IMS Rio: os filmes de junho/2018

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cinema 6.2018


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15:00 O processo (141’) 17:30 O pacto de Adriana (96’) 19:40 O processo (141’)

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Festival Varilux de Cinema Francês

15:00 O pacto de Adriana (96’) 17:00 O processo (141’) 19:30 Ópera na Tela: O navio fantasma (139’)

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Festival Varilux de Cinema Francês

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Festival Varilux de Cinema Francês

Festival Varilux de Cinema Francês

19:30 Sessão Cinética: Touki Bouki, a viagem da hiena (95’) Seguida de debate com os críticos da revista Cinética

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26 14:00 15:30 18:00 19:40

Festival Varilux de Cinema Francês

As boas maneiras (135’) Baronesa (73’) Rei (90’) As boas maneiras (135’)

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Festival Varilux de Cinema Francês

17:30 Baronesa (73’) 19:00 Ópera na Tela: A flauta mágica (173’)

21 14:00 15:30 18:00 19:40

28 14:00 15:30 18:00 20:00

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/cinemaims e ims.com.br.

As boas maneiras (135’) Baronesa (73’) Rei (90’) As boas maneiras (135’)

Baronesa (73’) As boas maneiras (135’) Rei (90’) Auto de resistência (104’)


sexta

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15:00 O processo (141’) 17:30 O pacto de Adriana (96’) 19:40 O processo (141’)

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29 14:00 15:30 18:00 20:00

Festival Varilux de Cinema Francês

Festival Varilux de Cinema Francês

As boas maneiras (135’) Baronesa (73’) Rei (90’) As boas maneiras (135’)

Baronesa (73’) As boas maneiras (135’) Rei (90’) Auto de resistência (104’)

11:30 14:00 15:30 19:40

No intenso agora (127’) Sessão Infantil: Garoto cósmico (76’) Imagens do Estado Novo 1937-45 (240’) O processo (141’)

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11:30 No intenso agora (127’)

11:30 15:00 17:30 19:40

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11:15 O processo (141’)

Festival Varilux de Cinema Francês

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11:30 No intenso agora (127’)

Festival Varilux de Cinema Francês

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11:15 O processo (141’)

Festival Varilux de Cinema Francês

23 11:30 14:00 16:00 18:00 19:40

30 11:30 14:00 15:30 18:00 20:00

No intenso agora (127’) Baronesa (73’) Rei (90’) A companhia dos lobos (93’) As boas maneiras (135’)

No intenso agora (127’) Sessão Infantil: Garoto cósmico (76’) As boas maneiras (135’) Trabalhar cansa (99’) Auto de resistência (104’)

No intenso agora (127’) Em nome da América (96’) Fuga para a vitória (111’) O processo (141’)

Festival Varilux de Cinema Francês

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O processo (141’) Baronesa (73’) A batalha do passinho (72’) Seguida de debate com o diretor Emílio Domingos 17:40 Trabalhar cansa (99’) 19:40 As boas maneiras (135’) 11:15 14:00 15:30

1/7 11:15 14:00 15:30 18:00 20:00

O processo (141’) Baronesa (73’) As boas maneiras (135’) Touki Bouki, a viagem da hiena (95’) Auto de resistência (104’)


capa Touki Bouki, a viagem da hiena (Touki Bouki), de Djibril Diop Mambéty (Senegal | 1973, 95’, DCP) A batalha do passinho (Emílio Domingos | Brasil | 2013, 73’, DCP)


destaques de junho 2018

Entre o fantástico e o prosaico, o cinema do IMS apresenta em junho uma programação que revisita lendas de lobisomem – em filmes urbanos e rurais, o mito permite falar, nas palavras dos realizadores Juliana Rojas e Marco Dutra (em cartaz com Trabalhar cansa e As boas maneiras), “sobre metamorfose e dualidade, sobre o contraste entre humano e animal, razão e instinto, e dialoga com diversas questões profundamente humanas.” Pelé, Sylvester Stallone e Michael Caine interpretam prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial em Fuga para a vitória (1981), filme pouco conhecido de John Huston, que será exibido no dia 3 de junho, às vésperas da Copa do Mundo. De 7 a 20 de junho, o Festival Varilux de Cinema Francês apresenta 20

longas-metragens da recente produção francesa, além de Z, de Costa-Gavras, que completa 50 anos de sua filmagem. Touki Bouki, a viagem da hiena, filme raro produzido no Senegal em 1973, faz parte da Sessão Cinética. Nas palavras do cineasta maliano Souleymane Cissé, “Touki Bouki é um filme profético. Seu retrato de 1973 da sociedade senegalesa não é muito diferente da realidade de hoje. Centenas de jovens africanos morrem todos os dias no estreito de Gibraltar, tentando chegar à Europa. Quem nunca ouviu falar disso antes?“ No dia 23 de junho, será exibido A batalha do passinho, de Emílio Domingos, seguido por uma conversa com o diretor. A sessão faz parte de uma programação em torno do passinho, dialogando com a exposição CORPO A CORPO, em cartaz no IMS Rio. Touki Bouki, a viagem da hiena (Touki Bouki), de Djibril Diop Mambéty (Senegal | 1973, 95’, DCP)

Fuga para a vitória (Escape to Victory), de John Huston (EUA | 1981, 111’, DCP)

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Auto de resistência, de Natasha Neri e Lula Carvalho (Brasil | 2018, 104’, DCP)

Trabalhar cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas (Brasil | 2011, 99’, 35 mm)


Sobre parcerias e lobisomens Depoimento de Juliana Rojas e Marco Dutra

Nós nos conhecemos em 1999, no primeiro ano do curso de cinema da USP. Nos conectamos rapidamente, em parte por causa de nosso gosto similar pelo cinema de gênero, especialmente musicais e filmes de horror. Já no primeiro ano, fizemos juntos três exercícios em vídeo, e terminamos a faculdade dirigindo em parceria o curta O lençol branco. De certa forma, crescemos e aprendemos juntos a filmar, a discutir os temas e os processos da feitura de um filme. Fazer juntos nosso primeiro longa, Trabalhar cansa, foi uma decisão natural. Já naquela época surgiu a ideia de As boas maneiras. Como o processo de escrita e captação foi longo, no meio do caminho nós fizemos curtas, longas e séries separados, e foi uma experiência interessante retomar a parceria depois disso. Nosso processo criativo é sempre em conjunto, não há uma divisão de tarefas. Conversamos muito sobre todos os aspectos do filme – desde os mais intuitivos, nossos sentimentos que nos atraem para determinada história ou tema, quanto questões estéticas e técnicas. Essa interlocução 2

constante ajuda a construir uma sintonia de pensamento, o que facilita a prática da filmagem. Quando nós discordamos, discutimos até chegarmos a uma ideia que interesse aos dois, e acabamos nos aventurando por caminhos diferentes dos que tomaríamos se estivéssemos dirigindo o filme sozinhos. A parceria nos permite desafiar um ao outro, buscando sempre o melhor para o filme, ao mesmo tempo que nos dá suporte para assumirmos mais riscos. Pesquisamos a lenda do lobisomem em filmes e livros, e descobrimos que ela está presente em diversas culturas. Duas de nossas fontes foram The Book of Werewolves, de Sabine Baring-Gould (1865), que investiga as origens e as motivações da licantropia e relata a presença do lobisomem no folclore medieval, e Lobisomem: assombração e realidade, de Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima (1983), que investiga a lenda no Brasil. Há variações na mitologia, mas também elementos em comum nesses relatos, como a presença do número sete (seja o sétimo filho que se torna lobisomem, os sete anos que

alguém vive amaldiçoado ou as sete encruzilhadas que o lobisomem deve percorrer para retornar à forma humana). Nos interessou trabalhar com o imaginário brasileiro ao redor da criatura, que mistura a versão europeia do lobisomem com crenças nativas (como o mito guarani do Luíson) e tem forte influência do catolicismo. O mito fala sobre metamorfose e dualidade, sobre o contraste entre humano e animal, razão e instinto, e dialoga com diversas questões profundamente humanas. Buscamos trabalhar essa ideia de contraste/dualidade em diversas camadas do filme, inclusive na estrutura da história. Nosso desafio na criação de Joel – um menino lobisomem que, aos 7 anos, começa a ter consciência de sua natureza – foi construir o personagem de modo a nos identificarmos com seus conflitos e sermos capazes de ter compaixão pelo monstro. Embora As boas maneiras se passe na cidade, buscamos trazer o imaginário rural – onde o lobisomem em geral vive – para o filme através da personagem Ana e de seu histórico no interior de Goiás, e também da presença das festas juninas,


que na cidade costumam ser uma representação caricata da figura do caipira. Para escolher um filme que dialogasse com As boas maneiras nessa programação especial, conversamos e levantamos algumas opções – inclusive filmes que nos inspiraram e que não são exatamente filmes de lobisomem, como Sangue de pantera (Cat People, 3

1942), de Jacques Tourneur, ou Inimigo meu (Enemy Mine, 1985), de Wolfgang Petersen. Escolhemos A companhia dos lobos por ser um filme que revisita a lenda do lobisomem a partir do universo dos contos de fada, numa mistura perturbadora de fantasia e horror. Angela Carter, autora do roteiro e do conto que inspirou o filme, foi uma escritora fenomenal, que

abordou as fábulas de maneira moderna e feminista. Assim como em As boas maneiras, a narrativa do filme é conduzida por personagens femininas. Também achamos interessante indicá-lo porque não é uma obra tão popular hoje em dia, e seria uma boa oportunidade (até para nós mesmos) de revisitá-la numa projeção de cinema.


Variar a vida em alto astral

Touki Bouki, a viagem da hiena, Djibril Diop Mambéty, 1973 Juliano Gomes

Uma recente votação feita por um grupo de críticos, estudiosos e profissionais do cinema – africanos em sua maioria –, no festival bicontinental de Tarifa-Tanger, elegeu Touki Bouki, a viagem da hiena, o primeiro longa do senegalês Djibril Diop Mambéty, como o filme mais importante já realizado no continente. Não é raro que a produção de 1973 seja colocada como marco do cinema africano. Sua restauração e circulação digital em alta resolução possibilitou às plateias recentes acesso ao filme, o que por décadas era bastante difícil. A cada ano que passa, as qualidades do cinema único de Mambéty, expressas no seu primeiro longa, pavimentam seu lugar na história da arte cinematográfica, em especial de uma filmografia “do sul”, marcada pela experiência colonial. Nesse sentido, poder ver essas imagens hoje, com suas características originais preservadas, é poder experimentar um conjunto de sensações que guarda enorme afinidade com a vivência e a subjetividade brasileira e latino-americana. A narrativa de Mambéty se coloca abertamente como 4

uma fábula sobre a condição colonial. A sua moldura narrativa, com o abate dos bois, sua canção-tema (“Paris, Paris”) e o deslocamento como ideia motriz são apenas as evidências mais visíveis de que se trata de um divertido, inventivo e corajoso tratado sobre o problema da condição de subalternidade histórica. O que tende a distinguir Mambéty de boa parte do cinema do continente é justamente sua abordagem altamente associativa, cujo trabalho de montagem se coloca como um dos mais singulares já realizados. Touki Bouki dá inúmeras amostras da força explosiva que os cortes de Mambéty produzem, como na sequência em que Mory (Magaye Niang) é capturado por um grupo de militantes, ou na sugestividade na cena de sexo na costa. Há um misto de relaxamento dos ganchos ficcionais com uma extrema unidade conceitual e manipulação de tons e velocidades. A unidade do filme é fruto de um estilo inimitável e imprevisível, que une graça, despojamento, alto teor intelectual e uma irresistível gaiatice. Entretanto, mesmo em seus momentos mais leves, a investigação

de Mambéty nunca perde seu foco, pois sua matéria é justamente o próprio movimento: o êxodo, o sair da zona, a sensação das motos e dos carros, ou mesmo os últimos espasmos de um boi abatido. O que mais importa ao diretor é exercitar múltiplas perspectivas, é nos fazer experienciar situações por onde nunca imaginaríamos, e com resoluções impossíveis de prever. A mitologia cinematográfica dos casais fora da lei em movimento é aqui atualizada numa chave muito particular e rica. O filme se permite muitas vezes quase esquecer os protagonistas, realizar violentas elipses, mudanças de tom e estilo, constituindo uma sensibilidade ao mesmo tempo onírica e profundamente material. Quase podemos tocar nos tecidos, na textura do chifre, nas frutas ou nos laços que vemos na tela. A função de inventário da vida no Senegal dos anos 1970 é essencial, e o seu ecletismo espacial e arquitetônico inspira justamente uma postura anárquica que o filme adota. Podemos estender essa característica como comum a todas as ex-colônias.


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Experimentar o mundo pelo sul é necessariamente viver mais de um tempo, mais de uma realidade, é conviver com ruínas, hipermodernidades, com formas de vida pré-modernas. Touki Bouki faz disso sua premissa, esse laço entre elementos aparentemente distintos, de tempos e registros diferentes. Em um texto recente sobre o filme Zama, de Lucrecia Martel, meu colega de Cinética Victor Guimarães evoca uma passagem do grande José Carlos Avellar sobre um olhar específico dessa posição da história colonial, no livro A ponte clandestina: “Neossurrealismo: a palavra, especialmente se lida em portunhol, especialmente se vista como imagem, representa com exatidão o cinema que Glauber sonhou para a América Latina: neo-sur(-)realismo, neo-sul-realismo, neossurrealismo do sul”. Djibril Diop Mambéty é, sem dúvida, um dos maiores poetas de um novo surrealismo do sul. O senegalês autodidata, em sua infelizmente pequena obra, construiu um legado de invenção e compromisso ético e estético que ainda


está por ser completamente desdobrado. O cineasta compreendeu e levou à frente a ideia de que o cinema pode criar mundos pela maneira de mostrar, de organizar e desorganizar, e a tarefa de um artista decolonial é contribuir para um mundo que não seja o do colonizador. Entretanto, a maneira de realizar essa tarefa não passa por didatismos ou moralismos simplistas. A elasticidade existencial da condição colonial e sua abundante ambiguidade são as matérias de trabalho aqui. A profusão de signos, visuais e sonoros, faz com que o logos, a razão decifradora – arma retórica do colonizador –, não possa vigorar como nível de leitura primordial. Apesar de haver um trajeto absolutamente legível no desenho narrativo, fruir Touki Bouki à procura de mensagens é perder muito do que a experiência do filme pode nos oferecer. Sua sedutora pedagogia da percepção é um convite justamente para que possamos nos perder, e sentirmos o mundo de outras maneiras e regras. Em uma entrevista perto do fim de sua vida, o diretor afirma que “a hiena 6

é a falsidade, é a caricatura do homem. Ela tem medo da claridade, da iluminação, como o herói de Touki Bouki. Ela é uma mentirosa, ao mesmo tempo que representa a nudez e a vergonha.”1 Diante da farsa que sustentou o mundo colonial, que dividia as pessoas com direito a ser das sem direito de existir como tal, o cinema aqui faz da devolução da farsa sua arma fatal. O realismo se baseia numa ideia de real criada pelo inimigo, portanto, a estrada que se escolhe aqui é a de fazer do fluxo cinematográfico um espaço de associações livres, pretensiosas, cômicas e envolventes. Mambéty mistura o improvável e faz com elementos paradoxais um dos mais belos poemas que a arte do cinema já produziu. Arte marcada pelas eternas divisões da colônia, o cinema tem aqui uma das mais potentes proposições de um pensamento não branco, do sul, que é marcado pela exploração e pelo extrativismo voraz. Apesar dessa genocida

formação, o resultado não faz imperar afetos tristes, mas sim um pessimismo vívido, que faz da arte um laboratório permanente de experimentarmos a vida de outras posições. Dada a infertilidade da questão de ser ou não o “melhor filme”, é seguro afirmar que Touki Bouki é uma reserva perene de energia vital, insubordinada, inventiva, desobediente, relaxada e pretensiosa, que fatalmente inspira e inspirará uma arte eticamente comprometida em inventar, para não ser capturada a repetir a ideia de mundo dos patrões. A viagem da hiena nunca há de terminar.

1. Entrevista completa (em inglês): newsreel.org/articles/mambety.htm.

Juliano Gomes é crítico de cinema e escreve na revista Cinética.


Baronesa em processo Depoimento de Juliana Antunes

Baronesa é um filme de “não atrizes” feito por uma “não diretora” e uma “não equipe”. Foi a primeira vez de todo mundo. Andreia e Leid são grandes atrizes, só não tiveram oportunidades na vida de se destacarem como tal, assim como a maioria das mulheres da equipe não havia tido oportunidade no mercado de trabalho, pois elas estavam no começo de carreira de uma profissão que ainda opera em uma lógica muito masculina. A mesma lógica opera onde gravamos, e o fato de ter uma equipe de mulheres no set nos permitiu acessar lugares que não seria possível com outra configuração de equipe. Baronesa surgiu de uma união e do desejo imenso de mulheres de fazer cinema e chegar ao seu melhor com um filme desafiador e de baixíssimo orçamento. Belo Horizonte tem vários bairros com nome de mulher, e a maioria deles nos leva para a periferia. Em 2008, quando me mudei pra lá, recebi uma estranha indicação: os ônibus azuis, eu poderia pegar quase todos, e não deveria tomar os ônibus vermelhos, pois eles iam para as periferias. Tal indicação me chamou

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a atenção, e comecei a perceber os ônibus vermelhos com placas de nomes femininos que cortavam a avenida em que eu morava, no centro da cidade. Comecei a pesquisar mais sobre os bairros, a história deles e, por fim, a entrar nos ônibus, a fim de conhecer um por um. Os anos foram se passando, e o interesse de transformar essa experiência em filme se consolidou na matéria de documentário na universidade. Voltei aos bairros, procurando por mulheres que estivessem interessadas em participar de um filme que usasse um método de

abordagem clássico. Saí, junto com mais duas amigas (Marcela Santos e Giselle Ferreira), pregando cartazes nas ruas com os dizeres: “Procuram-se mulheres interessadas em fazer um filme”. Tal ação não deu muito resultado, e não recebemos quase nenhum retorno, exceto por um cartaz colado ao lado de um salão de beleza. A partir daí, se formou um dispositivo: mulheres que trabalham e/ou frequentam salões de beleza e moram em bairros com nomes femininos. Dois anos se passaram até encontramos um salão interessante, no


bairro Juliana, em que as donas estavam super abertas à ideia do filme. O salão da Pâmela se tornou o meu ponto de partida para o roteiro, que se baseava no cotidiano do salão e nos bairros vizinhos Juliana e Jaqueline. Em uma tarde no salão da Pâmela, Andreia entrou, experimentou uma blusa, me fitou e saiu. Por intuição, comecei a procurar por ela na Vila Mariquinha, favela do bairro Juliana. Andreia não concordou em fazer um filme a priori. Resolvi me mudar para a casa da Pâmela junto com uma equipe de quatro mulheres, e lá 8

passamos um mês, filmando Pâmela e sua família. Neste mês, Andreia resolveu nos dar uma cena em que ela fazia as unhas da Pâmela. Depois disso, mostrei o material bruto para ela, que topou fazer o filme com a seguinte condição: a de que eu me mudasse para a favela, pois ela não poderia me dar todo o seu tempo e nem saber com antecedência quando poderia gravar. Aluguei um barracão de 30 metros quadrados para eu morar sozinha, e lá fiquei por seis meses, com visitas semanais da equipe.

No exato dia da minha mudança, uma guerra entre traficantes locais se anunciou (a guerra segue até hoje), e mudou completamente os rumos do projeto, que tinha o roteiro escrito diariamente. A nossa presença na favela e, sobretudo, na casa da Andreia, atraiu Negão e Leid, vizinho e cunhada, respectivamente, que entraram de uma maneira muito orgânica no projeto. O roteiro era criado a partir da convivência com histórias e relatos de outras mulheres, tanto da pesquisa quanto de outras moradoras da Vila Mariquinha. Leid interpreta ela mesma. Andreia entrou no jogo da ficção, Negão nunca esteve na guerra, e nós nunca fomos ao Baronesa. Temos muitas situações reencenadas, e ensaiamos bastante durante o tempo que estivemos por lá. Existem cenas com mais de 20 takes, gravadas em dias e até meses diferentes. O controle das cenas era invadido pela realidade em vários momentos, e isso mudava os rumos do filme, que abraçou a instabilidade como instrumento primordial para a sua realização.


Lobisomens no IMS Em junho, As boas maneiras, filme de Juliana Rojas e Marco Dutra, estreia no Cinema do IMS. Será exibido em paralelo o primeiro longa-metragem da dupla, Trabalhar cansa, e também A companhia dos lobos, de Neil Jordan, uma releitura de Chapeuzinho vermelho e outras lendas de lobisomens, escolhido especialmente pelos diretores para esta programação exclusiva.

As boas maneiras

Trabalhar cansa

Ana está grávida e vive sozinha em São Paulo. Ela contrata Clara para ser babá de seu futuro filho. Mas, nas noites de lua cheia, o bebê fica um pouco mais agitado do que o normal. No site Mubi, Juliana Rojas conta: “A ideia original de As boas maneiras veio de um sonho de Marco: duas mulheres morando em uma casa isolada e criando um bebê estranho. Começamos a investigar o folclore do lobisomem em diferentes culturas e vimos como o mito geralmente se relaciona com impulsos de violência e sexo, e também com valores religiosos e conservadores. Nós começamos a mergulhar mais fundo nas duas principais personagens femininas e seus conflitos de classe, raça e desejo. Em relação à criança lobo, nós o vimos como alguém que está descobrindo algo crucial sobre sua própria natureza, da mesma forma que todos nós fazemos quando crescemos.” O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Locarno em 2017 e, no mesmo ano, foi premiado no Festival do Rio nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Filme LGBT (Prêmio Felix) e Melhor Filme pela associação de críticos Fipresci.

Helena, uma jovem dona de casa, decide realizar o sonho de abrir seu primeiro empreendimento: um mercadinho. Para tomar conta das tarefas do lar, ela contrata a empregada doméstica Paula. Quando seu marido Otávio perde o emprego como gerente em uma grande corporação, as relações pessoais e de trabalho entre os três personagens sofrem uma inversão inesperada e, ao mesmo tempo, ocorrências perturbadoras passam a ameaçar os negócios de Helena. Marat Descartes, que interpreta Otávio, descreve o trabalho com Juliana Rojas e Marco Dutra: “O ingrediente de terror que os filmes da dupla sempre apresentam me interessa muito, porque nunca é um terror gratuito, sempre está associado a estados psíquicos das personagens. Mais do que isso, em Trabalhar cansa, o terror surge na trama traduzindo a monstruosidade, ou a desumanidade, com que as relações de poder podem se estabelecer na sociedade, mais precisamente entre os papéis sociais que surgem nas relações de trabalho.” Em 2011, Trabalhar cansa fez parte da Seleção Oficial do Festival de Cannes, na mostra Un Certain Regard, e recebeu, no Festival de Paulínia, o Prêmio Especial do Júri e o prêmio de Melhor Som.

Marco Dutra e Juliana Rojas | Brasil, França | 2017, 135’, DCP

[Leia a entrevista completa, em inglês, no link: bit.ly/2IAmSB7] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia) 9

Marco Dutra e Juliana Rojas | Brasil | 2011, 99’, 35 mm

[Entrevista completa com os atores Marat Descartes e Helena Albergaria para o site Cinema na Rede: bit.ly/2GGHKFq] Ingressos: R$ 8 (inteira) e 4 (meia)


Sessões especiais Fuga para a vitória

Escape to Victory John Huston | EUA | 1981, 111’, DCP

A companhia dos lobos

The Company of Wolves Neil Jordan | Reino Unido | 1984, 93’, DCP “Uma fera, apenas uma, uiva pelos bosques de noite. O lobo é carnívoro encarnado, e é tão matreiro quanto feroz; uma vez que tenha provado carne, nada mais lhe servirá”, diz o conto de A companhia dos lobos, cuja autora, Angela Carter, foi corroteirista, com Neil Jordan, deste filme que remonta à história de Chapeuzinho vermelho em diversas camadas de sonhos. “A companhia dos lobos é um filme sobre amadurecimento. Uma jovem que supera seus medos imaginários, que foram passados por sua avó e, por implicação, pela sociedade. Ela percebe que esses contos de advertência escondem algo que é de fato libertador”, define Neil Jordan em entrevista para o portal Film Ireland. [Entrevista completa (em inglês): bit.ly/2s2YKAb] Ingressos: R$ 8 (inteira) e 4 (meia)

Em nome da América

Fernando Weller | Brasil | 2017, 96’, DCP Entre os anos 1960 e 1980, o Peace Corps (Corpos da Paz) enviou ao Brasil centenas de jovens americanos, como parte de um projeto do governo estadunidense de solidariedade e luta contra a pobreza. Por meio de testemunhos, vasto material de arquivo e documentação histórica, Em nome da América revela o projeto como uma política internacional que visava a minar a influência comunista no Nordeste do Brasil, representada pelas Ligas Camponesas. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

Pelé, Sylvester Stallone e Michael Caine são prisioneiros em um campo de concentração nazista em 1942. Antes da guerra, o major Karl von Steiner (Max von Sydow), comandante do acampamento, era parte da seleção alemã de futebol, e John Colby (Caine), um prestigiado jogador na Inglaterra. O major percebe uma grande oportunidade de propaganda para revelar a superioridade da raça ariana: uma partida de futebol entre prisioneiros e nazistas. O estádio escolhido para a disputa é o de Colombes, próximo a Paris, então ocupada pelos alemães. Foi nesse mesmo estádio que a Itália de Mussolini venceu a Copa do Mundo de 1938. Em 1981, a crítica do The New York Times descreveu Fuga para a vitória como um filme alegre, “para não ser levado a sério” – é possível, no entanto, que o roteiro seja baseado em eventos reais. Em 1942, a cidade de Kiev, na Ucrânia, estava ocupada por nazistas. Na mesma época, o time F.C. Start foi criado, e o elenco era composto por ex-jogadores de equipes locais, alguns dos quais ex-prisioneiros de guerra. O time ganhou destaque no cenário futebolístico europeu e foi desafiado pela equipe alemã Flakelf. Há relatos de que a vitória levaria à execução dos jogadores do F. C. Start, mas não há evidências concretas a esse respeito. A partida da morte, como ficou conhecida, foi vencida pelos ucranianos. [Crítica do New York Times, em inglês: nyti.ms/2GDpJaI] Ingressos: R$ 8 (inteira) e 4 (meia)

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Filmes em cartaz

No passinho No dia 24 de junho, o Instituto Moreira Salles, em parceria com a Osmose Filmes e Umas Produções Artísticas, realiza uma programação em torno do passinho, em diálogo com a exposição CORPO A CORPO, em cartaz no IMS Rio. Às 15h30, será exibido o documentário A batalha do passinho, de Emílio Domingos, seguido por uma breve conversa com o diretor. Em seguida, às 17h30, haverá uma ação educativa com improvisos e passo a passo. A partir dos movimentos de seis dançarinos da cena carioca, o público será convidado a dançar e interagir no espaço do centro cultural.

A batalha do passinho

Emílio Domingos | Brasil | 2013, 73’, DCP Surgido nas favelas cariocas, o passinho explodiu em 2008 como uma nova forma de dançar o funk. A batalha do passinho se debruça sobre o fenômeno e acompanha a evolução dessa cultura. “Em A batalha do passinho, vivi uma situação específica, que é fazer um filme de um fenômeno que estava em ebulição”, comenta Emílio Domingos, “e tive eventos inesperados, que foram tomando conta do filme. Se a câmera não é tão íntima em diversos planos, é pelo fato de eu estar observando, conhecendo e, de certa maneira, envolvido no meio daquilo. Ao longo do filme, a câmera vai se tornando mais intimista, e a minha relação com os personagens, os dançarinos do passinho, também. Eu comecei a filmar 15 dias após ter tido a ideia de fazer o filme. Conheci o passinho em 2008, mas fui convidado para ser jurado das provas, e inicialmente desejava fazer um curta-metragem sobre os quatro dias de competição. Então, na sua origem, era um filme que seria simples. Mas, logo no início, eu acabei mudando de ideia e decidi fazer um longa-metragem, porque eu percebi que a relação daqueles garotos com o passinho não era só um hobby de fim de semana, era uma extensão da própria vida.” O documentário foi o vencedor do prêmio de Melhor Filme de Longa-Metragem da mostra Novos Rumos do Festival do Rio, em 2012. [Íntegra da entrevista de Emílio Domingos a Tatiane Mendes Pinto publicada na revista Doc On-line: bit.ly/passinho-doc]

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Exibição e ação gratuitas. Distribuição de senhas 30 minutos antes de cada evento.

Auto de resistência

Natasha Neri e Lula Carvalho | Brasil | 2018, 104’, DCP Um documentário sobre os homicídios praticados pela polícia contra civis no Rio de Janeiro, em casos conhecidos como “autos de resistência”. O filme acompanha a trajetória de pessoas que lidam com essas mortes em seus cotidianos, mostrando o tratamento dado pelo Estado a esses casos, desde o momento em que um indivíduo é morto, passando pela investigação da polícia, até as fases de arquivamento ou julgamento. Em Auto de resistência, a diretora Natasha Neri, que estuda o tema há dez anos, opta por acompanhar os casos por meio do olhar dos familiares e pelo sistema de justiça: “Muitos casos que estão no filme são os que tiveram processo, e são a exceção”, comenta em entrevista ao portal Ponte Jornalismo. “Nosso recorte é de situações em que a militância dos familiares ou vídeos que caíram nas redes sociais contribuíram na investigação. Esses dois fatores acabam influenciando a possibilidade de haver processo, isso é dado de pesquisa.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/auto-neri] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Baronesa

No intenso agora

Andreia e Leid vivem na periferia de Vila Mariquinha, Zona Norte de Belo Horizonte. Leid espera com os filhos o retorno do marido preso. Andreia quer se mudar. Enquanto isso, tentam se desviar dos perigos de uma guerra entre traficantes. Com uma equipe predominantemente feminina, Baronesa partiu de um trabalho para a matéria de cinema documentário na graduação de Juliana Antunes, como uma pesquisa sobre bairros periféricos de Belo Horizonte com nomes de mulheres. Nas palavras da diretora, “Baronesa é um filme de ‘não atrizes’ feito por uma ‘não diretora’ e uma ‘não equipe’. Foi a primeira vez de todo mundo. Andreia e Leid são grandes atrizes, só não tiveram oportunidades na vida de se destacarem como tal, assim como a maioria das mulheres da equipe não havia tido oportunidade no mercado de trabalho, pois estavam no começo de carreira de uma profissão que ainda opera em uma lógica muito masculina.” Entre os prêmios recebidos pelo filme em 2017, estão o de Melhor Filme Mostra Aurora e Prêmio Helena Ignez Destaque Feminino na Mostra de Cinema de Tiradentes; Melhor Filme pelos Júris da Crítica e Jovem no Pirenópolis Doc; Melhor Montagem na 9ª Semana, no Rio de Janeiro; e três prêmios de público no Festival Internacional de Cinema de Marselha: Melhor Filme pelo Júri Popular, o Prix Marseille Espérance e o Prix Renaud Victor – em júri composto pelos detentos do Centro Penitenciário de Baumettes.

Feito a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China em 1966, durante a fase inicial da Revolução Cultural, No intenso agora investiga a natureza de registros audiovisuais gravados em momentos de grande intensidade. Às cenas da China, somam-se imagens dos eventos de 1968 na França, na Tchecoslováquia e, em menor quantidade, no Brasil. As imagens, todas elas de arquivo, revelam o estado de espírito das pessoas filmadas e também a relação entre registro e circunstância política. O ponto de partida do filme foram imagens captadas pela mãe do diretor, encontradas por ele na época da finalização de Santiago (2007). “Eu precisava de imagens da casa onde minha família morou, na Gávea, e pedi a alguém para procurar”, conta João Moreira Salles em entrevista ao jornal O Globo. “Encontramos as imagens, mas eu não sabia direito o que eram, qual o sentimento dela durante a viagem. Aí encontrei uma reportagem que ela escreveu sobre a viagem, em forma de diário, para a revista O Cruzeiro. Fiquei muito impressionado com a comoção dela diante de tudo o que viu lá. Minha mãe e a Revolução Cultural são opostos absolutos, seria fácil imaginar uma reação dogmática. Mas não, ela ficou deslumbrada com aquilo. E eu fiquei tocado com esse deslumbramento dela e com a intensidade com que ela o descreveu, porque minha mãe foi perdendo isso com o tempo.”

Juliana Antunes | Brasil | 2017, 73’, DCP

Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia)

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João Moreira Salles | Brasil | 2017, 127’, DCP

[Leia a entrevista completa de João Moreira Salles para O Globo: goo.gl/PhCNxe] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


mesma. Assumi o risco de cortar os laços com pessoas da minha família, porque acredito que este trabalho é uma contribuição importante para a memória histórica do Chile e de outras partes do mundo. Não é um conflito de querer desmascarar minha tia, mas o conflito ético de até onde vão os laços afetivos e morais.

O pacto de Adriana

El pacto de Adriana Lissette Orozco | Chile | 2017, 96’, DCP Quando criança, Lissette Orozco tinha em sua tia Adriana um exemplo. Ao descobrir que ela trabalhava para a polícia secreta do ditador chileno Augusto Pinochet, Lissette decide enfrentar Adriana. “Como admirava muito minha tia, meu primeiro impulso era fazer um filme para apoiar sua inocência”, conta Orozco em entrevista à equipe da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na qual recebeu o prêmio de Melhor Filme. “Mas, durante o processo, as coisas foram mudando. Era muito forte entrevistar alguém que dizia coisas terríveis sobre ela e chegar em casa e receber uma mensagem dizendo: ‘Oi, meu amor, como você está?’. Já estava filmando há três anos quando pensei em parar tudo. Se continuasse com o documentário, trairia minha tia e atingiria toda minha família. Mas minha natureza nunca foi de deixar algo pela metade, e havia uma equipe que estava nesse projeto. Por isso, tentei fazer o filme mais coerente possível, e que não traísse a mim 13

Na primeira exibição, uma jovem de 19 anos não entendia porque, no meio do filme, parte do público estava rindo ironicamente da minha tia. Pessoas que têm consciência política não acreditam nela desde o início. Mas essa menina não. Ela viveu comigo todo o descobrimento. É para a geração dela que esse filme é importante, porque não foi feito com carga política, mas com honestidade.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/el-pacto] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

O processo

Maria Augusta Ramos | Brasil, Alemanha e Holanda | 2018, 139’, DCP Em cerca de 450 horas de filmagem, Maria Augusta Ramos acompanhou o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Concentrada em sua defesa, formada por José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, a diretora faz um estudo particular dos bastidores desse momento histórico, ao longo de reuniões e discussões no Senado Federal, mas também por meio das expressões de seus protagonistas e dos defensores do impeachment. Em entrevista à Deutsche Welle, ao ser perguntada sobre a abordagem do ponto de vista da defesa de Dilma Rousseff, Maria Augusta diz: “Não é que seja a perspectiva da defesa: eu acompanho muito mais os bastidores da defesa porque a defesa me deu esse acesso. Eu tive acesso a reuniões da liderança da esquerda, da minoria que era contra o impeachment. A oposição não me deu esse acesso. Se tivesse dado, eu certamente teria filmado mais. Mas eu acho que era importante, sim, apresentar o argumento da direita, o argumento pró-impeachment. Para expor isso, eu escolhi, por exemplo, o senador Cássio Cunha Lima, que tem uma lógica de argumentação inteligente, ou que, pelo menos, faz sentido. Também a advogada Janaína Paschoal, que, independentemente de você concordar ou discordar dela, teve um papel essencial no impeachment.” [A entrevista completa pode ser acessada no link: bit.ly/DWprocesso] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Sessão Infantil

Sessão Cinética

Rei

Touki Bouki, a viagem da hiena

Em 1860, um aventureiro francês de 35 anos partiu para Araucanía, uma região inóspita no sul do Chile, com o intuito de fundar um reino. Ele partiu com o aval do chefe indígena da região, Mañil. Porém, ao chegar, descobre que Mañil morreu. Sem seu apoio, é preso pelo governo chileno, que vê no estrangeiro um perigo, e tem que justificar sua viagem. “Na primeira vez que encontrei a história de Orélie-Antoine de Tounens, Rei da Araucanía e Patagônia, fiquei intrigado com a natureza enigmática desse advogado francês e a escassa memória que ainda resta dele”, conta o diretor Niles Atallah. “Sob camadas de mitos e lendas, havia apenas evidências concretas o suficiente acerca desse homem e de seu reino para impedir que caíssem por completo no esquecimento. No entanto, havia tantos buracos nessa história que, na melhor das hipóteses, apenas uma visão fragmentada poderia ser reconstituída. Rei surgiu conforme eu examinava as muitas peças da história desse rei. Eu imaginei um filme que evocasse no espectador uma experiência análoga: uma viagem através de um reino de sonhos esquecidos, memórias decompostas e as fantasias de um fantasma.” Vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema Latino-americano de Toulouse em 2017, na França.

Mory é vaqueiro e motociclista, Anta é universitária. Eles se conhecem em Dacar e sonham trocar o Senegal pela França. Touki Bouki, a viagem da hiena, o primeiro longa de Mambéty, fez parte da seleção oficial do Festival de Cannes em 1973, onde recebeu o prêmio da crítica. O título foi escolhido para a Sessão Cinética de junho, evento mensal do Cinema do IMS, no qual a primeira exibição é sempre seguida de debate com os críticos da revista. Em texto para a apresentação do filme na edição de 2008 do Festival Il Cinema Ritrovato, Souleymane Cissé diz que “Touki Bouki é um filme profético. Seu retrato de 1973 da sociedade senegalesa não é muito diferente da realidade de hoje. Centenas de jovens africanos morrem todos os dias no estreito de Gibraltar, tentando chegar à Europa. Quem nunca ouviu falar disso antes? Todas as suas dificuldades encontram sua voz no filme de Djibril: os jovens nômades que pensam que podem cruzar o oceano desértico e encontrar sua própria estrela da sorte e felicidade, mas ficam desapontados com a crueldade humana que encontram. Touki Bouki é um filme bonito, perturbador e inesperado, que nos faz questionar a nós mesmos.”

Rey Niles Atallah | Chile, França | 2017, 90’, DCP

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia) 14

Touki Bouki Djibril Diop Mambéty | Senegal | 1973, 95’, DCP

Garoto cósmico

Alê Abreu | Brasil | 2007, 76’, DCP Três crianças, Cósmico, Luna e Maninho, vivem em um mundo futurista, no ano 2973, em que as vidas são totalmente programadas. Eles fazem o que lhes é destinado: estudar, comer, dormir e estudar outra vez. Uma noite, eles se perdem no espaço e descobrem um universo infinito, esquecido em um pequeno circo. Garoto cósmico é o primeiro longa-metragem do diretor Alê Abreu (O menino e o mundo) e conta com colaboração de Arnaldo Antunes, que faz uma participação na trilha sonora, além das vozes de Vanessa da Mata e Belchior, que encarnam dois personagens do filme. Ingressos: R$ 8 (inteira) e 4 (meia)

[Íntegra da apresentação de Souleymane Cissé em: bit.ly/CisseTouki] Ingressos: R$ 8 (inteira) e 4 (meia)


Festival Ópera na Tela

Festival Varilux de Cinema Francês

A flauta mágica

O navio fantasma

A princesa Pamina é prisioneira de Sarastro. A missão de salvá-la é dada ao príncipe Tamino, que deverá enfrentar diversas provações em uma terra mítica entre o céu e a lua. A obra foi escrita no formato Singspiel, que alterna entre o diálogo cantado e falado. Wolfgang Amadeus Mozart faleceu poucos meses após a estreia dessa ópera, sua última colaboração com Emanuel Schikaneder, autor do libreto.

O holandês maldito foi condenado por Deus a navegar pela eternidade, e apenas a cada sete anos ele pode colocar os pés em terra firme. Somente o amor verdadeiro pode livrá-lo dessa maldição. O diretor Àlex Ollé e seu cenógrafo Alfons Flores transpõem a viagem do mar do Norte, descrita por Wagner, ao golfo de Bengala. Nessa versão, o navio é levado até o porto de Chittagong, em Bangladesh: um enorme cemitério de navios, repleto de resíduos tóxicos e armadilhas perigosas.

Die Zauberflöte Uma ópera de Wolfgang Amadeus Mozart, dirigida por Peter Stein e regida por Ádám Fischer | Itália | 2016, 173’, DCP

Ingressos: R$ 22 (inteira) e 11 (meia)

Der fliegende Holländer Uma ópera de Richard Wagner, dirigida por Àlex Ollé e regida por Pablo Heras-Casado | Espanha | 2017, 139’, DCP

Ingressos: R$ 22 (inteira) e 11 (meia)

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De 7 a 20 de junho, o Festival Varilux de Cinema Francês apresenta 20 longas-metragens da recente produção francesa. Entre eles, o infantil A raposa má, de Benjamin Renner e Patrick Imbert, ganhador do prêmio César de Melhor Filme de Animação em 2018, e Custódia, de Xavier Legrand, que retrata a disputa entre um casal pela guarda do filho, e venceu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Primeiro Filme no Festival de Veneza, em 2017. Será exibido ainda Z, de Costa-Gavras, que completa, em 2018, 50 anos de sua filmagem. O filme-denúncia foi inspirado no assassinato do deputado pacifista grego Lambrakis, na década de 1960. Z ganhou os Oscar de Filme Estrangeiro e Edição e recebeu, ainda, três outras indicações, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado. No Festival de Cannes, em 1969, recebeu o Prêmio do Júri e o de Melhor Ator, para Jean-Louis Trintignant. A programação completa pode ser acessada no endereço variluxcinefrances.com. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Curadoria de cinema

Kleber Mendonça Filho Produção de cinema e DVD Barbara Alves Rangel

Assistência de produção

Thiago Gallego e Ligia Gabarra Projeção

Adriano Brito e Edmar Santos

Os filmes de junho

Meia-entrada

O programa de junho tem o apoio de Alê Abreu, Eduardo Escorel, Emílio Domingos, Juliana Antunes, Juliana Rojas, Marco Dutra, da Cineteca di Bologna, do Festival Ópera na Tela, do Festival Varilux de Cinema Francês, da Revista Cinética, da Dezenove Som e Imagem, da Osmose Filmes, da Sessão Vitrine Petrobras, do Espaço Itaú de Cinema e das distribuidoras Arthouse Distribuição, Bonfilm, Descoloniza Filmes, Elo Company, FJ Cines, Imovision, Inquieta Cine, Park Circus, Poli Filmes, VideoFilmes e Vitrine Filmes.

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, portadores de hiv e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos

Exibição de Touki Bouki, a viagem da hiena parceria

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Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.

Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinema ims As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea


Garoto cósmico, de Alê Abreu (Brasil | 2007, 76’, DCP)


As boas maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas (Brasil, França | 2017, 135’, DCP)

Terça a domingo, sessões de cinema até as 20h. Visitação

Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segunda), das 11h às 20h Entrada gratuita.

Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br

ims.com.br

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