Folheto de Cinema IMS Paulista - Novembro/2017

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cinema 11.2017


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novembro 2017

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41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

15:00 Mulholland Drive: Cidade dos sonhos | 147’ 18:00 Gabriel e a montanha | 131’ 21:00 Mulholland Drive: Cidade dos sonhos | 147’

15:00 Gabriel e a montanha | 131’ 18:00 Mulholland Drive: Cidade dos sonhos | 147’ 21:00 Gabriel e a montanha | 131’

14:00 16:30 18:45 21:00

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20:30 A greve – com trilha ao vivo de Paulo Santos (Uakti) | 95’

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No intenso agora | 127’ Gabriel e a montanha | 131’ No intenso agora | 127’ Invisível | 90’

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14:00 16:00 18:30 21:00

Mulholland Drive: Cidade dos sonhos | 147’ Beijo de Sal + Laura | 106’ Gabriel e a montanha | 131’ Casa Grande | 115’

14:00 16:00 18:45 21:15

Gabriel e a montanha | 131’ No intenso agora | 127’ Invisível | 90’ No intenso agora | 127’

16 Invisível | 90’ No intenso agora | 127’ Gabriel e a montanha | 131’ No intenso agora | 127’

22 Colo | 136’ Invisível | 90’ No intenso agora | 127’ Colo | 136’

14:00 16:30 19:00 21:00

Invisível | 90’ Colo | 136’ No intenso agora | 127’ Faça a coisa certa | 120’

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No intenso agora | 127’ Invisível | 90’ No intenso agora | 127’ Gabriel e a montanha | 131’

17 Colo | 136’ Colo | 136’ No intenso agora | 131’ Pink flamingos | 93’

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14:00 No intenso agora | 127’ 16:30 Colo | 136’ 19:30 Sessão Cinética: Porto das caixas | 75’

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Colo | 136’ No intenso agora | 127’ Colo | 136’ No intenso agora | 127’

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Meu corpo é político | 72’ Meu corpo é político | 72’ Sob o nome de Melville | 76’ Léon Morin, o padre | 130’ O circulo vermelho | 150’

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17:30 No clima de Melville | 58’ 19:00 24 horas na vida de um palhaço + O silêncio do mar | 106’ 21:15 Léon Morin, o padre | 130’

19:00 Bob, o jogador | 104’ 21:00 O exercito das sombras | 150’

Meu corpo é político | 72’ Meu corpo é político | 72’ Técnica de um delator | 110’ No clima de Melville | 58’ O circulo vermelho | 150’

Meu corpo é político | 72’ Meu corpo é político | 72’ Sob o nome de Melville | 76’ 24 horas na vida de um palhaço + O silêncio do mar | 106’ 21:30 O samurai | 105’

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Meu corpo é político | 72’ Meu corpo é político | 72’ No clima de Melville | 58’ O exército das sombras | 150’ Técnica de um delator | 95’

14:00 Gabriel e a montanha | 131’ 17:00 A greve | 95’ 19:00 No intenso agora | 127’

19 Invisível | 90’ No intenso agora | 127’ Colo | 136’ Faça a coisa certa | 120’

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14:00 Colo | 136’ 16:30 No intenso agora | 127’ 19:00 24 horas na vida de um palhaço + O silêncio do mar | 106’ 21:15 Léon Morin, o padre | 130’

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14:00 Gabriel e a montanha | 131’ 16:30 Mulholland Drive: Cidade dos sonhos | 147’ 19:15 Mulholland Drive: Cidade dos sonhos | 147’

12 Gabriel e a montanha | 131’ No intenso agora | 127’ Invisível | 90’ No intenso agora | 127’

18 Colo | 136’ No intenso agora | 127’ Invisível | 90’ Colo | 136’

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Colo | 136’ Bob, o jogador | 104’ Técnica de um delator | 110’ Sob o nome de Melville | 76’

14:00 16:30 19:00 21:00

Gabriel e a montanha | 131’ Beijo de sal + Laura | 106’ Casa Grande | 115’ Gabriel e a montanha | 131’

15:00 No intenso agora | 127’ 17:30 Colo | 136’ 20:15 Pink flamingos | 89’

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03 O exército das sombras | 150’ Léon Morin, o padre | 130’ O samurai | 105’ Bob, o jogador | 104’

14:00 17:00 18:30 20:00

O circulo vermelho | 150’ Porto das caixas | 75’ Meu corpo é político | 72’ Técnica de um delator | 110’


destaques de novembro

Porto das caixas, de Paulo César Saraceni (Brasil | 1962, 75’)

Técnica de um delator (Le Doulos), de Jean-Pierre Melville (França, Itália | 1962, 108’)

Entre os destaques da programação deste mês está a apresentação do filme A greve, de Serguei Eisenstein, com acompanhamento musical de Paulo Santos (Uakti), criado a partir da harmonização entre o trabalho de compositores soviéticos da época e sons eletrônicos atuais. A Sessão Cinética, em parceria com a revista de mesmo nome, apresenta Porto das caixas, de Paulo César Saraceni. A exibição em 35 mm será seguida de debate com os críticos da revista. No final do mês, acontece

uma retrospectiva dedicada ao cineasta francês Jean-Pierre Melville, com cópias restauradas em DCP, a exibição de O samurai em 35 mm e apresentação de dois outros filmes sobre o diretor. Há ainda sessões especiais de Pink flamingos (em 35 mm) e Faça a coisa certa, e uma seleção de filmes, como Colo, Invisível, Mulholland Drive: Cidade dos sonhos, Meu corpo é politico, No intenso agora e Gabriel e a Montanha. O último, dirigido por Fellipe Barbosa, de quem serão exibidas outras obras.

A greve (Statchka), de Sergei M. Eisenstein (União Soviética | 1925, 95’)


Gabriel e a montanha e os filmes de Fellipe Barbosa

Exibido durante a Semana da Crítica em Cannes, em 2017, Gabriel e a montanha recebeu os prêmios de Revelação e da Fundação Gan. O filme conta a história de Gabriel Buchmann, amigo do diretor que faleceu em uma viagem à África. Junto a essa estreia (dia 2 de novembro), o IMS Paulista exibe outros três títulos realizados por Fellipe Barbosa: Beijo de sal (2006), Laura (2013) e Casa Grande (2014). A seguir, leia um depoimento do diretor sobre esse lançamento e os filmes em retrospectiva. A realização de Gabriel e a montanha foi um processo em muitos tempos, que começou antes da morte de Gabriel, na minha primeira viagem a Uganda em 2007, onde fui dar um curso de montagem num laboratório criado pela cineasta indiana Mira Nair. Lá conheci a produtora queniana Vincho Nchogu, que abriu muitas portas para o filme. Como Gabriel, eu não queria voltar. Essa experiência me deu legitimidade para tentar contar sua história, pois eu compreendia seu sentimento. Depois do desaparecimento, fiz um outline de toda a sua viagem, de quase um ano,

ao redor do mundo, a partir dos seus e-mails, fotos, caderno e dos relatos de sua namorada na época, Cristina Reis, que fez parte da viagem com Gabriel e colaborou com o roteiro do filme. O Maláui era seu 38º país. Eu precisava compreender a bagagem de Gabriel até chegar à África, onde decidi concentrar o recorte do filme. Foi na África que ele conseguiu finalmente realizar a viagem sustentável dos seus sonhos, como ele disse no famoso e-mail que enviou de Uganda para a família e amigos. Peguei emprestado alguns eventos anteriores à África para o filme, como a cegueira no Kilimanjaro, que ocorreu de fato no Annapurna, nos Himalaias. Foram duas viagens de pesquisa; a primeira em 2011, em que busquei refazer os passos de Gabriel da maneira mais livre possível e me contaminar pela experiência; depois outra em 2015, quando fiquei obcecado por encontrar os personagens reais que haviam cruzado seu caminho e convocá-los para o filme. A partir desses encontros e relatos, reescrevi completamente o roteiro. Tentei ser muito fiel aos pontos de vista dos personagens africanos,

e algumas vezes usei elementos de suas vidas presentes no relato sobre o passado. Um exemplo é o Luke, caminhoneiro que dá carona e abrigo para Gabriel no Maláui. No filme, ele diz que está há cinco meses sem receber salário, uma realidade de 2015, quando o conheci, e não de 2009, quando Gabriel o encontrou. Assim como em Gabriel e a montanha, os vínculos que eu tinha com meus personagens em Beijo de sal e Laura serviram de base para ambos os filmes, o que lhes dá um sentimento de urgência e os torna pessoais. Todos esses filmes foram necessidades da alma de expressar algo que eu achava importante, a partir de pessoas que me afetaram profundamente por motivos misteriosos, como Rogério, por exemplo, meu primeiro personagem de cinema. Foram mergulhos nesses mistérios, às vezes tentando decifrá-los (como em Laura, em que sou uma espécie de detetive noir e ela a femme fatale), às vezes, simplesmente habitá-los, como no caso de Gabriel. Tenho fé nesse sentimento, de que se um filme é importante para mim, ele poderá tocar o público, ele poderá ser importante para o público.

Casa Grande, de Fellipe Barbosa (Brasil, 2014, 115’)


Jean-Pierre Melville, o samurai do cinema francês Marcus Mello

O centenário de nascimento do diretor Jean-Pierre Melville (1917-1973) tem sido celebrado em várias partes do mundo por iniciativa do Institut Français, que colocou em circulação cópias restauradas de alguns dos trabalhos mais representativos deste que é um dos autores incontornáveis do cinema francês na segunda metade do século XX. A programação inclui ainda raridades, como o curta documental 24 horas na vida de um palhaço (24 Heures de la vie d’un clown, 1946) e O silêncio do mar (Le Silence de la mer, 1949), longa de estreia do diretor. No período de 1949 a 1972, Melville realizou 13 longas, uma filmografia relativamente pequena, mas sólida, dividida entre os títulos que retratam sua experiência pessoal durante os anos de ocupação nazista na França e os filmes policiais, gênero ao qual conferiu estatura de grande arte, graças a obras-primas como Bob, o jogador (Bob le flambeur, 1956), Técnica de um delator (Le Doulos, 1963), O samurai (Le Samouraï, 1967) e O círculo vermelho (Le Cercle rouge, 1970). Considerado o pai espiritual dos cineastas da Nouvelle Vague, Melville

foi um dos amigos mais próximos de Jean-Luc Godard em seus anos de juventude e exerceu influência decisiva durante o processo de criação de Acossado (À bout de souffle, 1960), para o qual contribuiu com sugestões na montagem e ainda participou como ator, interpretando o personagem do escritor Parvulesco. Embora mais tarde ambos tenham rompido relações, Godard sempre reconheceu a importância de Bob, o jogador na gênese de seu longa de estreia e chegou a convidar o diretor para ser seu padrinho de casamento com Anna Karina. O rompimento dos dois teria sido ocasionado em função das posições políticas de Melville, um gaullista fervoroso, e pelas duras críticas de Godard aos projetos mais “comerciais” do amigo, notadamente O samurai, O círculo vermelho e Expresso para Bordeaux (Un flic, 1972), estrelados pelo astro Alain Delon. Entre os filmes sobre a França ocupada incluídos na presente mostra, O silêncio do mar pode causar certo desconforto pelo retrato positivo do oficial nazista, mas poucos espectadores ficarão insensíveis diante de seu radical humanismo

e da deslumbrante fotografia em preto e branco de Henri Decae, profissional que se tornaria um colaborador habitual do diretor. Já Léon Morin, o padre (Léon Morin, prêtre, 1961) hoje impressiona menos por sua descrição minuciosa da vida cotidiana na província francesa sob o jugo nazista do que pela alta voltagem de erotismo, com alusões diretas ao lesbianismo e um tratamento extremamente ousado da atração de uma jovem viúva (Emmanuelle Riva) por um pároco de aldeia (Jean-Paul Belmondo). Embora a relação do casal protagonista jamais chegue a se consumar, a tensão sexual entre Riva e Belmondo é evidente, em particular nas sequências em que os personagens se confrontam no confessionário. Mas é com O exército das sombras (L’Armée des ombres, 1969) que Melville realiza sua obra definitiva sobre o tema, ao contar a história de um grupo de heróis da Resistência Francesa (movimento do qual participou), num filme de encenação rigorosa, cuja atmosfera opressiva, de suspense crescente, desemboca num final marcado pelo niilismo e pela desesperança.

O samurai (Le Samouraï ), de Jean-Pierre Melville (França, Itália | 1967, 105’)


O ritmo dos contrastes Porto das caixas (1962), Paulo César Saraceni Raul Arthuso

É devido sobretudo à sua série de filmes policiais que Melville seria alçado à posição de “cineasta de cineastas”, conquistando a admiração de diretores tão distintos quanto Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Jim Jarmusch, John Woo, Michael Mann, Takeshi Kitano e Johnny To. O domínio dos códigos do polar, como o gênero é conhecido na França, foi alcançado devido à intimidade de Melville com o submundo de Paris e o convívio com os seus pequenos contraventores. Para o norte-americano Scorsese, são essas as obras que fazem dele um autor de primeira linha, senhor de todos os segredos da narrativa cinematográfica. Interpretados por atores icônicos, como Jean-Paul Belmondo, Alain Delon, Yves Montand ou Gian Maria Volonté, bandidos e policiais frequentemente se confundem nos polar de Melville, envolvidos em intricadas tramas de assalto, sempre com seus ternos bem-cortados, capas Burberry e chapéus Borsalino. A perfeita utilização do plano/contraplano nos embates entre os personagens, as inusitadas posições de câmera (com destaque para os vertiginosos

plongées), os longos silêncios (ver a antológica sequência do assalto à joalheria da Place Vendôme em O círculo vermelho, com seus 25 minutos de duração, sem qualquer diálogo) e a obsessão por um universo essencialmente masculino, em que a clandestinidade e a contravenção são apresentadas como única alternativa possível a um mundo corrompido pela barbárie da guerra ou pelo dinheiro, são os principais traços autorais dos filmes de Melville. Um cinema de indivíduos à margem, em que matadores de aluguel ou assaltantes revelam uma ética inexistente entre os chamados “homens da lei”.

Léon Morin, o padre (Léon Morin, prêtre), de Jean-Pierre Melville (França, Itália | 1961, 130’)

O grosso da literatura dedicada ao Cinema Novo brasileiro alinhavou os filmes, especialmente a fase inicial de 1959 a 1962, a partir de dois vetores: o debate político em torno da realidade brasileira como princípio da feitura dos filmes, e a representação do povo, seus problemas e cultura como temas centrais à narrativa. Partindo da conjunção desses dois princípios seria possível, pelo olhar autoral dos artistas, chegar a uma “linguagem brasileira”, nova e única, expressão legítima desse povo representado na tela. A busca da realidade impõe a forma ao cineasta: cristalizou-se no senso comum que os filmes são antes discursos políticos fortes com propostas formais muitas vezes frouxas, calcadas no improviso e num suposto mal-entendido diante da realidade social brasileira. Porto das Caixas nos coloca um impasse. O filme traz em seu início uma dedicatória ao artista plástico Oswaldo Goeldi, que, para além das palavras na cartela, se encarna na visualidade da sequência de abertura: a noite densa envolvendo a modesta estação de trem, o homem suburbano percorrendo o espaço vasto e opressor, os poucos elementos

organizados numa perspectiva que realça o vazio, o movimento lasso do homem corpulento entre a estação e sua casa. Essa cena problematiza a relação de mimetismo da realidade-forma fílmica, pois, antes de tudo, este assombroso filme de estreia traz como marca seu rigor formal. Ao contrário da câmera fluida de O desafio (1965), percorrendo os espaços e interagindo com os corpos, que marcaria a presença da câmera na cena como parte importante do estilo de Saraceni, Porto das caixas é feito de uma minuciosa composição de planos fixos (são raros e discretos os movimentos de câmera), que parecem aderir aos elementos do quadro, como as linhas dos batentes, as paralelas das janelas, o cabo do machado repousado perto do encontro das três linhas que formam o canto do cômodo. As primeiras imagens na casa da protagonista (Irma Alvarez) traçam a espacialidade da casa pelas linhas e recortes da pequena construção e a pouca mobília que a preenche. Ou seja, o espaço é um desenho geométrico que se transforma pela posição da câmera, estabelecendo

novas relações de acordo com o ponto de vista e a presença dos corpos. A turbulenta relação marido e mulher, nuclear na trama, é representada antes por essa geometria que aparta as personagens, feita dos recortes das janelas e portas, da mesa do cômodo principal, da cama do quarto escorada na parede, construindo um espaço delimitado de atuação do corpo e realçando o vazio da casa e a distância do casal que, no limite, é preenchida pela parede branca e pelas sombras desenhadas pelos recortes de luz. A montagem complementa a aderência geométrica da câmera agindo nos pontos de corte como o machado, que pontua o filme, agindo com violência na passagem de uma cena a outra, ao mesmo tempo em que a destreza dos cortes internos da ação dá fluidez a essa geometria dos quadros. Nunca foi tão preciso como em Porto das caixas dizer que as cenas morrem; ao mesmo tempo, ganham vida em sua imanação. Quando essa geometria não se dá no quadro, como a cena de Irma seduzindo o barbeiro tentando convencê-lo a matar seu marido, em que o espaço


aberto dá ênfase à paisagem, a mudança rápida por diversos pontos de vistas, com pulos nos ângulos, distâncias e olhares da sequência, aliada à passagem do trem rasgando a cena criam uma sensação geométrica quase cubista nos desdobramentos que uma simples ação (nada muito brusco acontece; pelo contrário: a ação é vagarosa) possa ter diante da câmera. A rigidez formal de Saraceni é a busca por retirar o sumo de seus elementos (a casa, os corpos, o machado, o trem, a luz e a música) ao abstrair o plano para restituir a ação na cena a navalhadas. A rigidez impregna a própria trama: uma mulher empobrecida, tanto materialmente quanto emocionalmente, tem a ideia fixa de matar o marido bruto e violento (Paulo Padilha). O filme circula em torno dessa obsessão, que revela a precariedade afetiva de uma certa existência. A dureza do plano espelha a psiquê deslocada de sua protagonista. Para alcançar seu objetivo, a mulher procura ajuda de outros homens, com os quais estabelece uma relação perturbada de sedução passiva-agressiva. Condicionada afetivamente pela brutalidade de seu marido, ela busca em

seus amantes a mesma brutalidade que pode salvá-la a partir da vingança. Porém, ela se defronta com amantes fracos, reticentes, covardes, falastrões, imaturos, homens cuja presença é estabelecida antes por seu papel nessa pequena sociedade que por seus desejos. A protagonista de Porto das caixas junta-se à importante galeria de personagens com ideias fixas, ao lado de Brás Cubas, Policarpo Quaresma e São Bernardo na representação da rigidez espiritual com que perseguem seus objetivos. Por outro lado, Porto das caixas guarda a sensualidade imanada do corpo de Irma Alvarez. O filme cresce na proximidade em relação a seu olhar, sua pele, seus ombros. Na primeira aparição, Irma encosta na parede, cabelos molhados, ombros de fora, um olhar que recusa se entregar. A opacidade da mulher, desdobramento de todo seu gestual espaçado, traz ao filme certa viscosidade na cena que se contrapõe à câmera: Irma caminha com o corpo lânguido pelos trilhos do trem, se esparrama no balcão da venda de um de seus amantes (Reginaldo Faria), chupa o sangue do dedo do barbeiro com um olhar

lascivo. Sua movimentação vagarosa é uma resistência à luz forte, direta e de um branco queimado dominante do dia, e ao preto profundo que preenche o ambiente noturno. O ritmo da luz está em conflito com o corpo lânguido da protagonista; a carne teima em existir na onipotência da luz (dia) e da sombra (noite). Esse jogo entre rigidez do ambiente e languidez do corpo, rigor e fluidez da montagem, revelam o fundamento da mise-en-scène da obra. Porto das caixas é um filme de contrastes: a mulher e o homem; o dia e a noite; branco e preto; a sensualidade cosmopolita de Irma e o provincianismo de seus amantes; o corpo lânguido da mulher e brutalidade dos homens; a ideia fixa e a inconsistência; o humano das personagens e o geométrico das locações; a pequenez do corpo e a imensidão dos espaços; o assunto denso e mórbido da trama e a música melancólica e suave de Tom Jobim. O filme carrega a marca do entalhe: a sombra encravada no ambiente dominado pela luz branca queimada, o corpo fazendo sua presença na imensidão do ambiente, a música insistindo em criar uma emoção

mais pura onde só se encontra a natureza bruta da vida. Como na obra de Oswaldo Goeldi, os traços estão tensionados ao limite de seu desaparecimento nos grandes espaços da superfície dominada pelo preto. Ao mesmo tempo, a força expressiva das formas tensiona tudo a tal ponto que o preto do espaço não-gravado só existe por causa do entalhe. Em Saraceni, é a tensão dos elementos contrastantes que desenha uma realidade: opressiva e distendida em grandes espaços, enrijecida pela força da luz tropical que ameaça a carne dos corpos tornados lânguidos e vagarosos, de relações conflituosas porque mal-acabadas, de uma materialidade precária ao mesmo tempo fascinante. O contraste da realidade de Porto das caixas se cristaliza na tensão do preto e branco. Goeldi afirmou certa vez ter começado a gravar para impor uma disciplina a seu desenho, pois a resistência da madeira coloca obstáculos ao desenho livre, explicitado em sua obra por linhas em via de dissolução no espaço de entalhe. A dedicatória ao artista encontra, então,

seu sentido no derradeiro contraste do filme: a realidade – materializada na luz tropical, nos espaços e na brutalidade da vida – não é início nem fim, mas meio, como a madeira nas gravuras de Goeldi. A mise-en-scène se inscreve na realidade ao mesmo tempo que faz dela sua composição. A influência do gravurista está nessa postura de não esconder os limites colocados pela matéria bruta, mas moldá-los para fazer dessa matéria bruta sua obra. Há um curto-circuito na ideia de enxergar em Porto das caixas um projeto automaticamente mimético da realidade: ela se deixa impor na imagem – a luz branca queimada; os espaços a perder de vista, os corpos fatigados – pelo rigoroso ritmo dos contrastes desenhado pelo cineasta.


filmes

Os filmes de Fellipe Barbosa

Gabriel e a montanha Fellipe Barbosa Brasil | 2017, 131’, DCP

Antes de entrar para uma universidade americana de prestígio, Gabriel decide viajar o mundo por um ano. Depois de dez meses, ele chega ao Quênia determinado a descobrir o continente africano. Até chegar ao topo do Monte Mulanje, no Maláui, seu último destino. Baseado na história de Gabriel Buchmann, amigo do diretor Fellipe Barbosa, Gabriel e a montanha foi exibido durante a Semana da Crítica, em Cannes, onde recebeu os prêmios de Revelação e da Fundação Gan. “Filmamos nos lugares onde ele esteve, com as pessoas que encontrou, com algumas de suas roupas e objetos reais”, contou o diretor ao jornal Folha de S.Paulo. “Sua mãe, sua irmã e sua namorada dividiram comigo seu arquivo: e-mails, fotos e anotações que fez durante a viagem.

Essa foi a base do primeiro roteiro de Gabriel e a montanha, filme realizado em quatro países africanos. Rodado sete anos após a morte de Gabriel, o longa retrata seus últimos 70 dias de vida”. [Leia o artigo do diretor na Folha de S.Paulo: https://goo.gl/KKew3Y] Junto desse filme, o cinema do IMS Paulista exibe também os demais títulos realizados por Fellipe Barbosa: o curta Beijo de sal, em cópia 35 mm, e os longas Laura e Casa grande.

Beijo de sal

Fellipe Barbosa Brasil | 2006 ,18’, 35 mm

Em uma ilha isolada na costa verde do Rio, Rogério é dono de uma luxuosa casa de praia. Ele convida seu amigo Paulo para relembrar os velhos tempos de festa, mas uma nova paixão do amigo pode revelar as contradições dessa antiga amizade. Beijo de sal recebeu o prêmio de melhor filme de ficção no festival Curta Cinema, em 2006. Foi exibido também no Festival de Gramado, em 2006, e nos festivais de Sundance e Clermont Ferrand, em 2007. O curta será exibido na mesma sessão do documentário Laura.

Filmes em cartaz

Casa Grande

Laura

Jean é um adolescente rico que luta para escapar da superproteção dos pais, secretamente falidos. Enquanto as contradições familiares se tornam evidentes, os empregados têm que enfrentar as possíveis demissões. “Queria muito discutir questões de classe ligadas a questões raciais, a partir dessa ideia da Casa Grande, de uma proximidade muito grande entre empregados e patrões”, conta Fellipe Barbosa. “Uma proximidade de afeto mesmo, em que talvez Jean se sinta mais à vontade para falar sobre as coisas dele com os empregados do que com os pais. É uma dicotomia que acho muito interessante: esse afeto acompanhado de uma alienação enorme da realidade deles.” [Leia a entrevista completa com Fellipe Barbosa no site da Mostra de São Paulo: https://goo.gl/oiiSPC]

“Não tem porta fechada para ela, se tiver uma festa jet setter de Nova York ela entra.” Assim um amigo descreve Laura, uma imigrante argentino-brasileira que vaga pelas ruas de Manhattan em busca de festas glamourosas. Ao fim de cada noite, Laura volta para seu quarto minúsculo. Ao tentar filmar Laura, Fellipe Barbosa se torna, também, personagem do filme. Exibido junto ao curta Beijo de sal.

Fellipe Barbosa Brasil | 2014, 115’, DCP

Fellipe Barbosa Brasil | 2013, 88’, DCP

O filme foi exibido na mostra competitiva do Festival de Berlim deste ano. [Leia a matéria completa no site da revista Público: https://goo.gl/gp793D]

Colo

Colo Teresa Villaverde Portugal | 2017, 136’, DCP

A rotina de uma família lisboeta é absorvida pelos efeitos da crise econômica. A mãe se desdobra em dois empregos para pagar as contas, o marido está desempregado e a filha adolescente guarda seus próprios segredos. Nas palavras da diretora Teresa Villaverde, “neste filme a crise é mais do que econômica. É também a crise da família, do pouco tempo que as pessoas têm para viver, para falar umas com as outras. Quis retratar a solidão e o modo como ela existe dentro de uma estrutura que se deteriora, porque quando existe uma crise econômica todos os outros problemas parecem ser exacerbados. Dos meus filmes, talvez este seja aquele onde o silêncio se sente mais. É mais importante aquilo que não se diz, que fica por dizer.”

que conheci no meu conjunto habitacional no bairro da Boca em Buenos Aires. Os cidadãos invisíveis, anônimos. Gente que trabalha e sobrevive e ocupa esta cidade sem ser ocupante. Gente que tem a necessidade instintiva da rebeldia frente a um futuro que dizem não lhes pertencer. Gente que sabe conviver com as consequências do sistema que os exclui um pouco mais a cada dia. Gente que não quer estar mais sozinha e resiste como pode. Gente invisível como a gente.”

Invisível

Invisible Pablo Giorgelli Argentina, Brasil, Uruguai, França | 2017, 90’, DCP

Ely tem 17 anos e mora no bairro da Boca, em Buenos Aires. Ela cursa o último ano do ensino médio e trabalha em uma pet shop. Ao descobrir que está grávida, a adolescente tenta seguir normalmente com sua rotina. O diretor Pablo Giorgelli, que recebeu o prêmio Camera D’or em Cannes em 2011 por Las Acácias, conta suas inspirações para filmar Invisível: “Sempre me comovi pela gente que se sente sozinha. Esse momento de vulnerabilidade em que um se sente desamparado e deve superar na solidão a dor e a tristeza. É daí que nasce este filme. Da minha própria tristeza e desamparo. Vem também de gente

No intenso agora João Moreira Salles Brasil | 2017, 127’, DCP

Feito a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China em 1966, durante a fase inicial da Revolução Cultural, No intenso agora investiga a natureza de registros audiovisuais gravados em momentos de grande intensidade. Às cenas da China somam-se imagens dos eventos de 1968 na França, na Tchecoslováquia e, em menor quantidade,

no Brasil. As imagens, todas elas de arquivo, revelam o estado de espírito das pessoas filmadas e também a relação entre registro e circunstância política. O ponto de partida do filme foram imagens captadas pela mãe do diretor, encontradas por ele na época da finalização de Santiago (2007). “Eu precisava de imagens da casa onde minha família morou, na Gávea, e pedi a alguém para procurar”, conta João Moreira Salles em entrevista ao jornal O Globo. “Encontramos as imagens, mas eu não sabia direito o que eram, qual o sentimento dela durante a viagem. Aí encontrei uma reportagem que ela escreveu sobre a viagem, em forma de diário, para a revista O Cruzeiro. Fiquei muito impressionado com a comoção dela diante de tudo o que viu lá. Minha mãe e a Revolução Cultural são opostos absolutos, seria fácil imaginar uma reação dogmática. Mas não, ela ficou deslumbrada com aquilo. E eu fiquei tocado com esse deslumbramento dela e com a intensidade com que ela o descreveu, porque minha mãe foi perdendo isso com o tempo.” [Leia a entrevista completa de João Moreira Salles para O Globo: https://goo.gl/CD8o3C]


filmes

Direitos Humanos do BAFICI – Festival de Cinema Independente de Buenos Aires, no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e ganhou o Prêmio Olhares Brasil no festival Olhar de Cinema.

Meu corpo é politico Alice Riff Brasil | 2017, 72’, DCP

O cotidiano de quatro pessoas LGBT que vivem na periferia de São Paulo: Linn da Quebrada, artista e professora de teatro, Paula Beatriz, diretora de escola pública no Capão Redondo, Giu Nonato, jovem fotógrafa em fase de transição, e Fernando Ribeiro, estudante e operador de telemarketing. Nas palavras de Alice Riff, o filme pretendia criar “uma possibilidade para pessoas verem imagens que elas não estão acostumadas a ver. Um exemplo é a Paula, que ocupa uma função de poder dentro de uma escola pública. Através desse ato banal de ela assinar os papéis é como se o ordinário virasse extraordinário, porque é raro ela – como mulher negra trans – estar naquele lugar, é uma coisa que você nunca viu sendo retratada. Queríamos que pessoas trans vissem nessas imagens outras referências, diferentes das que a tevê produz diariamente.” Meu corpo é político estreou este ano no Festival Visions du Réel. Foi exibido também na Competição de

Mulholland Drive: Cidade dos sonhos Mulholland Dr. David Lynch EUA | 2001, 147’, DCP – cópia restaurada

A jovem aspirante a atriz Barbie Betty viaja para Hollywood e conhece Rita, que escapou por pouco de ser assassinada, e que agora se encontra com amnésia devido a um acidente de carro. Juntas, vão em busca da verdade por trás da identidade de Rita. Originalmente concebido como um episódio piloto para uma série de televisão, boa parte do filme foi rodada em 1999, mas rejeitada pelo canal ABC. Pouco mais de um ano depois, Lynch retomou o projeto, transformando-o em um filme de longa-metragem. Por Mulholland Drive, Lynch

recebeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes, em 2001, e, no ano seguinte, uma indicação ao Oscar na mesma categoria. Em entrevista ao escritor e cineasta Chris Rodley, quando questionado se achava divertido provocar ou iludir o espectador com algumas das pistas de interpretação deixadas pelo filme, o diretor respondeu: “Não, não se faz isso com o público. Uma ideia vem, você faz as coisas da forma que a ideia diz que deve ser e permanece fiel a isso. Pistas são bonitas, porque acredito que somos todos detetives. Nós refletimos e descobrimos as coisas. Estamos sempre trabalhando assim. Eu acho que as pessoas sabem o que Mulholland Drive significa para elas, mas não confiam nisso. Eu amo ver as pessoas analisando o filme, mas elas não precisam da minha ajuda. Essa é a parte bonita: descobrir as coisas como um detetive.” [Leia a entrevista completa (em inglês): https://goo.gl/pqBpZn]

Sessões especiais

A greve

Statchka Sergei M. Eisenstein União Soviética | 1925, 95’, DCP Sessão com trilha ao vivo de Paulo Santos (Uakti)

Há exatos 100 anos, os chamados guardas vermelhos invadiram o Palácio de Inverno, em São Petersburgo, selando a vitória do partido bolchevique. Era 7 de novembro na maioria dos países ocidentais (pelo calendário gregoriano), mas, na Rússia daquela época, onde ainda estava em vigor o calendário juliano, era 25 de outubro, daí o movimento ficar conhecido como Revolução de Outubro. Poucos anos depois, o diretor Sergei Eisenstein apresentava seu primeiro longa, A greve (1925), que retrata uma revolta operária na Rússia Czarista sob a ótica revolucionária soviética.

Para a exibição deste filme no cinema do IMS Paulista, o compositor e multi-instrumentista Paulo Santos foi convidado a criar uma trilha inédita, que executa ao vivo com a percussionista Josefina Cerqueira. O músico traz na bagagem a experiência na criação de instrumentos e sonoridades inusitados que marcaram seu antigo grupo, Uakti, com o qual criou trilhas para diversos filmes, além da parceria com o diretor Eder Santos, compondo para vídeos e instalações. A partir de referências de compositores russos, principalmente Shostakovich, com os quais teve contato atuando como percussionista na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Paulo Santos busca uma harmonização com a linguagem eletrônica atual, utilizando sons pré-gravados para compor uma base que sustente as intervenções dos instrumentos acústicos, criando assim uma justaposição de sonoridades e texturas. A sessão ocorre no dia 7 de novembro, terça-feira, às 20h30. Haverá uma reprise do filme no dia 12 de novembro, domingo, às 17h, sem acompanhamento musical.

demia de Artes e Ciências Cinematográficas duas indicações ao Oscar, no ano de 1990 – Melhor Roteiro Original para Spike Lee e Melhor Ator Coadjuvante para Danny Aiello, pelo papel de Sal. Vinte e cinco anos mais tarde, Spike Lee receberia um Oscar honorário por sua contribuição como realizador.

Faça a coisa certa Do The Right Thing Spike Lee EUA | 1989, 120’, DCP

“Ei!! SAL!!! Por que não tem foto de preto na parede da sua pizzaria?” É assim que começa uma escalada de tensão social e racial no dia mais quente do ano em uma rua do Brooklyn, onde a maioria dos moradores são negros. Ali, Mookie, interpretado por Spike Lee, trabalha como entregador de uma tradicional pizzaria comandada por Sal e seus dois filhos, todos brancos e ítalo-americanos. “Eu sabia que queria que o filme se passasse em um dia, que seria o dia mais quente do verão”, conta o diretor em entrevista à revista Rolling Stone. “E eu queria retratar o clima das questões raciais em Nova York naquele período. O dia se tornaria cada vez mais longo e quente, e as coisas, mais intensas até explodirem.” [Entrevista completa disponível em: https://goo.gl/uXqjDC] Apesar de seu grande sucesso, Faça a coisa certa só recebeu da Aca-

Pink flamingos Pink Flamingos John Waters EUA | 1972, 93’, DCP

A drag queen Divine vive o papel de Babs Johnson, uma criminosa que ostenta o título de “pessoa mais nojenta do mundo”. Quando seu reinado é ameaçado pelo casal Connie e Marble, uma bizarra competição se inicia para provar quem é o mais nojento de todos. Quando o filme foi lançado, em 1972, a revista Variety o descreveu como “um dos filmes mais vis, estúpidos e grotescos já feitos”. A citação foi incorporada como um anúncio do filme. Quarenta e cinco anos depois,

John Waters fala sobre o longa: “Ele ainda funciona, eu sei disso. Não ficou mais fácil; talvez tenha ficado ainda mais terrível. Até as pessoas que pensam ter visto tudo ficam chocadas. Elas podem odiar, mas não conseguem não falar a respeito. Esse era o ponto. Era um ato terrorista contra a ditadura do bom gosto.” [Leia (em inglês) a matéria completa da revista Vanity Fair: https://goo.gl/7vZ8aq; e a crítica original da Variety: https://goo. gl/8Chwbx]


filmes

Sessão Cinética

Porto das caixas

Paulo César Saraceni Brasil | 1962, 75’, 35 mm

Uma mulher vai à cidade de Porto das caixas, no Rio de Janeiro, em busca de ajuda para se livrar do marido. Exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes em 1963, esse foi o primeiro longa de Paulo César Saraceni, que também dirigiu Capitu (1967) e O desafio (1965); o argumento é do escritor e artista plástico Lúcio Cardoso, e a trilha sonora é de Antônio Carlos Jobim. Porto das caixas foi inspirado em uma história verídica, “o crime da machadinha”, um caso de homicídio ocorrido no final dos anos 1940 no Rio de Janeiro. O filme faz parte da Sessão Cinética, que ocorre no dia 23 de novembro, quinta-feira, às 19h30, seguida de debate com os críticos da revista (www.revistacinetica.com.br); e será reprisado no dia 3 de dezembro, às 17h, sem debate.

Os filmes de Jean-Pierre Melville

24 horas na vida de um palhaço 24 Heures de la vie d’un clown Jean-Pierre Melville França | 1946, 18’, DCP

Em seu filme de estreia e no duplo papel de realizador-produtor, Jean-Pierre Melville retrata o universo de dois palhaços do circo Medrano, muito célebres nos anos 1940, Béby e Maïss. Este é o único curta-metragem na filmografia de Melville, que afirma a origem do seu amor pelo circo em relação ao cinema: “Desse amor, guardei uma amizade, o palhaço Béby, que era então o maior palhaço vivo”. Béby também fez parte do elenco do primeiro filme de Robert Bresson, o média Les Affaires publiques (1934).

O silêncio do mar Le Silence de la mer Jean-Pierre Melville França | 1949, 88’, DCP

O tenente Werner von Ebrennac, um dos líderes da ofensiva nazista que invadiu e ocupou o território francês durante a Segunda Guerra Mundial, é alojado em um pequeno vilarejo, na casa em que um homem francês de meia-idade vive com sua sobrinha. Lá, o tenente poderá ficar o tempo que quiser até o fim da ocupação, mas os dois franceses se recusam a lhe dirigir a palavra. Primeiro longa-metragem dirigido por Jean-Pierre Melville, o filme é baseado na obra homônima de Jean Brullers, publicada clandestinamente em 1942 sob o pseudônimo Vercors. A história foi filmada na casa do escritor.

Bob, o jogador

Bob le flambeur Jean-Pierre Melville França | 1955, 104’, DCP

Em decadência financeira, Bob, um velho gângster viciado em jogos, decide roubar um cassino em Deauville, mas a polícia descobre seus planos. Um dos filmes mais cultuados de Melville e sua entrada no gênero policial. O diretor encontra aqui uma de suas grandes paixões: o filme de

vista, em inglês, está disponível em: https://goo.gl/kmAjFd]

“gângsters” à americana, transpondo esse universo para o cenário francês, em uma obra que Godard mencionaria mais tarde em Acossado (1960).

Sob o nome de Melville Sous le nom de Melville Olivier Bohler França | 2008, 76’, digital

Léon Morin, o padre

Léon Morin, prêtre Jean-Pierre Melville França, Itália | 1961, 130’, DCP

A viúva Barny vive com a pequena filha France e é militante do partido comunista durante a Segunda Guerra Mundial. Quando os alemães chegam, ela envia France a uma fazenda e se dirige à paróquia para confrontar o padre Morin com a ideia da inexistência de Deus. Contudo, a reação do padre a surpreende. Barny e Morin são interpretados por Emmanuelle Riva e Jean-Paul Belmondo.

Técnica de um delator Le Doulos

Jean-Pierre Melville França, Itália | 1962, 108’, DCP Logo após cumprir sua pena e sair da prisão, o assaltante Maurice Fagel visita seu antigo amigo Gilbert Vanovre e o mata. Em seguida, Maurice arquiteta um plano: invadir e roubar a mansão de um milionário. Para tanto, ele precisará da ajuda de Silien, um possível informante da polícia. O filme é inspirado no romance homônimo de Pierre Lesou.

O samurai

O exército das sombras

O círculo vermelho

“Não há solidão maior que a de um samurai. A não ser talvez aquela de um tigre na selva. Talvez…” Com essa citação, atribuída ao Livro de Bushido, Jean-Pierre Melville abre O samurai. No filme, Alain Delon interpreta Jef Costello, um assassino de aluguel frio e calculista contratado para matar um empresário em um clube noturno. Na saída ele é visto pela pianista Valérie, e logo em seguida é detido pela polícia. Agora, Jef precisará forjar um álibi para escapar tanto da investigação quanto de seus contratantes.

Em 1942, as tropas alemãs invadem e ocupam todo o território da França. Começando em outubro de 1942, o filme acompanha vários meses na vida de alguns combatentes congregados em torno de Phillipe Gerbier, um sossegado engenheiro civil que, na realidade, é um dos maiores líderes da Resistência. Adaptação do romance homônimo de Joseph Kessel sobre a Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, O exército das sombras é o terceiro filme de Melville a abordar a ocupação nazista, após O silêncio do mar e Léon Morin, o padre. A adaptação de Melville, ele próprio um antigo “partisan”, aborda a condição dos resistentes, sujeitos a uma solidão física e moral e assolados pelo medo da traição.

Um grande ladrão, recém-saído da prisão, cruza o caminho de um notório fugitivo e de um ex-policial alcoólatra. Juntos, planejam um assalto a uma joalheria. Em entrevista ao cineasta francês Rui Nogueira, o diretor diz: “O roteiro de O círculo vermelho é original no sentido de que foi escrito por mim e apenas por mim, mas não se leva muito a perceber que é a transposição de um western, no qual a ação se passa em Paris em vez de no Oeste, no tempo presente e não imediatamente após a Guerra Civil, e com carros no lugar de cavalos. Então eu começo com a tradicional – e praticamente obrigatória – situação: um homem acaba de sair da prisão. E esse homem corresponde bastante ao cowboy que, uma vez passados os créditos de início, entra pelas portas do salão.” [Um trecho maior da entre-

Le Samouraï Jean-Pierre Melville França, Itália | 1967, 105’, 35 mm

L’Armée des ombres Jean-Pierre Melville França, Itália | 1969, 150’, DCP

Le Cercle rouge Jean-Pierre Melville França, Itália | 1970, 150’, DCP

Quando Jean-Pierre Grumbach fez parte da Resistência Francesa contra os nazistas, ele adotou o nome de guerra “Melville”, um tributo ao seu escritor favorito, Herman Melville. Sob o nome de Melville refaz o percurso do cineasta durante a Segunda Guerra Mundial e o impacto que essa experiência teve em toda a sua obra.

No clima de Melville In the Mood for Melville Benjamin Clavel França | 2017, 58’, digital

Com 14 filmes realizados ao longo de 25 anos de carreira, Jean-Pierre Melville tornou-se uma lenda internacional. Neste documentário, Benjamin Clavel aborda a carreira do cineasta desde a Nouvelle Vague, da qual é um dos precursores, até a influência que exerceu sobre outros diretores, como Martin Scorsese e Quentin Tarantino.


Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho

Exibição do filme A greve com acompanhamento musical

Cineteatro

Produção de cinema e DVD Barbara Alves Rangel

Curadoria Musical: Juliano Gentile

Assistência de produção Thiago Gallego e Ligia Gabarra

Criação Musical: Paulo Santos e Josefina Cerqueira

Ingressos para Mulholland Drive: Cidade dos sonhos, Gabriel e a montanha, Invisível, No intenso agora, Colo, Meu corpo é politico: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

Os filmes de Jean-Pierre Melville Organização e realização:

Para as demais sessões: R$ 8 / R$ 4 (meia) Apoio:

Agradecimentos: Hernani Heffner (Cinemateca do MAM), Ana Beatriz Vasconcelos (Ctav), Anna Maria Nascimento, Fellipe Barbosa, Clara Linhart, Graham Fulton (Park Circus), Magali Bonjean (Edition Rene Chateau), Maria Chiba (Lobster Films), Raphaël Ceriez e Thomas Sparfel (Cinemateca da Embaixada da França)

Meia-entrada com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes e maiores de 60 anos. Cliente Itaú desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares. Ingressos disponíveis também em ingresso.com. Os ingressos para a sessão do filme A greve com acompanhamento musical serão vendidos em eventbrite.com.

Devolução de ingressos em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso. com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Confira a programação completa do Instituto Moreira Salles em nossas redes sociais e no nosso site ims.com.br.


Terça a sábado, sessões de cinema até 22h; domingos, até 20h. Visitas mediadas quintas-feiras, das 12h30 às 13h30. Visitas em grupo com agendamento prévio, de terça a sexta, às 10h e 14h; quintas, às 19h. Biblioteca, de terça a sexta, das 10h às 20h; sábados e feriados, das 10h às 18h. Entrada gratuita.

InstitutoMoreiraSalles Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista - São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br

ims.com.br /institutomoreirasalles @imoreirasalles Pink flamingos (Pink Flamingos), de John Waters (EUA, 1972, 93’)

@institutomoreirasalles /imoreirasalles /institutomoreirasalles


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