Editorial Olá queridos leitores!
Reitor IFSULDEMINAS Prof. Marcelo Bregagnoli Diretor geral Câmpus Passos Prof. João paulo de Toledo Gomes Coordenador do curso Técnico em Comunicação Visual Prof. Kelly Cristina D`Angelo
Meu nome é Ana Carolina (19), estudante do curso de Comunicação Visual integrado ao Ensino Médio, do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais - Campus Passos. Nesta primeira edição da revista sabor mineiro, eu trago à vocês os principais pratos pertencentes à culinária mineira. Muitos conhecem os diversos pratos da tradição mineira, mas não conhecem sua origem, e foi pensando nisso que decidi trazer as histórias dessas maravilhas de Minas Gerais. Foi um enorme prazer poder realizar algo que faz parte da cultura de muitos brasileiros. Foi feito com muito carinho, espero que gostem. Um grande abraço!
Edição, Redação, Projeto Gráfico e Montagem Ana Carolina Revisão Ana Carolina Contato (35) 992001925 acot22092000@gmail.com Apoio e Orientação Projeto Editorial: Profa Heliza Faria
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05 06 07 A história da culinária mineira
Pratos Salgados
Pão de queijo
08 09 11 Feijão Tropeiro
Vaca Atolada
14
Tutu de Feijão
15 16 Pamonha
Pratos Doces
17 Doce de Leite
Romeu e Julieta
19 Curiosidades
SABOR MINEIRO
Pratos salgados
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SABOR MINEIRO
A história da culinária mineira
Apreciada por suas cores, sabores e
ros tiveram que utilizar a imaginação
tos extremamente saborosos. Essas
aromas marcantes, a comida mineira
para criar pratos com os alimentos
são as características da culinária
é resultado do encontro de diferen-
disponíveis ali, no quintal de casa.
de raiz, que tem sofrido influências
tes povos que ocuparam seu territó-
A culinária mineira tem, portan-
e mudanças com a modernidade e
rio na época do ciclo do ouro, vindos
to, origem nas coisas simples, que
necessidade de produzir em larga
especialmente de Portugal –coloni-
podiam ser conseguidas mais facil-
escala. Na tentativa de preservar ao
zadores da região - e África – que
mente, como a mandioca, feijão,
máximo a tradição, algumas receitas
enviou um número elevado de escra-
milho, verduras, frango e porco.
foram registradas como “patrimô-
vos para trabalhar nas minas, além
Um exemplo é o angu mineiro, um
nio cultural” de Minas Gerais para
da influência dos nativos indígenas.
prato que leva apenas fubá e água,
evitar futuras descaracterizações.
A exploração do ouro provocava in-
consumido muitas vezes com couve
flação na economia local e gêneros
refogada e linguiça de porco frita.
alimentícios eram caros e difíceis
Mesmo com toda essa simplicida-
de serem obtidos. Assim, os minei-
de a gastronomia mineira traz pra-
06
SABOR MINEIRO
Pão de queijo Pão de queijo é uma receita tí-
bem semelhante, a Chipa que possui
pica brasileira, do estado de Mi-
formato de “U”. No Equador, existe
nas Gerais. A sua origem é in-
o “pan de yuca”, que tem o mes-
certa, especula-se que a receita
mo formato do nosso pão de queijo
exista desde o século XVIII, mas
brasileiro, lá é tradição comer o pan
tornou-se efetivamente popular no
de yuca acompanhado de iogurte.
Brasil a partir da década de 1950.
Outros países da Ásia, Europa e
Alguns países da América Latina
America do Norte não possuem a
possuem pães com receitas seme-
tradição do pão de quejo, mas al-
lhantes à do pão de queijo mineiro,
gumas empresas do Brasil já es-
na Colômbia o produto é chamado
tão exportando a receita brasileira.
de pan de Bono que tem um forma-
Bem, agora que você já aprendeu um
to achatado. O Paraguai e Argentina
pouco mais sobre o Pão de Queijo, que
também possuem um pão com receita
tal comer um e tomar um cafezinho?
07
SABOR MINEIRO
Vaca atolada O nome Vaca Atolada é curioso e
sustento da trupe durante as via-
eles de Rodrigo Oliveira, chef do
tem várias explicações populares.
gens. Era comum nessas jornadas
premiadíssimo restaurante Mocotó,
A mais comum conta que o prato
enfrentar temporadas de chuva e o
de São Paulo, e de Heloísa Bacellar,
teria surgido na época dos bandei-
gado encalhar. Quando isso acon-
do empório Lá da Venda, que dá a
rantes, por volta do século XVII,
tecia, era o momento de fazer uma
dica: “a carne é o ingrediente princi-
quando os tropeiros começaram as
pausa e comer uma boa refeição.
pal desse prato e deve-se, portanto,
expedições em busca de ouro em
Histórias à parte, os tempos são
prestar atenção na escolha. O corte
Minas Gerais. Para a aventura, car-
outros e o modo de preparo, logi-
precisa ter gordura, mas na hora de
regavam num embornal uma carne
camente, mudou. A Academia da
escolher, eleja uma peça bem bo-
imersa em gordura, processo que
Carne Friboi traz opções de receitas
nita, com um bom equilíbrio entre
preservava o alimento e garantia o
assinadas por diversos chefs, entre
carne e gordura”, explica a chef.
É uma iguaria da cozinha minei-
a comida quente, à base de coste-
a carne, até o ponto de desfiá-la”
ra, de sabor rico e delicioso, como
la de gado e aipim (aipim no Sul e
Era
toda a cozinha mineira, indicado
Sudeste; mandioca e macaxeira, no
das
para qualquer dia do ano (quente
Centro-Oeste e Nordeste), que fi-
de chuva e o gado encalhar.
ou frio, uai). Vai com arroz e couve
cou com o nome de “Vaca Atolada”.
A mais comum conta que o prato teria
à mineira, precedidos de uma boa
“Cabe adicionar que, quando a vaca
surgido na época dos bandeirantes,
cachaça. Na história, os tropeiros,
atolava, era necessário algum tempo
por volta do século XVII, quando os
em época de chuva, não se desloca-
para conseguir retirá-la do solo ala-
tropeiros começaram as expedições
vam, pois o gado ficava atolado. En-
gado. Isso dava tempo hábil para que
em busca de ouro em Minas Gerais.
tão tinham mais tempo para preparar
o cozinheiro da tropa cozinhasse bem
08
comum enfrentar
nessas
jorna-
temporadas
SABOR MINEIRO
Feijão tropeiro
Conhecido em todo o país, o feijão
tações e otimizações até chegar à
ciedade, alimento de baixo cus-
tropeiro é um prato típico de culi-
clássica queridinha dos brasileiros.
to e cheio de nutrientes também
nárias regionais, mais especifica-
Além de toda a tradição que esse
são características que tornam
mente da cozinha mineira, paulista
prato carrega, é importante ressal-
o feijão ainda mais especial.
e goiana. Composto por feijão, fari-
tar todos os benefícios que o ingre-
nha de mandioca, torresmo, lingui-
diente principal da receita já trazia
ça, ovos, alho, cebola e e temperos,
aos tropeiros e traz até hoje a nós.
é uma receita de dar água na boca!
Sabor e saúde
Seu nome também carrega parte da sua história. Os tropeiros eram tra-
O feijão é uma fonte de benefícios
balhadores que guiavam animais que
que nem todo mundo conhece. Ou
transportavam mercadorias duran-
você achou que ele só era supersa-
te o período colonial. Sua alimen-
boroso? Que nada! Esse alimento
tação era composta, basicamente,
é um grande aliado para manter a
por toucinho, feijão, farinha, pi-
saúde do seu coração e, além de ser
menta-do-reino, café, fubá e coité.
uma ótima fonte de proteína e conter
Com o passar do tempo e por causa
pouca gordura, ele também é capaz
do consumo frequente desse car-
de equilibrar o açúcar no sangue.
dápio, foi criado o feijão tropeiro.
Redução do risco de câncer, bom
Claro, a receita passou por adap-
desempenho
do
intestino,
sa-
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SABOR MINEIRO
10
SABOR MINEIRO
Tutu de feijão O tutu de feijão, é uma iguaria típi-
mente quando feito com feijão pre-
quela época, em consonância prin-
ca da culinária brasileira feita com
to, e também no estado do Paraná.
cipalmente com a rápida imigração,
feijão cozido, refogado e engros-
A palavra “tutu” se originou
as cidades ficaram superlotadas e a
sado com farinha de mandioca ou
do
kitutu.
falta de alimentos passou a ocorrer
de milho. Ele costuma ser refogado
“Ungui” se originou provavel-
com frequência. Em virtude da es-
com pedaços de bacon frito, cebo-
mente de um idioma africano.
cassez, as negras cozinheiras tinham
la e alho, e misturado com farinha
O prato pode ter sua origem no estado
que usar pouco sal (ingrediente caro
de mandioca se for preto ou farinha
de São Paulo, onde faz parte do prato
naquela época) e criar pratos feitos
de milho se for mulatinho. O feijão
conhecido como virado à paulista,
à base de componentes como feijão
poderá ser passado no liquidifica-
servido nos botecos e restaurantes
preto, milho, mandioca, frutas, raí-
dor antes de ser refogado, e então
da capital paulista às segundas-fei-
zes e folhas de todos os tipos. Assim,
ficará com a consistência do angu
ras. Foi no século XVI, com a chega-
a cozinha mineira se fez da simpli-
de fubá. É normalmente associado
da ao Brasil dos portugueses atraídos
cidade, sem grandes requintes, mas
à culinária típica de Minas Gerais e
pela riqueza de ouro e diamante, que
com um ingrediente importante: a
São Paulo. Mas também pode ser en-
as misturas de cultura aconteceram
criatividade. O tutu de feijão acom-
contrado nas cidades interioranas do
com mais intensidade, dando origem
panha as rotas dos antigos tropeiros.
estado do Rio de Janeiro, principal-
a pratos muito conhecidos hoje. Na-
termo
quimbundo
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SABOR MINEIRO
Pratos doces
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SABOR MINEIRO
Pamonha
Dizem que a pamonha foi trazida pe-
Além de original a embalagem cha-
Será que temos miscigenação até
los escravos africanos. Entretanto,
ma a atenção pela beleza. Acre-
na nossa culinária? Dificilmente
outras fontes afirmam ser de origem
dito que a origem da canjica tam-
diria que não, pois apesar de virem
tupiniquim (Quem tiver certeza, por
bém tenha vindo com os índios
de fora, podemos dizer que o tem-
favor, comente) e este prato deli-
daqui do país, assim como o cuz-
pero é nosso. Este prato que pre-
cioso da culinária junina leva milho
cuz e outras receitas de milho.
enche as nossas mesas de delícias
ralado com leite e açúcar, formando
Saboreiam o que chamam de típi-
nesta época tão especial do ano.
um caldo grosso. Como nada se per-
ca pamonha, cujo milho domesti-
de, tudo se transforma, a pamonha é
cado no México e irradiado para a
servida na própria palha do milho de
Cordilheira dos Andes já fazia com
que é feita, em forma de saquinho.
que os índios andinos conhecessem a pamonha há mais de 5 mil anos.
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SABOR MINEIRO
Romeu e Julieta Há comidas que, separadas, são uma delícia. Juntas, porém, atingem um grau de perfeição que as torna ideal uma para a outra. Arroz e feijão, café com leite, lombo com abacaxi e, claro, a famosa goiabada com queijo! Não à toa, essa iguaria é conhecida como Romeu e Julieta. Pelo fato de um ser doce e o outro salgado, pareciam impossíveis de combinar. Entretanto, como na famosa história de amor de William Shakespeare, foram feitos um para o outro.
almente, o queijo minas é o maior
nos fartos cafés da tarde tomados em
Mas você já se perguntou como
produto da gastronomia do estado,
terras mineiras no período colonial,
surgiu essa combinação? Vamos
tendo ganhado o título de Patrimô-
quando havia muitos ingredientes à
saber um pouco mais sobre essa
nio Cultural Imaterial Brasileiro.
mesa. Assim, era possível combinar
deliciosa e tradicional sobremesa.
Já a goiabada, que era produzida para
esses ingredientes aparentemente
conservar a fruta em forma de doce
distantes, dando origem à delicio-
desde os tempos romanos, surgiu no
sa iguaria. Ainda assim, aponta-se
No Brasil, tanto a produção do
Brasil para substituir o marmelo na
também que ela tenha influência de
queijo quanto da goiabada está li-
fabricação da marmelada, sobremesa
um país europeu. E não, não esta-
gada aos colonos portugueses.
típica de Portugal. Assim como esta
mos falando de Portugal, e sim da…
Assim que eles se instalaram em Mi-
última, a goiabada também tem con-
Bulgária! Quem diria, não é mesmo?
nas Gerais, começou uma tentativa
sistência firme e leva água e açúcar.
Fato é que o Romeu e Julieta tornou-
de produzir o queijo tradicional de
Goiabada com queijo: casamento feliz
se um clássico da culinária mineira,
mum em Portugal, os colonos fize-
Não se sabe exatamente como a com-
pecial na cidade de Barão de Cocais.
ram uso do leite de vaca, originando
binação da goiabada com queijo sur-
assim o famoso queijo minas. Atu-
giu, mas acredita-se que tenha sido
Histórias cruzadas
seu país de origem. No entanto, em vez de leite de ovelha, como era co-
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podendo ser experimentado nas cidades do roteiro entre Serras, em es-
SABOR MINEIRO
Doce de leite A origem do doce de leite é incerta,
pular e lendário que data a sua in-
sas, quem não ficou chateado com
mas está ligada à rápida expansão
venção em 1829. Nessa época estava
Lavalle e pediu à criada o chá com
na produção de sacarose de cana de
prestes a assinar um tratado de paz
leite. Esta lembrou nesse momen-
açúcar nas ilhas ibéricas atlânticas,
entre o governador Juan Manuel de
to que tinha abandonado o leite
no século XV, e no Brasil, América
Rosas e o seu inimigo político Juan
com açúcar ao fogo, deixando es-
Central e Antilhas a partir do sécu-
Lavalle numa fazenda do governador
quentar durante muito tempo. Ao
lo XVI e à possibilidade de seu uso
na localidade de Cañuelas, na perife-
regressar, a criada encontrou uma
para preservação do leite. Como
ria de Buenos Aires. Lavalle foi o pri-
substância espessa e amarronzada.
primeiro edulcorante de produção
meiro a chegar e, cansado, deitou-se
Seu sabor agradou Rosas e contam
em grande escala, o açúcar da cana
na cama de Rosas, ficando dormido.
que compartilhou o doce com La-
passa a ser usado na conservação
A criada de Rosas, enquanto fervia o
valle enquanto discutiam os pon-
de vários produtos orgânicos, in-
leite com açúcar (preparação conhe-
tos do tratado, dando assim origem
clusive o leite de vaca ou de cabra,
cida nessa época como ‘lechada’)
acidental ao doce de leite. É uma
dando origem a produtos similares
para acompanhar o chá da tarde, en-
historia simpática, mas não há ne-
ao doce de leite atual, pastoso ou só-
controu-se com Lavalle dormindo na
nhuma fonte que comprove isso.
lido, em toda a América Latina e em
cama do patrão. Ela considerou uma
determinadas localidades ibéricas.
insolência e foi avisar os guardas.
Na Argentina existe um relato po-
Pouco tempo mais tarde chegou Ro-
Variações regionias
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SABOR MINEIRO No Brasil, o doce é produzido em
nas de baunilha e de Fudge Ripple.
escala industrial por todas as em-
Na França, a confiture de lait é tam-
presas beneficiadoras de laticínios. A
bém muito popular, especialmente
produção artesanal é comercializada
na região Normandia. Pode ser aro-
por pequenas marcas (principalmen-
matizada com avelinas ou chocolate.
te no estado de Minas Gerais). Na Argentina, as marcas mais populares são La Serenísima e Gándara. Já na Venezuela, o doce é tradicionalmente feito na cidade de Coro, onde é vendido puro ou com chocolate (dulce de leche con chocolate). No Uruguay, pais produtor de excelentes laticínios, as marcas tradicionais são o Conaprole, La Pataia, Los Nietitos, Ricoleso, Majar, Claldy, entre outros. No México, ele é chamado de cajeta por associação às pequenas caixas de madeira nas quais o doce é vendido. Nesse país, o doce é feito com metade de leite de vaca e metade de leite de cabra. Recentemente, o doce de leite ganhou popularidade nos EUA, graças ao lançamento de um sorvete de doce de leite pela empresa HaagenDazs em 1997. É o terceiro sabor mais vendido pela empresa, atrás apenas de baunilha e de Fudge Ripple. Na França, a confiture de lait é também muito popular, especialmente na região Normandia. Pode ser aromatizada com avelinas ou chocolate.
Produção Dazs em 1997. É o terceiro sabor mais vendido pela empresa, atrás ape-
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SABOR MINEIRO
Curiosidades COME-QUIETO: A fama de “come-quieto”, preciosista e desconfiado que o mineiro carrega vem lá do século XVIII com a descoberta do ouro em suas terras, forçando o estado a receber brasileiros de todos os cantos do país e, obviamente, muitos colonizadores fascinados pelas pedras preciosas. COLCHA DE RETALHOS: Juntando um cadinho aqui, outro acolá, costurando um pedacinho de cada, a clássica e extensa colcha de retalhos exemplifica a Minas Gerais que abrigou diversos povos: os bandeirantes paulistas descobriram as riquezas; do porto carioca, vinham os escravos africanos; do nordeste, o gado e produtos agrícolas; do norte, mais trabalhadores atraídos pelas minas;
FEIJÃO-TROPEIRO: Nos momentos mais difícies, o angu, o quiabo, ou o feijão com farinha e carne eram pratos cheios para os viajantes que precisavam se alimentar adequadamente para conseguir transpor os obstáculos do difícil acesso às regiões montanhosas do estado. Eles levavam as mercadorias em tropas a cavalo e eram chamados de tropeiros. Nasce então, o feijão-tropeiro, com torresmo, linguíça, ovos, alho, cebola e temperos, como uma homenagem a esses comerciantes essenciais do século XVIII.
TODOS OS GOSTOS: Cada povo que se estabeleceu no período de extração aurífera foi responsável por trazer uma iguaria diferente contribuindo para a invenção de uma culinária democrática e recheada de influências e apreciadores.
SIMPLICIDADE E TRADIÇÃO: Na ausência da energia elétrica, a cozinha era o centro social das casas com o fogão a lenha – muitas vezes comandado por escravas – clareando o ambiente à noite e aquecendo os encontros em torno da grande mesa de madeira rústica que exibia potes cheios de doces típicos deliciosos.
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