Revista HdF Nº12

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perfis saudáveis

www.hospitaldofuturo.com

director: Paulo Nunes de Abreu

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Maria de Belém Roseira

N.12 | ANo V | QuAdrimestrAl | juNho 2010 | 4,00€

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CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS entrevista

tecnologias da saúde

gestão & economia

Germano de Sousa fala sobre o estado da Saúde em Portugal e a experiência na Universidade Lusófona

Realidade Virtual na Psicologia, novo método de ultrapassar fobias

A Enfermagem do Século XXI O Enfermeiro que faz acontecer

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Índice Editorial p. 4

Perfis Saudáveis

Beatriz Quintella, Ivone Vilaça, Maria de Belém Roseira, Torcato Santos p. 5

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Destaque

Cuidados de Saúde Primários: As duas faces da reforma p. 7

Entrevista

- Concorrência entre público e privado elimina desperdício, Germano de Sousa, Director do Colégio de Estudos Pós-Graduados da Universidade Atlântica p. 13 - “Benefícios do trabalho dos psicólogos não são conhecidos”, Telmo Baptista, Bastonário da Ordem dos Psicólogos p. 15

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Hospital do Futuro

Hospital Júlio de Matos: Promover a humanização e a autonomia dos utentes p. 17

As Novas Tecnologias na Saúde Realidade Virtual na Psicologia p. 19

Saúde Ibérica

- Controlar a doença através da Web 2.0, Hospital General de Valencia p. 21 - Musicoterapia para crianças com cancro, Hospital del Niño Jesus p. 22

Antibióticos

Quando os antibióticos não curam p. 23

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Gestão & Economia

A Enfermagem do Século XXI – O Enfermeiro que faz acontecer, Nelson Guerra, Associação Portuguesa de Enfermeiros Gestores e Liderança p. 26

Debate

- Saúde-em-Rede: O Cidadão e o Sistema de Saúde p. 28 - Eficiência e qualidade na saúde p. 30

Diabetes

Diminuir as amputações nos diabéticos p. 31

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Termalismo

Termas oferecem saúde física e mental p. 33

FICHA TÉCNICA Director: Paulo Nunes de Abreu

Redacção: Joana Branco (Edição), Maria João Garcia

Fotografia: André Roque, David Oitavem, José Paulo

Design e Paginação: Nuno Pacheco Silva

Sede da Redacção: GroupVision Serviços Editoriais e de Educação Pólo Tecnológico de Lisboa Edifício Empresarial 3 1600-546 Lisboa Tel: 217 162 483 - Fax: 217 120 549 hdf@groupvision.com

Colaboram neste Número: Beatriz Quintella, Presidente, Operação Nariz Vermelho; Ivone Vilaça, Enfermeira-Directora, Instituto Gama Pinto; João Primo Cardiologista e Electrofisiologista, Presidente da Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia; Maria de Belém, Deputada, Assembleia da República; Nelson Guerra, Associação Portuguesa de Enfermeiros Gestores e Liderança; Torcato Santos, Presidente do Conselho de Administração, Unidade Local de Saúde de Matosinhos.

Conselho Redactorial: José Ávila da Costa, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna; Manuel Correia, Presidente Conselho Directivo Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa; Pedro Barosa, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar; Verónica Rufino, Presidente, Associação Portuguesade Apoio à Mulher com Cancro da Mama.

Entidade Proprietária e Editor: GroupVision Serviços Editoriais e de Educação

Nº Contribuinte: 507 932 366

Tiragem: 8.000 exemplares

Cardiologia

Morte Súbita: sem socorro imediato a vítima de paragem cardíaca morre em 95% dos casos, João Primo Cardiologista e Electrofisiologista, Presidente da Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia (APAPE) p. 35

Opinião

Que palhaçada é esta? Beatriz Quintella, Presidente Operação Nariz Vermelho p. 37

Perspectivas 37

Modelo Logístico Integrado EKANBAN e EKANBAN PHARMA na HPP – Hospital de Cascais p. 39

Periodicidade: Quadrimestral

Nº Registo no ICS: 124679

Depósito Legal: 230918/05

Impressão e Acabamento: Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas S.A., Rua Consiglieri Pedroso, nº90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena

Distribuição: Logista

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editorial

N. 12 | juN. 2010 | Hospital do Futuro

Paulo Nunes de Abreu Director da Revista Hospital do Futuro

O polegar do imperador

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Pois infelizmente, parece que esta tendência persiste nos dias de hoje. Simplesmente onde antes existia a figura do imperador hoje essa é substituída pela

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Em regimes onde os cidadãos são quem elege democraticamente os seus governantes, a opinião pública é quem mais ordena.

Fonte: istockphoto.com

uma anterior União Europeia (eu diria até euromediterrânica) ocorriam com periodicidade uma espécie de exercícios colectivos que funcionavam como “descompressor” de tensões acumuladas no dia-a-dia, o chamado Circo Romano. Nenhum historiador poderá colocar em dúvida a enorme interactividade que ocorria nesses tempos, onde os espectadores faziam parte do espectáculo e em certa medida até podiam condicionar os seus resultados. Quando o último gladiador tinha à sua mercê o seu oponente, o polegar para cima ou para baixo da máxima autoridade que presidia à cerimónia era fortemente determinado pelo clamor da assistência. “opinião pública”. Em regimes onde os cidadãos são quem elege democraticamente os seus governantes, a opinião pública é quem mais ordena.Todos se recordam da insustentabilidade que foi criada em redor da manutenção no governo do ex-ministro da saúde Correia de Campos, fortemente determinada por esse “imperador invisível” - a opinião pública. Se admitimos este cenário e o usamos com fins didácticos, qual será a saída estratégica de um governo, se quiser manter um rumo de actuação próprio e independente da chamada “opinião pública”, sem que isso o prejudique? A resposta é fácil de ver, embora não necessariamente simples. Trata-se de saber gerir a interactividade do público que assiste ao espectáculo e fazê-lo participar no mesmo. Sabemos todos que o “imperador” é sensível ao clamor do público. Tratemos então de envolver esse mesmo

público nas decisões políticas a todos os níveis. Se fazemos uma reforma que afecta a profissionais de saúde, devemos incluir aqui todos os profissionais e sem esquecer as pessoas que fazem parte da “burocracia”, as chamadas forças de bloqueio. As suas razões serão possivelmente infundadas, mas seguramente legitimas. Neste número, damos inicio a uma série que vai dar destaque às recentes reformas de saúde ocorridas em Portugal. Iniciamos com os cuidados primários de saúde. Efectuámos um trabalho de investigação isento que procura transmitir mais que uma imagem, um fotograma de uma realidade que está permanentemente em construção. Os esforços desenvolvidos até aqui foram suficientes? Está esta reforma a produzir ganhos tangíveis em Saúde? A julgar pelo nosso “imperador” os resultados do inquérito de satisfação mostram que o povo está contente.


perfis saudáveis

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N.12

A Revista HdF traz até aos seus leitores os hábitos de quem gere a Saúde em Portugal. Se tiver sugestões, envie para saude@groupvision.com

Beatriz Quintella

José Paulo

Presidente da Associação Nariz Vermelho sada e desanimada, esforço-me para fazer coisas que me dão prazer. Podia fazer-me um resumo do seu dia? Acordo cedo e não funciono antes de tomar uma chávena de café. Meu trabalho é muito activo e variado e envolve reuniões na Direcção da Associação, apresentações aos profissionais de saúde e visitas aos hospitais como Doutora Palhaço. E tenho três filhos que já voaram do ninho, mas continuam a dar trabalho. trabalha quantas horas? Começo cedo, mas não gosto muito de estender o dia de trabalho para mais tarde do que as 18 horas. Acho que temos sempre que reservar tempo para descomprimir. De qualquer forma, com a invenção do e-mail acabamos sempre por fazer horas extra. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde com o seu cargo? Eu cuido muito bem de mim. Trabalhar com pessoas nos hospitais e liderar uma associação com 27 pessoas é sem dúvida muito exigente a nível físico e emocional. Por isso pratico Dança Clássica, caminho muito e faço massagens semanais. Além disso, vou ao cinema, ao teatro e viajo com o meu marido sempre que posso. Faço isso de forma consciente, como se estivesse a tomar um remédio. Mesmo quando estou can-

Como é que lida com o stress? Viajando e mudando de ares. Também sou muito franca e emocional, por isso normalmente expludo e depois acalmo. Tenho tentado explodir menos e acho que com a idade melhorei um pouco. Pratica desporto? Detesto desporto! Mas gosto muito de dançar. Também gosto de caminhar e, este ano, subi com amigos o Monte Kilimanjaro.

Costuma fazer rastreios? Costumo fazer os rastreios do cancro da mama e do colo do útero e levo-os muito a sério. e check-up? Só quando peço dinheiro ao banco é que sou obrigada! sempre teve uma boa saúde? Tenho muito boa saúde desde menina. Sofro de alergias e umas “chatices” leves no estômago, mas de resto nunca fui doente.

tem cuidados com a alimentação? Tenho sempre consciência da minha alimentação, mas por causa do ritmo do meu trabalho nem sempre consigo manter os cuidados que gostaria de ter. Conheço bem a cafetaria dos 11 hospitais onde trabalhamos e, às vezes, brinco dizendo que vou escrever um guia sobre os melhores “restaurantes hospitalares” do país.

Quando era mais nova teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não. A minha mãe sofria de asma e o meu pai era diabético. Da asma escapei! Da diabetes ainda posso ser uma vítima … Os meus pais deixaram-me muitas heranças boas … Se chegar alguma doencinha por via de ADN, eu sobrevivo!

Fuma? Fumo muito pouco, mas fumo. Sou daquelas chatas que nunca tem cigarros … e pede aos outros! Aliás, sempre fico impressionada com a quantidade de profissionais de saúde que fumam! Mas o trabalho é muito stressante e às vezes o vício é uma saída.

Qual foi a pior doença que teve? Lembro-me de ter tido febre tifóide quando era menina. Fiquei de cama muitos dias, vomitava e tinha diarreia. Naquela época, os médicos faziam visitas em casa, por isso não fui hospitalizada. Fiquei na cama dos meus pais. Desta parte eu gostei!

André Roque

Ivone Vilaça

enfermeira-directora do instituto de oftalmologia dr. Gama Pinto

pre “conflitos”e não dou azo a críticas negativas sobre os colegas ou pessoas amigas. Podia fazer-me um resumo do seu dia? Levanto-me às 6 h, saio de casa pelas 7 h e chego a Lisboa pelas 7h30m.Tomo apenas café, pois não tenho hábito de tomar pequeno-almoço. Às 7h50 já estou no Instituto Gama Pinto. trabalha quantas horas? Trabalho uma média de 10 a 12 horas por dia. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde tendo o cargo que tem? Gosto muito de ir ao cinema, ao teatro (mesmo sozinha) e assistir a palestras. Sempre que posso aceito os convites para jantar ou almoçar. Como é que lida com o stress? Tenho o hábito de programar o meu dia de trabalho, mas se surge algum problema (não previsto), “medito” uns 10 minutos. Evito sem-

Pratica desporto? Pratico desporto ao fim de semana. Costumo também fazer caminhadas de cerca de 40 km à beira-mar durante todo o ano. Ando de bicicleta e gosto de dançar. tem cuidados com a alimentação? Tenho muito cuidado. Evito as carnes, enchidos e salgados. Normalmente almoço peixe cozido sem sal com hortaliça, salada de tomate e beterraba. Quanto à fruta, opto pelo kiwi ou pela laranja. Ao jantar como sopa de hortaliça, peixe grelhado com hortaliça e legumes cozidos a vapor. Uso sempre azeite e raramente como fritos e doces. Fuma? Fumei durante uns 25 anos, mas há 12 anos que não fumo.

Costuma fazer rastreios? Sim, faço o rastreio da mama, o ginecológico e da boca. Tenho muito cuidado com os meus dentes. Aliás, tenho-os todos! e check-up? Raramente. O último que realizei foi há 3 anos. sempre teve uma boa saúde? Sim. Em 40 anos de serviço só estive 15 dias de atestado médico por causa de uma pneumonia. Quando era mais nova teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Nunca tive problemas, apenas uma fractura craniana aos 5 anos, por ter caído de um primeiro andar. Qual foi a pior doença que teve? Não tive nenhuma muito grave.

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perfis saudáveis

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André Roque

Maria de Belém Roseira

deputada, Assembleia da república

Podia fazer-me um resumo do seu dia? Uma correria do princípio ao fim. trabalha quantas horas? Há muitos anos que trabalho mais de dez horas por dia. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde tendo o cargo que tem? Tento levar, tanto quanto possível, uma vida saudável.

Como é que lida com o stress? Bem, mesmo muito bem.

Costuma fazer rastreios? Sem obsessão.

Pratica desporto? Não.

e check-up? Não.

tem cuidados com a alimentação? Como um pouco de tudo e começo o dia com um bom pequeno-almoço e, de preferência, o jantar é leve.

sempre teve uma boa saúde? Não me queixo.

Fuma? Não.

Quando era mais nova teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não.

Torcato Santos

Presidente do Conselho de Administração da unidade local de saúde de matosinhos

Podia fazer-me um resumo do seu dia? Procuro levantar-me entre as 6h e as 7h, cuido dos meus animais, faço alguma actividade física antes do banho frio, tomo o pequeno-almoço e saio para o trabalho entre as 8h e as 9h. Sou envolvido em múltiplas reuniões, organizo-me nos processos pendentes, tento responder às mensagens de correio electrónico e estudo documentos. Há prioridades que, uma vez definidas, procuro respeitar. A sensação é que o dia deveria ter mais de 24 horas. Normalmente fico mais sossegado no meu gabinete ao fim da tarde e permaneço activo até às 21h ou mais. O almoço faço habitualmente na cantina dos colaboradores. Chego a casa por volta das 21h30m ou 22h e é tempo de estar com a família. Se o cansaço não me vencer, ainda trabalho mais alguns assuntos pessoais ou profissionais. trabalha quantas horas? Na ULSM, desde que chego até à saída, em média 12 horas. Os fins-de-semana servem para arrumar ideias e completar trabalho profissional com alguma frequência, além de desfrutar do ambiente caseiro e familiar. Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde tendo o cargo que tem? Gosto muito de fazer exercício físico e o início

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da manhã é mágico para isso. Ao fim-de-semana faço exercício mais prolongado de bicicleta e na actividade rural que tenho em casa. Desde há 10 anos que passei a ser vegetariano (com ovos e leite, ainda que pouco), o que me ajuda a evitar alguns factores de risco. Como é que lida com o stress? Lido com a pressão ansiosa de modo filosófico e com o treino mental que o Yôga me deu durante muito anos. É tudo muito simples, mas exige prática continuada, o que habitualmente não fazemos. Ou antes, fazemos ao contrário: sentimo-nos atacados, atacamos e julgamos com muita tensão à mistura, a qual, por si mesma, gera ainda mais conflitos e ficamos infelizes… Importa colocar perdão nos nossos processos, quer aos outros, quer a nós. O corpo pode ser atacado, o nosso ser de Luz não é atacável.

pertensão moderada para ligeira sem outros factores de risco e sem medicação. O meu pecadito são os doces. Fuma? Não e compreendo mal os que fumam. Não sabem o que perdem por não respirarem ar despoluído. O controlo e a consciência da respiração no Yôga são uma poderosa técnica energética e de bem-estar. Costuma fazer rastreios? Análises simples anuais. e check-up? Ainda não. sempre teve uma boa saúde? Sim. Tirando a hipertensão arterial ligeira. Tento cumprir uma ideia que todos devemos ir integrando na medida das nossas possibilidades e conhecimentos: “ A saúde depende si”.

Pratica desporto? O desporto que faço actualmente com mais intensidade é o ciclismo. Deixei as brincadeiras de futebol, canoagem só no Verão, montanhismo e natação esporadicamente. Ultimamente tenho vindo de bicicleta com frequência para Matosinhos.

Quando era mais novo teve alguma atitude ou hábito que lhe tenha trazido problemas de saúde? Não.

tem cuidados com a alimentação? O vegetarianismo, associado à redução do sal, é a principal ferramenta. Com isto e o exercício físico transformei a minha tendência de hi-

Qual foi a pior doença que teve? Na infância tinha muita tosse, que foi tratada com muita penicilina injectável. Fiquei “curado” após suspeita de alergia a este medicamento.


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Fonte: istockphoto.com

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

Cuidados de Saúde Primários A reforma dos Cuidados de saúde Primários ainda não está completa e os cenários são os mais variados. há unidades com sistemas de informação e comunicação avançados e outras onde até falta o esquentador.

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ma realidade complexa, com casos de sucesso e outros menos bons. É assim que a maioria dos profissionais dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) vê a reforma do sector. Reconhecida como um modelo de Boas Práticas pela Organização Mundial de Saúde, a reestruturação dos CSP é “naturalmente um processo complexo e moroso e que decorrerá num período de tempo impossível de

definir”, refere em entrevista à HdF o coordenador da USF da Lousã, João Rodrigues. Em jeito de balanço foram criadas várias unidades, nomeadamente Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) e Unidades de Saúde Familiar (USF), e 11% dos utentes sem médico de família já conseguiram ter o seu médico, segundo dados da Unidade de Missão para os Cuidados de Saúde Primários (UMCSP). Unidade

essa que terminou o seu trabalho no passado dia 14 de Abril e foi substituída pela Coordenação Estratégica para a Reforma dos Cuidados de Saúde Primários, em Maio. impacto da reforma junto de médicos e enfermeiros A HdF ouviu profissionais de saúde e utentes e todos foram unânimes em dizer que houve melhorias, mas também ainda há muito trabalho a fazer e nem todas as zonas do país estão a beneficiar com a actual reforma. O director do ACES de Seixal/Sesimbra (o primeiro ACES a ser criado), Luís Amaro, considera que existem muitos aspectos positivos, mas “per- +

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Fonte: istockphoto.com

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“Uma das maiores mudanças que marcou a reforma dos CSP foi o apetrechamento das unidades com sistemas de informação e comunicação.”

sistem problemas que já deveriam ter sido ultrapassados. Considerando, por exemplo, que as Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) são uma excelente forma de organização de cuidados e, muitas vezes, a única possível, não se entende que sejam consideradas «o patinho feio» da reforma”, afirma.

No entanto, na prática, esses sistemas não existem em muitas UCSP e ainda não foram regulamentadas em termos legislativos, segundo Luís Amaro. A implantação dos ACES também não decorreu no tempo previsto pela UMCSP. Luís Amaro considera que o processo de transferência de competências para os

Os enfermeiros reconhecem que era necessária uma reforma dos CSP, mas estão descontentes com várias medidas. A que tem gerado mais polémica é o modelo B das USF. 8

A situação das UCSP é a que tem suscitado mais críticas, já que são contratualizadas com moldes idênticos ao das USF, como a existência de sistemas de informação de apoio ao médico e ao enfermeiro.

ACES foi “demasiado tímido e a centralização de decisão nas Administrações Regionais de Saúde (ARS) excessiva”. João Rodrigues refere ainda que a legislação sobre os contratos-programa dos ACES

está atrasada dois anos. O director do ACES Seixal/Sesimbra relembra ainda que a integração de certos profissionais se revelou «um mito», como é o caso dos nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, higienistas orais, terapeutas ocupacionais ou terapeutas da fala. O responsável também está insatisfeito com o que diz ser o “total descomprometimento das USF para com os utentes sem médico de família onde estão inseridas, o que denota falta de solidariedade institucional e falta de ética profissional”. Outros aspectos negativos são, no seu entender, o “desconhecimento e a falta de estratégia para identificar de forma rigorosa quais os utentes inscritos no SNS, evitando desta forma duplicações de inscrição com consequências negativas a vários níveis”. João Rodrigues, por sua vez, refere que “a reforma foi recapturada pelo Administração Pública no sentido clássico”, não permitindo uma maior inovação, para além


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Satisfação dos utentes das USF face a aspectos específicos do seu funcionamento

Fonte: “Monitorização da Satisfação dos Utilizadores das USF”, Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Maio de 2009

Satisfação global dos utentes face às USF – Questionário no âmbito do Projecto EUROPEP

Fonte: “Monitorização da Satisfação dos Utilizadores das USF”, Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Maio de 2009

destaque de considerar negativo o facto de se terem criado os ACES de uma só forma e de não ter sido feito da melhor forma a selecção e o recrutamento dos Directores Executivos e dos Presidentes dos Conselhos Clínicos dos ACES. Quanto aos enfermeiros, a classe profissional reconhece que era necessária uma reforma dos CSP, mas estão descontentes com várias medidas. A que tem gerado mais polémica é o modelo B das USF, que remunera os profissionais consoante o desempenho. No entender do Vice-Presidente da Ordem dos Enfermeiros, Jacinto Oliveira, os enfermeiros estão descontentes com as diferenças de remuneração entre as classes de profissionais e com a dependência do pagamento dos incentivos a enfermeiros e administrativos das acções praticadas pelos médicos. No seu entender, os incentivos dos enfermeiros dependem dos resultados da equipa multi-profissional, enquanto os resultados institucionais dependem “fortemente” da actividade médica. Quanto às UCC, a Ordem dos Enfermeiros reafirma a importância de se admitir enfermeiros especialistas, para que não fique em causa, nalguns locais, a equidade de acesso a cuidados de enfermagem especializados. O ex-coordenador da UMCSP, Luís Pisco, também reconhece a existência de problemas. “Ao contrário do que aconteceu com as USF, não conseguimos fixar de forma clara o trabalho que deveria ser desenvolvido pelos ACES. É verdade que sempre se pode apontar como desculpa o facto de os directores executivos - e depois destes, os conselhos clínicos - terem andado este ano numa roda-viva de formações, o que lhes reduziu muito a disponibilidade. E ainda que foi um ano de instalação. Mas a verdade é que as coisas não correram da forma como gostaríamos que tivessem corrido”, disse ao Jornal Médico de Família (JMF) numa das últimas entrevistas que deu à imprensa sobre esta questão. A HdF contactou o responsável, que não se mostrou disponível para falar, por já não ter funções directas na reforma. O ex-coordenador da UMCSP e actual +

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A reforma alterou o mapa dos CSP. O objectivo é conseguir uma maior organização e permitir um acesso mais equitativo aos cuidados de saúde.

Médico de Medicina Geral e Familiar do Centro de Saúde de Foz do Arelho referiu ainda outros problemas. “Outro aspecto que, quanto a mim, não correu nada bem foi o alargamento da reforma às outras unidades funcionais. E isto é muito penalizador, porque temos no terreno gente excepcional, que não tendo aderido, numa fase inicial, ao modelo USF assumiu a liderança de unidades de cuidados de saúde personalizados e está pronta a avançar. Ora, era nosso objectivo que as UCSP, as URAP (Unidades de Recursos e Assistências Partilhadas) e as USP (Unidades de Saúde Públicas) tivessem condições para arrancar com a mesma dignidade que marcou a implementação das USF e isso não aconteceu”, disse ainda ao JMF.

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o impacto junto dos utentes Os CSP não são iguais em todas as zonas. Umas estão avançadas na reforma, outras não tanto. “Não há só preto ou branco. Há muitas zonas a cinzento”, refere Ma-

nuel José, do Movimento dos Utentes dos Serviços de Saúde (MUSS). O responsável considera que, actualmente, existem duas realidades nos CSP. Por um lado, há 25% de utentes abrangidos por USF, que ficaram com melhores cuidados de saúde, mas também existem ainda 75% de utentes que não têm acesso às USF e muitos deles,

também não têm médico de família”. Manuel José aler ta para a existência de várias situações que contribuem para estas duas realidades paralelas, que afectam os utentes. “Há USF que não estão a funcionar bem, havendo utentes que tinham assistência médica e que com o surgimento da USF foram transferidos para locais mais longe da sua zona de residência”, refere. E os problemas não se ficam por aqui. O responsável refere a falta de verbas para a implantação de mais USF, para se apostar nos cuidados domiciliários, entre outros investimentos. “Chega-se ao ponto de não haver esquentador!”, salienta Manuel José. O facto de haver médicos que passam a exercer funções de gestão em vez de se dedicarem às consultas também preocupa o MUSS, por considerar que se deve olhar mais para os utentes. O ideal no seu entender é apostar nas UCSP. Mas considera que isso só será viável se houver profissionais suficientes. “Estamos num período de férias e o habitual é deslocar-se médicos de uma unidade para outra, acabando sempre por haver utentes prejudicados”, alerta. E salienta o papel dos enfermeiros. “Há enfermeiros suficientes no país. Se nos hospitais, a triagem já é feita por enfermeiros, por que razão não se aproveita o seu trabalho?”, pergunta. Questionado sobre a nova coordenação estratégica do sector, considera que é melhor “esperar para ver”. +

A integração de certos profissionais revelou-se «um mito», como é o caso dos nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, higienistas orais, terapeutas ocupacionais ou terapeutas da fala. Por um lado, há 25% de utentes abrangidos por USF, que ficaram com melhores cuidados de saúde, mas também existem ainda 75% de utentes que não têm acesso às USF e muitos deles também não têm médico de família.


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Pensar na saúde física, mental e visual

Em termos tecnológicos, quais são as melhorias que os utentes sentiram com a USF Saúde do Futuro? As melhorias que os utentes sentem e referem têm a ver com a organização, sistemas modernos e eficazes de ordenação e de chamada dos utentes para consultas médicas e de enfermagem, acessibilidade garantida aos cuidados de saúde médico e de enfermagem, constantes do nosso compromisso assistencial. Assim, os prazos para que as pessoas resolvam os seus problemas de saúde são consentâneos com cada situação, tendo sempre a possibilidade de consulta no próprio dia para situações urgentes. Há também o cuidado de garantir consultas médicas e de enfermagem por iniciativa exclusiva do utente, há acessibilidade telefónica facilitada, bem como possibilidade de contacto via correio electrónico com médicos e enfermeiros, quer para agendar consultas, quer para pedido de renovação de medicação crónica ou habitual, por exemplo. Têm apoio domiciliário. A quem é prestado esse apoio? A USF presta cuidados domiciliários médicos e de enfermagem a todos as pessoas que deles necessitam por estarem impossibilitados temporária ou definitivamente de se deslocarem às instalações da USF. Cerca de 100 pessoas estão totalmente dependentes e necessitam de cuidados domiciliários de forma continuada. Outros necessitam de cuidados domiciliários de forma esporádica. Estes cuidados englobam desde a visitação a puérperas, tratamentos e curativos em doentes acamados ou com dificuldades de locomoção. São realizadas consultas médicas domiciliárias na mesma tipologia de doentes, se é clinicamente indicado. Nestes casos, não basta a iniciativa do doente, há que fazer um juízo clínico sobre a necessidade do domicílio médico (ou de enfermagem), para rentabilizar os recursos disponíveis. Neste apoio trabalham em parceria com outras instituições? A USF articula com uma instituição, da qual é parceiro, que é a Liga dos Amigos do Centro de Saúde Soares dos Reis, que complementa a acção da Saúde que a USF presta, provendo cuidados de higiene, distribuição de refeições, tratamento de roupa, higiene habitacional, equipas de voluntariado para apoio de companhia e tarefas diversas. São também parceiros

Fonte: istockphoto.com

Um gestor do doente, cuidados domiciliários e um aquário na sala de espera fazem parte da estratégia de bem-estar e qualidade de cuidados da USF Saúde do Futuro do concelho de Vila Nova de Gaia. Já houve quem perguntasse se a unidade era privada e se precisava de pagar muito pela consulta. O Coordenador Miguel Miranda fala-nos sobre o trabalho desenvolvido numa USF que tem 14.253 utentes inscritos, atendendo cerca de 200 por dia.

nesta actividade a Câmara Municipal, os Bombeiros Sapadores, as juntas de freguesia (sobretudo Mafamude, mas também Vilar de Andorinho, que confinam a nossa área de actuação) e a Cruz Vermelha. Qual é o papel do gestor do doente que têm ao dispor dos utentes? O médico e o enfermeiro de família são os gestores do doente, provendo as suas necessidades e articulando com todos os outros níveis de cuidados de saúde que possam ser necessários ao seu bem-estar. Esta saúde de proximidade, integrada no meio sócio-familiar do doente, garante uma melhor qualidade e acessibilidade aos cuidados de saúde por parte dos cidadãos, e melhora também a satisfação destes, que vêem no médico e enfermeiro os verdadeiros provedores da sua saúde perante o sistema global de saúde, que às vezes é frio, distante e impessoal. Quem entra na USF tem um enorme aquário. Poderia contar a história desse aquário? A USF Saúde no Futuro constituiu-se com o sonho arrojado de criar na população a seu cargo o melhor bem-estar possível, no acesso à saúde. Fez parte deste sonho a implantação de um grande aquário na sala de espera, pelo insólito da situação, pela agradabilidade e calma que transmite a quem espera e às vezes desespera por cuidados de saúde. Os peixes que inicialmente o aquário dispunha, os discos, eram especialmente repousantes e até magnéticos, espantando as pessoas pelo seu tamanho e brilho, pela sua forma indolente e calma de nadar. Assim se tornou motivo de conversa entre os doentes, uma forma de publicitarmos também os nossos serviços, aquando da abertura da USF. MJG

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aprovação 49. Isto quer dizer que, actualmente, cerca de um terço das infraestruturas dos cuidados de saúde primários do país já funciona segundo o novo modelo e isso condiciona de forma sensível a prestação de cuidados aos cidadãos”, refere-se na avaliação do grupo consultivo. O crescimento dos ACES também é apresentado de forma positiva, já que se projectaram 74 novos ACES e já estão implantados 68. O mesmo se refere das UCC, existindo actualmente 16. A formação dos profissionais também é um aspecto a relevar no entender do grupo que tem avaliado o evoluir da reforma, principalmente por esta estar a decorrer numa conjuntura difícil. “Acresce que este esforço considerável teve lugar num contexto pouco favorável. A crise económica e financeira global, ainda patente, deixou marcas no clima social do país, um «ano eleitoral» não é par ticularmente propício a saltos qualitativos das organizações públicas e a preparação e reposta à pandemia de gripe exigiram um esforço suplementar

a dirigentes e serviços”, reforça a equipa do grupo consultivo, liderada por Constantino Sakellarides, Director da Escola Nacional de Saúde Pública. As novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) também sofreram grandes alterações, tanto no apoio ao médico e ao enfermeiro, como nos meios de diagnóstico e na gestão do atendimento. Relativamente aos doentes sem médico assistente, 11% conseguiram um médico de família. Além disso, têm-se desenvolvido vários projectos de promoção da saúde a nível local. Fazendo um balanço geral da reforma actualmente, o grupo consultivo considera que “pode dizer-se que só critérios excessivamente exigentes podem levar a considerar insuficientes os progressos realizados na reforma dos cuidados de saúde primários”. Tanto os profissionais como os utentes também reconhecem que a reforma é importante e que foram dados passos significativos que permitiram uma maior aproximação dos CSP aos utentes, assim como uma melhor organização do sector. MJG

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o lado positivo Apesar dos aspectos menos positivos, tanto os profissionais de saúde como os utentes reconhecem que a actual reforma é necessária. O Grupo Consultivo da Reforma dos Cuidados Primários defende que se trata de “um acontecimento extraordinário na sociedade portuguesa”. Os maiores ganhos, reconhecidos pelo grupo, são a descentralização, a autoorganização e a responsabilização. Refere ainda no parecer de Fevereiro passado que se está perante “a experiência no terreno de equipas profissionais coesas, próximas das pessoas e sensíveis às suas necessidades e preferências”. Prova disso é o resultado positivo do questionário do projecto EUROPEP sobre a satisfação dos utentes face às USF, havendo 44,5% de utentes que estão Bastante Satisfeitos e 39% Muito Satisfeitos. “Há um ano existiam 161 USF em funcionamento, estando 54 a aguardar aprovação. Um ano depois estão 233 USF em funcionamento e aguardam

18ª CONFERÊNCIA SINASE

coopetição – uma Estratégia de sustentabilidade Em 05 de Julho de 2010, vamos realizar a 1 8 ª c o n f e r ê n ci a s i n as E, na universidade católica, em formato idêntico ao realizado em anos anteriores, sobre o tema “ co o p e t i çã o – u m a E st r a té g i a d e s u st e n t ab i l id ad e ” , com os seguintes painéis: 1. 2. 3. 4. 5. 6.

GoVErNação cLÍNica cooPETição Na admiNisTração PúBLica a ciÊNcia E a Educação Para a saúdE coNcLusÕEs do THiNK TaNK: “cooPETição, uma EsTraGéGia dE susTENTaBiLidadE” Entrega dos Prémios de reconhecimento à Educação 2009/2010 Entrega dos Prémios Hospital do Futuro 2009/2010 e Prémios c.G.c

a razão do tema prende-se com o facto de, nos últimos 10 anos, os sectores da saúde e Educação terem vindo a desenvolver reformas significativas em termos de organização, cooperação e competição. Tal como em anos anteriores, serão premiadas as Boas Práticas na s a úd e e E d uc aç ão , analisadas por um Júri constituído por personalidades com reconhecidos méritos nos contextos dos diferentes Prémios instituídos, de acordo com as seguintes categorias:

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Prémios saúdE

1. 2. 3. 4. 5. 6.

Acessibilidade Autarquias Biotecnologia e-Saúde Educação Gestão e Economia da Saúde

7. Parceria em Saúde 8. Prevenção da Obesidade 9. Qualidade em Saúde Certificação 10. Qualidade em Saúde Acreditação 11. Serviço Social

Prémios Educação

1. 2. 3. 4. 5.

Inovação pedagógica Comunidade e Parcerias Quadro de Excelência Quadro de Valor Ambiente e sustentabilidade

6. Prevenção da Saúde Pública 7. Formação profissional 8. O melhor município para estudar


entrevista

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

Concorrência entre público e privado elimina desperdício

Após ocupar o cargo de Bastonário da ordem dos médicos, que avaliação faz destes 31 anos de serviço Nacional de saúde (sNs)? Sempre defendi o SNS. Devemos continuar a ter um serviço nacional de saúde acessível a toda a população, de forma tendencialmente gratuita ou gratuita. Contudo, se continuarmos a ter um SNS com as actuais características, dentro de uns anos não haverá dinheiro que o torne sustentável. A população está a envelhecer, logo há mais doenças crónicas. Para além disso, temos uma população cada vez mais obesa, que abusa do fast food. Outro problema é o custo cada vez maior das novas tecnologias da informação e da comunica-

ção, para além de todos os avanços científicos daí provenientes. Penso que a forma de perpetuarmos este serviço está no estímulo da concorrência entre o serviço público e o privado, para que os cidadãos tenham o direito de escolher em que sector querem ser tratados. Com esta medida é possível eliminar o desperdício. Quanto aos Cuidados de Saúde Primários, vejo de forma muito positiva a criação de Unidades de Saúde Familiar, nomeadamente do modelo B, que prevê remuneração consoante a produtividade dos médicos. Penso, inclusive, que deveria haver convenções, isto é, uma parte do serviço é paga pelo utente e a outra pelo Estado.

“Se continuarmos a ter um SNS com as actuais características, dentro de uns anos não haverá dinheiro que o torne sustentável.”

Fotografias: André Roque

ex-Bastonário da ordem dos médicos e actualmente director do Colégio de estudos Pós-Graduados da universidade Atlântica, Germano de sousa faz um balanço dos 31 anos do serviço Nacional de saúde (sNs). defende que é necessário apostar nos preços concorrenciais entre os sectores público e privado, para que seja o utente a escolher o local onde quer ser tratado. Como vê a ligação entre os vários sectores da saúde (público, privado, social)? Devem ser complementares uns aos outros. Se a ressonância magnética já é um serviço prestado por determinado hospital, por que razão vou comprar mais um equipamento deste tipo para uma unidade que se encontre na proximidade? Ao contrário do que ainda se pensa, os privados não parasitam o sector público, a maioria dos actos no privado são feitos a preços mais baixos do que no público. Um estudo da Delloitte demonstra que entre os dois sectores há uma diferença de 0,80 euros. os hospitais ePe foram uma aposta certa? Os hospitais EPE servem sobretudo para baixar o défice … [risos]. Os hospitaisempresa são uma boa aposta quando são bem geridos. Caso contrário, só pioram a situação actual do sistema de saúde. Por exemplo, o Hospital Amadora-Sintra, quando esteve sob a tutela do Grupo José de Mello Saúde, era muito bem gerido. +

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entrevista

N. 12 | juN. 2010 | Hospital do Futuro

me marcou o facto de ser médico naquele país, inclusive médico militar.

se tivesse que destacar medidas que marcaram a saúde ao longo destes 31 anos, quais seriam? Destacaria muitas. Sem dúvida que a mais marcante, com reconhecimento internacional inclusive, é a descida brutal da mortalidade materno-infantil. Para além disso, penso que o nosso SNS não é o mais atrasado a nível internacional. Conheço outros e penso que estamos num nível intermédio. O grande problema e onde há mais atrasos é a nível organizacional. Que áreas da saúde devem ter mais atenção na próxima década? O Plano Nacional de Saúde é uma medida muito bem imaginada e organizada e deverá continuar a ser uma aposta. Deve haver uma tónica forte na área da prevenção, que leva a uma melhoria inevitável da saúde da população, assim como contribui para uma diminuição da carga económica e financeira. A atenção também deve focar-se na área da oncologia. PersPeCtiVAs FuturAs

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dos cargos que já exerceu na saúde, qual foi o que lhe deixou mais saudades? Ser médico, um jovem acabado de se formar e com muito entusiasmo. Fazia de tudo um pouco e as experiências são sempre uma novidade. Também gostei muito de estar em Angola e nas caixas de previdência. Deslocávamo-nos quilómetros para irmos dar consulta.

há algum momento que o tenha marcado de forma especial? O que mais me marcou foi o nascimento da minha filha. Fui precisamente eu que fiz o parto. Estávamos em Angola e não havia mais nenhum especialista. Também

Qual vai ser o seu papel no sector da saúde daqui para a frente? Gosto de pensar que posso ser útil no sector da saúde dada a minha experiência no ensino, nos hospitais e como Bastonário. Assim, estou muito feliz por estar na Universidade Atlântica, que tem um papel marcante no panorama nacional, designadamente no ensino das profissões da Saúde. Do mesmo modo me sinto muito bem na pele do Patologista Clínico que sou, quer a nível hospitalar, quer privado. Pelo que me parece serem esses os papéis que, no sector da saúde, continuarei a desempenhar com alguma eficácia. Espero também que o meu desempenho como Conselheiro do Conselho Nacional de Ética das Ciências da Vida seja útil aos portugueses em geral e à Bioética em particular.

Veja a entrevista na íntegra em www.hospitaldofuturo.org

Colégio de Estudos Pós-Graduados Como tem sido o desafio de ser Director do Colégio de Estudos Pós-Graduados? Realmente é um desafio, uma honra e um prazer. Fui convidado pelo reitor, após me reformar da Universidade Nova de Lisboa, para dirigir a área dos Estudos Pós-Graduados, que abrange todas as valências científicas e de leccionação da Universidade. A Atlântica dá muita importância aos estudos pós-graduados e posso adiantar que mais de 20% dos seus alunos são estudantes de pós-licenciatura. Já na Universidade Nova de Lisboa fui eu que criei o primeiro Mestrado na área da Patologia Clínica, entre outras iniciativas. Um dos objectivos do cargo é alargar a oferta do Ensino pós-graduado. Já tem ideias concretas do que vai fazer? A minha primeira preocupação tem sido a de preparar a oferta formativa para o próximo ano lectivo, que incluirá cursos já consolidados e com grande receptividade por parte dos profissionais, mas também novos cursos em áreas que consideramos inovadoras. A minha primeira preocupação tem sido fazer um levantamento da situação actual, não deixando desde já de estimular alguns cursos, fazendo críticas construtivas. Penso que a faculdade se deve especializar em diversos campos e oferecer cursos altamente profissionalizantes, que motivem as pessoas. A nível dos Mestrado, considero que os alunos devem optar por esta formação avançada através de duas vias: a académica ou a profissionalizante. Esta divisão, nos EUA, já é uma realidade há largos anos.


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entrevista

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

“Benefícios do trabalho dos psicólogos não são conhecidos” o que traz de novo à Psicologia a oP? Em primeiro lugar contribui para a organização de todos os profissionais e para a sua protecção. A psicologia é uma área muito transversal e há várias questões que têm de ser resolvidas. A existência de uma Ordem facilita todo este trabalho. Quais são os principais problemas da Psicologia em Portugal? O problema de base é a afirmação da profissão, tendo em conta as várias áreas de intervenção. Em Portugal ainda não se conhece bem quais são os benefícios do trabalho de um psicólogo. Quando me candidatei disse que o meu lema é demonstrar que os benefícios da psicologia são reconhecidos pela ciência em diversos sectores. Na área da saúde, por exemplo, há pouca penetração de profissionais no sistema. Estamos longe de conseguir ter consultas acessíveis a toda a população.

Também é importante que se saiba em que áreas podem actuar os psicólogos. A intervenção clínica é bem conhecida, mas a psicologia também tem um contributo importante noutras áreas, como na Educação, Justiça ou Saúde do Trabalho. Uma das mais importantes é a psicologia de prevenção. Os psicólogos podem ajudar a prevenir comportamentos de risco e ajudar os doentes a viver com determinada patologia. Há benefícios físicos, psicológicos, sociais e económicos. Como está a decorrer o processo de inscrição na ordem? A maioria dos psicólogos já se inscreveu. Tem sido um processo trabalhoso, mas que tem corrido bem. A OP vai fazer um livro de lei para perceber o estado da psicologia e dos psicólogos em geral. Já temos algum trabalho preliminar, mas ainda faltam mais dados. Vamos inclusive

“Em Portugal ainda não se conhece bem quais são os benefícios do trabalho de um psicólogo. Quando me candidatei disse que o meu lema é demonstrar que os benefícios da psicologia são reconhecidos pela ciência em diversos sectores.”

Fotografias: André Roque

o primeiro Bastonário da ordem dos Psicólogos (oP), telmo Baptista, acredita que a oP vai contribuir para uma afirmação do trabalho do psicólogo em Portugal. A nível da formação, Portugal torna-se o segundo país a adoptar o diploma europeu, que prevê cinco anos de formação e um estágio profissional obrigatório.

NOTA BIOGRÁFICA Psicólogo e psicoterapeuta, Telmo Baptista é o primeiro Bastonário da Ordem dos Psicólogos, eleito em 2010. Tem desenvolvido trabalho na área da psicoterapia e da psicologia da saúde, com especial incidência no treino de técnicos profissionais de saúde em comunicação com os doentes. Foi consultor de projectos de prevenção em diversas áreas de intervenção, como desemprego e delinquência. É Presidente da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva (APTCC) e Doutorado em Psicoterapia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (2001). fazer um inquérito aos psicólogos para conhecer bem as suas expectativas, formação e situação laboral. Como vê a interligação entre a psicologia e a psiquiatria? É uma relação complementar. Há uma intervenção naturalmente de ordem farmacológica que é muito importante em vários casos e uma outra do âmbito da psicologia. Aliás, têm sido publicados vá- +

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entrevista

N. 12 | juN. 2010 | Hospital do Futuro

Sendo assim, terão uma formação de cinco anos e um estágio profissional que é obrigatório. Ainda estamos à espera que estas novas regras constem do regulamento de estágios, mas há a possibilidade de se adoptar este modelo já no próximo ano lectivo. Este é um passo muito importante. Somos o segundo país da Europa (a seguir à Finlândia) que adopta este modelo de ensino que faz parte de um diploma europeu. Além disso, é uma forma de os psicólogos entrarem no mundo do trabalho e mostrarem que o seu trabalho é importante e variado.

rios estudos que demonstram um maior grau de sucesso nos tratamentos, sempre que se conjugam ambas as terapias. Penso que esta complementaridade deve continuar a existir. Hoje em dia já é uma realidade, mas ainda varia muito de local para local. É necessário reforçar este trabalho conjunto.

os psicólogos têm a formação adequada no ensino português? Actualmente temos 38 licenciaturas (mestrados, como se define actualmente). Em termos de formação pós-graduada temos uma oferta muito variada. O que vai passar a acontecer com a OP é que os profissionais têm de ser aceites na Ordem.

A inscrição na Ordem dos Psicólogos Exerço psicologia há vários anos, devo inscrever-me na Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP)? Sim. A atribuição do título profissional, o seu uso e o exercício da profissão de psicólogo, em qualquer sector de actividade, dependem da inscrição na OPP como membro efectivo. De acordo com o Art. 1º, ponto 2, do Regulamento de Inscrição na OPP, “não pode denominar-se psicólogo ou psicólogo estagiário quem não estiver inscrito como tal na Ordem”. Quais os procedimentos de inscrição na OPP? A inscrição na OPP processa-se através do preenchimento de um formulário electrónico, que poderá ser encontrado em www.ordemdospsicologos.pt, sendo apenas necessário que o profissional siga os passos indicados pelo sistema, em cada etapa. Os documentos necessários à formalização da inscrição serão indicados durante o preenchimento do formulário. Só serão efectuadas inscrições presenciais em casos excepcionais e com prévio agendamento telefónico. 16

Mais informação em: Ordem dos Psicólogos (http://www.ordemdospsicologos.pt/faq).

Quais são os problemas mais habituais de quem necessita de acompanhamento psicológico? Em termos clínicos são a ansiedade, depressão, stress e fobias. A nível social são as per turbações familiares, dificuldades no emprego, na relação conjugal, entre outras. Há também problemas na adaptação das crianças e dos jovens ao ambiente escolar. o que pensa do acompanhamento psicológico via internet? Conheço bem esse assunto. Não é uma área consensual, porque implica naturalmente a perda de alguma informação a nível comportamental. É muito melhor haver uma relação presencial. No entanto, admito que há situações em que a pessoa possa querer ter primeiro uma experiência através da Internet. Existem também os casos de quem vive em zonas remotas e tem dificuldade em aceder a serviços de psicologia. É preciso, todavia, que haja garantias do serviço que é prestado. O ideal é haver directrizes que têm de ser seguidas para se conseguir ter um serviço de qualidade e que garanta a confidencialidade dos dados e das informações que são transmitidas. Que mensagem gostaria de deixar aos psicólogos? Deixo uma mensagem de esperança. Todos juntos vamos conseguir afirmar a psicologia e os psicólogos. Ganha a profissão e, obviamente, a população. MJG


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Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

objectivo: evitar a institucionalização e ganhar autonomia A Unidade de Convalescença e Reabilitação faz a triagem e estabelece um programa de reabilitação personalizado assente numa equipa multidisciplinar. “Os doentes são referenciados, vão à triagem, realiza-se uma reunião com o utente e o técnico que o acompanha, avalia-se se

cumpre certos critérios e, se for seu desejo, é integrado nesta unidade. Após esta primeira fase é organizado um programa de reabilitação personalizado, que é acompanhado sempre por um técnico”, explica o Director da Unidade, Eduardo Martins. O técnico tanto pode ser médico, como enfermeiro, terapeuta ocupacional ou assistente social, dependendo da

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lavandaria, jardinagem, um jornal, pintura e muitas outras actividades fazem parte da unidade de Convalescença e reabilitação do hospital júlio de matos, do Centro hospitalar Psiquiátrico de lisboa. Para além das actividades que promovem mais autonomia, há uma aposta na adesão e na auto-gestão da medicação.

Fotografias: André Roque

Promover a humanização e a autonomia dos utentes

S

entados à mesa vão cortando papelinho a papelinho. São utentes do Hospital Júlio de Matos, pertencente ao Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, e estão na fase de reabilitação. Os papelinhos que vão cortando vão ser utilizados na sala da reciclagem por outros utentes. A Unidade de Terapia Ocupacional é uma das muitas vertentes do trabalho de reabilitação desta unidade hospitalar. “O mais importante é a humanização e o bem-estar dos utentes”, salienta a Enfermeira Chefe da Unidade de Convalescença, Ana Paula Costa. Enquanto uns trabalham com o papel, há outros que tratam do jardim, lavam a roupa, engomam, cozinham, pintam, restauram móveis, entre outras actividades. Os quadros, com os mais variados desenhos e cores, são um espelho do trabalho diversificado que se faz com os utentes, que já são uma família. “Houve um sábado que fizemos um churrasco e estávamos cá todos, utentes e profissionais”, afirma Paula Costa Alves.

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hospital do futuro

Na Unidade de Convalescença e Reabilitação, os utentes reaprendem a viver com regras, como por exemplo a ter horas certas para dormir e para comer.

realidade em causa. “Cada caso é um caso”, salienta a Enfermeira Especialista da Unidade, Adília Pedro. “O objectivo é a desinstitucionalização, de modo que os utentes possam recuperar e ser autónomos, nomeadamente fora do hospital”, refere Eduardo Martins. Apesar de a autonomia total nem sempre ser possível devido à patologia, tem havido muitos casos de sucesso, de acordo com o responsável. O hospital tem residências, dentro e fora do hospital, onde vivem utentes que já têm autonomia e que são sempre acompanhados pela equipa hospitalar. “Caso haja necessidade de um reinternamento, esse utente tem sempre vaga”, afirma a Enfermeira Chefe. Como havia quem não tivesse condições sociais para ter uma casa fora do hospital, foi estabelecida uma parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, no sentido de se ter três residências. Há sempre um técnico que se desloca semanal ou quinzenalmente às residências para prevenir o possível reagravamento do estado clínico.

18 Quem começa a ganhar mais autonomia pode viver numa das residências do hospital, onde se reaprende a viver com outras pessoas e a gerir uma casa.

N. 12 | juN. 2010 | Hospital do Futuro

Actividades para aquisição de competências No processo de reabilitação estão incluídas várias actividades, como formação profissional, apoio a familiares, aquisição de competências, entre outras. No caso da formação profissional, há trabalho para todos. Além das tarefas diárias, há uma lavandaria com serviço de engomadoria, um bar, a confecção de comida para o bar e para o quiosque do jardim do hospital, reciclagem, fabrico de produtos artesanais, pintura, jardinagem, entre outras. No caso dos trabalhos artesanais e das pinturas, realizamse exposições e há um ponto de venda de produtos artesanais dentro do hospital. Existe ainda uma reprografia e uma carpintaria onde se restauram e se arranjam móveis. O trabalho permite aos utentes estarem ocupados e desenvolverem competências a vários níveis para os levar a uma maior autonomia. Exemplo disso é o responsável pelo quiosque que se encontra no jardim do hospital, que já foi utente e já está recuperado. Quando se fala na aquisição de competências deve-se pensar nas mais exigentes, como as de um emprego, mas também nas mais básicas para a maioria das pessoas. “Há utentes que têm de aprender a controlar as horas de sono, a cumprir regras, a gerir o dinheiro para as chamadas do telemóvel e para os produtos de higiene, entre outras. Muitas vezes nem sabem fazer uma lista de compras”, explica Paula Costa Alves. Existem ainda tarefas dentro da Unidade de Reabilitação que têm de ser garantidas, como a arrumação do espaço de cada um. Para além disso também existe uma escala de tarefas que vai passando por todos, como varrer as varandas e lavar as casas-de-banho

todos os dia, como explica Adília Pedro. Este trabalho, segundo a enfermeira, é-lhes dado para se irem responsabilizando pelo seu espaço, apesar de haver uma equipa exterior que faz a limpeza geral. No refeitório estão responsáveis por pôr e levantar as mesas e levar os carrinhos com os tabuleiros. Como já se vive um ambiente familiar, acontece uma reunião comunitária mensal entre todos os utentes e profissionais, para que se possa detectar mais facilmente onde existem conflitos e para ouvir as sugestões de todos. Quem é mais dado à leitura tem o Clube de Leitura, onde se lê e debate uma história, que é depois dramatizada pelos próprios utentes. Algumas das actividades são desenvolvidas pelos enfermeiros, que apresentam todos os anos um projecto pessoal a desenvolver com os doentes. Exemplo disso é a equipa de futebol, o Jornal do Serviço ou o Gabinete de Relaxamento. O teatro dinâmico, apesar de não fazer parte desta Unidade de Reabilitação, também tem um papel importante na aquisição de competências.Todos os anos é lançada uma peça de teatro realizada por utentes do hospital, aberta ao público em geral. A importância da adesão terapêutica Todo este trabalho de reabilitação tem bons resultados, na maioria das vezes, por haver também o cumprimento da medicação. O grupo de adesão e gestão da medicação é essencial, no entender do Director da unidade, já que “os utentes têm muitas vezes grandes défices na toma da medicação por não entenderem a sua importância no tratamento, porque se esquecem de a tomar ou porque fazem auto-medicação”, sublinha o responsável. “É também uma forma de as pessoas tomarem os medicamentos correctos e entenderem que há medicação diferente para uma dor, um problema de sono ou uma crise de ansiedade”, refere a enfermeira Adília Pedro. Com a medicação adequada, as várias actividades vão ajudando os utentes a ganhar autonomia e a sorrirem para a vida, sentindo que são importantes mesmo nos trabalhos mais simples, como cortar pedaços de papel que serão pasta de papel e que, no final, se tornam em mais uma folha e menos uma árvore destruída. MJG


as novas tecnologias na saúde

Realidade Virtual na Psicologia está no trânsito e batem-lhe na traseira do carro. Não há ferimentos, apenas danos materiais, mas o susto provocado pela pancada pode gerar ansiedade. o medo torna-se mais forte e deixa de conduzir. traumas como este poderão ser resolvidos através de psicoterapia e da realidade virtual, como acontece na Clínica são joão de deus.

P

As origens do projecto Já nos anos 50 do século XX, os psicólogos chegaram à conclusão de que os pacientes que viviam um cenário agudo na sua imaginação conseguiam superar mais fácil e rapidamente o stress pós-traumá-

tico. Nos primeiros tempos recorreu-se a técnicas de relaxamento associadas a cenários fóbicos imaginadas pelo paciente, surgindo mais tarde a ajuda dos sons. O actual projecto tem o mesmo objectivo, mas utilizando a realidade virtual. Em Portugal, o projecto surgiu quando Pedro Gamito, engenheiro informático, ainda estava a fazer o doutoramento em Inglaterra. Após algumas trocas de ideias com José Pacheco, psicólogo clínico do Hospital Júlio de Matos, surgiu a hipótese de recorrer a esta técnica. No entanto, com a integração da unidade no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, o projecto deixou de existir. “A actual administração do Hospital Júlio de Matos não achou relevante ter um serviço que utilizasse as novas tecnologias de apoio à saúde, tal como ocorre noutros países”, refere à HdF Pedro Gamito. Actualmente o projecto está a ser desenvolvido na Clínica São João de Deus, onde se actua na área do tratamento e da investigação, através da colaboração entre a clínica e a Universidade Lusófona: “assim, disponibilizamos cenários em realidade +

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ara ajudar a enfrentar algumas fobias, foi criado um projecto de realidade virtual que une a engenharia informática à psicoterapia. A terapia para as mais variadas fobias pressupõe, a médio ou longo prazo, o contacto directo com a situação que causa stress pós-traumático, para que haja uma dessensibilização face ao que causa pavor e pânico. Mas esta situação nem sempre é possível, porque nem sempre se pode

voltar a reviver certas realidades que causam o stress. Exemplo disso é o stress pós-traumático de guerra. Para ultrapassar esta barreira, Pedro Gamito, Director do Laboratório de Psicologia Computacional da Universidade Lusófona, criou um projecto de realidade virtual aliada à psicoterapia. Na prática, o paciente pode rever, em cenário de realidade virtual, a situação aguda que lhe causa o stress e o pânico. A mais-valia é que o doente pode a qualquer momento carregar num botão e deixar de estar «presente» no cenário que o incomoda. Ao fim de várias sessões, o organismo vaise dessensibilizando e o medo e o pânico começam a desaparecer. A terapia já foi utilizada no Hospital Júlio de Matos e, actualmente, está em funcionamento na Clínica S. João de Deus há três meses.

Aplicação informática em Realidade Virtual para tratar Perturbação Pós-Traumática do Stress derivada de acidente de viação Fonte: Dep. Psicologia Computacional, Univ. Lusófona

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

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as novas tecnologias na saúde

Aplicação informática em RV para exposição de estímulos fóbicos para o medo de voar.

virtual para tratamento de perturbações ansiosas e reabilitação neuropsicológica”, explica o engenheiro. os benefícios da terapia virtual A ferramenta virtual pode ser utilizada em casos de perturbações ansiosas, como fobias específicas, agorafobias, perturbações pós-traumáticas do stress e treino de competências sociais e pessoais. Em termos de reabilitação cognitiva, é uma ferramenta adequada para exercícios de treino de memória e treino visuoespacial, assim como para a intervenção ao nível dos défices cognitivos em doenças degenerativas do sistema nervoso central, dessensibilização da dor, reabilitação

Aplicação informática em realidade virtual (RV) de exposição a estímulos de guerra em antigos combatentes

turbação em ambiente seguro e adaptável a cada doente”, desenvolve Pedro Gamito. Os pacientes interagem com os terapeutas num cenário fictício, multissensorial e multidimensional, simulando situações idealizadas para o doente. A evolução deste é monitorizada decorrendo de forma mais metódica e padronizada, permitindo ajustar a terapêutica de forma recorrente, pelo que a recuperação se dá de forma mais rápida, de acordo com a Clínica São João de Deus. Os resultados têm sido satisfatórios, já que a adesão dos doentes “é muito boa e a rapidez de tratamento superior à verificada nas intervenções tradicionais”, sublinha Pedro Gamito. Questionado sobre a ex-

Para acompanhar o utente na “viagem virtual” é necessário ter um bom conhecimento da sua história clínica e da sua vivência face ao que o perturba, para que se possa criar o cenário mais adequado e para se acompanhar a terapia virtual.

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neuromotora, adições, entre outras. Alguns dos cenários poderão ser a guerra, aeroportos e aviões, condução na estrada, elevadores panorâmicos e praças abertas com pombos. O importante é criar cenários que se adequem às necessidades dos utentes. “É uma alternativa às terapias por exposição in vivo e por exposição por imaginação. Os mundos virtuais possibilitam o confronto dos medos e traumas que originam a per-

N. 12 | juN. 2010 | Hospital do Futuro

pansão desta ferramenta a outras unidades, acredita que neste momento isso ainda não vai acontecer. O segredo para essa expansão está, no seu entender, no tempo. realidade virtual na Clínica são joão de deus A unidade multidisciplinar de Neurociências que conjuga especialistas em neurologia, psiquiatria, neurocirurgia, psi-

cologia e neuropsicologia está em funcionamento há três meses e está em fase experimental com dois utentes. À medida que estes vão evoluindo face às limitações que sentem, os cenários vir tuais que foram criados podem ser readaptados. Para acompanhar o utente na “viagem virtual” é necessário ter um bom conhecimento da sua história clínica e da sua vivência face ao que o perturba, para que se possa criar o cenário mais adequado e para se acompanhar a terapia virtual. “O objectivo é conseguir que o utente consiga enfrentar a vivência que lhe provoca a ansiedade e que a possa readaptar na sua vida”, refere uma das psicólogas do projecto, Isaura Lourenço. Relativamente aos problemas que poderão ser resolvidos através da realidade virtual, Isaura Lourenço alerta para o facto de que não é preciso ter ocorrido uma situação catastrófica na vida de uma pessoa. Há várias situações que poderão desencadear reacções ansiosas, como por exemplo uma pancada na traseira do carro, sem ferimentos, que poderá desencadear ansiedade em momentos similares. Caso a ansiedade face a essas situações similares não seja tratada, poderá generalizar-se. A terapia virtual poderá ser uma ajuda importante nestes casos, para que a ansiedade face a uma travagem não se expanda para outras situações na vida, já que em cada sessão há uma diminuição da ansiedade, resolvendo-se o problema de uma forma mais rápida e com menos repercussões negativas. MJG


saúde ibérica

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

Controlar a doença através da Web 2.0 Teletratamiento 2.0 é uma plataforma utilizada no controlo da diabetes. A dar os primeiros passos no hospital General de Valencia, espera-se que venha a ser uma ajuda noutras doenças crónicas. o envio de informação médica em tempo real a partir de casa também faz parte dos objectivos futuros.

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dos, de forma remota, para a plataforma que se encontra no hospital. A prevenção também será uma das componentes, com a introdução de jogos educativos. A nova plataforma implica vantagens para o doente, mas também para os profissionais de saúde. Com estas ferramentas é possível controlar melhor a doença crónica, detectando mais facilmente sinais de alerta. É ainda uma forma de o paciente se sentir coagido para seguir a terapêu-

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segredo para controlar algumas doenças crónicas poderá estar no teletramiento web 2.0. As novas tecnologias da informação e da comunicação são utilizadas em Espanha para o controlo de doenças crónicas, como a diabetes, a hipertensão e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC). Teletratamiento 2.0 é uma plataforma tecnológica que permite o desenvolvimento de terapias inteligentes e personalizadas no tratamento de doenças crónicas, permitindo uma maior independência e qualidade de vida por parte dos pacientes. Actualmente, a plataforma só é utilizada para o controlo da diabetes e conta com o apoio da Consejería de Innovacíon, Ciencia y Empresas da Junta de Andalucía e do Hospital General Universitario de Valencia. O controlo da doença é feito através de tecnologia de identificação do movimento e de câmaras web, que registam os valores da diabetes, entre outros dados, como o gasto calórico enquanto se realiza exercício físico. Esta plataforma inclui ainda mesas tácteis que têm leitores de radiofrequência para fármacos, do modo que se saiba como o organismo de cada pessoa reage a determinado medicamento. O objectivo é ir mais além ou não se estivesse a falar do mundo da tecnologia, sempre a evoluir. Futuramente, os responsáveis pelo projecto esperam que a plataforma receba informação dos pacientes a partir de casa. Para isso serão utilizadas ferramentas domóticas e dispositivos como medidores de glicémia, aparelhos de medição da pressão arterial e balanças. Os dados serão recolhidos em casa e envia-

tica. As próprias ferramentas da plataforma podem ser adaptáveis às necessidades dos pacientes e dos profissionais de saúde, de acordo com a Consejería de Innovacíon, Ciencia y Empresas da Junta de Andalucía. Com estas novas ferramentas pode-se fazer um acompanhamento individualizado de cada paciente, fazendo uma análise da sua evolução com base em dados revelados em tempo real. Os pacientes podem ter um acompanhamento personalizado e com auxílio da Medicina Baseada na Evidência, de acordo com Amparo del Baño, farmacêutica da Fundação de Investigação do Hospital General de Valencia. MJG

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saúde ibérica

N. 12 | juN. 2009 | Hospital do Futuro

Musicoterapia para crianças com cancro Pinturas, palhaços, musicoterapia, muitos sorrisos e gargalhadas. É este o ambiente que se vive na unidade de Cuidados Paliativos do hospital del Niño jesus, apesar da fase terminal da doença ou do seu prognóstico letal.

Fonte: Hospital del Niño Jesus

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Fonte: sxc

A

s cores vivas das pinturas e as gargalhadas dos palhaços animam a Unidade de Cuidados Paliativos para crianças e adolescentes do Hospital del Niño Jesus, em Madrid, Espanha. O objectivo é humanizar e normalizar a vida das crianças que estão gravemente doentes, com prognóstico letal ou que já estão em fase terminal. A unidade viu o seu trabalho reconhecido na III Edição dos Prémios de Qualidade do Sistema Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e Política Social de Espanha atribuídos em 2009. A natureza humana não costuma aceitar a morte de forma fácil. A situação piora ainda quando se trata de crianças e jovens

e para dar mais qualidade e dignidade a estas crianças e aos seus pais, o hospital espanhol optou pela criação desta unidade que procura humanizar a doença infantil e juvenil. Criado em 2008, o serviço conta com uma equipa multidisciplinar formada por pessoal médico, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, administrativos e voluntários. Os cuidados prestados não se cingem ao hospital. As crianças e os jovens que estiverem em casa também recebem apoio da equipa. Apostando numa vertente de humanização, o hospital presta cuidados a vários níveis, como social e escolar. No hospital há inclusive um colégio por onde passam, todos os anos, 1.300 crianças e jovens. Todo o ambiente é colorido - para tristezas já basta a doença. As pinturas coloridas enfeitam toda a unidade, como os quartos, as salas de espera, o bloco operatório e os elevadores. O objectivo do hospital é “desdramatizar o tempo de internamento”. Mas não basta haver pinturas nas paredes e o sorriso de médicos e enfermeiros. As crianças e os mais jovens também gostam de ter contacto com o mundo lá fora. A pensar nisso, o hospital optou por oferecer espectáculos todos os dias, indepen-

dentemente de ser feriado ou fim-de-semana. Às seis da tarde há sempre um espectáculo de teatro ou circo e a visita de palhaços e de contadores de histórias. Estas e outras actividades lúdicas, como a musicoterapia, estão disponíveis também para aqueles que não podem sair da cama e para os familiares. A filosofia de cuidados prestados nesta unidade baseia-se, sobretudo, nos parâmetros defendidos pela Associação Europeia de Cuidados Paliativos: - Direito de a criança/jovem ter acesso a cuidados de saúde sem qualquer obstáculo, podendo contar com o apoio activo dos pais; - Direito a ter acesso a informações sobre a sua doença e os tratamentos que faz tendo em conta a sua idade e situação psicológica; - Direito que assiste aos pais de aceitarem o tratamento; - Direito de assistência pessoal aos doentes e aos familiares, acesso às aulas e a condições sociais; - Direito da criança/jovem em não receber tratamentos que provoquem sofrimento físico e moral inútil. Direitos que ao serem respeitados levam a muitos sorrisos e gargalhadas. MJG


antibióticos

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

Quando os antibióticos não curam A resistência aos antibióticos está a aumentar no mundo inteiro. A direcção-Geral de saúde (dGs) deixa o alerta: “A utilização inadequada de antibióticos resulta no desenvolvimento de resistência aos tratamentos por parte de bactérias. Por conseguinte, quando necessitar de tomar antibióticos no futuro, estes poderão não funcionar”.

‘‘O

s antibióticos estão a perder eficácia a um ritmo que era imprevisível até mesmo há cinco anos”. O alerta é lançado por Cristina Costa, responsável pelo Departamento de Qualidade da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Este tipo de medicamentos foi uma das maiores invenções da Medicina e tem salvo a vida a milhares de pessoas em todo o mundo. Mas a toma abusiva pode levar o organismo a desenvolver resistências aos microrganismos e o tratamento da doença pode ser comprometido. A resistência aos antibióticos não acontece apenas em Portugal. O problema

afecta o mundo inteiro, principalmente os países mais desenvolvidos. E Portugal não está nas piores posições. Nos últimos anos temse registado uma diminuição do consumo de antibióticos no nosso país, de acordo com o ESAC (European Surveillance of Antimicrobial Consumption). “Se antes o problema existia sobretudo a nível hospitalar, hoje atinge também as instituições envolvidas em cuidados continuados e a comunidade em geral”, refere Manuela Caniça, Responsável pelo Laboratório de Resistência aos Antimicrobianos do

O principal factor favorecedor da resistência aos antibióticos é a toma abusiva dos mesmos. Para isso contribui a toma de antibióticos sem prescrição médica, principalmente em casos virais, como a gripe, ao contrário do que é aconselhável. Fonte: istockphoto

Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. O laboratório trabalha juntamente com os programas europeus no combate à resistência aos antibióticos. o uso abusivo de antibióticos Mas o que é tomar antibióticos de forma inadequada? Cristina Costa da DGS explica à HdF que o uso inadequado acontece quando se toma este tipo de medicamentos sem necessidade, por exemplo em constipações e gripes causadas por vírus, contra os quais os antibióticos não são eficazes. Outra questão que não deve ser esquecida é a toma incorrecta. Exemplo disso é quando os doentes não tomam o antibiótico até ao fim ou prolongam a duração do tratamento, quando se baixa a dose e quando não +

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antibióticos

Fonte: istockphoto

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A DGS prevê o desenvolvimento de um sistema de vigilância epidemiológica para detectar precocemente agentes microbianos epidemiologicamente importantes.

Actualmente, a situação agrava-se com o aparecimento de novas estirpes de bactérias resistentes a vários antibióticos em simultâneo, podendo estas bactérias tornar-se resistentes a todos os antibióticos.

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se cumpre a frequência correcta de administração. Nestes casos, a quantidade necessária e adequada de antibiótico no organismo não é atingida e as bactérias sobrevivem, podendo tornar-se resistentes. Nos últimos anos tem-se registado uma diminuição do uso abusivo destes medicamentos em Portugal, apesar de ainda haver um consumo elevado. Segundo dados do Sistema Europeu de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos, há uma diferença entre o Norte e o Sul da Europa: nos países escandinavos, as taxas de uso abusivo de antibióticos são mais baixas do que no Sul.

o impacto negativo na saúde da população A resistência aos antibióticos pode ter consequências bastante negativas. Exemplo disso é a tuberculose. Há uns anos, o tratamento da tuberculose era um dos grandes problemas da Medicina, face aos bacilos multiresistentes e à falta de antibióticos que os pudessem combater. Actualmente os bacilos enterecocos e os estafilococos (causadores de pneumonia, entre outras infecções) tornaram-se igualmente resistentes às terapêuticas existentes, “surgindo doentes sem possibilidade de tratamento”, alerta Manuela

Caniça. E acrescenta: “Mais recentemente ainda, bactérias entéricas, como as que colonizam o nosso intestino, nomeadamente E. coli e outras, adquiriram resistência a várias classes de antibióticos, tornando ineficaz a sua acção”. O principal factor favorecedor da resistência aos antibióticos é a toma abusiva dos mesmos. Para isso contribui a toma de antibióticos sem prescrição médica, principalmente em casos virais como a gripe, ao contrário do que é aconselhável. Cristina Costa, da DGS, afirma mesmo que “tomar antibióticos pelas razões erradas, como em caso de constipações ou de gripe, não irá trazer qualquer benefício.” A responsabilidade pelo uso abusivo de antibióticos é vasta. O consumo deste tipo de medicamentos é influenciado pelos doentes, médicos e farmacêuticos, quando se verifica a venda de antibióticos sem prescrição médica, de acordo com Cristina Costa. Actualmente a situação agrava-se com o aparecimento de novas estirpes de bacté-


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Resistência à penicilina por parte do Streptococcus pneumoniae (responsável pela pneumonia)

Fonte: European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), 2007

Aumento da resistência do MRSA (Estafilococos Aureus Resistente à Meticilina, do grupo das penicilina) Portugal entre os mais afectados

Fonte: The European Antimicrobial Resistance Surveillance System (EARSS) Report for Quarter 2, 2008.

antibióticos rias resistentes a vários antibióticos em simultâneo, podendo estas bactérias tornarse resistentes a todos os antibióticos. “Sem antibióticos há o risco de regressarmos à «era pré-antibiótica», em que as doenças infecciosas causadas por bactérias passariam a não ser tratadas com sucesso, resultando na morte. Nesta situação, os transplantes de órgãos, a quimioterapia para o cancro, os cuidados intensivos e outras actividades e procedimentos médicos deixarão de ser possíveis”, num cenário fatalista, alerta a responsável da DGS. O European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) lança o mesmo alerta: “Por toda a União Europeia, o número de pacientes infectados por bactérias resistentes aumenta e a resistência aos antibióticos é uma grande ameaça à saúde pública”. Campanhas contra o uso incorrecto de antibióticos Várias campanhas têm lutado contra o uso abusivo de antibióticos. A DGS lançou, no final do ano passado, o Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Resistência aos Antibióticos. Para além da campanha de sensibilização e informação que se tem vindo a desenvolver, estão ainda previstas mais actividades como o desenvolvimento de um sistema de vigilância epidemiológica que permita detectar precocemente agentes microbianos epidemiologicamente importantes (alerta rápido). Para além deste sistema, a DGS apostará também na avaliação de resistências e na comunicação das mesmas às unidades prescritoras, no estabelecimento de orientações de boa prática, técnico-normativas, baseadas na evidência e na disponibilização de mais informação ao utilizador da rede de prestação de cuidados e ao público. Enquanto não se dá início a estas últimas medidas, a DGS realça a importância de se informar a população sobre as consequências do uso abusivo de antibióticos. Os médicos também são aconselhados a prescrever antibióticos específicos para a infecção e não de «largo espectro» e a sensibilizar os doentes para o seu uso adequado. MJG

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gestão & economia

A Enfermagem do Século XXI – O Enfermeiro que faz acontecer

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Enfermagem, no contexto das profissões da saúde, é a que assume maior proximidade nos cuidados. A sua formação científica, humana e holística fornece-lhe os saberes e as competências mais adequadas para uma resposta efectiva e próxima do cidadão, desde a promoção da saúde e prevenção da doença até à reintegração na sociedade. A enfermagem, no passado recente, foi construindo a sua área de intervenção com grande enfoque no tratamento e hospitalização, suportada em decisões centralizadas, muito dirigidas para a doença, num conceito de que o mais experiente tem a melhor prática, preocupação frenética com o cumprimento de tarefas e com uma prestação de cuidados fragmentados ao cidadão. O Enfermeiro é hoje um profissional com profundos conhecimentos científicos na área das ciências e com formação ética e deontológica, centrados no todo da pessoa e dirigidos, assumidamente, a um cuidar de contacto prolongado, de relação forte, dinâmica e de maximização das potencialidades da pessoa no seu ciclo de saúde / doença. O Enfermeiro tem competências próprias, provenientes das ciências da Enfermagem e que são (têm de ser) entendidas na necessária complementaridade e integridade dos cuidados de saúde. O impacto da sociedade moderna, aliado à exigente formação e à qualidade profis-

sional, impõe uma expressão mais objectiva e mensurável do contributo dos cuidados de enfermagem na saúde dos cidadãos. Para responder às novas e exigentes estruturas organizacionais, e sobretudo às complexas necessidades das sociedades modernas, os Enfermeiros têm de mudar o enfoque da sua estratégia, concentrando-se numa visão mais sistémica, de forma a promover a interdisciplinaridade e a complementaridade intrínsecas à eficácia nos cuidados de saúde. A centralidade dos cuidados obriga à assumpção efectiva do modelo de distribuição de trabalho de Enfermagem por Enfermeiro de Referência, atribuindo a cada cidadão o “Seu Enfermeiro”, centrando no profissional que está mais próximo para dar respostas às necessidades de saúde da pessoa / família / grupo. Esta Enfermagem de que vos falo, da qual já se vão tendo alguns exemplos, é uma profissão em que o Cidadão é o eixo dos cuidados e o Enfermeiro se assume como um recurso básico, determinante, para o seu auto-cuidado, ajudando-o a decidir, ou decidindo com ele, e construindo compromissos nos objectivos e nas acções. Em estudos recentes tem sido demonstrado o valor dos cuidados de enfermagem e o seu impacto na saúde das pessoas. Por exemplo Aiken Li demonstrou existir uma relação directa entre a dotação de enfermeiros e a taxa de mortalidade. Também Needleman J et al.ii pro-

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Nelson Guerra, Associação Portuguesa de Enfermeiros Gestores e Liderança

curou demonstrar a relação existente entre as dotações de enfermeiros e a qualidade dos cuidados. A evidência dos estudos a que aludimos pode ser entendida como a necessidade de mudança urgente na reorganização do dispositivo de oferta de cuidados, recentrando essa oferta nas respostas às necessidades das pessoas, na resolução dos seus problemas vivenciados no continuum equilíbrio de saúde / doença. Esta reorganização da oferta de cuidados de Enfermagem obriga a uma mudança de “paradigma” que, sendo suportada por uma linguagem classificada e por padrões de qualidade, por normas e orientações técnicas, passará sempre pela organização interna da equipa de cuidados e permitirá uma metodologia de trabalho dirigida às necessidades das pessoas / famílias / grupos, com soluções suportadas na evidência e nas boas práticas e assente na tomada de decisão adequada à situação e ao contexto. Trata-se de um modelo orientado para os resultados, pela construção de compromissos e assumpção de metas, que adequa a alocação dos recursos às necessidades e às competências. Esta Enfermagem demonstra competências para o desempenho do seu papel estratégico e de pivot enquanto elemento de referência nos cuidados de saúde e, pelos resultados alcançados, assume, sem dúvida, uma prática profissional de excelência. Ao falarmos de prática baseada na evidência científica, valorizamos as compe-


gestão & economia

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tências específicas da profissão e a sua capacidade de tomada de decisão, promove-se a visibilidade dos cuidados e o desenvolvimento profissional orientando o exercício por uma visão sistémica e um pensamento crítico.iii

tégia mais importante na mudança organizacional da profissão porque ele encerra este novo paradigma. Recentra os cuidados na pessoa, reorienta os processos de trabalho promovendo a responsabilização através da accountability e a

“O «saber-ser» dos Enfermeiros tem as suas raízes nas competências comportamentais, como a liderança, a comunicação, a negociação, as relações interpessoais e a iniciativa.” gestão da produção de evidências dos ganhos obtidos em saúde demonstradas através de resultados sensíveis aos cuidados de Enfermagem e através da criação de valor profissional. São estes, assim, substantivos contributos da profissão para a detecção precoce e monitorização da saúde da população, para a gestão dos cuidados e a liderança das acções de saúde dirigidas particularmente aos grandes grupos de risco, como por exemplo, na doença crónica,

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Aiken L Clarke SP, Sloane DM, Sochalski J, Silber J. Hospital nurse staffing and patient mortality, nurse burnout, and job dissatisfaction. JAMA 288(16):1987-1993, October 23/30, 2002. ii Needleman J et al. Nurse-staffing levels and the quality of care in hospitals. N Engl J Med (2002). iii Bork A Margherita, O Desafio de Mudar Transformando as Pessoas e a Profissão: O Sistema de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein, Prática Hospitalar, ano VI, nº 31, Jan-Fev 2004, ISSN 1679- 5512

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Acresce ainda que este “saber-ser” dos Enfermeiros tem as suas raízes nas competências comportamentais, como a liderança, a comunicação, a negociação, as relações interpessoais e a iniciativa, porque são as que efectivamente mais contribuem para a construção de compromissos e de objectivos na relação de cuidado entre o enfermeiro e o seu cliente / família / grupo. O incentivo do modelo do Enfermeiro de Referência é, provavelmente, a estra-

porque são os Enfermeiros que estão mais habilitados técnica e cientificamente para responder com rigor, eficiência e eficácia aos desafios das organizações e do cidadão, na garantia da qualidade dos cuidados prestados, aos vários níveis de actuação: prevenção, promoção e reabilitação. O processo de desconstrução / reconstrução que aqui está subjacente assenta na mudança comportamental de cada um dos actores, e não exclusivamente dos Enfermeiros, implica a participação efectiva da Enfermagem na gestão das organizações, num envolvimento global da profissão orientado para o impacto dos cuidados nos ganhos na saúde do cidadão e pela excelência dos cuidados numa estratégia de hoje com visão de futuro.

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debate

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Saúde-em-Rede:

O Cidadão e o Sistema de Saúde o think tank saúde-em-rede teve lugar pelo terceiro ano consecutivo, centrando-se a nível temático na interligação entre o cidadão e o sistema de saúde. em destaque estiveram temas como a educação para a saúde, a responsabilização dos cidadãos pelo seu estado de saúde e a participação dos doentes no sistema.

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Fotografias: André Roque

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satisfação dos utentes no sector de saúde depende de vários factores, nomeadamente do acesso, relação entre o profissional e o utente, características individuais, acolhimento, informação, relação entre expectativas e oferta e reorganização dos serviços de saúde - variáveis que estiveram em destaque no Think Tank Saúdeem-Rede, que teve como tema «O Cidadão e o Sistema de Saúde» e cuja sessão pública decorreu a 24 de Março. Os vários especialistas que participaram na sessão acreditam que dentro de três anos a estas variáveis se vai juntar também a relação entre cuidados de saúde primários e continuados, as modalidades de pagamento, a liberdade de escolha, a competência profissional, o conhecimento dos utentes e os parceiros emergentes (ONG, associações, etc.). Uma forma de melhorar a satisfação dos utentes e de os dotar de ferramentas que permitam um maior envolvimento e responsabilização pela sua saúde é envolvêlos no sistema. “A envolvência da sociedade civil organizada na resolução de problemas que nos afectam enquanto humanidade, articulando a sua acção com o poder político na criação, implementação,

fiscalização e avaliação de políticas públicas é cada vez mais uma realidade e uma necessidade”, de acordo com os vários intervenientes no Think Tank. Para isso é necessário apostar na educação para a saúde, em estratégias pró-activas que levem à participação e na estimulação do associativismo. A educação para a saúde deverá iniciar-se logo nos primeiros anos de vida e o enfoque deverá estar na saúde e não na doença, recorrendo a mais informação e ao marketing social para promover a saúde. Deve-se ainda apostar no associativismo de doentes e criar novos espaços de discussão que envolvam os utentes. A perspectiva do utente Em representação dos utentes esteve presente o jornalista Jorge Correia, da Antena 1. Não falou como jornalista, especializado em saúde, mas como cidadão. Ao contar a sua experiência focou bastante a questão do empoderamento (ou emporwement) do cidadão nas decisões toma-

das no sistema de saúde. Destacou ainda a necessidade de se dar mais informação aos doentes para se evitar a experiência que teve nas urgências de um hospital público, no qual lhe foi injectada determinada substância para aliviar a dor, sem o informarem sobre o que iam fazer e sem perguntarem se era alérgico a algum medicamento. Salientou ainda as desigualdades no acesso à saúde, já que muitas vezes a solução para um problema é fazer a ponte entre o serviço público e o privado, o que não é possível em todas as famílias. Cuidados Paliativos e literacia em saúde A nível internacional, o Think Tank contou com a participação de Konrad Fassbender, responsável pelo Departamento de Cuidados Paliativos na Universidade de Alberta, no Canadá, e Anette Dumas, consultora de saúde na Comissão Europeia. No caso do Canadá, a satisfação dos utentes aumentou com a aposta nos cuidados paliativos, explicou Konrad Fassben-


debate

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Annette Dumas (Bélgica) e Konrad Fassbender (Canadá) estiveram presentes na sessão pública de apresentação das conclusões do terceiro ano do Think Tank Saúde-em-Rede

der. Desde 2004, o Governo implementou o Compassionate Family Care Leave Benefit Program, que permite ajudar financeiramente as famílias com doentes em fase terminal, protegendo inclusive o seu emprego, de acordo com o especialista. Contudo, o responsável considera essen-

cial realizar estudos de Medicina Baseada na Evidência para se ter uma noção exacta das vantagens desta opção. Em termos de saúde e bem-estar é bastante vantajoso, mas é preciso haver apoio financeiro suficiente que suporte os elevados custos adjacentes aos cuidadores,

O Think Thank Saúde-em-Rede contou com um painel multidisciplinar de especialistas. • Ana Cristina Mesquita – Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal / Escola Nacional de Saúde Pública • Ana Escoval – Administradora Hospitalar no Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), Professora Convidada na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/UNL); Presidente da Direcção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH) • Artur Vaz – Administrador Hospitalar, Hospital Fernando da Fonseca • Célia Gonçalves - Escola Nacional de Saúde Pública • Clara Carneiro, Farmacêutica, Professora Associada Convidada Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, Deputada Assembleia da República • Isa Alves – Alto Comissariado da Saúde • Isabel Saraiva - RESPIRA • Jaime Correia de Sousa - Universidade do Minho • José Boavida – Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal / Direcção Geral da Saúde • Maria da Luz Pereira – Centro de Saúde do Seixal • Manuel Delgado – Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares • Manuel Lopes – Director Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus da Universidade de Évora

quer com o familiar, quer a nível do seu emprego. Annette Dumas falou sobre literacia em saúde e defendeu que para se dar mais emporwement à população é necessário comunicar de forma adequada para que as mensagens de educação para a saúde sejam percebidas. Para além de se melhorar a saúde da população e de se aumentar a sua satisfação face ao sistema de saúde, diminuem-se os custos, evitam-se erros na medicação e há uma maior adesão às terapêuticas. Como representante da Comissão Europeia, garante que este organismo está empenhado em investir cada vez mais na promoção de hábitos de vida saudável. Anette Dumas salienta a necessidade de se optar mais pela promoção de hábitos saudáveis, para que a população tenha mais bem-estar, mas também para se conseguir controlar os custos em saúde. É ainda uma forma de ajudar os doentes crónicos a controlar a sua doença. MJG

• Manuel Oliveira – Presidente do Conselho Directivo Regional, Ordem Enfermeiros (Secção Regional do Centro) • Mauro Serapioni - Centro de Estudos Sociais – Universidade de Coimbra • Paulo Espiga - Director, ACES Alentejo Litoral • Pedro Afonso – Vogal Executivo, Hospital de São Sebastião • Pedro Ferreira – Faculdade de Economia de Coimbra • Pedro Lopes – Administrador Hospitalar Hospitais da Universidade de Coimbra / Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares • Pedro Pimentel – Médico Oncologista e Hematologista Clínico • Rui Sousa Santos - Presidente Conselho de Administração Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo • Sofia Ravara - Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior / Centro Hospitalar da Cova da Beira, Comissão de Prevenção de Tabagismo / Sociedade Portuguesa de Tabacologia • Teresa Luciano - Directora ACES Oeste Norte • Tito Fernandes - Enfermeiro USF Horizonte (Unidade Local de Saúde de Matosinhos) e Docente Escola Superior de Enfermagem do Porto • Torcato Santos - Presidente Conselho de Administração Unidade Local de Saúde de Matosinhos • Vera Romão - Sub-Directora do Laboratório de Análises Toxicológicas da Marinha • Vítor Ramos - USF Marginal

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debate

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Eficiência e qualidade na saúde o objectivo das ferramentas Kaizen é apoiar as empresas e organizações no processo de redução de custos, actuando na eliminação de desperdício e estando orientado para a criação de valor. em Abril, conhecemos no “Fórum melhoria Contínua na saúde” quem utiliza estas ferramentas em Portugal.

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principais mudanças que se têm concretizado com a implementação das ferramentas Kaizen nessas unidades de saúde. CeNtro hosPitAlAr do Porto – hosPitAl sANto ANtóNio Bloco operatório Hora média por doente na sala passou de 8h31 em 2009 para 8h26 em 2010. Esperam chegar às 8h15m. Ainda em fase de implementação, realçam a vantagem da normalização dos procedimentos e a prevenção dos problemas. Consulta externa Melhoramento do circuito e da acessibilidade do utente; satisfação dos utentes e profissionais; maior articulação com os serviços de suporte. serviço de Farmácia Maior produtividade no “picking”; redução da área total de armazenamento em 29%; diminuição de transporte de produtos farmacêuticos dentro dos sectores da Farmácia.

André Roque

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paradigma de uma empresa automóvel também pode ser utilizado na Saúde. O LEAN é um novo paradigma que tem como objectivo aumentar a eficiência da produção pela eliminação contínua de desperdícios. Apesar de ter começado a ser utilizado na indústria automóvel, foi adaptado ao sector da Saúde. O Kaizen Institute é um dos promotores deste novo paradigma e tem implementado ferramentas em mais de 30 países, incluindo Portugal. No passado dia 13 de Abril, o Fórum Hospital do Futuro organizou o Fórum Melhoria Contínua na Saúde, onde estiveram presentes o Instituto Kaizen e vários exemplos de Boas Práticas portuguesas em unidades de saúde que implementaram ferramentas Kaizen LEAN. O objectivo destas ferramentas é apoiar “as empresas e organizações no processo de redução de custos, actuando na eliminação de desperdício e estando orientado para a criação de valor”, de acordo com o Founder e Chairman do Kaizen Institute, Masaaki Imai (na foto). Com estas ferramentas, as unidades de saúde conseguem alcançar vários objectivos: aumento de produtividade, aumento de qualidade, redução de stocks, motivação dos colaboradores, maior flexibilidade, custos reduzidos e um rápido retorno do investimento. O Fórum Melhoria Contínua na Saúde contou com a apresentação de vários casos práticos em unidades de saúde portuguesas, em laboratórios, clínicas, serviços de ambulatório, consulta externa, bloco operatório e logística. Apresentamos as

Masaaki Imai, Founder e Chairman do Kaizen Institute, pretende apoiar as empresas e organizações no processo de redução de custos, actuando na eliminação de desperdício e estando orientado para a criação de valor

espaços de armazenamento; fluxos “mais limpos”; diminuição da taxa de erro; reforço da imagem do serviço junto dos profissionais; concentração do stock num único ponto; maior frequência nas entregas. lABorAtórios medloG Mais audácia e espírito de equipa; maior orientação para resultados; eficácia; maior produtividade.

hosPitAl de são joão (Porto) serviço Ambulatório Revisão periódica da alocação de espaço por especialidade; centralização no utente; eficiência nos processos; criação de valor.

esFerA sAúde serviço de radiologia Ganho em tempo e espaço; arquivo normalizado; reposição diária; menos deslocações da parte do utente; menor confusão nas salas de espera; menos 3h/dia de trabalho administrativo.

uNidAde loCAl de sAúde de mAtosiNhos – hosPitAl Pedro hisPANo serviço de Compras e logística Entregas mais frequentes; auditorias aos

lABorAtórios uNilABs Análises Clínicas Normalização de processos; melhoria na organização dos procedimentos; menos erros. MJG


diabetes

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Diminuir as amputações nos diabéticos

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ma pequena ferida no pé não é sinal de preocupação. Excepto se for diabético. Quem sofre de diabetes tem mais dificuldade em tratar infecções e uma única ferida, por mais pequena que seja, poderá ser o primeiro passo para a amputação do pé. Para diminuir a taxa de amputações dos membros inferiores, o Hospital Geral de Santo António, no Porto, apostou numa equipa multidisciplinar que trata os vários problemas associados ao pé diabético. A responsável pela equipa, Adelina Serra, explica, em entrevista à HdF, o investimento nesta equipa: “A infecção profunda e destrutiva é tratada pelo cirurgião ortopédico. A oclusão arterial pelo cirurgião vascular. Estas duas especialidades são os vértices do triângulo que o endocrinologista completa. Este triângulo é essencial e insubstituível num grande hospital central, mas poderia quase equivaler-se ao binó-

Fonte: istockphoto

o hospital de santo António, no Porto, tem obtido bons resultados com a equipa multidisciplinar que cuida do pé diabético. A doença é responsável pela maioria das amputações dos membros inferiores nos diabéticos e o ideal é prevenir e ser acompanhada por vários profissionais. o uso de palmilhas adequadas também é uma medida importante, como revela o projecto da Associação Protectora dos diabético de Portugal. mio internista-cirurgião geral em hospitais de média dimensão”, explica. O papel da equipa multidisciplinar deve ser curativo, mas também preventivo e de diagnóstico. “O objectivo destas equipas multidisciplinares hospitalares é curativo e vital no apoio aos centros de profilaxia e diagnóstico, se eles existirem. No nosso caso, a equipa é ainda complementada por fisiatras e podologias, além do papel central dos enfermeiros”, refere. Já em 1989, numa reunião em St. Vicent (Itália), que reuniu vários representantes governamentais e associações de doentes dos países da Organização Mundial de Saúde e onde se reconheceu, oficialmente, que os países necessitavam de adoptar estratégias de combate e controlo da diabetes, se alertava para a necessidade de se diminuir em 50% os casos de amputações dos membros inferiores. Esta meta destinava-se a obter um pro-

gresso muito significativo nos países que começavam a ter uma rede sanitária global de prevenção e cuidados curativos no pé do diabético. Como Portugal não tinha essa rede, foi criada a consulta multidisciplinar no Hospital de Santo António. “No começo do século XXI, apenas na Região Norte do país a percentagem de amputações rondava os 8% e creio que o devia em absoluto ao efeito na nossa consulta”, diz Adelina Serra. As consequências do pé diabético Uma das consequências da diabetes é a dificuldade em controlar infecções, por menores que sejam. A dificuldade aumenta com a idade e com a coexistência de outras doenças. Face a estes problemas poderá surgir a neuropatia, ou seja, perda de sensibilidade nos nervos dos pés. As feridas poderão surgir, mas os sintomas não indiciam a sua gravidade, por não se sentir dor. +

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diabetes

Fonte: APDP

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As pessoas mais idosas e as que têm menos conhecimentos sobre a doença poderão aperceber-se das consequências da ferida quando a infecção já está mais avançada. Na neuropatia, o doente perde de forma lenta as sensações no pé, como a de posição, pressão e temperatura. A ferida pode surgir facilmente. «Uma pequena ferida por compressão do sapato ou uma pedrinha no seu interior, uma calosidade plantar em desenvolvimento, são capazes de provocar dor intolerável numa pessoa com sensibilidade normal, mas não em quem sofre de neuropatia”, explica a responsável. Outro problema a que o diabético está sujeito é o da oclusão progressiva e múltipla das artérias da perna que lhe pode tornar o pé isquémico, carente de oxigénio e nutrientes. Esta é a complicação mais grave que torna hoje impossível o objectivo de 0% de amputações, segundo a especialista do Hospital de Santo António.

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o acompanhamento médico em Portugal As equipas multidisciplinares não são uma realidade habitual em Portugal. Para controlar a doença desde cedo, a Direcção-Geral de Saúde (DGS) criou o Registo Nacional de Diabetes para Crianças e Jovens, o DOCE, que permite saber qual é a prevalência e a incidência da doença até aos 25 anos. O registo, obrigatório, deverá ter os primeiros resultados em Outubro de 2010. Já este ano, o Observatório Nacional da Diabetes divulgou, em relatório anual, que um terço da população portuguesa sofre

de diabetes ou está em risco de vir a sofrer. Face ao relatório, a Ministra da Saúde, Ana Jorge, afirmou então que era essencial criar equipas multidisciplinares para se combater a diabetes.

Palmilhas feitas à medida evitam feridas “Para Uma Vida Adulta Produtiva: Cuidar o Pé” é um sub-projecto do “Diabético Adulto” da Associação Protectora dos Diabéticos de Por tugal (APDP), que envolve uma parceria com o Centro de Saúde do Redondo, Centro de Saúde de Viana do Alentejo, Centro de Saúde de Arraiolos e a USF Planície (Évora). O projecto, apoiado pela DGS, “permitiu modernizar o equipamento de construção de palmilhas, integrando a forma do pé em carga e a avaliação das pressões nessa construção, diminuindo a pressão máxima em 40% durante a marcha”, refere o responsável, Rui Oliveira. O envio de doentes de várias partes do país para a construção de suportes plantares nesta instituição tem aumentado gradualmente. Actualmente os doentes não necessitam de se deslocar a Lisboa para ter sapatos com estas palmilhas.

“Uma pequena ferida por compressão do sapato ou uma pedrinha no seu interior, uma calosidade plantar em desenvolvimento, são capazes de provocar dor intolerável numa pessoa com sensibilidade normal, mas não em quem sofre de neuropatia [perda de sensibilidade no pé]” O melhor tratamento é mesmo a prevenção. “A diminuição futura em 50% da taxa de amputações não depende fundamentalmente da cura das complicações graves, mas sim da detecção oportuna das causas que as desencadeiam, o papel por excelência dos centros de saúde. Neles está toda a esperança do futuro”, alerta Adelina Serra. O coordenador do Programa Nacional de Controlo da Diabetes da DGS, José Manuel Boavida, disse à HdF que vai haver uma aposta ainda maior de equipas multidisciplinares, prevendose inclusive que arranque um projectopiloto em 2011, em cinco zonas de Portugal, de um modelo de gestão integrada da diabetes que envolva os cuidados primários e os hospitalares.

As informações necessárias são enviadas através de centros remotos e a um custo mais acessível do que no Sistema Nacional de Saúde, informa Rui Oliveira. E acrescenta: “Para além dos objectivos propostos, há a evidenciar a utilização do equipamento para a construção de dispositivos de descarga de pressão fixos no local da úlcera que permitem cicatrizar algumas lesões mais rapidamente”. Independentemente da tecnologia e da ajuda médica, os doentes também têm de ter alguns cuidados, como secar bem os pés, cortar bem as unhas, evitar fontes de calor directas sobre o pé e fazer um exame diário para detectar possíveis feridas. MJG


termalismo

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Fonte: Termas do Estoril

Termas oferecem saúde física e mental

As termas não são uma escolha do passado para quem sofre obrigatoriamente de alguma doença. o sector revitalizou-se e oferece produtos de saúde e Bem-estar para qualquer pessoa, havendo uma forte aposta na prevenção e na revitalização da saúde física e mental. exemplo disso são as termas de monte real, em leiria, e as termas do estoril, em lisboa.

T

ratar do corpo e da mente é a nova aposta do turismo de saúde. Uma das áreas de investimento do sector é conjugar termas e spas. Esta mudança já levou a um investimento de mais de 200 milhões de euros, de acordo com a presidente da Associação das Termas de Portugal (AST), Teresa Vieira: «Saúde e Bem-Estar» é um pro-

duto que conjuga o bem-estar físico, psicológico e espiritual. Face ao aumento de clientes noutros países, Portugal também quer apostar neste produto, que é um dos dez produtos turísticos da estratégia de desenvolvimento turístico do país. “As termas têm uma componente terapêutica, de bem-estar, lazer e turismo. Não só convidam à recuperação terapêutica, como à prevenção e promoção da saúde e ao turismo. Cabe ao termalismo ancorar este produto com o apoio de todas as instituições ligadas ao sector do turismo”, salienta Teresa Vieira. A responsável considera ainda que é necessário aumentar a comparticipação dos tratamentos por parte do Estado e sensibilizar ainda mais a classe médica para a importância do termalismo. “O envolvimento da comunidade científica e da classe médica é vital para a afirmação do termalismo de prevenção, promoção e/ou reabilitação. Este envolvimento deve começar nas universidades. A este nível têmse desenvolvido algumas parcerias

interessantes que urge uniformizar em todo o território e em todas as faculdades de medicina. Ao nível dos profissionais de saúde, é preponderante que se promovam acções de informação sobre as valências terapêuticas das termas portuguesas, cujo reconhecimento é oficial e público”, defende a responsável. revitalizar o sector das termas A pensar nestas mudanças, as termas estão a adaptar-se ao novo produto que atrai cada vez mais pessoas, principalmente ao fim-de-semana, e houve nesse sentido várias reestruturações. Exemplos disso são as Termas de Monte Real, que reabriram há um ano, e as Termas do Estoril, que reabriram em Abril deste ano. “Apostámos na manutenção e diversificação da nossa terapêutica termal, acrescentando novos serviços termais. Paralelamente, mantivemos e reforçámos a nossa equipa de corpo clínico e de terapeutas”, disse à HdF o director das Termas e Spa de Monte Real, Luís Mexia Alves. O +

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termalismo

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Fonte: Termas Monte Real

HdF. As pessoas sentem, no seu entender, a necessidade de restabelecerem a sua saúde e bem-estar através das propriedades curativas e preventivas da água mineral, com determinadas propriedades. Questionada sobre a nova oferta, a responsável acredita que é a oferta adequada para o contexto social em que vivemos. Já não há tantas pessoas a quererem fazer termas apenas para se tratarem ou para controlar determinada doença, mas há um incremento na procura de pacotes de fim-de-semana para revitalizar a mente e o corpo. Quem procura as termas, fá-lo também para controlar determinadas doenças sem recorrer, de forma sistemática, a determinados fármacos que poderão ter, a posteriori, efeitos secundários menos agradáveis. Exemplo disso é quem sofre de dores reumatismais ou sinusite. As águas termais poderão aliviar as dores, melhorar e até controlar a sinusite durante mais tempo, evitando-se a toma sistemática de fármacos químicos.

Nas Termas Monte Real, os utentes recorrem à hidromassagem para aliviar as dores musculares e o stress do dia-a-dia, responsável por várias doenças físicas e psicológicas.

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responsável considera que esta modernização é essencial para se revitalizar o termalismo. “Independentemente de inúmeros factores inerentes à actividade do termalismo, apoio e incentivos das tutelas, capacidade de penetração nos meios académicos, realisticamente, o reposicionamento e crescente valorização das estâncias termais nacionais será essencialmente atingido, de forma progressiva, através da actual reclassificação e modernização dos balneários termais. Só assim Portugal deixará de se constituir como um dos países da Europa com menos tradição de frequência termal”, acrescentou. Tendo em conta que ainda predomina a ideia de que o termalismo é para os mais velhos, o director clínico das Termas de Monte Real, Frederico Teixeira, faz questão de desmistificar o termalismo e apre-

sentá-lo como é visto pela legislação de 2004. “O termalismo aproveita também (aliás, como muitas outras técnicas terapêuticas o fazem) a psicoterapia, a climatoterapia e a educação do doente, com correcção de factores de risco (na postura, no repouso ou no exercício orientados, no regime alimentar) e com o desenvolvimento de novos hábitos de vida. E termalismo é também o sentir-se bem, ou o sentir-se melhor, o promover a saúde, no conceito máximo de bem-estar físico, mental e social”, referiu. A directora clínica das Termas do Estoril, Cândida Monteiro, também vê o termalismo como uma forma de tratar e prevenir a doença. “As termas permitem sair da rotina, dando oportunidade ao organismo humano de recuperar o seu ritmo natural, que se desequilibra face ao stress e às responsabilidades do dia-a-dia”, disse à

A relação entre a medicina tradicional e as termas Apesar das novas ofertas, há ainda muitos casos de pessoas que vêem nas termas uma forma de controlar doenças crónicas. Tanto Frederico Teixeira como Cândida Monteiro consideram que a prática do termalismo não tem de ser separada da Medicina tradicional. Os medicamentos são necessários e não se inicia nenhum tratamento sem haver uma consulta prévia. Há mesmo quem venha às termas por recomendação do médico de família. “A terapêutica termal não é uma panaceia que visa substituir a terapêutica medicamentosa. Todavia, será muitas vezes uma terapêutica a não esquecer para complementar a terapêutica medicamentosa que eventualmente seja obrigatória (e, desse modo, reduzir a quantidade de medicamentos) ou a que se deve recorrer por eficaz e mais segura, por menos tóxica do que os medicamentos então possíveis de utilizar”, refere o director clínico das Termas de Monte Real. Cândida Monteiro, das Termas do Estoril, concorda e realça que as termas, actualmente, têm um rigoroso controlo da qualidade, segurança e higiene. MJG


cardiologia

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

Morte Súbita:

sem socorro imediato a vítima de paragem cardíaca morre em 95% dos casos

A

Morte súbita (MS) é por definição aquela que ocorre inesperada e subitamente em indivíduos previamente saudáveis ou cuja doença cardíaca não faria esperar tal desfecho. A morte ocorre durante a primeira hora, entre o início dos sintomas até ser constatado o óbito. Só é considerada morte súbita se não forem encontrados sinais de violência ou trauma. A definição para o anatomopatologista é algo diferente considerando-se vitima de MS toda aquela pessoa que é encontrada morta dentro das primeiras 24 horas depois da última vez em que foi vista com vida. Neste caso estarão incluídos muitos casos de morte súbita não cardíaca. Estimativas optimistas apoiadas em estudos epidemiológicos calculam que ocorram pelo menos 300 000 mortes súbitas por ano nos Estados Unidos. Os números Europeus seguem de perto os Americanos. Partindo destes números e feita a extrapolação para a população portuguesa, conclui-se que deste modo morrem anualmente 10 mil portugueses. Contudo, a percepção da sua importância é subvalorizada quer pelo cidadão comum, quer pelos médicos, pois continua-se a pensar ser a mortalidade devida a neoplasias superior à provocada por MS. Esta, na verdade, que é causada em 85% a 90% por um evento arrítmico cardíaco e, em última análise, cardiovascular, causa mais mortes do que o cancro do pulmão, da mama, acidentes vasculares cerebrais e SIDA, todos juntos (figuras 1 e 2). Porque é que o problema permanece subvalorizado? Será que a morte súbita é considerada uma fatalidade incontornável? A MS ocorre em todas as idades, tanto em crianças recém-nascidas como em adultos. Nas crianças é mais frequente nos primeiros

João Primo Cardiologista e Electrofisiologista. Presidente da Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia (APAPE)

167,366 enfarte

157,400 Cancro do Pulmão

A ms provoca mais mortes do que estas doenças em conjunto, por ano.

450,000 ms

40,600 Cancro da mama 42,156 Vih/sidA Figura 1

três meses e é rara depois do sexto mês de vida. Está provavelmente relacionada com factores genéticos hereditários, nomeadamente alterações das correntes iónicas celulares, os canais do sódio e cálcio, algo etiologicamente semelhante ao Síndrome de Brugada (figura 3). Nos jovens e adultos, sedentários ou atletas, a grande maioria dos casos de MS acontece por doenças do coração. Sejam elas conhecidas ou não pelos portadores ou pessoas de suas relações, podem ser provocadas por anomalias congénitas, doenças geneticamente transmitidas que provocam alterações anatómicas (cardiomiopatia hipertrófica e a displasia arritmogénica do ventrículo direito), inflamação cardíaca (miocardite), doença coronária, tóxicas ou por excesso de actividade física. A MS em atletas é na verdade muito baixa, 1/100 mil/ano em indivíduos com idade inferior a 30 anos; é, contudo, muito mediática e

talvez a única maneira de fazer recordar às pessoas que ela existe. Com a ampliação dos conhecimentos médicos, a melhoria dos recursos de diagnóstico e a realização de autópsias, o leque de diagnósticos que esclarecem estas mortes vai aumentando. Sabe-se que 43% das vítimas tinham doença arteriosclerótica das artérias coronárias, mas em 16% das vítimas a causa permaneceu desconhecida. Cada vez mais, contudo, se reconhecem causas electricamente primárias para a MS. São bem conhecidos os síndrome do QT longo, QT curto,Taquicardia ventricular catecolaminérgica ou o Síndrome de Brugada. Segundo um estudo divulgado feito pelo Instituto de Medicina Legal de Sevilha, publicado na revista “European Heart Journal”, 3,1% dos casos de MS em Espanha estão associados ao consumo de cocaína. +

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cardiologia

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Figura 3 - Padrão electrocardiografico típico de Brugada (tipoI)

ms enfarte Cancro do Pulmão Acidentes de Automóvel

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Pessoas submetidas a grande stress emocional estão mais sujeitas a eventos fatais. É conhecido o chamado efeito dominó, em que a morte súbita de um familiar provoca sucessivamente eventos cardiovasculares fatais ou não em outros membros da mesma família. A baixa condição sócio-económica, as exigências e imposições de gestores mal preparados a troco de baixos salários são também causa de stress emocional causador de MS. Teremos que repensar a nossa sociedade: se queremos uma sociedade para as pessoas ou para os “accionistas”. É possível prevenir a MS com um cardioversor-desfibrilhador implantado (CDI) em doentes que reconhecidamente apresentam elevado risco, por exemplo, doentes que já sofreram um episódio de paragem cardíaca ou que têm documentadas arritmias ventriculares sustentadas é a chamada prevenção primária. Contudo, hoje em dia, as recomendações internacionais também contemplam a prevenção primária de MS, ou seja, alguém que não teve nenhum evento mas que tem grandes proba-

Cancro da mama Vih /sidA incêndios Figura 2

bilidades de vir a ter, por exemplo, doentes com antecedentes de enfarte miocárdio que ficaram com função cardíaca debilitada. O CDI é um aparelho que é implantado num paciente e que tem a capacidade de detectar e tratar com um choque eléctrico a taquiarritmia causadora do evento. Contudo, a MS é na maior parte das vezes completamente imprevisível. Se, por vezes, é antecedida de síncope ou dor no peito, a maior parte das vezes os sintomas prévios são muito indefinidos. Calcula-se que 10% dos doentes vítimas de MS consultaram um médico no mês anterior à morte por sintomas que não foram valorizados. A solução portanto é acudir prontamente a uma vítima de MS.

Figura 4 - Desfibrilhador Externo Semiautomático

Também aqui existe um obstáculo, pois a maior parte das vazes a vítima está sozinha na hora fatal. Mas, se tivermos a oportunidade de assistir a uma situação de paragem cardíaca, podemos observar que a vítima, se estiver de pé, inclinase inicialmente para a frente, dobra levemente os joelhos, antes de cair flácida ao chão. Por vezes, embora sem pulso, podem dar a ideia que ainda estão conscientes, pois o débito cerebral não cessa de imediato. Nestas circunstâncias, quem presencia o evento deve socorrer a vítima, pois os minutos iniciais são os que ainda oferecem a possibilidade de salvação. A morte súbita, na grande maioria dos casos, é provocada por arritmias cardíacas e nestas em 88% dos casos são taquiarritmias, ou seja, arritmias ventriculares rápidas e desorganizadas. Em primeiro lugar, está a fibrilhação ventricular, que costuma ser antecedida ou não de taquicardia ventricular. Estas arritmias levam a uma diminuição súbita do débito cardíaco, faltando sangue no cérebro, o órgão mais sensível à falta de oxigénio e que em poucos segundos faz com que a pessoa perca a consciência. Nestas circunstâncias, a vítima deve ser assistida nos primeiros dez minutos, contudo, por cada minuto que passa, as hipóteses de sobrevivência e inexistência de danos cerebrais diminui. Qualquer pessoa devia estar apta para efectuar uma assistência imediata: telefonar ao 112, um murro no peito e efectuar manobras de reanimação. As taquiarritmias ventriculares, causa primordial da morte súbita, contudo, são terminadas com a aplicação de um electrochoque que permite a reversão imediata a um ritmo normal e restauração da circulação sanguínea da vítima. É por este motivo que a disseminação de aparelhos de desfibrilhação externa automática (figura 4) e legislação que permita o seu uso em locais muito frequentados é tão importante e um objectivo primordial.


opinião

Hospital do Futuro | juN. 2010 | N. 12

Que palhaçada é esta?

Beatriz Quintella

Presidente da operação Nariz Vermelho

o lugar de Palhaço... é no hospital Quando uma criança encontra um palhaço, nasce um mundo mágico que transforma todo o ambiente à sua volta. Esta é a missão dos “Doutores” da operação Nariz Vermelho (ONV): Transformar momentos, tornando mais terna e feliz a ex-

periência das crianças no hospital. Estimulando o lado saudável da criança doente, transmitindo confiança, optimismo e auto-estima. Os nossos Doutores Palhaços trabalham em duplas e visitam cada hospital uma ou duas vezes por semana. Durante a sua estadia no hospital, as crianças são visitadas individualmente pelos nossos “doutores” que, além de aplicarem injecções de alegria: - distribuem multas para macas mal estacionadas e cadeiras de rodas em alta velocidade; - efectuam transplantes de “nariz vermelho”; - prescrevem receitas de bolos; - fazem tratamentos específicos para a dor de cotovelo.

doutor Palhaço – uma Nova especialidade Integram o projecto artistas profissionais experientes vindos de diferentes áreas, não só palhaços, como actores, músicos e contadores de histórias. Todos com grande capacidade de brincar e improvisar e que ao integrarem o projecto recebem uma formação específica sobre o Universo Hospitalar para compreender e apreender as regras deste espaço e a ele adaptar o seu jogo. O Doutor Palhaço tem a responsabilidade de promover a sua integração e aceitação no meio hospitalar. Assim, todos os nossos artistas devem conhecer profundamente o hospital e ser sensíveis ao ambiente. Além disso o nosso trabalho é reajustado +

Fotografias: Operação Nariz Vermelho

N

os últimos 10 anos a presença dos artistas dentro dos hospitais cresceu consideravelmente, fazendo com que diversos grupos de músicos contadores de história, artistas plásticos, palhaços e animadores venham conquistando as enfermarias de todo o mundo trazendo para dentro dos hospitais a sua arte. Este é na verdade um movimento natural, pois um hospital é essencialmente um local onde seres humanos cuidam e tratam de outros seres humanos, e nada é mais definitivo da expressão do que é humano do que a arte em sua essência. Nada toca e regenera mais o espírito do que a harmonia das notas musicais, a magia das cores sobre a tela, as palavras mágicas de um conto tradicional ou a boa gargalhada de uma criança quando encontra um palhaço. É essencial, entretanto, que o movimento da arte em direcção aos hospitais seja pensado e desenvolvido em perfeita consonância com o trabalho dos profissionais de saúde, o ambiente e o público para o qual se dirige. Sendo por isso indispensável a criação de uma metodologia e um esquema padronizado que determine a forma de estar do artista dentro das enfermarias. Para isso é fundamental que músicos, contadores de histórias e palhaços se unam na criação de um programa de especialização do artista que trabalha nos hospitais, pois só assim estaremos perpetuando e desenvolvendo na plenitude o nosso dom.

Todos os nossos artistas devem conhecer profundamente o hospital e ser sensíveis ao ambiente.

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opinião

N. 12 | juN. 2010 | Hospital do Futuro

seu foco está na ligação com cada indivíduo. Não existe show, não existe grande público. É uma conexão humana, um momento de cada vez, um paciente de cada vez, um coração de cada vez.

É essencial que o movimento da arte em direcção aos hospitais seja pensado e desenvolvido em perfeita consonância com o trabalho dos profissionais de saúde, o ambiente e o público para o qual se dirige

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e reciclado regularmente e oferece contínua formação técnica e artística a todos os artistas. Um Doutor Palhaço conhece a organização e estrutura de um departamento pediátrico e o papel dos profissionais de saúde que lá trabalham. Sabe as regras de higiene, as normas de conduta hospitalar, como abordar as diferentes áreas de isolamento que existem nas enfermarias, bem como os direitos das crianças e o papel das organizações de apoio, estabelecendo com as crianças relações baseadas na confiança e no respeito. Está também sensibilizado para as reacções das crianças à doença, à dor, ao internamento, aos tratamentos e à morte. Entretanto, é importante salientar que os nossos “Doutores” não são terapeutas e nunca interferem nas relações dos médicos nem das enfermeiras com os pacientes. Respeitando escrupulosamente os actos médicos e quem os pratica, bem como a confidencialidade devida aos pacientes. Para além disso, os “Doutores” da ONV envolvem nessas acções, com tacto e sensibilidade, a família e os

profissionais de saúde com quem dialogam acerca da condição das crianças para agir em conformidade com o seu estado de saúde e de espírito. É possível que um artista seja genial no palco, mas, quando entra no hospital, perca totalmente a graça. É como se ele precisasse da linha imaginária entre ele e o público. O Doutor Palhaço faz do paciente o foco: o palco onde o espectáculo começa e acaba. É na comunicação que ele focaliza, e não no aplauso da plateia. O

lembre-se: você está num hospital! Quando entramos num hospital costumamos logo deparar com uma placa que em letras grandes exige: SILÊNCIO. Entretanto, há uma grande discordância entre o pedido e o cumprido… Um hospital é um lugar cheio de sons e um hospital pediátrico é ainda mais repleto de sons. Se prestarmos alguma atenção, ouviremos o rumor das máquinas e aparelhos que apitam, os sons das macas e das portas a abrir e fechar. Os telemóveis tocam (são proibidos…mas tocam), as pessoas falam, as televisões falam (e cantam e gritam), as crianças choram, as mães suspiram...tudo isso misturado, criando um contínuo murmúrio que pode variar de intensidade e volume. Trazer uma dupla de palhaços e incentiválos a actuar nesse ambiente é sempre uma grande aventura. Como fazê-los funcionar de forma que ao criarem a sua “cena” não contribuam para aumentar os ruídos à sua volta? Como transitar entre a alegre confusão criada pela presença de um ser tão especial no imaginário das crianças e a necessidade de se manter uma ambiente harmonioso, afinal o paciente da cama ao lado pode estar a dormir ou precisar de descansar!? Mas a verdade é que a vida é feita de sons. E os hospitais precisam e dependem da vida. Aliás, a vida é o seu principal produto. E é por isso que nos dedicamos com profunda seriedade a exercer a nossa arte, fazendo caretas e piruetas e provocando gargalhadas deliciosas num bebé. Pois o som desta gargalhada vai encher cada centímetro daquele quarto de frescura fugindo para os corredores enquanto espalha boa disposição. Essa é a nossa Arte: às vezes melodiosa, às vezes cómica, às vezes mais alegre, às vezes até um bocadinho triste... mas sempre afirmando o que temos de melhor. A nossa humanidade.


perspectivas

Modelo Logístico Integrado EKANBAN e EKANBAN PHARMA na HPP – Hospital de Cascais

A

implementação do Modelo Logístico Ekanban® e Ekanban Pharma® no Hospital de Cascais – HPP teve como principal desafio dotar o Hospital de condições logísticas, garantir o conceito do “Patient Safety” e “Medication Safety” no circuito do medicamento e optimizar todo o processo de forma a reduzir os custos, aumentando fundamentalmente a segurança do doente na toma dos medicamentos.

Os principais objectivos do processo eram: ➲ Melhoria dos processos afectos à Logística; ➲ Controlo efectivo dos materiais dispersos pelos Serviços Utilizadores; ➲ Redução dos stocks nos Armazém Central, de Farmácia e Armazéns Avançados nos Serviços Utilizadores; ➲ Racionalização do consumo e respectiva redução de custos; ➲ Melhoria das condições físicas de armazenagem; ➲ Melhoria da comunicação entre os Armazéns Centrais e os Serviços Utilizadores; ➲ Criação de mecanismos de segurança do doente na administração e toma de medicamentos; ➲ Garantir os 5R (Five Rights): right patient, right medication, right dose, right time and right route; ➲ Imputação ao doente do consumo de medicamentos. O processo acompanhou a construção do hospital e houve todo um processo de planeamento e concepção, desde a análise das plantas passando pela projecção de espaços a 3 dimensões, terminando na planificação do layout mais adequado para a execução do projecto. Com todo este processo foi possível não só obter uma melhor organização dos espaços como também fazer uma previsão de materiais e equipamentos mais adequados do que aqueles

inicialmente previstos permitindo com isto obter ganhos organizacionais, estruturais e de processos. De acordo com estudos internacionais, estima-se que 46% do orçamento operacional de um hospital seja despendido em actividades relacionadas com Logística, 27% dos quais em Material e Equipamentos e 19% em Mão-de-obra. Uma total optimização dos Processos Logísticos pode levar a reduções de 48% destes custos, melhorando ainda o nível de serviço hospitalar. Consciente desta realidade, a HPP considerou a implementação do modelo Ekanban® no novo Hospital de Cascais no Serviço de Aprovisionamento e Serviços Utilizadores. A preparação do Armazém Central consistiu na definição de layouts, identificação dos espaços por código de barras, preparação de toda a estanteria e arrumação do material. Com esta implementação todo o processo logístico passou a ser feito com recurso a automatismos (PDA). As necessidades de reposição dos Serviços Utilizadores chegam ao Armazém e Farmácia exclusivamente pelo Sistema de Informação (SI) - EkMobile, suportado por uma rede wireless, o que diminui drasticamente a produção de papel e a existência de erros. Implementação do Sistema Ekanban Pharma® na Farmácia e Serviços Utilizadores Estudos como o realizado pelo Institute for Safe Medication Practices e o Journal of

the American Medical Association apontam para que dos 2,7% de erros de medicação que ocorrem em todo o processo associado ao circuito do Medicamento 38% correspondem à administração, sendo que estes são também os mais difíceis de serem detectados (apenas 2%). O modelo Ekanban Pharma® visa a segurança dos doentes pela validação da administração de medicação. Este conceito permite, com leitura do código de barras na pulseira do doente e no medicamento, fazer o matching. Em caso de verificar que o medicamento lido não consta da toma prevista, que a dosagem é diferente da prescrita, que o prazo de validade expirou ou o lote já foi retirado do mercado, será emitido um alerta para que este não seja administrado. Com isto consegue-se obter o registo automático da administração de medicamentos, fazendo revertências automáticas à farmácia. Além deste sistema, a HPP Cascais optou, também, pela colocação de sistemas de dispensa automática de medicamentos (Autodrugs) que foram colocados nas Unidades de Cuidados Intermédios e Intensivos e permitiram uma redução de consumo na ordem dos 9%. A implementação do modelo Ekanban® veio possibilitar o inventário permanente, trazendo ganhos com a redução de stocks em Armazém e Serviços Utilizadores. Com o modelo Ekanban Pharma® o maior ganho é ao nível do “Patient Safety”. Publi-reportagem: BIQ consulting

www.biqconsultores.com biq.geral@biqconsultores.com



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