Cultura ciber: a cibercultura em perspectiva culturalista

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Agenda...  Cultura (Bauman, 2013)

 Proselitista  Modernidade  Modernidade líquida

 Controvérsias da “cibercultura” (Primo, 2013)


Mas antes, o que é cultura?  Filosofia: manifestações humanas não

naturais  Antropologia: conjunto de significados de uma comunidade

 Biologia: cultivo (de micro-organismos, de abelhas, de plantas)


Mas antes, o que ĂŠ cultura? [...]significados comuns, produto de todo um povo [...] se constituem na vida, sĂŁo feitos e refeitos.

(WILLIAMS, 1989, p. 8, grifos meus)


Quem ĂŠ Zygmunt Bauman?


Quem é Zygmunt Bauman? Sociólogo, Polônia, 1925 Vive na Inglaterra desde1971 Prof. Univ. de Leeds e Varsóvia +30 livros; +100 artigos publicados Prêmio Príncipe de Astúrias de Comunicação e Humanidades  Globalização, consumismo e moralidade     


Histórico... ORIGINÁRIA

MISSÃO PROSELITISTA

MODERNIDADE FERRAMENTA DO ESTADONAÇÃO (1)

FUNÇÃO HOMEOSTÁTICA (2)

MODERNIDADE LÍQUIDA

MISSÃO DE SEDUÇÃO


Missão proselitista... [...] a “cultura” seria um agente da mudança do status quo, e não de sua preservação; ou, mais precisamente, um instrumento de navegação para orientar a evolução social rumo a uma condição humana universal. (p. 12)


Missão proselitista... O nome “cultura” foi atribuído a uma missão proselitista, planejada e empreendida sob a forma de tentativas de educar as massas e refinar seus costumes, e assim melhorar a sociedade e aproximar “o povo”, ou seja, os que estão na “base da sociedade”, daqueles que estão no topo. (p. 12)


Missão proselitista... Em La distinction, de Bourdieu, a cultura manifestava-se acima de tudo como um dispositivo útil, conscientemente destinado a assinalar diferenças de classe e salvaguardálas: como uma tecnologia inventada para a criação e proteção das divisões de classe e das hierarquias sociais. (p. 10)


Miss達o proselitista...


Hist贸rico...


Miss達o proselitista...


Modernidade (1)... A “cultura” compreendia um acordo planejado e esperado entre os detentores do conhecimento [...] e os ignorantes [...]; um acordo apresentado, por incidente, com uma única assinatura, unilateralmente endossado e efetivado sob a direção exclusiva recém-formada da “classe instruída”, que buscada o direito de moldar uma “nova e aperfeiçoada” ordem a partir das cinzas do ancien régime. (p. 13)


Modernidade (1)... A visão era a de “esclarecimento do povo”, “missão do homem branco” e, ainda, “salvar o selvagem de seu estado de barbárie”. (p. 13-14)

AGORA, em função do Estado-nação...


Modernidade (1)... Teoria Evolucionista (Morgan)  A Selvageria = índios  A Barbárie  A Civilização = sociedade atual

“[...]salvar o selvagem de seu estado de barbárie”. (p. 13-14)


Modernidade (1)...


Modernidade (1)... [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que serå salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar [...]

Carta de PĂŞro Vaz de Caminha 1 de Maio de 1500


Modernidade (1)...

Populacho

Corpo cĂ­vico


Modernidade (2)... Fases da migração cultural e o surgimento da função homeostática da cultura  1ª = Emigração; Cultivo; Estado-nação  2ª = Retorno dos colonizadores; Minorias  3ª = Era das diásporas


Modernidade Líquida... Liberada das obrigações impostas por seus criadores e operadores – obrigações originárias de seu papel na sociedade, de início missionário e depois homeostático –, a cultura agora é capaz de se concentrar em atender às necessidades dos indivíduos, resolver problemas e conflitos individuais com os desafios e problemas da vida das pessoas. (p. 16-17)


Modernidade Líquida... Pode-se dizer que, em tempos líquidomodernos, a cultura (e, de modo mais particular, embora não exclusivo, sua esfera artística) é modelada para se ajustar à liberdade individual de escolha e à responsabilidade, igualmente individual, por essa escolha. (p. 17)


Modernidade Líquida... A cultura hoje se assemelha a uma das seções de um mundo moldado como uma gigantesca loja de departamentos em que vivem, acima de tudo, pessoas transformadas em consumidores. Tal como nas outras seções dessa megastore, as prateleiras estão lotadas de atrações trocadas todos os dias, e os balcões são enfeitados com as últimas promoções, as quais irão desaparecer tão instantaneamente quanto as novidades em processo de envelhecimento que eles anunciam. (p. 20-21)


Modernidade Líquida... Em suma, a cultura da modernidade líquida não tem um “populacho” a ser esclarecido e dignificado; tem, contudo, clientes a seduzir. A sedução, em contraste com o esclarecimento e a dignificação, não é uma tarefa única, que um dia se completa, mas uma atividade com o fim aberto. A função da cultura não é satisfazer necessidades existentes, mas criar outras – ao mesmo tempo que mantém as necessidades já entranhadas ou permanentemente irrealizadas. (p. 21)



Relembrando... ORIGINÁRIA

MISSÃO PROSELITISTA

MODERNIDADE FERRAMENTA DO ESTADONAÇÃO (1)

FUNÇÃO HOMEOSTÁTICA (2)

MODERNIDADE LÍQUIDA

MISSÃO DE SEDUÇÃO



Conectando...

Não é justamente essa visão proselitista de cultura (ainda muito presente) que de certo modo nos influenciou pensar a “cibercultura” de modo utópico?


Conectando...


Mas antes, o que é cultura ciber? Cultura que surgiu, ou surge, com o uso da rede de computadores (com a Internet) O uso da metáfora “cultura ciber” em oposição a “cibercultura” busca privilegiar uma perspectiva culturalista


Mas antes, o que ĂŠ cultura ciber?

1. Populistas 2. Conservadores 3. Cibercriticistas (RĂœDIGER, 2011, p.22-24).


Quem é Alex Primo?


Quem é Alex Primo?  Prof. Pós Com. e Inf. UFRGS  Doutor em Informática na Educação (UFRGS) e Mestre em Jornalismo (Ball State University)  Prêmio Intercom e SBIED  Interação mediada por computador


Controvérsias... A grande indústria midiática de fato capitulou diante da cultura participativa? O ativismo em rede conseguiu finalmente destronar o grande capital? [...] Enfim, a histórica luta pela democratização dos meios de comunicação finalmente concretizou seus projetos? (p. 13-14)


Controvérsias... 1. Convergência de interesses (p. 14-16)

2. Vulgarização dos meios (p. 16-18) 3. Resistência e capitalismo (p. 18-20) 4. A indústria convergente (p. 21-23)

5. A massa perdeu sentido? (p. 23-27) 6. Mídias sociais são sociais? (p. 28-30)


Controvérsias... 1. Convergência de interesses 2. Vulgarização dos meios

3. Resistência e capitalismo 4. A indústria convergente

5. A massa perdeu sentido? 6. Mídias sociais são sociais?


ConvergĂŞncia de interesses... O jornalismo participativo nĂŁo matou os grandes jornais como anunciavam os ativistas do movimento. (p. 16)


2003 2014 + lucro líquido + receita total + assinaturas digitais + receita de circulação + receita de circulação anual + publicidade digital - publicidade impressa

+ lucro líquido + receita total + assinaturas digitais + receita de circulação + receita de circulação anual + publicidade digital + publicidade impressa


Convergência de interesses... O jogo não foi perdido ou ganho; Os jornais não deixaram de circular e aumentar suas receitas, inclusive com a versão impressa; Houve sim mudança na estrutura midiática;



Resistência e capitalismo... A democratização dos meios de comunicação, a conquista da liberdade de expressão e a colaboração produtiva não se concretizaram como o estopim que implodiria o capitalismo. Pelo contrário, estão transformando o sistema capitalista com base em seu próprio interior. Não se trata da derrocada da força popular, nem da vitória definitiva do capital multinacional. Ao que tudo indica, as fronteiras entre o que antes era visto como polos que se negavam vêm sendo de fato borradas. (p. 18-19)



ResistĂŞncia e capitalismo... Ao mesmo tempo que esse compartilhamento gratuito prejudica o lucro da indĂşstria, seus produtos culturais massivos permanecem hegemĂ´nicos. (p. 19).


Resistência e capitalismo... Enquanto blogs, Twitter, podcasts e videoblogs (ou vlogs) servem de exemplo indiscutível de formas de livre expressão, esses mesmos serviços são fundamentais para a implementação de estratégias mercadológicas de grandes veículos ainda mais sofisticadas. (p. 19)






Resistência e capitalismo... Se tudo agora foi “democratizado”, todos querem lucrar com propaganda, todos sonham com a fama, todos querem explorar as mídias sociais como fonte de renda. Nesse contexto de “democratização”, todos querem seu quinhão. (p. 20) Mas, é pecado querer ganhar dinheiro?


Conclusões de Primo... 1. O atual cenário não permite análises baseadas em polarizações e dicotomias (embora seja difícil fugir desta última); 2. Reconhece que houve mudanças significativas no estatuto da mídia contemporânea e; 3. Cuidar com as metáforas (controvérsias e utopias) das leituras desmedidas


REFERÊNCIAS... BAUMAN, Zygmunt. A cultura no mundo líquido moderno. Trad. Carlos Alberto Medeiros. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. PRIMO, Alex. Interações mediadas e remediadas: controvérsias entre as utopias da cibercultura e a grande indústria midiática. In: PRIMO, Alex. (org.) Interações em Rede. Porto Alegre: Sulina, 2013. RÜDIGER, Francisco. As teorias da cibercultura: perspectivas, questões e autores. Porto Alegre: Sulina, 2011. WILLIAMS, Raymond. Culture is ordinary [1958]. In: Resources of Hope: Culture, Democracy, Socialism. p. 3-18. Londres: Verso, 1989.



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