EDIÇÃO 9 Nov - Dez - Jan/2014/2015 ISSN 2317 - 9406
Expediente: Editor Camilo Belchior Jornalista Responsável: Cilene Impelizieri 5236/MG Jornalistas: Ana Cláudia Ulhôa Pâmilla Vilas Boas Projeto gráfico e coordenação gráfica
A criatividade tem sido um grande aliado da humanidade. Possivelmente, ela é a mola propulsora da evolução, que traz em sua bagagem elementos como a tecnologia, os avanços de pesquisa médica, a inovação na forma de comunicação, entre outros. É fácil percebermos, no nosso dia a dia, como soluções e novas ideias surgem do nada, resolvendo questões que até então não tinham uma saída plausível. O ser humano é assim! Um misto de genialidade e loucura (no bom sentido, claro) que, somadas, fazem surgir possibilidades antes nem imaginadas.
Cláudio Valentin Social Media Rafael Martins Capa: Motohiko Odani A Revista iDeia é uma publicação da Editora PlexuDesign,
Embasados nesse pensamento, preparamos para a nona edição da Revista iDeia um verdadeiro menu degustação sobre o tema: A arte de Tornar Possível o Improvável. Nossa equipe buscou, dentro dessa temática, identificar pessoas, ações, produtos, serviços que se encaixassem em nossas seções e que pudessem ser uma pequena vitrine do que a genialidade humana é capaz de fazer.
patrocinada pelo Grupo Loja Elétrica / Templuz, com veiculação gratuita, não podendo ser vendida. Sua distribuição é feita para um mailing seleto de profissionais das áreas afins ao design e formadores de opinião. Contato: contato@revistaideia.com Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem
Nessa edição, vocês poderão ver objetos extraordinários, com uma estética impressionante e que também parecem ter vida própria. Pessoas capazes de usar as tecnologias disponíveis no mercado para realizar coisas que melhoram a vida das outras tantas. Teremos também olhares diferenciados de profissionais especiais, que conseguem ver o que normalmente não enxergamos. Pessoas que passaram pelo mundo e deixaram uma herança verdadeiramente atemporal.
a opinião da revista.
Então, sem perder muito tempo, bom apetite! Camilo Belchior
Foto: divulgação Theo Jansen
pág. 4 - Arquiolhar - Cioli Stancioli
1. Bairro do Chelsea visto da High Line Foto: Cioli Stancioli
por Ana Cláudia Ulhôa “Capítulo 1. Ele adorava a cidade de Nova York. (...) Para ele, não importava qual fosse a estação, aquela era uma cidade que existia em preto e branco e pulsava às grandes melodias de George Gershwin”. Assim como Isaac, personagem do ator e diretor Wood Allen em Manhattan, Cioli Stancioli é um verdadeiro admirador do município estadunidense apelidado de “a grande maçã”. Por isso, em sua última viagem aos Estados Unidos, durante o mês de julho desse ano, o arquiteto e designer mineiro fez como Allen, em seu filme de 1979, e prestou uma homenagem, em forma de imagens, a Nova York. Porém, diferente do longa-metragem Manhattan, as imagens produzidas por Cioli são estáticas e cheias de colorido.
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O laranja dos conjuntos de prédios de tijolos, o verde entre o concreto cinza e os tons vibrantes das propagandas espalhadas pelas ruas da cidade mais populosa dos EUA - com cerca de 8 milhões de habitantes - estão presentes nas quase duas mil fotos feitas por Stancioli em pontos como Chelsea, Greewich Village, SoHo, Tribeca e Financial District. De acordo com o arquiteto, todos esses locais foram escolhidos através de uma pesquisa feita por ele e pela esposa antes da viagem que, inicialmente, seria apenas para compras e turismo. “Queria comprar o meu material de desenho, dentre outras muitas
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2. Rua do bairro Flatiron District 3. Prédio do hotel Murray Hill, no Greenwich Village 4. High Line, linha de ferro suspensa transformada em parque em 2009 5. Fachada de prédios típicos do Chelsea Fotos: Cioli Stancioli
coisas. Quando viajo, faço um roteiro. Compro livros, revistas, disseco tudo. Coincidentemente, foi um período em que saíram muitas revistas falando sobre Nova York e fomos nos empolgando”, lembra. Cioli Stancioli conta que a vontade de fotografar a cidade veio não só pelo cenário que encontrou por lá, mas também de conversas com o amigo e designer Camilo Belchior. “Eu mostrei para o Camilo algumas fotos que fiz na Europa e ele ficou encantado com meu olhar na fotografia, mesmo não sendo fotógrafo (profissional). Aí eu falei: Ah! Agora nos Estados Unidos não vai ser diferente. Nós vamos ficar igual japonês, vamos queimar filme, no bom sentido (risos)”. O resultado foram imagens como as da High Line, um parque suspenso criado sobre uma linha de ferro de 1,6 Km, construída em 1847 no Chelsea, mas que estava desativada desde
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6. Museu Guggenheim de Nova York 7. Mercado no bairro Chelsea
a década de 1980. Nesse local, Cioli fotografou não só o espaço do parque. Seus cliques capturaram também as construções no entorno e as pessoas que andavam, conversavam, comiam e desfrutavam do local. Características como a preocupação com a geometria dos elementos que compõem o quadro, a harmonia das cores e, principalmente, a inserção das pessoas dentro de um contexto urbano revelam uma influência da área de atuação de Stancioli em sua maneira de fotografar. Segundo ele, seu grande objetivo é sempre captar imagens que representem o que é aquela cidade. “O
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que existe ali revela a vida naquele local. A arquitetura, o ser o humano e o comportamento mudam ao longo do tempo e tudo isso está refletido ali. O tipo de prédio que encontramos na Europa não é o mesmo que encontramos em Nova York. Tem um por que dos materiais, da concepção, forma, cor. Quando você fotografa em Nova York é o que eles são e estão fazendo naquele momento. E o que eles são? São as caixas d’água, os arranha-céus, os cafés”. Para o arquiteto, não há local que defina melhor a cidade do que o Chelsea, um bairro histórico de Manhattan que abriga cortiços, conjuntos habitacionais, lojas de varejo e várias galerias de arte. “Você caminha por ele e vê prédios antigos, estabelecimentos comerciais, casas, blocos de apartamento. Fica aquele bairro gostoso, porque tem tudo
misturado. Além disso, existem novos empreendimentos, com o restabelecimento do espaço. Aí, o Chelsea fica mais descolado ainda. Eu acho que Nova York é isso”. Ao falar sobre o Chelsea, Cioli lembra as imagens dos filmes de comédia romântica, nos quais casais caminham por ruas repletas de prédios idênticos, feitos de tijolos, com escadas nas portas e um pé direito enorme. Ao resgatar esse tipo de cena, Cioli demonstra toda a admiração pela “grande maçã” e revela porque, assim como Isaac, “Nova York é a cidade dele”. “O conjunto de edifícios que existe ali é impressionante. E só quem está lá consegue sentir a força de uma coisa dessas. Quando você vê que a cidade toda tem isso, fala: como conseguiram fazer um lugar tão excepcional? Isso é o que mais me impressiona, é onde eu queria morar”, afirma.
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Memórias que se transformam em arte
1. Lúcio Carvalho, artista plástico fluminense que transita entre a pintura, fotografia e escultura. 2. PINACOTECA invasão 1 Técnica: Fotografia digital Fotos: Lúcio Carvalho
por Ana Cláudia Ulhôa
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Pedaços de louça, carne, aranhas, bichos de pelúcia, bonecas. Tudo misturado em 13 séries de fotografias, esculturas e pinturas. A atração pelo “acúmulo” vem da infância, na fazenda do interior do Rio de Janeiro, onde a enorme família se reunia, e mesmo sem saber, já começava a mexer com a criatividade de Lúcio Carvalho. Hoje, aos 49 anos, o artista plástico já expôs as peças criadas a partir de suas memórias em vários países do mundo, como Japão, Estados Unidos, Itália, França, Holanda e Argentina. Preparando-se para comemorar 15 anos de carreira, ele conta como surgiu seu interesse pela arte e como seu trabalho foi amadurecendo ao longo do tempo.
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Revista iDeia: Gostaria de saber como se deu sua formação artística. Vi em seu site que você desenhava quando criança e achava que isso era errado. Conte-nos um pouco dessa história. Lúcio Carvalho: É porque sou do interior do Rio de Janeiro. Fui criado em uma fazenda, em um lugar chamado Cambucí. Sou de uma família bem grande e era o único que gostava de ficar desenhando e pintando. Não via mais ninguém fazendo isso, só eu. Então, achava que as pessoas desenhavam, mas escondido, como ir ao banheiro, se masturbar, tomar banho. Por isso, desenhava escondido, debaixo de uma mesa bem grande, que tinha na sala de jantar. Ficava o dia inteiro desenhando e, no final, colava no teto da mesa para que ninguém visse. Ninguém me proibia, eu que achava que era proibido. Ri: Quais cursos você fez? LC: Sou formado em Desenho Industrial. Quando fui escolher a faculdade, queria fazer artes
plásticas, mas achei que iria morrer de fome. Aí, fui para o Desenho Industrial, pois era um curso no qual eu não ia desorientar tanto, era uma coisa até bacana e eu poderia conseguir um emprego. Então, me formei e acabei virando artista plástico. Segui minha intuição. Ri: Você acha que sua formação como designer influencia de alguma maneira em seu trabalho como artista plástico? LC: Sim. Influencia bastante, porque minhas esculturas têm muito de desenho industrial. Se você for ao meu site, vai ver as esculturas. Têm inclusive móveis, que eram usados na fazenda. Eu uso tudo o que aprendi na faculdade, no laboratório, nas artes plásticas. Ri: Você já expôs em vários lugares do mundo. Como começou a levar seu trabalho para fora do país? Como ele começou a ganhar essa projeção? LC: Eu pintava (minha formação inicial é pintura). Depois, comecei a trabalhar com
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fotografia, ganhei um prêmio em Los Angeles e fui fazer uma exposição lá, assim como no Japão, com mais dez fotógrafos, para comemorar o centenário do Brasil naquele país. Agora, vai ter um festival de fotografia na Itália, onde terei uma sala especial como fotógrafo. Acabo sendo convidado muitas vezes, mas eu não me considero fotógrafo, e sim artista plástico. Uso a fotografia para me expressar. Ri: Sua fotografia não é convencional, você mexe na imagem. Como é essa técnica que você usa? LC: Na verdade, são milhões de fotografias. Ela não é feita no momento do clique. Minha fotografia é totalmente construída. Faço como se fosse uma pintura. Claro que o produto final acaba sendo uma fotografia, que é uma impressão no papel, mas é tudo construído como se fosse uma pintura. Ri: Você trabalha com fotografia, escultura, pintura. Como você foi descobrindo essas linguagens? LC: Eu pintava desde criança. Na verdade, eu nem sabia que existia essa coisa de ser artista plástico, eu queria ser pintor. Depois, a fotografia veio da minha vontade de querer fazer uma pintura tão
3. A diarista e mademoselle Rosalie Técnica: Pastel oleoso sobre madeira medidas: 2.00 x 1.25 m ano: 2013
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realista, que a única forma de conseguir algo tão realista seria fotografando. Então, acabei indo para essa área. A coisa da escultura tem muito a ver com minha necessidade de mexer com matéria-prima, com botar a mão na massa e com a minha formação em Desenho Industrial, de ver a coisa tridimensional.
4. Um certo olhar Técnica: Fotografia digital medidas: 120 x 82 cm ano: 2014 Fotos: Lúcio Carvalho
Ri: Conte-nos como é seu processo criativo. LC: Tudo que você vê em minhas séries tem muito a ver com o meu passado, com essa coisa da minha infância. Vou crescendo, envelhecendo, mas é sempre uma maneira de ver o futuro através do meu passado. Todas aquelas mulheres que você vê lá, em minhas fotografias, com aquelas mãos gigantes, são representadas assim porque eu ficava escondido debaixo da mesa de jantar e eu só via as mãos e os pés dos adultos. Minhas obras estão cheias de coisas de fazenda, como arame farpado, mosca, bichos de pelúcia. Minha última exposição, a Avessos, é composta de esculturas com umas louças e carnes. São coisas que eu também observava debaixo da mesa. Eu via as carnes sendo defumadas no fogão a lenha e as mulheres cozinhando o tempo todo.
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Ri: Conte-nos sobre a exposição Aracmídias, como móveis super diferentes. LC: Eles são as aranhas que habitavam debaixo das cristaleiras da minha avó. No interior, tudo que você ganha de mais valioso, não só financeiramente, você guarda na cristaleira. Você ganha uma louça e fala: quando uma pessoa muito especial vier, eu vou usar essa louça. A menina ganha a boneca e bota na cristaleira. O dia que ela tiver idade, ela vai brincar com essa boneca. E nunca chega uma pessoa tão especial para você usar aquela louça. A menina, quando vai brincar com a boneca, não tem mais idade e não quer mais. Então, você pode ver que naquelas cristaleiras as coisas são meio quebradas. Você vai passando
5. A infanta e o pão Técnica: Fotografia digital medidas: 150 x 120 cm ano: 2014 6. O Cupido e o menino Técnica: Pastel oleoso sobre madeira medidas: 2.00 x 1.25 m ano: 2013 7. Título: ARACMÍDIA Nº 8 Técnica: Madeira, metal, vidro e duratrans medidas: 193 x 100 x 100 cm ano: 2007 Fotos: Lúcio Carvalho
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de geração em geração e ninguém nunca usa. E, junto com as aranhas que tinham embaixo das cristaleiras, ficam como se tivessem criado vida. Ri: Você está trabalhando em quais projetos atualmente? LC: Em vários. Vou participar de uma bienal na Bulgária; estou fazendo uma individual da minha série Invasões, durante o Festival de Montecchio Emilia, na Itália. Ainda não sei a data, mas vão fazer uma exposição para mim aqui na Pinacoteca, em São Paulo. Estou negociando duas exposições também, a primeira em uma galeria nova de Paris e a segunda na Holanda. Também tem um livro “Acúmulos de 15 anos de carreira”.
pág. 16 - Perfil - Theo Jansen
por Pâmilla ViIas Boas
O maior desejo de Theo Jansen é fazer com que seus animais de areia ou “strandbeests” possam viver livremente pelas praias da Holanda. Há mais de 20 anos, o engenheiro, artista e escultor cinético vêm desenvolvendo trabalhos para a criação de novas formas de vida. Os strandbeests são feitos de tubos de plástico amarelo, fita adesiva e fios de nylon, materiais simples que se transformam a partir de um complexo trabalho de engenharia. Hoje, é possível encontrar essas esculturas impressionantes, que lembram animais pré-históricos, caminhando com a ajuda da força do vento, transcendendo e levando ao extremo a chamada arte cinética, que tem como proposta estética o movimento. A inspiração de Theo vem da teoria da evolução de Darwin. Em seu atelier, em Ypenburg, na Holanda, Jansen estuda minuciosamente a história da evolução biológica, base para a geração das criaturas que se movem ao vento. Tudo começa na mente de Theo, que depois de imaginar as várias possibilidades, passa sua ideia para o computador, onde tem condições de simular a estrutura do organismo, bem como seu processo de funcionamento, que se dá através do estudo do ar comprimido.
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Fotos: divulgação
Assim, o artista observa a desenvoltura das criaturas e, se elas não correspondem à expectativa, ele as descarta e passa a trabalhar na próxima, corrigindo os erros do antecessor. “Trabalho na criação de novas possibilidades de vida 24 horas por dia”, afirmou para a BBC em novembro de 2010. Suas formas inusitadas nos remetem a seres pré-históricos dos quais ainda há muito mistério a ser revelado. As formas são tão orgânicas que poderiam ser confundidas com enormes insetos ou esqueletos de mamute. Como numa máquina do tempo, Theo recria artisticamente animais que estiveram presentes no passado,
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Escaping vase Fotos: Anderson Horta
apontando também para o futuro da engenharia. A proposta de Jansen é que, no futuro, suas ideias e criações possam servir para o desenvolvimento de equipamentos de transporte completamente sustentáveis. Apesar do efeito estético surpreendente, Theo afirma estar mais preocupado com o funcionamento. Considerado por muitos o “Leonardo Da Vinci da atualidade”, ele associa seus conhecimentos de engenharia à arte. Jansen nasceu em 1948 na Holanda e estudou física na Universidade de Tecnologia da cidade de Delf. “As fronteiras entre arte e engenharia existem apenas em sua mente”, disse o artista em um comercial da BMW em dezembro de 2010.
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Strandbeests criadas por Theo Jansen Fotos: divulgação
Por enquanto, o artista já conseguiu resolver a parte locomotiva das estruturas, o armazenamento de energia e a adaptação a condições adversas. As partes inferiores das esculturas, semelhantes a pernas, movem-se mantendo o eixo ao mesmo nível, para que a caminhada na areia seja facilitada. Cérebro eletrônico Os animais precisam se localizar para ficar longe de seus principais perigos: o oceano, o fim da praia e, principalmente, as tempestades. Apesar de aparentemente frágeis, eles conseguem evitar tais obstáculos graças a mecanismos que se baseiam no código binário, criando uma espécie de cérebro artificial. Para evitar as tempestades, por exemplo, o artista
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criou um mecanismo que, quando o vento está muito forte, ele aciona um dispositivo que enterra um tubo na areia. Para que o animal não entre na praia, ele criou outro mecanismo, que suga ar. Quando o tubo passa a sugar água, ele faz com que a estrutura se desloque em outra direção. Segundo Jansen, os animais possuem um “estômago” formado por garrafas de plástico vazias, capazes de armazenar ar para abastecimento energético. Pequenas bombas são acionadas na parte da frente do animal. Depois de algumas horas, as garrafas estão cheias. Com forte potencial eólico, essas reservas permitem que o animal se locomova, mesmo com pouco vento. Os animais, como explica o artista, também tem músculos compostos por um tubo contendo outro, que é capaz de se mover para dentro e para fora. Quando o ar corre nas garrafas, o tubo empurra o êmbolo para o exterior e o músculo se alonga. Os músculos podem abrir as torneiras para ativar outros músculos, que abrem outras torneiras e assim por diante. Isso cria centros de controle, que podem ser comparados a cérebros. O artista escolheu o tubo amarelo por ser um produto muito barato. Em 1979, Theo utilizou esse mesmo tubo para fazer um disco voador que sobrevoou a cidade de Delft, na Holanda, e causou um motim e grande espanto aos moradores. Ele tinha quatro metros de largura e foi levantado por hélio. “Nunca o encontramos. Ele desapareceu nas nuvens e, provavelmente, desembarcou na Bélgica”, afirma o artista.
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pág. 22 - Artigos - Marco Túlio Ulhôa
por Marco Túlio Ulhôa
O fervor com que alguns cineastas têm lançado críticas, em detrimento do cinema contemporâneo, se articulam em gestos que vão desde a maneira como estes realizadores têm abordado o campo conceitual de seus próprios trabalhos, até ataques retóricos, como o proferido no artigo “O cinema está morto, vida longa ao cinema?” (2007), escrito pelo diretor britânico Peter Greenaway. Nele, Greenaway não poupa palavras ao demonstrar-se um entusiasta dos novos meios digitais, notando a incapacidade de o cinema ter, nos últimos anos, incorporado, de forma mais ostensiva, as propostas inovadoras trazidas por outros meios de expressão. Para o diretor, o cinema tem, sistematicamente, “perdido a batalha pela experiência da imagem em movimento”. No entanto, a crítica de Greenaway oculta o brilho e a consistência do trabalho artístico de uma série de realizadores contemporâneos responsá-
veis por alterar o panorama da criação audiovisual. Talvez, o exemplo mais consistente desse perfil seja o diretor francês Michel Gondry, cuja natureza inventiva de suas criações tem servido como fonte de inspiração para toda uma geração de artistas, muitas vezes ligados a outros meios de expressão. Nascido em Versailles, em 1963, Michel Gondry tem se sobressaído, desde o final da década de 1980, como o responsável por uma das obras mais instigantes da atualidade. Foi a partir do seu trabalho com videoclipes que o diretor destacou-se, ao ter sua produção independente descoberta pela cantora islandesa Björk. A partir daí, Gondry passaria a ser um dos nomes mais requisitados por grandes artistas da música pop internacional. O primor técnico e a capacidade inventiva de Michel Gondry saltaram aos olhos de espectadores por todo o mundo,
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1. Michel Gondry, cineasta francês conhecido por seus planos-sequências, truques de câmera e criatividade. Foto: divulgação
2. Jim Carrey e Kate Winslet em Brilho eterno de uma Mente sem lembranças. Foto: divulgação
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3. Rebobine, por favor, filme de 2007 dirigido por Michel Gondry. Foto: divulgação
servindo-lhe como uma porta de entrada para seu primeiro trabalho no cinema, o filme Natureza quase humana (2001), obra que também marca o início da sua parceira com o roteirista americano Charlie Kaufman. Com Kaufman, Gondry realizaria ainda o seu segundo longa, Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004). Nas suas obras seguintes, Sonhando acordado (2006), Rebobine, por favor (2008), O Besouro Verde (2008) e A espuma dos dias (2013), Michel Gondry aprimoraria ainda mais aquilo que lhe destacou como um diretor virtuoso, voltado para uma primazia das técnicas de roteirização, montagem e pré-produção. Trabalhando em uma espécie de contramão do cinema hollywoodiano, cujo
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4. Cartaz do longa-metragem A ciência dos sonhos, lançado em 2006.
apelo comercial está inteiramente voltado para a presença de efeitos especiais e técnicas de pós-produção, a obra de Gondry, sem ser menos aprazível, retoma o caráter artesanal e lúdico dos primórdios do cinema, quando Georges Méliès valia-se dos seus conhecimentos como ilusionista, para encantar o público através de suas invencionices e experimentações cinematográficas. É invertendo a ordem de um cinema preocupado com o apelo realista de seus efeitos especiais, que Gondry atesta o caráter onírico de suas criações manuais, planejadas milimetricamente, para reproduzir efeitos a serem concebidos quando filmados, e não posteriormente editados. No livro, Ciência do sonho: a imaginação sem fim do diretor Michel Gondry (2005), o jornalista e crítico Marcelo Rezende define o estatuto das imagens do trabalho de Gondry como aquele que “nunca segue um caminho esperado”. Para o jornalista, “há um tipo evidente de embaraço entre o que é figurativo e abstrato, velho e novo, líquido e gasoso,
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6. Cena do longa-metragem A espuma dos dias, adaptação para o cinema do romance homônimo escrito por Boris Vian.
artístico e puramente publicitário em sua obra. Toda a originalidade de sua proposta está no modo como escolhe e se apropria de um imenso repertório e imprime seu nome sobre ele. É um garoto que foi deixado sozinho em uma imensa e rica loja de departamentos, um solitário que se diverte com sua imaginação sem fim.” Das mãos desse cineasta-inventor, o cinema continua a ser talhado como um mundo que pensa as imagens antes mesmo que elas sejam impressas em algum aparato técnico e formal. Por reinventar toda uma economia da criatividade, Gondry brinca com os sonhos e com a história, sem ser coagido pelo elogio do novo ou pelos apelos autoritários da pureza.
Marco Túlio Ulhôa é jornalista, mestrando em comunicação na Universidade Federal Fluminense na linha de estudos de cinema e audiovisual, pós-graduado e especialista em produção e crítica cultural.
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pág. 28 - Ícones - Franck Gehry
Franck Gehry Foto: divulgação
Ícones - Franck Gehry - pág. 29
A liberdade criativa de Frank Gehry por Ana Cláudia Ulhôa
Há quem chame Frank Gehry de gênio da arquitetura contemporânea. No documentário Esboços por Frank Gehry (Sydney Pollack, 2005)¹, por exemplo, a escritora e curadora Mildred Friedman diz que “ele é arquiteto e é também um artista”. Porém, nem sempre foi assim. Quando ainda era jovem, o arquiteto canadense, radicado nos Estados Unidos, foi reprovado em um curso de perspectiva. Mais tarde, quando cursava o segundo ano na faculdade, mesmo indo bem nas matérias, seu professor se aproximou e disse: “Frank, isso não é para você. Você devia sair”, conta Gehry no filme de Pollack. De acordo com o próprio arquiteto, aquilo não significou nada para ele. Frank Gehry seguiu em frente. Parecia estar predestinado a ser um dos profissionais mais importantes de sua área. Em uma das várias histórias que conta no longa-metragem de 2005, ele afirma que, quando era
pequeno, havia uma senhora que analisava caligrafias perto de sua casa de verão, ao norte de Ontario. “Minha mãe pediu que analisasse a minha. (...) E ela disse que algum dia, eu seria um arquiteto famoso”. De certa forma, Gehry sempre soube o que queria fazer da vida. “Sempre gostei de fazer as coisas com as mãos. Lembro que, aos 8 anos, minha avó trazia uma sacola de madeirinhas para acender o forno a lenha. Às vezes, ela abria a sacola e jogava tudo no chão. E nos sentávamos no chão, e construíamos coisas. Fazíamos cidades e estradas. Era tão divertido! Lembro-me de quando comecei a pensar no que queria ser quando crescer. De algum modo, me lembrei dessa história. Intuitivamente, pensei que talvez fizesse algo parecido com aquilo”, revela. O gosto por trabalhos manuais continuou presente na vida de Gehry. Até hoje, o arquiteto de 85 anos
¹ Acesse: bit.ly/Z9lZaX
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concebe seus projetos através da construção de modelos. Ele explica que a primeira etapa de seu processo criativo é limpar sua mesa e fazer anotações. Com receio do resultado, ele evita ao máximo o trabalho para, no final, pegar pedaços de papel ou madeira e colocar a mão na massa. Juntamente com sua equipe, constrói maquetes que, posteriormente, são transferidas para programas de computador por um de seus assistentes. Esse foi o procedimento adotado para a elaboração do projeto do Museu de Guggenheim em Bilbao, na Espanha, por exemplo. Finalizado em 1997, o edifício de blocos de pedras calcárias, com placas de titânio retorcidas e lâminas de vidro, foi um dos responsáveis por catapultar a carreira
Walt Disney Concert Hall, Los Angeles. Seu processo de construção levou 16 anos: de 1987 a 2003. Foto: en.wikipedia.org
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de Frank Gehry. Após essa obra, começaram a surgir convites de vários cantos do mundo para o arquiteto. Outro destaque do portifólio de Frank é a Dancing House, concluída em 1996 e situada na cidade de Praga, na República Tcheca. Com uma estrutura curvada e pilastras também curvas, o edifício lembra um casal de dançarinos. Por isso, suas duas torres foram apelidadas de Ginger e Fred Astaire, protagonistas de musicais de Hollywood. Esse formato é também uma alusão ao bombardeio que a cidade sofreu durante a Segunda Guerra Mundial e que acabou destruindo várias construções localizadas na região. A obra mais recente do arquiteto é a sede
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da Fundação de Artes da marca francesa Louis Vuitton, que será inaugurada em 17 de outubro deste ano. Com uma estrutura toda em lâminas de vidro e metal, o prédio, inspirado no Grand Palais de Paris, tem forma de velas infladas pelo vento. Os desenhos inusitados dos projetos de Gehry revelam um arquiteto com características do desconstrutivismo, tendência na arquitetura que rompe com a tradição e resgata o papel da emoção, valorizando a fragmentação e o desenho não linear. No entanto, Frank Gehry explica, em entrevista ao jornal O Globo ², no dia 11/12/2010, que suas influências vêm de diversas escolas e áreas. “(Le Corbusier)
Detelhe da cobertuda do Millenium Park Chicago. Foto: divulgação
² Acesse: glo.bo/10Fksed
Dancing House, inaugurada em 1996 na cidade de Praga, República Tcheca. Foto: carminaubrun.com
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Lou Ruvo Center for Brain Health, centro especializado em saúde mental inaugurado no ano de 2009, em Las Vegas. Foto: designapplause.com
foi no início. Mas ainda admiro o trabalho dele. Também o trabalho de (Alvar) Alto. Tenho ali um globo de Frank Lloyd Wright. Olho um pouco para todos os lados. Quando era jovem, fui influenciado pelo Japão, estudei arquitetura clássica japonesa. Atuei numa orquestra Gagaku, a música de corte japonesa. Eu tenho muitos heróis”. Ganhador de diversos prêmios, como o Pritzker Prize (1989), considerado o Nobel da arquitetura, Frank não se sente bem quando é visto como uma celebridade em seu meio e diz ao repórter de O Globo: “Não gosto dessa história de estrela porque, para a minha geração, a arquitetura é uma profissão dignificante. Eu sou um cara antigo”.
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Antoni Gaudi Foto: divulgação
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A arte imita a natureza Passados mais de 100 anos, a técnica e a estética do arquiteto Antoni Gaudí ainda impressionam público e estudiosos ao redor do mundo por Pâmilla Vilas Boas
A vida e a obra do arquiteto catalão Antoni Gaudí são indiscutíveis. As formas, texturas, policromia, geometria complexa e religiosidade dão sentido e unidade às suas obras, que representam elementos da natureza. A estética de Gaudí é uma mistura de suas grandes paixões: arquitetura, natureza e religião. Exotismo, tradição e um complexo sistema construtivo tornaram seus trabalhos reconhecidos internacionalmente e objeto de inúmeros estudos. Sua obra-prima, a inacabada Sagrada Família, é um dos monumentos mais visitados da Espanha. Entre 1984 e 2005, sete das suas obras foram classificadas como Património Mundial pela UNESCO. “O segredo da sedução da arquitetura de Gaudí está em buscar inspiração diretamente na natureza. Por isso, continua a ser admirado. Sua arquitetura está fora do tempo e resiste a ser classificada dentro de uma tendência ou escola”, afirma o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da
PUC Minas, Antônio Grillo, doutor em teoria e história da arquitetura. Gaudí nasceu em 1852 e viveu em Barcelona até 1926. É considerado figura de ponta do modernismo catalão, por fazer uso de inovações técnicas, ao mesmo tempo em que continuou a utilizar a linguagem arquitetônica tradicional. Mas, essa classificação não é capaz de resumir sua obra. O próprio Gaudí, por exemplo, se considerava um aperfeiçoador do estilo gótico. Antônio Grillo explica que, na Espanha, eles chamam de modernismo um movimento do final do século XIX e início do século XX, ainda muito marcado pelos estilos Românico e Gótico por um lado, e árabe e Mudéjar (estilo artístico com forte influência da arte islâmica) por outro. “No final do século houve muitos movimentos, principalmente na Europa, buscando uma nova arquitetura. Vários deles ainda com relação com a arquitetura passada.
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Esses movimentos de fim de século, como Art Nouveau e o Modernismo espanhol, estavam tateando um novo caminho para a arquitetura”, ressalta.
Processo construtivo Gaudí desenvolveu uma arquitetura muito original e exótica, extremamente vinculada à lógica construtiva. No início do século XX, novas tecnologias, como lajes, vigas e planos ortogonais, possíveis pelo advento do aço e do concreto armado, estavam ganhando espaço, mas Gaudí optou por não utilizá-las. “Um motivo por que ele não incorporou essas formas foi sua relação com a natureza. Ele falava que a geometria plana era a dos homens, mas, na natureza, todos os planos são retor-
Casa Milà Foto: © robypsycho | Dollar Photo
cidos. Ele fazia questão de trabalhar com a lógica construtiva dos elementos naturais e não a dos artificiais criados pelo homem”, afirma. Essa relação com a natureza era reforçada por sua visão religiosa. Para Gaudí, a natureza era uma criação de Deus, e o homem, ao se inspirar nela, estaria perpetuando a obra divina. O arquiteto frequentemente optava pela criação de maquetes e modelava os detalhes à medida que os concebia. Algumas maquetes eram feitas em escala de grandes proporções para testar a eficiência de seus projetos antes de iniciar a construção. Na Igreja da Colônia Güell, Gaudí usou correntes metálicas presas pelas extremidades,
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realizando maquetes de cabeça para baixo: quando elas ficavam estáveis, ele utilizava a forma invertida, formando suas conhecidas cúpulas catenárias. Também utilizou, com o auxílio de seu colaborador, o arquiteto e artista Josep Maria Jujol, a técnica do trencadis, que consiste em usar peças de cerâmicas quebradas para compor superfícies. Ele incorporou também uma série de ofícios comuns na época, como a cerâmica, vitral, ferro forjado e marcenaria. Grillo explica que o arquiteto operou uma grande investigação da forma arquitetônica, optando por trabalhar com a técnica dos tabicados, uma herança do mediterrâneo das construções com tabiques, uma
Luminaria e trecho espiral casa Batlló, Barcelona Foto: © risquemo | Dollar Photo
pág. 38 - Ícones - Gaudí
Patio interno Casa Battló Foto: © risquemo | Dollar Photo
Chaminés La Pedrera Casa Milá Foto: © SemA | Dollar Photo
Ícones - Gaudí - pág. 39
espécie de placa cerâmica, que os catalães já utilizam para fazer abóbadas, cúpulas e escadas. “O que ele fez foi agregar mais ousadia formal na construção, se valendo de uma tecnologia construtiva que já existia na Catalunha”, afirma. A arquitetura de Gaudí é uma síntese da cultura, da estética e de processos construtivos de seu tempo. Para Grillo, a permanência de sua obra se dá pela riqueza de referências que ela traduz. “Tem a questão construtiva que é muito forte. E do ponto de vista estético, se no princípio era uma obra que tinha certa exoticidade, mais vinculada ao modernismo catalão, depois ele passa a assumir uma grande originalidade, se desvinculando dessas referências do passado”, ressalta.
Igreja Sagrada Familia Foto: © Rainer Walter Schmie Dollar Photo
pág. 40 - Objetiva - Cyro José
Objetiva - Cyro José - pág. 41
Desenhos da natureza por Ana Cláudia Ulhôa
Quando abriu a porta de sua casa, a primeira coisa que se via do lado de fora era uma enorme mesa de madeira com dois bancos compridos, como aqueles comuns nas fazendas do interior do Brasil. Em cima do móvel, uma garrafa de café bem quente e um tabuleiro de pão de queijo. Ao andar pelos outros cômodos, era possível notar a presença de vasos de plantas, peças de artesanato e fotos de natureza emolduradas e penduradas nas paredes. O que parece cenário típico de uma residência da zona rural de Minas Gerais é, na verdade, o apartamento do fotógrafo Cyro José, localizado no Bairro Floresta, região leste de Belo Horizonte. Mesmo longe de Formiga há 47 anos, ele mantém uma forte ligação com tudo que vem de pequenas comunidades ou da natureza. Seu fascínio por esse mundo é tão grande que não é de se espantar que tenha largado a carreira de analista de sistemas para se transformar em fotógrafo.
Entrada Gruta-do-Bau Foto: Cyro José
pág. 42 - Objetiva - Cyro José
José conta que a admiração pelos animais, paisagens e fotografia veio desde muito cedo, quando ainda era bem criança. “Fui criado numa fazenda, no interior. Mudei-me para lá com três anos e fiquei até os 18. Naquela época, os parentes sempre iam passar férias de fim de ano na fazenda, e sempre tinha algum tio da capital que levava uma maquininha de caixote. Como era muito curioso, se havia alguém fotografando, ficava perto, pedia para ver, para experimentar. Só depois, quando vim para BH, é que resolvi mesmo fotografar e fiz carreira nessa área”, relembra. Da década de 1980 para cá, Cyro José viajou por quase todo o Brasil e por alguns países do norte do continente, para registrar a fauna e a flora do cerrado, mata atlântica, floresta equatorial, caatinga e pampas. Em suas andanças, passou por Mato Grosso, Bahia, Pará, Amapá, Rondônia, Amazônia,
Fotógrafo Cyro José Foto: divulgação
Chão de Mata Foto: Cyro José
Objetiva - Cyro José - pág. 43
Guiana Francesa e Suriname. No meio do caminho, acabou se especializando em macrofotografia, campo que busca retratar pequenos seres ou objetos em tamanho aumentado, através da aproximação da câmera ou utilização de acessórios. De acordo com José, essa é uma das áreas da fotografia que mais o encanta. “Me especializei em macrofotografia para trabalhar com cientistas, pois era preciso focar no detalhe, naquilo que chama atenção e que é importante para aquele estudo. Aí, você começa a descobrir muita coisa. Por exemplo, existem vários animais muito pequenos que você acha que não estão te vendo, mas estão. Na hora que chega a lente perto de uma aranha, por exemplo, você vê que ela está prestando
atenção em você. Quando você mexe, os olhinhos dela te acompanham. Você descobre um mundo que não conhecia, que achava que não existia”. Para realizar esse tipo de trabalho, Cyro diz ser necessário fazer todo um planejamento. O primeiro passo é se reunir com a equipe e discutir quem irá para o local e o que cada pessoa fará. Com o roteiro pronto, os profissionais embarcam em uma chalana e chegam a ficar até um mês hospedados nela. Todos os dias, um especialista acompanha o fotógrafo, que conta também com o auxílio de um guia e um mateiro. Perguntado se já sentiu medo ao se deparar com animais como cobras, aranhas e onças, o fotógrafo responde: “Não. Você
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Fotos: Cyro José
Objetiva - Cyro José - pág. 45
vai desenvolvendo um treinamento e começa a lidar com isso. Lá é tudo muito calmo. Cada bicho tem o seu costume e você tem que saber como interagir com ele, para não assustá-lo. Tudo tem que ser o mais lento possível. Você também tem que conhecer a espécie para saber até onde pode se aproximar”. Um dos animais que mais o emocionou foi a tartaruga gigante. “Aconteceu há dois anos. Ela foi encontrada presa em uma rede. Demorei 20 anos para me deparar com uma dessas. É realmente incrível, ela é do tamanho de um fusca”, recorda. As características de cada animal ou planta são uma das fontes de inspiração na hora de escolher a técnica para clicar. Os desenhos, detalhes e cores de cada espécie mostram que caminho seguir. “Chego em um lugar e penso: isso aqui deve dar uma técnica diferente, dá para puxar um pouco para algo que valorize o design ou que pareça aquarela. Às vezes, faço a coisa dentro dos temas que me pedem. Mas, deixo aquilo sair. Não fico imaginando, vou fazer isso ou aquilo. Deixo o próprio ambiente me mostrar”, esclarece. Uma técnica muito utilizada por Cyro José é a combinação da velocidade e da abertura do diafragma da câmera, para produzir imagens que se pareçam com pinturas. Em alguns casos, ele imprime essas fotografias em tecido, enganando perfeitamente os olhos de quem observa a imagem. A beleza de técnicas como essas é um dos fatores que fizeram dele um dos fotógrafos de natureza mais respeitados do Brasil. Para ter dimensão do que é capaz de produzir, basta olhar as fotografias feitas por ele no rio Tapajós-PA, onde o azul do céu se confunde com o da água, separados apenas por uma linha fina de floresta ao fundo.
pág. 46 - EntrevistadeCapa - Motohiko Odani
O tempo da escultura por Pâmilla Vilas Boas e Ana Cláudia Ulhôa
Presente, passado e futuro se unem na obra do artista japonês Motohiko Odani Desde criança, Motohiko Odani convive com a aura única dos santuários e templos budistas de Kyoto, no Japão. A aura transcendental - caos que se une à tranquilidade e rompe as categorias comuns de nossa vida cotidiana - parece ter dado vida ao seu trabalho artístico. As esculturas do artista japonês parecem flutuar pelo espaço. A leveza, a delicadeza e o realismo impressionam. Odani nasceu em Kyoto, em 1972, e se formou na Universidade de Música e Arte de Tokyo. Artista de linguagem multidisciplinar utiliza a música, fotografia, vídeo e qualquer tipo de material para expressar seu conceito. Suas esculturas, que parecem de papel, são, na verdade, feitas de uma espécie de fibra de vidro, formalmente chamada de plástico reforçado com fibra. Suas primeiras obras são esculturas que unem a extensão do corpo com as transformações da alma. Uma experiência tátil que transcende a visão. Para o artista, esse é o papel da escultura: trazer contornos do passado e apontar para o futuro.
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Revista iDeia: Como e quando começou o seu interesse pela arte? Motohiko Odani: Provavelmente quando eu era estudante do segundo ano. Não tinha consciência de que seria um artista antes disso. Naquela época, esculpia madeira. Senti que, de repente, minha escultura emergiu, como seres vivos. Então, tive a certeza e confiança necessárias para ser um artista. Ri: Você também é graduado em música. Como isso influencia seu trabalho como artista? MO: Minha universidade tem dois cursos, um de arte e outro de música. Formei-me em escultura no curso de arte. No entanto, sou tão curioso que o som acabou acontecendo. Existem várias maneiras para se fazer um som, por exemplo, esfregando, arranhando, batendo etc. Todas são tão simples e primitivas. Nós, escultores, sempre fazemos um pouco de som ao trabalhar com máquinas e ferramentas no estúdio. Estes podem ser chamados de ruído industrial. Eu gosto muito do som causado pela vida natural e normal. Ri: Em 2007, em entrevista ao Art IT, você falou sobre seu interesse pelo futurismo. Qual escola representa seu trabalho? MO: Sim, tenho tido muito interesse no futurismo. Acho positivo que a escultura
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As esculturas de Motohiko Odani são feitas de uma espécie de fibra de vidro, formalmente chamada de plástico reforçado com fibra. Fotos: divulgação
tenha dois tipos de energia, uma que vem de dentro e outra de fora. A superfície da pele e da escultura podem ser feitas por esses tensionamentos relacionados com a dinâmica de existir do interior para o espaço exterior, quando uma escultura é exibida. Os escultores vêm lutando com a integração do problema do “tempo” em suas obras, desde o passado. Pelo menos, o futurismo, obviamente, estava tentando assim. Também sempre busquei integra-lo em minhas esculturas. Por essa razão, posso dizer que, muitas vezes, uso a forma do vídeo como uma própria escultura. Ri: Na mesma entrevista, você disse sobre sua obra: “... espero que sejam como as estátuas budistas do passado, capazes de se comunicar com as pessoas por séculos.” Como você procura criar a ideia de ligação entre o passado e o futuro? MO: Isso é uma questão muito difícil para mim. De alguma maneira, tento me conectar, em meu trabalho, com uma atmosfera do passado. Cresci em Kyoto, no Japão - uma das cidades mais tradicionais do meu país. Os templos e os santuários de lá têm uma atmosfera
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particular. Parece ser a co-existência do medo e calma, da tranquilidade e do caos. Absorvi isso naturalmente. Fui influenciado por eles e espero que essas ambiguidades e contradições possam emergir através do meu trabalho. Quanto ao futuro, quero que meu trabalho tenha alguns presságios e previsões do futuro no Japão. Ri: Suas esculturas são muito realistas, e ao mesmo tempo, parecem ser feitas com um material muito macio, como o papel. Que tipo de material você usa? Você tem essa intenção de refletir a realidade? MO: Sempre escolho o material mais adequado, de acordo com o conceito. Se pedra, por exemplo, fosse o adequado, eu poderia escolhê-la sem hesitar. Acho que o gênero de escultura tem o aspecto de refletir a realidade. É por isso que a escultura está intimamente relacionada com a representação do que está entre a existência física e não física (coisas invisíveis), e a noção do tempo. Ri: Você estudou para trabalhar com esculturas, mas também tem obras nas áreas de fotografia e vídeo. Por que você decidiu partir para outras linguagens? MO: Meu trabalho é baseado na teoria da minha própria escultura. Então, acredito que todas essas linguagens são esculturas para mim. Tenho explorado constantemente os problemas da escultura, desde que meu trabalho foi aberto ao público.
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Ri: O que mais te influencia hoje em dia? MO: Romances de não ficção sobre crimes de série e pena de morte no Japão. Penso que é isso que mais preocupa o meu trabalho atualmente. Ri: Como avalia a cena artística japonesa? MO: É difícil dizer e avaliá-la. A cena de arte japonesa é diferente da arte do mundo ocidental com relação à teoria da arte, história da arte e até educação. O significado da arte japonesa vem sendo construído com influência da arte do mundo ocidental, da cultura japonesa, da sociedade e assim por diante. É realmente complicado e confuso. Mas, suponho que há pontos positivos e aspectos únicos em relação a outros países. Ri: Em que você está trabalhando nesse momento? MO: Estou fazendo uma nova instalação de vídeo e esculturas. Mas ainda não posso dizer, por ainda não tê-lo concluído.
pág. 54 - Addendus - Projeto goTenna
Está sem sinal? Não se preocupe
Criado por dois brasileiros, dispositivo possibilita que celulares funcionem em locais com pouca ou nenhuma conectividade por Pâmilla Vilas Boas
Os irmãos Daniela e Jorge Perdomo fundadores do projeto goTenna Foto: divulgação
Em outubro de 2012, os irmãos Daniela e Jorge Perdomo tentavam, sem sucesso, fazer contato com seus amigos, enquanto a escuridão tomava conta do local onde estavam abrigados. Na véspera, o furacão Sandy – que atingiu a Jamaica, Cuba, Bahamas, Haiti, República Dominicana, e alguns estados da costa leste dos Estados Unidos – havia destruído um quarto de todas as torres de celular nas áreas impactadas pela tempestade. O ciclone tropical, com ventos de até 180 km/h, causou alagamentos e cortes de energia, que afetaram cerca de 650 mil pessoas. “Naquele momento, percebi a loucura que é termos esses supercomputadores, que não nos permitem comunicar nos momentos que mais precisamos”, afirma Daniela Perdomo. Co-fundadora & CEO do projeto goTenna, Daniela explica que foi a partir desse evento que ela e seu irmão, Jorge Perdomo, tiveram a ideia de construir uma solução que permitisse a comunicação, sem depender do sinal telefônico ou da internet. Eles criaram o goTenna, um dispositivo que se conecta ao aparelho celular, via Bluetooth, e é acionado por um aplicativo disponível para Android e IOS. Com ondas de rádio de 151 a 154 MHz, o dispositivo estabelece conexão entre duas pessoas. Por isso, é vendido em pares. O aparelho tem um alcance de 80,4 km e pode ser usado em praias, florestas, ilhas ou em lugares onde o sinal do celular costuma falhar devido ao excesso de pessoas.
Addendus - Celular - pág. 55
“Por um tempo, fomos apenas eu e meu irmão tentando determinar a viabilidade do projeto. Ele trabalhou com a arquitetura de sistemas, e eu validei a tecnologia com especialistas. Tendo feito isso, começamos a trabalhar em nossos primeiros protótipos - as primeiras versões que funcionaram enviaram mensagens goTenna em uma praia na República Dominicana, onde tínhamos ido para curso de surf. Foi um momento muito emocionante”, relata. Daniela comenta que o goTenna pode impactar o cotidiano das pessoas de várias maneiras. Quando se está em um espaço lotado, como um concerto ou uma conferência, por exemplo, o dispositivo permite entrar em contato com qualquer pessoa dentro do raio de alcance, sem ter que competir com conectividade central. O goTenna permite também conectar em qualquer lugar do mundo, dentro do alcance de outro aparelho, gratuitamente. Com isso, não é preciso se preocupar com taxas de roaming quando no exterior. Ele permite também enviar mensagens de texto e a localização GPS para amigos e familiares. Além disso, não é preciso se preocupar com a privacidade, já que o goTenna mantém as mensagens criptografadas, que são automaticamente destruídas. Desse modo, há a certeza de que ninguém poderá ler as conversas. O dispositivo foi projetado tendo em mente vários tipos de possíveis usuários: desde o entusiasta de caminhadas, que costuma frequentar áreas remotas, até o fã de esportes que, muitas vezes, encontra-se em um estádio lotado sem cobertura confiável. “O goTenna também é perfeito em um cenário de emergência, porque permite que você se comunique instantaneamente com aqueles ao seu redor, mesmo quando torres de celular e roteadores wi-fi forem destruídos em desastres naturais”, ressalta Daniela.
Equipamento goTenna Foto: divulgação
pág. 56 - Addendus - Projeto goTenna
Processo de design
De acordo com Perdomo, o processo de design dos aparelhos começou em janeiro deste ano, quando a empresa de design industrial Pensa, sediada no Brooklyn/EUA, começou a ajudá-los. Desde então, os protótipos já passaram por 12 modificações. “Os originais eram grandes e desajeitados e se conectavam à saída de áudio do telefone. Agora, temos um dispositivo elegante, pequeno e robusto, que se conecta, via bluetooh, com seu smartphone e irá atender a uma enorme variedade de usuários. Nós testamos o dispositivo em vários cenários – agitadas vizinhanças de NYC, parques nacionais remotos, e em grandes eventos”, relata. Desde seu lançamento, o goTenna tem tido um enorme sucesso, batendo sua meta pré-venda em duas horas. Perdomo conta que a empresa realizou vendas em lugares surpreendentes, como estados rurais com serviços precários de celular, ou locais onde as atividades ao ar livre são populares, e usuários Bitcoin (tipo de moeda virtual. Suas transações são gerenciadas coletivamente pelos usuários da rede). “O goTenna pretende tornar-se parte da tecnologia essencial a todos, reduzindo nossa dependência de torres de celular e roteadores wi-fi, oferecendo aos usuários a capacidade de criar uma rede própria, em qualquer lugar do mundo”, ressalta.
Equipamento goTenna fixado a mochila. Foto: divulgação
Incentivar a prática do design nas micro e pequenas empresas e difundir projetos inovadores. Esses são os objetivos do Prêmio Sebrae Minas Design que ocorre a cada dois anos e completa, em 2014, sua quarta edição. Este ano, os candidatos inscreveram projetos nas seguintes áreas: bijoux e acessórios de moda com pedras, rochas, gemas e resíduos minerais; design de impacto social; de serviços; embalagem para produtos do agronegócio mineiro; brinquedos, móveis infantis e utensílios domésticos em eucalipto e resíduos.
crescimento dos pequenos negócios”, afirma. Na última edição, em 2012, foram 285 projetos inscritos, 97 classificados, 45 finalistas e 12 premiados. Os trabalhos foram julgados por profissionais renomados na área, que avaliaram originalidade, concepção formal, inovação tecnológica, adequação ao mercado, viabilidade industrial e impacto ambiental dos projetos. Com apenas quatro edições, o prêmio já está entre os mais expressivos concursos do setor, revelando talentos e incentivando novas criações.
Os projetos finalistas serão divulgados no catálogo 2014 do Prêmio Sebrae Minas Design e participarão da MOSTRA DO PRÊMIO SEBRAE MINAS DESIGN, que será realizada em Belo Horizonte este ano. Os profissionais e estudantes vencedores participarão, ainda, de uma missão internacional organizada pelo Sebrae Minas para um centro de referência em design.
As designers Amanda Moreira e Camila Fortes foram as vencedoras da terceira edição do Prêmio Sebrae Minas Design, na categoria brindes. De uma mistura de cores, estampas e texturas, com uma boa dose de imaginação e criatividade, surgiram os Panoletos, acessórios de pano que aliam o design ao artesanato, traduzindo a diversidade da fauna brasileira.
A analista da Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia (UAIT) do Sebrae Nacional, Elsie Quintas, considera o prêmio uma ferramenta de competitividade, por associar tecnologia e criatividade, que são essenciais para a empresa de pequeno porte, já que possibilita a diferenciação dos produtos, processos e serviços. “O design é a forma mais rápida e eficiente de inovar. E o prêmio mostra o melhor do design brasileiro, além de estimular o
Para o prêmio, as designers inscreveram uma linha de chaveiros que reproduzem, em pano, animais como o macaco, tucano, beija-flor, tamanduá e bicho preguiça. A oportunidade de negócio surgiu em 2007, ao perceberem que o mercado infantil estava saturado de produtos uniformes.
Panoletos, criação das designers Amanda Moreira e Camila Fortes. Foto: divulgação
Saiba mais sobre o prêmio:
www.sebraeminasdesign.com.br
pág. 58 - Entrevista - Jaehyo Lee
Um retorno à natureza das formas por Ana Cláudia Ulhôa
Jaehyo Lee, artista coreano que tem ganhado destaque por seus trabalhos em madeira, pregos e pedras. Foto: divulgação
Algumas lembram mapas estrelares. Outras parecem ondulações na água. Há também as que se assemelham a espermatozoides vistos através de um microscópio. Todas feitas com pregos retorcidos, pedras e pedaços de madeira, matérias-primas preferidas do artista plástico sul coreano, Jaehyo Lee, que transita entre arte e design, desenvolvendo peças abstratas e funcionais. Dentre suas criações estão cadeiras, bancos, sofás, instalações ou objetos sem nenhuma utilidade especial, a não ser refletir sobre a origem, a função e o papel das formas dentro do mundo natural. Para isso, Jaehyo usa técnicas como a moldagem de pregos, que são posteriormente polidos e presos em madeira queimada. Esse processo cria formas e cores que valorizem as características dos materiais usados e remetem à sua origem, a natureza.
Entrevista - Jaehyo Lee - pág. 59
Escultura em madeira, realizada em 2013 e exposta em Dubai Foto: divulgação
Todos esses aspectos do trabalho do artista chamaram a atenção de críticos renomados, como o americano Jonathan Goodman, e de diversas galerias da Europa, Ásia e América do Norte. Ganhador de prêmios no oriente, como o Grand Prix de Osaka Trienal (1998), Lee ainda é pouco conhecido no Brasil. Por isso, a equipe da revista iDeia conversou com o artista sobre sua trajetória. Revista iDeia: Como se deu sua formação artística? Jaehyo Lee: Quando eu era criança, meu pai trabalhou em uma empresa que fabricava telhas. Por isso, eu tive a oportunidade de brincar com argila no campo e fazer muitas coisas. Foi aí que obtive experiência e me juntei ao clube da arte. Desde então, me tornei um verdadeiro artista.
pág. 60 - Entrevista - Jaehyo Lee
Ri: Por que você escolheu madeira e pregos como principais matérias-primas? JL: Como cresci no campo, podia facilmente obter esses materiais e meu objetivo sempre foi apenas montar esteticamente as peças. Cada material tem suas próprias características e tento trazer e mostrar isso para o público. Não tento expressar minhas ideias e intenções através do meu trabalho, apenas mostrar as características da peça. Os pregos são materiais artificiais, mas têm sido usados há muito tempo pelo homem e continuam com as mesmas funções.
Obra da série de esculturas e móveis realizados em madeira Foto: divulgação
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Ri: Como é seu processo criativo? JL: Acredito que não há criatividade pura. A arte é uma nova fundação e montagem de obras existentes. Quando começo a criar, não tenho planos específicos para meu trabalho, mas sei que haverá uma oportunidade de conhecer ou encontrar algo que eu nunca esperava. Ri: Entre suas obras podemos encontrar mesas, bancos e várias outras peças funcionais. Por que você decidiu criar móveis também? JL: A base do meu trabalho é a esfera e gosto dessa forma, por ser
pág. 62 - Entrevista - Jaehyo Lee
Peça em madeira, feita em 2007
Instalação em madeira, concluída em 2004
Fotos: divulgação
Entrevista - Jaehyo Lee - pág. 63
perfeita. Quando você vê a esfera dos meus trabalhos, a forma é a mesma de qualquer ângulo. Tenho trabalhado essa forma há um bom o tempo e o resultado são mesas ou outras coisas. Não me importo se é funcional ou não, móveis podem ser uma escultura e esculturas podem ser um móvel. Ri: Como você vê a fronteira entre design e arte. JL: Acho que toda arte é um campo do design e arte. Acredito que eu e todas as pessoas que trabalham na área buscamos sempre a ideia da profundidade de escavação, independente do objeto produzido, seja um móvel ou uma obra de arte.
Jaeyho Lee trabalhando em seu estúdio em uma peça que une madeira e pregos;
pág. 64 - Entrevista - Jaehyo Lee
Fotos: divulgação
Obra em madeira, realizada em 2007
Entrevista - Jaehyo Lee - pág. 65
Ri: Ao olhar para seu trabalho, vemos vestígios de movimentos artísticos, como a Arte Povera, Land Art e Minimalismo. Esses movimentos te influenciaram? Quais são suas maiores influências no campo da arte? JL: Eu não sou fã de teorias da arte ou movimentos artísticos. Meu trabalho em si não pertence a nenhum movimento artístico, mas revela o próprio artista. Ri: Para encerrar, no que você está trabalhando atualmente? Há algum projeto novo? JL: Estou fazendo o que sempre faço. Não tenho planos para o futuro, para o meu trabalho. Minhas obras vêm sem qualquer aviso prévio, vêm por acaso, e eu sigo confiando em mim mesmo.
Instalação feita em madeira, finalizada no ano 2000
pág. 66 - Miscelânea - E-nable
A revolução da impressão 3D Ainda embrionária no Brasil, a tecnologia de impressão 3D já revoluciona a vida de muitos ao redor do globo por Pâmilla Vilas Boas
Miscelânea - E-nable - pág. 67
Dez mil quilômetros de distância não foram
invenção, movida a bateria, permite que a
suficientes para separar um cenógrafo dos
criança se mexa com facilidade devido à sua
Estados Unidos (EUA) de um carpinteiro da
ligação com os músculos.
África do Sul, que se juntaram para criar uma prótese de mão para uma criança africana.
“Nos unimos para criar, inovar, redesenhar
Depois de construí-la, eles disponibilizaram
e dar uma “mão amiga” para aqueles que
os moldes gratuitamente, para que
precisam dela. Assim, podemos contribuir
outros interessados pudessem reproduzir o
desde a impressão ou construção do
aparelho. Dessa atitude inspiradora, surgiu a
dispositivo completo, ou simplesmente
comunidade virtual “e-NABLE”, um grande
ensinando pessoas a construírem suas próprias
movimento mundial que reúne engenheiros,
próteses”, explica um dos idealizadores do
entusiastas de impressão 3D, terapeutas
projeto, o estudante Albert Manero, membro
ocupacionais, professores universitários,
da e-NABLE e aluno da Universidade da Flórida
designers, famílias, artistas, estudantes e
Central.
professores com o objetivo de democratizar o acesso à impressão em 3D e melhorar a vida
Desenvolvido por Jorge Zuniga e seu grupo
de crianças pelo mundo.
de pesquisa na Universidade de Creighton, em Omaha (EUA), o Cyborg Best é um dos
Graças à prótese de braço mecânico,
projetos mais populares da e-NABLE. Trata-se
desenvolvida pelo grupo em impressão 3D
de uma prótese de mão que possui, entre
- e que custa até 114 vezes menos que uma
suas características, as pontas dos dedos
prótese original - muitas crianças, como o
texturizadas, possibilitando melhor aderência
garoto norte-americano Alex Pring, puderam
e sistema de tensão integrada. O Cyborg Best
abraçar seus pais pela primeira vez. A
tem licença Creative Commons para uso
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não comercial. Na página do projeto (http:// enablingthefuture.org/), é possível encontrar vários manuais e vídeos explicativos com o passo a passo para a construção de diferentes próteses de braço e mão. Manero explica que usar computador para modelar a peça em 3D favorece o processo de design, já que facilita a implementação de mudanças. “Quando se utiliza uma impressora 3D, pode-se testar as mudanças e aprender com cada interação rapidamente. Isso acelera o processo de design. Assim como o grupo desenhou um modelo, os próprios pais podem construir sua equipe para produzir projetos de impressão para eles”, acrescenta. Atualmente, como explica Manero, a e-NABLE está trabalhando em um projeto de cotovelo dobrável. Segundo ele, um entrave para
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As próteses de mão e braço são feitas em impressão 3D. Na página do projeto (www.enablingthefuture.org), é possível encontrar vários manuais e vídeos explicativos, com o passo a passo para sua construção. Fotos: Jean Martin Studios
a expansão da iniciativa é a obtenção de fundos para financiar os projetos. “Adquirir os recursos necessários para ajudar mais crianças carentes tem sido outro desafio”, afirma.
Libertação do design Para o consultor de impressão 3D, Tiago Capatto, idealizador do portal www. impressao3dprinter.com.br a técnica veio para trazer a libertação do design. Ele acaba de lançar novos produtos em seu portal. Um deles é a capa para iPhone personalizada com o nome e frase que o usuário solicitar, vendida por 199 reais. “A partir do nome, geramos um gráfico que permite criar uma capa de iPhone com o formato das ondas sonoras do nome falado”, relata. Outro produto bastante inovador são os porta-canetas e vasos com o formato do rosto da pessoa. O usuário envia uma foto e a empresa constrói um vaso com o
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formato do rosto em 360 graus. “Isso tem tudo
por exemplo, leva-se mil dias.
a ver com o design, e o legal é que o designer pode explorar essa técnica, já que esse tipo
“Não é como numa gráfica que você faz
de produto só pode ser feito em 3D. Quantos
mil peças de uma vez. Por isso, a ideia é a
moldes eu precisaria para produzir isso em
criação de produtos muito personalizados e
outra técnica? É uma liberdade”, ressalta.
valorizados com o design. Algumas empresas, antes de fazer o molde industrial, que é caro,
Capatto explica que, em mais de 90% dos
fazem a impressão em 3D. O problema é que
produtos, o design é pensado na produção,
o molde dura pouco e é capaz de imprimir, no
o que limita as possibilidades de criação.
máximo, mil peças”, revela.
“Vamos supor que você queira fazer uma peça com uma bolinha que fique andando
No Brasil, a impressão 3D vem se expandindo
dentro dela, um design super arrojado.
e tem sido usada por diferentes empresas
Pelos moldes tradicionais, talvez nem
para impressões rápidas, ou para teste de
artesanalmente, você conseguiria produzir.
protótipos, além de facilitar o dia-a-dia
Com uma impressora 3D isso se torna possível”,
das pessoas. Uma dona de casa pode,
relata. O problema, como explica o consultor,
por exemplo, imprimir o botão do fogão
é a quantidade. Se em um dia você tem uma
que estragou, ou uma peça simples de
peça pronta, para produzir mil peças em 3D,
um aparelho que ela não encontrará no
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mercado. Para Cappato, a tecnologia 3D está em expansão, mas o que ainda precisa amadurecer é o uso que as pessoas farão da tecnologia. “Os sites com arquivos prontos para impressão 3D ainda são norte-americanos. As pessoas precisam conhecer os softwares de impressão 3D e compreender como podem utilizar a tecnologia. Quem sabe modelar em 3D dispara no mercado. Existem empresas pequenas que estão sobrevivendo e expandindo graças à técnica, mas ainda Um dos projetos do portal www.impressao3dprinter é a capa para iPhone em impressão 3D personalizada com o nome e a frase que o usuário solicitar.
falta o amadurecimento do conhecimento sobre as possibilidades que essa tecnologia oferece”, ressalta.
pág. 72 - Miscelânea - Greg Klassen e Hilla Shamia
Entre o natural e o artificial Os designers Greg Klassen e Hilla Shamia produzem peças surpreendentes, com novas fusões entre materiais bem conhecidos por Pâmilla Vilas Boas O alumínio se funde na madeira, o vidro cria formas semelhantes aos rios pelo mundo. Se tudo já foi feito, seria possível que artistas e designers pudessem inovar na busca de novos processos de combinação entre materiais? Se depender do designer de móveis, Greg Klassen, (EUA) e da designer Hilla Shamia (ISRAEL), a resposta é positiva. Eles criaram móveis surpreendentes, com novas possibilidades de combinação de matérias disponíveis na natureza. “Madeira e vidro são uma bela combinação entre o natural e o artificial. O calor da madeira funciona muito bem com a frieza do vidro”, relata Greg Klassen. A linha “River Collection” foi inspirada nas águas dos rios que desaguam no Pacífico Norte. O artista utiliza madeira descartada de construções ou pedaços de árvores, que já estão apodrecendo, e os une de modo que formem as margens de um rio. Depois, Greg corta o vidro azul no formato da madeira. A madeira é moída de forma que as bordas naturais da árvore sejam mantidas intactas.
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“Há um belo rio que corre perto da minha casa. É um rio forte, vibrante e bonito. Ele passa por nossas cidades, por todo o país e corre para o oceano Pacífico. E, curiosamente, é também a principal fonte de água que sustenta a vida das árvores que eu uso em meu mobiliário. A beleza do rio e a história das árvores me inspiram a cada dia”, relata. A designer Hilla Shamia partiu da possibilidade de ligação entre dois materiais, e sem uso de qualquer mediação. “Estava interessada na forma como os diferentes materiais afetam uns aos outros através de várias manipulações”, afirma. Para isso, mesclou o metal, em estado de fusão, e a madeira em estado sólido. Em estado de fusão, o metal queima a madeira e dá um efeito de gradiente ao material. O alumínio líquido penetra nas entranhas dos troncos, dando um efeito ainda mais impressionante e elegante aos objetos. Assim, ela produz peças inusitadas que combinam madeira e alumínio, sem a necessidade de porcas ou parafusos. O alumínio é fundido diretamente na madeira. “Com essa mistura, eu estava mais intrigada com a formação de um terceiro material, o carvão. Funcionou como uma linha traçada no ponto de encontro entre os
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A linha “River Collection” é produzida a partir de madeira descartada de construções ou pedaços de árvores com vidro. Fotos: divulgação
dois materiais, delineando e separando-os. A peça revela as provas para o processo de produção, bem como o segredo do pensamento criativo”, relata.
Novos desafios O maior desafio de Greg foi criar um design especial para cada peça. Isso porque as placas de madeira têm diferentes curvas e suas junções, para criar as formas de um rio, podem transmitir diferentes sensações. Como explica o designer, cada mesa parece ter sua própria personalidade. Algumas são mais suaves, outras mais interessantes ou mais acidentadas. Para Greg, o objetivo do designer deve ser o de criar belos objetos que funcionem bem. “Caso ocorra
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a inovação, então que assim seja. Dito isso, estou feliz em saber que criei algo original e, ao mesmo tempo, muito simples. Sempre que possível, eu prefiro simplicidade sobre a complexidade. As pessoas gostam de coisas simples”, ressalta. Para ele, a sustentabilidade é uma preocupação tão importante quanto realizar um bom projeto. Dessa forma, torna-se fundamental que o designer esteja sempre atento às origens de sua matériaprima. “Minha madeira vêm de árvores mortas e estou feliz em saber disso. Eu vejo que um dos meus papéis como um designer/fabricante é o de dar nova vida a árvores mortas. Materiais sustentáveis são tão importantes como fazer bons projetos. Se o projeto é bom, a pessoa vai mantê-
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A fundição entre metal e madeira é feita com tecnologia especial que cria novas formas geométricas e conexões entre os materiais. Fotos: divulgação
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Greg Klassen e Hilla Shamia
lo por mais tempo e sua vida útil será ampliada. Isso é tão importante para a sustentabilidade como a escolha dos materiais”, afirma. Hilla explica que a combinação de metal e madeira é muito comum na indústria de mobiliário. Mas, usar essa tecnologia especial de fundição dos materiais é um processo diferente, capaz de criar novas conexões e formas geométricas entre eles. “Estava procurando por um objeto clássico que pudesse elevar os materiais e facilitar a conexão natural entre o espectador e o objeto na frente dele. Tentei conceder a cada material o respeito que merece, para expressar plenamente suas qualidades naturais. O alumínio é forte e, portanto, funciona como uma estrutura construtiva. A madeira nobre é delicada e é elevada para o topo da peça”, descreve. Ela explica que os estágios de desenvolvimento desse projeto exigiram uma série de ensaios, que eram naturalmente acompanhados de muitos erros. “Uma vez que esse tipo de tecnologia - de combinar
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esses dois materiais não existia, eu tive que aprender a partir do zero. Não podia consultar os especialistas e obter respostas diretas. Levei muito tempo para encontrar algum especialista que concordasse em sair de sua zona de conforto. Agora, tenho o prazer de dizer que estou cercada por profissionais muito talentosos, dispostos a seguir os meus sonhos mais loucos e executá-los da melhor maneira possível”, relata. Atualmente, seu estúdio está trabalhando em diferentes variações para a fundição da madeira, além de estar experimentando o bronze. Também está desenvolvendo uma série de lâmpadas, que serão lançadas muito em breve. “Não acho que o papel de um designer seja inventar novos materiais, mas sim de olhar para o existente, ou um tema, sob vários pontos de vista ao mesmo tempo, e conseguir combiná-los em um novo objeto. Eu acredito que um bom design faz você parar e pensar, e não apenas inovar. Ele deixa uma marca, assim como o metal quente na madeira. Ele pode mudar nossa forma de olhar para as coisas e os objetos”, afirma.
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Nova tecnologia com novas regras A partir do LED, designer cria lâmpada que projeta sombras coloridas por Pâmilla Vilas Boas
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O designer holandês Dennis Parren é
e LEDs coloridos em vermelho, verde
um grande fã de máquinas de café
e azul. Ela funciona como o modelo
expresso. Um dia, sem muita razão,
de cores RGB (Red, Green e Blue).
ele decidiu colocar luzes de LED
“Esse sistema é usado nos objetos que
na máquina. Surpreendentemente
emitem luz como, por exemplo, os
sombras coloridas foram criadas.
monitores de computador e televisão,
A ideia de desenvolver uma ótima
câmeras digitais, scanners, entre
máquina de café foi por água abaixo,
outros”, explica o designer.
mas, ao invés disso, ele criou uma
Quando as três cores primárias
lâmpada capaz de projetar sombras
são combinadas, você tem uma
coloridas. “Uma ocasião totalmente
luz branca. No entanto, quando
acidental”, afirma.
uma dessas lâmpadas de cores é bloqueada pela forma estrutural da
A “lâmpada CMYK” é uma
própria lâmpada, as outras duas se
combinação de luz principal branca
combinam para produzir sombras
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terciárias (ciano, magenta e amarelo claro). A lâmpada tem o charme de criar um efeito que nos remete ao sistema de cor CMYK. Esse efeito resultante pode ser chamado de estética da luz LED. “A partir da combinação dos LEDs, a lâmpada consegue emitir as luzes coloridas Ciano, Magenta e Amarelo”, afirma. A “lâmpada CMYK” se tornou parte do projeto de graduação de Dennis, em 2011, na Universidade de Design de Eindhoven, na Holanda. Apesar de não ter sido desenvolvida de forma intencional, ela trouxe novos sentidos para a tecnologia LED e se tornou um trabalho pioneiro na área do design de produto. “Uma nova tecnologia com novas regras”, afirma o designer.
A lâmpada que reflete sombras coloridas cria um efeito que nos remete ao sistema de cor CMYK. Esse efeito resultante pode ser chamado de estética da luz LED. Fotos: divulgação
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Novas visões Acreditamos que a cor da vida é o verde, por ser a cor que as plantas refletem. Mas, como explica Dennis, a cor da da vida é o magenta. “As plantas, na verdade, vivem de luz azul e vermelha. O verde simplesmente consome a luz”. Ele cita esse exemplo para dizer que é a luz que colore o mundo. “Quando a luz branca está fora de equilíbrio, você vai ter uma cor que é, na verdade, uma falta de luz. Depois de entender isso, você pode jogar com ela. E esse é, realmente, um tema constante no meu trabalho”, exemplifica.
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Para o designer, lâmpadas convencionais proporcionam um resultado mais próximo da luz do fogo, enquanto as lâmpadas em LED ainda são vistas como artificiais e “não humanas”. Mesmo que a tecnologia represente uma economia considerável de energia, poupando o meio ambiente, ainda há resistência para o seu uso cotidiano. “É um desejo estúpido acreditar que vão colocar LEDs no bulbo se você sabe que eles
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vão durar cerca de 20 anos. Você nunca terá que substituir a lâmpada. Eu não sou o único que dá uma certa estética à tecnologia, mas eu estou contando uma parte da história. Vá além do que o que se espera da luz e de suas possibilidades mais óbvias. Assim eu quero mostrar que o LED não é desumano, mas sim mágico”, relata. A proposta do seu trabalho, segundo o designer, é justamente a de provocar questionamentos. “A ideia foi mostrar que a luz é o verdadeiro guardião da cor. Fonte de luz é energia. Não faço nenhuma referência às luzes existentes. E resultou que as próprias pessoas é que fazem a pergunta. O que é luz? E qual é a cor? Por que isso acontece? Como é que funciona?”, ressalta.
Dennis Parren designer criador da Lâmpada CMYK
www.osram.com.br
Até
SUPERSTAR SUPERSTAR
SUPERSTAR DIM
SUPERSTAR DIM
Lâmpadas LED SUPERSTAR
A família de lâmpadas LED da OSRAM que não para de crescer
Luz é OSRAM
90% de economia de energia
*na substituição de lâmpadas incandescentes
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Luz em todos os sentidos Projetos de iluminação sofisticados
Iluminação cênica no edifício Palais Sion
por Pâmilla Vilas Boas
O projeto de iluminação já começa na concepção dos edifícios. Depois, é o momento de analisar as peças, visitar a obra e acompanhar a instalação. É nesse processo cuidadoso e de muito diálogo que se construiu a parceria entre a Templuz e a Artecon, especializada na construção de prédios residenciais. De acordo com a lighting planner da Templuz, Paola Duarte, a parceria tem sido positiva e resultado em edifícios sofisticados, como o Palais Sion e o Carlito Filizzola, localizados na zona sul de Belo Horizonte. Nesses espaços, mais do que um elemento decorativo, a
Fotos: Ludmila Loureiro
Projetos - Prédios residenciais Artecon - pág. 89
iluminação traz bem estar e tranquilidade aos moradores. Paola explica que, para chegar a esses resultados, o trabalho precisa ser minucioso. A equipe tem liberdade para sugerir a iluminação desde o início da construção. Isso é importante para que a empresa tenha a possibilidade de fazer o projeto elétrico de acordo com as demandas da iluminação. Antes de fechar o orçamento, a equipe vai à obra conferir a
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proposta, além de prestar acompanhamento pós-venda. “São seis meses de trabalho. Tempo para pensar a elétrica, entregar o projeto luminotécnico e ter condições de realizar o que estamos propondo. Se chegarmos muito depois, pode ser que não tenhamos condições executar o que foi pensado”, ressalta. O objetivo, segundo Paola, é sempre utilizar uma iluminação mais sofisticada. Nas salas de descanso, por exemplo, opta-se por uma luz mais indireta, arandelas e iluminações pontuais. Já o hall de entrada exige maior investimento, por ser o cartão de visitas do edifício. Ela explica que, nesse local, é possí-
Fotos: Ludmila Loureiro
1.
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vel investir em pendentes e iluminação focada na parede, para dar a sensação de um ambiente mais sofisticado. No salão de festas, é interessante trabalhar com uma iluminação mais geral, juntamente com algumas cenas provocadas por luzes mais diretas. “Fazemos um trabalho corporativo, mas focamos no cliente final. Temos que agradá-lo e compatibilizar o desejo com o custo. Quando o prédio tem muitas vigas, por exemplo, ao invés de disfarçar, tomamos partido delas, por meio de rasgos iluminados. Com a iluminação, ninguém vai perceber que era um problema de estrutura. Tudo isso é estudado e compatibilizado com a proposta da empresa”, relata.
Área comum do edifício Carlito Filizzola ganha destaque com a iluminação
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Mais do que um elemento decorativo, a iluminação traz bem estar e tranquilidade aos moradores. Fotos: Ludmila Loureiro
A profissional destaca que a construtora compreende a importância da iluminação e sabe o efeito e resultados de um projeto bem elaborado. “Trabalhamos juntos há algum tempo e já fizemos cerca de dez edifícios. A parceria não surgiu de imediato, começou com a visita de um dos proprietários da empresa, interessado em um projeto luminotécnico para sua residência. A partir daí, perceberam que tínhamos estrutura e capacidade para realizar as demandas da empresa como um todo”, conta.
Tradição que produz um grande café
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