número 11 ano 24 usjt outubro/2017
Jornalismo Universitário levado a sério
Laços de afeto Recomeço. No Brasil , mais de 7 mil crianças aguardam uma família Especial - pág. 4 e 5
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Adoção: expectativas, esperança e muito afeto Os números por si só já nos colocam diante de uma questão complexa. São pouco mais de 7mil crianças em situação de adoção no Brasil. E são quase 49mil pessoas interessadas em adotar. A solução está dada, não é? Não! A grande questão é que o perfil dessas crianças que estão abrigadas, não corresponde àquela desejada pelos futuros pais. Exigências sobre faixa etária, etnia e saúde dão o tom do problema. Por exemplo, de acordo com o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) 80% dos futuros pais desejam uma criança com menos de 3 anos. Esta é a realidade de apenas 7% dos meninos e meninas em situação de adoção. A reportagem Especial do Expressão foi investigar os detalhes dos processos de adoção no Brasil. Como é a legislação, as exigências, o passo a passo. Procuramos conhecer também histórias de afeto e acolhimento. Ouvimos relatos de pessoas que foram adotadas; pais e mães que se abriram para viver os desafios que essa experiência traz. O nosso jornal laboratório ainda tem muitas outras reportagens de destaque. Na página de Educação, por exemplo, falamos sobre a preferência do brasileiro por fazer intercâmbio no Canadá. Os principais motivos para esta condição são: câmbio; segurança; boas perspectivas de trabalho, entre outros. Já em Vida Digital, abordamos a diferença entre o hacker e o cracker. Comumente confundidos como termos similares, eles agem de forma bem distinta no mundo virtual. Na página de Artes, destacamos as reflexões que o grafite provoca por meio da obra de Todyone, um artista que usa o spray para falar da crise política, do racismo e tantos outros temas no bairro de Guaianazes. E, na última página, Esportes+Lazer, o jornal fala sobre artes marciais para mulheres. Diante da insegurança, da violência e do assédio, é cada vez maior o número de mulheres que procuram academias especializadas na área para treinar. Desejamos uma ótima leitura!!!
Casa Loma
Profa Iêda Santos e Profa Jaqueline Lemos
Museu em Toronto, no Canadá, conhecido por ter sido um dos cenários do filme X-Men Caio Barboza - aluno do 4o ano de Jornalismo - Campus Mooca
Mário Luiz Tompson: pelas lentes do Brasil, da música e da gente Mayara Nunes | nunez.mayara@gmail.com
Mário Luiz Tompson
Menino cria o próprio instrumento, em Alagados na Bahia “A vida do ser humano não vale nada, vale a obra que ele deixa”. Aos 76 anos de idade e 40 de carreira, Mário Luiz Thompson, fotógrafo de capa de discos e gente, cita Guimarães Rosa. Pode-se afirmar que Mário Thompson e Guimarães Rosa tem lá suas semelhanças. Ambos encontraram no sertão, nas gentes interioranas inspirações para transmitir um dom e exaltar a cultura brasileira. Rosa na sua linguagem especialíssima e Thompson, com a fotografia. Ficou conhecido por ter fotografádo grandes nomes da música brasileira, porém, suas obras mais sensíveis e tocantes são as que relatam o cotidiano de gente como a gente, pelas lentes da máquina, uma ótica da vida e do povo por esse brasilsão afora.
Começou a fotografar cedo, aos 7 anos de idade por influência do pai. Mas conta que a influência artítisca veio de sua mãe Iris Thompson de Carvalho; pianista, poetisa, concertista, espiritualista, escultora premiada na primeira bienal e participante com Mario de Andrade na semana de 22. Seu primeiro registro de grande relevância foi aos 15 anos, em 1963. Foi lá, na terra de Gil, no primeiro chão da Bahia, primeiro carnaval, primeiro pelourinho também. “Uma foto que é muito bonita, de um menino que fez o próprio instrumento com três tampinhas de pasta de dente, imitando um botão de guitarra. Em Alagados, na Bahia”, recorda e descreve a sensibilidade da imagem. Embora tenha muito apresso pelos bahianos, Mário afir-
ma que nunca foi de uma turma só, nem da música e nem quando o assunto era política e religião. Era intímo de todos, mas não de um único segmento. Na música era íntimo dos Bahianos, dos Cearenses e dos Cariocas também. Registrou atuais e futuras gerações da música brasileira e cultura popular de qualidade: Compositores, cantores, instrumentistas, letristas, arranjadores e maestros de todos gêneros ritmos e estilos. Fotografou diversos segmentos como dança, teatro, blues, jazz, rock, pop e latinos. Futebol, movimentos sociais e da contra cultura. Há inúmeras fotos de todos os festivais em São Paulo, Rio, Bahia e Minas. Festival de Águas Claras em Icanga e São Lourenço e, fotografou incontáveis carnavais
pelo país. Bem se vê que esse paulistano porreta não anda com uma turma só. A história com a MPB começou no auge da Ditadura Militar. “Apesar de você”, Thompson precisava jogar sua energia em algo. Foi então que começou a frequentar os grandes shows da época. “Um dia eu fui no show da Gal e fotografei. Dois dias depois ela veio aqui e gostou das fotos e as fotos entraram no disco dela, depois no disco do Gil, Jorge Ben Jor. Ai virei fotografo de capa de disco sem nunca ter estudado e me organizado para isso”, conta com tranquilidade. Em plena ditadura, Thompson foi preso no congresso da União dos Estudantes (UNE) onde era líder estudantil. Foi para Londres no exílio com Gil e Caetano e nesse ensejo fez carreira no exterior. Morou com John Lennon, em Nova York, passou uns tempos com Hélio Oiticica, conviveu com Glauber Rocha, em Roma, onde fez uma exposição de grande sucesso sobre o Brasil, na Piazza Navona, de nome “Bem Te Vi Bahia Brasil”. Gilberto Gil declarou que Mário é “um amante, e devoto da deusa música”, e o apelidou de “Mário Astral”, Caetano Veloso o chama de “Mário Zen” e Milton Nascimento se refere ao amigo como “Mário Mágico”. Os apelidos serão título de um futuro documentário sobre a vida e obra desse ilustre artista. Aos 76 anos, muitas histórias passaram pelos seus olhos de Mário, e tantas outras ficaram eternizadas por sua máquina. “Na época da Ditadura eu perdi muitos amigos, depois teve uma época que eu fui hippie e morei em Alemberg, até morei com a Janis Joplin, muitos amigos morreram de overdose. Eu não sou homossexual, mas alguns amigos meus eram e muitos morreram de HIV. Depois a minha família, a minha esposa, mãe, irmão, todo mundo se foi. A minha família agora é esse legado que eu estou tentando deixar para outras gerações, esse acervo”. conta Hoje, entre prêmios, lembraças e uma obra imensurável. Mário Mágico reflete, “Na verdade você não é o que você foi e nem o que será, você é o que você está sendo”. Ao ser indagado sobre o que está sendo, ele responde: gente!
Becos da Memória
Giovanna Pinheiro | ggiovannapinheiro@gmail.com “Um dia, agora, ela já sabia qual seria sua ferramenta, a escrita. Um dia, ela haveria de narrar, de fazer soar, de soltar as vozes, os murmúrios, o silêncio, o grito abafado que existia, que era de cada um e de todos. Maria-Nova, um dia, escreveria a fala de seu povo. ” Publicada em 2006, a obra memorialista de Conceição Evaristo traz o conceito de “escrevivência”, criado pela própria autora, que consiste na narração de histórias através da perspectiva de quem as protagoniza. É assim que suas páginas dão vida ao cotidiano da mulher negra na sociedade brasileira, partindo de sua infância na comunidade. As recordações da extinta favela do Pindura Saia, em Belo Horizonte, na qual Conceição atravessava becos para alcançar sua casa, são reconstruídas com intimismo a partir dos passos de Maria-Nova, desdobramento ficcional da autora, que traz na bagagem figuras marcantes, como Vó Rita, Bondade e Negro Alírio, criando espaço para os sonhos, desejos, lutas e dores de um povo comumente deixado para trás. “Entre os vários livros da Conceição, Becos da Memória é considerado um paradigma para pensar oralidades a partir de uma perspectiva que toma a memória, toma as experiências do cotidiano, como um sumo para pensar sobre as nossas existências, as nossas resistências e ir tecendo um mundo literário sem o apego ao cânone, aos clássicos”, comenta Rosane Borges, doutora em Ciências da Comunicação. Becos apresenta o drama e a sensibilidade bordados na inocência da menina que precisou
deixar a escola e o hábito de sentar-se no caixote para observar o pôr-do-sol, mas carregou consigo os detalhes de cada canto da favela na qual ainda mora a sua saudade. Recordar memórias – mesmo as mais dolorosas, segundo a autora – significa a celebração do presente, do que foi superado. O amor pela comunidade mostra-se explicito durante toda a obra, já que é lá que está “enterrado seu umbigo”, como parte de uma tradição cultural mantida pela mãe, que guardava debaixo da terra o cordão umbilical de todos os filhos, para que não deixassem de pertencer àquele canto do mundo. “É uma leitura muito importante. Para mim foi um dos livros mais tocantes, que nos faz pensar historias outras que espelham e que refletem também as nossas histórias, individuais e pessoais”, completa Rosane. Conceição dedica a obra aos bêbados, às prostitutas, aos malandros, às crianças vadias, que habitam os becos de sua memória, reforçando o fato de que mais do que uma contribuição literária, sua escrita fala sobre resistência e sobre o não esquecimento de um passado que permanece latente no tempo presente.
expediente
Jornal laboratório do 40 ano de Jornalismo da Universidade São Judas Reitor Ricardo Cançado Vice-reitor Fabrício Ghinato Mainieri Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Coordenadora dos cursos de Comunicação Profª Jaqueline Lemos Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos Redação Alunos do JOR4AN-MCA 1 Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667
Jornal Expressão
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Canadá desponta como opção para intercâmbio
Segurança e câmbio são os principais atrativos para brasileiros, com preferência de 20,9%, seguido por EUA (16,7%) e Reino Unido (16%) André Catto | andre.catto@hotmail.com
Possibilidade de trabalhar e estudar, preço mais acessível, baixos índices de violência e a proximidade com os Estados Unidos. Estas foram as principais condições que motivaram o auditor Jhonny Delaqua a escolher o Canadá para realizar um intercâmbio de sete meses, em 2013. “Quando decidi fazer intercâmbio, cotei diversos países. O preço fez total diferença. O Canadá foi um dos lugares que apresentaram custos mais amigáveis, tanto em relação a escolas como à alimentação, à estadia e ao transporte”, conta Delaqua. A preferência do auditor representa a da maioria dos brasileiros. De acordo com a pesquisa Selo Belta (Brazilian Educational & Language Travel Association), divulgada em agosto de 2017 com base em dados do ano de 2016, o Canadá é o país mais procurado por brasileiros,
com 20,9% de preferência entre os intercambistas. O levantamento, realizado com 1.145 participantes, mostra ainda que países cujo idioma principal é o inglês ocupam as seis primeiras posições do ranking. Atrás do Canadá estão, na sequência, Estados Unidos (16,7%), Reino Unido (16%), Nova Zelândia (8%), Irlanda (7,6%) e Austrália (5,3%). Para Delaqua, que inicialmente investiu cerca de R$ 12 mil para ir ao Canadá, a experiência trouxe bons e imediatos resultados. “Fiz o intercâmbio para aprender o inglês e para, quando voltasse, ter melhores oportunidades no mercado de trabalho. Quando cheguei ao Brasil, consegui um emprego em uma empresa multinacional. O intercâmbio, sem dúvidas, contribuiu muito para isso”, diz. Naquela época, o dólar canadense era cotado, em média, a
R$ 2,20, enquanto hoje está na casa dos R$ 2,50. O valor pago pelo auditor está dentro do padrão, de acordo com Gabriela Marcon, gerente comercial da Experimento Intercâmbio. “Para um intercâmbio de seis meses, é preciso investir no mínimo R$ 10 mil”, destaca. A quantia cobre gastos básicos e o primeiro mês de acomodação. Gabriela ressalta, entretanto, que os valores podem variar de acordo com as necessidades do intercambista. Sobre a preferência dos brasileiros pelo Canadá, a gerente comercial também destaca a segurança e o câmbio. “É um país que não se envolve em guerras e não sofre com atentados. Além de ser um lugar tranquilo, tem o câmbio mais barato do que em países como os Estados Unidos e a Inglaterra”, frisa Gabriela. Apesar das crises econômica no Brasil e migratória ao redor do mundo, o merca-
Aplicativos tornam matemática mais fácil
Estudantes usam celulares em sala de aula para calcular com diversão Matheus Caixeta | teuscaixeta@gmail.com
A adoção de smartphones em dois colégios de São Paulo fez com que as notas das turmas aumentassem em 80% na disciplina, conhecida pela dificuldade. A principal vantagem com a medida de adotar os aparelhos eletrônicos fez crescer o interesse dos estudantes em aprender os conteúdos com a ajuda de aplicativos como Rei da Matemática, Cola Matemática e Matemática Elementar, criados em 2010 com o intuito de ajudar o aluno a desenvolver o raciocínio lógico. Os aplicativos são utilizados em sala desde 2012, com download gratuito para IOS e Android. São essenciais não apenas para os estudantes de colégios, mas também para aqueles que irão prestar vestibulares e concursos públicos em que são exigidos conhecimentos de matemática.
“Algumas provas foram aplicadas em 2016 e o resultado foi imediato. Mais da metade da sala, que antes não obtinha a média na matéria, com o uso dos apps conseguiu atingir um resultado acima da média em provas e outros testes aplicados por responsáveis de suas turmas na escola estadual”, afirma Regina Andrade, 48 anos, coordenadora e professora da Escola Estadual Maria Jovita, localizada na Zona Leste de São Paulo. A disciplina, que antes era um problema de grande parte dos estudantes, hoje é aprendida de forma divertida do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. Alguns aplicativos não trazem as respostas das questões, fazendo com que os usuários pensem e corram atrás dos educadores para conferência dos resultados das operações matemáticas.
“Já pensei em pegar o telefone do meu professor, somente para conferir as respostas no final de semana. Às vezes, temos muitas discussões entre a turma sobre as equações apresentadas pelo app e a única maneira de saber a real resposta é perguntando para o educador ou alguma pessoa que entende a matemática”, relata Luana Takeji, estudante de 17 anos, que está no último ano do Ensino Médio do Colégio Machado de Assis. Dados apresentados pela Secretaria do Estado de São Paulo mostram que 10 entre 15 diretores de ensino aderem a tecnologias em sala de aula, tendência que pode beneficiar muitos estudantes pela aplicação de metodologias de ensino inovadoras, adotadas para facilitar o conhecimento e trazer soluções para o aprendizado dos conteúdos escolares. Matheus Caixeta
Instituição ensina português a refugiados
Imigrantes conseguem aprender o idioma brasileiro com a ajuda de ONG Pablo Alberto | pabloalberto91@gmail.com
Venezuelanos, bolivianos, haitianos e sírios. O Brasil abraça o mundo, mas o fato de abrigar diferentes etnias não dá ao estrangeiro toda a igualdade que seria necessária para o imigrante fazer o seu futuro e se sentir um cidadão local. Em tempos de movimento migratório gerados por guerras e desastres naturais, a busca por novas localidades pelo mundo traz milhões de pessoas ao Brasil, em busca de uma oportunidade de recomeçar e crescer na vida. Seja pela vantagem econômica ou pelo fácil
acesso, o Brasil acolhe quem vem de fora. Só quem passou por essas dificuldades sabe o quanto é complicado viver em outro país. Pensando nisso, a egípcia Faysa Daoud decidiu colaborar com refugiados que vieram ao Brasil. Casada com um brasileiro, ela preside a ONG Refúgio Brasil, que atende a 200 pessoas de oito países diferentes. Além de estudarem a língua portuguesa, os refugiados aprendem os principais costumes daqui. “Me mudei para o Brasil por conta do meu marido. Claro que tive dificuldades Jornal Expressão
no começo mas, para mim, foi fácil aprender os costumes e a língua. Infelizmente, nem todas as pessoas que se mudam para o Brasil têm as vantagens que tive quando vim. Muita gente foge de guerras ou questões religiosas, chegam aqui sem nenhuma referência e o meu intuito com a ONG é mostrar para os refugiados que eles não estão sozinhos, independentemente da nacionalidade, somos todos o mesmo povo e a mesma raça”, diz Faysa, com um português fluente. A ONG conta ainda com o auxílio de voluntários e
Jhonny Delaqua
Dólar mais acessível amplia as possibilidades de trabalho e estudo no país do de intercâmbio está aquecido. A pesquisa Selo Belta mostra que, em 2016, o brasileiro passou a investir em média R$ 27,8 mil em uma
viagem educacional, um aumento de 82% em relação a 2015. No total, foram R$ 2,2 bilhões movimentados no setor. “As pessoas têm buscado
não apenas chances fora do país, mas também experiência para voltar e conseguir um bom emprego no Brasil”, pontua Gabriela.
#Comodidade: videoaulas auxiliam
aprendizado de quem estuda à distância Recursos tecnológicos dão suporte para novas formas de ensino
Ricardo Rossini
Estudante assiste aula online gratuita para aprender Ricardo Rossini |ricardo_rossinijr@hotmail.com
Flexibilidade. Comodidade. Poder de escolha. Essas são algumas das vantagens que as videoaulas podem proporcionar para qualquer pessoa que deseja aprender determinado conteúdo sem sair de casa. Por essa razão, elas são consideradas uma das maiores tendências da educação na atualidade, principalmente para concurseiros que utilizam desta ferramenta como um suporte alternativo para implementar seus estudos e conhecimento. A velocidade e a quantidade de informações que recebemos atualmente modificaram a forma como nos relacionamos. Estamos sempre conectados e, por isso, surge a necessidade de adaptação a esta nova realidade e seus meios. “É crescente a utilização de novas tecnologias de ensino em todo o mundo. No Brasil, como exemplo, já há mais alunos de pedagogia matriculados em cursos EaD (Ensino à Distância) do que presenciais. Considero que, não exclusivamente o vídeo, assim como as mais diversas formas de tecnologias, estão apenas começando a aparecer e serão crescentemente utilizadas, o que não necessariamente significa o fim das aulas presenciais”, explica Edson Martins,
estrangeiros para ensinar a língua portuguesa aos novos habitantes. “Com a ajuda de quem aprendeu português aqui, economizamos, além de manter nossos professores treinando o que aprenderam”, conta Faysa. O haitiano Florence Alan vivia em Porto Príncipe, em meio uma guerra civil, e não pensou duas vezes quando recebeu o convite do seu amigo Alfred para se mudar para Mogi das Cruzes, no Brasil. Há 10 meses, ele investiu o pouco que tinha e se uniu ao seu compatriota no negócio de vender equipamentos eletrônicos, além de continuar aprendendo sobre o nosso país na ONG. “O trabalho feito pela Faysa é espetacular. Mais do que um lugar onde aprendemos, temos uma família aqui
coordenador do curso de Pedagogia da Universidade São Judas. No entanto, não são apenas esses fatores que poderão influenciar a escolha. É preciso ter em mente que a principal diferença entre as duas modalidades é o perfil do aluno, ou seja, seus hábitos para os estudos e a eficiência do ensino e aprendizado. “Uma aula não é necessariamente boa por ser presencial, do mesmo modo que o aprendizado não é necessariamente mais efetivo por utilizar recursos tecnológicos. A questão passa pelo planejamento dos processos de ensino e aprendizagem, qualidade e efetividade dos recursos didático-pedagógicos utilizados e qualidade técnica dos profissionais envolvidos”, destaca Martins. A ideia é facilitar a vida do estudante em geral. Com o avanço tecnológico, a propagação daqueles que utilizam dos recursos online para estudar de forma rápida e eficiente, vem se tornando uma prática cada vez mais comum em nosso cotidiano, uma vez que, na maioria das vezes, aliar tempo e espaço pode se tornar uma tarefa complicada, driblada e beneficiada agora pela tecnologia.
na ONG. Desde quando vim ao Brasil, frequento o espaço. Foi o primeiro passo para eu deixar de me sentir um estrangeiro. Hoje, já sou um brasileiro. Todo domingo vejo o meu futebol tomando uma cervejinha”, brinca Florence, arranhando o português. Apesar de agora ele estar adaptado ao país e parte da
cultura, ele se emociona ao lembrar do início no Brasil com o seu amigo. “Vir para o Brasil era a minha última aposta de sucesso na vida e, graças a Deus, encontrei toda a ajuda necessária com o meu amigo e na ONG. Não tenho a mínima idéia do que seria da minha vida sem eles”, comenta o haitiano. Pablo Alberto
ONG dá apoio e ensina a língua local para estrangeiros
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Adoção
Diferente é a história, não o afeto
Como funciona o processo de adoção no Brasil, onde mais de 7 mil crianças aguardam uma família Vitor Almeida | vitor_vilarosa10@hotmail.com Vitor Almeida
No olhar, a expectativa. No horizonte, a esperança O ato de adotar pode ser descrito de várias maneiras. Acolher alguém que não nasceu de você, mas nasceu pra você, é uma das maiores provas de amor que o ser-humano pode experimentar. Essa atitude muda vidas, tanto do adotado quanto dos futuros pais . A adoção é regida pelo Código Civil e pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). As crianças passíveis de serem adotadas - geralmente em abrigos ou orfanatos - são primeiramente destituídas de seus pais biológicos por meio de um processo legal para, posteriormente, ser adotada pela família pretendente. Tal
família passa por uma análise de assistentes sociais, psicólogos, Promotoria Pública, e recebe finalmente a guarda provisória do adotando. Entretanto, tal processo não é tão simples como parece. Segundo números divulgados pelo Governo Federal em Abril de 2017, a fila de adoção é composta por 7199 crianças, enquanto 38541 pais estão querendo adotar, ou seja, existe uma criança disponível para cada seis famílias interessadas, e mesmo assim, desde 2012, a média de crianças adotadas foi de 1200 ao ano. Para Francisco Oliveira Neto, vice-presidente da As-
sociação de Magistrados Brasileiros (AMB) para Assuntos da Infância e da Juventude e coordenador da campanha “Mude um Destino” – em favor da adoção consciente – “a burocracia, o tempo de espera e a falta de resultados derivados pelo perfil que buscam os pais explicam números tão baixos”. “Há uma grande diferença entre a criança desejada, pretendida por aquele que quer adotar e o tipo de criança existente. Nessa dificuldade de encontro, o principal elemento de restrição é a idade”, explica Francisco. Segundo dados do Conselho Nacional de Adoção (CNA), 80% dos pais que desejam adotar procuram crianças com menos de 3 anos de idade, o que corresponde a apenas 7% do quadro de meninos e meninas disponíveis para adoção. Para poder adotar, o pretendente deve ter no mínimo 18 anos de idade e 16 a mais que a criança, seu estado civil não importa. Após ter todas as informações e documentos necessários, o individuo deve realizar uma petição preparada por um defensor público ou advogado particular
junto à Vara da Infância e da Juventude. Posteriormente, é obrigatório um curso de preparação psicossocial e jurídica, terminando com uma avaliação psicossocial, uma entrevista técnica e uma visita domiciliar. Maria da Graça de Sousa, coordenadora do abrigo “Novo Amanhã”, salienta que a visita domiciliar é um momento vital da pré-adoção. “É quando o candidato descreve o perfil da criança que quer adotar, interpreta o CNA e recebe o feedback quase definitivo das possibilidades de obter uma criança.” Somente após esses processos o candidato pode ou não ser habilitado pela Vara da Infância e da Juventude para adoção. Uma vez cadastrado, o pretendente será informado caso haja uma criança com o perfil compatível com o solicitado. Havendo disponibilidade, acontecem visitas ao abrigo, criança e pretendente são entrevistados e decidem se aceitam finalizar o processo de adoção, que é reconhecido por um juiz caso haja concordância entre ambas as partes e a Vara da Infância.
O passo a passo da adoção no Brasil Antes de adotar uma criança, deve-se ter em mente que a adoção serve, sobretudo, para resolver a situação da criança; e não um problema do casal que adota. Além de disposição, amor e carinho, os futuros pais precisam passar por uma série de etapas, que mostrarão se eles estão habilitados ou não a adotar um ou mais filhos. Antonio Sales | jor.antoniosales@gmail.com
Família é quem te escolhe para amar A experiência da adoção para casais do mesmo sexo no Brasil Otávio Santos | otavio_san@hotmail.com Relacionamentos entre pais e filhos são retratados diariamente no chamado horário nobre da televisão. É costume nacional sentar no sofá da sala às nove da noite e acompanhar histórias como a de Ágata, que sofria pelo tratamento abusivo da mãe Carminha, na novela “Avenida Brasil”. Felizmente, a vida não imitou a ficção para Ana Karolina Lannes. Criada por dois pais, a intérprete de Ágata comentou recentemente em entrevista dada ao UOL: “tem como casais heterossexuais criarem seus filhos contando que existem casais não heterossexuais e que eles merecem respeito”. Pais de estrelas mirins ou não, casais homoafetivos só tiveram o direito do casamento civil reconhecido em maio de 2013. Desde então, processos de adoção conjunta para pessoas do mesmo sexo foram facilitados, visto
que a união estável ou o casamento civil são pré-requisitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para os que pretendem adotar. Não existe nenhum tipo de legislação específica e o Estatuto não faz qualquer menção de que a orientação sexual deva ser um fator a ser considerado no processo, nem cita que a futura família da criança deva ser composta por pais de gêneros diferentes. “Não encontramos nenhuma dificuldade judicial desse tipo durante o processo de adoção. Passamos por Conselho Tutelar, psicólogo, assistente social e juiz e não enfrentamos nenhuma situação desconfortável relacionada à orientação sexual”, relata a empresária Andréia Torres, casada com Daniela Dias, mães do pequeno Matheus. O conceito de família pode se alterar enquanto o debate e a representação acontecem e
se intensificam. Para Andréia, a intolerância é um produto da ignorância, do não saber. “O preconceito existe e ele é sutil. Sempre deixamos muito claro para nossa família e para a escola do nosso filho nossa posição. Procuramos ignorar o preconceituoso e sua falta de conhecimento, muita gente ainda não tem essa informação”, comenta.
Hoje, qualquer casal composto por pessoas do mesmo sexo tem o ECA e o Conselho Nacional de Justiça como aliados. Eles garantem que antigas barreiras como conceitos de família conservadores ou recusas de cartórios para celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo não façam mais parte do cenário da adoção no Brasil. Reprodução
Apadrinhar faz bem!
Crianças e adolescentes retomam relações familiares através de apadrinhamento afetivo Aline Freire | freire.aline1992@gmail.com
Patrícia Leite Lopes, jornalista de São Paulo, conta os minutos para ficar perto de Fabiano, seu afilhado afetivo, de 16 anos. Em um de seus encontros, ele a contou que ganhou um terço, e toda a noite ele pede bençãos para sua família, que no momento está longe, e para ela, sua melhor amiga. “Fiquei muito comovida”, menciona Patrícia. “E não é que ele está me ensinando a jogar vídeo game? Mas ainda sou péssima. Um dia desses nós brincamos de forca, e ele nem percebeu que estava aprendendo sobre países, animais, esportes. Muito aprendizado, troca, emoções à flor da pele”. Patrícia foi com Fabiano ao Museu do Ipiranga. Lá, ele pode conhecer um pouco sobre a história da cidade de uma forma divertida. E, a partir dessas pequenas atitudes, o Apadrinhamento Afetivo melhora o rendimento de muitos
afilhados, além de recuperar laços afetivos perdidos. Uma amostra da sintonia entre padrinho e afilhado é exibida e demonstrada em dados levantados pelo Instituto Fazendo História. Após um ano de participação no projeto, as crianças e adolescentes apresentaram um aumento de 53% dos vínculos afetivos, 40% no número de vínculos afetivos existentes considerados fortes e 30% dos casos, o grau de envolvimento com a escola passou de fraco para médio. “Pensamos no apadrinhamento como uma alternativa deles se desenvolverem, fortalecerem e construirem um projeto de vida potente fora do abrigo”, conta Amanda Estelles, psicóloga e técnica do programa de Apadrinhamento Afetivo do Instituto Fazendo História. De acordo com Amanda, o Fazendo História atu-
almente têm 78 crianças e adolescentes apadrinhados e 88 padrinhos e madrinhas atuando. Eles atendem o programa desde o ano de sua regulamentação, em 2015.
E, para os interessados, eles possuem parcerias com a Vara da Infância e da Juventude da região de Santo Amaro, Jabaquara, Pinheiros e Central. Patrícia Leite Lopes
Afilhado conhecendo o Museu da Imigração, em SP Jornal Expressão
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Adoção
Dividido por quatro, um carinho sem fim Conheça a história de Juliana Serafim: adotada quando criança, hoje convive também com os pais biológicos Tatiane Gomes Rodrigues | gomesrodrigues1995@hotmail.com Arquivo pessoal
Estela, Juliana e Maria Fernanda, de geração em geração
“Meu nome é Juliana Serafim e tenho 32 anos. Durante, praticamente, toda minha vida, vivi com uma família que parece ter sido escolhida a dedo para mim. Um pai amoroso, uma mãe zelosa e dois irmãos que realmente pareciam ser sanguíneos. Sempre fui a “princesinha” da casa, já que não tinha outra irmã para dividir esse título. Em compensação, meus dois irmãos mais velhos, Bruno e Felipe, procuravam me proteger de tudo e tinham muito ciúme de mim. Meu pai, Henrique, me mimava muito e me apoiava
Abrigos acolhem crianças vítimas de maus tratos Eles são recebidos em lares onde têm carinho e cuidados
Arquivo pessoal
Tia Marly cuida das 15 crianças presentes no abrigo “Atualmente a mãe encontra-se em tratamento. É um caso em que percebemos que a pessoa quer melhorar, deseja se recuperar para poder reconstruir a família. Mas é um processo longo, que depende da Justiça”, explica Aparecida. Em 2015, o canal nacional de denúncias contra violência infantil recebeu mais de 153 mil denúncias de violações contra os direitos da criança. Tia Marly faz de tudo para que as crianças se sintam em
casa. Duas vezes por semana os pequenos ganham doces. São Cosme e Damião, aliás, são padroeiros do local, e protagonistas de uma das histórias mais tocantes. “Um deles guarda os doces que ganha para depositar no altar de Cosme e Damião. Partiu o meu coração quando ele me revelou o motivo: faz a oferenda e pede aos santos uma família”, recorda Marly, que se emociona ao lembrar do gesto.
Caminhos para adoção passam pelo apoio psicológico Murilo Cruz | mfcruz16@hotmail.com
Pessoas interessadas em adotar passam por um intenso acompanhamento psicológico. Assim como crianças em processo de adoção também passam. Núcleos de saúde e psicoterapia, alocados nas varas de infância que acompanham os processos de adoção, mapeiam todo cenário que a criança será inserida. Esses profissionais são os responsáveis por acompanhar toda a evolução dos pais e das crianças. “Eu não posso ter filhos, levei uma bolada quando ainda era moleque e fiquei
estéril. Quando conheci minha esposa foi bem difícil dizer que tinha esse problema. Mas ela encarou numa boa e propôs adotarmos. Lembro que quando iniciamos o acompanhamento com a assistente social e com uma psicóloga do Estado, toda semana íamos para a sessão de terapia de casal”, comenta Sérgio de Brito, publicitário. “No trabalho que desenvolvemos aqui no orfanato, buscamos primeiramente o bem estar do infante. Isso envolve Jornal Expressão
Conforme ia crescendo, soube minha história. Nasci em uma família conturbada na zona periférica do Rio de Janeiro. Meus pais biológicos eram envolvidos com o mundo do crime e o Conselho Tutelar me tirou deles. Passei por tratamentos psicológicos para que as lembranças de tudo que eu passava não me atingissem e atrapalhassem meu desenvolvimento. Quando fiz 18 anos, tive a oportunidade de conhecê-los. Eles estavam a minha procura, e uma assistente social os ajudou a chegar até mim. Se chamavam Fer-
nando e Estela, e ainda se recuperavam de tudo que haviam passado. Disseram, por fim, que não queriam me tirar de meus pais adotivos, mas sim manter contato comigo, e eu aceitei. Hoje sou casada e mãe de duas crianças que são meus presentes. Uma delas, a pequena Maria Fernanda, é adotada. Aos poucos, conto sua história, assim como meus pais fizeram comigo, ensinando-a a ter amor por seus pais verdadeiros, mesmo que não os conheça, mas nunca deixando de carregar em seu coração aqueles que a acolheram.”
Cinco, dez, quinze. Qual é a idade do seu amor?
A idade pode tornar uma criança inotável dentro do processo de adoção
Matheus Fernandes | matheus.fs43@gmail.com
Pelas ruas de Santana, zona norte da capital, uma casa se destaca. Paredes coloridas, muita movimentação e barulho de crianças brincando atraem a atenção para a Casa de Amparo ao Menor da Tia Marly. O local ganha ares de lar logo de cara. Uma simpática senhora, baixinha e de óculos, Tia Marly recebe com carinho (e aparência) de vó qualquer um que entre no local. A Casa recebe crianças e adolescentes vítimas de maus tratos ou negligência familiar que permanecem no abrigo até que a família demonstre uma mudança no comportamento reconstrua o elo com o menor. “A ideia é que todos tenham a oportunidade de um recomeço, para evitar mais traumas à criança”, explica a assistente social do Abrigo, Aparecida Pires. Um dos menores foi encontrado sozinho em casa, enquanto a mãe, usuária de drogas, estava sumida. O pai da criança está preso, e a criança ficava constantemente nessa situação. Graças a denúncias, o Conselho Tutelar foi acionado, e ao perceber que a mulher não tinha condições de ter a guarda do filho, o menino foi encaminhado para o abrigo.
em tudo. Minha mãe, Diana, era bastante rígida e tentava cortar os mimos de meu pai, mas quase sempre amolecia seu coração. Enfim, aquela era uma família onde havia muito amor. Certas coisas marcam nossa vida e não importa quanto tempo passe, nunca esqueceremos de tal fato. É assim que gosto de definir o momento em que conheci meus pais. Quando eles chegaram ao orfanato, fiquei tímida e não respondia muito ao que eles falavam e faziam. Mas, com o tempo, me acostumei a presença deles.
Karla Nunes | karla_nunescarlos@hotmail.com
Bebê. Menina. Branca. Saudável. Essas são algumas das mais populares características desejadas no momento da adoção. Onde ficam as crianças que não se enquadram? Grande parte cresce em abrigos, onde sentem falta do afeto familiar. Com constantes visitas de pessoas passageiras por ali. E quando acolhidos precisam de um cuidado especial. O processo de adaptação é mais complicado, depois do encantamento do encontro de um novo lar, é possível ocorrer regressão e sintomas como birra e agressividade. Por isso, é tão importante a preparação não somente da família como também da criança. O acompanhamento psicológico é crucial para o sucesso desse novo elo afetivo. O canal “Adoção Tardia” do Youtube trabalha produzindo vídeos para sensibilizar pretendentes à adoção tardia. Crianças e adolescentes já foram adotadas após
Imagem do ensaio fotográfico da família Paes a divulgação do projeto. “O que acreditamos é que instituições de acolhimento não são lares para toda uma vida, e sim, pontos de transição de uma situação de vulnerabilidade para um ambiente familiar novamente”, afirma Simone Uriartt Design e fundadora do projeto. Dentre as inúmeras histórias de espera, é preciso divulgar os sucessos das adoções tardias, por isso que a mãe Priscila Pas decidiu criar o
seu blog “Escolha de amar”, após a adoção da sua pequena Isa que tinha 8 anos na época. O casal ganhou visibilidade após postar fotos do ensaio fotográfico realizado antes e depois da adoção. “Acho que como a adoção ainda é vista com muito tabu, nosso ensaio fotográfico foi um exemplo para as pessoas de que a adoção é somente mais uma forma de se formar família e é tão linda como qualquer outra forma”, afirma Priscila.
Crianças e o racismo:
como mudar essa realidade? Beatriz Olivetti | beatriz-olivetti@hotmail.com
“Quando adotei uma criança negra, eu ajudei a quebrar o preconceito. Sempre quis ter um menino. Criei desde o início e para mim sou uma mãe comum”, conta Regina Silva, aposentada. Acolher alguém é mostrar que o amor é um vínculo que supera a diferença. “Olhe as crianças
Murilo Cruz
todo um processo de acompanhamento pedagógico e comportamental da criança. Em paralelo também cuidamos das famílias que receberão seus novos membros. Tudo isso só é possível com um esforço em conjunto e bem estruturado”, comenta Mari Brandão, coordenadora psicossocial. Esse acompanhamento compõe uma proposta preliminar e de enfoque preventivo para implementação no momento que antecede a recepção do filho e no início do estágio de convivência dos pais.
Arquivo pessoal
que é o futuro e a esperança, que ainda não conhece, não sente o que é ódio, ganância”, diz a letra da música A vida é um desafio, do Racionais Mcs. “Quando você resolve ser mãe ou pai, deve estar ciente que o amor é incondicional, independente da cor”, esclarece Elisabete Gonçalves, pedagoga.
Entre filhos e sobrinhos
Francisca Nascimento pegou a sobrinha para criar com um mês de idade Rosali Barreto | rosali.fbarreto@gmail.com
“No começo eu peguei a Virgínia para ajudar a minha irmã, que infelizmente sempre foi muito desajuizada. Criei a menina com todo o amor do mundo, pois tenho mais três filhos e em nenhum momento tratei ela como sobrinha, tenho ela como filha
mesmo. A Virgínia foi crescendo e eu nunca escondi nada, até porque minha irmã aparecia de vez em quando e dizia que queria a filha. Com cinco anos, ela me perguntou se a tia era a mãe, eu disse que sim e que mais pra frente ela entenderia”, conta Francisca.
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Hackers x crackers na batalha digital Saiba quem é quem na briga da era tecnológica e entenda as peculiaridades do submundo dos cibercrimes Carla Faya | carla_faya@hotmail.com
C
om a difusão da web e o avanço da tecnologia, tudo ficou mais rápido e prático, o que de fato facilitou o acesso às informações, ao conhecimento e à interação a partir de uma simples máquina eletrônica. Entretanto, os internautas desconhecem os perigos que estão por trás das telas dos computadores e dos dispositivos móveis. Na web, ocorre uma série de atividades criminosas conhecidas como ‘cibercrimes’. Por falta de informação e conhecimento, as pessoas associam os chamados hackers como os principais agentes dos crimes virtuais. Mas você sabia que além de hackers existem também os crackers? Diferentemente do que se propaga, os termos possuem significados distintos e acabam sendo confundidos. Na prática, ambos são pessoas que possuem habilidades em sistemas de computação, mas com propósitos totalmente diferentes. Hackers (traduzido como decifrador) são programadores habilidosos com alto nível de conhecimento em redes de computadores, que usam de sua aptidão para fazer modificações e manipulações em sistemas de computação sem o intuito de causar danos. Muitas vezes
Carla Faya
O avanço da tecnologia facilita a atividade de hackers e crackers, que atuam de maneiras distintas na web são confundidos como criminosos da web, entretanto, agem de forma legal e são responsáveis por importantes inovações na computação. Por exemplo, os serviços dos hackers são contratados por empresas ou agências governamentais que necessitam de proteção de dados. Eles testam a segurança dos
sistemas de computação, ou mesmo modificam os aspectos internos dos dispositivos, programas e redes de computadores. No entanto, os que usam de suas habilidades para fins ilegais são chamados de crackers e intitulados criminosos virtuais. Esses indivíduos utilizam de seus conheci-
GPS, ferramenta de orientação ou desorientação? Uso excessivo do aparelho para locomoção pode afetar regiões importantes do cérebro Rogério Freitas| rogério_freitas07@hotmail.com
Segundo uma pesquisa realizada pela University College de Londres, no Reino Unido, o uso excessivo dos serviços de guia do GPS (Sistema de Posicionamento Global) “desliga” algumas áreas do nosso cérebro, causando mudanças que modificam fortemente a nossa capacidade cognitiva para a auto-localização. “O nosso cérebro é uma máquina que necessita sempre estar em funcionamento para o seu melhor desempenho. É um exercício de aperfeiçoamento contínuo. Caso você não o instigue ou deixe de praticar certos hábitos, há sim a possibilidade de algumas funções ficarem desligadas”, conta Luiz de Lima Marques, psicólogo. Tempos atrás, antes desta fase das grandes tecnologias bombarem no século XXI, era muito comum para as pessoas decorarem nomes de ruas e os melhores trajetos para irem a um canto qualquer da sua cidade. No entanto, com o passar dos anos, isso acabou mudando e sucumbindo aos novos meios de navegação. Um conhecimento que vivia aprisionado aos viajantes de décadas de bagagem foi transportado aos auxiliares de navegação via satélite. Até então, uma mudança positiva na forma de direção que simplificaria a vida de milhões de pessoas em suas respectivas cidades.
Rogério Freitas
mentos para violar ilegalmente os sistemas, roubar dados pessoais, quebrar códigos de segurança, senhas de acesso a web e códigos de programas com o intuito de cometer crimes. Danilo Veraneze, programador e analista de software, explica que o termo “cracker” foi dissemina-
do pelos próprios hackers a fim de não serem mais confundidos com os criminosos da web, porém, a atividade hacker ainda é vista com maus olhos pela maior parte da população. “Quem não conhece acredita que os hackers são criminosos da internet, já que alguns profissionais aproveitam de seus conhecimentos para extorquir, roubar dados pessoais e coagir, esses sim são denominados crackers. É lamentável o uso dessas informações para obter vantagens. A ética hacker é nunca invadir um sistema para obter benefícios ilícitos”, explica. Para Robson Freitas, administrador de sistemas, a motivação do crime virtual mudou: as pessoas querem dinheiro, e não fama. E, para gerar lucro, os crimes cibernéticos precisam ser discretos. “Quanto mais tempo um programa malicioso passar despercebido, mais lucrativo ele vai ser para o cracker”, afirma. Hoje, os crackers se transformaram em organizações criminosas virtuais espalhadas pelo mundo. Seus membros descobrem falhas nos sistemas de segurança e movimentam um mercado ilícito que comercializa tanto produtos obtidos por meio de invasões quanto as ferramentas desenvolvidas para os ataques.
YouTuber, a profissão que bomba na internet Vídeos atraem milhares de seguidores e viram ofício Caio Barboza| cmb_caio@hotmail.com
GPS: o uso que gera depedência para encontrar rotas nas cidades A pesquisa feita pela University College, pôs um grupo de 24 voluntários para circularem um trajeto pré-definido por uma simulação digital no bairro de Soho, em Londres, enquanto seus cérebros eram monitorados durante o percurso. Os pesquisadores analisaram as atividades no hipocampo, uma região do cérebro ligado às memórias e ao senso de navegação, junto ao córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento e as tomadas de decisões. Deste modo, os cientistas puderam constatar que quando os voluntários não utilizavam o GPS, seu hipocampo e o córtex pré-frontal tinham picos de atividades quando entravam em ruas ou faziam novos trajetos para o destino final.
“Hoje em dia não conseguiria manter a minha rotina pela cidade de São Paulo sem o auxílio do GPS. Ele simplifica minhas rotas, sempre me diz o melhor caminho. Se um dia tiver que fazer tudo que faço sem esse apoio, talvez não tenha a mesma eficiência”, explica o motorista Leonardo Soares. A pesquisa ainda sinalizou que quando os voluntários se depararam com diversas escolhas, a atividade gerada no hipocampo se torna ainda melhor, desenvolvendo diversos aspectos do cérebro como a memória. Isso ocorreu nos momentos em que os participantes tiveram que optar por uma rota diferente ou se depararam com um beco sem saída.
Memes que aproximam marcas e consumidores
Hoje o YouTube é considerado o principal concorrente da televisão. De acordo com a pesquisa Video Viewers do ano de 2016, levantamento anual realizado pela agência Provokers, os brasileiros passam 16 horas por semana na web ante 23 horas na frente da televisão. Em 2014 os dados de consumo eram diferentes, com 22 horas semanais assistindo à TV e 8 horas conectados. A busca por espaço na internet está cada vez mais acirrada, seja para proprietários de um blog ou influenciadores em redes sociais. Entretanto, criar conteúdos interativos e publicá-los no YouTube, plataforma digital de vídeos, tem se tornado uma verdadeira profissão: o YouTuber. Considerado o maior portal da internet desse gênero, os números de acessos impressionam: um bilhão de horas assistidos por dia e está presente em 88 países e 76 idiomas. Por isso, conquistar um espaço de destaque é um desafio para quem se dispõe a entrar nesse mundo virtual. O canal Inglês Winner é um exemplo de sucesso. Com mais de 700 mil inscritos, traz aulas online para quem busca aprender a língua inglesa. “Sempre sonhei em ter um negócio próprio e trabalhar na internet era algo distante. Morei nos
Marcas utilizam imagens viralizadas da internet para atrair e fidelizar compradores
Estados Unidos e, com a intenção de ajudar outras pessoas a aprender o idioma, gravei o meu primeiro vídeo. Jamais imaginei que chegasse às proporções de acessos que tenho”, conta Paulo Barros, criador do portal, sobre como tudo começou. O YouTube é a maior vitrine para o canal de idioma, já que as aulas online estão ganhando cada vez mais seguidores. Outras temáticas também fazem sucesso, como comédias stand up, culinária e saúde. Além disso, há quem grave a rotina de vida, com exercícios e dicas de alimentação, por exemplo, como forma de divulgar a quem se identifica com o seu estilo. Ana de Cesaro, que tem um canal homônimo, possui mais de 150 mil inscritos, conta qual é a dificuldade de manter um canal na internet: “Por um lado é difícil, pois é necessária uma renovação e alimentação constante para não cair no esquecimento. Por outro, é maravilhoso. É uma rede que está em constante crescimento e cheio de promessas”, relata. Como forma de incentivar e ter criações inovadoras, o YouTube tem um programa de benefícios, de acordo com a quantidade de inscritos. Além disso, realiza eventos, mantém uma consultoria e conecta criadores para troca de experiências. Caio Barboza
Jacqueline Antonini | jacqueantonini483@gmail.com Jacqueline Antonini
Com o avanço da tecnologia e o crescente uso das redes sociais, diversas marcas começaram a utilizar plataformas digitais para divulgar seus produtos, valores, novidades e campanhas. Mas como fazer tudo isso de forma engajada para o público? Gifs animados e imagens engraçadas são métodos utilizados por essas marcas para atrair os seus consumidores. O primeiro meme que viralizou foi o “Diferentona”, em que pessoas fa-
zem perguntas do tipo “só eu que amo panquecas?”, e as respostas são irônicas e divertidas. Com a grande repercussão deste meme, algumas marcas criaram as suas próprias versões. Um exemplo é a marca de maquiagens Maybelline, que incluiu o meme em uma campanha a respeito de seus delineadores. A publicação rendeu 21.925 curtidas, 4.464 compartilhamentos e mais de 1.500 comentários no Facebook.
“Quando o meme é utilizado de acordo com o perfil de interesse daquele público, a marca passa a ser engajada, divertida, brand lover [uma marca favorita por seus consumidores], envolvida no interesse dos consumidores. Quando utilizado em um momento em que o meme está viralizado, gera uma proximidade e ao mesmo tempo os consumidores que não adquiriram o produto em questão passam a ser atraídos pelo mesmo”, comenta Denise Bueno, analista de search sênior. No entanto, para alguns, utilizar de forma constante esses recursos pode ser prejudicial para a marca em si, conforme conta Francielly Mendes, analista de search júnior. “Utilizar em todo o tempo pode fazer com que a marca seja vista negativamente, levando para um lado cômico sem seriedade. É importante trazer uma aproximação ao consumidor, mas é importante ter cautela para que o sério não se torne bizarro”, ensina. Quando bem contextualizados, os memes podem ser a resposta ideal, gerando engajamento para os consumidores, aumentando a sua credibilidade ou para explicar de forma criativa seu produto ou serviço.
Internauta acompanha o canal inglês Winner, de Paulo Barros Jornal Expressão
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Grafite, expressão e atitude muito além dos desenhos
Arte nascida nas ruas provoca reflexões sobre os assuntos da atualidade Isadora Couto | isadora_couto@hotmail.com Isadora Couto
O grafite conscientiza a população sobre temas sensíveis do cotidiano Empregando o grafite para expressar a sua arte, o artista pernambucano João Paulo Alencar, o Todyone, usa os sprays para falar da crise política brasileira e a situação dos haitianos e africanos que povoam Guaianases, no Extremo Leste da cidade de São Paulo, em busca de um emprego. A questão racial, a truculência da polícia, a poesia das ruas e os problemas sociais são assuntos que fazem parte do cotidiano de Todyone. To-
dos esses são temas comuns na arte urbana de Tody, como é popularmente chamado pelos amigos do rap, da escola e por seus vizinhos. Os direitos sociais e humanos são causas nobres para o artista em grande parte de suas intervenções artísticas. Esses temas aparecem em formas de figuras muitas vezes marginalizadas, como negros, mulheres e imigrantes. E, seguindo as raízes do grafite, Todyone fez de Guaianases, bairro onde vive
há décadas, seu ateliê a céu aberto. Na estação de trem Guaianases, há obras suas nas saídas, onde retratou um vagão lotado dentro da estação, cotidiano muito comum de seus moradores. Também participou de uma ação para colorir as pilastras cinzas do lugar, e lá fez uma representação polêmica de Jesus Cristo perguntando “Jesus negro te incomoda?”. “As obras de Tody mudaram o ambiente da estação. O que antes era preto
Cigarro apagado acende a arte
e cinza, agora existe cor. Eu adoro apreciar as suas obras de arte”, comenta Neusa Baptista, moradora do bairro de Guaianases há 30 anos que usa a estação de trem todos os dias para ir trabalhar. Indo contra toda a imagem distorcida que o grafite ainda tem para parte da sociedade, Tody exerce essa arte como forma de ação social. “Já está na hora de a sociedade parar de ver o grafite como forma de marginalização”, pontua Tody. Artista plástico de formação, o grafiteiro conheceu a arte em 1997 por meio de um primo. “Desde lá, nunca mais parei”, relata. Com o seu surgimento na década de 1970 em Nova York, o grafite era a forma que os jovens encontravam para deixar as suas marcas na parede, marcas que evoluíram com técnicas e desenhos. A definição mais popular diz que o grafite é um tipo de inscrição feito em paredes. O grafite está ligado diretamente a vários movimentos, em especial ao hip hop. Para esse movimento, os desenhos são uma forma de expressar toda a opressão que a humanidade vive principalmente os que passam por dificuldades, ou seja, o grafite reflete a realidade das ruas da cidade. Vivian Casagrande
Obras com descartes alertam para o tabagismo Vivian Casagrande | viviancasagrande@hotmail.com.br
Ela aguardava o elevador para ir embora, após ser atendida no Quarteirão da Saúde Municipal de Diadema, quando seu olhar foi totalmente desviado a um homem de perna amputada. Sua intuição não lhe permitiu ficar calada. “Acidente!”, disse ao senhor. “Não, foi cigarro”, retrucou ele. Aquela resposta, embora sem querer gerar grande efeito, paralisou a mulher - que era fumante - durante uma hora dentro do elevador. Foi esse o primeiro estímulo que recebeu para conseguir parar de fumar. O relato acima é um dos muitos ouvidos pelo artista plástico Roberto Otaviano durante uma intervenção na exposição “Respiração Artificial”. Nessa mostra, o pernambucano chama a atenção do público para os danos causados à saúde devido ao uso do tabaco. Embalagens de cigarro, bitucas e palitos de fósforos usados são alguns dos materiais que compõem as 27 obras do artesão, que utiliza somente materiais reciclados em suas criações, fazendo com que cada obra seja única. O intuito é gerar reflexão por meio da arte com algo que foi descartado. “Raramente compro alguma tinta, pois até elas eu pego do lixo”, conta Otaviano. Feita de embalagens de papel picado, a imagem de uma pessoa prostrada diante de muitos cigarros retrata a realidade de quem é dominado pelas substâncias químicas. O corpo é fragmentado e mostra o que há dentro daquele ser: o vício. Otaviano se descobriu artista no ano de 2003, pelo estímulo de reciclar objetos. Nesse ato, percebeu que era possível criar obras provocantes e de impacto social. Além do mais, produzir arte desatou o desejo que ele tinha para se expressar. Em outras exposições, o artista trata de temas como a alienação por conta da tecnologia e as crueldades que o ser humano é capaz de cometer a si próprio. “Minha linguagem é do desconstruir para construir. Só é possível construir quando se desconstrói e, com os objetos,
Balé, uma dança para todos
Escola oferece cursos gratuitos em SP
Isabela de Lacerda | isabeladelacerda@gmail.com
Muitos consideram o balé uma arte apenas para a classe alta, coisa de gente culta. Acreditam que as apresentações são muito caras e só é possível aprender a dança em escolas particulares. Porém, existem projetos que tornam essa arte acessível, como é o caso da Escola de Dança de São Paulo. Com mais de 75 anos de existência, a instituição é um dos ramos de atuação da Fundação Theatro Municipal de São Paulo. A formação é oferecida sem custos para incentivar o aprendizado do balé e de outras danças, tanto para crianças quanto para adultos. A escola oferece cursos livres abertos à comunidade e ministrados pelo mesmo corpo docente. Para adultos, a duração é limitada a 8 meses e é necessário ter a partir de 18 anos e já ter tido algum contato com dança. E também há cursos preparatórios para crianças entre 8 e 12 anos que aprendem os fundamentos da arte. Priscilla Yokoi, primeira bailarina da Cia. Brasileira de Danças Clássicas de SP e diretora da Escola de Dança de São Paulo, acredita que estas bolsas de estudo para a comunidade são um grande incentivo para novos talentos da dança que não têm condições financeiras para arcar com os custos de um curso de balé. “Eu tenho lutado muito para unir a nossa classe e levantar uma geração de jovens bailarinos e companhias comprometidas com a cultura em nossa cidade, Estado e nação. Sei que tudo pode melhorar cada dia mais e meus projetos são totalmente ligados a isso”, comenta a bailarina, que dançou nos palcos do mundo todo. Ela também é o nome por trás da Gala Clássica Internacional, um evento anual
com workshops, audições e espetáculos para crianças e jovens de comunidades carentes e deficientes visuais que têm o sonho de se tornarem bailarinos. Existente há cinco anos, e com realização todo final de ano, o evento começou na cidade de Paulínia e depois migrou para o Theatro Municipal de São Paulo. Kátia Rocha, professora e bailarina da Escola de Dança de São Paulo, conta que para participar do processo seletivo da Escola o candidato precisa passar pelos processos seletivos que são divulgados e realizados anualmente através dos editais do próprio site da escola (http://theatromunicipal. org.br/formacao/escola-de-danca-de-sao-paulo/). “O balé é uma das modalidades de dança mais antigas do mundo. Atualmente, conta com diversas variedades e pode ser praticado por homens e mulheres de todas as idades”, relata Kátia. “Além da prática da dança, o balé oferece muitos benefícios ao corpo e à mente, auxiliando desde o fortalecimento dos músculos até a elevação do poder de concentração”, acrescenta. A Escola de Dança de São Paulo é uma das principais na formação de futuros bailarinos da capital paulista e por apresentar números artísticos de dança em diversos países. Atualmente, atende a mais de 800 alunos, vinculados a uma ampla proposta curricular especializada em balé.
SERVIÇO Escola de Dança de São Paulo Praça das Artes Av. São João, 281 – Centro Isabela de Lacerda
Bitucas e embalagens dão vida a criações artísticas é a mesma coisa”, comenta. Para ele, o mais importante é a transformação das coisas e, consequentemente, das pessoas. “Tenho grande orgulho quando transformo algo que não valia nada para alguém – ou para a maioria – e por meio disso levo a reflexões”, destaca, revelando que esse é um de seus objetivos como artista. Rosemeire Sakamoto, coordenadora de marketing, acompanha as criações de Otaviano desde quando o artista começou a produzir. “Toda exposição dele remete à reflexão. Ele é um artista que induz transformação, que começa pelos materiais e termina na pessoa”, descreve. Não dar nome às peças é a decisão que dá liberdade para o público imaginar o que quiser. “Eu abro mão como artista do que eu criei para que os visitantes determinem o que veem”, finaliza.
Aulas abertas contemplam adultos e crianças
Moda desenhada pela vida A influência das artes plásticas e dos movimentos artísticos dão contornos ao mundo fashion Thaís Megale | thaismegale95@gmail.com
zem com que seus desfiles sejam uma grande festa e uma bela manifestação artística. “Cada qual a sua linguagem. A sensação e os sentimentos de assistir a um desfile e de ver a um manifesto artístico não se comparam. Cada um atende conforme sua sensibilidade, sua empatia pelo que presencia, seja ela um desfile ou uma exposição plástica. Um grande exemplo foi o desfile da Louis Vuitton no Museu do Louvre, em Paris”, explica Marcos Rossetton, professor de Moda do Senac. “Sempre me inspirei na arte, na forma de viver, vestir e sonhar. Acredito que a moda é uma forma de expressão, de sensações e conceitos. Na hora de criar uma nova coleção sempre procuro Jornal Expressão
Thaís Megale
Arte e moda. Juntas, essas duas palavras criam um novo significado, um novo conceito. A arte está presente em diversos elementos do cotidiano, e a moda é um deles. Desde sempre, a arquitetura, obras e movimentos artísticos inspiram milhares de estilistas na criação de suas coleções e peças. Grandes estilistas como Margiela, Hussein Chalayan, Alexander McQueen e Christian Dior são exemplos dessa combinação que proporciona ao público a mesma sensação que define as artes visuais. Ver uma exposição, assistir a um show ou ver uma performance de arte nos faz experimentar diferentes sensações. Alguns estilistas fa-
Vestido inspirado no movimento surrealista
me inspirar na arte, seus movimentos e suas expressões. Poder juntar esses dois elementos em uma só peça é ter o melhor dos dois mundos. Demonstro isso também na hora de me vestir, gosto de peças retrôs, especialmente dos anos 60 com a explosão da Pop Art no Brasil”, exemplifica Stephany Queiroz, estudante de Moda. Materiais, cores, caimento, formatos e conceitos são apenas alguns exemplos. Existe quem procure por todo canto peças específicas, sejam elas de determinado estilista, época, coleção ou forma. São as chamadas roupas vintage. Os brechós são os lugares ideais para encontrá-las. “Vintage não é o ultrapassado nessa nova onda.
Permanece como o melhor do que passou, mantendo para quem gosta sempre como símbolo de elegância e cultura de estilo”, diz Franz Ambrósio, proprietário do Brechó Minha Avó Tinha. A arte inspira a moda não apenas nas estampas e formatos, mas também no uso de materiais como o látex, usado em projetos artísticos e carro-chefe da marca Melissa. Além disso, as estruturas, desenho e novas propostas de silhuetas são uma nova forma de expor e entender o corpo. “Moda vira arte quando há autenticidade, ousadia, vanguardismo, inovação, despreocupação com o mercado da moda e seu foco é a experimentação”, complementa Marcos Rossetton.
Algumas parcerias diminuíram a distância entre moda e arte. Esse encontro consegue preservar um traço importante da essência artística do colaborador, e o que poderia ser apenas uma publicidade ou estratégia de marketing, ganha uma sensibilidade especial que une dois mundos. O resultado é inspirador. Há peças capazes de evocar estranhamento, angústia, reflexões metafísicas, políticas e outras sensações que definem as artes visuais. Mas, de maneira geral, o que a moda faz com mais frequência é se aproximar do universo artístico por meio de colaborações e parcerias que não transformam a moda em arte, mas a arte em moda.
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Defesa pessoal feminina em pauta Reprodução
Mulheres encontram segurança e proteção nas artes marciais Bruna Baptista | bruna.g.b@hotmail.com
Os repetidos casos de assédio e violência contra as mulheres desencadearam uma alta procura por aulas de artes marciais, buscando resistência e defesa a esses ataques. “Recentemente, fui vítima de assédio sexual enquanto voltava do trabalho. Me senti indefesa e sem forças para reagir à situação. Foi então que decidi procurar por maneiras de defesa e no muay thai encontrei lições de como me proteger”, conta Aline Moreira, assessora de imprensa. Pensando em se livrar dessa insegurança, muitas mulheres buscam nas lutas uma forma de defesa pessoal, que são todas as técnicas de reação utilizadas para preservar a integridade física e emocional. A melhor defesa
pessoal consiste na prevenção através de procedimentos de segurança que dificultem uma ação violenta por parte do agressor. As aulas baseiam-se em ensinar medidas preventivas para evitar situações de risco que trabalham o instinto de sobrevivência e preparam a combatividade da mulher. Além de atuar como defesa pessoal, a luta ainda eleva a qualidade de vida, com a prática de exercícios regulares que melhoram as funções do corpo e aumentam a auto-estima, contribuem para as habilidades físicas a fim de propiciar maior força, flexibilidade, coordenação motora, velocidade, agilidade e resistência nas situações de emergência e melhoram o aspecto emocional, além de proporcionar confiança, au-
todisciplina e determinação para alcançar objetivos. “Qualquer pessoa pode fazer. Não é necessário ter experiência anterior em artes marciais, aliás, é melhor que não as tenha, para aprender mais rápido”, afirma José Carlos de Almeida, professor de defesa pessoal voltada para mulheres. O Krav Maga é uma modalidade de defesa pessoal israelense que pode ser uma arma para mulheres que se sentem inseguras diante do elevado número de estupros e abusos sexuais e buscam formas de se defender. É a única luta reconhecida como defesa pessoal, e não arte marcial. A modalidade consiste em técnicas de respostas simples, rápidas e objetivas para situações de violência. “O Krav Maga é eficaz
na formação de pessoas mais seguras. Quando as mulheres descobrem que, apesar de não terem a mesma força física do homem, são capazes de se defender de forma simples e eficiente, elas adquirem confiança”, explica o mestre Maurício Fernandes, tutor de Krav Maga. A luta é também uma maneira de melhorar a percepção de modo geral e de adquirir um comportamento mais atento nas ruas, em locais públicos ou mesmo em casa, quando há uma situação de risco com um parceiro potencialmente agressor, por exemplo. Com a aproximação da campanha Outubro Rosa, o Instituto Krav Maga Brasil disponibilizou um curso voltado para mulheres, com 12 horas de duração, dividido em dois dias.
Bem-estar animal muda percepção sobre o zoológico zoológico
O que antes era visto como lazer humano, hoje gera debates sobre a vida animal Eduardo Guzzardi | eduguzzardi@hotmail.com
Casal de chimpanzés é exibido na área verde do Zoológico de São Paulo
Inter de Milão no Brasil:
esporte para transformar vidas Projeto Intercampus atrai jovens de até 14 anos para a prática de esportes Jennifer Leite | jenni_ld@hotmail.com
Muitos jovens, meninos e meninas, enxergam os clubes europeus como a grande oportunidade da carreira como jogadores de futebol. Mas será que jogar em um time como esse, aqui no Brasil, seria a porta de entrada para o grande sonho? Na verdade, não. A Inter de Milão tem uma iniciativa gratuita chamada Projeto Intercampus, que contempla meninos e meninas de vários países, inclusive o Brasil. Por aqui, o programa já se instalou em alguns Estados, como São Paulo, e espalhou escolinhas para crianças de até 14 anos, principalmente em comunidades carentes. Na Zona Leste da capital paulista, a Inter de Milão fez uma parceria com a Paróquia Nossa Senhora de Fáti-
ma, que promove o incentivo a atividades sociais, e ajudou a receber os minicraques em três escolinhas. O pároco, responsável pela associação, se orgulha de contar com esse apoio. “Sou italiano e, em uma das viagens ao meu país, tive a oportunidade de conhecer o projeto por meio da filha do Moratti, dono da Inter de Milão. Ela se chama Carlotta e é a idealizadora do projeto Intercampus. Falei sobre meu interesse no projeto aqui na Vila Curuçá e conseguimos o apoio para as três unidades”, conta Padre Vicente Frisullo, de 75 anos. Padre Vicente ressalta que a ajuda da Inter é fundamental, porém não é suficiente para manter as escolinhas funcionando. “Eles enviam Arquivo pessoal
Inter de Milão do Brasil atua nos campos brasileiros
dinheiro, uniformes e fazem acompanhamento, ao menos, duas vezes por ano, disponibilizando técnicos e profissionais do próprio clube. Porém, para pagar os professores, equipamentos para os treinos, deslocamento para campeonatos, dentre outras coisas, realizamos eventos para arrecadação”, explica O professor Renato Ribeiro, 34 anos, avalia a experiência vivida no dia a dia e conta que o projeto tem grande importância para os garotos, mas principalmente para os pais. “Eles se divertem. Adoram ir para os campeonatos. São moleques que amam o futebol, como a maioria dos meninos. São comprometidos e é raro que algum deles falte aos treinos. Para os pais isso também é ótimo, porque sabem onde as crianças estão e confiam no ambiente”, afirma o professor. O projeto Intercampus está na Vila Curuçá desde 2012, contando com o auxílio semestral da Inter de Milão, mas também dos membros da comunidade da Paróquia Nossa Senhora de Fátima. Os meninos, depois que completam 14 anos, não fazem mas parte da iniciativa, porém podem continuar treinando no Centro Social da Paróquia.
Quer seja verão ou inverno e, principalmente, em época de férias, os zoos atraem vasto público. São visitantes de todas as idades que procuram conhecer mais de perto animais selvagens. Entretanto, nos últimos anos, a preocupação com os direitos e liberdade dos animais cresceu fazendo com que surgissem diversos debates sobre o tema zoológico e se eles realmente deveriam continuar a existir. Os defensores da existência destes espaços dizem que os jardins zoológicos têm como ponto forte a conservação de espécies. Em outras palavras, ele serviria como local de preservação de animais ameaçados de extinção pela destruição de seu habitat natural. No avanço científico atual, os pesquisadores têm até mesmo aumentado a reprodução em cativeiro. Além disso, outras razões são apresentadas na manuten-
ção do modelo, tais como a possibilidade do desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional (dos zoólogos, biólogos e outros técnicos e estudiosos do comportamento animal), a pesquisa científica da vida animal e, finalmente, a conscientização através da exposição com a clara ideia de difundir o pensamento de preservação da natureza selvagem. ''Acredito que ao aproximar pessoas e animais em um mesmo ambiente, zoológicos educam o público e estimulam a apreciação dos animais. Esta exposição e educação pode motivar as pessoas a proteger os animais”, opina Bruno Castro, estudante de Educação Física. Já os contrários ao modelo insistem no argumento de que o melhor para os animais é deixá-los nas montanhas, vales, matas, cavernas, florestas, rios e mares,
ou seja, em seu ambiente natural. O que devemos, argumentam, é proteger o habitat das espécies para que elas vivam ali da melhor e mais harmoniosa forma possível. ''A remoção de animais da natureza possivelmente prejudica ainda mais a população selvagem, porque os indivíduos restantes terão menos diversidade genética e encontrarão mais dificuldade de encontrar companheiros. Outro ponto a ser lembrado é que animais em cativeiro sofrem de estresse, tédio e depressão em confinamento”, afirmaCamila Bertti Lanchonni, estudante de Veterinária. Na discussão sobre os jardins zoológicos, é necessário entender e escutar ambos os lados. Cabe a cada um questionar e pesquisar não só o ‘para quê’, mas também o ‘porquê’ de esses ambientes existirem em nossas cidades e assim decidir se deve ou não frequentá-los.
Cultura de primeira
“na faixa”
Nova unidade do SESC amplia o oferecimento de agenda cultural Guilherme Medeiros | gui_lavigne@yahoo.com.br
Não é todo dia que se assiste a um monólogo de um ícone da cultura brasileira, ainda mais gratuitamente. A mais recente inauguração do Serviço Social do Comércio (SESC), a unidade 24 de Maio, localizada na região do Anhangabaú, contou com uma apresentação com ninguém menos que a atriz Fernanda Montenegro, numa leitura do livro “Nelson Rodrigues por Ele Mesmo”. E o melhor: sem que público, ávido para conferir esta estreia, precisasse pôr a mão no bolso. No ano passado, foram realizados cerca de 5.293 espetáculos musicais, 9.881 oficinas artísticas, 5.293 peças de teatro, e os números só vão aumentando de acordo com as atividades e atrações ofertadas. “É impressionante a quantidade de boas atrações que a organização consegue trazer ou de forma gratuita ou com preço totalmente acessível. Em 2014, assisti a um show da cantora Izzy Gordon com participação do cantor Tony Garrido, e paguei exatos R$ 12”, diz Nicole Merigh, diretora contábil. Nesse pacote, estão shows, exposições, palestras,
peças teatrais, comédias stand up, musicais, atividades físicas e inúmeras atrações que o SESC promove há 71 anos. Quem em São Paulo nunca foi convidado para ir ao SESC, conferir alguma atração cultural? Uma quantidade considerável de pessoas já usufruiu gratuitamente de uma programação com uma vasta gama de artistas de renome. “O que eu mais gosto em relação ao SESC é que você vê pessoas de todas as faixas etárias e poder econômico num só lugar, provando que a cultura só agrega e nos tira a margem da diferença social”, diz Milena Laurenti, auxiliar
administrativo e frequentadora assídua do local. Desde setembro de 1946, o SESC vem contribuindo para o bem-estar coletivo de inúmeras formas e, apesar de ser uma instituição privada, mantida por empresários do comércio e por associados, os benefícios disponibilizados abrangem em sua maioria o público geral. O que Milena afirma ao ser questionada faz sentido. As ações promovidas pelo SESC incluem também intervenções culturais e permeiam a miscigenação e o envolvimento da população com a arte e com atividades que fazem bem ao corpo e à mente. Sesc
Público também tem programação de exercícios físicos Jornal Expressão