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Escrevem Inácio Dias Fernando Cassola Marques Sónia Rodrigues Isabel Figueiredo Moisés Sbardelotto Fernando Geronazzo Sónia Neves Oliveira Daniela Rodrigues Raquel Dias Rui Pedro Vasconcelos Direção: Bento Oliveira Montagem e Design Gráfico: Francisco Gomes Fotografia: Francisco Gomes Revisão de textos: Susana Ladeiro Propriedade: Portal iMissio 2017©iMissio
Artigo 59 Inácio Dias
Ao efectuar a sua corrida diária, o Bento Oliveira, nosso coordenador, foi vítima de atropelamento numa rua do seu bairro, tendo ficado sujeito a internamento hospitalar, mas, no presente, em franca recuperação. Para ele vai o artigo 59.
Para ele, estamos em crer, voltar à normalidade é entrar em férias, fugir do “tédio da cadeira”, reencontrar a rua, voltar a fazer tudo aquilo de que gosta, atingir a tal “libertação do tempo”, para as acrobacias do quotidiano, com as mesmas regras ( mas cuidados redobrados).
Neste tempo de férias, um pensamento muito forte e sincero para que este vento (teimoso) de Verão traga boas notas na recuperação do nosso acidentado coordenador.
As férias do coordenador aconteceram este ano num “ local improvável “, sem tempo para preparar a mala, mas com muito tempo para reflexões e balanços, dos bons.
O artigo 59 da Constituição da República Portuguesa, relativo aos Direitos dos Trabalhadores, ficará em banho-maria para o Bento Oliveira que, para o ano, já se estará a imaginar numa ilhota, cercada de corais, num sul solarengo, respaldado a ler um livro sobre piratas (não os informáticos, mas os que têm perna de pau...), esquecido este enorme susto de “ Verão 17”, sentindo-se então no seu melhor, numas férias de sonho.
Fiquemos com José Tolentino Mendonça: “ Bem desejaríamos poder travar ou modificar o tempo. Porém o importante não é ser perfeito: o fundamental é ser inteiro”. Que bom estarmos juntos e poderes recuperar em família! As melhoras Bento! 1
Escuteiro a tempo inteiro Fernando Cassola Marques | fernandocassola@gmail.com
Quando iniciei a reflexão para o presente artigo, surgiu-me logo de imediato a questão do tempo!
precisamente usado para acampar, ou seja, quando todos falam das férias, o dirigente anda com a agitação habitual de quem vai viver mais um fim-de-semana, ou uns dias (atividade de verão) em contacto com a natureza. O fundador do movimento escutista, Baden Powell, dizia precisamente que “a finalidade do estudo da Natureza é desenvolver a compreensão de Deus Criador, e incutir o sentido da beleza da Natureza”.
O tema proposto para esta edição começa por suscitar a seguinte pergunta: um dirigente escuteiro tem tempo livre? Pois bem, tentando responder a esta interpelação, resumidamente vos digo que um adulto voluntário deste grande movimento de educação não formal de crianças, adolescentes e jovens tem o seu tempo, extralaboral, bastante ocupado. Senão vejamos: são as horas passadas a preparar os encontros semanais de três ou quatro horas, que habitualmente decorrem ao fim-desemana; uma ou duas vezes por mês, existem as reuniões de direção do seu agrupamento ou reuniões de trabalho para projetos concretos; e além disso, com uma cadência quase bimensal, tem atividades que duram um fim-desemana completo, a que chamamos de acampamento, onde se vive o verdadeiro escutismo!
É então, depois de um ano carregado de emoções e vivências impagáveis, que o dirigente lá consegue ter um par de dias das tão merecidas férias. Trata-se de um curto período, não se enganem, porque efetivamente, ele tem já de começar a preparar o novo ano escutista, pois, por meados de Setembro, início de Outubro, já tem de estar a trabalhar com os seus escuteiros! É verdade que, apesar do pouquíssimo tempo livre que decorre da atividade escutista, considero que
O período de férias escolares, como devem imaginar, é 3
o tempo vivido a praticar verdadeiro escutismo é também ele um período de libertação do tempo. Porque são esses os momentos em que vivemos experiências únicas e irrepetíveis, onde a partilha de emoções e sentimentos nos ajuda a experienciar esse tão importante lema de “deixar o mundo um pouco melhor do que encontramos”. Saibamos ser capazes de aceitar com confiança, amor e espírito de missão os dons que Deus nos deu e assim podermos estar completamente libertos das medidas do tempo. BOAS FÉRIAS!
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LER CARTAS NAS FÉRIAS Sónia Rodrigues
Há certas pessoas que gostam muito de ler mas na realidade quase nunca têm tempo. Chegadas as férias, enfiam no saco de praia, juntamente com a toalha e o bronzeador, um ou outro livro. A escolha obedece invariavelmente a um critério óbvio: tem que ser uma coisinha leve, que distraia e sobretudo que não obrigue muito a pensar, pois, como me dizia uma aluna, entendida na matéria: “Pensar dá muito trabalho e, no limite, cansa!”
para Auschwitz, juntamente com os seus pais e um dos seus irmãos, vindo a morrer em Novembro de 43. Num postal, atirado para fora do comboio, com data de 7 de Setembro de 1943, dizia que tinham partido do campo a cantar e agradecia todas as atenções recebidas. Contava que tinha aberto a Bíblia ao acaso e que lera: O Senhor é o meu alto refúgio! (Cf. Carta nº71) A autora conta nas Cartas que escreve aos seus amigos, do outro lado do arame farpado, a sua vida no campo, o que faz, o que vê, o que sente, o que pensa. O seu testemunho, profundamente lúcido, abre horizontes na compreensão da condição humana. Essa que nunca vai de férias, mas nos acompanha sempre dia após dia. De facto, anda agarrada a nós, e não nos larga, ainda que procuremos afincadamente esquecernos dela, recorrendo, para isso, a todo o género de expedientes!
Ora bem, o livro que passo a recomendar é tudo menos light… Decididamente, não preenche o requisito de leveza. Vendo bem, até pode estragar as férias de algumas almas mais sensíveis! Estou a referir-me às Cartas (1941-1943) de Etty Hillesum, que a Assírio e Alvim acaba de publicar. Quem já leu o seu Diário saberá que esta judia holandesa viveu a experiência tremenda do campo de trânsito de Westerbork, de onde foi deportada
Etty Hillesum considerava perigosa a atitude, aliás 5
compreensível, que a generalidade dos seus contemporâneos adoptava perante o sofrimento: atitude de não querer pensar, de não querer sentir, de querer esquecer tudo o mais rapidamente possível. Para ela, se os factos adversos não fossem acolhidos pela mente e o coração e não se transformassem em ocasiões de amadurecimento, então a sua geração não seria uma geração viável. Porque não se trata, dizia ela, de preservar a vida a todo o custo, de “salvar corpos”, mas de poder oferecer à geração do pós-guerra um novo sentido gerado na aflição e no desespero. (Cf. Carta nº23)
via daquele amor que o judeu Paulo descreveu no cap. XIII da sua Carta aos Coríntios. (Cf. Carta nº23) E isto talvez não seja apenas uma ideia bonita, mas o único caminho susceptível de fazer também da nossa geração uma geração viável. Uma geração que se recusa a pensar, que se recusa a sentir e que faz tudo por esquecer o que é desagradável e difícil não será certamente uma geração viável. Salvaremos corpos, sobreviveremos cada vez mais tempo, seremos especialistas em plásticas de todas as espécies, mas não saberemos porquê nem para quê… Valerá a pena pensar no que nos move todos os dias, estando ou não de férias!
Esse novo sentido terá certamente muito que ver com esta convicção que Etty Hillesum partilhou com o seu amigo Osias Kormann: “Penso que a única coisa que se pode fazer é deixarmos irradiar por toda a parte o bocadinho de bondade que temos dentro de nós. Tudo o resto é secundário.” (Cf. Carta nº18) Ao contrário dos que à sua volta reagiam com ódio às atrocidades de que eram vítimas, Etty Hillesum estava convencida de que cada átomo de ódio acrescentado a este mundo o torna um lugar ainda mais inóspito e que a terra só se tornará habitável por 6
Tempo livre Isabel Figueiredo
Num impulso, virei à esquerda. Precisava daquele tempo. De estacionar o carro e entrar sozinha no velho café. A hora do dia permitia chegar ao balcão sem dificuldade. Saí com uma pequena chávena quente e o bolo de sempre, frágil entre os dedos, estaladiço e doce. Sentei-me cá fora, numa sombra, rodeada de desconhecidos. Precisava daquele tempo. Livre de obrigações, de conhecidos, de encontros marcados depois de tantas vezes adiados. E voltei tranquila para a rotina de chegar a casa. Não gastei horas, não fui para longe, não tinha aquele livro para ler ou uma conversa desejada, mas foi um tempo retemperador. E estou convicta de que todos precisamos deste tempo. De quebrar rotinas, de esvaziar compromissos de agendas de trabalho e de tempos aparentemente livres; de olhar à volta, de recordar. Precisamos daquela quietude que deixa ver crescer as sombras, que deixa ouvir a letra de uma música. Precisamos de um tempo que nos deixe connosco. As férias podem ter este tempo. Não
digo as férias podem “ser” este tempo, porque as férias podem e devem ser um tempo precioso para a partilha com a família, com os amigos, com aquilo que se conhece já tão bem e com o desconhecido que nos torna sempre mais. Mas no meio dos dias atarefados, entre as idas para a praia, as voltas na terra ou as chegadas e partidas em aeroportos apinhados, temos quase o dever de guardar algum tempo vazio de tantos compromissos, sozinho, em que eu estou comigo. Sem complexos de parecer egoísta…. Naquele fim de tarde, quando me levantei da mesa oscilante do velho café, já estava a pensar no que ia levar para casa, algum mimo que permitisse partilhar o que tinha sido só meu…e muitas vezes é isto mesmo que acontece. Perante o silêncio e a solidão, o nosso coração vai ao encontro dos que mais amamos. Porque o amor precisa de espaço, precisa de se estender dentro de nós. Precisa de chegar a memórias esquecidas, a espaços por preencher. O amor precisa de mim, inteira, serena, pacificada com tudo o que 7
sou. Só então consigo amar os outros que procuro ou que a vida me traz. E sem tempo, tudo se toca pela rama. Penso muitas vezes nas passagens do Evangelho que nos dizem que Jesus se retirava. Precisava de um tempo e de um espaço, fora de tudo o que o rodeava, que Ele amava certamente e onde também era amado. Sabemos que rezava, que estava com o Pai. Terá ficado a olhar para o horizonte, a tocar a areia no deserto? Terá guardado a beleza das estrelas das noites? Terá sentido a brisa da montanha? Também sabemos que foi tentado, na solidão do deserto. Os tempos livres e sozinhos trazem sempre a possibilidade das tentações que nos inquietam. Mas acreditamos
que O Pai não falta. E sabemos que Se revela no vazio, no despojamento, no silêncio, na quietude… No tempo livre deste Verão que vivemos, saibamos encontrar este outro tempo. Sem medo do confronto com as memórias, com a solidão. E talvez nos possamos surpreender com o espanto do amor que brota de cada coração, que entregue a si mesmo, descobre a presença de Deus no meio dos outros.
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Encontro, diálogo e anúncio: desafios para a ação evangelizadora da Igreja Moisés Sbardelotto
Continuamos nesta edição a reflexão sobre alguns aspectos comunicacionais da exortação apostólica Evangelii gaudium, do Papa Francisco, em suas luzes e inspirações para uma Pastoral da Comunicação “em saída”. A própria “forma” do documento está muito embebida em um ponto extremamente relevante da sua “substância” comunicativa: a tensão entre encontro, diálogo e anúncio.
não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo’” (n. 7). Para Francisco, esse é “o manancial da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu esse amor que lhe devolve o sentido da vida, como pode conter o desejo de comunicá-lo aos outros?” (n. 8). Portanto, o anúncio nasce e se mantém como encontro e diálogo com um grande “Outro”. Não se trata de uma “heroica tarefa pessoal”, ou seja, solitária, mas sim de uma “obra de Deus” (n. 12). “Jesus é ‘o primeiro e o maior evangelizador’. Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus” (n. 12).
Centrando-se na “nova evangelização para a transmissão da fé cristã”, o documento fala, em síntese, do anúncio do Evangelho hoje. Mas Francisco destaca que tal anúncio só é possível quando nasce de um encontro: “Não me cansarei de repetir estas palavras de Bento XVI que nos levam ao centro do Evangelho: ‘Ao início do ser cristão,
Por outro lado, o anúncio do 9
Evangelho se faz sempre no encontro e no diálogo com os diversos “outros”, pois “todo o povo de Deus anuncia o Evangelho”. Por isso, Francisco deseja uma “Igreja ‘em saída’” (n. 24). “Ninguém se salva sozinho, isto é, nem como indivíduo isolado, nem por suas próprias forças. Deus nos atrai, no respeito da complexa trama de relações interpessoais que a vida em uma comunidade humana supõe” (n. 113).
nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja” (n. 198). Um segundo “outro” é a mulher. As mulheres, segundo Francisco, são “duplamente pobres”, ao padecer “situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque frequentemente têm menores possibilidades de defender os seus direitos” (n. 212). Por sua parte, “a Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, que habitualmente são mais próprias das mulheres do que dos homens (...) Mas ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja”, inclusive “nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais” (n. 103).
Dentro dessa trama, três “outros” principais ganham destaque no horizonte de Francisco. Em primeiro lugar, o pobre. Diz o papa: “Hoje e sempre, ‘os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho’, e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres” (n. 48). Embora nem sempre os cristãos manifestem a beleza do Evangelho com toda a sua força, “há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e joga fora” (n. 195). Por isso, continua o papa, repetindo sua frase já célebre, “desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar” (n. 198). E mais: “É necessário que todos
Por fim, um terceiro “outro” são os migrantes. Junto com os “sem abrigo, os toxicodependentes, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados”, os migrantes “representam um desafio especial para mim – afirma Francisco –, por ser Pastor de uma Igreja sem fronteiras 10
que se sente mãe de todos” (n. 210). O papa exorta as comunidades a uma “abertura generosa”, sem medo de que suas identidades locais sejam destruídas, mas capazes de valorizar a criação de “novas sínteses culturais”. Superando a “desconfiança doentia”, a integração dos que são diferentes pode se tornar “um novo fator de progresso” (n. 210). Em suma, na tensão entre encontro, diálogo e anúncio, “todos devemos deixar que os outros nos evangelizem constantemente” (n. 121), pois “a Igreja não evangeliza se não se deixa continuamente evangelizar” (n. 174). O desafio é viver uma “fraternidade mística, contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo” (n. 92).
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Tempo de descanso na graça do Senhor Fernando Geronazzo
É chegado o tempo das férias, época para descansar, rever familiares, visitar novos lugares, recarregar as baterias do corpo e também da alma. Sim! Férias é um tempo propício e necessário para dar atenção à chama da fé acesa em nosso interior.
relacionamentos, nossa vida de oração, projetos e propósitos. Em 2011, durante alguns dias de férias, antes de seguir para a Jornada Mundial da Juventude, em Madri, o Papa Emérito Bento XVI compartilhou algumas dicas para viver bem as férias.
O próprio Deus descansou após a sua obra criadora e, seguindo seu exemplo, também nós temos um dia semanal de descanso, a que chamamos “Dia do Senhor”.
A primeira é dedicar mais tempo aos outros e ao Senhor. “Abri um largo espaço para a leitura da Palavra de Deus, particularmente o Evangelho, que, certamente, colocareis na vossa bagagem de férias!”, afirmou o Santo Padre.
São Josemaria Escrivá dizia que sempre entendeu o descanso como afastamento do trabalho diário, nunca como dias de ócio. “Descanso significa represar: acumular forças, ideias, planos... Em poucas palavras: mudar de ocupação, para voltar depois – com novos brios – à atividade habitual”, dizia (Sulco, 514).
Em segundo lugar, é procurar ter mais contato com a criação em torno a nós, admirar a beleza e sentir a presença e a grandiosidade do Criador. “A realidade divina está escondida em nossa vida diária como sementes enterradas no solo. A nós cabe fazê-las frutificar”, continuou o Pontífice.
Sair da rotina diária do trabalho e dos estudos, nos dá condições de avaliar “à distância” como estamos conduzindo a nossa vida, nossos
A terceira sugestão é que os viajantes e peregrinos descubram 14
os monumentos do passado como testemunho de cultura e fé, verdadeiro patrimônio espiritual de vínculos com as raízes culturais, lugares em que a beleza ajuda a reconhecer a presença de Deus. “Que o Espírito Santo, que vê os corações, inspire-vos a rezar nesses lugares, dar graças e interceder pela humanidade”. Finalmente, a quarta dica está relacionada com a parábola em que Jesus compara o Reino de Deus a um tesouro escondido no campo. “Como descobri-lo e adquiri-lo? Somos convidados a dedicar o tempo de férias a buscar a Deus e pedir que Ele liberte a todos nós da carga desnecessária. Peçamos ao Senhor um coração inteligente e sábio que o encontre”, concluiu o Papa Emérito. Durante a oração do “Angelus” do dia 9 de julho, o Papa Francisco também falou sobre as férias, aconselhando a que esse período seja um verdadeiro descanso em Jesus. “Quando nos meses de verão procurarmos um pouco de repouso de tudo aquilo que cansa o nosso corpo, não esqueçamos de encontrar o repouso verdadeiro no Senhor”. Sigamos, portanto, esses conselhos e vivamos as férias como um verdadeiro tempo de descanso na graça do Senhor. 15
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Cristo na Empresa Respeitar o tempo das pessoas e dos processos Sónia Neves Oliveira
Ouvimos vezes sem conta a expressão “não tenho tempo”.
fazer em cada momento. Muitas vezes, dizemos que não somos livres para fazer o que queremos mas, na verdade, somos quase sempre responsáveis pelas opções que vamos tomando na vida e por aquelas que não tomamos também.
Em rigor, essa frase não faz sentido, porque o tempo é um dos recursos mais democráticos que temos. Todos o recebem em igual quantidade, independentemente da sua realidade pessoal.
Nas empresas, aquilo que nos é solicitado pelos nossos chefes e aquilo que solicitamos às nossas hierarquias pode ser um dos factores de maior motivação ou desânimo no trabalho. Atualmente, a maioria das empresas vive a ânsia dos tempos de resposta acelerados e das decisões quase instantâneas como se a reflexão e o amadurecimento dos temas fosse fatal à concretização de bons negócios.
O que nos deveria fazer reflectir, do meu ponto de vista, é aquilo que fazemos com o tempo que nos é dado, gratuitamente, enquanto vivemos. Creio que a expressão “não tenho tempo” quer dizer, na maioria dos casos, “não tenho tempo disponível”. Outras vezes, poderá ter subjacente o sentimento de não querer realmente fazer aquilo que está a ser pedido ou de ter outras actividades mais importantes a que acudir.
Ainda assim, sabemos que a criatividade funciona sobretudo quando estamos mais relaxados e sem grande pressão para dar respostas imediatas. As empresas que querem
A vida é feita de prioridades e aquilo que fazemos com o tempo reflecte aquilo que optamos por 17
pensar na sua sustentabilidade têm de dar tempo às pessoas para que a sua criatividade ocorra e entender cada vez mais que todos os processos, até os empresariais, ganham com algum amadurecimento e reflexão, ainda que os tempos de resposta existam e devam ser respeitados por todos, sobretudo em trabalhos de equipa. Ser Cristo na Empresa também passa por respeitar os tempos das pessoas e dos processos sem pressões exageradas que, tantas vezes, inviabilizam o desenvolvimento pessoal e profissional feliz de quem quer crescer e apreender em cada dia.
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O tempo e a liberdade Daniela Rodrigues
Hoje, os dias correm apressados... As horas apagam-se implacáveis... As coreografias que a agenda nos apresenta são entorpecedoras, anestesiantes.... Parecem desenhadas para nos entreter, tornandonos quase espectadores de nós próprios. Parecem desenhadas para, organizadamente, nos tornar submissos ao tempo. A agenda é nossa mas, aparentemente, nós somos dela...
a validade da nossa condição de seres no tempo. Nós somos seres no tempo. É nele que existimos. O que significa assumir o indomável do tempo, naquilo que ele é de cronologia e de actualidade (social, económica, política e cultural), como condição determinante da nossa identidade. No entanto, reconhecer isto, não nos obriga a determinismos identitários, nem nos condena a ser meros e reduzidos escravos do tempo. Sublinhamos, aqui, que nós somos no tempo mas não somos do tempo – não somos sua propriedade.
Importa, por isso, pensarmos na forma como nos situamos diante do tempo. “Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem me indaga, já não sei”, diz Santo Agostinho. De facto, não é fácil definir o tempo. O que sabemos é que, indubitavelmente, existe uma relação intrínseca entre aquilo que somos e o tempo. Assim o sustenta Carlo Rovelli, físico, na sua obra “A ordem do tempo”, afirmando que nunca iremos desvendar o enigma do tempo se não percebermos a importância e
Portanto, o tempo levanta a questão da identidade e da liberdade. Nós somos o que o tempo nos permite ser e somos o que, na liberdade, apropriamos deste tempo que é o nosso. Neste contexto, podemos e devemos assumir o tempo, simplesmente porque é tempo a ser integrado e a ser passado, como um grande desafio à nossa liberdade – se ele nos manieta, se ele nos escraviza, 19
se o perdemos, não somos livres. E se não somos livres, nunca seremos o que queremos e podemos ser.
Tudo tem o seu tempo
O tempo, então, só será humano se for feito de e na liberdade, se for espaço para, na liberdade, nos construirmos na plenitude de sermos. Logo, o tempo só será nosso se houver tempo livre para sermos.
Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: Tempo para nascer e tempo para morrer, Tempo para plantar e tempo para arrancar o plantio, Tempo para matar e tempo para curar, Tempo para destruir e tempo para edificar, Tempo para chorar e tempo para rir, Tempo para se lamentar e tempo para dançar, Tempo para atirar pedras e tempo para as ajuntar, Tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço, Tempo para procurar e tempo para perder, Tempo para guardar e tempo para atirar fora, Tempo para rasgar e tempo para coser, Tempo para calar e tempo para falar, Tempo para amar e tempo para odiar, Tempo para a guerra e tempo para a paz. (Ecl 3,1-8)
Tendo isto presente, e dado que uma boa parte de nós entra, agora, num período de férias em que, estranhamente, passamos a ter tempo para nós (um tempo nosso), será benéfico pensarmos na forma como nos situamos diante do nosso tempo ao longo do ano. Somos livres ou somos escravos? Somos no tempo ou somos do tempo? Somos o que, livremente, queremos e podemos ser ou somos apenas fruto e vítimas do tempo? Que este tempo de descanso seja uma oportunidade para nos redefinirmos de forma a sabiamente sermos tempo de liberdade humanizante e humanizadora. Disse D. Manuel Clemente: “O tempo só é livre quando realmente liberta”. Não o fazendo, é desumano. Boas férias.
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CONJUGAR O VERBO Descansar o tempo Raquel Dias
“Para tudo há um momento e um tempo para o que se deseja debaixo do céu” (Ecl 3,1), diz-nos o Livro do Eclesiastes que, como livro sapiencial, é portador da sabedoria do povo bíblico. Sabemos isso? Vivemos isso? Deixamos que os tempos de Deus pautem o nosso tempo ou vivemos impacientes porque queremos que tudo aconteça no nosso tempo? Sabemos dar tempo ao tempo para que, no intervalo em que o tempo parece querer nos contrariar, abrandando o passo ao ponto de parecer suspenso, possamos discernir a pressa dos nossos juízos, a intensidade das nossas fúrias e relativizar o que, no calor do momento, parece definitivo e absoluto?
e tempos que nos contam? Sem pressas, sem convulsões e sem arritmias, simplesmente confiar-nos aos ritmos de Deus, permitindo que Ele se aproxime de nós para connosco dançar, sussurrando em nossos ouvidos a sua linguagem de amor. A mudança de paisagem é, muitas vezes, propícia a esta dança de contemplação, introspeção e de louvor. É a contemplar a criação que Jesus nos convida a confiar na providência, deixando para depois as preocupações do dia de amanhã, já que basta a cada dia o seu problema: «Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Ora se Deus veste assim a erva do campo, como não fará mais por vós, homens de pouca fé? Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (cf. Mt 6, 28.30.33-34).
Neste tempo em que muitos estão de férias, outros aguardam ansiosamente por elas e outros já delas usufruíram não será tempo de contemplar os vários momentos
“Que proveito tira das suas fadigas aquele que trabalha?” (Ecl 3, 21
9), pergunta-nos, também, com uma certa ironia, o Livro do Eclesiastes. O trabalho é a oportunidade de nos pormos ao serviço da sociedade à qual pertencemos, é certo, mas, se não tomarmos cuidado, também nos pode escravizar. E, no entanto, “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gál 5, 1). Pomos, incalculáveis vezes, o trabalho acima de tudo, sem nos preocuparmos com o tempo que não estamos com quem apenas nos quer presentes. Porque não fazermos das férias uma oportunidade de voltarmos a ser? Ser relação com Deus, com o mundo e com os outros, que, na azáfama do nosso dia-a-dia, acabam por ficar à deriva das nossas prioridades.
conduzir pelo medo e afastamo-nos. Nesse afastar, por vezes, acabamos por afastar aqueles que apenas nos querem amar, como Deus. Porque nos deixamos horrorizar perante a fealdade das nossas cicatrizes em vez de nelas ver a coragem de quem arriscou, a força de quem se levantou e a humildade de quem se deixou ajudar? Deixemos que o mistério pascal, o esplendor da cruz e das chagas daquele que por nós entregou a vida, simplesmente porque nos amou desde antes do tempo ser tempo, encarnem nas nossas feridas, para que se possa ver que trazemos em vasos de barro o extraordinário poder de Deus (cf. 2 Cor 4, 7). Quem ainda não se deliciou em contemplar um pôr do sol, gravando no olhar as cores que rasgam os céus, refletidas num espelho de água ao som do quebrar das ondas que ritmam o nosso respirar? Entregues à beleza da criação, desligados dos telemóveis, tablets e afins somos capazes de perceber que “todas as coisas que Deus fez, são boas a seu tempo” (Ecl 3, 11)? Sabemos apreciar tudo o que acontece nas nossas vidas como um dom?
O descanso é necessário e reparador de todas as mazelas físicas, psicológicas e espirituais que vamos acumulando, sem tratar, num quotidiano ofegante e repetitivo. A vida não é um mar de rosas e, ainda que fosse, as mais belas rosas têm por amigos os espinhos, que servem para as proteger. Assim são as adversidades nas nossas vidas. Picam, ferem e rasgam o nosso coração, toldando, não poucas vezes, a nossa capacidade de nelas ver a rosa que, lentamente, desponta em nós. Recuamos, deixamo-nos
O Livro do Eclesiastes ensina-nos que há “tempo para chorar e tempo para rir, tempo para se lamentar 22
e tempo para dançar, tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço” (cf. Ecl 3, 4-5) e agora é tempo para repousar e tempo para contemplar. Aceitemos o convite de Jesus «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Saibamos acolher todos os nossos tempos como uma dádiva, deixemos que Deus nos toque, nos interpele e nos dê alento e alegria em cada um dos tempos que somos convidados a viver. Aprendamos a desfrutar e a confiar nos silêncios e nos tempos de Deus, que “até a eternidade colocou em nossos corações” (cf. Ecl 3, 11).
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Os Padres do Deserto Rui Pedro Vasconcelos
Há palavras que, hoje, nos amedrontam. Palavras como solidão, silêncio, tentação, deserto, demónios, humildade. Pertencemos à geração da comunicação, das redes sociais. Como refere o filósofo norteamericano George Steiner, vivemos com mais intensidade o pôr-do-sol, os ritmos noturnos e as luzes das cidades, do que o nascer-do-sol; e, por isso, somos uma geração cansada.
no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte» (Fil 2, 6-8).
Será por isso que as longínquas figuras das Madres e Padres do Deserto nos permanecem tão desconhecidos quanto a sua linguagem nos assusta. Tão depressa o seu movimento se multiplicou como, três séculos depois, praticamente desapareceu; e era precisamente isso que eles desejavam e procuravam: desaparecer. Nas suas almas estava impresso o bilhete de identidade de Jesus, traduzido por Paulo:
Convém-nos uma pequena apresentação histórica: quem foram os Padres do Deserto? Ano de 313 d. C.: o édito de Milão restabelece o direito de cidadania e de culto aos cristãos no império romano. De perseguidos e marginalizados (sempre em graus variáveis, dependendo das províncias e das épocas), o cristianismo passará, no espaço de um século, a constituir a religião oficial do império. Imperadores convertem-se, os episkopos recebem funções de governo civil, os templos e escolas
«Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; 25
pagãos são progressivamente encerrados, e os pedidos de batismo multiplicam-se na mesma medida em que diminui a exigência de preparação e conversão.
de mulheres e homens dedicam-se ao trabalho manual, aos salmos e à busca incessante da oração silenciosa – aquela que se purificou, quer das nossas palavras e pensamentos, quer das palavras e ideias que atribuímos a Deus ou sobre Deus. Uma radicalidade sem precedentes, sem regras, sem tradições que a enquadrem num equilíbrio humano e social: tal viria séculos mais tarde com as ordens monásticas no ocidente e no oriente cristãos, encarregues de preservar este património transmitido pelos Pais no seio de lutas tremendas.
O que à maioria pareceu uma vitória do Reino dos Céus na história, para uma pequena minoria representou um perigo mortal. Ao mesmo tempo que as catedrais das grandes cidades de então (Alexandria, Cesareia, Antioquia) se enchem de batizados, um pequeno e persistente movimento parte em direção aos desertos do Egito e Médio Oriente. Na sua viagem, transportam o desejo de uma radicalidade na vivência do Evangelho que as cidades, na sua opinião, já não permitem. Para que os cristãos continuassem a ser o sal e o fermento, e não uma massa amorfa.
O deserto não é um lugar de retiro, de reflexão espiritual ou de bonitos pensamentos e decisões: o deserto é lugar de nudez e de verdade. Nas mentes destas mulheres e destes homens – muitos deles analfabetos, quase todos leigos – seguiam os relatos de João Batista, que no deserto atraía as multidões em busca da verdade de Deus, mas também de Jesus, que nele viveu quarenta dias, «conduzido pelo Espírito Santo». Hoje gostamos de dizer (e de nos confortar) que Jesus não se afastou do mundo, que foi ao encontro das pessoas a anunciar o Reino de Deus; esquecemo-nos de que grande parte das páginas dos Evangelhos são percorridas por lutas, por curas e
Foram milhares os que viveram sós, em pequenas comunidades, com a única tarefa de, tão somente, enfrentarem os demónios que, segundo eles, todos levamos dentro – a rejeição de todas as formas de distração conduz a este realismo psicológico: hoje falamos de feridas, traumas, defesas, pulsões, medos... «O deserto é fértil», exprimiu um dia o bispo brasileiro Pedro Casaldáliga. Nas periferias do Nilo, do Mar Morto ou do Sinai, milhares 26
exorcismos, e por parábolas pequenas e incisivas: no fundo, pela verdade do que somos.
Porque Ele sabe o que nos convém». (Macário do Egipto) Conhecer-se em verdade a si mesmo, na crueza da sua alma, significa baixar todas as pedras de arremesso – como podemos encontrar no relato de João 8, 1-11. Paradoxalmente, a difícil linguagem dos Padres do Deserto convida-nos a uma constante desistência de todos os juízos e condenações, precisamente por apontarem a radicalidade à sua própria vida – uma radicalidade que apenas conduz a conhecer melhor ainda as nossas fraquezas e debilidades. Os Padres representam autênticos mestres de misericórdia, porque, no final, dá-se sempre a plena experiência da misericórdia de Deus – revelada, quanto mais não seja, no dom da vida, e na graça de seguir os passos do Evangelho. Talvez a diária contemplação do céu estrelado no seio do deserto permitisse a estas mulheres e a estes homens terem uma imagem da imensidão do Cosmos e do mistério divino diante das nossas pequenas ambições, querelas e máscaras.
Desta fulgurante experiência – no século VIII já havia, tão somente, vestígios – ficaram-nos Ditos e Feitos, transmitidos por tradição oral ou manuscrita, de pequenas histórias, sentenças e mensagens, pérolas de sabedoria limadas pela cruel experiência do silêncio. No seu centro está a busca de uma oração silenciosa – não somos nós que andamos em busca de tradições orientais para aprendermos a silenciar a nossa mente? Uma oração constante, na sua simplicidade mais crua, balbuciada com as pequenas vogais e suspiros de uma criança. No fundo, uma oração liberta das imagens, desejos e projetos com que preenchemos a nossa experiência de Deus e do nosso ego. «Não é preciso falar muito durante a oração, mas devemos estender com frequência as mãos e dizer: ‘Senhor, tem piedade de nós,
«Disse o pai Isaac: ‘Do mesmo modo que um grão de areia não pesa tanto como uma grande quantidade de ouro, assim também em Deus a exigência de um justo juízo não pesa
como tu quiseres e souberes’. Quando a tua alma estiver angustiada, diz: ‘Ajuda-me’. E Deus far-te-á misericórdia, 27
tanto como a sua compaixão. Como um punhado de areia no imenso mar, assim são as culpas da humanidade face à providência e misericórdia de Deus. Da mesma forma que uma sobreabundante nascente não pode ser tapada por um punhado de pó, também a compaixão do Criador não pode ser vencida pelo pecado da criatura’».
graças a Deus! É por ela que não deixas de buscar... – atenuada por pequenas e saborosas pérolas de sabedoria, lucidez e esperança, aqui e ali dispersas no seio do texto. «Deixa-te perseguir, mas tu não persigas; deixa-te crucificar, mas tu não crucifiques; deixa-te ultrajar, mas tu não ultrajes;
Se te aproximares destas vidas e dos seus Ditos e Feitos, facilmente te encontrarás com uma linguagem difícil, recheada de termos que te ferem os ouvidos e a mente. Não te afastes à primeira tentativa. Reconhece que se trata de um outro tempo e espaço, de uma linguagem feita de síntese, de brevidade, de urgência, como que transmitida no corpo de batalha da oração quando face-a-face com tudo o que nos habita: no fundo, algo de parecido ao que acontece no encontro com os Evangelhos, naquelas passagens difíceis em que Jesus parece não querer facilitar o nosso cristianismo fácil e burguês. Numa leitura imediata tudo te parecerá estranho e difícil; depois, à medida que mergulhares, começarás a reconhecerte nestas batalhas, lutas e exigências. Finalmente, terás a tua sede atenuada – mas nunca completamente saciada,
deixa-te caluniar, mas tu não calunies. Sê alegre com os que se alegram; chora com os que choram. Tal é o sinal da verdadeira pureza. Sofre com os que sofrem; compadece-te dos pecadores; e alegra-te com os que se arrependem. Sê amigo de todos... Estende o teu manto sobre aqueles que vês cair em pecado e cobre-os; e se não podes carregar sobre ti o seu erro, e receber em sua vez a punição, não os oprimas mais» (Isaac de Nínive). 28
Para aprofundar, aqui fica o convite: «Ditos e Feitos dos Padres do Deserto», org. Cristina Campo e Piero Draghi, trad. Armando S. Carvalho. Assírio&Alvim 2003, 264 págs. «A Via da Misericórdia na Sabedoria dos Padres do Deserto», org. Isidro Lamelas. Universidade Católica Editora 2016, 127 págs.
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