Expressao 10 outubro 2015

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ano 22/número 10 outubro/2015

jornalismo universitário levado a sério

jornal laboratório do 4º ano de jornalismo

usjt Vinícius Cordeiro

Invasão de privacidade Dos holofotes aos cadeados especial | pág. 4 e 5


#hashtag

ano 22 |no10 | outubo/2015

#fração de segundo fotolegenda

#caro leitor,

Os perigos da exposição virtual

Aqui estamos novamente. Mais uma edição do jornal Expressão, novinha para você. Elaboramos uma reportagem especial com um tema que, certamente, vai te interessar muito: a invasão de privacidade no mundo virtual. Você já enfrentou esse problema? Conhece alguém que já precisou lidar com a exposição pública indesejada? Nossa equipe de repórteres mergulhou no problema. Fizemos um breve percurso histórico para compreender o significado da palavra privacidade na nossa sociedade, afinal, nem sempre a ideia de individualidade e de intimidade teve a mesma percepção que na atualidade. A reportagem especial trata das mais variadas situações nas quais podemos ter problemas com a invasão de privacidade. Vazamentos de informações intimas. Roubo de dados. Ataques virtuais. Invasão de propagandas. Estamos preparados para lidar com estas situações? Como podemos nos proteger? Além da reportagem especial, o jornal Expressão aborda outros temas super interessantes. Em Educação, destacamos a experiência de uma ex-aluna de publicidade ao conhecer o projeto Aldeia Multiétnica, numa vivência com tribos indígenas de várias partes do Brasil. Na editoria Vida Digital, mostramos como a tecnologia pode ser um valioso instrumento de inclusão e falamos sobre o software Livox utilizado por pessoas com paralisia cerebral. Em Artes, nossos repórteres trazem a inusitada experiência de um cartunista com esclerose múltipla. Ele é o autor dos quadrinhos autobiográficos “Memórias de um Esclerosado” no qual narra sua rotina de vida. E, para encerrar a edição, radicalizamos: jogamos você no ringue junto com mulheres lutadoras de MMA, Boxe e Muay Tahai. Vai encarar?? Profa Iêda Santos e Profa Jaqueline Lemos

Movimento

20 lugar no 70 Concurso Fotográfico “Fração de Segundo - Foto de Kaique Santos

Raoni, #protagonista

#fica a dica

A capital da vertigem

Obra narra história da cidade do início do século XX a 1954 Sheila Martins

um sonhador sem tempo para limitações Saulo Chaves| sfchaves@gmail.com

Conheci Raoni em junho de 2013, quando, aos 18 anos, chegou para ocupar uma vaga como aprendiz na instituição em que trabalho. Eu não havia sido avisado de sua deficiência e não pude deixar de reparar que o garoto tinha poucos dedos nas mãos. Diante do meu olhar mal disfarçado, ele logo explicou: “Nasci assim, tive má-formação congênita, disse enquanto segurava um smartphone com as duas mãos e digitava com uma habilidade surpreendente.” O jeito direto de Raoni é mais um traço de sua personalidade nada acanhada. Mesmo ainda sem me conhecer, em uma conversa descontraída, começou a falar sobre sua paixão pelas artes plásticas e o sonho que pretendia realizar: seguir a carreira de tatuador. Parecia estar preparado para desfazer qualquer tipo de dúvida ou impedimento que imaginassem a seu respeito e, sem demora, estampou na tela do celular alguns desenhos que não deixavam dúvidas sobre sua habilidade e vocação.

O gosto pela arte nasceu assim que conheceu o lápis, por volta dos quatro anos de idade. “Minha mãe trabalhava fazendo chinelos e eu pegava alguns moldes de borracha, desenhava, cortava e fazia colagens”, recorda. Sempre ativo, chegou à adolescência com seu talento aprimorado e até ganhava dinheiro fazendo caricaturas em festas infantis. “Eu me apaixonei pela arte porque é um mundo em que eu posso ser, criar e fazer o que eu quiser. Não conheço um outro lugar em que eu possa ter toda essa liberdade”, diz. O interesse pela tatuagem começou exatamente aos 18 anos, quando iniciou um curso de desenho na cidade de Osasco e passou a trocar experiências com colegas que atuavam em estúdios. Em pouco tempo, já estava submerso nesse mundo e tinha o objetivo de seguir a carreira. Foi justamente nessa época que o conheci. Com frequência, Raoni me mostrava suas criações; a quantidade de dese-

nhos era tamanha que me fazia crer que o único impedimento para que começasse a tatuar era o alto custo para se montar um estúdio, algo do que reclamava com certa impaciência. Certa vez, o questionei sobre a limitação que a deficiência representaria nessa área, ao que respondeu em poucas palavras: “Não tem impedimento nenhum, pra mim é mais uma superação. A deficiência está na cabeça das pessoas, é criada por quem se sente incapaz”. Raoni trabalhou comigo poucos meses, pois questões familiares lhe impuseram a necessidade de sair do emprego. Hoje, com 21 anos e com experiência como tatuador, contou-me que está dando um tempo com as tattoos. Continua criando cartuns e caricaturas, mas não consegue conciliar a rotina de tatuador com sua nova vida de universitário. Quando lhe desejei boa sorte na nova empreitada ele respondeu. “É um longo caminho, mas eu vou até o fim”. Auto Retrato

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Diagramação: Profa Iêda Santos

Sheila Martins | kadota@saojudas.br

Sheila Martins | sheila.felixmartins@gmail.com Com uma rica e primorosa narração jornalística, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo traz em sua obra “A capital da vertigem”, a trajetória da cidade que deixou a condição de vila modorrenta e desimportante para se tornar uma grande e hegemônica metrópole. “É um dos melhores textos do jornalismo brasileiro e a apuração para o livro está muito precisa, quase cirúrgica. A obra põe realmente o leitor no palco dos acontecimentos, ou seja, até os anos 1950, quando São Paulo se torna, de fato, uma metrópole”, relata o também jornalista e escritor, Moacir Assunção. A obra, lançada esse ano pela editora objetiva, traz de maneira detalhada as mudanças urbanas ocorridas na cidade, como surgimento das grandes avenidas (Paulista, São João), dos primeiros arranha-céus (Edifício Sampaio Moreira, de 1924, Edifício Martinelli, de 1929) e dos parques e jardins. Para Moacir, o que mais chama a atenção no livro é a descrição das transformações da cidade durante os anos 40 e 50. “O título propõe uma viagem no tempo em direção à uma época em que a cidade passava por profundas mudanças”, conta. O jornalista afirma que o livro de Toledo consegue ser tão bom quanto o primeiro, ‘A capital da solidão’, lançado em

2003 pela mesma editora e que conta a história de São Paulo das origens até 1900. Para finalizar, Moacir ressalta que a obra merece ser lida com especial atenção por paulistanos. “A leitura vale para que passemos a conhecer melhor,

e, portanto gostar mais dessa cidade que, apesar de todos os problemas, ainda é uma metrópole maravilhosa e o maior espaço cultural da América Latina, superando com folga grandes cidades como a Cidade do México e Buenos Aires”.

expediente Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO)

Coordenador de Jornalismo Prof. Anderson Fazoli (MTB 15.161) Redação Alunos do 4º MCSNJO Diagramação Capa Profª Iêda Santos

Revisão Prof. César Zamberlam Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos

Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667

As matérias assinadas não representam, necessariamente, a opinião da Universidade.

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Educação

ano 22 |no10| outubro/2015

Alimento

Arquivo Pessoal

da alma

A ex-aluna de publicidade da USJT, Mariana Freitas, conta sua experiência na Aldeia Multiétnica que reuniu tribos de diversas partes do país em Goiás Laio Rocha | laio.r@outlook.com No calor escaldante do inverno paulistano, Mariana Freitas, de 24 anos, olhou para cima e subiu lentamente, emocionada, os degraus do voo em direção a Brasília, no dia 16 de julho de 2015. O destino final: Chapada dos Veadeiros, Goiás, um dos mais belos e procurados paraísos naturais do Brasil. Mas, antes disso, muito se passou. Demitida repentinamente da agência em que trabalhava, e com uma bagagem grande trabalhando com indígenas, pela ONG TETO, resolveu investir num sonho: ir a Aldeia Multiétnica, evento que une tribos irmãs de diversas partes do Brasil, e dá a oportunidade para no máximo 50 pessoas imergirem e suas culturas durante sete dias. Sem dinheiro e sem emprego, o desafio era difícil. Um dia e uma madrugada varados, ela montou uma apresentação simples e enviou para alguns clientes da antiga agência, amigos, conhecidos, jogou nas redes sociais. O contato com os clientes ajudou, e logo, muitas pessoas começaram a investir no sonho dessa jovem

paulistana, de pele morena e de olhos apertados. “Muitas pessoas não conseguiram ajudar com dinheiro, mas me emprestaram roupas, barraca, e até com a passagem de ida, que eu não tive nenhum gasto”, conta Mariana. “Você é a Mari?”, foi a pergunta da organizadora do evento e antropóloga Simone. “Eu vi seu projeto! Estou muito feliz que conseguiu vir!”, exclamou extasiada enquanto dava um abraço apertado nela. Foi essa sua recepção na Casa de Cultura Cavaleiros de São Jorge, lugar que serve como base para a imersão junto às tribos, que Mariana deu seus primeiros passos rumo à aventura na Chapada. A primeira noite foi a mais difícil. Sozinha e acampada em meio à mata fechada, não conseguia dormir tomada pelo medo. Quando finalmente o medo deu uma trégua e ela caiu no sono, pelas quatro da manhã um canto “macabro” começou a rugir alto pela mata e novamente tomada pelo terror da escuridão, só conseguiu acalmar-se após o dia amanhecer. “Ali pensei em desistir”, conta.

EXPERIÊNCIA Mariana resolveu usar o tempo livre para realizar sonho: ir ao evento Aldeia Multiétnica, na Chapada dos Veadeiros O cântico “macabro” entoado em meio à madrugada, descobriu mais tarde, era o início da imersão, e quem cantava era a etnia dos Krahô. Ali ela começou a compreender como funcionaria essa experiência. As etnias participantes eram: Kayapó, Krahô, Yawalapiti, Kaxinawá, Yawanawá, Xavante, Dessana, Guarani e Kuntanawá. Todos os dias elas Adriele Araújo

faziam apresentações de sua cultura para os participantes, mostrando suas danças, gastronomia, hábitos e religião. “Eu tive muita sorte, pois fiz muitas amizades e fui adotada pelo Seu Antônio, o cacique da etnia Kayapó”, fala aos risos enquanto mostra a camisa branca com listras pretas formando uma espécie de cruz negra, feita à mão pelas índias Kayapós.

Durante uma parte do encontro, turistas que passavam pela região foram permitidos a visitar as tribos. O furor de tirar fotos e interagir com as crianças, muitas vezes desrespeitando os costumes deles, fez com que, durante algum tempo, a ex-aluna se afastasse da tribo. Nesse dia acontecia um batismo. “O Seu Antônio me viu afastada e veio com um bolo na mão, dizendo que ele era

abençoado pelos espíritos e era comida que eu tinha que comer, pois era alimento para a alma”, relembra, emocionada. Mas como é voltar para a vida real depois de uma experiência tão instigante? “Quando voltei, chorei ao entrar no metro pela primeira vez. A maior lição que tive foi lá, foi a maneira como eles vivem coletivamente, como a fé e a natureza os guiam”.

Pedagogia Waldorf: o ser humano como um todo Conheça um dos métodos educacionais mais revolucionários da história, que propõe uma linha de ensino humanizada e pautada nas diferenças de cada indivíduo

PALESTRANTE Bianca Santos utiliza apendizagens do curso de comunicação social nas aulas

Orientações espirituais regem Pastoral Escolar em São Paulo

Respeito e valorização fazem parte dos ensinamentos ministrados aos jovens Adriele Araújo | adrielejorn@gmail.com Uma vez por semana, durante uma hora e meia, crianças de 2 a 12 anos e adolescentes de 13 a 17 se encontram para desenvolverem projetos de cidadania e de solidariedade, além de uma mística de vida que cultive e aprofunde a espiritualidade. Diferente do ensino religioso, as pastorais não se baseiam em aulas. São encontros que orientam membros da comunidade em relação a questões da religiosidade, entre outras atividades. O desafio é aprender acolher os outros com grande abertura, dialogar afetiva e efetivamente e buscar entender os diversos contextos culturais a que pertencem. As pastorais atuam a partir de uma evangelização que respeita e valoriza a cultura dos demais. Presente em todo o território nacional, a ANEC (Associação Nacional de Educação

Católica do Brasil) representa cerca de 430 mantenedoras, 2 mil escolas, 130 instituições de ensino superior e 100 obras sociais, totalizando 2,5 milhões de alunos e aproximadamente 100 mil professores e funcionários. A publicitária e palestrante de 22 anos, Bianca Santos, diz que suas experiências pessoais e como coordenadora da Pastoral da Juventude contribuem para suas palestras. “A evangelização começa pela comunicação e o público é jovem. Esse segmento não é fácil, é bem desafiador. Aliás, eu faço parte desta juventude. Além disso, a publicidade me ajudou a propagar o nome de Deus de um modo criativo”, esclarece a palestrante. O objetivo da escola em pastoral é construir horizontes comuns, formar identidades, desenvolver autorreflexão, com respeito e compreensão dos valores e das culturas. A

pastoralista e escritora Hortência Novais faz esse tipo de trabalho com jovens e reforça que religião e ensino não se misturam no aspecto pastoral, mas dialogam. “Nossa presença no mundo deve ser notada pelo testemunho da esperança, da fé encarnada, da alegria e do amor. A esperança deve ser sempre proclamada pelo discípulo missionário”, diz. Mais do que uma religião, a pastoral busca estimular um processo de espiritualidade libertadora em uma inserção eclesial e social. “Um espaço que estimula o protagonismo juvenil, que favorece aspectos que levem à reflexão, ao senso crítico, a um olhar mais amplo e solidário. Um espaço de discernimento e caminho de realização do projeto de vida que nasce de uma força interior, a qual impulsiona a pessoa para um objetivo maior”, finaliza a orientadora Hortência.

Ariane Artioli | arianeartioli@gmail.com Quando falamos em edu- precisa se transformar através problemas especiais e, junto cação e método pedagógico, da autoeducação para depois a um grupo de pais, abriram a a primeira coisa que nos vêm transformar o aluno. ” primeira Escola Waldorf da Baià cabeça é o ensino que fomos A educadora e estudante xada Santista. Passados 15 anos acostumados na escola: classes do método, Sonia Valino, 57, de prática e luta, nunca enconseparadas por idade, provas e explica que o ensino é, do co- trou nenhuma pedagogia parenotas. Já a pedagogia Waldorf meço ao fim, permeado em cida. “Embora a gente não faça é bem diferente. O método arte. O jardim da infância não tudo como deveria, por não propõe um verdadeiro estímu- é dividido por idades e um ter termos condições ideais, telo à criatividade por meio de fato curioso é o de não culti- nho certeza que os alunos que contos e lendas. var o pensamento intelectual passaram por aqui se tornaram A educação não se restrin- da criança antes de entrar na melhores do que entraram”, resge só ao conhecimento, mas 1ª série e sim um pensamento salta a professora. se preocupa com o desenvolvi- imaginativo. Os brinquedos Vilda explica sobre os três mento. São dados recursos para são feitos com madeira e pano, setênios: O primeiro de 0 a 7 que a criança se desenvolva na- pois esse tipo de material pas- anos, a criança precisa conheturalmente com autonomia sen- sa calor à criança, diferente do cer o mundo bom, pois é a fase do que quase tudo é vivenciado. plástico e do sintético que não de formação do físico onde Alcir Rodrigues, 51, secretá- possuem trocas sensoriais. eles apenas brincam. O segunrio pedagógico da Federação Ao se aposentar, a profes- do, de 7 a 14 anos, o mundo das Escolas Waldorf, explica sora Vilda Bernardes, 75, co- belo: ouvem histórias todos os que existe um cuidado com nheceu a Antroposofia através dias e fazem desenhos desses a formação do professor “Ele da psicóloga de seu filho com contos. E o terceiro, de 14 a 21, o mundo verdadeiro. Somente Ariane Artioli nessa fase é incluído a caneta e o lápis preto. . Isis Appes, 31, teve sua filha Mel quando tinha 19 anos e temia colocar a filha numa escola onde houvesse bullyng, competições, notas e fórmula para o vestibular. “Nessa pedagogia eles enxergam a criança enquanto ser, onde o respeito com a individualidade é primordial”, completa Appes. Por ser uma filosofia baseada no bom, belo e verdadeiro, o custo acaba saindo alto para a maioria dos pais. No Brasil, são apenas 62 escolas que oferecem ensino completo, ou seja, o método ainda é bem reBONECAS não têm detalhes no rosto para aguçar a imaginação cente e pouco conhecido. Ariane Artioli

NAS ESCOLAS mesas e cadeiras são de madeira, pois é um material que transmite calor às crianças

Diagramação e Revisão da página: Larissa Ribeiro, Adriele Araújo, Laio Rocha, Ariane Artioli, Maria Serafim

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especial INTIMIDADE

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INVASÃO DE PRIVACIDADE

PÚBLICA

CADA VEZ MAIS

I

magine se você estivesse conversando com alguém em um espaço público e sua discussão fosse transmitida ao vivo para milhares de pessoas. O que parece trama de novela aconteceu de verdade em agosto deste ano. Enquanto um casal terminava o relacionamento em um voo de Raleigh, na Carolina do Norte, para Nova York, a norte-americana Kelly Keegs usava o Twitter para compartilhar, da poltrona ao lado, as falas dos dois. A privacidade no mundo contemporâneo esbarra na facilidade que a tecnologia proporciona aos usuários. Em uma espécie de reality show da vida real, todos podem ser filmados, fotografados e compartilhados ao vivo. Mas o conceito de privado nem sempre foi como conhecemos hoje. A casa, por exemplo, somente adquiriu status de refúgio e intimida-

de no século XIX, com o avanço do capitalismo industrial europeu. A troca do trabalho artesanal pela produção industrial restringiu a profissão às fábricas, enquanto o lar concentrou o papel de proteger a intimidade de cada um. O termo “privacidade” foi conceituado em 1890, pelo jurista norte-americano Louis Brandeis. O privado era atrelado ao individualismo: cada um tinha o direito de estar sozinho consigo e com seus pensamentos e poderia delimitar até que ponto suas reflexões poderiam ser de conhecimento alheio. As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pela queda no bem estar social e pelas baixas condições de trabalho. A pressão e a responsabilidade individual pelo bom desempenho, junto à descrença na política, geraram a manifestação pública de dramas pessoais.

DE INFORMAÇÕES EM

2 ANOs

Com o equivalente a 81% dos crimes, maioria das vítimas na rede é mulheres Evelyn Oliveira | evelyndias_@hotmail.com O número de vítimas que já tiveram fotos íntimas ou vídeos divulgados na internet sem consentimento quadruplicou no Brasil em dois anos. Enquanto em 2012, 48 casos foram registrados pela SaferNet, organização que luta pela defesa de Direitos Humanos na Web, no ano passado, 224 internautas procuraram o serviço da entidade para denunciar crimes cibernéticos. A maioria dessas denúncias parte de mulheres, 81% dos casos denunciados, e a cada quatro vítimas, uma é menor de idade. O estudante Diego Silva, de 22 anos, assume que já vazou vídeos da ex-namorada, após descobrir que havia sido traído. Diego quis se vingar da ex gravando um vídeo em que a garota fazia sexo oral nele. O vídeo foi compartilhado via bluetooth com seus amigos de escola. “Pelo menos umas 40 pessoas tiveram acesso a esse vídeo. Hoje, eu me arrependo e não faria isso de novo”, desabafa. De acordo com a psicóloga especialista em Terapia de Casal e Família, Selma Razzini, o comportamento de Diego é entendi-

do como “pornografia de vingança”. “Uma das muitas causas para isso pode ser o fato de que a nossa cultura ocidental está permeada pelo poder patriarcal e machista, no qual ao homem é permitido tomar quase todas as atitudes em relação à mulher e desta, é exigido um comportamento pudico e moral”, explica. A psicóloga ainda esclarece que o objetivo da pornografia de vingança é atingir a integridade moral e psíquica da mulher, e que isso pode ser considerado uma violência de gênero. Embora o rapaz esteja também participando do vídeo pornográfico, a sociedade não cobra dele uma atitude ética, moral e respeitosa na sua relação sexual ou amorosa. “A vingança pela traição da parceira exibindo imagens íntimas do casal camufla uma dificuldade de aceitar a perda do relacionamento afetivo como um processo natural da vida”, diz Selma Razzini. A psicóloga acrescenta que por não poder lidar com esse término, assim como Diego, outros homens buscam atingir a mulher naquilo que mais a oprime socialmente, ou seja, sua moral.

SAIBA SE PROTEGER CONTRA

ATAQUES VIRTUAIS E ROUBO DE DADOS .... DO SEU COMPUTADOR E DO SEU CELULAR

Vinícius Cordeiro | viniciuspscordeiro@hotmail.com

“As revistas e emissões de rádio e televisão tornam-se canais de expressão de conflitos e demandas de um sujeito que procura tornar visível seu sofrimento e que tenta construir no espaço coletivo da mídia uma compreensão do próprio eu”, expõe a doutora e mestre em sociologia, Mariana Thibes. A ascensão das novas tecnologias, como a fotografia, o cinema e a televisão, trouxe maior exposição à intimidade. “Até o fortalecimento da imprensa, no século XVIII, a única forma de aparecer era nas cortes. O povo não tinha vez. Com a Indústria Cultural, as pessoas viraram um objeto de consumo, graças ao cinema e à televisão”, relaciona o jornalista Cesar Zamberlan. A internet abriu um novo capítulo na vida privada. O jornalista Tiago Mota aponta que as legislações internacionais não estavam prepara-

VAZAMENTO

QU4DRUPLICA

Do século XIX aos dias atuais, o sentido de privacidade sofreu transformações. Informações que antes estavam sob domínio de poucos, hoje estão disponíveis para o mundo todo

das para o crescimento do mundo virtual, já que, antes, a proteção de dados pessoais era mais fácil. “Muitas das suas informações foram autorizadas por você em termos que você aceitou ao entrar em qualquer rede social ou outro site, mesmo sem ter lido. Facebook e Google concentram suas informações para usá-las para mil finalidades”, esclarece Tiago. Ao mesmo tempo, o acesso à rede também fomentou a exibição voluntária de intimidades. Para Zamberlan, não é só invasão de privacidade um problema, mas também a evasão destas informações, como se a sua existência dependesse da exposição individual. “Postar sua rotina na internet faz você dar um sentido pra sua vida que nem sempre é igual à realidade, mas é a construção dela. Quanto mais sua vida é pública, maior é a sensação de que você está vivendo”, afirma.

SITE SUÍÇO SABE

TUDO TODOS SOBRE

NO BRASIL

Página vende dados pessoais obtidos de informações públicas Kelly Amorim | kellyamorimcom@gmail.com O site Tudo Sobre Todos, hospedado em um domínio da Suíça, tem causado polêmica em território brasileiro. Com o slogan “Procure pessoas e empresas. Encontre muita informação”, a página de propriedade da suíça Top Documents LLC reúne informações de pessoas físicas e jurídicas de todo o Brasil. A divulgação dos dados, que incluem nome completo, CPF, endereço, sexo, telefone, nomes de parentes e vizinhos, sociedades em empresas e redes sociais, é feita mediante pagamento. Apenas o endereço é disponibilizado de forma gratuita, exigindo que os interessados nos demais dados adquiram créditos em planos que variam de R$ 9,90 a R$ 79,90. De acordo com a página, todos os dados reunidos são públicos e se baseiam em documentos de cartórios, diários oficiais, foros e redes sociais abertas. Por serem coletadas na forma original como são apresentadas pela fonte, o Tudo Sobre Todos não garante a veracidade e atualidade dos informes. Para o bancário Allan Abreu, que já buscou por curio-

sidade seu nome na ferramenta e localizou seu próprio endereço atualizado, o sistema deixa brechas para fraudes. “Quem é mal intencionado só precisa ter acesso a um endereço e nome completo e, a partir daí, começar um esquema fraudulento de compras indevidas, por exemplo”, diz. Conforme prevê o Marco Civil da Internet, sancionado em abril de 2014 pelo Governo Federal, as leis de Acesso a Bancos de Dados proíbem a divulgação de dados pessoais sem o consentimento prévio dos indivíduos. O serviço oferecido pelo tudosobretodos.se, portanto, não é considerado crime, mas se enquadrada na chamada licitude civil, que fere a legislação brasileira. Segundo a advogada Mônica Aguiar, “não é porque um dado é público que se tem o direito de divulgá-lo. A exposição de uma informação pública dá margem à exposição da vida privada, o que é ilegal”. Por causa da mobilização social em torno do assunto, que foi alvo de abaixo assinado com mais de 45 mil assinaturas digitais, a Justiça Federal concedeu ao Ministério Público Federal uma liminar autorizando a retirada provisória do site do ar. Até a publicação desta edição, o site estava indisponível para acesso.

Leandro Kadota | kadota@saojudas.br Para navegar na web é preciso ter cuidado com a privacidade para não deixar nenhuma brecha de segurança. Segundo o especialista em TI, Jefferson Santos, ninguém está 100% seguro na internet e, para ilustrar, ele faz uma comparação com a nossa casa. “Para chegarmos na nossa sala de

E-mails suspeitos

Diagramação e Revisão da página: Vinícius Cordeiro e Evelyn Oliveira

o

Mantenha seu programa antivírus sempre atualizado e, periodicamente, faça uma análise completa do seu HD.

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Bluetooth Utilize essa forma de conexão apenas quando necessário. Manter o Bluetooth do celular ligado, além de consumir energia, pode ser uma porta de entrada para hackers mal intencionados.

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Antivírus

O mundo é móvel e, por este motivo, armazenamos diversas informações pessoais em nossos celulares. Dessa forma, habitue-se a fazer o backup dos arquivos e apagá-los do seu celular. “É um ato simples que pode te proteger de constrangimento futuro”, aconselha Jefferson

sC

Senha

Evite utilizar a mesma senha para todos os seus serviços e/ou contas de banco. Essa é uma grave falha de segurança. “Caso a pessoa tenha sua senha descoberta ela poderá perder acesso a todos os seus serviços”, alerta o especialista.

Arquivos no celular

íciu Vin

Suspeite de e-mails com mensagens estranhas ou anexos suspeitos. “A orientação básica é desconfiar de mensagens que fujam do padrão, mesmo que a mensagem tenha sido mandada por alguém de confiança”, ressalta Jefferson.

estar, passamos por várias etapas para assegurar que ninguém estranho irá entrar. Devemos pensar da mesma forma quando lidamos com nossos dados, é preciso se assegurar de que ninguém entre em nosso computador”. Confira algumas dicas para manter a privacidade na rede.


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INVASÃO DE PRIVACIDADE

especial

PRIVACIDADE

xSEGURANÇA

Entenda como Mark Zuckerberg

CONTROLA seus passos

Redes sociais armazenam dados e não se importam com limites; usuários reclamam Mayara Almeida | mcga@globomail.com Eu estou lá, provavelmente Embora quase ninguém leia os você também. Seus pais, seus termos de uso do aplicativo, me amigos. Juntos somos mais de soa abusivo tudo isso. É um perium bilhão de pessoas que aces- go! Gosto de usar o Messenger, sam a rede social mais popular o whats por serem instantâneos, do planeta. O Facebook. mas não quero ser seguido por O site criado por Mark Zu- eles”, conta o produtor cultural ckemberg é um problemão no Gabriel Couto. que diz respeito a privacidade. A Electronic Frontier FounAlgumas coisas melhoraram nos dation, que é uma ONG norteúltimos anos, atualizações acon- -americana e luta pelo direito tecem quase toda semana. Uma à privacidade na internet, afirdas mudanças que não ficou ma que o Whatapp com mais um ano no ar, foi a exposição de de 800 milhões de usuários que plataforma o usuário estava derrapa em alguns pontos: “O acessando o site, se pelo celular WhatsApp não solicita publiou pelo computador. Foi retira- camente uma garantia antes da em agosto deste ano. de fornecer conteúdo [de usuA aplicação Messenger par- ários] quando questionado na tilha com as pessoas com quem Justiça. O app não publica relatrocamos mensagens a nossa tórios de transparência ou um localização. Um jovem indiano, guia de pedidos judiciais.” estudante de Harvard, chamaO analista de sistema Jairo do Aran Khanna descobriu que Almeida explica como funcioo aplicativo não só partilha o nam esses registros. “A partir endereço de acesso, como tam- do momento em que o usuário bém o armazena. Com a aplica- concorda com os termos de uso ção "Marauder's Map" ou "Mapa não há o que fazer. Ele será mados Marotos", uma extensão do peado pelos principais aplicatiGoogle Chrome, o estudante vos de redes sociais. Há clausuconseguiu provar que o Face- las que permitem que o GPS seja book guardava todos os locais ligado sem o usuário perceber. onde trocamos mensagens. Por outro lado, se você não acei“Eu acho que isso seja sim ta os termos, não usa os aplicatiuma invasão de privacidade. vos”, comenta.

Internautas reclamam de

propagandas nas redes sociais

Invasão de marcas e produtos gera desconforto aos internautas no Facebook e Twitter Jefferson Pereira | jeffps89@hotmail.com Cada vez mais empresas inserem anúncios publicitários nas redes sociais. A prática consiste em aumentar o número de clientes das corporações por meio de avaliações de gostos e preferências nos perfis de usuários. O facebook, por exemplo, é campeão em promover propagandas. São as chamadas publicidades direcionadas, que monitoram e apontam produtos comerciais no mundo virtual. Contudo, nem todos os internautas concordam com a ideia por tratar-se de uma invasão de anúncios com fins mercadológicos. A liberdade de escolha, do que acessar e ver na web, fica a cargo das agências de comunicação, publicidade e marketing, que objetivam mais lucros. Por mais que seja uma atividade que estabeleça critérios, de acordo com os interesses e hábitos dos internautas, isso motiva desconforto no que se refere à aceitação dos conteúdos por parte do público. Para a técnica administrativa Roberta Felix, a colocação de produtos em páginas pessoais [facebook] não é adequado, porém ela entende como

um plano de marketing para as organizações. “Compreendo como estratégia, mas ter que visualizar anúncios de serviços que não procuro durante meu lazer virtual, apenas me causa incômodo e antipatia pela marca”, completa. A historiadora e professora da rede pública de ensino Bárbara Leite vai além e diz que a estratégia fere a privacidade. “Sinto-me inteiramente invadida. Isso faz lembrar as aves que são alimentadas mesmo sem fome para engordar e virar algo bom para se vender. É uma violência. Anúncios e mais anúncios para tirar a concentração, para fazer você querer o que nem precisa”, finaliza a educadora. Termo de Privacidade Os sites facebook e Google, que mais concentram e investem em publicidade direcionada – junto às marcas contratantes -, disponibilizam um termo de privacidade. Entretanto, o documento nem sempre é lido pelos usuários, conforme alega o próprio Google em defesa das reclamações sobre o assunto.

Diagramação e Revisão da página:

Medidas de proteção para os filhos

“Superexposição” de filhos na Internet pode trazer perigos Renan Augusto | re_nan1@live.com O acesso a internet se tornou algo essencial nos dias de hoje. A rede ensina novas línguas, introduz diferentes culturas e histórias. Mas também é meio de golpes, pedofilia, entre outros riscos. A grande questão para os pais é como monitorar o seu filho sem interferir na privacidade? A psicóloga e professora Daniela Miranda afirma que os responsáveis devem sim checar todas as atividades de seu filho: “Os pais tem que ter as senhas e ter a consciência de que esse ato não é uma invasão, é para cuidar do filho. É claro que os pais tem de ter o bom senso, não é necessário ficar acompanhando as redes do filho a cada hora”. A redes sociais são o maior perigo on-line. As regras exigem que o usuário seja maior de 18 anos, porém basta selecionar um ano de nascimento errado e a conta está criada. Vale lembrar que a responsabilidade total de um ato dos filhos, tanto na internet quanto em qualquer ambiente, é dos pais. “Os pais devem manter computadores desligados nos quartos para que o acesso seja sempre observado. O limite de tempo impede que eles vão em algo além do visitado normalmente. A conversa é fundamental para entenderem o perigo de um post.”, ressalta a psicóloga.

Em 2011, no Rio Grande do Sul, um comentário indevido de um menino de 11 anos rendeu mais do que apenas repercussão. O garoto comentou em uma foto que a mulher retratada na imagem “valia R$1,99”. O caso foi a julgamento e a sentença inicial decidiu que os pais deveriam ressarcir a vítima em R$15 mil. “Criei a conta para o meu filho porque ele gostava de jogar. Depois me arrependi. Hoje ele praticamente não lembra que tem uma conta e só entra e posta nas redes com o celular na minha mão”, afirmou a jornalista Camila Srougi. A Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, elaborou uma pesquisa em março de 2013, sobre a atuação dos pais nas redes sociais. O resultado apontou que mais da metade das mães discutem a educação dos filhos na internet e três quartos dos pais ouvidos reconhecem o exagero no compartilhamento exagerado dos outros pais nas redes sociais. Essas duas constatações levam a chamada “superexposição”, trazendo riscos para a segurança das famílias. A Polícia Civil, em 2014, divulgou um caso em que um criminoso planejava sequestrar um menino de 9 anos a partir de posts dos pais na Internet.

Conheça o mundo

HACKER

Chegou a 147 milhões o número de vírus virtuais espalhados pelo mundo Henrique Neto | henriquenetto_@hotmail.com

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evantamento realizado em 2014 e revelado esse ano pela empresa de antivirus, AV-Test, mostrou um aumento de 72%, em relação ao ano anterior, o uso de “malwares” pelo mundo. “Malwares” são “softwares” maliciosos que infectam os dispositivos em busca de informações ou danificam o sistema. Os dados também mostram que o número de ameaças virtuais cresceu mais nos últimos dois anos do que na década passada inteira. Estes vírus são ferramentas de uso frequente entre “hackers” e “crackers”. Existe diferença entre os termos. Os “hackers” são profissionais dedicados a buscar melhorias nos programas. Eles encontram falhas nos sistemas e mostram como corrigi-las. Assim, contribuem para o desenvolvimento da tecnologia. “Crackers” são indivíduos igualmente capacitados, mas que em vez de reportar erros, os utilizam para benefício próprio. São conhecidos como piratas virtuais. “O pessoal acha que o “hacker”

sempre é o vilão, só que não é assim que funciona, isso porque antigamente não tinha a outra definição, aí caía tudo nas nossas costas”, explica o técnico em informática, Guilherme Pálava. Guilherme ainda diz que existem três tipos de recursos usados por esses “experts”. São os “adwares” que agem como disseminadores de propaganda indesejada e tornam a conexão à internet e os navegadores mais lentos ao abrir guias com anúncios sem a permissão do usuário; o “trojan horse”, que invade o dispositivo disfarçado como um programa legítimo no qual se pode confiar. Normalmente funciona para coletar informações, como senhas, ou para facilitar a invasão dos piratas. E por último, um “malware” que pode servir de duas maneiras. O “spyware” ou “software espião” é utilizado para coletar dados pessoais que possam servir para lesar o usuário ou ajudar empresas a desenvolverem um conteúdo personalizado melhor para os clientes.

Conflito entre Constituição e LAI gera debate sobre salário de servidores públicos Para especialistas do direito,princípio da publicidade administrativa deve prevalecer Eduardo Horta| edu_horta@hotmail.com A divulgação de salários dos servidores públicos, garantidas pela Lei de Acesso à Informação (LAI), gerou contradição com a Constituição Federal por questões de direito a privacidade. De acordo com a LAI, criada em 2011, é obrigatório que se informe os vencimentos, por julgar que é direito da sociedade saber os custos com a folha salarial nos âmbitos municipal, estadual e federal. Por outro lado a Constituição garante o direito a vida privada e à intimidade de todos os brasileiros. Alguns servidores já entraram com ações para tentar bloquear a divulgação de seus salários. Para o advogado Victor Gasparoto, o que prevalece no caso é o princípio da publicidade das informações, “Embora devemos reconhecer sempre o que a Constituição diz. Nesse caso, o conteúdo divulgado é de interesse público e a LAI deve ser cumprida. Por mais que os servidores sejam também cidadãos, eles prestam serviço a toda sociedade e é justo que os dados fiquem disponíveis, pois o dinheiro empregado no pagamento dos funcionários sai do bolso do contribuinte.”

O Supremo Tribunal Federal também tem julgado a questão e sendo favorável a divulgação das informações, baseado no princípio da publicidade administrativa, inclusive ao acessar o site do STF é possível encontrar o valor dos vencimentos de seus servidores. Prefeituras de cidades como São Paulo, Curitiba e Campo Grande têm seguido as normas da LAI e informado os salários de seus funcionários, por meio de portais como o Transparência e o Serviço de Informação ao Cidadão. A jornalista e assessora técnica da Prefeitura de São Paulo, Ana Clara Ferrari, considera a divulgação de dados justa,” Se ocupo um cargo público, meu dever, é trabalhar pelo interesse da população e prestar constas à sociedade. Parte desse processo significa publicar o meu salário, não vejo constrangimento algum. No caso da iniciativa privada, é diferente. Se eu trabalhasse em uma empresa e ela publicasse, sem meu consentimento, o valor do meu salário para qualquer fim, ela estaria, sim, violando esse direito à privacidade.”

ATUALIZAÇÃO DE SENHAS E NAVEGAÇÃO PRIVATIVA dão mais proteção no uso dos sites de relacionamentos Especialista em tecnologia dá dicas de como usar as redes sociais de forma segura Charles Eliseu | charles.eliseu93@gmail.com Para poder ajudar os leitores a usar as redes sociais com segurança e privacidade, o jornal Expressão procurou o especialista Nilton Costa e Silva, que atua no ramo da tecnologia há mais de cinco anos. De acordo com ele, o uso das redes sociais deve ser comedido, o usuário deve se preocupar sempre com a atualização de suas senhas e jamais deve adicionar pessoas sem conhecê-las, pois existe o risco de ser um perfil falso com intenções maliciosas. “A privacidade ou a falta dela está bastante atrelada com o comportamento na web. O que eu recomendo para as pessoas é utilizar o modo de navegação privativa, que é uma ferramenta que tem no navegador e que a maioria das pessoas não conhece e que dá maior segurança. Essa indicação é muito importante para o uso da internet em lo-

Charles Eliseu, Henrique Neto, Leandro Kadota, Jefferson Pereira, Saulo Chaves, Eduardo Horta

cais públicos, como bibliotecas. Além disso, eu aconselho que a atualização de senhas das redes sociais seja feita pelo menos uma vez ao mês, com no mínimo oito caracteres, alternando números e letras”, destacou Nilton. Pessoas que sofreram na pele problemas no Facebook, por exemplo, podem falar com propriedade sobre o assunto. Júlio Silva, de 35 anos, morador da grande São Paulo por exemplo, já passou por situações delicadas. “Há cerca de dois anos, eu costumava ir à lan houses para acessar minhas redes. Certo dia eu me esqueci de fechar o meu perfil no Face. No dia seguinte, em que fui entrar de novo vi que tinha sido hackeado. Então uma coisa que pode parecer simples, mas que é importante, é sempre usar a opção logout para não esquecer a sessão aberta”, disse.

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vida digital

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Tecnologia traz esperança para usuários

Criado para facilitar a compreensão de pessoas com paralisia cerebral, o aplicativo Livox é utilizado por 10 mil usuários em 25 idiomas e permite atividades culturais Lais Almeida | lais2220@gmail.com Imagine como deve ser difícil a comunicação de pessoas que sofrem com paralisia cerebral. Este foi o cenário que deu origem ao Livox (liberdade em voz alta), software utilizado por 10 mil usuários em 25 idiomas, entre famílias e instituições assistênciais, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), o software tambem foi estudado pelo centro de pesquisas para as áreas de cabeça, pescoço e TI do Hospital das Clínicas, localizado em São Paulo (SP) e venceu a Copa do Mundo de Tecnologia de 2014, organizada pela Microsoft, Qualcomm e outras empresas de tecnologia.

O criador Carlos Pereira, analista de sistema, teve a mais nobre das intenções: promover a autonomia na comunicação de sua filha, Clara Pereira, de sete anos, que possui limitações devido a um problema neurológico. Antes da criação do Livox, a comunicação entre eles era feita por meio de um catálogo de “falas” ditas em voz alta, que eram escolhidas por Clara, para passar alguma mensagem às pessoas. De acordo com o analista, o software contém 20 mil imagem, que podem ser utilizadas em conjunto com textos e também permite o acesso às atividades culturais, como filmes, desenhos e músicas.

Reprodução

Os usuários também conseguem aprender a ler, adquirirem vocabulário e estudam matemática. “Essa é a primeira vez na história que a inteligência artificial e consciência contextual foram usadas para criar algoritmos que entendam às necessidades de pessoas com deficiência”, afirma o criador Carlos Pereira. E basta que o software esteja instalado em um tablet para que ele possa ser utilizado. O teclado virtual da ferramenta fala automaticamente por comando de voz as palavras ou frases que estão sendo digitadas, o que torna possível a comunicação do usuário com outras

pessoas, e permite facilitar a compreensão de emoções, necessidades e desejos de quem possui limitações. Para Marley Galvão, jornalista e mãe de uma usuária do aplicativo, o mais legal é que a ferramenta ajuda diferentes necessidades das pessoas que estão nessa situação. “Os algoritmos se ajustam a graus de deficiência motora, cognitiva e visual, sendo capaz de corrigir o toque impreciso na tela do tablet da pessoa com deficiência, fator que é essencial para a comunicação perfeita. Mudou a vida da minha filha e de toda a minha família”, ressalta.

Mariane Araújo

Lixo eletrônico: onde jogar? Brasileiro produz mais de um milhão de tonelada. Saiba como descartar Mariane Araújo | marianesaraujo@hotmail.com Diz a lenda que alguns celulares têm prazo de validade e que, um certo dia, ele não será mais útil e nem sua mãe vai querer aceitá-lo caso você queira doar para ela. Se isso é verdade ou não, quando descartamos algum aparelho eletrônico, seja de telefonia, um tablet ou PC, além de objetos, como pilhas e baterias, existe um serviço especial para esse tipo de descarte: a coleta de lixo eletrônico. Artigos elétricos, como geladeira, micro-ondas e o que mais você usar em sua casa também fazem parte dessa categoria. Esses equipamentos são fabricados com substâncias nocivas, e se jogados em locais inapropriados, como lixões, podem causar problemas maiores ao meio ambiente. Rafael Santos, analista de sistemas, acredita que a maioria das pessoas percebe os problemas que esse lixo pode causar, porém desconhece os lugares onde descartá-los. “Sabemos que boa parte deles tem materiais tóxicos que contaminam o meio ambiente, por isso é importante pesquisar estabelecimentos que recolhem esse tipo de lixo. Mas o processo de descarte é difícil, pois não existe em diversos lugares que nem as outras categorias de lixos recicláveis”, diz. Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), a indústria eletrônica gera, a cada ano, até 41 milhões de toneladas de lixo eletrônico, a previsão é que este número possa chegar a 50 milhões de toneladas em 2017. Deste cálculo, 1,4 milhão pertence ao Brasil, o que equivale a 7 kg por habitante. São números que impressionam. Cintia Pereira, Coordenadora do Departamento Comercial Marketing da cooperativa Coopermiti, acredita que ainda faltam mais campanhas para esse segmento. “Procuram-nos tanto pessoas jurídicas como pessoas físicas, mas ainda é pouco. Algumas empresas nos contratam para destruição segura de dados e emissão do Laudo Técnico de Manufatura Reversa. É necessária uma maior divulgação para o descarte correto”, conta. A empresa, conveniada com a Prefeitura de São Paulo, atua na cidade desde 2010 e abriga um museu com o acervo dos materiais eletrônicos antigos, além de uma oficina de arte, com obras compostas por resíduos eletroeletrônicos. Existem vários locais que trabalham com a reciclagem, a maioria por intermédio das prefeituras. Para isso, procure os pontos de coleta seletiva da sua cidade e não jogue esses objetos em lixo comum. Você pode, também, realizar doações para organizações que trabalham com a inclusão digital, como a CDI (Comitê para a Democratização da Informática) que reutiliza computadores, com alguns requisitos básicos, para crianças e comunidades carentes.

Deixar de jogar eletrônicos inutilizados nos locais corretos pode causar danos ao meio ambiente

Cinco dicas para ter um bom currículo online Com uma rede maior de pessoas interligadas e maior possibilidade de alcance, uma boa apresentação virtual é a melhor aposta para conseguir o emprego dos sonhos

Sempre foi um momento de grande apreensão a hora de criar um currículo. Seja ele virtual ou impresso, o candidato não pode se esquecer que ele estará se apresentando a uma empresa, que o julgará por meio daquele apunhado de informações. Luciano Amorim, gerente de RH da empresa Grupo Cipatex, explica que um bom currículo deve conter dados que irão chamar a atenção do selecionador, como objetivo, graduação, cursos de especialização e estabilidade profissional. Estes podem ser considerados pontos chaves na elaboração do documento. “O currículo deve ser bem construído, pois os selecionadores levam, em média, cerca de sete a 10 segundos para analisá-lo. E 87% das organizações não gasta mais de 15 minutos para ‘filtrar’ os melhores candidatos para preenchimento das posições”, explica Luciano. As empresas têm buscado cada vez mais os seus empregados pela internet e isso é dos grandes fatores para se ter um currículo virtual. Uma das ferramentas online mais utilizadas por grupos empresariais e por pessoas que buscam emprego é o LinkedIn, no Brasil, ele possui mais de 15 milhões de usuários, segundo a Quantcast – portal de uma companhia de marketing digital que mensura dados e audiência de sites. Mas, para se ter um bom perfil no LinkedIn, é necessário seguir algumas regras. Carlos Eduardo Pereira, psicólogo e consultor de carreiras do Bê-á-bá do RH, separou algumas dicas que podem ajudar a você turbinar o seu perfil. - Ter todos os campos completos de maneira adequada: É muito importante deixar todos os campos completos, como os dados básicos, experiência profissional, estudos e cursos extracurriculares, projetos que servem como portfólio e resumo, no qual deve ser inserido uma carta de apresentação sucinta. - Ter uma foto corporativa é essencial! Nada de fotos com animais ou família. Uma foto básica, com trajes adequados, como o social, é sempre bem vistas pelos recrutadores. - Busque recomendações de competência! Elas permitem que suas conexões validem os pontos fortes destacados em seu próprio perfil. Podem ser adicionadas e recebidas de outros integrantes da rede. Um número alto agrega credibilidade ao seu perfil e demonstra que sua rede profissional reconhece que você possui tal competência. - Ter descrições detalhadas das funções que já exerceu: Assim como no impresso, ter os detalhes das funções exercidas escritos é mega importante para a empresa ter uma noção mais aprofundada de sua experiência. Capriche! - Manter sempre os contatos atualizados. Para facilitar a relação com a empresa e não perder nenhuma oportunidade de entrevista, mantenha sempre seu telefone, e-mail e qualquer outro tipo de contato atualizado. Segundo André Luiz Dametto, Sócio-Diretor da ALD Consultoria, estar operante no meio virtual é o caminho para conseguir mais facilmente um emprego. “Em um ambiente empresarial que opera cada vez no mundo online, ter um currículo virtual pode fazer a diferença entre participar ativamente do mundo dos negócios ou não ser encontrado”, explica.

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Grape Digital

Alex Alcantara | alex_alcantara2@hotmail.com

Diagramação e Revisão da página: Alex Alcantara, Mariane Araújo

DICA 1 CAMPOS COMPLETOS

DICA 2 CONTATOS ATUALIZADOS

DICA 3

DICA 4

BUSQUE RECOMENDAÇÕES

DESCRIÇÕES DETALHADAS

DICA 5 FOTO BOA


artes

ano 22 |no10 | outubro/2015

Cartunista cria tiras autobiográficas sobre doença crônica Projeto “Memórias de um esclerosado” aborda a relação do artista com doença degenerativa

Cedida por Rafael Corrêa

Débora Neves | deboranevess1@hotmail.com Diagnosticado com esclerose múltipla há cinco anos, o cartunista Rafael Corrêa, 39 anos, encontrou em um drama pessoal a inspiração para criar. O gaúcho de Rosário do Sul criou o projeto Memórias de um Esclerosado, no qual aborda seus medos, sonhos e experiências por meio de histórias em quadrinhos autobiográficas divulgados nas redes sociais. Os sintomas da doença começaram a surgir em 2008, Rafael sentia-se exausto após atividades físicas e longas caminhadas, mas só foi no ano

de 2010, após já ter passado por alguns médicos que nada constatavam que o cartunista decidiu consultar um neurologista e enfim obteve o diagnostico da doença. Após identificar a esclerose, a vida do desenhista mudou completamente, atividades do cotidiano como desenhar e correr se tornaram penosas. “A doença atingiu mais o meu lado esquerdo, o que é uma lástima, já que sou canhoto. Com isso, não tenho a mesma destreza ao desenhar e só consigo trabalhar por no máximo 30 minutos. Cedida por Rafael Corrêa

Rafael Corrêa, idealizador do “Mémorias de um Esclerosado”

Depois disso, a mão cansa e preciso dar um tempo e voltar mais tarde. Em outros dias não adianta nem tentar pegar o lápis porque a mão não funciona”, descreve. De acordo com Rafael, o “Memórias de um Esclerosado” é uma maneira de compreender mais sobre a doença e si mesmo. “Creio que seja uma maneira de expurgar meus sentimentos, colocar para fora o que estou passando. Estou usando essa experiência como uma jornada de autoconhecimento. Espero que isso ajude de alguma forma”, explica. Apesar das dificuldades em lidar com a doença, o cartunista percebeu que sua história de vida poderia ser a inspiração para criar e que seria bom aproveitar. “Depois do diagnóstico, observando a luta diária contra a doença, me dei conta que tinha uma grande história nas mãos e que poderia transformá-la em quadrinhos autobiográficos”, relata. O artista conta que com o projeto seu trabalho vem alcançando uma maior proporção e que fica feliz em saber que outras pessoas se identificam com suas histórias. “Com certeza, o meu trabalho ganhou maior abrangência

com este novo projeto. A minha intenção inicial não era de ajudar as pessoas e, sim, de relatar a minha experiência. De alguma forma, as pessoas que passam pelas mesmas dificuldades estão se sentindo representadas. Se isso auxilia ótimo, fico feliz”, afirma. Atualmente, além do projeto, Rafael continua trabalhando como ilustrador e, futuramente, pretende reunir suas histórias em quadrinhos em um livro. “A história está no começo, tenho muita coisa para contar ainda. Então, pretendo continuar desenhando e no futuro lançar um livro”, diz. A cada semana, o cartunista disponibiliza em sua página “Memórias de um Esclerosado” no Facebook e Tumblr, novas histórias que contam, com toques de tristeza e melancolia, os desafios diários de conviver com a esclerose múltipla. A esclerose múltipla é uma doença degenerativa que afeta o cérebro e o sistema nervoso central, interferindo na comunicação entre o cérebro, medula espinhal e outras áreas do corpo. Esta condição pode resultar na deterioração dos próprios nervos, em um processo irreversível.

Um dos quadrinhos do “Memórias de um Esclerosado”

Guardanapos poéticos

Bruna Ribeiro

encantam público com poesia e microcontos As intervenções urbanas do poeta Daniel Viana têm se tornado referência para o público Bruna Ribeiro| bru.ribeiro1@gmail.com “Tem poesia que não quer sair de mim, fica escondida nas gavetas do vão dos meus dedos”, esse é um dos poemas do ator, dramaturgo e poeta, Daniel Viana. Se você já passou pelas ruas de São Paulo e se deparou com algum guardanapo pendurado com um prendedor, saiba que, essa é a mais nova intervenção poética do jovem de Poços de Caldas (MG). A ação compõe o projeto PRENDE_DORES. Por onde passa, ele monta um mural urbano, no qual, os cidadãos também podem pendurar suas poesias espalhando dores e desabafos pelas ruas. Mas a história do poeta com intervenções urbanas já começou há alguns anos.

Escrever um conto por dia, todos os dias, durante um ano. Essa era a missão do artista, em 2013, quando datilografava contos em guardanapos e espalhava-os pela cidade. Antes de se desprender dos trabalhos, fotografava e publicava no facebook. A página, que no início, contava apenas com o apoio de alguns amigos, em três meses, já era seguida por mais de quatro mil pessoas. A ação foi uma homenagem ao pai, “ele escrevia todos os dias e deixava poemas para minha mãe. Com o tempo, passou a fazer esse gesto com os filhos também. Essa foi a forma que encontrou para se aproximar de nós. Eu quis levar a ideia para além das paredes de casa”, explica Daniel.

Dos 365 textos espalhados, 100 foram escolhidos para fazer parte de seu livro, que era vendido por 10 reais, por isso o nome 100 contos por 10 contos trocados. A obra teve duas edições, mas para a tristeza dos novos fãs, está esgotada. A segunda intervenção foi um pouco diferente, Daniel passou a ouvir histórias pessoais do público e transformá-las em poesias ou microcontos, que são datilografados em guardanapos. “Cada um tem a sua história e ela é importante, embora as pessoas achem que só artistas ou políticos mereçam ser lembrados. Acredito que a história de cada ser humano é única, então, é uma maneira de homenagear e devolver em forma poética

essa memória”, conta o artista. O projeto lhe rendeu mais um livro: Baseado em causos reais. A bióloga Magda Pontes ficou emocionada: “transformar uma vivência em uma coisa tão poética e linda. Fiquei feliz com a maneira como ele montou e escreveu, aquilo era tudo o que eu queria dizer e não conseguia. Sou encantada com o trabalho dele”, comenta. Além disso, o poeta lançou mais uma obra, Quase um livro para crianças. “A gente cresce sabendo que as partes do corpo humano são poesia. Céu da boca, raiz do cabelo, planta dos pés. Acho isso muito bonito e criei a anatomia do personagem baseado nisso,” declara Daniel.

INTERVENÇÕES urbanas de Daniel Viana já renderam três livros

Bicha Oca retorna a São Paulo após turnê nacional Espetáculo inspirado em contos homoeróticos de Marcelino Freire será apresentado no Casarão do Belvedere até 12 de dezembro Vanderlei Vieira | vand.vieira@gmail.com Iluminação crua, dois atores, duas cadeiras, uma mesa e diversas questões relacionadas aos homossexuais para serem problematizadas. A peça independente, protago-

nizada por Rodolfo Lima – que é também o autor e diretor – e Samy Dias, conta a história de Alceu, um homossexual de idade avançada que passa seus dias relembrando pesso-

as e momentos marcantes de sua juventude. A ideia não é combater a homofobia ou o preconceito, mas discutir a dinâmica dos relacionamentos amorosos entre dois hoCedida por Rodolfo Lima

Cena do espetáculo Bicha Oca que propõe reflexão sobre o universo homossexual

mens, assim como seu comportamento e consequências em longo prazo. Expressão: Quando e como surgiu a ideia de fazer o espetáculo? Rodolfo Lima: Em 2008, alguns amigos e eu estávamos nos apresentando em São Paulo e o Marcelino foi nos prestigiar. Durante uma conversa nos bastidores, falei para ele que sempre quis fazer uma peça inteiramente inspirada em suas obras e recebi carta branca para a produção. No ano seguinte, a Bicha Oca já estava em cartaz. Expressão: Por que você escolheu esse título? Rodolfo: Esse termo aparece em um dos textos que me inspiraram. Achei que tinha tudo a ver com o que eu queria representar no palco: a história de um gay envelhecido, que havia aprontado tudo e mais um pouco quando era jovem, mas que nunca conseguiu um relacionamento real e duradouro, amargando uma vida solitária. O espetáculo propõe uma reflexão sobre relações vazias e superficiais no mundo gay. Expressão: Quais são esses textos e quais são as semelhanças e diferenças entre eles e a peça?

Diagramação e Revisão da página: Bruna Ribeiro, Débora Neves, Marina Camargo, Sheila Martins

Rodolfo: “A Volta da Carmem Miranda”, “Os Atores”, “Meus Amigos Coloridos” e “Coração”, além de um conto feito especialmente para incrementar o final do espetáculo, o “Seu Alceu”. A diferença é que o roteiro une as principais situações dos cinco textos em um só personagem. Costumo dizer que costurei trechos de textos prontos para construir um novo. Expressão: Como foi a recepção do público? Rodolfo: No começo, foi ruim. Muitos não queriam ver o espetáculo por causa do título, faziam piadas ou comentários preconceituosos.

Hoje, a Bicha Oca vive o seu melhor momento, graças à notoriedade na imprensa e às redes sociais. Essa repercussão tem trazido uma plateia bem diversificada e o feedback tem sido ótimo. O roteiro Expressão: passou por alguma mudança ao longo dos anos? Rodolfo: Várias! Por exemplo, há uma cena de nudez e pegação que antes não era tão realista. Não tinha interação entre mim e o outro ator. A partir dessas mudanças é que a peça começou a “acontecer”. E ser classificada como inapropriada para menores de 18 anos (risos).

Serviço: Bicha Oca Casarão do Belvedere Endereço: Rua Pedroso, 267 - Bela Vista Telefone: 3266-5272 Sábados, às 19h Preço: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) Duração: 60 minutos Classificação: 18 anos

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esporte & lazer

ano 22 |no10 | outubro/2015

Lugar de mulher é no ringue! Apesar do preconceito, modalidades reúnem lutadoras de diferentes biotipos e atraem atenção nas academias do país

Aline Ribeiro de Oliveira | alineoliveira_s@hotmail.com A vitória espetacular Ronda Rousey sobre a brasileira Bete Correia, com um nocaute em apenas 33 segundos, trouxe à tona a presença feminina nos rings mundiais de lutas e do MMA. Apesar de estarem presentes nesse tipo de esporte, o segmento não recebe tantos inventimentos e audiência quanto a versão masculina. No UFC, por exemplo, campeonato de MMA mundialmente famoso, a categoria feminina só foi reconhecida oficialmente em 2013. Já no Boxe, data-se a entrada de mulheres em 1720, porém, apenas em 2012 que a categoria feminina teve sua primeira luta oficial nas Olimpiadas. Desta forma, a luta de Ronda serviu para nos mostrar que mulheres também são inteiramente capazes de participarem de um esporte que envolva este tipo de contato físico e, que lugar de mulher é no ringue sim! Fora dos campeonatos mais famosos, há mulheres na vida real que também lutam, seja profissionalmente ou por hobbie, e que dão um show nos ringues e academias brasileiras. Esse é o caso

de Rose Volante, que começou a treinar boxe há nove anos com o intuito de perder peso e hoje já acumula 60 vitórias em 67 lutas disputadas em campeonatos nacionais e internacionais. “Eu tinha 105kg quando comecei. Além de ter escolhido boxe para perder peso, também escolhi por ser um esporte que eu sempre admirei. Com o passar do tempo o boxe se tornou parte da minha vida. Só nos primeiros 2 meses de treino, eu eliminei 40kg. Isso fez com que eu me esforçasse ainda mais e ficasse com vontade de competir’’, conta Rose. Rose estreiou no boxe amador e obteve os títulos de tetra-campeã paulista, tri-campeã brasileira, campeã Sul americana no Chile e Europeia na França. Ainda como amadora, fez parte da seleção olímpica como reserva na competição em Londres de 2012, viajou cinco países, onde obteve títulos internacionais. “Quando eu comecei, eu sofri muito preconceito. Já escutei de várias pessoas que boxe era coisa de homem, que eu não deveria estar ali por ser

gorda e ser mulher, e que eu estava tirando o lugar de um verdadeiro lutador”, revela. Atualmente, Rose possui um contrato com a CF Promotions e atua no boxe profissional. Nesta categoria, ela já lutou cinco vezes e conquistou quatro vitórias, todas elas por nocaute. Se ela pudesse dar um conselho para alguma menina que quer começar a lutar seria: “Se você tem um sonho, lute por ele. Não importa o que digam, siga em frente. As pessoas podem te julgar e tentar tirar isso de você, mas se você quer algo, vá atrás”. Amanda Allegrini pratica Muay Thai há 6 meses e está se preparando para sua primeira gradação na luta. “O esporte é uma opção para quem busca condicionamento físico fora das academias tradicionais”, ela conta. A graduação do Muay Thai é um teste para ganhar uma faixa, como no Karatê. As aulas acontecem três vezes por semana. “Me surpreendi com minha capacidade, não pensava que eu era tão forte, o segredo é acreditar em si mesma e não ter medo de se machucar”, ela completa.

Da literatura para a realidade, quadribol vira esporte Fãs da série Harry Potter adaptam jogo-bruxo Arquivo Pessoal

Aline Ribeiro de Oliveira

NOCAUTE | Rose Volante lutando no 3º Festival de Boxe Olímpico brasileiro

Ippon

Um nas adversidades sociais

Crianças e jovens de Paraisópolis encontram, pelo Judô, a chance de um futuro melhor Rodrigo Luiz Zweibruk | rodrigo.zweibruk@gmail.com

REALIDADE | O Quadribol Trouxa exige destreza e desenvoltura dos jogadores na prática do esporte Graziela dos Santos | gra.zisantosjor@gmail.com Direto do universo mágico de Harry Potter para o Brasil, o esporte criado pela escritora J. K. Rowling se tornou real. Chamado Quadribol Trouxa (na história, trouxas são pessoas sem poderes mágicos), a modalidade esportiva foi adequada da versão original para possibilitar a prática em quadra em vez do céu. O assunto é tão sério que, em dezembro de 2014, foi fundada a Associação Brasileira de Quadribol (ABRQ), órgão reconhecido pela Associação Internacional de Quadribol (IQA – International Quidditch Association), com nove times ativos atualmente. Entre eles, há o Fênix Inomináveis Quadribol Clube, de São Paulo, cuja capitã é Jessy Oliveira. Ela joga há cerca de dois anos e crê que o interesse do público pela modalidade nasce, principalmente, da curiosidade, o que leva muitos a querer participar. "A maioria demonstra interesse

em ir assistir para conhecer. Os treinos são abertos e qualquer pessoa pode jogar, então explicamos o básico na hora", conta. Vinícius Costa é o representante brasileiro oficial dentro da IQA, além de vice-capitão do Fênix Inomináveis. Ele acredita que o Quadribol Trouxa é um esporte progressista e que promove o gosto pela atividade física. "É um esporte misto, inclusivo, que respeita a identidade de gênero de cada indivíduo, juntando características de outros esportes melhor estabelecidos, como rugby e handebol", opina. Ele explica que a intenção da ABRQ é realizar campeonatos regionais e um nacional por ano, mas ainda existem dificuldades. "Como é um esporte novo e peculiar, há certa resistência em conseguir patrocínio. Infelizmente, devido às dimensões do nosso país, o deslocamento das equipes pode ser caro, e

nem todos podem arcar com as despesas", lamenta. Em relação à reação típica das pessoas quando descobrem que o Quadribol existe fora dos livros e filmes, tanto Jessy quanto Costa dizem que a surpresa é comum. A pergunta clássica é se eles realmente voam. Nesses casos, Costa tem a resposta na ponta da língua: "Sim, com certeza, mas aqui não conseguimos importar ainda a Firebolt”, diz, divertido, citando a melhor vassoura do mundo bruxo. Criado em 2005, no Colégio Middlebury, nos Estados Unidos, o Quadribol Trouxa já teve suas regras revistas sete vezes. A versão atual pode ser consultada na página oficial da IQA. A primeira Copa Mundial do esporte aconteceu em 2007, contando apenas com times estadunidenses. Somente nos anos posteriores é que equipes de outras nacionalidades começaram a participar dos campeonatos.

Com aproximadamente 800 mil metros quadrados de casas inacabadas, prédios do CDHU e muitos barracos amontoados, em um cenário compartilhado com mais de 55 mil habitantes, a maior comunidade da capital paulista oferece aos moradores poucas áreas de esporte, lazer e entretenimento. Porém, algumas iniciativas sociais não governamentais começam a colorir o cenário cinzento da oitava maior favela do Brasil. O judô é um dos esportes que faz bonito em Paraisópolis e, por meio do Instituto Tiago Camilo, inicia um novo horizonte na vida das crianças e adolescentes que moram ali. Para Gilson Rodrigues, líder comunitário, o ensino de judô vai muito além do esporte, “funciona como esperança na vida desses meninos e os

Para Flávia Ribas, assessora do Instituto, “o judô é uma ferramenta de transformação de pessoas e a partir de conceitos como atenção, concentração, controle da força e senso espacial, estimulamos o desenvolvimento do caráter”, explica. A participação dos pequenos esportistas é parte do processo de aprendizagem e, segundo a assessora, “visa oportunizar um futuro melhor através da modalidade”, ressalta. Com duas aulas por semana, às terças e quintas, que acontecem no CEU Paraisópolis, os judocas mirins aprovam a iniciativa e se divertem com as lições desenvolvidas pelos professores. “Aprendi a dar cambalhota e, a não desistir das coisas que quero. É tudo muito bom”, fala a pequena Júlia Morais, aluna de seis anos de idade beneficiada pelo projeto. Arquivo Pessoal

DISCIPLINA | Fundação Thiago Camilo auxilia jovem em Paraisópolis

REGRAS BÁSICAS O Quadribol Trouxa mistura elementos de diferentes esportes como rugby, queimada, basquete, futebol americano e handebol. Quando ocorrem faltas, os jogadores devem retornar à sua área antes de voltar à partida, e são controladas por cinco juízes. Como na “versão-bruxa”, os jogadores devem montar vassouras com ou sem cerdas. Cada time tem sete integrantes: Artilheiros: são três; jogam a Goles (bola de vôlei meio murcha) entre si para fazer gols (10 pontos cada) Goleiro: defende os três aros (gols) de sua área Batedores: são dois; jogam Balaços (três bolas de queimada) para "impedir" os artilheiros adversários (cabe a mesma regra das faltas) Apanhador: captura o Pomo de Ouro (vale 30 pontos), finalizando a partida Pomo de Ouro: bola de tênis que fica em uma meia pendurada na roupa de um jogador neutro, que deve fugir dos Apanhadores a qualquer custo (é imune à faltas).

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mantêm afastados da criminalidade”, comenta. Iniciado em junho de 2012, o projeto é uma parceira entre o Instituto e a União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis (UMCP) e atende cerca de 200 crianças e jovens, meninos e meninas, com idade entre 6 e 17 anos. Um dos pré-requisitos para ingressar no projeto é estar matriculado, frequentar a escola e ter vontade de conhecer o esporte. A principal ideia é incentivar a prática como uma forma de ajudar o desenvolvimento psicomotor, social e emocional dos participantes. Valores como disciplina, respeito e comprometimento, característicos dos praticantes de judô, também são transmitidos e servem como uma forma de educação complementar.

Diagramação e Revisão da página: Raul Feliz, Graziela dos Santos, Rodrigo Luiz


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