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Caro leitor Expediente: Editor Camilo Belchior Jornalista Responsável: Cilene Impelizieri 5236/MG Jornalistas: Ana Cláudia Ulhôa Pâmilla Vilas Boas Pedro Parisi Projeto gráfico e coordenação gráfica Cláudio Valentin Seção Artigos Marcos Maia Capa » Luminárias Contra-capa » Andaime Tempos Modernos Projetos de Thales Pimenta Apoio Acadêmico GESSD Grupo de Estudos em Sistémas Signicos no Design A iDeia Design é uma publicação da Editora PlexuDesign, patrocinada pelo Grupo Loja Elétrica / Templuz, com veiculação gratuita, não podendo ser vendida. Sua distribuição é feita para um mailing seleto de profissionais das áreas
Vivemos um momento especial: as quatro gerações (babys boomers, x, y e z) convivendo nos ambientes corporativos ao mesmo tempo. Esse fato pode nos faz pensar em uma série de questionamentos e curiosidades decorrentes da convivência entre pessoas de gerações diferentes. Como se trata de uma temática ampla, a magazinebook iDeia Design propõe um recorte focado no segmento das disciplinas correlacionadas ao design, como arquitetura, interiores, música, entre outras. Preparamos um material rico em informações sobre o tema, dividido em três partes: na primeira, contamos com matérias e entrevistas diversificadas, que têm por objetivo apresentar um panorama sobre as gerações em diversos contextos. Na segunda parte apresentamos os resultados de um trabalho muito bacana: entrevistamos 29 profissionais, como representação amostral das áreas de design e arquitetura de interiores da cidade de Belo Horizonte/ MG, por meio de uma dinâmica de grupo focal. O objetivo foi coletar informações pessoais e profissionais para formatarmos um perfil único para cada geração. Depois, cada um dos 29 participantes foi entrevistado separadamente por nossa equipe de jornalistas para obter informações complementares e, o resultado dessas duas fases é apresentado na segunda parte da revista, onde poderão conhecer mais sobre o perfil de cada entrevistado. Temos ainda a seção Artigos, que apresenta textos de Frederico Braida sobre design, linguagem e comunicação das gerações baby boomers à alpha, e de Paula Quinaud, falando sobre os perfis de consumo, design e experiência de B a Z nas gerações. Por fim, o resultado de todo o projeto desse volume da magazinebook iDeia Design é uma publicação repleta de informações sobre pessoas, profissionais e contextos que são amostrais das quatro gerações. Esperamos que gostem dos textos e que possam aproveitar esse conteúdo, de alguma forma, em suas vidas pessoais e profissionais.
afins, ao design e formadores de opinião. Contato: contato@revistaideia.com Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não
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Boa leitura. Camilo Belchior
refletem a opinião da revista.
SOBRE A CAPA
Para representar as quatro gerações do design presentes nesta publicação, desenvolvemos uma capa em forma de homenagem, composta por quatro cadeiras consideradas ícones do design brasileiro. Cada uma delas desenvolvida dentro do período que compreende o tempo de cada geração. São elas, de cima para baixo: Poltrona FDC1, de Flávio de Carvalho, representando a geração “baby boomers” – Poltrona Aspas (Chifruda), de Sérgio Rodrigues, representando a geração “X” – Cadeira Vermelha, dos Irmãos Campana, representando a geração “Y” – Cadeira Pantosh, do escritório de design Lattoog, representando a geração “Z”. Imagens: divulgação
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Índice 06 Novos ambientes de trabalho
e os desafios profissionais
10 O design e as gerações
16 Os desafios da nova geração
da música mineira
20 Uma nova norma
24 Design de jogos educativos e a geração Z 28 Sessão perfil 30 Geração Baby Boomers 46 Geração X 64 Geração Y 80 Geração Z 98 Artigos 99 Design, Linguagem e Comunicação: dos Baby Boomers à Geração Alpha /
Por Frederico Braida
104 De B a Z: perfis de consumo, design e experiência /
Por Paula Quinaud
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Transgeracionalidade: a capacidade de conectar diferentes geraçþes por intermÊdio de seus produtos culturais.
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Novos ambientes de trabalho e os desafios profissionais por Pedro Parisi O mundo corporativo vive a terceira grande onda de transformações desde a primeira revolução industrial, no fim do século XVIII. Se antes as relações de trabalho eram diretas, analógicas e duradouras, agora são o oposto: indiretas, digitais e efêmeras. Os especialistas afirmam que isso é consequência do salto tecnológico vivenciado desde a popularização da internet, na década de 1990, que permitiu o surgimento da indústria da tecnologia de informação. A consultoria McKinsey, uma das maiores do mundo, avalia que esse é um mercado mundial de US$ 2 trilhões, que engloba os smartphones, as redes sociais, os bancos de dados e a internet. 6
Foto: Pixabay
Esse novo modelo econômico interfere na maneira como as pessoas interagem na vida privada e afeta diretamente as relações de trabalho que, de acordo com as novas tendências da administração, não podem mais ser baseadas em hierarquias rígidas e monopólio de dados. Por causa da tecnologia e da internet, os colaboradores agora têm acesso a boa parte das informações que antes ficavam escondidas atrás da estrutura de cargos de uma empresa. Isso gera um impacto muito grande na forma de administrar negócios. Apesar disso, nem todos os gestores e donos de empresa compreendem ainda a importância dessa mudança. A think tank (laboratório de ideias) de mídia e marketing IDG divulgou um estudo que aponta que apenas 44% das organizações conseguem adotar uma nova cultura digital de forma efetiva e funcional.
Transformação Digital Esse conjunto de mudanças culturais e tecnológicas nas empresas ganhou o nome de “transformação digital”. A tendência chegou ao Brasil nos últimos 15 anos e teve como reflexo um abrupto aumento do número de novos negócios ligados à tecnologia e uma explosão do número de startups. Em Belo Horizonte, especificamente, o movimento foi representado pelo São Pedro Valley, apelido dado pelos próprios empreendedores ao bairro São Pedro, na zona sul da capital, que concentrava um grande número de startups e negócios
ligados ao setor. Algumas delas, como a Samba Tech, hoje se tornaram grandes empresas com atuação internacional. O sucesso do modelo de gestão utilizado por essa onda de empresários digitais influenciou os players mais tradicionais do mercado, que se viram sendo ultrapassados rapidamente pelos novatos, sobretudo nos primeiros anos dessa revolução técnica. Essa reação levou à popularização da transformação digital no mercado. O estudo da IDG captou essa tendência e revelou que 89% das empresas têm planos de adotar ou já adotam um modelo de gestão que prioriza o mundo digital. Essa mudança de cultura dentro das corporações foi um dos motivos para que a diferença de habilidade com a tecnologia entre as gerações diminuísse. Se, há alguns anos, os filhos precisavam ensinar aos pais a usarem o computador, hoje, 12 anos depois do lançamento do primeiro iPhone, a realidade é diferente.
Fim do conflito de gerações A psicóloga e pesquisadora da Universidade Federal de Uberlândia, Lígia Oliveira, avalia que houve tempo suficiente para que os Baby Boomers e a geração X se acostumassem às novas ferramentas digitais, que também estão cada vez mais acessíveis e adaptadas aos usuários. No mundo do trabalho, Lígia explica que outros fatores são tão ou mais 7
importantes que o conhecimento específico sobre ferramentas digitais para se avaliar a qualidade de um profissional. “O fato de uma pessoa ser considerada ‘boa de serviço’ não envolve apenas o conhecimento de tecnologia. É algo muito mais amplo. As empresas buscam atributos como liderança, trabalho em equipe, capacidade de resolução de problemas, criatividade, senso de inovação. Uma pessoa “ser boa em tecnologia” não significa que ela vai ter as outras coisas”, detalha. Foto: Luiza Ferraz
Outra contradição encontrada pela pesquisadora em seu estudo “As novas gerações não têm compromisso? Diferenças no comprometimento organizacional ao longo dos grupos geracionais”, é que no Brasil não existe diferença real de comprometimento no trabalho entre as gerações. “A pesquisa derruba a falsa ideia, difundida pela mídia e sociedade em geral, que os profissionais mais novos são descompromissados com o lado profissional da vida e que os mais velhos são mais estáveis e fiéis. Não encontramos evidências de que isso ocorra”, conclui.
Ana Julia Ghirello foi co-fundadora do Bom Negócio, fundadora da abeLLha e é diretora de transformação digital do Telecine.
No mundo real Um exemplo muito claro dessa dinâmica está acontecendo na Rede Telecine, onde a diretora de Transformação Digital, Ana Julia Ghirello, de 34 anos, está há cerca de seis meses liderando a transição de um modelo tradicional de gestão para um modelo de operação que favorece a cultura digital. Na prática, a metodologia transforma as equipes internas da empresa em startups que funcionam de forma independente, mas alinhadas aos objetivos principais da organização.
Apesar da rápida adaptação, os funcionários da empresa passaram por uma fase de transição. “O início de todo o processo aqui no Telecine empolgou, mas, claro, também gerou medo e
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Foto: Pixabay
“Os colaboradores compreenderam de forma bem rápida que o processo é uma mudança de cultura, muito mais que uma mudança tecnológica. E essa adaptação não tem a ver diretamente com a idade ou a geração da pessoa, mas com o quanto ela consegue se encaixar em uma nova realidade”, conta Ana Julia.
Para o futuro e além ansiedade ao mesmo tempo. Foi um horizonte de muito trabalho e de muito aprendizado também. É claro que sentimos uma insegurança natural que envolve uma mudança de liderança na empresa, mas o caminho tem sido enriquecedor”, conta Ana Beatriz Parente, gerente de comunicação e branding da empresa. Sóvero Pereira, de 47 anos, é head of content and channels do Telecine e também está vivenciando o processo. Ele relata que não existe espaço para acomodação. “Acho que a idade tem fraca relação com a capacidade de lidar com mudanças. No meu caso, a curiosidade e o interesse pela novidade sempre foram características fortes na vida pessoal e profissional. E isso não mudou com o tempo. Sempre fui early adopter de novidades tecnológicas e me preocupa muito mais o Fear of Missing Out (FOMO) que a capacidade de me adaptar”, conta.
A única unanimidade sobre o futuro desse mercado é que ele vai continuar se transformando de forma acelerada por um bom tempo. Mas algumas ideias já estão sendo construídas sobre qual será o próximo passo. A Gartner, líder mundial no segmento de consultoria de negócios e tecnologia, desenvolveu o conceito ContinuousNext, que, de acordo com eles, é a receita das melhores práticas para a próxima geração de empresas. Eles fizeram uma pesquisa com 13 mil empresas sobre a capacidade de adotarem novas tecnologias. Segundo eles, o fator determinante do sucesso é o dinamismo dos profissionais. A função das empresas, portanto, é garantir que haja condições propícias para isso. E, para cumprir esse objetivo, devem se atentar para esses cinco pilares principais: privacidade, inteligência aumentada, cultura, gestão de produtos e o conceito de gêmeo digital.
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O DESIGN E AS GERAÇÕES Dos produtos icônicos à desmaterialização das relações
por Pâmilla Vilas Boas
Foto: divulgação Sony
O walkman, lançado há 40 anos, transformou a relação com a música e marcou a história de uma geração.
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Masaru Ibuka queria ouvir música em dois canais (estéreo) e com fones de ouvido, enquanto viajava a negócios ao exterior. Ibuka, um dos fundadores da Sony, pediu a um executivo da empresa que criasse uma versão simples, apenas para reprodução, de um gravador portátil que já era fabricado pela empresa. Assim, em 1979, surge o protótipo do Walkman que se tornou inspiração para todos os demais aparelhos de reprodução de áudio-portáteis que o sucederam. Após seu lançamento, com um curto período de tempo, o Walkman teve todas as unidades vendidas, produzidas em quantidade muito superior aos números normalmente operados pela empresa à época. Em entrevista à revista iDeia, a assessoria de comunicação da Sony explica que o design do primeiro Walkman foi inspirado no gravador portátil convencional TC-D5, já fabricado pela empresa. Além disso, Akio Morita, outro fundador da Sony, disse à equipe de desenvolvimento que não se preocupasse com a aparência externa do primeiro modelo, porque produzir um produto confiável e que não quebrasse era mais importante. Ainda de acordo com a assessoria, houve muitas críticas e algumas pessoas não acreditavam no sucesso do Walkman justamente porque o primeiro modelo possuía a função de gravador. No entanto, Morita acreditava que o Walkman iria aprofundar ainda mais a conexão entre os jovens e a música. O principal fator que levou ao sucesso do produto foram suas estratégias de publicidade. “Alguns funcionários, por exemplo, pegaram o Walkman e passaram um dia andando de trem pelo centro de Tóquio. A jovem equipe foi convidada também a passear
pelos distritos mais movimentados aos domingos, oferecendo aos transeuntes a oportunidade de ouvir o Walkman. O produto ficou bem conhecido do público”, explica.
Traços do tempo O Walkman tornou-se um ícone para a geração X (pessoas que nasceram entre de 1961 e 1980) e marcou a possibilidade de escutar música sozinho e em movimento. Para Denise Dantas, professora do curso de Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o projeto do Walkman estava conectado a situações emergentes do período, à individualização da sociedade aliado a novas possibilidades tecnológicas. Mesmo que a Sony não tenha feito uma pesquisa de mercado para criar o primeiro protótipo do Walkman, o idealizador do produto estava atento ao que acontecia no mundo e a demandas dessa nova geração. O projeto foi, então, fundado na determinação de Morita de que deveria ser acessível aos adolescentes. Enquanto ouvia-se música num aparelho de som convencional, a Sony demonstrava como aproveitar o Walkman sobre patins, skates ou andando de bicicleta. Mesmo que os produtos invariavelmente revelam esses traços do tempo, não é tudo o que a indústria produz que se torna significativo. Para Denise Dantas, os objetos representativos de uma geração são aqueles que reúnem tecnologias emergentes e tendências sócio culturais. “Para se tornar um objeto icônico, ele precisa ser mais do que algo que funcione. Ele se destaca pela questão tecnológica, semântica, de linguagem e memória que é bem importante para a cultura material”, ressalta.
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Outro exemplo é o sistema Porta-Color da General Electric, criado em 1966 e que permitiu a difusão dos televisores a cores. Ele condensa algumas características da geração baby boomers (pessoas que nasceram entre 1940 e 1960) marcada pelo consumo de massa e pela massificação de produtos. Na base dessas mudanças sociais em que se formaram os referenciais dos Boomers, um fator determinante foi o desenvolvimento e estabelecimento das mídias impressa, rádio, TV, cinema, como forma de transmissão de influências. A
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1958
2001
Imagens: divulgação
A pesquisadora chama a atenção para a importância da questão tecnológica e dos materiais que marcam um período. Um exemplo dessa relação são os produtos retrôs, como as novas pick ups que imitam as da década de 1950. “Você sabe que não é da década de 1950 por que tem entrada USB. O objeto pode pegar emprestado referências de outro tempo, mas não vai parecer algo de outro tempo porque não terá todos os elementos daquela época”, afirma.
Lançado em 1958, o rádio transistor do designer Dieter Rams foi inspiração para o iPod da Apple.
chegada da modernidade a partir do consumo, trouxe aos Baby Boomers o acesso a bens e experiências que as gerações anteriores jamais tiveram. Mesmo com a inovação trazida pelo Walkman no final da década de 1970 esse desejo de escutar música sozinho já estava sendo delineado pelas mini vitrolas dos anos 60 e pelos desejos da juventude Baby Boomer. “Foi muito significativo ser portátil, funcionar a pilha e levar para qualquer lugar. É um objeto icônico porque condensa uma estética da época, com novas tecnologias e materiais, no caso o plástico, e um uso diferente com os singles, os LPs - conectado à questão cultural da juventude”, aponta Denise. Do ter para o usar: os millennials e a desmaterialização dos produtos
Foto: Pixabay
Vitrolas, microsystems, walkman, diskman, a música como produto deixa de existir com o mp3 até a desmaterialização
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As formas de ouvir música foram se tornando mais portáteis até sua completa desmaterialização. Na imagem o tenor italiano Enrico Caruso considerado o maior intérprete da música erudita de todos os tempos.
completa na década de 90 com o Ipod, que se transforma em celular, iphone e, a partir de então, entramos na era do aplicativo e, com o Spotify, o que era produto virou serviço. Clara Bidorini, head de Corporate Venture e Inovação Organizacional da Kyvo, explica que o mesmo aconteceu com a experiência de se ver um filme. “Teatro Romano, teatro Grego, teatro de rua, fotografia em movimento, cinema, fita VHS, blockbuster, DVD, blue ray, o mp4 e os primeiros arquivos de filme. E, hoje o que temos é o streaming total com a Netflix que, assim como o Spotify, é um dos serviços oriundos dessa desmaterialização”, ressalta. Se hoje ainda precisamos de uma interface física, TV ou celular para ver um filme, daqui a 20 anos, será que não teremos tecnologia embutida em nossos corpos para conseguir visualizar de forma diferente todas essas meta linguagens? Para Clara, o ser humano não vai deixar de construir artefatos, mas a relação com eles está mudando de forma irreversível. “Provavelmente, vamos diminuir essas mega infraestruturas em linhas de produtos menores e mais ágeis, pulverizados e mais acessíveis às pessoas”, prevê. A designer explica que esse processo de desmaterialização ganhou força a partir dos eventos que a geração Y (pessoas que nasceram entre 1981 a 1990) vivenciou e que gerou uma necessidade de criar bases para um futuro mais abundante, com menos descarte, aliado aos celulares, a cada dia mais rápidos. “Essa geração passou os últimos 10 anos vendo serem teletransmitidos todos os problemas de terrorismo, danos ambientais, desconstrução de cidades. Qual o tipo de impacto que esses elementos tiveram no repertório deles? Essa geração não compra mais um imóvel milionário. A gente não sabe onde vai viver, em qual cidade, que é uma escassez originada pelos baby boomers e pela geração X, por essa falta de interesse no bem coletivo”, aponta.
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Muitos produtos, como as vitrolas retrôs, tentam recuperar a memória de uma época.
Radio-fonógrafo de 1956 do designer industrial alemão, Dieter Rams, responsável por diversos projetos da Braun.
Como consequência, as gerações mais novas vão se reconhecer em serviços cada vez mais escaláveis e abundantes. “Mas uma pessoa dessa mesma geração, que não tem acesso a esse mundo e precisa lutar para ter um celular e um aplicativo, que tipo de serviços ela está procurando? É dever do designer saber dar essa resposta” completa. Para Clara a história do design passa por uma história de produto. Em 1860, havia pessoas opostas ao movimento do design; 30 anos depois havia pessoas eliminando a decoração dos produtos em prol do purismo conceitual; um século depois, não estamos mais preocupados com questões de representação de formas e sim com os valores simbólicos e sociais dos usos e serviços que os produtos proporcionam ao usuário. “Se você está projetando para daqui a cinco anos, pode ser que o design de produtos ainda venda, mas se estou projetando para os próximos 15 anos, que tipo de objeto vou fazer?”, questiona.
Imagens: divulgação
A questão geracional é mais um elemento que compõe o processo de criação em design, as classificações de idade e de repertório são uma referência, mas não trazem a totalidade de informações necessárias para um bom projeto de design centrado nas necessidades do usuário, avalia a designer. Para ela, um projeto de design completo tem que transmitir os aspectos psicológicos, a emoção e a experiência de uso “O repertório cultural e social que está sendo acessado pelas gerações nos informa sobre o tipo de escolhas e o tipo de serviços de que serão usuários. A partir do seu repertório, você vai escolher uma cadeira de 1917 ou uma construída com madeira reciclada”, completa. Para Denise Dantas, o mais importante é se aproximar dos sujeitos, em sua prática real. “Temos muita entrevista, observação participante e não participante, grupo focal. Utilizamos muitos métodos das ciências sociais porque é impossível fazer um projeto para alguém de 18 anos baseado apenas em como acho que essas pessoas são,” avalia. 15
Os desafios da nova geração da música mineira
Por Pedro Parisi
Por muito tempo, a cena musical autoral de Belo Horizonte ficou estagnada. Os músicos ficaram, de certa forma, reféns das performances cover e da falta de incentivo da indústria local. As casas de show mais representativas, subestimando o público, preferiam a segurança de contratar um som conhecido ao risco de desagradar os ouvidos da plateia com música autoral. Essa inflexibilidade ainda reina em alguns lugares, mas está sendo enfrentada por uma nova geração de músicos e produtores culturais, como
Foto: Flávio Charchar
foi há 50 anos pelo movimento Clube da Esquina.
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Em 1972, ano de lançamento do trabalho mais conhecido do grupo, o Clube da Esquina I, o contexto era diferente. Os artistas viviam um período político conturbado, enfrentando órgãos de censura e truculência nas ruas. Além disso, diferentemente de hoje, o acesso a equipamentos de gravação, a divulgação e distribuição do trabalho eram fatores que limitavam o trabalho. Para furar esse bloqueio, uma das saídas encontradas pelos artistas brasileiros da época foi usar a criatividade. Isso aconteceu no país todo e também aqui em Minas Gerais.
Márcio Brant é formado em música pema UFMG e atua como coach musical, produtor, cantor e compositor.
Foto: divulgação
O rapper Roger Deff lançou 3 discos com o grupo Julgamento, e acaba de lançar o primeiro trabalho solo, Etnografia Suburbana.
Mas talvez o maior legado dessa geração setentista da música mineira, de acordo com o produtor musical, cantor e compositor Márcio Brant, não seja a influência estética e criativa, mas a capacidade de se aglutinar e produzir música em bloco, criando uma cena produtiva com expoentes de destaque. “Nós, mineiros, temos uma dificuldade
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muito grande de aglutinação, de confiar no outro. E isso é um dos motivos que fazem com que a gente não consiga ter mais gente no mainstream nacional”, explica. Apesar do diagnóstico relativamente negativo, existem músicos em Belo Horizonte e no estado buscando essa união. Mesmo que, nos último 20 anos, a cena em Minas estivesse ocupada por bandas cover, e poucos artistas autorais de destaque, está surgindo uma nova consciência no meio. As tecnologias criadas nesse período, a facilidade de divulgação e de produção de conteúdo são aliadas dos novos artistas que, hoje, não necessariamente, precisam de uma grande gravadora ou um empresário influente para abrir as asas e se destacar. O rapper Roger Deff, um dos integrantes do grupo Julgamento, que atua por aqui desde os anos 1990, observa que a maioria dos artistas de destaque nacional veio de movimentos artísticos e musicais aglutinadores em várias épocas. É só pensar na Jovem Guarda, na Tropicália, na Bossa Nova e muitos outros. Roger lançou, este ano, seu primeiro trabalho solo, o Etnografia Suburbana que, na verdade, não tem nada de solo. O disco tem a participação de inúmeros nomes como Celton Oliveira, Flávio Renegado, Richard Neves e Michelle Oliveira. “Um artista nunca vai caminhar sozinho se a cena não estiver desenvolvida. É importante que outros nomes consigam se projetar. Se o coletivo não estiver bem, não tem como ninguém caminhar”, explica. Embora destaque que o hip-hop tem a característica natural de ser um movimento coletivo, Roger avalia que ainda existem diferenças criativas e coletivos que atuam separadamente entre si, e que, apesar de ser uma discussão antiga, ainda não estamos
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no ponto da harmonia completa. “Atualmente, no que diz respeito à cena musical do rap por aqui, a gente está agindo muito de forma individual. Existem grupos como o Coletivo Família de Rua, coletivos da periferia, que realizam ações. Mas a gente não tem agido muito como uma grande união da cena”, reflete. O rapper ainda vai além da união dentro do próprio estilo, e propõe que os músicos se preocupem em fazer parcerias com pessoas de outros gêneros. O próprio Etnografia Suburbana é uma mistura de estilos, assim como a parceria que realizou com Rodrigo Borges, irmão de Lô Borges, na música ‘Invasão Bárbara’, que junta MPB e rap para falar de amor e luta social no mesmo palco. “A despeito das nossas diferenças de estilo, eu e ele acreditamos muito nessa união da cena”, destaca. Outro movimento que tem conseguido se mobilizar no estado é o das bandas de rock autoral. Um exemplo de expoentes belohorizontinos é a Daparte. Eles se juntaram, inicialmente, para tocar em um festival de música autoral, em 2015, e lançaram o primeiro disco, Charles, em 2018. O sucesso nos primeiros anos de carreira, segundo os integrantes Juliano Alvarenga (guitarra e voz), João Ferreira (guitarra e voz), Túlio Cebola (baixo), Bê Cipriano (teclado e voz) e Daniel Crase (bateria), é resultado de um pouco de sorte e de algumas parcerias cruciais. A banda já tocou com o Skank, faz parceria com os contemporâneos da Lagum e acabou de lançar Aldeia, uma balada romântica em parceria com a cantora paulista Mariana Nolasco. “A banda nunca para de compor. Todos nós somos compositores de origem. E a gente sempre está em contato com gente diferente. Isso é bom porque conseguimos agregar novos horizontes de composição, da nossa identidade”, conta Daniel Crase.
Foto: divulgação A banda Daparte mistura canções próprias e grandes sucessos do rock e MPB.
A afirmação do baterista e compositor é importante em um contexto em que Minas Gerais precisa construir um novo movimento autoral aglutinador para gerar novos expoentes nacionais. E parece que a Daparte está consciente desses desafios. Como explica o guitarrista e compositor Juliano Alvarenga. “Estamos voltando para o segundo álbum com uma roupagem mais contemporânea. Tínhamos dois objetivos com isso. O primeiro que é unir elementos novos nas nossas composições. Vamos usar bateria eletrônica, por exemplo, que não tinha no outro trabalho. E o segundo que é conseguir comunicar com mais pessoas. A gente quer muito isso”. 19
Fotos: Pixabay
Uma nova norma
2020 marca o ponto de virada dos millennials: agora mais adultos, consumidores e nos cargos de liderança.
por Pâmilla Vilas Boas Imagine a seguinte capa de revista: eles são mimados, não gostam de trabalhar e só pensam em se divertir. De qual geração estamos falando? Danielle Almeida, gerente de marketing da MindMiners, conta o episódio que viveu durante uma palestra. Ela relata que todos os presentes foram assertivos: “É a geração millennials”. O palestrante apresentou a revista, da década de 70, falando sobre a geração X. “Então, é muito difícil falar de uma geração que ainda é adolescente e que não chegou na fase adulta. A geração X (pessoas que nasceram entre 1961 a 1980) é muito diferente do que as pessoas falavam quando eles tinham 16 anos”, completa. É justamente por essa maturidade que hoje passa a geração millennials ou geração Y, composta por pessoas que nasceram entre 1981 e 1990. E 2020 marcará o auge dessa geração, que estará com mais de 30 anos, terão maior poder de consumo, irão avançar nos cargos de liderança e gerência das empresas. O professor da FGV, Roberto Kanter, explica que o ápice dos millenials têm
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a ver com o avanço da faixa etária, chegada na idade adulta, momento em que já estão fora da casa dos pais, cuidando da própria vida, consumindo e sustentando a economia. Outra questão relevante é que todo Y hoje é um influencer devido à presença e importância das mídias sociais. “A geração Y tem um inédito poder de influência graças às redes sociais. Ela tem sido a principal fonte de informação sobre produtos e serviços e, não mais, os meios de comunicação. O marketing das empresas precisa levar isso em consideração”, ressalta. Para Danielle, 2020 marca também outro ponto de virada: uma presença maior de millennials, em relação à geração X, nos cargos importantes das empresas. “Hoje, as empresas convivem com as três gerações,
mas em 2020 ou mais próximo desse período, vamos ter empresas com mais millennials do que geração X”, explica Danielle. Esse pressuposto de que os millennials formarão parte significativa do universo de consumidores tem atraído grande investimento de pesquisa. A demanda resulta também da dificuldade das empresas em fidelizar e se comunicar com essas novas gerações, principalmente os millenials e Z, tanto do ponto de vista profissional quanto de posicionamento de marca. “A MindMiners (startup de tecnologia especializada em pesquisa digital) rodou uma série de estudos sobre as gerações X, Y e Z e não param de chegar pedidos de jornalistas para abordar o assunto. É um tema que não acaba e é muito carente de informação”, avalia Danielle. 21
Ranieri Lima, no livro “Perfil das Gerações no Brasil – As Gerações X,Y e Z e seus perfis políticos”, explica que, em 2009, foi realizada uma pesquisa do instituto Forrester Research com 2 mil trabalhadores de tecnologia da informação. A pesquisa apontou que, na época, a geração X era quem liderava a corrida em direção à computação social. “A análise do instituto é que, apesar de seu ponto de vista diferente sobre a tecnologia, a Geração Y ainda não tinha a influência dentro das organizações para provocar mudanças reais”. Para Ranieri a geração X foi a única que, de fato, presenciou e participou da transição do mundo analógico para o digital e que tem maior potencial para promover a aceitação de novas tecnologias. Para o professor do departamento de Antropologia da USP, Julio Assis Simões, na medida em que os próprios profissionais de marketing passam também a ser constituídos por pessoas dessa geração do milênio, pode ser que esses mesmos profissionais se vejam como modelo do consumidor que pretendem atingir. “Tratase certamente também de um esforço de deslocamento das gerações mais velhas no campo profissional. Não é à toa que os millennials são contrastados com os baby-boom, agora retratados como conservadores que têm dificuldades de se adaptar às novas tecnologias e às mudanças de estilo de vida”, explica. Um efeito dessa mudança, de acordo com o professor, é encarar a juventude não mais como uma fase da vida e sim uma espécie de valor universal que todos 22
devem alcançar e preservar. “Os modelos atuais de vida adulta, maturidade e envelhecimento saudável orientam-se pela promessa de estender ao máximo possível as condições de se manter como consumidor jovem e saudável. O que quero dizer é que adotar estilos e práticas de vida para manter-se jovem, autônomo e saudável tornou-se uma prescrição, uma obrigação para quem quer que seja. É uma receita mínima para exercer a cidadania. Isso sim tem a ver com a exclusão dos velhos, aqueles que não conseguirem se ajustar a essa nova norma”, questiona.
Por que falar de gerações? Para Julio Simões a idade (não necessariamente cronológica) pode ser um meio de classificar e reconhecer pessoas, posições e grupos sociais em relação às etapas da vida. É nesse sentido que ele entende o recorte geracional como um marcador social que demonstra como as diferenças são socialmente produzidas e certas expectativas de comportamento, obrigações, privilégios ou direitos, ou seja, o que se pode e o que não se pode fazer, seja na forma do costume, da norma ou da lei. “Quem pode ter relações sexuais e casar, quem pode trabalhar ou guerrear, quem pode se aposentar. Como devo me situar e me comportar em relação aos mais jovens ou mais velhos, ou em relação aos meus companheiros de idade, e assim por diante”, explica. Essas diferenças de idade e geração não operam sozinhas, elas se produzem por meio da relação com outras diferenças e categorizações sociais, baseadas em gênero, raça e classe, por exemplo. “Um rapaz negro e pobre da periferia de São Paulo não tem a mesma vivência de juventude que uma garota branca e rica que vive na mesma cidade, ainda que possam eventualmente compartilhar referências de consumo e estética. Além disso, certos coletivos são afetados mais fortemente por determinados acontecimentos: para muitos homens gays, hoje na casa dos 60 anos ou mais, por exemplo, o advento da epidemia de HIVaids foi um evento terrivelmente dramático, disparador de muito sofrimento e angústia, marcando um ponto de inflexão em suas trajetórias pessoais”, ressalta.
Foto: Pixabay
O avanço dos millennials nos cargos de liderança traz também importantes mudanças de pensamento empresarial. Danielle destaca, levando em conta as características dessa geração, um engajamento maior com causas sociais e ambientais, visões diferentes sobre carreira e ambiente de trabalho e a preocupação com temáticas relacionadas à igualdade de gênero, diversidade etc. “São coisas que essas gerações trazem de muito forte e que antes era um conflito com a geração X. A partir do momento que se tornam líderes, podemos questionar o quanto irão de fato implementar essas mudanças que eles tanto falam. Agora é a hora deles se provarem,” avalia.
Apesar dessa sensibilidade coletiva que as diferentes gerações compartilham a partir de suas vivências em contextos específicos, para Danielle, trabalhar com essas generalizações pode dificultar a conexão das marcas com as pessoas. “Temos tentado mostrar que, quando falamos de gerações, estamos pensando em relações que são mais atitudinais - mesmo sendo millennial, X ou Z, se é uma pessoa que gosta de aventura e tecnologia é nisso que sua marca deve focar e tentar buscar conexões que sejam diferentes”, avalia.
Não geração De acordo com a pesquisa recente realizada pela MindMiners em parceria com a BBL, holding de entretenimento especializada em e-sports, 17% da população brasileira não se identifica com uma geração específica. Esse número pode dobrar em potencial de consumo e triplicar na capacidade de influenciar os demais. São os Perennials, ou perenes, pessoas de qualquer idade, que adotam a tecnologia precocemente e têm amigos de múltiplas faixas etárias.
Para Gina Pell, diretora criativa e chefe de conteúdo da The What, ao invés de adotar padrões geracionais, é possível analisar a partir do conceito de Perennial onde a amizade e as relações são forjadas nos interesses comuns, mais que na faixa etária, proximidade física ou grau de parentesco. São pessoas que convivem com gerações totalmente diferentes e são uma fatia importante do universo gamer, embora muitos pensem que esse universo seja formado apenas por Millennials. Ainda de acordo com o estudo, empresas como a Amazon e a Netflix hoje segmentam seus produtos por comportamentos e estilos de vida e não mais por critérios de idade.“Por que estou falando o tempo todo de gerações se eu posso agrupar essas pessoas por comportamento. Isso está sendo estudado no mundo todo como uma forma diferente de falar de gerações e uma forma diferente de pensar a segmentação de público. Uma tendência bem legal de mudança e quebra desses arquétipos”, completa Danielle.
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Estratégia de ensino para conquistar a atenção dos jovens e colaborar para a construção do conhecimento
por Marcos Maia De acordo com a teoria geracional dos autores William Strauss e Neil Howe, a divisão da sociedade em gerações, com intervalos que duram em torno dos 20 anos, nos traz, a partir do século XX, as seguintes gerações: Grandiosa, Silenciosa, os Baby boomers, X e Millennials. A geração Z, anterior à Alpha, é a última a alcançar a idade adulta em 2019. Os primeiros nascidos dessa geração, já adultos, estão incorporando sua experiência, repertório, referências e habilidades às diversas áreas, incluindo a educação. O Z vem de “zapear”, fazer algo muito rapidamente, tal como a rápida troca entre canais de TV, por exemplo. Considerados nativos digitais, jovens dessa geração cresceram rodeados por celulares que acessam a internet, diferentes aparelhos digitais e uma grande quantidade de opções de entretenimento e pesquisa, em diferentes plataformas. Mais que livros, esses jovens cresceram com enciclopédias digitais colaborativas, mídias sociais, acervos inimagináveis de vídeos sobre os mais variados assuntos, além das mídias que perpassaram a infância das gerações anteriores. 24
Fotos: divulgação Quest to Learn
Design de jogos educativos e a geração Z
Jovens conectados para o aprendizado através de jogos digitais
Conforme pesquisa do especialista em tecnologia e educação, Marc Prensky, esses jovens teriam um perfil cognitivo distinto das gerações anteriores: possuem estruturas cerebrais diversas, são mais rápidos, capazes de realizar mais tarefas simultâneas e aprendem de forma diferente. Para outros pesquisadores, como o neurocientista Edoardo Boncinelli, não é possível atribuir mudanças cognitivas à cultura digital que é um fenômeno muito recente, enquanto o cérebro é o mesmo há mais de 120 mil anos. Embora não seja possível ter certeza dos motivos para as mudanças cognitivas, nem saber os possíveis efeitos positivos e negativos que terão essas mudanças, sabemos que as metodologias de ensino e aprendizagem praticadas atualmente, que são as mesmas do século passado, já não funcionam mais com esses jovens. A multimidialidade – texto, gráfico, som, vídeo - com que esses jovens cresceram, desenvolve competências diferentes das empregadas na abstração envolvida na leitura e escrita.
Um dos conceitos trabalhados por William Strauss e Neil Howe é a transgeracionalidade, a capacidade de conectar diferentes gerações por intermédio de seus produtos culturais. O cinema já se utiliza dessa estratégia, quando insere elementos estéticos que atraem crianças em filmes com tramas e temáticas adultas ou, ao contrário, ao inserir situações e piadas que só serão entendidos por adultos em filmes infantis, permitindo que os pais também desfrutem o entretenimento junto com filhos. Tal como o cinema e outras mídias, o jogo digital também pode ser uma forma de se criar conexão entre as diferentes gerações, muito mais do que apenas funcionar como ferramenta voltada para o aprendizado, que dialoga com a geração Z. As demais gerações já aproveitam as vantagens de outros produtos culturais e tecnologias para os quais não são nativos, mas migraram, e demostraram rápida adaptação e, em muitos casos, dominando seus códigos e efeitos. Assim pode ser com os jogos digitais, diminuindo 25
Imagens: Divulgação LabTec UFSC - www.isaac.ufsc.br/#jogo “Isaac e o Enigma do Explorador” revelando ambientes, aspectos arquitetônicos e localização de espaços das cidades de Araranguá e Criciúma em Santa Catarina.
as distâncias entre as gerações, também em contextos de ensino e aprendizagem.
Jogos para educação O designer de jogos brasileiro, Fabiano Naspolini de Oliveira, concorda que há uma disparidade na relação que educadores de outras gerações e jovens estudantes têm com os formatos midiáticos e a educação. Para ele, uma estratégia pedagógica que pode ser usada é o uso de jogos digitais. “Os jogos já são usados na área da educação há muito tempo, como jogos de tabuleiro, por exemplo”. Mas com a chegada dos jogos digitais, o cenário mudou, já a partir da geração Y e, principalmente, com a geração Z, que nasceu com o smartphone no colo. “O jovem chega na escola buscando essa experiência. Querem feedback imediato, uma visão de progresso rápido, querem aprender pela ação. E tudo isso é encontrado nos jogos” conta Oliveira.
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Um dos maiores desafios é encontrar o equilíbrio entre o conteúdo e a diversão proporcionada pela experiência do mesmo. Ele não pode só divertir, nem focar demais no conteúdo e tornar-se chato. Para alcançar esse equilíbrio é necessário o trabalho integrado entre, principalmente, o pedagogo, o profissional da educação responsável pelo conteúdo, e o game designer, responsável por projetar a experiência do jogo, sua mecânica, as regras, a história e outros elementos. Outro ponto que precisa de atenção, conforme lembra Fabiano, é o cuidado com o público alvo. É preciso atenção à diversidade e respeito a questões étnicas. Fundador do portal “Fábrica de Jogos”, que reúne conteúdo diverso sobre o desenvolvimento de jogos digitais no geral, Fabiano sugere a capacitação para quem busca utilizar jogos com a finalidade de desenvolver habilidades, produzir conhecimento ou mesmo, propor reflexões. O portal pode ser acessado em www.fabricadejogos.net e conta com informações sobre jogos educativos, entretenimento entre outras finalidades.
Integração A escola Quest to Learn, localizada em Nova Iorque/EUA, é um exemplo da perfeita integração entre designers e professores. É uma escola pública cuja metodologia de ensino e aprendizagem é toda baseada em jogos. A partir de conteúdos trabalhados com professores de geografia, português, matemática etc., são propostos desafios em que os alunos não apenas jogam, mas precisam desenvolver, colaborativamente, jogos que cumpram certos objetivos e que exercitem o conteúdo das matérias, sendo assistidos e assessorados pelos professores e designers. Em ambientes universitários a utilização de jogos também é muito positiva. Um dos projetos desenvolvidos por Fabiano Oliveira, em parceria com equipe da Universidade Federal de
Santa Catarina – UFSC, é “Isaac - o enigma do explorador” cuja narrativa propõe a busca, pelo personagem-título, do avô desaparecido, em um cenário de terror. Inicialmente, foi aplicado em grupos de estudantes que não eram da região. O objetivo era a identificação e difusão de conhecimento sobre alguns pontos turísticos das cidades de Araranguá e Criciúma, em Santa Catarina. O jogo foi produzido para expor o potencial turístico da região, a partir da exploração de espaços, como o museu histórico, a ponte, a igreja matriz, observando aspectos arquitetônicos, localização e ambientes. E, existem algumas plataformas para o desenvolvimento de jogos educativos, como a “Faz game”. E, para quem não quer se arriscar na criação, há coletâneas de jogos prontos, como a “Escola de Games”, entre outras opções. Mas a utilização de jogos com a finalidade educativa não serve apenas para jovens do ensino fundamental, médio e universitário, mas também para profissionais. Entre algumas vantagens estão o engajamento, motivação, criatividade, colaboração e desenvolvimento de habilidades específicas, entre outras.
Referências: Entrevistado: Fabiano Naspolini de Oliveira é formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, pós-graduado em docência para Educação Profissional, MBA em Game Design e mestrado em Tecnologias da Informação e Comunicação. Foi redator do portal Nintendo Blast, professor de cursos técnicos e Game Designer/Sócio-Fundador do estúdio Céu Games por 6 anos. Atualmente, é professor de jogos digitais, escritor e fundador do Fábrica de Jogos, site sobre Desenvolvimento de Jogos com enfoque no Game Design. Mais informações sobre a escola Quest to Learn e os 7 princípios da aprendizagem baseada em jogos no site https://www.q2l.org/about
Fabiano Naspolini de Oliveira, designer de jogos. Foto: arquivo pessoal
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Perfil
As gerações de designers e arquitetos
Profissionais de diferentes faixas etárias falam sobre suas experiências e expectativas sobre a área. PÁGINA / GERAÇÃO
30: Baby Boomers 46: X 64: Y 80: Z
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34 36 38 40 42 44 48 50 52 54 56 58 28
60 62 66 68 70 72 74 76 78 82 84 86 88 90 92 94 29
Nascidos entre:
1940 e 1960
30
A geração Baby Boomers, composta por pessoas que nasceram entre 1940 e 1960, cresceu em um período de pós-guerra marcado pela expansão do capitalismo e do consumismo e pelo surgimento de movimentos de contestação política e social. Por isso, carrega valores como a preocupação com a qualidade de vida, inconformismo, busca de autonomia e lealdade a si mesmo e a empresa na qual trabalha. Ainda com muito ânimo e experiência acumulada, essa geração não está interessada em se aposentar. A partir das entrevistas foi possível perceber que os designers e arquitetos Baby Boomers conseguiram encontrar um caminho e seguiram firme em seus objetivos. Eles possuem um lado artístico apurado e pensam sempre no bem-estar de seus clientes. Como tiveram contato com a tecnologia tardiamente, alguns ainda têm dificuldade para utilizá-la, mas fazem questão de integrá-la ao seu processo. Além disso, não pensam em parar suas atividades, pois consideram a criação algo essencial para continuarem vivendo.
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Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? AR: Gosto de uma arquitetura bonita e tenho que
escolher com muito cuidado o que vou colocar dentro dela. O design é quase um projeto complementar, assim como paisagismo, iluminação, mobiliário. Tem que estar casado com o que propus arquitetonicamente e também ao que as pessoas têm, amam e gostam. Primeiro, faço um conceito e o móvel vem naturalmente. Muitas vezes, olho um móvel ou uma peça impressionante e começo por ele, aí vejo qual conceito propor. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
AR: Está muito concorrido e tem muito profissional no mercado. São os tempos, há muita informação, todo mundo viaja muito, internet, Pinterest e muitos creem Foto: Juliana de Souza
dominar as áreas de arquitetura e decoração. Mas eu
GERAÇÃO BABY BOOMERS | 1940 à 1960
Ângela Roldão por: Pâmilla Vilas Boas
A Bauhaus e a forma racionalista de pensar a arquitetura transformaram a visão de Ângela Roldão sobre sua profissão. Arquiteta e urbanista formada pela UFRJ, continuou seus estudos na Ludwig-Maximilians-Universität de Munique, na Alemanha, onde morou por três anos. Isso fez com que assimilasse um traço europeu que resultou em projetos em diversos países, como Portugal, França, Bélgica, Uruguai e na própria Alemanha. Profissional premiada, cultiva um amor extremo pela profissão, escolhida a partir de uma sugestão de seu pai quando ainda tinha 18 anos. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
percebo que, a cada dia, há menos representatividade. Os projetos acabam se repetindo muito. Fica uma ideia padrão do tempo e isso é com tudo, não apenas com a arquitetura. É normal que as pessoas acabem preferindo o que já caiu no gosto comum, mas acredito que nosso papel é convencê-las de que podem ir além. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam de forma diferente? AR: Elas pensam de forma diferente e veem a profissão de forma diferente. É outro enfoque. Conceito, capacidade, talento, estudo e trabalho são fundamentais, não importa quantos anos você tenha. Posso ter 100 anos e ser supermoderno, como Oscar Niemeyer. Os modernistas, os arquitetos da Bauhaus, eles transcendem o tempo porque é um bom projeto. Hoje em dia, existem mais recursos e trabalhamos com mais facilidade, mas não acho que estou atrasada frente aos meninos de 25 anos. Acho que eles ainda têm um longo caminho a ser percorrido para ter essa bagagem. Hoje, temos acesso aos mesmos meios e as mesmas informações.
Ângela Roldão: Ele começa sempre me informando sobre o que o cliente quer, desejos, aspirações e possibilidades que eu tenho. Se for um projeto de arquitetura desde o chão, observo o que o terreno oferece e o que o local pede. Se for de interior, o que o espaço demanda, como organizo da melhor forma para ser prático, bonito e servir a quem vai estar lá. Todos que me procuram querem algo espetacular. Ruy Ohtake já dizia que a arquitetura é uma boa concepção, um bom detalhe e depois vem a surpresinha, algo para chamar a atenção. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
AR: Eu fiquei reconhecida como alguém que faz interior, mas também faço prédios, casas, lojas, consultórios etc. Faço tudo que envolve a arquitetura de construção e interiores.
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PROJETO O projeto ao lado se refere à reforma do Sesc Palladium, que era um cinema antigo em Belo Horizonte/MG.
Projeto
premiado
com
uma
arquitetura de concreto, inspirada no brutalismo, com granito cinza no qual se privilegia um espaço arquitetonicamente bonito e bem arranjado, para o conforto visual num ambiente harmônico. O projeto valoriza elementos do cinema antigo como neons azuis e revestimento em vidro. O tapete de entrada foi todo inspirado nas curvas do Oscar Niemeyer e nos azulejos do Portinari. Fotos: José Luiz Pederneiras
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
ANC: O trabalho mais comum aqui em nosso escritório são as residências. Hoje, estamos com projeto de duas casas no Alphaville, uma na zona oeste de BH, próximo ao Sebrae, outra no Mangabeiras. Mas a gente também faz muitas reformas, incluindo uma no Vila da Serra, que estamos fazendo para uma pessoa também ligada à Backer. Ri: Como você pensa as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? ANC: É importante estar antenado com as tendências.
Fazemos muitas viagens internacionais, comparecemos a feiras para acompanhar sempre a vanguarda, o que as pessoas estão fazendo lá fora. Milão hoje é a referência do design. Mas existem clientes diferentes, tem
Foto: Gustavo Xavier
os que gostam do clássico e os que preferem elementos
GERAÇÃO BABY BOOMERS | 1940 à 1960
Angêlo Coelho
(DO ESCRITÓRIO CRISTINA MORETHSON & ANGELO COELHO)
por: Ana Cláudia Ulhôa Ângelo Nunes Coelho é casado com a sócia, Cristina Morethson, e têm quase 30 anos de história em um dos escritórios mais conceituados e completos do Brasil. Como o próprio Ângelo define “Costumamos dizer que temos a versatilidade de comprar o lote e entregar a chave”. O Morethson Coelho é capaz de realizar todas as etapas de projetos de engenharia, arquitetura e interiores, em
contemporâneos. Este ano vamos participar da Casa Cor, que será no Palácio das Mangabeiras. Ri: Como você avalia o mercado do design e arquitetura na atualidade? ANC: A crise política afetou muito a gente. Naquele
período, tivemos uma baixa no mercado. Três clientes disseram que, se o cenário não fosse favorável nas eleições, não iam construir e mudariam de país. Mas, de certa forma, tem melhorado agora. Não estou falando que sou lado A nem B, apenas avaliando o mercado. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? ANC: É diferente na maneira de abordar e na maneira
de entender os raciocínios e as convicções de cada um. Porque os jovens são mais diretos. De um modo geral, eles já sabem o que querem. Sendo que o mais velho
qualquer setor, do industrial ao residencial.
está muito em função do que a gente acha necessário
Essa polivalência é resultado da complementariedade das
soluções. E ele também, muitas vezes, não liga muito
habilidades dos dois sócios e da experiência acumulada no mercado. Ângelo é formado em engenharia civil e pós-graduado em gestão ambiental, além de desenhista técnico. Cristina é arquiteta, especializada em design de
para eles. Então aí, nós é que vamos apresentar as para a parte financeira. Ele prefere uma boa escolha a uma escolha econômica. O jovem não quer saber só do preço, que para ele é fundamental, mas também da qualidade.
interiores. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Ângelo Nunes Coelho: A primeira parte é a verificação do lote porque essa escolha pode fazer diferença, inclusive, na valorização do imóvel. Depois, vem a entrevista com os clientes. Saber como é a família, comportamento, gostos, para entender o que eles querem no projeto. Aí, fazemos o anteprojeto. Nessa parte, verificamos tudo interna e externamente no local, em um estudo em 3D para visualizar melhor. Aqui também definimos a distribuição do
O quarto de casal foi inspirado na nobreza europeia, onde se concilia o que há de moderno com os móveis e design eternos. A riqueza de detalhes é o ápice do projeto, que transformou o espaço em um ambiente de contemplação e admiração para atender os requisitos de sofisticação, aconchego,
espaço na casa. Partimos então para o projeto definitivo,
beleza e praticidade dos proprietários.
que é o usado para aprovação na prefeitura e órgãos
Fotos: Gustavo Xavier
competentes. Depois, vem execução da obra, com os orçamentos de todos os projetos que complementam o projeto arquitetônico.
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PROJETO
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional? DL: Fazer projetos para as pessoas que me procuram, que geralmente são indicadas por clientes mais antigos. Devido à minha faixa etária e tempo de carreira, muita gente já está acostumada comigo. Então, faço projeto para o pai, o filho, o neto, a família inteira. Acho que meu foco é atender essas pessoas da melhor maneira possível. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
DL: A função do design de interiores é complementar à arquitetura. A arquitetura é a estrutura e o design a roupagem. E gosto de levar a ideia da arquitetura para dentro de casa. Se a pessoa conseguiu construir uma casa daquela forma, é aquilo que ela quer. Então, vou puxar para dentro essa mesma leitura. De repente, posso
Foto: Daniel Mansur
colocar uma coisa ou outra para dar um contraste, uma
GERAÇÃO BABY BOOMERS | 1940 à 1960
Dante Lapertosa por: Ana Cláudia Ulhôa
Talento para desenhar, cuidar de detalhes e imaginar soluções. Foram essas características que levaram Dante Lapertosa a dedicar toda a sua vida ao design de interiores. Mesmo tendo escolhido Belas Artes e Estudos Sociais como formação, ele nunca se desviou desse caminho. Ao longo de sua trajetória, Dante atuou em grandes empresas do setor, dirigiu lojas especializadas em móveis e abriu um escritório que mantém até hoje. Fundado por ele e pelo artista plástico José Alberto Figueiredo, o Lapertosa & Figueiredo atende clientes interessados em projetos de design de interiores residenciais, comerciais e institucionais. Com cerca de 40 anos de mercado, Dante ainda não pensa em parar de trabalhar, pois diz conservar em si uma compulsão por criar. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
enriquecida ou adequar mais ao gosto do cliente, mas tenho que respeitar a arquitetura. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? DL: As pessoas mais antigas no mercado têm mais
facilidade. Por quê? Porque quem me chama sabe onde está pisando, me conhece e tem confiança. Já as pessoas mais jovens, às vezes têm um pouco de medo de se expor, o que pode gerar uma certa insegurança em quem contrata. Hoje, tem muita gente no mercado, mas ao mesmo tempo, grande parte dos prédios já possui um design de interiores. Então, acho que tem campo para todos que têm talento. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? DL: Nada é absoluto, né? Mas acho que parte dos profissionais
mais
jovens
optam
por
seguir
muito
tendência e os trabalhos acabam saindo um pouco parecidos, porque eles ainda têm medo de ousar, e isso é natural. Em relação ao cliente, também acho que existem diferenças, porque as pessoas mais velhas geralmente têm uma história de vida, objetos de família, e a expectativa é diferente de um casal muito jovem, que ainda não viveu essas coisas.
Dante Lapertosa: Quando eu conheço a pessoa, quero conhecer a casa dela. Mesmo que seja um lugar
PROJETO
totalmente provisório, a essência daquela pessoa está ali. Uma coisa também que acho importante é que tento assimilar o que a pessoa gosta, porque ela tem que sentir que a casa é dela. Então, quando sento para criar, já vou nessa linha. Sempre falei que a única coisa que sei fazer bem na vida é desenhar. Mas com a modernidade, desenho muito pouco. Então, o que faço? Minhas duas funcionárias montam a planta, eu desenvolvo o layout e dito para elas fazerem o 3D.
O projeto ao lado foi criado em 2016 pelo escritório Lapertosa & Figueiredo. Ele consiste em uma casa na praia de Igaratiba, em Angra dos Reis. A residência, que possui 800m² de construção, ganhou novos espaços e decoração contemporânea com o objetivo de se tornar um local adequado para receber visitantes. Fotos: Daniel Mansur
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
EP: Quero continuar a trabalhar com arquitetura de interiores, mas quero ter tempo também para todas as outras atividades. Além disso, gostaria de ter projetos cada vez mais complexos, que me instigassem e desafiassem mais, para que eles exijam que eu seja cada vez mais criativo e pesquise mais. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
EP: O design é um desenho de um produto que, a princípio, é seriado e sempre envolve a relação do ser com o ambiente. O projeto de um edifício também pode ser considerado um processo de design. Não atuo na construção em si, pego a arquitetura pronta. Mas me envolvo de várias formas, especificando e Foto: Gustavo Xavier
criando soluções.
GERAÇÃO BABY BOOMERS | 1940 à 1960
Eraldo Pinheiro
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? EP: Explodindo! Quando inaugurei a minha loja em 1981, tinha lá uns 10 modelos de móveis e tinha que ir pra São Paulo procurar coisas diferentes. Hoje, temos feiras e mais feiras, muitos coletivos e pessoas trabalhando. E tem coisas incríveis que faço questão de falar, elogiar, comprar, dou a maior força. Tento sempre praticar o
por: Ana Cláudia Ulhôa
elogio, o mundo está precisando disso.
Eraldo Pinheiro sempre teve um gosto estético apurado.
Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
Quando era adolescente expressava esse dom através das artes plásticas, mas sua família exigiu que se formasse,
EP: Eu acompanho as minhas estagiárias e acho tudo
o que o levou a ingressar na faculdade de Arquitetura
ainda muito parecido. O conteúdo vai mudando, a
da UFMG. Eraldo começou a carreira projetando móveis
tecnologia vai evoluindo, mas nós somos seres humanos.
para amigos recém-casados. Pouco tempo depois,
A gente começa por pequenas coisas, vai aumentando
aproveitou essa experiência para abrir sua própria loja.
o repertório, conseguindo projetos mais complexos,
Porém, a entrada de produtos importados no país gerou
é um processo de vida mesmo. Sobre os clientes, não
uma forte concorrência, o que fez Eraldo mudar seu foco
costumo projetar muito para pessoas mais nova, mas já
de atuação. Durante a década de 1990, ele passou a
fiz alguma coisa para a faixa etária de 20 a 30 anos. O
projetar lojas de moda e, em seguida, hotéis. Hoje, ele
que percebo é que às vezes eles têm um pouco mais
se dedica a projetos de interiores não só comerciais,
de dificuldade de saber o que querem. Já as gerações
mas também residenciais. Com 62 anos, Eraldo acredita
mais velhas, talvez por possuírem mais experiência de
que é uma benção continuar a criar e garante que não
vida, parecem ser mais decididas.
pretende parar. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Eraldo Pinheiro: Eu gosto de viajar, me informar e usar essas coisas. Mas tenho uma peculiaridade. Quando chego nos lugares, tenho uma visão do projeto, um insight do que tem que ser feito ali. Depois, vou para o escritório e começo a projetar. Antes, tinha dificuldade, mas hoje começo direto pelo 3D. Na minha geração, acho que pouca gente trabalha com instrumentos mais sofisticados de tecnologia. Aprendi porque achava muito complicado externar essas ideias para ajudantes. Além disso, tenho que colocar o risco na tela e ver o que vai aparecer, vou pensando e desenhando.
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PROJETO O projeto ao lado começou a ser desenvolvido por Eraldo Pinheiro em 2014. Ele consiste em um apartamento de 650 m², no Vale do Sereno, em Nova Lima/MG. O escritório acompanhou desde a construção até o último toque da decoração. Seu ponto forte é o diálogo com a paisagem da região através da utilização de tons terrosos e do verde nos ambientes de área comum. Fotos: Gustavo Xavier
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Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
SR: Existia uma diferença entre arquiteto e designer e hoje a maioria dos arquitetos são designers. Existia uma rixa, mas hoje as pessoas procuram agregar conhecimento. Um arquiteto que atua com arquitetura e design é bem interessante. Já trabalhei com arquitetos para executar reformas ou com engenheiros e não tive problema. Todo mundo tem espaço. Eu, que trabalho com reforma, acabo estudando um pouco de arquitetura e acho que essa junção agrega mais para o cliente. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? Foto: Osvaldo Castro
SR: Não vou dizer que está saturado, porque acho que
GERAÇÃO BABY BOOMERS | 1940 à 1960
Sheila Rezende Fernandes Ladeia por: Pâmilla Vilas Boas
tem espaço para todo mundo e ainda existe um leque muito grande para aprendizados. Mas estamos passando por um período difícil o país e as pessoas seguram mais e pensam mais no que vão fazer. É um mercado que tem muito para crescer e eu não quero parar de trabalhar tão cedo. Com 70 ou 75 anos, enquanto tiver saúde, estarei atuando na área. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
SR: A visão é um pouco diferente. Nós somos mais
Sheila Rezende ingressou no INAP aos 42 anos para
maleáveis com as coisas. Você tem que sentir o local e
estudar Design de Interiores. Ela se achava velha demais
a pessoa. Nessa relação do profissional com o cliente, é
para voltar aos estudos até que, num programa de TV,
muito importante estar presente. É quando sentimos a
viu uma senhora retornar a escola aos 92 anos para
reação de tudo. Eu e meu sócio já estamos juntos há três
aprender a escrever o nome. Sheila se apaixonou pelo
anos e acho muito legal nosso entrosamento. Acabei de
design e, além da formação acadêmica, buscou cursos
fazer uma reforma para um casal novo. Fiz um projeto
de aperfeiçoamento, palestras, conheceu lojas, fábricas,
para uma senhora de 89 anos, como já fiz para clientes
materiais e se formou também no curso técnico em
de 30 ou 25 anos.
edificações. Nos anos 2000, criou o seu próprio escritório e, há três anos, atua com seu sócio, Gustavo Andrade Ladeia, de 28 anos. A diferença de idade não é uma barreira e sim
PROJETO
um diferencial. “Uma vez ele me mandou uma mensagem dizendo que não sabe se ele que é idoso ou se eu que sou
O projeto ao lado se refere a uma cobertura de 160
uma jovem adulta”, brinca.
m² que foi transformada em uma área gourmet.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Sheila Rezende: Eu faço uma visita ao local para fazer o briefing e conversar com todos os envolvidos. A partir disso, e vendo o espaço, começo a ter ideias, conversando com as pessoas, sentindo o que elas gostam e a dinâmica da casa. Já faço um estudo geral com texturas, a planta e meu sócio faz os 3Ds que são maravilhosos. Formamos uma boa parceria. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
SR: O foco é mais residencial. Já fizemos escritórios e uma academia, mas é mais residencial.
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Sheila Rezende e Gustavo Andrade repensaram o ambiente e suas tonalidades numa área integrada, contemporânea e aconchegante. Eles aproveitaram a incidência solar da cobertura e integraram o espaço gourmet com um SPA, com cobertura termo-acústica e fechamento em vidro temperado para utilização em qualquer variação do tempo, o que possibilitou um ambiente mais arejado e com ventilação natural. Fotos: Osvaldo Castro
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
TS: Não existe um foco específico. Temos expertise em todas as áreas. Exatamente nesse momento estamos fazendo hotéis, salas comerciais, casas, apartamentos de diferentes tamanhos e estamos com um prédio em detalhamento. Conseguimos atender a todos os públicos de uma forma coerente, porque tenho uma equipe grande com pessoas que trabalham comigo há muitos anos. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
TS: A somatória do olho do arquiteto com o olho do designer de interiores e do designer de móveis - tenho as três vertentes em meu escritório - é o que torna o produto final muito bom. O arquiteto tem um olhar do geral, o designer de interiores do detalhe e o designer Foto: Jomar Bragança
de mobiliário une o detalhe ao técnico e ao executivo.
GERAÇÃO BABY BOOMERS | 1940 à 1960
Tânia Salles
por: Pâmilla Vilas Boas Aos 14 anos o teste vocacional já apontava sua paixão: decoração e arquitetura. Tânia Salles é formada em design de interiores pela UEMG (BH/MG) e atua no mercado há 40 anos. As experiências no comércio como lojista e com seu próprio escritório construíram a profissional renomada que é hoje. O ponto de virada de sua carreira foi a atuação na Construtora Líder, pela possibilidade de trabalhar em todas as áreas e também pelo reconhecimento e abertura do mercado. Para Tânia o mais gratificante de sua profissão é tornar tangível sonhos e desejos. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Tânia Salles: Ele se inicia com conversas e reuniões com o cliente, quando você tenta extrair quais são os sonhos e as necessidades dele. O bom projeto é aquele que fica com a cara do cliente, seja comercial, residencial ou hotelaria. A partir das necessidades, você irá criar e orientá-lo de uma forma tecnicamente correta, atual, criativa e, ao mesmo tempo, prática e esteticamente bonita. Trabalhamos
Uma coisa é aquilo que a gente cria no papel e outra é o exequível. Precisamos sempre ter um olhar que cria de forma exequível. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? TS: Nós, profissionais, temos que estar sempre nos
atualizando, seguindo tendências tecnológicas em todos os segmentos.Tenho como meta o diferencial em atendimento, planejamento e acompanhamento do projeto como um todo, priorizando o que for melhor para o cliente. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? TS: Não é que elas projetam de forma de diferente, a experiência projeta de uma outra maneira por toda a bagagem que adquiriu. O profissional mais experiente consegue cercar o projeto como um todo de forma menos traumática. Trabalho com equipe própria, por exemplo, e não gosto de terceirizar. Sou da época em que se trabalhava em equipe e hoje as pessoas terceirizam o máximo possível porque isso é custo. Já o projetar atual é outra coisa. Estar atualizado é uma obrigação do profissional. Não é por que você está no mercado há 40 anos que você não sabe fazer uma perspectiva 3D e não está atualizado com a tendência do mundo e do mercado. Indicar uma coisa moderna e atual, não só em produto como em tecnologia, é obrigação de qualquer profissional, em qualquer área.
primeiro em cima da planta baixa para desenvolver a parte
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inicial, que é análise do ambiente, análise de ocupação
PROJETO
dos espaços, alterações de arquitetura de interiores, o
O projeto ao lado se refere à sala de estar de um
pensamento em relação à elétrica, iluminação e gesso.
apartamento no bairro Belvedere/BH, tendo como
A partir de então, fazemos a escolha dos materiais, dos
diretriz um ambiente claro e aconchegante. Em
produtos, dos móveis e colocamos numa perspectiva 3D
destaque as cômodas bombês estilo clássico em
para o cliente ter noção de como vai ficar o ambiente
harmonia com a decoração contemporânea. A
como um todo. Fazemos reuniões com o cliente e
lareira instalada no mármore branco, tem parede
alteramos a proposta até chegar ao projeto final. Então,
em pedra ônix e paginação “livro aberto”.
partimos para a execução.
Fotos: Jomar Bragança
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
VM: Continuar focada em projetos institucionais. Estou sempre estudando e não tem jeito de parar. Sempre faço um curso por ano ou procuro estudar pela internet. Não trabalho o dia todo, mas também não consigo parar. Tenho muitas ideias na cabeça e preciso colocar para fora. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
Foto: Murilo Augusto Braga Ribeiro dos Santos
VM: Tem que ser os dois juntos, nunca pode ser separado.
GERAÇÃO BABY BOOMERS | 1940 à 1960
Violet Mary Zelonis por: Ana Cláudia Ulhôa
Violet Mary Zelonis nasceu na Pensilvânia, nos Estados
Por isso, eu e minha filha fazemos qualquer projeto em conjunto, a gente tem que oferecer os dois lados para o cliente. Não tem como o arquiteto trabalhar sem o design e não tem um designer que consiga trabalhar sem um arquiteto. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? VM: Muito fraco! Ainda existe o trabalhador informal que faz de tudo e acha que sabe mais do que o arquiteto ou o designer. E o cliente mineiro é assim, ele prefere escutar a pessoa sem capacitação técnica do que a pessoa formada e registrada, porque o profissional ele precisa pagar. Então, acho que tem que ter ainda uma correta valorização do arquiteto e do designer. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
Unidos, mas veio para o Brasil ainda adolescente. Com 17
VM: Acredito que o que muda é a tecnologia. Na
anos participou de um concurso do governo americano e
minha época não havia computador, nem internet,
ganhou o direito de realizar um intercâmbio. Durante sua
então a minha geração tem que acompanhar essas
estadia no país, conheceu o atual marido e decidiu firmar
novas tecnologias e ficar atualizada. Mas o projetar
moradia em Belo Horizonte. Inicialmente, Violet trabalhou
em si não tem diferença, todos têm o mesmo alcance,
como assistente social, mas mudou de carreira após seu
responsabilidade e compromisso. No caso do cliente,
filho de cinco anos sofrer um acidente vascular cerebral.
cada pessoa tem uma necessidade, um programa
Segundo Violet, o médico da criança recomendou que
diferente. O profissional tem que pegar isso e entender o
ela buscasse uma profissão que pudesse exercer em casa.
que o cliente quer, porque muitas vezes ele não consegue
Foi aí que ela se matriculou no INAP para cursar Design
explicar bem o que deseja. E, oferecer a melhor solução
de Interiores. No ano de 1982, Violet decidiu abrir seu
possível para o cliente alcançar o sonho dele.
próprio negócio, o Zelonis Arquitetura e Interiores que, mais tarde, passou a contar com a participação de sua filha arquiteta. Especializadas em comportamento humano e acessibilidade, as duas profissionais têm realizado projetos que visam promover a melhora das condições de vida de seus clientes. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Violet Mary: O meu processo olha mais para o lado mental, emocional e espiritual de cada coisa. Geralmente, começamos passando um dia com o cliente. Depois, pesquisamos muito, não só o material a ser usado, mas o comportamento humano. Não trabalho no computador, eu faço alguns rascunhos e minha filha passa isso para o digital. A parte técnica é toda dela e eu fico com a criação.
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PROJETO O projeto ao lado foi realizado em 2017 para a empresa de telemarketing Mundiale. Violet projetou todo o 8º andar do prédio ocupado pela companhia, de acordo com o novo posicionamento da empresa, que está passando por um processo de transformação digital. Para promover a modernização do espaço foram adotadas soluções de acústica, iluminação sustentável e decoração descontraída. Fotos: Murilo Augusto Braga Ribeiro dos Santos
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Nascidos entre:
1961 e 1980
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Uma geração que nasceu num contexto mundial hostil, Guerra Fria e ditadura militar no Brasil e diante de censura e grande instabilidade econômica. A geração X, composta por pessoas que nasceram entre 1961 e 1980, viu suas vidas mudarem muito com o desenvolvimento da tecnologia: o surgimento do computador pessoal, da internet e do celular durante a sua fase adulta. São considerados pragmáticos, transformadores, autoconfiantes, competentes, tendem a priorizar o trabalho e acreditam num mundo competitivo e compenetrado. A partir das entrevistas, foi possível perceber que essa geração de arquitetos e designers preza por uma relação próxima e íntima com os clientes, são apaixonados por arte, estética, novas tendências, conhecem bem os estilos e tem como grande objetivo realizar e tornar tangível, de forma prática e efetiva, os sonhos dos clientes. Buscam inspiração em veículos internacionais, viagens e têm grande habilidade com o desenho. Não dominam tanto a tecnologia, mas são hábeis gestores e realizam boas parcerias com as gerações mais novas.
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Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
AR: É uma linguagem quase única. Não tem como pensar design sem arquitetura e vice e versa. Não sou arquiteto de formação, mas meu escritório é de arquitetura e design. Não consigo separar porque não sou apenas designer ou decorador. Trabalho muito com reforma e interferência na parte arquitetônica. Tenho parcerias com arquitetos e engenheiros e, quando necessário, fazemos tudo juntos. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? AR: É um mercado tão fantástico que se percebe pela
quantidade de profissionais que se formam todos anos e entram no mercado. É uma profissão deliciosa que está crescendo muito. Há 25 anos não existiam tantas áreas Foto: Petrônio Amaral
do design e não se falava tanto em design. Hoje, tem
GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Alberto Radespiel Júnior por: Pâmilla Vilas Boas
arquiteto que abandonou a prática e trabalha só com interior. A tomada de consciência foi muito importante e as pessoas perceberam que é economicamente mais interessante ter um profissional para orientar e que irão gastar muito menos do que se arriscando sozinhas. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? AR: Acredito conseguir entrar no mundo do jovem e,
talvez, esse universo muito jovem não consiga entrar em um projeto como eu faço - um projeto clássico, por
Alberto Radespiel é formado em design de interiores pela
exemplo. Os jovens estão indo muito para uma direção,
UEMG, é artista plástico, chef de cozinha e fotógrafo. Com
um marco contemporâneo, de algo mais resolvido,
30 anos de atuação na área, preza pelas relações intensas
limpo e rápido. Meu escritório era mais clássico, até que
e duradouras com os clientes. Projetou um quarto de bebê
comecei a atender os filhos dos meus clientes. Passei a
e, 15 anos depois, foi escolhido para dançar a valsa na
ter uma pegada numa linha industrial em projetos que
festa da agora adolescente. “Nessa busca eu realizo o
lembram um loft nova iorquino e que agrada ao pessoal
sonho de cada um”, ressalta.
mais jovem. Como em toda a profissão, a estrada
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
percorrida é muito importante.
Alberto Radespiel: Cada profissional tem uma marca. Dentro dessa marca, hoje busco os conceitos para os meus projetos estando antenado à minha profissão e, essas informações, em fontes internacionais, revistas, sites e viagens. Minha inspiração parte do desejo do cliente. Primeiro, faço uma visita e já começo a perceber seu estilo de morar, depois começa a etapa da criação do anteprojeto. Faço duas ou três propostas e o cliente apresenta suas sugestões. Às vezes, ele sugere algo que não é possível e mostro as razões porque não vai funcionar.
O projeto ao lado se refere a uma cobertura no Bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte/MG, para um casal jovem, no qual foram definidas cores claras, com design limpo, iluminação pontuada e planejada para tornar o espaço aconchegante, sofisticado e funcional. O ponto de partida para o projeto foi a marcenaria executada em carvalho
Aí começa a viagem do projeto com o cliente.
natural. No segundo piso, o Home Theater se
Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
com couro preto, retratando um conceito jovem,
destaca em uma combinação de tons cinza,
AR: Faço comercial também, mas amo a parte residencial.
contemporâneo e elegante. Cortinas com blackout
Acho que o residencial tem uma poesia do desejo do
em veludo grafite trazem privacidade e, uma vez
cliente. Quando é comercial, uma franquia por exemplo,
recolhidas, amplia-se a sala com a área externa.
você já tem um formato, ou normas pré-definidas, embora tenha as pinceladas criativas. Na residência, você pode entrar num mundo poético.
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PROJETO
Fotos: Petrônio Amaral
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que desenhava na prancheta com régua e esquadro e passava a limpo no papel vegetal com nanquim. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
EC: Meu escritório é voltado para a área residencial, de interiores e detalhamento. Faço também muito trabalho de detalhamento para construtoras, desde área comum até o apartamento modelo. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? EC: Todos os tipos de design hoje se interligam com arquitetura. Se não tiver um design gráfico bem pensado numa loja, por exemplo, você mata sua arquitetura. Uma logomarca horrorosa mata sua fachada e impacta
Foto: Juliana de Souza
internamente. Quando é bem casado, tudo flui. Assim como o design de mobiliário. O arquiteto quer bons designers no projeto. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? EC: O mercado está
cada vez mais especializado,
dinâmico e está se reinventando. Antigamente, as GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Eduarda Corrêa por: Pâmilla Vilas Boas
Eduarda Corrêa sempre gostou de desenhar e seu sonho era ser pintora. Até que sua mãe a apresentou à arquitetura e o leque de possibilidades que a profissão oferecia. Ela, então se formou pelo Instituto Metodista Izabela Hendrix, em 1994,
referências eram livros e revistas e hoje temos muitos recursos com a internet. O cliente busca suas referências e vem com uma ideia pré-concebida do projeto. Imagino que, em muitos casos, ele até tenta resolver sozinho, sobretudo em questão de compra, já que pesquisa na internet para encontrar mais barato. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
e não se esquece de um estágio que fez há 26 anos, em um
EC: Tenho contato com o pessoal recém formado do
escritório que atuava em grandes empreendimentos. “Meu
meu escritório. Eles são mais digitais e não desenham.
sonho era trabalhar com construção, contudo, ouvia de
Fazíamos aula de desenho e até mesmo a forma de
um arquiteto, durante esse estágio que, enquanto havia um
colorir fazia toda diferença na apresentação de projeto.
arquiteto para fazer um edifício, existiam 30 oportunidades
Hoje, existe até aplicativo para fazer esse tipo desenho,
de apartamentos para serem decorados”. Foi nesse
uma apresentação vintage.
momento que Eduarda perdeu o preconceito e decidiu apostar no design de interiores. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Eduarda Corrêa: Trago muitas referências de viagens, feiras, inspirações na internet, revistas. Faço um briefing muito bem detalhado com o cliente e busco imagens ilustrativas, ou mesmo um projeto que já realizei e que ele cita, para ver se estamos no caminho certo. A partir dessas referências, começamos a desenvolver as ideias. Faço desenhos à mão, vou rabiscando e tentando chegar num resultado satisfatório. Depois começamos a levantar o 3D. Nesse processo, mudo alguma coisa e vou acompanhando a forma que o projeto vai tomando. Depois da aprovação do cliente, passamos para o executivo, fazemos o detalhamento, o design de interiores, a escolha de mobiliário. Antes, fazia o 3D a mão, já que o custo da perspectiva era muito alto. Fui dessa geração
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PROJETO O projeto “Casa do Morro” se refere a uma residência de 2500 m². Eduarda foi responsável pela parte arquitetônica e de interiores. O ponto de partida para a concepção do projeto foi a vista das montanhas. A paisagem foi aproveitada ao máximo com a criação de grandes fachadas de vidro. Cada detalhe foi pensado pela arquiteta, que também testou materiais naturais como o bamboo beneficiado por um artesão local e que foi usado para revestir o forro do SPA e a área da piscina. O projeto é atemporal, ganhou muitos prêmios e até hoje é citado em publicações. Fotos: Jomar Bragança
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional? EM: Residencial. Tenho feito escritórios, estou terminando um agora, mas, no geral, é mais residencial. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? EM: Sempre trabalhei com arquitetos e trabalho até
hoje em parceria. Nunca tive nenhum problema. Sei que existe essa dificuldade no mercado, assim como existia entre arquitetura e engenharia. Você tem que acrescentar, ao invés de segregar e fazer reserva de mercado.
Foto: Gabriela Magalhães
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
EM: Durante a crise, minha área de design não sofreu tanto quanto a de arquitetura, que está mais ligada à construção. Ao invés de construir uma casa ou comprar um apartamento, as pessoas estão reformando o que já têm. Talvez esteja aí o problema da reserva de mercado, já que muitos arquitetos migraram para a área de interiores.
GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Eliana Motta
por: Pâmilla Vilas Boas Eliana Motta se formou em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1985 e, em 2005, se especializou em Design de Ambientes pelo Instituto Metodista Izabela Hendrix. Eliana veio do interior de Minas com o objetivo de estudar em Belo Horizonte. Escolheu Belas Artes pela habilidade com desenho, e também devido à condição financeira, que a impedia de cursar Decoração na FUMA que era, na época, um curso particular. Começou como desenhista em escritórios de engenharia e arquitetura até começar a atuar na área de decoração. Eliana está no mercado há quase 30 anos e se sente realizada ao proporcionar bem estar para as pessoas, tornando seus sonhos possíveis dentro da realidade de cada um.
Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? EM: A formação é diferente e tudo muda com o tempo. O jeito de morar está mudando e isso muda também o jeito de projetar. A geração mais nova está querendo morar de forma mais prática e espontânea. Tudo é o momento e não tem aquela coisa de pensar a longo prazo. Trabalho com uma arquiteta mais nova e percebo que seu jeito de projetar é diferente do meu. Como crio bem à mão, crio primeiro, passo pra ela, que inclui no computador e vai desenvolvendo até chegarmos num acordo. Eu resolvo tudo mais rápido à mão e ela no computador. É um jeito de pensar diferente. Estou desenvolvendo um projeto para recém-casados, e eles também são muito diferentes, querem tudo do melhor, consultam muito antes e já vem com um monte de referências. Hoje, tem muita informação disponível nas redes sociais.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Eliana Motta: Primeiro, é conhecer o cliente, entrar na intimidade dele e no convívio com a pessoa. Tem que ter uma relação boa com o casal para conseguir conciliar os desejos de cada um. Vamos criando no papel e, cada dificuldade durante a execução, proporciona novos elementos. É com as dificuldades que vem a maior criatividade. Uma dificuldade na parte estrutural, ou se o espaço é muito pequeno, tudo isso mexe com a criatividade. Como sou dessa área artística, desenho muito bem, desenho a mão livre e os clientes adoram. Aí tem a outra arte, que é transformar o desenho que você propôs em realidade.
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PROJETO O projeto ao lado se refere à reforma de uma residência de 280 m² no Bairro Funcionários/BH para um casal de médicos e duas filhas. Uma, inclusive, está se formando em arquitetura. O projeto contou com grande participação da família, com destaque para a filha arquiteta que se envolveu muito no processo. Eliana Motta conseguiu adaptar os móveis antigos da família, o piso e a estrutura, sem quebrar tudo, numa obra mais limpa. Fotos: Henrique Queiroga
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de conversa, isso já representava o estilo de cada um. O processo criativo começa com muita observação, depois passamos para área técnica: dimensões do espaço, circulações - priorizamos muito a circulação livre. Se eu não for ao local, não consigo fazer o orçamento. Preciso sentir o cheiro e o espírito do lugar. Tudo isso faz parte do processo criativo. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
LCL: Nosso forte é design de interiores, mas atuamos também com arquitetura e paisagismo. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
LCL: Quando somos contratados para fazer arquitetura, é muito difícil não pensar no design. Quando penso Foto: Barbara Dutra
numa sala, já saio do arquitetônico e entro no design:
GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Luiz Carlos Landim
ela será integrada com a home, dois sofás, um espaço gourmet, o que vou valorizar na iluminação. É uma relação, não tem como separar uma coisa da outra. Por isso, a maioria dos arquitetos faz design de interiores porque, quando estão projetando, pensam no design. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? LCL: Estamos retomando o crescimento. Há dois anos
por: Pâmilla Vilas Boas
não dávamos conta da demanda. Ano passado foi
A paixão de Luiz Landim pelo design de interiores começou
viraram novos projetos.
cedo, quando acompanhava o pai na construção civil. Contudo, quando o pai decidiu deixar a área e abrir uma empresa, Landim optou por se formar em administração
um ano bom e este ano tivemos vários orçamentos que
Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
de empresas, com pós-graduação em gestão financeira.
LCL: Cada um que nasce numa geração específica
“Mas aquela semente já havia sido plantada lá atrás e,
vivencia aquele momento. Eu nasci nos anos 70, mas
por mais que eu quisesse ficar só na administração, sempre
comecei a pensar em arquitetura e design no início
tive essa coisa forte na arquitetura”, ressalta. Ele começou
dos anos 90. Vamos caminhando conforme a evolução
projetando para a família e não se esquece do projeto
de cada época e sempre tem um pouco do passado,
de seu primeiro apartamento de 40 m², aos 17 anos, que
mesclado com o presente, com uma projeção para o
despertou sua paixão pela área e foi um divisor de águas.
futuro. Minha sócia vai fazer 60 anos e eu 50. Geralmente,
Tempos depois, decidiu se graduar em design de interiores
é ela quem cuida da parte mais contemporânea do
pelo INAP e, em 2009, junto com a sócia, Marlene Decicino,
projeto e eu, a mais clássica. Não é por que a pessoa é
criou a LM Designer, onde desenvolvem projetos para as
de outra geração que ela vai seguir aquela época.
áreas residencial, comercial e paisagismos. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
PROJETO
Luiz Carlos Landim: A primeira coisa que a gente faz é conhecer o local, o objeto a ser trabalhado e, depois de um briefing com os usuários, começamos a observar pequenos detalhes, como a pessoa se veste, como fala, aonde vai, o que gosta de comer. Todos esses pormenores vão compondo o nosso processo criativo. Uma vez estávamos fazendo uma casa no Bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte/MG e quando fomos visitar o casal, tinham duas poltronas. A mulher, que era mais nova, sentou numa poltrona mais contemporânea e o homem, mais velho, numa poltrona de época. Depois de um tempo
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O projeto ao lado se refere à própria casa de Luiz Landim, que mescla elementos clássicos e contemporâneos. O projeto premiado traz essa mistura de estilos e épocas num apartamento limpo, com circulação livre, elementos aconchegantes e que contam a história dos diversos locais por onde o designer passou. Fotos: Gustavo Xavier
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aprofundar mais em projetos institucionais. Também faço mestrado e adoro a área de pesquisa, então, minha pretensão é manter esse equilíbrio que tenho conseguido há 10 anos entre o escritório e a academia. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
ML: Na verdade, tenho graduação de design e arquitetura e percebo que, em termos de formação, é muito diferente. O designer tem muito mais expertise para compreender o detalhe e a necessidade da pessoa no uso do espaço interno. Agora, acredito que é tranquilo que o arquiteto desenvolva essa aptidão. Mas se o designer quiser trabalhar em áreas externas, ele vai Foto: Rafael Carrieri
ter realmente que fazer uma parceria, porque o curso
GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Maria Laura Camargos por: Ana Cláudia Ulhôa Maria Laura Camargos é o típico caso de mudança radical de vida. Aos 21 anos ela se formou em Terapia Ocupacional e ingressou na área de psicanálise. Após 10 anos atendendo em hospitais e consultórios, Maria Laura percebeu que não estava feliz. A solução foi buscar um novo rumo profissional, o que a levou ao curso de Design de Interiores da UEMG. Não satisfeita com o conhecimento acumulado, também se formou em Arquitetura pelo Izabela Hendrix. Hoje, Maria Laura atua realizando projetos residenciais, comerciais e institucionais no Laura Camargos Arquitetura e Interiores, além de lecionar disciplinas
não habilita você a fazer um projeto desses. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? ML: Perceba, cada dia mais, as pessoas conscientes da necessidade do profissional. Um tempo atrás diria que tinha mercado para todo mundo que fosse competente. O que comprometeu a profissão foi essa questão mesmo da crise, que afetou toda essa área de construção. Então, é um mercado que se viu comprometido por uma questão econômica, mas, em termos de viabilidade de profissão, acho que é super positivo. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? ML: Acredito que exista uma forma diferente de projetar
até por uma questão de tecnologia, mas isso pode se modificar à medida que as pessoas estudam. Também não tem como engessar, porque elas circulam entre as várias gerações. Então, acho que vai depender de pessoa para pessoa. No caso de quem contrata o projeto, não sinto tanta diferença. A minha demanda
relacionadas no INAP.
de clientes mais velhos não é tão grande, mas todos
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
super moderno e se encaixaria perfeitamente para um
Maria Laura: A primeira coisa é o briefing. Antes de
que acolhi não percebi diferença. O ambiente ficou pessoa mais nova.
começar o projeto procuro conversar muito com o cliente para tentar conhecê-lo o máximo que puder. A partir daí, faço uma diretriz projetual. Vou pensar como quero
PROJETO
que seja a cara desse projeto e a mensagem que ele vai passar, então começo a gerar várias alternativas. Depois, faço uma escolha para poder levantar a imagem 3D trabalhando cores, texturas e outras características. Mas já gero tudo no computador desde o início. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
ML: Hoje, trabalho com todos os tipos de projetos residenciais, comerciais e institucionais, mas gostaria de
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O projeto ao lado foi realizado por Maria Laura para o MM Coworking, localizado no bairro Estoril, em Belo Horizonte. Para que se tornasse um ambiente produtivo e de interação, o local acabou recebendo uma base neutra composta por elementos naturais e iluminação específica, que combina luz natural e artificial. Fotos: Divulgação
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é mais dinâmico, mais corrido. Normalmente, o cliente já está pagando o aluguel e precisa ter o dinheiro de volta rapidamente. Então, gosto mais de residencial, as cores, os objetos. Essa herança que alguns têm de algum móvel de família. O comercial é mais técnico, já existe uma receita. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
RA: Antigamente, a relação do decorador com o arquiteto era mais difícil. Mas acho que hoje em dia existe mais sinergia. As pessoas estão juntas. Então acho que é bem legal. Um trabalho completa o outro, às vezes o decorador tem um olhar mais cirúrgico, o arquiteto tem
Foto: Henrique Qualtieri
uma visão espacial maior.
GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Rodrigo Aguiar por: Pedro Parisi
Foco na profissão é o segundo nome do designer de interiores e arquiteto Rodrigo Aguiar, que desde que se entende por gente já tinha uma “percepção do morar” extremamente aguçada. Com 18 anos, já tinha completado o curso de design de interiores e começou a trabalhar no escritório da mentora Rosinha Houri, onde ficou por dez anos se desenvolvendo. Em 2008, Rodrigo decidiu abrir o próprio escritório, que hoje é um dos mais conceituados, e já vai para sua 8ª participação na Casa Cor. “Eu amo meu trabalho. Me dedico integralmente a ele. Tudo que você tiver a oportunidade de fazer com vontade, você tem que fazer”.
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? RA: O mundo mudou radicalmente desde que eu fiz meu primeiro desenho, há 20 anos. Minha geração foi a que mais passou por mudanças, porque a gente veio de uma geração que não tinha essa tecnologia, que a gente fazia tudo mais à mão. Se você pensar que estamos quase no ano de 2020! Essa turma mais jovem não pegou isso. E a forma como lidamos com essas mudanças é diferente. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? RA: Isso é muito engraçado. Porque a minha geração
teve referências de todas as gerações. Aprendi a trabalhar com uma geração que é 20 anos na minha frente; que hoje tem 60 anos. E aprendi muito com ela. E essa turma de 20 a 30, está aqui no escritório comigo, e aprendo muito com ela também. Tenho um caderno de desenho que anda comigo pra cima e pra baixo, que adoro. Faço croquis, desenho durante a obra. Isso é uma herança que você não pode deixar de ter. Porque o que comanda a criação é o seu cérebro, a sua criatividade.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Rodrigo Aguiar: Tenho como prioridade ter todos os clientes muito próximos de mim. Eles têm meu telefone e podem me ligar a qualquer momento. Isso é o meu diferencial. E essa é a relação de confiança que temos. Porque ele vem até nós para realizar o sonho da vida dele. Então, ele tem
O mote da reforma desse apartamento no bairro Vila da Serra, em Nova Lima/MG, era criar um espaço integrado da sala, cozinha e varanda, para receber
que ser “o” cliente.
os amigos. A solução encontrada foi o conceito
O melhor cliente é aquele indicado por outro. Você pode
montanhas. Para isso, o escritório planejou persianas
participar de todas as mostras de decoração, todas as Casa Cor, pode estar na mídia, o que for, mas isso vem
de um grande living gourmet, com vista para as de madeira que compõem os tons monocromáticos e contrastam com as obras de arte arranjadas
para certificar o seu trabalho perante a profissão.
organicamente no ambiente. O teto e outros móveis
Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
descontraído.
RA: Fazemos algumas coisas no comercial, mas nossa maior atuação são os projetos residenciais. O residencial
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PROJETO
de madeira complementam o ambiente elegante e
Fotos: Henrique Queiroga
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional? RQ: Não existe um foco específico. Trabalho mais na área residencial do que comercial, mas tenho uma demanda grande de escritórios, por exemplo. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
RQ: Sou à favor da parceria. Se eu for fazer um trabalho de arquitetura e o cliente não tiver um arquiteto, por exemplo, normalmente ele me pede para escolher. Eu já trabalhei com vários arquitetos renomados como Luis Carlos Viotti, Fernando Graça, Paulo Roberto Meireles, Luiz Felipe Mindello, Geraldo Oliveira, Renata Guimarães, que inclusive é da minha equipe, e também com Perides Foto: arquivo pessoal / divulgação
Silva e Sandra Botrel, ambos da empresa Protherm. Ele
GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Rute Quinan
por: Pâmilla Vilas Boas
atua em sua área de competência e eu na minha área e a gente trabalha juntos. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? RQ: São muitas escolas e, muitas vezes, a formação é debilitada. O profissional forma, aprende 3D, monta um home office e começa a trabalhar. Nada contra, mas o profissional não tem custo fixo e têm pessoas cobrando muito barato, não necessariamente com qualidade. Muitos clientes só enxergam quando dá problema. Acho que o mercado de hoje e, principalmente em Minas Gerais, piorou de uns 10 anos para cá. A tecnologia ajuda, mas ela também pode prejudicar o
Rute Quinan sempre teve interesse por arquitetura, mas
relacionamento do profissional com o cliente. Considero
não imaginava que iria gostar tanto da área de interiores.
fundamental, para o desenvolvimento do projeto, ter
Ela se formou em arquitetura de interiores em 1986, na
contato presencial com os clientes.
UEMG (BH/MG) , numa época em que não existiam tantas especializações como hoje. Sua inserção no mercado foi em lojas e, logo quando abriu seu escritório, começou a atuar diretamente em projetos de grande porte que envolviam obra, com uma equipe muito diversa. E, Rute tem uma cliente desde 1988, que topou desbravar o mercado junto com ela. “Então, já comecei com esses desafios, contratando empreiteiro e executando na cara
Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? RQ: Com certeza. A turma antiga tem uma experiência muito grande porque sempre tivemos muitos projetos com clientes variados. Essa experiência te ensina a lidar e administrar, por que cada cliente é sempre muito diferente do outro. A grande diferença do cliente mais
e na coragem”, revela.
velho para o mais novo é a paciência e a tolerância.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
muito rápido. Tem muita informação, o acesso a internet
assistente para anotar as demandas mais detalhadamente.
prejudicada.
Rute Quinan: Depois que o cliente contrata, vou com a
Eu percebo que os clientes mais novos querem tudo tem interferido muito no projeto e a parte criativa ficou
À medida que vou rascunhando à mão, vamos passando para o computador para ver a ideia mais evoluída no 3D, sem renderizar para poder ir modificando. Como essa assistente está comigo há mais de 10 anos, temos uma sintonia muito grande. A etapa criativa é inicialmente à mão e depois vamos fazendo a volumetria para perceber um pouco melhor. Já tive escritório com setor de criação, setor de especificação, de pesquisa em loja e setor de projeto, quando tudo era feito à mão. Hoje em dia, não precisa, se aumentar a demanda você terceiriza. Prefiro um escritório mais enxuto.
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PROJETO O projeto ao lado se refere à reforma do apartamento de um jovem casal que adora receber pessoas. A proposta foi integrar os espaços de forma funcional, priorizando o estilo contemporâneo, sem abrir mão de elementos clássicos e atemporais. Fotos: Rica Guimarães
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dão um pouco mais de liberdade de criação. Você está lidando com um cliente, mas as necessidades são das várias pessoas que vão usufruir daquele espaço. Diferente do residencial, que você atende a um ou dois clientes juntos e faz um trabalho mais específico. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
YP: A parte de design de interiores eu faço como arquiteto, porém design de produto e design visual só Foto: arquivo pessoal / divulgação
com parceria mesmo. Mas acho que deveria acontecer mais essa interação entre as duas áreas. Nos projetos comerciais e institucionais ocorre bastante, porém nos residenciais o mercado nem sempre absorve o custo. Gosto bastante quando trabalho com designers. Quando acontece, o resultado é sempre surpreendente. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? YP: Avalio que o mercado ainda tem muito o que crescer. GERAÇÃO X | 1961 à 1980
Hoje, se 20% da população têm acesso à arquitetura e ao
Yuri Pivari
design é muito. Mas acho que os espaços que ocorrem
por: Ana Cláudia Ulhôa
atendimento, então se você prezar por isso, sempre vai
Dos seus 39 anos de vida, pelo menos treze já foram
acredito que tem espaço para todo mundo e a gente
dedicados ao design de interiores. Yuri Pivari Guedes formou-se em Arquitetura no ano de 2006 pelo Instituto Metodista Izabela Hendrix, em Belo HorizonteH/MG e, desde então, acumula diversas experiências na área. Seu primeiro emprego surgiu da oportunidade de trabalhar com uma ex-professora que confiou em suas habilidades. Alguns anos depois, Yuri também ganhou a confiança de um empresário, que o convidou para coordenar o setor de projetos da companhia dele. Até que o profissional decidiu usar seu talento para captar seus próprios clientes. Como home office, ele passou a buscar projetos nos setores residencial, comercial e institucional. Segundo Yuri, seus
no mercado são frutos de um bom trabalho e um bom ter mercado. Não preciso ser desleal, abaixar preço. Eu que tem que ser correto com todos. Ser profissional é o mais importante. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? YP: O processo de criação é muito particular e não
implica no fator idade. Cada um desenvolve seu projeto conforme se sente melhor. Tem gente que cria à mão, no computador ou lendo. Com relação ao cliente, também acredito que vai de acordo com a personalidade de cada um.
maiores prazeres são encarar os desafios propostos, ver o projeto ganhando forma e obter a satisfação do cliente. PROJETO
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Yuri Pivari: Meu processo parte de um programa de
O projeto ao lado foi realizado em 2018 e consiste
necessidades do cliente. Eu sento com ele para detalhar
em uma academia localizada na Savassi, em
todas as demandas e trabalhar especificamente em
Belo Horizonte/MG. Para que o espaço se tornasse
cima disso. Então, monto um primeiro estudo e depois
especial, o profissional optou por utilizar estratégias
defino acessibilidade, fluxograma, layout. A partir daí,
sensoriais, como iluminação pontual para aparelhos
o desenvolvimento dos elementos ocorre por meio de
de musculação, projeções de imagens para o
desenhos. Mas o processo varia bastante.
spinning e LEDs coloridos para o treinamento
Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
YP: Busco as áreas residencial, comercial e institucional. Mas gosto muito do comercial e institucional, porque
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funcional. Foto Spinning: Eugenio Savio Foto Musculação: Yuri Pivari
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Nascidos entre:
1981 e 1990
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Uma geração em busca de independência e novas oportunidades. A geração Y ou millennial, composta por pessoas que nasceram entre 1981 e 1990, cresceu acompanhando o desenvolvimento de ferramentas da internet e novos aplicativos. É considerada multitarefa, engajada em causas sociais e ambientais, são trabalhadores ambiciosos que sonham empreender e trabalhar em empresas de tecnologia. Apesar disso, viveram um amadurecimento tardio e, em muitos casos, ainda dependem de apoio financeiro. A partir das entrevistas foi possível perceber que essa geração de designers e arquitetos deseja empreender, incentiva novas ideias e busca aliar tecnologias de ponta no ambiente de trabalho. Chama a atenção a preocupação com novas metodologias de projeto que traduzam os desafios contemporâneos numa comunicação mais aberta e transparente e um desapego pela ideia do designer/arquiteto autor. É possível destacar o desejo dessa geração em realizar projetos mais compartilhados e inclusivos e um interesse pelo comportamento humano.
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trabalho. Nosso projeto tem a cara do cliente. Não a nossa assinatura. Nossa identidade é não ter identidade. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
AG: Atendimento remoto de alta performance para o nicho residencial Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
AG: O arquiteto tem uma forma de enxergar muito interessante, a percepção da edificação com o espaço urbano, por exemplo. Já o designer tem a percepção da edificação em relação ao usuário. O designer tem
Foto: arquivo pessoal / divulgação
muito a ensinar, principalmente hoje. As metodologias de design são aplicadas nas maiores empresas do mundo e o mercado da arquitetura e engenharia ainda é muito tradicional nesse sentido. Essa ideia de colaboração e aprendizado com o outro precisa ocorrer. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? AG: Altamente promissor. Primeiro que a sociedade como um todo já entendeu que qualidade de vida também significa sucesso. Essa geração não está GERAÇÃO Y | 1981 à 1990
buscando mais dinheiro ou status, e sim qualidade de
AnaLu Guimarães
vida. O design e arquitetura promovem exatamente isso.
por: Pâmilla Vilas Boas
ele vai caducar igual cartório, contabilidade, imobiliária.
Só que o mercado precisa se abrir à inovação, se não, Se não se renovar, alguém vai chegar com uma solução
Inovar é o que move a designer de ambientes e artista plástica, AnaLu Guimarães, que atua há 7 anos no mercado e assina a direção executiva da Na Lupa Design. Analu trabalhou como arquiteta em Manhattan (NYC/ EUA) e teve sua percepção de negócios transformada a partir de sua entrada no mundo digital da Órbi, espaço de
de inteligência artificial e vai quebrar todo mundo. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? AG: Antigamente, o arquiteto era mais impositivo nas
decisões de projeto e acho que isso mudou. Mesmo os
conexão para startups em Belo Horizonte/MG.
profissionais mais antigos estão tendo que adequar sua
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
leigo, pesquisa, orça, é mais proativo. Ele corre atrás,
no qual não possuímos um estilo único de projeto. Essa
dinheiro. É outro comportamento que influencia na
AnaLu Guimarães: Trabalhamos com freestyle, um método metodologia surgiu na escola de Belas Artes, onde estudei
forma de trabalho porque o cliente mudou, ele não é administra a operação e quer saber para onde vai o atuação do profissional.
os movimentos artísticos e os estilos. Foi desenvolvido também a partir da experiência em Nova York com a arquiteta Bren Bauer. Na aplicação do design, segui a mesma linha. Estudei os estilos de design de interiores e construí uma metodologia na qual extrai os princípios de composição de cada estilo para criar um teste de estilos que aplico no cliente. Como vendemos online, essas informações têm que ser muito precisas. Após o teste de estilo, fazemos análise do local por fotos, plantas ou visitas. Confrontamos todas essas informações com o teste e chegamos em confirmações ou contradições que nos trazem um resultado que só pode ser feito de maneira analítica. Trabalhamos para criar uma solução, misturando
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PROJETO Esse projeto, realizado em co-autoria com a arquiteta Ana Valarinne, foi adquirido através da presença do escritório no Youtube no período em que AnaLu iniciava o atendimento à distância. Trata-se de um projeto de grande porte, o maior de sua carreira, para a Fazenda São Bento no município de Lagoa da Prata/MG, com 570 m², e que marcou a trajetória da designer pela arquitetura contemporânea e pela
todos os estilos identificados de maneira harmônica, o
confiança do cliente.
que não é simples e é o que traz todo o diferencial do
Fotos: AnaLu Guimarães
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em outro lugar nos inspira a perceber as coisas de forma diferente. Comecei a estudar o comportamento das pessoas para entender as tendências do mercado e isso me inspira também. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
APL: Eu gosto de trabalhar com projetos nos quais seja possível, de fato, transformar e tocar pessoas, seja corporativo, que estou gostando muito de fazer, ou residencial. Gosto muito de entrar no universo particular de cada pessoa. Entendo que a necessidade de cada projeto é diferente, mas nos tornamos profissionais mais completos quando transitamos por todas as áreas. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
APL: Houve um tempo de minha profissão que aparecia Foto: Caterina Uxa
muita demanda de arquitetura e eu negava por que me sentia limitada. Cheguei a cogitar cursar arquitetura, mas comecei a fazer parcerias com arquitetos que admiro. Eu amadureço o olhar dele e ele amadurece o meu e juntos evoluímos muito mais. Isso tem acontecido de forma surpreendente. Apesar de serem visões diferentes,
GERAÇÃO Y | 1981 à 1990
as duas áreas estão completamente relacionadas e,
por: Pâmilla Vilas Boas
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
Ana Paula Linces Ana Paula não se esquece da sensação de quando se deparou, pela primeira vez, com um ambiente planejado e decorado. Ela se recorda também do dia em que sua mãe chamou um marceneiro para fazer uma estante e de sua empolgação em ajudar. Seguindo sua intuição, Ana Paula se formou em Design de Ambientes pela UEMG em 2004, e, em 2010, abriu seu próprio escritório. Certo dia, ela recebeu o depoimento de um cliente expressando sua felicidade com o novo apartamento e isso a tocou profundamente. Ela, então, começou a projetar com um outro olhar, pensando em como essas transformações acontecem no espaço físico e no espaço interno de cada indivíduo. “Quanto mais indivíduos inspirados, melhor para
quando unimos essas visões, geramos algo muito potente.
APL: Percebo que os arquitetos estão trabalhando
mais com restauração e transformação de espaços existentes e eles têm capacidade para atuar no interior dos espaços também. Acho que tem demanda para todo mundo se cada um respeitar suas limitações. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? APL: Peguei essa transição, vim de um processo de
projetar à mão, quando perdíamos muitas horas na questão técnica e, no último ano da faculdade, tive acesso ao Autocad. Era uma ferramenta de trabalho maravilhosa que economizava tempo e assim sobrava
sociedade como um todo”.
mais para pesquisar, saber o que está acontecendo
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
mais dinâmicos.
Ana Paula Linces: Ele aflora de diversas formas, não tem
no mundo e no mercado. Nos tornamos profissionais
um caminho e depende muito do momento da vida. Eu tive um despertar muito grande a partir das minhas próprias publicações nas redes sociais. A demanda do dia a dia muitas vezes nos impede de perceber o quanto estamos fazendo coisas incríveis e gerando conteúdos e também a sincronicidade de equipe e das várias fases que envolvem a realização de um projeto. As publicações dos fornecedores, revistas, não apenas redes sociais,
O projeto ao lado se refere a reforma de uma cozinha para um casal jovem com estilo bem marcante, arrojado e com um olhar expandido para o design. A transformação do espaço refletiu a personalidade e o desejo dos clientes e o maior desafio foi conciliar
são minha maior fonte de inspiração. A segunda são as
as muitas cores num equilíbrio estético e funcional.
viagens. Tento visitar monumentos arquitetônicos e mostras
Fotos: Henrique Queiroga
de design e isso também aflora muito a criatividade. Estar
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PROJETO
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional? GJR:
Reformas
residenciais
e
projetos
comerciais.
Pontualmente, fazemos projetos de cenografia. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
GJR: O design está em tudo, em várias escalas e não tem uma linha divisória muito clara entre eles. Acredito que o design nos influencia o tempo todo, seja nas roupas, como a gente se mostra como pessoa e também no espaço que habitamos. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? GJR: Está menos restrito e elitista. Acho que isso mudou Foto: Fernanda Chagas
muito o perfil das pessoas que têm acesso aos serviços de arquitetura, por exemplo. Hoje, quem contrata esses serviços tem faixas de renda e idades das mais variadas. As pessoas têm dado mais valor à história e produção do que estão consumindo, seja arquitetura ou um produto de design. Elas têm valorizado saber quem produz, os ideais dessa produção, como são feitos, os materiais utilizados. Tem crescido uma responsabilidade ética e GERAÇÃO Y | 1981 à 1990
uma valorização da produção e dos profissionais locais.
por: Pâmilla Vilas Boas
Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
Gabriel Jota Resende
Gabriel Jota se formou em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG (BH/MG) em 2013 e integra o escritório Dobra Arquitetura, juntamente com a sócia, Fernanda Chagas. O que mudou suas perspectivas de trabalho foi o encontro com o método do arquiteto argentino Rodolfo Livingston, que fazia projetos para classes mais baixas pautado pela participação dos usuários no espaço e nas decisões. “Não consigo pensar os espaços e nem fazer arquitetura se não for de forma coletiva”, ressalta.
GJR: A começar pelos instrumentos de projeto. Minha tia
desenhando a mão o resultado é um, se ela estivesse usando o SketchUp ou Autocad seria diferente. Ao mesmo tempo que a ferramenta oferece muitas coisas, ela limita e direciona. As gerações também têm influências diferentes e lidam com a tecnologia de forma diferente. A ideia do arquiteto autor ou da autoria como uma coisa artística está sendo desmistificada. Nosso escritório tem uma postura mais maleável e menos apegada ao projeto.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Gabriel Jota Resende: Adaptamos o método do arquiteto Rodolfo Livingston para o que acreditamos funcionar melhor no Brasil contemporâneo. O processo acabou se tornando bem nosso. Fazemos um estudo do layout inicial e, ao invés de apresentar uma planta, que é o mais comum, fazemos três opções com os prós e contras de cada uma. Costumamos sair dessa reunião com uma quarta opção feita com o cliente, uma mistura que é muito a cara dele. Fazemos uma troca de referências estéticas para entendêlo bem e partimos para o modelo 3D. Buscamos apresentar um projeto aberto sem renderizar muitas imagens para a pessoa sentir que ainda tem espaço para intervenção. Abrimos o SketchUp com o cliente e testamos as ideias na hora e vamos construindo. Nosso escritório não tem um estilo próprio, ele é resultado de cada processo.
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PROJETO O projeto ao lado se refere a reforma do apartamento de Natália, Matias e suas quatro filhas. Foi um processo marcante que contou com a imersão da família e cada detalhe foi pensado em conjunto. Foi criada uma parede de escalada no lugar da sala de jantar num espaço livre e aberto. Para Matias, o projeto transformou um espaço intocável pelas crianças por um espaço memorável. O espaço traz elementos em estilo industrial, como a estante de vergalhão ou a bancada de concreto, com outros mais retrôs, como os armários verdes da cozinha ou a cristaleira da sala. A combinação de tudo resultou em um apartamento que é a cara da família. Fotos: Dentro Fotografia
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional? LV: Arquitetura de interiores residencial e comercial.
Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
LV: O design está presente em tudo. Arquitetura não existe sem design e um complementa o outro. Todo tipo de design, do produto até moda, tem ligação com a arquitetura. Uma marca, como por exemplo uma grife de roupas, têm que ter a preocupação na contratação de um projeto de arquitetura, para que o espaço físico transmita a identidade da marca. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
LV: Percebemos aqui no escritório que as pessoas têm
Foto: Laura Botelho
procurado mais o arquiteto, não só para reformas
GERAÇÃO Y | 1981 à 1990
Luana Vaz
(DO ESCRITÓRIO AMIS ARQUITETURA & DESIGN) por: Pâmilla Vilas Boas
maiores, como um apartamento inteiro, mas também para demandas menores, como o desenho de um móvel ou uma consultoria dos ambientes. Hoje em dia, as pessoas têm buscado mais conforto, praticidade e aconchego, ambientes esteticamente harmônicos e com sua personalidade, independentemente de ser imóvel próprio ou alugado. Com isso, nossa profissão tem sido mais valorizada e procurada. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
LV: A formação do profissional, como começou a carreira, tudo isso influencia no jeito de projetar. Aqui
Em 2013, Isabela Gabarra e Luana Vaz criaram a Amis
no escritório seguimos uma metodologia ao projetar e
Arquitetura & Design. Respeitando o perfil de cada cliente,
temos a preocupação em colocar um pouco de nossa
sem perder a identidade do escritório, o objetivo das
identidade em cada projeto, adaptando a cada tipo de
arquitetas é chegar em um resultado final que materialize
perfil e demanda do cliente. Um cliente mais jovem pode
sonhos e expectativas. Luana se formou em Arquitetura e
estar mais aberto a mudanças, a novas tecnologias.
Urbanismo pela FUMEC em 2010 e fez pós-graduação no
Como iniciamos nossa carreira já com todo acesso e
IETEC em Gestão de projetos. Umas das experiências mais
facilidade as informações que temos hoje pela internet,
marcantes de sua carreira foi a decisão, após três anos
buscamos sempre nos atualizar e utilizar em nossos
de formada e trabalhando em um escritório de grande
projetos novos materiais, novas tecnologias, sempre
porte em Belo Horizonte, de abrir o próprio escritório com
focadas em atender as expectativas do cliente. Outra
a amiga Isabela. “Foi ali que decidi que queria trabalhar
grande diferença no jeito de projetar é que indicamos
com interiores e como seria a minha carreira”, revela.
para o cliente a compra de produtos em lojas online,
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
sobretudo do que não encontramos no mercado local.
Luana Vaz: Realizamos todo o processo criativo juntas. Ele PROJETO
começa com um briefing bem detalhado com o cliente, no qual abordamos desde as preferências estéticas até a rotina, hobbies e estilo de vida. Depois coletamos imagens de referência. A partir disso, começamos a parte criativa no escritório. Nossa inspiração vem de viagens, mostras, lugares que frequentamos, Instagram de escritórios que admiramos, pinterest, tudo o que é arquitetura de interiores e que está de acordo com o nosso gosto e perfil, nos interessa muito e a nossa pasta de referências é muito completa.
O projeto ao lado se refere a uma cobertura compacta no Vila da Serra, em Nova Lima/MG para um jovem casal. Com o objetivo de manter a claridade natural presente no imóvel e trazer aconchego, foram utilizados materiais claros e naturais, como a madeira Carvalho e o couro do sofá. A personalidade ficou por conta da cor azul em destaque na marcenaria. Fotos: Henrique Queiroga
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para um casal recém-casado, e daqui oito anos ele se mudam e nos contratam para fazer um apartamento de 220m², por exemplo. Focamos na fidelização do cliente, por meio do nosso trabalho e na forma de nos relacionarmos com ele. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
MS: Minha formação dupla em arquitetura com especialização em design de interiores é essencial para ter uma visão integral do processo. Meu trabalho é
completo,
como
exemplo,
fazemos
desde
o
projeto luminotécnico, plantas e vistas com todas as especificações e detalhamentos, até a montagem final dos ambientes, colocando o último arranjo de flor no local ideal. Temos uma visão global, alinhando estética
Foto: Jomar Bragança
à funcionalidade e necessidade do cliente.
GERAÇÃO Y | 1981 à 1990
Manuela Senna por: Pedro Parisi A dupla formação faz toda a diferença para Manuela Senna, que se graduou em arquitetura há 15 anos e é especialista em design de interiores pelo Instituto Isabela Hendrix. O olhar completo permite uma visão global dos projetos e, consequentemente, melhores soluções. Manuela classifica seu trabalho como um equilíbrio entre o clássico e o contemporâneo: “Meus clientes conhecem meu trabalho e sabem como funciona. Nosso atendimento é muito personalizado e, como acompanhamos as obras
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? MS: Percebo que nosso mercado ainda tem muito a evoluir. Acredito, infelizmente, que alguns profissionais ainda lidam com a nossa profissão de uma maneira amadora, não cobrando honorários justos. Uma vez que nós somos uma empresa em um espaço comercial, devidamente estruturado, com funcionários e um compromisso muito sério com os desenvolvimentos de cada projeto, isso gera um custo. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? MS: Projetar para cada geração tem suas vantagens
e desvantagens. As gerações mais novas são mais antenadas e conectadas com as tendências nacionais e internacionais, sendo assim são pessoas mais abertas a ideias inovadoras no projeto. Já o público de mais idade valoriza outras questões, como qualidade nos produtos.
de perto, conseguimos deixá-los muito satisfeitos”. PROJETO
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Manuela Senna: Nosso primeiro passo é a medição do local a ser projetado. Em seguida, realizamos uma reunião com os clientes para entender a demanda e as necessidades de cada ambiente. Com a planta e o escopo do projeto em mãos, começamos a criação - parte no computador e, especialmente detalhes de marcenaria e iluminação, desenvolvo a mão. Depois, passo para minha equipe criar as imagens em 3D, que entregamos sempre renderizadas para os clientes. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
MS: Nosso foco são os projetos de interiores, residenciais e comerciais. Uma tendência que se desenvolveu naturalmente durante o tempo aqui no escritório, é que nós acompanhamos famílias desde que começaram a se formar. Então, às vezes realizamos um projeto de 90m²
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A reforma completa no apartamento, em Belo Horizonte/MG,
deixou
o
espaço
muito
mais
funcional, acolhedor e elegante para a família. A sala se transformou em um grande ambiente de convivência com detalhes impactantes, como o movimento da escada que integra a lareira e o revestimento em pedra na parede de pé direito duplo, que merecem ser destacados.
O espaço
externo integra o deck à área gourmet, formando um ambiente convidativo e ideal para receber pessoas. Para o casal que gosta de cozinhar, o espaço de churrasqueira é funcional e agregador. O uso da madeira e tons pasteis mais neutros, já é conhecido no trabalho de Manuela, e não deixou de ser um componente importante nesse projeto. Fotos: Jomar Bragança
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encontrei, e trabalhar para ajudar a educar o mercado abrindo os olhos dos nossos clientes para o consumo do design de forma mais consciente. Também quero começar a atuar de forma mais presente na produção de design de produto e artesanato, que é uma vontade que sempre tive. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
RC: São áreas indissociáveis. Não consigo imaginar a arquitetura sem o design de interiores e o design de interiores sem o design de produtos. Talvez a diferença esteja só na escala. Até do ponto de vista de criação é difícil você dissociar uma coisa da outra, às vezes é uma parede, que vira um painel de TV, que vira lareira. Para
Foto: Markfotografia
mim, é tudo uma coisa só.
GERAÇÃO Y | 1981 à 1990
Rodrigo Castro por: Ana Cláudia Ulhôa
Desde a infância Rodrigo Castro já demonstrava aptidão pelas áreas de arquitetura e design ao eleger o Lego e o jogo The Sims como suas brincadeiras favoritas. Ao chegar
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? RC: O momento é realmente de crise, é possível sim sentir
isso. Mas em relação a tendência, tenho visto uma certa preocupação do mercado em desenvolver os trabalhos de forma mais humanizada. No meio dessa loucura que é a globalização, tenho visto um movimento para aproximar mais da história, da cultura. Acho que a gente está em uma época de transição onde talvez o industrializado esteja perdendo cada vez mais valor e estamos dando mais atenção ao trabalho feito à mão, à questão artística, ao conceito. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
no vestibular, ele optou, primeiramente, por Arquitetura,
RC: Acredito que, para ambas as perguntas, é mais ou
que concluiu em 2016, no Izabel Hendrix. Não satisfeito
menos um pouco dos dois. Existe sim uma diferença
com o conhecimento acumulado, ingressou logo em
por conta da faixa etária. Os costumes, a relação com
seguida no curso de Design de Interiores, também no
a tecnologia e com o espaço são diferentes. Mas, no
Izabela. Desde que concluiu sua primeira graduação,
geral, acho que todos estão caminhando no mesmo
Rodrigo atua realizando projetos de design de interiores
sentido. Em relação à forma de projetar, acredito que
residenciais, comerciais e institucionais em parceria com
existe sim uma diferença, principalmente por conta
o amigo, Rodrigo Maakaroun. Ele acredita que o trabalho
da tecnologia. Porém, é praticamente impossível fugir
que realiza é uma forma de se expressar e de representar a
disso hoje em dia. O próprio mercado já cobra uma
pessoa que o contrata.
apresentação em 3D e uma planta humanizada.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Rodrigo Castro: Não existe uma regra muito rígida. Mas, normalmente, fazemos um briefing bem detalhado para entender todas as necessidades, limitações, expectativas e objetos nos quais existem afeto. Com base nisso, criamos um conceito para o projeto e começamos a desenvolver o brainstorm. Depois, convergimos e traduzimos aquilo em layout. Em seguida, começamos a croquizar e
O projeto ao lado foi realizado em 2017 por Rodrigo Castro e Rodrigo Maakaroun. Ele consiste em um apartamento no bairro Buritis, em Belo Horizonte/ MG. O objetivo era transformar o local em um refúgio para os proprietários. Alguns cômodos foram
desenvolver o 3D.
remodelados, o revestimento trocado e peças
Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
ao espaço.
RC: Meu foco hoje é me especializar cada vez mais na área de design de interiores, que é onde realmente me
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PROJETO
acrescentadas para dar um ar calmo e acolhedor Fotos: Henrique Queiroga
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gostaríamos de poder fazer coisas maiores também. Temos buscado nos manter firmes no mercado, poder crescer como profissional e ter o escritório reconhecido. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? VP: A arquitetura e o design estão juntos o tempo
inteiro. Hoje, temos muitos arquitetos trabalhando com designers de interiores, de produtos, de móveis. Em nosso caso, está na hora de criar esses projetos de interiores, de especificar uma peça legal, um móvel que seja Foto: arquivo pessoal / divulgação
interessante. Tem essa parte também, não de criar, mas
GERAÇÃO Y | 1981 à 1990
Victória Perdigão
de especificar. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
VP: Eu acho que a geração dos baby boomers ainda é a que o mercado mais valoriza, então é um pouco difícil para quem está chegando, porque eles estão aí há muito tempo, construíram o patrimônio deles e são bons de serviço. Se você for olhar, agora que as pessoas que têm 20 ou 15 anos de mercado estão começando a aparecer, e ainda tem a minha geração e a mais nova. Então, nós temos é que continuar a trabalhar, estamos
por: Ana Cláudia Ulhôa
aí batalhando.
Admiradora do campo artístico, Victória Perdigão optou
Ri: Você acredita que gerações diferentes projetam e precisam de projetos diferentes?
pela arquitetura para se manter próxima dessa área. Seus primeiros trabalhos, após se formar pela UFMG, foram
VP: Em relação ao profissional, acredito que eles projetam
dedicados ao patrimônio histórico. Com o passar dos anos,
de formas diferentes sim. Acho que Belo Horizonte é
Victória se deparou com novas oportunidades. Ela atuou
muito tradicional, então imagino que existam gerações
em escritórios de arquitetura, design de interiores e trabalhou
que projetem de forma tradicional para esses clientes.
como urbanista para o governo do Estado de Minas Gerais.
E, acredito também que existam pessoas de gerações
No entanto, há quatro anos, ela decidiu abrir seu próprio
mais novas que estão tentando criar novas formas,
negócio. Junto com a amiga de faculdade, Natália Villela,
novos conceitos e talvez sair um pouco dessa ideia
fundou o Dois Quartos Arquitetura, que oferece serviços
tradicional. Já em relação ao cliente, acho que vai mais
principalmente de reforma de interiores residencial e
da personalidade da pessoa mesmo. Temos um estilo
comercial. De acordo com Victória, sua maior motivação é
mais moderno e aparecem desde clientes mais jovens
mostrar para a sociedade a importância do profissional de
aos mais velhos nos procurando para fazer coisas dentro
arquitetura para a promoção da qualidade de vida.
do nosso estilo.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Vitória Perdigão: Nós pesquisamos bastante, tanto na
PROJETO
internet quanto em revistas ou livros. Durante esse processo, já vamos fazendo o 3D, porque o que nos ajuda a criar é o 3D. Há também outra forma de trabalhar que é indo em lojas e procurando todas as novidades. Porque às vezes ficamos tão fechadas no escritório, e todo dia tem alguma coisa nova para conhecer. Então, nós combinamos essas duas formas. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
VP: Estamos focando em reformas de interiores, mas
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O projeto ao lado foi realizado em 2016 pelo escritório Dois Quartos Arquitetura. Ele consiste em uma reforma de um apartamento no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte/MG. O principal objetivo foi unir funcionalidade e estética. Para isso, a dupla optou por ampliar o espaço e utilizar materiais modernos e mais descontraídos. Fotos: Henrique Queiroga
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Nascidos entre:
1991 e 2010
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Uma geração que cresceu rodeada por dispositivos eletrônicos, como computador, smartphone e tablets. As pessoas que nasceram entre 1991 e 2010 fazem parte da chamada geração Z ou dos nativos digitais. De maneira geral, são conectadas, mas solitárias. Também são consideradas confiantes, porém preocupadas, além de mimadas e ao mesmo tempo estressadas. Vivem sob pressão do grande volume de informações e da exposição em redes sociais. A partir das entrevistas foi possível perceber que os designers e arquitetos dessa faixa etária já saem da faculdade com muita vontade de empreender e mostrar a cara no mercado. Seu principal aliado é a tecnologia. Seus projetos geralmente são criados desde o primeiro momento no computador. Eles dominam diversos programas, buscam referências no Pinterest e publicam seus trabalhos no Instagram. Também se mostram preocupados em estabelecer um diálogo com os clientes para que possam realizar projetos que realmente impactem a vida das pessoas.
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Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e
arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? BG: Vivemos dentro dos espaços, então o design é como uma moldura de nossas vidas. A arquitetura está ligada ao design porque é arte e estética, juntamente com a funcionalidade que o design também tem. Está tudo muito interligado. Em uma loja que fizemos, por exemplo, há um banquinho do lado de fora que se integra com a rua. A pessoa pode não ser cliente, mas sentou com o amigo e resolve entrar na loja. Enxergamos design e arquitetura como uma coisa só. Se a marca já tem um designer atuando, gostamos de discutir com ele a criação de uma logomarca ou embalagem. Gostamos de ver o instagram da marca para entender
Foto: Natasha Pirfo
como o designer pensou aquela identidade, para que
GERAÇÃO Z | 1991 à 2010
possamos também inserir no espaço. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? BG: Nosso escritório tem dois anos e meio e o que
tenho percebido é que o mercado de arquitetura tem profissionais bem consolidados, bem mais velhos e
Bruna Gribel
isso criou um buraco. Agora, está entrando uma safra
por: Pâmilla Vilas Boas
procurando. Temos sentido uma abertura do mercado.
As arquitetas Bruna Gribel e Sarah Barreto criaram o Estúdio
gente com receio de profissional novo, mas nossos
(DO ESTÚDIO BASE)
Base a partir de diversas experiências em escritórios de Arquitetura e Interiores no Brasil e nos EUA. Para Bruna, que se formou em arquitetura e urbanismo pela PUC Minas em 2016, design e arquitetura moldam a vida das pessoas. “Sempre estamos dentro de algum espaço ou edifício, então nossa missão é deixar a vida das pessoas mais
nova que está fazendo um trabalho muito bom. Por isso, estamos sendo bem vistos e as pessoas estão nos Já fizemos Casa Cor, por exemplo. Ainda tem muita clientes são novos e se identificam com o trabalho dos profissionais jovens. Vejo que está mais aberto para nós. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? BG: Eu acredito que sim. Primeiro porque utilizamos, em
funcional, bonita e agradável”.
nosso dia a dia, todas as tecnologias ao nosso dispor
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
fontes. Alguns profissionais de outras gerações ainda fazem
Bruna Grivel: Primeiro, vamos ao local e conhecemos o espaço. Nessa primeira visita gostamos de estar com o
e buscamos mais referências nas redes sociais e outras muita coisa à mão. Também fazemos croquis e esboços, mas gostamos de contar com o auxílio da tecnologia.
cliente. Depois que fechamos a proposta, o chamamos para uma segunda conversa em nosso escritório, quando construímos um briefing detalhado. Mostramos algumas referências, projetos que já fizemos para entender o que ele gosta ou não. A partir disso, discutimos o layout e fazemos algumas propostas. Desenvolvemos o 3D, fechamos as
O projeto para a Cali Store seguiu a identidade visual, industrial e urbana, que é um dos pontos
cores, acabamentos e o projeto vai deslanchando.
fortes da marca. As arquitetas optaram pela
Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
cimento queimado e os tijolinhos naturais e, ao
BG: Atualmente, trabalhamos também com residencial,
estética de materiais puros e brutalistas, como o mesmo tempo, a identidade das cores em pontos
mas estamos nos descobrindo mais na parte comercial.
específicos e mutáveis. O projeto foi um sucesso e
Gostamos de pensar em como fazer a marca se posicionar e
resultou em um aumento de vendas.
também ser um espaço que as pessoas se sintam bem - não
Fotos: Cali Store | Ivan Araújo
meramente bonito, mas que possa cumprir toda uma história.
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PROJETO
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional? CS: O design, criação de mobiliário.
Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
CS: Mesmo o foco sendo o mobiliário, é muito interessante também projetar o espaço e fazer todo esse processo de incluir o mobiliário dentro do espaço. É preciso fazer o máximo para unir mobiliário e ambiente. Vejo que o mercado brasileiro vem crescendo aos poucos e, no último Salão do Móvel 2019, por exemplo, o número de peças assinadas por designers brasileiros cresceu muito. Unir design e arquitetura é importante e, hoje precisamos saber conciliar os estilos e entender que um sempre complementa o outro.
Foto: Daniel Mansur
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
GERAÇÃO Z | 1991 à 2010
Cynthia Silva
por: Pâmilla Vilas Boas Cynthia Silva se formou em arquitetura e urbanismo, em 2016, pela UniBH e, em 2017, fez pós-graduação em Design de Interiores no Instituto Marangoni, em Milão/ IT. A experiência na Itália abriu sua visão sobre design e interiores, e foi o momento em que teve certeza da área que queria seguir. Lá, ela viveu intensamente o design e, sobretudo, o design de mobiliário que hoje é seu foco de
CS: No Brasil existem grandes profissionais na área do
design e arquitetura que estão vindo nessa fila dos arquitetos renomados, como Oscar Niemeyer, que deixaram um legado. Estamos numa geração que tem tudo pra criar grandes nomes também. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? CS: Até mesmo em inspirações de estilo conseguimos perceber uma grande diferenciação, tudo o que é retrô e vintage está em alta e acho que cada geração tem carregado um pouco mais forte aquilo que vivenciou. Eu consigo enxergar bastante diferença entre cada geração
no estilo de projetar e no resultado final.
Do ponto de vista do cliente, tem a adaptação da arquitetura ao usuário. Cada projeto, e todo esse processo de criação, estão muito ligados às demandas do cliente, independente da geração.
atuação. “Visitava lojas, exposições, fábricas e o que mais me chamava a atenção era o diferencial visto no desenho das peças de design assinado”, revela. Sua motivação é dar continuidade a essa geração que pensa o design de forma integrada e que se tornou referência no Brasil.
O projeto ao lado se refere ao Quarto Origens feito
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
2018, e que abriu as portas para o mercado de Belo
vem muito do dia a dia, estar atenta a cidade, ao
inspirações vindas do interior da Itália, e do conceito
movimento, às pessoas. Hoje, minha arquitetura e meu
Casa Viva, interpretado de forma sensorial, no qual o
design se adequam às pessoas, ao invés das pessoas se
uso de elementos naturais foi trabalhado em diversos
adequarem à arquitetura ou ao espaço. Primeiramente,
detalhes do ambiente, com intuito de despertar
eu faço um briefing para entender as necessidades
referências da infância e sensações que remetem à
do cliente. Depois, vem a parte criativa e busca de
naturalidade e ascendência. O “Berço Casulo” foi
referências. Muitas vezes, o próprio cliente traz referências
inspirado na forma de um casulo, trazendo a ideia
que o representam e que ele sente que traduz o projeto. A
de proteção no qual grades convencionais foram
partir daí, começa a etapa de anteprojeto. Todo projeto
substituídas pela palhinha natural, que permite a
tem que ter a cara do cliente, apresentar um resultado
visão e ventilação do bebê.
Cynthia Silva: Toda inspiração surge a partir da vivência,
ideal para o que ele pensa, dentro de um conceito que ele vai se sentir à vontade.
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PROJETO para a primeira Casa Cor que Cynthia participou, em Horizonte/MG. O Quarto Origens nasceu a partir de
Fotos: Daniel Mansur
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aumentando aos poucos o nível dos projetos. Mas tenho muito interesse também em desenvolver as questões de digital influencer. Que é onde eu faço minhas ligações comerciais, de marcas no segmento. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
EM: Essas parcerias são fundamentais, acho que só temos a ganhar. Sempre que temos um projeto com intervenção, é feito com auxilio de uma empresa de engenharia, para fazer a parte de cálculo. E, quando há necessidade de fazer a questão arquitetônica da casa,
Foto: Daniella Alves
também tenho parceria com outros profissionais.
GERAÇÃO Z | 1991 à 2010
Eduardo Muzzi por: Pedro Parisi
Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? EM: A tendência é melhorar, mas estamos um pouco desvalorizados. Acredito que grande culpa disso vem dos próprios profissionais. Temos um número muito grande de designers de interiores atuando, mas que deixam a desejar na qualidade do projeto com relação ao custo. Então, às vezes, acabamos concorrendo com valores muito abaixo do mercado. É uma concorrência meio desleal. Mas isso vem melhorando, até mesmo por
O designer de interiores Eduardo Muzzi acumula a função
conta das redes sociais. Isso democratiza um pouco a
de administrar seu escritório e dois perfis de sucesso no
situação, porque os bons profissionais estão conseguindo
Instagram: o @design_do_dia, que leva inspiração e
chegar em lugares que talvez demorariam até 10 anos
decoração aos seus 220 mil seguidores, e o pessoal, @
pra chegar.
eduardo_muzzi, com 92 mil seguidores, onde ele publica o trabalho autoral. Eduardo também trabalha, desde 2016 com design de interiores, com foco em projetos residenciais, e abriu seu escritório no ano passado. “As redes são as nossas vitrines. Cerca de 80% dos nossos trabalhos vieram
Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
EM: Todos os clientes em que tive a oportunidade de trabalhar, incluindo os mais velhos, eram bastante
de lá”, conta.
antenados com as novidades. Então, é algo interessante,
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
das tendências contemporâneas. Mas pessoas mais
tudo que ele vai precisar e enviamos formulários digitais
ao trabalho com contato mais pessoal. E, quando é um
Eduardo Muzzi: Faço uma reunião com o cliente para brifar para complementar o que conversamos, e documentar
porque nunca trabalhei com clientes muito fora da curva jovens são mais abertas às novidades, às diferenças, cliente mais velho, eles são um pouco mais reservados.
isso. Em seguida, partimos para a criação do projeto, que é um layout básico com aquelas necessidades do cliente
PROJETO
e, em seguida, para o 3D desse projeto. Então, fazemos uma apresentação das imagens 3D para o cliente ver como vai ficar depois de executado. Após a aprovação, fazemos o projeto técnico, com tudo que vai ser realizado no espaço para enviar para os executores. Depois de executar tudo, fazemos a montagem, tanto para tirar foto para o portfólio, quanto para entregar o apartamento finalizado para o cliente. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
EM: O meu foco é aumentar o número de clientes, o meu portfolio, continuar com projetos residenciais e ir
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O objetivo da reforma realizada no apartamento no bairro Buritis, em Belo Horizonte/MG, era integrar cozinha e sala para criar um espaço de convivência no estilo contemporâneo, mas com uma pegada clássica, em homenagem à herança familiar do imóvel. Foi instalada uma churrasqueira a gás¬ integrada ao espaço gourmet, para receber amigos em um ambiente de conforto. Fotos: Osvaldo Castro
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Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
KG: Eu já trabalhava na Ø arquitetos há um pouco mais de seis anos, mas entrei agora como sócia e acho que temos que, como um escritório pequeno, buscar mais clientes e oportunidades para poder fazer nossos projetos e mostrar nosso trabalho para o mercado. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas?
KG: As duas áreas comunicam muito entre si. Costumamos criar a parte do mobiliário dos nossos projetos. Tem vez que acreditamos que a melhor seleção de mobiliário
Foto: arquivo pessoal / divulgação
para aquele espaço seria um específico que a gente fez
GERAÇÃO Z | 1991 à 2010
Katarina Grillo
por: Ana Cláudia Ulhôa
para aplicar. Na Casa Cor do ano passado, por exemplo, fizemos um armazém de produtos mineiros que podiam ser comprados e degustados no local. Criamos o mobiliário inteiro desse ambiente, mesas, estantes e balcão. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? KG: Acho que, principalmente a arquitetura, está sofrendo um pouco com o momento atual. Estamos vivendo uma crise há alguns anos e a área de construção ficou muito debilitada. Então, acredito que o mercado está um pouco aquém do que ele poderia ser. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes?
Formada em Arquitetura pela UFMG em 2018, Katarina
KG: Bom, na verdade, acho que o cliente vai variar muito
Grillo entrou há pouquíssimo tempo no mercado, o que
mais individualmente do que só pela geração. Claro que
não a impede de mostrar a que veio. Com apenas
existem coisas que marcam certas gerações e que se
25 anos, se tornou sócia do escritório Ø arquitetos,
tornam importantes para aquele grupo, mas acho que
junto com Felipe Pederneiras. Atualmente, a dupla se
a interioridade também é muito relevante. E, quanto
dedica a projetos de reforma residenciais, comerciais
às gerações de arquitetos, acredito que estudamos de
e institucionais, além da fabricação de mobiliário. Sua
formas muito diferentes. Como trabalhamos muito com
paixão pela área surgiu pelo contato com profissionais de
tecnologia, as coisas mudam muito rápido e acaba que
sua própria família. Para Katarina, a arquitetura possui um
o jeito de projetar também. Mas como todos nós estamos
enorme poder social ao transformar espaço e impactar
vivendo no mesmo contexto, acredito que se você se
positivamente a vida das pessoas.
mantém atualizado essas mudanças são minimizadas.
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Katarina Grillo: Sempre parte de conversar com o cliente e visitar o local do projeto para entender quais são as exigências e necessidades. Após isso, geralmente, pesquiso muitas referências, fico olhando imagens, projetos de outras pessoas e, a partir daí, começo a rabiscar. Durante a pesquisa, uso muito o computador, porque é uma fonte muito completa, podemos acessar o Pinterest, Instagram, revistas de arquitetura internacionais. Às vezes, desenho à mão, mas gosto de ir bem cedo para o SketchUp, que é a ferramenta que mais uso para ir testando volumetria e a divisão básica dos espaços.
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PROJETO O projeto ao lado foi realizado pelo escritório Ø arquitetos em 2018. Ele consiste em um estúdio de maquiagem localizado dentro do Grande Hotel Ronaldo Fraga, em Belo Horizonte/MG. Com 2m x 3,5m o local foi projetado para ser o mais funcional possível. Foram usados canos de cobre, nichos de MDF e iluminação em LED para proporcionar beleza, espaço e claridade ideal. Fotos: Jomar Bragança
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projeto aqui em BH, de montar um grupo de jovens empreendedoras, como nós fomos. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? LL: São coisas complementares. A arquitetura nunca
vai caminhar sozinha. Recentemente, inclusive, falamos sobre isso no Instagram. Convidamos uma designer de interiores e um engenheiro civil para conversar conosco. O que quisemos mostrar é que ninguém faz nada sem o trabalho de outras pessoas. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
LL: Eu sei que a arquitetura sofreu durante muito tempo, sobretudo os escritórios menores e profissionais autônomos, que não tinham tanta entrada no mercado. As pessoas achavam não ser necessário. Mas agora, a Foto: Bruna Ribeiro
cabeça do mundo é diferente. Então, está sendo mais
GERAÇÃO Z | 1991 à 2010
Letícia Lanza por: Pedro Parisi
“Nunca me imaginei não sendo arquiteta”. Esta foi a primeira resposta que Letícia Lanza deu à Maganizebook iDeia quando nossa equipe entrou em contato com a especialista em arquitetura de interiores para produzir a entrevista. Toda essa certeza vem da confiança no próprio instinto, que ela seguiu ao trocar o curso de Farmácia pela Arquitetura. Ela também levou a intuição aguçada para a vida profissional, e saiu de um grande escritório para abrir o próprio negócio. Hoje, segue, como ela mesma diz, cavando o próprio espaço. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Letícia Lanza: É muito difícil eu implantar um sistema que vai
fácil se inserir no mercado. Por isso também que acho que há tantos arquitetos jovens. Apesar de que, ainda está difícil por causa do momento em que o país vive. Mas acho que se cavarmos um pouquinho, acabamos achando nosso espaço. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? LL: Não tem como ser igual. Pelo momento em que cada um vive, as informações que cada um tem. Nós, que estamos entrando no mercado agora, enfrentamos esses obstáculos que talvez não existissem para outras gerações. Nesse momento, temos muitas facilidades por causa da tecnologia. Ela nos ajuda de N maneiras, tanto na hora de projetar, quanto na de entrar em contato com o cliente; quanto na questão das tecnologias construtivas, da sustentabilidade, e também pode ser uma facilidade para o cliente chegar até você. Mas acho que todo mundo tem que seguir o mesmo objetivo, que é planejar um espaço para que ele seja funcional, e que também atenda às necessidades psicológicas, físicas e emocionais das pessoas envolvidas.
ser usado para todo mundo. Mas o que repetimos sempre é essa questão da psicologia. A gente fazer o cliente se
PROJETO
abrir e entrar no íntimo da pessoa. Sem isso não consigo construir o que a pessoa precisa. Cada um vai pedir alguma coisa, e nós acreditamos que é preciso respeitar a vontade e o sonho do cliente. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
LL: Temos um sonho muito bacana que é de participar de um projeto social. Ajudar quem não tem acesso a essa nossa profissão, que é tão bonita. A gente está transferindo o escritório pra um lugar novo, e já projetamos pensando num espaço que tivesse uma sala de aula. Seria um lugar para compartilhar nosso conhecimento. Temos um
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Projetado por Letícia Lanza em parceria com a designer de interiores Ana Luísa Reis, o apartamento no bairro Buritis, em Belo Horizonte/MG, simbolizou a transição de vida dos proprietários. Com os filhos fora de casa, o casal reformou radicalmente a cozinha, de acordo com o que a casa já possuía. A sala e dois banheiros também foram reestilizados para atender às novas necessidades da casa. Fotos: Bruna Ribeiro
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Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? LR:
Quando
preciso
de
alguma
intervenção
de
arquitetura, tenho uma parceira, desde a época da faculdade e também outra parceria com um engenheiro, caso necessário. E, tenho interesse de obter um novo título em arquitetura, porque acho que estou ficando muito limitada. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade? LR: Vejo como um mercado desafiador. Temos que ser
criativos no design e no mercado para alcançar os Foto: arquivo pessoal / divulgação
clientes. Cada vez mais as pessoas vêm a necessidade de fazer um projeto, mas tem muita gente que quer fazer por si só. Por exemplo, tive uma cliente que me ligou falando que gastou dinheiro demais tentando fazer a decoração ela mesma. Então, é preciso um olhar profissional. Nesse caso, ela está há cinco meses com um banheiro cheio de coisa que ela comprou e não sabe como usar. Então, contratar um profissional pode ser uma economia de dinheiro, porque você não vai gastar sem necessidade. GERAÇÃO Z | 1991 à 2010
Luana Rizzi por: Pedro Parisi
Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? LR: Os clientes mais velhos são mais apegados ao que já têm. Eles não buscam o conforto de hoje. Eles buscam o
Luana Rizzi é formada em design pelo Instituto Federal de
conforto da estética, é claro, mas eles querem solucionar
Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) e
um problema específico. Mas ao mesmo tempo eles são
fez parte da primeira turma do curso de Design de Interiores.
mais tranquilos de trabalhar. Não é aquela pessoa que
Desde a faculdade, ela se destacava como projetista
fica ali buscando muita informação por conta própria.
em desenhos 3D e criou nome no mercado. Hoje, com
Eles deixam mais na mão do profissional.
o próprio escritório, ela é reconhecida no mercado pelo bom gosto por tendências e pelo trato com os clientes. Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
Luana Rizzi: Meu processo criativo é buscar a essência do cliente. Entendê-lo a fundo e tentar compreender o que realmente ele quer. Porque, muitas vezes, o cliente não
Os mais jovens são o oposto - pesquisam na internet antes de conversarem conosco e querem ter o controle do processo. Nosso papel é explicar tudo a eles. Mas prefiro a pessoa que confia em mim. Gosto de impressionar o cliente, no fim das contas.
sabe. Ele sente, mas não consegue colocar pra fora. Então, o trabalho é trazer aquele sentimento de quando a gente PROJETO
chega no ambiente. A gente sente algo no espaço. Então, acho que o segredo de tudo é buscar essa essência. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
LR: O meu interesse é focar na área comercial. Hoje, faço de tudo, mas mais residencial do que comercial. A área comercial precisa muito entender essa parte sentimental, porque o cliente, ao chegar ao espaço de compras ou serviços, observa o ambiente e tudo que está nele. Quando tem algo que chama a atenção, a tendência é querer voltar àquele lugar, nem que seja para mostrar para os amigos. Ou seja, não tem só valor estético, tem valor financeiro também.
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O apartamento de 44 m² é de propriedade da própria designer Luana Rizzi, que encontrou nesse projeto uma forma de descobrir a si mesma. “É fácil descobrir o estilo do outro, mas quando fui trabalhar para mim mesma, foi uma experiência de descoberta incrível”, destaca. Ela priorizou as cores e texturas da tendência, como o dourado, e se preocupou em usar o espaço compacto de forma inteligente, como no caso de um banco-baú instalado na sala. Fotos: Luana Rizzi
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muito dessa abordagem de leitura sobre o público, sobre o espaço, leituras sensoriais. No residencial é um pouco mais complicado, porque a pessoa tem que estar tentando se conhecer no processo. E isso é mais raro. Ri: Como vocês pensam as interseções entre design e arquitetura? Como você transita entre essas duas áreas? TM: A linguagem arquitetônica acaba trazendo a
linguagem do design e vice-versa, então, eles andam juntos. Mas os projetos que gosto mais são aqueles em que temos a possibilidade de destacar em cima da arquitetura. Então, se você tem uma casa muito grande, por exemplo, é mais interessante priorizar a arquitetura. E Foto: arquivo pessoal / divulgação
o design complementa aquilo que você está querendo
GERAÇÃO Z | 1991 à 2010
Thaís Mendes por: Pedro Parisi
A arquiteta Thaís Mendes reúne o conhecimento técnico, tradicional no Brasil, com o pensamento conceitual, que desenvolveu durante o período que passou estudando e trabalhando no Canadá. O resultado do trabalho feito em seu escritório é de projetos criados em parceria com os clientes, com alto grau de satisfação e de sofisticação. Thaís agora pretende se aprofundar em um tipo de arquitetura que inclui o cliente na experiência da criação
construir com a arquitetura. Ri: Como você avalia os mercados de design e arquitetura na atualidade?
TM: No comecinho, sentia que o mercado estava muito difícil. Não era tão simples encontrar pessoas que se preocupavam em agregar um valor arquitetônico à sua construção. É claro que sei que estamos passando por um momento de transição, de uma época onde a arquitetura era quase inacessível para um mundo totalmente conectado. Vejo isso como um processo de conscientização do valor arquitetônico. Inclusive, aqui no escritório, já cheguei a atender casos onde foi possível ver esse processo. Por exemplo, os filhos comprando o projeto para os pais. Porque os filhos tiveram acesso a informações que agregou novos entendimentos sobre arquitetura. Ri: Você acredita que as diferentes gerações projetam e precisam de projetos diferentes? TM: É diferente projetar para pessoas de cada geração,
e desenvolvimento do projeto.
pois possuem necessidades distintas. Eu já atendi públicos
Revista iDeia: Como é o seu processo criativo?
mais preocupadas com a participação no processo de
de diversas idades. Os mais jovens geralmente estão
Thaís Mendes: Tenho uma metodologia inicial, então
projeto, enquanto outras gerações parecem estar mais
entrego para o cliente um manual explicando como será
interessadas na inovação que este projeto vai gerar.
o processo. Mas é claro que, se sentir necessidade de mais reuniões, ou até de menos, a gente vai conversando, porque é algo muito pessoal. Mas tem que ter uma diretriz,
PROJETO
uma linha de trabalho para sabermos como vai funcionar, para esse cliente não ficar perdido. Ri: Atualmente, qual é o seu principal foco profissional?
TM: Hoje, busco clientes que têm vontade de compreender
Nova, em Belo Horizonte/MG, é a cozinha no estilo provençal. É um estilo mais rebuscado e com espaço para interação com os convidados
melhor a arquitetura. Quando o cliente vem mais aberto
enquanto se cozinha. O projeto era o sonho da
para se descobrir junto com a arquitetura, ele vem mais
vida dos proprietários, de cerca de 30 anos, que
rico, assim como a abordagem, muito mais interessante.
participaram intensamente dos processos, desde a
Tenho entrado muito no setor comercial. Hoje em dia, ele
concepção até a execução.
tem tentando mudar um pouco o modo de consumo, a forma de chegar aos clientes, então acaba precisando
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O destaque do apartamento, no bairro Cidade
Fotos: Tiago Correa
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Artigos Nesta edição do magazinebook iDeia Design, dois pesquisadores que transitam entre o design e a arquitetura nos apresentam abordagens teóricas sobre as diferenças entre as gerações baby boomers, X, Y e Z. A análise foi feita sob a ótica do consumo, da comunicação e da linguagem, de maneira que se complementam. Dessa forma, nos dão um panorama que pode abrir caminhos para muitas outras pesquisas e reflexões do papel do design frente à essas diferenças de vivências, referências e expectativas de cada perfil. Frederico Braida parte de uma tecnologia de comunicação, como objeto de estudo - a televisão, a partir da qual faz uma breve análise que nos permite perceber as diferentes características das gerações investigadas. Embora essas diferenças existam, há uma tendência à integração intergeracional, que se relaciona com processos de hibridação das linguagens, entre outros, gerando a necessidade de que determinadas posturas sejam adotadas pelo designer, a partir de alguns pensadores da área. Já Paula Quinaud faz um panorama das gerações, sustentada por pesquisadores que se focam em diferentes âmbitos das relações de consumo e movimentos econômicos. A proposta é entender os contextos de cada geração e cenários possíveis que virão, revelando macrotendências que incluem economia compartilhada, preocupações climáticas e longevidade, entre outros. Afinal, é preciso entender sobre os percursos das diferentes gerações, buscando compreender os aspectos políticos, tecnológicos, econômicos e culturais para refletir, constantemente sobre como essas histórias coletivas – e individuais - interagem com as mudanças contemporâneas, delineando cenários que exigem a atuação de profissionais conscientes de sua responsabilidade. Muitas dessas transformações constantes poderão e deverão ser orientadas pelo trabalho de designers atentos a essas constantes mudanças.
Por Marcos Maia
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Design, Linguagem e Comunicação:
dos Baby Boomers à Geração Alpha Por Frederico Braida
TV com pés e lente colorida. Fonte: http://bit.ly/2JUQD1K
Nós, seres humanos, temos uma tendência a classificar as coisas, a nomeálas! É assim que agimos, segundo o método comparativo descortinado por Michel Foucault1. Esse é um processo praticamente natural e corriqueiro, pois somos seres perceptivos e de linguagem. Vivemos agrupando os elementos, por exemplo, por semelhança, por tamanho e por proximidade. Procuramos ordenar os diferentes objetos que estão à nossa volta e encontrar uma lógica subjacente ao que, aparentemente, está desorganizado e caótico. Também estamos acostumados a ver as cenas de um vídeo separando-as em planos. Embora enxerguemos, à primeira vista, as imagens como um todo, buscamos distinguir as figuras dos fundos. Essa forma de percebermos o mundo encontra eco nas teorias da Gestalt, escola alemã de psicologia experimental, fundada no início do século XX, que se debruçou sobre a teoria da percepção, influenciando, consideravelmente, as artes e o design.
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Assim, vivemos operando entre os processos de análise e de síntese, entre pensamentos indutivos e dedutivos, buscando compreender as relações existentes entre o todo e suas partes. É por isso, também, que dividimos cronologicamente a história da humanidade. Criamos periodizações; fazemos agrupamentos temporais. Buscamos identificar características comuns entre os povos e as culturas, seus modos de produção e de organização social, e evidenciamos os fatos marcantes para separar os diferentes períodos históricos. Com esse mesmo espírito, procuramos encontrar as semelhanças entre os indivíduos nascidos em uma mesma época e as diferenças entre eles e seus genitores ou progenitores. Embora avós, pais, filhos e netos de uma mesma família possam ter um convívio próximo e serem criados dentro de um mesmo espaço geográfico, eles são marcados por temporalidades diferentes, que nos levam a afirmar que fazem parte de gerações distintas. Ainda que haja divergências entre os autores sobre as datas que definem as gerações,
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podendo variar, inclusive, de um país para outro, há praticamente um consenso sobre a existência das seguintes gerações: Baby Boomers, Geração X, Geração Y (ou Millennials), Geração Z e Geração Alpha. Ressalta-se que cada geração possui suas próprias características, porém elas são influenciadas pela geração anterior e influenciam a geração subsequente. Para a definição das gerações, dentre outros fatores, a forma como lidamos com as tecnologias de informação e comunicação tem sido extremamente relevante. De um modo geral, as várias gerações se relacionam diferentemente com essas tecnologias, conformando hábitos de consumo próprios. É por isso que, cada vez mais, sobretudo no período após a Segunda Guerra Mundial, o tema das gerações tem estado em voga no mercado de trabalho, no mundo dos negócios e do marketing, das comunicações e do design. Deve-se destacar que o acesso a diferentes linguagens e o contato com os múltiplos objetos que nos cercam influenciam a nossa
The Sero, a TV vertical. Fonte: bit.ly/2YbKPWs
Primeiros televisores coloridos. Fonte: bit.ly/2Ykhf5p
visão de mundo e o nosso comportamento. As coisas e os signos com os quais lidamos constroem os nossos repertórios, afinal, de acordo com Charles Sanders Peirce2, pensamos com signos e em signos. Mesmo sabendo haver hibridizações entre as gerações, percebem-se consideráveis diferenças entre um baby boomer e uma criança alpha (um nativo digital). Um breve olhar retrospectivo para a história do universo da televisão é suficiente para que sejam ressaltadas algumas especificidades das gerações. Dos primeiros aparelhos televisores, com os quais os baby boomers tiveram contato, às atuais smart TVs e demais dispositivos móveis (smartphones e tablets), mudaram-se não somente as tecnologias de transmissão e a qualidade das imagens, mas também os modos de interação dos indivíduos entre si e com as imagens, as formas de comunicação e de publicidade, o design dos aparelhos, o mobiliário e o layout dos espaços. No Brasil, por exemplo, os baby boomers não tiveram, na infância e adolescência, acesso aos televisores com imagens multicoloridas.
No máximo, aqueles privilegiados por ter um desses aparelhos em casa, para além das imagens em preto e branco, assistiam às imagens pigmentadas por uma espécie de lente inserida na frente da tela. As televisões daquela época – aparelhos robustos, pesados e que ocupavam consideráveis espaços – devem ser entendidas mais propriamente como um mobiliário, já que algumas possuíam pés compridos ou estavam inseridas em gabinetes de madeira, inclusive com portas. Com o passar do tempo, elas foram ganhando outros formatos, convertendo-se em eletrodomésticos portáteis, de tamanhos versáteis, cada vez menos espessas e mais leves. Os indivíduos que conformam a geração X nasceram permeados pelas imagens televisivas coloridas. Já as crianças da geração Y cresceram convivendo com os gravadores de vídeo cassete e com as fitas VHS (Video Home System) ao lado dos aparelhos televisores, ao passo que as crianças da geração Z, já inseridas dentro de uma cultura de convergência 101
A família e a TV Fonte: bit.ly/2O9AEC8
digital, manipularam os DVDs (Digital Versatile Disc). Nesse período, empresas como a Sharp e a Gradiente lançaram, respectivamente, televisores com aparelhos de videocassete e de DVD embutidos. Aqueles das gerações Y e Z também conectaram, aos seus televisores, os consoles de videogames, ampliando o uso desses aparelhos. Os da geração Z, desde pequenos, puderam experimentar a incorporação da televisão aos celulares móveis inteligentes, bem como a produção e a difusão de conteúdos via redes sociais. Como se pode constatar, os suportes das imagens televisivas se diversificaram; as telas ficaram mais alongadas, exigindo a formatação dos olhares entre dois modos de exibição: paisagem ou retrato. Em breve estará nas lojas mais
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um lançamento da Samsung: um televisor desenvolvido para os jovens da geração Y, o qual, por poder ficar na vertical, facilitará o espelhamento das telas dos smartphones. Agora, as crianças da geração Alpha (as que não são digitalmente excluídas) estão completamente arrebatadas pela linguagem hipermídia, pela comunicação ubíqua e pela mobilidade. A televisão, digital e interativa, com parte do conteúdo ressignificado pelas dinâmicas da rede mundial de computadores, está na palma das mãos e as imagens podem ser manipuladas, em telas touch screen individualizadas, com as pontas dos dedos. Os aparelhos televisores fixos, por vezes em função dos grandes formatos, os quais se assemelham a quadros pendurados nas paredes, também estão digitalmente
conectados, pois essa é a era da Internet das coisas, a era da Quarta Revolução Industrial. Verifica-se, portanto, que a história da televisão atravessa três eras culturais, conforme propostas por Lucia Santaella, a saber: era da cultura de massas, era da cultura das mídias e era da cultura digital3. É, portanto, interessante notarmos os modos como os indivíduos das diferentes gerações se relacionam com esses aparelhos, os quais sofreram, desde o seu surgimento até os dias de hoje, variações de conteúdo e de forma. No entanto, a despeito de toda essa diferenciação entre gerações, assistimos a diversos processos de hibridizações, misturas e miscigenações, coerentes com a contemporaneidade4. Não são raras as iniciativas que buscam a integração intergeracional. Dados o aumento da expectativa de vida e a aceleração das tecnologias, que fazem emergir novas
gerações em menores espaços de tempo, a cada dia que passa temos mais gerações convivendo lado a lado. Diante desse contexto complexo, de um ponto de vista das comunicações e das linguagens, os designers continuam desempenhando um papel primordial: ser in-formadores (como quer Vilém Flusser5), integrantes e intérpretes de suas culturas, agentes criadores e transformadores. Os designers devem ser observadores perspicazes e holísticos, além de estarem atentos às individualidades, sem que se perca a dimensão do todo. Afinal, tal como mencionado por Adrian Forty, “longe de ser uma atividade artística neutra e inofensiva, o design, por sua própria natureza, provoca efeitos muito mais duradouros do que os produtos efêmeros da mídia, porque pode dar formas tangíveis e permanentes às ideias sobre quem somos e como devemos nos comportar”6.
1: FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2016; 2: PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1977; 3: SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003; 4: BRAIDA, Frederico. A linguagem híbrida do design: um estudo sobre as manifestações contemporâneas. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2012. (Tese de Doutorado); 5: FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007; 6: FORTY, Adrian. Objetos de desejo: design e sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac Naify, 2007. p. 12.
Frederico Braida Arquiteto e urbanista. Especialista em Moda, Cultura de Moda e Arte. Mestre em Urbanismo. Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Design. Professor e pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e do Programa de pós-Graduação em Gestão e Avaliação da Educação Pública. Atualmente, está atuando como professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, onde realiza um pós-doutorado em Matemática.
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Linha do tempo das gerações Ilustração: Colagens / Julia Trogo
De B a Z:
perfis de consumo, design e experiência Por Paula Quinaud Os conceitos, diretrizes e escolhas projetuais aplicadas ao ofício do design e universo da indústria criativa surgem a partir da observação dos hábitos da sociedade e do mundo. O estudo das transformações de comportamento e pensamento das pessoas dentro do contexto em que se inserem, ajuda a explicar a relação entre os consumidores e o fazer design. As mudanças de paradigmas remetem a um contexto social, cultural, político, econômico e tecnológico de um tempo e espaço em que os sujeitos vivem e são criados, e estão, muitas vezes, ligadas a questões geracionais. Na história recente, se percebem claramente três gerações: a primeira, fruto de uma sociedade rígida e 104
com poucos recursos, que deu passagem para uma segunda, sortida de lutas e conquistas por liberdade, e que se desdobrou em uma terceira, quarta, com facilidades, tecnologia, acesso total e democracia. Os caminhos para o que segue daí se desenham hoje cada vez mais nebulosos. Nesse processo, o consumo se moldou à percepção vivenciada em cada situação e o design aparece em todos os momentos como instrumento para que o mercado saiba como criar experiências emocionais que impactem os consumidores. Para compreender onde se dão os impasses, há que se perceber a origem das diferenças.
Expressão e identidade, geração Z Ilustração: Colagens / Julia Trogo
Segundo Engelmann (2009) a geração Baby Boomers, nascida entre 1948 e 1963 e inserida no contexto histórico e político de pós-guerra, teve uma educação rígida, regras, disciplina, obediência e respeito. De um lado havia a sensação de liberdade pela volta da paz, do outro o receio por novos conflitos. Contexto ambíguo que gerou dois perfis de jovens: o disciplinado e o rebelde. Um aceitava as condições impostas, era responsável e entrava cedo na vida adulta. O outro encabeçava os movimentos civis, estudantis, feministas e homossexuais, lutava contra as regras sociais e por liberdade política (SANTOS et al., 2011). Em termos de consumo, disciplinados e rebeldes boomers, comprando uma coca-cola ou pensando em casamento, eram fortemente influenciados pelo aparecimento e difusão da televisão, pelo fortalecimento da publicidade e de muitas verdades inventadas no melhor estilo mad men publicitários que, nas décadas de 60, 70 e 80, ditaram o consumo em todo o mundo a partir da Madison Avenue, em Nova York/EUA.
Os Baby Boomers disciplinados são hoje adultos com mais dificuldade de adaptação às mudanças, que valorizam a estrutura familiar tradicional e que criaram filhos com o rigor que sabiam. Já a juventude libertária Baby Boomers rebelde, primeira a conquistar o direito de ser jovem, é mais aberta, se adapta às novidades e influenciou diretamente a revolucionária geração X, nascida entre 1964 e 1977 (ENGELMANN, 2009). Lutas políticas e sociais ao lado de alienação e rock’n roll; guerra fria e a queda do muro de Berlim; amor livre e o surgimento da AIDS; abertura política e experimentação cultural; inovações por todos os lados. A geração X, filha de pais separados, mães que trabalhavam fora e que teve muitas vezes por babá a televisão, não aceita fácil o limite imposto. Criativa por necessidade, identificada em grupos por pertencimento e consumista por excesso de exposição à mídia, se faz também competitiva. As pessoas da geração X são “materialistas e possuem aversão à supervisão. Desconfiam de verdades absolutas, são positivistas, autoconfiantes, cumprem objetivos e não os prazos” 105
(LOMBARDIA, 2008, p.4). Pragmáticas nas escolhas e justas nas decisões tendem ao risco quanto às novas maneiras de adquirir produtos e serviços, valorizam o design e começam a apreciar a experiência no consumo. Para Tuan (1983, p.9), “experiência é um termo que abrange as diferentes maneiras através das quais uma pessoa conhece e constrói a realidade”, sendo pautada pelos sentidos e colorida pela emoção. É aí que cabe ao designer buscar uma largueza de olhar que contemple a investigação das nuances externas - sociais e culturais - que influenciam o indivíduo, aliadas às emoções imanentes ao ser, a fim de tornar a experiência do usuário eficiente em suas mais diversas possibilidades. Nascida entre 1978 e 1994 a geração Y, também conhecida como “Millennials”, não viveu grandes rupturas sociais. Ainda. Experimentou a democracia, liberdade política, prosperidade econômica e nasceu em uma época de tecnologias, internet 106
e segurança (SANTOS et al., 2011). Fruto de novos arranjos familiares e com acesso total à internet e informações, é ansiosa, impaciente, folgada, distraída, superficial, insubordinada, tem medo da solidão e só faz o que gosta. Ambiciosa, individualista e instável, mas sensível às injustiças e preocupada com o meio ambiente e com os direitos humanos, é impactada pelo consumo globalizado, que promove conexões estéticas e comportamentais com culturas de todo o mundo, gerando uma atitude mutável, variada e plural. Esperançosa, decidida, coletiva e com um bom nível de formação, age sem pedir licença e floresce com poder ou ambição de consumo. Faz várias coisas ao mesmo tempo, gosta de variedade, desafios e oportunidades. Aceita a diversidade, convive bem com as diferenças de etnia, sexo, religião, nacionalidades e deseja unir trabalho e prazer (SANTOS et al., 2011). Os consumidores millennials são ativos, abusam das novas tecnologias digitais e agem com alto grau de interatividade
e engajamento nas mídias sociais. Gostam de soluções personalizadas e adoram co-criar. Para melhor entendê-los vale pontuar os três níveis de processamento cerebral humano, segundo Norman (2004): visceral, comportamental e reflexivo. Ao observar as demandas da geração Y é possível perceber que as suas motivações de consumo passam pela experiência estética (visceral), caminham pela experiência de uso (comportamental), mas ganham relevância na experiência de significado (reflexiva). O valor simbólico, que varia de acordo com o contexto sócio-cultural e pessoal de cada sujeito, aponta para a busca de uma experiência emocional onde o conteúdo afetivo que surge da interação entre o usuário e o objeto do desejo se faz definidor nas escolhas.
Ideais que atravessam gerações Ilustração: Colagens - Julia Trogo
A mais recente geração analisada, Z, nascida entre 1994 e 2010 junto ao surgimento da World Wide Web, navega entre diversos canais de televisão, internet, vídeo game e smartphones. Nativa digital, segundo Palfrey e Gasser (2011), com wi-fi e ultra conectada, nunca viu o mundo sem a presença de computadores ou celulares. Sabe transitar facilmente entre o digital e o físico, e é intolerante aos problemas técnicos da tecnologia. Não acredita na ideia de exercer apenas uma função por toda vida e com menos relações sociais e uma ansiedade extrema, possui responsabilidade social, desapego de fronteiras geográficas e necessidade de expor a opinião (TAPSCOTT, 2010). É tolerante, aberta à igualdade de gênero e menos apegada aos papéis binários. Em termos de consumo suas transações não envolvem dinheiro vivo, preterido por formas digitais. Mudança que impulsiona os serviços de entrega, fabricantes de eletrônicos e a economia de compartilhamento (serviços como Airbnb e Uber). Compras por canais digitais e redes sociais como Youtube, Instagram ou Snapshat são regras e o que vale é a velocidade da programação e a exigência constante de novidades. Feedback é diversão, fidelização coisa difícil e tudo está ligado à imagens e vídeos. Cabe ao design se atentar a um novo modelo de consumo que entende a importância de usar o bem como serviço. A experiência é mais relevante que possuir e a aquisição só do que for útil de verdade. O que virá não se sabe ao certo, mas por estarem passando por sua primeira grande recessão, as gerações Y e Z, definidoras atuais das formas de consumo, demonstram um sentimento de insatisfação e insegurança quanto à realidade e ao futuro econômico e político. De um modo geral alguns padrões ditados por essas duas gerações, vão permear o 107
mercado consumidor e exigir do design a criação de produtos, espaços e serviços com experiências agregadas, capazes de adicionar valor real à vida do consumidor - e que também possam ser compartilhados em redes sociais. É cada vez maior a influência do número de curtidas que algo recebe, visto como forma de aprovação de amigos e família. Com uma equipe de especialistas em diferentes países, o WGSN, um portal britânico de trendhunting, traça paralelos comportamentais e sabe o que as pessoas vão querer nos próximos um, dois, cinco anos. É daí que se revelam as macrotendências, que nada mais são que as práticas cotidianas que vão influenciar a forma de consumir. Para o portal, em 2017 o foco era o “cobre-se menos e se permita mais”; para 2018, foi percebido o desejo de apertar o botão reiniciar e um retorno aos elementos naturais. Em 2019, aparece a “desglobalização”, no qual muitas pessoas buscam o consumo em comunidades locais. Já 2020 será o ano em que os negócios
verão um crescimento comercial alinhado com a economia social. Será o auge das novas maiorias, sejam elas étnicas, raciais ou religiosas. A partir de 2020, a WGSN apresenta um consumidor ultradinâmico, identificado por seis tendências: a revolução das compras pelos dispositivos móveis, a importância dos sentimentos, a economia da confiança, as preocupações climáticas, a geração longeva e o fim da posse. Nesse cenário, a economia compartilhada ganha força, assim como o processo da descoberta, no qual os consumidores estarão ainda mais abertos a experimentarem, deixando de gastar em coisas para investir em vivências. Ao design compete adotar uma ação também prospectiva e investigativa, com uma visão alargada e criativa sobre as gerações, coletar insights de forma correta na criação de estratégias que visem a aproximar o consumidor, materializar as experiências em produtos, espaços ou serviços que favoreçam a criação de memórias e afetos. Não é mais questão ter, é caso de viver.
Referências ENGELMANN, Deise C. O Futuro da Gestão de Pessoas: como lidaremos com a geração Y?. 2009. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Mudanca/ Artigo/4696/o-futuro-da-gestao-de-pessoas-como-lidaremos-com-a-geracao-y.htmlr> Acesso em fevereiro de 2019. LOMBARDIA, Pilar García. Quem é a geração Y? HSM Management, n.70, p.1-7. set./ out. 2008. NORMAN, D. A.. Design emocional: porque adoramos (ou detestamos) os objetos do dia-a-dia. São Paulo: Rocco, 2008. 278 p. Tradução de: Ana Deiro. PALFREY, John e GASSER, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração de nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011. SANTOS, C.F.; ARIENTE, M.; DINIZ, M.V.C.; DOVIGO, A.A. O processo evolutivo entre as gerações x, y e baby boomers. In: Se me Ad Seminários em Administração, 14, 2011. TAPSCOTT, Don. A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. Rio de Janeiro: Agir Negócios, 2010. TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983. Tradução: Lívia de Oliveira. WGSN – Previsão de tendências. Disponível em: <https://www.wgsn.com/pt/> Acesso em fevereiro de 2019.
Paula Quinaud Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local - Centro Universitário UNA. Especialista em Arquitetura Contemporânea e Cinema - Cenografia - PUC Minas. Designer de Ambientes e Designer de Produtos - Escola de Design UEMG. Sócia em escritório de design e arquitetura e professora da Escola de Design UEMG. Escritora e Poeta.
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