Bianca Honório Rodrigue Cleyton Souza Nunes
O PAPEL DO DESIGNER NA PROMOÇÃO E RESGATE DA CULTURA XILOGRÁFICA BRASILEIRA EM TIPOGRAFIA
Monografia apresentada ao curso tecnólogo em Design Gráfico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Câmpus Campos–Centro, como requisito para obtenção da graduação em Design Gráfico. Orientador: Adriano de Almeida Ferraiuoli
Aprovada em 01 de outubro de 2013.
BANCA AVALIADORA
........................................................................................................................................ Prof. MSc. Adriano de Almeida Ferraiuoli (Orientador) Mestrado em Cognição e Linguagem – UENF Instituto Federal Fluminense ........................................................................................................................................ Prof. MSc. Luiz Claudio Gonçalves Gomes Diploma de Estudos Avançados – Universidade de Barcelona Instituto Federal Fluminense ........................................................................................................................................ Prof. Bruno Pinto da Silva Pessanha Tecnologia em Design Gráfico - IFF Instituto Federal Fluminense
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca. Setor de Processos Técnicos (IFF) R696p
Rodrigues, Bianca Honório. O papel do designer na promoção e resgate da cultura xilográfica em tipografia / Bianca Honório Rodrigues, Cleyton Souza Nunes - Campos dos Goytacazes, RJ :[s.n.], 2013. 12 f. : Il. Orientador: Adriano de Almeida Ferraiouoli. Artigo (Design Gráfico). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. Campus Campos Centro, 2013. Referências bibliográficas: p. 8.
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1. Xilogravura. 2. Desenho - (Projetos). 3. Designers. 4. Tipografia. I. Nunes, Cleyton Souza. II. Ferraiuoli, Adriano de Almeida, orient. III. Título. CDD 769
O papel do designer na promoção e resgate da cultura xilográfica brasileira em tipografia Cleyton Nunes1, Bianca Rodrigues2 e Adriano Ferraiuoli3 Resumo: O presente trabalho teórico-prático compartilha reflexões a cerca do projeto de pesquisa de graduação: Criação de uma Família Tipográfica Digital por Meio de Processo de Produção e Impressão em Xilogravura. Relacionado às Disciplinas: Produção de Textos Científicos, Tipografia e Eletiva de Gravura. Pertencentes à Matriz Curricular do Curso Superior em Tecnologia em Design Gráfico, desenvolvido no IFF – Instituto Federal Fluminense – Campus - Campos Centro, Campos dos Goytacazes / Rio de Janeiro – Brasil, sendo este, requisito substituto do Trabalho de Conclusão de Curso. Desenvolveu-se manualmente uma família tipográfica digital criada a partir da técnica da xilogravura, objetivando estimular estudo na área gráfica, assim como contribuir para futuros projetos em Design Gráfico. O suporte teórico sustenta-se em Heitlinger, Herskovits, Horcades, entre outros e as categorias pesquisadas foram: a utilização da xilogravura na produção tipográfica digital e o papel do designer gráfico no resgate cultural. A análise dos resultados da pesquisa evidencia a possibilidade de estudo e uso prático da xilogravura na concepção de uma família tipográfica digital, sendo utilizada para difusão da técnica em questão, assim como o profissional de Design em seu processo criativo de produção, pode e deve ser um vetor de apropriação e resgate cultural. Palavras-chave: Design Gráfico, Xilogravura, Tipografia, Resgate Cultural Abstract: This theoretical and practical work shares thoughts about a graduation research project. Creation of a Digital Typographical Family through Means of Production Process and Print in Xylograph. Related to the discipline: Production of Scientific Texts and Elective of Illustration. Belonging to the NCM's Degree in Technology in Graphic Design, developed at IFF - Instituto Federal Fluminense - Campos - Centre Campus, Campos dos Goytacazes / Rio de Janeiro - Brazil, replacing the Term Paper. It has been manually developed a digital typography family from the technic of xylography, aiming to stimulate the research in the graphic area, as well as contributing to the future of projects on Graphic Designer. The theoric support is sustained in Heitlinger, Herskovits, Horcades, among others, and were searched in the categories: The use of xylograph in the digital typographical production and the role of the graphic designer on the cultural rescue. The analysis of research results turns evident the possibility of research and practical use of xylography in the conception of a digital font, and being used to divulge the technic, as well as the Professional of Designer on their creative process of production can, and must, be a vector of appropriation and rescue of culture. keywords: Graphic Design, Xylograph, Typography, Cultural Rescue Graduando em Tecnologia em Design Gráfico Graduanda em Tecnologia em Design Gráfico 3 Mestre orientador da pesquisa 1 2
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1 Introdução O moderno cenário tecnológico sugere a valorização de uma antiga técnica de impressão manual, a xilogravura, em detrimento das novas tendências digitais. Buscando esta relevância, apresentamos neste artigo, fundamentos e reflexões a cerca de uma pesquisa experimental de natureza aplicada, realizada em meio acadêmico. Apresentando a possibilidade do resgate da utilização das técnicas em xilogravura pelo profissional de Design, técnicas estas que fizeram e ainda fazem em menor escala, parte da identidade cultural brasileira. Como alternativa de encontro em tais mediações, buscamos na problemática, discutir de que formas a criação e aplicação de uma família tipográfica produzida a partir da técnica em xilogravura associada à produção tipográfica pode representar um espaço de interlocução entre o resgate cultural e o papel do designer neste processo. Objetivando o estímulo na área gráfica e contribuição para futuros projetos em Design Gráfico. Após estudo e análise bibliográfica minuciosa, deu-se início às aplicações práticas no produto e no processo gráfico. Desenvolveu-se paralelamente às disciplinas, Produção de Textos Científicos, Tipografia e Eletiva de Gravura, uma família tipográfica criada manualmente a partir da técnica xilográfica tradicional, onde tipos foram talhados individualmente em matrizes de madeira, e posteriormente impressos, digitalizados e transformados em uma fonte digital. Abordamos neste artigo, questões teóricas, metodológicas e práticas, em consonância com o ensino de Design no Brasil, referentes às disciplinas tipográficas e de gravura, no que diz respeito ao resgate cultural, valorização e adequação de técnicas anacrônicas de impressão gráfica.
2 A tipografia a partir da xilogravura A escrita sem dúvidas foi um marco na evolução do homem, neste sentido, concordamos com Carlos M. Horcades, ao relatar que “uma das maiores realizações do homem na terra é a invenção da escrita” (HORCADES, 2007, p.16). Segundo o autor, até esse momento o homem tinha permanecido primitivo. O autor Anico Herskovits relata a respeito das origens gráficas, “embora os chineses tivessem, certamente, usado a impressão tabular antes de qualquer outro povo, a primeira impressão em massa conhecida foi realizada no ano de 770, no Japão” (HERSKOVITS, 1986, p. 91). Assim motivada pela fé budista, levada ao Japão por influência chinesa, a imperatriz Shotoku, mandou imprimir cerca de um milhão de exemplares de um talismã budico. Deste modo, nasce à gravura, não como arte, mas como forma de multi-exemplaridade. Na Europa a impressão tabular foi utilizada pelos escribas quando estes recebiam uma alta demanda por cópias de livros e documentos solicitados pelas cortes. A necessidade de criar cópias rápidas destes manuscritos originou a primeira forma de gravura européia em matrizes de madeira. Estas matrizes eram únicas e cada novo impresso necessitava nova matriz, daí a descoberta que cada caractere poderia ser desmembrado e trabalhado individualmente na formação de uma composição de tipos. Sabe-se que os chineses foram pioneiros desta técnica, porém, a escrita chinesa é composta por ideogramas e assim quando se deu o descobrimento desta técnica na Europa por Johannes Gutenberg, ele ao invés de produzir os tipos romanos em madeira o fez através de 2
chumbo, porém “o advento da tipografia não acarretou o fim imediato das impressões tabulares, que continuaram sendo usadas até o fim do século XV” (HERSKOVITS, 1986, p. 104). Herskovits deixa claro que “não é possível ligar a gravura e a imprensa chinesa ao seu uso no Ocidente” (HERSKOVITS, 1986, p. 94). A tipografia só volta a se reencontrar pela técnica da xilogravura em escala industrial através das impressões de capas de literatura de cordel tanto na Europa e especialmente no Brasil, que só conheceu a xilogravura a partir de 1808 com a vinda da Família Real e sua corte. Paulo Heitlinger faz uma passagem na literatura de cordel, afirmando que o Brasil foi ou ainda é o maior produtor do mundo desta literatura. Tendo sua origem na Península Ibérica, “onde já no início do século XVI se popularizaram em folhas volantes” (HEITLINGER, 2010, p. 22). Sendo assim no seu ápice, “ela atingiu, entre as décadas de 1940 e 1950, audiência calculada em 30 milhões de pessoas, quase um terço da população brasileira” (FRANKLIN, 2007, p. 20), provavelmente o maior público da história, porém, ao passar dos anos, o público foi perdendo interesse e poucos novos artistas xilogravadores surgiram, causando uma queda de público que vem diminuindo percentualmente até hoje. De acordo com os autores, todo o conhecimento adquirido pelo homem não se perdeu, mas, se transformou ao longo dos anos. A tipografia deve muito à técnica da xilogravura, pois a tipografia se massificou pela técnica xilográfica, a sua adaptação para impressão em gravura resultou em referência para a maioria dos atuais tipos impressos por meio digital.
3 Relato de experiência Nesta parte específica do artigo, descrevemos o desenvolvimento da pesquisa, os procedimentos práticos, as análises, a exposição de parte da produção realizada e a metodologia aplicada ao longo do processo científico. Num percurso total de 09 meses de efetivo trabalho, dividido em encontros semanais de duração de 02 horas no período de setembro de 2012 a maio de 2013. Desenvolveu-se uma família tipográfica digital criada manualmente a partir da técnica da xilogravura. O estudo de normas técnicas e anatomia tipográfica, em concordância com a base adquirida pela bibliografia nos deram total suporte para a promoção da mesma. O processo inicia-se baseado em método descrito pelo autor Paulo Heitlinger. Segundo o autor, o designer Fernando Rocha define sua tipografia digital criada a partir do processo xilográfico: O alfabeto foi talhado em madeira, letra por letra, digitalizado e corrigido no Illustrator, depois foi processada com o Fontlab. O alfabeto foi escaneado duas vezes, uma vez, com a impressão falhada e outra com ela bem feita, o que resultou em duas variantes. A fonte foi pensada em ser toda em caixa alta, pela sua estrutura e finalidade (HEITLINGER, 2007, p.15).
A ideia central do projeto de Fernando Rocha segundo Heitlinger “era desenvolver produtos digitais baseados em técnicas de gravura” (HEITLINGER, 2007,p.15). Inspirados em seu método, desenhamos os caracteres na madeira, entalhamos, entintamos, imprimimos, digitalizamos (mantendo características originais, como imagem e não transformada em vetor) e utilizamos o software FontCreator, transformando em fonte digital intitulada: Xilotipo.
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FIGURA 1: Matriz de madeira sendo preparada para entalhar (usado com a permiss達o de Nunes, 2013).
FIGURA 2: Matrizes prontas e entintadas para impress達o (usado com a permiss達o de Rodrigues, 2013).
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FIGURA 3: Resultado da impressão xilográfica das letras (usado com a permissão de Nunes, 2013).
FIGURA 4: Resultado da impressão xilográfica dos números (usado com a permissão de Nunes, 2013).
O primeiro processo de teste foi a utilização da fonte digital criada e sua impressão para ajustes finais, já o segundo teste realizado foram as produções de cartazes digitais, de uma capa de literatura de cordel e um marcador de páginas produzido a partir da fonte criada.
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FIGURA 5: Cartaz de apresentação da família tipográfica completa (Usado com a permissão de Nunes, 2013).
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FIGURA 6: Capa de uma literatura de cordel utilizando a tipografia criada (Usado com a permiss達o de Rodrigues, 2013).
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Testes realizados apresentam o resultado final de um produto, que abrange todas as características técnicas e conceito de resgate cultural (pois a fonte foi baseada nas capas de literatura de cordel). Criamos assim, um produto xilográfico tradicional, adequado à funcionalidade digital. Amparados na utilização do conhecimento de pesquisa básica e da tecnologia na obtenção de aplicações práticas no produto e no processo, tratando a xilogravura e tipografia como fontes de estudo na área cultural, nos apoiamos nas seguintes categorias: utilização da xilogravura na produção tipográfica digital e o papel do designer gráfico no resgate cultural. Os procedimentos da pesquisa empírica se compõem da pesquisa bibliográfica desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros. Aprofundando a revisão de literatura, relacionando as descobertas feitas durante o estudo com o que já existe na literatura foi fundamental na orientação de tomadas de decisão sobre os direcionamentos da pesquisa, delimitando progressivamente o foco de estudo e testes de idéias junto ao produto criado.
Conclusão Diante dos resultados alcançados da pesquisa, fica evidente a possibilidade de estudo e uso prático da xilogravura na concepção de uma fonte digitalizada original que pode vir a ser utilizada para difusão da técnica em questão, assim como o profissional de Design em seu processo criativo de produção, pode e deve ser um vetor de apropriação e resgate cultural. Portanto o designer deve ter consciência de sua função, até mesmo da responsabilidade na manutenção de uma técnica cultural viva a partir de seus trabalhos gráficos e de incentivos na promoção de técnicas gráficas tradicionais.
Agradecimento Agradecemos aos professores Diomarcelo Pessanha, Julio César Negri e Joelma Alves por todo apoio cedido, assim como aos professores Luiz Claudio G. Gomes e Leandro Vieira pela orientação e ajuda no processo de criação deste artigo. Em especial agradecemos ao professor Alan Rene Neves por todo o carinho, dedicação, apoio, presteza, ajuda e orientação durante o percurso, pois, sem ele, este artigo não seria possível.
Referências FRANKLIN, J. Xilogravura popular na literatura de cordel. Brasília, DF: LGE Editora, 2007. HORCADES, C. A evolução da escrita: História ilustrada. 2. ed. Rio de Janeiro: Senac, 2007. HERSKAVITS, A. Xilogravura: arte e técnica. Porto Alegre, RS: Pomar editorial, 1986. HEITLINGER, P. Caderno de tipografia nº 1. [S.l.]: [s.n.], 2007. Disponível em: < http://www.tipografos.net/cadernos/cadernos-01.html > . Acesso em: 15 abr. 2013. ______ . Cadernos de Tipografia e Design Nr16. [S.l.]: [s.n.], 2010. Disponível em: < http://www.tipografos.net/cadernos/cadernos-16.html > . Acesso em: 15 abr. 2013.
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