cinema mai.2019
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8 Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Kairo + Los silencios (101’) Em trânsito (104’) Organismo (96’)
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Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Kairo + Los silencios (101’) Em trânsito (104’) Organismo (96’)
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Em trânsito (104’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Longa jornada noite adentro (140’)
16 Em trânsito (104’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Longa jornada noite adentro (140’)
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Kairo + Los silencios (101’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Intervalo (40’), seguido de debate com Eduardo Escorel e João Moreira Salles
23 Kairo + Los silencios (101’) Imagem e palavra (84’) 5-T-2 Ushuaia + Toponímia (86’) Streetscapes [Dialogue] (132’)
29 Imagem e palavra (84’) Inferninho (82’) Longa jornada noite adentro (140’) Inferninho (82’)
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9 Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Kairo + Los silencios (101’) Em trânsito (104’) Organismo (96’)
22 Kairo + Los silencios (101’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Longa jornada noite adentro (140’)
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Kairo + Los silencios (101’) Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Kairo + Los silencios (101’) Em trânsito (104’) Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’)
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Imagem e palavra (84’) Inferninho (82’) Longa jornada noite adentro (140’) Inferninho (82’)
30 Imagem e palavra (84’) Inferninho (82’) Longa jornada noite adentro (140’) O amuleto de Ogum (112’)
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Inferninho (82’) Longa jornada noite adentro (140’) Inferninho (82’) Tenda dos milagres (148’)
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Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Kairo + Los silencios (101’) Em trânsito (104’) Organismo (96’)
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Em trânsito (104’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Longa jornada noite adentro (140’)
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Kairo + Los silencios (101’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Longa jornada noite adentro (140’)
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Imagem e palavra (84’) Inferninho (82’) Longa jornada noite adentro (140’) Inferninho (82’)
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Imagens do mundo e inscrição da guerra (75’) Imagem e palavra (84’) Intervalo (40’) Kairo + Los silencios (101’) A árvore dos tamancos (186’)
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Neste dia não haverá sessões de cinema
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Imagens do mundo e inscrição da guerra (75’) Imagem e palavra (84’) Intervalo (40’) Sessão Mutual Films Streetscapes [Dialogue] (132’), seguido de debate com Heinz Emigholz e Jonathan Perel 20:00 5-T-2 Ushuaia + Toponímia (86’)
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Imagens do mundo e inscrição da guerra (75’) Imagem e palavra (84’) Intervalo (40’) Inferninho (82’) Longa jornada noite adentro (140’) Cemitério maldito (103’)
Imagem e palavra (84’) Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Kairo + Los silencios (101’) Em trânsito (104’) Organismo (96’)
Kairo + Los silencios (101’) Em trânsito (104’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Longa jornada noite adentro (140’)
Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Kairo + Los silencios (101’) Imagem e palavra (84’) Mormaço (94’) Longa jornada noite adentro (140’)
11:30 14:00 16:00
Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’) Inferninho (82’) O amuleto de Ogum (112’) Seguido de debate com Jards Macalé, Severino Dadá e Juliano Gomes 19:30 Tenda dos milagres (148’)
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Inferninho (82’) Longa jornada noite adentro (140’) Inferninho (82’) Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114’)
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br.
A árvore dos tamancos (L’albero degli zoccoli), de Ermanno Olmi (Itália | 1978, 186’, 35 mm para DCP) [capa] Longa jornada noite adentro (Di qiu zui hou de ye wan), de Bi Gan (China, França | 2018, 140’, DCP, 3D)
destaques de maio 2019 É durante a noite que se passam muitos dos filmes que apresentamos este mês. Em cartaz a partir do dia 23, Inferninho se passa quase inteiramente dentro de um bar, por ondel circulam tipos de corpos e questões muito diversos. O filme surgiu de uma parceria entre os diretores Guto Parente e Pedro Diógenes com o Grupo Bagaceira de Teatro. Em Longa jornada noite adentro, a busca pela memória de um verão antigo, com tons de filme noir, se dá entre a exploração das texturas dos cinemas 2D e 3D. Importante momento do cinema italiano, A árvore dos tamancos, de Ermanno Olmi será apresentado em cópia
restaurada em DCP. O filme reconstitui minuciosamente o cotidiano de uma família camponesa do fim do século XIX. Entre o violeiro cego, a proteção religiosa de um corpo fechado e o intelectual pioneiro nas reflexões sobre as tensões raciais na Bahia dos anos 1930 se encontram os dos filmes de Nelson Pereira dos Santos que serão exibidos nesse mês, O amuleto de Ogum e Tenda dos Milagres. No dia 26 de maio, eles serão apresentados e discutidos por Jards Macalé (ator em ambos os filmes) e Severino Dadá (montador de ambas as obras e também personagem de Tenda), com mediação do crítico Juliano Gomes.
Inferninho, de Guto Parente e Pedro Diógenes (Brasil | 2018, 82’, DCP) 1
Tenda dos milagres, de Nelson Pereira do Santos (Brasil | 1977, 148’, 35 mm)
Cemitério maldito (Pet Sematary), de Mary Lambert (EUA | 1989, 103’, DCP)
A árvore dos tamancos (L’albero degli zoccoli), de Ermanno Olmi (Itália | 1978, 186’, 35 mm para DCP)
Cemitério maldito por Kleber Mendonça Filho
Os anos 1980 viram boa parte dos textos do escritor americano Stephen King passar por adaptações. Só em 1983, foram três filmes com a marca King – Cujo, de Lewis Teague; Christine, o carro assassino (Christine), de John Carpenter, e Na hora da zona morta (The Dead Zone), de David Cronenberg. A produção literária de King dos anos 1970 e 1980 pontuou um momento interessante para cinéfilos que acompanharam suas obras tanto na página escrita como nas salas de cinema ou em VHS. Era um exercício comparativo entre a literatura e as imagens de cinema. Filmes como Carrie, a estranha (Carrie, 1976), de Brian De Palma, e O iluminado (The Shining, 1980), de Stanley Kubrick, tiveram real impacto na cultura, e os livros venderam milhões de exemplares. Cemitério maldito (Pet Sematary, 1989), dirigido por Mary Lambert para a Paramount Pictures, veio já no final da década, e ainda hoje pode ser visto como uma das adaptações mais curiosas de King para o cinema de gênero horror, e sem ter tido o tipo de prestigio observado nos filmes de Kubrick, De Palma, 2
ou Rob Reiner (Conta comigo – Stand by Me, 1986 – e Louca obsessão – Misery, 1990). Com o lançamento este mês nos cinemas da refilmagem, dirigida por Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, programamos a cópia restaurada do Cemitério maldito original para uma revisão em sala. O interesse por King como autor e escritor pode passar pela sua capacidade de fazer crônicas de medo e horror a partir da vida comum nos Estados Unidos, na classe trabalhadora ou na classe média. Sua obra cobre décadas de atmosfera social e política americana, não apenas pelo tempo que originou cada livro, mas também pelos tempos propostos em cada narração. Nos seus escritos, é tudo muito palpável, corriqueiro, pertencente a um sentido claro de “americana”. Em Cemitério maldito, Lambert, na época trazida do videoclipe – dirigiu Material Girl e Like a Prayer, de Madonna –, faz um filme curto, forte, grosseiro, como se estivesse ciente de um cinema B com capacidade de dar o tipo de coice que o cinema de horror pode dar. Um dos textos mais sombrios e cruéis
de King ganha uma adaptação marcada por imagens de horror, acompanhadas de um sentido de perda dos entes queridos. Esse sentimento familiar surge com a informação de que, atrás da casa nova da família Creed (pai, mãe, filhos pequenos e gato), há um cemitério de animais domésticos e que, um pouco além, há um outro cemitério indígena, onde, dizem, há o poder de fazer os mortos voltarem. De qualquer forma, como o vizinho (Fred Gwynne, ótimo) diz a certa altura, “às vezes é melhor ficar morto”. Lambert nos apresenta cenas de impacto e horror. A construção para chegar nelas parece truncada para manter a duração curta, mas as cenas em si são robustas, impactantes. O aspecto B de Cemitério maldito materializa-se em direção aos 20 minutos finais apavorantes. Raramente o cinema de entretenimento fica tão sangrento e desagradável. A súbita explosão da música título dos Ramones dá ao todo um ar sensacional de perplexidade final, só possível nos melhores e mais descarados filmes de horror. Vale muito conhecer.
Sessão Mutual Films Lugar e palavra: Heinz Emigholz e Jonathan Perel por Aaron Cutler e Mariana Shellard
A conversa começa com o relato de uma experiência de despersonalização. O artista, saturado pelo trabalho, comenta sua obra e vida em um evento e, como se estivesse fora do próprio corpo, observa a si mesmo falando. Esse é o início da reencenação da “maratona terapêutica” entre o cineasta alemão Heinz Emigholz e o analista israelense, especializado em trauma, Zohar Rubinstein, que resultou no filme Streetscapes [Dialogue] (2017), a terceira parte de um quarteto de longas-metragens de Emigholz chamado Streetscapes [Paisagens urbanas], realizado entre 2013 e 2017. O cineasta é interpretado pelo ator americano John Erdman, e o psicólogo, pelo documentarista argentino Jonathan Perel. Enquanto conversam sobre a vida e a carreira do diretor, se deslocam por diferentes espaços arquitetônicos no Uruguai e na Alemanha, projetados pelos arquitetos uruguaios Julio Vilamajó e Eladio Dieste e pelo alemão Arno Brandlhuber. Emigholz (nascido em 1948) está tra- balhando em um novo filme de ficção, chamado The Last City, que será rodado 3
em diversas cidades ao redor do mundo, entre elas São Paulo. Ele virá neste mês acompanhado de uma equipe que inclui Perel (nascido em 1976), novamente trabalhando como ator. Tendo em vista a nova colaboração, a Sessão Mutual Films deste mês trará para o IMS uma sessão dupla de Streetscapes [Dialogue] e os dois últimos filmes de Perel – Toponímia (2015) e 5-T-2 Ushuaia (2016), ambos documentários que lidam com a história recente da Argentina, relacionando política e paisagem. As exibições contarão com a presença dos artistas em São Paulo e no Rio de Janeiro para apresentar e debater seus filmes. The Last City utiliza o mesmo método de Streetscapes [Dialogue], no qual atores travam conversas filosóficas enquanto se deslocam por espaços arquitetônicos que esporadicamente protagonizam as cenas. Os dois filmes fazem parte de uma série em processo chamada Fotografia e além, com mais de 30 obras, concebida, nas palavras de Emigholz, como a “construção de uma expressão fílmica sobre a atividade artística e criativa”. O cineasta possui um
olhar especialmente voltado para a arquitetura modernista, o que deu forma a uma subsérie de Fotografia e além chamada Arquitetura como autobiografia, onde ele registra a obra de arquitetos modernistas (como Eladio Dieste) por meio de passeios pelos espaços arquitetônicos de cada projeto. O nome dessa subsérie é ambíguo, pois se refere tanto aos arquitetos como ao cineasta, que identifica em intertítulos a data de construção dos edifícios e a data de sua visitação, e que determina o ângulo da imagem a partir do ponto de vista de seu olhar (muitas vezes em diagonal). Os trabalhos de Emigholz (objeto de uma retrospectiva no IMS Rio em 2015) carregam ambiguidades que se manifestam nos relatos históricos, nas reflexões sobre estética e nas estruturas dos filmes. Em Streetscapes [Dialogue] a conversa diante da câmera evolui de memórias de uma infância melancólica na Alemanha pós-guerra até a elaboração do próprio filme do qual os dois personagens fazem parte. Gestos iniciais, como ligar o gravador para registrar a conversa,
são posteriormente comentados quando o tema de “Streetscapes” toma forma. Um jogo entre múltiplas temporalidades é explicitado no filme, algo que reside naturalmente, porém de forma mais sutil, em cada construção registrada. 4
Esse jogo temporal também se manifesta na obra de Perel, cujos filmes contam a história da ditadura argentina a partir da observação em primeira mão de lugares e objetos construídos e ocupados pelos militares para cometer atos de tortura e
assassinato. Ao longo de sua breve filmografia (sete filmes de durações variadas), Perel mostra consistentemente locais que carregam atualmente significados diferentes daqueles do período da Guerra Suja. Os centros clandestinos e oficiais de
detenção, tortura e extermínio são relembrados em intervenções que não apenas rememoram um momento trágico, mas, assim como o próprio registro audiovisual, contextualizam sua percepção pela sociedade argentina atual. Los murales (2011) registra detalhadamente um mural em Buenos Aires que homenageia as vítimas assassinadas no local, e sua vandalização com pichações de apoio à ditadura. 17 monumentos (2012) percorre diferentes regiões da Argentina onde foram construídos monumentos irmãos com as palavras “Justiça, verdade, memória”, em locais que abrigaram centros de detenção durante a ditadura. Tabula rasa (2013) acompanha a demolição de um centro de detenção onde será construído um museu sobre a história do edifício demolido. Perel aplica a mesma metodologia de simetria em todos os seus filmes. As cenas possuem a mesma duração, a mesma distância entre a câmera e o objeto filmado, o mesmo trajeto. A monotonia do registro (filmado com som direto e sem comentários falados) ressalta o objeto registrado, 5
que pode ser uma vila, um monumento, uma ação. A insistente permanência nos locais estimula a reflexão do espectador, para quem é dada a tarefa de reconstruir a história que está sendo evocada. Toponímia é o filme mais elaborado de Perel. Quatro aldeias idênticas, construídas pelos militares para combater a guerrilha que crescia em uma região rural isolada de Tucumã, no noroeste argentino, são retratadas a partir da planta baixa original de 1976 e de imagens filmadas no local pelo próprio cineasta em 2014. O percurso, que se repete nas quatro vilas, começa no portal de entrada e segue, em planos fixos de 15 segundos cada, pelos espaços coletivos locais, como praça, igreja, centro comercial, escola, centro desportivo e a estrada de saída. O filme é organizado em quatro capítulos silenciosos, um prólogo sobre o projeto militar, com imagens de arquivo e documentos oficiais, e um epílogo, filmado pelas ruínas das antigas casas dos camponeses que foram realocados. As vilas são bem arborizadas e repletas de referências militares, desgastadas pela passagem do tempo
e pela perda do valor simbólico do que representam. A passagem do tempo proporciona outro significado para os objetos retratados no último filme de Perel, o curta-metragem 5-T-2 Ushuaia, que examina restos de aviões militares usados nos chamados “voos da morte” – nos quais prisioneiros políticos eram arremessados vivos em alto-mar –, e que se transformaram em provas no processo de investigação de crimes contra a humanidade. O filme testemunha o julgamento de um momento histórico que poderá ser revisto e contestado posteriormente, e, diante disso, adquire um valor documental crucial. Os filmes de Emigholz e Perel são tanto registros documentais quanto encenações de jornadas de exumação e catarse. Eles encapsulam camadas temporais ao adotar uma perspectiva subjetiva que coloca os diretores como testemunhas da história recente. Ao assistir aos filmes, cada espectador também entra em diálogo com essa história, a partir de seu próprio lugar e momento.
Sessão Mutual Films Lugar e palavra: Heinz Emigholz e Jonathan Perel O cineasta alemão Heinz Emigholz e o argentino Jonathan Perel estão colaborando em um novo filme, que será parcialmente rodado em São Paulo, com direção de Emigholz e a participação de Perel como ator. Para a ocasião, a Sessão Mutual Films de maio traz os dois diretores – ambos dedicados a explorar a paisagem e a arquitetura como expressões da consciência humana – para apresentar seus filmes e discutir o novo projeto com o público. Na sessão, serão projetados em diálogo os dois filmes mais recentes de Perel, ambos estudos documentais sobre o legado de violência da ditadura argentina, e uma ficção recente de Emigholz, na qual Perel faz o papel de um psicólogo especializado em trauma, que conversa com seu paciente ao redor de construções modernistas no Uruguai e na Alemanha. Dois dos três filmes são estreias brasileiras. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
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Streetscapes [Dialogue]
Heinz Emigholz | Alemanha | 2017, 132’, DCP Streetscapes [Dialogue] é a terceira parte de um quarteto de filmes do diretor alemão Heinz Emigholz chamado Streetscapes, lançado no Festival de Berlim em 2017. A série abre com 2+2=22 [The Alphabet], que registra a gravação, na Geórgia, de um álbum da banda de música eletrônica alemã Kreidler, intercalada com cenas da cidade de Tbilisi, páginas dos diários ilustrados de Emigholz e reflexões filosóficas sobre urbanismo e arquitetura. Bickels [Socialism] (que conta com um prólogo filmado no centro cultural judaico Casa do Povo, em São Paulo) é um passeio por edifícios do arquiteto polonês Samuel Bickels, construídos em kibutzim israelenses entre 1948 e 1976. Dieste [Uruguay] observa silenciosamente os prédios do arquiteto uruguaio Eladio Dieste, seguindo a cronologia de suas construções no Uruguai e na Espanha. Streetscapes [Dialogue] encena uma conversa entre um cineasta e seu analista enquanto passeiam por construções de Dieste, Julio Vilamajó e Arno Brandlhuber.
O cineasta e o analista são interpretados respectivamente pelo ator americano John Erdman e pelo documentarista argentino Jonathan Perel. O diálogo se baseia em uma “maratona terapêutica” que o próprio Emigholz realizou com Zohar Rubinstein, um israelense especialista em tratamento de traumas e corroteirista do filme. A conversa começa com memórias da infância e da formação do cineasta, ambientadas em Bremen, Hamburgo e Nova York, e segue pelos diferentes rumos que seu trabalho tomou – do cinema estruturalista para o narrativo e o observacional, explorando consistentemente a arquitetura e o urbanismo. O filme coloca os dois personagens em conversação em diferentes paisagens, sem estabelecer uma relação direta com elas, criando um ambiente surrealista que culmina na idealização da própria obra cinematográfica da qual eles fazem parte. Streetscapes [Dialogue] terá sua estreia brasileira no IMS.
Toponímia
Jonathan Perel | Argentina | 2015, 82’, DCP No início da ditadura militar argentina, quatro vilas idênticas foram construídas na área rural da província de Tucumã, com o intuito de agrupar a população local de camponeses e combater o movimento de guerrilha que crescia na região. Elas foram nomeadas em homenagem a militares que morreram na Operação Independência, a campanha de luta armada contra os insurgentes iniciada pelos militares antes da ditadura se estabelecer em 1976. As aldeias de Teniente Berdina, Capitán Cáceres, Sargento Moya e Soldado Maldonado
Em cartaz ainda existem, com pequenas populações, e são os principais locais que o documentarista Jonathan Perel examina em seu terceiro e mais recente longa-metragem, Toponímia, cujo título designa o estudo de nomes de lugares. O prólogo do filme apresenta documentos e imagens de arquivo que justificam a construção das vilas e descrevem suas estruturas gerais, organizadas em áreas verdes, praça, centro comercial, complexo desportivo e complexo industrial. A jornada seguinte, ordenada em quatro capítulos simétricos que percorrem cada vila, começa com a apresentação da planta baixa original, em que se lê uma breve descrição de tom explicitamente ideológico. As cenas atuais, registradas com câmera fixa e som ambiente, são de locais bucólicos, ocupados por crianças e adultos que caminham, jogam bola e andam de bicicleta por ruas largas e arborizadas. Ainda que visivelmente deteriorados, os espaços coletivos sobrevivem e carregam uma certa harmonia pacata. A lembrança militar persiste tímida em pequenos monumentos, que parecem ter sido descontextualizados pela passagem do tempo. Ainda que fruto de uma história opressiva, a realidade desses lugares subverte o contexto original de sua fundação.
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Chuva é cantoria na aldeia dos mortos
João Salaviza e Renée Nader Messora | Brasil, Portugal | 2018, 114’, DCP
5-T-2 Ushuaia
Jonathan Perel | Argentina | 2016, 4’, DCP O último filme de Perel foi produzido para a Bienal de la Imagen en Movimiento e terá sua estreia brasileira no IMS. 5-T-2 Ushuaia segue com o interesse do cineasta no legado da ditadura militar na sociedade argentina atual, ao observar as ruínas de aviões utilizados em assassinatos de prisioneiros políticos. Ele mostra que os chamados “voos da morte” – nos quais prisioneiros políticos eram arremessados vivos em alto-mar – se transformaram em provas no processo de investigação de crimes contra a humanidade. 5-T-2 Ushuaia passará no IMS junto com Toponímia. Perel está atualmente trabalhando em um novo longa-metragem, chamado Responsabilidad empresarial, sobre um relatório escrito pelo Ministério de Direitos Humanos da Argentina que detalha 25 casos de empresas privadas que reprimiram seus empregados durante a ditadura.
Ihjãc é um jovem da etnia Krahô, que mora na aldeia Pedra Branca, em Tocantins. Após a morte de seu pai, rejeitando a ideia de se tornar um xamã, ele foge para a cidade. Longe de seu povo e da sua cultura, vai enfrentar as dificuldades de ser um indígena no Brasil contemporâneo. Realizado ao longo de nove meses, a intimidade dos realizadores com os Krahô é palpável através do retrato próximo do cotidiano e dos dilemas dos indígenas, com uma fluidez entre momentos ficcionais e documentais. Sobre esse processo, Salaviza comenta em entrevista ao jornal O Público: “Claro que há uma crença nossa de que o cinema pode ser uma forma de mediação e de encontro entre as pessoas [...]. Há a ideia de que a produção de um filme é também uma espécie de ritual branco, ocidental, europeu. Existe uma comunidade que vive de forma profundamente ritualizada e existe o cinema pelo meio, a aproximar-nos, mas ele acaba por se transformar num detalhe.” Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Em trânsito
Transit Christian Petzold | Alemanha, França | 2018, 101’, DCP Quando Georg tenta fugir da França após a invasão nazista, ele assume a identidade de um autor falecido cujos documentos ele detinha. Preso em Marselha, Georg conhece Marie, uma jovem que está desesperada para encontrar seu marido desaparecido: o autor cuja identidade Georg assumira. O filme de Petzold é inspirado no romance homônimo de Anna Seghers, publicado em 1944. Comenta o diretor no material de imprensa do filme: “A autobiografia de Georg K. Glaser contém uma frase maravilhosa: ‘De repente, quando meu voo chegou ao fim, eu me vi cercado por algo que chamei de silêncio histórico’. Georg K. Glaser era um comunista alemão durante o tempo em que o romance Em trânsito, de Anna Seghers, foi ambientado. Ele fugiu para a França e depois para a sua desocupada ‘zona livre’, ou ‘zone libre’, à qual pertencia Marselha. 8
As pessoas de Em trânsito foram encurraladas em Marselha, à espera de navios, vistos e outras passagens. Elas estão em fuga – não há caminho de volta para elas e não há como avançar. Ninguém vai levá-las ou cuidar delas. Elas passam despercebidas – exceto pela polícia, os colaboradores e as câmeras de segurança. Elas são fantasmas da fronteira, entre a vida e a morte, ontem e amanhã. O presente passa sem reconhecê-las. Cinema adora fantasmas. Talvez porque também seja um espaço de trânsito, um reino interino no qual nós, os espectadores, estamos simultaneamente ausentes e presentes.” Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Imagem e palavra
Le livre d’image Jean-Luc Godard | França, Suíça | 2018, 84’, DCP Narrado por Jean-Luc Godard, o longa-metragem aborda questões contemporâneas a partir de materiais de origens distintas: trecho de um filme de Michael Bay, músicas, textos, pinturas e uma videopropaganda do Estado Islâmico retirada do YouTube. A sinopse oficial apresenta o filme em versos: “Você ainda se lembra de como treinávamos nossos pensamentos há anos?/ Na maioria das vezes, começávamos por um sonho…/ Nos perguntávamos como, em meio à escuridão total/ cores tão intensas podiam surgir de dentro de nós./ Em voz baixa e suave,/ dizendo coisas boas,/ coisas importantes, surpreendentes, profundas e justas./ Como um pesadelo escrito em uma noite de tempestade/ Sob os olhos do Ocidente/ Os paraísos perdidos/ A guerra está aqui.” A estreia internacional se deu em 2018, no Festival de Cannes. Ausente do festival, Godard participou da coletiva de imprensa via FaceTime,
de sua casa, na Suíça. Ao ser perguntado se Imagem e palavra seria um filme político, o diretor respondeu: “Não... Queria que meu filme fosse basicamente como um romance. Eu queria mostrar como os árabes não precisam da intervenção de outras pessoas, porque podem muito bem cuidar de si mesmos. Eles inventaram a escrita, inventaram muitas coisas. Eles têm petróleo – muito mais do que é necessário, praticamente. Então, não sei. Acho que deviam ser deixados para lidar sozinhos com as próprias questões. Não podemos ditar nada com filmes. Pus Edward Said no meu filme, junto a outros escritores. A maior parte dos filmes em Cannes este ano, e em anos anteriores, mostra o que está acontecendo. Mas pouquíssimos filmes são feitos para mostrar o que não está acontecendo. Eu espero que meu filme revele essa dimensão. Acho que é preciso pensar com as mãos e não apenas com a cabeça.” [Íntegra da coletiva de imprensa, em inglês, em: bit.ly/imgpalavra] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
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Inferninho
Guto Parente e Pedro Diógenes | Brasil | 2018, 82’, DCP Deusimar é a dona do Inferninho, o bar que é um refúgio para seus frequentadores e funcionários. Ela quer deixar tudo para trás e ir embora para um lugar distante. Jarbas, o marinheiro que acaba de chegar, sonha em ancorar e fincar raízes. O amor que nasce entre os dois vai transformar o cotidiano do bar. Inferninho surgiu de uma parceria: o Grupo Bagaceira de Teatro procurou os diretores Guto Parente e Pedro Diógenes para filmar uma série de TV, que se transformou em longa-metragem. “Esse encontro entre cinema e teatro é a base que constitui todo o projeto. É algo determinante em todos os passos, desde o desenho de produção, concepção visual, trabalho com os atores e estilo de decupagem. Como a peça nunca chegou a existir de fato, existiu só como uma ideia, como o embrião do projeto, nunca tivemos esse parâmetro de comparação entre uma coisa e outra. O que existe de teatral no filme é algo construído den-
tro do filme e para o filme, a partir de uma vontade nossa de colocar essas duas linguagens para dançar. Nada de novo na história do cinema, mas algo cada vez mais raro hoje em dia, principalmente no cinema brasileiro, em que existe uma tradição muito forte de um realismo transparente que esconde seus artifícios. Nossa aposta foi em evidenciar o artifício.” – conta o diretor Guto Parente à revista Take. O filme teve sua estreia no Festival de Roterdã em 2018, já no Festival do Rio, do mesmo ano, recebeu o Prêmio Especial da Crítica e, no XI Janela Internacional de Cinema do Recife, foi premiado nas categorias de Melhor Filme Longa-Metragem, Melhor Imagem e Melhor Filme Janela Crítica. [Entrevista completa: bit.ly/InferninhoTake] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Longa jornada noite adentro
Los silencios
Luo Hongwu retorna a Kaili, cidade natal de onde havia fugido há vários anos. Começa, então, a procurar por uma mulher de que nunca esqueceu. Ela havia dito que se chamava Wan Quiwen. Em entrevista ao crítico Wang Muyan, o diretor comenta seu processo criativo e sua relação com o cinema de gênero: “Nunca fiz cursos de roteiro, então desenvolvi meus próprios hábitos de escrita. Para começar, no que diz respeito ao roteiro, Kaili Blues (2015) é um road movie. Após escrever o primeiro rascunho, comecei a destruí-lo por dentro, pouco a pouco. Isso criou uma forma que me agradou. Originalmente, Longa jornada noite adentro era um filme noir, próximo de Pacto de sangue, de Billy Wilder. A partir desse meu processo de ‘destruição’ de cena após cena, o filme finalmente assumiu o estilo que tem hoje.” “É um filme sobre memória. Depois da primeira parte (em 2D), queria que o filme assumisse uma textura diferente. Na verdade, para mim, o 3D é apenas uma textura, tal qual um espelho que transforma nossas memórias em sensações táteis. É somente uma representação tridimensional do espaço; mas acredito que essa sensação tridimensional remete às nossas lembranças do passado. De qualquer maneira, as imagens em 3D são bem mais falsas do que as imagens em 2D, mas se assemelham bem mais às nossas memórias.”
Amparo (Marleyda Soto) e seus filhos chegam a uma pequena ilha no meio da Amazônia, na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Fogem do conflito armado colombiano, onde o pai (Enrique Diaz) e a filha do casal desapareceram. Certo dia, ele reaparece na nova casa de palafitas. Inquieta com as dificuldades financeiras e de imigração, a família descobre que a ilha é povoada por fantasmas. Durante a concepção do roteiro, a diretora Beatriz Seigner entrevistou cerca de 80 famílias de refugiados colombianos vivendo no Brasil. Ela conta como, dessas conversas, também surgiu o título do filme: “Eu percebi que em várias entrevistas as pessoas falavam sobre silêncio. Sobre não poder falar sobre o trauma que estavam carregando, ter medo de revelar alguma coisa. [...] Mas era muito presente nas conversas esse desejo de conseguir se comunicar com uma realidade paralela, de você querer falar com uma pessoa e receber o silêncio de volta. Pra mim, é o som da morte. Me parece que a morte chega pelo ouvido, é esse silêncio, essa dificuldade de você conseguir se comunicar, que é um pouco a luta de Amparo, que fica rebatendo, fica falando, e fica cada vez mais aceitando esse silêncio de alguma maneira.” Los silencios teve sua estreia internacional na Semana da Crítica, no Festival de Cannes de 2018, e, no Brasil, foi exibido pela primeira vez no Festival de Brasília, onde recebeu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Filme pela crítica. O curta Kairo, de Fábio Rodrigo, será exibido antes do longa.
Di qiu zui hou de ye wan Bi Gan | China, França | 2018, 140’, DCP (3D)
[Íntegra da entrevista em: bit.ly/longaj] Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). 10
Beatriz Seigner | Brasil, Colômbia, França | 2017, 86’, DCP
Kairo
Fábio Rodrigo | Brasil | 2018, 15’, DCP Em uma escola na periferia de São Paulo, a assistente social Sônia precisa retirar Kairo da sala de aula para ter uma conversa difícil. O curta foi exibido na seleção do Festival de Brasília, no Festival Internacional de Curtas de São Paulo e também no Festival de Gramado. Neste último, recebeu o prêmio de Melhor Direção. Kairo é dedicado à vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Sessões especiais Mormaço
Organismo
Rio de Janeiro, 2016. O verão mais quente da história. A cidade está se preparando para os Jogos Olímpicos. Ana, uma defensora pública de 32 anos, trabalha com os moradores da Vila do Autódromo, comunidade ameaçada de remoção pelas obras do Parque Olímpico. Ao mesmo tempo, misteriosas manchas aparecem no corpo da advogada. No material de divulgação do filme, a diretora e roteirista Marina Meliande conta que, a partir do anúncio do Rio de Janeiro como cidade-sede das Olimpíadas de 2016, “a notícia começou a ser divulgada e comemorada na imprensa como algo que traria inúmeros benefícios para a cidade, que logo em seguida começou a se transformar rapidamente. E eu comecei a me incomodar muito sobre como as decisões políticas em relação ao espaço público estavam sendo tomadas, e consequentemente a relação com as comunidades. (...) Quis escrever sobre isso, fazer um filme sobre uma personagem que se sente pouco à vontade no espaço onde viveu a vida toda, que está se sentindo expulsa desse lugar e que tivesse que se readaptar a esse espaço em transformação. Assim, de alguma maneira, o corpo dessa personagem se transformasse junto com a cidade, como uma forma de resistência, de doença, ou um sinal dessa mudança.”
Diego, um jovem tetraplégico, se vê sozinho em casa após a morte fulminante da mãe. Sem ter como levantar da cama, devido à sua condição física, tem de passar dias sem alimento até que alguém o ajude. Nesse processo, mergulha em um fluxo de consciência atemporal, que reúne memórias de infância a desejos íntimos e conflitos pessoais. O diretor Jeorge Pereira, que é cadeirante e já trabalhou com apoio a pessoas com deficiência, comenta que o roteiro foi inspirado tanto em experiências próprias quanto na de amigos: “A primeira delas vem da época em que eu trabalhava na ONG de apoio à reabilitação de pessoas com deficiência, tocada por um amigo. Quando ele me pediu para ir a campo, eu me deparei com uma situação que chamou muito a minha atenção. Conheci caras, muitos deles lesionados em acidentes de moto, que se tornaram deficientes depois de adultos. E uma coisa que eles tinham em comum é que, passado um tempo do acidente, eles se separavam de suas namoradas ou mulheres. E não é porque elas não os quisessem mais. Eram eles que diziam que não eram mais homens e que, por isso, não conseguiam continuar na relação. Isso para mim foi muito louco, porque eu sempre fui assim, né? Eu quis fazer um filme sobre a ideia do corpo como algo que está vivo, que pulsa.”
Marina Meliande | Brasil | 2018, 94’, DCP
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
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Jeorge Pereira | Brasil | 2017, 96’, DCP
[Íntegra da entrevista de Jeorge Pereira à 42ª Mostra de São Paulo: bit.ly/orgmostra] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
A árvore dos tamancos
L’albero degli zoccoli Ermanno Olmi | Itália | 1978, 186’, 35 mm para DCP Para relembrar a obra de Ermanno Olmi (O emprego), falecido em maio de 2018, o cinema do IMS apresenta a versão restaurada de sua obra-prima A árvore dos tamancos, Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1978. Rodado na região italiana da Lombardia, o filme reconstitui minuciosamente o cotidiano de uma família camponesa do fim do século XIX, inspirado nas histórias que Olmi ouvia de sua avó. Nas palavras do curador José Manuel Costa, o filme “não é nem uma sucessão, nem um cruzamento de histórias – ambos modelos amplamente testados –, e estes fios mal têm aliás a consistência de ‘histórias’. Por outro lado, e mesmo se o filme não pode deixar de remeter para a experiência de Olmi no documentário, se há algo que se percebe desde cedo é a que ponto todo este movimento é coreografado, ou orquestrado, de forma minuciosa e sutilíssima.” [Trecho retirado do catálogo Ermano Olmi – Uma excêntrica normalidade (2012), editado por Francesco Giarrusso pela editora Il Sorpasso] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Nelson Pereira em Cartaz sendo assassinados no porão. Havia ali uma história tão convincente sobre obsessão, era mesmo um drama familiar. O filme pega a emoção e o apego que está presente em um grupo familiar e mostra o lado mais obscuro dessa união.” A música “Pet Sematary”, da banda Ramones, foi composta para os créditos finais do longa. [Entrevista completa, em inglês: bit.ly/CemiterioMaldito30] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Cemitério maldito
Pet Sematary Mary Lambert | EUA | 1989, 103’, DCP O dr. Creed e sua família deixam Chicago para viver em uma pequena cidade do interior. A nova casa é situada em um cenário idílico, porém a autoestrada à sua frente representa um perigo para os dois filhos do casal e para o gatinho chamado Winston Churchill. Além disso, no quintal da propriedade, um caminho de pedras leva a um antigo e misterioso cemitério de animais de estimação. O filme de Mary Lambert é uma adaptação do livro de Stephen King, que é também autor do roteiro. Trinta anos após o lançamento de Cemitério maldito, o negativo original foi escaneado e restaurado em 4K e uma nova versão da obra chega aos cinemas, sob a direção de Kevin Kölsch e Dennis Widmyer. Em entrevista ao site Slash Film, a diretora relembra sua primeira impressão do roteiro: “Eu não me considerava uma diretora de terror, mas fiquei realmente atraída por esse material, pois não era apenas um festival de gore ou de tortura pornô, não eram adolescentes 12
O amuleto de Ogum
Nelson Pereira dos Santos | Brasil | 1975, 112’, 35 mm Cercado por três bandidos, um violeiro cego e idoso conta uma história. Nela, uma mulher tem seu marido assassinado e decide levar seu filho num terreiro para fechar o corpo. Gabriel passa a ser imune à morte, desde que ele esteja com o amuleto de Ogum e sua mãe esteja viva. Vindo da Bahia, Gabriel desembarca em Duque de Caxias e passa a trabalhar para um bicheiro, que em breve se torna seu inimigo. Com trilha (e breve atuação como o violeiro cego) de Jards Macalé, Nelson Pereira parte para mais um filme de baixo orçamento e com os colaboradores habituais, como Hélio Silva e Luiz Carlos Lacerda, neste que, apesar de ser seu 11o filme, ele classifica como o primeiro. Conforme descreve Nelson em depoimento para o Jornal do Brasil, publicado em 23 de fevereiro de 1975, a aproximação com a umbanda foi fundamental no processo de realização: “A informação que eu precisava para o filme tinha que vir de um pai de santo. Era preciso uma certa vivência para me situar melhor dentro da coisa toda. Descobrir a que santo estou ligado. Eu, meus filhos, minha mulher e as pessoas que estão no filme. E pedir permissão para fazer o filme, mostrar o roteiro ao pai de santo para ver se ele concordava. O roteiro foi mostrado a vários pais de santos, não apenas a um ou a dois, mas a vários, para tirar uma média da opinião. Consultei vários terreiros e dentro do filme existe o próprio Erlei, que inter-
preta o pai de santo que toma conta de Gabriel. Ele é um babalaô e estava sempre dando as dicas necessárias. A preparação do filme foi muito desse jeito. A informação teórica dos estudiosos, as coisas que a gente pode receber em estudos, precedeu a preparação do roteiro. Depois de pronto, ele se modificou com as informações dos pais de santos. O objetivo era mostrar a umbanda sem os equívocos que existem quando ela é vista como uma crendice popular, como folclore. Deixar de mostrá-la como uma prática sub-religiosa, pretexto para sensacionalismo ou choque, como cenas onde se corta o pescoço de um galo sem explicar o que se encontra por trás daquilo. O que a gente procurou foi mostrar a umbanda como a coisa natural que ela é.” No domingo, dia 26/5, a exibição de O amuleto de Ogum será seguida por debate com o ator e compositor Jards Macalé e o montador Severino Dadá. A mediação será do crítico Juliano Gomes. [Íntegra do depoimento do diretor em: bit.ly/amuletoogum] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
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Tenda dos milagres
Nelson Pereira do Santos | Brasil | 1977, 148’, 35 mm O doutor Levinson, importante antropólogo americano chega a Salvador para pesquisar a vida e a obra de Pedro Archanjo, um mulato pobre autodidata, bedel da Faculdade de Medicina, já desaparecido. A notícia imediatamente se espalha pela cidade, nos bares e nos terreiros, provoca muitos eventos, concursos, peças de teatro e até um filme para resgatar a história, até então desconhecida, de uma grande figura popular baiana. Tenda dos milagres é baseado no romance homônimo de Jorge Amado, livro que foi publicado em 1968 e que, por sua vez, é inspirado na vida de Manuel Querino. O aluno do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia viveu entre a metade do século XIX e o início do XX, e seu trabalho foi pioneiro nos registros antropológicos e da valorização da cultura negra na Bahia. “Nada do que está no livro, do que está no filme é inventado”, escreveu Jorge Amado, no jornal O Dia, em 1977. “Eu recriei no livro, dentro das
minhas limitações, e Nelson recriou no filme, com seu imenso talento e sua grande qualidade de cineasta. Nossa relação durante a adaptação de Tenda dos milagres foi ótima, porque Nelson não briga. Nelson concorda e depois faz o que quer. A relação foi inteiramente diferente. Porque eu nunca me meto em adaptação de livro meu, para nenhuma forma de comunicação [...]. Mas, com Nelson, não, com ele, eu discutia muito, conversei muito, palpitei muito. Mas o Nelson fez uma coisa inteligente, me botou pra trabalhar, enquanto isso ele filmava [...]. O filme Tenda dos milagres é uma obra de Nelson Pereira dos Santos, pensado, criado e concebido por ele. Mas não deixa de ser meu. Afinal, no sangue de Nelson que corre ali dentro, há um pouco de meu sangue.” Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Harun Farocki: quem é responsável? Todos os sábados, a partir do dia 16 de março, integrando a exposição Harun Farocki: quem é responsável?, serão exibidos os filmes Imagens do mundo e inscrição da guerra, às 11h30, e Intervalo, às 15h, do cineasta e videoartista Harun Farocki (Neutitschein, Tchecoslováquia, 1944-Berlim, Alemanha, 2014). Nas obras desta exposição, Farocki mostra como fotografias e imagens digitais participam da construção de armas letais, denuncia preconceitos e mecanismos de coerção implícitos em ilustrações de livros didáticos, expõe o drama humano contido nos desafios aparentemente banais dos jogos de computador e aponta para a ligação entre a indústria cultural e a indústria de guerra. Com uma trajetória iniciada no fim dos anos 1960 no campo do cinema ativista, Harun Farocki voltou-se também para o universo das videoinstalações a partir da década de 1990. Deixou uma produção de 120 filmes e instalações em que sua crítica, ao abordar fronteiras pouco nítidas entre ficção e realidade, ganha surpreendente relevância.
Intervalo
Aufschub Harun Farocki | Alemanha, Coreia do Sul | 2007, 40’, DCP
Imagens do mundo e inscrição da guerra
Bilder der Welt und Inschrift des Krieges Harun Farocki | Alemanha Ocidental | 1988, 75’, DCP Filme-ensaio sobre o uso de imagens operacionais (desenhos e fotografias realizados com finalidade técnica, sem pretensão artística) em processos produtivos, operações militares e como mecanismos de controle. Harun Farocki se debruça especialmente sobre um conjunto de fotografias aéreas de Auschwitz tiradas por aviões de bombardeio norte-americanos em 1944, mas que foram descobertas e identificadas por dois funcionários da CIA apenas em 1977. O cineasta reflete sobre o papel do olho como intermediário entre o ser humano e o mundo, e sobre como o ponto de vista determina o que vemos. O uso de imagens tanto em projetos de construção como de destruição estão no centro de suas indagações. Entrada gratuita.
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Harun Farocki investiga um conjunto de cenas silenciosas, em preto e branco, realizadas em 1944, em Westerbork, um campo de refugiados holandês criado em 1939 para abrigar judeus foragidos da Alemanha. Em 1942, após a ocupação da Holanda, os nazistas o transformaram num “campo de trânsito”, onde os detentos viviam antes de serem deportados novamente para a Alemanha. As imagens foram realizadas pelo fotógrafo judeu Rudolf Breslauer, que viveu em Westerbork. Em depoimento, Farocki relata como, uma vez de posse das filmagens de Breslauer, “ficamos procurando por detalhes e tentando descobrir as intenções de representação de cada sequência a partir de informações do contexto. Propus-me fazer um filme no espírito desses estudos, que registrasse também o processo das investigações das imagens. O material básico é mudo e o mantive assim, acrescentando apenas legendas. As imagens devem falar por si.” Na quinta-feira, dia 16 de maio, às 19h30 haverá uma exibição de Intervalo seguida de debate com os documentaristas Eduardo Escorel e João Moreira Salles. [Excerto do texto “Berta vermelha vai andando sem amor”, disponível no catálogo da exposição Harun Farocki: quem é responsável?] Entrada gratuita.
coleção DVD | IMS
Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.
O emprego
Il posto Ermanno Olmi | Itália | 1961, 93’ Domenico, jovem da classe operária de uma pequena cidade, se candidata a uma função administrativa em uma grande empresa de Milão. Após um longo dia de testes, em que conhece Antonietta, também candidata, ele é contratado. Sente-se ainda mais feliz ao descobrir que Antonietta também foi aceita. Mas as esperanças de Domenico são duplamente frustradas quando colocam os dois em departamentos distantes e lhe recusam a função administrativa com a qual sonhava. “No início, não penso na câmera. Penso no que deve ser apresentado: o lugar, a iluminação, as pessoas. Construo a ficção que preciso e, quando sinto que ela corresponde às minhas necessidades, vou para a câmera para ser conduzido pela cena, sem estabelecer de antemão que ‘aqui’ vou fazer um close-up, um plano geral ou um movimento de câmera. Não decido nada com antecedência. Quase sempre trabalho com a câmera na mão, na altura de meus olhos, e se preciso movimentá-la procuro fazer como se ela fosse parte de meu corpo.” Ermanno Olmi
O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophuls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho
Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomas Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade.
Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas,nas lojas dos nossos centros culturais e na loja on-line do IMS: bit.ly/imsdvd. 15
Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho Programação de cinema e DVD Barbara Alves Rangel Programadores assistentes Ligia Gabarra e Thiago Gallego
Os filmes de maio
Meia-entrada
O programa de maio tem o apoio da Cineteca di Bologna, do Istituto Italiano di Cultura San Paolo, da Rai Com, da Regina Filmes, e das distribuidoras Embaúba Filmes, Supo Mungam films, Imovision, Zeta Filmes, Inquieta, Park Circus, Vitrine Filmes e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Marcia Pereira dos Santos, Diogo Dahl, Letícia Monte, Luiz Rangel e às equipes dos festivais IndieLisboa (Nuno Sena/Ana Isabel Strindberg) e Porto/Post/Doc (Sérgio Gomes/Daniel Ribas).
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, portadores de hiv e aposentados por invalidez.
apoios
Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito).
Sessão Mutual Films
Venda de ingressos
Nelson Pereira em cartaz
Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Confira a classificação indicativa no site do IMS.
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Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br. Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinemaims. As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.
O amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil | 1975, 112’, 35 mm)
Cemitério maldito (Pet Sematary), de Mary Lambert (EUA | 1989, 103’, DCP)
Terça a domingo, sessões de cinema até as 20h. Visitação Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segundas), das 11h às 20h. Entrada gratuita.
Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br
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