ano 23/número 3 maio/2016
jornalismo universitário levado a sério
jornal laboratório do 4º ano de jornalismo
usjt
Gourmetizaram os sabores,
e agora?
Pipoca, hamburguer, hot-dog, tapioca, picolé, brigadeiro, bolo, churros... Atualmente eles existem em versões sofisticadas
Vera Souza
#hashtag
ano 23 |no3 | maio/2016
#caro leitor,
As releituras de pratos tradicionais
O frio já toma conta da cidade de São Paulo e a edição 3 do Expressão em 2016 chega calorosa e saborosa. Você já pensou em experimentar um delicioso brigadeiro feito com o mais fino chocolate belga e envolto flor de sal do Himalaia? Que tal? Ou quem sabe um hot-dog com salsicha de vitela salpicado com bacon crocante? Parece uma descrição sofisticada demais para pratos tradicionalmente simples? Sim, é isso mesmo! O tema da reportagem Especial desta edição do jornal fala justamente sobre a gourmetização dos alimentos. Pipoca, hambúrguer, tapioca, picolé, bolo, brigadeiro, sushi, hot-dog... As delícias todas que fazem parte da rotina dos paulistanos – até comercializadas por vendedores ambulantes –, ganham versões sofisticadas, com ingredientes especiais e preços idem. Nossos repórteres foram às ruas para buscar compreender a tendência gourmet que tem se espalhado no ramo da alimentação. O que é esta gourmetização? Quais são as características de um prato gourmet? São realmente mais caros? São mais saborosos? Nossos repórteres procuraram respostas para estas perguntas. Depois de saciar sua curiosidade sobre as releituras de pratos tradicionais, o jornal Expressão ainda tem muito mais temas interessantes para oferecer. Na página sobre Educação, falamos sobre uma experiência em expansão no Brasil, as plataformas de EAD com ofertas de conteúdo online, num formato de assinatura semelhante ao Netflix. Em Vida Digital, ficamos sabendo como os Assistentes Virtuais Inteligentes (AVIs) fazem parte do nosso cotidiano. Eles agem como um agente de software e aproximam as relações entre máquina e cliente, adotando características humanas. Na editoria Artes, vamos conhecer a força do protesto na forma de música. O som pesado do heavy metal, com letras fortes que trazem o olhar das vivências na periferia de Diadema, cidade da Região Metropolitana de São Paulo. Vamos conhecer a banda ‘Ninguém Precisa ser Herói’. E, para encerrar esta edição, chegamos ao Esporte&Lazer. Apresentamos uma experiencia de walking tour, que une atividade física, conhecimento e o prazer da gastronomia. São passeios que exploram as várias facetas de Sampa. Que tal você experimentar uma caminhada interessante como essa? Venha também experimentar a nova edição do nosso jornal laboratório! Estamos ansiosos para ter você, querido leitor, aqui junto com a gente. Profa Iêda Santos e Profa Jaqueline Lemos
#fração de segundo fotolegenda
Castelos na França
Vale do Loire, Château de Chambord, um dos mais ricos em detalhes.O que mais impressiona é a escada no centro do Castelo com subida dupla. Leonardo da Vinci a criou para que reis não se encontrassem com seus súditos na escada. César Gonçalves - aluno do 40 ano de Jornalismo - Campus Butantã
Victor,
#protagonista
o blogueiro de sucesso Com apenas 22 anos, ele tem muita bagagem para compartilhar
Gabriella Zavarizzi Fundador de um dos maiores blogs de comunicação do Brasil, o Mídia Publicitária, e da fanpage de humor Publicidade e Propaganda da Depressão, Victor Lymberopoulos é paulista, mas mora em Brusque (SC), e é expert em mídias sociais, empreendedor, palestrante e professor. Victor sempre gostou de ter contato com pessoas que lhe agregassem alguma coisa, incluindo os seus professores. Um certo dia, um mestre, ao perceber o crescimento do aluno, fez um alerta importante. Os colegas de faculdade seriam também seus concorrentes, portanto ele não poderia ser apenas mais um no mercado. A partir desse conselho, Victor começou a pensar o que poderia fazer para ser diferente e se destacar. Uma coisa ele já tinha certeza: queria ajudar as pessoas de alguma forma. E foi assim... Toda sua trajetória nasceu dessa vontade de dividir conhecimento com o próximo. “Resolvi criar duas páginas no Facebook. Uma delas é o Publicidade e Propaganda da Depressão, que é uma página de humor com os estereótipos da profissão e a outra é o Mídia Publicitária (o site saiu do ar em outubro de 2015), que durante quatro anos foi uma extensão da faculdade”, conta. O objetivo, a princípio, era criar um espaço diferente de aprendizado. A ideia deu tão certo que o blog começou a ser pautado pelas dúvidas dos leitores e inspirou muitos estudantes a escolherem, ou não, o curso de Publicidade.
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“Eu comecei escrevendo sozinho, aí fiz uma matéria, fiz duas, fiz três, e as pessoas acessaram e gostaram do conteúdo único que tinha no blog. Até que começaram a pedir mais do que eu podia oferecer. Eu tinha que escolher se eu queria só cuidar do blog ou cuidar da minha vida também”, explica. E mesmo com esse impasse, ele continuou. “Tem uma frase do Jorge Paulo Lemaan que diz que sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho. Então quer saber? Eu quero que esse site seja o maior sobre comunicação no Brasil. Eu tinha pensado que ele seria o maior de São Paulo, só que aí com essa frase eu falei: por que só de São Paulo se eu posso ser do Brasil?”. Com esse plano em mente, Victor conseguiu reunir alguns voluntários para ajudá-lo a criar conteúdo para o site, e em janeiro de 2011 nasceu o novo Mídia Publicitária, com uma equipe maior, com domínio próprio, com novas visões da área e de mercado. “Começamos a escrever duas, três matérias por dia e divulgar. Cerca de 45 dias depois do lançamento, batemos meio milhão de acessos no site”, diz animado. Depois de um ano, o blog foi inscrito em uma premiação chamada TopBlog e ficou entre os 100 primeiros selecionados. “Aí recebemos uma carta avisando que havíamos ficado entre os finalistas. Fomos para o evento do prêmio
Diagramação: Profa Iêda Santos
em janeiro de 2013 (quando estavam premiando os blogs de 2012), e ganhamos em duas categorias: Melhor blog de Comunicação e Melhor blog do Brasil concorrendo com outros 18 mil sites”.
Quem vê o Victor “por aí” não imagina que um rapaz de apenas 22 anos já fez tanta coisa. Menino que, segundo ele, era bem tímido, mas, hoje é tão comunicativo e tem muita bagagem para compartilhar. Fotos: Arquivo Pessoal
#fica a dica
A Torre Negra: O Pistoleiro
O primeiro capítulo da épica saga criada por Stephen King Lucas Menoita “O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás.” A frase, famosa entre os fãs de Stephen King, serve de pontapé inicial para o livro O Pistoleiro, o primeiro dos sete volumes da série A Torre Negra, escrita pelo autor norte-americano, e que vendeu mais de 30 milhões de exemplares no mundo todo. Iniciado pelo autor em 1970 e publicado em 1982, o livro introduz ao leitor o pistoleiro Roland Deschain. Último de uma linhagem de pistoleiros extinta, Roland precisa alcançar a torre que dá nome à série para salvar o “Mundo Médio”, cenário pós-apocalíptico que serve de pano de fundo para a história. Para isso, persegue o homem de preto da frase de abertura da obra, o mago Walter, para obter informações sobre a Torre. A jovem Karoline Cussolim, 23 anos, formada em Letras, é fã do autor e da série: “Essa coleção era uma área desconhecida da obra de Stephen King para mim, já que aborda mais a fantasia do que o terror, mas recebi a indicação de uma amiga tão fissurada nele quanto eu e não pude deixar passar em branco. A minha paixão foi instantânea”, diz Karoline. Ela destaca a simplicidade na narrativa de Stephen King, além da forma misteriosa com a qual o livro inicia, sem dar pistas ao leitor sobre as proporções épicas que a história adquire em seu desenvolvimento: “A narrativa do autor é despretensiosa. A princípio você não imagina que os livros dele
vão ter o poder e a criatividade que têm. Muitas vezes, não é possível perceber exatamente quando a história toma uma proporção épica”. Em O Pistoleiro, principalmente por ter sido um livro escrito num período muito longo de tempo, é possível notar a mudança de estilo do autor e a sua evolução literária. O leitor que encontrar semelhanças entre O Pistoleiro e outras obras de diversos campos da cultura pop não estará enganado. Segundo Karoline, fica evidente a relação da história com o poema de Robert Browning, Childe Roland à Torre Negra Chegou, e com as referências do universo do Velho Oeste. Stephen King capricha na construção deste universo confuso e um tanto retalhado de diferentes culturas e épocas, e o explica ao longo da coleção.
expediente Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Vice-reitor Fabrício Ghinato Mainieri Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Capa Foto: Vera Souza
Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. César Zamberlam Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos Redação Alunos do JOR4AN-BUA1 Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667
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Educação
ano 23 |no3 | maio/2016
Plataformas disponilizam até 5 mil horas de cursos Com assinatura mensal, “Netflix da educação” tem opções de conteúdos diversificados em videoaulas Stephanie Passos Em um mundo conectado, onde tudo é interatividade, as novas plataformas são as principais ferramentas para o aprendizado. A Educação à Distância (EAD) é um dos mecanismos disponíveis para conquistar o diploma ou enriquecer o currículo com novos cursos. Entre as principais novidades, a partir do modelo ‘Netflix dos estudos’ - com pagamento de assinatura mensal – sites como o Eduk e Mindbank contam com centenas de cursos online, que ficam à disposição do aluno/assinante. Desde 2013, a Eduk, plataforma inovadora de ensino, oferece cursos online de curta duração em áreas como Fotografia, Gastronomia e Moda. Hoje conta com mais de 5 mil horas aula, 3 milhões de alunos e certificados de conclusão. Com transmissão ao vivo e gratuita, os cursos são incorporados ao catálogo da Eduk, com mais de 600 opções e livre acesso através dos planos de assinaturas, entre R$ 19,90 e R$ 29,90. “Inovamos ao oferecer educação de fácil acesso. Dentro dos cursos temos aulas que exigem grau
Stephnie Passos
Estudante assiste curso especializado pela Web
zero de conhecimento até um avançado, ou seja, atende todos os públicos,” explica Robson Catalan, sócio fundador do Eduk. Marcos Borini
Enquanto isso, na Mindbank, plataforma de ensino à distância especializada em cursos para empreendedores digitais, o
usuário paga R$ 67 por mês ou R$ 670 por ano e tem direito à aulas ilimitadas via streaming, “São tantas opções de cursos e
facilidades de acesso que, mesmo quando estou viajando, consigo assistir ao que me interessa. E claro, com um único modelo de
Foto de Bruna Rizzi
Como conciliar compromissos financeiros?
pagamento, organizado e que cabe no orçamento”, comenta o fotógrafo Carlos Silva. Mesmo em cenário de crise, a sétima edição do Censo EAD – relatório que analisa o cenário da educação a distância no país –, realizado entre 2014 e 2015, com 271 instituições, comprova a aceitação dos estudantes, com um total de quase de 520 mil matrículas para cursos totalmente à distância; cerca de 475 mil para semipresenciais ou disciplinas EAD de cursos presenciais; e quase 3 milhões em cursos livres. O relatório também concluiu que, em contrapartida, o maior obstáculo encontrado pelo mercado é a evasão dos estudantes. Para Robson Catalan, da Eduk, trata-se de uma grande oportunidade, “o grande trunfo da eduK é se adequar às novas situações e cenários, trabalhar e se desenvolver em cima disso”. Seja com pagamento mensal, anual ou por curso, em publicação do Edools - plataforma que gerencia e comercializa cursos online - a mudança de comportamento do consumidor é uma das razões para o sucesso do ‘Modelo Netflix’ de estudos, que transforma o aluno em assinante.
Pagar alimentação, faculdade e aluguel exige planejamento
Responsabilidade é o que os economistas recomendam
Bruna Rizzi
Bolsas incentivam aumento do número de alunos nas Instituições
Programa de bolsas auxilia estudantes Vanderlei Pereira Jr.
Criado há 12 anos, o programa Educa Mais Brasil já beneficiou mais de 400 mil pessoas com bolsas em unidades de ensino. Contemplando todos os graus, desde o ensino infantil à pós-graduação, ele pode aliviar em até 70% do valor das mensalidades. Em 2016 serão cerca de 150 mil vagas em todo o país. O programa oferece oportunidades na formação de crianças e adolescentes, do berçário ao fim do ensino médio, e para jovens e adultos, com cursos profissionalizantes e técnicos, cursinhos, graduação e pós-graduação, além de escolas de idioma. Presencial ou a distância.
“Temos como principal objetivo, proporcionar o acesso à educação” “A TV veiculava muito o comercial do Educa Mais. Mas passava despercebido, as pessoas não param muito pra prestar atenção em comerciais. E como eu estava sem condições de continuar pagando os estudos das minhas filhas, prestei atenção”, conta Eliane Coutinho que aderiu ao programa. Na realização do cadastro, é conferido se o candidato realmente não possui condições de pagar o valor integral da mensalidade. Também será importante não ter qualquer conexão com instituições de ensino, isso porque a prioridade é a iniciação nos estudos. Sobretudo, é preciso que haja vagas para o curso desejado, e após todas as
outras comprovações, o cadastro será realizado. “Temos como principal objetivo, proporcionar o acesso à educação, pois acreditamos ser este o melhor caminho para um país melhor”, informou o programa pelo Facebook. A iniciativa do programa é do Instituto Educar e tem ajudado milhares de brasileiros que pretendem iniciar os estudos, mas não possuem condições financeiras para lidar com o preço das mensalidades. “O valor da matrícula pesa um pouco, que é o valor inteiro. Mas, o programa é bem legal, e pra mim tem sido uma mão na roda”, completa Eliane. Uniforme, material didático e outros custos extras não estão inclusos na proposta do programa. Assim como a matrícula, é integralmente por conta dos beneficiados. A inscrição é livre. Acessando o site, o candidato terá acesso a informações de cursos e suas localidades. Depois do processo de inscrição, o interessado deve esperar que seja feita uma análise e saberá, via e-mail, se foi contemplado de acordo com sua escolha. A opção de gratuidade no cadastro e a oferta de bolsas é uma alternativa um tanto considerável para quem busca formas de introduzir-se na universidade, ou para mães que procuram escolas para os filhos, e não possuem condições de pagar o exigido. A opção chama ainda mais atenção por se tratar de tempos de crise. Informações disponíveis no site: www.educamaisbrasil.com.br
No início deste ano, foi apresentado o panorama de registro de matrículas entre 2014 e 2013 para graduações. O estudo mostrou o ingresso de 3,1 milhões de pessoas nas universidades, segundo resultados de pesquisas do Censo de Educação Superior (MEC/ Inep/DEED). Em São Paulo, alguns alunos que ingressam nas instituições particulares de ensino superior, optam por moram em repúblicas ou dividir o aluguel da residência com mais pessoas, e trabalham para arcar com as mensalidades e despesas de casa. Daniele Leite de 22 anos, estudante de pedagogia, é uma dessas pessoas. Ela mesma arca com as contas da casa que divide com mais três colegas, com os materiais da faculdade
e, ainda, está prestes a se casar. Mas, esclarece que já passou dificuldades e aprendeu a se organizar muito bem para dar conta de tudo. Ainda conta que é necessário ter muita disciplina e se conter ao máximo às tentações. “Evitar gastar com coisas supérfluas, sempre questionar-se se aquela compra realmente é necessária e planejar o salário do mês é muito importante”, diz a jovem. E quanto à questão da escolha, ela não tem dúvida “O valor não significa qualidade. Quando estava no 3º semestre de uma faculdade muito conhecida, decidi voltar e recomeçar do zero, foi a melhor escolha que fiz”, acrescenta. Para Francys Araújo, administradora, que também passou pela mesma situação
que Daniele quando estava graduando-se, é imprescindível que haja organização financeira mês a mês. “Muitos estudantes que não se planejam, iniciam uma faculdade e desistem no meio do caminho pela falta de planejamento. É interessante que as dívidas, caso existam, sejam pagas primeiro, para que depois seja assumido um compromisso tão importante como esse. Faça parcelamentos que você possa cumprir, caso precise de algo que não possa esperar”, completa. Com a inflação atingindo altos índices, a escolha de uma instituição de ensino melhor é diretamente afetada, visto o orçamento do brasileiro ter diminuído substancialmente com relação à alta dos preços. Segundo Joemar de Castro Menezes, doutor em História
Econômica, já chegou no limite a distribuição de financiamentos e bolsas dos programas do governo para calouros, “Agora, a tendência é que algumas empresas de financiamentos particulares sejam mais buscadas por pessoas de baixa renda, visto que a política de educação do país está fechando mais a possibilidade de novos contratos”, afirma o economista. Menezes também enfatizou a importância de entrar o quanto antes em um estágio na área do curso, pois, dessa forma, a crise não se torna um obstáculo para a inserção no mercado de trabalho. Algumas empresas como CIEE (Centro de Integração de Empresa e Escola) e Nube auxiliam o estudante a encontrar uma boa vaga.
Localizado na cidade de Cotia, na grande São Paulo, o projeto tem um sistema educacional totalmente inovador. O educando é quem faz o seu próprio roteiro de estudo, guiado pelo educador. Além disso, não há séries, e os alunos não são divididos por idades, e, sim, por núcleos de aprendizagem: iniciação, desenvolvimento e aprofundamento. Toda e qualquer criança que entra na escola, vai para a iniciação. “A iniciação consiste em aprender os princípios do projeto. Já no desenvolvimento, os educandos aprofundam mais o seu aprendizado, já bem definidos por eles os valores da escola. E, no aprofundamento, eles começam a se envolver em projetos complementares de extensão e enriquecimento. Tudo dentro do contexto de comunidades de aprendizagem, portanto, preparados para ingressar no Ensino Médio”, esclarece Edilene Morikawa, coordenadora pedagógica do espaço. A ONG, que é sem fim lucrativo e depende de patrocinadores, colaboradores e mantenedores, rompe conceitos da educação tradicional, cujos fundamentos são do século XIX.
Ela se assemelha com outro projeto conhecido, a Escola da Ponte, de Portugal, referência mundial no ensino, criado pelo professor José Pacheco, que era um grande amigo do fundador do Âncora, Walter Steurer que faleceu em 2011. Toda terça-feira, há visitas semanais, guiadas pelas crianças, de pessoas interessadas na pedagogia. “São em torno de 200 visitantes por mês. Há também uma vivência para os educadores que queiram saber mais sobre o projeto. Chama-se Transformação Vivencial, em que os profissionais partilham do cotidiano no contexto escolar, durante uma semana no local”, declara Ana Paula Alcântara, assessora do Âncora. A escola foi reconhecida pelo MEC como um dos 178 projetos de educação, inovadores e criativos no Brasil. Hoje são 170 crianças acolhidas no espaço. Os alunos ficam nove horas por dia, com direito a refeição, cultura, biblioteca, pista de skate e esportes. O Âncora existe há mais de 20 anos, sendo quatro anos como uma escola inovadora, que transformou a vida de cerca de 400 jovens, e ainda transforma cada educando, educadores e visitantes que passam pelo local.
ONG oferece educação gratuita Projeto busca inovar o sistema educacional Renan Nascimento Respeito, responsabilidade, afetividade, honestidade e solidariedade. Esses são os valores trabalhados pelo Projeto Âncora em busca da autonomia. E, para se chegar a isso, nada de salas de aulas com alunos
enfileirados em suas carteiras, voltados à professora no quadro. Mas, sim, educandos de baixa renda, com diferentes idades e educadores em espaços variados de aprendizagem, como em um circo montado no espaço.
Projeto Âncora busca a autonomia dos estudantes
Diagramação e Revisão da página: Bruna Rizzi, Vanderlei Pereira Jr., Stephanie Passos, Renan Nascimento
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especial
ano 23 |no 3 | maio/2016
GOURMET
O tradicional sofisticado Alimentos ganharam nova versão, mas como o público e o mercado enxergam que o comum está de cara nova?
Muito mais que pão com salsicha
O famoso cachorro-quente agora é um prato sofisticado Manoela Matos
Wanessa Santos
De origem francesa, a palavra gourmet tem por definição caracterizar tudo o que representa sofisticação. Comumente associado à gastronomia, o termo é usado como adjetivo para qualificar e diferenciar alimentos premium das comidas mais tradicionais ou já conhecidas pelo grande público. No entanto, o conceito está construindo um novo estilo de culinária. A revisitação de pratos cotidianos elegeu o termo para mostrar que aquilo que já era conhecido por todos pode ser tão sofisticado e chique quanto qualquer outra prato da alta gastronomia. Cesar Yukio, professor de gastronomia e personal chef, acredita que dependendo das mudanças, elas são válidas no mundo gastronômico. “Penso que essas transformações fazem parte da culinária mundial e acabam sendo uma tendência reinventar produtos. Só não concordo em alterar a base de cada alimento, copiando apenas sua forma ou sabor”, esclarece o chef. Yukio ainda acredita que a onda gourmetizadora já esteja perdendo força. “Já existem muitos movimentos ‘anti-gourmetização’ na internet e novos estabelecimentos trazendo a essência principal de cada prato”, afirma. Yukio revela que a maioria de seus colegas defendia a revolução gourmet com o intuito de ensinar, fazendo com que os alunos desenvolvessem suas próprias receitas com a base técnica tradicional. No entanto, ele acredita que isso foi um boom e que outras tendências estão por vir: “Acredito que ter um produto realmente único e com características próprias será o trunfo dos chefs”, conclui. Com o cenário econômico instável, muita gente tem optado por empreender no ramo alimentício e, com isso, apostado no marketing gastronômico para se diferenciar da concorrência. De acordo com dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o setor de franquias brasileiro cresceu 8,3% em faturamento em 2015 e o ramo da alimentação teve alta de 8,9%. No último ano, a aposta da ABF era esta: franquias que vendem itens de linha gourmet ou premium deveriam continuar em alta. Seguindo um caminho oposto, a Nagô Doces aposta na tradicionalidade de doces brasileiros e no resgate cultural que isso proporciona. “A valorização aqui é justamente essa lembrança das origens e a descoberta do antigo, do familiar, do DNA dos consumidores enquanto brasileiros”, conta Juliane Silva, proprietária da marca. Ela acredita que a gourmetização não é um processo totalmente negativo. “Dentro do imaginário do consumidor, seguindo a interpretação de que o gourmet é o melhor, a segmentação como pode se fortalecer ainda mais. Tudo depende da condução desta novidade e de como o público a entenderá e assumirá sua fidelização no decorrer dos anos”, pondera a microempresária.
Lanches gourmetizados chegam a custar R$ 33,00
Hamburguer ganha novas versões O sabor irreverente da linha premium é o que chama atenção dos clientes para as inovações Caroline Lima Começa com um pão amanteigado, crocante, levemente adocicado, passa para uma carne artesanal, suculenta, crocante por fora, macia e molhadinha por dentro, o bacon que não pode faltar, no ponto certo! O picles, o tomate e a alface trazem a leveza ao prato e acentuam o sabor quando misturado àquela maionese caseira. Mas como abocanhar essa combinação que pode ser qualificada como perfeita de uma vez só? É fácil, esse é o velho e tradicional hambúrguer com uma pitada de sofisticação. É de tirar o fôlego, afinal, a primeira mordida a gente nunca esquece. “O conceito do hambúrguer gourmet tem como diferencial um preparo criterioso, com ingredientes específicos de boa qualidade. Esse alimento vem se tornando cada dia mais popular, pela necessidade de se adaptar e agradar ao público”, esclarece Fernando Kamide, chefe que está no comando do Buffet Kamide, cozinha especializada em pratos gourmet em São Paulo. Na última década, o hambúrguer virou mania entre os brasileiros. Do cardápio das padarias, ele migrou para restau-
Caroline Lima
cuscuz
Receita de é readaptada para os veganos O Hambúrguer do Riviera com é chamo pode ser apreciado com a adição de outros ingredientes rantes renomados, com versões mais elaboradas, que podem ser apreciadas de garfo e faca. Em geral, nos estabelecimentos que vendem essa iguaria, os preços variam de R$7,00 o mais simples a R$45,00 as versões premium, que continuam sendo as mais solicitadas desde que a tendência foi lançada.
“As pessoas vêm atrás desses produtos elitizados porque virou moda, mas quando elas olham o cardápio optam pelo tradicional, pela segurança. Então nós adaptamos as receitas ao paladar dos clientes, sem perder a mão e conseguir agradar a todos”, comenta Ariovaldo Pereira Dorlass,
chefe na hamburgueria HD Rota Burguer. O hambúrguer ficou conhecido na era da industrialização, devido à necessidade de ingerir proteína e por ser um alimento rápido para consumo e de fácil acesso, dando origem aos drive-ins e redes de fast food que estamos habituados.
Culinária japonesa surpreende com ingredientes Pratos típicos japoneses se transformam em possibilidades inusitadas e saborosas nas mãos dos brasileiros Adriano Barbosa São comuns peixes dos mais variados acompanhados de algum legume ou fruta com arroz japonês em volta, enrolados por uma alga. Mas para alguns, esse comum não
é o bastante. Por isso receitas mais requintadas surgem a todo o momento misturando os sabores tradicionais da culinária japonesa a outros pratos internacionais. Adriano Barbosa
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Manoela Matos Pagar caro para comer pão atendente da lanchonete Hotcom salsicha? Sim, essa é uma -Dog Augusta. nova moda entre os paulistaSegundo Rafaela, os cliennos. Mas não se trata de um tes preferem pagar mais caro simples cachorro-quente com e ter um lanche mais capribatata palha, purê e ketchup. chado, do que comprar em É um hot-dog gourmet capri- lanchonetes mais simples. No chado, com salsichas importa- comércio em que ela trabalha, das, molhos dos mais variados o sanduíche mais caro custa tipos, milho, ervilha, bacon, R$16,00 e é também o mais cheddar, e que mais você pu- procurado. A média de vendas der imaginar. é de 100 lanches por dia. Há um bom tempo, o hotA aprovação dos novos hot-dog deixou de ser só mais um -dogs foi tanta que nem mesmo lanche que você compra no car- os estabelecimentos mais simrinho da esquina ou na cantina ples conseguiram escapar do da escola, e se tornou o prato “raio gourmetizador”. Nedson principal de muitas lanchonetes Couto, por exemplo, é comerde São Paulo. Agora, os sandu- ciante e vende cachorro-quente íches ganharam uma infinidade há três anos na região do Camde ingredientes e tomaram espa- po Limpo, Zona Sul de São ço em quiosques de shoppings e Paulo, oferecendo cinco tipos food-trucks. Os preços também de lanches. aumentaram e alguns sanduíDe acordo com ele, mesches chegam a custar R$33,00. mo na periferia os tipos Mas a procura pelos hot-dogs mais procurados são os que gourmet só aumenta. contêm bastante varieda“Algumas pessoas recla- de nos sabores. “Eu coloco mam do preço, mas o sandu- esse simples de R$3,50 só íche que elas comem aqui tem para anunciar mesmo, poroutra qualidade. Todos os nos- que o cliente fica atraído sos ingredientes são importa- pelo preço. Mas quando ele dos, a salsicha é da Alemanha vê as opções, acaba levando e os pães são aquecidos na o mais caprichado, que cushora”, diz Rafaela Aparecida, ta R$8,00”, explica Nedson.
“Para preparar um bom prato é necessário conhecer o básico da comida japonesa, o arroz perfeito, os cortes corretos, saber harmonizar os ingredientes para não virar uma bagunça de sabores. Sabendo o tradicional e após muito estudo das cozinhas do mundo é que se trabalha a cozinha contemporânea ou Fusion, podendo fazer um prato delicioso na mistura de um Shimeji com um Foie gras”, afirma Anderson Soucha, consultor de culinária japonesa. Esses pratos se adaptam as necessidades encontradas pelos cozinheiros devido a globalização da gastronomia, mas essas novas opções têm um custo em média 50 a 60% mais alto que o comum, dependendo da sua forma prepa-
ro e os ingrediente utilizados. Segundo Anderson, a simples mistura da comida japonesa à frutas e outros elementos aleatórios é muito comum, mas no geral não possuem um estudo adequado para realmente surpreender, sendo necessário pesquisar a melhor mistura, que combine e que seja capaz de aguçar os sentidos de quem degusta o prato. “Geralmente quero o tradicional, o rodízio de sushi, o temaki de salmão, mas é bom experimentar novos sabores, mesmo parecendo estranho peixe com chocolate. Essas receitas diferentes dão curiosidade e mesmo que uma vez, vale a pena comer um para saber se é bom”, diz Sônia Ribeiro, advogada, que tem paixão por comida japonesa.
Hemylle Fernanda Iguaria originalmente de Magrebe, região do norte da África, o cuscuz é um alimento muito consumido no Nordeste e Sudeste do Brasil. A massa pode ser feita à base de milho, farinha de mandioca ou arroz. As variações mais tradicionais no Nordeste são: com leite, com margarina, com carne ou ovos. Já no Sudeste, há uma diversidade de temperos com tomate, ovo cozido, ervilhas, azeitonas e palmito. Com alguns ingredientes derivados de origem animal na receita tradicional do cuscuz, a culinária vegana readaptou o prato nordestino. Há a substituição de peixes por
algas marinhas e ovos por legumes e oleaginosas, como, por exemplo, nozes ou amendoins. O cuscuz é uma comida muito conhecida e saborosa. Por ser simples em seu preparo, pessoas adeptas ao veganismo elaboram experiências caseiras do prato. Há receitas na internet, auxiliando e dando sugestões na troca do recheio. Você pode experimentar o cuscuz vegano no Vegetariano Gourmet, em São Paulo, que apresenta essa opção duas vezes por mês em seu cardápio. O preço do buffet varia de R$26,50 a R$29,50 para comer à vontade. Clóvis Furlanetto
Cuscuz nordestino passa por processo de gourmetização Diagramação e Revisão da página: Aline Luz, Caroline Lima, Fernanda Ravagi, Guilherme Moura, Maiara Ribeiro, Wanessa Santos
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Pipoca
GOURMET
é reinventada em sabores inéditos
Amor de verão? Refrescantes e saborosas, paletas são uma boa pedida
Com produtos refinados, versão moderna faz sucesso entre os clientes e é vendida até em cinemas Gabriel Magno Estrela das telonas, rainha de festa junina e circense, passa na mão de todo mundo e é conhecida internacionalmente. A pipoca, em seu formato original, esteve presente nos melhores momentos de qualquer infância. Mas, um raio atingiu a saudosa receita. Até então só conhecíamos o prato na versão salgada e doce (vermelha) que poderiam ser incrementadas com bacon, manteiga ou leite condensado. Agora tudo mudou. O leitor deve estar se perguntando: o que torna esta receita tão típica e barata um artigo de consumo de alto padrão? A empresária Adriana Lotaif, dona da Pipó Gourmet responde:“Nosso diferencial é o cuidado com os ingredientes, só usamos naturais, de alta qualidade e importados”. Investir nesta novidade virou uma opção para as mentes férteis do mercado que querem trabalhar com o que gostam. De acordo com a Embrapa nosso país produz 75 mil toneladas de milho e consome 100 mil, obrigando-nos a importar da Argentina para suprir a demanda interna. O valor de uma pipoca gourmet varia entre R$28,00 a R$50,00 enquanto a do pipoqueiro vai de R$2,00 a R$10,00.
Arquivo pessoal do entrevistado
A empresária Adriana Lotaif posa ao lado de seu carrinho personalizado de pipocas refinadas A pipoca é tão simples que não parecia ter potencial algum para uma repaginada. Isso leva o público a pensar que não passa de uma estratégia de elitização. “Ah uma pipoca doce, molinha, gostosa e enjoativa” disse o Advogado Oliver Campos. Mas também tem quem seja freguês
da iguaria como é feita atualmente, “Sou muito fã, gosto de ir à loja, mas prefiro comprar no mercado e saborear em casa” diz Irã Silva, estudante de Direito. O ramo das reinterpretações gastronômicas tem apenas um segredo de sucesso:
criatividade. “O gourmet ultrapassa o óbvio, o foco dele é a criação. Todos os sabores que vendemos foram criações nossas. Tem sabores que dá para utilizar na sopa, no sorvete e até na salada”, diz Adriana que estudou Marketing de Luxo na Itália.
especial Aline Luz
As paletas mexicanas chegaram ao Brasil como uma refrescante novidade que, logo de cara, conquistou o estômago das pessoas. Novidade que não é tão novidade assim, a paleta seria uma versão mais sofisticada dos convencionais picolés, que, dentro dessa onda gourmet, ganharam novas caras, sabores e preços. Mesmo com valores acima do convencional (a partir de R$6,00), as paletas mostraram que vieram pra ficar. Populares em diversos estados do Brasil, não é preciso ir muito longe para encontrar algum estabelecimento que comercialize essa novidade. “Eu nem sabia o que era, mas a procura pela paleta mexicana era tanta que resolvi arriscar e pegar um lote para vender. Os picolés foram vendidos igual água, então decidi continuar com as vendas. Em dias quentes, vendo em média 25 paletas”, diz Francisco Damasceno, dono de uma padaria na região do ABC Paulista.
E não são apenas os consumidores e comerciantes que não resistiram a essa delícia. Cada vez mais microempresários têm visto, nas paletas, uma grande oportunidade de ganhar dinheiro. Esse é o caso de Tereza Aparecida Marques, doceira que há mais de dez anos faz geladinhos para vender em casa. “Fiz uma vez para os meus netos e eles adoraram. Foi então que surgiu a ideia: por que não vender paletas também? Eu comecei com a mais simples, de morango com leite condensado, mas hoje já vendo de leite ninho, chocolate e de pedaços de frutas. As crianças da rua adoram e os adultos também!”, conta Tereza. Caseiras ou industrializadas, é difícil acreditar que a moda das paletas vá passar logo. Com sabores irresistíveis como banana com Nutella, morango com leite condensado, açaí, paçoca e também nas versões light e detóx, as paletas caíram no gosto popular e são um exemplo de “gourmetização” que deu certo. E você, já provou a sua? Aline Luz
Brigadeiro em Churros: mais versão requintada motivos para se apaixonar
Com novos sabores, o doce conta com uma apresentação diferente, que chama atenção na hora da venda
Mislene Ribeiro
Bolinho frito pode ser incrementado com outros doces Guilherme Moura
O doce conta com ingredientes especiais, como o chocolate belga Maiara Ribeiro Nada de achocolatado ou leite condensado barato. O brigadeiro gourmet leva chocolate de verdade e ingredientes selecionados, além de uma apresentação que deixa qualquer apaixonado por doce com água na boca. A principal diferença entre a versão gourmet e a comum são os ingredientes e a variedade de sabores. “São utilizados itens de primeira linha para fazer diversos sabores, como, por exemplo, pistache, damasco, castanhas e creme de avelã”, afirma Aline Ferreira Barros, confeiteira. Outra característica que difere as duas versões é o tamanho. “Os gourmet são um pouco maiores, com cerca de 20 gramas cada. As forminhas também são mais reforçadas e charmosas”, explica Aline. Ela conta que, quando vende em atacado – geralmente para festas de aniversário – o tamanho é reduzido e o preço também. A aparência faz toda a diferença na hora de vender brigadeiros gourmet. Eles devem ser bem
parecidos - bolinhas do mesmo tamanho – e com confeitos diferentes dos comuns. Uma forma muito comum de vender é colocar vários em uma caixinha com tampa e laço de fita, uma ótima opção para quem quer presentear. Falando em chocolate, o belga é um dos ingredientes que mais faz sucesso neste tipo de doce. Não é uma regra utilizá-lo para que o brigadeiro seja considerado gourmet, no entanto, sua presença agrega muito valor ao produto. E é claro que tanta sofisticação e cuidado só poderiam refletir no preço que, em geral, parte dos R$2,00 a unidade. Em lojas especializadas, o valor tende a ser um pouco mais alto, em torno de R$3,50. Mas será que vale a pena pagar mais caro? Muita gente diz que sim. É o caso da fotógrafa Mislene Silva, apaixonada pelo desde pequena. “O brigadeiro gourmet tem um sabor diferenciado, é mais cremoso e não tão doce quanto o tradicional. Não tem como confundir”, afirma.
Fernanda Ravagi
Derivada da mandioca, tapioca é prato tipicamente nordestina
Alô, alô criançada! Está passando o carro dos churros. Tem de doce de leite e tem de chocolate. Coberto com granulado, amendoim ou coco, é uma delícia! Essas palavras marcaram a infância das crianças amantes desta sobremesa, porém, quem era acostumado a receber o doce na rua, a pronta entrega, agora tem que se locomover até os pontos de venda para experimentar os novos sabores. É cada vez mais comum encontrar espaços, quiosques e food trucks especializados na
inovação deste prato que outrora era simples, e que, desde 2014, tem ganhado maior notoriedade devido a sua gourmetização. Creme de avelã, paçoca e Romeo e Julieta são apenas algumas das novas gamas de sabores que a sobremesa adquiriu, além da mudança do formato do bolinho, podendo variar do modelo tradicional ou palitinho para passar no recheio. Outra diferenciação do prato é o preço, variando de R$7,00 a R$15,00. Já o churro tradicional, varia entre R$2,50 e
As três paletas mais vendidas da padaria do sr. Francisco R$4,00. “Apesar do preço, as pessoas preferem o churro gourmet porque ele saiu do básico; o sabor é diferente e a qualidade também”, diz Priscila Martins, amante desta sobremesa. De acordo com Carolina Borges, chef da confeitaria Doçurinha, a mudança não ocorre apenas no sabor, mas também no preparo do alimento. “Acredito que o churro gourmet seja feito com mais carinho, com produtos mais selecionados, muitas vezes feitos na hora.
Alguns lugares que vendem o churro comum deixam ele armazenado em estoques ou já fritos, e o gourmet é algo que exige mais cuidado”, comenta a chef. O churro ganhou ainda mais popularidade após ser gourmetizado, sendo utilizado em conjunto com outros pratos como bolos, ovos de páscoa e pettit gateau. “O pessoal já procura o churro, aí quando vê uma sobremesa que gosta com outra que gosta mais ainda, fica louco para experimentar”, completa Carolina. Guilherme Moura
Churros sofisticados nos sabores de chocolate e de doce de leite são servidos com sorvete em versão para comer de gartfo e faca
Tapioca em mil sabores
Fernanda Ravagi A tapioca é uma iguaria deA pluralidade da tapioca rivada da mandioca, de origem chamou a atenção de chefs indígena, e muito tradicional na devido à versatilidade de sua região nordeste. Feita com fari- massa. É possível recheá-la de nha, recheio de coco ou queijo acordo com o gosto de cada coalho, a receita clássica pas- cliente. Agora, com recheios sou por transformações e atual- sofisticados. mente oferta inúmeras opções A tapioca clássica pode custar ao consumidor. R$8,50, enquanto a gourmet cheA especiaria ganhou o cora- ga ao preço de R$14,50. Depenção e o estômago de apreciadores dendo do fabricante, a especiaria da boa gastronomia e tornou-se pode sofrer alteração de 63%, uma opção para o café da manhã, custando em média R$23,00, almoço, sobremesa e lanches. uma diferença de R$9,50.
Bolos criativos Amanda Chalegre
Em datas especiais, como casamentos e aniversários, o bolo é o alimento mais esperado pelos convidados. O doce tem uma grande variedade de sabores e faz sucesso pela sua aparência. Por ser tão pedido para eventos, os empreendimentos surgiram para complementar ou ser a renda principal, como no caso da empresária da D’ Diniz Momento Festa, Daniela Diniz, que faz bolos gourmet no intuito de agradar aos
Diagramação e revisão da página: Aline Luz, Caroline Lima, Fernanda Ravagi, Guilherme Moura, Maiara Ribeiro, Wanessa Santos
clientes com gostinho caseiro e aparência sofisticada. Os bolos tornaram-se gourmet, com texturas, sabores e formas diferentes, para atender aos pedidos. As encomendas do D’Diniz Momento Festa são de bolos por quilo e decorados para aniversários, com média de 20 pedidos mensais, que custam R$ 45,00 o quilo. Já os bolos menores, de 160 a 180 gramas, custam R$ 5,50 cada, com saída de 400 por mês.
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vida digital
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Assistente virtual tendência tecnológica para a sua empresa Autosserviço inova, reduz custos e aprimora o atendimento ao cliente através da Inteligência Artificial Fernanda Pizato Imagine que o correio não entregou sua conta do celular, hoje é a data de vencimento e você precisa urgente da segunda via. Ligar na central de atendimento para ficar esperando intermináveis minutos e anotando um milhão de protocolos nem passa pela sua cabeça. Você entra direto no site da sua operadora pelo seu notebook ou smartphone e tenta que algum atendente do chat te encaminhe por email a conta. Mas, você é o 20º na fila, que tem uma média de 1 hora de espera... Frustrante, não? Pois bem, é isso que os AVIs, Assistentes Virtuais Inteligentes, estão chegando para resolver. Num mundo em que se paga o ticket do estacionamento do shopping por uma máquina, compra o ingresso do cinema de mesmo modo e, antes, disso verifica se há saldo no banco por um aplicativo no celular, o atendimento ao cliente não poderia ser diferente. Destacado pela empresa Gartner, líder de pesquisa em tecnologia de informação como uma das principais tendências de tecnologia para os próximos anos, em termos mais específicos, um Assistente Virtual Inteligente é um agente de software que pode realizar tarefas para um indivíduo. Lêoncio Cruz, CTO da empresa brasileira Virtual Interactions que investe desde 2007 nos AVIs, esclarece como essa ferramenta funciona: “O AVI utiliza técnicas
Ilustração por: Ana Rita Luz
Olá, posso te ajudar ?
de inteligência artificial para reconhecimento de linguagem natural, de modo que os seres humanos possam interagir com os computadores da mesma maneira com a qual interagem entre si. A ação pode ser respostas em formato de
texto, som, imagem, ou ligar e desligar um equipamento, por exemplo”. O consumidor quer cada vez mais essa autonomia no autosserviço, porém, ainda não se sente muito a vontade com as máquinas. “É natural
que exista uma resistência na sua adoção. Por isso, para melhorar a experiência do cliente, a Virtual Interections utiliza as técnicas de humanização da máquina, aproximando o diálogo entre robô e consumidor, que reduzem significativamente essa resistência inicial”, relata Leôncio. O CEO da Virtual Interactions Marildo Matta ressalta que por funcionar 7 dias/ semana x 24 horas/dia x 365 dias/ano, o AVI ajuda a manter a fidelização dos clientes, pois ele sabe que, havendo um problema, conseguirá resolver rapidamente e sem filas; além disso há o ganho com redução de custos operacionais por parte das empresas. Lêoncio explica: “Eles são utilizados principalmente pelas empresas que utilizam canais digitais, como chats, email, SMS, redes sociais e WhastApp, para se relacionarem com seus clientes”, uma solução omnichannel, ou seja, que usa todos os canais de atendimento de maneira simultânea. O CTO ainda diz que podemos ter AVIs que informam, que façam vendas, que lhes ofereça serviços ou resolvam seu problema, tal como apresentar a segunda via de uma conta. Esbarrar daqui para frente com um desses assistentes não será difícil. “Ele pode auxiliar em uma compra, ensinar estudantes, lembrar as pessoas sobre compromissos... O limite é a nossa criatividade”, enaltece.
Do disquete à nuvem
Como a forma de armazenamento de informações evoluiu junto a tecnologia ao longo da história Carolina Andrade O vovô do disquete, chamado de disco de memoria, foi lançado em 1971, tinha 8 polegadas de diâmetro e 80kb de espaço de armazenamento, era de plástico e usava óxido de ferro magnético. Em pouco tempo, os fabricantes começaram a produzir disquetes menores, deixando o de 8 polegadas obsoleto. Surgia o de 5¼ que cabia 160kb e o 3½ da Sony que armazenava 720kb de memoria. Na década de 90, foi criado o zip-drive (um disquete com maior capacidade de armazenamento), os mais populares eram de 100 MB. Com a popularização do CD-RW, o zip perdeu força dando lugar aos CD’s e DVD’s. “Eu usava o disquete diariamente para fazer backup, e já aconteceu em varias situações de precisar ir até a repartição pública, chegava lá e não tinha nada no arquivo ou ele parava de funcionar. O danadinho sempre dava erro, estragava fácil, e a capacidade de armazenamento era bem inferior ao que usamos atualmente. A evolução foi
ótima, hoje posso usar só um pen-drive em vez de 365.000 disquetes. Atualmente, gosto de usar o HD externo, tem uma capacidade alta de armazenamento e é muito seguro, mais pra frente, pretendo usar o sistema de nuvem, porém ainda não utilizei para saber como é”, diz Marco Rogerio dos Santos, contador. Os primeiros pen-drive foram desenvolvidos no ano de 2000 pelas empresas Trek Technology e IBM. Os dispositivos tinham 8 MB de capacidade e eram inovadores para sua época, hoje pode chegar a 1 TB. Atualmente, o dispositivo mais utilizado é o pen drive que tem capacidade para armazenar músicas, filmes, documentos, levando os dados de um computador para o outro com facilidade. Já há alguns anos, estamos entrando na onda do armazenamento em nuvem, que contém backup instantâneo de informações e facilidades diversas que deixam nossa vida mais rápida e sempre conectada. A maior parte das
Carolina Andrade
A nuvem é uma nova forma de armazenar com praticidade e segurança deixando o disquete no chinelo empresas já esta abraçando a novidade para facilitar o trabalho de seus funcionários. Há opções boas e gratuitas de nuvem para você salvar seus documentos online, e tem também as opções que são pagas, porém a capacidade do armazenamento é imensa. “Sempre acontecia alguma situação dramática, eu salvava
A era do sexo virtual
os documentos no disquete e depois tentava abrir em outro computador e não funcionava. Eu gosto bastante de usar o pen drive pela capacidade de armazenamento dele e por ser pratico e seguro, porém atualmente eu só uso o sistema de nuvem ,pois posso salvar milhares de arquivos”, comenta Vlamir Valério, Analista de informática.
AdBlocks causam crise na internet Se antes não havia como escapar de anúncios, agora há uma forma de fugir da ofensiva publicitária Vinicius Felix
Os dois lados
Surgidos a partir de 2006, os AdBlocks são extensões que bloqueiam diversos banners, comerciais antes de vídeos, pop-ups invasivos e até possíveis vírus e sites maliciosos. A PageFair e Adobe realizaram uma pesquisa em 2015 divulgando as razões e consequências do seu uso
O lado ruim As perdas mundiais em
2015 são de US$21,8 Bilhões
As razões
Vale a pena? 26,5% optaram pelos
excessos em sites de jogos
19,1% pela publicidade nas redes sociais
Pessoas
Invasão de privacidade é o principal motivo
Já são mais de 198 milhões de usuários no mundo
Estimativas
O futuro
US$ 41,4 Bilhões é a estimativa de perda no faturamento da publicidade não exibida para 2016
iPhone e navegadores como o Opera já adotam o bloqueio como padrão, a tendência pode se espalhar
É desagradável visitar uma página e ser distraído por uma oferta, e ver aquele comercial chato antes de começar um vídeo. Para resolver isto, basta baixar uma extensão em seu navegador para bloquear todos os anúncios de um site. Entretanto, isso traz perdas financeiras para quem vende e fatura através deles. O fato é que surge o debate de como o merchandising e os produtores de conteúdo se reinventam para agradar ao público. “Uso o AdBlock pois não concordo com o marketing virtual enfiado goela abaixo. Hoje, as empresas usam diversos argumentos, como seleção de anúncios de acordo com o perfil do usuário, porém sempre apareciam propagandas de produtos que não consumo e não tenho o mínimo interesse. Logicamente é uma forma de ganhar dinheiro, principalmente em aplicativos gratuitos. Mas, a forma de propagação é bastante incômoda e excessiva”, conta Denis Bueno, estudante. Criador do Manual do Usuário, Rodrigo Ghedin adotou novos métodos de monetização. Utiliza as assinaturas e publica promoções selecionadas do varejo, recebendo uma pequena comissão após as vendas geradas. E ser inova-
dor, ajudou a antecipar as mudanças profundas no mercado. “O Manual do Usuário surgiu com o objetivo de ser diferente de outros sites de tecnologia — inclusive no modelo de negócios. Em todos os sites que trabalhei antes dele, o faturamento era baseado em anúncios, o que funciona, porém polui o visual e deteriora a qualidade da experiência do leitor. Parti da premissa de que dava para fazer diferente, de que conseguiria manter o projeto funcionando sem recorrer a esses anúncios mais tradicionais e incômodos”, diz Rodrigo, ao explicar os princípios de seu projeto. “Para sites que se baseiam exclusivamente em publicidade programática, os bloqueadores de anúncios são um problema enorme. Mas, antes disso, os próprios anúncios, quase sempre intrusivos e pesados, são também um problema aos leitores. A relação veículos de conteúdo-leitores estava desequilibrada e, nesse sentido, os bloqueadores servem de contrapeso para nivelarmos novamente a balança”, completa Rodrigo, que está torcendo para que as inovações surjam a partir dos sites que se mantenham independentes e na web aberta. César Augusto
Homens e mulheres buscam prazer em redes sociais com novos aplicativos César Augusto
“Sexo virtual é um ato que requer confiança mútua, hoje em dia os atos que envolvem nudez andam muito banalizados. A tecnologia proporciona um risco que nem sempre vale a pena correr. A sexualidade deve ser levada a sério e com os devidos cuidados. Os aplicativos e redes sociais são uma plataforma fácil e rápida para a satisfação à distância. Para mim, sexo virtual é uma válvula de escape”, comenta Maria Paula Paz, aluna do terceiro ano de Jornalismo da São Judas. Ao ser questionada se o sexo virtual a afasta da sociedade, responde categoricamente: “Não, é apenas uma forma de amenizar desejos, que devem ser bem pensados e levados com total segurança, pois a banalização nos proporciona uma exposição perigosa que arrisca as margens do bom senso”, e finaliza: “é uma maneira de amenizar saudade e vontade”. O sexo virtual é uma novidade, uma nova modalidade na forma de se fazer sexo e de se relacionar. O cibersexo, é o ato sexual através das mídias que promovem tal interação e troca de informações entre uma ou demais pessoas (celular, webcam, Skype, aplicativos, mensagens, tele sexo etc.). “Por enquanto não existe uma pesquisa clínica que comprove a ligação do sexo virtual com
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o distanciamento na sociedade, o que existe são evidencias de isolamento após um longo período de apenas sexo virtual. O homem desde o início da sua existência busca o sexo como uma necessidade de reprodução. A partir do advento da globalização, as pessoas encontraram na internet a solução de dois problemas. Encontrar alguém para a pratica sexual e a rapidez em que tudo acontece”, afirma Cristiane Silva Campos, psicóloga formada pela PUC- Rio e especializada em transtornos sexuais. A forma mais comum da masturbação virtual é realizada com o auxílio da webcam e meios auditivos (microfones e fones de ouvido), com as quais as pessoas vão sugerindo e solicitando o que gostariam de ouvir ou de ver e vice-versa, realizando seus desejos íntimos. Uma vez com a câmera ligada não tem jeito, o céu é o limite. Para aqueles que preferem os aplicativos, saibam que existem sites e aplicativos especializados somente na pratica do sexo virtual. No bate papo do UOL, existem salas especificas para o sexo virtual ou masturbação em grupo. O aplicativo 3nder, permite encontros e relacionamentos a três e já é o sexto aplicativo mais baixado na Apple Store, e o quinto mais utilizado no Brasil, segundo matéria publicada no site Catraca Livre.
A forma mais comum da masturbação virtual é realizada com o auxílio da webcam e meios auditivos
Diagramação e Revisão da página: Fernanda Pizato, César Augusto, Carolina Andrade, Vinicius Félix
artes
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Músicos cantam protestos Artistas de rua divulgam Ritmo pesado que fala de amor enche bares e corações no centro de São Paulo
Arquivo pessoal
seu trabalho em site
De forma dinâmica página traz informações para o público de apresentações Douglas Santos
Baixista Maurício da banda Ninguém Precisa ser Herói;em um dia de apresentação em bar de SP Ana Elisa Clarim
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a luta diária eu vou encarando, e sem vergonha do medo vou renovando a batalha desigual e feroz. Como arma, uso apenas minha voz. Ninguém precisa ser herói pra vencer. (Música: Ninguém Precisa ser Herói) Um show de rock no centro de São Paulo. Quem entra no bar desavisado, leva um susto com o Heavy Metal brasileiro. A melodia não é suave, as letras também não. Lidando com o dia a dia da periferia de Diadema, a banda Ninguém Precisa ser Herói, choca quem não está inteirado de seu repertório. Os olhares assustados da plateia se transformam em surpresa. Surpresa por ouvir, naquele lugar, aquele tipo de som. “Música de protesto não é só rap, como muitos pensam”, explica Kléber Almeida Machado, o baterista. “Cuidamos dos contatos, das redes sociais, de inscrições em concursos culturais e mais um monte de coisas”, conta Bruno Felipe, guitarrista. Além de bares, eles também tocam nas formaturas da Fundação Casa sem cobrar nada e ensinam, também de graça, música para as crianças carentes de Diadema. A paz comprada com fumaça não serviu, e ele a negou. Val-
sava sobre os trilhos e olhares pós apocalípticos na linha azul. Atrás de trabalho honesto, dia e noite. Andou. De volta pra favela sem sucesso, chorou. (Música: Maquinado Coração) “A gente é da periferia da periferia, de um bairro pobre de Diadema. Sempre trabalhamos com música e nos juntamos há dois anos para passar pra frente, em forma de som, o nosso dia a dia. O que acontece na favela, quase sempre esquecida, precisa ser passado a diante”, comenta Miriam Parpinelli, vocalista. As influências são muitas. O que eles mais gostam de ouvir são Chico Buarque, Racionais Mc’s e Criolo. O primeiro conta a vida do malandro carioca, e desafiou a ditatura com dezenas de letras, algumas até censuradas. O segundo é um grupo de rap do Capão Redondo, bairro de periferia da Zona Sul de São Paulo. O último, que é do Grajaú, também da Zona Sul, é mais recente e já reconhecido internacionalmente pela qualidade de suas letras. Os heróis de Diadema recrutaram o gaiteiro Zé, que assistia a um show na antiga FEBEM. Também ensinaram música nas ocupações das escolas estadu-
ais. E mostraram a todos que, além do dia-a-dia, o protesto também fala de amor. A vida mudou sem tempo pra entender que a devastação já estava à frente de você. Atenta, lenta, para e pensa. Felicidade em extinção. Esse barco aí já era, navega sem direção. E o coração furado, com uma agulha de balão, perdeu todo o ar. Saiu do chão. (Música: Gás Hélio) “Eu gosto de escrever sobre o amor, que está também presente na vida na favela. É bom você estar sofrendo por algo e ter uma música boa pra ouvir, para você se enxergar”, conta Maurício, baixista. Toda letra tem um lado de denúncia, uma reclamação, ou uma história, às vezes até de paixão, que já aconteceu no bairro. “E o que a gente quer não é ganhar dinheiro com isso, é que as pessoas se vejam nisso tudo e percebam que também têm voz”, finaliza Zé. A banda mantém a página Ninguém Precisa ser Herói no Facebook, onde disponibiliza letras, fotos e agenda de shows. Cantei adeus, me fiz breu. No fim eu já não era eu. Essa história de nós dois, onde nenhum cedeu, acabou. Morreu. Música: Música Que Eu Odeio)
Marcio Aguiar, artista de rua, personificado como Elvis Presley, se apresentando na Avenida Paulista Douglas Santos Não faz ideia do que irá fazer no próximo fim de semana? Que tal experimentar uma forma de entretenimento alternativa? Numa cidade grande e multicultural como São Paulo, há muitas formas de entretenimento além do cineminha básico. E o melhor: a sua diversão pode estar na próxima esquina! Passando pelas avenidas da cidade, o que não falta são apresentações artísticas ao ar livre. De malabaristas até cantores e músicos, os artistas de rua estão espalhados pelas calçadas e vias da cidade, e têm como principal objetivo entreter o público que passa. Foi a partir deste movimento artístico que o site “Artistas na Rua” foi desenvolvido. A ideia é simples: um mapeamento completo de todos os artistas que se apresentam na cidade. Feito em tempo real, a página faz um cruzamento de informações com o Google Maps, oferecendo um panorama
geral dos artistas, horários e locais de apresentações. Dessa forma, o público pode escolher a atração de seu interesse e ir assisti-la. “Frente às repressões de 2010 e ao diagnóstico de que a população ainda não compreendia bem a importância da arte de rua para a cidade, buscamos levantar uma série de ações possíveis para sensibilizar as pessoas. A criação de um site que mapeasse a arte de rua e oferecesse perfis individualizados de cada artista ou grupo foi uma das opções encontradas”, explica Ana Catarina, diretora de produção do site, que ressalta que o site é cada vez mais usado para facilitar o contato entre artista-público e, principalmente, contratantes. Passando pela Avenida Paulista, em frente ao shopping Center 3, é possível se deparar com o “Elvis da Paulista”, uma das figuras mais populares
do site e que faz a alegria de quem passa. Por trás da máscara do “rei do rock”, está Marcio Aguiar, de 42 anos. “Tenho um carinho muito grande com o site e com quem o gerencia. O movimento artístico das ruas faz parte da minha vida. As pessoas que se aproximaram dos meus personagens sempre quiseram fazer amizade. Nessa minha relação com o publico, não conquistei admiradores, mas verdadeiros amigos”, ele conta. De uma forma bem descontraída, a página deixa bem claro: “este site é tão dinâmico e imprevisível quanto à rua. Toda informação aqui presente é passível de mudança em cima da hora, por razões meteorológicas, de saúde ou simplesmente porque artistas de rua são livres para mudar seus caminhos.” Acesse www.artistasnarua. com.br e confira!
Acervo Barroco retrata anos de história
Cidade de Embu das Artes tem como um dos seus principais pontos turísticos igreja transformada em museu com uma uma rica memória sobre Jesuítas e arte sacra
Adriana Oliveira
Com uma simples aparência externa o museu surpreende o visitante com o interno
Adriana Oliveira Para quem está sentado em um dos bancos das duas fileiras de assentos do salão, estende-se logo a frente um corpo sem vida, e por mais impossível que seja, parece verdadeiro. O chamado “Senhor morto”, uma representação em tamanho real de Jesus Cristo depois de sua crucificação, esculpida em um único pedaço de madeira, é a principal obra do local. Construído para ser a igreja N. S. do Rosário, o recinto é atualmente um museu e uma das atrações mais interessantes localizada em Embu das Artes.
Uma longa porta de entrada pintada de azul destaca-se sobre uma construção aparentemente simples, com paredes brancas é muitas janelas, mas dentro está abrigado um dos melhores acervos do Barroco brasileiro. Parte do Conjunto Jesuítico, o Museu de Arte Sacra tem obras feitas entre os séculos XVII e XIX e conta com uma produção de notáveis artesãos. A galeria mantém em sua coleção peças como o segundo órgão mais antigo do Brasil. Somente uma parte da área é coberta pelos adornos, Liliana
Regina Ghirardello que é graduada em Artes Plásticas e professora de História da Arte na escola técnica de São Paulo, explica porque isso ocorre. “São Paulo nos séculos XVII e XVIII, era uma província pobre comparada às cidades de Minas Gerais, onde o ciclo do ouro e a produção de peças em talha dourada eram reproduzidos de acordo com os padrões europeus”. Nesse aspecto a arquitetura complementa a simplicidade de algumas partes e apesar dos arredores serem atualmente um apinhado de lojas de decoração, antiquários e móveis
rústicos, toda a redondeza preservou as construções originais. Thaís Oliveira, estudante do 3º ano de história, ficou impressionada ao visitar o espaço. “Não tem como entrar e não ficar admirada com aqueles quadros e estatuárias, o museu é a essência da cidade. É um ponto que, com certeza, deve ser colocado no roteiro dos turistas que visitam”, fala a universitária. As visitas são monitoradas por colaboradores que contam todos os fatos a respeito do ambiente durante o tour, o que deixa o passeio mais interativo e interessante.
Museu de Arte Sacra em Embu das Artes Largo dos Jesuítas, 67 - Centro Histórico O museu é aberto das 9h às 17h de terça-feira a domingo e o valor da entrada é bem acessível, R$ 8,00 para adultos, R$ 4,00 para estudantes e gratuito para crianças até 12 anos.
Diagramação e Revisão da página: Juliana Campos, Thamara Prado, Adriana Oliveira, Douglas Santos, Thamara Bogolenta, Ana Carolina Araújo
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esporte & lazer
ano 23 |no 3 | maio/2016
Walking tour
Amanda Pavan
nova opção de passeio Criado para exercitar o corpo, apurar olhos e paladar, reunindo cultura e gastronomia
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Amanda Pavan
cordar cedo e caminhar pela cidade. É essa a proposta do walking tour O Melhor de Sampa. O passeio criado por Olavo Medeiros convida paulistanos, brasileiros e estrangeiros a explorar São Paulo em sua plenitude e de um modo que poucos fazem. A pé. A sensação é de ser um turista guiado por um amigo local, que te leva a conhecer a fundo os lugares mais diversos. Fazendo nos observar muros, ruas e casas que antes passavam desapercebidos. Organizado semanalmente, o projeto tem hoje dez roteiros, dentre eles, passeios pelo Bixiga, Pinheiros, Centro, Mooca e República e os noturnos pela Paulista e Baixo Augusta. Os trajetos variam entre cinco e oito quilômetros, percorridos em seis horas de passeio, e os participantes podem optar por fazer todo o percurso, ou apenas uma parte. O passeio é totalmente inclusivo e já atraiu pessoas com dificuldade de mobilidade e até crianças. A ideia central é proporcionar experiências aos participan-
tes. Todos os roteiros buscam apresentar a cidade de um outro ponto vista, levando o visitante a lugares de diferentes estilos, de um centro cultural na Paulista à um bar/barbearia/estúdio de tatuagem no Bixiga. Com opções gastronômicas também variadas, que vão do tradicional cannoli da praça Dom Orione ao brigadeiro gourmet em Pinheiros. O percurso é todo guiado e dividido em diversas paradas, para visitas à exposições, feiras e para, é claro, degustar diferentes e deliciosos pratos. Quando em uma parada, os visitantes ficam livres para explorar o local durante um tempo. Apesar das paradas, a verdadeira atração é o caminho entre um ponto e outro. O estilo do passeio nos convida para uma caminhada tranquila e agradável, com um olhar diferente sobre o trajeto, observando os grafites, arquitetura das construções e o movimento dos bairros. Kelly Queiroz é de Recife, mora em São Paulo há dois anos e já participou de quatro tours.
Criado na Europa, os walking tours são passeios gratuitos feitos a pé, que unem uma boa caminhada com cultura e gastronomia “Moro na Mooca, mas só conheci realmente o bairro com o walking tour”, conta. Além de redescobrir certas regiões, os passeios têm destaque por proporcionar às pessoas tempo para se conhecerem,
conversarem e fazer novas amizades. “A cada novo tour, surge um grupo de amigos que marcam de voltar ao passeio juntos ou marcam outros programas entre eles”, conta o idealizador do projeto.
Exercícios simples e diferenciados
meiro walking tour do O Melhor de Sampa. A ideia deu tão certo que o que era para ser um evento esporádico, virou o carro chefe do projeto e já levou cerca de 2 mil pessoas para circular a pé pela cidade.
Utensílios domésticos e objetos do nosso dia a dia podem exercer a mesma função dos aparelhos das academias
Erica Lima
Exercício proposto pelo profº Ezailson: 1º passo- Sente em uma cadeira e mantenha a coluna ereta 2º passo – segure duas garrafas do mesmo tamanho e estique os braços em posição que forme um ângulo de 90° 3º passo – estenda os braços para cima e volte a flexiona-los. O movimento deve ser repetido de 10 a 15 vezes
Olavo criou O Melhor de Sampa em 2014, um site para dar dicas culturais e gastronômicas em São Paulo, gastando até R$ 30. Já em 2015, para comemorar o aniversário da cidade, Olavo organizou o pri-
Erica Lima O mundo fitness ou, simplesmente, o estilo de vida saudável tem conquistado cada vez mais adeptos. A busca por academias tem aumentado a cada ano e segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2014, cerca de 40% dos brasileiros realizaram alguma atividade física regularmente. Mas mesmo com esse aumento, a questão da escassez de tempo, que é um fator presente na rotina de muitas pessoas, ainda é algo que dificulta a realização das atividades físicas. Uma alternativa que tem sido procurada é a de realizar os exercícios no seu próprio lar. Porém, antes de começar a inserir os exercícios na sua rotina de vida, se deve tomar alguns cuidados. “É importante realizar exames para conferir se está apto para praticar as atividades, e em seguida, procurar um profissional de educação física ou fisioterapeuta, para que seja
orientado sobre os exercícios mais adequados”, diz o professor de educação física, Izailson Almeida Souza. A tecnologia é uma grande aliada, pois há diversos canais no youtube, como o ‘Exercício em Casa’ e ‘Home fix home’, que prometem auxiliar e ensinar aos que optam por praticar os exercícios em casa. “É preciso tomar muito cuidado antes de começar a seguir as instruções que são passadas através dos vídeos e demais meios, pois não se sabe se o profissional que elaborou este material é realmente licenciado e adequado”, explica a aluna do último ano de fisioterapia e ex-atleta, Raiza Crisostomo. Não é preciso seguir o estilo dos exercícios que são oferecidos pelos personal trainers em muitas academias, pois as recomendações mínimas para quem quer levar uma vida fora dos padrões sedentários são de que se pratique, no mínimo, 30 minutos de atividade
físicas aeróbicas moderadas por pelo menos cinco vezes por semana. Praticas do dia a dia, como subir e descer escadas, caminhar e andar de bicicleta são ótimos exemplos, pois consomem uma grande quantidade de calorias. Utensílios domésticos podem substituir alguns aparelhos disponíveis nas academias. Os objetos a serem utilizados são os mais diversos e bem simples de serem encontrados, como bolsas, garrafinhas de água, cabos de vassouras, cadeiras e, até mesmo, pacotes de feijão podem servir como instrumento. Para aqueles que se animaram e estão pensando em começar um novo estilo de vida, o professor Izailson oferece mais algumas recomendações: “escolha um exercício que se adeque ao seu perfil, com os seus objetivos e histórico de saúde, para que, assim, a satisfação seja garantida e a chance de voltar ao sedentarismo seja mínima”.
Dança Circular trabalha ritmos de várias culturas
Uma prática ancestral, realizada ao redor do mundo que trabalha o respeito e a cooperação entre os participantes, através da movimentação do corpo e do espírito Letícia Vargas Em roda, de mãos dadas, ao som de vários ritmos diferentes. Em meio um clima de tranquilidade, começam as danças circulares sagradas. O movimento é livre para todas as faixas etárias e tem se espalhado por parques, praças, escolas, entre outras instituições públicas e privadas. O responsável por conduzir a dança e ajudar na interação é o focalizador, um profissional formado, como conta Cathia Santos Soares Bueloni, terapeuta ocupacional e focalizadora. “Não é um hobby, você pode ter a sua roda e cobrar por isso, se quiser. Tem vários cursos de formação, vem gente até de fora ensinar. O repertório da dança é enorme e quanto mais repertório você tem, mais você consegue adequar”. “Normalmente são três focalizadoras que participam, o que é muito bom porque quando falta par, uma de nós vai para cobrir. Recebemos as coreografias dos grandes focalizadores. Às vezes, você faz uma modificação quando vê que a pessoa tem muita dificuldade. Acho legal falar um pouco sobre o significado da dança, dos gestos”, conta Maria Helena Aschenbach, focalizadora e professora da arte do origami.
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A dança não segue uma religião em específico, ela se chama sagrada porque o espaço que se cria dançando é especial. O significado do círculo é o ponto onde tudo começou, reverenciando o contato de todos nós com o criador. É uma necessidade do homem de se religar ao todo, de se sentir completo de novo. Essa é a proposta do centro da roda e do espaço sagrado que o círculo forma. “As pessoas vêm em busca de convivência, de exercício corporal, de alegria porque, às vezes, quando dançamos, cria-se algo como um circuito de energia. Lá dentro a energia é diferente daqui de fora e ficamos conectados uns aos outros, então não é mais o eu, e, sim, o nós. Quando isso acontece nos conectamos ao todo, e essa conexão não é uma coisa explicada, é o ser humano”, completa Cathia. As danças circulares sagradas focam, não na técnica, mas na união do grupo, auxiliando o indivíduo a tomar consciência de seu corpo físico, do emocional, trabalhar a concentração e memória. A roda estimula o respeito, a aceitação da diversidade cultural.
Letícia Vargas
A dança e a música de outros povos sempre fizeram parte da capacidade de orar, perceber o ritmo, os ciclos e a fertilidade da vida A dança surgiu com Bernhard Wosien, coreógrafo polonês/alemão que, entre as dé-
cadas de 50 e 60, pesquisou e divulgou as danças circulares de vários povos. Ele notou que as
pessoas, quando dançavam em roda, se tornavam muito mais fraternas, mais amorosas. Da
Diagramação e Revisão da página: Amanda Cardoso, Amanda Pavan, Erica Lima, Izis Guerrero, Letícia Vargas, Luana Viana
Europa, ela se espalhou pelo mundo, ganhando espaço com danças folclóricas.