Expressao 14 dezembro 2016

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ano 23/número 14 dezembro/2016

jornalismo universitário levado a sério

jornal laboratório do 4º ano de jornalismo

usjt

iStock-fona2

Raízes da maternidade Mito ancestral. Mito contemporâneo. No curso de milênios, “ser mãe” é um papel social permeado por afetos e conflitos


#hashtag

ano 23 |no 14 |dezembro/2016

#caro leitor,

Sem contos de fadas, por favor! Logo mais, dentro de alguns dias, celebramos o Natal, caro leitor. Nossa penúltima edição do jornal Expressão em 2016 aproveita para falar sobre os significados da maternidade no mundo contemporâneo. Estamos no século XXI e carregamos uma herança milenar (e mítica) sobre o “ser mãe”. Um papel social permeado por afetos, entregas, dores, amor, rejeições, crises, cobranças, conflitos... Nada é um conto de fadas. Por isso, a reportagem Especial desta edição aborda as múltiplas facetas da maternidade, inclusive conversa com mulheres que decidiram não ser mães. Procuramos compreender as muitas dimensões da maternidade contemporânea e conversarmos com mulheres que vivenciam experiências muito distintas: a dor da perda; a batalha para criar um filho sozinha; a luta contra a dupla invisibilidade: solteira e lésbica; as redes de solidariedade que formam coletivos de mães empreendedoras; os desafios de uma mãe que precisa enfrentar o racismo; as rotinas de uma mulher com filho especial. Se as alegrias do amor incondicional são ressaltadas em todos os cantos, também é importante pensar nos desafios e conflitos que a maternidade impõe. Vamos adiante. Na editoria Educação, buscamos conhecer de perto o que é o método educacional Montessori, adotado por algumas escolas particulares em São Paulo. Como funciona essa experiência que valoriza a autoeducação, autonomia e o lúdico no processo de aprendizado? Em Vida Digital, conferimos algumas experiências de bancos digitais. Instituições financeiras que funcionam por meio de aplicativos e começam a despertar o interesse de uma vasta clientela. Na editoria de Artes, divulgamos a web série Nossa História Invisível, um projeto que conta a história de 10 mulheres negras e suas experiências de hipermarginalização. O projeto, que teve apoio da Prefeitura de São Paulo, é uma produção de quatro jovens moradoras de regiões periféricas da capital. Para fechar esta edição, vamos de trilhas urbanas. Mais uma opção gratuita de lazer em São Paulo, com opções de passeios que misturam atividade física, conhecimento sobre história, patrimônio, fauna e flora da cidade. Então, desejamos uma ótima para todos vocês! Prof Iêda Santos e Prof Jaqueline Lemos a

a

#protagonista

#fração de segundo fotolegenda

Harmonia perfeita

Ilha do Mel (PR): lugar onde terra, mar e céu dançam conforme o pôr-do-sol Thais Matuzaki - aluna do 4o ano de Jornalismo - Campus Butantã

Mohamad

e o amor de 10 mil quilômetros Sem fusca, sem violão e sem Flamengo, mas com uma brasileira chamada Teresa Arthur Avila

“Sua posição é sublime, sua bandeira oscila na glória suprema”. Essas palavras ainda ecoam na cabeça dele. “Longa vida ao rei, longa vida ao rei”. Mohamad Iswed Farhan Al Ziyad aprendeu a repetir essas palavras desde que era criança. Este é o hino de seu país natal, a Jordânia. Situada no Oriente Médio, é o país mais ocidentalizado da região e é um local de trégua, em meio a tanta guerra nos países vizinhos. Mas não era suficiente para Mohamad. Como mecânico, ele não estava satisfeito em trabalhar nas oficinas de lá e morar com toda sua família numa casa de chão de terra batida. Ele não tinha problema com a humildade de sua casa. Ele tinha problema com estar limitado. Ele queria o mundo. “Eu nunca pensei que fosse sair de lá. Mesmo querendo, eles são muito rigorosos. Quase ninguém sai. O que eu podia fazer era procurar fotos dos lugares que eu queria ir e conversar online com gente do mundo todo. Estados Unidos, Canadá, França. Brasil era um deles”, diz Mohamad. Mohamad não via outra opção a não ser aceitar sua vida dentro das fronteiras jordanas. Até que um dia, em 2009, ele conheceu Teresa. Em um site de relacionamento a vida do jordaniano cruzou-se, virtualmente, com a da brasileira. Ela da capital do estado de São Paulo e ele de Zarqa, uma cidadezinha industrial no nordeste de Amman, capital do país. Ele com 22 anos, ela com 47. Ele muçulmano, ela católica fervorosa. Nenhum dos dois falava inglês, espanhol ou alguma língua em comum. “Quando começamos a conversar vi algo de diferente nela. Logo me apaixonei. Só queria saber de Teresa, Teresa, Teresa. Eu mostrava a foto dela falando que era minha namorada. Minha mãe queria me matar e, como ela estava com uma camiseta de manga curta na foto, era pior ainda”, lembra Mohamad. Teresa, que é mãe de dois filhos e é divorciada, se divertia falando com Mohamad. Ia dormir tarde, por causa do fuso horário, só para ficar mais tempo conversando com seu crush. Ela já tinha experiência em conversar com pessoas de outros países e, inclusive, já foi para Marrocos, visitar um namoradinho amigo. Depois de 5 anos de muita conversa sendo traduzida pelo Google Tradutor, Mohamad viu uma oportunidade de vir ao Brasil. 2014: era ano de Copa do Mundo no Brasil. A buro-

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cracia para sair do seu país estava menor e junto com Teresa, ajuntou dinheiro para comprar sua passagem e um ingresso para um jogo no Ceará, um dos únicos que ainda tinham vagas, só para ter uma prova de que viria para a Copa. “Meu filho me chama de louca até hoje. Eu tava pagando pra um cara de uma cultura completamente oposta à minha vir para cá ficar na minha casa durante 3 meses. Ele tem a idade da minha filha mais velha, ele tem pouquíssimo dinheiro, a gente só se viu na webcam, ele é muçulmano. Como que vamos conversar? Ele não fala minha língua!”, diz Maria Te-

Diagramação: Profa Iêda Santos

resa Jorge, secretária de uma igreja católica que leva o nome em homenagem a Santo Antônio de Lisboa, conhecido por ser casamenteiro. Mohamad veio. Logo conquistou aqueles que ficaram meio cabreiros no começo. Depois de muito tempo apenas conversando pelo celular (para que as falas pudessem ser traduzidas), ele começou a arranhar um português. “Eu ‘saber’ português”, brada ele. Não viu o jogo no Ceará. Ficou três meses. Renovou seu visto de turista. Ficou um ano. Conseguiu visto de refugiado. Ficou mais um ano. Casou-se de papel passado com Teresa, ago-

ra possui cidadania brasileira e não pensa em voltar. Conseguiu um trabalho como estoquista em uma loja de roupas no Brás e joga bola todas as quarta-feiras, com um de seus cunhados, o mais velho de sete irmãos que Teresa tem. “No começo a adaptação foi difícil para os dois. Ele não queria que eu usasse certo tipos de roupas, jogava lixo pelo chão, não se enxugava depois do banho, não sabia usar talheres, mas a gente tá se adaptando. Eu respeito seu tempo diário de oração, ele respeita minha crença. E agora ele até me traz umas blusinhas de alça do seu trabalho”, diz Teresa. Arquivo Pessoal

#fica a dica

A Cabana Ingrid Pap

“— Mackenzie, eu não sou masculino nem feminina, ainda que os dois gêneros derivem da minha natureza. Se eu escolho aparecer para você como homem ou mulher, é porque o amo. Para mim, aparecer como mulher e sugerir que você me chame de Papai é simplesmente para ajudá-lo a não sucumbir tão facilmente aos seus condicionamentos religiosos. Ela se inclinou, como se quisesse compartilhar um segredo. — Se eu me revelasse a você como uma figura muito grande, branca e com aparência de avô com uma barba comprida, simplesmente reforçaria seus estereótipos religiosos. É importante você saber que o objetivo deste fim de semana não é reforçar esses estereótipos.” O autor canadense William P. Young aborda o tema religioso de uma forma inovadora. Após um final de semana acampada, a família Phillips sofre com o sequestro e morte da filha mais nova, Missy. Mackenzie, o pai da família, entra em depressão e se culpa pelo ocorrido que nunca foi solucionado. Após dois anos, Mackenzie é levado até a cabana onde foram encontrados indícios do crime e se encontra com a Santíssima Trindade para um momento de reflexão sobre a Grande Tristeza, como é abordada a questão de depressão no livro. “Nunca antes li ou ouvi falar sobre uma representação de Deus como mulher, e possivelmente, isso se aplica a maioria das pessoas. Imagino a surpresa que tiveram ao ler e se deparar com tal representação.Tenho certeza que foi uma reação positiva pela forma que é abordada no livro”, comenta Rafael Silva sobre a reaçãoao tema.

“Assim como no trecho de fala do personagem: ‘Estou ficando maluco? Devo acreditar que Deus é negra, gorda e com senso de humor questionável?”, relata Rafael citando uma fala do personagem impressionado. Com o crime não solucionado o tema entra na questão da justiça e justiça Divina. Não houve a prisão do criminoso, nem mesmo o corpo da garota havia sido encontrado até dois anos após o caso. “Tem se tornado mais comum aparecerem crimes que a justiça terrena não consegue desvendar. O único consolo que fica é a justiça divina. Sendo Deus onisciente, onipotente e onipresente aguardamos e mantemos a esperança de que de seu julgamento ninguém escapará. De um olhar cético, se Deus existe,a justiça não falhará,mas isso é algo que tiraremos a prova apenas no nosso post mortem”, analisa o historiador.

expediente Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Vice-reitor Fabrício Ghinato Mainieri Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Coordenador de Jornalismo Prof. Rodrigo Neiva Capa Foto: iStock-fona2

Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. César Zamberlam Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos Redação Alunos do JOR4AN-MCA 1 Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667 As matérias assinadas não representam, necessariamente, a opinião da Universidade.

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Educação

ano 23 |no 14| dezembro/2016

Autoeducação e diversão

Método Montessori privilegia autonomia das crianças e proporciona ensino lúdico

Lucas Lucena

Sala de aula adaptada permite o ensino de maneira prática, didática e lúdica, colocando os objetos à disposição dos alunos, estimulando a independência, curiosidade e o respeito com o ambiente

E

m salas de aula adaptadas, crianças circulam livremente e escolhem suas atividades. Brinquedos são colocados em locais de fácil acesso e são apresentados pelos “adultos preparados”, nome atribuído aos profissionais ou responsáveis que possuem conhecimento do método e das fases de desenvolvimento infantil. A tarefa do observador limita-se em apresentar a atividade e acompanhar, sem intervenções, o desenvolvimento da tarefa pelos jovens, visando o aprendizado de maneira autônoma. To-

Lucas Lucena das as etapas devem ser desenvolvidas pelos próprios alunos e trabalhadas de acordo com o tempo de cada um. Desenvolvido pela médica italiana Maria Montessori, o método foi inicialmente criado para aplicação em crianças com déficit de atenção e hiperatividade. O ambiente estudantil convencional é considerado prejudicial para o aprendizado delas, que deixam de cumprir com as obrigações escolares e perdem o interesse nos estudos. Contudo, a técnica também mostrou ser eficiente em alunos

sem dificuldades de aprendizado, que inclusive optam pelo sistema, graças à liberdade proporcionada e pela quebra do padrão antigo, justificando o aumento da procura por escolas montessorianas. Por enquanto, esse modelo de ensino não é utilizado nas redes públicas, sendo apenas encontrado em instituições particulares e adaptadas, que cobram entre R$1150,00 e R$1600,00 mensais, dependendo do plano adquirido, como refeições e horários de estudo. De acordo com a teoria, o desenvolvimento infantil ocor-

Aposentadoria especial em risco Proposta de reforma da Previdência Social pode dificultar o acesso ao benefício Jardiel Carvalho

re com maior intensidade até os seis anos de idade, onde há maior absorção graças à sensibilidade instintiva. Ele é inato e deve ser estimulado por energias externas, facilitando o auto aprendizado. “O processo de adaptação é um pouco demorado, por isso, o recomendado é educar também dentro de casa. Algumas famílias possuem um quarto Montessori, onde a disponibilização dos objetos é acessível à criança, isso auxilia na alfabetização e no desenvolvimento”, relata Cristiane Vieira, professora Montessoriana.

As etapas devem ser trabalhadas de forma sucinta e objetiva, o educador deve passar a atividade de maneira clara e sem forçar o aluno a realizar uma dinâmica que ele não queira. Caso haja uma rejeição inicial, a mesma tarefa deve ser repassada após algum tempo, até que a criança aprenda a gostar e a realizar aquilo que foi orientado. Em caso de indisciplina, o adulto preparado deve intervir e conversar de maneira pacífica e detalhada, explicando o motivo da repreensão, a fim de evitar

que aquilo ocorra novamente. A violência, verbal e física, é totalmente desconsiderada e repreendida na metodologia montessoriana. Valoriza-se o silêncio, a paciência e o respeito mútuo. “Apesar da liberdade oferecida, é ensinado o valor da disciplina. As crianças são estimuladas a adotar um tom de voz mais baixo e calmo, compartilhar os objetos e respeitar o próximo. Tudo de maneira lúdica e didática, respeitando o espaço e o tempo de aprendizado individual”, afirma Bruna Noli, pedagoga e coordenadora.

Papel do professor em novas

realidades educacionais Docentes têm atuação fundamental para o desenvolvimento do aluno

S

eja no ensino público ou privado, em escolas ou universidades é necessário nos dias atuais desenvolver novos papeis e novas realidades educacionais para a inclusão de todos os estudantes em um mesmo ensino. É importante que professores aprendam a lidar com as ideias, valores, crenças e conhecimento de cada aluno, rompendo barreiras e efetivando a participação de todos no processo de ensino/aprendizagem. No Brasil existe a Lei de Diretrizes que divide a educação em dois níveis: educação básica e ensino superior. A educação básica compõe-se por Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Em todo o processo educativo em escolas ou universidades o objetivo do professor é desenvolver o raciocínio, ensinar a pensar sobre diferentes problemas, auxiliar no crescimento intelectual e na formação de cidadãos capazes

Denize Moraes de produzir transformações positivas na sociedade. Portanto, para ser professor no século XXI é preciso desenvolver novos papéis e novas realidades educacionais para uma inclusão igualitária no ensino. Rafael Angelo, professor da rede pública de ensino utiliza o humor como uma forma de aproximação e interação com os alunos. Ele diz: “ser professor vai além do educar academicamente. Hoje em dia, cumprimos vários papéis. Eu tento criar em sala mecanismos para atingir a todos já que cada um chega na escola com diferenças pessoais que fazem com que tenhamos de dosar o tanto que seremos apenas professores e o tanto que seremos algo a mais”. No processo de ensino também deve ser levado em conta às características e necessidades individuais de cada aluno. A professora Fátima Martins, dá aulas de Língua Portugue-

sa e diz: “eu converso sempre com meus alunos para entender o mundo deles e saber como argumentar e os fazer entender a necessidade dos estudos específicos que levo para a sala de aula. Sempre no começo do ano faço uma pesquisa para saber como lidar com eles de forma geral. Assim, quando eu vejo que atingi a maioria deles, eu começo a me concentrar naqueles que ainda não se encontraram para saber como incluir eles na aula”. Define-se por Educação o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano, a fim de melhor se integrar na sociedade ou no seu próprio grupo. Portanto, para que haja inclusão, todos os alunos devem ser igualmente valorizados e suas diferenças devem ser usadas não como um problema, mas como solução para o processo de aprendizagem. Denize Moraes

Mauro Miguel

A

proposta de reforma da Previdência Social em debate no Congresso Nacional pode complicar a aquisição da aposentadoria especial. Essa vantagem permite aos trabalhadores de profissões de risco, como metalúrgicos, pedreiros de grandes obras, eletricistas e funcionários de hospitais que mantenham contato com pacientes que possuam doenças infecto-contagiosas. Também estão incluídos os professores. Estes profissionais, de acordo com as atuais regras, podem solicitar o benefício a partir de 25 anos de profissão, para mulheres, ou 30, para homens. Entretanto, com a mudança prevista na gestão do governo Temer, a ideia é fixar uma idade mínima, acima dos 50 anos para mulheres e 55 para homens, somada com o tempo de contribuição, sempre superior a 30 anos. Além disso, há também a possibilidade de criação de regras mais rígidas para o trabalhador comprovar que a atividade

exercida é de risco e dificultar o acesso ao benefício. Atualmente, é necessário somente ter trabalhado por 15, 20 ou 25 anos, baseados na gravidade do efeito nocivo presente no exercício, além de 180 meses de atividade efetiva no trabalho. A lei da aposentadoria especial existe desde maio de 1999, garantindo o direito aos professores com base nos períodos anteriormente citados. Caso a proposta do novo governo seja aprovada, a idade mínima para se aposentar passa a ser 65, para homens, e 62, para mulheres. “O grande problema desta faixa etária é que muitos professores não aguentam trabalhar em sala de aula por tanto tempo, sendo que muitos já desenvolveram ou estão desenvolvendo problemas físicos e/ou psicológicos, provenientes da atividade de lecionar”, diz Marta Miriam Almeida Santos, professora da rede pública de São Paulo. Entre as complicações às quais os professores estão expos-

tos durante o exercício de sua profissão, estão problemas nas cordas vocais, devido ao uso excessivo da voz em salas de aula com acústica ruim, tendinite, que leva muitos professores a adotarem equipamentos como data shows e deixar de lado a lousa, dores fortíssimas na coluna, gastrite, vista cansada, bronquite e rinite, ocasionadas pelo uso constante do giz e inalação indireta do pó que ele provoca. Dentre os psicológicos, o stress é predominante. “O ambiente de ensino, em teoria, é um lugar maravilhoso. Aprendizados diferentes todos os dias, milhares de rostos olhando o quadro e prestando atenção no que você diz…mas ninguém, além dos próprios educadores, entende como é difícil ficar sem voz durante a semana, de tanto pedir por silêncio e corrigir milhares de provas e trabalhos de milhares de alunos de turmas diferentes. Ninguém aguenta fazer isso até os 65”, desabafa Roseli Falco, professora de biologia da rede privada de São Paulo.

Diagramação e Revisão da página: Lucas Lucena, Denize Moraes, Mauro Miguel

Crianças participam de atividade cultural na escola, movimento visa integrar os alunos da turma

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especial Más notícias: mentiram para você

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Faces da Maternidade

Nanquim Aguado

Melhor esquecer o conto de fadas, é preciso debater o que realmente é ser mãe Milena Perilhão Ah... a maternidade. Se tudo fosse como em um comercial de alguma marca famosa de fraldas (nos quais as fraldas estão limpas, aliás) as mulheres teriam por que querer outra coisa? Afinal, é a plenitude máxima. Quando se alcança o sentido absoluto da vida sem nem precisar abrir mão de dormir a noite toda... Ou não? Mas, não vem com manual de instruções? Criar e educar outro ser não são coisas que elas já nascem sabendo? Parece tão simples, tão mágico, tão perfeito. Exatamente assim: no comercial. No mundo real, ser mãe é uma batalha diária e um conflito permanente. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014, as mulheres correspondem a 51,6% da população. Ainda de acordo com a mesma pesquisa, elas agora optam pela maternidade mais tardia e a média de filhos passou de quatro, em 1980, para um ou dois. A porcentagem de gravidez na adolescência também diminuiu (de 14,8%, em

2000, para 11,8%). Ainda assim, engana-se quem pensa que a brasileira tem autonomia quando assunto é a concepção. Desde pequena, toda e qualquer menina é condicionada a construir dentro de si um sentimento maternal. Se é papel da humanidade “perpetuar a espécie”, à mulher cabe ter isso como objetivo de vida maior. Qualquer coisa que destoe desta máxima é motivo para legitimar as críticas. “A escolha da mulher, independentemente de qualquer que seja, sempre será alvo de preconceitos. Se a mulher não quer ter filhos é uma ‘desalmada que nunca saberá o que é amor de verdade’. Se tem e volta a trabalhar cedo é uma ‘desnaturada que largou o filho’. Se fica em casa é uma ‘folgada que vive às custas do marido’. Precisamos entender que a maternidade deve ser voluntária, prazerosa, segura e apoiada pela sociedade”, ressalta Sabrina Wenckstern, mãe, coach e consultora de negócios no portal sobre empreendedorismo Materna S/A.

Além disso, ainda existe toda uma construção da figura feminina enquanto indivídua ideal. “A realidade fica bem aquém dessa imagem ilusória da mulher alfa. Primeiramente porque não somos máquinas. As mulheres ainda são as principais (quando não as únicas) responsáveis pelos cuidados com os filhos e com os afazeres domésticos. Como esperar que elas deem conta de tudo e façam tudo perfeitamente bem? Temos mulheres cansadas, esgotadas, frustradas e se sentindo péssimas profissionais e péssimas mães”, enaltece Sabrina. O nível de interferência ao qual a maternidade se tornou passível chegou ao ponto de que um tópico impensável, a princípio, precisasse se tornar Lei, caso da amamentação em locais públicos que agora assegura às mães o aleitamento em estabelecimentos coletivos sob pena de pagamento de multa. No âmbito corporativo e ainda se tratando de direitos, a licença-maternidade é outro ponto de destaque que, apesar de dar às

Elas NÃO estão sós! Mulheres são a base do sustento de cerca de 40% dos lares do país

mamães a mínima e devida tranquilidade com sua carreira nos primeiros meses de vida do filho, é argumento de mais discriminação e da ainda existente desigualdade de gêneros no campo profissional. A desculpa: mulher ganha menos porque engravida e, no final das contas, precisa se afastar do trabalho no pré e pós parto. Logo, o salário menor compensaria o tempo de ausência, culpabilizando “a única responsável”. “A desigualdade salarial ainda pesa muito. Digo isso, pois quando as mulheres tem dinheiro elas dependem menos dos homens e podem tocar suas vidas de maneira mais arbitraria. Muitas ainda se submetem aos padrões sociais machistas porque são dependentes financeiramente. Ter filho custa caro, você só sabe depois que tem. E, no fim das contas, ninguém quer ver o filho passando necessidade, então acaba se submetendo a algumas coisas que não se submeteria se fosse sozinha na vida”, complementa Camila Barbosa Lima, mãe e designer gráfica.

Quais desafios a maternidade reserva para as mulheres negras?

Ana Carolina Basile A parcela de mães provedoras de seus lares vem aumentando com o passar do tempo. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), de 2010, as mulheres são a base do sustento de cerca de 40% dos lares do país. Isso engloba mulheres de todas as idades e posições sociais. Em mais de 42% destas casas, as mães vivem sozinhas com seus filhos, sem um companheiro. É o caso da designer Thaíz Leão que tem um filho de

dois anos e é mãe solteira. Ela conta que, ao engravidar, o pai decidiu não assumir a criança, mas que antes do bebê nascer ele voltou atrás e hoje vem, aos poucos, participando da criação. Contudo, ela continua sendo a principal referência de apoio e formação do pequeno, e encontra alguns obstáculos. “A divisão ainda é 80% para o meu lado. A dificuldade é a exaustão física, psicológica, a falta de amparo emocional. A mãe é tida hoje, em nossa cultu-

ra, como a pedra fundamental, que sustenta tudo. É um papel desumano contra a mãe e a criança”. Além disso, criar um filho, sozinha, exige da mulher conciliar isso com o trabalho e os cuidados com a casa. Para Thaíz, não existem vantagens relacionadas à criação individual, e ainda compara isso à solidão, afirmando não falar apenas sobre solidão romântica. Ela diz acreditar que cor e classe social podem interferir mais na questão de privilégios obtidos ou negados em relação Arquivo pessoal à criação dos filhos. Não é fácil educar uma outra pessoa, muito menos sem auxílio. Para mostrar seus percalços, Thaíz começou a compartilhar seu dia a dia com o filho, em uma página no Facebook. Ela criou a ‘Mãe Solo’, na qual publica, com frequência, ilustrações autorais de suas vivências. Em uma delas, no primeiro quadrinho, Thaíz escreveu: “Eita que hoje depois que a cria dormir eu vou é fazer um monte de coisa!” e na sequência mostrou que a mãe acaba por não fazer nada, ela apenas dorme, também. E parece que esse é uma das maiores dificuldades das ‘mães solos’, conciliar o sono aos seus afazeres. Isso é facilmente observável na capa da página, que consiste em uma ilustração na qual a mulher, com uma feição notória de exaustão, está segurando uma plaquinha: Tirinha feita e publicada por Thaíz Leão em sua página “Mãe Solo” “Eu só queria dormir!!!”.

Monise Cardoso Tornar-se mãe envolve questões espinhosas: elas vão dos infindáveis gastos financeiros à sobre-humana estrutura psicológica que a experiência exige da mulher. Mas, como em toda discussão social, é preciso que se faça um recorte. No caso das mulheres negras, devemos partir de um viés de raça, mas também de classe, visto que a maior parte desta população pertence a um grupo menos favorecido. O caminho tortuoso começa antes mesmo de dar à luz: uma pesquisa de 2014 feita pelo Ministério da Saúde apontou que 60% da mortalidade materna ocorre entre mulheres negras, enquanto entre as brancas o percentual cai para 34%. Para além das questões de saúde, está também o pesado desafio de preparar um filho para uma sociedade racista, que projeta nas crianças negras defeitos antes mesmo que elas sejam capazes de entender seus significados. Carol Damía, 26, engenheira geológica, militante do movimento negro e feminista, conta que para criar Rafaela, de cinco anos, precisa ser mãe, referência e um incansável escudo. Arquivo pessoal

Desculpe o transtorno, mas não quero...

Carol preocupa-se em trabalhar a autoestima da pequena Rafaela

...ser mãe. Afinal, as mulheres são ou não donas de suas decisões? Caroline Beraldo

Segundo o Censo 2010, 14% das brasileiras não têm planos de engravidar. A não maternidade é decorrente de diversas escolhas, porém, elas não devem ser generalizadas, liberdade é uma das palavras mais usadas entre elas, mas muitas vezes a própria mulher desconhece as manobras psicológicas que motivam essa decisão. Primeiramente, devemos desmistificar a ideia de que a maternidade e o instinto materno são naturais, já que toda relação é construída socialmente, inclusive a de mãe e filho, temos de levar em consideração a autonomia sobre o corpo e escolha de cada pessoa. Marta Machado, produtora de desenhos animados, já tem sua decisão consolidada. “Eu questionava se ser mãe era o caminho natural. Em alguns momentos talvez até tenha sentido falta, mas acho que era mais por imposição social. É uma experiência muito cara, em todos os sentidos. Algumas pessoas têm vocação para ser mãe e outras, para realizar outras coisas”. A decisão de não procriar não é uma bandeira contra a maternidade. Muitas mulheres gostam de crianças e acreditam na natureza de ser mãe, entre-

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tanto, ter um filho é abrir mão de certas prioridades, desejos e planos, que para muitas não é uma opção e nunca será. Letícia Bahia é psicóloga e desenvolve um trabalho sobre gravidez. “Frequentemente ouvimos o argumento biológico de que ser mãe é da natureza da mulher. É uma tentativa de apoiar uma crença social em algo maior e imutável, nossa genética. Mas a maneira com que nos relacionamos com a maternidade é completamente atravessada pela cultura. As pessoas têm filhos por razões de cunho afetivo”. Temer a perenidade da escolha, afinal filho é “para sempre”. Não dá para não tê-lo depois que ele existe e nem todas se sentem prontas para assumir uma escolha eterna. É totalmente comum, ter consciência de que não tem paciência para cuidar de crianças, até mesmo, não desejar abrir mão da liberdade por um bom intervalo de tempo, priorizando uma carreira profissional, por exemplo. O ato de não maternidade pode ser altruísta, afinal, você será responsável, em um longo período, por outra vida. Faça sua escolha consciente e livre!

Expressão: Como foi a sua ex-

periência com o parto? Carol Damía: Meu parto foi um dos episódios mais traumáticos durante esses quase seis anos de maternidade. Sofri violência obstétrica, física e verbal, sempre apoiadas no racismo. Passei por uma episiotomia (incisão entre a vagina e ânus que aumenta o canal de saída do bebê) sem anestesia baseado no mito de que as mulheres negras são mais resistentes a dor. Como o desafio da maternidade se intensifica quando raça e classe fazem parte do contexto? Carol:Eu preciso, além de auxiliar minha filha nos desenvolvimentos e descobertas naturais de uma criança, ajudá-la na construção de uma identidade racial e de um autoestima que lhe é negada a todo momento. Nadar contra a corrente passa a ser uma atividade diária. Expressão:

Expressão: Seu envolvimento

com a militância vem de antes ou depois da gravidez?

Carol: Sou adotada e a minha

família é a típica branca-classe média, o que acabou me distanciando das questões raciais. O envolvimento com os movimentos negro e feminista se deu principalmente por causa do nascimento da Rafa. Tomei como compromisso não permitir que ela tivesse as experiências negativas que eu tive.

Quais especificidades você enxerga quanto à criação de uma criança negra? Carol:É importante que ela saiba da história dos que vieram antes de nós. E eu noto que isso faz diferença na maneira em que ela se coloca no mundo. Sempre que se referem a ela como “moreninha” ela faz questão de dizer que é PRETA. Por vezes eu tenho medo que o racismo, aos poucos, mine a autoconfiança dela. Eu tento passar a ideia de que, apesar do caminho ser tortuoso, ela tem o direito de estar e ser o que ela quiser. Expressão:

Expressão: Como você tra-

Diagramação e Revisão da página: Ana Carolina Basile, Caroline Beraldo, Milena Perilhão, Mathes Narciso, Débora Britto e Luana Felix

balha a questão da representatividade? Carol: Como artificio aqui em casa damos preferências a brinquedos, livros, filmes e desenhos cujo protagonismo seja negro e que fuja de estereótipos. Mas principalmente faço com que ela tenha contato com as manifestações da cultura afro brasileira e com pessoas pretas em espaços onde ela se sinta pertencente. São coisas que ela não tem acesso na escola, por exemplo. Expressão: Como foi a primei-

ra conversa sobre racismo? Carol: Nós vimos um vídeo em que a palavra “preto” era falada como algo ruim. Ela, aos 4 anos, me perguntou: “Mamãe, ser preto é ruim? Porque ele falou como se fosse, e eu não acho. Eu adoro ser pretinha”. Foi doloroso pra mim que mesmo tão nova ela tenha experimentado o racismo. Eu poderia poupá-la, mas a minha escolha é explicar da maneira mais simples e seguir fortalecendo ela para que doa menos.


ano 23 |no 14| dezembro/2016

Faces da Maternidade

especial

Amar vai além de ter o mesmo sangue solidariedade Redes sociais promovem

Mulheres usam a internet como saída sustentável ao pós-parto

Arquivo Pessoal

Grupo de mães se reúne para troca de experiências sobre empreendedorismo

Gestar na própria barriga não é o mais importante Luana Felix

Ser mãe não significa transmitir o seu DNA. Ser mãe está no afeto, na dedicação e no esforço para fazer uma criança feliz e amada. Pode parecer que não, mas o amor de uma mãe adotiva por um filho é tão verdadeiro quanto o amor de uma mãe biológica. Aliás, a vida está aí para provar! Quantas mães que não puderam ter filhos e que por amor adotaram crianças para chamarem de seu. Rute Aparecida Zanetti, mãe de quatro filhos biológicos e adotiva de Marco Aurélio Zanetti, conta que o amor pelo filho é tão verdadeiro e imenso quanto o amor que sente pelos filhos biológicos. “O amor de mãe pra filho é puro e não há diferença, afinal, o filho é seu, você quem criou e cuidou, por que seria diferente?”, relata a mãe. Uma criança que quase viu sua vida ser ‘bagunçada’ em seus

primeiros minutos de vida; esse seria o caso de Marco se não fosse pelo carinho e vontade de sua mãe adotiva. Sua mãe biológica morreu após o final do parto, e Rute que trabalhava naquele dia no hospital não se conteve e adotou a criança para si, e teve seu primeiro filho. “Quando vi que o Marco poderia ficar sozinho no mundo, não me contive, senti amor e quis aquela criança para eu cuidar. E assim foi, tive o meu primeiro filho. Desde o primeiro choro dele, e hoje com 28 anos, continua sendo meu filho querido”, diz Rute. Há ainda caso de mães que não podem gerar na própria barriga seus filhos. Elas optam por adotar, mas passam por momentos de espera, grande espera. Já que há inúmeras filas para conseguir uma oportunidade de adoção, e para

Ayra Toneli, mãe de uma menina, a espera foi longa, de cinco anos. “Me ofereceram tantas vezes para adotar fora da lei, adotar irregularmente, mas não achava certo, então decidi junto com o meu marido esperar, e após três anos de gestação minha filha nasceu, e para ser sincera, em nenhum momento lembro que ela é adotada, a não ser quando alguém faz questão de nos lembrar. O meu amor pela minha filha é muito intenso pra lembrar desse detalhe”, conta Ayra. Segundo Rute, um detalhe comum é que, hoje as crianças sabem que são adotadas, os pais fazem questão de contar desde novos para que os mesmos saibam, que por mais que não sejam de sangue, são seus filhos e que vão receber o amor que eles merecem e além de tudo, vão poder amar e ter alguém para chamar de mãe ou pai.

Matheus Narcizo Como deve ser a rotina de uma mãe durante os primeiros meses dos filhos? Há um formato predeterminado e intocável? Para algumas mulheres, não. Cansadas da rotina, centenas delas têm renunciado ao padrão e investem, através da internet, em novas formas de vivenciar as primeiras fases dessa nova vida. Conversam, trabalham e se ajudam. Fazem de tudo. Só não seguem o roteiro tradicional. Administradora do grupo pouco mais de 1.500 membros), hospedado no Facebook, Jéssica Della Santina conta que a ideia de criar um espaço dedicado às mães partiu do momento em que teve o primeiro filho, em 2013. A ideia não era nova – atualmente, mais de cinco mil grupos no Brasil se dedicam a debater o tema “mãe” dentro da rede social –, mas propunha

uma resolução para o dilema que vivia: por um lado, queria dedicar cem por cento de seu tempo ao filho. Em contrapartida, não queria deixar de trabalhar e contribuir com as despesas de casa. E por que não tentar conciliar as duas coisas? “Vi que eu precisava me reinventar profissionalmente quando o meu primeiro filho nasceu. O mercado ainda não está preparado para uma mãe, que precisa se dedicar intensamente ao maternar. Conversando com algumas delas pelo Facebook, notei que muitas tinham ideias parecidas e resolvi criar o grupo, que estimula as mães a empreenderem. Hoje, realizamos bazares e festas com coisas que cada uma delas produz e coloca à venda”, comentou. Foi de uma inquietação parecida – o conflito entre a maternidade e a profissão – que

Verônica Moreira resolveu idealizar o Agora Juntas (cerca de 2.000 likes), movimento que, além do estímulo ao empreendedorismo, oferece serviços às mães (cuidado voluntário, acompanhamento médico e psicológico) e propõe debates acerca da posição da mulher dentro da sociedade. Mais do que contribuir fisicamente, a ideia do projeto, segundo Verônica, é reforçar a importância da proximidade feminina na discussão de um tema sensível e pouco abordado como a gravidez. “É um erro dizer que a mulher fica incapacitada de exercer funções quando ainda está amamentando. Nossa intenção é quebrar essa tradição e mostrar que é possível e permitido continuar trabalhando mesmo quando o nascimento é recente. Isso não é rebeldia. É empoderamento”.

Invisibilidade dupla Lucas Galdino

Cada vez mais se faz importante que as mulheres reivindiquem visibilidade. Quando essas mesmas mulheres são lésbicas e, ainda por cima, pretendem e/ou são mães solteiras, o trabalho se torna ainda mais árduo. Carolina Cinti, 31 anos, bissexual e mãe de Pietro, de seis, é exemplo disso. “Sinto isso constantemente. Ser bi e mãe parece ser uma afronta! Já sofri preconceito diante de um grupo de meninas

que diziam que eu não podia gostar de mulher porque me envolvi com homens”, comenta. Ela lembra também que ser mãe solteira duplica seus problemas. “Quando eu estava grávida e ia nas sessões de pré-natal sozinha, tadinha, grávida, solteira, sozinha aqui”, relata. E Cinti não está sozinha. Para a jornalista Natacha Oreste, ser lésbica e mãe é ser invisível duas vezes. “É a soma de duas invisibilidades: a invisibilidade

da existência lésbica e a invisibilidade do trabalho escravo que é a maternidade”, lembra. Natacha afirma que a maternidade lésbica deve representar um local social e uma história de potência política.” As mães lésbicas também merecem visibilidade, até porque amadurecimento político do movimento lésbico depende da participação das mães em seus espaços”, conclui e emenda “que a visibilidade comece por nós”.

Um jeito todo especial de ser Débora Britto Quando uma mulher expressa a vontade de ter filhos a maternidade se transforma em uma de suas maiores aventuras. Esse desejo vem sempre carregado de muitos medos, anseios e desafios, mas o que acontece quando uma mãe descobre que seu filho tem uma condição diferente de outras crianças? Quando descobre que seu filho é autista? O autismo é um transtorno global de desenvolvimento que afeta a parte de comunicação, socialização e comportamento da criança e geralmente é notado nos primeiros anos de vida. “O primeiro grande desafio é enfrentar o desconhecido, então ser mãe não é uma coisa intuitiva, é de tentativa e erro, você não sabe o que esperar. Depois os médicos, vários disseram que ela precisava de estimulo, que não estávamos dando a devida atenção para ele. Em resumo,

não saber como vai ser a vida do seu filho é muito doloroso”, diz Andrea Werner, mãe de Theo de 8 anos. Após o choque inicial chega a hora de procurar tratamento, segundo Andrea, “depois de passar um período esperando que houvesse algum tipo de erro médico e que nada daquilo estava acontecendo, decidi abraçar o autismo e apoiar meu filho, a negação não é uma boa saída, principalmente para ele. Começamos a procurar especialistas que cuidavam de casos como o dele e uma forma de trabalhar junto com a escola”. Muitas mães encaram com cautela e otimismo os avanços dos filhos especiais esperando para eles um futuro mais inclusivo e tolerante. “Para o Theo, o céu é o limite. Ele tem 8 anos e ainda não fala. Estávamos investindo em um tipo de comu-

nicação alternativa por troca de figuras. Então, lá vamos nós de novo! A gente nunca desiste! Acredito que a medicina ainda tem muito a evoluir e sempre penso que, daqui há 10 anos, vamos ter novas drogas que vão poder dar mais qualidade de vida aos autistas mais comprometidos. E o Theo, tenho certeza de que ele vai achar uma voz e ainda vamos bater altos papos... via voz, computador ou qualquer outro meio que ele preferir!”.

Superação na

ausência

Aborto espontâneo é uma complicação comum na gravidez e uma situação difícil de lidar

Mayumi Kavazuro

Coragem e força

Arquivo Pessoal

Iris dobra enxoval que seria de seu bebê, enquanto conversa sobre ainda sonhar em ser mãe Mayumi Kavazuro

Ilustração que representa mães cujo amor pelo filho é maior do que a função desse papel Rebeca do Vale “A maternidade amadurece o ser humano e faz você ficar e ser forte diante dos embaraços que aparecem. Tenho duas filhas e com elas descobri o amor e o que é amar. Porém, tem dias que eu odeio isso e choro muito. Essa tal de responsabilidade, de não ter tempo para nada, de não dormir, de não ter com quem deixar

quando eu preciso. Penso e repenso: será que sou tão egoísta assim? Acho que não, porque tenho a minha vida”, relata a auxiliar de saúde Elisangela Martins de Moraes. Expor as dificuldades que esse papel exerce precisa de coragem e força. “Me arrependo sim, de um dia ter sido mãe. São tantas os

deveres que, às vezes, tenho raiva disso tudo. Para completar, o pai delas não me ajuda. Somos casados, contudo, ele não está nem aí e, com isso, sou cobrada ainda mais o que torna tudo mais cansativo. É bastante difícil, mas o carinho que sinto por elas compensa o sofrimento”, menciona a oficial administrativo Amanda de Souza Silva.

A medicina classifica aborto espontâneo toda gravidez que for interrompida naturalmente até a 22º semana de gestação. Cerca de 80% são de forma precoce, e os 65% se dá antes mesmo da própria mulher saber que estava esperando um bebê. Em grande maioria se dão por anormalidades no desenvolvimento do feto. Iris Castor é uma dessas mulheres. Ela perdeu seu filho na 19° semana. “Eu já estava com o enxoval inteiro, tudo escolhido com cores neutras, até a roupa que seria usada para sair do hospital, eu já tinha escolhido”, lembra Iris, maquiadora profissional. Era semana de carnaval, e a maquiadora acordou com fortes dores e sangramento, os primeiros sintomas de que algo não estava bem. Menos de uma hora

Diagramação e Revisão da página: Ana Carolina Basile, Milena Perilhão, Mathes Narciso, Débora Britto e Luana Felix

todos os procedimentos para que não ocorresse uma hemorragia foram realizados no hospital. “Eu perdi muito sangue, foram cerca de duas bolsas para repor completamente toda a perda, e a recuperação foi complicada”, diz. Os primeiros sinais que podem ser detectados como complicação, é o sangramento aliado a fortes cólicas. No dia anterior havia sentido fortes dores e foi até o posto médico mais próximo, mas o médico não fez nada para aconselhar a jovem mãe, e até chegou a pensar que era uma desculpa da gestante para que tivesse um atestado para poder ficar em casa, pois era semana de carnaval. “Um descaso que poderia ter sido evitado, e talvez salvo uma vida”, lembra ela. “Nós que trabalhamos com a vida, temos que nos colocar

no lugar do outro, em primeiro lugar, e em qualquer situação, como se fosse alguém que amamos muito. Como tenho 30 anos de carreira em enfermagem, acredito que esse tipo de descaso com paciente se dá pela falta de amor na profissão”, argumenta Rita Marçal, enfermeira. Mulheres que assim como a Iris passaram pelo mesma situação, não precisam se preocupar com uma próxima gravidez, uma vez que o problema pode ter sido decorrente de um fato especifico da gestação em que houve o aborto. “Tive momentos de tristeza, que qualquer mãe tem. Mas, hoje as coisas estão melhores, e prefiro acreditar que não era o momento da minha criança vir a nascer”, relata.

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vida digital

ano 23 |no 14| dezembro/2016

Conheça os bancos digitais Nova forma de comprar e pagar por suas compras utilizando as novas plataformas tecnológicas Tainá Carvalho Tainá Carvalho

Pensando em facilitar a vida das pessoas que não possuem tempo para resolver suas pendências pessoais, chega ao Brasil os bancos digitais que funcionam por meio de aplicativos, como por exemplo Nubank e o Neon. Essas instituições são ligadas aos celulares de seus usuários, por meiodo qual é possível acessar todos os serviços que essas instituições bancárias físicas disponibilizam, desde pagamentos, transferências e utilizar cartão de débito e crédito, depende de qual banco você que utilizar. Os bancos digitais têm diferenças entre si por exemplo, o Nubank, é mais focado em compras e gerenciamento do dinheiro do cliente, enquanto o Neon engloba grande parte dos serviços que existem nas agências convencionais.

Usuário do aplicativo do Nubank

“Tenho conta no Nubank há alguns meses e me sinto muito confortável quando tenho que fazer uma compras, e é muito mais simples do que qualquer tipo de conta que tenho em outros bancos. Acho que a facilidade foi o principal motivo para escolher esse serviço, consigo acompanhar tudo com o celular, acho que conta muito a praticidade nos dias atuais”, comenta Paulo Ricardo Santos, estudante de administração. Para abrir uma conta nessas agências financeiras virtuais é preciso baixar o aplicativo no smartphone e preencher um cadastro com dados pessoais, como CPF. No processo de cadastro a empresa digital, caso for o Neon, pede para que você vire fotos de documentos como RG e CNH, e após esse processo, o

contratante deposita um valor, e seus dados vão para análise. No caso da Nubank, só é possível conseguir o cartão através de indicação, os dados do possível cliente são também mandados para analise, onde eles liberam uma quantidade limitada e observam o comportamento dos possíveis clientes, os convites são enviados de acordo com o perfil do usuário. “O Neon tem facilitado muito minhas compras nos últimos dias. É bem mais prático fazer uma compra com um cartão virtual, com a qual eu mesmo posso gerar e pagar minhas compras sem precisar ir a uma lotérica ou a alguma agência bancaria, e consigo controlar os meus gastos da mesma forma”, afirma Mariana Oliveira, assistente administrativo.

Diga adeus à carteira de motorista, e um olá aos carros autônomos Ainda em testes, nova tecnologia, quando se tornar popular, ajudará na diminuição dos números de acidentes de trânsito em todo o mundo Gabriel Leite

Gabriel Leite Bem-vindos ao futuro! Sim, estamos à frente do nosso tempo, vivemos em uma época que o imaginário, contado pela ficção científica, se tornou realidade. Pode parecer estranho. Mas foi graças aos avanços tecnológicos que podemos, hoje, ter acesso a recursos que anteontem víamos somente em filmes e livros. A tecnologia está nos ajudando na mobilidade urbana, seja por meio do transporte coletivo público ou individual. Os carros autônomos agora são realidade. “A ideia, o conceito de automóveis autônomos é muito bom, além disso, acredito que esta seja uma realidade cada vez mais próxima e palpável. Porém, para que isso aconteça e torne-se popular, no Brasil, é preciso haver uma redução nos preços de peças e produtos eletrônicos”, conta Elder Jessé, engenheiro mecânico.

Ainda de acordo com Elder, os benefícios proporcionados pelos carros autônomos vão muito além do conceito base. Para ele, a ideia de diminuir a presença humana no controle dos automóveis favorece para à diminuição de riscos. De acordo com Jessé, a máquina e a tecnologia que a coordena é menos passível de erro. O que reduziria os números de acidentes no trânsito. Fato é que os veículos autônomos já são uma realidade em grande parte do mundo, mesmo que ainda não sejam comercializados. O Google, por exemplo, é uma das empresas que costumam testar esse tipo de tecnologia em veículos. Só nos Estados Unidos, a companhia possui mais de 60 veículos equipados com o recurso de automação, que já percorreram mais de 2 milhões de quilômetros, segundo informações da própria corporação.

No Brasil, por enquanto, a ideia de implementar automóveis autônomos nas ruas está sendo discutida por algumas montadoras, que preveem um início de operações e testes apenas em 2018. Para a estudante de engenharia de computação, Gabriela Melo, as propostas de novos veículos, novas tecnologias em vias e estradas nacionais é uma abertura para os profissionais que estão atuando no mercado, e também para quem ainda está no mundo acadêmico. “Acredito que seja uma via de mão dupla, ao mesmo tempo que teremos investimentos e melhorias na qualidade de transporte, é também uma oportunidade para que novos engenheiros da computação – assim como eu – possam ser especializar e desenvolver em uma área do mercado que ainda não é forte no nosso país”, explica Gabriela.

Dirigir virou algo optativo

Cada vez mais presente em nossas vidas, a tecnologia torna-se essencial, seja para fazer e resolver grandes opera-

ções e problemas, quanto para cumprir uma simples tarefa do nosso dia-a-dia, como uma ligação telefônica, por exem-

plo. Agora, ela vem tomando espaço em um meio comum do nosso cotidiano.

Pirata ou libertária? Bom para uns, ruim para outros. O Bitcoin divide opiniões entre especialistas da economia e usuários Diego Nascimento Bernardo Lustosa, mestre em economia e vice-presidente da ClearSale, empresa líder em prevenção à fraude no e-commerce aqui no Brasil, falou conosco sobre a famosa moeda virtual e afirmou que ela necessita de regulação pelos órgãos econômicos e políticos. Mas afinal, o que é isso? Moeda virtual criada em 2009 por um programador conhecido pelo pseudônimo de Satoshi Nakamoto, é utilizada para compra de bens e serviços, entre outras transações. Alguns indivíduos a compram como forma de investimento e as trocam por sua moeda oficial local quando acham conveniente. Essa troca de Bitcoins por moedas oficiais (ou vice-versa) acontece em lojas de câmbio virtuais, como o ‘Mercado Bitcoin’ aqui no Brasil. O valor dela varia muito rápido e muitas vezes durante o dia. Algumas pessoas a veem com desconfiança, já que as transações não são intermediadas por instituições financeiras e muitos governos não a reconhecem como uma moeda de fato.

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Após a criação de Satoshi Nakamoto, surgiram outras criptomoedas, como também são chamadas, como por exemplo o Litecoin e o Dogecoin, mais baratas que a pioneira, porém ainda com pouco uso em comparação com sua ‘irmã mais velha’. Para Bernardo, as moedas virtuais em geral deveriam ser reguladas por todos os governos do mundo, apesar de reconhecer que isso é complexo e que seria um grande desafio, já que cada governo possui seus métodos de regulação. “Imagine que o Bitcoin passa a ser uma moeda extremamente utilizada. Como o próprio nome dela diz, ela é uma moeda que é só informação. É só bit. Se um hacker, por exemplo, ataca o servidor e todo mundo perde o seu dinheiro?”, diz o economista. Segundo ele, o nosso dinheiro em um banco também nada mais é que um registro de informações em um servidor de banco de dados. A diferença é que existem mecanismos que servem para garantir o fundo das pessoas em caso de algum problema.

“Todo depósito em dinheiro que você tem em um banco comercial, é feito um depósito compulsório no Banco Central. O Banco Central usa esse depósito compulsório para regular a liquidez do dinheiro. O Bitcoin sem regulação fica sem nenhuma dessas proteções”, completa Bernardo. O economista também diz que as criptomoedas podem ser altamente utilizadas por criminosos para lavagem de dinheiro e serviços fraudulentos, já que as transações são anônimas e não necessitam de uma instituição financeira como intermediária, impossibilitando saber de onde o dinheiro veio e para onde foi. “Nos Estados Unidos, quem vende dados de cartões de crédito para fraude aceita como pagamento o Bitcoin. No mercado negro ele é perfeito”, afirma. No entanto, é preciso aguardar os próximos anos. Se hoje as moedas virtuais são uma novidade e ainda deixam muitas pessoas receosas, no futuro elas podem ser coisas normais na rotina de qualquer pessoa, assim como aconteceu com a

própria internet e demais artefatos tecnológicos. “Para mim, o Bitcoin é uma pequena demonstração do que é

Diagramação e Revisão da página: Taine Santos, Diego Nascimento, Gabriel Leite, Tainá Carvalho

a liberdade. Ninguém precisa saber onde gasto o meu dinheiro. Nem mesmo os bancos. O futuro é esse. Estarmos cada vez mais

Bitcoin: virtual e forte

conectados e unificados, independentemente de onde estivermos”, diz o técnico em informática Abner Rueda, usuário do Bitcoin.


artes

ano 23 |no 14| dezembro/2016

Direitos Humanos em cordel

Escritora e cordelista Jarid Arraes mantém tradição familiar e aposta na literatura popular nordestina para falar de direitos humanos

Conteúdo audiovisual de web série mostra realidades de mulheres negras. Elas contam suas vivências, criando um verdadeiro quilombo de afetos Taís Cruz Nossa História Invisível é uma web série criada por quatro minas pretas da periferia de São Paulo produtoras de conteúdo audiovisual. O projeto conta a história de 10 mulheres negras que sofrem opressões, além do racismo e machismo, por estarem hipermarginalizadas. Após criarem o Coletivo Representapreta as quatro produtoras da série, Agnis Freitas, Camila Izidio, Carol Rocha e Karoline Maia encaminharam o seu projeto para o VAI – Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais. A ideia venceu o edital e conseguiu a ajuda financeira, em torno de 34 mil e 300 reais, da Prefeitura para comprar os equipamentos básicos de filmagem, cobrir os custos de condução e alimentação e dar uma pequena remuneração para cada. Nenhuma das quatro criadoras é personagem da série, mas juntas protagonizam a mudança em suas próprias história, e levam o seu testemunho de que existem outras possibilidades para mulheres negras. É tão imposto a imagem que a mulher negra vem sempre da

periferia, sempre sofridas e triste, que acaba fazendo com que a gente não acredite muito em nós e não valorizar o que o produzimos. Acho que por sermos quatro minas e estarmos conseguindo fazer tudo isso, a gente tá acreditando. É muito importante passar essas histórias para que outras minas acreditem nelas mesmas, corram atrás de editais e ocupem esse espaço”, conta Carol Rocha. Quatro episódios já foram gravados: Rosa Luz, mulher trans; Maria Ordália, umbandista; Sizineide Souza, empregada doméstica; Rudmira Fula, imigrante angolana; Raquel Araújo, deficiente física, e Thaís Olivers, lésbica, que é dedicado a Luana Barbosa, mulher lésbica, mãe, preta e periférica morta pela polícia de Ribeirão Preto. Os outros perfis que serão retratados são de mulher preta deficiente, ex presidiária, em situação de rua, imigrante, prostituta e uma criança. Os episódios serão apresentados no You Tube e Facebook, alguns já estão disponíveis na íntegra. O teaser de Rosa Luz declamando “ O clã das Minas” já alcançou mais

de 60 mil visualizações. Enquanto ainda não são lançados no canal, eles já foram exibidos no Encontro da Mulher Negra, na Matilha Cultural e no Cine Olido. Em novembro, mês da consciência negra, está previsto o lançamento quatro novos episódios, um por semana, diretamente na rede. A iniciativa de usar a linguagem do audiovisual para dar voz as questões dessas mulheres é uma forma de empoderar-las e ocupar esse espaço de produção geralmente elitizado e distante das questões raciais e de gênero. “Quando a gente escolhe contar a história de mulheres negras, acabamos contribuindo um pouco para reconstruir a imagem da mulher negra no Brasil que invisibiliza tanto a gente. Falar dessas mulheres é reafirmar que a gente existe, que estamos aqui resistindo, que precisamos mudar muitas coisas e que precisamos de novas narrativas. A gente quer mostrar outras possibilidades de histórias, especialmente no Brasil, que é o nosso cenário”, afirma Karoline Maia. Arquivo Pessoal

Victória Durães A partir do sonho de ser escritora e do medo da tradição do cordel morrer com o avô e o pai em Juazeiro do Norte (Ceará), a cordelista uniu a poesia tipicamente nordestina aos temas que costumava escrever em sua coluna “Questão de Gênero”, na Revista Fórum – feminismo, racismo, homofobia, transfobia e outros assuntos relacionados aos direitos humanos – criando trabalhos com linguagem acessível e lúdica. A literatura de cordel começou em Portugal, e no Brasil faz parte da cultura popular nordestina. Composto por rimas e estrofes curtas, os poemas contêm fortes traços de oralidade e podem ser lidos ou cantados. Impressos em folhetos simples, as capas são em sua maioria xilogravuras – técnica de fazer desenhos em relevo sobre madeira. O Expressão conversou com a jovem cordelista sobre esse gênero literário e a preservação de manifestações culturais populares. Expressão: O que te incentivou, além do seu pai e avô, a escrever cordel? Jarid Arraes: Eu sou muito apegada ao cordel, à xilogravura, as coisas de tradição e de cultura popular nordestina. Todo mundo que conheço que faz cordel tem no mínimo 40 anos. Se novas gerações não se interessam uma hora vira assunto de Museu, e eu queria muito contribuir para que isso não acontecesse. Expressão: O seu primeiro cordel você escreveu com quantos anos? Qual era o assunto? Jarid: Eu tinha 20 anos e foi o “Dora, a negra e feminista”. Ele me deu materialidade para ver que eu podia ser escritora. As escritoras que eu tinha acesso no geral não tinham nada a ver comigo, com a minha realidade e com o que eu poderia escrever... Pareciam distantes. Quando cresci foi que comecei a descobrir que eu também podia escrever. Expressão: O cordel acessa lugares e pessoas que a literatura convencional não acessa? Jarid: Sim, eu confio muito nisso e é um dos motivos de continuar escrevendo cordel. É muito acessível, barato. Não está em lugares como uma livraria, que é muito intimidadora pra quem não tem o hábito de ler. Você consegue um cordel e consegue compartilhar, pode tirar xerox, ler em grupo – inclusive essa é uma das tradições. Expressão: Já passou por alguma situação e/ou sentiu-se diminuída por ser cordelista? Jarid: O cordel é uma categoria diferente de literatura que infelizmente é pouco valorizada, tanto que não vemos em livraria, no máximo releituras, como “O pequeno príncipe em cordel”, que não é uma narrativa originalmente pensada para o cordel. Expressão: No Nordeste essa tradição é mantida ou está se perdendo? Jarid: É mantida pelos órgãos de cultura: Itaú Cultural, Banco do Nordeste, Sesc etc. Mas no campo cultural, das pessoas se interessarem, de ter material acessível, não. Tanto que nem na escola estudamos muito cordel, eu pelo menos não me lembro de ter estudado. Isso é um problema sério e acontece com toda manifestação cultural de lá: coisas que são populares – no sentido do povo – não são valorizadas porque rola a globalização do sudeste. Queremos sempre viver o padrão sudestino de vida, de metrópole, então o legal é o que está na novela e o que vem do eixo sul-sudeste. Arquivo pessoal

Quatro produtoras, Carol, Camila, Karoline e Agnis, da web série “Nossa História Invisível”

Do que fala o teu batuque?

Grupo paulistano completa 12 anos de arte, consciência, empoderamento e tradição Taimara Paschoaletti Uma batida forte, enérgica e sincronizada que os homens, nas apresentações, só participam do se percebe já do outro lado da rua. Um ritmo que corpo do baile. vai se tornando contagiante à medida em que se “Quando cada mulher negra e não negra vivenentra no casarão vermelho e branco grafitado com cia a cultura afro, ela se empodera e se apropria de a imagem de Carolina Maria de Jesus. No meio de uma forma muito positiva, pois reconhece a força uma sala, alunos concentrados e ao mesmo tempo que tem essa cultura que foi negada por séculos... extasiados. Olhos fixos e corpos soltos, em movi- Temos essa missão de recontar a história pelos mento, presos ao chão apenas pelo tambor. olhares que foram silenciados”, explica Elisabeth. Na sede do Ilú Obá de Min, nos Campos ElíComposta por quatro naipes, Agogô, Xequeseos, centro de São Paulo, todos são bem-vindos. rê, Djembê e Alfaia, hoje a bateria tem 300 parParticipam dos cursos de percussão negros e bran- ticipantes. Sandra Regina Cavalcante, aluna do cos, mulheres e homens... Mas são somente elas curso de percussão africana há um ano, está no que compõem a bateria do coletivo e levam cultura naipe do Djembê. afro-brasileira às ruas da capital. “Eu não tinha muito contato com a musicalidaA associação vem ganhando maior visibilidade de africana. Eu queria resgatar a minha ancestralidurante o carnaval, quando forma um bloco que é dade através dessa vivência. Comecei a participar acompanhado por cerca de 15 mil pessoas, mas o e a ter consciência de que a gente pode se empodetrabalho acontece durante o ano todo. Estimulando rar através do tambor”, conta Sandra. questões como a educação, a cultura e a arte negra Mulher negra, ela faz parte do grupo que mais por meio de cursos, oficinas, palestras e shows, ela sofre preconceito no Brasil e que, como consepromove um diálogo cultural constante com o con- quência, mais prejuízos tem socialmente. Mas o tinente africano, despertando consciência e dando mundo está mudando, novas frentes têm fortalevoz a grupos historicamente oprimidos. cido o movimento interseccionalista e foi na arte Em yotube, idioma nígero-congolês, Ilú Obá que Sandra encontrou uma forma de combater a de Min significa “mãos femininas que tocam tam- dupla opressão. bor para Xangô”. No candomblé mulher não toca “Eu pude perceber o quão forte é essa musipercussão... Mas Elisabeth Belissário, hoje presi- calidade e essa cultura que nos dá voz, espaço e dente do coletivo, fundou o grupo justamente com que nos faz pensar politicamente e criticameno intuito de usar a musicalidade e a expressão cor- te. Dá força pra gente seguir com a luta”, afirporal para empoderar mulheres. E é por isso que ma a percussionista. Taimara Paschoaletti

Aulas de percussão acontecem todas as quintas e sextas-feiras, das 20h às 21h30 Diagramação e Revisão da página: Marcos Pacanaro, Victória Durães, Tais Cruz

Jarid Arraes com seus livros, nos quais adaptou a tradicional poesia nordestina a questões de gênero t

Prêmio brasileiro será votado por crianças Para incentivar a literatura, concurso promove histórias escritas por adolescentes Marcos Pacanaro “Tloc! Pluf! Nhoc!” fazia a personagem de Monteiro Lobato, Narizinho, no conto “As Jabuticabas”, ao comer a fruta direto do pé. A onomatopeia, que se tornou uma das marcas do livro, faz parte da literatura infantil popular, da qual Lobato é um dos seus principais contribuintes, e que esteve presente nas infâncias de várias gerações, inspirando até hoje pessoas e projetos. Com foco na educação e no incentivo à arte do criar através de palavras, Fabíola Braga, jornalista e escritora, que acompanha de perto o movimento e o cenário da literatura infantojuvenil no Brasil, decidiu botar em prática o Prêmio Jabuticaba. Apesar do lançamento em Paris, que selecionará as primeiras instituições de ensino, o concurso ocorrerá aqui no Brasil ao longo do ano, nas escolas públicas de ensino fundamental e médio. O motivo da inauguração na capital francesa seria simbólico e também ajudaria o prêmio a conseguir visibilidade e apoiadores ou patrocinadores.

Segundo ela, “os autores, ilustradores e editores de altíssima qualidade e o atual momento político, que trouxe de volta a importância do voto” justificam a criação do concurso, cujo júri será formado por apenas crianças e adolescentes. Buscando o apoio e a inclusão de crianças de diferentes estados e classes sociais, Fabíola conta com a participação de escolas públicas e particulares, que auxiliarão na apresentação das obras concorrentes aos estudantes e sobre a influência e conscientização da importância da leitura. Sobre o critério de seleção para os jurados, Fabíola afirma que estão em fase de trabalho no regulamento. “O primeiro critério é que a criança esteja matriculada em uma escola, o que nos permite sistematizar os votos para garantir que cada um venha, de fato, de uma única criança, além de possibilitar que o trabalho de leitura dos livros possa ser acompanhado por um educador”, adianta.

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esporte & lazer

ano 23 |no14 | dezembro/2016

Trilhas Urbanas: lazer e integração Programa foi criado para enriquecer o conhecimento e promover a reflexão do paulistano sobre a diversidade natural que existe na capital Eduardo Nemer

Que tal fazer uma aventura no fim de semana na cidade de São Paulo? Com o Trilhas Urbanas você pode relaxar e conhecer muito mais sobre a biodiversidade, cultura e história dos parques municipais da grande metrópole em um momento de descontração. O projeto foi criado pela Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ), incorporada à Secretaria do Verde e Meio Ambiente, e conta com uma equipe de monitores composta por alunos de faculdades de Geografia, História, Biologia e Gestão Ambiental. As trilhas são oferecidas nos parques Jardim da Luz, Alfredo Vopi, Piqueri, Ibirapuera, Independência, Trianon, Trote e Aclimação. Os monitores promovem a integração das pessoas com o meio ambiente em pontos estratégicos dos parques, dando uma verdadeira aula a céu aberto sobre a fauna e flora, geografia e cultura que permeia ambientes considerados patrimônios históricos e culturais. O público que frequenta é bastante heterogêneo, e as pessoas que participam vão desde crianças de colo até idosos. “O projeto nasceu no final dos anos 90, quando pude identificar

uma forte demanda por novas práticas pedagógicas na educação ambiental, ao mesmo tempo em que percebi um espaço pedagógico muito interessante nos parques da cidade. O nome (do projeto) teve a intenção de deixar claro que eram atividades em áreas verdes urbanas”, explica Virgínia Tavaleira Valentini Tristão, coordenadora do programa Trilhas Urbanas. No Parque do Piqueri, por exemplo, é possível descobrir que o espaço era uma chácara da família Matarazzo, e que por lá passava o rio Tietê antes dele sofrer o que se chama de retificação (tornar o curso do rio reto) nos anos 50. No local é possível encontrar até um ancoradouro de barcos. “Foi uma visita incrível. Eu sempre venho ao Piqueri para fazer exercício ou passear com o meu noivo, mas nunca fui a fundo na história. Acabei conhecendo o projeto por uma amiga minha que já tinha visitado outro parque e me interessei muito. Simplesmente um projeto fantástico, fora as vistas que você encontra que são lindas”, comenta Daniela Ladislau Scola, engenheira civil. O passeio conta com três a cinco monitores que explicam

Invisibilidade do futebol

Rafael Neddermeyer

Trilha no parque Trianon todos os detalhes da história ambiental, geográfica e cultural do local. A trilha leva em média de uma a duas horas de duração, e o ponto de encontro com o

grupo é definido em algum local estratégico do parque, combinado previamente com a equipe do Trilhas Urbanas. A atividade é totalmente gratuita.

Informações Facebook: @equipetrilhasurbanas Inscrição: equipetrilhasurbanas@gmail.com Entrada: Gratuita Duração: De uma a duas horas

Esporte é para todos os brasileiros

Atletas femininas ainda sofrem com a desvalorização Alline Carvalho Durante as Olímpiadas – Rio 2016, Marta, a grande estrela do esporte no Brasil, junto com suas parceiras de time conseguiram público recorde durante as partidas disputadas como na partida entre Brasil e Austrália que obteve o maior número de torcedores do ano com 52. 660 pagantes, o que gerou grande empatia com os torcedores expondo em redes sociais comparações com o futebol masculino. Mesmo com o carinho da torcida brasileira a equipe não conquistou medalhas. Após as Olímpiadas, parte da CBF passou a discutir a extinção da Seleção Feminina de Futebol, com o argumento de que a modalidade não “pega” no Brasil, tornando o inviável o investimento financeiro, já que não se tem o devido retorno. Recentemente em divulgação do novo formato da Libertadores, principal campeonato sul-americano, a Conmebol – Confederação Sul-Americana de Futebol, anunciou que a partir de 2019, os clubes que quiserem participar do torneio deverão ter times oficiais femininos ou estarem associados a um, além de terem ao menos uma categoria com atletas amadoras com a devida estrutura. Essa foi a forma que a Confederação encontrou para dar incentivo a prática do esporte na América Latina e que tende a ser um promissor passo na ascensão da modalidade. A presença das mulheres no futebol é tão antiga quanto à dos homens. Os primeiros registros de partidas femininas teriam ocorrido em meados do século XII com camponesas francesas que lutavam por uma bola de couro com fitas em um jogo que se chama La Soul, de acordo

com o estudo feito por Andréa Karl Fernandes, educadora física e especialista em futebol e marketing esportivo. No Brasil, a modalidade feminina teve início entre 1908 e 1909, mas a primeira partida oficial ocorreu somente em 1921 entre os times dos bairros de Tremembé e Cantareira, ambos da zona norte de São Paulo. A imagem da mulher no futebol tem ligação com o espaço da mulher em espaços públicos sem que perdesse o rótulo de feminina e prendada, condição que infelizmente ainda está presente na sociedade e que proibiu oficialmente “a prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina” em 1940 e revogado somente em 1979 . “A habilidade esportiva dificilmente se compatibiliza com a subordinação feminina tradicional da sociedade patriarcal. De fato, o esporte oferecia a possibilidade de tornar igualitárias as relações entre os sexos. O esporte, ao minimizar as diferenças socialmente construídas entre os sexos, revelava o caráter tênue das bases biológicas de tais diferenças; portanto, constituía uma ameaça séria ao mito da fragilidade feminina”, explica a pesquisadora Silvana Goellner. Em 1988 foi convocada a primeira seleção de futebol feminina pela CBF – Confederação Brasileira de Futebol, para a disputa do torneio Women’s Cup of Spain, do qual as brasileiras saíram campeãs. Desde então, o esporte tem buscado seu cantinho ao sol, ainda sem grande êxito se comparado à grande atração do futebol masculino com seus craques de salários milionários e de tanta visibilidade mundial. Ricardo Stuckert

Brasil x China Olímpiadas Rio2016

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Christh Lopes Os jogos paraolímpicos continuam no sonho dos pacientes da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Conhecida pelo apoio televisivo do SBT, a instituição filantrópica e sem fins lucrativos aproveita o momento para destacar o esporte como plataforma de inclusão social. Atletas famosos como Daniel Dias iniciam a sua trajetória em uma das unidades de atendimento espalhadas pelo Brasil. No caso de Daniel, dono de 7 medalhas nas águas dos Jogos Olímpicos 2016, foram cerca de 15 anos sendo acompanhado por médicos, professores e funcionários da AACD. Os inúmeros casos de sucesso provocam a criação de uma novidade no tratamento de pessoas com deficiência. Voltado especialmente para crianças e adolescentes, o projeto AACD Esporte os prepara para disputar grandes competições, como os jogos paraolímpicos. O jornal Expressão conversa com o Edna Garcez, idealizadora da iniciativa e responsável pelo departamento de marketing da instituição. Acompanhe a entrevista:

Expressão: qual o legado paraolímpico que a Rio 2016 deixou para o Brasil? Edna: Relacionado à questão da visibilidade ao esporte adaptado, o legado foi considerável e pudemos vibrar com a conquista dos atletas do mundo inteiro, independente deles terem subido ao pódio. A superação estava presente em cada movimento, em cada disputa realizada e para a causa da pessoa com deficiência isso é muito importante. A realização de um evento mundial no Brasil com certeza contribuiu para reduzirmos o preconceito e darmos luz à esta questão. Expressão: vocês sentiram algum impacto do evento? O que mudou? Edna: A AACD sente que o número de solicitações de imprensa aumentou consideravelmente. Isso é reflexo de que a mídia começa a dar mais importância para o assunto. Esperamos que continue. Expressão: como o esporte ajuda no tratamento de pessoas com deficiência? Edna: Por meio do esporte o deficiente físico consegue se incluir socialmente e superar limites. Na AACD, o esporte é incluído no tratamento quando o paciente está em um estágio elevado da reabilitação física e

precisa de um incentivo a mais para evoluir, dentro de cada limitação. Expressão: já é possível citar quais foram os resultados alcançados com o projeto? Edna: Em pouco tempo, já foi possível ter um retorno efetivo com as conquistas de atletas representantes da AACD, como Joyce Oliveira, campeã pan-americana e eleita a melhor atleta das Américas em 2013. Mylena Cordeiro, campeã para-americana de jovens na Argentina. As duas fazem parte da Seleção Brasileira de Tênis de Mesa. E, também, Luciano Luna, na Seleção Brasileira de Remo. Expressão: o esporte pode ser usado como pano de fundo para a inclusão social? Edna: Com certeza. A AACD Esportes conta com um trabalho forte de inclusão social e familiar do deficiente físico tanto no esporte quanto na sociedade. Um bom exemplo é o grupo de capoeira da Instituição, que é formado por pacientes e conta com o apoio e colaboração dos pais, que são voluntários. Ao longo do ano, o grupo realiza mais de 30 apresentações em empresas e escolas evidenciando a questão da inclusão social por meio da prática esportiva.

Gestão do futebol Profut é um programa que prevê a modernização administrativa nos clubes, mas 20% dos times não pagaram a primeira parcela do déficit fiscal Felipe Mascari Com o objetivo de auxiliar os clubes a quitarem as dívidas com a União, o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut) está em vigor desde o início desde ano. Entretanto, 20% dos times não pagaram a primeira parcela do déficit fiscal. Através do programa, as equipes tiveram as dívidas renegociadas, com a possibilidade de quita-las em 240 parcelas. Além disso, as multas foram reduzidas em 70% e os juros, em 40%. Os 111 clubes que aderiram ao programa devem cumprir algumas regras para manter o acordo com a União, entre elas: não atrasar salários da carteira e direitos de imagem, regularizar as ações trabalhistas, comprovar a existência de um conselho fiscal autônomo e antecipação de verbas. O consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi, explica que através do

Profut, os clubes receberam, ao todo, R$ 685 milhões descontos graúdos do governo federal. “Os impostos e contribuições que não foram pagos ao longo de décadas foram perdoados, mas com uma ideia de que nunca mais irão dever”. Segundo Somoggi, apesar do Profut possibilitar que dos times de futebol tenham superávit, como aconteceu em 2015, as contas podem negativar novamente neste ano. “Se os clubes não reduzirem custos, continuarem a pegar empréstimos em bancos, as dívidas podem voltar em 2016. A situação é grave” O Profut prevê que os clubes que não quitarem as parcelas do déficit não conseguirão a Certidão Negativa de Débito, assim poderão ser rebaixados de divisão a partir de 2018. Para o jornalista esportivo Mauro Cezar Pereira, o principal problema desta regra é a falta de fiscalização. “Essa lei é justa. Porém, é algo sem precedente, ou seja,

não se sabe quem vai julgar os casos. Aliás, o rebaixamento entrou no Profut como uma possibilidade, não como obrigação” O programa federal garante que a Autoridade Pública de Futebol (APFut) será a responsável por administrar as denúncias recebidas sobre o não cumprimento por parte dos clubes. Para Amir, as agremiações esportivas não têm capacidade de cumprir

Eduardo Nemer, Alline Carvalho, Felipe Mascari, Kaique Santos, Leomar Duarte

as regras do Profut. “Clubes como por exemplo, Botafogo, Atlético Mineiro e Vasco estão muito endividados para seguir 100% a lei.” “A lei é um passo importante para a modernização da gestão esportiva brasileira. Com uma fiscalização severa e consciência dos clubes, o futebol pode dar um passo importante”, acrescenta Mauro Cezar. Bruno Cantini/Atlético


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