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RELICÁRIO 1
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RELICÁRIO 2
expediente e editorial
RELICÁRIO MPB MUSIC
REITOR IFSULDEMINAS Prof. Marcelo Bregagnoli DIRETOR GERAL CAMPUS PASSOS Prof. João Paulo de Toledo Gomes COORDENADOR DO CURSO TÉCNICO EM COMUNICAÇÃO VISUAL Profa. Kelly Cristina D’Angelo EDIÇÃO, REDAÇÃO, PROJETO GRÁFICO E MONTAGEM Ana Clara Bonfim REVISÃO Ana Clara Bonfim CONTATO (35) 99891-8267 ana12345587@gmail.com
Caro leitor, meu nome é Ana Clara Bonfim (18) e sou estudante de Comunicação Visual pelo IFSULDEMINAS e apaixonada pela Música Popular Brasileira. Relicário veio, por meio de um trabalho acadêmico, fazer a junção perfeita entre conteúdo/aprendizagem e a tão amada MPB. Fazendo referência a música de Cássia Eller e Nando Reis, tanto o site como a revista buscam resgatar e homenagear os grandes nomes e obras deste gênero musical, guardados no relicário dos nossos corações. Espero que os amantes de MPB se sintam servidos de conteúdo e boa música! Um grande abraço! https://ana12345w587.wixsite.com/relica-
APOIO E ORIENTAÇÃO Projeto Gráfico: Profa. Heliza Faria Identidade Visual: Prof. Cleiton Hipólito Esta publicação é parte integrante do Projeto Integrador do 3º ano do curso Técnico em Comunicação Visual integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas - Campus Passos.
RELICÁRIO 3
SUMÁRIO 06
Presos há 50 anos, Gil e Caetano foram vítimas do AI-5 e tiveram que se exilar.
08 INFO
GRÁFICO
A história da MPB do século XVIII aos anos 2000
Em ‘momento bicho grilo total’, Rita Lee chega aos 70 anos e fala sobre planos.
10 RELICÁRIO 4
12 A força feminina tem nome e sobrenome: Cássia Eller.
Conheça as facetas polêmicas, sensíveis e até cômicas do líder da Legião Urbana, Renato Russo.
AQUA RELA DOBRA SIL.JPG GALERIA DE FOTOS por
Thereza Eugênia
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19 RELICÁRIO 5
Em ‘momento bicho grilo total’, Rita Lee chega aos 70 anos e fala sobre planos
Q
uando tinha 30 anos, Rita Lee lançou Modinha. “Ai, quem me dera um dia ficar de papo pro ar tirando um som numa viola”, diz o refrão da delicada música, estranha no ninho do roqueiro álbum Babilônia, o último gravado com a banda Tutti Frutti. Parece uma pista do que Rita Lee queria para si dali para a frente, depois de experiências intensas como a saída dos Mutantes e uma temporada na prisão por ter sido acusada de portar maconha. A recente chegada de Roberto de Carvalho em sua vida sugeria menos barulho e mais calma. Ao lado de Roberto, Rita promoveu uma nova transformação no pop brasileiro, privilegiando as sutilezas amorosas. Mania de Você, Baila Comigo e Caso Sério foram por esse caminho. Mas excessos, vícios e
superexposição não lhe deram a paz que encontrou em 2012, quando anunciou sua aposentadoria dos palcos. De lá para cá, ela tem feito raras aparições públicas e vem se dedicando à literatura. Escreveu uma autobiografia em que se expôs com sinceridade, além de Storynhas (2013), ilustrado por Laerte, e Dropz (2017). Rita faz 72 anos esse ano, do jeito que quis um dia. De papo pro ar em sua chácara nos arredores de São Paulo, tirando um som quando quer, cuida da horta e de bichos num eterno domingo. Ela respondeu a perguntas sobre a chegada da nova idade. Diz estar “dando corda” para a escritora e ter músicas inéditas. Shows, nunca mais. “Estou num momento bicho grilo total, enfurnada na toca que é meu universo cheio de bichos e de plantas”. RELICÁRIO 6
PÁG 07: Elis regina A passagem do tempo foi bem retratada na sua obra. Visões do que poderia ser o futuro (‘2001’), lembranças do passado (‘Eu Sou do Tempo’) e o cotidiano apressado (‘Corre-Corre’), só para citar algumas músicas, mostram que você esteve pensando nessas questões. Chegar aos 70 anos é um estímulo para valorizar o que fez de bom ou pensar no que pode fazer daqui para a frente? As duas coisas… Eu me orgulho de ter sido quem fui, das músicas que fiz, dos shows que apresentei. Agora estou com tempo de sobra para novas experiências empolgantes, como brincar de ser dona de casa, pintar quadros, cuidar da horta, lamber meus filhos e bichos, escrevinhar histórias, acompanhar os netos e aprender com eles sobre as modernidades do mundo. Quando você estava quase chegando aos 50 anos, lançou um rock chamado ‘Menopower’, com letra que falava em “cinquentona adolescente”. Essa adolescente ainda está aí? Ou a maturidade a deixou escondida? A criança, a adolescente e a madura estão lá no meu arquivo existencial, basta puxar e revivê-las quando quero. Experimentei todas intensamente. Minha nova fase de velha está sendo mais serena e sarcástica, mas não menos interessante. ita Lee – Uma Autobiografia’ R foi um sucesso editorial em um país que lê pouco, e logo depois veio ‘Dropz’. A escritora vai substituir a cantora e compositora ou as duas têm convivido numa boa? A cantora se aposentou dos palcos mas não da música, continuo compondo
como sempre fiz, só falta lidar com minha preguiça para encarar um estúdio. A escritora ainda é novidade para mim, o ‘santo’ anda baixando naturalmente e eu apenas lhe dou corda. Há algum tempo saiu uma caixa com a maior parte da sua discografia, e você postou uma foto dela no Instagram dizendo ‘De quando eu era artista’. Esse distanciamento permitiu que você escutasse novamente esses álbuns de uma outra forma? Depois que mixava um disco, nunca mais tinha saco de ouvir e continuo assim até hoje, não sou uma velha saudosista. Essa caixa saiu sem eu ter escutado nada… Pra falar a verdade, nem lembro mais da maioria das quatrocentas e tantas músicas que fiz, minha autocrítica se orgulha de ter composto apenas poucas. Você tem ouvido a música pop brasileira e internacional? De quem você gosta e de quem você não gosta? Minha neta tem me apresentado alguns funks e sinceramente não acho nada demais cantarolar sacanagens cadenciadas. A meninada hoje se expressa muito mais sem papas na língua do que jamais foi. Cada geração com o seu palavrão. As questões do feminino também são retratadas nas suas músicas, em termos bem libertários. Como você tem visto o empoderamento das mulheres hoje? Para mim as questões mais urgentes das fêmeas continuam sendo: ganhar o mesmo que os machos e ter direito ao próprio corpo.
vas com Roberto de Carvalho? Planeja um novo álbum? O casal tem várias inéditas, de repente podemos lançar um trabalho só com demos, que são os primeiros registros de quando o ‘santo’ baixa de verdade. Soa meio tosco mas vem direto da alma. O que tem feito Rita Lee sair de casa? E o que faz Rita Lee ficar em casa? Só quem me tira de casa por umas horinhas é meu neto Arthur, de dois meses. Melhor ainda quando ele vem me visitar. Estou num momento bicho grilo total, enfurnada na toca que é meu universo cheio de bichos e de plantas… Sair de casa pra quê? Há uma nova geração que gostaria muito de te ver ao vivo, as tardes de autógrafos dos livros foram muito disputadas por jovens. Se jovens de todas as idades pedirem com jeitinho, vão te ver em um palco? Queridos e queridas, seria humanamente impossível voltar a chacoalhar o esqueleto agora, aos 70 anos, como costumava e gostava de fazer. E se for pra cantar sentadinha feito múmia prefiro ficar em casa tricotando. Tem algo mais que você queira falar para os leitores? Tomara que em 2020 a raça humana se conscientize melhor sobre como deve comandar os destinos do planeta. E que também tenha a humildade para aceitar que os animais estão muito mais próximos da imagem e semelhança de Deus do que nós. Estadão Conteúdo (Isto É)
Você tem feito músicas no-
RELICÁRIO 7
MÚSICA E POLÍTICA
Presos há 50 anos, Gil e Caetano foram vítimas do AI-5 e tiveram que se exilar
G
ilberto Gil e Caetano Veloso foram presos pela ditadura, em São Paulo, 14 dias depois após o AI-5, entrar em vigor. Foram transferidos para o Rio de Janeiro e soltos dois meses depois, já inocentados das acusações de desrespeito ao hino nacional e a bandeira. Mas ao voltar a Salvador foram novamente presos, submetidos a prisão domiciliar, proibidos de fazer shows e dar entrevistas. Em meados de 1969, os militares disseram que a situação dos dois só poderia ser resolvida com
o exílio. A prisão ocorreu em virtude de um espetáculo que os dois fizeram com os Mutantes na boate Sucata, no Rio de Janeiro. O palco foi ornado com uma imagem do artista plástico Hélio Oiticica, na qual um bandido conhecido como Cara de Cavalo (executado pela Scuderie Le Cocq, esquadrão de morte da polícia) aparece deitado no chão com a inscrição: “seja marginal, seja herói”. Uma pessoa que se sentiu ofendida com a imagem conseguiu fechar o local por via judicial. Correu então a notícia de que o local tinha sido fechado por causa da “bandeira” de Oiticica. RELICÁRIO 8
M
ilitares ouviram falar da tal “bandeira” junto com rumores de que o hino nacional havia sido cantado de forma profana. Militares dos Agulhas Negras ficaram sabendo da notícias misturadas as boataria e pediram aos superiores uma averiguação. No dia da prisão Gil tinha dormido na casa de Caetano. Logo cedo pela manhã, ao polícia bateu na porta. A pedido a mulher Caetano, Dedé, Gil voltou para sua casa que ficava ali próxima. Durante a prisão, eles ouviram apenas que tinham sido convocados a prestar esclarecimentos no Rio. Os dois foram colocados no camburão, que passou ainda na casa de Geraldo Vandré, mas como ele não foi encontrado, e seguiram para o Rio. Eles chegaram no final do dia, depois de aproximadamente cinco horas de viagem. No quartel passaram por interrogatório e souberam que estavam lá para prestar esclarecimentos sobre participação em passeatas, sobre o show da Sucata e acusações de que teriam cantado o hino Nacional com letra profana. Foram levados para outro quartel, em Marechal Deodoro, onde ficaram presos em celas individuais por duas semanas, e tiveram suas cabeças raspadas. Foram transferidos para quarteis separados depois. Gil conta que após quase um mês de cárcere já tinha desenvolvido uma relação afetuosa com os militares, foi autorizado a iniciar uma dieta vegetariana, e ganhou até um violão de presente do sargento Juarez. Com o instrumento, ele compôs as canções: “Futurível”, “Cérebro Eletrônico” e “Vitrines”, além de uma quarta da qual ele esqueceu. Um certo dia, foi indagado se não faria uma apresentação para a tropa após o jantar, no pátio do quartel. Ele cantou “Domingo no Parque”, “Procissão” e outras. Os dois já estavam presos há um mês quando os militares se deram por satisfeitos com a investigação que inocentou os dois de qualquer crime. Entretanto, ficaram presos por mais um mês. Só foram soltos em fevereiro de 1969. Eles embarcaram em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para Salvador. Quando chegaram foram novamente
presos, porque as autoridades locais ainda não tinham sido informadas de que o pedido de prisão já tinha sido cumprido. Mas de nada adiantou. Sem acusação formal ou processo tramitando contra os dois, eles foram submetidos à prisão domiciliar. Não podiam sair de Salvador, trabalhar e ainda eram obrigados a se a se apresentar diariamente na Polícia Federal. Essa prisão acabou se tornando um problema até mesmo para o coronel Luis Artur, que chefiava a Polícia Federal soteropolitana. Ele mesmo dizia que a situação era esquisita e foi ao Rio de Janeiro resolver o impasse. Quando voltou, disse que os dois deveriam embarcar para capital fluminense, onde ouviram dos militares que a única alternativa seria deixar o País. Foi autorizado apenas que fizessem um show, que aconteceu nos dias 20 e 21 de julho de 1969, para arrecadar fundos para a viagem. Em 1971, antes de voltar efetivamente do exílio em Londres, Caetano voltou ao Brasil, por um mês, apenas para participar das festas de 40 anos de casamento de seus pais. Sua irmã, Maria Bethânia, conseguiu a autorização dos militares com ajuda de Benil Santos, seu empresário na época. Quando apareceu na porta do avião, ele foi colocado dentro de um fusca por militares à paisana e levado para um local onde foi interrogado por seis horas. Segundo Caetano relatou anos mais tarde em vídeos publicados em sua página na internet, os militares queriam que ele compusesse uma música sobre a Transamazônica, e citaram nomes de artistas que colaboravam com o governo militar para convencê-lo. Ele foi proibido de cortar o cabelo ou a barba para que não passasse a imagem de que tinham feito algo com ele. Foi obrigado ainda a fazer duas apresentações em programas da TV Globo: Chacrinha e Som Livre Exportação. Durante o tempo que ficou no Brasil, Caetano foi monitorado de perto por agentes do regime, que acompanhavam e anotavam o que era dito pelo artista nas poucas entrevistas que deu nesse período. Gil e Caetano só voltaram de vez para o Brasil em 1972. Por Daniel Favero (Portal Terra) RELICÁRIO 9
PÁG 10: matéria Cássia Eller
A HISTÓRIA DA MPB
1920 / 1930
fins do século XIX
séculos XVIII e XIX
m -s e n a s D e s ta cava e estavam cidades qu , v o lv e n d o se desen : s musicais dois ritmo a modinha o lundu e
Na década de 1940 destaca-se brasileiro,Luis Gonzaga, o ‘rei ucesso com Asa Brancae Assu baião continuava a fazer suc sucessos de Jackson do Pa e Ranchinho, ganhava corp musical: o samba-canção. Co calmo e orquestrado, as principalmente de amor. D contexto musical: Dolores Du Marlene, Emilinha Borba, Angela Maria e Caubi Peixoto.
No Rio de Janeiro começam a se misturar os batuques e rodas de capoeira com os pagodes e as batidas em homenagem aos orixás. O carnaval começa a tomar forma. O ano de 1917 é um marco, pois Ernesto dos Santos, o Donga, compõe o primeiro samba: Pelo Telefone. Neste mesmo ano, aparece a primeira gravação de Pixinguinha.
1917
metade do Na segunda , surge o X I X século a mistura Chorinho, um odinha e da de lundu, m o européia. dança de salã ca n to ra , a , E m 18 99 Gonzaga Chiquinha música compõe a s. Abre Ala
Com o crescim ento e populariz ação do rádio nas dé cadas de 1920 e 19 30, a música popu lar brasileira cr esce ainda mais. N esta época inic ial do rá di o br as ile ir o, de st ac am -s e os seguintes cant ores e compo sitores: Ary Barros, Lamartine B abo, Dorival Caymm i, Lupicínio Rodr igues e Noel Rosa. Su rgem grandes como: Carmem Mi randa, Mári o Reis e Francisco Alve s.
1940
Podemos dizer que a MPB surgiu ainda no período colonial brasileiro, a partir da mistura de várias estilos. Entre os séculos XVI e XVIII, misturou-se em nossa terra, as cantigas populares, os sons de origem africana, fanfarras militares, músicas religiosas e músicas eruditas européias. Também contribuíram, neste caldeirão musical, os indígenas com seus típicos cantos e sons tribais.
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A televisão começou a se popularizar em meados da década de 1960, influenciando na música. Nesta época, a TV Record organizou o Festival de Música Popular Brasileira. Nestes festivais são lançados Milton Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Edu Lobo. Neste mesmo período, surge o programa musical Jovem Guarda, onde despontam os cantores Roberto Carlos e Erasmo Carlos e a cantora Wanderléa.
1960
1950
1970
a fazer m e ça m o c s o o país músic antos d Vários uatro c q arlota s C o n sicas de sucesso rava mú Costa g l o a ã G e , L o Naira vaquinh a C o. O o ss d e c n em su e Nelso ânia faz M a ia , th e B im T a ri e Ma e co m , a co n te c e Belém n, Fafá d mesmo a v u ja e D lc r, A en Jo Fagner, Jorge B o elchior, o cenári unes, B N N . o ra lh la a C m -s e lba Ram a E c e ta a s ç e Valen e ir o , d k b ra s il d o ro c a Lee. it R ixas e Raul Se
e, no cenário musical do Baião’, que faz s um Preto. Enquanto o cesso com os novos andeiro e Alvarenga po um novo estilo om um ritmo mais canções falavam Destacam-se neste uran, Antônio Maria, Dalva de Oliveira,
2000
Nas décadas de 1980 e 1990 começam a fazer sucesso novos estilos musicais, que recebiam fortes influências do exterior. São as décadas do rock, do punk e da new wave. O show Rock In Rio, do início dos anos 80, serviu para impulsionar o rock nacional. Com uma temática fortemente urbana e tratando de temas sociais, juvenis e amorosos, surgem várias bandas musicais. É deste período os grupos Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Titãs, Kid Abelha, RPM, Plebe Rude, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Ira! e Barão Vermelho. Também fazem sucesso: Cazuza, Cássia Eller, Lulu Santos, etc.
1980 e 1990
Em fins dos anos 50, surge a Bossa Nova, um estilo sofisticado e suave. Destacam-se Elizeth Cardoso, Tom Jobim e João Gilberto. A Bossa Nova leva as belezas brasileiras para o exterior, fazendo grande sucesso, principalmente nos Estados Unidos
O séc ulo XX I com eça com o sucesso de grupos de rock com temátic as voltadas para o público adolescentes. S ão exemplos: Charlie Bro wn Jr, Detonautas, Reação em Cadeia, CPM 2, Fresno.
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A força feminina tem nome e sobrenome:
Cássia Eller
Cássia Eller deixou marcas. Por onde ela passou, naqueles que ela tocou e em quem ainda será tocado por sua voz. Ninguém escapou ou escapa ileso de Cássia. Mesmo hoje, 18 anos após a morte ter roubado a cantora para si. Algumas lembranças são nostálgicas. Outras são de escombros – pois Cássia quebrou inúmeras barreiras.
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C
ássia Rejane Eller nasceu em 10 de dezembro de 1962, no Rio de Janeiro (RJ). Entretanto, para nós, ela nasceu apenas nos anos 1980, parida pela explosão do rock nacional daquela década. Urbano, desiludido, selvagem. Após passagens com a família por diversas cidades do País, em decorrência da profissão de paraquedista militar de seu pai, Altair Martins Eller, àquela época, Cássia morava em Brasília, ponto-chave desse cenário musical. E foi nas madrugadas brasilienses que a cantora fez sua voz rouca ecoar pelas primeiras vezes. Nos palcos, a performance da cantora já era uma “catarse profunda”, como diz Zélia Duncan em depoimento ao documentário. Em contrapartida, Cássia era tímida fora deles. Ela tocava em casas de show com sua banda; e atuou em musicais também. Desde aquela época, ela e Maria Eugênia Vieira Martins, a Eugênia, já tinham criado os laços que nunca mais se romperiam – nem a morte de Cássia em 2001 conseguiu fazer isso. O sucesso regional a catapultou para São Paulo, e a cantora não deixou de lado a que já era uma de suas principais características: ecletismo musical. Pelo contrário – ela só o expandia, e sem parar. Em 1990, Cássia lançou pela PolyGram seu primeiro álbum, que levava seu nome. Já de início, interpretou canções de compositores do calibre de Paul McCartney, Renato Russo e Cazuza. Mas só o terceiro álbum, lançado quatro anos depois, a colocou no radar do sucesso, com “Malandragem”, composta por Cazuza e Frejat. A partir daí, cada passo que Cássia deu foi em direção à lua. Os álbuns “Veneno AntiMonotonia” (1997) e “Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo” (1999) abriram espaço para o estouro de “Acústivo MTV” (2001). Para ela, foi a realização de um sonho. Para sua carreira e a comunidade da música nacional, a coroação de uma cantora que estava em seu ápice, fazendo shows para milhares de pessoas, que já pareciam querer engoli-la. E Cássia retribuiu: parecia querer engolir a plateia também. Sua força tinha esse tamanho.
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Revolucionária até depois da morte
O
diretor Fontenelle já tinha seu pé na atual fase de contemplação do cinema brasileiro pela música brasileira. Ele dirigiu “Loki – Arnaldo Baptista” (2008), sobre o membro dos Mutantes, e agora empregou sua sensibilidade na tarefa de contar a história de Cássia Eller. E acerta em muitos sentidos. Primeiro, por se afastar de lugares-comuns para abordar a cantora: não há uma “sapatona drogada” aqui. Há um ser humano multifacetado, que deixou uma textura própria no cenário musical brasileiro e na vida muitas outras pessoas. E cuja morte, à época, foi informada irresponsavelmente pela imprensa. Falou-se muito de overdose, mas pouco dos fatos. Na verdade, foi um infarto do miocárdio que matou a cantora. Segundo, pela cuidadosa seleção de imagens – algumas raras e inéditas, outras feitas com colagens de fotografias a fundos supercoloridos – e depoimentos de família, amigos e músicos, como Nando Reis, Lan Lan e Oswaldo Montenegro. Terceiro, pelo bom sequenciamento dos fatos: o lan-
çamento de cada álbum, as pessoas que passaram pela vida de Cássia, a maternidade que a mudou profundamente. A narração em off de escritos pessoais da cantora por Malu Mader tempera a mistura. Por último, mas não menos importante, por enfatizar o pioneirismo de Cássia no que se refere aos direitos LGBT. Pouco antes de sua morte, em entrevista à revista Marie Claire, a cantora disse que gostaria de ter um contrato de casamento com Eugênia, para resguardar juridicamente sua família. A declaração foi usada no processo de guarda de Chicão, filho das duas. A tutela da criança e dos bens deixados por Cássia, por fim, ficou com Eugênia, depois da disputa com Altair, pai da cantora. Trata-se do primeiro caso do tipo na história do País. “Ela foi revolucionária até mesmo depois de sua morte”, comentou Fontenelle, em entrevista ao Brasil Post. Não diferente da obra da cantora, o documentário é pungente e, por vezes, sensível ou agressivo. É boa opção para quem quer relembrar Cássia ou conhecê-la.
Entrevista com o diretor Paulo Henrique Fontenelle CÁSSIA FOI TRANSGRESSORA. QUAIS FORAM OS CAMINHOS QUE ELA ABRIU? Cássia sempre foi sincera e autêntica, em toda sua vida. Acho que esse foi o grande diferencial dela. Musicalmente, ela quebrou barreiras ao não se ater a apenas um único gênero musical. Ela misturava samba com rock e forró, misturava Chico Buarque e Nirvana. Ela uniu tribos que não se misturavam, fez roqueiros ouvirem samba e forró, e sambistas aceitarem o rock e a música internacional. Tudo de maneira natural e espontânea. Mas a revolução da Cássia vai além da música. Com sua auten-
ticidade, ela quebrou barreiras sociais ao assumir sua homossexualidade em pleno anos 1990 e abraçar a maternidade. Até mesmo depois de sua morte ela ainda conseguiu revolucionar, quando a Justiça cedeu a guarda de seu filho à companheira. Ela fez muita gente debater assuntos que antes eram tabus. O DOCUMENTÁRIO TEM UMA CARGA TÃO EMOCIONAL QUANTO AS MÚSICAS QUE CÁSSIA CANTOU. ISSO FOI INTENCIONAL? Ela sempre colocou emoção em tudo que fez. Cássia sempre foi sincera na maneira de viver e de cantar. E
isso se reflete no filme, que busca mostrá-la de todos os ângulos, sem máscaras. Ao vê-lo, fica claro como ela fez do amor – seja pela música, pelo filho, pela família – um fio condutor para sua vida. COMO FOI O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO DOCUMENTÁRIO? COMO E ONDE AS IMAGENS USADAS FORAM ENCONTRADAS? Em 2010, levei o projeto para a Migdal Filmes e iniciamos a produção. Embora as filmagens só tenham acontecido de fato em 2013, passamos todos esses anos levantando o máximo de histórias, fotos e imagens de
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arquivo que podíamos. Conseguimos um rico material. Para isso, recorremos a todas as emissoras de televisão, família e amigos que tivessem imagens caseiras dela. Além disso, fomos atrás de qualquer pessoa que pudesse ter filmado Cássia em shows ou tivesse alguma pista de onde encontrar materiais. Foi um trabalho árduo, mas profundamente prazeroso. POR QUE FAZER UM DOCUMENTÁRIO SOBRE CÁSSIA? ELA PRECISAVA SER ABORDADA NUM PROJETO COMO ESTE PARA QUE ALGUNS FATOS FOSSEM DIVULGADOS? O projeto nasceu da necessidade de resgatar essa figura tão importante da nossa cultura e que raramente teve sua história contada com o devido cuidado, evitando estereótipo que foram ainda mais reforçados na ocasião da morte dela, com notícias precipitadas e irresponsáveis sobre uma possível overdose. Ela foi uma cantora que emocionou e influenciou muita gente, mas poucos conheceram sua essência de fato. O filme busca mostrar todos os lados dessa pessoa, sem restrições. Falamos da Cássia artista, das relações com as drogas e casos amorosos, mas também mostramos a mulher, a mãe de família, a amiga, a filha e a companheira. O filme faz jus à sinceridade de Cássia, mostrando a complexidade que fez dela uma pessoa tão especial. Acho que, quem for ao cinema para matar as saudades da artista, vai poder relembrar as músicas e os shows, mas também vai conhecer a mulher Cássia Eller, que é tão fantástica quanto a artista. CÁSSIA TINHA REBELDIA EM SUA ESSÊNCIA. O QUE A TORNAVA REBELDE?
A espontaneidade era uma marca muito forte dela, e as atitudes que ela tinha no palco eram reflexo disso. Ela queria mais era se divertir, e o palco era a oportunidade de se sentir livre de qualquer amarra de sua vida pessoal. Ali, ela extravasava e jogava para longe sua timidez. Como ela mesma dizia, quando ela estava no palco era como se fosse a última coisa que ela faria na vida. Desde criança, o convívio social era um problema para ela. Na música, Cássia encontrou uma maneira de botar para fora todo seu sentimento. No palco, ela encarnava outra persona, levava sua performance até as últimas consequências – e sorte de quem estava lá para presenciar isso. EXISTE ALGO QUE VOCÊ GOSTARIA QUE TIVESSE FICADO NO DOCUMENTÁRIO, MAS TEVE DE SER CORTADO NA EDIÇÃO? Puxa, tanta coisa! Tivemos ótimos depoimentos com pessoas como Milton Nascimento, Frejat, Djavan e Luiz Melodia, que acabaram ficando de fora por conta do tempo. Tínhamos muitas imagens caseiras e entrevistas com a Cássia que eu gostaria de ter usado, mas que também não cabiam no tempo do filme. Tinha uma sequência linda do Nando Reis contando a história da música “All Star”, com ele a tocando no violão, que tentei preservar até o último momento. Quem sabe não conseguimos colocar no DVD? Acho que montar é um exercício enorme de desapego. A primeira lição para quem quer fazer cinema é estar preparado para jogar fora o seu melhor plano.
COMO VAI O MERCADO DO CINEMA BRASILEIRO PARA DOCUMENTÁRIOS? ELE É RECEPTIVO? O QUE SUA EXPERIÊNCIA DIZ? Acho que está cada vez melhor. O preconceito que existia com o formato está se diluindo cada vez mais. Há pessoas lotando salas de cinema em busca dos documentários. Já existem vários festivais dedicados exclusivamente ao gênero, e isso incentiva e aprimora a produção. Hoje temos documentários de vários estilos e linguagens diferentes sendo produzidos e fazendo bonito nas telas brasileiras e em festivais no exterior. Mas ainda é preciso criar mais público e lutar por maior distribuição. HOJE, AS DEMANDAS LGBT SÃO DEBATIDAS COMO NUNCA NA SOCIEDADE BRASILEIRA. NA SUA OPINIÃO, QUAL É A CONTRIBUIÇÃO DE CÁSSIA NESSE SENTIDO? Ela foi importantíssima nesse contexto. Cássia nunca escondeu sua homossexualidade. Sempre tratou isso de forma natural – como deve ser mesmo. Ela nunca levantou bandeira ou fez discursos sobre o assunto. Numa época em que o assunto ainda era tabu, ela simplesmente agia de acordo com o que acreditava, sem dar explicações. O caso da guarda do Chicão [cujo pai biológico é Otávio Fialho, músico falecido pouco antes do nascimento do filho] foi, talvez, seu último grande ato e ajudou muito o Brasil evoluir como sociedade. Ela foi revolucionária até mesmo depois de sua morte. por Caio Delcolli (HuffPost Brasil)
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“Algumas coisas não precisam fazer sentido, basta valer a pena” Conheça as facetas polêmicas, sensíveis e até cômicas do líder da Legião Urbana, que morreu em 1996
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1. A turma de Brasília Em 1978, Renato Russo formou o Aborto Elétrico, ao lado dos irmãos Fê e Flávio Lemos, primeiro fruto musical do grupo de amigos brasilienses que se denominava a “Turma da Colina”. Com o fim da banda, Renato Russo viu que podia brilhar sozinho. E descobriu seu poder de manipulação.
Por Fê Lemos, do Capital Inicial:
Por Felipe van Deursen (SuperInteressante)
“Ainda nos anos 80 – quando o Renato deu aquela declaração de que ‘pra tocar no Hollywood Rock é que existem bandas como o Capital’, dizendo que a Legião nunca faria isso, perguntei a ele sobre a história de Brasília, de termos
sidos tão companheiros, se ele olhava (para trás), se aquilo tinha algum significado pra ele… Ele falou: ‘Fê, aquilo passou, cara. Já era’. E eu ainda era muito apegado àquela história de ‘turma’, de companheirismo, de ficarmos unidos por um objetivo. De repente, ele já estava muito distante disso, percebendo o papel e a importância dele – estava bem claro o quão famoso ele era e que aquela história era só parte do passado. E não adiantava querer forjar uma aliança baseada no passado porque as condições do presente eram diferentes.
2. Punks de Brasília e punks de SP “O Rio parecia um lugar mais família. São Paulo dava um certo medo”, disse Renato em entrevista à BIZZ em 1989. Apesar de pesquisar como podia o movimento punk, rasgar camisetas e pintar o cabelo, Renato Russo tomou um choque quando resolveu ir para São Paulo com a Legião Urbana a partir de 1982. Em entrevistas, chegou a confessar que “morria de medo” dos punks de São Paulo. Drogas pesadas e violência eram ingredientes imprevistos na receita dos amigos de Brasília.
Por Clemente, do Inocentes:
“O movimento punk, não só pro Renato, mas para todo mundo de Brasília, era coisa de amigos. Em São Paulo, era coisa de gangue. Naquela época, se você viesse a São Paulo, ia ver
os punks de um lado, do outro os metaleiros e também os new waves. Era tribo mesmo, não tinha nada misturado. Era treta mesmo, droga rolando, gente se picando, era tudo de verdade. Entre nós e o pessoal de Brasília, ficaram claras várias diferenças. Quando a gente via os shows da Legião Urbana, naquela época, tinha um certo choque de propostas. O pessoal todo que vinha de Brasília tinha outra vida, eram pessoas que já haviam morado fora do país. E nós éramos um bando de moleques de periferia, eu passava às vezes duas semanas sem aparecer em casa, enquanto aquele pessoal já tinha mais estrutura familiar. Claro que muita gente daqui olhava para a Legião com nariz torcido, nem tinha como ser diferente.”
3. Homossexualidade Apesar de já insinuada em “Soldados” e “Daniel na Cova dos Leões”, a homossexualidade de Renato só foi assumida publicamente em 1990, em um Entrevistão da BIZZ: “Eu estava precisando me assumir havia muito tempo. Mas fica aquela coisa, filho de católico, ‘você é doente’ etc. (…) Sei que sou assim desde os 3, 4 anos”. Curiosamente, o que não era novidade para amigos e colegas músicos só foi informado à família Manfredini poucos meses antes do público. Dona Maria do Carmo, a Carminha, sustenta que o cantor era bissexual (“O que é bem diferente de ser homossexual”) e que nunca havia desconfiado da orientação do filho famoso até aquele almoço marcante.
Por Dona Carminha Manfredini, mãe de Renato Russo: “Era um dia de semana qualquer, sem nada de especial, no final dos anos 80. Me lembro que eles lançavam o disco As Quatro Estações [1989]. Estávamos na cozinha de casa, apenas nós dois, preparando o almoço. O Júnior veio, me deu um beijo e falou: ‘Mãe, preciso conversar com a senhora’. Fiquei tão feliz – pensei que ele finalmente anunciaria seu noivado com uma namorada que ele tinha já havia muito tempo. Mas ele afirmou: ‘Não vou me casar com ela. Vou me assumir. Quero me relacionar com homens e mulheres’.”
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4. O lado comédia Ele virou pra mim e disse: ‘Tô tão chateado, Maurício…’ Eu não agüentei e tive que dizer: ‘E o que você tem a ver com isso?’ (risos). Quando estava de bom humor, Renato era ótimo. Ele gostava muito de rir. Nas festas que promovia em casa, era muito comum ele interpretar um personagem, uma suburbana… Era muito engraçado vê-lo falando como Por Maurício Branco, ator: uma lavadeira! Além do mais, ele gostava de “Renato era o meu melhor amigo – e um cara passar um filme brasileiro de sacanagem e muito preocupado com os amigos. Renato fi- de me ouvir cantando ‘Justify my Love’, da cava muito sensível a tudo o que acontecia Madonna, com meu inglês macarrônico.” no mundo. O cúmulo foi quando as revistas noticiaram que a Xuxa estava com depressão.
Depoimentos a: Cristiano Bastos (dona Carminha Manfredini); Paulo Terron (Fê Lemos); Ricardo Schott (Clemente, Leonice Coimbra); Sílvio Essinger (Dado Villa-Lobos, Maurício Branco)
Renato podia falar por horas de poesia, cinema, pintura e clássicos do rock. O que só seus amigos mais íntimos conheciam era seu senso de humor trash e seu lado cafona (este, um pouco mais célebre graças às covers de Menudo e do disco Equilibrio Distante). Um desses amigos era o ator Maurício Branco.
5. Aids Renato assumiu sua homossexualidade durante uma viagem aos EUA em novembro de 1989 – quando conheceu o circuito gay americano. Em Nova York, iniciou seu relacionamento mais duradouro, com o americano Robert Scott Hickmon. Com ele, entrou em sua fase de consumo de heroína. Na mesma viagem, também reencontrou uma velha amiga, Leonice Coimbra. Ela seria uma das primeiras a saber, alguns meses depois, que o artista havia contraído o vírus da aids.
Por Leonice Coimbra, artista plástica:
“Lembro exatamente do dia em que Renato me disse que tinha o HIV. Estávamos em Brasília, em 1990. Ele foi até minha casa. Abri a porta, ele me abraçou e me disse que estava positivo.Eu soube
6. A última briga Quando A Tempestade (Ou o Livro Dos Dias) foi lançado, em setembro de 1996, já se alastrava o boato de que Renato estaria doente. Dizia-se que o clima no estúdio tinha sido tão pesado que as gravações foram terminadas apenas por Dado Villa-Lobos. “Foi uma questão musical que descambou para o pessoal”, explicou na época. “Renato às vezes não sabe lidar com as pessoas.”
Por Dado Villa-Lobos:
“Entramos em estúdio pela última vez em março de 1996. Renato estava um tanto ansioso e com muita vontade de botar tudo para fora. Tanto que a gente planejava lançar um álbum duplo. Fomos até junho, gravando todo dia. Eu estava produzindo. A voz do
desde o início, ele estava com o exame na mão. Era uma situação complexa, um choque para ele e para qualquer pessoa, porque era como se Renato, naquele momento, descobrisse que estava com os dias contados. Na hora, só pensei em como poderia ajudá-lo. Naquela época, Renato se envolveu com Robert Scott Hickmon, que não cheguei a conhecer. Não lembro se ele me disse se pegou o HIV do Scott ou não (em matérias publicadas na imprensa, atribuiu-se a Leonice a declaração de que ‘Renato tinha certeza que havia pego HIV do Scott’ e que o namorado anterior do americano era doente terminal de aids e de que Renato teria se envolvido com ele sabendo disso). Isso na hora não é importante. Só pensei em ajudá-lo, não importava de quem tivesse pego o vírus.”
Renato vinha fraquejando, mas ele estava bem, comunicativo – era bom para ele estar no estúdio. Mais para o fim, ele foi ficando de saco cheio, as variações de humor eram muito grandes. Sua saúde debilitada lhe dava um grande mal-estar. Estava tudo no esquema até que a gente brigou. Ele vinha questionando meus métodos de mixagem… Até que um dia, Renato chegou e disse: ‘Ó, fiz a minha parte, vai aí e mixa o disco!’. A mixagem foi feita sem corpo presente. Eu não sabia que o Renato estava naquele ponto (da doença). As notícias da ciência eram boas, ele estava tomando o coquetel. A gente só se falava por telefone, tarde da noite – Renato falava puto, revoltado, mas vibrante. A Tempestade saiu e logo depois ele morreu. Fomos pegos de surpresa pelo comunicado. Ouvindo o disco, a gente vê como era claro esse caráter de adeus. Algo que nós só perceberíamos depois.”
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GALERIA DE FOTOS
aquarela dobrasil.jpg Recortes inéditos da MPB em fotos: fotógrafa Thereza Eugênia resgata parte da história da música popular brasileira com registros de cantores e personalidades de sucesso das décadas de 70 e 80.
Ney Matogrosso, 1977
Maysa, 1970
Maria Bethânia e Gal Costa, 1972 @therezaeugenia
Ney Matogrosso, Maria Zilda, Beth Araújo, Bineco, Márcia Alvarez, 1986 (aniversário de 44 anos de Caetano Veloso)
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