Expressao 9 outubro 2016

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ano 23/número 9 outubro/2016

jornalismo universitário levado a sério

jornal laboratório do 4º ano de jornalismo

usjt

“O mundo é diferente da ponte pra cá” É o que bem diz a letra da música dos Racionais Mc’s. Existe muita vida ativa na periferia: moradores, projetos sociais e coletivos transformam o cotidiano na quebrada

Thamara Prado


#hashtag

ano 23 |no9 |outubro/2016

#caro leitor,

A vida que pulsa na periferia

Caríssimo leitor, a nona edição do jornal laboratório Expressão chega fresquinha para você. O tema da nossa reportagem Especial é um breve passeio por diversas regiões periféricas de São Paulo. Os bairros afastados das regiões mais valorizadas e centrais revelam uma diversidade de projetos e ações que mostram caminhos para melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas. Horta comunitária e orgânica. Associação para formar MCs. Escolinha de futebol que revela craques. Cinema de graça em salas modernas. Empreendedorismo. Urbanização. Grafite. Rádio comunitária. Música... Nossa equipe de repórteres foi conhecer diversos projetos que buscam ampliar e diversificar as perspectivas dos moradores de bairros periféricos. Projetos que têm impactos reais na vida de crianças, jovens, adultos. Sabemos que esses bairros são frequentemente negligenciados pelo poder público, entretanto ressaltamos na reportagem o contraponto à negligência. Ressaltamos uma vida pautada pela luta, organização, esperança, solidariedade... Vamos conhecer um pouco dessa realidade? Nas demais editorias também temos outras reportagens muito interessantes. Em Educação, por exemplo, mostramos a experiência do ensino de música dentro da grade regular do ensino infantil e fundamental. Como essa experiência muda a percepção de realidade e amplia a compreensão de outras disciplinas. Na editoria Vida Digital, nossos repórteres abordam os crimes cibernéticos, ou seja, as atividades ilícitas praticadas na internet. Você sabia que existe uma Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos? Fique atento e procure saber quais atitudes são passíveis de punição. Em Artes, fomos descobrir como é o trabalho de criação da página Artes Depressão, no Facebook. Com brincadeiras, ironias e piadas, o administrador da página mostra como planeja os posts que fazem tanto sucesso. E, para encerrar, chegamos à aventura. Em Esporte&Lazer acompanhamos o radicalismo do motocross freestyle. Uma modalidade de estilo livre que tem como principal característica as manobras acrobáticas no ar. De tirar o fôlego. Vamos lá? Bora encarar essa leitura??

Profa Iêda Santos e Profa Jaqueline Lemos

#fração de segundo fotolegenda

Music 2o lugar no 8o Concurso Fotográfico “Fração de Segundo” com o tema 60 anos de Rock Nacional - “Até mesmo nessa dança não parei”, frase da música Rock’n Roll em Copacana, de Cauby Peixoto, considerada o primeiro rock brasileiro. Claudia Capato - aluna do 4º de Jornalismo- Campus Mooca

#protagonista

Claudio,

o vendedor de esperanças Entre uma venda e outra, um novo pedaço da história do vendedor de Revista Ocas que fez um longo caminho de Minas Gerais a São Paulo

Q

Fotos: LuanaViana

Luana Viana

uem já passou pelo Cine Belas Artes, ali na esquina da Rua Consolação com a Avenida Paulista, já deve ter se deparado com um senhor muito simpático e com um carisma que não cabe no quarteirão gritando “Ocas, só 5 reais”. Seu nome é Claudio Bongiovani, vendedor da Revista Ocas. Em nossa primeira conversa, sentamos na calçada do cinema para batermos um papo e falar da vida, de arte e o que mais desse na telha. Mas não demorou muito para ele fazer um pedido um tanto inusitado: “Você poderia falar com alguém da sua faculdade? Gostaria muito de vender a revista por lá”. O paulistano de 65 anos encanta com suas histórias e uma visão do mundo que causou -e ainda causa- inveja nesta mera estudante de jornalismo que aqui escreve. Claudio é leitor assíduo, escritor nas horas vagas e já viajou para mais de 6 países como representante dos vendedores da Revista. “Acabei de voltar de Londres, foi uma experiência ótima e não vejo a hora de ir para o próximo destino”. A curiosidade é uma de suas características mais fascinantes e incontroláveis. Em brincadeiras de infância, Claudio era aquele que queria ser tudo e fazer tudo. De bombeiro à engenheiro, ele nunca conseguiu decidir qual carreira iria seguir, e se, de fato, iria se dedicar a alguma. “Nunca fiz questão de colocar rótulos, nem apressar as coisas”, diz. Assim que terminou o Ensino Médio, Claudio sabia que tinha que encarar o momento da escolha. Foi aí que começou a sua saga pelos cursos universitários passando por Psicologia, Direito e Jornalismo. Não terminou nenhuma delas, mas as experiências ajudaram a abrir caminho para a faculdade que mais tarde o faria seguir carreira: a Química. Após receber uma proposta de emprego em Minas Gerais, o vendedor se mudou para o lugar onde conheceria a sua esposa e criaria os seus 3 filhos. Por recomendação de seu cunhado, Claudio conseguiu um emprego em uma siderúrgica onde ficou por 11 anos.

#fica a dica

O OCEANO no FIM do CAMINHO Adriana Oliveira

“Eu me lembrava de todas as coisas ali, sentado no banco verde ao lado do laguinho que Lettie Hempstock um dia me convenceu ser um oceano.” É desta forma que somos apresentados a uma trama envolvente, com curiosos personagens e a saudosa infância. Neil Gaiman, o autor, tem muita afinidade com o mundo dos quadrinhos e literaturas infanto-juvenil, e já escreveu muitos destes. Gaiman aprecia misturar o universo adulto com o infantil para provar para seu leitor que, diferente da inocência ou ingenuidade de uma criança, sua malicia influencia na compreensão das obras. O livro é uma ficção adulta, publicado pela Intrínseca em 2013, que é contada do ponto de vista do protagonista, cujo nome não é mencionado, que retorna ao lugar onde cresceu para um funeral e começa a recordar estranhos acontecimentos que ocorreram ali quando tinha sete anos. A obra traz todos os elementos de aventura, amizade, companheirismo, confiança... mas elimina a possibilidade de que aquilo que seu principal personagem vivencia é apenas uma fantasia de uma mente criativa. Alynne Ferreira é uma leitora que tem extrema admiração pelas coletâneas do escritor. “Acho sensacional como os medos e anseios dos personagens são transmitidos para o leitor. A cada página é como se você revisitasse a sua própria infância e tivesse frente a frente, mais uma vez, com todos os monstros e “demônios” que tanto temia, mas

expediente

Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Vice-reitor Fabrício Ghinato Mainieri

A revista não faz apenas textos, também transforma a vida de quem quer ser ajudado

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Diagramação: Profa Iêda Santos

Momentos difíceis chegaram como o desemprego e a falta de oportunidades na pequena cidade do interior do Triângulo Mineiro. Claudio, então, decidiu voltar a São Paulo para montar um laboratório de Química com um colega de trabalho. Foi na volta para a casa que Claudio e sua família se envolveram em um acidente de carro. O vendedor foi o único sobrevivente. “Fiquei transtornado com o acidente, e fiquei mais de 1 ano e meio dormindo nas ruas do Centro da cidade até encontrar um cantinho no vão livre do MASP”, relembra. Foi no Museu de Arte de São Paulo que ele teve o seu primeiro contato com a Revista Ocas. O periódico abre espaço para moradores de rua e pessoas com baixa renda para serem vendedoras e ganhar uma boa grana com isso. Cada exemplar é comprado por R$1,00 e cada vendedor, devidamente autorizado e registrado pela Revista, pode fazer a venda pelo preço que desejar. Todo o lucro é só deles. “Já passei por vários lugares para vender. Fiz amigos e conheci pessoas muito legais nesse processo todo”, relata. É muito fácil enxergar em Claudio a figura de avô, um senhor brincalhão, que fala sobre tudo com todo mundo e sempre está disposto a bater um papo, nem que seja só para falar clima. Depois ajustar o seu colete laranja, ele aperta a minha mão e me dá um último conselho: “Toma cuidado menina, e chegue bem em casa”.

Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Coordenador de Jornalismo Prof. Rodrigo Neiva Capa Foto: Thamara Prado

que deixaram de existir com o tempo. É uma fábula que passa uma ideia aparentemente de ingenuidade, mas é definitivamente adulta e muito complexa quando a consideramos em nossas próprias vidas”. Alynne, que tem muito apreço pelo Oceano no Fim do Caminho, diz que “todas as pessoas deveriam ler Neil Gaiman. É bem escrito e fácil de entender, ele tem muitos méritos, e, em minha opinião, o mais notável é sua criatividade”. Oceano no Fim do Caminho é um livro que apresenta todas as características que um fã de Gaiman conhece tão bem. É assustador e melancólico, mas é também uma representação viva do que é a nossa infância. Ele questiona tudo o que chamamos de imaginação, quando nos tornamos adultos. Faz indagações sobre a maneira como enxergamos o mundo e prova que ao crescermos tendemos a abandonar devaneios tão engenhosos e criativos que tínhamos quando crianças. Realmente nada a discordar em relação a isso, pois assim como diz o autor, “as memórias de infância às vezes são encobertas e obscurecidas pelo o que vem depois”.

Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. César Zamberlam Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos Redação Alunos do JOR4AN-BUA Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667

As matérias assinadas não representam, necessariamente, a opinião da Universidade.

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Educação Dó, Ré, Mi, Fá escolar Desenhar a matemática ano 23 |no9 | outubro/2016

Música na grade curricular revoluciona o sistema educacional

O Geogebra é uma ferramenta que auxilia o professor em sala de aula Bruna Nunes

Pedagogia ao Pé da Letra

A bibliotecária Marcela Mendonça trabalha educação musical em uma escola muncipal de Vitória (ES)

Thais Matuzaki Tudunts, booum, tuuuuts! Os cantos e batuques saem dos fones de ouvido para ecoar nas salas de aulas não apenas como um instrumento de recreação, mas principalmente, de educação. Em contato com a música, os alunos desenvolvem habilidades físicas, espaciais, lógico-matemáticas, verbais e sonoras, além de estimular a criatividade, a sensibilidade e a interação. Para Marcela Mendonça, bibliotecária da escola municipal Aristóbulo Barbosa Leão, em Vitória (ES), a música facilita a memorização e o seu uso traz um ambiente agradável que favorece o aprendizado. “Quando o aluno canta em grupo, por exemplo, são criados laços sociais e afetivos que marcam o aluno pela vida toda”, expõe a educadora. De acordo com o professor de música Pedro Oliveira, além desse caráter social, a ideia de movimento proporcionada pela

música beneficia a saúde física pois estimula outras atividades como a dança. “Já no psíquico, a música ajuda o aluno a ter sensibilidade de saber limites de tempo, espaço, dimensão e, principal de tudo, ela ajuda na concentração”, acrescenta. Segundo Marcela, a música pode ser aplicada em praticamente todas as disciplinas, pois há canções dos mais variados temas, que são utilizadas para reforçar conceitos, destacar conhecimentos ou simplesmente incentivar a apreciação musical. Outra opção de abordagem, como indica Oliveira, é trabalhar a forma estrutural para uma boa absorção de um conteúdo na sala de aula, como acontece com as paródias. “Eu tenho utilizado muito o hip-hop para incentivar a leitura de poemas, por exemplo. Dessa forma, os alunos desenvolvem a leitura de forma lúdica e absorvem os conceitos”, conta Mar-

cela Mendonça, que ainda trata a música a partir de outras canções, como as populares e folclóricas. “Mas o hip-hop de poesia se tornou um momento praticamente obrigatório! Os alunos já chegam na aula pedindo para começarmos a cantar”, assinala. A partir da Lei n° 11.769, de agosto de 2008, todas as escolas públicas e privadas do Brasil passaran a ser obrigadas a incluir o ensino musical nas grades curriculares da Educação Básica (Educação Infantil e o Ensino Fundamental), e deveriam se adaptar às exigências estabelecidas dentro do prazo de três anos. Entretanto, de acordo com João Cardoso Palma Filho, professor titular no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), há poucos docentes qualificados para lecionar música dentro das salas de aula. “A questão a ser enfrentada agora é a formação de profissionais especializados para o ensino de música”, aponta.

Hora de organizar! Especialistas ensinam metodologias para focarmos na funcionalidade dos espaços

Vinicius Felix

Imagine você chegando à escola para a aula de matemática. Livros, caderno e réguas são seus principais aliados para a compreensão dos inúmeros problemas. Mas, ao entrar, percebe que o computador do professor está ligado, e, no Datashow, diversas figuras geométricas são projetadas. Ao começar a explicação, percebe que o mestre mexe nas imagens, as vira de ponta-cabeça, faz contas e mostra como funciona montar um gráfico pela internet, por exemplo. A cena pode lembrar algum filme, mas ela já é realidade em diversas escolas do país. A ferramenta, mais conhecida como Geogebra, foi criada, em 2001, na Universidade Atlântica, da Flórida. O objetivo é reunir em um só programa diversas maneiras de criação de imagens lúdicas que facilitem o aprendizado da álgebra. Para Marcela Souza, professora de matemática, o diferencial da ferramenta é poder criar diversos exemplos que facilitam a compreensão dos alunos, pois o Geogebra

permite duas representações diferentes de um mesmo objeto. "Por exemplo, ao mostrar um gráfico de uma função: outras janelas se abrem apresentando a correspondente expressão algébrica e também uma planilha de pontos contendo as coordenadas pertencentes ao desenho. Qualquer alteração é imediatamente visível na janela algébrica e na planilha", explica Marcela. A professora, que já utiliza a ferramenta em sala de aula, comenta as diferenças já apresentadas. "Os alunos podem investigar o problema matemático. Com a utilização do Geogebra, a representação do que o professor quer expor, torna-se mais palpável. Os estudantes visualizam e manipulam os objetos explorados. Dessa forma podem testar hipóteses e discutir questões que contribuem para o aprendizado. A manipulação permite uma exploração matemática que é limitada em outras mídias, como giz e lousa", diz. Além de ter recebido nota 10 na avaliação dos professores das

áreas de exatas, Aline Belluzi Martins Pina, neuropsicóloga, afirma a importância da utilização das novas ferramentas em prol da educação. "Possibilita integração das funções neuropsicológicas. Por utilizar-se de estímulos visuo-construtivos, atenção alternada e o uso da memória operacional, se torna uma performance intelectual mais integrada e pouco conceitual, diferente do ensino tradicional". Apesar de ser novidade e atrair os alunos, o professor deve ter uma conduta profissional e separar o ensino tecnológico com o ensino usual. Debates e trabalhos em grupo são práticas que ainda devem ser ministradas. "A dificuldade está em encontrar a utilização adequada desta tecnologia na medida em que ela não substitua a produção de texto do aluno e sua singularidade. A cultura do copiar e colar imbeciliza qualquer raciocínio. Aqui fica clara a necessidade de um professor mediador, bem treinado e coerente", esclarece Aline Pina. Reprodução

O aplicativo Geogebra pode ser baixado gratuitamente pela Play Store e Apple Store

“S-E-X-O” “...Não saco nada de Física, literatura ou Gramática, Só gosto de Educação Sexual, e eu odeio Química...” César Gonçales

Técnicas para ser aplicadas em casa, em closets ou guarda-roupas, e também no vitrinismo

Vinicius Felix Preguiçosos, bagunceiros e desorganizados, seus problemas acabaram com os cursos de organização de espaços residenciais. As especialistas em Personal Organizer chegaram para ensinar como arrumar os armários e closets, documentos, malas, escritórios. Não há mais desculpas para quem diz que não sabe cuidar do lar, basta ter vontade de aprender. Ingrid Lisboa se define como Home Organizer. A jornalista criou um programa completo para o treinamento da gestão de residências e organização pessoal e presta serviços à domicilio. Seus cursos presenciais ocorrem uma vez por mês, e são realizados na Avenida Paulista. O de organização de residências parte dos R$470,00. Há também cursos específicos de como organizar o closet, lavar e passar roupas, coperagem, organização de malas, limpeza e faxina, entre outros.

“A gente ensina uma metodologia que serve para pessoa organizar toda a casa dela. É um curso que tem teoria sim, são as técnicas de organização. Algumas pessoas acham que há um dom de organizar, eu discordo um pouco deste entendimento, eu acho que as pessoas são mais ou menos sistemáticas e elas podem aprender técnicas que podem mudar muito a forma como elas fazem as tarefas, com a organização não é diferente”, destaca Ingrid, a respeito do funcionamento do curso, já foi feito por quase 2000 pessoas desde 2011. Os cursos servem tanto para quem quer aprender a organizar quanto para quem quer se especializar na organização e ter isso como profissão. No Senac do Rio de Janeiro, o “curso de organização de espaços residenciais” forma a Personal Organizer para se tornar especialista e

Diagramação e Revisão da página:

Vinícius Félix

consultora. Com aulas teóricas e práticas, o curso tem demanda crescente por profissionais que querem ensinar em outros estados onde ainda não há muitas organizadoras. Helo Henne trocou de profissão e decidiu se especializar e entrar no segmento de organização. Ela se formou pela Oz Organize e filiou-se a NAPO (National Associação of Profissional Organizer). Hoje, presta serviços de organização doméstica, empresarial e para restaurantes também. “O que me motivou a trabalhar como personal organizer foi a pesquisa e identificação com os processos de organização. Eu atuava como nutricionista, com especialização em microbiologia de alimentos, mas me identifiquei com a profissão e resolvi me especializar”, conta Helo, explicando o que levou a seguir este caminho.

Ela chegou com seus passos largos. Todos a observavam como era de costume. Não havia nela nenhuma característica peculiar que revelasse o que estava prestes a ensinar. Seu olhar misterioso foi a introdução de que naquele dia a aula seria diferente. Ela pegou o giz branco e lentamente começou a escrever no quadro negro o assunto daquela aula, arranhou de cima para baixo, letra por letra: S-E-X-O. Esta é uma cena imaginada para representar o primeiro dia de uma aula de educação sexual, aliás esta discussão não é atual. Desde a década de 1920, as escolas desenvolviam trabalhos na área da educação sexual. Mas, foi nos anos 1980 que as experiências se sucederam mais frequentemente com temas como: a gravidez na adolescência, o uso de drogas e a AIDS que começava aparecer com mais frequência. Naquele período, o vírus esteve associado com a homossexualidade, provocando preconceito. Foi a partir daí que a educação sexual teve um novo impulso. Além dos temas mais urgentes, outras questões importantes foram trazidas à discussão. “Estava na quinta série quando a escola optou por incluir aulas de educação sexual na grade escolar. Eram assuntos básicos para conhecermos as transformações do corpo, como ocorre a gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e prevenção. Hoje percebo que o assunto era tratado de forma superficial, mas como primeiro contato acredito que era o ideal”, afirma Clara Maria Nunes, designer de interiores. “A sexualidade é algo que está presente não só dentro da sala de aula, mas no intervalo e nos corredores, podemos ver claramente os alunos em suas ‘ficadas’. Nessa realidade, não posso deixar de considerar o quanto é importante a orienta-

César Gonçales

A maioria das aulas de educação sexual começa com a explicação da utilização do preservativo

ção e o desenvolvimento a ser adotado em sala”, afirma Antônia Santos Souza, professora e educadora sexual. O professor, na sua prática diária, é o primeiro a identificar como abordar alguns conteúdos de forma planejada com os alunos. Principalmente, no 5º ano,

quando muitos já estão entrando na puberdade, quando a demanda da sexualidade já começa a ficar mais emergente. Nas aulas de ciências, começam os estudos com algumas abordagens especificas, explicando o corpo humano, sua reprodução e as doenças sexualmente transmissíveis.

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especial

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Periferia

Os sonhos guardados na quebrada Bairros afastados dos grandes centros chamam atenção pela arte e projetos sociais que os amparam. Nas periferias há luta, esperança, amor, arte e muita vida Thamara Bogolenta

O

plano central da cena se dividia. Uma rápida análise semiótica foi fundamental para digerir a complexidade de tudo o que acontecia. Crianças pulavam corda, ao fundo as rimas do rapper Dexter diziam: “Do mínimo que quando se tem não se dá valor. Tipo o quê? Pisar na terra descalço, morô? E sentir o gosto doce da felicidade, olhar pro horizonte, sorrir pra liberdade, assim como se fosse uma criança brincando”. A mulher no alto da laje gritava por seu filho que há pouco havia saído; um pouco mais adiante, salões de beleza, igrejas, bares, creche e, ao olhar para o céu, uma

paisagem composta por um infinito azul cortado por milhares de fios que se transpassavam, tendo como destino as pequenas casas de tijolo aparente. Os muros coloridos, resultado da arte de grafiteiros, abriam um mar de esperança para uma população ignorada pelo Estado. Uma gente que passa mais tempo no transporte em direção ao trabalho, do que com os próprios filhos; filhos de um sistema que não reconhece os verdadeiros cidadãos de bem. Àqueles que, por acaso do destino, ou consequência dele, foram postos como coadjuvantes de uma cidade que não pertence a ninguém.

Thiago Calçado, professor doutor em Filosofia Política, comenta que o processo de urbanização das periferias está totalmente relacionado a problemas de preconceito e integração social: “Os trabalhadores foram deslocados para longe do centro econômico, sobretudo pelo mecanismo de especulação imobiliária. Nesse contexto, a distância dos bairros mais pobres ao centro dificulta a integração democrática, social e gera problemas de preconceito, trânsito e, principalmente, de exclusão”, destaca. Para a historiadora Ana Paula Souza, os problemas vividos pelos moradores das periferias hoje

Capão Redondo cultiva horta comunitária

Os moradores do bairro recebem cursos de plantio, colheita e alimentação saudável Amanda Pavan Fábrica de Criatividade

Em seis colheitas, a horta já produziu mais de 20 diferentes tipos de alimentos, totalmente orgânicos Plantar, regar, cuidar, comer fruta do pé. Tal realidade parece muito distante para você? Pois, esse novo estilo de vida tomou conta dos moradores do Capão Redondo, na zona Sul de São Paulo, desde que uma laje de 80m2 de um prédio do bairro se transformou em uma horta aberta à comunidade. A novidade está mudando a relação doa moradores do bairro com a alimentação e proporcionando novas experiências. “Comi morango do pé pela primeira vez”, comemora a professora e voluntária na horta, Sandra de Abreu. “Tivemos que aprender que cada alimento tem seu tempo. Aprendemos a esperar. A comunidade ainda tem a oportunidade de aquirir conhecimento e consciência sobre o que come”, explica. Sandra costuma levar a neta de oito anos para cuidar da horta aos finais de semana. “É muito gostoso comer algo você ajudou

a plantar, cuidou e viu crescer”. Com participação total dos moradores do bairro, foi feita uma pesquisa para saber quais produtos eles gostariam de ter na horta e, paralelamente, os idealizadores procuraram saber quais são as árvores frutíferas típicas da região, para que também fossem plantadas no espaço. O cuidado diário é feito por voluntários, que revezam entre si os dias e horários de visita. Cem por cento orgânica e regada com água da chuva, são cultivados no local diversos alimentos, dentre eles: pimenta, berinjela, tomate, couve, jabuticaba e até morango. Quando os produtos são colhidos, a comunidade é informada e eles ficam disponíveis na recepção do prédio. A horta foi construída no prédio da Fábrica de Criatividade, uma ONG de cultura de inclusão social do bairro, e também idea-

lizada por eles, que procuraram apoio na equipe do Pé de Feijão, um coletivo que pretende construir hortas como esta por toda a capital paulista. “Nossa horta é um exemplo para a cidade. Esperamos que sirva de inspiração, e que mais prédios tenham esta iniciativa”, conta o diretor da ONG, Willian Pedro de Santana. Com financiamento coletivo foi possível arrecadar os R$ 20 mil necessários para a realização do projeto. Uma aluna de um dos cursos oferecidos pelo centro foi responsável pelo desenho da horta, que foi construída por voluntários e funcionários da ONG em apenas um dia. A equipe do Pé de Feijão deu todo a suporte a quem colocou a mão na massa, ou melhor, na terra. E, ainda passa por lá ministrando cursos, palestras e oficinas à comunidade de como cuidar da horta, realizar a colheita e também, sobre alimentação saudável.

O artista sonhador do spray

Dingos Del Barco nasceu para mudar o mundo através do garafite e da arte Arquivo pessoal

Izis Guererro

Crianças e jovens divertem-se no espaço “Casa da Sogra” ,,

Parecido com muitos outros grafiteiros, ele vem da periferia. Ele é Gilmar Del Barco Junior, ou Dingos Del Barco, como é conhecido e como assina seus desenhos. Nascido na Lapa, Gilmar, com 11 anos de idade mudou-se para Osasco, onde conheceu a tinta spray, tendo seu primeiro contato com o grafite e apaixonando-se por esta arte. Quinze anos depois, criou um lugar chamado “Atelier Casa da Sogra”, um projeto inovador. Ele não é só um Atelier para se fazer arte, é um espaço onde se pode aprender e trocar experiências apresentando uma grande diversidade cultural, que se apresenta com o objetivo de estimular e promover o ensino do grafite.

O ativismo e a esperança de liberdade

A Arte Educação e sua influência na periferia como ponte para um futuro melhor Edson Pelicer, 46 anos, trabalha atualmente com projetos sociais voltados para jovens. Em 2007, fez um gibi sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e atualmente é coordenador regional

Ana Araújo de Arte e Cultura no CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), aonde desenvolve o projeto Educação com Arte em parceria com a Fundação Casa. As ações

envolvem atividades artísticas através de oficinas culturais. “Esse projeto tem como missão garantir o direito à arte e cultura aos adolescentes privados de liberdade,” acrescenta Pelicer.

são resultados da história: “As pessoas escravizadas, quando libertas, não tinham condições mínimas para sobreviver perto dos centros e começaram a ir para locais afastados. O processo aconteceu de forma rápida, porém, sem nenhum auxilio do Estado”, afrima. Assim, foram surgindo aglomerados habitacionais sem condições básicas. “Aqui há alegria e dor. Medo e segurança. A vontade de ir embora contrasta com o sentimento de pertencimento e a certeza de não sair jamais desse lugar. Para ser sincera, eu só comecei a me reconhecer como parte da periferia depois que algumas pessoas

que admiro começaram a passar mensagens de orgulho da quebrada”, desabafa Camila Carvalho, moradora de São Miguel Paulista, extremo leste da capital. Camila destaca também que uma das coisas que mais gosta é a empatia que rola entre os moradores, conta que as pessoas se olham, se conhecem e se ajudam independente do grau de amizade: “A gente entende o que o outro está passando, e isso nos aproxima muito”. A conexão entre os atores é ainda mais estreita quando há alguma atividade ou projeto que unam os interesses. Pelas quebradas de

Sampa, há diversas pessoas que trabalham, em segmentos diversos, para amenizar a diferença da perifa e do centro, para levar cultura aos adolescentes e jovens, para seguir em busca de uma vida melhor e, afirmando, a cada dia, a cultura, a força e o pertencimento social de cada um.

Liga do funk, um lugar

para seguir a carreira de MC

Jovens encontram apoio de produtores com aulas de músicas na associação Carros com som potente, a rua cheia de gente. A música pulsante parece penetrar em todos os músculos, o entusiasmo toma conta, tornando a diversão no rolê garantida, como um digno baile de favela. Um dos principais personagens deste cenário é o MC, o responsável por deixar o refrão marcado na mente. Esta é uma parte do mundo do funk, e muitos jovens encontram nele a possibilidade de exercer uma carreira artística. Foi a partir deste ideal que surgiu a associação cultural Liga do Funk, oferecendo todo o suporte necessário, desde os fundamentos básicos, como aulas de canto e dança, até debates e conversas que possibilitam entender e discutir sobre os problemas e situações encontradas no ambiente em que o funk está consolidado. “Recebemos jovens de várias áreas periféricas, até mesmo de outros estados. Nosso trabalho não é apenas oferecer aulas de música, mas também proporcionar uma visão ampla sobre o meio artístico e sobre demais temas como política e cultura”, informa Wiliam Lages, produtor e responsável pela divulgação do conteúdo de mídia produzido na associação. Fundada no ano de 2012, a associação é expoente de grandes talentos e nomes da música funk, como o MC João, que ganhou popularidade com o sucesso Baile de Favela no final de 2015, além de contar com a colaboração de artistas já renomados como o rapper Emicida. O objetivo principal da Liga é mostrar a responsabilidade social que cerca o universo do funk. “É um espaço onde se pode

Érika Lima dar oportunidade para todos aqueles que possuem interesse em fazer parte deste meio musical, e mostrar como eles podem mudar a realidade em que estão inseridos e prestar apoio e orientação em sua carreira”, explica Bruno Ramos, produtor cultural e vice-presidente da associação. As atividades acontecem semanalmente e são iniciadas com uma roda de conversa, junto com os produtores, professores e participantes, que debatem sobre os assuntos que norteiam o espaço social em que estão inseridos. O momento também é uma maneira de conhecer aqueles que estão frequentando a liga pela primeira vez. Além de realizarem as aulas

e as atividades, os futuros MC’s também participam de eventos, concursos e apresentações, tendo assim, uma chance de encararem o público e divulgar o seu trabalho. Os encontros semanais são encerrados pelo “Cadeira Elétrica”, que é o momento em que os MC’s que já conquistaram o seu espaço, conversam com os alunos da Liga sobre os mais variados temas que circundam nas periferias, os preconceitos e a realidade dos profissionais deste meio. “A atividade é mais uma forma de motivação para os iniciantes, e também é quando o artista percebe a importância de sua representação para esses jovens”, diz Bruno. Érica Lima

Os professores de canto ensinam as técnicas para os alunos

Projeto Futebol funciona há mais de 30 anos Escolinha revelou o craque Lucas, ex-São Paulo e atual Paris San German Ana Clarim Crianças jogam bola atrás da tela, num campo de terra batida. O treinador dá ordens ao lado de um dos bancos de reserva de cimento queimado. A metade com camisa faz pressão no time que joga sem ela. Ainda assim, o jogo parece bem equilibrado. “Para onde eu olhava era mato e criança. E a maioria nem ia para escola. As que não trabalhavam ficavam na rua o dia todo. Percebi que isso precisava mudar imediatamente. No momento em que cheguei. Tinha esse campo de chão de terra, começamos lá,” conta José Clarim Pereira Neto. Ele veio para Vargem Grande Paulista no ano de emancipação da cidade, em 1981, para dar aulas como professor de Educação Física. O professor, agora aposentado e com 78 anos, foi quem deu início ao Projeto Futebol. Em 1983, depois de sair do trabalho, juntou algumas crianças em um campo improvisado e montou dois times. “Ensinei primeiro as regras e depois coloquei a molecada pra jogar. Foi aí que fui atrás da Prefeitura pra pedir ajuda. Só assim pude montar o projeto. O campo foi construído e a coisa começou a acontecer de verdade”, relembra José. O campo principal da cidade, que até hoje recebe os treinos da escolinha, tem o nome do antigo

professor e criador do projeto. Atualmente, quem comanda os treinos é o professor de Educação Física Miguel Antônio de Moraes. O treinador explica que já teve problemas com maus alunos. “A exigência que fazemos para participação é apenas relativa as notas da escola. E já aconteceu de alunos que mandavam muito bem com a bola perderem a vaga na escolinha, pois reprovaram de ano”, diz. A escolinha, que tem mais de 30 anos, já revelou craques importantes como o Lucas, que jogou no São Paulo e agora faz

sucesso no PSG da França. Em parceria com a prefeitura, o Projeto Futebol por enquanto só tem turmas masculinas, mas espera poder treinar garotas no futuro. “Ainda não conseguimos fechar uma turma de meninas devido ao baixo número de interessadas”, explica o professor. Os treinos da escolinha acontecem sempre em contra turno escolar, três vezes por semana e tem duração de duas horas e meia. Ainda em Vargem Grande, a prefeitura também oferece treinos de futsal, vôlei e handebol, no ginásio de esportes da cidade.

Ana Elisa Clarim

Campo de Vargem Grande Paulista, o berço de muitos sonhos

Diagramação e Revisão da página: Adriana Oliveira, Amanda Pavan, Ana Araújo, Ana Clarim, Douglas Santos, Juliana Campos, Thamara Bogolenta, Thamara Prado

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Periferia

especial

Projeto forma jovens empreendedores Iniciativa busca despertar lado inovador e abrir leque de possibilidades de trabalho. Projetos tecnológicos e soluções arrojadas são valorizados pelos educadores Amanda Cardoso O jovem da periferia cresce aprendendo a trabalhar para os outros, nunca para si mesmo, ao contrário do jovem da elite, que é estimulado desde criança a inovar no campo profissional. O Projeto ArraStart surgiu para quebrar essa realidade, ajudando jovens de comunidades a despertar seu lado empreendedor, através de projetos tecnológicos. Só no ano passado, foram mais de mil inscritos com idades entre 18 e 29 anos na primeira fase do projeto, que começa com encontros para falar sobre a importância de empreender, trazendo soluções inovadoras para problemas nas comunidades. “No ArraStart, os jovens aprendem que não precisam esperar para conseguir um emprego: eles mesmos podem fazer a oportunidade”, comenta Maira Gonçalves, assessora de comunicação do projeto. “Aqui eles aprendem a

ter essa sensibilidade para empreender. O potencial existe, mas não é valorizado, e aqui trazemos isso à tona”, explica. O Projeto de app “Educa Nerd” foi o vencedor do ano passado, e agora a ideia está em fase de testes em eventos para observar a receptividade dos jovens. “Já fizemos dois testes, e agora estamos montando um site para divulgar essa ideia”, afirma Giovanni Balaton, um dos idealizadores do Educa Nerd. O aplicativo é um jogo que permite a visita a museus, o qual o “jogador” acumula pontos, passando por vários desafios. Ou seja, além de incentivar a visitação nesses espaços, o app torna a experiência mais interativa e divertida. Wagner Gomes, 22 anos, passou pelo Projeto no ano passado, mas sua ideia não foi para a última fase. Mesmo assim, ele afirma que

A (re)urbanização

coletiva

Coletivo contribui com o desenvolvimento urbano da comunidade Thamara Prado

vilhoso, muito diferente do que a mídia mostra. Os quinze dias que estive lá foram gratificantes, pois ensinei e também aprendi muito com os indianos”, conta Atayde. O projeto que nasceu em Mumbai na Índia em 2008, hoje tem colaboradores espalhados pelo mundo e está presente na comunidade do Paraisópolis desde 2012. O URBZ, que visa um planejamento de desenvolvimento urbano, atua junto a moradores

da comunidade. A equipe conta com arquitetos, estudantes, fotógrafo e um diretor de cinema que vão ao bairro pelo menos uma vez por semana. O grupo vem pesquisando o modo de vida, a sociabilidade e dinâmicas econômicas e culturais em Paraisópolis. Para eles, os moradores são peças fundamentais para o crescimento urbano, pois são especialistas do bairro e as experiências que acarretam por meio de vivencias do cotidiano, constróem um conhecimento primordial para o planejamento e desenvolvimento urbano. “Eu acho muito importante esse projeto aqui dentro da comunidade, pois ele vem ajudando a modificar a vida das pessoas, e o melhor de tudo é que elas ajudam nessa modificação, pois também ajudam a criar, junto a essa equipe dedicada”, afirma o pedreiro. Os trabalhos realizados são pontuais, um ou dois grandes projetos são desenvolvidos ao longo do ano. No dia-a-dia os moradores junto aos participantes do URBZ, vão caminhando juntos, sejam em grandes ou pequenos reparos. As atividades vão de pavimentação, grafites em muros, serviços de jardinagem até reconstrução de moradias. “Acredito que o modo como trabalhamos causa um impacto positivo em Paraisópolis. Há moradores que trabalham e colaboram com a gente desde o começo do projeto e essa é a parte mais importante e gratificante, pois isso faz com que possamos crescer e aprender juntos com eles”, afirma o arquiteto Fernando Botton que dos Arquitetos URBZ Brasil, que é um dos profissionais do projeto no bairro da zona sul.

O mundo do cinema para todos Com 18 salas funcionando, Circuito Spcine leva a sétima arte a todas as regiões da capital Douglas Santos Bastam algumas poltronas, pipoca, luzes apagadas e a diversão está garantida.O Circuito Spcine, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, desde março de 2016 colocou em funcionamento 18 salas de cinema com programação gratuita. Boa parte das sala foram feitas nos Centros Educacionais Unificados (CEUs) de São Paulo. A experiência começou com a inauguração dos espaços no Butantã, zona oeste de São Paulo, e em Meninos, na região do Ipiranga. As sessões são regulares e a programação é alternada entre títulos do cinema brasileiro e blockbusters do cinema hollywoodiano. Segundo o IBGE, 92% dos municípios brasileiros não têm nenhuma sala de cinema e, nas cidades em que há cinema, o preço dos ingressos impede que a maior parte da população possa frequentá-lo. A Spcine estima que,

Giovanni, Larissa e Wesley, idealizadores da statup EducaNerd

Ritmos que dão tom à vida

Projeto criado por ex-baterista acolhe crianças e adolescentes grande São Paulo Juliana Campos Meninos do Morumbi

Thamara Prado

Projeto URBZ propõe modificações nas residências Morador da conhecida Paraisópolis há mais de 30 anos, o pedreiro Atayde Caetite Cerqueira já construiu mais de 100 casas dentro do bairro da zona sul de São Paulo, junto ao URBZ Brasil. Ele chegou até a ir para Índia para participar de um workshop sobre urbanização realizado em 2014, junto com um estudante de arquitetura ex-integrante do grupo. Para ele, foi uma experiência incrível. “A Índia é um país mara-

Amanda Cardoso

colheu frutos do aprendizado. “O que aprendi no ArraStart reflete nas aulas de empreendedorismo que dou no Arrastão hoje. Me tornei um professor mais dinâmico por conta da experiência. Também aprendi como buscar recursos para outros projetos e como utilizar a tecnologia e redes sociais para divulgar nosso trabalho”, conta. Maira afirma que Wagner não foi o único que viu mudanças após passar pelo projeto: “Temos contato com ex- alunos que não foram até a última fase, mas que mudaram sua visão profissional e se tornaram colaboradores melhores em sua área de atuação. E apesar de ainda não termos dados, pelo fato de o projeto ser novo, temos a certeza de que, quando um jovem muda sua visão de mundo, ele influencia positivamente as pessoas ao seu redor, principalmente na comunidade onde ele vive”, completa.

CEU Butantã

A bateria do Meninos do Morumbi se apresenta no estádio lotado

João Marcelo conheceu os Meninos do Morumbi aos 12 anos, através de uma amiga da mãe. Iniciou na percussão do projeto e ficou lá até os 20 anos. A música o levou a vários estados do Brasil e a Londres. Através dela pode tocar ao lado de ícones brasileiros como Sandra de Sá e Jorge Bem Jor, e abrir o show do cantor norte-americano John Mayer. O Meninos do Morumbi foi criado para ensinar música a crianças e adolescentes. Lá eles dão aulas de ritmos variados, além de ensinar outras atividades como inglês e informática. “A melhor sensação era subir no palco com o grupo. Melhor ainda do que abrir show de famosos. Porque ali era o momento de mostrar nosso melhor, a nossa musicalidade”, confessa João.

Está no ar a Rádio

HELIÓPOLIS

Uma proposta diferente e com a cara de uma das maiores comunidades do Brasil Letícia Vargas Nas quebradas de Heliópolis, uma casa se destaca das demais. Atrás de uma grande torre de transmissão, encontramos a voz da comunidade, o estúdio da Rádio Heliópolis, primeira emissora comunitária de São Paulo. Para todos que estão afim de se informar, participar ou, simplesmente, curtir uma música com uma pegada bem diferente, é só sintonizar na 87.5 FM. “Hoje nos propomos a fazer uma programação diferente das rádios comerciais. Não por causa de orgulho, sem crítica nenhuma, mas porque se for para ser igual as outras, não precisamos de duas iguais, tem que ser um trabalho diferente. Por exemplo, nossos informativos são mais voltados para saúde, informações sobre a comunidade”, comenta Erisvaldo Rodrigues, locutor voluntário da rádio há mais de 6 anos.

O trabalho é voluntário e as pessoas que se propõem a participar não necessitam ser formados ou ter experiência no meio, pois todos recebem um treinamento. Não precisa ter medo, os locutores não mordem. A rádio é livre para todos que quiserem conhecer e conta com a atenta participação dos moradores. Estes sugerem várias propostas para a melhoria da Rádio Heliópolis. Por se tratar de uma rádio comunitária, os anúncios, chamados de “Apoios Culturais”, são gravados no estúdio, de forma a divulgar o comércio local. Os valores cobrados por estes apoios culturais são simbólicos e a verba é destinada à manutenção dos equipamentos e ao pagamento de pequenas despesas da emissora. Doações também são bem-vindas. “Estou, sempre que posso, ligada na rádio. Gosto das músicas, de saber o que está acontecendo

por aqui. Principalmente para tentar fugir do trânsito da Estrada das Lágrimas de manhã cedo”, afirma Caroline Parreira, ouvinte. Além de músicas famosas, grupos musicais e artistas pouco conhecidos também são divulgados, gratuitamente. Desde que não façam apologia ao crime, sexo ou às drogas. Os programas também trazem temas como literatura (indicações bibliográficas, incentivo à leitura), orientação religiosa e espiritual, dicas, relatos e entrevistas com profissionais de diversas áreas. Sem fins lucrativos, a emissora foi criada e é dirigida pela UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco). Atualmente, a rádio está avaliando a ideia de incluir o aplicativo de mensagens What’s App como forma de comunicação com seus ouvintes, numa tentativa de tornar o contato mais rápido e acessível, principalmente ao público jovem. Letícia Vargas

A sala de cinema inaugurada no CEU Butantã quando todas as salas do circuito estiverem em operação, terão cerca de 200 sessões semanais, com expectativa de 960 mil espectadores por ano. “Eu realmente não tenho condições de frequentar o cinema, por ter que gastar com

transporte e ainda pagar pelo ingresso. Um projeto como esse vai ajudar muito as pessoas mais humildes, que não têm o mesmo acesso ao lazer como as outras”, comenta Fernanda Guimarães, moradora de Parada de Taipas.

A proposta é fazer uma programação que se diferencie da forma convencional das rádios comerciais

Diagramação e Revisão da página: Amanda,Cardoso,Amanda Pavan, Erica Lima, Izis Guerrero, Letícia Vargas

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vida digital

Do clique ao crime

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Seja brincadeira ou não, atos ilícitos na internet, que ferem os direitos humanos, são puníveis com reclusão de até oito anos Stephanie Passos

Stephanie Passos “Ela enviou um vídeo para o namorado e caiu na internet”. “Quem confiou nele foi ela”. “Mas era seu namorado, ela nunca achou que faria isso”. “E isso por acaso é crime?” Sim! Isso é crime. Em oito anos de operação, a Central Nacional de Denuncias de Crimes Cibernéticos, a SaferNet - que oferece auxilio contra violações de Direitos Humanos na internet – recebeu mais de 3 milhões de denúncias sobre ações de cibercriminoso. E eles estão por toda parte. Cibercriminosos são todos aqueles que praticam atividades ilícitas na internet como cyberbullying, intolerância religiosa, pornografia infantil e racismo. Exposição íntima ou “reveng porn” – em tradução livre pornografia de vingança, também está na lista, e de acordo com dados disponibilizados pela Safernet, entre 2012 e 2015, houve um aumento de 45 % no atendimento de casos e quadruplicou o número de denúncias recebidas no período (de 48 para 224), em sua maioria de meninas ou mulheres com idade entre 10 e 25 anos. “Os jovens hoje mandam ‘nudes’ como se fossem flores. Eles não sabem lidar com a barreira que existente entre o que é público e o privado. E as fotos são divulgadas no termino de um relacionamento, briga ou por problema de caráter mesmo, sempre como uma forma de vingança”, comenta a psicóloga Marcia Calo. Além de imagens íntimas, divulgar imagens ofensivas

de pessoas, fazer comentários depreciativos ou brincadeiras pejorativas nas redes também pode ser considerado crime, no caso, cyberbullying. “Foi apenas uma brincadeira, ele (ela) não vai ligar, não precisa levar tão a sério”, são algumas das desculpa mais utilizadas. “O Bullying, seja ele na internet ou pessoalmente tem três

lados, o da vítima, do agressor e da testemunha. Quem sofre o preconceito dificilmente fala sobre o que está acontecendo. É obvio que nada justifica a atitude, mas em muitos dos casos a vítima também já foi agressora. Por isso é importante avaliar o contexto antes de julgar e rotular, porque se não estaremos fazendo a mesma coisa”, completa a psicóloga. Vanderlei Pereira Jr.

Para a estudante Isabelli Feitosa, que passou por cyberbullying com comentários nas redes sociais e no WhatsApp, é crime sim. “Fotos minhas eram colocadas nas redes sociais com frases ou apelidos, no começo até parecia brincadeira, mas depois tudo se tornou muito humilhante, foi aí que procurei ajuda”.

Quaisquer atos ilícitos e que firam aos direitos humanos na internet são considerados cibercrimes, puníveis pelos artigos 139 e 140 do Código Penal Brasileiro quanto à exposição através de imagens ou vídeos, que podem levar a condenação por difamação (três meses a um ano de reclusão) ou injúria (detenção de um a seis meses).

Para casos de reveng porn, o Marco Civil da internet, regulamentado em 11 de maio deste ano, possui artigos que asseguram a punição aos crimes de violação de privacidade, honra e imagem, enquanto os menores de idade estão amparados pelo artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com penas que variam entre três e oito anos de reclusão.

Menos vida social e mais vida digital

“Smartphonite”,“telepressão” e “superconectados” as novas psicopatologias Bruna Rizzi O vício em internet tem tirado o sono de muitas pessoas, principalmente, de pais de adolescentes que são os principais usuários de rede, segundo pesquisas de 2015 do Comitê Gestor de Internet. Os resultados, também, apontaram que 82% dos jovens se conectam por telefones móveis e 56% por aparelhos convencionais. Para o psicólogo Davi Frare, na maioria dos casos alguns aspectos podem influências no vício na vida conectada. “Não tem como definir um perfil exato para o viciado em tecnologia. Mas algumas predisposições podem influenciar fortemente como a ansiedade, por exemplo, que é muito própria de adolescentes e o que, consequentemente contribui para que eles sejam o principal alvo”, diz o especialista. Clínicas de reabilitação direcionadas aos viciados em

A angústia incontrolável de quem não consegue viver sem as redes sociais e jogos

novas tecnologias de todas as faixas etárias, disponibilizam um questionário para que os interessados possam ter alguma direção positiva ou negativa. Em alguns sites, os sintomas da psicopatologia são brevemente descritos. Dentre os mais evidentes estão a preocupação excessiva em com a vida virtual, a necessidade em manter-se conectado, irritação em ficar sem o acesso, mentira relacionada ao tempo conectado. Érica Jacques, de 27 anos, estudante de direito, afirma que há alguns anos teve o vício em um grau sério, mas seus pais detectaram a mudança de comportamento antes que ficasse mais grave. “Eu cheguei ao ponto de não conversar mais com ninguém em casa. Me arrumava como se fosse sair para balada apenas para tirar fotografias e postar nas redes sociais e me irritava muito se

algo me impedisse”, explica a jovem que com o auxílio da família se livrou do vício. Outro fator além do cibervício, é o stress que pode levar à outras doenças. O psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, do Ambulatório de Transtornos Ansiosos do Hospital das Clínicas afirma que, hoje, a quantidade alta de informações e o longo tempo em que ficamos conectados em aparelhos tecnológicos diariamente podem levar a sobrecarga causando exaustão mental. A Síndrome de Burnout é uma das consequências que levam a recepção excessiva de sons, imagens e leituras na tela de um computador sem descanso. O fato é que o diagnóstico deve ser feito o quanto antes para que os tratamentos tenham uma maior eficácia e o paciente não tenha muitos obstáculos para vencer a doença.

Pessoas com membros robóticos estão entre nós Especialista em robótica aplicada ao corpo humano explica os avanços e os desafios no desenvolvimento desse equipamento Tamires Tavares Humanos que são parte robô já não são apenas personagens de ficção científica. Graças ao desenvolvimento da Biomecatrônica, os exoesqueletos – esqueletos artificiais externos – robóticos surgiram para potencializar a capacidade física humana. As principais pesquisas têm como foco na reabilitação de pessoas com deficiência motora. Contudo, há estudos para o seu uso em outras áreas. Para saber mais sobre o assunto, o Expressão entrevistou o professor Arturo Forner-Cordero, pós-doutorado em Modelagem de Sistemas Biológicos pelo Instituto de Automática Industrial, na Espanha, que coordenou uma pesquisa para desenvolver um exoesqueleto na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Expressão – Conte-nos sobre o seu projeto de um exoesqueleto para um braço iniciado em 2011. Forner-Cordero – O projeto de exoesqueleto de membro superior teve como objetivo o estudo do controle motor humano e sua aplicação em reabilitação. Em 2011, foi fabricado o primeiro protótipo do exoesqueleto com articulação no cotovelo. A partir deste protótipo, foi projetado um segundo, mais robusto, que ainda está em desenvolvimento, como tema de mestrado do pesquisador Rafael Sanchez Souza. Além disso, aumentamos o número de graus de liberdade e agora o exoesqueleto envolve ombro, cotovelo e punho.

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Expressão – Como se dá a relação cérebro-máquina no uso do exoesqueleto robótico? Forner-Cordero – A interface cérebro-máquina é utilizada para comandar o exoesqueleto e deve ser definida de acordo com a necessidade do usuário. O desafio é identificar a intenção de movimento do usuário. Esta identificação pode ser realizada diretamente do cérebro do usuário, de maneira intrusiva e não-intrusiva, ou através da interpretação de outros sinais do usuário, como a eletromiografia (EMG). Expressão – Quais são os maiores desafios da comunidade científica no desenvolvimento de exoesqueletos?

Forner-Cordero – Os desafios podem ser divididos em aspectos técnicos de projeto e de experiência de usuário. O corpo humano possui muitas articulações e um grande desafio é construir um robô que seja capaz de reproduzir estes movimentos. Além disto, o ser humano precisa de mobilidade, portanto, o exoesqueleto deve ser leve – o que dificulta o desafio anterior – e deve perceber a intenção de movimento de usuário, para auxiliá-lo em caso de comprometimento motor. O exoesqueleto deve ser um sistema extremamente robusto, isto é, à prova de falhas, para garantir a segurança do usuário. Finalmente, um grande desafio é o econômico. O exoesqueleto ainda é um sistema muito caro e viabilizá-lo como produto requer uma redução no custo do projeto aliado a uma percepção de como atrair o usuário. Expressão – Além do auxílio a deficientes físicos, quais outras formas de uso deste equipamento estão sendo experimentadas no Brasil? E em outros países?

Forner-Cordero – No Brasil existem exoesqueletos comerciais utilizados atualmente no sistema público de saúde em reabilitação no Estado de São Paulo (Rede

Diagramação e Revisão da página: Stephanie Passos, Bruna Rizzi, Tamires Tavares

Lucy Montoro). Há também uso na academia, como objeto de estudo. Em outros países, além de reabilitação e assistência funcional, existem aplicações para

aumento de força, por exemplo, com fins militares. Além destes, também há uso para teleoperação, experiência em realidade virtual, arte, entre outros. Stephanie Passos


artes

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Arte de fazer

Artes Depressão

piadas

Interpretando obras de artistas renomados de maneira cômica com teor educativo Caroline Lima A Mona é lisa, mas também é crespa. Considerada uma das obras mais conhecidas no mundo, muitos dão nota dez, mas Leonardo da Vinci. Esses trocadilhos são habitualmente utilizados na hora da criação dos memes, e eles nunca morrem, pois sempre estão em Renascimento. Com um pouco de ócio criativo, as interpretações de determinadas obras podem ser mais divertidas do que imaginamos. Nos proporcionam novos olhares e interpretações diferentonas e bem humoradas. Pensando nisso, Weslei Oliveira, designer industrial paulistano, admirador de arte clássica, street art e frequentador assíduo das redes sociais, criou a página do Facebook, Artes Depressão. A arte pode ser cubista, surrealista, dadaísta, futurista ou até realista, mas todas servem para os piadistas de plantão, e até um leigo no assunto olha para uma obra e acha um momento perfeito para dar sua pincelada e criar um novo viral na internet.

Caetano Veloso

“Um sorriso, um olhar atravessado, um movimento, um gesto isolado e até o conceito geral da obra, fazem parecer que ela foi feita para acompanhar determinado intertexto, ou vice-versa”, conta Weslei. A escolha da referência artística é um ponto importante da criação. As postagens são criadas com base na atualidade, modismos, músicas, gírias, memes da vida real e virtual, sarcasmo, afronte, ironias, desilusões, adaptações de novas e velhas piadas, e também características da vida e obra de algum artista ou de estilos artísticos. Todo tipo de assunto vira conteúdo e o discurso se renova. História da arte não é uma matéria que agrada a todos os gostos, mas quando aprendida de forma descomplicada e descontraída pode fazer toda diferença. “O mais gratificante para nós são relatos de professores usando nossos memes para ensinar mais sobre arte aos alunos. A Arte Depressão levando humor e conhecimento em sala de aula”, fala, com orgulho, o criador da página

sobre as mensagens que recebe de profissionais da área. Muito do que é feito na página também é retirado dos comentários criativos e conversas paralelas que acabam surgindo. A interação gerada nos posts pode ser tão divertida quanto a piada principal e a criatividade dos seguidores também rendem boas piadas. “Eu sempre acompanho as publicações da página, além de divertidas, me abrem a mente para a criação, de forma ampla e eficaz para com o público”, explica Amanda Carneiro, estudante de publicidade. A página surgiu em meados de 2012, sendo pensada inicialmente entre amigos na faculdade de design, sem maiores pretensões. Eles começaram a inventar respostas com situações cotidianas para as obras e publicar essa descontração nas redes sociais, tratando a própria obra de arte como matéria-prima para o humor. Até o início de outubro, a página tinha mais de 1 milhão de curtidas.

Perfil criativo do Facebook transforma trabalhos artísticos em piadas do cotidiano

Ilustradores: da imaginação à criação

Pietro Luigi

Palavras e imagens andam de mãos dadas, conheça os responsáveis por essa união Gabriella Zavarizzi

Jamelão

Artes de Reberson Alexandre

Existe um velho ditado que diz que não devemos julgar um livro pela capa. Só que essa afirmação possui dois lados na moeda. Pois, existem profissionais empregados exclusivamente para a função de dar “uma cara” para capas e conteúdo, o que gera um julgamento logo de início sobre o que o leitor vai encarar. Mas você sabe quem são os profissionais por trás dessa magia? São seres criativos, cheios de determinação, com conhecimento profundo em traços e paletas de cores, além de uma enorme dedicação em deixar tudo perfeitamente adequado ao que a mensagem quer passar. Ainda não adivinhou? Então digo-lhes que esses seres são os ilustradores. A profissão de ilustrador muitas vezes passa despercebida. Apesar de termos diversos tipos de manifestações artísticas em nosso entorno, esquecemos que, como qualquer outro ofício, os artistas, desenhistas, ilustra-

dores e designers possuem direitos e deveres com o trabalho. “Me tornei ilustradora porque sempre amei desenhar e pintar. Diferente das outras crianças, eu nunca parei. Depois que cresci, isso acabou virando também uma válvula de escape pra mim. Busquei me aperfeiçoar e os trabalhos foram aparecendo”, conta Dani Dias, ilustradora. Dar vida as ideias não é tão fácil quanto parece. O imaginário conta muito na hora da ilustração e a inspiração pode vir de todos os lugares. Pietro Luigi, também ilustrador, conta de onde tira as inspirações para seus desenhos. “Vem do meu cotidiano, das coisas que eu consumo (filmes, livros, notícias e músicas principalmente), e da história. Sou fascinado por sociedades, rituais e manifestações primitivas. Gosto muito do caráter simbólico de tudo isso e de como continuamos esse trabalho, muitas vezes, de forma inconsciente”, explica.

No caso do impresso, o autor e o desenhista precisam estar em sintonia para, ao olharem para o resultado final, terem certeza de que a comunicação entre as duas linguagens (escrita e ilustrativa) funcionaram da forma como realmente imaginavam. Assim como as palavras, os desenhos também falam e transmitem sentimentos, o que conta muito na hora de fazer a interpretação do texto. “Na obra impressa, a criação é pensada com foco no método na qual vai ser impresso: quantidade de cores, se vai ser usado pantones ou cores especiais. A partir disso, decido com a equipe a paleta de cor e estética”, esclarece Reberson Alexandre, ilustrador. Mais que talento, para se tornar um ilustrador é preciso muito preparo e estudo. O que difere um ilustrador do outro é o seu traço e suas referências artísticas, além dos trabalhos compostos em seu portfólio e seu networking.

Ilustração pelo artista Pietro Luigi sobre as Olímpiadas no Brasil

Cinema ao ar livre é programa em São Paulo

Promover a interação do público é um dos objetivos deste tipo de sessão, além de trazer uma experiência diferente e totalmente gratuita Wanessa Santos Luz, câmera e ação! Já pensou em variar o modo de assistir a um filme e ainda poder aproveitar a noite paulistana? Comum na década de 50 nos Estados Unidos, as sessões de cinema ao ar livre vem conquistando os moradores e turistas da capital. Com almofadas para o público e pipoca gratuita, um dos exemplos deste projeto é o Cine na Praça, idealizado pelo Grupo Kling em 2012. As sessões acontecem toda quinta-feira na Praça Victor Civita, sendo apresentados, um curta e um longa-metragem que promovam debates e reflexões sobre o tema que exploram. “Fiz uma viagem, em 2011, para Chicago e pude acompanhar uma exibição ao ar livre no Millennium Park e gostei muito da ideia de poder unir as pessoas”, relembra Thiago Kling, coordenador do projeto, que tem por sessão, em média, de 200 a 400 pessoas. De acordo com o idealizador do Cine na Praça, o intuito de ir para outras regiões do país existe, mas ainda não há nada fechado em outros estados. “Oferecer uma programação gratuita é, sem dúvida

nenhuma, um dos nossos objetivos. Existe uma barreira social densa, porém invisível para os olhos desatentos. O Cine na Praça possui entre os seus frequentadores moradores de rua, estudantes, designers e até mesmo empresários. Este caleidoscópio social reflete não só as desigualdades da nossa sociedade como um ponto em comum a todos: o cinema. Toda a programação é gratuita e será assim até o fim do projeto”, conclui. A interatividade com o público também é um diferencial do projeto, para quem é cineasta, estudante de cinema ou está começando a se aventurar no universo audiovisual o Cine na Praça lançou uma plataforma de seleção de curtas para compor a programação do projeto no calendário 2016. “Pretendemos que esta iniciativa possa, quem sabe, despertar o interesse do nosso público em buscar outras obras nacionais e ajudarmos desta forma que as pessoas estabeleçam um novo olhar para a filmografia nacional, livre de preconceitos”, conta Kling. Não são somente as grandes praças e parques de São Paulo que

Diagramação e Revisão da página: Gabriella Zavarizzi

Cine na Praça

Curtas e longas metragens são reproduzidos semanalmente na capital paulista recebem estas mostras de cinema. Só no último ano, filmes já foram apresentados em estacionamentos, nas áreas livres de centros comerciais e em muitos outros lugares da cidade. A gerente de e-commerce, Marcella Andrade, assistiu a uma

sessão que aconteceu em um shopping da capital e se declara a favor de encontrar mais programações desta forma. “Assisti no estacionamento e gostei bastante. Primeiro, porque me deu uma sensação muito

boa de proximidade com quem eu estava na hora, e segundo, todos aparentavam estar mais a vontade, naquele clima de aconchego, mesmo sendo dentro dos seus carros ou sentados no chão”, explica a gerente.

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esporte & lazer modalidade radical no ar

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O estilo livre do motocross freestyle é surpreendente e cheio de manobras acrobáticas com uma dose de perigo Amanda Chalegre Quando se fala em Motocross, a adrenalina logo vem à cabeça das pessoas. Pela sua forma radical e cheia de obstáculos naturais nas pistas de terra, que fazem os pilotos saltarem com as motos, uma nova ideia surgiu, fugindo da corrida e fazendo com que o esporte seja ainda mais surpreendente. O Motocross Freestyle (FMX) é um estilo livre que nasceu devido aos motociclistas buscarem maiores emoções, realizando manobras acrobáticas no ar. São elas que valem pontuação nas competições, nas quais juízes consideram estilo, nível técnico, reação do público, criatividade e melhor percurso. Ela exige mais técnica, prática e muito treino dos competidores para que sejam executadas de maneira precisa e segura. A modalidade também proporciona shows aos fãs. Em 2001, um dos mais importantes pilotos do país, Jorge Negretti, criou uma rampa móvel e reuniu pilotos de FMX em apresentações pelo Brasil, feitas com saltos sobre caminhões que atingem em média 10 metros de altura e 25 metros de comprimento. O “Jorge Negretti Motocross Show” realiza, há mais de 15 anos, diversas apresentações nos principais eventos como etapas de Fórmula Truck, Desafio Internacional das Estrelas e Salão Duas Rodas.

Arquivo Pessoal

Jorge Negretti, multicampeão, brilha nas manobras radicais como a Superman Indian Air feita no Salão Duas Rodas Negretti é campeão com dez supercross, arenacross, supermoto em FMX. “Sempre tive facilida- consideradas gracinhas, a modalitítulos nacionais, campeão latino e enduro, e tem uma carreira bem de em saltar, então na época não dade ainda não existia”, conta. americano e sul americano de Mo- sucedida em pistas de terra. Além foi muito difícil começar a fazer Algumas manobras do esportocross. Participou de disputas em disso, é considerado um pioneiro manobras. No começo, elas eram te são Heel Clicker, uma das mais

fáceis na qual o piloto abraça as pernas fazendo tocar os calcanhares à frente; Superman Seat Grab; Hart Atack; Bar Hope; Tsunami; Cliff Hanger; Cordoba e o Backflip, uma das mais recentes e que pouquissimos pilotos no Brasil executam. Nela, o piloto e a moto dão uma volta completa no ar, um 360º. “Tem que colocar a criatividade à prova, é quando a gente corre o maior risco, porque quando você está acostumado a fazer uma manobra, o risco diminui. Mas para criar algo novo é bem complicado”, diz Negretti. As motos utilizadas na modalidade são vindas do Motocross, mas com algumas adaptações. As mais utilizadas para o FMX são as de 250 cilindradas, com peso de aproximadamente 98 quilos e motores de dois tempos para uma arrancada mais explosiva, que alcance uma boa velocidade em pouco espaço, e assim voem entre as rampas montadas. “Sempre fui apaixonado por Motocross e acompanho competições internacionais pela internet. Mas acho que a maioria das pessoas sejam atraídas ainda mais pelo Motocross estilo livre, devido à dificuldade das manobras realizadas no ar que realmente impressionam. Acredito que isso é muito bom para o incentivo do esporte, pois chama atenção e por consequência atrai patrocinadores”, opina Lucas Negretti, estudante de engenharia civil.

Campo de terra batida ganha gramado sintético Campinho do Seno em Osasco foi reformado por projeto que revitalizou a região Lucas Menoita Qualquer boleiro que se preza já deve ter jogado, ao menos uma vez, num campinho de terra batida, laranja, daqueles em que a bola não rola legal e levanta uma nuvem de poeira a cada quique. No Brasil, os campos de terrão são tradicionais centros da cultura do futebol de várzea. Presentes em cada bairro, se tornam as casas dos times de várzea locais e também o berço de futuros jogadores. Mas o que você acharia de transformarem o terrão do campinho do seu bairro em um campo de gramado sintético, o popular campo de society? Foi o que aconteceu com o campo do Seno, tradicional campinho de terra no bairro do Jardim Novo Osasco, em Osasco, cidade da Grande São Paulo, com quase 700 mil habitantes e que entrou no cenário do futebol profissional paulista este ano, graças ao Grêmio Osasco Audax, vice-campeão da série A1 do Campeonato Paulista. No fim do ano passado, o campo do Seno foi um dos seis campinhos de Osasco incluídos no projeto “Viva o Campinho”, iniciativa da AMBEV, que, em Osasco, recebeu o apoio da prefeitura local e do banco Bradesco. O campo ganhou grama sintética, uma pista de caminhada e academia atrás de um dos

gols. A obra foi entregue no último mês de março. Dois meses depois, os usuários do campo refletem sobre as mudanças sentidas com o novo gramado. O estudante Leonardo Menezes, de 20 anos, jogava a pelada com seus amigos no campo do Seno desde os tempos do terrão e aprovou a mudança. “Jogar no society é muito melhor que no terrão. A maior diferença é que no society, por ser tapete, a bola rola com mais facilidade, o que ajuda no toque de bola”, diz Leonardo. Já o estudante de administração Douglas Roque, de 23 anos, que joga às quartas-feiras no campo, acredita que a reforma foi positiva apenas visualmente. “Fica difícil se acostumar com a grama sintética, depois de tanto tempo jogando no terrão. E o sintético queima os pés e machuca quando caímos. Fora a questão do saudosismo. O terrão vai deixar saudade”, diz Douglas. O campo do Seno, lar da escolinha de futebol Meninos do Seno, fundada em 1978, é um dos mais tradicionais da cidade de Osasco. Já revelou alguns nomes conhecidos no futebol brasileiro como o atacante Kléber Gladiador – com passagens por São Paulo, Palmeiras, Cruzeiro, Vasco da Gama e Seleção Brasileira sub-20 – e a atacante Cristiane, da Seleção Brasileira Feminina.

Lucas Menoita

Projeto revitalizou gramado do campo do Seno no bairro do Novo Osasco que também ganhou aparelhos de ginástica e pista de caminhada

Xadrez é exercício para a mente Dar um Xeque-mate é questão de treino, astúcia e sagacidade Guilherme Moura Arquivo pessoal

Jogadores participando do 4º torneio da liga do enxadrista

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As peças brancas iniciam o jogo. Um movimento errado, logo no começo pode definir a partida... Peão branco na casa G4. Peão preto na E5. Mais um deslize e... Peão branco da F2 para F3. Rainha preta na H4. Xeque-mate! O rei adversário foi capturado e a batalha está terminada em apenas dois movimentos. Esse é um erro comum para quem está se aventurando nesse jogo secular. O xadrez tem como uma das principais características a utilização da lógica e estratégia para conseguir vencer o adversário, e, mais importante que ganhar o jogo, é se superar sempre e aprender a cada partida. Além disso, a paciência se torna uma grande virtude de quem pratica xadrez, pois o jogo conta com uma gama variada de regras e possibilidade, dessa maneira, necessita de muito treino. O xadrez é constituído, basicamente, por um tabuleiro de 64

casas, distribuído em oito colunas verticais e oito fileiras horizontais. As colunas são designadas por números de 1 a 8, e, as fileiras por letras de A a H. Cada participante possui 16 peças, sendo elas: um rei, uma rainha, duas torres, dois bispos, dois cavalos e oito peões. Cada peça possui movimentos únicos e valores distintos. O principal objetivo do jogo é fazer o famoso “xeque-mate”, que é a captura do rei adversário para alcançar a vitória. Normalmente, o xadrez é ensinado nas escolas. Existe, inclusive, várias competições interescolares para promover a pratica desse esporte. Nesse caso, o grande desafio de quem ensina é de transcender o lúdico do jogo e tentar aproximar as crianças ao pensamento lógico proposto na essência do xadrez. Para Ana Paula, estudante de Recursos humanos que começou a praticar xadrez ainda na escola, o jogo era muito mais

que um simples passa tempo. “Ele nos ensina a ter um pensamento estratégico, voltado ao planejamento e a percepção de possíveis acontecimentos que ocasionará em sua vitória ou derrota. Assim como na vida, se utilizarmos desses preceitos, possivelmente teremos sucesso”, afirma. Para José Antônio Souza, árbitro nacional de xadrez pela CBX (Confederação Brasileira de Xadrez) e competidor pela FIDE (Federação Internacional de Xadrez), as pessoas que praticam esse esporte ganham muitos benefícios. “O xadrez é um esporte, e como todo esporte, sua prática proporciona o exercício de uma atividade física sadia e prazerosa. Além disso, o xadrez se destaca pela exigência do exercício mental de quem o pratica. Deste modo, além do divertimento, o xadrez é uma excelente ferramenta de estímulo cerebral”, comenta.

O jogo nos ensina a ter um pensamento estratégico

Diagramação e Revisão da página: Guilherme Moura, Aline Luz, Gabriel Magno, Manoela Matos, Lucas Menoita, Amanda Chalegre


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