Expressão 15 novembro 2017

Page 1

número 15 ano 24 usjt novembro/2017

Jornalismo Universitário levado a sério

Doce Veneno Substância que adoça o paladar mas amarga a vida se consumida em excesso Especial - pág. 4 e 5


ano 24 |no 15| novembro/2017

O doce amargo do açúcar

Ele faz parte do nosso dia a dia, seja na sua forma natural ou industrializada. O açúcar é um tipo de carboidrato que está presente de forma intensa na dieta alimentar de todos os brasileiros. Os números atestam isso. De acordo com a OMS, nós consumimos individualmente, em média, 30kg desse produto em 2016. É muito acima daquilo considerado como ideal: 18,2kg. Nossa reportagem Especial foi à campo procurar entender um pouco como é nossa relação com este doce alimento. Por que ele tem aspectos viciantes? Qual a importância histórica desse produto? Qual o seu peso para a economia nacional? Quais são os melhores substitutos para o açúcar? Quais os principais problemas de saúde decorrentes do consumo excessivo deste carboidrato? Nossos repórteres foram atrás de respostas para estas questões e nos fazem alertas importantes. Vamos entender tudo isso? E, para encerrar a última edição de 2017 do nosso jornal laboratório, na página Educação, falamos sobre os principais motivos que levam uma pessoa a não prosseguir seu curso na graduação. Trancar ou desistir é uma realidade vivida por milhares de estudantes semestralmente. Em Vida Digital, conversamos com um empreendedor na área de jogos para falar sobre o mundo da Inteligência Artificial e como esta área impacta nos jogos digitais atualmente. Na editoria de Artes, a reportagem de destaque fala sobre o trabalho que envolve a maquiagem artística, sua diversidade de aplicação e usos. Para fechar em grande estilo, a página de Esportes+Lazer, resolveu encarar uma clássica brincadeira: o carrinho de rolemã. Pode ser que na nossa memória essa atividade seja uma divertida farra de criança, mas muita gente compete seriamente em cima desses carrinhos. Duvida? Vamos conhecer um pouco sobre essa galera? Então, então... esta é uma edição de despedida de 2017. Nosso derradeiro jornal elaborado pelos alunos de quarto ano letivo de jornalismo, Mooca e Butantã, neste ano. Foram 15 edições elaboradas por uma equipe de primeira: quase 120 repórteres. Agora, eles se despedem. Em 2018 teremos um novo time. Uma nova equipe. Mais edições... Ótimas férias para todos vocês, queridos leitores.

Savador de cá, Salvador dalí...

O Mercado Modelo é um local histórico e ponto de ampla beleza em Salvador. Andressa Borges - aluna do 4o ano de Jornalismo - Campus Butantã

Profa Iêda Santos e Profa Jaqueline Lemos

Laís Soares,

a ilustradora que se reinventa

Arquivo pessoal

Animais e plantas estão presentes na maioria dos desenhos da jovem ilustradora Andressa Borges | andressaborges2@hotmail.com

Da tela manual para a digital a arte se reinventa nas mãos da ilustradora Laís Soares Silva, de 23 anos, moradora de Guarulhos. Dona de duas cachorras e três gatinhas, a inspiração artística da jovem, quando não surge de um estalo, pode vir do universo onírico ou de referências aleatórias. Pode ser uma experiência, uma música, um filme, um livro ou algum tema muito subjetivo. Animais e plantas estão presentes em suas criações, nada foge da criatividade da artista. Formada em design gráfico com ênfase em tipografia pela Universidade Anhembi Morumbi, Laís é apaixonada por fotografia desde os 12 anos de idade e já gostava de brincar e montar cenários com objetos, papel colorido, massa e colagens. No final, fotografava tudo para passar alguma ideia com as imagens. Aos 14, ela começou a fazer um curso técnico de Comunicação Visual, no qual descobriu que o que queria mesmo era expressar coisas visualmente e que existiam infinitas maneiras de fazer isso. A técnica feita com tinta aquarela é a mais usada pela jovem na criação de seus

desenhos, mas ela também gosta de fazer de outras maneiras. A ilustradora é adepta às técnicas analógicas, pois acredita que elas têm uma carga diferente de carinho e singularidade, mas uma das principais características de seu trabalho é que ela sempre procura colocar algo de digital nele. "Gosto de trabalhar com tintas em geral, mas os meus desenhos sempre passam por ajustes digitais antes de serem considerados arte final. Às vezes os ajustes acabam mudando bastante a cara do desenho, e aí fica uma mistura analógico-digital", explica. Laís não para de se aperfeiçoar, além de ter concluído sua faculdade e realizado cursos rápidos de cerâmica e gravura, atualmente ela faz um curso de fundamentos de desenho. A jovem também já participou de um trabalho, em abril desse ano, com a escritora de romances para o público jovem, Chris Melo, em parceria com a editora Rocco. "O Bom do Amor" começou como uma websérie que era publicada duas vezes na se-

mana nas redes sociais da Rocco e depois virou livro. O trabalho traz ilustrações feitas em aquarela, acompanhadas de textos curtos que tratam sobre o lado bom e os momentos nem tão brilhantes assim de estar em um relacionamento amoroso. A designer gráfica já havia escrito, ilustrado e diagramado um pequeno livro com dez histórias sobre plantas. O trabalho era totalmente pessoal e foi impresso e encadernado à mão e depois enviado para um concurso de literatura da Universidade de Sorocaba (Uniso), no qual ela ganhou uma menção honrosa. Ela explica que nunca havia sido convidada a participar de um projeto como o da Rocco e que o primeiro contato da editora foi para fazer uma capa de um livro, mas que viu a mensagem somente cinco meses depois. Após entrar em contato com a editora e se mostrar disponível para outros trabalhos, o convite em fazer parte do livro surgiu e foi um grande desafio ao mesmo tempo em que ela encarou como uma oportunidade única.

A artista diz que não tem nenhum desenho que considera o seu favorito, mas afirma que a relação com os trabalhos mais novos é mais simbólica do que com os antigos, pois ela sabe que colocou neles o máximo de experiência que adquiriu até hoje. "Sempre vou olhar os meus primeiros desenhos e perceber que poderia ter saído melhor. Quanto mais antigo, maior essa sensação", conta. No momento, Laís não tem nenhum outro projeto em vista, mas está aperfeiçoando suas técnicas em fundamentos de desenho e focando menos na finalização, pois acredita ser crucial para a evolução das estruturas de seu trabalho. Ela também tem um emprego fixo na área de design de interfaces e sempre que pode procura integrar as ilustrações. A jovem não vê o seu trabalho como um talento, mas sim, como uma ferramenta utilizada para se expressar de alguma forma. "O que costumam chamar de talento nada mais é do que uma construção diária e às vezes inconsciente de algumas habilidades e repertórios", diz a ilustradora.

Desterro

Karina Oliveira | karina.20oliveirasilva@gmail.com

“Se a primeira impressão é a que fica, Melhor nunca olhar para uma periferia. A impressão é que todo mundo foi para outro lugar e esqueceu de terminar a construção. Ou ainda que todo mundo ta no meio da obra, só que brincando de viver. É mais simples que isso. Na verdade, morar na periferia é um grande aprendizado que só a dor pode dar”. Amor, crimes, política, corrupção e uma pitada de solidão dão vida à HQ “Desterro”, lançada em 2013 pelo roteirista Ferréz e pelo ilustrador Alexandre De Maio. A obra é resultado de quatro anos de muito trabalho e dedicação da dupla que mergulhou de cabeça no cotidiano nu e cru das quebradas do Capão Redondo, periferia da zona sul de São Paulo. O maior realismo do livro se dá pelo fato de Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz, morar e trabalhar na região, tendo uma grande interação com o ambiente e o dia a dia da população do Capão. Logo, ele vive e ambientaliza seu cotidiano. Tal descrição e composição se unem ao olhar atento e aos traços marcantes de De Maio, que tem ampla intimidade com temáticas sociais e periféricas. O tom ácido e sem retoques da ora fez admiradores, como Genivaldo Dias dos Santos, conhecido como Gil, 26, criador e editor do portal Black Pipe. “Desterro é um material bem fiel a algumas coisas que ocorrem na periferia: as gírias, a forma que você pensa e enxerga o mundo...”. E acrescenta: “Ferréz fez um ótimo trabalho no roteiro. Ele mostra muito bem o porquê de cada personagem agir de tal forma e o De Maio tem uma arte

bem realista nesse material, além dele também usar fotografia como referência, o que dá um tom de realidade para as cenas”. Além da relevância do tema para a sociedade, Gil ainda acredita que o livro tem uma grande importância que além do quesito de representatividade, mas de incentivo para jovens periféricos talentosos a fazer histórias em quadrinhos e investir nesse material. “É muito importante ter alguém que veio do mesmo lugar que você fazendo algo que vai mostrar que onde moramos não é só ponto de drogas, Igreja e boteco. Temos cultura e muitos jovens que têm um talento. Só basta ter a oportunidade”, afirma. Na trama, as mazelas sociais periféricas se unem também a cultura da população, o modo como são noticiadas na imprensa e os valores vividos pela sociedade. No final da HQ, há um texto com informações relacionadas à violência em São Paulo e no Brasil, com dados que mostram a porcentagem de assassinatos de crianças e adolescentes, como também as taxas de homicídio de responsabilidade da polícia militar. Para encerrar o livro, Ferréz acrescenta: infelizmente, não precisamos inventar uma cidade violenta para fazer um quadrinho”.

expediente

Jornal laboratório do 40 ano de Jornalismo da Universidade São Judas Reitor Ricardo Cançado Vice-reitor Fabrício Ghinato Mainieri Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Coordenadora dos cursos de Comunicação Profª Jaqueline Lemos Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos Redação Alunos do JOR4AN-BUA Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667

Jornal Expressão

Capa Foto:Bruno Rodrigues

As matérias assinadas não representam, necessariamente, a opinião da Universidade.

converse com a gente: jornalexpressao@usjt.br Siga o Expressão no Instagram: @jorn_expressao e no Facebook: Expressão


ano 24 |no 15| novembro/2017

Largar a faculdade?

Evelyn Gomes

Falta de dinheiro, expectativas frustradas ou greves dificultam vida acadêmica de alunos Wesley Alencar | wsyasousa@gmail.com

No decorrer do seu curso, você já pensou em trancar a faculdade? Se sim, esse é um pensamento que, cada vez mais, assola os universitários brasileiros. Segundo dados mais recentes do Ministério da Educação, o Censo da Educação Superior de 2015 apontou que o número de alunos que abandonaram a faculdade chegou a 49% em 2014. Mesmo com programas de incentivo ao ingresso às faculdades e algumas universidades também propiciando o acesso aos cursos superiores com ações promocionais, muitos alunos optam por não prosseguir estudando. Problemas financeiros ou a não adequação ao curso são os principais mo-

tivos apontados pelos alunos ouvidos pelo Expressão. “Entrei no curso de Direito assim que finalizei o Ensino Médio, mas não tinha certeza do que queria fazer na época, e acabei ficando até o 4º ano, mas era bastante infeliz. A expectativa de ser advogado me deixava bem triste, então, sem pensar muito, decidi trancar a faculdade”, contou Fábio Guilherme Teixeira. Se para Fábio Guilherme a decisão foi mais fácil, para Amanda Schmidt foi pouco mais complicada. A ex-aluna de Jornalismo, relata que tentou fazer um acordo com sua universidade, para se manter no curso, mas as dificuldades financeiras somaram-se a o descontentamento para com

as aulas e a impediram de prosseguir estudando. “Foi difícil. Apesar de ter decido trancar, foi como se tudo tivesse sido em vão. Entendi depois que não tem nada de errado em desistir e começar tudo de novo”, expôs Amanda. Há quem também tenha desistido do curso por negligência da faculdade, como é o caso de Gustavo Marinato, ex-aluno de Design Digital. Segundo Gustavo, antigos professores da UNIFIEO, em Osasco, entraram em greve após 4 meses de salários atrasados, ficando sem aulas para realização dos trabalhos acadêmicos. “Amei Design Digital, era exatamente o que queria fa-

Brasil é o país que mais agride professores Seguido por Estônia com 11% e a Austrália com 9,7% Douglas Henrique | henriquedouglas.jornalismo@gmail.com

O Brasil lidera o ranking de agressões em salas de aula. Em 2015, uma pesquisa do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo mostrava 44% de casos relatados no estado. A maioria agressão verbal, seguida por bullying, vandalismo e agressão física. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), no entanto, coloca o país em primeiro no ranking, com o índice de 12,5% de relatos de professores. “Os professores criam seus monstros. Pela dificuldade de ter um bom salário, dão aula em três escolas para ter um bom salário. Como que esse professor prepara a aula dele? Muitos pegam turmas picadas. Imagina como sai o ensino dentro das escolas estaduais”, conta Itamara Leal, professora. Para Itamara, a violência depende de como a escola se forma no contexto pedagógi-

co. Já Karina Jorge, professora de química, comenta que a desvalorização e a alta exigência posta pela sociedade colaboram para a violência contra os professores. “Outra coisa que massacra é passar de ser o portador do conhecimento para o cuidador. E isso é péssimo, pois atrapalha a profissão”, fala Karina. A professora da USP, Andrea Melo, destaca inúmeros fatores contribuintes para a violência que os professores enfrentam nas salas de aula, como a insegurança na escola e imediações, carência em punições administrativas e judiciais severas aos alunos indisciplinados, a omissão da família na vida educacional de seus filhos e o medo que os professores têm de denunciar por represálias de alunos e de suas famílias. “Eu percebo que a escola se tornou um depósito de crianças e adolescentes, os novos pais entendem que

a escola tem por obrigação dar a educação que pela regra deveria vir deles e não dos professores, afinal, nós professores estamos lá para transmitir o conhecimento necessário para que os alunos possam ter condições de dar continuidade em seus estudos e assim conseguir alcançar seus objetivos”, observa Bruno Areia, professor. Bruno entende que não são somente os alunos que precisam de educação, mas também seus pais. “Tem pai e mãe que não sabem como educar seus filhos. Não sabem como ajuda-los nas tarefas da escola e principalmente não sabem que com educação pode se mudar a vida de uma pessoa, pois os jovens são o reflexo da casa, se os pais são unidos, pode ter certeza que no estudo isso será demonstrado, se a casa é uma bagunça pode ter certeza que no comportamento é demonstrado”.

Estudantes que buscam alternativas para trancar a faculdade via sistema online zer; as matérias e os trabalhos tinham tudo a ver com o que eu gostava. Foram mais de 2 meses de greve, não consegui entregar os trabalhos, fiquei sem nota e ainda tive de pagar as mensalidades. Meus professores foram demitidos

sem terem recebido os salários, o que me fez sentir muito prejudicado, então decidi trancar”, comentou Gustavo. Embora esses alunos citados tenham trancado seus respectivos cursos, nenhum deles abandonou de vez o

Ensino Superior. Enquanto Fábio Guilherme cursa Comércio Exterior na USJT atualmente, Gustavo estuda Produção Multimídia na Faculdade Impacta e Amanda pretende fazer História no ano de 2018.

Natureza é ferramenta pedagógica

Educação ambiental é o fio condutor para a transformação Nathália Forte | nathaliafortecontato@gmail.com Reprodução

Pitch Gov recebe ideias inovadoras para Educação

O programa seleciona os melhores projetos e soluções para atuar no Estado Letícia Oliveira | leticia.o@hotmail.com Reprodução

Crianças da periferia de Osasco no projeto social Pequenas empresas e empreendedores podem participar da 2ª edição do Pitch Gov, programa que permite a apresentação de ideias inovadoras que visam melhorar a educação e podem despertar o interesse e futuro investimento de especialistas, investidores e representantes do governo. Na primeira edição, em 2015, o Governo assinou convênio com 9 startups que testaram soluções nas áreas de saúde, educação e facilidades ao cidadão. Foram 304 inscrições de jovens empresas de tecnologia de várias regiões do país e do mundo. Entre as aprovadas, está o aplicativo ClassApp, que facilita a comunicação entre escola, pais e alunos. Além de Educação, Estatística e Análise de Dados, Finanças Públicas, Habitação, Saneamento e Energia, Saúde, Transparência e Controle Interno e Transportes são áre-

as abertas a participação que seleciona dezesseis startups para atuar nesses setores. As apresentações são realizadas no CASE - Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo, maior evento do tipo da América Latina, realizado pela ABStartup, na área de Educação, os participantes passam por cinco desafios: 1) Como potencializar as atividades de reforço e recuperação nas escolas com o uso da tecnologia?; 2) Como realizar a supervisão de infraestrutura das escolas à distância?; 3) Como melhorar o compartilhamento de boas práticas entre as escolas da rede e entre as Diretorias de Ensino com a participação de alunos?; 4) Como implementar um sistema de tutoria virtual para professores e funcionários?; 5) Como utilizar a tecnologia para fornecer programas de Jornal Expressão

aprendizagem complementar para alunos com autismo? Miguel Jacoput, educador e designer, é apaixonado por educação e trabalha com projetos educacionais desde os dezesseis anos, além de ter um emprego fixo na Nave à Vela, onde desenvolve currículo que inovação que são inseridos nas escolas, ele coordena o projeto Projetistas Periféricos, que tem o intuito de usar o design para projetar soluções, usando tecnologia como ferramenta e a educação como meio. Para o Pitch Gov, o educador desenvolveu um kit educacional, chamado Da Hora Kit, que ensina sobre estrutura e máquina simples, segundo a base nacional curricular, ele seria um material didático de alunos do sexto ano. “É uma oportunidade para o Da hora Kit se potencializar, ele já está nas salas de aulas, no Nave à Vela. Os feedbacks são ótimos, meu objetivo é transformá-lo em um negócio de impacto social, acessando todas as escolas públicas”, diz Miguel. Se trata de um kit educacional de baixo custo, varia entre quinze e vinte centavos por kit, para ser extremamente popular. Miguel quer transformá-lo em uma metodologia de ensino prático, sendo usado como base, facilitando ainda mais a interação do professor, alunos e com a tecnologia

Brincando com água, imersão na natureza Escolas apostam na sustentabilidade como ferramenta pedagógica e em um ensino orientado por vivências mais sistêmicas. O termo sustentabilidade engloba um conjunto de ações e atividades humanas que ajudam a garantir o futuro das próximas gerações. Para que a deterioração do planeta se transforme é necessária à busca da conscientização ambiental. Investir em uma criação mais sensível às questões atreladas à sustentabilidade é uma forma de educar crianças e ensiná-las sobre a importância da preservação do meio ambiente e de uma rotina mais verde. As instituições de Educação Infantil podem trabalhar a relação entre crianças e natureza de diversas maneiras para fortalecer esse contato, como atividades ao ar livre, cultivar uma planta dentro da sala de aula, fazer uma coleta seletiva para impulsio-

nar o consumo consciente. “Na escola em que trabalho, eu fiz uma horta suspensa, e organizei um rodízio para que cuidem das plantas, semeando, regando e tirando o mato. Faça disto um hábito”, explica Sonia Regina Lemo, professora. O trabalho com a natureza tem muito para acrescentar na qualidade de vida e desenvolvimento das crianças, o próprio contato com ela, em pequenos gestos, ensina um modo mais inteiro e harmonioso de crescer, se conhecer e conviver. Os laços mais estreitos com a natureza nos ensinam que fazemos parte dela, colaborando para construção e ampliação de nossa consciência pessoal, planetária e ecológica. Não basta falar sobre as plantas, pintar árvores, escutar histórias e ver nos livros. É necessário um processo de imersão no ambiente, isso só é possível quando há um contato com a terra, os animais, as cores e os sons da natureza.

Na sala de aula é possível organizar um planejamento que considere as estações do ano. Por exemplo, na primavera é bom observar os pássaros, deitar debaixo das árvores, cantar e brincar de roda na areia, perceber as plantas, observar o colorido das flores e desenhar os insetos que circulam. As chuvas de verão ensinam sobre o fluxo das águas, nutrem a curiosidade, acalmam e instigam ao mesmo tempo. “Pense como aproximar as crianças destas percepções. Escute e imite o som da água batendo no telhado e na calha, encha bacias e reutilize a água para lavar o chão ou fazer uma tinta para o trabalho de artes. Se possível, arrisque um belo banho de chuva”, diz Sonia, sobre as atividades que faz com seus alunos para apurar os 5 sentidos das crianças.


ano 24 |no 15| novembro/2017

AÇÚCAR

O maior vilão da saúde brasileira Doce, mas nem tanto, o açúcar é viciante e o responsável por inúmeras doenças

Bruno Rodrigues

Bruno Rodrigues | brunordesousa@outlook.com

O brasileiro consumiu em média 30kg de açúcar em 2016. Isso mortal! Quando o assunto é açúcar, a primeira coisa que nos vem a mente é felicidade, alegria, amor e claro, doce. Porém, o que muitos brasileiros não sabem é que esse pequeno carboidrato cristalizado é o agente principal que atua por trás de muitas doenças.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou o governo brasileiro recentemente a respeito da quantidade de açúcar consumida no país. Segundo o órgão, a população deveria cortar pela metade o consumo do insumo, algo em torno de 6 colheres ou 25 gramas.

Somente em 2016, a média de consumo de açúcar do brasileiro foi de 30kg por ano, quase o dobro dos considerados ideais, 18,2kg. O número impressiona, mas a explicação é pior ainda. Segundo o estudo da OMS, 50% do uso do açúcar se deu

por ingestão do açúcar intrínseco dos alimentos processados, ou seja, alimentos que levam adição do pó durante o processo de fabricação. O açúcar é o grande vilão da saúde dos brasileiros, pois o impacto causado pelo alto consumo do pó branco doce pode ser “devastador”. Esse é o termo usado pela nutricionista e médica do exercício do esporte, Erika de Oliveira. Erika ainda diz que o principal problema do açúcar é o componente viciante. Segundo ela, “O sistema nervoso central registra que o açúcar é uma rápida fonte de energia, portanto, sempre que se sentir com falta de algum abastecimento, ele vai te informar da necessidade de um doce”. Já para a também nutricionista Susan Lindsey, que atua no Hospital Nove de Julho, o maior problema do açúcar é que ele é um “convite para muitas doenças”. A médica ainda diz que “o açúcar” não alimenta. Ele só é prejudicial, uma vez que retira do organismo as vitaminas do complexo B e alguns minerais, como cálcio.

A enfermeira especializada em casos de diabetes, Adriana Bueno, afirma que o principal prejuízo que o açúcar causa ao corpo humano é justamente a doença crônica que não permite o corpo processar o açúcar do sangue. Para Adriana, “a obesidade e a diabetes podem ser facilmente evitadas com a redução do consumo de açúcar. Se você pensar que hoje a diabetes do tipo 2 mata, o açúcar passa a ser um grande vilão”. Além do vício, da obesidade e da diabetes, o açúcar é o responsável por uma grande gama de doenças, tais como, hipoglicemia, distúrbios intestinais e até doenças mentais. Um estudo da Universidade da Califórnia concluiu que a ingestão de xarope de frutose e sacarose, ambos da mesma classe que o açúcar, por longos períodos de tempo, afetaram a ação dos neurônios. Os pesquisadores afirmaram que esse bloqueio afeta também a memória, o aprendizado e a velocidade de raciocínio. Diante desta gama de problemas, a solução não é abandonar de vez o açú-

car, mas, assim como disse a médica nutricionista Erika de Oliveira, “temos que aprender a conviver com ele, uma vez que não é viável o eliminar”. Erika propõe que o foco das pessoas não seja apenas para como o pó branco refinado ou doces em geral, mas também com massas, pães, cereais e todos os alimentos em que o açúcar está embutido, dessa forma, as pessoas poderiam ter um controle maior sobre as quantidades para não ultrapassar a medida recomendada pela OMS. A doutora Susan, por sua vez, defende que o principal problema está na fixação das crianças por doces. Segundo ela, “Os pais devem ser extremamente cuidadosos com a quantidade de açúcar nessas balas e doces industrializados. Esses são os verdadeiros venenos da nossa saúde”, enfatizou a médica. Para Adriana, o importante é manter uma dieta equilibrada e o corpo saudável. A única solução encontrada por ela é evitar ao máximo o maior vilão da saúde brasileira, o açúcar.

“Com açúcar, com afeto”

O doce da economia

Danilo Guerra | daniloguerra1996@gmail.com

Camila Marcela | camilamfpassos@gmail.com

Como o sabor adocicado influencia a cultura, segundo a antropologia Danilo Guerra

Qual o valor da cana-de-açúcar para o mercado brasileiro

Com grande importância no Produto Interno Bruto – PIB – a produção de açúcar tem grande influência nas exportações brasileiras. “As exportações crescerem 36,6% em 2016, gerando um total de 10,4 bilhões de dólares”, conta Manfred Back, professor de Economia da Universidade São Judas. “Estamos falando de um setor que possui um PIB que supera o PIB de 100 países com um faturamento que superou a marca de R$ 100 bilhões”, complementa Adailton Azevedo, mestre em Economia e Finanças.

Sendo um produto tão relevante, tem imensa importância também na criação de empregos. “Gera algo em torno de 900 mil empregos diretos, com mais de 70 mil produtores rurais, com a produção do etanol tem-se mais 1 milhão de empregos diretos e 3,5 milhões de empregos indiretos”, afirma Adailton. Entretanto, se a população brasileira diminuísse drasticamente o seu consumo, qual seria o tamanho do impacto para nossa economia? “Perderia um volume considerável, mas não afe-

taria o mercado exportador, o mercado de combustíveis e o refinamento”, é o que acredita Manfred. Adailton concorda com essa visão, “o setor sucroenergético não se resume a produção para consumo humano, apesar de ser o maior percentual. Há uma experiência consolidada na produção de bicombustível, o etanol é uma opção renovável e mais limpa em relação aos combustíveis fósseis, com certeza uma alternativa ainda não totalmente explorada no Brasil e no mundo”.

Taxa de obesidade infantil cresce no Brasil

País registra 2 milhões de novos casos do problema por ano Aline Galhardo | galhardo.alinef@gmail.com

Aline Galhardo

O tema rompe barreiras gastronômicas e torna-se um sentimento na canção A origem do açúcar é oriental. Estima-se que no ano 6.000 a.C. regiões próximas à Índia cultivavam a cana para a extração desse carboidrato. O uso, no entanto, não era o mesmo dos dias de hoje, tratava-se de uma especiaria de cunho exótico. A partir de então, o produto passou por modificações e, igualmente, modificou culturas gastronômicas, econômicas e sociais em todo o planeta. Foi no século XVII que um grande apreço pela sacarose e frutose em formato de grão começou. À época, uma revolução gastronômica aconteceu no mundo. Todo o preparo de alimentos doces, que era feito do

mel de abelhas, passou a ser repensado e as possibilidades aumentaram demasiadamente. Mas foi no nordeste brasileiro que o doce tomou corpo e paladar, mais especificamente no estado de Pernambuco. Já na primeira metade do século XX, Gilberto Freyre, famoso antropólogo brasileiro, demonstrava a importância do açúcar para a cultura nacional tanto no sentido econômico como no comportamental, comparando a expressão das artes plásticas ao cultivo da cana. Para o autor, o açúcar ajudou a criar as bases da civilização brasileira, e justifica a afirmativa a partir da monocultura des-

te item, implementada para atender à demanda de exportação que o produto gerava na Europa, alterando, assim, o caráter extrativo da nossa economia e transformando-a em cultivo. Para o sociólogo e historiador, André Novais, essa relação entre açúcar e sociedade tem se tornado cada vez menos positiva, devido ao consumo excessivo da população. “Com a correria da atualidade, perdeu-se o equilíbrio na alimentação. O açúcar, assim como qualquer outro alimento neste contexto, acaba tomando características de vilão e gerando problemas sérios à saúde, como a obesidade”, afirma.

De mel a melhor Introduzir o mel em nossa alimentação diária é possível e saudável Juliano Felix | juliano_felix_brito@yahoo.com.br

Segundo a nutricionista Lorenna Ferreira, o mel é naturalmente doce, rico em proteínas e sais minerais e expectorante, ajuda a melhorar a resistência do organismo e auxilia na digestão. A dona de casa Elza Dantas já adotou a substituição do açúcar pelo mel,

mesmo antes de saber os benefícios deste para a saúde: “Quando eu soube que ainda é mais saudável, passei a usar em tudo quanto é receita”. Entretanto, a nutricionista faz o alerta que diabéticos precisam tomar cuidado no consumo do alimento.

Há 350 mil crianças, de zero a cinco anos, obesas no Brasil segundo dados da OMS Biscoitos recheados, balas, sorvetes e refrigerantes. Os olhos de Renan Castro, de apenas 4 anos, brilham quando ele visualiza esses produtos nas prateleiras dos supermercados . Sua mãe, Rosângela, 34 anos, não via mal algum em agradar o filho com guloseimas, até a última visita à pediatra. O pequeno Renan engrossa a estatística de que 7,3% das crianças menores de 5 anos no Brasil são consideradas obesas, segundo estudo divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) neste ano. Renan pesa 22 kg e mede 1,03 cm, para a Associação Brasileira de Pediatria ele é obeso e deveria pesar entre 16 e 17 kg. “Quando fui à pediatra e descobrir que meu filho estava 6 kg acima do peso e obe-

so, eu levei um susto. Antes, criança ‘gordinha’ era tida como saudável, mas o Renan está com colesterol alto. Agora bolachas, bolos e chocolates estão proibidos lá em casa, ele só vai comer frutas e legumes”, diz Rosângela. É possível cortar o excesso de açúcar em pequenas atitudes, como oferecer água às crianças em vez de sucos de caixinha ou refrigerantes e dar-lhes frutas como sobremesa. Além disso, adotar uma dieta rica em vegetais e cortar alimentos industrializados que “escondem” o açúcar, como ketchup, leite em pó e pães, sem falar dos fast foods. Para a clínica-geral, Anna Carla Ferreira, o aumento da taxa de obesidade infantil no Brasil é preocupante. “Nos últimos 9 anos vimos Jornal Expressão

o índice de crianças obesas, de 0 a 5 anos, crescer 80%, estamos falando de 350 mil crianças. Além disso, 40% das crianças de 5 a 9 anos estão acima do peso”, afirma. Se considerar a faixa etária de 0 a 18 anos, são 2 milhões de novos casos do problema por ano, segundo Ministério da Saúde. O consumo exagerado de açúcar na infância favorece o ganho de peso e, consequentemente, à obesidade. “O excesso de açúcar branco na alimentação infantil contribui para o surgimento de diabetes, doenças ósseas, renais e cardiovasculares. Para frear a evolução do problema, é necessário mudar os hábitos alimentares após o aleitamento materno”, esclarece a médica.


ano 24 |no 15| novembro/2017

AÇÚCAR

A doença silenciosa: DIABETE Níveis de açúcar estão ligados a cerca de 3,7 milhões de mortes

Josiene Lira | josiene_lira@hotmail.com

Lucas Ramos | lucasrf9@hotmail.com

Colheradas em exagero Nathalia Andrade | jorn.nathaliaandrade@outlook.com

“O prazer pelo sabor adocicado e a sensação que o açúcar proporciona, em momentos de estresse, nos faz perder a noção da colherada e quantidade que posso ingerir em um úni-

co dia. Ao tomar achocolatado que já é doce, não contente, coloco mais duas colheres de sopa de açúcare a história se repete sempre”, afirma a estudante, Letícia Carolina Santos.

Cuidado!

O açúcar estimula sensação de conforto e alegria, mas é preciso equilibrio Cintia Barbosa | cintiasilvabarbosa41@gmail..com

A busca pelo paladar doce vem da necessidade de sobrevivência, o problema é que geralmente as pessoas preenchem algum vazio existencial com esses alimentos, por isso a busca pela ajuda psicológica também é importante. Existem outras opções que podem substituir o açúcar comum utilizado no dia-a-dia,

o açúcar mascavo, por exemplo, possui menos química, porém menor poder adoçante, assim como o mel, por isso é preciso cuidado. “Às vezes é melhor diminuir o consumo do açúcar refinado do que utilizar um açúcar supostamente melhor em maior quantidade”, afirma Thiago Bronze, nutricionista.

Com o aumento do número de pessoas acima do peso os casos de diabetes do tipo 1 e 2 também acabam tornando-se mais frequentes. As causas diferem, no tipo 1 os fatores são imunológicos ou hereditários, já na do tipo 2 se relaciona ao estilo de vida, dietas desequilibradas ou outras doenças primárias. Segundo Monique Santos, nutricionista clínica, para diagnosticar o quanto antes a diabetes é necessário realizar exames, como a glicemia ou teste oral de tolerância à glicose (curva glicêmica), mas antes de tudo isso alguns sintomas podem ser observados pela própria pessoa, como: sede excessiva, cansaço, urinar em grandes quantidades e várias vezes em um intervalo pequeno, fome intensa, perda de peso e difícil cicatrização. Também temos os casos de diabetes gestacional que ocorre em mulheres que já são predispostas geneticamente. A insulina é impedida de funcionar corretamente, devido aos altos níveis de outros hormônios. E por último a diabetes secundária que seria aquela causada por outras doenças como dis-

Wesley Salvador

Diabete cresce a cada ano por causa de vida sedentária lipidemia, pancreatite que comprometem a produção ou utilização da insulina. Dalva Aparecida, aposentada, comentou sobre quando percebeu que havia algo de errado em seu corpo e quais foram as mudanças em sua vida. “Eu sentia muita sede e tonturas frequentes, sabia que algo estava errado comigo. Procurei médicos especialistas e fui diagnosticada com diabetes do tipo 2, a partir de então adotei um novo padrão de vida, comecei a

praticar caminhada diariamente e cortei carboidratos da alimentação”. A diabete do tipo 2, é mais presente em adultos e está relacionada ao estilo de vida, alimentação rica em açúcar e gorduras saturadas, mas pode ser também observada em crianças e jovens que devido ao novo estilo de vida, proporcionado pela tecnologia, diminuem atividades onde havia grande gasto energético, esclarece a nutricionista.

Fabricação é um processo

longo e complexo Henrique Ramalho | henrique.buenoramalho@gmail.com

Unica

O que usar em uma dieta livre de açúcar? Embora muito popular adoçante não é a primeira opção mais saudável Beatriz Brito | bea-brito@hotmail.com Beatriz Brito

Depois de pronto, o açúcar é transportado na esteira para empacotamento

Algumas marcas de adoçantes tradicionais aderiram a stevia como matéria-prima Hoje, existem várias opções que podem substituir o açúcar branco refinado, entretanto, nem todas são saudáveis como se pensa, e o preço pode não ser tão atrativo. Daiane Santos de Oliveira, especialista em nutrição clínica aplicada e terapia nutricional, explica que existem substitutos mais saudáveis para o açúcar e alerta para alguns produtos que não são indicados. “O xilitol tem a aparência e o gosto bem parecido com o do açúcar, com 40% menos calorias e baixo índice glicêmico. O xilitol não afeta a insulina, portanto, é uma excelente opção para diabéticos, pré-diabéticos e obesos”.

O ágave, embora apareça como uma opção por ser orgânico e ter sabor agradável, não é uma escolha saudável. Segundo Daiane, embora o nível glicêmico dessa substância seja menor, ela tem alto teor de frutose livre, que é ainda pior do que a glicose. “A stévia tem basicamente zero de calorias e é benéfica à saúde. Estudos demonstraram que ela pode ajudar os que sofrem de pressão alta e também ajuda a diminuir os níveis de glicose no sangue de diabéticos. Entretanto, ela possui um gosto levemente amargo, considerado desagradável”, explica a nutricionista. O açúcar de coco é outra opção saudável. “Não passa por processo de refinamenJornal Expressão

to e adição de conservantes químicos, tem alto valor nutricional e é fonte de ferro e potássio, além das vitaminas B1, B2, B3 e B6. Seu índice glicêmico é baixo e ele pode controlar os níveis de açúcar no sangue. É uma alternativa que pode ser consumida até por diabéticos, inclusive os do tipo II, pelo baixo índice glicêmico”, afirma Daiane. A substituição do açúcar, no entanto, nem sempre é fácil. Ildeci Maria Salvador, que tem diabetes, é um exemplo de quem preferiu abandonar o açúcar para cuidar da saúde. “Faz falta, porque eu tenho vontade de comer doce e não posso. Mas com a diabetes, se eu comer açúcar fico pior, então prefiro ficar sem.”

Quando você está preparando um pudim para a sobremesa do almoço de domingo e chega o momento de utilizar o açúcar, nem imagina as etapas pelas quais esse ingrediente passou até se transformar nos cristais que derreterão na panela. Para explicar o processo de fabricação deste alimento, desde a matéria-prima até a forma pronta para consumo, o Expressão entrevistou Luciano Rodrigues, economista-chefe da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Expressão: O açúcar é feito a partir da cana. Como funciona a colheita da matéria-prima e o que acontece até sua chegada às usinas? Luciano: Em várias regiões do país, a palha da cana-de-açúcar ainda é queimada para facilitar a sua colheita, mas esta prática deverá se extinguir até 2031. Em São Paulo, já se pratica a colheita mecanizada, e é entregue a cana picada, denominada de “cana crua”, às usinas. As colhedo-

ras cortam a cana em toletes de cerca de 30 cm cada e procuram eliminar a maior quantidade de impurezas vegetais e minerais nesta operação. Depois disso, a cana picada é transportada diretamente à usina de açúcar. Em virtude da exposição dos toletes à ação dos micro-organismos, a matéria-prima deve chegar à usina em um período de tempo inferior a 10 horas. Expressão: Depois que a cana chega às usinas, como são as etapas de fabricação do alimento, até o seu estado pronto para consumo? Luciano: Inicialmente, é feito o desfibramento da cana, seguido de moagem para a extração do caldo. O líquido é enviado para tratamento físico-químico, a fim de ter as impurezas removidas. A partir deste ponto, iniciam-se os processos de evaporação e cristalização, nos quais a água presente no caldo purificado é removida. Os cristais produzidos na etapa de cristalização ficam envoltos em uma solução açucarada chamada mel,

que é retirada posteriormente por centrifugação da mistura. Em seguida, é feita a lavagem dos cristais. Uma vez limpos, eles passam por um processo de secagem e resfriamento antes de serem encaminhados para o setor de envase, onde são empacotados para armazenamento. A partir daí, o açúcar está pronto para a comercialização. Expressão: Existem usinas especializadas na fabricação de cada tipo de açúcar? Luciano: O maior volume produzido pelas usinas corresponde aos açúcares Cristal e VHP (Very High Pol, mais rico em sacarose). Poucas unidades produzem açúcar orgânico. Os tipos refinados são fabricados em refinarias anexas às usinas, também em número reduzido. Quanto aos demais açúcares que conhecemos, algumas usinas até os fabricam como um item adicional, mas por representarem volume ínfimo de mercado, nunca são o produto principal delas.


ano 24 |no 15| novembro/2017

A lógica por trás da lógica Como os desenvolvedores de jogos analisam o progresso da inteligência artificial na área Djalma Junior | dj.junior.1003@gmail.com

Que atire a primeira pedra o leitor que nunca se divertiu em um jogo digital no mundo atual. Apesar de tão presentes em nosso cotidiano, você já parou para pensar em como tais jogos são pensados e como eles são desenvolvidos de maneiras e com níveis de inteligência artificial diferentes? Vicente Vieira Filho, empreendedor na área de jogos com mais 14 anos de experiência e também Doutor em Inteligência Artificial para jogos pela UFPE, nos explica melhor sobre o mundo de quem trabalha com essa inteligência para os jogos. Expressão: Quais são os benefícios do aumento da inteligência artificial em jogos? Vicente: A Inteligência Artificial (IA) é amplamente utilizada em jogos digitais para solucionar diversos desafios relativos à construção de uma experiência divertida e engajadora. Há aplicações relativas desde a determinação do caminho a ser percorrido por um personagem, passando pela construção do comportamento de personagens até à

calibração em tempo real da dificuldade do jogo. Um dos principais benefícios do uso da IA em jogos consiste em manter o usuário em estado de fluxo. O estado de fluxo consiste em manter o usuário no limite ideal entre o desafio proporcionado pelo jogo em contraposição às habilida-

des do usuário. Caso o desafio do jogo seja maior do que a habilidade do usuário, o jogador entra em estado de ansiedade e pode abandonar o jogo. Caso o desafio seja menor do que a habilidade do usuário, o usuário entra em estado de tédio e também pode abandonar o jogo. Arquivo pessoal

Vicente Vieira desenvolvedor de I.A

Comunicação por campo

de proximidade Wesley Salvador | wesleysalvador6118@gmail

Ela já existe. Porém, em poucos aparelhos telefônicos. A tecnologia NFC (Near Field Communication) – Comunicação por campo de proximidade – permite a comunicação sem fio (wireless) entre dois dispositivos mediante uma simples aproximação entre eles, sem que o usuário tenha que digitar senhas, clicar em botões ou realizar alguma ação semelhante ao estabelecer a conexão. Essas características que a ferramenta traz, permite fazer inovações e também potencializar outras ações do cotidiano, por exemplo, o sistema de pagamento. O smartphone torna-se uma espécie de cartão de crédito, permitindo que o usuário realize seus pagamentos apenas aproximando o celular, tablet, crachá, cartão de bilhete eletrônico (ou qualquer outro item capaz de suportar a instalação de um chip NFC) ao aparelho receptor que também possua o chip. Matheus Oliveira trabalha há mais de 4 anos com tecnologia da informação e conta sobre suas expectativas em relação a essa modernização: “A expectativa é sempre

ajudar a facilitar a vida e o trabalho da pessoa, um exemplo bom é o UBER, que com o seu celular, você pode solicitar um motorista, algo que tempos atrás só era capaz de ter se fosse rico. A NFC traria vários impactos bons, como a evolução do trabalho e do viver. Porém com ela vem também a dependência do ser humano, como de costume acontecer”, contou. Entre as mudanças que a NFC traz estão: a compra de bilhetes de trem, ingressos de eventos, pagarem compras, verificar preços de produtos em lojas (nos Estados Unidos e Japão esses recursos já são usados) e na Universidade do Estado do Arizona um grupo de alunos está usando seus smartphones com o novo chip para ganhar acesso aos prédios da instituição. “Estamos presenciando várias tendências tecnológicas e é normal que algumas não consigam manterse no mercado ou não ganhem tamanha popularidade quanto às outras, a NFC tem potencial para substituir outras formas de pagamentos, mas isso em longo prazo, porém ter esse

potencial não quer dizer que vai substituí-los propriamente”, conclui Felipe Hanon, que está fazendo pós- graduação em Direito e Tecnologia da Informação pela Universidade de São Paulo (USP). Wesley Salvador

Expressão: Existe uma área específica de jogos digitais em que a demanda é muito grande do que em outras? Vicente: A demanda depende de vários aspectos do jogo como o gênero, plataforma, modos de jogo, quantidade de usuários, comunicação (online ou offline) dentre outros aspectos. A cada decisão de game tomada com relação ao jogo, a necessidade de IA pode aumentar ou diminuir. Em relação aos gêneros de jogos, os jogos do tipo RTS, RPG e FPS, em geral e nessa ordem, demandam mais IA do que os demais gêneros. Expressão: Existe uma grande diferença entre o nível de inteligência artificial utilizada para desenvolver jogos em diferentes plataformas? Vicente: A diferença em termos de uso de IA para desenvolvimento de jogos está relacionada às Características do jogo e Capacidade da plataforma. O primeiro refere-se ao discutido na pergunta anterior. Um jogo RPG desenvolvido para PC vai demandar da IA basicamente o mesmo do que um jogo similar para

dispositivos móveis. Com relação ao segundo aspecto, dado que os smartphones hoje já possuem capacidade de processamento igual, ou superior, a computadores, o uso de IA também é basicamente similar. No caso dos consoles que possuem hardware com performance superior às demais plataformas, é comum que os desenvolvedores criem experiências de jogo mais profundas e que demandem mais da IA. Expressão: Como foi acompanhar a evolução da inteligência artificial nos jogos? Vicente: Com a evolução dos frameworks e engines de produção de jogos, a criação de novos jogos multiplataforma tornou-se uma atividade viável. É simples, fácil e intuitivo criar novos jogos para diferentes plataformas. Isso significa em termos de produção que a equipe responsável pela criação do jogo possui mais tempo útil para tratar de aspectos relacionados ao design do jogo e despendem menos tempo em aspectos técnicos. E assim torna-se possível utilizar métodos de IA mais robustos mesmo em projetos comerciais.

Aplicativos de paquera para LGBT se tornam sensação Josy Salustiano | josy.s.oliveira@bol.com.br

Observamos atualizações de aplicativos para relacionamento com uma crescente muito grande ainda mais se tratando do mundo LGBT. Um espaço conquistado para essa comunidade e com uma diversidade exclusiva para eles usarem. “Fazer um aplicativo requer muita pesquisa de mercado, planejamento e dinheiro, pois você precisa buscar o que seu produto tem de melhor para oferecer, precisa saber o que a concorrência já estar oferecendo. Imitar um aplicativo já lançado no mercado você acaba dando um tiro no próprio pé”, fala Paulo Dalto, programador de aplicativos. Na internet é possível observar alguns aplicativos voltados apenas para o mundo LBGTS+, tem para todos os gostos e funcionalidades. Por isso listamos algumas opções: GRINDR: Mais adequado para gay, ele é parecido com a versão do Tinder, porém baseado em geolocalização. Esse app é para pessoas que querem algo mais quente. WAPA: Focado na busca entre mulheres, sua ferramenta também é por meio da localização (GPS) tem um recurso chamado “Piscadela”. A parte ruim desse aplicativo são as inúmeras propagandas que atrapalham a aparência e o desenvolvimento da página inicial. SCRUFF: Esse já requer que você tenha uma conta Premium para ter um banco de dados maiores. Na versão grátis ele permite conhecer um numero restrito de usuários. As outras funções são exatamente iguais a do Grind e do Romeo. HER: Para as meninas que gostam de marcar encontros, ele é parecido com os demais aplicativos de encontros, a única parte ruim é que não possui recursos para uma assinatura para uma conta Premium. Todos os aplicativos tem a opção de download em iOS e Android. Saber o que o público esta buscando a as inovações que querem é sempre uma boa sacada, antes de tudo você tem que definir qual tipo de pessoas você estar querendo para seu produto, explica Pedro Valle, diretor executivo de aplicativos.

modernização é essencial

Ascensão digital do designer Tecnologia muda

Compreenda os desafios desta profissão e como ela é importante para comunicação digital Jonathan Veloso | jonathancruzveloso@gmail.com

A comunicação digital inova-se a todo o momento e necessita ser atrativa e funcional para conquistar os mais diversos públicos. É nesse quadro que o visual se torna protagonista. Cores e fontes são escolhidas estrategicamente para potencializar uma ideia em um anúncio, dando-lhe uma roupagem moderna para atender a uma ideia específica tornando-a, assim, mais eficaz. Agir de acordo com esta lógica é compromisso do designer gráfico. “Além de ter domínio pleno para utilizar os softwares de design, estes profissionais procuram se espe-

cializar no que está por trás de tudo isso. É um profissional que entende a real demanda por trás de um briefing,” relata Thiago Couto, designer. Responsáveis por toda parte estética e funcional de sites e anúncios, os designers também incluem o planejamento estratégico como pilar fundamental de suas ações. Maurício Alves compreende sua profissão como algo que requer uma análise clara do mercado, mas, que acima de tudo, a peça fundamental é a criatividade. “A pessoa tem que se reinventar todo dia, tem que saber ser criativo mesmo no pior dia da sua vida Jonathan Veloso

Criatividade e atitude são virtudes para a profissão

(e saber o que fazer para ajudar a conseguir isso). Precisa ter uma noção básica, até amador, de diferentes áreas para entender o psicológico do público-alvo.” afirma. Thiago Couto, diz que para ser profissional de design, não é necessário possuir um dom para arte, pois, design não é apenas desenho, mas, sim, um exercício que você irá praticar para aumentar o seu repertório. Ele ainda redobra a importância para aprendizado constante. “O profissional que não se abre para o ‘novo’ acaba ficando engessado em todos os sentidos. Não saber o que está acontecendo na atualidade, tornam esses profissionais totalmente defasados em um nível inferior aos seus parceiros e/ou concorrentes”, define. “Precisamos estar sempre antenados com isso e, principalmente, precisamos saber utilizar essas novas tecnologias. Se levarmos este pensamento para as telas, ele se intensifica ainda mais, pois temos diferentes tipos e tamanhos de telas. A forma como você cria hoje para um celular e para aqueles painéis de metros são diferentes, pois, um você olha de perto e outro de longe,” finaliza Maurício.

conceitos de trabalho Rebeca Menezes|rebecamenezesf18@gmail

As inovações da tecnologia moderna ampliam a automatização de serviços que anteriormente eram desempenhados por seres humanos. Com a crescente informatização do trabalho, algumas funções se tornaram obsoletas e as máquinas ficaram com grande parte do ofício. São os casos de empregos na área de vendas, produção industrial como automobilística, farmacêutica, metalúrgica, suporte administrativo, construção civil. Por outro lado, a mecanização não é somente algo negativo. Ela também vem como uma forma de agilizar e auxiliar alguns procedimentos que demandariam muito do ser humano. “Os processos de automação vieram para facilitar os processos de controle aonde envolvem profissões insalubres. Pense um operador trabalhando durante oito horas por dia respirando fumos de soldagem, recebendo raios ultravioletas excessivas e calor? Difícil imaginar, mas era real. Os robôs chegam para substituir essa profissão nociva”, explica Fernando Russo, professor de engenharia. Para os trabalhos que estão sendo substituídos por máquinas, as organizações têm buscado soluJornal Expressão

ções para realocar funcionários e não dispensá-los em grande escala. “Para empresas envolvidas em seus novos processos, a solução foi a criação de várias cooperativas para que prestassem serviços de manutenção nos robôs, nos sistemas mecânicos de montagem, no suporte de TI, enfim, uma alternativa que ao invés de haver demissão massiva, trouxe uma nova perspectiva de geração de novos empregos”, afirma Fernando. Essa mudança na estrutura do trabalho em decorrência da automação propõe novos métodos de qualificação para os trabalhadores. Já que algumas ocupações como telemarketing, caixas, corretores de imóveis não exigiam tantas competências em certas áreas e sim mais trabalho mecânico. “A grande demanda atual é tentar evitar que haja muitas perdas em trabalhos manuais que eram executados por pessoas. Uma das melhores alternativas a se pensar é investir em educação para que empregados possam explorar mais suas habilidades criativas e interpessoais”, explica Jamile Favoretto, gestora de recursos humanos.


ano 24 |no 15| novembro/2017

Maquiagem artística eleva a autoestima Cores e criações de personagens mudam o dia de diversos modelos que sofrem de depressão e encontram na pintura uma forma de sentir-se bem Arquivo pessoal

As obras de arte de Marcio Desideri encantam

Elizandra Germano | likagermanox@gmail.com

A maquiagem é uma grande aliada na luta pela autoestima. É capaz de transformar e levar uma pessoa para uma realidade paralela. Hoje faz parte da vida de homens e mulheres de todo o mundo. O conhecimento se dá através de cursos, tutoriais na internet e principalmente com a vivência. A maquiagem artística, no entanto, é a junção de todo o conceito já criado de maquiagem com a arte que aparece através dos pincéis, ajudando até mesmo no tratamento contra a depressão. Segundo Marcio Desideri, artista e docente: “o universo da maquiagem é lúdico,

poder sonhar, criar personagens, essa parte da fantasia é muito estimulante, as pessoas não imaginam no que vão se transformar, se olham e ficam entusiasmadas, riem, brincam, vivem aquele personagem. Seja monstro, fada ou monstruosos, é muito divertido entrar no universo de sonhos e de magia. Permite a pessoa a viver esse sonho e entrar na imaginação.” A criação de personagens pode até ajudar pacientes com depressão a se sentirem melhores. “Minha maquiagem é mais simples, normalmente sou pintada de princesa para fazer trabalhos voluntários,

Do funcional ao sonho de uma réplica Como o design de produtos pode influenciar no dia a dia em diferentes nichos do mercado Luane Arruda | luane.arruda@hotmail.com

Às vezes algo como abrir uma lata pode parecer insignificante até o momento em que você encontra dificuldade para tal ato. Mais do que apenas um item do mercado, ela precisa ser funcional e visualmente interessante. Toda a estética de uma lata e muitos outros objetos, está ligada ao Designer de Produto. Esse profissional tem como objetivo impactar na usabilidade do item e substancialmente nas vendas. Ele é o responsável por pensar em algo funcional para que o consumidor não perca tempo e tenha uma experiência agradável e descomplicada. Designer de produtos desenvolve projetos que utilizam a criatividade, encantamento e a diferenciação para produtos inovadores que se sobressaiam aos olhos dos clientes e do mercado em diferentes tipos de nichos. Contudo o designer Luciano vai além do que encontramos nas prateleiras. Pensando em atingir um nicho diferente no mercado, ele produz de forma

Luane Arruda

Réplica feita à mão de uma Nimbus do Harry Potter artesanal réplicas de peças de personagens de filmes e séries, o que possibilita aos fãs terem acesso a esse tipo de adereço, seja para cosplay ou como um item de decoração.“O orçamento e tempo de produção varia muito do que o cliente quer e do quanto ele está disposto a pagar. Posso fazer a marreta da Arlequina, por

exemplo, com um material simplório e cobrar pouco, como posso usar um material de qualidade e deixar o mais parecido possível”, diz Luciano. A formação profissional de um designer permite um amplo conhecimento sobre os mais variados sistemas de fabricação existentes. Desde a matéria prima, até

atributos estéticos. “É legal ver um produto seu ir para a linha de montagem, mas o melhor é quando eu mesmo faço os meus projetos. Acaba sendo mais prazeroso fabricar a mão uma peça única como uma Nimbus 2000 do Harry Potter, só aquele cliente vai ter aquele modelo, ela vai ser única por mais que eu faça outras. É sentimento envolvido e o cliente feliz”, conta Luciano. O estudante Davi Martins é colecionador desse tipo de arte e cliente do Luciano. “O primeiro item que eu comprei foi o escudo Link, do jogo Zelda. Demorou um mês pra ficar pronto, mas valeu a espera e cada centavo que eu paguei, pendurei na parede do meu quarto”, diz. Já Rodrigo Santos, que está abrindo uma hamburgueria temática, adquiriu uma Nimbus 2000 da franquia de filmes Harry Potter. “A riqueza de detalhes impressiona, se eu fosse comprar uma nos estados unidos pagaria mais de três mil reais e não teria a mesma qualidade e talvez nem a mesma durabilidade”, relata.

MAAU: a importância da arte nas ruas Local conta com grafites à céu aberto para todos verem e foram feitos por cerca de 60 artistas Thais Lopes | thalopesc@gmail.com

O Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU) é um projeto que consiste em obras de grafites feitas na Zona Norte de São Paulo, entre as estações Tietê, Santana e Carandiru. O lugar é totalmente aberto, conta com 33 pilastras de desenhos e pode ser visitado por todas as pessoas que passam pela Avenida Cruzeiro do Sul. Quem passa pelo espaço, seja a pé, de carro ou bicicleta, encontra grafites em todos os muros que ficam nos pilares que sustentam o trecho elevado da Linha Azul do metrô. São desenhos interessantes e bastante coloridos, a maioria deles são de animais, pessoas, frases, entre outros. Eles sempre trazem uma reflexão sobre questões da sociedade, como desigualdade, natureza e, acima de tudo, mostram que o grafite também é arte, não vandalismo. O local é uma das maiores galerias a céu aberto da cidade de São Paulo. Nele são encontradas intervenções artísticas, que mostram o quanto as obras de arte são importantes para a cidade. Além disso, também incentiva as pessoas a gostarem e se interessarem mais por esse tipo de arte, que cresce mais a cada dia. O trabalho foi desenvolvido pelos grafiteiros Binho Ribeiro e Chivitz, que começaram a fazer os grafites sem autorização e acabaram sendo levados para a

delegacia. Após o ocorrido, decidiram criar o museu, realizar o projeto de forma legal e trazer um pouco de arte para as ruas de São Paulo. “O Binho Ribeiro foi minha maior inspiração quando comecei com o grafite, sempre admirei o seu trabalho e busco me aperfeiçoar para conseguir fazer algo tão bom quanto ele”, conta Fernando Santos, grafiteiro. “O MAAU é um espaço realmente muito bacana, pois é acessível para que todas as pessoas possam desfrutar de um pouco de arte, que é uma coisa extremamente importante para nossa sociedade. E como eu comecei a grafitar há pouco tempo, pego muitas ideias olhando os desenhos de lá”, completa o artista. O projeto, que foi iniciado em setembro de 2011, contou com a colaboração da Secretaria do Estado da Cultura e do Paço das Artes. E, além disso, após sua aprovação, houve uma parceria também com o Metrô, que contribuiu com tinta e spray para a realização dos desenhos. “Eu passo todos os dias pela avenida quando vou trabalhar e é muito incrível poder apreciar essas obras. Sou bastante fã de qualquer tipo de arte e acredito que elas trazem vida para nossa cidade. E é muito importante incentivar o trabalho desses artistas”, diz Ana Fernandes, arquiteta. Jornal Expressão

Thais Lopes

isso significa muito para mim. Quando fui diagnosticada com depressão, precisei procurar algo que fizesse com que eu me sentisse melhor, quando faço parte de um personagem é como se saísse de mim, estar ali, pintada, me leva para outra realidade e nela, só importa fazer outras pessoas felizes”, comenta Sheila Cristina, voluntária. Para quem deseja trabalhar com maquiagem de efeitos especiais, é bom saber que já é possível encontrar mais materiais de qualidade no Brasil. “Hoje em dia existem várias opções de materiais, mas para quem

quer começar é importante saber que algumas pessoas podem ter mais dificuldade, então ao invés de criticar a maquiagem do outro, respeite, ensine, ajude. A parte artística é de desenvolvimento de cada um, é o momento de estimular a criatividade. ”, concluiu Marcio. Marcio Desideri já representou no Brasil o seriado The Walking Dead, pela Fox Chanel Brasil, programas de televisão na Rede Record, Globo, Tv Cultura, Tv Brasil e Gazeta. Acredita que o segredo do sucesso é se aperfeiçoar e fazer com que as pessoas se sintam bem com elas mesmas.

Projetos sociais culturais formam futuros artistas

Profissionais doam seu tempo a projetos sociais Arquivo pessoal

Caique Gomes | caiquegomes02@gmail.com

Investir em arte e cultura pode ser uma boa opção para quem busca um futuro melhor para si e para as futuras gerações, fazer parte de um projeto social que atue em diversas áreas da arte como: dança, canto, interpretação, pintura etc. É uma oportunidade de conhecer outro mundo, escapar da violência e da pobreza e uma esperança de dias melhores. É o caso de Rosemeire Martins, atriz e estudante de produção cultural, que voluntariamente iniciou um Projeto Social na cidade de Taboão da Serra “Tesol” oferece cursos gratuitos de preparo vocal e de teatro para jovens carentes da região. “O que me estimula e move é a importância de apresentar um pouco de conhecimento sobre arte, cultura para as pessoas que não possuem condições financeiras de pagar um curso de teatro, canto, violão, é um papel de influenciador mesmo, sabe? Quando estou fazendo trabalho vestido de palhaça, vejo como é linda a forma que as crianças nos veem, percebo despertos sonhos nelas, o que estariam fazendo esses jovens sem esses projetos sociais e vo-

luntários que nos roteiam? questiona. Uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa Gallup World Pool, intitulada “World Giving Index - Uma visão global das tendências de doação”, aponta que o Brasil é considerado um dos países que menos contribui com doações, ficando em 91°. Apenas 23% dos entrevistados afirmaram ter feito doações em dinheiro para organizações sociais ou realizam algum tipo de atividade voluntária, a pesquisa foi realizada em cerca de 130 países no ano de 2016. “Sempre foi meu sonho ser atriz, e quando descobri sobre a existência do projeto que unia teatro e esporte, não pensei duas vezes em participar. Entrei no Projeto Juntos com 16 anos, o mesmo me direcionou para minha área de formação, ali pude me desenvolver com produções de espetáculos e descobrir minha vocação para a Produção Cultural, não deixei os palcos, mas percebi que a arte transforma, conheci pessoas que voluntariamente dedicam eu tempo e conhecimento para transformar jovens”, conta Cibele Lima, produtora cultural.

Projeto Tesol abre vagas para curso de interpretação e preparos vocais Se você se interessou pelos serviços prestados pelo Espaço Tesol, o grupo está disponibilizando oficinas gratuitas no bairo de Taboão da Serra. Elas visam aperfeiçoar a interpretação e a voz de jovens que se interessam pela arte do teatro. Eles oferecem aulas todas as semanas. Não fique fora dessa e leve seus amigos! Endereço: Rua José Nunes de Oliveira, número 73; Telefone: (11) 96369-6010; Facebook: Espaço Tesol; E-mail: grupotesol1@gmail.com. Os grafites do museu são bastante coloridos e animados


ano 24 |no 15 | novembro/2017

Muito além de brincadeira de criança

Na forma de competição ou como hobbie, o carrinho de rolimã é parte da vida de muitos, unindo famílias e atravessando gerações Paloma Amorim | pamorim2013@gmail.com

O carrinho de rolimã ultrapassa gerações. Apesar de toda tecnologia que distancia os jovens de brincadeiras mais antigas, ele se mantém graças aos aficcionados que se empenham em trazê-la para os dias atuais, seja na forma de hobbie, por meio de encontros diversos, ou como esporte, em competições espalhadas pelo Brasil. É o caso de Amauri Meireles, que anda de carrinho de rolimã desde 1988 e incentiva seus filhos a se divertirem do mesmo modo. “Esperamos ajudar os pais a afastarem as crianças da tecnologia. O carrinho de rolimã é um motivo para as famílias se reunirem e apreciarem um esporte saudável e acessível”, destaca. Ele se reúne com amigos todos os domingos, às 15h, na Rua Conceição Pereira, conhecida como “Ladeira da Morte”, que tem mais de 150 metros de comprimento. “Nós a descemos deitados e de bruços, o que dá muita adrenalina. Não é á toa que

somos conhecidos como os ‘Malucos da Penha’”, diz. Já Henrique Scarabel, morador de Vinhedo, todo último domingo do mês, realiza um encontro que tem cerca de 800 participantes e entrou para o calendário da cidade. “Começou como uma brincadeira que ganhou uma proporção enorme. Com cada vez mais demandas de carrinhos, acabei montando minha oficina”, conta. Graças à oficina e à visibilidade de seus carrinhos, fez parte de um projeto com a marca Mulek de Rua, famosa no mundo do rolimã: construir um carrinho para pessoas com deficiência. “Nunca havia feito nada do tipo. Foi um desafio. Escutar, de uma pessoa com deficiência, que adorou sentir o vento no rosto e ouvir o barulho do rolamento na pista, é uma sensação única”, relembra. Para Marcos Vinicius Pacheco, tecnólogo em Mecânica de Precisão, o carrinho é muito importante, pois o

aproximou de seu filho, permitindo ensiná-lo habilidades manuais e de matemática. Há dois anos também passou a competir pela equipe Snake Team. “Nas competições estudamos pista, regulamento, pontuação, tudo para montar a estratégia da corrida, o que é muito estimulante”, conta. Marcos participa de várias competições, com destaque para o GP Poli-NSK, organizado pelo Centro Acadêmico de Mecânica e Mecatrônica da USP (CAM), que ocorre na Rua do Matão, da Cidade Universitária. O evento, que já está na sua 63ª edição, é aberto a todos, semestral e conta com competidores de todo país. “Só adultos competem, mas vemos crianças descendo com seus pais, além de ter a bateria especial na segunda edição do ano, para as crianças que participam da oficina de carrinhos”, fala Raul Losker, 19 anos, graduando em Engenharia Mecatrônica pela USP e um dos organizadores do GP.

Clara Cappatto

Competidores descem a Rua do Matão, no último GP Poli-NSK, na Cidade Universitária. A Oficina de Carrinhos de Rolimã é um projeto social que incentiva crianças a terem contato com a engenharia, que ocorre no final de

Mulheres já são 19% das competidoras no Brasil Michele Tomassi | mitomassi1@gmail.com

Deslizar sobre rodinhas já foi um esporte predominantemente masculino. Entretanto, desde os anos 2000 a modalidade se popularizou entre as mulheres no Brasil, que hoje representam cerca de 1,6 milhão de praticantes, segundo a Confederação Brasileira de Esportes Radicais (CBER). Confirmado como nova modalidades dos Jogos Olímpicos de 2020, o cenário para as atletas há poucos anos era bem diferente: somente em 2005 que a Confederação Brasileira de Skate (CBSK) promoveu a primeira competição feminina no Brasil. Antes disso, as mulheres que desejassem competir, participavam dos torneios masculinos. Saskia Gutfreund, estudante e praticante do esporte no Brasil e na Alemanha, acredita que apesar dele ser mais frequentado por homens, não há preconceito. “O skate é adrenalina, é rua, é se machucar, é cair e o público feminino não gosta disso. Não acredito que haja preconceito, mas sempre vai ter aquelas pessoas que dizem que determinado esporte não é para mulher, isso tanto no Brasil como na Alemanha”, disse. Já para Ana, educadora e praticante do esporte em São Paulo, ainda existe muito machismo no skate, entre

Arquivo pessoal

Amante do esporte há anos, Saskia pratica a modalidade nas pistas do Brasil e da Alemanha. os praticantes e, inclusive, no ambiente familiar. “Já aconteceu mais de uma vez, quando eu chego na pista os homens começam a ‘mandar’ manobras muito próximas da onde eu estou andando, propositalmente para que o skate ‘espire’ em mim”, explica. Embora as mulheres estejam, aos poucos, ganhando mais espaço no esporte, os homens ainda representam a maioria praticante: de 8,5 milhões de skatistas, 81% são homens e 19% são mulhe-

res. Para Saskia a tendência é que esse público seja cada vez mais aceito. “Eu já vi os homens incentivando mulheres nas pistas de skate no Brasil, mas na Alemanha eles não interagem muito, a não ser vejam que precisamos de ajuda. Se você é mulher e anda mais do que os homens, eles te olham feio, acham chato, mas até entre eles isso acontece”, comenta. O skate nasceu na Califórnia, nos Estados Unidos, nos anos 1960, quando sur-

fistas teriam integrado rodinhas a uma pequena prancha de surf, para se divertirem nos dias que as ondas estivessem fracas. Desde seu surgimento, o skate desenvolveu uma cultura própria, que envolve todo um estilo de vida, linguagem, vestimenta, códigos e o comportamento ligado à cultura do skate. No Brasil, um dos maiores percursores da modalidade foi o cantor Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr.

Maratona na academia

semana antes do GP. “Passamos o final de semana com cerca de 30 crianças, construindo carrinhos. Cada uma tem um monitor para ajudá-

-la a construí-lo para, na semana seguinte, descerem o Matão”, conta Bárbara Gramani, estudante de Engenharia Mecânica da USP.

Krav Magá A arte para defesa pessoal Ale Teixeira| ale.teixeira18@outlook.com

Escolas espalhadas pelo mundo inteiro ensinam as técnicas provindas do Krav Magá com instrutores qualificados para tal, legitimando a luta, resguardando a pureza da prática. Mas nem sempre foi assim. Bratislava, 1940: guerra, violência e morte. Fruto da urge pela sobrevivência, o Krav Magá nasceu em meados dos anos 40 pelas mãos de Imi Lichtenfeld. Ele ensinou seu sistema de luta na capital da Eslováquia para ajudar a proteger a comunidade judaica local da milícia nazista. Seus movimentos são uma combinação de diversas artes marciais, principalmente as provindas do Japão. Lichtenfeld criou um método corporal e espiritual que seria eficiente para qualquer um, independente de força ou preparo físico, idade ou sexo, defender sua vida com aquilo que possuía: sua mente e seu corpo. Ao chegar no Mandato Britânico da Palestina, ele começou a ensinar Krav Magá para Haganah, o exército judaico. Em maio de 2010, durante os eventos da comemoração dos 100 anos do nascimento de Lichtenfeld, a Federação Sul Americana de Krav Maga (FSAKM) organizou,

na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, a maior aula de defesa pessoal do mundo. Paulo Almeida é professor de Krav Magá em Maricá, no Rio de Janeiro. Ele reforça a necessidade da luta para defesa pessoal. “Temos vivido em constante violência e é importante que saibamos nos defender de situações aonde muitas vezes não temos como contar com o apoio dos serviços público de segurança”. Apesar de ser algo desenhado para qualquer pessoa, a preferência é do público feminino. “Krav Magá como defesa pessoal para as mulheres em caso de tentativa de estupro e violência doméstica”. Paulo segue as técnicas da Escola Bukan, que foi pioneira no mundo todo a continuar os ensinamentos de Imi Lichtenfeld, isto é, o verdadeiro Krav Magá. Imi Lichtenfeld era faixa preta em judô e jiu jitsu japonês. Ele mantém esta tradição oriental de graduações, portanto, no Krav Magá não seria diferente. De acordo com Paulo, as progressões dos alunos começam na branca, vão para a amarela, laranja, verde, azul, marrom e finalizam na preta. Paulo Almeida

Mais um dos recursos para conquistar clientes fitness em São Paulo Josiane Ferreira | josiane.m.ferreira1@gmail.com Angélica Alves

Ibus dolore maximi, quati occae restio. Dolore

Agora pode fazer exercícios e continuar em dia com suas séries

Já imaginou uma sala de cinema com esteiras? Isso não é ficção. A academia AMC, localizada na Vila Maria Baixa, Zona Norte de São Paulo, se tornou pioneira no assunto. O espaço conta com esteiras e bicicletas, e uma tela de cinema ligada com a TV para o cliente assistir enquanto faz seu exercício. Por ser escuro e silenciosa, até quem quer ficar quieto com o seu fone e celular pode usar, já que os aparelhos contam com suportes para celular. “Confesso que esse espaço a mais foi um diferencial para mim, trabalho, estudo e tinha que começar a fazer atividade física, assim ou mesmo tempo que estou na esteira, consigo assistir uma vídeo aula, ou até mesmo série para relaxar e não está sempre ligado em algo do trabalho ou faculdade”,

conta Diego Allan, matriculado na academia há 1 ano. Um diferencial que até assusta os desavisados, por ser uma função não muito comum nas academias. Tentando agradar ao público, cada um com seu espaço, diversas salas para modalidades diferentes de ginastica, e o cinema. “Ótimo diferencial positivo, o cinema acaba distraindo as pessoas e as esteiras acaba ajudando nos objetivos distintos. É uma forma de fazer as pessoas praticarem atividade física e não ser algo chato”, diz Vinicius Sampaio, funcionário da academia. “É muito bom quando se tem muitas opções de exercícios, mas o acompanhamento do básico, como caminhada, ainda mais para principiantes e que gostam de silencio e assistir suas séries é muito bom”, completa Diego.

Instrutor Paulo Almeida mostra técnica da luta Krav Mag. Jornal Expressão


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.