MAS - Revista sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade

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REVISTA

MAS

Meio ambiente e sustentabilidade.

R$9,99

Edição 001 - Ano 19 03 de Dezembro de 2019

RELAÇÃO HOMEMxNATUREZA

DESMATAMENTO

RECICLAGEM

Fotógrafa flagra pássa- 10 impactos causados Apenas 3% de todo ro alimentando filhote pela redução de áre- o lixo produzido no com bituca de cigarro. as naturais no Brasil. Brasil é reciclado. PÁG. 8

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Editorial A primeira edição da revista MAS surge a partir de um trabalho integrado proposto pelos professores Heliza Faria e Cleiton Hipólito do IFSULDEMINAS- Campus Passos. Segundo o INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento e a poluição das águas são consideradas as principais ameaças à natureza no Brasil, 6.947 km² são desmatados anualmente. Tendo em vista tal dado, optei por um tema que muito me interessa, meio ambiente e sustentabilidade, trazendo uma definição e notícias a respeito dos seguintes subtemas: Relação homemXnatureza, Desmatamento, Economia Verde, Reciclagem e Compostagem. Espero que, a partir desta, os leitores passem a olhar por suas atitudes e zelem cada vez mais do nosso bem mais preciso: o Meio Ambiente! Um forte abraço, Eduarda Rezende.

Reitor IFSULDEMINAS

Prof. Marcelo Bregagnoli

Diretor geral Câmpus Passos

Prof. João Paulo de Toledo Gomes

Coordenador do curso Técnico em Comunicação Visual Prof. Kelly Cristina D’Angelo

Edição, Redação, Projeto Gráfico e Montagem Eduarda Rezende

Revisão

Eduarda Rezende

Produção de Imagens

Eduarda Rezende, Gabriel Labonia

@wix.mas

Contato

(35) 991199767 eduardacra@outlook.com

Apoio e Orientação

Projeto Editorial: Profa Heliza Faria Identidade Visual: Prof. Cleiton Hipólito

Comunicação

Visual


ÍNDICE

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Relação homem X natureza

Definição Notícias: - Fotógrafa flagra pássaro alimentando filhote com bituca de cigarro; - Medo de humanos afugenta carnívoros e favorece roedores.

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Desmatamento

Definição Notícias: - 10 impactos causados pela redução de áreas naturais no Brasil.

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Economia Verde

Definição Notícias: -Tramontina lança primeira cadeira produzida com plástico 100% reciclado; -Economia verde pode gerar milhões de empregos na América Latina.

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Reciclagem

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Definição Notícias: -Reciclagem automotiva; -Apenas 3% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado.

Compostagem

Definição Notícias: -Projeto Brasileiro de agricultura urbana é premiado na Alemanha; -Compostagem é alternativa para transformar lixo orgânico.


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GALERIA

@wix.mas



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RELAÇÃO HOMEM x NATUREZA

DEFINIÇÃO O homem e o meio ambiente são duas palavras que vêm sendo utilizadas de forma separadas e até mesmo em alguns casos, opostas. Muitos autores relatam a utilização dos recursos naturais pelo homem como meio para o crescimento econômico. No entanto, atualmente, sabemos que crescimento econômico não é sinônimo de desenvolvimento. Nos primórdios da humanidade, o ser humano, ainda nômade, utilizava os recursos naturais de um determinado local conforme suas necessidades diárias. Quando os alimentos se esgotavam naquele lugar, ele se mudava. Não possuía território fixo, mudava diversas vezes de lugar, utilizando os recursos disponíveis em um local e quando estes acabavam, ele escolhia um novo local para permanecer por mais um período de tempo. Aquele espaço, para o ser humano, era apenas um local no qual se consumiam os recursos naturais existentes até que os mesmo se esgotassem. Este local não era ainda considerado como um “lugar” vivido e sentido, não havia, portanto, ainda, uma relação e sentimento com o local onde o ser humano habitava. Conforme disposto por ALBAGLI (1998, p.3), lugar “não pode ser apenas um espaço onde se realizam as práticas diárias, mas também aquele no qual se situam as transformações, a reprodução das relações sociais de longo prazo”. Autores como AGNEW E DUCAN (1989) definem lugar em três dimensões: ótica econômica; perspectiva micro sociológica e ponto de vista antropológico e cultural. A ótica econômica seria a localização onde ocorrem as práticas econômicas e sociais. A perspectiva micro sociológica define o lugar como sendo o espaço das interações cotidianas;

por último, o ponto de vista antropológico cultural que define o lugar através da identificação do sujeito com o espaço habitado seria o “sentido do lugar”. Ao se analisar mais profundamente o sentido da palavra “lugar”, pode-se classificá-la como sendo “o produto das relações humanas, entre homem e natureza, tecido por relações sociais produzindo a identidade, é o mundo do vivido, onde se formulam os problemas”. (CARLOS, 1996, p.26). Neste aspecto, observamos que no começo da história humana o “lugar” ainda não havia sido construído, as relações sociais eram as mais básicas e primitivas possíveis. Portanto, o homem não possuía sentimento pelo lugar, não havia construído o seu espaço, não tinha um lugar próprio. O ser humano, no decorrer da sua evolução, adquiriu a capacidade de analisar situações atuais, imaginar aquilo que ainda não foi vivido para manipular a realidade e, até mesmo, em alguns casos, simular o futuro. As pessoas e famílias começaram a se organizar em grupos tornando-se comunidades, civilizações, povos e nações, formaram-se redes de relações humanas, construindo aos poucos sua própria identidade. Finalmente, adquirindo o seu próprio lugar e permanecendo nele. Este lugar tornou-se algo repleto de sentimento e emoção. No decorrer da evolução humana, quando o homem diz ter se tornado civilizado, ocorreu o seu desprendimento com o lugar e formularam-se ideias das quais os recursos naturais eram bens infinitos. A utilização indiscriminada dos recursos naturais tornou o ser humano causador de grandes impactos ambientais, gerando o desequilíbrio na cadeia da vida, consequentemente, causando o colapso e a quebra do sistema.


RELAÇÃO HOMEM x NATUREZA

Fotógrafa flagra pássaro alimentando filhote com bituca de cigarro A natureza está lutando para se adaptar às mudanças que os humanos fazem no nosso planeta.

Fotógrafa flagra pássaro alimentando filhote com bituca de cigarro / Foto: Karen Mason

A fotógrafa Karen Mason publicou no Facebook uma foto de um pássaro da espécie corta-água alimentando seu filhote com uma bituca de cigarro. Ela disse que registrou a imagem em junho, na praia de St Pete, perto de Tampa, Florida, Estados Unidos. Ela escreveu: “Se você fuma, por favor, não deixe sua bituca para trás.” Em entrevista para a BBC, um porta-voz da Sociedade Real para a Proteção de Aves (RSPB) disse que as aves ficam curiosas com as coisas que descartamos casualmente, e muitas vezes investigam para tentar descobrir se algo é comida ou não.

“Infelizmente, esta ave decidiu que o cigarro era algo para alimentar seu filhote”, disse o porta-voz. Segundo o representante da RSPB, a natureza está lutando para se adaptar às coisas que estamos fazendo para o nosso planeta. “A cada ano vemos mais animais presos, feridos ou mortos por produtos feitos pelo homem. Estamos até vendo lixo sendo usado como material de nidificação”, disse. Os filtros de cigarro são geralmente feitos de fibras de plástico (acetato de celulose) e levam anos para se decompor no ambiente. Eles são o item mais comum de lixo coletado das praias em todo o mundo.


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Medo de humanos afugenta carnívoros e favorece roedores Os seres humanos são as principais ameaças a muitas espécies selvagens, e nossa mera presença pode criar uma “paisagem do medo”, segundo artigo de pesquisadores da Universidade da Califórnia (UC) em Santa Cruz e da Western University (Canadá) publicado na revista “Ecology Letters”. O medo dos humanos reduz a movimentação e a atividade de carnívoros como pumas, linces e gambás. Com isso, pequenos mamíferos caçados por eles, como roedores, percebem que há no ambiente um risco menor para si e passam a procurar alimentos em pontos mais distantes e de modo mais intenso. “Os humanos são tão assustadores para os pumas e pequenos predadores que estes restringiam seu comportamento e mudavam a forma como usavam seus habitats quando pensavam que estávamos por perto”, disse Justin Suraci, principal autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado da UC Santa Cruz. “Esse é o primeiro experimento em grande escala que conheço que documenta como o medo

atravessa a teia alimentar dos principais predadores até a menor presa”, afirmou o coautor Chris Wilmers, professor de estudos ambientais da UC Santa Cruz e diretor do Projeto Santa Cruz Puma. A pesquisa revela que a presença de humanos pode ter efeitos bastante profundos, mesmo que não haja atividades nem infraestrutura como caça, moradia ou estradas, afirmou Wilmers, que estuda as interações entre humanos e animais selvagens na Califórnia, na África e em outros lugares. Suraci e Wilmers projetaram um experimento que usava gravações de vozes para avaliar os efeitos do medo causado pelos seres humanos em dois pontos das montanhas de Santa Cruz fechados ao acesso público. Os alto-falantes empregados transmitiam gravações de vozes humanas e o coaxar de sapos como controle. Ao som de vozes humanas, os pumas reduziram significativamente sua atividade, mantendo distância e diminuindo seus movimentos. Já durante as gravações de sapos, eles se moviam pelo terreno normalmente. Com vozes humanas no ambiente, os linces se tornaram bem mais noturnos, enquanto os gambás reduziram em 66% o tempo dedicado à busca de alimento. Já o Peromyscus, um pequeno roedor, expandiu suas atividades em uma área 45% maior, e a intensidade de procura de comida mostrada por camundongos subiu 17%. “Somos grandes predadores e, portanto, uma fonte de medo para muitas dessas espécies”, afirmou Suraci. “O que é novidade nesse estudo é que podemos ver como esse medo se parece no ambiente em uma escala relativamente grande.”



DESMATAMENTO

DEFINIÇÃO A exploração dos recursos naturais acontece desde os primórdios da humanidade. Contudo, na medida em que a sociedade desenvolveu-se, essa exploração intensificou-se, colocando em risco o equilíbrio do planeta e comprometendo o suprimento das gerações futuras. A questão do desmatamento tomou grandes proporções a partir da Revolução Industrial. A introdução de novas tecnologias (que proporcionaram o aumento da produção industrial) e o consumo (que aumentou consideravelmente) fizeram com que diversas florestas temperadas e tropicais fossem devastadas, a fim de atender a essa nova demanda. Os países industrializados apresentaram, durante esse período, maiores taxas de desmatamento. Com o passar dos anos, essas taxas começaram a cair nesses países e a aumentar nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. O desmatamento pode ser atribuído a diversas atividades, sendo essas, em sua maioria, antrópicas. A retirada da cobertura vegetal está relacionada, por exemplo, com a expansão do agronegócio; com o extrativismo animal, vegetal ou mineral; com a necessidade de explorar matéria-prima para atividades de todos os setores da economia; com a urbanização referente ao aumento das cidades; e também com atividades ilegais que envolvem queimadas propositais e até mesmo exploração de áreas de conservação para fins pessoais, como especulação fundiária. A expansão do agronegócio é considerada uma das principais causas do aumento do desmatamento no mundo todo. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), só na América Latina, a expansão da agricultura e da pecuária comercial é responsável por aproximadamente 70% do desmatamento. Dados da FAO revelam que a prática agrícola, por meio das produções em escala industrial, e a pecuária, por meio do aumento dos pastos extensivos, fomentam o desmatamento em vários países do mundo. Essa questão tem gerado diversas polêmicas, pois o agronegócio é o carro-chefe da economia de diversos países. Portanto, muitos justificam o desmatamento como necessário ao suprimento das necessidades humanas, como a produção de alimentos. Contudo, segundo o relatório O estado das florestas do mundo, de 2016, lançado pela FAO, aponta que não é necessário desmatar florestas para produzir alimentos. É necessário, ao invés de expandir as áreas agrícolas retirando as florestas, intensificar a atividade agrícola e as medidas de proteção social.


DESMATAMENTO

impactos causados pela redução de áreas naturais no Brasil Por Carlos Nobre, Carlos Eduardo Young, Fábio Olmos e Marcelo Dantas

Recentemente, o governo federal propôs a redução de mais de 1 milhão de hectares da área de unidades de conservação (UCs), que inclui áreas do Pará, na Amazônia, e de outras regiões do Brasil. A mudança, que já foi aprovada por uma comissão mista de deputados e senadores, acontece por meio de uma ferramenta ágil e destinada apenas a assuntos urgentes: as medidas provisórias. Em 16 de maio, a MP 756 foi aprovada pela Câmara dos Deputados, que autoriza a mudança de categoria de parques nacionais e de florestas nacionais e os transforma em áreas de preservação ambiental (APAs), cujas restrições para exploração são menores. A proposta atinge uma região que sofre com o desmatamento há anos. Apesar da redução do índice histórico na Amazônia, em 2016 ainda foram registrados 8 mil km2 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – área equivalente a quase uma vez e meia o Distrito Federal, que tem 5,7 mil km2. As consequências dessas ações não afetam somente quem vive perto das florestas, mas abrange todo o país, de Norte a Sul, sem contar o impacto causado na fauna, na flora e nos serviços ambientais daquelas áreas reduzidas pela proposta.

Confira dez fatos e impactos que a redução de florestas causa para o meio ambiente e para a população:

1. A falta ou excesso de chuva no

Brasil é influenciada pela Amazônia É na Amazônia que são formados os rios aéreos ou voadores, que são massas de ar carregadas de vapor d’água. A Floresta Amazônica atrai a umidade evaporada pelo oceano e cria correntes de ar que transportam essa umidade em direção ao Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. De acordo com o biólogo e diretor da Permian Brasil, Fábio Olmos, existem diversos estudos que mostram que a segurança hídrica nacional depende da Amazônia. “Tanto os centros urbanos como o campo, a região mais povoada do país ou a mais remota, dependem dos serviços ambientais fornecidos pela floresta e outros ecossistemas naturais. Isso sem nem mencionar a questão das emissões de gases de efeito estufa associadas ao desmatamento, que intensificam a mudança global do clima”, afirma ele, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.


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2. Conservação da natureza não está na lista da maioria dos governantes

Parece ser uma triste verdade. As recentes mudanças anunciadas pelo governo brasileiro demonstram que as regras atendem aos interesses de poucos e não a vontade de muitos. No Pará, os limites do Parque Nacional do Rio Novo, Parque Nacional do Jamanxim e da Área de Proteção Ambiental do Tapajós correm sérios riscos de serem alterados. Essas últimas mudanças aconteceram por meio das Medidas Provisórias 756 (aprovada pela Câmara dos Deputados em maio) e 758, que, além do Pará, também propõe alteração na área do Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina.

3. Não estamos reduzindo o desmatamento

Por cerca de 10 anos, até a celebração do Acordo de Paris na Conferência de dezembro de 2015 (COP21), a redução de desmatamentos na Amazônia era destaque global ano após ano: a taxa anual foi reduzida em 83% e oscilou entre 5 a 6 mil km2/ano até 2015. Em 2016, no entanto, os desmatamentos medidos pelo sistema PRODES do INPE registraram quase 8 mil km2 na região. Entre as causas, pode-se apontar tanto as reduções orçamentárias dos órgãos ambientais reguladores, como mudanças do Código Florestal Brasileiro, em 2012, que anistiaram desmatamentos ilegais do passado, encorajando o descumprimento da lei.

4. O Brasil é um país que não cumpre acordos internacionais

O Acordo de Paris foi assinado em 2015 por dezenas de países que se comprometeram a parar e a reduzir o aquecimento global e suas

consequências. O ideal é que as nações signatárias promovam mudanças para que o aumento não supere 1,5°C. O Brasil foi protagonista nas negociações que concretizaram o pacto e se comprometeu a reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025, 43% até 2030 em relação às emissões de 2005, e zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Ou seja, até lá, o Brasil está dizendo que continuará tendo desmatamento ilegal na Amazônia; e, quanto aos demais biomas, o compromisso brasileiro não traz metas específicas. De acordo com o climatologista Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, com as constantes reduções de áreas protegidas e o aumento do desmatamento, dificilmente chegaremos à meta de desmatamento zero, que já era desafiadora. “A relação entre o desmatamento, a floresta e o clima é real e nos afeta diariamente. Não podemos perder o trem da história, pois o custo será o futuro de nossa e das próximas gerações”, analisa Nobre.

5. O clima do planeta está esquentando A temperatura média do planeta está aumentando e isso é perigoso! Dados divulgados pela Nasa, agência espacial americana, e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em janeiro deste ano, confirmam que a temperatura do planeta bateu recordes pelo terceiro ano consecutivo. Em 2016, o planeta estava 0,99 grau Celsius mais quente que a média do século XX. Há grande consenso científico de que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 60 anos é devido ao aumento da concentração de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), decorrente da emissão de combustíveis fósseis, do desmatamento, entre outros. Quanto menos áreas naturais tivermos, pior ficará a situação.


6. Quando uma floresta é derrubada, as outras 8. Medidas provisórias deveriam ser usadas regiões também são afetadas

com mais cautela

Além do impacto no regime de chuvas, as florestas também atuam como reguladores do clima, proteção de rios e das espécies que vivem nelas, entre muitos outros fatores. O recente surto de febre amarela que alarmou o Brasil é consequência do desmatamento da Mata Atlântica, por exemplo.

Na hora de mudar ou propor normas, o governo tem três caminhos possíveis: as medidas provisórias (MPs), os decretos e os projetos de lei. Os decretos podem ser feitos apenas pelo presidente, governadores e prefeitos para determinadas leis. Os projetos de lei são a maneira mais tradicional e “certa” de se propor uma mudança, mas também são mais lentas e burocráticas. É aí que surgem as MPs, que devem ser usadas apenas em casos relevantes e urgentes e quem define isso é o presidente da República. Uma medida precisa ser aprovada em no máximo 120 dias e tem força de lei imediata. Usar uma MP para alterar a área de uma unidade de conservação, por exemplo, é uma distorção grave da lei, de acordo com o advogado especializado em causas ambientais, Marcelo Dantas, que é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. “Se as alterações sugeridas na Amazônia são urgentes a ponto de pedir uma medida provisória, certamente elas atendem a interesses específicos e que divergem da opinião da população. Essa manobra foi feita para driblar a burocracia e reduzir a resistência na aprovação”, explica.

7. Pecuária é uma das atividades mais poluentes A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) lançou o relatório Estado das Florestas do Mundo 2016 e concluiu que, no Brasil, mais de 80% do desmatamento está ligado à conversão de terras em terrenos de pasto. Além disso, o relatório analítico do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) do Observatório do Clima mostra que as emissões diretas e indiretas do agronegócio representam dois terços das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.


9. Florestas e áreas de preservação podem gerar emprego e renda

Acreditar que desmatamento e danos ambientais estão ligados ao desenvolvimento é um pensamento, no mínimo, atrasado. Carlos Eduardo Young, economista e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, defende o conceito de economia verde: uma prática que estimula atividades associadas à preservação ambiental, uso eficiente de recursos e inclusão social. “As atividades ‘verdes’ tendem a ser mais intensivas em mão de obra e em produtos manufaturados com maior conteúdo de inovação”, explica.

10. O desmatamento das áreas naturais induz a mais violência no campo

Há no Brasil uma tradição de que, se for estabelecido um uso produtivo da terra, é possível ter direito à sua posse. Nesse ponto de vista, a taxa de desmatamento tende a aumentar e dar a oportunidade para que grileiros reclamem para si o direito à posse; e o resultado: violência. De acordo com o artigo “Direitos de Propriedade,

Desmatamento e Violência: Problemas para o Desenvolvimento da Amazônia”, publicado em 2014, nos municípios onde há mais desmatamento, a taxa de homicídios também é maior. Para o pesquisador Carlos Eduardo Young, que é membro da Rede de Especialistas e um dos autores do artigo, “há inúmeros estudos que apontam como o processo de desmatamento é acompanhado por atos de violência, que vão do conflito entre posseiros e grileiros, até a expulsão dos antigos moradores da floresta. Casos, ainda, que podem resultar em homicídio”, explica.

CARLOS NOBRE, CARLOS EDUARDO YOUNG, FÁBIO OLMOS e MARCELO DANTAS fazem parte da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.



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ECONOMIA VERDE

A Economia Verde é definida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma ou UNEP, em inglês) como “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica”. Ela tem três características principais: baixa emissão de carbono, eficiência no uso de recursos e busca pela inclusão social. A expressão “economia verde” substituiu o conceito de “ecodesenvolvimento” usado pelo canadense Maurice Strong, primeiro diretor-executivo do Pnuma e secretário-geral da Conferência de Estocolmo (1972) e da Rio-92. Com base no Relatório Bruntland de 1987, a partir da Rio-92, a expressão “economia verde” foi aceita oficialmente pela comunidade internacional e popularizada no mundo. Depois da conferência, a expressão foi absorvida por governos, empresas e pela sociedade civil, e empregada na formulação e execução tanto de políticas públicas quanto de iniciativas privadas ligadas à responsabilidade socioambiental. A fórmula para uma economia verde inclui: oferta de empregos, consumo consciente, reciclagem, reutilização de bens, uso de energia limpa e valoração da biodiversidade. Espera-se que seus resultados sejam

a melhoria qualidade de vida para todos, diminuição das desigualdades entre ricos e pobres, conservação da biodiversidade e preservação dos serviços ambientais.

CRÍTICAS A ideia de valorar o meio ambiente através de mecanismos tradicionais de mercado tem críticos severos em ONGs e entre acadêmicos, que consideram a Economia Verde um outro nome para o chamado ambientalismo de mercado. Talvez a principal crítica seja a negação da possibilidade de se atribuir valores monetários a bens naturais, como árvores, fauna, água, ar. Se os bens naturais podem ser valorados em dólares ou reais, então, é possível fazer operações de compensação ambiental em que uma área natural ou recursos naturais destruídos podem ser compensados por outras áreas e recursos. Para os críticos, isso não é razoável, pois seria: impossível comparar com precisão o valor natural de um local com o valor natural de outro, pois cada um deles é único. Um exemplo que serve tanto de aplicação da Economia Verde como para os seus críticos é o caso das Cotas de Reserva Ambiental (CRA), que se baseia no conceito de compensação.


ECONOMIA VERDE

Tramontina lança primeira

cadeira produzida com plástico 100% reciclado

Mais barata e com igual qualidade, três modelos são produzidos através de 600 toneladas de polipropileno reciclado.

Uma parceria entre Tramontina e Braskem está colocando no mercado as primeiras cadeiras feitas de plástico reciclado. A partir da venda de material reciclado pela Braskem, a Tramontina produz a cadeira que também se torna reciclada no chamado ciclo consciente. Esse plástico tem origem nos sacos anteriormente utilizados pela petroquímica no transporte de resinas de uso interno. A matéria prima é reprocessada, transformando-a assim no plástico reciclado da Tramontina. A estimativa inicial é de uso de cerca de 600 toneladas de PP reciclado por ano para produção de três modelos diferentes, nas cores preto e marrom. A escolha foi utilizar a matéria prima na fabricação de duas cadeiras bem aceitas pelo mercado, Diana e Sissi – essa, nas versões com encosto fechado e vazado. Com teste estático, de impacto e de perna traseira, o projeto garante a segurança do produto em processo de alta tecnologia e procedência garantida. A novidade pode ser conferida a partir da segunda quinzena de setembro, nas lojas próprias da marca. Nos pontos de venda, o produto será identificado pelo selo da Plataforma Wecycle, certificando sua origem a partir de plástico reciclado. O preço das cadeiras também altera a partir da nova versão: mais barato se comparado à linha normal. No entanto, qualidade e resistência não sofrem alteração alguma. “Nosso foco é a sustentabilidade, que acompanha a trajetória da Tramontina há 108 anos. Consumidores que optarem pela compra deste produto, poderão ter a certeza não apenas de ganhos para o lar, mas para o meio ambiente como um todo”, afirma Rui Baldasso, diretor comercial da Tramontina. A iniciativa se insere na plataforma Wecycle (criada pela Braskem em 2015), que busca fomentar negócios que valorizem os resíduos plásticos ao longo de toda a cadeia produtiva, contribuindo com ações a favor da reciclagem, do pós-consumo e do meio ambiente.


Economia verde pode gerar milhões de empregos na América Latina A economia verde tem o potencial de gerar milhões de empregos na América Latina e no Caribe e diminuir os custos trabalhistas derivados dos problemas ambientais modernos, como as mudanças climáticas, a sobreexploração de recursos naturais e a poluição dos ecossistemas. A conclusão consta do mais novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado esta semana. O estudo “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2018” indica que os esforços para combater as mudanças climáticas até 2030 gerarão um saldo positivo de 18 milhões de empregos em todo o mundo. A estimativa inclui, por exemplo, aqueles empregos que serão criados nos setores de construção e manufatura para possibilitar a geração de novas fontes de energia e avançar em direção a uma maior eficiência energética.

Forças poderosas

Para o diretor regional da OIT para a América Latina e o Caribe, José Manuel Salazar-Xirinachs, “os desafios colocados pela sustentabilidade ambiental são uma das forças poderosas que estão moldando o futuro do trabalho nesta região, e é por isso que é necessário tomar medidas para maximizar seus benefícios e enfrentar efetivamente suas ameaças.” O estudo do organismo da ONU destaca que nessa região do planeta, com tantos recursos naturais abundantes, áreas costeiras e grande diversidade de ecossistemas, “é indiscutível que o mundo do trabalho está intrinsecamente relacionado com o meio ambiente”. Neste cenário, “os empregos verdes são catalisadores da transição para a sustentabilidade ambiental”. Salazar-Xirinachs alerta que “há oportunidades enormes numa economia verde, mas também um potencial de destruição de postos de trabalho. Por isso, é preciso garantir que os trabalhadores tenham acesso à proteção social, adquiram um conjunto correto de qualificações e que as economias da região tenham a capacidade de fazer a transição entre indústrias tradicionais e indústrias mais verdes.” O diretor enfatizou que “o principal desafio é fazer com que a transição seja justa para todos.” Ele ressalta que “embora haja criação de postos de trabalho, há trabalhadores e comunidades que sairão perdendo”. Por isso, “é muito importante garantir que a região esteja pronta para aproveitar as oportunidades de emprego que surgem e impedir o aumento das desigualdades”.

Economia circular

O especialista da OIT em Econometria do Trabalho, Guillermo Montt, que participou da preparação do relatório, explicou que “na América Latina e no Caribe, pelo menos 1 milhão de empregos serão gerados como resultado do uso de energias renováveis, maior eficiência energética em imóveis e maior demanda por carros elétricos e outras tecnologias de mudança no padrão de consumo para combater as mudanças climáticas.” Os dados coletados no estudo indicam ainda que a região poderia gerar outros 4 milhões de postos de trabalho com o desenvolvimento da chamada “economia circular”. Esse modelo econômico promove a reutilização, a reparação, a reciclagem, a remanufatura e a maior durabilidade de produtos, como uma alternativa ao modelo linear de extração, fabricação, uso e descarte que prevalece nas últimas décadas. Para Montt, “a transição para uma economia verde implica mudanças em quase todos os setores econômicos, incluindo energia, agricultura, transporte, construção, mineração, pesca, etc”. Ele diz que “o progresso em direção a uma economia sustentável mais geral terá um impacto em todos os setores” e as opções que forem tomadas “determinarão se elas trarão empregos e trabalho decente para a região”. A OIT acredita que medidas de mitigação evitarão os efeitos negativos da degradação ambiental no mundo do trabalho.



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RECICLAGEM

DEFINIÇÃO A partir da década de 1970, a produção de embalagens e produtos descartáveis aumentou significativamente, assim como a produção de lixo, principalmente nos países desenvolvidos. Atualmente, muitos governos e ONGs estão cobrando das empresas posturas responsáveis: o crescimento econômico deve estar aliado à preservação do meio ambiente. Atividades como campanhas de coleta seletiva de lixo e reciclagem de alumínio e papel, já são comuns em várias partes do mundo. O processo de reciclagem, além de preservar o meio ambiente também gera riquezas, os materiais mais reciclados são o vidro, o alumínio, o papel e o plástico. Esta reciclagem contribui para a diminuição significativa da poluição do solo, da água e do ar. Muitas indústrias estão reciclando materiais como uma forma de reduzir os custos de produção. Muitos materiais como, por exemplo, o alumínio pode ser reciclado com um nível de reaproveitamento de quase 100%. Derretido, ele retorna para as linhas de produção das indústrias de embalagens, reduzindo os custos para as empresas. Outro benefício da reciclagem é a quantidade de empregos que ela tem gerado nas grandes cidades. Muitos desempregados estão buscando trabalho neste setor e conseguindo renda para manterem suas famílias. Cooperativas de catadores de papel e alumínio já são uma boa alternativa nos centros urbanos do Brasil. Muitas campanhas educativas têm despertado a atenção para o problema do lixo nas grandes cidades. Cada vez mais, os centros urbanos, com grande crescimento populacional, têm encontrado dificuldades em conseguir locais para instalarem depósitos de lixo. Portanto, a reciclagem apresenta-se como uma solução viável economicamente, além de ser ambientalmente correta.

COMO SEPARAR


RECICLAGEM

Reciclagem automotiva Atualmente, o Brasil conta com uma frota 52 milhões de veículos circulando por suas cidades diariamente. Este é o equivalente a um carro para cada quatro habitantes, um número bastante expressivo. Além disso, 52% dos carros em andamento no país têm entre seis e 15 anos de idade e outros 6% têm mais de 20 anos de uso, de acordo com um relatório elaborado pelo Sindipeças, sindicato que reúne as empresas de autopeças no País. Em 2017, a idade média de um automóvel no Brasil era de nove anos e seis meses. Tudo isso revela um problema preocupante: o que fazer com tantos carros envelhecidos? A resposta veio em 2014, com a aprovação da Lei do Desmanche: a reciclagem automotiva. Reutilizar e reciclar partes usadas de automóveis é uma solução vantajosa não apenas para o meio ambiente, mas também para a economia.

Reciclagem automotiva no Brasil e no mundo;

A verdade é que a comercialização de peças usadas não chega a ser uma novidade no Brasil. Porém, também é fato que ela sempre esteve relacionada ao mercado informal e, muitas vezes, abastecida por veículos roubados. No entanto, a lei aprovada pouco antes da Copa do Mundo no Brasil mudou esta realidade. A venda de peças usadas foi regulamentada, tornandose um setor fértil para abertura de novos negócios. Em diversos países, como Estados Unidos e Japão, a prática do reaproveitamento já acontecia há bastante tempo, com nível de reciclagem de mais 80% do total da frota. Isso significa que o veículo é, até hoje, adquirido, usado e posteriormente retirado de circulação para reciclagem. No Brasil, esse processo ainda é baixo, representando apenas 1,5% da frota, segundo avaliação da Sindinesfa (Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço. Entretanto, o mercado conta com muito espaço para investimentos e deve crescer ao longo dos próximos anos.

Como funciona?

A operação de um serviço de reciclagem automotiva requer muito cuidado e atenção. Ela começa com a descontaminação do veículo, onde gases e fluídos são retirados do carro e recebem uma destinação ambientalmente correta. Em seguida, se inicia o processo de desmontagem, quando as peças são separadas, avaliadas e classificadas. As consideradas em perfeito estado ou com pequenas avarias, mas que não comprometem seu funcionamento, recebem um código digital que garante a sua procedência e rastreabilidade para serem direcionadas à venda. As demais, consideradas impróprias para revenda, são encaminhadas para outras empresas que fazem a reciclagem correta do material. Para que tudo corra sem muitos problemas, é necessário escolher as ferramentas perfeitas para cada tipo de serviço. Enquanto o equipamento mais adequado para cortes precisos é a serra sabre, por exemplo, é necessário usar uma retífica para polir e corrigir componentes de metal. Independentemente da ferramenta, a reciclagem automotiva é um processo árduo e trabalhoso, que exige atenção nos mínimos detalhes e, principalmente, em normas de segurança. Por isso, qualquer economia de tempo e preocupação é bem-vinda, como a necessidade de uma bateria para cada tipo de ferramenta. A Dewalt, por exemplo, criou a linha de ferramentas que utiliza uma única bateria e promete facilitar o dia a dia da indústria de reciclagem automotiva.


Apenas 3% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado 30% do lixo produzido no Brasil poderia ser reaproveitado. Número de municípios que implantaram programas de reciclagem aumentou No final do ano passado entrou em vigor o Plano Nacional de Resíduos Sólidos como uma forma de incentivar a reciclagem de todo tipo de lixo. O de casa, das ruas, da indústria e do comércio, mas oito em cada dez municípios brasileiros ainda não tem programa de coleta seletiva e os que têm, poderiam reciclar muito mais do que fazem hoje. Desde domingo (5) supermercados de São Paulo só podem usar sacolinhas feitas de matéria-prima renovável, menos prejudicial ao meio ambiente. Os brasileiros jogam fora 76 milhões de toneladas de lixo – 30% poderiam ser reaproveitados, mas só 3% vão para a reciclagem. Em dez anos, o número de municípios que implantaram programas de reciclagem aumentou de 81 para mais de 900. Mas isso não representa nem 20% das cidades. Curitiba é a capital com melhor programa de reciclagem. Das mais de 1,5 mil toneladas diárias, cento e dez têm potencial pra reciclagem e quase 70% são reaproveitadas. Mas a reciclagem no Brasil ainda está engatinhando. Veja a situação nas três maiores capitais: Em São Paulo, 12,5 mil toneladas de lixo domici-

liar são recolhidas todos os dias - 35% são materiais que poderiam ser reciclados, mas só 3% são reaproveitados. A prefeitura do Rio de Janeiro informou que recolhe cerca de dez mil toneladas de lixo por dia, mas não informou quanto é reciclado. A capital mineira, Belo Horizonte, recolhe 1,8 mil toneladas. Podia reciclar o dobro do que reaproveita. Quem trabalha em programas de reciclagem diz que falta uma integração maior entre o cidadão, as empresas e o poder público, e um programa que atenda a todos os tipos de lixo. “Estou falando de outros resíduos que estão na sua casa e não vão ser reciclados: lâmpada fluorescente, medicamentos, parcela de resíduos que não estou falando que é reciclável, mas precisa ter destino adequado senão vai trazer impacto em questão ambiental e saúde”, diz Roseane Souza, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. “Um pouquinho você vai fazer, o outro vai fazer, todo mundo vai fazendo assim vai ficar uma coisa melhor. Na idade que eu já estou, eu tenho que mostrar para minha neta que ainda tem jeito”, fala a recicladora Célia Fonseca.



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COMPOSTAGEM

A quantidade de lixo produzida e descartada em locais inapropriados, é um dos mais graves problemas ambientais brasileiros. A Abrelpe ( Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ) estima que em 2016, cada brasileiro produziu 377 kg de lixo, resultando em cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos sólido. O estado de São Paulo é o campeão nacional em descarte de lixo. São geradas mais de 56 mil toneladas por dia. Desse total, cerca de 42 mil tem destinação adequada. O restante pode ser encontrado nas esquinas, nas calçadas, nos terrenos baldios, nos rios, em espaços públicos. O descarte em locais impróprios, contamina os lençóis freáticos, causa mau cheiro, atraindo moscas, ratos, baratas e outros insetos e animais, causadores de inúmeras enfermidades.

Resíduos orgânicos

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, em 2015 foram geradas cerca de 32 milhões de toneladas de resíduos orgânicos no Brasil, o que equivale a 88 mil toneladas de lixo diário. Todo este material quando entra em decomposição, seja nos lixões ou aterros sanitários, gera o gás metano, um dos principais causadores do efeito estufa. Parte desse lixo produzido poderia ter destino mais produtivo: a compostagem, que é a reciclagem de resíduos orgânicos para produção natural de fertilizante ecológico, econômico e sustentável. “O processo da compostagem, realizado através de micro-organismos, como fungos e bactérias, degrada a matéria orgânica, resultando em um fertilizante de origem animal ou vegetal, com dois componentes principais: os minerais, contendo os nutrientes essenciais para as plantas; e o húmus, como condicionador e melhorador das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo”, explica o engenheiro agrônomo Valter Casarin, coordenador científico da Nutrientes para a Vida (NPV).

Gases poluentes

Do total de resíduos domésticos produzidos, 30% poderiam ser usados na compostagem. Ou seja, menos lixo nos aterros, menos poluição ambiental e menos emissão de gases poluentes. “A compostagem recicla nutrientes, como: nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Todos eles são assimilidados em maior quantidade (macronutrientes) pelas raízes, além de ferro, zinco, cobre, manganês, boro e outros, absorvidos em quantidades menores (micronutrientes). A composição do composto depende do material de origem. Assim, nem sempre os compostos conseguem fornecer todos os nutrientes que as plantas requerem e, muitas vezes precisam ser combinados com adubos minerais.” Atuando com informações embasadas cientificamente, a NPV informa claramente os diversos tipos de fertilizantes, seja mineral ou orgânico, com o objetivo de nutrir de forma adequada e balanceada as plantas, de forma a proporcionar segurança alimentar e nutricional para os seres humanos.


COMPOSTAGEM

Foto: Ministério do Meio Ambiente

Projeto brasileiro de agricultura urbana é premiado na Alemanha O projeto Revolução dos Baldinhos foi premiado na Alemanha pela organização World Future Council (WFC) como prática agroecológica de excelência. A iniciativa promove a compostagem e o desenvolvimento da agricultura urbana em Florianópolis (SC), A premiação aconteceu em janeiro, durante a Semana Internacional Verde, em Berlim, por atender a critérios de sustentabilidade da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Ao todo, competiam 77 programas de 44 países do Sul global, e foram escolhidos 15 vencedores. O projeto começou em 2008, na comunidade Chico Mendes, na capital catarinense. O objetivo inicial era resolver um problema grave de contaminação pelo manejo incorreto do lixo, que chegou a causar infestação de ratos e a morte de pessoas por doenças. Sensibilizar as famílias sobre a reciclagem das sobras de comida e sobre como transformá-las em composto orgânico foi o primei-

ro passo. A ideia era usar o plantio como ferramenta de promoção da saúde e da alimentação saudável. A iniciativa criou um sistema para recolher os resíduos orgânicos nas casas, escolas e creches e entregar adubo resultante da compostagem, que os moradores utilizam em suas hortas e pequenas plantações orgânicas. O lixo que sobra nas residências e instituições vai para a coleta pública, sem estar misturado com restos de comida. O material separado para descarte fica seco, sem mau cheiro e sem sujar a rua, além de ser facilmente manuseável. Ao separar o lixo, a comunidade faz a triagem dos resíduos, encaminhando aquilo que pode ser reaproveitado para a reciclagem. Desenvolvida com o apoio do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), a iniciativa já havia sido reconhecida no ano passado pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat).

Em 2011, a Revolução dos Baldinhos ganhou o prêmio nacional Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Dois anos depois, foi vencedora na mesma premiação, desta vez na categoria Instituições de Ensino, Pesquisa e Universidades. Cintia Aldaci Cruz é a coordenadora do projeto em Santa Catarina e diz que o trabalho do grupo pode ser reconhecido como uma política pública junto à comunidade. “Sabemos que estamos no caminho certo. Somos uma tecnologia social certificada pela Fundação BB e esperamos que este prêmio internacional também possa abrir portas para nosso trabalho”, avalia. A Revolução dos Baldinhos também é uma das cinco iniciativas escolhidas para ser implementada no Projeto Moradia Urbana com Tecnologia Social (MUTS), criado para mobilizar moradores de conjuntos residenciais financiados pelo Banco do Brasil.


Compostagem é alternativa para transformar lixo orgânico Com 1,8 milhão de habitantes, segundo a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) para 2015, Curitiba produz 41 mil toneladas de lixo orgânico por mês. De acordo com a prefeitura, é 1,64 mil tonelada diária de resíduo, nos 25 dias de coleta. A destinação do lixo é um problema enfrentado pelas cidades. Técnicas que contribuam na redução de resíduos podem ser alternativas para o combate desta adversidade da sociedade atual, que mais gasta, mais consome e, consequentemente, mais gera lixo. A compostagem e a vermicompostagem – feita com minhocas – são exemplos de que é possível transformar o lixo orgânico em algo positivo, como o adubo. Elas inclusive podem ser feitas em casa. O engenheiro agrônomo Rodolfo Brasil Queiroz, responsável pela Unidade de Agricultura Urbana da Prefeitura de Curitiba, explica que as duas técnicas são importantes na conscientização ambiental para a correta destinação de resíduos. “É geração de adubo, que vai fazer melhorar a fertilidade do solo. É uma tendência as pessoas terem hortas em casa, em lugares alternativos ou vasos de plantas ornamentais”, diz A compostagem é um processo biológico de transformação da matéria orgânica, por meio da ação de microrganismos em um composto fertilizante natural, semelhante ao solo. Restos de comida e re-

síduos verdes do jardim, horta ou quintal são matérias orgânicas que podem ser convertidas em adubo. “Reduzindo o lixo orgânico, vai evitar que os resíduos sejam levados aos aterros sanitários, aproveitando melhor o espaço do aterro. A compostagem não é uma solução única, mas seria parte dela”, afirma Queiroz. Entre as vantagens da compostagem, estão a melhora da fertilidade e da textura do solo e o aumento da capacidade de absorção de água. Ela também ajuda a evitar doenças nas plantas.

Composteiras

Para quem mora em apartamento, o engenheiro agrônomo indica a vermicompostagem, com o uso de composteiras plásticas que podem ser encontradas à venda em casas agropecuárias ou de embalagens. “É um processo mais limpo. A composteira vem pronta para isso, tem o compartimento para a retirada do chorume. É também mais adequada pela quantidade de adubo que vai ser produzido”, explica. Ainda não existe um projeto que organize a destinação deste adubo, para quem não tem onde colocá-lo, como moradores de apartamentos, por exemplo. Uma alternativa seria a doação do adubo para as hortas comunitárias ou aquelas plantadas em espaços alternativos. O adubo também pode ser aproveitado nos jardins de prédios e casas.

Curitiba tem 20 hortas comunitárias que estão aprendendo a fazer compostagem para transformar o lixo orgânico em adubo (Foto: Rodolfo Brasil Queiroz / Arquivo Pessoal)



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