RESUMO
PALAVRAS CHAVE:
Modernista, "apartamento-bola", conforto, privacidade, organicidade e liberdade
FIG 4: FOTO CASA BOLA VISTA SUPERIOR
FIG 2: EDUARDO LONGO NA CASA BOLA
FIG 3: FOTO CASA BOLA VISTA INFERIOR
Eduardo Longo nasceu em 1942 na cidade de São Paulo (80 anos). Ingressou em 1961 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, formando-se em 1966 durante o período da Ditadura. Pertence a geração de arquitetos que buscam novos caminhos como forma de superar o impasse do movimento modernista. No entanto, nos anos de 1970, ocorre uma inflexão na sua carreira, ao fechar seu escritório para se dedicar a pesquisa “apartamento bola”, isto é, habitações esfero-modulares ancoradas em megaestruturas, resultando em duas Casa Bola (1972 1982).
INTRODUÇÃO
Este trabalho, desenvolvido nas aulas de Meios Digitais II, ministradas pela Doutora Anja Pratschke, tem como finalidade a reprodução e aprofundamento das habilidades de representação digital por meio de projetos de arquitetos insight. Nosso objeto de estudo foi o projeto CasaBola, do arquiteto Eduardo Longo, projetado e construído na década de 70.
O trabalho foi realizado num grupo de quatro integrantes, divididos em duplas para a realização de modelos digitais, conforme exigido pela docente.
O caderno apresenta a história de vida de Longo, seus feitos tanto acadêmicos, quanto profissionais e sociais, o contexto da sociedade brasileira na época. Também detalha o projeto escolhido, as inspirações e motivações durante a pesquisa, seu processo construtivo, os resultados e as críticas acerca da construção da edificação. Por fim, há a exposição das pranchas técnicas com modelos feitos ao longo da disciplina, realizados no Revit, bem como a exposição da maquete física feita na cortadora a laser e na impressora 3D, cujo processo de fabricação foi auxiliado pelo arquiteto Maurício José da Silva Filho.
SEUS
HISTÓRI A D O A
P R I M SOIDRÓ
R Q OTETIU
FIG 5: EDURDO LONGO ÉPOCA DA FACULDADE
FIG 6: COLÉGIO SANTA CRUZ (1952)
Eduardo Longo, nasceu no dia 26 de junho de 1942 (80 anos), na cidade de São Paulo. Ele é filho de família paulistana, cuja descendência é italiana, e seus pais são Jayme Watt, engenheiro agrônomo e Olga Ludernelli, dona do lar. Durante sua infância frequentou três colégios em São Paulo: Colégio Nossa Senhora das Mercês, Colégio Santa Cruz (FIG 6) e Colégio Dante Alighieri.
Em 1961, ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (FIG 7), porém, com a greve que tomou conta da cidade no mesmo ano, ele acabou ficando um período afastado e usando dessa “pausa” para frequentar cursos livres de pintura e escultura oferecidos pela Fundação Álvares Penteado (FAAP), naquele momento. Durante sua graduação, Eduardo Longo foi aluno de Eduardo Corona na disciplina de Projeto.
Em depoimento, Corona conta que Longo não costumava frequentar as aulas, mas que entregava sempre um dos melhores trabalhos. Desconfiado, Corona quis confirmar se os trabalhos entregues eram, de fato, de autoria de Longo, por isso propôs um exercício para ser realizado em sala, durante o período de aula e entregue ao final. Como de costume, o trabalho dele foi o melhor, demonstrando uma preocupação impressionante com a estrutura, a modulação, os detalhes, a representação gráfica e com o agenciamento dos espaços.
Logo no início de sua vida universitária, Longo ocupou o cargo de vice presidente do Diretório Acadêmico e buscou, durante todo o período em que permaneceu no cargo, honrar o slogan de sua chapa, “mais arquitetura menos política”. Já em 1962, tornouse membro do “Barraco” (FIG 8), um pequeno escritório formado por ele e por Álvaro Macedo Neto, Airton Campbell, Adilson Guedes, Nilson Campos, Pedro Giordano Neto e Marthan Martins França. Lá eles se reuniam para discutir, desenhar e desenvolver trabalhos tanto escolares como “profissionais”, como pequenas reformas. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 71)
FIG 8: O "BARRACO", ESCRITÓRIO DOS ESTUDANTES
FIG 7: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIEHISTÓ
JUV E N T U ED
RI A D O A R Q OTETIU
Nesta fase, suas casas são caracterizadas por plantas não ortogonais, com ângulos agudos ou obtusos formando reentrâncias e saliências, que harmonizam coberturas fortemente inclinadas e multifacetadas, assim, seu trabalho destoou dos parâmetros e conquistas da arquitetura paulista considerada hegemônica, ou seja, a presença de caixas portantes, soluções estruturais de reduzidos apoios, ênfase no desenho dos pilares, lajes planas ou em grelha unidirecional ou bidirecional, elementos complementares como gárgulas, vigas calha ou sheds, entre outros.
Eduardo Longo projetou diversas casas na sua fase de juventude (1966 -1970) a partir da ideia de “cobertura-abrigo” (FIg 9). Esse conceito surgiu com a arquitetura moderna que buscava abandonar os chamados “estilos acadêmicos” e resume se a independência da cobertura em relação aos espaços internos que são distribuídos com liberdade, isto é, a teórica ausência de telhado. Com o intuito de manter o aspecto visual de uma ausência de telhado, ele projetou cobertura de concreto armado. (ARANTES, Arquitetura nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos multirões, 2002, p. 23)
Longo criou coberturas multifacetadas que terminam muitas vezes em forma de pergolados diretamente no chão ou em paramentos verticais, que remontam à telhados de telhas de barro ou ardósia muito recorrentes na arquitetura vernacular, porém, utilizando o concreto armado em seu estado bruto.
FIG 9: SOLUÇÕES DE COBERTURAS DE EDUARDO LONGO
Durante sua fase de juventude, a expressividade plástica de suas coberturas, bem como a liberdade no agenciamento dos espaços internos foram características que marcaram seus trabalhos. Longo utilizava de formas não ortogonais, num posicionamento “orgânico” dos ambientes, formando perímetros com reentrância e saliências e espaços não usuais, o que gerou a necessidade de uma leitura atenta das plantas para total compreensão. Outra característica forte em seus projetos foi o uso de materiais no seu estado bruto como o concreto aparente (desde a estrutura a sofás, mesas e camas), pedras brutas tipo “moledo” e madeiras brutas, o que aproximam a arquitetura de Longo da arquitetura "escola brutalista paulista”, isto é, o uso extensivo do concreto armado aparente ou pintado,com ênfase nos elementos estruturais, grandes vãos, austeridade dos interiores. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 85)
NÃO ORTOGONAL
O processo de projetar de Eduardo está fortemente vinculado ao desenho, já que as formas complexas de seus projetos, além do mobiliário estar associado à arquitetura, necessitavam de um detalhamento específico. Como dito pelo arquiteto Carlos Lemos, que fez uma análise da postura de Longo em sua fase de juventude:
DESENHO
ESTADO BRUTO
“A obra de Eduardo Longo é totalmente desvinculada da produção arquitetônica brasileira, e até mesmo de grupos que pudessem caracterizar uma arquitetura paulista. Liberto de qualquer imposição teórica – talvez, antes de tudo, um intuitivo - soube, com maestria criar espaços [...]”.
ORGÂNICO
A arquitetura de Longo possui influências da arquitetura internacional, no que diz respeito à ausência de ortogonalidade, como por exemplo a casa Athan (FIG 10) dos arquitetos Maggie Edmond e Peter Carrigan, de 1989. (XAVIER, “Arquitetura Moderna Paulistana “ , 1983, p. 131)
A arquitetura de Longo, de acordo com a análise de Montaner, corresponde à “terceira fase” da arquitetura moderna, já que o arquiteto buscava na forma de suas coberturas algo imaginário ou coletivo, ou mesmo algo tradicional. (MONTANER, Después del Movimiento Moderno Arquitectura de la Segunda Mitad del Siglo XX, 1993, p.41)
HISTÓ
CONTR A C U ARUTL
RI A D O A R Q OTETIU
FIG11:REPRESENTATIVOGUERRAFRIA.
Esse movimento, inserido no contexto da Guerra Fria, que gerou as corridas armamentista e espacial, baseava se na contestação de padrões, de tabus culturais e morais, de costumes e preconceitos em vigor na sociedade judaicocritã da época. Assim sendo, sua filosofia principal era de “drop out” (“cair fora”) de toda e qualquer forma de repressão, buscando uma vida alternativa.
FIG 12: MAPA E ARQUITETURA DE PRAGA
O arquiteto Eduardo Longo teve seu primeiro contato com os movimentos de contracultura em 1967, no Congresso de Arquitetura na cidade de Praga (então capital da Tchecoslováquia). Em Paris, na França, Longo conhece soldados americanos desertores da guerra do Vietnã que o introduzem à temática.
Na década de 1970, Eduardo Longo foi fortemente influenciado por esse pensamento. Neste momento, o escritório do arquiteto estava em seu auge: uma longa lista de projetos realizados, sendo uma boa parte deles casas luxuosas. Contudo, ele não estava satisfeito, pois começava a questionar a arquitetura que estava realizando para aquela sociedade do consumo. (MACIEL, Geração em transe: memórias do tempo do tropicalismo, 1996)
Em 1972, Longo decide aceitar apenas reformas residenciais e recusar encomendas, mergulhando assim em um repensar existencial e profissional. Nesta etapa, escreve sobre família, religião e arquitetura. Dedica se à pintura, utilizando as paredes de sua casa-escritório (FIG 13) como suporte.
FIG 13: CASA ESCRITÓRIO
Os testemunhos dessa nova filosofia de vida de Eduardo Longo são as transformações feitas em sua casa escritório: os hábitos de consumo foram simplificados, os pertences reduzidos e seu espaço privado concentrado em 42m² (FIG 14), subdivididos em sala de estar, cozinha e área de serviço conjugados, mezanino dormitório, banheiro e escritório resumido em uma prancheta no centro da sala.
FIG 14: CASA-ESCRITÓRIO COMPACTADO EM 42M², 1972.
Nessa mesma época, o arquiteto ingressa como professor assistente na Faculdade de Arquitetura Mackenzie, na cadeira de projeto, em parceria com Carlos Bratke e Paulo Montoro, o que contribui para a busca de novos meios para projetar a arquitetura. Assim, Longo começou a dedicar se ao estudo da arquitetura a fim de aperfeiçoar-se. Estudou alguns arquitetos como os metabolistas japoneses, os ingleses do Archigram, Yona Friedman e Buckminster Füller. Estes tornaram-se referências para a arquitetura de Longo, a partir do ano de 1972. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 156-157)
“[...]Ainda acredito nessa crítica da contracultura à sociedade industrial. Eu continuo achando, não a sociedade industrial, mas o consumo que ela proporciona, muito corruptível. Muito alienante da questão fundamental da vida,que é a busca da felicidade. É a substituição do prazer essencial, do prazer animal, pelo prazer industrializado, pelos objetos. Num certo estágio de minha carreira me vi, numa encruzilhada e tinha três opções: ou continuava como estava, aceitando pequenos projetos; ou crescia, e se crescesse iria tornar me um grande escritório de arquitetura, participando de um Brasil grande, ‘ame-o ou deixe-o’. Brasil 1970, época do milagre econômico, com dinheiro pra todo lado. Ou largava tudo e começava de novo”. (LONGO, Eduardo. IN Entrevista Eduardo Longo. Revista Fashion & Style, p.39-41, dez. 1983)
O pavimento térreo de sua casa foi aberto para a cidade, de forma a criar uma passagem para pedestres entre a rua Amauri e a rua Peruíbe. Segundo, CARRANZA, 2004, A principal crítica do arquiteto às casas que projetou, em sua fase de juventude, foi devido a ausência de relação entre a arquitetura e a cidade. Assim, essa nova postura em abrir a casa para a cidade procurava “corrigir seu erro”.
Nesta fase de contracultura, além dos projetos de reforma de residência, chamados de “projetos de redução máxima” em que mantinha o pavimento térreo livre, sob pilotis, a fim de reduzir a área construída — , a Galeria Collectio (FIg 15, 16 e 17), no bairro de Itaim Bibi em São Paulo, é considerada o mais representativo projeto deste período: Trata-se da reciclagem de uma antiga fábrica e construção de anexo com quatro pavimentos.
(CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 168)
FIG 15: COLLECTIO, FACHADA LATERAL, 1972.
Trata-se da reciclagem de uma antiga fábrica e construção de anexo com quatro pavimentos.
Dentre diversos aspectos arquitetônicos que marcam a galeria (tais como anexos em estrutura metálica, ou mesmo vedações periféricas que foram executadas em placas de fiberglass amarelo com miolo de poliuretana expandido), a cor de suas estruturas é o que mais chama a atenção, já que as vedações foram pintadas de vermelho, as escadas em tons de verde e o telhado em degradê nos tons de laranja. Entretanto, após o fim da obra, o projeto foi descaracterizado pelo proprietário.
FIG 16: GALERIA COLLECTIO, ACESSO PRINCIPAL.
FIG17:GALERIACOLLECTIO, PISOSEMTELAMETÁLICA .
De acordo com a arquiteta Anne Marie Sumner, a galeria Colletio: “[...] indica claramente o jogo – a ironia em relação à “forma pura”, a explicação, para usar a terminologia de Robert Venturi, do ambíguo e contraditório.”
O projeto de Longo ainda foi caracterizado pelo uso de novas tecnologias, e o uso extensivo de cores e a liberdade e flexibilidade do agenciamento dos espaços.
FIG 18: MEGAESTRUTURA COM APARTAMENTOSBOLA, MAQUETE.
FAS E Á U
AER
HISTÓRI A D O A R Q OTETIU
FIG 19: MEGA ESTRUTURA COM APARTAMENTOS BOLA, CROQUI.
Ainda na fase de Contracultura, Eduardo Longo (no ano de 1972) projetou um edifício (São Paulo) em estrutura metálica que possuía unidades habitacionais em forma de cápsula (FIG 18 e 19). Concomitantemente, projetou um conjunto de casas em uma ilha nas proximidades de Ubatuba, cujo terreno era muito acidentado.
Por esta razão, Longo idealizou unidades habitacionais suspensas, que se apoiavam sobre uma única coluna. Estes dois projetos despertaram no arquiteto o pensamento de estruturas que usaria futuramente na Casa Bola (FIG 20). (LONGO, Euduardo, BORGES, Adelia. A casa-bola; uma trajetoria de vida. Revista D&I, p. 9294, 1989)
FIG 20: DESENHO DA CASA BOLA FEITO POR NECO STICKEL
Eduardo, assim, começa a pensar em projetos que buscavam um estilo de vida simplificado, diminuição de supérfluos, consumo responsável, leveza espiritual e tecnológica. Com esse pensamento, o arquiteto começa a desenvolver o projeto dos “apartamentos bola”, tal que estes contariam com uma mega-estrutura de suporte e com vazios que permitiriam a circulação do ar, insolação e o isolamento; além disso o solo seria liberado para áreas de lazer e convívio social. Esta forma de projeto consistia em uma proposta de produção industrial de habitações, ou seja, se basearia em uma linha de montagem. (LONGO,Eduardo. In GUIMARÃES,Berenice. A bola de morar. Revista Senhor Vogue. n.18, p. 85-88, 1979) O período em que Eduardo desenvolvia o projeto dos apartamentos foi marcado pelo “Milagre Econômico” e pela implementação de vários programas habitacionais. Foi nesse contexto que Longo repensou seu método de trabalho e decidiu trabalhar com um público maior, e não mais para uma pequena parcela de clientes de uma classe social privilegiada, ou seja, passou a questionar um ponto fundamental: o desenvolvimento da construção civil a partir da tecnologia da pré-fabricação.
FIG 21: ESTRUTURA METÁLICA
COM FECHAMENTO EM TELA
FIG 22: CASA BOLA 1, ESTRUTURA FIXA
O conceito do apartamento estava interligado com as experiências dos metabolistas japoneses (que produziram projetos em “casulos”, pré fabricados e presos a estruturas verticais).
CASA BOLA 1
A Casa Bola 1 foi o marco inicial da fase áurea de Eduardo Longo, já que, de acordo com ACAYABA, Marlene M.: “Esta casa protótipo construída artesanalmente encerra uma proposta de habitação préfabricada. [...]. Liberar o chão da cidade para novos usos e viver nas alturas em redomas era o intuito.” (ACAYABA, Residências em São Paulo-1947-1975, 1986.p.421)
FIG 25: SEGUNDA CASA BOLA
FIG23:ESTRUTUR INTERNACASABOLA
FIG 24: ESTRUTURA INTERNA CASA BOLA
CASA BOLA 2
A Casa Bola 2 (FIG 25) foi construída em 1982 no bairro Morumbi, em São Paulo. O sistema construtivo da mesma é muito semelhante ao da Casa Bola 1. Apesar de terem ocorrido erros durante a obra, o resultado final da casa foi satisfatório.
Esta fase subdivide-se em “projetos residenciais”, compreendida pelo período de 1982 a 1990, e em “projetos teóricos e urbanos” nos anos de 1989 a 1996. Neste período, Longo busca pela coerência construtiva ,racionalidade e funcionalidade aliadas à liberdade formal, bem como apresenta-se permeável às influências internacionais. A arquitetura residencial abandona a utilização de coberturas em concreto armado inclinadas e facetadas, as casas tornam-se mais abertas, graças a utilização de caixilhos e panos de vidro. É nessa fase que o arquiteto começa a explorar a utilização de outros sistemas construtivos, como o telhado de telhas cerâmicas e estrutura de madeira, as estruturas metálicas e o concreto armado. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 194)
É nessa fase que Longo passa a se preocupar também com questões urbanas, como o processo de verticalização das cidades e a ocupação dos espaços públicos. Os Auditórios sobre ruas, de 1989 (FIG 32); as Passarelas de pedestres (juntamente às pontes Cidade Jardim e Vila Guilherme), de 1992 e a Vila Sobreposta, de 1996, são exemplos de projetos teóricos que refletem a preocupação do arquiteto com a temática urbanística. Pela primeira vez, Eduardo Longo dedica se a projetos sociais: ele participou do concurso de anteprojetos para habitação popular do Brás (FIG 33), em 1989; da equipe do Projeto Espaço Criança, em 1990, e do projeto do Instituto Latino Americano, de 1992. O Projeto Torre São Paulo, de 1990, também pertence a esta fase.
(CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 225)
FIG32: BOLAAUDITÓRIOPRAÇADOSOL,MAQUETE ,1989
.
FIG 33: CONCURSO BRÁS, CORTE.
FIG 34: AV. VITAL BRAZIL, MAQUETE ELETRÔNICA.
HISTÓ
FAS E A T LAU
RI A D O A R Q OTETIU
A partir do ano 1996, Eduardo Longo entrou em uma nova fase de sua carreira, a qual permanece até os dias de hoje. Esta fase está voltada para projetos de amigos e familiares ou mesmo participação em concursos de arquitetura. No ano de 1998, Eduardo se dedica à reforma da Casa Bola 1; sendo esta a última reforma, o imóvel permanece na mesma configuração do fim da década de 1990.
O mais recente projeto do arquiteto é a reforma da Casa Cristina Azevedo, de 2001, localizada na Vila Primavera (em São Paulo). (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 235)
FIG 35: CASA CRISTIANA, REFORMA.
EDUARDO LONGO SE ENCONTRA EM UM “RECESSO INVOLUNTÁRIO”, POIS NÃO É MAIS REQUISITADO POR CLIENTES, MAS PRETENDE VOLTAR A TRABALHAR.ALGUNS
CASA
DE PR A I A M A R ODASAC
O U T R O S P
SOTEJOR
FIG36:PERSPECTIVA CASAMARCASADO .
Segundo Longo, esta casa foi concebida numa única noite após uma visita ao terreno. No dia da apresentação do projeto aos tios, por uma coincidência, estava presente um amigo da família, o arquiteto Giancarlo Gasperini. Após analisar o projeto, Gasperini deu seu aval para que a casa fosse construída. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004)
Localizada no município de Guarujá, elaborada em 1964, é considerada o primeiro projeto significativo, o qual destinado a seus tios. No laboratório de maquetes, Eduardo desenvolveu tanto o modelo de gesso (FIG 37), na disciplina de artes decorativas, quanto às perspectivas internas e externas, assessorada pelo professor de projetos Franz Heep, adepto da arquitetura moderna.
O programa da Casa do Mar Casado previa acomodações para os proprietários, filhos e hóspedes. Constituída de um único bloco de 620 m2 , possui três setores distintos: social, com sala de estar, jantar, escritório, lavabo e bar; serviço, com cozinha, lavanderia, dois quartos para empregados e um banheiro; e íntimo, com cinco quartos, quatro banheiros uma suíte com banheiro privativo. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 68)
Anteriormente à construção da casa em si, foi edificado uma casa para a família do caseiro, com a cobertura constituída de abóbadas de tijolos, sem armadura. As paredes são de alvenaria de tijolos revestidas com argamassa e pedras na face externa. A casa do Mar Casado foi construída em concreto armado, excetuando se as paredes divisórias internas que são em alvenaria de tijolos comuns. Sobre o concreto das vedações periféricas e das alvenarias internas foi aplicado um revestimento com massa raspada. Apenas as paredes internas dos banheiros receberam pintura plástica especial. A cobertura é constituída por planos inclinados de concreto armado, com 15cm de espessura, que se interceptam em arestas em níveis variados, apoiando se nos vedos periféricos. Além de não possuir impermeabilização, apenas pintura na cor branca, solução que apresentou bom desempenho ao longo do tempo. (CARRANZA, p.69)
Como a casa apresentava estruturas complexas, isto é, demandava a necessidade de formas, o que dificultou o cálculo estrutural para os engenheiros.
Uma solução proposta foi o uso da areia da praia como suporte das fôrmas. Segundo Yves Bruand, a Casa do Mar Casado é um dos exemplos brasileiros de projetos inspirados pelo espírito orgânico. Bruand justifica essa afirmação ressaltando algumas características do projeto como: a originalidade, a liberdade absoluta de concepção dos espaços internos, o desenho livre, o resultado da forma exterior como decorrente da disposição dos ambientes internos, a total recusa de qualquer regularidade e simetria. (BRUAND, Yves Arquitetura Contemporânea no Brasil, 1981)
Ainda conforme Bruand “a plasticidade do concreto, único material capaz de se prestar a formas tão flexíveis e complexas quanto as imaginadas pelo arquiteto, foi explorado sob todos os ângulos com um virtuosismo comparável ao de Niemeyer”, isto é, a casa conta com aberturas cuidadosamente estudadas para controlar a entrada de luz, opondo com a ideia de uma casa de praia transparente e aberta. Dessa forma, foi construído um domus circular no teto para dissipar o ar quente, e aliado a cor branca nas paredes que favorece a reflexão do calor, criou-se um abrigo à sombra.
A recusa de qualquer simetria, as paredes não paralelas, a cobertura em concreto armado e inclinada são outras características que criam originalidade ao projeto.
O resultado, portanto, é uma casa que parece uma tenda com dobras de tecido.
A casa foi duramente criticada pela presença de um desenho não ortogonal, com ângulos agudos e obtusos junto a cobertura multifacetada, características as quais não se enquadravam no brutalismo paulista. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p.82)
FIG 40: COLETÂNEA DE PLANTAS DA CASA MAR CASADO
ALGUNS
ARGARIDA, FACHADAF
FIG 42: CASA MARGARIDA, FACHADA POSTERIOR, 1965.
CASA
M A R G A ADIR
O U T R O S P SOTEJOR
Á(1965)
Esta foi a segunda casa projetada por Eduardo Longo, em 1965, localizada na Praia de Pernambuco, na cidade do Guarujá, no estado de São Paulo. A ideia da Casa Margarida difere-se da Casa do Mar Casado - sua primeira - por ser racionalista. Devido às primeiras críticas negativas que recebera, Eduardo Longo adotou, neste projeto, uma planta ortogonal, uma estrutura em concreto armado aparente e, por fim, as alvenarias de vedação destacadas da estrutura.
O princípio do projeto surgiu do desejo de reutilizar as fôrmas da caixa d'água de uma residência vizinha, projetada pelo arquiteto Sérgio Bernardes. As fôrmas originaram a caixa da escada e a caixa d’água, um volume cilíndrico, que suporta o telhado de madeira, mesas e bancos.
A casa possui dois pavimentos. No térreo, a sala de estar e jantar são integradas, há também uma varanda voltada para a parte posterior do terreno. Já no pavimento superior há dois dormitórios e um banheiro. “Casa Margarida” recebeu este nome por causa do detalhe do cata-vento em formato de girassol no topo dela. (CARRANZA,
p.78-79)
FIG45:CASAMARGARIDA,VISTA INTERIOR .
Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. FIG 43: CASA MARGARIDA, VISTA INTERIOR.FIG 47: CASA M. GUPER, 1968
ALGUNS
CASA
M I L T O N REPUG
O U T R O S P SOTEJOR
ASAM.GUPER, SALADE )
Foi por esse motivo que o projeto da casa apresentou superposição de funções dos ambientes, não havendo dormitórios convencionais (os quais foram incluídos no projeto, juntamente com banheiros, em uma reforma feita posteriormente); ou seja, a residência foi construída em duas etapas:
A casa M. Guper foi projetada no ano de 1968 e construída em um dos terrenos mais valorizados do Brasil até a década de 80. Localizada na praia de Pernambuco (no município de Guarujá), a casa foi construída como um refúgio de lazer no litoral, já que o proprietário da residência desejava um espaço propício para ouvir música, colecionar obras de arte e cultivar plantas.
a primeira sendo a construção de um estúdio de 184 metros quadrados (contendo salas de estar, copa e banheiros) e a segunda (contando com 127 metros quadrados) incluindo áreas íntimas e de serviços.
(CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 94
FIG 48: CASA M.GUPER, FACHADA POSTERIOR.A casa foi disposta sobre um terreno praticamente plano e retangular livre de recuos. Ademais, o arquiteto utilizou uma combinação de laje inclinada terminando com estreitas clarabóias envidraçadas, elemento recriado dos pergolados de outra casa
M. Guper, projetada pelo arquiteto Rino Levi. Nesse sentido, o sistema construtivo da Casa M. Guper é semelhante a outros projetos de Eduardo, já que a casa é composta por uma grande laje de cobertura (feita de concreto armado), inclinada e facetada apoiada em paramentos verticais de pedras brutais tipo “moledo”.
Há, ainda, um tronco de cone (também de concreto armado), que é o ponto focal da casa, já que está posicionado na porção central da planta do térreo; além de sustentar a laje de cobertura, contém a caixa d’água, escada de acesso ao pavimento superior e sustenta uma composição de bancos, sofá e mesa que conforma os ambientes de cozinha e sala de estar, além de ser nele em que estão agrupadas as áreas molhadas da residência. Outrossim, a casa é intimista e não possui vistas para a rua, sendo voltada em sua totalidade para a piscina na parte posterior do terreno. Ainda, a solução de Eduardo para esta residência não é caracterizada por uma delimitação entre espaço interno e externo, ou seja, os ambientes são contínuos e integrados, o que permite uma sensação de infinitude. (CARRANZA,
p. 94 95)
FIG 50: CORTE DA CASA MILTON GUPER.
CAS
A C . B E ANR
ALGUNS O U T R O S P SOTEJOR
CBERNA,FACHADALAT
S Ã O LO(1990)
A Casa C. Berna é considerada o último residencial construído do arquiteto. O pr 1990, localizado na rua Ubiracica no ba Pinheiros em São Paulo, possui 938,25 único acesso (de carros e pedestres) na es térreo. Sobre este, há uma piscina com u construído em aço e vidro (FIG 53 e 55), com que a torne uma espécie de clarabóia. A circulação entre os pavimentos acon meio de uma escada em formato helicoida acompanhada por uma rampa. A escada e determinam o eixo de simetria e a bis terreno.
FIG 52: ESCADA FORMATO HELICOIDAL CASA C. BERNA
a sala de estar, a leta, o escritório nto, encontrama a sala de estar duardo Longo na 222)
Quanto ao sistema construtivo deste projeto, é possível afirmar que ele é misto. A estrutura é de concreto armado aparente, com colunas de seção circular e vedações de alvenaria aparente Já a cobertura é de estrutura d madeira revestida com chapa de cobre externamente, enquant internamente, tratada com isolante térmico e revestida com forro de madeira. A parte centra da cobertura foi resolvida com madeira e vidro, que ilumina sala de estar — esta possui pé direito duplo. Os beirais de vidr não fazem parte do projet original de Eduardo Longo sendo assim, foram incorporados posteriormente.
A estrutura metálica e o fechamento de tela dos pisos externos do primeiro pavimento permitem a ventilação e a insolação do térreo, onde encontram se a garagem e as dependências de serviço. Por fim, os acabamentos e a decoração interna foram resolvidos por outro arquiteto. Assim, por interferências da proprietária, Longo não participou da construção do projeto até o fim. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 220-222)
PROJE
DE EDUA R D O OGNOL
T O D A C A AS ALOB
FIG58
:FOTOEXTERNADACASA
BOLASOBRECASAESCRITÓRIO
O projeto da casa bola ocorreu durante a segunda fase da carreira de Eduardo Longo, cuja finalidade seria a industrialização de unidades habitacionais esfero-modulares, ancoradas numa megaestrutura. A construção da Casa bola ocorreu na cobertura da casa-escritório (FIG 58), um dos últimos projetos de sua fase da juventude. Esta edificação está localizada na cidade de São Paulo, num solo plano com acesso para as 2 ruas. Longo dividiu o terreno no eixo diagonal de modo que pudesse haver 2 volumes semelhantes e espelhados. Dessa forma, Longo localizou a residência numa das metades, com acesso pela Rua Amauri, e instalou seu escritório, com acesso pela Rua Peruíbe, na porção remanescente.
A cobertura inclinada é composta de laje de concreto armado, sustentado por pilares do mesmo material, embutidos nas alvenaria periféricas; apresentando ainda, um pergolad envidraçado. A residência se organiza em níveis, com total integração entre os ambiente pela disposição em mezaninos, ou seja, garagem é integrada com a sala e o jardim n térreo, sala e serviços no primeiro mezanino, dormitório com banheiro no segundo mezanino, por fim, uma pequena sala com lareira e terraç com piscina no último nível. Grande parte da sa é ocupada por uma mesa multifuncional d concreto aparente, estendendo se até o jardi interno sob a pérgula envidraçada. (CARRANZA Eduardo Longo na Arquitetura Modern Paulista, 2004. p. 123-124).
FIG 62: PLANTAS, FACHADAS E CORTE CASA BOLA
Já a parte destinada ao escritório foi organizada em dois níveis: a garagem é integrada à recepção, lavabo e sala de desenho do térreo, no segundo nível uma sala para o arquiteto. Segundo o arquiteto:
“[ "Para construir minha casa e meu escritório, em 1969, encontrei um terreno pequeno que ligava duas ruas. A construção formada por dois volumes opostos, contendo a casa e o outro o escritório, era completamente fechada para as ruas por grandes portões cegos. Internamente os volumes comunicavam se apenas por duas pequenas portas. Ali, durante dois anos, morei e trabalhei recebendo os amigos e os clientes. Viver em um espaço criado para uso próprio significou oportunidade para examinar qualidades e sobretudo defeitos de minha arquitetura; senti a limitação que os muros e portões impunham ao convívio com as ruas e a cidade”. (LONGO, Eduardo. [IN] Retrocesso com progresso. Revista Casa Vogue, n. 6, p. 184-185, 1982).
FIG 65: COLETÂNEA DE PLANTAS DA CASA BOLA
PLANTAS DA CASA BOLA
NO FINAL DO ANO DE 1972, EDUARDO CONSTRUIU UMA MAQUETE DE 8:10 DO APARTAMENTO-BOLA, QUE MARCOU
“Esta casa protótipo construída artesanalmente encerra uma proposta de habitação pré fabricada. [...] Liberar o chão da cidade para novos usos e viver nas alturas em redomas era o intuito.” (ACAYABA, Marlene M.. Residências em São Paulo-1947-1975.São Paulo: Projeto, 1986.p.421).
O destino do projeto eram as famílias de classe média, com as seguintes dependências: três suítes, lavabo social, sala de estar, quarto de empregada e lavanderia. A entrada comunica-se com a cozinha, à direita, e com a sala de jantar à esquerda. Um corredor de distribuição permite o acesso às áreas sociais, íntimas e de serviço de forma independente. A forma como Longo organizou as acomodações assemelha-se à tradição paulista do morar à francesa, observado nos palacetes paulistanos. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 177-178).
Como o apartamento-bola é implantado sob a casa-escritório, o projeto teve que ser alterado, em que o diâmetro previsto de 10 metros passou para 8 metros, compactando os ambientes. O sistema construtivo foi desenvolvido empiricamente, auxiliado pelo seu amigo Charles Holmquist, já que teve uma experiência na construção de barcos em ferro-cimento. Dessa forma, projetaramse tubos metálicos de secção circular, que foram distribuídos em meridianos e paralelos com quatro anéis verticais principais e dois anéis horizontais de diâmetro de “3” e os outros em tubos “1 ⁄ ” de diâmetro, para a formação da estrutura metálica da Bola (FIG 68)
A construção foi realizada em etapas. De início, uma base circular de 80 cm de diâmetro em estrutura radial foi ancorada, mediante hastes metálicas, na estrutura de concreto armado da casa escritório, o que permite o desenvolvimento, a partir do anel central, de 2 vigas metálicas chumbadas, as quais se apoiam nas vigas de concreto existentes da cobertura. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 178).
O INÍCIO DE SUA FASE ÁUREA.FIG 70: CASA BOLA 1, TETO SALA DE ESTAR.
FIG 69: 159 CASA BOLA 1, REVES COM ARGAMASSA ARMADA
86GIFALOBASAC:
Depois os anéis verticais foram soldados ao anel de base e outro anel no Posteriormente, a estrutura de anéis verticais e horizontais foi totalmente recoberta por uma armadura de tela de aço de “3/16", a qual recebeu outras camadas de telas soldadas de bitola inferior: na calota inferior, quatro camadas de telas tipo “viveiro”, no centro uma camada de telas tipo “viveiro” e na calota superior uma camada de telas tipo “estuque”, utilizando cabos de aço tensionados para estabilizar a estrutura durante a montagem. Por fim , a Bola foi recoberta com argamassa armada (FIG 69), no traço 2:1, e apenas na calota inferior foi adicionada, pozolana, uma argila calcária vulcânica industrializada. Para a vedação, foram utilizadas fôrmas de papelão reciclado, que foram amarradas com arames de aço à armadura. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 179).
É interessante salientar que Longo foi além da função de arquiteto, ele também executou grande parte da obra com as próprias mãos, atuando como pedreiro, eletricista, encanador, carpinteiro, vidraceiro e decorador.
Os ambientes foram desenvolvidos exatamente conforme sua finalidade. A suíte destinada ao seu filho, por exemplo, tem uma cama um pouco maior para que possa ser utilizada como área de brincar. A suíte de sua filha (FIG 72) possui cama, um sofá e uma escrivaninha. A suíte de casal possui apenas cama e armário. Para a cozinha, o arquiteto modelou uma grande bancada com todas as funções agrupadas: mesa, pia, fogão e armário. Sob a bancada foram previstas prateleiras para o armazenamento de utensílios. Um dos detalhes significativos é a divisão da geladeira em duas partes: a câmara fria instalada num armário na cozinha e o motor com compressor deslocados para o andar debaixo, na lavanderia, assim, segundo Longo, “o ar quente que eles produzem ajuda a secar a roupa”. A sala de jantar possui apenas uma mesa, moldada em argamassa armada, e cadeiras, com estrutura metálica, projetadas pelo arquiteto.(CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 180).
A sala de estar (FIG 71) foi dividida em dois níveis: no nível inferior não há mobiliário, para que este espaço possa ser utilizado pelas crianças; no superior há dois sofás, projetados pelo arquiteto, duas mesinhas laterais em argamassa armada e uma mesa lateral com duas cadeiras. Todos os banheiros da casa foram modelados em argamassa armada, incluindo as peças sanitárias. Longo também projetou caixilhos, portas de ferro e vidro, puxadores de porta, entre outros. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 180-181)
FIG 74: FOTO A DISTÂNCIADA CASA BOLA
FIG
A construção da Casa bola durou 5 anos, terminando em 1979, com a mudança de Eduardo e sua esposa e filhos já nascidos para o local. Este projeto teve diversas repercussões, tanto positivas quanto negativas, como o boato de haver “esgotos transparentes”. Após dez anos de sua construção, foi analisada pela arquiteta Adélia Borges. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 180-181)
""A insólita esfera poderia parecer uma nave espacial, um óvni ou uma esquisitice temporária. Mas não assusta nem surpreende mais. A casa bola que o arquiteto Eduardo Longo concluiu a exatamente dez anos já se incorporou definitivamente à paisagem paulistana. Encravada num dos pontos mais valorizados da cidade perto do cruzamento das avenidas Europa e Brigadeiro Faria Lima, onde também está o edifício Dacon, virou um marco de referência na cidade, e até objeto do olhar ao mesmo tempo curioso e tímido de turistas munidos de máquinas fotográficas nos fins de semana.”
(Casa Vogue, São Paulo, n.1. 1980. 232 BORGES, Adélia. A casa-bola, uma trajetória de vida.RevistaD&I,São Paulo,n.,p.92-94, 1989)
Já o antropólogo italiano Massimo Canevacci, quando participou do Congresso de Arquitetura em 1991, visitou algumas obras de arquitetura em São Paulo. Sobre a Casa Bola, declarou:
"Ela representa uma violação de todas as regras, um rompimento de tabus [...] Não só os mandamentos arquitetônicos, mas físicos e culturais”. (MASSIMO, Canevacci. In Prédios permitem leitura social da cidade. Jornal da Tarde. Cidades, quarta-feira, 30.10.91. p.16.)
FIG 78: EXTERIOR CASA BOLA
necessário enfatizar que o arquiteto seguiu referências de Buckminster Fuller (Casa Dimaxion, 1920), (FIG 79) do grupo inglês Archigram e dos Metabolistas Japoneses, além das influências do cenário da arquitetura brasileira, que naquele período se preocupava com a questão habitacional, que possibilitou a criação do conceito "apartamento bola" e seguiu a linha de pesquisa, na busca de novos sistemas construtivos, bem como a busca da produção industrial de habitações, por meio da construção de mega-estruturas com unidades habitacionais modulares. Dando sequência a sua pesquisa, tanto para estudar o agenciamento dos espaços do "apartamento bola", quanto para estudar seu sistema estrutural e construtivo, o arquiteto empreende a construção de dois protótipos, as Casas-Bola. (CARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 193)
FIG 79: CASA DIMAXION
Apesar da utilização inusitada da forma esférica para o programa de uma residência, as Casas bola são habitações “convencionais” no que tange ao programa e o agenciamento dos espaços internos.
A pesquisa de Longo não foi concluída, pois o arquiteto não conseguiu viabilizar sua principal meta, a construção de uma megaestrutura com apartamentos-bola. Assim, os protótipos Casas Bola, permanecem como dois exemplares de um sonho de industrialização.
Apesar de não ter atingido sua meta, a pesquisa do "apartamentobola" tem seu mérito, tanto pelo estudo da tecnologia da argamassa armada quanto pelo estudo de espaços arquitetônicos diferenciados.
“As casas de Longo representam para São Paulo uma mudança: elas são extra normais em relação ao ambiente construído.”
(DAHER, Luiz Carlos.Flávio de Carvalho: arquitetura expressionismo, Projeto Editores, 1982, P. 19)..
Parafraseando o arquiteto Flávio de Carvalho, em sua definição para a Casa Modernista do arquiteto Warchavchik ARRANZA, Eduardo Longo na Arquitetura Moderna Paulista, 2004. p. 193)
FIG 81: AÉREA CASA BOLA NO CONJUNTO DA CIDADE
A casa é, ainda, baseada em anéis e firmada por chapas soldadas que fazem o papel das vigas, apoiadas nas vigas da casa original sob a qual a Casa Bola foi construída, como uma espécie de anexo. Suas paredes externas consistem originalmente de três camadas, feitas com argamassa e isopor. Posteriormente, foi adicionada uma camada externa de alumínio. Além disso, a ideia era usar materiais que pudessem baratear o custo de produção, já que o arquiteto imaginou que a Casa Bola poderia ser uma espécie de modelo pré-fabricado, para ser vendido em grandes quantidades. Ele chegou a conceber até mesmo uma maquete de um conjunto habitacional de casas-bola. Alguns dos móveis internos – bancadas, pias, vasos sanitários e camas – são fixos e feitos do mesmo material que reveste a estrutura. Longo, em 1978, pintou a Casa Bola de azul para mimetizar com o céu. Por dentro, o bege imitava e humanizava a pele, segundo o arquiteto. As bordas arredondadas, como um fundo infinito, forneciam a sensação de ampliação do espaço.
CONSTRUÇÃO DA RESIDÊNCIA DE GEORGE LONGO
MUSEUS BOLA SOBRE VIAS PÚBLICAS E CONCURSO PARA HABITAÇÃO SOCIAL NO BRÁS 1984 1989 REFORMA DA CASA FUN
PASSARELA DE PEDESTRES
1985
1990 1992
PARTICIPAÇÃO NO "TORRE SÃO PAULO" E PROJETO ESPAÇO CRIANÇA
1995
FASE ATUAL
MEGA ESTRUTURA SOBRE A AV. VITAL BRASIL
AMAURI
PUBLICAÇÃO DO LIVRO SOBRE SEUS PROJETOS "SOBRE BOLAS E OUTROS PROJETOS"
PRANCHAS MAQUETE
Durante as aulas de Meios Digitais, foram desenvolvidos modelos de representação da Casa Bola, feitos em dupla conforme orientado pela docente.
As representações foram feitas com a utilização do software Revit, um sistema automatizado para a modelação das informações em uma edificação, produzindo conhecimento na realização do modelo. Ao final da etapa de modelação do projeto, foi escolhido um modelo para ser colocado no caderno. As pranchas auxiliaram na compreensão do projeto e no desenvolvimento da maquete física.
Os modelos digitais já apresentados ao longo deste caderno foram utilizados como base para a fabricação de maquetes físicas, intermediadas pela cortadora a laser e a impressora 3D makerboot. Ambas as tecnologias auxiliaram durante o processo, administradas pelo Maurício José da Silva Filho e por monitores do IAU.
A fabricação serviu como aprendizado e manutenção dos equipamentos, bem como formar possibilidades de aprimoramento das habilidades de montagem de maquetes com uma melhor precisão e acabamento.
A Bola foi feita através da impressora 3D, utilizando o filamento laranja (polimero sintético termoplástico) e posteriormente pintado em branco. A impressão ocorreu na divisão da Bola em 2 partes, as quais foram impressas individualmente, em um periodo de 2 horas cada. Devido a curvatura do projeto, foi necessário o uso de raft (base feita pela propria impressora para aumentar a área de contato com a superficie do equipamento) e de suportes para os vazios das janelas. Após a impressão, destacou-se esses suportes da bola com o auxilio de alicates. As partes da bola foram coladas com superbonder resultando na Casa bola.
Já a Casa escritorio foi realizada na cortadora a laser, utilizando o papel paraná como material. As peças foram coladas com cola branca e apoiadas numa base com 2 centimetros de recuo, de mesmo material. Por fim, para encaixe de ambas as partes da maquete, foi feito uma abertura para o encaixe da bola. A escala escolhida foi de 1:100 conforme orientado pela docente, para uma melhor observação dos diferentes volumes presentes no projeto, o que resultou rm uma maquete com baixo nível de detalhamento, mas que permite uma visualização do conjunto.
DE P O I M E N T O
Por fim, o grupo pôde concluir que os processos auxiliaram no entendimento sobre o manuseio das máquinas, assim como levaram a uma melhor compreensão das etapas do processo construtivo do digital para o físico.
O processo de produção desse trabalho foi muito desafiador, visto que o conhecimento acerca do Revit era limitado e o projeto, por ser de 1970, não possuía informações precisas. Depois de um grande esforço e persistência, conseguimos finalizar a parte digital em conjunto, compartilhando e aprendendo juntas. Na parte de produção física houve alguns problemas no momento de impressão, pois o filamento branco não fixava na base e assim, descolava durante o processo. O Maurício sugeriu a troca de filamentos, e optou pelo laranja, da própria marca da impressora, para que finaliza se a impressão da bola. Já na cortadora, tivemos um pouco de dificuldade no manuseio do software, mas que no fim, conseguimos cortar com sucesso. Na hora da montagem, o telhado dificultou um pouco no encaixe das peças, e com a habilidade, concluimos a casa debaixo. Para juntar ambas as casas, precisamos construir uma base para a estabilidade da Bola, e assim concluímos a maquete física.
Ao longo da realização da atividade sobre a Casa bola (do arquiteto Eduardo Longo) o grupo pôde aprender de forma mais eficiente sobre a modelagem digital e física da construção. Nesse sentido, o modelo digital serviu como base para a realização da maquete física, a qual ocorreu em duas etapas: a primeira sendo manuseada na impressora 3D makerbot e a segunda na cortadora a laser Due Flow. Para a realização destas etapas, o grupo obteve o auxílio do técnico Maurício José da Silva Filho assim como o de monitores da disciplina. Para a modelagem da bola, usou-se a impressora 3D, a qual realizou a impressão utilizando um filamento de cor laranja. Como a construção se difere da cor do material impresso, a casa foi posteriormente pintada com tinta branca. A impressão da casa foi dividida em duas etapas, sendo que cada uma delas levou, aproximadamente, 2 horas para serem concluídas. Após a impressão, alguns suportes (que foram utilizados para o apoio dos vazios das janelas) foram retirados com alicate, podendo, a partir desse momento, unir as duas partes da bola com Super bonder. Por outro viés, a Casa-escritório foi cortada na cortadora a laser. Para esse processo, foi utilizado o programa Due Studio, no qual as peças da casa e do suporte da maquete foram desenhadas com o auxílio do AutoCad. Após o corte das peças (que durou cerca de 6 minutos), estas foram coladas com cola branca (já que o material escolhido para as mesmas foi papel paraná de 2mm de espessura). Assim, foi possível fazer o encaixe da Casa bola com a Casa-escritório. Ambas as partes foram feitas na escala 1:100 conforme a orientação passada para o grupo.
Para a organização entre os integrantes, usamos o grupo de Whatsapp, email, Google Drive e o Google Meeting, além de algumas reuniões presenciais.
CONCLUSÃO
Eduardo Longo teve grande parte de sua arquitetura influenciada pelo periodo da Guerra Fria, bem como pela Ditadura civil-militar, no Brasil. Seus trabalhos foram agrupados conforme seus objetivos ao projetar: a juventude, marcada essencialmente por residencias, comecando pela Casa de praia Mar Casado, a qual durou até meados da decada de 70, em que Longo abdicou de seu escritorio em prol de sua pesquisa Apartamento-bola, isto é, edificações sociais esfero-modulares ancoradas numa megaestrutura, para familias de classe média, originando a peculiar Casabola.
Este projeto, construido em São Paulo, é feito de concreto armado sustentado por uma estrutura de ferro, sob a Casa-escritorio do proprio arquiteto. Longo participou ativamente durante a edificação, ao trabalhar como carpinteiro, eletricista, pedreiro, encanador e decorador, já que produziu desde caixilhos a mobília. A Casa teve seu termino em 1979, com uma grande repercussão, tanto positiva quanto negativa, na imprensa. Eduardo não parou com a sua pesquisa, desenvolvendo outra Casa-bola, localizada também em São Paulo, e a partir de 1996, tornou-se a residência de Longo.
Nos anos de 1980, o arquiteto passa a se preocupar com as questões urbanas da cidade, como o processo de verticalização e a ocupação dos espaços públicos, aproximando-se na arquitetura vernacular ao abandonar a cobertura de concreto armado.
A fase atual do arquiteto baseia-se em trabalhos pontuais para amigos proximos e participações de concursos públicos.
Dessa forma, a arquitetura de Longo foi essencial para o cenário urbano de São Paulo, pela criatividade e inovação em seus projetos, pela originalidade nas fachadas e nos interiores, marcando a historia da arquitetura utópica.
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