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Sejamos justos e equânimes. Não condenemos, precipitadamente, com olhos de velhos ou de despeitados; os pares amorosos que, às tardes, se assentam agarradinhos nos bancos do jardim.
Eles não estão ali, como pensa a «puritana polícia de costumes», afrontando a moralidade pública dos que já namoraram e já se casaram e, em conseqüência, puseram no mundo seus rebentos. Não! Sua missão é outra, muito mais nobre e tocante pára o orgulho dos pais: recompondo,com retoques atrevidos, velhos quadros dos velhos es-
quecidos, êles retecem, ainda uma vez, os planos generosos da conservação da espécie. Nossos olhos de adultos desmemoriados evitam, hoje, püdicamente, ou fustigam com relâm-
pagos rebarbativos a cena romântica do parzinho de mãos entrelaçadas, de corpos e rostos unidos numa intimidade denunciadora de beijos furtivos.
Amanhã contemplarão,babosos e secretamente vingados, o mesmo par recebendo na igreja o «conjugo vobis... »
Lembremo-nosde que o homem é, em resumo imutável, uma eterna reprodução que, partindo de Adão e Eva, há de alcançar a consumação
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dos séculos. Não nos irritemos, pois, nem nos es-
candalizemos com aquêles instantes fugidios dos paresinhos que se apertam nos bancos do jardim.
E' bem possível, aliás, que êles assim procedam também para dar lugar a outras que queiram sen-
tar-se...
Eu, de minha parte, não os crimino nem me escandalizo.Compreendo-osapenas. E, por isso, sempre que passo por êles, desejaria perguntarlhes se, estando menos agarrados e sentados em mais correta posição, não seria, acaso, tão grande o amor que os une e os santifica... Apenas isso.
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2
PÉROLAS PESCADAS EM
secção na qual relembrará, numa pescaria sentimental, as pérolas que brilharam nas páginas da
«revistinha». E nada melhor para iniciar essa pescaria do que transcrever a magnifica apresentação de «Uyára», feito pelo soudoso Hildebrando de Magalhães.
UYÁRAE O SEU DOM DE SEDUÇÃO Uyára„. A formosa nympha do mitho indigena... Morena„. de fúlgidos olhos... e de longos cabellos, feitos de sedoso e onduloso limo... Uyára...
Enlevandoa quem, ao vel-a tão linda e ao ouvir-lhe a dulcíssimatoada, — alli á beira do
rio ou do Iago ficasse preso, magnetizado, até se projetar loucamente ao sei das aguas, para junto della.. Mello Moraes Filho, inspiradamente, narrou em versos o forte encanto dessa voz magica e suave: « . .. Do fundo das águas,
Que em flócos se ameigam, dos juncos ao pé,
Às vezes se escuta, na queixa do rio,
Um canto macio, De quem... não se vê.» Uyára... Esse canto é della. E o culto Raymundo de Moraes lhe descreveu o aspecto: de selvagem, sim; mas cheio de singular beleza feminina: «Uma formosa cabocla:
Feições finas; sympathica, irradiava-lhe do semblante uma tão poderosa e contradictoria expressão de força, que dava vontade de ajoelhar e
de fugir.».
«Uyára» foi uma vitoriosa revista «semanal»
e «literária» de que talvez os piracicabanosnão mais se recordem, ainda que de passado relativamente próximo. Dirigida pelos excelentes poetas Hildebrando
Magalhãese Sangirardi Júnior e tendo como gerente Benedito Rocha Campos, «Uyára» foi uma flor que desabrochou no jardim da poesia e da literatura noivacolinensea 24 de Fevereiro de 1935 e teve um ciclo fecundo de doze semanas, despedindo-se dos leitores exatamente com doze números, a 12 de Maio do mesmo ano.
Sangirardi Júnior, — tendo no espírito, talvez, a imagem de alguma uyára terrestre da «Noiva da Colina»,— surgiu com esse nome para o baptismo da revista.
E então?
Que a nossa uyára tenha o maior dom de se dução possível, sôbre os piraéicabanos!
BRASIL em CONTA GOTAS
Dissemosque foi uma revista vitoriosa.A
afirmativa é inteiramente exata, eis que o volume carinhosamente encadernado pelo prezado amigo Arthur Eugênio Sacconi, a quem devo a gentileza de conhecê-lo,é um repositório amplo e esplêndido tanto de boas colaborações quanto, principalmente, de colaboradores locais. Percorrendo umas e outros, ficamos agradàvelmente surpreendidos pela quantidade de penas brilhantes que enriqueciam a cultura, o gôsto literário e poético e a imaginação criadora de moços e moças daquele tempo. «Mirante», que, literàriamente (e por culpa das invencíveise inevitáveisexigênciascomerciais desta época), não é nem sombra do que foi «Uyára», deseja prestar uma singela homenagem à gente literária de 1935, instituindo aqui uma
Você sabia que..
— A ilha de Bananal, formada por dois bragos do rio Araguaia, é a maior ilha do mundo, com 36.000 quilómetros quadrados de superfície? Sergipeé o menor Estado do Brasil, com 21.550 quilómetros quadrados?
— A foz do rio Amazonas tem 400 quilóme—
tros de extensão?
— Florianópolisfica na ilha de Santa Ca— O Museu do Ipiranga foi projetado em
tarina ?
1885 pelo engenheiro italiano Tomaso Gaudêncio
Bezzi ?
— O nome do"famoso ator Procópio Ferrei-
ra é João Alvares de Jesus Quental?
C. C. R.«CRlSTOVíO COLOMBO» "Flashes" de CICERO e IDALIO
NUNCA! O CLUBE DE REGATAS ESTEVE TÃO BOM COMO AGORA!!
"O primeiro casal colombino" - dr. Ermor Zambello e sra. quando, interpretando o sentir de todos os presentes, apagavam a velinha do aniversario do simpatico clube da rua São José.
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da, que se apressava em enfiar dos dos olhos da interessada. hora! Minha gente, está na
E o Florêncio
Garôa
moreno alto e troncudo,
noivado, boné jona casa dos vinte, aliança de bigode reduzido a gado para o alto dos miolos, longamente. buzinar a uma fitinha — pôs-se enquanto o Os passageiros foram entrando, de olhos vista Florênciodesciapara a derradeira por fora do veículo. Mais nada lá para cima? Diante do silêncio unânime, subiu a escadiestavam bem nha de trás, verificandose as malas sem perigode se
amarradasem cima da capota, Ia entrando de novo no carro, para partir,
perderem pelo caminho.
conto de FLAVIO PIZA
quando um moleque chegou sem fôlego. Seu Flêncio, um minuto, que aí vem uma encomenda.
— Onde?
Aí vem, virando a esquina.
E virou mesmo a esquina. Uma carrocinha de um animal, sacolejandoa trote, Comum cai. xão de defuto atravessado sôbre os fueiros. Florêncio gritou para o moleque: Isso ai?
— É, sim. Para a Água Parada. O entêrro tem que vir amanhã cedo. Mas onde vou pôr êsse trem ?
A jai•dineiradas cinco da tarde para Santo
Atnônio viajava sempre cheia. Mas, aos domingos,
a lotação dobrava. E aquêle dia era domingo. Desde as quatro horas todos os bancos es-
tavam tomados.Ninguémse atrevia a marcaros
lugares, preferindo curtir dentro do carro o calor sufocante a brigar com intrusos que não respeitassem as marcas ou com alguma dama que abu-
sasse da fraqueza do sexo. Fora do carro estavam os condenadosa viajar em pé, para quem tanto fazia êste como aquêle ponto dentro da fornalha.
Enquanto os grupos trocavam as últimas re-
comendaçõese iniciavamas despedidas,chegava uma menina:
Em riba, não cabe? A carrocinha chegou e, a poder de muita ginástica, lá foi o caixão para cima da capota. E o motorista sugeriu ao carroceiro: — Fique rezando para. não chover. Olhe co-
mo está o tempo do lado de lá. Não tenho jeito
de tirar o encerado que enrolei nas malas. Será que o pano estraga com chuvisqueiro? Leve meu enceradinho. Se chover, você estica em cima do caixão. — Trago de volta amanhã cedo, Obrigado. Ao sentar-se na direção, Florêncio ouviu alguém, lá no fundo:
Caixão de defunto! Dá azar na viagem. — Não fale isso — retrucou outra voz. Um cristão precisa de cntêrro decente. Falta de caridade!
Depoisde mais uma buzinada, entraram os
— Seu Florêncio,papai mandou pedir para deixar esta encomendana Cruz Caiada. — Pode dizer que está entregue. O pai disse para entregar isto também para o senhor . E o mctorista recebiauma cédula dobradi-
eternos retardatários. Houve um longo espremer
do com a ética . Um minuto dcpois era uma velha: O senhor pode me fazer o favor de en-
— Não cabe! Vamos ver rematou o Florêncio. Espreme que espreme, coube todo o mundo.
nha, que enfiava no bôlso sem examinar, de acôr-
tregar êsty pacote ao Marcolino, na Serra Verde?
— Perfeitamente, dona.
Quantoé o trabalho?
Nada, minha senhora.
O senhor não se zanga?
Não se incomode,dona.
de corpos e sussurrar de vozes, numa acomoda-
ção geral. E o ônibus partiu.
Ao se atingirem as últimas casas da cidade,
numa esquina, avistou-se um magote de gente que
acenava de longe. — Tudo aquilo?
E o carro partiu, com passageiros até nos estribos das portas. Uns dois quilómetros adiante, junto ao mata.douro,havia uma venda. E mais uma porção de gente à beira da estrada. — Não dá mais jeito!
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— Virgem!
Valeu aquêle apêlo à Virgem, pois a poder
de muitos .com licença», «por favor» e empurrões, entraram todos. Mas era claro que agora não havia mais jeito. Também, dequele ponto em diante não era de se esperar mais ninguém. Já haviam rodado sem novidades alguns mi-
nutos, quando começou a cair um chuvisqueiro ralo, mais garôa do que chuva. O Florêncio pensou no caixão de defunto. Seria preciso parar e subir à capota para cobrí-lo. Mas, na primeira curva, sai um passageiro de dentro de uma santa-cruz, a pedir lugar.
— Nem por milagre!
Mas o Florêncio achou solução. Moço, aqui não cabe. O senhor não faz questão de viajar lá em cima, junto com as maIas? Vai se molhar, se a chuva apertar, mas que
Se molhar, paciência. Eu preciso chegar hoje. Nem que seja em sopa. — Moço, já que o senhor vai subir, quer levar êste enceradinho para cobrir um caixão de defunto que está tomando chuva lá em cima? O senhor cobre e poe os pés do caixão em cima das
pontas, para garantir do vento. — Vou bem de companhia! Pode deixar, que eu cubro o bicho. — Onde vai descer? Lá de cima é difícil dar sinal
— Vou até Santo Antônio. Não tenho que dar sinal, O homem subiu. Ouviu-se um arrastar rápido sôbre a capota e pouco depois o grito: — Pode tocar! Agora, a chuvinha começou a apertar. Os limpadores de parabrisa já tabalhavam sem interrupção. O carro corria em marcha normal e já vencera um têrço do percurso quando novo passageiro saltou de dentro de um ranchinho de sapé acenando em gestos largos. Será possível ? Misericórdia !
Deixa o homem aí! Largar um cidadão na chuva? E se fôsse voce? O caro parou. E o Florêncio, diplomàtica mente:
— Moço,aqui o senhor vê que não há ieito.
O senhor tem êsse casaco bom para chuva. Só se
fôr lá em cima, com as malas. Ficam em dois. Fazer o quê? Preciso ir para casa.
—Vai até Santo Antônio? Vou, sim.
O homem subiu e calou-se. Florêncio, como
a demora fôsse muita, gritou junto à janela:
Pode tocar? Pode!
E novamente o carro partiu. A garôa continuava, teimosa, mas a viagem rendia, porque
ninguém pedia para subir ou para descer. Há nas
viagens de ônibus, no meio do caminho. um período sem paradas. Passou a hora de subirem os
últimos e ainda não chegou o tempo de descerem os primeiros. Florêncio, conhecendo mais ou menos a freguesia, fazia já seus cálculos. A primeira parada seria para o José Anselmo com a família,
no Paredão Roxo, lá muito para diante.
Depois das seis horas a garôa começou a me-
lhorar. Florêncio parava por vêzes os limpadores de parabrisa. O tempo refrescara e o banho de chuva arrefecera o fôrno em que o povo viajava engaiolado. Nos ônibus entupidos a conversa per-
manece moderada. Há uma parede de criaturas obstruindo os corredores, impedindo que a prosa se generalize.Trocam-se frases entre os passageiros do mesmo banco, em vozes comedidas. Gritos, só os de tôdas as bôcas nos solavancos ou nas brecadas imprevistas. Naquela tarde, com a estrada boa, não havia causa para isso. Ao atravessar a ponte do Ribeirão das Pom-
bas, Florêncio acelerou a marcha. Com a carga pesada, precisava aproveitar o plano, embalando o carro, para vencer a subida longa que tinha peIa frente. Se fôsse forçado a mudar a marcha, seriam longos minutos de um arrastar penoso, o motor gemendo agoniado. Foi na hora dêste embalo que Florêncio viu o vulto surgir diante do parabrisa, bater um pé na capota do motor e desequilibrar-se.Antes de entender o que se passava, havia pisado nos freios, jogando os passageiros para a frente, num escarcéu infernal. Depois de rolar sôbre o paralama, o vulto desapareceu, caindo na estrada. Quando o carro parou, foi necessário muito grito e muito empurrão para que o Florêncio alcançasse a porta. Em pânico, todo mundo berrava por sair, mas ninguém se movia do lugar. O homem estava estendido perto do barranco, na cabeceira de um esgôto. Tinha sangue pela cabeça e pelo rosto e estava desacordado. Estaria morto? Raio do inferno! E agora, que jeito dar nessa criatura? Um cidadão mais ousado e mais sabido pôs a mão no peito do homem e sentenciou:
— O coração está batendo.
Arre! Havia de ser o diabo! Acomodaram o ferido de costas, afastando-o da poça da beira do barranco. Longos minutos se escoaram sem nenhuma decisão, enquanto pipocavam sugestões e palpites, que ninguém entendia no meio do vozerio. Florêncio apenas chegou
a ouvir:
Eu não falei que dava azar?
— Bôca de bagre! Dentro de algum tempo, porém, um carro de passeio surgiu lá no alto, vindo de encontro, diminuindo aos poucos a marcha. Junto do aglomerado, parou. Olhe o doutor Francisco! — Graças a Deus! Doutor, acuda êste homem ! O médico examinou o desfalecido como pôde.
Mas, quando procuravam aCbmodá-lono automóvel, a fim de trazê-lo de volta para a Santa•Casa, êle começou a regair. Alguns minutos depois recuperava completamente os sentidos e, entre os continua
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gemidos que lhe arrancava a perna quebrada, já conseguir contar o que sentiu. Quando pedi que parassem, o motorista mostrou que não havia lugar. Não havia mesmo . Só lá em cima. Eu precisava seguir e não podia fazer luxo. Mas, assim que subi, fiquei com a pul-
ga atrás da orelha. O motorista dissera que havia mais um e eu não encontrei ninguém. Que diabo! O senhor se ponha no meu lugar, doutor! Onde estava o outro? Vi o caixão de defunto com o encerado por cima, com as pontas entrando por
baixo da tampa, mas empaçocadonum ponto, deixando-a meio erguida. Comecei a desconfiar de que o outro podia ser um defunto dentro do cai-
xão, Mas, que diabo! O motorista não podia fazer uma brincadeira assim tão estúpida. Estava na obrigação de me avisar. Não se põe um homem junto de um defunto sem uma palavra de prevenção. Outra coisa que me implicava: ainda
estávamos muito longe de Santo Antônio e os defuntos daquelas alturas não podiam ir para lá. E aquilo não era forma de se fazer um entêrro: o povo lá dentro e o d'efunto aqui em cima, sàzinho, sem ninguém de guarda. Acabei me con-
Mas, vencendo de que não podia haver defunto. Cooutro? o se não havia defunto, onde estava tiAgora, motorista. mecei a ficar com raiva do apehistória, a inventara êle nha certeza de que isso, estanas para me pregar um susto. Se fôra porque eu latim, va muito enganado. Perdera o O claro! é isso Ressabiado, ia indo muito bem. repetindo foi cabeça minha e tempo foi passando que tudo isso, uma, duas, cem vêzes. E eu dizia motorisdo bêsta tudo era bobagem, brincadeira ta. A chuva começou a abrandar. De repente, dou-
tor, eu vi que a tampa do caixão começou a subir. Senti um frio na espinha e o estÔmago gelou como sorvete. E a tampa subindo, devagarinho. Eu estava sentado na frente, pois em cima das rodas de trás os sôcos são mais fortes. A ca-
beira do caixãoestava para trás, perto da escada. Para descer, eu tinha que passar, engatinhando, encostado com a tampa que se abria. Eu já estava tremendo como uma vara verde! Houve um arranco mais forte da tampa. •Vi gente no caixão. E a cabeça do defunto mexeu, enfiou-se por baixo da
tampa e gritou para mim:
«Já passou a chu-
va?» Não sei se pulei ou se caí, doutor!
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O que dizem de Piracicaba
PIRACICABA
QUE EU VI
De DAVID ANTUNES
Conheci Piracicaba em fevereiro de 1912.
Aqui vim tocado por um ditame ao corpção. Fiz uma viagem dura: quase cinco horas de trem, de Jaú a Rio Claro, e mais seis horas de jardineira, de Rio Claro a Piracicaba. Mas como tudo me parecia novo, belo e translúcido! Até a poeira de
parceriacom o sol, me filigranavaa roupa e o
ânimo. E eis como posso agora dizer, com tôda a seriedade, que certo dia fui criador da Beleza,não importa que só a mim me fôsse dado senti-la. Com êste pormenor, irrelevante na aparência, desejo ressaltar que o sofrimento é apenas uma opi-
nião e demonstrar a validade de meu adorado Anatole France: «Saber não é nada, imaginar é tudo». A lembrança da primeira viagem interferiria para modificar a impressão da segunda. Só anos mais tarde se me escamaram os olhos para constatar, por nova experiência, quão estafante era cruzar o doloroso areão que separava as duas cidades vizinhas.
Meu companheirode viagem era um russo;
cinquentão, bem falante, cortês. Lamento que seu nome se haja evadido por uma das muitas frestas da memÓria. Contara que saira à aventura de sua
Até agora foram
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terial selecionado da mais alta qualidade
terra, a Ucrânia. Após várias transladações de sua existência acidentada, viera surpreender-se no Rio de Janeiro, em época de epidemia, já se sabe
que de febre amarela ou peste bubônica. Fugira para São Paulo e de lá ganhara Piracicaba, onde pretendia morrer. Aqui se estabeleceu,tenho pa-
Transformadores com comutador externo
ou interno
ra mim que na rua da Glória, parece-me que com
negócio de latoaria. «Não há lugar melhor no
mundo» — dizia-me, com os olhos acesos nas fa-
gulhas de seu entusiasmo. E, como que para que incutir bem fundo sua convicção,fez timbre em repetir, com dedo espetado no ar: «No mundo, no mundo!». E está aí a primeira mensagem que recebi de Piracicaba antes mesmo de conhecê-la: a primeira terra do mundo. Para mim, nada mais evidente. Ao desembarcar à porta do Hotel do Janjão, eu me certificava de que não existia no mundo terra melhor. Pelos dias que se seguiram, as tendências afetivas mais atuaram sÔbre a. percepção da realida-
de, e tive a revelação,assim me posso exprimir, de que o salto, a rua do Pôrto, as flôres, os pássaros, o céu, a lua, as estrêlas se concertaram para uma acolhida amorável ao seu hóspede eventual. Eu tinha vinte anos e o desejo precípuo de que as coisas fôssem como eu queria que fôssem.
Demais estava amando... (De uma palestra proferida na reunião do Rotary Clube, dedicada ao 193.0 aniversário
da fundaçãode Piracicaba).
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Nasceu
Piracicaba
poeta
sergipano
Sergipano, veio menino para Santos e depois, subindo ao planalto de Piratininga, se ligou, nas redáções dos jornais, com Paulo Gonçalves, Rodrigues de Abreu, Galeão Coutinho, Narbal Fontes,
Silveira Bueno. Sua produção poética, cheia de lirismo e faiscante de inteligência,era disputada pelas principais revistas e páginas literárias do país. Pouca gente sabe que o poeta Cleómenes Campos nasceu nas colunas do «Jornal de Piracicaba», que, aliás, acolheu, também, as primeiras produções de Menotti Del Picchia, de Gustavo Teixeira e de Rodrigues de Abreu. Foi a 21 de maio de 1915 que saiu, estampado pela primeira vez, pelo «Jornal», em letras de fôrma, ugra produção poética de Cleómenes
de Campos. Transcrevemos aqui soneto «Vidas Gêmeas», do adolescente poeta, com a profética apresentação feita pelo seu primeiro crítico literário: «É com muita satisfação que lemos as produções dos galuchos das letras. Nem sempre, valha a verdade, elas nos deixam o ouvido intacto e livre de arranhões o nosso senso estético... Mas nelas encontramos sempre um encanto especial, o viço e a frescura das flôres que desabrocham, a sinceridade e a lhaneza das almas boas e francas. Lendoas recordamos com saudades, através de imperfeições e indecisões, os nossos saudosos tempos de principiante, cheios de esperanças, hoje desvane-
cidas. Relembramos,ainda emocionados,a inexplicável sensação experimentada ao vermos em letra de fôrma os nossos primeiros pés quebrados. Por isso, desejávamos ter o prestígio suficiente para, pegando pela mão todo poeta bisonho, ampará-lo e guiá-lo nos seus primeiros passos pela ilusória vida literária. Mas
os nossos abraços, curtos e fracos; não
alcaunçamtanto e tantos são também os principiantes que, cheios de esperanças e talento, en-
cetam a romaria para a Messe do sonho e do beIo, que já é uma satisfação íntima de nossa humildade e do nosso silêncio, vê—losdesfilar garbosos e destemidos,levando na fronte a auréola dos predestinados. Cleómeneg Campos, que despretensiosamen-
te se alista nessa falange, reside em Santos e é um moço nortista, da terra fecunda que gerou o talento de Tobias Barreto o belo talento de Sílvio Romero. Pertence a uma distinta família que
já tem produzidovarões ilustres; é muito jovem ainda, modesto e bom — e que possui talento e LOSSO NETTO
(Especial para «MIRANTE»)
Cleómenes Campos pertenceu à geraçãO de poetas da boêmia paulistana, que preparou o movimento de renovação literária e artística no Brasil, eclodindo na «Semana de Arte Moderna».
inspiração prova-o o soneto, que hoje publicamos
e que é a primeira produção sua que recebe o sagrado batismo do prelo. Por certo, quem assim começa, se fôr constante e estudiosoe se não perder precocemente essa grande ilusão da vida, alimentada por todo poeta bisonho — a ânsia da glória e da perfeição — por certo, quem assim começa há de chegar, altivo e feliz. ao fim desejado. (Raimundo) VIDAS GÉMEAS Aos vórtices do amor, que relembrandcyvivo,
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Opus-me e sucumbi, qual tu que resistias, Ao vento rijo, ao frio hiemal, ao sol estivo, Versuda — e és hirta como as cúspides esguias! Cansei-me, e envelheceste. Árvore, então, me [esquivo
Da revoada gazil das almas alegrias... Hoje não mais possuis um verde ramo ativo, Esperanças não tenho. A um outro ser, tangias.
As cigarras, que outrora em bando, nos teus ramos
Orquestravam, não mais consagram-te uma [trova... Foram cigarras, pois, meus sonhos. Já cansamos... És velha; és sêca; — eu triste: a mesma dor nos [trunca.
— Que floriste e brotaste — o teu vulto o com[prova.
Que amei — prova-o o meu ser, que não se ale[gra nunca... A caminhada do sonho estava encetada: carreira brilhante, que o conduziu a um dos mais proeminentes pontos na poética brasileira, com os volumes «A humildade», «O meu livro de amor» e «Coraçãoencantado», laureado pela Academia Brasileira de Letras. Cleómenes Campos, nos tempos áureos das
declamadoras, era dos poetas mais seguidamente interpretados, pela delicadeza de seu estro, pela doçura de seu sonho, pela beleza rara de seus versos. Ainda hoje ressoam em nossos ouvidos duas
jóias musicais de sua privilegiada lira: RELENDO
A VIDA DE JESUS
relendo a tua Vida, senti o insulto dos escarros no meu rosto, a humilhação do açoute em minhas costas,
e em meus ombros o pêso imenso dessa cruz; por vêzes olhei meu corpo,
para ver se êle estava ensangüentado Mas vem-me agora um triste pensamento: «E se vivi naqueles dias ao teu lado sem crer no que dizias?' Perdoa-me, Senhor! E se assisti indiferente ao teu suplício? E se te fiz sofrer também alguma dor? É muito pouco este arrependimento: Castiga-me, Senhor! Castiga-me, Senhor!
EU TINHAUM BEIJO PARA A SUA BOCA Eu tinha um beijo para a sua bôea. Ela estava, porém, tão alta, que em verdade não podia jamais florir em realidade a minha idéia louca .
Era linda! Cantava... Uma voz harmoniosa! Certa vez, por acaso, olhou-me lá de cima, e eu fiz uma canção bem simples, amorosa, em que deixei meu beijo ardente, numa rima, como um pequeno pirilampo numa rosa .
A canção correu mundo, ágil e colorida, a espalhar pelo mundo a minha idéia louca. Um dia, ela também a cantou, distraida... — Foi assim que beijei a sua bôca.. Eis aí o poeta CleómenesCampos, o poeta s•rgipano que nasceu em Piracicaba.
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PORTA LARGA: exemplo de Fé nos
DESTINOS
Não será lugar comum apenas dizer que a
inauguração do novo prédio e das novas instalações da «Porta Larga» foi um acontecimento mar-
de
PIRACICABA Reportagem de MIRANTE Fotos LACÓRTE
cante não só nas atividades comerciais mas também na própria vida social da cidade. Não será lugar comum porque o acontecimento foi mesmo daqueles que marcam algó diferente, para melhor, no seio da coletividade piracicabana. PeIa riqueza, pelo modernismo, pela funcionalidade,
por tôda a sua concepção de indiscutível vanguarda, a nova loja «Porta Larga», transcende à capacidadede iniciativa de uma firma comercial e se projeta como um exemplode fé nos destinos de Piracicaba,a ser seguido de perto por outras firmas que estão em condiçãode o fazer. A inauguraçãofestiva a que assistimos, no dia 8 do corrente, pode ser considerada como um ponto de referência do bom gôsto e da confiança da firma Chicre Zaidan Maluf e Cia., que tem como gerente em ncssa cidade a 'figura altamente. sim-
pática do jovem Salim Z. Maluf.
continua
Pela riqueza, pelo moder-
nismo, pela funcionabilidade
por toda a sua concepção
de indiscutivel vanguarda, a nova loja «Porta Larga», transcende à capacidade de iniciativa de uma firma comercial.
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Phelippe Z. Maluf um dos fundadores da Porta Larga.
A inauguração das novas instalações da «PORTA LARGA» foi um acontecimento marcante não só nas atividades comerciais mas também na própria vida social da cidadel
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Momento em que o Mons. Mustchele e o Sr. Chicre
Maluf desatavam a fita inaugural,
Quem esteve no ato festivo inaugura , que
teve a bênção de Monsenhor Francisco Mütschele
e contou com a presença de centenas de pessoas de nossa sociedade,entre clas o Dr. Salgot Castillon, Prefeito Municipal, Prof. Rodrigues Lou-
Üaa•
renço, Presidente da Câmara, Fued Helou Kraide, Presidente da Associação Comercial, jornalistas
Sebastião Ferraz e Losso Netto, «Diário» e do «Jornal», Prof. Joaquim do Marco, do Conselho
Coordenador, Capitão Antonio Bruno, Comandan-
te d'a 2.a Cia. do 8.0 B. C., quem esteve presente
ao ato inaugural, repetimos,além de haver sentido o contacto amável e gentil dos componentes da firma, expresso nlm formoso improviso pelo Prof. Francisco B. Libardi e pelo fino co-
quetel oferecido, ainda pôde avaliar o que representam para o progresso piracicabano as novas instalações da «Porta Larga», aliás tão bem enaltecidas num feliz improviso pelo Prefeito Salgot Castillon. «Mirante», que presenciou a inauguração con-
fessa seu júbilo por acontecimento tão expressivo e manifesta seus parabéns e votos de prosperidade, que bem merece, à firma Chicre Zaidan Maluf, desejando que a «Porta Larga» seja, real-
mente, uma porta bem larga de êxito para seus
realizadores.
Grupo formado na amplá e luxuosa loja por ocasião de sua inauguração.
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mo de outro feliz evento, que é o jubileu de pra. ta de suas atividades jornalísticas, apresentandolhe os mais efusivos parabéns e votos de felicidades. Como homenagem especial e carinhosa, trans-
crevemos os versos simples mas expressivos que
lhe dedicou nosso redator-chefe Prof. Joaquim do Marco.
A festa que hoje nos une,
Jornalista Sebastião Ferraz, diretor do Diário de Piracica-
ba.
NATALÍCIO DE PRATA
NA IMPRENSA
Transcorreu, a 7 do corrente, o aniversario natalício d'O jornalista Sebastião Ferraz. A efeméride foi das mais gratas, não só pa-
ra a imprensa piracicabana,na qual o aniversariante é, sem contestação, um expoente admirado, mas também nos meios sociais, culturais
e de atividades da cidade, que êle tão bem e com tanto entusiasmo vem servindo. Suas credenciais como presidente, há quatro anos, do Departamento Municipal de Cultura, como presidente atual do Lions Clube e como membro proeminente da Loja Maçônica local, apontam-no à ad-
miração e ao respeito de nossa gente e o indicam mesmo ao título bem merecido de «cidadão piracicabano».
Corajoso e inteligente,
Vai quebrando qualquer «galho».
SEBASTIÃO FERRAZ:
JUBILEU
Neste caro e belo dia, É uma festa de amizade, E é uma festa de alegria. É que um grande amigo nosso — O bom Sebastião Ferraz Entre sorrisos e abraços, Mais um ano hoje faz. Jornalista que se fez Na escola só do trabalho,
Esta revista, que deve, entre outros, os excelentes serviços de linotipia à especial deferêntem o maior prazer de cia de Sebastião Ferraz, U registrar a passagem de seu aniversário bem co-
Comoliterato e poeta
— Ele o é de bom quilate — Escreve com muito gôsto, Pela beleza se bate. Há quem diga que o Ferraz
Ê impulsivoe é bravinho,
Mas os casos de que trata Sempre os trata com carinho. Pra cá veio de outras terras Mas tomou-se de paixão pela Noiva da Colina Que lhe enche o coração. Sua ação é multiforme Pelo bem desta cidade, Que êle defende bravio Com tôda a sinceridade. E quem o vê nessa luta Engolfado em tôda a linha Nem suspeita que é avô De uma formosa netinha. E esta é de Piracicaba, Que o torna mais cá da terra. Por ela é que o avô Ferraz Por nossa causa mais berra. Também dona Natalina Merece seja lembrada, Porque tem sabido ser Esposa mui dedicada. Enfim, meu caro Ferraz, Findemos a saudação Que pelos amigos te faço De todo o meu coração. Nosso desejo sincero,
Neste modesto saudar: Que toda afelicidade
Passe em tua casa a morar.
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Na passagem aniversário
de seu
O PINTOR VL ADAN STIHA É HOMENAGEADO
POR SEUS
DISCPucos VladanStiha sopra as velinhas do artistico bolo em forma de palheta.Aparecem ainda MarioStolfe MariaNaza-
reth Stolf.
Homenageadoe ofertantes. Da esquerda para a direita: srta. Ivony Prates, o
diretor desta revista; Sra. Nice Aldrovandi; Vladan Stiha; sra. Ivone Stolf; srta.
Cenise Monteiroe Pedro Chiarini.
Vladan e um «bouquet»de brôtospresentesa festa.
Reportagem de MIRANTE
d'
Fotos: CANTARELLI & NASCIMENTO
A familia anfitriã confirmou totalmente a
Uma homenagemsimples, mas bastante significativa, foi prestada a Vladan Stiha pelos alunos do Curso de Pintura, Escultura e Cerâmica do Conserva. tório Dramático e Musical de Piracicaba, por ocasião do aniversário do pintor.
do A festinha que teve lugar na residência sucesso socasal MarioStolf constituiu-seem autentico ciai dada a sua expontaniedade. Foram deliciosos mo. mentos de confraternizaçãovividos entre alunos, professores (o notável pintor Alberto Thomazi, também professor do Curso, achava-se presente) e demais pess0as que lá compareceram.
famosa hospitalidadebrasileiraao recebera todosde formaa deixá-losimediatamenteà vontade. Na ocasião, foi oferecido aos convidados uma farta mesa de dôces e bebidas. Vladan Stiha recebeu de seus alunos uma lembrança e não faltou o tradicional bolo de aniverSário, uma verdadeira obra de arte (como convinha à ocasião) idealizado por D. Nice Aldrovandi O bolo notável pela sua concepção, era em formato de palhetas, com diversas côres distribuidas
sobre.ela e figurando em cada côr.o nome de um an luno. Os pinceis, na abertura da palheta, completavam o Conjunto. Assim em virtude de sua arte inconfundível, Vladan Sthia vê firmar-se entre nós, cada vez mais, seu conceito de homeme pintor.
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e Mntas irreais; penteiam-se caprichando no despenteado. Outra coisa: as mocinhas adoram parecer doentes. Porém, não exibem a languidez de uma Margarida de Gautier ou o encanto suave de
uma Mimi tísica e evanescente; preferem outras moléstias mais elegantes pelas insinuaçoes sociais, e tingem os lábios de roxo (beribéri) , aprofundam as olheiras (demência precoce) ou esfarrelpam o
cabelo (acomia micótica) ,
culto
para se sentirem
mórbidamente lindas...
Quantas vêzes vemos um casal de adolescentes engarupado numa lambreta, o rapaz pálido, de tpête avantajado a espanejar ao vento, a camisa preta colante ao corpo frágil; a garôta, à sua
retaguarda, com uma mecha sobre os olhos, as ancas infantis sacolejando nos «blue-jeans», os braços voluptuosos abraçando a cintura do companheiro... Mas não são esportistas, são dois fanhá uma depritasmas .-voando para o mente impressão de ceticismo ou de fatalidade nessas crianças prematuramente desiludidas. Che-
gam a um bar distante, encostam o veículo à sarjeta, apeiam. Não fitam ninguém, não sorriem. A
melancoliase fixa nas suas faces e nos seus gespiquenique"funerário— dir-se-ia que ambos têm
tos. São personagens de Morgan, unidos para um
feiura
algo de tenebroso que ocultar, que são portadores de uma tara maldita... Mas, não! São apenas modernos, amam o feio, o fraco, o insubsistente. Cultuam a maconha e a lambreta, dois instrumentos de fuga e de aventura. Não há nada mais bonito, para êles, do que a imolação da fôrça e da beleza («babozeiras. .. ») , no altar pagão do
cinismoe do deboche.
Ontem, ainda, passou por mim um espirro
de gente — uma menina-vamp. Era esguia como
um lápis, vestia um conjunto colante, de «jersey», calçava chinelas chatas, usava uma peruca de ban-
dós esfiapados que caiam sôbre o rosto; os seios pequeninos e as nádegas murchas apenas alteavam FRANCISCO LUIZ RIBEIRO
a malha; os beiços cobertos de baton violeta tinham o aspecto sombrio de curativo hospitalar; negras olheiras alongadas por um «crayon» ordinário; pálpebras verdes, contrastando com o .póde-arroz alcatroado das faces. Andava depressa, o olhar fixo em frente, e estava plenamente satisteita com a sua feiura agressiva. Despia-amentalmente de tudo aquilo, lavei-lhe o rosto, envolvia-a
— Êta mulher feia... Olhei. Era feia mesmo, feia pra chuchu! E
parecia fazer questão de ser feia, porque acentua-
va a feiura com artifícios:trajava uma capa que a enrolava como um capulho, de cuja extremidade superior saiam uns cabeloslisos, tintos de
amarelo, esgadanhados, que lhe davam a aparên—
cia de uma espiga ambulante.
Não entendo de modas e costumes feminincs.
As minhas magras crônicas fogem do assunto que pertence a outros colunistas. Mas tenho notado
vício que as mulheres contrairam o inexplicável deformar modo a de vestem-se enfeiarem: de se o corpo, pintam-se e se lambuzam com cosméticos
num vestido leve e primaveril — e descobri que a diabinha era até bonita! Mas assim como estava, lembrava uma •daquelas lombriguinhas de Walt Disney, que andam de pé e moram dentro de maçãs.. A gente não sabe muito bem o que pensar dessa distorção estética, mas é obrigado a procurar alguma razão para o fenômeno. Talvez encontrêrno-la na preguiça, na terrível preguiça mental que assola os jovens modernos. A «mãe de todos os vícios» , no dizer de Platão, gerou nos cérebros embotados da geração LP uma porção
de manias malucas e dé hábitos feios; para essa geração, feiura e maluquices são admiráveis ornamentos do espírito. .
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DORINA GOUVÊA NOWILL e os CEGOS
aprendizado,naquele tempo, eram bem maiores que hoje, quando já temos classes especiais,nas escolas secundárias, para os cegos Outro dia, lemos no Suplemento Ilustradc «Singra», que vários jornais distribuem, uma reportagem sôbre o aproveitamento do cego, cujo título era «Homem de visão cria Banco para os cegos».
MÁRIO PIRES
Não há dúvida de que, apesar de tôdas as dificuldadese do aviltamento de nossa moeda, a geração atual conta com inúmeros benefícios que não foram dados possuir por nossos avós. A ciência e o conhecimento humano progridem dia a dia, e muitos tabus têm desaparecido. Haja vista, o que se passa em relação aos cegos .
Antigamente, a cegueira alijava o indivíduo completa inatividade, tornando-se-lhe insuportável, a vida, porque a inatividade total leva ao desespêro.
Os que nasciam de lares abastados deixavam-se ficar a um campo, amargandosua desdita. Os desfavorecidostambém da fortuna saiam
.à rua, a esmolar.
Depois, almas bondosas e evoluidas criaram instituições de amparo e ensino artezanal para -os cegos,.como o Instituto Padre Chico, da Capi-
tal paulista, e êles passaram a encarar sua fatalidade, com um primeiro sorriso. Lá, iam adentrando o mundo maravilhoso da leitura e do saber, lendo com os olhos das mãos, o Braille. Ou-
tros, orientados por mãos missionárias, deixavam de lado a inatividade mortificante, e foram aprendendo várias atividades artezanais. Uniam, assim, o útil ao agradável, deixando de estender as mãos
à caridade pública, e passando a viver às suas próprias custas. Hoje em dia, porém, a vitória é total. Os bancos ginasiais ou universitários já agasalham, lado a lado, os videntes e os cegos, E já temos, em nosso país, advogados, professores, técnicos, embora não possuam a luz dos olhos .
Homens de visão, esclarecidos, vêm afirmando que, para certos misteres de responsabilidade, é preferível o profissional cego, ao vidente, por-
que naquele, a sensibilidadee a atenção ficam mais apuradas. Em nosso tempo de normalistas da «Escola
Normal da Praça», na Capital paulista, tivemos, por contemporânea, a primeira deficiente visual a fazer o curso de formação do professor primário. Trata-se de Dorina Gouvêa. Lémbramo-nos
Trata-se da criação de um Banco de Crédito cuja idéia partiu da Campanha Nacional de Educação de Cegos. Diz-se que êles podem aprender e exercer mil e quinhentas profissões melhor do que os profissionaisvidentes, por causa de sua maior possibilidadede concentração! Vale assinalar o bonito e humano gesto do último Prefeito do do ex-Distrito Federal, Sr. Sá Freire Alvim, assinando a nomeação de vários internos do Instituto Benjamin Constant para Cegos, para exercer as funções de massagistas nos hospitais cariocas. Reportando-nos novamente a Dorina Gouvêa,
hoje casada e com um diploma universitário, queremos render-lhe nossa homenagem de ex-colega na «EscolaNormal da Praça», e externar-lhe nossa admiração pelo seu incansável trabalho em prol de seus companheiros. Assim é que Dorina, hoje Dorina Gouvêa No-
Will,tem a seu crédito, duas magníficas realiza-
que destacam seu espírito dinâmico e fraterno, ou sejam, a «Fundação para o livro do Cego no Brasil» e a revista especializada «Lente», órgão da Fundação.
Essa revista há tempos nos chega, cada trimestre, regularmente às mãos. O último número que temos à mesa, é o volume IV, n. II, referente ao primeiro trimestre do corrente ano. Muito bem impressa, trás em seu bôjo colaboração valiosa e conselhos e orientação para os cegos e mesmo pa-
ra os videntes. Na contra-capa, nota-se o clichê do embarque de vários caixotes contendo impressos, em ca-
ráter braille, a todo o território nacional.
Um dos mais importantes artigos dêsse exem-
plar de «Lente»,é justamente de autoria de Dorina, em colaboraçãocom o dr. Rubens Belfort de Mattos. Trata-se de «O papel do oftalmogolis-
ta na educação e reabilitação de deficientes visuais», tema livre apresentado pelos dois autoles, na «X Jornada Brasileira de Oftalmologia», realizada no ano próximo findo, em Curitiba.
Recomendamos, pois, a leitura de «Lente»,
revista que pode ser solicitada à «Fundação para o Livro do Cegono Brasil», rua dr. Diogo de Faria, 558, São Paulo. Dorina Gouvêa Nowill, ao lado de Lelia Veli-
ne, outra cega notável, merece a nossa profunda admiraçãoe a gratidão de milhares de cegos ou
que a então adolescente extraordinária fazia-se acompanhar de uma não menos extraordinária colega,que a ajudava a se locomovere, natural-
amblíopes, espalhados pelo Brasil. Essas duas inteligentes, cultas e dinâmicas mo—
ra nessa atividade e as dificuldadesde estudo e
traordinária
mente, na cópia das aulas. Pode-se dizer que Dorina Gouvêa foi pionei-
cas, que não se deixaram ficar inativas, passando as horas e os dias lamentando seu destino, são bem as dignas continuadoras brasileiras da exHellen Keller.
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Lila MariaFerraz Freitas Modista:Iracema SilveiraSchalch- Rio Claro
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Sonia Maria Polacow Modista: Maria Moniz Penteado: Maria de Lourdes Santos Lopes
Valy Maria Gianetti Modista: Genoveva Bonilha Penteado: Assunta Mascarin Martins
Penteado: Albina C. Mayer
Modista: Clarice Francoso
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Dr. PauloPereirada Fonseca, que está abordando aqui o tema da desidratação. Isis Francisca Gianetti
Modista: D. Italia Rafael Penteado: Albina Contador Mayer
Romance da Desidratação DR. PAULO PEREIRA DA FONSECA Encaminhada pela mão amiga do farmacêutico da esquina, eis que, em prantos, cabelos em desalinho, pelo consultório a dentro do médico embarafusta-se uma pobre mulher do sítio, seguida de comadre dedicada. Ao colo, mal agasalhado em trapeiras e mais trapeiras, trazia ela o filhinho querido, a sugar o seio murcho. — Seu doutor! Veja eni que estado se encontra meu filho'.... Salve-o, pelo amor de Deus!
exclama
sem rodeios a coitada, ávida de socorro imediato. — Mas... que judiação!... Como está ruinzi-
nha a criança, minha Nossa Senhora' — observa como que surprêso o facultativo, o qual, muito embora habituado àquêle quadro, pesaroso, me-
neava a cabeça encanecida, dando-se pressa em
Maria Nely Junqueira Cobra Modista; D. Italia Rafael Penteado: Albina Contador Mayer
bem examinar o pequerrucho que, em verdade, mais parecia um anjinho, tamanho o estado de miséria orgânica exibido pelo mesmo. Era só pele e ôsso o desgraçado. Careteava ao invés de chorar. Sua fisionomia encarquilhada assemelhava-se à de um velhinho pelancudo, crivado de rugas. Faz tempo que êle está doente, seu doutor!..: Antes era gorduchinho, viçoso... Dava gôs— to vê-lo. Sempre alegrinho, coitado! Uma bonise teza de criança, só vendo! Pouco a pouco, não con tinua
sabe como foi, apareceu com febre, vómitos, destempêro de barriga... Depoisdeu de ficar com sapinho, feridagens na bôca... Aí, então, seu médico,
foi por água abaixo... Descaiu de uma vez... Até hoje não houve nada que cortasse a doença...
esclareceu, à seu modo, a companheira, esforçan-
do-se por traduzir o pensamento da amiga que, visivelmente transtornada, não pudera ainda dominar as lágrimas. — Escute aqui, minha filha: por que razão só agora é que se lembraram de trazer ao médico o menino, se há tanto tempo assim está êle doenLinho? — obtempera o doutor, enquanto, de ur-
gência, auxiliado pela enfermeira, tenta pôr em
prática algumas providências salvadoras ou... proteladoras .
É pena, francamente, terem demorado
tanto ... — insinua o médico aos presentes quanto
à gravidadeevidente do problema clínico que tinha diante dos olhos, uma dessas impressionantes sindrômes .a que o povo da roça habitualmente
denomina de «doença de macaco», infelizmente,
comuníssimourbi et orbi.
Ah, seu doutor, nem diga isso... Temos
feito de tudo,- fique 'sabendo O 'senhor!... Assim febre, chamei a Dita do que o Zêziliho'caiu
Juca que é muito' entendida dessas coisas de crianças. «São os dentes!»
disse-me ela tão
logo viu o menino. Dá início, afinal a infortunada mãe, ao rosáriointérmino. das ' suas lamúrias. — Que aconselhou a Dita a fazer? Que aquilo não era nada... Que comprássemos matricária quando fôssemos à vila... Que, por enquanto, bastava um cházinho de casa... Foi como procedemos, seu doutor, durante três dias. Demogrch$,-de Camomila. chá de erva cidreira...
chá de marcelinha... chá de... enfim, não houve
Chá quemão tivéssemos preparado. Na manhã se-
guinte, o Zêzihho parecia ter melhorado um pouco;•dava a impressão de ser outro. Fomos,é claro; continuando com os cházinhos... À tardinha, com a mudança do tempo, a criança deu de arruinar de uma vez... Não parava nada na barri— guinha dela... Que fizeram, então, filha Conte-me lá, vá! Aí, seu doutor Paulo, não perdi mais temporque para essas coisas a gente -tem Sim, po... de andar depressa, não acha o senhor? Aí, então, levei o Zêzinho p'ra Nhá Chica Pindoba benzer. Ela é muito boa p'ra isso, nunca vi outra igual! Todo o mundo, no Fundão, a conhece. Ela benzeu direitinho o menino e disse ao meu marido que tudo não passava de «quebranto» que êle tinha, garantindo-nos de pés juntos que dentro de 24 horas meu filhinho estaria são e salvo... De fato, naquela noite o coitadinho passou melhor, tendo podido dormir algumas horas sossegado. E no outro dia, como se portou o Zezinho?
— Nem faça idéia seu doutor! Ao contrário esperávamos com tanta ansiedade, a que do ériança arruinara de uma vez, de nada adiantandó quantas simpatias, benzimentos e esfregações
ensinavam as vizinhas... Ela já não aceitava o pei-
to... não mamava mais... faltavam-lhe as fôrças...
revirava os olhinhos que fazia dó... Foi um Deus nos acuda!... Desesperado, o João, a conselho de d. Assunta — o senhor conheceela, não?! uma parteira muito prática que mora na colônia, levamos o meu Zêzinho ao curador de Mirim-Guaçú. Assim fizemos bem cedinho, com a fresca. Partimos na jardineira das 5 e•40 e para lá batemos esperançosos, pois que o homenzinho é de fama mesmo...
Tão grande era a quantidade de pessoas
doentes que aguardava a vez de se consultar que só à noitinha conseguimos ser atendidos... terrompe a comadre Luizona com a sua voz de falsête.
Que fez o curador, minha amiga, em benefício do garotinho? — indaga, curioso, o médico, dando corda à língua daquela ingênua criatura que, no seu despêro, por certo sentia alívio
em relatar minuciosamente os passos errados, fru-
tos da sua ignorânc:a, que fôra levada a dar em favor do entezinho querido, já agora devidamente medicado,como se impunha, dentro das possibi!idades do longínquo lugarejo onde nem ao me-
nos uma Casa Santa existia. — Pai Francelino êta véínho bondoso aquêle!— cruzou as mãos por sÔbrea cabecinha do Zêzinho, cerrou os olhos, concentrando-se, murmurando entre dentes uma porção de palavras atrapalhadas cujo significadoninguém entendeu. Disseram-nos, depois, que aquilo era linguajar de africano. Ao fim de muito resmungar, como se estivesse rezando, temperou umas garrafadas e falou p'ra nóis que o menino estava mas era sofrendo de lombriga aguada'.... Nem mais nem menos!... Acrescentou mesmo que o causo era grave, sim, visto que a gente havia !erdeado de mais. Todavia, que não perdêssemos a esperanQue para Deus, nada é impossível — frizou
bem o Pai.
Prometeu ainda, seu doutor — dá o seu palpitezinho a magricela da Luizona — prometeu ainda fazer uns trabalhos para o Zêzinho endi-
reitar logo — E ao depois disso, o seu filhinho melhoinsistia o médico, desejoso por prolonrou ? gar a observação d'Oseu clientezinho cuja mãe, com carinho, já o sustinha nos braços a embalá-
Io, como é de costume. Qual o quê, seu doutor Paulo! O pobrezinho piorava dia por dia... não havia mais nada que o fizesse acomodar... Definhava a olhos vis•
tos... Com perdão da palavra: era só lançar e obrar... era por cima e por baixo... não havia panos que chegassem... Estava àquela altura completamente largadinho...
Filha! Que fizeram, em seguida, com o
Zêzinho? Onde o levaram ainda? Desanimados. cansados iá que esdávamos
de tanto gastar inütilmente, entregamos à Provi-
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dência Divina a vida do Zêzinho... Fôsse o que Deus quisesse... paciência! Vai senão quando mi, nha sogra que soubera dos nossos apuros, veiu buscar o nétinho e, de máquina, levou-o consigo
a um seu conhecido,velho farmacista que mora nos cafundós de Caju-Azêdo,o qual, em tempos idos fizera estragos pelas redondezas, realizando
curas espantosas, verdadeiros milagres, tendo salvo da morte, segundo asseveram por aquelas bandas, muitos e muitos enfermos anteriormente desenganados por médicos afamados... Nem sei, seu doutor, como o meu Zêzinho agüentou a viagem! Só mesmo por obra e graça de Santa Izildinha...
Qual o resultado dessa viagem, hein Ché, seu doutor! O tal farmacista, mal
viu o menino, desiludiu-nos imediatamente.
O que
êle tinha — imagine o senhor o nosso desêspero ao ouvir aquilo! — o que êle tinha, afirmou o An-
gelim (—assim se chamava o homem —) com toda a segurança coisa que ninguém havia descoberto era simioto!!! Que essa não é doença p'ra médico, disse. Que, se os curadores até ali consultados o não haviam dado volta, também êle, infelizmente, absolutamente nada poderia fazer. Que nos armássemos de coragem, de muita fé nos santos de nossa devoção...frizou bem. Se tivéssemos levado o meu afilhadinho lá um pouco antes, talvez a estas horas ó coitado estivesse fora de perigo... Não acha o senhor dou-
tou?! Com o enteado da minha irmã o Angelim acertou que foi uma beleza! Num instantinho...— aparteia a acompanhante, em cuja bôca pipocavam as asneiras. — O Angelim deu algum remédio para o seu filhinho tomar, minha senhora? Capaz!... Não quis dar nada, nada, seu Paulo!... Que não adiantava receitar... Que a moleirinha do Zêzinho já estava muito funda... Ficou até zangado com a gente. Que êle não tratava de defuntos... Chegou mesmo a falar assim para mim... Que campeássemos quanto antes um médico para garantir o atestado de óbito... Tanto insistimos com êle que, por de. sencargo de consciência, resolveu aplicar no menino uma injeção de penicilina...mais outra de coramina... e, por fim, para dar tempo de chegar até em casa, conforme êle deu a entender. fez uma grande de sôro na barriguinha do Zêzinho que o marido deh não deixou terminar... Nem sei, com franqueza, como essa criança agüentou... Ela é intervêm a comadre. muito forte! — Depois, seu doutor, o farmacista preparou
dois vidrinhos de remédios, um branco e outro Enamarelo, para serem usados entreverados... prepara farinha tregou-nos também uma lata de parar mamadeiras e mandou que ministrássemos uns papéis com certo pazinho de que trouxemos que pôuma caixa... Enfim, o homem, fez tudo ofeita... seia lhe de para salvar o garôto, honra • — Como viu o senhor, não tem sido descuido da gente... Tudo, porém, foi em Não...
Ah, meu Deus do Céu!... Será que tem perigo
seu doutor?!... Seja franco, vá!!!
Cenas que tais, leitor amigo, são ainda so-
bremodo freqüentes nos dias tumultuosos que cor-
rem, em todos os recantos da nossa hinterlândia majestosa. Diàriamente, com o coração sangran-
do de dor, assistem os médicos rurais a semelhantes quadros, à vista dos quais, de certo, jamais se acostumarão. E tudo isso porque, alheios à verdade, totalmente cegos e o pior cego é aquêle que não quer ver — só tardiamente é que os pais ou responsáveis pela vítima são levados
a solicitar os recursos da ciência,da asistência médica, hoje mercê das facilidadesexistentes em tôda parte, ao alcance de qualquer mortal por aí. Depois de terem andado com o doentinho por
seca e meca, atrás de babozeiras,quando o cristão já se encontra às portas da morte, semi-agonizante, com o pés na sepultura, é que, não raro esgotados os recursos humanamente viáveis, resolvem levá-lo ao modesto doutor do lugar, ao humanitária médico da terra — o pau para tôda a obra — de quem, quase que atrevidamente, não se pejam de exigir milagres. Então, quando nada mais há a fazer, quando o caso está mais do que perdido, pois que, como ninguém o ignora, o facultativo não é nenhum deus, do fracasso da terapêutica mobilizada como última tentativa, se valem gostosamente os pregoeiros da malediência e da difamação,tentando, sem dó ne mpiedade, desmoralizá-lo no conceito do povo ignorante, de
cuja parvoice se nutrem criminosamente. Amante do misterioso, do sobrenatural, do fantástico, de segredos, em suma, do «outro mundo», a gente simplória de nossa terra, sempre apegada às crendices e superstições tôlas que grassam desenfreiadamente por êstes Brasís a dentro,
à elas se entrega, sem maior exame, de corpo e alma, ainda que nas ocasiões que exigem superior dose de bom senso ou de reflexão ponderada.
pelo menos do exposto grosso-modo, é o que se deduz fàcilmente à vista dos fatos concretos, os quais, em sua dura realidade, põem ao vivo o panorama real que, neste particular, se descortina de norte a sul do país. Reflexo de mil e uma causas nada recomendáveis, de autênticos fatôres negativos em face da nacionalidade, tudo isso, man-
da a verdade se diga alto e bom som, imperando livremente no seio tanto das rodas do zé-povinho de igual ao que ocorre nas camadas raffinées, tal situação, sem dúvida deprimente a valer para os
nossos, foros de povo tido e havido por civilizado urge modificada inteiramente no intuito patriótico
de sanar o mal que, à vontade, livre de peias vem, de há muito, semeando a mancheiastanto
a dôr como o luto junto dos conglomerados popu-
losos, maximé na intimidade dos lares mais desfavorecidos da sorte, isto é, para com os pobrezinhos, precisamente aquêles que, em maior grau, carecem, realmente, de socorro, de assistência e de amparo de toda natureza.
26
AO MESTRE IGNOTO «Rei de si mesmo e servo da (Em memória de Geraldo Almeida Mello) Sonha,
mestre ignoto,
FLÔRES AZUIS Cansei-me de contemplar ardentes rosas ver-
[melhas, Enfastiam-me os lírios brancos, intocáveis.
E o amarelo de outras desperta em mim a cobiça humana,
lembrando-me o ouro que não tenho... O verde? Simboliza o massacre desumano
das esperançasque enterrei na vida...
Oh! Quisera que de meus sonhos brotassem, flôres azuis...
Azuis como o céu que amo tanto, Azuis assim como os teus olhos... Pelas estradas espalharia
Ea
o sutil ar que
tre Não
as ilusões divinais. Ll%ínte cemás se embrutecem Z?d-se-iaem flôres azuis...
apenas azul, .mpid'o infinito,
onde passeiam as brancas nuvens. Mas também seriam azuis tôdas as flôres da terra... Idealizo para elas,
a volta às terras de origem cansado de tanto vagar
Volta,
pelos lugares longínquos.
mestre ignoto,
de lutar, fatigado,
exausto de tanto dar o amor do conhecimento, dissipada a inteligência,
extenuado de vigiar
o vício e a ignorância...
Descansa,
mestre ignoto, de combater o desânimo, de encorajar os fracos,
de gastar a alegria...
Regressa,
mestre ignoto, cansado de tanto andar
humilde e injustiçado... e volta ao seio da terra
coberto de tantas chagas, cansado de tanto sêr... ALEXANDRE MILANI FILHO
CRIANÇA MENTIROSA
três pétalas, aveludadas, pequenas,
triangulares, levemente onduladas, docemente perfumadas,
e azuis, cristalinas e azuis,
assim como teus olhos,
lindos olhos azuis...
DIRCE RAMOS DE LIMA
CONTRASTE Perguntei-lhe uma vez, quase chorando: «Dize:gostas de mim, meu voração?» — Êle ao ver-me tremendo, soluçando, Rindo, brincando, respondeu—me— Não. Encontrei-o mais tarde. Alegre e rindo, Lhe perguntei: «— Então, gostas de mim ?» Vi de seus olhos lágrimas caindo E ouvi baixinho murmurar-me: — Sim. GLORINHA PINTO CESAR
óu sou a criança mentirosa. Construi dois castelos,
um feito de mentiras
o outro de fantasias,
um em torno de mim o outro dentro de mim. Mentiras sôbre mentiras, fantasias, fantasias.. A criança mentirosa cresceu, mas os dois castelos cresceram mais. Ficaram altos, monumentais! mas frágil, bastaria um sÔpro. Como o solo debaixo dêles Como o solo deibaixo dêles
fôsse negro e feito de mêdo, bastaria um tremor. E os dois castelos desmoronaram, cairam sôbre mim. Torrentes de vidro partido sôbre mim. O recorte agudo dos casos era feito de realidade,
era feito de verdade.
Eu sou a mulher ferida. CAMILA MENDES DE ALMEIDA
27
Traição e Sorte
Aniversário
(DO LIVRO «VENTAROLAS»)
de
— Flôres dos hortos, flôres das campinas, Crescei, viçai, desabrochai formosas! Sáiam insetos cérulos das rosas, Sáiam perfumes doces das boninas!
Mostrai, ó borboletas peregrinas, Asas iriantes, asas veludosas! Soltai, aves, as vozes melodiosas!
Aves, cantai alegres cavatinas!
Sou tão feliz!... Auras, falai de amores.
F UED
H ELOU
K RAIDE
Chovei-me,arbustos, pétalas de flôres! O' primavera, ó céu azul, sorri! Assim cantava a noiva doidamente... Edois dias após, fria e palente, Num niveo esquife amortalhada a vi!
José Pinto de Almeida Ferraz
Poeta Surpreendido O professor José Rodrigues de Toledo, Delegado de Ensino de nossa cidade, é tietênse de nascimento. Múltiplas qualidades de inteligência
e coração lhe enfeitam a personalidadebondosa, accessível e bem humorada. Dentro e fora do pro-
fessorado, não obstante o pequeno tempo de sua residência em Piracicaba, já se tomou legião o nÚmerode seus amigos e admiradores, que talvez ainda não conheçam uma das mais encanta-
doras facêtas do prof. Toledo — sua veia poética delicadíssima.
Surpreendeu-lhe a redação mais essa qualidade realmente superior, que vai fixada no poemeto por êle declamado à sombra amiga de uma das grandes árvores do nosso poético jardim da Praça Tebiriçá. TUDO É AZUL Tudo é azul:
Um sonho, uma quimera, Uma rosa inda em botão, Um lírio apontando o espaço, Um novo amor no coração. A delícia de viver consiste Em querer sempre o que não existe. Um dia tudo isso passará. E você, tendo ocoração deserto, Verá que êsse amor Foi para nós um céu aberto.
E com júbilo que Mirante registra o aniversário de Fuéd Helou Kraide ocorrido no dia 22 p.p. Socio fundador desta revista, o popular e querido industrial continua sendo cd da casa e de toda Piracicaba que muito o estima. Exercendo atualmente o cargo de presidente da
A ssociação Comercial,
Fuéd
vêm dando a êla tôdo o dinamismo de sua personalidade. Aos
muitos
juntamos os nossos.
abraços
que
recebeu,
algo se cina da imaginaçãoage, ferve, borbulha, E vai crescendo,
gera.no interior de seu sed.
ÚLTIMA ESTAÇÃO
Locupleta-lhe crescendo, adquirindo maturidade.alma; força-lhe da profundidades agora tôdas as de avanço num os limitesda fantasia,invade-lhe, impera. grita, sacode-o, maré, as praias da ficção; e inércia,o que há E o que era desânimo Deflagrapouco era óbice e busca, se transforma.
DA
ASíNCOPE
das idéias se o terremotoartístico e a crisálida pelo munesvoaça rompe o casulo que a prendia,
INTELIGÉNCIA
da pena, do dos sonhos e vem cá fora, na magia pouartista, o que papel de fôlha a pousar sôbre vão. co antes, mirava e remirava em Opera-seentão o milagre. Lindas como coli-
LINOvrrrr
Ressalvadasraras exceções,o homem da pena, em geral, ao contemplardiante de si a lauda em branco, que deve atulhar de pensamentos, vêse a braços com um momento de desânimo e de preguiçaa embargar-lhea vontade.Especialmente quando, por fôrça de obrigação assumida, deve entregar o trabalho. em dia marcado. Há então como que uma debandada de assuntos, um jôgo de esconde-esconde,uma fuga de idéias, como se a pena que o polegar,médio e indicadorempunham fôsse nada 2ñáis que um chicote a fustigar para longe os temas. Toma-o então, uma profunda angústia. Do-
mina-o nesse instante um acesso de quase desespêro. E' assim como que o prenúncio de uma tempestade. Pouco a pouco, porém, percebe que no seu íntimo se acumulam novas fôrças, a ofi-
INSTITUTO
bris, poderosas como a divindade, sublimesocomo o amor, meigas como o luar, doces como eprise meiro beijo, as -imagens literárias afluem compôr querer para atropelam no bico da pena, a jóia de uma página, a grandeza de um poema, o tesouro de um romance.
O que assim ocorre com o escritor, da mesma forma se opera com o músico, com o inventor, com o cientista, com o administrador, enfim com todos quantos tenham algo importante a decidir.E antes de o fazerem, no prelúdio do gesto que os leve para o mundo de sua especialidade,no distender das asas para o vôo de seu gênio, surge um minuto estranho, durante o qual como que se esboroamas esperanças, desmancham-se os horizontes, foge tudo. E a êsse momento é que chamo, se me dão licença, «a síncope da inteligência».
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Há 40 anos
Vista
.
em Vila Rezende
Mas-as indústrias Dedini não pararam —aí.Hoje elas se desdobramem grande laminação de perfilados e em futuro próximo produzirão aço piracicabano! Isso tudo representa grandeza para
S. Paulo e progresso para o Brasil!
M. Dedini S. A. — Grande laminação de perfilados
. Antes
e Mário Dedini, tôda ma-
quinaría para a indústria do açúcar
tinhade ser importada.
Isto representava gastos astronômicos para o Brasil! Depois veio M. D. e construiu aquí tôdas as máquinas para o fabríco do açúcar e em seguida usinas completas.
É fácil imaginar a economia em divisas que isto representoupara o nosso país. Por isso êle é com inteira justiça
"0 PAI DO AÇÚCAR".
M. Dedini
sn