Diário de Leitura

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Benefícios da

Leitura para o cérebro e para a vida Ler é ótimo para

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ara presiden� te da Câmara Brasileira do Livro falta de leitura favore� ce notícias fal� sas Essas notícias

que lemos no WhatsApp muitas vezes não têm autoria, não têm fonte confiável. Não é apenas ler, mas saber o que está lendo.

os estudos – a sua inteligência agradece, e a aprovação no vestibular também

C

lubes de lei� tura reúnem apaixonados por livros em Vitória

Além de estimularem a leitura, grupos mostram que compartilhar ideias criam redes de amizade e conhecimento para além das reuniões.

entrevista com

MARKUS ZUSAK Autor do Best Seller “A Menina que Roubava Livros”


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Benefícios que a leitura traz para o cérebro e para a Vida

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08 Entrevista com Markus Suzak

Infográfico

12 Entrevista com Roger Chartier

16 Tem lido pouco

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Luis A. Torelli: Falta de leitura favorece noticias falsas


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Sou Brenda Silva aluna do 3° ano do ensino médio integrado ao Técnico de Comunicação Visual, produzi esta revista baseados nas aulas da Professora Heliza e Cleiton. Kuntei o design, projeto Editorial pelo meu amor por Livros. Convido-lhes a ler esta revista para expandir seu conhecimento no universo Literario.

Galeria clubes do Livro

Esta publicação é parte integrante do Projeto Integrador do 3º ano do curso Técnico em Comunicação Visual integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas - Campus Passos. Reitor IFSULDEMINAS: Prof. Marcelo Bregagnoli Diretor geral Câmpus Passos: Prof. João Paulo de Toledo Gomes Coordenador do curso Técnico em Comunicação Visual: Prof. Tiago Severino

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5 mitos e verdades sobre o hábito de leitura no Brasil

Edição, Redação, Projeto Gráfico e Montagem: Brenda Silva Revisão: Brenda Silva Produção de Imagens (fotografia/ilustração):Brenda Silva Produção de Imagem da Capa: Brenda SilvaContato: (35) 998115761 silvabrenda072@gmail.com Apoio e Orientação: Heliza Faria, Cleiton Hipolito Projeto Editorial: Profa Heliza Faria Identidade Visual: Prof. Cleiton Hipólito Ética e Legislação: Prof. Tiago Severino



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Benefícios que a leitura traz para o cérebro e para a Vida

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Ler faz bem! Todo mundo já ouviu ou disse essa frase, provavelmente mais de uma vez. Se você ainda não tem esse hábito, comece já! Não é difícil aprender a gostar de ler, e você só tem a ganhar com isso. A ciência explica como um costume simples pode melhorar seu cérebro e também a sua vida. Continue lendo para saber como.

Melhora o funcionamento do cérebro São inúmeras as pesquisas que comprovam que ler aumenta as conexões neurais, fazendo com que o cérebro funcione melhor. É como fazer ginástica, só que para a cabeça! Além disso, uma pesquisa da Universidade Emory, dos EUA, descobriram que ler afeta nosso cérebro como se realmente tivéssemos vivenciado os eventos sobre o qual estamos lendo.

02 Estimula a criatividade

Você fica mais inteligente quando lê muito, e também melhora a escrita e seu vocabulário. Disso você já sabe. Outra habilidade que se desenvolve mais é a da criatividade: quando lemos um livro em estilo romance, por exemplo, a capacidade de imaginar o cenário em que a ação se desenvolve, além da imagem física dos personagens, leva a criar um outro mundo dentro de nossas cabeças.

03 Incita o senso crítico

Por que o mundo é como é? Por que você pensa como pensa? Perguntas do tipo são comuns quando você começa a questionar a vida e a sociedade, ou seja, quando começa a desenvolver seu senso crítico. O mais incrível da literatura é que, nos introduzindo a realidades e épocas diferentes, ela acaba suscitando reflexões que talvez não teríamos se ficássemos sempre presos ao nosso cotidiano e à nossa rotina fixa. Ler abre a mente, e isso pode te tornar uma pessoa melhor. Provavelmente, também por causa do próximo – e último – item

04 Provoca empatia

Empatia é uma capacidade bastante em falta no mundo, e consiste basicamente em compreender e se solidarizar, emocionalmente, com um outro alguém. E um estudo publicado na revista Psychology Today provou que a leitura tem esse exato efeito: aumentar nossa capacidade de sentir empatia. A razão é um pouco óbvia: quando estamos lendo, nos conectamos com a realidade de outro alguém (mesmo que seja fictício) e podemos entender o que é ser aquela outra pessoa. Literalmente, sabemos o que é estar no lugar dela e que tipo de sentimentos essa pessoa têm, talvez tão diferente de nós mesmos.

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Como funciona o Club

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be do Livro INTRINSECOS

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entrevista com

MARKUS ZUSAK

Por: Angela Carstensen Angela Carstensen – Como você se sentiu quando soube que tinha ganhado o prêmio Margaret A. Edwards?

Markus Zusak – Receber o prêmio foi bizarro. É bem característico de um australiano como eu sofrer um baque desses, dizer “que bom” e simplesmente seguir em frente. Foi uma imensa honra, mas eu cresci sendo ensinado a não me vangloriar. Comecei a escrever ainda jovem e tive a oportunidade de crescer como escritor. Meu jeito de encarar tudo isso é tentando sempre melhorar. É o que um escritor faz para se manter relevante. AC – A luta é um tema comum em seus livros. De onde vem isso? MZ – Vou ser bem sincero: não faço a menor ideia. Outra coisa recorrente em meus livros é a corrida. Nunca me meti em uma briga de verdade e não gosto de correr. Acho que isso vem de duas áreas: se você é um escritor, pode escrever sobre algo que gostaria de fazer na vida real. É uma das coisas que mais me encantam. Há um fluxo de ideias no inconsciente quando se escreve. A corrida e a luta também estão presentes no meu novo livro. Meu irmão e eu somos parecidos em diversos aspectos – na voz, na aparência –, mas claramente diferentes em outros. Um deles é que, em matéria de esportes, meu irmão consegue fazer qualquer coisa. Então ele nunca teve que se esforçar, enquanto eu sempre precisei correr atrás para conseguir algum resultado. Normalmente isso funcionava para mim, e eu tinha o maior 08

apreço pelas minhas conquistas. No começo, eu não escrevia bem. Muitas pessoas abominam o boxe, e concordo com elas, mas admiro homens e mulheres que conseguem subir em um ringue, onde não há como se esconder. Assisti ao vivo a pouquíssimas lutas de boxe, e acho que são diferentes de tudo. Não fui lá para ver sangue, mas para ver a coragem de alguém capaz de se levantar e continuar lutando. E pelo respeito que costuma estar presente ao fim do combate. É diferente de qualquer outro esporte. É possível sentir a intensidade – não é uma sensação bonita, mas há algo totalmente real ali. Todos são livres para discordar de mim. Certa vez, uma professora me escreveu decepcionada com a violência em Eu sou o mensageiro. Ela dizia que os leitores eram jovens e que eu dizia a eles que resolvessem seus problemas através da violência. Respondi a ela pedindo desculpas por tê-la desapontado e expliquei as razões das escolhas que fiz. Acredito que o papel de um escritor seja procurar a realidade e sacudi-la. Há violência em todos nós, e beleza e força e fraqueza. Qual é meu dever? Escrever apenas sobre a beleza e a força, ou escrever sobre tudo o que existe? Essa é a minha maior responsabilidade, escrever sobre como vejo as coisas e como são de fato. Então a luta funciona em diferentes níveis: há o aspecto físico, mas também o esforço e a batalha para se levar uma vida digna. Meus personagens brigam consigo mesmos e com o que há ao redor. Eu também luto enquanto escrevo, para produ-

zir a melhor história que puder. AC – Na sua opinião, por que os jovens estão dispostos a encarar um romance tão complexo e longo quanto A menina que roubava livros? MZ – Nós subestimamos demais os adolescentes. Notamos apenas as coisas mais banais e corriqueiras, como o que vestem, por exemplo. Mas então escutamos histórias sobre um bebê que caiu no trilho de um trem, e normalmente é um adolescente quem o salvou e foi embora porque não queria receber nenhum crédito. Reconheço isso porque escrevo livros para ado-


lescentes – eles basicamente sentem com mais intensidade que os adultos. Eles desejam coisas com mais vontade do que se imagina. Eles querem coisas com uma profundidade maior do que se imagina. Adolescentes têm muita força de espírito, algo que os adultos esqueceram que possuem dentro de si. Quando eu era adolescente, adorava personagens, e são eles que fazem um grande livro. Você pode ter uma trama sensacional, mas se não tiver bons personagens… Eu sabia que precisava amar os personagens de A menina que roubava livros. E amei. Há um tipo de magia no ar que faz algo dar certo, que atrai a atenção das pessoas. Eu me considero um cara de sorte por existirem adolescentes por aí que leram meu livro.

AC – No que você está trabalhando agora? Pode nos contar qual foi sua inspiração para o próximo livro? MZ – Nunca me preocupei em manter segredos. Escrever é meu trabalho. O do meu irmão é pintar casas. De certa maneira, o trabalho dele é diferente. Ele acorda de manhã e sabe que consegue pintar uma casa. Enquanto eu muitas vezes penso que preciso ter muita crença em mim mesmo para terminar um livro. O trabalho é o mesmo. Não me vejo como um artista delicado que precisa se manter reservado. Sinto-me como um prestador de serviços como meu irmão. Eu apenas vou lá e faço o meu trabalho. Meu novo livro, Bridge of Clay, é sobre ambição e sobre aqueles momentos em que transcendemos nossas limitações humanas. É sobre um

menino construindo uma ponte – ele está moldando sua vida nessa ponte. Ele quer que ela seja perfeita. O nome dele é Clay. O barro [clay em inglês] pode ter qualquer forma, mas precisa do calor do fogo para se solidificar. O rio inunda, mas quando retorna ao seu leito, o sol se levanta e o fogo se estabelece. O barro e Clay se consolidam nesse momento. Esse é o fim que sempre tive em mente. Então percebi: não é assim. Está um pouco além disso. E aí mora a arte. Só é necessário observar por tempo suficiente. O romance também é sobre família, e sobre o que aconteceu com Clay no passado. Provavelmente é também baseado no modo como quero transcender algo quando estou escrevendo. Você espera que, ao fazer cada pedacinho da maneira certa, vai conseguir fazer aquilo tudo acontecer.


Clubes Clubes de de leitura leitura em em vitoria vitoria

Foto: Marcelo Prest 10


Foto: Marcelo Prest

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entrevista com : Por: Amanda Cieglinski Repórter da Agência Brasil

Um dos maiores especialistas em leitura do mundo, o francês Roger Chartier destaca que o hábito de ler está muito além dos livros impressos e defende que os governos têm papel importante na promoção de uma sociedade mais leitora. O historiador esteve no Brasil para participar do 2º Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, realizado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Em entrevista à Agência Brasil, o professor e historiador avaliou que os meios digitais ampliam as possibilidades de leitura, mas ressaltou que parte da sociedade ainda está excluída dessa realidade. “O analfabetismo pode ser o radical, o funcional ou o digital”, disse. Uma pesquisa divulgada recentemente indicou que o brasileiro lê em média quatro livros por ano (a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada pelo Instituto Pró-Livro em abril). Podemos considerar essa quantidade grande ou pequena em relação a outros países? Roger Chartier: Em primeiro lugar, me parece que o ato de ler não se trata necessariamente de ler livros. Essas pesquisas que peguntam às pessoas se elas leem livros estão sempre ignorando que a leitura é muito mais do que ler livros. Basta ver em todos os comportamentos da sociedade que a leitura é uma prática fundamental e disseminada. Isso inclui a leitura dos livros, mas muita gente diz que não lê livros e de fato está lendo objetos impressos que poderiam ser considerados [jornais, revistas, revistas em quadrinhos, entre outras publicações]. Não 12

devemos ser pessimistas, o que se deve pensar é que a prática da leitura é mais frequente, importante e necessária do que poderia indicar uma pesquisa sobre o número de livros lidos. Hoje a leitura está em diferentes plataformas? Chartier: Absolutamente, quando há a entrada no mundo digital abre-se uma possibilidade de leitura mais importante que antes. Não posso comparar imediatamente, mas nos últimos anos houve um recuo do número de livros lidos, mas não necessariamente porque as pessoas estão lendo pouco. É mais uma transformação das práticas culturais. É gente que tinha o costume de comprar e ler muitos livros e agora talvez gaste o mesmo dinheiro com outras formas de diversão. A mesma pesquisa que trouxe a média de livro lidos pelos brasileiros aponta que a população prefere outras atividade à leitura, como ver televisão ou acessar a internet. Chartier: Isso não seria próprio do brasileiro. Penso que em qualquer sociedade do mundo [a pesquisa] teria o mesmo resultado. Talvez com porcentagens diferentes. Uma pesquisa francesa do Ministério da Cultura mostrou que houve uma redistribuição dos gastos culturais para o teatro, o turismo, a viagem e o próprio meio digital. Na sua avaliação, essa evolução tecnológica da leitura do impresso para os meios digitais tem o papel de ampliar ou reduzir o número de leitores?

O historiador francês Roger Chartier (no Chartier: Representa uma possibilidade de leitura mais forte do que antes. Quantas vezes nós somos obrigados a preencher formulários para comprar algo, ler e-mails. Tudo isso está num mundo digital que é construído pela leitura e a escrita. Mas também há fronteiras, não se pode pensar que cada um tem um acesso imediato [ao meio digital]. É totalmente um mundo que impõe mais leitura e escrita. Por outro lado, é um mundo onde


roger Chartier sociedade é da escola? Chartier: Os sociólogos mostram que, evidentemente, a escola pode corrigir desigualdades que nascem na sociedade mesmo [para o acesso à leitura]. Mas ao mesmo tempo a escola reflete as desigualdades de uma sociedade. Então me parece que, também, é um desafio fundamental que as crianças possam ter incorporados instrumentos de relação com a cultura escrita e que essa desigualdade social deveria ser considerada e corrigida pela escola que normalmente pode dar aos que estão desprovidos os instrumento de conhecimento ou de compreensão da cultura escrita. É uma relação complexa entre a escola e o mundo social. E é claro que a escola não pode fazer tudo. Esse é um papel também dos governos?

CEFRES, Praga, República Tcheca, 5.5.2011) a leitura tradicional dos textos que são considerados livros, de ver uma obra que tem uma coerência, uma singularidade, aqui [nos meios digitais] se confronta com uma prática de leitura que é mais descontínua. A percepção da obra intelectual ou estética no mundo digital é um processo muito mais complicado porque há fragmentos e trechos de textos aparecendo na tela. Na sua opinião, a responsabilidade de promover o hábito da leitura em uma

Chartier: Os governos têm um papel múltiplo. Ele pode ajudar por meio de campanhas de incentivo à leitura, de recursos às famílias mais desprovidas de capital cultural e pode ajudar pela atenção ao sistema escolar. São três maneira de interação que me parecem fundamentais. No Brasil ainda temos quase 14 milhões de analfabetos e boa parte da população tem pouco domínio da leitura e escrita – são as pessoas consideradas analfabetas funcionais. Isso não é um entrave ao estímulo da leitura?

o analfabetismo radical, que é quando a pessoa está realmente fora da possibilidade de ler e escrever da outra forma que seria uma dificuldade para uma leitura. Há ainda uma outra forma de analfabetismo que seria da historialidade no mundo digital, uma nova fronteira entre os que estão dentro desse mundo e outros que, por razões econômicas e culturais, ficam de fora. O conceito de analfabetismo pode ser o radical, o funcional ou o digital. Cada um precisa de uma forma de aculturação, de pedagogia e didática diferente, mas os três também são tarefas importantes não só para os governos, mas para a sociedade inteira. Na sua avaliação, a exclusão dos meios digitais poderia ser considerada uma nova forma de analfabetismo? Chartier: Me parece que isso é importante e há uma ilusão que vem de quem escreve sobre o mundo digital, porque já está nele e pensa que a sociedade inteira está digitalizada, mas não é o caso. Evidente há muitos obstáculos e fronteiras para entrar nesse mundo. Começando pela própria compra dos instrumentos e terminando com a capacidade de fazer um bom uso dessas novas técnicas. Essa é uma outra tarefa dada à escola de permitir a aprendizagem dessa nova técnica, mas não somente de aprender a ler e escrever, mas como fazer isso na tela do computador.

Chartier: É preciso diferenciar 13


Daniel Deák - Fotografia

Luis A. Torelli Para presidente da CBL, falta de leitura favorece notícias falsas Por Gilberto Costa - Repórter da Agência Brasil

“Num país com poucas livrarias e com pouco acesso ao livro, fica quase impossível ter um programa de formação de leitores se as pessoas não têm onde buscar o livro. As bibliotecas cumprem essa lacuna. Não é só construir. Precisa de um acervo que convide e que seja atraente”, afirmou. O especialista destacou ainda a importância da leitura e do conhecimento para o combate à disseminação de notícias falsas (fake news). “As pessoas formam opinião sem checar o que recebem, a origem dos dados ou quem é que está publicando. Quando você tem um pouco de conteúdo, proporcionado pela leitura, vê que aquilo não tem nenhum fundamento.” Agência Brasil: O que destaca nesta 60ª edição do Prêmio Jabuti? Luís Antonio Torelli: O prêmio sofreu uma série de mudanças com a intenção de acompanhar o mercado editorial, os interesses dos leitores, e para que continue tendo a relevância que sempre teve. Juntos com o curador, Luiz Armando Bagolin [do Instituto de Estudos Brasileiros 14

da Universidade de São Paulo (USP)], fizemos uma condensação das categorias [eram 29, agora são 18]. Outra novidade é que não é mais preciso mandar os livros físicos para cá, pode ser feito por meio eletrônico (em arquivo PDF). Isso era um impedimento para que pequenas editoras e autores pudessem participar, por causa dos custos de postagem. Com isso, conseguimos ter este ano sete autores independentes finalistas do Jabuti. Conseguimos uma valoração maior para o prêmio. O Livro do Ano terá o prêmio de R$ 100 mil, era R$ 35 mil, além dos R$ 5 mil para cada finalista. Agora, concorrem ao grande prêmio aqueles que estejam no eixo literatura ou no eixo ensaios. A festa de premiação vai ser mais dinâmica e mais rápida. Agência Brasil: Em 60 anos, o prêmio conseguiu acompanhar as mudanças na literatura brasileira, estar na vanguarda e reconhecer novos talentos? Torelli: A ideia é dar visibilidade aos nossos autores e mostrar a nossa produção literária. O Prêmio Jabuti contempla isso porque tem amplitude maior do que


outras premiações. Com as mudanças, ficará mais fácil dar oportunidades a novos talentos em todas as categorias. Qualquer editora com título selecionado faz questão de declarar que o autor é um indicado ou vencedor do Jabuti. Agência Brasil: No exterior, quem mais se interessa por livros brasileiros? Torelli: Na Feira de Frankfurt [Alemanha], encerrada no último dia 15, nos chamou muito a atenção a quantidade de chineses que foram ao netmaker que promovemos. Foram 48 editoras chinesas, dos mais variados tipos, procurando títulos brasileiros. Os alemães têm um interesse bastante grande na nossa produção. Os árabes, também. E ainda, o pessoal da América do Sul com quem fazemos um contraponto. Na Feira de Guadalajara [México, em novembro e dezembro de 2017], nós recebemos a visita de um grupo de bibliotecários norte-americanos que compraram muitos livros em português sobre o folclore brasileiro, sobre candomblé. Agência Brasil: Durante esses 60 anos do Prêmio Jabuti, o Brasil se transformou do ponto de vista econômico e social. Por que ainda lemos pouco? Torelli: A gente nunca colocou a educação e a leitura como metas do Estado. A sociedade trata a leitura como algo escravizante. Lembro desde minha época na escola que a relação com o livro é uma cobrança. Outro problema grave é que nossos professores leem muito pouco, também não têm o hábito da leitura. Não se cria nas universidades métodos e formas para que o professor consiga colocar o livro em sala de aula de maneira agradável. As aulas de literatura são chatas, desculpe a expressão. Eles não têm esse foco. Agência Brasil: O que é o projeto Itinerários da Leitura da CBL? Torelli: Na Bienal do Livro de São Paulo de 2018, nós lançamos o projeto Itinerários da Leitura. Uma iniciativa para apoiar o professor a estimular a leitura em sala de aula desde a infância, para formar o leitor de forma mais contundente e mais rápida. É na idade escolar que é mais possível criar o hábito de ler. Depois da influência da mãe em casa, é o professor na escola a principal figura para incentivar a leitura. O projeto está no nosso site. A intenção é que o documento sirva de referência para iniciativas de estímulo à leitura. Vamos ver se conseguimos levar a ideia ao Ministério da Educação no próximo governo. Agência Brasil: Que importância tem estimular o hábito de ler? Torelli: A leitura é transformadora. Não dá para falar em educação sem falar em leitura e vice-versa. Os testes internacionais de ciência, matemática e leitura mostram

o Brasil lá na rabeira. As provas mostram claramente que os nossos alunos não conseguem interpretar um texto simples. Isso é falta de treinamento de leitura. É coisa que o país precisava se preocupar bastante. Eu, sinceramente, não escutei no discurso dos nossos presidenciáveis nenhuma referência a isso. Agência Brasil: O senhor teria alguma sugestão ao próximo presidente da República ou ao ministro da Educação? Torelli: Se eu pudesse fazer alguma recomendação para o próximo governo seria olhar mais atentamente para as bibliotecas. Num país com poucas livrarias e com pouco acesso ao livro, fica quase impossível ter um programa de formação de leitores se as pessoas não têm onde buscar o livro. As bibliotecas cumprem essa lacuna. Minha humilde sugestão ao próximo governo é ‘vamos olhar mais para as bibliotecas’. Não é só construir. Precisa de um acervo que convide e que seja atraente. Agência Brasil: A falta do hábito de leitura favorece a circulação de notícias falsas? Torelli: Pesa muito. A leitura te dá conhecimento e conteúdo. Na Bienal do Livro, dizíamos ‘venha fazer um download do conhecimento’. Quando você lê um livro para se aprofundar em um tema ou para passar o tempo sabe que as obras têm DNA, o ISBN [International Standard Book Number], uma editora, um autor conhecido. Essas notícias que lemos no WhatsApp muitas vezes não têm autoria, não têm fonte confiável. Não é apenas ler, mas saber o que está lendo. A gente está vendo isso nessas eleições. Verdadeiras barbaridades. As pessoas formam opinião sem checar o que recebem, a origem dos dados ou quem é que está publicando. Quando você tem um pouco de conteúdo, proporcionado pela leitura, vê que aquilo não tem nenhum fundamento. Agência Brasil: Junto com as notícias falsas também circula intolerância. Há intolerância contra os livros? Torelli: Não é só contra os livros, mas intolerância de forma geral. Pela facilidade que há para publicar pelas mídias sociais, há opinião para tudo, às vezes, com base em absurdos. Quando vejo alguma coisa estranha sobre os candidatos pergunto: ‘mas você leu isso?’. A resposta costuma ser ‘não li, mas ouvi a respeito’. A intolerância com livros é coisa que precisamos ficar muito atentos. O livro é quem nos traz o conhecimento, a informação. Você compra o que você quiser e lê o que quiser. O Estado não tem que ter esse tipo de interferência. Por que o Estado tem que dizer o que eu posso e o que eu não posso ler? A liberdade de expressão é fundamental. Nenhum país cresce, nenhum povo evolui com qualquer restrição a isso. O livro materializa a liberdade de expressão.

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Tem lido pouco? Tem lido pouco? Por: Editora Intrinseca Você sempre reclama que gostaria de ler mais, mas não sabe por onde começar? Nos chame de super-heróis porque viemos aqui te salvar! Então pegue um caderninho e anote essas dicas:

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Ache o seu tipo de livro

Todo mundo tem seu tipo de livro favorito, seja um estilo de narrativa, um tema que te deixa animado ou um gênero ao qual você não consegue resistir. Se você tem dificuldade de se concentrar durante a leitura, pode ser que ainda não tenha descoberto do que gosta! Pense nos seus filmes e séries preferidos e procure livros com temas parecidos. Se você gosta de comédias românticas, procure por um romance nas livrarias, se gosta de filmes de terror, procure um thriller arrepiante nas estantes! Assim vai ser mais fácil se interessar pelos livros.

Explore diferentes generos

Para encontrar o tipo de livro que você mais gosta, experimente tudo! É importante conhecermos diferentes temas para explorar todas as possibilidades e fugir um pouquinho da zona de conforto. Então leia drama, romance, fantasia, thriller… um pouquinho de tudo! Assim você não cansa de um tipo de livro e ainda abre seu leque literário. E não há nada melhor do que se surpreender com uma boa leitura e descobrir que você ama um gênero que nunca tinha lido antes.

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Separe um tempo do se dia para ler

Às vezes a vida fica corrida, mas, para não perder o hábito, separe um tempo do seu dia para ler um pouco. Seja no ônibus, antes da aula ou esperando uma consulta, todo mundo tem uns minutinhos durante o dia. Leve seu livro para todos os lugares e leia por alguns minutos diariamente. Você vai se surpreender com o resultado.

Faca parte de um clube do livro

Nada melhor do que receber um livro em casa todo mês, né? Em um clube do livro, você pode conferir as novidades literárias, todo mês vai te deixar ansioso para a leitura! Pensando nisso, criamos o intrínsecos, o clube de livros por assinatura da Intrínseca. Todo mês enviamos um livro inédito em edição especial, junto com uma revista com entrevistas, artigos e ilustrações para expandir seu universo literário, marcador, postal colecionável e um brinde relacionado à história. Os livros são sempre inéditos e os materiais são exclusivos do clube, ou seja, só os assinantes terão um exemplar como o seu. No intrínsecos, você vai retomar seu hábito de leitura rapidinho!


o QUE VEM NA CAIXA? o QUE VEM NA CAIXA? -Revista Intrínsecos -Um brinde Literário -Livro capa dura -Marcador postal colecionável

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5 mitos e verdades sobre o hábito de leitura no Brasil A leitura é uma atividade importante e deve estar presente em nossa rotina. Entre os inúmeros benefícios que ela traz, há o aprimoramento do vocabulário e a dinamização do raciocínio e da interpretação, além de ser uma porta de entrada para a aquisição de conhecimento e informação. No entanto, não é difícil vermos nos noticiários como esse hábito tem sido comprometido nos últimos anos, e como as pessoas estão trocando os livros por outras formas de entretenimento e obtenção de saberes. O brasileiro não possui hábito de leitura Verdade. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), a leitura é um hábito de 56% dos brasileiros. Em média, os entrevistados disseram ler 2,54 livros nos três meses anteriores à realização da pesquisa. Quando comparado ao restante do mundo, segundo dados da agência Nop World, o Brasil está na 28ª colocação dos países em que mais se lê. Países como Venezuela, Argentina e México despontam à frente do Brasil, enquanto Índia e China lideram o ranking. O brasileiro prefere os romances Mito. Mais uma vez recorrendo aos dados da pesquisa realizada pelo IPL, o livro mais lido pelo brasileiro é a Bí18

blia e outros livros de teor religioso, os quais abrangem 42% dos leitores brasileiros. Somente em segundo lugar vêm os contos e romances, com 22% de preferência do público entrevistado. Os livros didáticos ficaram em terceiro lugar, atingindo 16% da população, enquanto 15% dizem ter os livros infantis como sendo habituais. O brasileiro não lê por falta de tempo Verdade. Segundo os dados da pesquisa, 43% da população não lê por falta de tempo, enquanto 77% da população diz querer ter lido mais caso tivesse tempo e disposição para isso. Entretanto, essa não é a única razão que impossibilita o brasileiro de se aproximar dos livros. Há uma significativa parcela da população que diz realmente não gostar de ler: entre os que não têm hábito de leitura, 28% dizem simplesmente não gostar de ler, enquanto 13% alegaram que não têm paciência para fazê-lo. Ademais, entre os entrevistados que possuem dificuldades para ler, as razões mais frequentes são: falta de paciência (24%), leitura feita muito devagar (20%) e problemas de visão (17%).


O brasileiro não lê autores brasileiros Mito. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen, entre os dez livros mais vendidos no Brasil em 2015, há a presença de seis autores brasileiros, os quais são: Marcelo Rossi (Philia), Edyr Macedo (Nada a Perder 3), Kéfera (Muito Mais Que Cinco Minutos), Augusto Cury (Ansiedade), Isabela Freitas (Não Se Apega) e Christian Figueiredo (Eu Fico Loko).

de leitura do brasileiro e compreender quais são os novos hábitos de leitura, a fim de focar na criação de livros que se adequem à demanda do público.

Desse modo, fica claro que há uma forte presença de autores brasileiros entre os mais lidos no Brasil. O grau de leitura tem relação com o nível de escolaridade da população Verdade. De volta à pesquisa do IPL, em 2011, o índice de leitores no Brasil era de 50% — 6% inferior quando comparado ao índice de 2016. Uma das principais motivações apontadas para o aumento das pessoas que se declaram leitoras é o índice de escolaridade. Nos últimos cinco anos, o país vem aumentando os níveis de escolaridade média da população, diminuindo as taxas de analfabetismo e aumentando o número de pessoas que concluem o Ensino Médio e Superior. Dessa forma, frente a todos esses dados, fica claro que o Brasil tem aumentado o hábito de leitura de sua população. No entanto, é evidente que muitas melhorias precisam ser feitas e ainda há muito chão para o país ser considerado, de fato, um país leitor. Frente a isso, é essencial entender o perfil 19


Nova estante Acesse o site : www.xavier.com .br


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