na execução, produção de primeira e um forte conteúdo realista nas letras. Julio Schwan
[8] United Nations United Nations
rótulo “Screamo” ao longo de toda a carreira, tenham neste lançamento 25 minutos do mais puro Screamo. Ou seja, o Screamo parecido a pg.99, Orchid, Funeral Diner e Celeste, e não ao pseudo-screamo que se faz hoje em dia. Onze faixas, 25 minutos. A originalidade não é muita, afinal este género de música já não é novo, mas o álbum esta muito bem conseguido. É intenso, barulhento e bem raivoso. As letras atacam forte e feio as políticas norteamericanas e o estado do Punk rock actual, com a voz de Rickly, trêmula, a contrastar com os berros potentes e distorcidos de Palumbo, que é sem dívida, o ponto forte do álbum. A voz esta tão intensa que confere um carácter de urgência as faixas, e encaixa que nem uma luva no instrumental sujo, rápido e dissonante. Apesar de normalmente os chamados “super grupos” falharem, esta junção de músicos dos mais variados subgêneros do Hardcore e Metal conseguiu um bom álbum de estréia, que certamente agradará aos fãs do gênero e das bandas envolvidas, porque, como já referi, apesar de não criarem nada de realmente novo, trazem de volta para a “ribalta” um gênero cuja denominação tem sido constantemente distorcida nos últimos anos. Bruno Pereira
[6] The Last of Them Slow Motion Chaos Independente
Oriundo de Aveiro (Portugal) e completando agora apenas 2 anos existência, o The Last of Them vem apresentar seu EP de estréia, “Slow Motion Chaos”. Esse registro revela uma banda em busca de sua identidade. Esse fato fica óbvio dado a amplitude de influências. O Metal é a base, sem dúvida, mas dentro desse universo se insinuam para várias tendências, sem se apegar demasiadamente a nenhuma delas. Há traços de New Metal com em “New Addiction”, fragmentos de Metal sinfônico em “Stone Immaculate” e fortes vestígios de Death em “2:00 Room 407”. Essa variedade torna a audição de EP interessante, porém, ao final, não ficamos com uma noção clara de qual a sonoridade do The Last of Them. Também não há nada de mal nisso, já que é experimentando é que vão encontrar o seu som próprio. As músicas têm boas estruturas e lineariedade, e a gravação está satisfatória. “Slow Motion Chaos” é honesto e cumpre seu papel, dar conhecimento de uma banda com potencial à ser desenvolvido. Se a fibra e a personalidade brotarem, o The Last of Them pode render bons frutos no futuro. Matheus Moura
Eyeball
Aparentemente, Geoff Rickly, vocalista dos Thursday, tinha um sonho: formar, juntamente com o seu amigo Daryl Palumbo (Glassjaw, Head Automatica) um super grupo. Depois de vários rumores, a oportunidade de gravar algo surgiu recentemente, e a comunidade Hardcore ficou ainda mais ansiosa quando membros de bandas como Converge, Made out of Babies, Isis e The Number Twelve Looks Like You, foram sendo associados à United Nations. E é essa a grande particularidade deste grupo: ninguém sabe ao certo quem gravou o álbum, além de Rickly na guitarra/voz e Palumbo nos berros. Não deixa de ser irónico que dois músicos que tentaram escapar do
[6] Left to Vanish Versus The Throne Lifeforce
Os americanos do Left To Vanish resolveram mudar, um pouco, a concepção que existe em relação às bandas de Metalcore. A solução? Inserir elementos do Mathcore com muito virtuosismo. É verdade que não é algo inovador, porém, podemos colocá-los, facilmente, em um círculo de grupos diferenciados da grande
[8] Intronaut Prehistoricisms Century Media
Intronaut é o nome de uma das mais novas e experientes bandas do Atmospheric Sludge. Nova pois seus primeiros trabalhos são datados de 2006, e experiente pelo fato de, até pouco tempo atrás, ter possuído um ex-membro de grandes nomes do Death Metal mundial, das bandas Impaled e Exhumed, o qual passou grande conhecimento aos restantes membros. “Prehistoricisms” é o seu segundo full-lenght, sucessor do bom e bonito “Void”. Na introdução “Primordial Soup”, a banda nos apresenta uma bela guitarra limpa, junta a sons flutuantes típicos do estilo Ambient/Atmospheric, dando uma leve pincelada do que é aprimorado em músicas como “The Literal Black Cloud” e “Prehistoricisms”. Só que nessas e nas demais há um algo a mais, e quem conhece o estilo já deve imaginar, que são as bases de baixo e guitarra totalmente saturadas de peso e distorção, geralmente bem monotônicas, vocal agressivo e bateria lenta e socada. Uma das características que mais surpreende nesse novo álbum dos californianos, é que ousaram-se a incrementar certa velocidade alta em algumas faixas, e até um solo de bateria em “Any Port”. Também seria injusto não falar da épica, tranquilizante (na primeira parte) e super-progressiva “The Reptilian Brain”, recheada de sitar e percussões no melhor clima indiano no início (já ouviu Ravi Shankar? Muito similar!), alternando somente para um instrumental limpo, e quebrando tudo ao fim em seus quase 17 minutos de duração, fechando o disco de uma maneira totalmente inesperada! Ao escutar “Prehistoricisms” diversas vezes, a conclusão a qual se chega é que a Intronaut vem de vez para conquistar seu merecido espaço dentro do estilo, ainda mais por apresentar certas inovações. É um belíssimo álbum, sem dúvida alguma, o melhor já lançado por eles. Julio Schwan
maioria. Após diversas mudanças no line-up, finalmente conseguiram consistência para lançar o “Versus The Throne”, pela Lifeforce. O foco deles é apenas um: fazer boa música. Para isso, o time é composto pelo vocalista Keith Nolan, que irá dar um aspecto de extremismo com seus ótimos gritos; os competentes guitarristas Sean Salm e Kevin Salm, ambos criativos nos breakdowns e nas articulações complexas nas composições; o baixista Bryan Little é o responsável pela gordura extra no som e, por último, o técnico Paul Meredith na bateria. Com faixas como “Give Us Barabbas”, “Lufthansa Heist”, “Eyeless In Gaza” e “Northern Lights”, você irá entender como fazer bons breakdowns relacionados às técnicas nas guitarras. Porém, fica um pouco marcado neste ponto, sem tanto experimentalismo em outras vertentes. Há faixas instrumentais para diferenciar o cenário, mas ainda não são suficientes para o álbum ser tão versátil. No final das contas “Versus The Throne” é legal de ser ouvido, ficando claro que são competentes instrumentistas, porém, ainda falta um tempero que possa dar um empurrão para o cenário mainstream. Só nos resta aguardar. O tiro foi dado, veremos onde a bala irá parar. Igor Lemos
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resenhas [8] Fear Before Fear Before Equal Vision
Mudança. Esta é a palavra que será usada para explicar uma nova fase. A primeira cisão entre o passado e o futuro do grupo foi a transformação do nome. Renovação? Talvez. O Fear Before The March Of Flames tornou-se Fear Before. Mas não foi só isso que mudou. A sonoridade está completamente diferenciada dos álbuns anteriores. Chega a assustar. Cada lançamento do FB é um susto no ouvinte, pois nunca repetem uma estrutura musical. Se você não é um sujeito de mente aberta ao experimentalismo, pode desistir de adquirir o álbum que leva o mesmo nome da banda. Estes americanos do Colorado estão buscando ainda mais utilizar uma roupagem musical envolvente, com ambientações psicóticas ao mesmo tempo que o vocal melódico é disparado, dando uma sensação de que o mundo está girando. Ambiciosos. Quem os conheceu na fase Mathcore, esqueça. O momento agora é de passagens lentas e loucas. Os instrumentistas dão uma aula de como juntar pedaços desconectados e criar um quadro repleto de insanidade e quebra de linearidade. O vocalista David Marion parece estar em um mundo desconhecido, potencializado pelos teclados e programações do guitarrista Adam Fisher. O baterista ‘Goose’ será outro destaque no álbum. Simplesmente incomum o que é feito por ele em diversos momentos. Para entender a essência deste full-lenght, você necessitará ouvir o mesmo diversas vezes. De início, o que não parece ter sentido, se transforma em um caleidoscópio de possibilidades. ‘Treeman’, ‘I’m Fine Today’, ‘Jabberwocky’, ‘Everything’s Not Shitty’ e ‘Tycho’ são exemplos de técnicas e um banho de água fria em grupos que utilizam a cansativa fórmula exata de vender músicas. Aqui, tudo é imprevisível. Igor Lemos
[6] Behemoth
é “Qadosh”. Ela nos mostra que a banda não mudou nadinha de um ano para cá, pois apresenta o mesmo estilo de composição do “The Apostasy”, com bases rápidas e quebradas de tempo para melodias marcantes, além de solos lentos e cheios de feeling. O mais curioso é que nesta mesma entrevista já citada logo acima - realizada na época de lançamento do “Demigod”, Nergal disse que jamais voltaria a lançar um EP ou algo do gênero, justamente porque os fãs costumam dizer isso que estou dizendo agora: Legal, mas desnecessário. Julio Schwan
[4] Through Darkness A Journey Through Darkness Independente
O Through Darkness é um duo português criado em 2006 no Funchal (Madeira). Lançaram seu primeiro material no início de 2008, o EP intitulado “A Journey Through Darkness”. A capa assinada pelo artista francês JP Fournier (Edguy, Cellador, Dragonforce) impressiona. Já a parte auditiva não chega a ter o brilho do aspecto visual. Exploram o Death Metal obscuro com contornos escandinavos e uma boa dose de experimentalismo. Mesclam momentos de maior brutalidade com passagens calmas mais dramáticas e melódicas. A idéia de fazer um registro divido em duas partes funciona bem. A primeira metade é mais comum, com músicas que refletem os dilemas pessoais. Já a segunda parte se baseia no Kalevala (epopéia que reúne diversas canções folclóricas da Finlândia). As faixas “Väinämöinen” e “Ilmarinen” referem-se aos heróis míticos de mesmo nome, e suas aventuras. O ponto fraco do registro é, sem dúvida, a produção. Percebo perfeitamente que é um EP de estréia e ainda carecem de meios e experiência, porém acredito que poderiam ser bem mais cuidadosos com relação a isso e nos oferecer uma qualidade mais aceitável. O fato de se ouvir mal torna difícil a percepção dos detalhes das composições e uma análise mais completa. Em resumo, o Through Darkness apresenta algum potencial, entretanto precisa de uma produção minimamente descente para averiguarmos ou quão bom pode ser. Matheus Moura
Ezkaton Metal Blade
Legal, mas desnecessário. “Ezkaton”, novíssimo EP do Behemoth, é isso. Menos de um mês após o grandioso álbum ao vivo “At The Arena Ov Aion: Live Apostasy”, lançam esse material que contém uma regravação (“Chant For Ezkaton 2000 e.v.”), algumas faixas ao vivo (que também estão no álbum anterior, por sinal, apenas com a diferença de terem sido gravadas em outro show) e dois covers (Ramones, com “I’m Not Jesus” e Master’s Hammer, com “Jama Pekel”), além de uma única inédita, “Qadosh”. A versão em vinil traz ainda o cover de “Devilock”, dos Misfits. Como li em uma entrevista datada de 2004, Nergal (vocal, guitarra e líder) é grande fã de Danzig. Uma pena esse cover não sair em CD. O que realmente é interessante (não querendo desmerecer as outras músicas, mas podemos conferí-las no álbum anterior)
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[8] Haste The Day Dreamer Solid State
É extremamente preocupante quando um integrante original se retira de sua banda. Algumas perdem o rumo, outras nem tentam e encerram suas atividades. Mas também muitas vezes, por competência, coragem e outras qualidades, tocar o barco torna-se possível, sim. Após 3 anos da saída do vocalista Jimmy Ryan, o Haste The Day vem fazendo sua lição de casa com o seu substituto, Stephen Keech, lançando no ano passado o álbum “Pressure the Hinges” e agora o recente “Dreamer”, pra fixar de vez o sangue novo da banda. Colo-
cando o Play para rolar é possível notar logo de cara uma sonoridade, de certa forma, mais agressiva com a música de abertura “68”, que apresenta um instrumental típico HTD com a bateria esmagadora ora rápida, ora cadenciada, acompanhada de belas harmonias e riffs de guitarras basicamente simples, porém, sempre matadores. “Mad Man”, a primeira música a ser mostrada ao público, é também muito bem balanceada com belas melodias e uma pegada brutal no instrumental. Essas características estão presentes nas faixas seguintes, “Hauting”, “Resolve” e “An Adult Tree”. Devo destacar em ambas a presença marcante de mais um (novo) vocal melódico no qual chega a lembrar de longe Underoath. “Babylon”, “Invoke Reform” e “Sons Of The Fallen Nation” são puro Metalcore e “Labyrinth” aparece para quebrar o clima do álbum, sendo uma melancolia chatíssima no qual o Haste The Day poderia ter deixado de lado. “Porcelain” volta com o peso no instrumental, porém, é a faixa mais morna do disco. Para fechar o novo trabalho, a banda regravou a bela balada “Autumn” do EP “That They May Know You” e deixou-a acústica, somente violão e voz. Devo dizer que “Dreamer” é um grande álbum, mas que certamente não há como comparar com os primeiros discos. Pode-se dizer que em muitos aspectos este álbum tem muito mais qualidades do que seu antecessor “Pressure the Hinges”. Jimmy Ryan e Jason Barnes (guitarrista que deixou a banda antes do lançamento do disco) com certeza fazem e farão falta, porém, o Haste The Day continua com forças e sangue o suficiente pra enfrentar muita estrada pela frente! João Henrique
[4] Carach Angren Lammendam Maddening Media
Carach Angren significa “presas de ferro”, no dialeto Sindarin. O power trio que atua sob esse nome conseguiu, após duas demos, chegar ao primeiro CD, finalmente, três anos depois do início das atividades. Há uma coisa que deve ser dita, logo de cara: o Black Metal praticado pelo grupo é altamente genérico, nada diferente de nomes como Immortal e Dark Funeral. Isso não chega a ser ruim, pois essas bandas possuem alguns discos gloriosos. Mas há um porém, incrementam sinfonias, pseudo-atmosferas de Dark Ambient, alguns gritos agudos, performances teatrais e o escambau, soando mais engraçados que um Cradle of Filth, por exemplo. É engraçado, sim, de fato. Ninguém leva a sério três caras com corpse paint, tirando fotos com machados e pose de malvadão, para quando chegar na hora da música, escutar um verdadeiro teatrinho mal encenado. Antes fosse só o instrumental veloz da bateria, com a guitarra suja e os gritos, estaria bom. Mas não é, sabe-se lá porquê os caras insistem em fazer algo que já está bem batido e martirizado. Para piorar, tentam fazer o teclado sair mais alto que tudo, na tentativa de impor um clima que, francamente, não existe. Menos pose e mais seriedade seriam um bom conselho a dar a essa banda. Só vá atrás se você realmente é um devoto fervoroso desse tipo de música, porque, isso aqui, não impressiona nem o mais novato fã do estilo. Julio Schwan
[7] Beneath the Massacre Dystopia Prosthetic
Pouco mais de um ano após o seu exorbitante debut, os canadenses do Beneath the Massacre retornam com “Dystopia” - mais um material que não faz jus ao nome da banda. A quem ainda não conhece, desde o EP de estréia em 2005, os caras vêm se consolidando no cenário mundial como uma das bandas mais técnicas e rápidas dos últimos tempos. O novo álbum mantém exatamente a mesma fórmula do anterior, ou seja, o guitarrista Christopher Bradley grava duas guitarras (mas ambas executam as mesma coisas, a diferença é o esquema das oitavas) mega-técnicas, velozes e massacrantes (às vezes também com breakdowns), enquanto o baterista se mata em linhas retas de puro blast-beat com raras viradas, e sabe-se lá como o baixista acompanha direitinho (não querendo desmerecê-lo, mas acompanhar a velocidade dessa guitarra é só para mestres). Mesmo com essa fórmula sendo o ápice do disco, ela é também o que o “estraga”. Todas as faixas apresentam o mesmo tipo de composição, sem uma exceçãozinha qualquer, o que soa realmente enjoativo, já que a duração total ultrapassa os 30 minutos. Se há uma diferença em relação ao anterior, está na produção: guitarras mais evidenciadas, peso do contra-baixo menos presente. Quanto às letras continuam no estilo Hardcore, abordando os problemas mundiais e até protestando contra os mesmos. “Dystopia” vem para deixar os metalheads sob o massacre, literalmente! Um álbum que, sem dúvida, deixará uma bruta impressão no público, boa ou ruim, mas deixará… e como! Julio Schwan
[6] New Mecanica Love & Hate Casket Music/Copro
O New Mecanica é uma banda portuguesa que teve origem na no Barreiro em 1997 sob o nome Drift Away, tocando um Heavy Metal tradicional. Em 2000, mudam novamente o nome da banda agora para Reset, seu o som também sofreria modificações, chegando assim ao um trabalho mais próximo do que é feito atualmente pela banda. Foi ainda como Reset que gravaram em 2007 as faixas que viriam a integrar este seu primeiro álbum. Eis que em 2008 um acordo com a editora britânica Casket Music/Copro Records coloca na praça “Love & Hate” da banda agora conhecida como New Mecanica. A banda apresenta um trabalho que constrói um conjunto de temas que variam entre tonalidades bem diferentes, mas com um denominador comum, a fórmula mágica do Metal, a agressividade e a melodia. Essa mistura figura por todo o registro, com vocais ora rasgados, ora limpos. mostrando uma versatilidade ímpar. Outro aspecto que caracteriza “Love & Hate”, é a pegada forte e cheia de groove que culminam em refrões pegajosos e de alta combustão, e em riffs cheios de energia e técnica. A banda meio que
auto-rotula o seu som de um Thrash/Screamo/ Core. Na verdade podemos encontrar traços e influências de várias bandas, como Pantera e Killswitch Engage. Pode-se dizer que a banda tem uma qualidade legal em suas composições, mas ainda não conseguiu criar sua própria identidade musical, o que inevitavelmente tráz a cabeça do ouvinte similaridade com o trabalho de bandas maiores do gênero. No registro se destacam as faixas “Remember” que é a faixa de abertura totalmente groove, a faixa título “Love And Hate”, o primeiro single “Lonely”, “Fire Desire” e a intimista “You & I”. Vale a pena conferir o trabalho desses portugueses tendo em vista a qualidade apresentada nesse primeiro álbum, acredito que podemos esperar coisas boas do New Mecanica em um futuro breve. Odilon Herculano
[8] Legion of the Damned Cult of The Dead Massacre
A “Legião dos Amaldiçoados” não é uma banda comum. A começar porque consideram o responsável pelo merchandise, o técnico de som e o responsável pelas artes gráficas como “membros da banda”. Segundo porque, apesar de toda a “pose” e letras malvadas, encaram tudo com um bom humor - logicamente não são o Massacration, pois fazem isso na medida certa. Como disse o Mille, vocalista do Kreator: “Eles são os Misfits do Thrash Metal!”. Cult of the Dead é o quarto full lenght dos holandeses. É surpreendente que já tenham lançado um álbum nesse ano e agora vêm com mais esse, que não deixa nada a desejar. E tem mais: formaram a banda em 2005. A sonoridade é mais suja que pesada, com guitarras bem estridentes - semi-punks bateria veloz e tudo de bom que há no Thrash Metal, somando ainda um vocalzão vomitado, oscilando entre Black e Death. É colocar a tocar o CD e curtir até o fim! As músicas possuem uma boa fórmula, com elementos cativantes e alternam bastante entre a supervelocidade e a convencional, não saturando nossos ouvidos. Sem dúvida alguma, essa é uma banda que merece a atenção de todos e o respeito de muita gente. Além do já dito Mille, agradaram bastante ao Jason (Misery Index), Raymond (Fear Factory) e Scott Ian (Anthrax). Tudo isso fica evidente em declarações que podem ser lidas no site oficial da banda. Pode confiar! Julio Schwan
[5] Darkane Demonic Art Massacre
”Demonic Art” marca o regresso dos suecos Darkane, três anos de “Layer of Lies”. Estes veteranos de Helsingborg são uma das muitas bandas do Death Melódico/Thrash Metal que surgiram na Suécia no final dos anos 90, e apesar de nunca terem sido uma das melhores, são sem dúvida uma das mais persistentes. “Demonic Art” marca a estréia do vocalista Jens Broman, que veio substituir Andreas Sydow. A nível de som, a mu-
[8] Trivium Shogun Roadrunner
Após a excelente receptividade dos fãs em relação aos dois álbuns anteriores, o “Ascendancy” e o “The Crusade”, torna-se um verdadeiro desafio continuar em um patamar tão elevado na mídia. Uma tarefa impossível para muitos grupos, torna-se concreta para a banda Trivium, praticantes do Thrash Metal com influências de outras vertentes do Metal. Estes músicos vindos de Orlando, Estados Unidos, lançam agora o quarto álbum de estúdio, o enigmatizante “Shogun”. Neste full-lenght será explorado, além das construções sonoras já conhecidas (solos de guitarra e melodias vocais), o experimentalismo. Liderados por um dos ícones contemporâneos do metal, Matt Heafy continua mostrando que os méritos da banda são merecidos. O vocalista e front-man da Trivium irá retomar os gritos, algo que foi esquecido no álbum anterior, um aspecto marcante desde o início da carreira destes metaleiros. Junto ao também guitarrista Corey Beaulieu, irão inundar qualquer ambiente com composições inteligentes, dando uma aula de versatilidade em longas faixas envolventes. O baixista Paolo Gregoletto dará a gordura necessária, junto ao trabalho do excelente baterista Travis Smith, que vem demonstrar como se toca de verdade um instrumento de percussão. Através de uma arte de capa vinculada à cultura japonesa, torna-se necessário colocá-los na lista dos melhores álbuns do ano no gênero devido ao grande feito realizado. Destaques para: “Kirisute Gomen”,”Torn Between Scylla and Charybdis”, “Into the Mouth of Hell We March”, “Of Prometheus and the Crucifix” e a belíssima “Shogun”. Trivium está com força total e promete se tornar um dos grandes nomes do Metal. Igor Lemos
dança de vocalista foi a única alteração, já que continuam a “bater na mesma tecla”, ou seja, a misturar o Death Metal Melódico tipicamente sueco com o Thrash Metal. A falta de variação e de originalidade faz com que “Demonic Art” e os seus 37 minutos pareçam se arrastar durante duas horas. Se não fosse pela produção limpa e potente, este álbum poderia ter sido facilmente gravado em 1995, já que não traz nada de novo ao que bandas como Crown of Thorns (que viriam mais tarde a ser conhecidos como The Crown) e At the Gates faziam na altura. A dupla de guitarristas é obviamente evoluida à nivel técnico, sendo isso evidente em alguns dos solos, mas a falta de inovação, tanto a nível de som como a nível de estruturas, faz com que apenas os solos mereçam ser elogiados. A secção rítmica não compromete, mas tambem não arrisca, jogando pelo seguro e apostando no habitual: ritmos uptempo. A nível vocal, alguém devia proibir Jens Broman de ouvir The Haunted (ou melhor, proibir Jens de ouvir qualquer um dos projectos de Peter Dolving), já que em certos momentos a semelhança entre os dois é inegável. Resumindo: apesar de não ser um mau álbum, é um álbum sem identidade e genérico, que provavelmente agradará aos fãs da banda, mas deixará desapontado quem gosta do seu Melo-Death original e inovador. Bruno Pereira
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resenhas [9]
I Set My Friends On Fire
You Can’t Spell Slaughter Without Laught Epitaph
Enquanto diversas bandas precisam de quatro ou cinco integrantes para fazer um álbum medíocre, eis que uma dupla constrói um full-lenght sensacional. I Set My Friends On Fire, além de ser nome de música do Aiden, torna-se também o nome deste grupo de Miami, Estados Unidos. Após uma brincadeira descompromissada de gravar a música “Crank Dat”, criada pelo rapper Soulja Boy, em uma versão Screamo, logo conseguiram uma grande atenção na internet. Porém, ninguém esperava que depois disso um contrato com a Epitaph e um álbum de estúdio iriam sair. Matt, responsável pelos gritos e letras do ISMFOF e Nabil, que faz a programação, todos os instrumentos (guitarra, baixo, bateria e teclado), a gravação e o backing vocal, eis que surge o “You Can’t Spell Slaughter Without Laught”, o primeiro da carreira. Ambientado em uma atmosfera de muito humor, ironias e letras sentimentais, indo do Powerpop até um som que se assemelha ao Grindcore, a dupla permite que o ouvinte jamais descubra o que está por vir em cada faixa. “Brief Interviews With Hideous Men” e “Beauty Is In The Eyes Of The Beerholder” variam tanto de gênero e em tão pouco tempo, que torna-se impossível rotular o som que eles fazem. Confirmando o que foi dito, ainda incluíram, além da “Crank Dat”, a “HxC 2-Step”, outra música que mistura rap com gritos e breakdowns. Não há como negar o talento nato destes dois compositores. Outras faixas merecerão destaque, como “Ravenous, Ravenous, Rhinos” e “But The Nuns Are Watching...”. Indicado para quem gosta de quase todos os estilos musicais, indo do Post-Hardcore até algo mais pesado, e aqueles que não possuem idéias pré-concebidas de um som linear. Aqui, o desconhecido e irreverência são figuras em primeiro plano. Um álbum louvável. Igor Lemos
[7] Decadence 3rd Stage Of Decay Massacre
O quinteto sueco Decadence esta relançando seu primeiro full-length “3rd Stage Of Decay” pela Massacre Records, originalmente o álbum foi lançado em 2006 por uma gravadora menor, desde então ganhou mais duas versões, sendo uma delas lançada exclusivamente no Japão. O Decadence basicamente faz um Thrash Metal melódico que é um estilo bem comum na Suécia, a banda apesar de não ter muito tempo de janela faz um som de primeira qualidade e com pegada de veteranos. Um destaque a parte da banda é a talentosa vocalista Metallic Kitty, e moça que tem apenas 22 anos, conta com um vocal extremamente potente e agressivo que realmente surpreende o ouvinte, e ainda por cima, a garota é lindíssima. As guitarras de Simon Galle e Kenneth Lantz os caras esS Sim
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banjam riffs rápidos e cheio de firulas bem ao estilo old school. A cozinha é formada pelo baixo de Joakim Antman e pelo baterista Erik Rojas. A audição do registro é meio viciante, a banda cria todo um ambiente a cada faixa que envolvem e fazem com que as músicas começem a grudar na sua memória, e sem perceber você volta ao início do álbum e ouvi novamente todas as faixas. Destacam-se as faixas “Claustrophobia” com sua pegada vertiginosa e crua, a faixa titulo “3rd Stage Of Decay”, com arranjos e vocais perfeitos, a sequenciada “Settle The Score” e a trabalhada “Invert”. Um disco para indispensável para Thrasheiros ou para quem gosta de Metal simples de bem tocado, se é você anda procurando nas suas buscas musicais, Decadence é exatamente o seu número. Use sem moderação. Odilon Herculano
[7] Laaz Rockit Left For Dead Massacre
Laaz Rockit é uma banda americana de Thrash Metal, oriunda da mesma área do Metallica, Exodus e Slayer, ou seja, San Francisco Bay Area. Apesar de existirem há algum tempo, ficaram vários anos parados. Do mesmo, nunca atingiram o sucesso da maioria das bandas da região, sabe-se lá o motivo, pois a música é competente, ao menos nesse novo álbum. Os anteriores também tiveram uma boa repercussão pela crítica especializada, mas não caíram no gosto dos ouvintes. O mais curioso de tudo é que eles declararam que não haveria mais álbuns, lá no início dos anos 90, e agora estão aqui, detonando uma sonzeira rápida, sem frescuras, energética e furiosa. Quem é fã de Destruction e Nuclear Assault vai adorar, pois o vocal é muito semelhante. O instrumental permanece no mesmo estilo dos anos 80, ao contrário da produção, a qual ficou mais “viva” e moderna. Faixas como “Brain Wash” e “My Euphoria” são propícias a um bom headbanging, já que são dotadas de guitarras muito rápidas, vários solos no feeling e bateria com duas metralhadoras. Por outro lado, “Ghost in the Mirror” é uma semi-balada, com vocal limpo e guitarras melódicas, algo que destoa muito do resto do disco, mas não é ruim. Ela dá uma pausa à porradaria que retorna com tudo em “Turmoil”. No geral, vão repetindo a fórmula das músicas citadas logo acima. É um bom álbum, mas é de se esperar muito mais de uma banda cujo último álbum foi lançado em 1991. Julio Schwan
[7] Mudvayne The New Game Epic
A saga do Mudvayne continua, o tempo passa e a mistura explosiva (atualmente nem tanto) do Nu Metal com o Math Metal sempre figura nos trabalhos da banda, não poderia ser diferente com o novo trabalho que já esta na praça que atende pelo nome de “The New Game”. O
Mudvayne pode se gabar de ter um line-up de primeira composto pelo os vocais potentes de Chad Gray que consegue a proeza de mandar bem tanto em vocais compostos por gritos urrados como em coisas melosas e primaveris. Outro ponto fora da curva é a guitarra frenética de Greg Tribbett que pode-se intitular como a mente criativa da banda, mesmo que no últimos trabalhos a sua criatividade tem soado muito limitada, a sonoridade da bando tem muito do seu feeling. A banda ainda conta com o baixista Ryan Martinie que dispara uma variedade de técnicas, que o coloca no patamar de um melhores baixistas de Metal na atualidade, e para fechar a cozinha as baquetas de Matthew McDonough que esbanja brutalidade nas composições. Agora falando de “The New Game”, posso afirmar que parece que a criatividade que era tão abundante no Mudvayne em seu insuperável álbum, “L.D. 50”, não tem comparecido muito durante o processo de criação dos últimos trabalhos da banda. Mais e mais influências diversas podem ser identificadas no som do Mudvayne, como vocais estupidamente calmos e guitarras acústicas em “Scarlett Letters”, mesmo assim as faixas tem um gosto de “eu já ouvi isso em outro álbum”. Mas isso não quer dizer que o álbum seja ruim, deverá infestar as rádios e TVs com muitos singles (faixas candidatas não faltam). Se você é um daqueles fãs xiitas deve ir com calma nesse álbum, pois não vai encontrar a velha pegada do Mudvayne em nenhumas das faixas, se você é mais mente aberta deve gostar com certeza. Mesmo não sendo o seu melhor trabalho, recomendar um álbum do Mudvayne e como assinar um cheque em branco, ou seja tem que confiar muito para se arriscar. Eu confio! Odilon Herculano
[7] Staind The Illusion Of Progress Atlantic
De uma coisa não podemos reclamar. Aaron Lewis e seu Staind não mudam. Eles já são donos de uma musicalidade característica e parecem estar satisfeitos com os frutos que a música vem lhes trazendo. Sem a necessidade de mudança no estilo da banda, “The Illusion Of Progress” é um álbum tão bom e completo quanto o aclamado “14 Shades Of Gray” – talvez com menos fúria - são 13 faixas recheadas de melodias fortes e composições sobre o amor e a dor que a vida nos proporciona. A influência Grunge está cada vez mais evidente nas composições de Aaron Lewis, que neste lançamento deixa de lado um pouco – mas não completamente – toda aquela cólera que víamos em “Break The Cycle” de 2001, para agora cantar canções sensíveis e acidentalmente melódicas sobre suas inseguranças, sua vida, seu lar e sua família, acompanhado de um instrumental muito bem trabalhado, com arpejos que lembram a clássica “It’s Been a While”. Os destaques aqui vão para o primeiro single “Believe”, para a faixa de abertura “This Is It” e sua sonoridade pós-grunge, e “Rainy Day Parade” que em uma opinião particular é a melhor das 13 faixas, com riffs que me lembram 1992 e a explosão das bandas de Seattle. Em resumo, temos um ótimo álbum, um confortável refúgio para a mente pronto para ser ouvido deitado no sofá em um dia de chuva ou dirigindo por uma longa estrada. Luiz Felipe Leite
[7] Rise Against Appeal To Reason Geffen
A conhecida banda de Hardcore melódico de Chicago, Rise Against, lança o seu quinto álbum de estúdio, ao qual intitularam “Appeal To Reason”. A temática das letras irá envolver o que sempre foi proposto pelos integrantes, ou seja, a luta pelos direitos humanos. Após nove anos de estrada, o grupo se tornou mais comercial, porém, sem perder a sua essência sonora. A mudança mais significativa do full-lenght anterior, o bom “The Sufferer & the Witness”, para este, foi a entrada do guitarrista Zach Blair. Porém, mesmo após nove anos de atividade, o único elemento que muda é o dono das seis cordas, o que permite ao ouvinte usufruir de muita maturidade nas composições. O vocalista Tim Mcllrath está abusando das suas ótimas melodias, o que dá grande parte do mérito que eles possuem. O baixo de Joe Principe continua fundamental e, como de costume, se destaca neste trabalho. O novo guitarrista, Zach Blair irá criar boas camadas de riffs e, por fim, o baterista Brandon Barnes, que continua sendo um bom instrumentista, criando ótimas batidas e ritmos louváveis. Diversas faixas irão se destacar, indo das mais animadas como as “Collapse (PostAmerika)” e “Re-Education (Through Labor)”(o primeiro single). “Savior”, outro possível hit, é uma das melhores do álbum. Para os que curtem momentos acústicos, irão adorar a “Hero Of War”. “Appeal To Reason” é para ser ouvido diversas vezes, porém nada irá se comparar a apreciar o som do Rise Against ao vivo, que é o verdadeiro espírito Hardcore. Igor Lemos
[6] Capitão Fantasma CF720 Raging Planet
Sem longas esperas, o Capitão Fantasma retorna um ano depois de “Viva Cadáver”, disco lançado após um hiato de 12 anos sem lançarem absolutamente nada. Desta vez, os portugueses presenteiam os fãs com “CF720”, que se trata de um pacote que contém um EP com músicas inéditas gravadas em estúdio e mais um DVD que inclui 3 vídeos promocionais do disco anterior (“Cidade Suja”, “Se Eu Enlouquecer” e “Nem 20 Anos”), além de 60 minutos de imagens da banda ao vivo tocando em 3 lugares diferentes. As 7 faixas exclusivas são praticamente continuações do último trabalho registrado pelos rockers tugas, pois a energia de cada uma das músicas soa bem semelhante. Melhor ainda: mesmo com apenas 21 minutos de puro Psychobilly, típico da banda, estas inéditas são, de certo modo, até mais intensas e empolgantes. Aqui, o que era Punk se torna ainda mais Punk, o que era Garage se torna ainda mais Garage, mais sujo, mais Rocker e mais Psychobilly. Nada exagerado, só um tempero a mais no som do Capitão Fantasma. O único ponto negativo que aponto aqui é o mesmo que já havia citado em “Viva Cadáver”; mesmo a banda sendo fiel ao seu estilo, as músicas são bastante parecidas uma das outras e, se você não
é realmente fã do gênero, pode ser uma tarefa difícil escutar por muito tempo. Mesmo assim, o Capitão Fantasma se supera por ser sempre divertido. “Assassino Fantasma” é talvez a música mais Punk Rock do disco e também a mais rápida. Além desta, destaco “Mimi Má Sorte” por ser uma faixa com uma melodia sombria que chega a lembrar a fase mais antiga do Misfits. Aos que apreciam o trabalho da banda e gostam de um bom Psychobilly, “CF720” é uma ótima pedida! João Henrique
[9] Le Grand Guignol The Great Maddening Maddening Media
No momento que o circo ficar macabro, quando o teatro ficar agressivo, onde a barreira entre música, imagem e expressão livre for completamente rompida, o que encontraremos? A resposta para essa pergunta - a qual eu aposto que a maioria sequer cogitou - está em “The Great Maddening”, CD lançado pelos luxermburguenses Le Grand Guignol. Não há como negar que, pela escrita, tudo isso não faz sentido algum. Na prática, porém, a história é outra. Em meio a tanta informação, tantos elementos que possam parecer “água e óleo”, o único modo de classificar a sonoridade do grupo é como Avant-Garde. Futurista e datada. Meio excêntrica. Incomum hoje, mas com traços comuns há séculos atrás. Ópera, de sinfonias e cantos graves - recheada de elementos barrocos, funde-se a vocais guturais e rasgados de Black Metal. Violinos contracenam com guitarras pesadas, mas que, por ora, entram em harmonia a solarem juntas. Pianinhos inofensivos correm lado a lado com 2 bumbos, enquanto, em algum momento, pássaros surgem com atmosferas e violões. Não, essa não é a fórmula do CD, apenas da faixa “Degenesis Amor and Seuche”. Pode ser caricato, enjoativo e ruim. Pode ser também genial, atraente e maravilhoso. Estamos diante de um trabalho que proporcionará reações adversas e extremas, dependendo do ponto de vista de cada ouvinte. E o mais intrigante é que há como sentir coisas boas e ruins na mesma faixa. Poderia-se realizar um teatro ou um filme com a música ao fundo, em quase todos os momentos, mas o solo de flauta oriental em “Mens Insana In Corpore Insano” mereceria atenção extra, pois parecese claramente com aqueles hipnotizadores de serpentes que todos vimos em algum desenho, quando crianças. Apenas exemplos em mais de uma hora de música. Naquilo que se propõe a ser - um som exótico, mesclando arte antiga e moderna; beleza com feiúra; entre outros -, não há como negar que eles conseguiram chegar lá! Gostando ou não, todos devemos admitir que estamos diante de algo realmente muito excepcional nos dias de hoje! Julio Schwan
[8] Hostile Inc. Qiyamat Independente
Bandas como o Hostile Inc., de Fortaleza, convencem-me cada vez mais de que competência
[8] Sam Alone Dead Sailor Raging Planet
Sam Alone é um nome novo, mas a pessoa por trás dele já está na cena há tempo. Quem? O Apolinário (mais conhecido como “Poli”), da banda portuguesa de Hardcore Devil In Me. Entretanto, o som do Sam Alone, como sugere a bela capa, é um countryzão no melhor estilo americano, aquele que quando se escuta dá para imaginar o cara tocando e cantando a música num boteco qualquer do Texas. Carregadas principalmente pela marcante e expressiva voz de Poli, bem como do eterno companheiro violão, as músicas ainda apresentam guitarra, harmônica (gaita de boca), bateria e percussões, entre outros, tudo muito equilibrado pela tracklist, deixando o disco soando bem variado do início ao fim. É difícil sintetizar através das minhas humildes palavras o que Poli conseguiu fazer. Tente imaginar a letra mais sincera que você poderia escrever sobre o mundo ou sobre si mesmo. Pense em acordes de violão que encaixam-se perfeitamente nisso. Para finalizar, cante sem medo ou vergonha, literalmente solte a voz. Consegue imaginar tudo isso? Pois bem, ele conseguiu fazer exatamente isso. Esse mar de sentimentos são perfeitamente expressados no refrão de “Deathproof”, na letra e na harmônica de “Demons” e na altamente influenciada por Johnny Cash, “Pills and Ghosts”. Se você procura por uma música que seja adequada para ir refletir sobre sua vida ao olhar o pôr-do-sol, ou simplesmente fumar um cigarro e beber um Jack Daniels - por sinal, há uma citação referente a esse sagrado whiskey em “Sinner” -, Dead Sailor é a melhor opção. Julio Schwan
é uma qualidade independente de proveniência. Oriundos de uma cidade, que apesar de ser um dos grandes centros de sua região, não tem muita tradição na cena Metal brasileira, este sexteto cearense surpreende. A própria existência da banda desde os idos de 1996, já é por si só um indicativo forte de que não se trata aqui de uma banda qualquer. Praticantes de um Death Metal repleto de melodias e harmonias bem trabalhadas, o grupo apresenta “Qiyamat”, seu álbum de estréia. O debut em questão é uma obra grandiosa, enaltecida por sua versatilidade, comprovável em “In Vitro”. A sexta faixa do álbum se caracteriza por seu andamento muito similar ao de “Mass Hypnosis” (Sepultura) e mesclado ao famoso triângulo do forró (uma prova de que o metal brasileiro não ignora a pluralidade de sons existentes no país). Por trás de tudo isso, estão: o uso constante de teclados por Nathiel Souza, o que acaba conferindo uma beleza fúnebre às composições; a dupla de guitarristas Yuri e Franzé (recentemente substituído por Júnior Maia), que cria os alicerces de toda a música do grupo; a precisão e velocidade das batidas de Saulo Oliveira; e também o acabamento final do baixo de Adriano Abreu. Mac Coelho (um dos fundadores da banda) fecha o conjunto revelando-se um exímio vocalista. Seu virtuosismo é tamanho que pode-se comparar sua técnica vocal à de Daniel Filth sem muita margem para exagero. Por A + B o Hostile Incorporation prova que “Qiyamat” é item obrigatório para admiradores de música bem feita. Paulo Vitor
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resenhas [8] Six Feet Under Death Rituals Metal Blade
Os quinze anos de estrada fizeram bem ao Six Feet Under, tão bem que no decorrer da linha do tempo o que era um projeto paralelo de Chris Barnes do Cannibal Corpse e Allan West do Obituary, se firmou como uma das bandas de Groove Death Metal mais respeitadas da cena. “Death Rituals” oitavo full-length do SFU, conta com a experiência adquirida pelos integrantes, o que rendeu um trabalho realmente cru e cativante. Me arriscaria a dizer que o resultado pode ser intitulado como um verdadeiro e puro álbum de Death Metal americano. Se investigarmos o caminho musical escuro, podre e demente trilhado pela banda, é fácil notar a notável persistência em evidenciar um nível técnico perturbador e uma energia frenética que faz toda a diferença em cada faixa do registro. A fúria de “Death Rituals” nos trás a mente trabalhos soberbos da banda como “Haunted”, “Warpath” onde havia a importância da variedade e dinamismo de cada música. Hoje é fantástico ver uma banda do naipe do SFU misturando o caráter Punk Rock, com as guitarras Grindcore insanas e a levada mais Thrash, isso faz com a banda permaneça num nível muito acima da maioria das bandas de Death Metal da atualidade. O incrível é que mesmo variando de inspiração e vibração, “Death Rituals” tem uma fórmula única onde facilmente encontramos todos os ingredientes presentes nos outros discos do gênero enriquecido com com uma dose cavalar de velocidade, muitos, mas muitos blastbeats e a inconfundível e perigosamente devastadora voz de Mr. Chris Barnes (isso nenhum outro tem, sem dúvida). Posso destacar como as melhores faixas “Into the Crematorium”, “Shot In The Head”, “Killed In Your Sleep” e “Murder Addiction”. Um álbum dinâmico, sombrio, atraente e pegajoso, onde mais uma vez o SFU investe em um Death Metal sujo e sem barreiras, dando-lhe um lugar entre os grandes lançamentos do estilo no ano. Com certeza vale a pena conferir. Odilon Herculano
[7] Heavenwood Redemption Recital
Exactamente 10 anos depois do seu último lançamento, “Swallow”, Heavenwood regressam com “Redemption”, o terceiro álbum de originais destes veteranos oriundos de Vila Nova de Gaia. Seria difícil resistir ao intervalo de tempo entre o lançamento dos dois álbuns e às várias mudanças no lineup, sem que tudo isso afectasse o som da banda, agora reduzida a um trio. Gravado nos Ultrasound Studios, com os produtores Daniel Cardoso (que foi tambem o baterista neste álbum) e Ricardo Dias, e masterizado nos Fascination Street Studios, em Örebro (Suécia), por Jens Bogren (conhecido pelos seus trabalhos com varias bandas “grandes” da cena extrema euro-
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péia, como Opeth, Amon Amarth e Soilwork), “Redemption “ tenta recuperar o reconhecimento que a banda obteve no final dos anos 90, altura em que chegou a fazer digressões européias com bandas como In Flames, Theatre of Tragedy e Atrocity. O som de “Redemption” pode ser definido como Rock/ Metal Gótico, com influências mais extremas a surgir ocasionalmente ao longo dos quase 55 minutos que compõem o álbum. Um dos pontos “fortes” deste lançamento, é a qualidade das guest appearances: Jeff Waters, vocalista/ guitarrista dos canadianos Annihilator, na faixa “Bridge to Neverland” , na faixa “One Step to Devotion” Gus G, o guitarrista virtuoso que já esteve envolvido em vários projectos, como Nightrage e Firewind, e Tijs Vanneste, vocalista dos belgas Oceans of Sadness, que faz a sua aparição na faixa “Obsolete”. A nível sonoro, como já referi, “Redemption” soa bem diferente do que a banda tinha lançado anteriormente, e o excelente trabalho de produção ajuda a reforçar isso mesmo, conferindo força e potência ao som midtempo da banda. Apesar de não fazer nada de revolucionário ou verdadeiramente inovador, a banda varia q.b. , fazendo com que os onze temas que compõem “Redemption” sejam igualmente fortes e interessantes. Em resumo, este é um regresso que merece ser assinalado, que mostra uns Heavenwood em muito boa forma. Bruno Pereira
[7] Gojira The Way Of All Flesh Listenable/ Major Label Ind.
Muita expectativa se criou sobre o novo trabalho da banda Francesa Gojira intitulado “The Way Of All Flesh”, talvez tal expectativa tenha se criado pela inusitada participação do vocalista e guitarrista da banda Mr. Joe Duplantier como baixista do Projeto dos irmãos Cavalera. Especulações a parte, a banda trabalhou duro na composição das 12 faixas que formam o registro. Como sempre o som da banda é um mix de Death/Math Metal enriquecido por toneladas de vitaminas provenientes de elementos extremamente progressivos e experimentais. Logo na primeira faixa, “Oroborus” os franceses ostentam um trabalho de guitarras deveras criativo com baixo encorpado e bateria quebrada aliando-se à a voz agressiva de Duplantier, deixando muito evidente a influência maciça de bandas como Meshuggah no som dos cara. E por falar em ritmos quebrados a faixa seguinte “Toxic Garbage Island”, faz uso ostensivo dele, com um turbilhão de riffs pesados para complementar. O álbum conta também com a participação especial do vocalista Randy Blythe do Lamb Of God na faixa “Adoration for None”. As letras bem trabalhadas sempre foram uma constante na carreira da banda, mas um detalhe chama atenção para “The Way Of All Flesh” é a inclinação para o lado mais sombrio tanto nas letras como expressado na parte instrumental, segundo Duplantier, a mudança foi inspirada na destruição dos recursos naturais do planeta que ocorre pelas mão da própria humanidade de forma tão indiscriminada. Enfim mesmo “The Way Of All Flesh” sendo um álbum de qualidade, não foi suficiente para superar o ótimo “From Mars To Sirius”, mas a audição do registro vale muito a pena, vamos lá experimente! Odilon Herculano
[6] Cripple Bastards Variante Alla Morte Feto
Deixando de lado todo o conteúdo humorístico de seu último álbum, “Desperately Insensitive” (2003), os italianos mal-educados voltam mais pesados e sérios do que nunca. Isso se deve principalmente a Fredrik Nordström, o encarregado da produção, que já trabalhou com nomes como At The Gates e Dimmu Borgir. Algo bem raro para uma banda de Grindcore/Powerviolence que sempre prezou pelas produções mais despojadas e sujas. Talvez o fato tenha ocorrido por exigência de Shane Embury (Napalm Death), dono do selo pelo qual o álbum está sendo lançado, mas é só uma hipótese. “Variante Alla Morte” nos apresenta 24 faixas (se bem que cometem a barbaridade de tocar menos de 5 segundos em 7 destas), revezando entre o Grindcore puro e algo mais trabalhado no ramo do Death Metal. Como não poderia deixar de ser, os 3 tipos de vozes (gutural profundo, rasgado de doer a garganta do ouvinte e o gritalhão raivoso) continuam presentes, desta vez esbravejando tudo em italiano, no mesmo clima do “Misantropo a Senso Unico”. Infelizmente, não passa a mesma empolgação dos demais álbuns, justamente pela produção séria, a qual não se diferencia da maioria das bandas que aparecem quase diariamente. Pelo tempos que ficaram sem lançar um CD (veja bem, lá se vão 5 anos!), o nivel das composições poderia ser bem melhor. Lançar um ou outro EP nesse intervalo de tempo não alivia em nada. Essas se impõem entre algumas outras que oscilam entre picos altos e baixos.E lá se vai mais um álbum na discografia dos bastardos cujas atividades iniciaram em 1988. Marca pela inovação na produção, muito mais sólida e pesada, porém peca pela qualidade e seriedade das composições, as quais darão um choque na maioria dos fãs. Julio Schwan
[1] La Quiete La Quiete Independente
O que leva uma banda a modificar radicalmente o seu estilo de criar e tocar música? A gravadora ou o selo? A popularidade? Falta de inspiração? Pura e simples vontade de fazer algo diferente?Inúmeras são as “opções”, todavia não se encontra nenhuma plausível para justificar a decaída brusca dos italianos da La Quiete.O que era um Screamo (o real) misturado com emoviolence (Powerviolence com letras emotivas, sim, isso existe!), virou um sonzinho leve e simples, sem gritos, sem bases velozes, sem blast-beat na bateria e sem caoticagem. Melhor dizendo: vazio ao extremo! Para piorar, lançam o vinilzinho com apenas míseros 8 minutos. Quanto às músicas, não há o que comentar, a não ser que há muita banda amadora fazendo algo mais profissional. Você quer ouvir música boa vinda dessa banda? Escute o álbum “La Fine Lon È La Fine”, ou qualquer um dos splits que eles lançaram com bandas como Louise Cyphre ou Catenna Collapse. Julio Schwan
ao vivo The Band Apart/Before The Torn/All Emotions Day/Thirteen Degrees To Chaos Musicbox 03/10/08 Lisboa (Por)
The Band Apart
Before the Torn
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Em chamas! Foi assim que quase terminou a visita da banda espanhola The Band Apart a Portugal. Ok, é exagero. Antes do início do concerto, iniciou-se um pequeno incêncio no edifício ao lado do Musicbox, que foi logo controlado pelos bombeiros. Isso não interferiu na entrada do pessoal que estava lá para passar uma bela noite de Sexta-feira ao som de música extrema. Já com todo mundo são e salvo do lado de dentro, a primeira das três bandas portuguesas a iniciarem o espetáculo, subiu ao palco. Já há aproximadamente um mês havia visto o Thirteen Degrees To Chaos, juntamente com o All Shall Perish (resenha na HORNSUP #3). Não sei se foi a acústica da sala ou apenas impressão, mas pareciam bem mais encorpados. Exploram o Death Metal melódico com uma abordagem mais moderna, mas que não deixa de lado a forte influência dos clássicos. Prova disso foi o cover bem escolhido de “Slaughter Of Soul” do At The Gates. Causaram melhor impressão do que da vez anterior. Espero que esse efeito seja progressivo. Caótico e dissonante, o All Emotions Day apresenta uma sonoridade que, a príncipio do concerto pareceu desconexa, mas que depois, com o avançar das músicas, se tornou mais clara. Um cruzamenento estranho e estridente de Screamo com Death Metal. Pena só haver uma faixa no Myspace, o que limita um contato maior com a banda. Apesar de algo confusa, foi uma boa apresentação, tirando o exagerado entusiasmo do vocalista que a cada intervalo entre as músicas agradecida ao produtor, ao público e mais qualquer um que lhe viesse a cabeça. Já com alguns anos de estrada e prestes a lançar seu primeiro álbum, “6 Days...And A Crushed Chest”, o Before The Torn, logo de início, já apresentou uma grande energia em palco. O público que esteve parado até então, começou a dar seus primeiros passos de “dança” ao som do Metalcore cadenciado e de grosso calibre. Além das novas músicas, tocaram também algumas (ou uma ao menos) do EP “Behind Every Treason”, de 2004. O novo álbum promete e o Before The Torn conseguiu asseguar os presentes com relação a isso. O The Band Apart foram os vizinhos espanhóis incumbidos de encerrar a noite. Apesar de gozarem de uma popularidade menor que as bandas locais, não se deixaram intimidar e despejaram na audiência sua agressiviade adicionada a atitude “core”. O seu Deathcore se assemelha muito ao estilo praticado por bandas como Emmure, The Acacia Strain ou Ligeia. Portanto, que se ouviu foi uma avalanche de breakdowns super pesados, graves e compassados. Apesar do esforço do vocalista em animar o público, parecia que as pessoas não estavam muito a fim de “moshar” (aliás, esse estranho desânimo ocorreu durante todas atuações da noite). De qualquer maneira, deram tudo no palco: pularam, correram de um lado para outro e até desceram para a pista. Uma banda de Deathcore espanhola que apresenta uma qualidade similar as bandas americanas citadas anteriormente. O pessoal é que podia se mexer mais, não é? Matheus Moura Fotos: Pedro Roque
Millencolin
Millencolin Espaço das Américas 11/10/08 São Paulo (Por) A banda que no início dos anos 90 foi formada em torno de uma paixão pelo skate e também por isso tem nos praticantes e admiradores do esporte das rodinhas o seu maior público, voltou pela terceira vez ao Brasil na tour do mais recente CD, o “Machine 15”, com shows em Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre. Em São Paulo, a banda tocou no imenso Espaço das Américas, o que fez com que o local parecesse “vazio” para a quantidade de pessoas presentes. Belle, Fake Number e 35mls foram as responsáveis por abrir o show e conseguiram contagiar a platéia que, claro, aguardava para ver os suecos novamente em ação. Com 50 minutos de atraso, muita gente de banda circulando pela área vip e no público, a banda abriu o show de cara com “Penguins and Polar Bears”, um dos maiores clássicos cantado com muita vontade pela galera. Na sequência “Machine 15” , música título do já citado novo álbum. O show seguiu forte e agitado, com destaque para o guitarrista Mathias Farm - muito eufórico durante todo o show e por vários momentos subia em cima da bateria para tocar e chamar o público para agitar.
o show mesclou as novas músicas com clássicos de todos os outros álbuns, priorizando os hits, entre eles “No cigar” e “Fox”. A música “The Ballad” foi tocada ao violão pelo vocal, e ele fez uma introdução com “La Bamba” (sim, aquela clássica). Mas os momentos de maior empolgação da platéia foram em “Black Eye” e “Battery Check”, as duas do “Home from Home”, de 2002. Uma surpresa foi “Dance Craze”, gravada no primeiro álbum, o “Same Old Tunes”. Apesar do atraso e de umas falhas no microfone do vocal, a banda estava satisfeita, mas certamente a performance teria sido mais contagiante e intensa num local menor. Depois de uma pausa, voltaram para o bis de quatro músicas, entre elas “Kemp” que fechou o set de 22 músicas deixando a galera ainda com gosto de quero mais. Em entrevista dias antes do show, o vocal e baixista Nikola Sarcevic disse: “A única coisa em comum que temos é o amarelo na bandeira e que amamos o Punk Rock. E a Suécia não é tão legal quanto o Brasil”. Sinal de que a paixão é recíproca e que estaremos sempre na rota das tours dos caras. Andréa Ariane Foto: Rafael Melo
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Mudhoney
Mudhoney/MQN Clash Club 16/10/08 São Paulo - SP (Bra)
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Depois de sua última passagem em 2007, o Mudhoney voltou à São Paulo, na mesma Clash Club para matar as saudades dos fãs. Essa é a terceira vez deles no Brasil: a primeira em 2001 e em 2005 abrindo todos os shows do Pearl Jam por aqui. O vocal Mark Arm ainda voltou também em 2005 para tocar com o MC5 no festival Campari Rock. Quem teve a missão de dar início à festa foi o MQN, banda de Goiânia/GO, que tem. Fabrício Nobre, dono da Monstro Discos e agitador cultural como líder e vocal. A banda é sempre muito boa ao vivo, tocando seu rockão sujo e pesado numa mistura explosiva de Stones com Stooges ou, como eles definem , o seu rock louco e vagabundo. Além dos sons próprios como “Breakin crystal stones”, “Electrify” e “Buzz in my head, escolheram para fechar com “Poisoned Water”. Sim! Um som do Mudhoney, que segundo Fabrício, não estava no set escolhido pelos caras. Está versão faz parte do recém-lançado tributo ao Mudhoney intitulado “March to Sickness”, que conta com 17 bandas brasileiras entre elas Autoramas, Mechanics e Pitty. Numa troca rápida de palco, os donos da noite chegam para comemorar seus 20 anos de estrada desfilando seus hits e sons do mais
novo trabalho, lançado esse ano, “The Lucky Ones”, não lançado pela tradicional SubPop (gravadora que também comemora seus 20 anos e foi fundamental para o surgimento e divulgação do grunge) e sim pela Inker. Deste novo, tocaram a faixa título e a já hit “I´m Now”. O público foi ao delírio em “You Got It”, seguida por “Suck You Dry”. “Into to Drink” e o hit máximo “Touch me I´m sick” também colocou todo mundo para cantar. Esta última foi, sem dúvida, o ponto alto do show. Se alguém ainda precisava dessa certeza, está mais do que explicado porque essa banda foi percurssora de todo o movimento que chacoalhou o mundo nos anos 90 e fez com muitas bandas surgissem bebendo nessa fonte eterna de atitude. O guitarrista Steve Turner, o baixista Guy Maddison e o batera Dan Peters soam tão intensos quanto anos atrás, enquanto o vocal Mark Arm fica cada vez mais parecido com Iggy Pop, mas numa versão mais saudável e menos performática. Uma das últimas do set foi “In out of Grace” que terminou com guitarras distorcidas e um drum solo sensacional. Se chegam à maturidade como banda com todo esse gás, que venham mais 20! Andréa Ariane Fotos: Caio Paifer
Reel Big Fish
Reel Big Fish/goldfinger Via Funchal - 30/10/08 São Paulo (Bra) Depois de vários shows que presenciamos em 2008, dos mais variados estilos, dia 30 de Outubro foi a vez do Ska Punk tomar conta do Via Funchal - em São Paulo, com o festival Jagermeister Rock que trouxe pela primeira vez ao Brasil os esperados Goldfinger e Reel Big Fish. Ambas as bandas são pertencentes da geração mais recente do movimento “Third Wave Ska” ao lado de nomes como Mighty Mighty Bosstones, Less Than Jake e Sublime. A característica predominante desse movimento é a mistura do Ska Jamaicano com vários outros estilos de música americanos e britânicos como o Punk Rock, Hardcore, Jazz, Rock, Pop e o 2 Tone. No caso de Reel Big Fish e Goldfinger, temos o Ska-Punk ou Ska-Core, como preferirem. Para a abertura da noite, a banda escalada foi o SapoBanjo que representa muito bem o Ska aqui pelas terras brasileiras. Infelizmente, a casa demorou a se aquecer e a banda acabou tocando para um público muito pequeno. Mas isso não pareceu ser um problema para os caras da banda, fizeram um show impecável - e curto como já esperado - com direito a um cover da música “Sound System” da clássica banda Operation Ivy. A banda Goldfinger, formada em 1994, pelo carismático vocalista e produtor John Feldmann, subiu pontualmente ao palco enquanto o público gradativamente – e lentamente – ia tomando seu lugar para assistir a apresentação. Meio a histeria era possível ver
várias pessoas segurando balões vermelhos, referencia à música “99 Red Balloons”, hit absoluto da banda e cover da cantora Nena. Abrindo com “Spokesman” a banda parecia muito animada, talvez até demais, muitas vezes parecia até forçado de tanto que a banda “zoava” em cima do palco. Não que isso não seja sinal de presença de palco, mas saber dosar sua postura é essencial para uma banda, afinal há pessoas pagando para assistir ao concerto e não macaquices. Seguindo com o show, os caras fizeram praticamente um “Best of ”, o que foi muito bom já que foi a primeira vez que apareceram aqui pelo Brasil. Mandaram “Open Your Eyes”, “Here In Your Bedroom”, “Counting The Days”, “Get Up”, o clássico “Superman” e claro “99 Red Balloons”. Um momento memorável a ser citado, foi quando o baterista Darrin Pfeiffer pulou para frente do palco, pegou o microfone e começou a interagir com a platéia enquanto a banda tocava normalmente – e o roadie tocava sua bateria. Fazia gestos obscenos para as garotas, agradecia pela presença de todos, deu um mosh no público para ensinar como fazer uma “roda punk”, subiu novamente no palco com um tênis na mão... cheirou, disse que estava fedido e finalmente pediu à um dos roadies que lhe trouxesse uma lata de cerveja. Foi então que ele virou a lata de cerveja no tênis, bebeu, mostrou a bunda, agradeceu mais uma vez e voltou pra bateria para finalizar o concerto. Sem muita enrolação a banda mais aguardada da noite está pronta para subir ao palco. O Reel Big Fish por sua vez enfrenta a casa cheia, diferente das demais bandas.
Goldfinger
A euforia tomava conta do lugar, quando os californianos liderados por Aaron Barrett disparam “Trendy” contra a platéia. Simpáticos e elétricos, o sexteto segue com as clássicas “Everything Sucks”, “I Am Her Man”, “I Want Your Girlfriend to be My Girlfriend Too”, “Your Guts”, um intermission com a música “Enter Sandman” do Metallica, o mais recente cover,a ótima - “Another Day In Paradise” de Phil Collins, “Beer” e claro “Sell Out” e “Take On Me”. Uma baita presença de palco e uma aula de como levantar a platéia foram as maiores características do show do Reel Big Fish, que terminou com um gostinho de quero mais. Uma discussão foi bastante ouvida durante os shows, parecia haver uma concorrência entre as duas bandas por parte do público que parecia bem dividido quanto à preferência das duas bandas gringas. Muitos não entenderam o porquê do Reel Big Fish ter sido a atração principal do mini-festival, mas a resposta foi dada durante a apresentação que não deixou nada a desejar. Luiz felipe Leite Fotos: Charline Messa
hornsup #4
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ao vivo
August Burns Red
For The Glory
August Burns Red/For The Glory/Before The Torn/One Hundred Steps Caixa Económica Operária 08/11/08 Lisboa (Por) A porção portuguesa da turnê européia da banda americana August Burns Red foi divida em 2 concertos, um no Porto e o outro em Lisboa. Sobre o último, diz respeito a seguinte resenha. Uma Caixa Económica
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hornsup #4
Operária com um bom público presenciou o descarrego Metalcore proporcionado pelo August Burns Red em sua estréia no país. Apesar de já estarem nessa turnê há algum tempo, os americanos não demonstraram sinais de cansaço e deram o sangue em palco do começo ao fim da apresentação. O público respondeu a altura com um moshpit nervoso. O setlist foi composto por faixas do seus 2 álbums. “Barn Burner”, “Composure”, “Your Little Suburbia Is In Ruins”, “Endorphins” e “The Eleventh Hour” quase botam abaixo o prédio. A banda demonstrou grande competência técnica, peso e presença de palco, envolvendo todos os presentes no seu espetáculo. Não houve momentos
de descanço, nem sequer muita conversa com o público. Estavam aí para tocar e foi o que fizeram. Além dos americanos, tivemos a presença de 3 bandas portuguesas encarregues da abertura. Para dar início as festividades, o One Hundred Steps sobe ao palco. Já fazendo a promoção do seu novo álbum, “Human Clouds” que sai em 2009, a banda setubalense era a menos enquadrada em relação ao restante, mesmo assim se portaram-se bem, apesar de alguns problemas técnicos. A seguir, o Before The Torn já começa a fazer o aquecimento do pessoal. É outra banda prestes a lançar um novo álbum e que tem feito uma série de concertos locais. Seu Metalcore bruto e potente empolgam e fazem surgir os primeiros stage dives. Estamos a espera de “6 Days.. And A Crushed Chest”. Para finalizar as apresentações das bandas locais, nada melhor que um das melhores nomes do Hardcore no país, For The Glory. A cada vez que os vejo estão melhores e a arrebanhar mais e mais fantáticos seguidores. O vocalista Congas, agora a defender o título da categoria “peso pena”, mantémse comunicativo com a audiência. Com total suporte dos presentes entoaram seus hinos e despoletaram uma cadeia insana de stage dives e rodas. O encerramento com “Survival Of The Fittest” fechou com chave de ouro a prestação das bandas portuguesas e deixou o público “no ponto” para o August Burns Red. Louvável a coragem e organização da RDR Live em trazer bandas desse estilo, que tendem a chegar ao país vizinho e dar meia volta. Quem venham mais. Matheus Moura Fotos: Pedro Roque
ABC PRO HC 12 Salão Social do Palestra Itália 15/11/08 São Paulo (Bra) Como já virou tradição no meio independente, o ABC PRO HC é sempre um dos Festivais mais aguardados do ano, e essa 12ª edição não foi diferente. Repetindo o local da edição anterior, o ABC PRO HC deixou o local de origem de seu nome, o ABC Paulista, para acontecer na cidade de São Paulo, no Salão Social do Palestra Itália, no dia 15 de Novembro, feriado nacional. A estrutura era idêntica à da edição anterior: 2 palcos, um de frente para o outro e um espaço reservado para o merchandising das bandas, mas a diferença foi um espaço reservado para a grife de roupas Atticus que usou o Festival como divulgação para sua estréia no Brasil. A maratona de 12 horas de shows, com 20 bandas se revezando nos 2 palcos começou por volta das 11h30 da manhã e terminou em grande estilo com a atração internacional New Found Glory, que tocou pela primeira vez em terras brasileiras. As primeiras bandas, Discobox, 4 While, Garbbo, Erotic Toys, La Raza, Nock 37, Fence, Acne e Quarter tocaram pra um público ainda pequeno, mas bastante animado e empolgado. Por volta das 16h00 é que o público chegou em maior número para conferir a performance das bandas Ponto Zero, Fake Number, Catch Side, e os veteranos do Garage Fuzz e do Nitrominds. Com uma lotação considerável, mas ainda longe da máxima, subiram ao palco as bandas Envydust, Dance Of Days, Hateen e Cueio
Limão, todas com shows e repertórios já bastante conhecidos da maioria do público, mas que tocavam como se fosse a primeira vez no Festival, sempre acompanhados em coro pela galera que assistia. Já era por volta de 21h00 quando as duas principais atrações nacionais do Festival começaram a tocar: Granada e Glória. As duas bandas já são veteranas do Festival e muito conhecidas no meio independente, levando sempre o público ao delírio, com alguns gritinhos de “Lindo” e “Eu te amo” podendo ser ouvidos durante os shows.Lugar lotado, público ainda cheio de energia e a tão aguardada atração sobe ao palco: New Found Glory. Seu segundo show no Brasil (o primeiro aconteceu na cidade de Santos, na noite anterior) foi recheado de sucessos. A setlist foi: “Understatement, Truth Of My Youth”, “Sucker”, “All Downhill From Here”, “Better Of Dead”, “Something I Call Personality”, “Hold My Hand”, “Failures Not Flattering”,
“Iris”, “Dressed To Kill”, “Kiss Me”, “Head In Collision”, “I Don’t Wanna Know”, “Hit Or Miss”, “It’s Not Your Fault”, “Forget My Name”, “Sonny”, “Intro” e “My Friends Over You”. No meio de um show excelente, com bastante empolgação por parte da banda e do público, os caras ainda deram um show de simpatia e colocaram um garoto cadeirante em cima do palco, levando a galera ao delírio. Com direito ao vocalista Jordan vestindo uma camisa do Brasil e gestos obscenos ao alto a pedido do guitarrista Chad que disse: “Demoramos muito tempo pra vir até aqui embaixo. Quero que agora todos mostrem o dedo do meio pra gente por causa disso”, o New Found Glory fecha uma noite de Hardcore no melhor estilo, deixa saudades e promete “nos vemos no próximo ano”. Estamos todos aguardando. Charline Messa Foto: Luiz Felipe Leite
New Found Glory
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ao vivo
P.O.D. Kazebre 22/11/08 São Paulo (Bra) Esteve recentemente no Brasil, o P.O.D., banda de New Metal cristão ou White Metal - como eles preferem ser rotulados - para uma bateria de cinco shows pelo Brasil, na divulgação de seu novo álbum “When Angels & Serpents Dance”. Não é de se surpreender que muitas bandas escolham o Brasil como palco para shows quando não estão mais em sua melhor fase, pois sabem que enquanto todos os lugares do mundo já não agüentam mais ver o mesmo concerto de sempre, no Brasil sempre vai ter bastante gente para isso. Foi uma surpresa geral quando a banda de Sonny Sandoval confirmou várias datas por aqui, parecia muito mais boato do que outra coisa. Mas vamos deixar isso pra lá, afinal de contas a idéia de assistir ao Payable On Death ao vivo é empolgante. E realmente foi. Sonny – agora sem seus Dreadlocks, Marcos Curiel – de volta ao time, Wuv Bernardo e Traa Daniels estão completamente em forma, com uma presença de palco impecável. Iniciando o show com os dois pés no peito, a ótima “Boom” fez com que a platéia fosse à loucura. Seguindo com clássicos como “Set It Off ”, “Youth Of The Nation”, “Satellite” a nova “Shine With Me”, e os melhores momentos durante as músicas “Southtown” e o hit absoluto “Alive”, onde o vocalista
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hornsup #4
parecia hipnotizar a platéia como um pastor pregando para seus fiéis. Entre orações e louvores – com direito até a um terço enrolado no microfone de Sonny, os membros da banda sempre muito simpáticos e comunicativos com a platéia gastavam todos os clichês, declarações e elogios ao Brasil, chamavam os presentes de “family” e até um “família” arrastado em portunhol. Nem a péssima escolha do lugar, a terrível organização e a opção dos organizadores – contrariando a vontade da banda – de colocar o P.O.D. para tocar às 3 horas da manhã fizeram com que o ânimo de todos os presentes acabasse. No final do concerto, logo após voltarem para mais duas músicas no “bis” a banda foi do palco, direto para a van e partiram rumo ao hotel. Particularmente não posso negar que foi tudo meio estranho, o ambiente, o clima do show, mas valeu a pena todos os vacilos da noite e vê-los tocando. O melhor de tudo foi extrair do show aquele saudosismo do final dos anos 90, do movimento que era amado e odiado por muitos com a mesma intensidade, que era o New (Nü) Metal e todas aquelas bandas que, querendo ou não, deixam saudades. Luiz Felipe Leite Fotos: Charline Messa / Luiz Felipe Leite