cinema set.2018
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5 Unicórnio (122’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’)
11 14:00 16:30 18:00 20:00
Unicórnio (122’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’)
18 14:00 15:30 17:30 19:00
Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Café com canela (100’) Camocim (76’) Vanguardas, arte pop, contracultura: Manifesto (95’), seguida de debate
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14:00 16:30 18:00 20:00
6 Unicórnio (122’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’)
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14:00 Unicórnio (122’) 16:30 Histórias que nosso cinema (não) contava (79’)
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14:00 15:30 17:30 19:00
Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Café com canela (100’) Camocim (76’) Vanguardas, arte pop, contracultura: Tropicália (87’), seguida de debate
14:00 16:00 18:00 20:00
14:00 16:00 17:30 19:00
Unicórnio (122’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’)
Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Sessão Cinética: Abaixo a gravidade (110’) Seguida de debate com os críticos da Revista Cinética
Café com canela (100’) Camocim (76’) Camocim (76’) Vanguardas, arte pop, contracultura: Adeus à linguagem 3D (70’), seguida de debate
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26 Benzinho (97’) Camocim (76’) Os tempos de Harvey Milk (88’) A conexão (103’)
14:00 16:30 18:00 20:00
Benzinho (97’) Camocim (76’) Café com canela (100’) Camocim (76’)
14:00 16:00 19:00
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/cinemaims e ims.com.br.
Café com canela (100’) Camocim (76’) Yeelen - A luz (106’) seguido de debate com Janaína Oliveira
sexta
sábado
domingo
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11:30 No intenso agora (127’) 14:00 Unicórnio (122’) 17:00 Caniba (90’), seguida de conversa com Richard Peña 20:00 Café com canela (100’)
11:30 14:00 16:30 18:00 20:00
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Ex-pajé (80’) Unicórnio (122’) O rei e o pássaro (87’) Benzinho (97’) Café com canela (100’)
Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’) Camocim (76’)
21 14:00 16:00 18:00 20:00
Benzinho (97’) Camocim (76’) Café com canela (100’) Camocim (76’)
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No intenso agora (127’) Unicórnio (122’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’)
Café com canela (100’) Camocim (76’) Baara - O trabalho (93’) Finyé - O vento (105’)
11:30 14:30 16:00 18:00 20:00
11:30 Ex-pajé (80’) 14:00 Unicórnio (122’) 16:30 Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) 18:00 Benzinho (97’) 20:00 Café com canela (100’) 16
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Ex-pajé (80’) Unicórnio (122’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’)
No intenso agora (127’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) Benzinho (97’) Café com canela (100’) Camocim (76’)
11:15 14:30 16:15 18:00 20:00
As boas maneiras (135’) Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) O rei e o pássaro (87’) Café com canela (100’) Camocim (76’)
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15:00 Os tempos de Harvey Milk (88’) 17:30 Performance: O livro do paraíso não tem autor (55’), seguida de debate com Ross Lipman 19:45 A conexão (103’)
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11:15 As boas maneiras (135’) 14:00 Café com canela (100’) 16:00 Cineastas do nosso tempo: Souleymane Cissé + Curtas (75’) 18:00 Baara - O trabalho (93’) 20:00 Trás os montes (108’)
15:00 Yeelen - A luz (106’)
As boas maneiras (135’) Benzinho (97’) Camocim (76’) Café com canela (100’) Camocim (76’)
capa Yeelen – A luz (Yeelen), de Souleymane Cissé (Alemanha, Burkina Fasso, França, Japão e Mali | 1987, 106’, 35 mm) Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Cordeiro (Portugal | 1976, 110’, cópia restaurada em DCP)
destaques de setembro 2018 A partir do dia 27 de setembro, será possível encontrar-se com a obra de um pioneiro do cinema maliano, Souleymane Cissé, em cópias 35 mm e digitais. Em seus filmes místicos ou realistas, Cissé se contrapõe ao exotismo eurocêntrico diante do cotidiano e da memória africanas. Na sessão de abertura da retrospectiva, seu filme Yeelen – A luz será seguido de um debate com a pesquisadora Janaína Oliveira. Seminal na história do cinema português recente e influência para nomes como Pedro Costa e João Pedro Rodrigues, Trás-os-montes de Margarida Cordeiro e António Reis é apresentado em cópia restaurada
pela Cinemateca Portuguesa, em oportunidade rara de ver um filme que nunca foi lançado em vídeo doméstico como comenta Margarida Cordeiro, “as obras de arte têm proporções que não podem ser transformadas em postais.”. Convidado da sessão Mutual Films, Ross Lipman trabalha como restaurador independente, cineasta e performer. Suas percepções éticas e estéticas sobre os processos de restauro serão tema da apresentação de duas obras nas quais trabalhou (A conexão e Os tempos de Harvey Milk) e na performance live cinema O livro do paraíso não tem autor. A programação inclui ainda um debate com Lipman.
Finyé – O vento (Finyé), de Souleymane Cissé (Mali | 1982, 105’, 35 mm)
Café com canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio (Brasil | 2017, 100’, DCP)
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Os tempos de Harvey Milk (The Times of Harvey Milk), de Rob Epstein (EUA | 1984, 88’, 16 mm para 35 mm para DCP)
A longa viagem de Souleymane Cissé Por Janaína Oliveira
Quando Souleymane Cissé terminou seus estudos de cinema no Instituto VGKI de Moscou, em 1969, haviam se passado apenas três anos do lançamento de A garota negra (La noire de...), filme de Ousmane Sembène que é considerado o primeiro longa-metragem feito por um realizador negro africano. No ano seguinte, Cissé retornou para o Mali, sua terra natal, dando início efetivamente ao trabalho com cinema, primeiramente como operador de câmera e repórter, realizando filmes no interior do país para o Serviço Cinematográfico do Ministério de Informação, para depois ingressar na carreira de cineasta e, posteriormente, de produtor, ao fundar, em 1977, a companhia Les Films Cissé (Sisé Filimu). A experiência cinematográfica do diretor maliano está intrinsecamente ligada às diretrizes que caracterizam as primeiras décadas do cinema africano, isto é, um cinema feito por africanos, com temas africanos, para um público africano, tal como definido por Manthia Diawara, professor e estudioso, conterrâneo de Cissé e um dos maiores especialistas nas cinematografias do continente. Da mesma forma que 2
se observa na obra de Sembène, a prerrogativa central de Cissé era criar um repertório de imagens e histórias que se contrapusessem ao universo de representações negativas sobre a África que tradicionalmente povoam o repertório das imagens eurocêntricas. “Os que vieram filmar aqui jamais mostraram as pessoas como seres humanos. Eles nos filmaram de qualquer maneira [...]. O cinema dos brancos mostra que os africanos não pertencem à comunidade humana, que são como animais. Filmaram rios com mais respeito!”, afirmou Cissé de maneira contundente em 1991, na entrevista para o episódio dedicado a ele da série documental Cinéastes de notre temps, dirigido pelo cambojano Rithy Panh, filme que também integra a mostra do IMS. Exibir as injustiças e as mentiras que as imagens produzidas sob a égide do olhar do colonizador, que durante décadas perpetuaram estereótipos negativos e estanques sobre as culturas africanas, tal era a tarefa dos cineastas dessa geração. Em entrevistas diversas, concedidas em diferentes momentos de sua carreira, Cissé aponta o contexto da luta contra a dominação colonial como origem central
de seu desejo de se tornar cineasta. Ainda que seja uma paixão desde a infância, o momento exato em que Cissé diz ter optado por fazer do cinema seu métier foi quando assistiu a um documentário sobre a prisão de Patrice Lumumba, líder político que promoveu a luta de independência do Congo, em 1960. A violência das imagens de Lumumba amarrado, a forma como foi brutalmente tratado, seria determinante para o então jovem estudante decidir fazer do cinema uma arma contra as forças coloniais que, mesmo após as independências, se faziam presentes nas relações políticas, econômicas e, sobretudo, culturais. A descolonização das telas, expressão usada pelo crítico tunisiano Tahar Cheriaa, fundador da Jornada Cinematográfica de Cartago, que, junto com Sembène, protagoniza a articulação política desse primeiro momento do cinema africano, é assumida por Cissé como missão. Daí seus primeiros filmes serem reconhecidos como políticos e, por vezes, até pedagógicos. Na mostra inédita que agora o IMS traz para o Brasil, estão presentes alguns desses filmes, mais precisamente dois
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curtas-metragens, Fontes de inspiração (Sources d’inspiration), de 1968, e Cantores tradicionais das ilhas Seychelles (Chanteurs traditionnels des îles Seychelles), de 1975, juntamente com dois de seus longas-metragens mais consagrados, Baara ‒ O trabalho, de 1978, e Finyé ‒ O vento, de 1982. Baara, segundo longa-metragem do diretor, ganhou o prêmio de Melhor Filme da edição de 1979 do Fespaco (Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ouagadougou), em Burkina Fasso, maior festival do continente e o segundo mais antigo.1 Proeza repetida em 1983 com Finyé, fato até então inédito na história do festival, e repetido apenas recentemente, em 2017, pelo diretor senegalês Alain Gomis, que se tornou o segundo diretor a ganhar por duas vezes o Étalon de Yennenga, nome do prêmio principal do Fespaco.
1. Criada em 1966, a Jornada Cinematográfica de Cartago é precursora dos festivais africanos. O Fespaco foi criado em 1969, então com o nome de Semana de Filmes de Ouagadougou. 4
Com Yeelen ‒ A luz, terceiro longa do diretor presente na Mostra do IMS, Cissé apresenta um novo caminho narrativo, que, segundo críticos e comentadores do cinema africano, o afastaram das narrativas sociais realistas ao estilo sembèniano. O filme se desenvolve no universo dos rituais Komo, pertencentes a um código cultural específico da cultura maliana, trazendo para as telas do cinema africano outra abordagem do tempo e do espaço em relação às tradições locais. Yeelen inaugura uma série de produções com longos planos e som natural, com closes que enaltecem a beleza dos personagens e suas tradições, sobretudo no período anterior à chegada dos colonizadores europeus. Esse estilo narrativo, que Diawara chama de “retorno às origens”, vai caracterizar as obras da segunda geração de cineastas africanos, como nos filmes dos burquinenses Gaston Kaboré e Idrissa Ouédraogo. Contudo, uma crítica recorrente a essa geração é que, ao se afastar da crítica política e social, os filmes se tornariam mais próximos ao gosto das plateias ocidentais. Fato é que Yeelen ganhou o Grande Prêmio do Júri 5
no Festival de Cannes, em 1987, feito também até então inédito na história do cinema africano, dando a Cissé o reconhecimento fora do continente. “Se Yeelen é diferente de Finyé e Baara”, diz Cissé em entrevista a Frank Ukadike em 1997, durante o Fespaco, “pode ser porque, acima de tudo, diferentes impulsos dirigem cada criação. A mudança de estilo pode ser deliberada. Depois que fiz Finyé e Baara, eu fui rotulado de cineasta político, e alguns diziam que meus filmes eram muito didáticos. Mas um artista deve ter a liberdade de experimentar com tema, conteúdo e estratégia narrativa.” A fala do diretor, três décadas após o seu début como cineasta, revela também a transição de sua cinematografia, que dialoga com diferentes momentos da produção de filmes na África. “Cada filme meu é uma longa viagem”, afirmou certa vez o cineasta. É por isso que, além da qualidade incontestável dos filmes, acompanhar o desenvolvimento do trabalho de Soulaymane Cissé nessa mostra é, também, uma oportunidade singular de viajar através da história e perceber as transformações que marcaram parte
fundamental da trajetória das cinematografias africanas.
Janaína Oliveira é pesquisadora e curadora, doutora em história, professora no IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro), e
Fulbright Scholar no Centro de Estudos
Africanos na Universidade de Howard, em
Washington, nos EUA. Atualmente, é curadora do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul (RJ) e do Fincar (Festival Internacional de Cinema de Realizadoras), no Recife. Faz
parte da Apan (Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro). É idealizadora e
coordenadora do Ficine (Fórum Itinerante de Cinema Negro ‒ ficine.org).
A retrospectiva segue até o dia 3 de outubro. Programação completa em ims.com.br
Sessão Mutual Films: As duas faces de um restaurador por Aaron Cutler e Mariana Shellard
Thom Andersen, Kenneth Anger, Charles Burnett, Bruce Conner, John Cassavetes, Julie Dash, Barbara Loden, John Sayles e Orson Welles são alguns dos artistas cujos filmes passaram pelas mãos de Ross Lipman, um dos mais importantes restauradores norte-americanos da atualidade. Nascido em Chicago, em 1963, Lipman começou como cineasta independente e experimental antes de mergulhar no ramo da restauração. Quando entrou para o Acervo de Cinema e Televisão da Universidade da Califórnia, Los Angeles, em 1999, sua carreira no cinema completava dez anos. Na época, as restaurações do acervo concentravam-se em filmes narrativos hollywoodianos. O foco foi alterado durante os 16 anos em que Lipman trabalhou na instituição, aumentando a presença do cinema independente e experimental nos projetos. A perspectiva de Lipman sobre restauração, descrita em diversos artigos e entrevistas, trata a prática tanto sob seus aspectos artísticos quanto técnicos. Sendo um filme um compêndio de ideias (de roteiro, de direção, de trilha sonora), materiais (a câmera, o gravador, a película, 6
o vídeo) e situações diversas (condições de pré-produção, produção, pós-produção e distribuição), o restaurador precisa levar em consideração cada um desses aspectos para que o resultado seja o mais próximo possível da obra idealizada pelo artista. Ainda assim, Lipman defende que toda restauração é uma nova versão da obra original, já que mudanças tecnológicas e a perda de informação com o decorrer do tempo impossibilitam a criação de um gêmeo idêntico. Com isso, ele desenvolveu o conceito de “zona cinza”, ou seja, “um território desconhecido em que o preservacionista precisa tomar decisões, quando não existem guias definitivos deixados pelos cineastas. As escolhas feitas podem optar entre seguir ou não fielmente o espírito da obra, determinando dessa forma a experiência vivida pelo espectador ao assistir ao filme.”1 Lipman afirma que, para conseguir uma reprodução fiel, um 1. O artigo de Lipman “The Gray Zone: A Restorationist’s Travel Guide”, de 2009, pode ser encontrado em inglês no link corpusfluxus. org/Pages/works_events/grayzone.html.
restaurador deve operar em um modo artesanal, usando uma visão subjetiva e, assim, alcançar um meio-termo entre a arte e a ciência. Na segunda edição do evento bimestral Sessão Mutual Films, Lipman virá a São Paulo e ao Rio de Janeiro para apresentar projeções em DCP de dois filmes que ele restaurou em película e supervisionou a remasterização digital durante os anos em que trabalhou na UCLA – A conexão, de Shirley Clarke, de 1961 (restaurado em 2004), e Os tempos de Harvey Milk, de Rob Epstein, de 1984 (restaurado em 1999). Ele também realizará, no contexto de seu trabalho artístico, uma performance de live cinema chamada O livro do paraíso não tem autor, de 2010. A conexão é o primeiro longa-metragem de Shirley Clarke, uma artista multifacetada que estudou dança moderna e migrou para o cinema ao investigar formas de registrar cinematicamente a dança. Com o mesmo espírito performático de seus primeiros filmes, A conexão – baseado na peça homônima de 1959 de Jack Gelber, encenada originalmente pelo grupo teatral Living Theater – explora
ironicamente a ideia de cinema direto, ao retratar um jovem cineasta e seu cinegrafista, investidos em documentar um grupo de artistas e músicos de jazz viciados em heroína, em uma quitinete nova-iorquina. A coreografia frenética e rodopiante da câmera 35 mm reproduz tanto o ritmo agitado dos viciados, que esperam ansiosamente a chegada do traficante (“a conexão”), quanto a instabilidade da dupla que os documenta, levando o espectador a examinar sua própria relação com as 7
situações representadas na tela. A limpeza cristalina realizada por Lipman na restauração, após uma longa busca pelo negativo original, enfatiza a meticulosa visão de Clarke sobre a performance e o registro. A restauração de A conexão e dos outros filmes de Clarke ajudaram a colocar a cineasta em seu devido lugar de prestígio como pioneira do cinema híbrido. Antes de sua restauração, Os tempos de Harvey Milk já era uma obra renomada, vencedora do Oscar de Melhor
Documentário de Longa-Metragem de 1985. O retrato extensivamente pesquisado de Harvey Milk, primeiro político abertamente gay eleito no estado da Califórnia – finalizado seis anos após seu assassinato, em 1978 – foi composto por uma série de entrevistas realizadas por Epstein em 16 mm e diversos materiais de arquivo em vídeo. Antes do trabalho de Lipman, o filme, dirigido por um pioneiro no registro cinematográfico do protagonismo gay nos Estados Unidos, existia apenas
em cópias 16 mm. O restaurador considerou apropriado ampliar a obra para 35 mm, justificando a transferência ao dizer que Harvey Milk é “história escrita em uma grande tela”.2 Diferentemente de A conexão (cuja diretora havia falecido em 1997), Epstein estava vivo e teve grande participação nas decisões tomadas por Lipman durante a restauração do filme. Entre essas decisões, novas transferências dos materiais em vídeo foram realizadas devido à insatisfação do diretor com as transferências que existiam. A nova versão, com cores menos saturadas, foi usada apenas em algumas cenas, para não descaracterizar o aspecto típico da época. A trilha sonora foi modificada do original em mono – pois 16 mm é um formato que possibilita apenas um canal de som – para o idealizado em estéreo. Dez anos após a conclusão da restauração, as cores do filme foram ainda mais refinadas, com novas ferramentas 2. Do breve ensaio, “Restoring The Times of Harvey Milk”, escrito para o lançamento do filme em DVD pelo selo norte-americano The Criterion Collection. 8
digitais para a criação da versão digital de alta resolução. A restauração de Os tempos de Harvey Milk caracterizou-se por mudanças significativas do material original, e, tanto pela perspectiva do restaurador como pela do cineasta, foram mudanças para melhor. Da mesma maneira que o conhecimento adquirido por Lipman na realização de seus próprios filmes influenciaram seu trabalho técnico de restauração, as intensas pesquisas que passou a fazer sobre os filmes que restaurou influenciaram sua obra artística subsequente. Seu fascínio inicial pela degradação da matéria, manifesto sob um viés estrutural e concreto em seus filmes experimentais, tomou um rumo distinto, voltando-se para extensivas pesquisas históricas e ontológicas sobre o significado do registro visual. O resultado culminou em suas performances de live cinema, nas quais Lipman lê ao vivo o roteiro de sua pesquisa enquanto projeta imagens de arquivo. As performances de Lipman são a síntese de seu trabalho como artista e restaurador, pois expõem tanto as intensas pesquisas que realiza no processo
de restauração de filmes quanto suas próprias indagações morais e estéticas sobre o material pesquisado. Na performance O livro do paraíso não tem autor, ele explora o material de arquivo audiovisual sobre a tribo filipina Tasaday, que viveu em total isolamento por milhares de anos, até ser descoberta em 1971, durante o governo de Ferdinand Marcos. Lipman cria uma narrativa filosófica que investiga o impacto do contato dos Tasaday com a civilização moderna, e como sua história é criada e recriada ao ser explorada intensamente pela mídia global da época. As pesquisas que Lipman realiza durante o processo de restauração trazem novas abordagens e recontextualizações de filmes, aproximando o grande público da história do cinema e do campo da preservação. O mesmo ocorre com sua obra performática, que busca incessantemente uma nova visão do passado. A apresentação de suas duas faces em diálogo expõe um campo de ação emergente, que não só resgata obras deterioradas fisicamente pelo tempo, mas também, muitas vezes, reforça o valor da memória, tanto individual quanto coletiva.
Acorda, gravidade!
Abaixo a gravidade, 2017, Edgard Navarro por Marcelo Miranda
“Acorda, humanidade!”: com esse grito imperativo começava a epifania do morador de rua em Superoutro (1989), o filme de Edgard Navarro cujo desfecho faz a ponte com seu trabalho mais recente. Abaixo a gravidade (2017) eram justamente as últimas palavras do protagonista, antes de se atirar do alto do elevador Lacerda para um voo transcendental e simbiótico com Salvador. A mesma expressão apareceu novamente em O homem que não dormia (2011), e agora se torna convite direto para um novo mergulho no imaginário de um de nossos mais irreverentes e inventivos realizadores. Dono de uma trajetória que começa nos anos 1970 em curtas-metragens feitos em super-8, Navarro chega aqui ao terceiro longa-metragem. Para além das alcunhas de iconoclasta e provocador, seu cinema é, acima de tudo, um cinema do prazer. O prazer da carne se mistura ao prazer de filmar, tesão represado se transfigura em explosão excitada de imagens e sons. Sente-se a genuína atração por todos os planos e transições de cena, pelos corpos em movimento e palavras proferidas, pelos delírios surreais e tomadas de consciência. 9
Abaixo a gravidade é a elegia de um homem que, ao final da vida, constata que o mundo gira e gira sem sair do lugar. Que a lei da gravidade a certa altura seja revogada é o mote simbólico para que o diretor desenvolva, entre a melancolia e a alegria, os descaminhos de um personagem que não difere tanto de Navarro. Surge na tela um Everaldo Pontes intenso e apaixonado, em busca de entender por que o mundo até podia ser mais, mas sempre caminha para ser menos. Bené, contraparte de Navarro, é também, conforme o diretor costuma revelar em entrevistas, uma versão de Luiz Paulino dos Santos, mí(s)tico cineasta baiano (o primeiro dono de Barravento, antes de Glauber Rocha aparecer) que optou por se afastar da urbanidade e fundar sua própria comunidade, num interior longe das cidades. Luiz Paulino morreu em 2017, ano das primeiras exibições de Abaixo a gravidade. O filme é dedicado a Paulino e a Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci e Ramon Vane. Todos artistas marcados pela quebra de paradigmas, pela ousadia criativa e, especialmente, pela não conformidade com qualquer tipo de amarra ou status
quo. Edgard Navarro é dessa linhagem, e faz parecer lógico que seu diálogo se dê nessas instâncias. Acrescido da montagem precisa de Cristina Amaral, outra da mesma turma fora de série, Abaixo a gravidade é um filme contra o poder estabelecido e contra as convenções, posicionando-se diante disso tudo com ternura e compreendendo que não basta chutar a porta, e sim também oferecer um caminho alternativo de apreensão. Bené se afastou da cidade grande numa “busca espiritual”, e encontra decepção e desilusão quando decide retornar. Cheio de doenças (entre elas, um mal que lhe obriga a tomar remédios cujos efeitos colaterais incluem disfunção erétil), não consegue entender como pode estar nessa situação-limite após ter abdicado de um mundo corroído. Nas andanças de gosto agridoce pelas ruas de Salvador, depara-se com uma nova urbanidade, tão moderna quanto violenta. Se Bené é levado de volta à civilização pela ilusão do amor (que ele erroneamente acredita ter conquistado), os obstáculos com os quais se depara acabam por devolvê-lo à percepção de antes – de que algo não respira bem entre prédios e ruas e carros e gentes.
Em sua jornada, Bené cruza (ou não) os caminhos de diversos outros personagens, que formam uma fauna de pessoas como se vinda de outros filmes do diretor, numa espécie de “navarroverso” que aqui se atualiza. Dos mendigos ao rés do chão, passando pelo trabalhador de rua e chegando às elites no topo das coberturas, nos shoppings ou nos consultórios de psicanálise: existe um espírito em comum entre todos eles, e esse espírito se resume na inquietação. Um morador de rua constrói asas e quer voar; outro profetiza o fim dos tempos; um homem rico se consulta na tentativa de entender a si e aos próprios devaneios; uma estátua viva remete ao Pensador de Rodin e quebra a imobilidade da escultura para se atirar na incerteza do movimento. “As respostas não estão dentro da mente. Se elas existem, elas estão lá naquele outro abismo, que é um abismo real, não um abismo mental”, disse Navarro, numa entrevista publicada em 2012 na revista Cinética. A referência à estátua de Rodin é explícita (no filme, há uma réplica dela transportada por helicóptero pelos céus de Salvador). A imagem do Pensador é o contrafluxo de 10
Abaixo a gravidade: o filme quer se abrir ao mundo, expandir os braços, abraçar o (super)outro. O réquiem de Bené, tão simples quanto infinito, leva consigo o desejo de estar, de ocupar um espaço, de compartilhar os afetos que lhe atravessam, de passar adiante a energia acumulada pelos exercícios de meditação e oração. Tal feito só acontece de fato na passagem do asteroide pela Terra, movimento surreal do filme, que dialoga com todo o trabalho anterior de Edgard Navarro. Pela forma delirante, seus personagens extrapolam os limites impostos a eles. Se, até certa altura, Abaixo a gravidade se constrói calmamente por um fluxo naturalista de relações humanas, entremeado por momentos de bom humor, os “ruídos” que pipocam aqui e acolá logo tomam toda a narrativa, (e) levando o filme literalmente aos céus (com e sem asas), ou a um salto janela afora (como faz a personagem de Rita Carelli). Artífice de uma brincadeira muito séria, Navarro encaminha o olhar para o impossível e o imponderável. A cada plano, nada nos adianta a cena seguinte; de um Bené condutor narrativo, chega-se à implosão de tipos e pontos de vista. O grito de “abaixo
a gravidade!” se impõe como ação imperativa, e “acorda, humanidade!” parece ribombar lá de Superoutro para este filme. Navarro afirmou numa entrevista ao Correio Braziliense em 2017: “A palavra ‘gravidade’ assume aqui uma conotação dupla: abaixo a gravidade da doença, da situação de injustiça social, de violência e desamparo daqueles que vivem abaixo da linha da miséria. E, ao fim e ao cabo, um apelo utópico – ‘abaixo a gravidade!’, como se, com a repetição desse mantra, fosse possível anular o efeito malévolo do quebranto que nos circunscreve a todos num círculo vicioso de miséria e horror.” Quando a gravidade volta a impor sua lei, Bené opta novamente por se afastar. Vai à rodoviária e compra uma passagem de ônibus. “Para onde?”, quer saber a atendente. “Qual o seu destino?”, insiste ela. Ele pede para viajar para o céu. A atendente dá um sorriso cúmplice. Nunca encarnando ambições de um pensador, Bené, no desfecho, apenas pensa a dor. No ônibus, ao som da voz de Gilberto Gil, retoma seu ciclo e volta ao interior – da Bahia? do mundo? de si mesmo? A humanidade acordou, mas para quê?
Filmes em cartaz As boas maneiras
Marco Dutra e Juliana Rojas | Brasil, França | 2017, 135’, DCP Ana está grávida e vive sozinha em São Paulo. Ela contrata Clara para ser babá de seu futuro filho. Mas, nas noites de lua cheia, o bebê fica um pouco mais agitado do que o normal. No site Mubi, Juliana Rojas conta: “A ideia original de As boas maneiras veio de um sonho de Marco: duas mulheres morando em uma casa isolada e criando um bebê estranho. Começamos a investigar o folclore do lobisomem em diferentes culturas e vimos como o mito geralmente se relaciona com impulsos de violência e sexo, e também com valores religiosos e conservadores. Nós começamos a mergulhar mais fundo nas duas principais personagens femininas e seus conflitos de classe, raça e desejo. Em relação à criança lobo, nós o vimos como alguém que está descobrindo algo crucial sobre sua própria natureza, da mesma forma que todos nós fazemos quando crescemos.” O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Locarno em 2017 e. no mesmo ano, foi premiado no Festival do Rio nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Filme LGBT (Prêmio Felix) e Melhor Filme pela crítica Fipresci. [Leia a entrevista completa, em inglês, no link: bit. ly/AsBoasManeiras1] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia) 11
Benzinho
Gustavo Pizzi | Brasil, Uruguai | 2018, 97’, DCP Irene (Karine Teles) tem quatro filhos com Klaus (Otávio Müller). Ela está terminando os estudos enquanto se desdobra para complementar a renda da casa e ajudar a irmã Sônia (Adriana Esteves). A poucos dias de sua formatura, ela recebe a notícia de que seu primogênito foi convidado para jogar handebol na Alemanha. O filme estreou internacionalmente no Festival de Sundance, quando Gustavo Pizzi e Karine Teles, corroteiristas do filme, contaram sobre o processo de criação em conjunto: “Nós trabalhamos o filme da mesma forma que criamos nossos filhos. Dividimos da mesma maneira, não dizemos ‘eu escrevi essa cena’ ou ‘ele escreveu essa fala’ […]. O primeiro rascunho do roteiro foi escrito enquanto ainda éramos casados, mas leva muito tempo para fazer um filme e encontrar os meios para financiá-lo; durante todo esse processo de separação, ainda estávamos trabalhando no roteiro. Após esse primeiro período de constrangimento entre nós, conseguimos nos tornar amigos novamente e voltar a trabalhar juntos. Nós realmente gostamos de trabalhar juntos. Colaboramos de forma muito criativa e artística, então decidimos que não iríamos acabar com isso.” [Entrevista completa em inglês disponível no site ReMezcla: bit.ly/benzinho] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)
Café com canela
Ary Rosa e Glenda Nicácio | Brasil | 2017, 100’, DCP No Recôncavo Baiano, em São Félix, Margarida é uma professora aposentada que vive sozinha e evita sair de casa desde a morte de seu filho. Sua ex-aluna Violeta mora do outro lado do rio, em Cachoeira. O reencontro entre as duas desperta um processo de transformação, marcado por visitas, faxinas e cafés com canela. A diretora Glenda Nicácio conta ao site da Mostra de São Paulo: “Filmamos em Cachoeira, a cidade onde chegavam as mercadorias nos tempos coloniais. Entre essas mercadorias, estavam os corpos negros. Então todo o contexto é muito forte. A história que contamos é uma história universal, é um retrato do cotidiano de duas mulheres diferentes que se encontram em determinado momento da vida. Essa história poderia se passar em qualquer lugar, mas, quando escolhemos filmar essa história em Cachoeira, ela ganhou outras dimensões, que vão além da narrativa e se entrecruzam com questões contemporâneas do fazer cinema. Uma espectadora, em Minas Gerais, me disse que, ao assistir a Café com canela, viu a família dela na tela: ´Eu vi minha família, minha mãe, meu pai; eu vi até o meu cachorro. Aquela é minha laje.´ Algumas pessoas quase nunca se viram na tela, e estão podendo se reconhecer nos personagens e na história de Café com canela.” [Entrevista completa: bit.ly/CafeComCanela] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)
Ex-pajé
Luiz Bolognesi | Brasil | 2018, 82’, DCP
Camocim
Quentin Delaroche | Brasil | 2017, 76’, DCP A cada quatro anos, as eleições municipais chacoalham o cotidiano de Camocim de São Félix, pequena cidade do interior do Pernambuco. A população se divide ferrenhamente entre as duas coligações eleitorais, a azul e a vermelha. Nesse contexto, Mayara, 23 anos, tenta fazer uma campanha ética para eleger seu candidato e amigo César. Em entrevista à rádio CBN, o diretor francês Quentin Delaroche explica como surgiu a ideia do filme: “Eu estava fazendo uma pesquisa para outro filme, no interior de Pernambuco, e conversei com várias pessoas de classes e gêneros diferentes, em diversas cidades. E o que me surpreendeu foi que todas elas falavam de política desde o começo da conversa. Vi que eles viviam em uma situação perversa de dependência de políticos. A política existia muito em uma lógica de troca de votos e de favores. Então resolvi fazer um filme sobre a campanha.” [Ouça a entrevista completa: bit.ly/camocim1] Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia) 12
Os Paiter Suruí, habitantes da terra indígena Sete de Setembro, em Rondônia, viveram mais de metade do século XX isolados. Perpera, o protagonista de Ex-pajé, tinha 20 anos quando seu povo fez o primeiro contato com os brancos, em 1969. Até aquele momento, ele era pajé de seu povo. Mas, com os brancos, chegou o pastor evangélico que condenava o xamanismo, e Perpera viu-se obrigado a abandonar sua prática ancestral. O ex-pajé sabe que os espíritos da floresta estão bravos, já que ele não reza mais nem toca as flautas sagradas. Com medo, dorme sempre com a luz acesa. “Antes se consultava o pajé, hoje só tomam aspirina”, diz, contrariado. “O filme retrata a experiência indígena brasileira nos tempos atuais de dentro para fora. Se mantém longe dos clichês românticos. Ele mergulha na vida cotidiana de uma tribo de cerca de mil indígenas que ainda fala a língua Paiter Suruí, e até 1969 vivia isolada na floresta. [...] O conceito foi trabalhar no limite entre documentário e ficção. Os atores interpretam eles mesmos e retratam suas histórias verídicas. Torna-se difícil identificar a linha tênue onde a ficção começa e o documentário termina, e vice-versa”, conta o diretor Luiz Bolognesi. O longa recebeu Menção Especial do júri para documentário original no Festival de Berlim de 2018, onde teve sua primeira exibição. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)
Histórias que nosso cinema (não) contava Fernanda Pessoa | Brasil | 2017, 79’, DCP
O documentário realiza uma releitura dos anos 1970 no Brasil por meio de imagens e sons de filmes populares da época, muitos considerados “pornochanchadas”, o gênero mais visto e produzido no período. Segundo Fernanda Pessoa, seu filme não é sobre o conjunto heterogêneo de filmes a que se chama “pornochanchadas”, mas parte desses filmes para pensar temas caros à história do país naquele período, como o chamado “milagre econômico”, as consequências diretas do êxodo rural e a expansão das favelas. “A gente nunca pensa na ‘pornochanchada’ como uma fonte histórica”, disse a diretora em entrevista ao jornal Nexo. “Ela é sempre vista como entretenimento, muita gente acha que foi um grande problema na nossa história do cinema, que causou danos ao cinema [brasileiro]. É muito inusitado, a gente nunca questiona como esse cinema, que era o mais visto e o mais produzido, retratava a sociedade.” Na 9ª Semana, em 2017, Histórias que nosso cinema (não) contava recebeu o prêmio Indie Lisboa e o prêmio de Melhor Filme pelo Júri da Crítica. Também em 2017, recebeu o prêmio de Melhor Filme no Festival Pachamama Cinema de Fronteira. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)
Sessão Infantil No intenso agora
Unicórnio
Feito a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China em 1966, durante a fase inicial da Revolução Cultural, No intenso agora investiga a natureza de registros audiovisuais gravados em momentos de grande intensidade. Às cenas da China, somam-se imagens dos eventos de 1968 na França, na Tchecoslováquia e, em menor quantidade, no Brasil. As imagens, todas elas de arquivo, revelam o estado de espírito das pessoas filmadas e também a relação entre registro e circunstância política. O ponto de partida do filme foram imagens captadas pela mãe do diretor, encontradas por ele na época da finalização de Santiago (2007). “Eu precisava de imagens da casa onde minha família morou, na Gávea, e pedi a alguém para procurar”, conta João Moreira Salles em entrevista ao jornal O Globo. “Encontramos as imagens, mas eu não sabia direito o que eram, qual o sentimento dela durante a viagem. Aí encontrei uma reportagem que ela escreveu sobre a viagem, em forma de diário, para a revista O Cruzeiro. Fiquei muito impressionado com a comoção dela diante de tudo o que viu lá. Minha mãe e a Revolução Cultural são opostos absolutos, seria fácil imaginar uma reação dogmática. Mas não, ela ficou deslumbrada com aquilo. E eu fiquei tocado com esse deslumbramento dela e com a intensidade com que ela o descreveu, porque minha mãe foi perdendo isso com o tempo.”
Maria tem 13 anos e vive em uma isolada casa de campo com sua mãe (Patrícia Pillar). Elas aguardam o retorno do pai de Maria, mas a relação entre as duas muda com a chegada de um outro homem (Lee Taylor). Livremente inspirado nos contos “O unicórnio” e “Matamoros”, de Hilda Hilst, Eduardo Nunes contou, em entrevista ao site Omelete, como se deu a adaptação da literatura para o cinema: “O conto ‘O unicórnio’ é a primeira ficção da Hilda. A sua obra – até então – era toda voltada para a poesia. E claro que essa poesia acaba invadindo toda a prosa que a Hilda criou durante a sua vida. É um texto que, mesmo quando em forma de prosa, não está baseado numa ação física, mas numa série de sensações. Eu não acredito que seja possível adaptar a obra desta autora na forma clássica como entendemos uma ‘adaptação cinematográfica’; acredito que seja possível adaptar apenas o que o texto nos provoca. A matéria-prima da Hilda Hilst é de uma natureza muito delicada. E talvez a única forma de fazer essa transposição é estar imbuído dessas sensações, para depois buscar nos elementos do cinema a composição de um filme com esse sentimento.” Sudoeste, o longa anterior de Eduardo Nunes, faz parte da coleção DVD | IMS.
João Moreira Salles | Brasil | 2017, 127’, DCP
[Leia a entrevista completa de João Moreira Salles para O Globo: goo.gl/PhCNxe] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)
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Eduardo Nunes | Brasil | 2017, 122’, DCP
[Entrevista completa disponível em: https://bit. ly/2LEpGyL] Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia)
O rei e o pássaro
Le Roi et l’oiseau Paul Grimault | França | 1979, 87’, 35 mm No mundo dos desenhos animados, há um reino chamado Taquicardia. Nele, o rei é muito vaidoso, caprichoso, um tanto quanto cruel e, mesmo tendo uma péssima pontaria, adora caçar passarinhos. Como todo rei, este também tem um bando de súditos falsos, que vivem fazendo de tudo para que as vontades de Sua Majestade sejam cumpridas. Mas, em uma enigmática noite, as estátuas e os retratos do rei subitamente ganham vida. Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia)
Sessão Mutual Films As duas faces de um restaurador: O trabalho de Ross Lipman Ross Lipman foi, durante muitos anos, o principal restaurador do UCLA Film & Television Archive em Los Angeles, onde trabalhou em importantes obras do cinema independente norte-americano de ficção e de documentário, como A conexão (1961), de Shirley Clarke, e Os tempos de Harvey Milk (1984), de Robert Epstein. Em seu processo de restauração, Lipman faz pesquisas detalhadas sobre os filmes e, em alguns casos, transforma essas pesquisas em performances visuais. Neste mês, Ross Lipman é o convidado da Sessão Mutual Films: no sábado, dia 22, além da exibição dos dois filmes citados acima, apresentados pelo do restaurador, Lipman fará a performance O livro do paraíso não tem autor (2010), baseada em found footage de uma tribo indígena das Filipinas. Após a performance, ele participa de um debate com Aaron Cutler e Mariana Shellard.
A conexão
Os tempos de Harvey Milk
Shirley Clarke realizou poucos longas-metragens, e ainda assim é considerada até os dias de hoje como uma das mais importantes cineastas independentes dos Estados Unidos. Este seu primeiro longa, uma adaptação de uma peça teatral de Jack Gelber, retrata um grupo de viciados esperando por seu traficante em um apartamento de Nova York. Enquanto isso, um documentarista e seu cinegrafista (um produtor e um escritor na peça original) entram em suas vidas para estudá-los. O brilhante diálogo beat se mistura ao jazz, em trilha composta pelo grande pianista Freddie Redd. A presença do jovem cineasta interessado em se lançar no meio cinematográfico ao documentar a “cena” ironiza o cinéma vérité, ainda que mantendo os personagens confinados em um único quarto. O filme combina o dinamismo da câmera da nouvelle vague com uma coreografia de movimentos rodopiantes e o ritmo da música para criar uma experiência excitante, que foi aclamada em Cannes como uma obra-prima. A conexão foi imediatamente banido pela censura norte-americana, por linguagem obscena, e com isso se iniciou uma batalha judicial para poder apresentá-lo nos cinemas do país, vencida pelos produtores e pela diretora do filme.
Um pioneiro do século XX, Harvey Milk foi um ativista dos direitos humanos e vereador de São Francisco, tornando-se um dos primeiros políticos abertamente gay eleito para um cargo público nos Estados Unidos. Mesmo assassinado em 1978, ele continua a inspirar pessoas de todo o mundo. Os tempos de Harvey Milk, dirigido por Robert Epstein e produzido por Richard Schmiechen, foi tão inovador quanto o personagem retratado. Um dos primeiros documentários a tratar da vida gay nos Estados Unidos, é uma obra de luta pelos direitos LGBT, trazendo a mensagem de esperança e igualdade de Milk para uma ampla audiência. Esse emocionante tesouro de imagens de arquivo, e vencedor do Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem em 1985, mais tarde se tornou a inspiração para o filme de ficção Milk – A voz da igualdade (2008), dirigido por Gus Van Sant. O documentário original é tanto um retrato vívido de um momento e lugar (o histórico bairro Castro, na São Francisco nos anos 1970) como um testemunho do legado de um político visionário.
The Connection Shirley Clarke | EUA | 1961, 103’, 35 mm para DCP (cópia restaurada)
Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
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The Times of Harvey Milk Rob Epstein | EUA | 1984, 88’, 16 mm para 35 mm para DCP (cópia restaurada)
Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
O livro do paraíso não tem autor Ross Lipman | EUA | 2010, 55’, performance (vídeo/Powerpoint)
No verão de 1971, Ferdinand Marcos anunciou a descoberta do povo Tasaday, uma tribo de “primitivos” que viveu em completo isolamento por milhares de anos na floresta de Mindanao. A modernidade como a entendíamos havia sido colocada em xeque. Os Tasaday representaram uma chance de testemunhar em primeira mão as origens da civilização, e investigar a essência da humanidade. A tribo também ofereceu a Marcos uma singular exposição política positiva. Esta performance de Lipman reúne imagens etnográficas raras, registros de programas de televisão da época, gravações e fotografias stills, com o intuito de olhar para a trágica, assombrosa e provocativa história de nosso encontro com os Tasaday – e, também, seu encontro elíptico conosco. O resultado é uma experiência sensorial e meditativa que questiona a natureza da realidade. A performance de O livro do paraíso não tem autor será seguida por um debate com Ross Lipman. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Sessão Cinética
Sessões especiais
Abaixo a gravidade
Caniba
Bené (Everaldo Pontes), um velho curandeiro leva uma vida pacata no Capão, na Chapada Diamantina, até que se apaixona por Letícia. Ao mesmo tempo que a jovem grávida vai para Salvador, ele também viaja para se tratar de crises de labirintite e problemas na próstata. Enquanto isso, um asteroide de nome Laetitia se aproxima da Terra. “Este filme tenta contar a história de um homem que está ficando velho e está cercado de vários sintomas de doença, sediando um prenúncio de morte”, comenta Edgard Navarro em entrevista para o Festival de Brasília. “Ele tem uma porção de vida muito forte, buscou morar fora da cidade grande, num lugar isolado, há cerca de 30 anos. É em parte baseado na história real do meu amigo Luiz Paulino dos Santos, mas o filme não é biográfico. Achei que devia ter uma curva dramática e uma tensão no roteiro que me propus a fazer. Quando esse homem já está ambientado nesse lugar que escolheu para viver apaziguado, aparece uma última tentação. Ele volta para Salvador e encontra uma cidade transformada num território de guerra, miséria e injustiça.” Entre os filmes de Navarro, está Superoutro (1989), selecionado para os festivais de Havana, Troia, Nova York e Helsinque, e premiado no Festival de Gramado. Em 2017, Abaixo a gravidade recebeu os prêmios de Melhor Filme pelo júri Abraccine, Melhor Direção de Arte e Melhor Ator Coadjuvante para Ramon Vane no Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro.
Sessão seguida de conversa com Richard Peña, curador de cinema e professor da Escola de Artes da Universidade Columbia, em Nova York, desde 1989. Peña trabalhou como diretor de programação da Film Society do Lincoln Center e como diretor do Festival de Cinema de Nova York de 1988 a 2012. Em 13 de junho de 1981, Issei Sagawa, estudante da Paris-Sorbonne, foi preso depois que foram encontradas duas malas com os restos do cadáver de uma colega de classe, a holandesa Renée Hartevelt. Dois dias antes, ele havia estuprado a colega antes de atirar na cabeça dela e comer pedaços de seu corpo. Declarado louco, voltou para o Japão e vive livre desde então. Relegado ao ostracismo, fez desse crime o seu sustento, escrevendo livros, desenhando mangás e aparecendo em inúmeros documentários e filmes sensacionalistas sobre sexo, nos quais ele reproduz o ocorrido. Gravado na pequena casa em que Issei mora, nos arredores de Tóquio, o documentário dirigido por Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel descreve a vida que ele leva, além de conter longas entrevistas com Jun-san, seu irmão e principal cuidador. Caniba foi vencedor do Prêmio Especial do Júri da seção Horizontes do Festival de Veneza.
Edgard Navarro | Brasil | 2017, 104’, DCP
[Íntegra da entrevista disponível em: bit.ly/en-bras] 15
Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Caniba Verena Paravel, Lucien Castaing-Taylor | França | 2017, 90’, DCP
[Leia entrevista com Paravel e Castaing-Tayler para a revista Film Comment em: bit.ly/CanibaFC] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Trás-os-Montes
Nas palavras escritas em 1976 por Jean Rouch, “este filme é a revelação de uma nova linguagem cinematográfica. Nunca, tanto quanto sei, um realizador se havia empenhado, com tal obstinação, na expressão cinematográfica de uma região: quero dizer, a difícil comunhão entre homens, paisagens e estações. Só um poeta insensato poderia exibir um objeto tão inquietante. Apesar da barreira de uma linguagem áspera como o granito das montanhas, aparecem, de repente, na curva de um caminho novo, os fantasmas de um mito sem dúvida essencial, já que o reconhecemos antes mesmo de o conhecer.” Filme essencial para compreender o cinema português após a Revolução dos Cravos, Trás-os-Montes foi realizado por António Reis e Margarida Cordeiro na região homônima, localizada no nordeste de Portugal. Obra rara, pouco exibida em salas de cinema, e influência de nomes como Pedro Costa e João Pedro Rodrigues, será projetado em cópia restaurada pela Cinemateca Portuguesa.
aparelho de cozinha, que não metia medo. Assim, dispor as iluminações nas suas casas, ou montar os espelhos nos campos para obter luz indireta, não constituía problema. Era simultaneamente uma espécie de jogo. Foi, pois, possível exigir algumas coisas, a maior parte das vezes com ternura. E se estávamos com dificuldades, compreendiam isso muito bem. Uma coisa muito importante: podiam verificar pelo nosso trabalho que éramos igualmente “camponeses do cinema”, porque chegávamos por vezes a trabalhar 16, 18 horas por dia, e penso que eles gostavam muito de nos ver trabalhar. E quando tínhamos necessidade que eles continuassem a trabalhar conosco, mesmo deixando os animais sem comer ou as crianças sem serem tratadas, eles não o sentiam, na minha opinião, como um constrangimento. Era admirável ver isso. Como sabes, eu não tenho uma concepção tautológica do povo, mas penso que, no Nordeste, eles têm uma maneira muito especial de lidar com as pessoas. Se chegares de repente, saúdam-te, abrem-te as portas, dão-te pão, vinho, aquilo que têm. Por outro lado, não são “a bondade personificada”, pois são igualmente muito duros. Simplesmente, passam bruscamente da doçura à violência.
Cahiers: Poderias falar-nos das filmagens, das condições em que trabalhaste com os camponeses de Trás-os-Montes? A. Reis. Posso dizer-te que jamais filmamos com um camponês, uma criança ou um velho, sem que nos tivéssemos tornado seu companheiro ou amigo. Isto pareceu-nos um ponto essencial para que pudéssemos trabalhar e para que as máquinas não levantassem problemas. Quando começamos a filmar com eles, a câmara era já uma espécie de pequeno animal, como um brinquedo ou um
Cahiers: Que relações tinham com o cinema ou a televisão? A. Reis. Na aldeia onde filmamos, posso dizer-te que não havia cinema nem televisão. (Faz um desenho no guardanapo de papel) Portugal é isto, a Espanha é isto, o Nordeste fica aqui, há uma cidade chamada Bragança e ali outra chamada Miranda do Douro. Todas as aldeias onde filmamos estão junto à fronteira e nos arredores destas duas cidades. Por isso, os camponeses sabem que existe cinema e televisão em Bragança, mas
António Reis e Margarida Cordeiro | Portugal | 1976, 110’, cópia restaurada em DCP
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é tudo. Em muitas aldeias, não há ainda electricidade, a relação com o cinema é ainda uma relação como a que têm com a fotografia, simplesmente. Cahiers: Como é que, desde que surgiu a ideia e o projecto do filme, pensaste evitar um olhar etnográfico sobre esses camponeses? A. Reis. Sabes, creio que o olhar etnográfico é um vício. Porque a etnografia é uma ciência que vem depois. Do mesmo modo, pusemos de parte um olhar pitoresco ou religioso sobre o Nordeste. Evidentemente, interessamo-nos muito pelos problemas antropológicos postos pela região à literatura celta etc. Lemos toda a obra do vosso Markale, porque os celtas ainda lá estão. Estudámos a arquitectura ibérica, porque a arquitectura das casas aí não nasceu de geração espontânea. Mas sempre com o objectivo de escolher, intensificar. Porque se lemos uma paisagem apenas do ponto de vista da “beleza”, é redutor. Mas se pudermos ler ao mesmo tempo a beleza da paisagem, o aspecto económico da paisagem, o aspecto da geografia política da paisagem, tudo isso é a realidade da paisagem. Paisagem integrada, sem transformação, paisagem cultivada etc. Então, no que respeita ao Nordeste, dialectizámos tudo o que sabíamos, tudo o que havíamos aprendido com as pessoas, tudo o que descobrimos por nós próprios. Porque era igualmente possível descobrir coisas. A Margarida nasceu na parte mais violenta do Nordeste. Ainda hoje ela recorda o sabor do vinho, as lendas e os pesadelos da infância. Tudo isto se tornou uma matéria, com alguma espessura. Cahiers: Como é que te ocorreu a ideia do filme? A. Reis. Já disse atrás que a Margarida nasceu
em Trás-os-Montes. Eu nasci numa província sem força, sem beleza, sem expressão, já apagada, a 6 km do Porto. Daí o meu desejo interior de renascer noutro lugar. E a primeira vez que fui a Trás-os-Montes, com um amigo arquitecto, senti que renascia ali. Portanto, conhecia a província há alguns anos e, ao trabalhar com a Margarida, e indo lá muitas vezes, disse para comigo que seria bom fazer um filme naquela região, porque tudo confluía num sentido cinematográfico. De tal maneira que, quando começámos a filmar, foi como se muitas tomadas de plano estivessem feitas há muito tempo. O que não quer dizer que não planificámos as coisas, simplesmente tratava-se de uma planificação flexível. Por exemplo, em numerosas cenas, é muito difícil distinguir o que foi filmado em directo do que não o foi. A dialéctica entre estas duas posições estéticas foi para nós um inferno. Mas pensamos que conseguimos fazer, não uma síntese, mas uma confrontação de contrários. Mesmo em directo tínhamos necessidade de toda a velocidade e de toda a surpresa, mas, por outro lado, depurámos o que era parasitário, o que não tinha sentido ou era populismo gratuito. E, para isto, necessitávamos de um olhar cirúrgico. [Trechos de entrevista com António Reis, por Serge Daney e Jean-Pierre Oudart, publicada originalmente na Cahiers du Cinéma, n. 276, maio de 1977, tradução por Isabel Câmara Pestana e Miguel Wandschneider.] [Esta entrevista, outros textos, fontes originais e extensa bibliografia podem ser encontrados no site dedicado a António Reis e Margarida Cordeiro: antonioreis.blogspot.com/] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia) 17
Vanguardas, arte pop, contracultura O curso Vanguardas, arte pop, contracultura, promovido pela Coordenadoria de Literatura do IMS, lançará um olhar crítico sobre revoluções formais e enfrentamentos do status quo levados a cabo em diferentes momentos da arte, da música e da literatura. Pesquisadores e especialistas abordarão criadores e movimentos europeus, norte-americanos e brasileiros. Após as aulas, serão exibidos filmes, seguidos de debates. O acesso às aulas é feito mediante inscrição e pagamento prévios. As sessões de cinema são abertas ao público em geral. Para mais informações sobre o curso e inscrições, acesse: bit.ly/VanPopCult
Manifesto
Manifesto Julian Rosefeldt | Alemanha | 2015, 95’, DCP Os históricos manifestos de arte podem ser aplicados à sociedade contemporânea? É o que Julian Rosefeldt e Cate Blanchett tentam responder ao explorar os componentes performáticos e o significado político de declarações estéticas e políticas do século XX, que vão dos futuristas e dadaístas à arte pop, passando por Fluxus, Dogma 95 e Jim Jarmusch. Manifesto foi originalmente concebida pelo artista Julian Rosefeldt como uma instalação multicanal composta por vídeos feitos a partir da colagem de 60 textos. A versão em longa-metragem de 95 minutos teve sua estreia no Festival de Sundance, em 2017. Exibição seguida de debate com Pedro Duarte, professor de arte e filosofia da PUC-Rio. Tem pesquisas nos campos da estética, da filosofia contemporânea, da cultura brasileira e da história da filosofia. É autor dos livros A palavra modernista: vanguarda e manifesto e Tropicália, para a coleção “O livro do disco”. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Souleymane Cissé Tropicália
Marcelo Machado | Brasil | 2011, 87’, DCP Uma visão contemporânea sobre a Tropicália, movimento que teve seu apogeu no final dos anos 1960 na efervescente cena musical polarizada pelos festivais da televisão, reveladores dos novos talentos que confrontavam tanto os padrões culturais quanto o cenário repressivo da ditadura militar recém-instalada. O documentário intercala raros materiais de arquivo, especialmente recuperados para a produção, com encontros entre personagens emblemáticos como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé. Exibição seguida de debate com Pérola Mathias, socióloga, pesquisadora e crítica musical. Entre seus temas de reflexão estão o tropicalismo, a relação entre obra e crítica na trajetória artística de Arto Lindsay, música de ruído e artes visuais e canção brasileira contemporânea. Colaborou em publicações como a revista Bravo! e a coluna “Questões musicais” da revista Piauí. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Adeus à linguagem
Adieu au langage Jean-Luc Godard | França | 2014, 70’, DCP – exibição em 3D A ideia é simples uma mulher casada conhece um homem solteiro eles amam, eles discutem, punhos ao vento um cachorro vaga entre a cidade e o campo as estações passam o homem e a mulher se encontram novamente o cachorro se encontra entre os dois o outro está em um o um está no outro e eles são 3 o ex-marido quebra tudo um segundo filme começa igual ao primeiro e ainda assim não da raça humana, nós passamos à metáfora isso termina em latidos e o choro de um bebê No Festival de Cannes de 2014, Adeus à linguagem, em 3D, dividiu o Prêmio Especial do Júri com Mommy, de Xavier Dolan. No festival, o cão Roxy Miéville recebeu ainda o prêmio Palma de Cachorro. Exibição seguida de debate com Luiz Camillo Osório, professor de filosofia da PUC-Rio e curador do Instituto PIPA. Entre 2009 e 2015 foi curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 2015, foi o responsável pelo pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza, e também fez a curadoria do 35º Panorama da arte brasileira no MAM-SP.
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Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Fontes de inspiração
Sources d’inspiration Souleymane Cissé | Mali | 1968, 7’, Arquivo digital Um retrato do artista maliano Mamadou Somé Coulibaly, que se inspira na história do povo africano para pintar. Os curtas de Souleymane Cissé serão exibidos na mesma sessão do documentário Cineastas do nosso tempo: Souleymane Cissé, de Rithy Panh. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Cantores tradicionais das ilhas Seychelles
Chanteurs traditionnels des îles Seychelles Souleymane Cissé | Mali | 1978, 15’, Arquivo digital Rennes, 1978. Durante o 5º Festival de Artes Tradicionais, contadores de histórias e músicos das ilhas Seychelles expressam sua preocupação diante do desinteresse dos jovens pela música tradicional. Os curtas de Souleymane Cissé serão exibidos na mesma sessão do documentário Cineastas do nosso tempo: Souleymane Cissé, de Rithy Panh. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Finyé – O vento
Finyé Souleymane Cissé | Mali | 1982, 105’, 35 mm
Baara – O trabalho
Baara Souleymane Cissé | França, Mali | 1978, 93’, 35 mm Um jovem camponês trabalha como baara, isto é: carregador de bagagens em Bamako. Um dia, faz amizade com um jovem engenheiro, que passa a protegê-lo, ajudá-lo nos seus problemas com a polícia e consegue um emprego para ele em uma fábrica. O engenheiro, que estudou na Europa, tenta aliciá-lo com suas ideias liberais. Primeiro longa-metragem realizado no Mali, o filme obteve o prêmio de melhor fotografia no Festival de Locarno em 1978 e, no ano seguinte, o prêmio Étalon de Yennega, grande prêmio do Fespaco (Festival Pan-africano de Cinema e TV de Ouagadougou). Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
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Dois adolescentes malianos, Bah e Batrou, oriundos de classes sociais diferentes, se encontram na escola. Bah é descendente de um grande chefe tradicional. O pai de Batrou, governador militar, representa o novo poder. Ambos pertencem a uma geração que recusa a ordem estabelecida e põe em questão a sociedade. Como descrito na edição suíça deste filme em DVD pelo selo Trigon-film, “o título não é apenas um achado poético, ele constitui o verdadeiro programa estético do filme: é pelas suas mudanças de velocidade que o vento expressa a sua presença e pela intensidade dos movimentos que faz à natureza: é pelo ritmo dos corpos, os ritmos da ação, os impulsos produzidos nos rostos e nas vozes que Souleymane Cissé nos faz ver uma importante página da África contemporânea”. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Yeelen – A luz
Yeelen Souleymane Cissé | Alemanha, Burkina Fasso, França, Japão e Mali | 1987, 106’, 35 mm Dotado de poderes mágicos, um jovem parte em busca do tio para pedir ajuda em uma luta contra o pai, um feiticeiro. Em conversa com o crítico Baba Diop, Cissé explica que prefere não trabalhar com atores profissionais: “Não tenho uma empresa para o casting, então perambulava e partia eu mesmo em busca de atores na rua. A velha de Yeelen é bem particu-
lar, mágica como ser humano. Ela tem em si algo que ela mesma ignora. Diante da câmera, é algo sedutor. Seu filho é um bailarino, eu o vi um dia no palco com um corpo magnífico, dançando de forma muito natural. Eu o abordei, e fizemos um teste, pois a câmera é essencial para sentir as coisas.” [A íntegra de conversa em francês entre Baba Diop e Souleymane Cissé pode ser encontrada no link: bit.ly/sc-yeelen] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Cineastas do nosso tempo: Souleymane Cissé
Cinéastes de notre temps: Souleymane Cissé Rithy Panh | França | 1990, 53’, Arquivo digital Segundo a descrição da professora e montadora Dominique Villain para o site Film Documentaire, “o filme começa com a voz em off de Souleymane Cissé, cineasta malinês, uma voz que diz ‘eu’ em uma língua muito bonita, poética e convincente. Durante quase uma hora, um homem fala por um continente. As questões que ele levanta são políticas, metafísicas e estéticas.” Documentário raro, foi realizado por Rithy Panh (A imagem que falta; S:21 – a máquina de morte do Khmer Vermelho) e faz parte da série Cineastas de nosso tempo (Cinéastes de notre temps), idealizada por André S. Labarthe e Janine Bazin. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Curadoria de cinema
Kleber Mendonça Filho Produção de cinema e DVD Barbara Alves Rangel
Assistência de produção
Os filmes de setembro
Meia-entrada
O programa de setembro tem o apoio da Mutual Films, da Associação Filmes de Quintal, do festival ForumDoc BH, da Revista Cinética, das distribuidoras Arco Audiovisual, Elle driver, Imovision, Gullane, Boulevard Filmes, VideoFilmes, Vitrine Filmes e do Espaço Itaú de Cinema.
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, portadores de hiv e aposentados por invalidez.
Thiago Gallego e Ligia Gabarra Projeção
Adriano Brito e Edmar Santos
Apoio Souleymane Cissé
Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos
Sessão Mutual Films
Sessão Infantil: O rei e o pássaro
Sessão especial Trás-os-Montes
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Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.
Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinema ims As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea
Camocim, de Quentin Delaroche (Brasil | 2017, 76’, DCP)
A conexão (The Connection) , de Shirley Clarke (EUA | 1961, 103’, DCP)
Terça a domingo, sessões de cinema até as 20h. Visitação
Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segunda), das 11h às 20h Entrada gratuita.
Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br
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