Folheto de Cinema IMS Rio - Dezembro/2017

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cinema 12.2017


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15:00 No intenso agora

dezembro 2017

14:30 No intenso agora

11:00 Moonlight

11:00 No intenso agora

17:30 No clima de Melville

17:15 Meu corpo é político

14:00 No intenso agora

14:00 Eu não sou seu negro

19:00 24 horas na vida de um palhaço +

19:00 Bob, o jogador

16:30 Projeções 2017 – Curtas

16:00 Historietas assombradas

O silêncio do mar

21:00 O exército das sombras

21:15 Léon Morin, o padre

Sessão seguida de debate com o diretor.

Sessão seguida de debate com realizadores 19:15 Debate – Projeções 2017 21:45 Corra!

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15:00 Martírio

Neste dia não ocorrerão sessões de cinema.

Neste dia não ocorrerão sessões de cinema.

12:30 1395 Days without Red

12:30 1395 Days without Red

14:00 Fragmentado

14:00 Projeções 2017 - Curtas

14:00 No intenso agora

17:45 No intenso agora

16:15 O estranho que nós amamos (2017)

16:45 Sessão Cinética: Jeanne Dielman

20:15 Mulher-Maravilha 3D

18:15 No intenso agora

21:45 O estranho que nós amamos (1971)

20:45 Toni Erdmann

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12:30 1395 Days without Red

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12:30 1395 Days without Red

12:30 1395 Days without Red

Neste dia não ocorrerão sessões de cinema.

14:00 Joaquim

14:00 Rifle

14:00 Meu corpo é político

14:00 No intenso agora

14:00 No intenso agora

16:15 Vazante

16:00 No intenso agora

16:30 Corpo elétrico

17:00 Meu corpo é político

16:30 Vá e veja

18:45 No intenso agora

18:30 Vá e veja

18:30 No intenso agora

18:45 Mãe!

19:15 O estranho que nós amamos (1971)

21:30 O ornitólogo

21:30 Dunkirk

21:15 Eu não sou seu negro

21:15 Moonlight

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12:30 1395 Days without Red

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12:30 1395 Days without Red

12:30 1395 Days without Red

Neste dia não ocorrerão sessões de cinema.

14:00 Meu corpo é político

14:00 Meu corpo é político

15:15 No intenso agora

14:00 No intenso agora

14:00 Corpo elétrico

16:00 No intenso agora

16:00 No intenso agora

18:00 Blade Runner: o caçador de androides

17:00 Meu corpo é político

16:15 No intenso agora

18:45 Bingo - O rei das manhãs

18:30 Como nossos pais

20:45 Blader Runner 2049

19:00 Jeanne Dielman

19:00 Blade Runner: o caçador de androides

21:15 It - a coisa

21:00 La Bohème


destaques de dezembro 2017

Blade Runner – O caçador de androides (Blade Runner), de Ridley Scott (EUA | 1982, 117’)

Jeanne Dielman (Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles), de Chantal Akerman (Bélgica | 1975, 200’)

Entre os destaques da programação deste mês, está a mostra Projeções 2017, uma seleção especial que não pretende reunir “Os Melhores do Ano”, mas apresentar uma revisão dos longas lançados comercialmente nas salas de cinema. Dentro da seleção, Blade Runner 2049, de Denis Villeneuve, será exibido junto a Blade Runner – O caçador de androides, de Ridley Scott; O estranho que nós amamos é projetado nas versões de 1971, de Don Siegel, e de 2017, da diretora Sofia Coppola. A curadoria

apresenta também uma relação entre Dunkirk, de Christopher Nolan, e Vá e veja, de Elem Klimov, como duas possíveis visões sobre a Segunda Guerra Mundial. O programa exibe, ainda, uma seleção de curtas-metragens. A Sessão Cinética, em parceria com a revista de mesmo nome, apresenta Jeanne Dielman, de Chantal Akerman. A exibição em DCP, em cópia restaurada, será seguida de debate com os críticos da revista.

Corpo elétrico, de Marcelo Caetano (Brasil | 2017, 94’)

Toni Erdmann (Toni Erdmann), de Maren Ade (Alemanha, Áustria | 2016, 162’)


Projeções 2017 Kleber Mendonça Filho

Projeções 2017 é uma revisão possível do ano que acaba, dentro do projeto curatorial das duas salas do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A seleção, realizada a partir de discussões internas constantes da nossa equipe (com Barbara Rangel, Ligia Gabarra e Thiago Gallego), propõe uma revisão, ainda em tela grande e nesse mês de dezembro, de filmes que a partir de agora só poderão ser vistos longe das salas de cinema, nas diversas plataformas hoje disponíveis para uso pessoal e doméstico. Não tentamos com essa seleção especial reunir “Os Melhores do Ano”, mas de apresentar uma revisão possível do que foi lançado comercialmente no Brasil em 2017, obras que talvez tenham marcado esse período como pontos de cultura, sejam eles comerciais ou sem pretensões comerciais. E oferecemos isso nas condições excelentes de som e projeção 2D e 3D das nossas duas salas. E como filmes marcam seus determinados momentos na cultura? A pergunta permanece aberta para qualquer um tentar responder.

O caso de Dunkirk (EUA/França/Reino Unido/Holanda), de Christopher Nolan, por exemplo, é curioso. A Warner Bros., estúdio que foi a casa de Stanley Kubrick até a sua morte, em 1999, parece ter pego Nolan como substituto de Kubrick. Nolan realiza filmes comerciais com alguma postura autoral, e isso ficou claro este ano no enorme barulho feito em torno do uso de filme Kodak para rodar e exibir um projeto como Dunkirk. Em algum momento da máquina de marketing para o lançamento, parecia ser imperativo amar esse filme pelo simples fato de ter sido rodado em filme de 70 milímetros. Curiosamente, nenhuma cópia analógica chegou ao Brasil, onde seu lançamento bem-sucedido no último mês de julho transcorreu apenas em sistema digital DCP. Como contraponto curatorial, programamos uma outra visão da Segunda Guerra Mundial para acompanhar a visão mais recente proposta por Nolan em Dunkirk, a cópia nova restaurada em 4K (lançada em setembro no Festival de Veneza) de Vá e veja (Idi i smotri, União Soviética, 1985), de Elem Klimov, Essa

obra difusa e impressionante nos dá uma outra imagem da guerra, por meio da experiência soviética, em que o horror é palpável e a ideia do herói é frágil. Chance rara de ver um dos grandes filmes do cinema, e talvez o grande filme de guerra. O que dizer de Blade Runner 2049 (EUA), de Denis Villeneuve? Essa atualização preocupada em respeitar a property estabelecida ao longo de 35 anos pelo original Blade Runner (EUA, 1982), de Ridley Scott – que também vamos exibir em sessão dupla –, chegou com enorme expectativa em outubro: muitos gostaram, outros não muito, e houve decepção para os investidores. O novo Blade Runner talvez sugira mais uma discussão sobre os modelos de negócio que moldam os filmes caros feitos hoje do que uma outra discussão sobre inteligência artificial, ética e genética. Às vezes, a discussão pode ser estética e política, pois é quando o cinema reflete preocupações e conquistas que correm paralelas à vida em sociedade. Temos o ambiente de trabalho brasileiro e suburbano de Corpo elétrico (Brasil), de Marcelo Caetano, e a relação inebriante

de natureza em O ornitólogo (Portugal/ França/Brasil), de João Pedro Rodrigues. Vale registrar o alcance que It – A coisa (EUA), de Andy Muschietti, teve não só como produto comercial de terror, mas também a sua associação com a era Trump na presidência. Em Toni Erdmann (Alemanha/Áustria), de Maren Ade, e Corra! (Get Out, EUA), de Jordan Peele, há dois outros exemplos de interesse bastante ilustrativos neste lote de filmes. O primeiro, algo parecido com uma comédia (mas não estou totalmente convencido) sobre um mundo engessado por um pensamento empresarial todo cheio de pequenas eficiências, nos sugere uma crônica sobre um presente que pode englobar também a realidade política e peluda do Brasil. O segundo, algo parecido com um filme de horror (mas não estou totalmente convencido), apresenta o ponto de vista (infelizmente ainda incomum) de um cineasta negro sobre viver em sociedade nos Estados Unidos, com resultados perturbadores, seja como relato social, seja como thriller.

Dunkirk (Dunkirk), de Christopher Nolan (EUA, França, Reino Unido, Holanda | 2017, 120’)

É também notável que o impacto de Corra! como crônica social tenha encontrado um sucesso comercial acachapante, e com isso uma geração instantânea de prestígio para o seu realizador,

um estreante em longa-metragem. O filme é cotado atualmente para a chamada “temporada de prêmios”, e isso inclui o recente ruído (e prova de que Corra! é esse agente cultural poderoso) via


Debate – Projeções 2017 9/12 sábado – 19:15 – entrada gratuita.

Debatedores

Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood. A indicação do filme na categoria Melhor Comédia levou Jordan Peele a rebater via Twitter: “É documentário”. Moonlight: sob a luz do luar (EUA), de Barry Jenkins, foi também outro filme autoral lançado em 2017 com realizador, ponto de vista e personagens negros a ganhar lançamento nas salas multiplex brasileiras, algo infelizmente raro. O filme de Jenkins venceu o Oscar de Melhor Filme e ganhou espaço incomum para uma narrativa de cadência pessoal, com personagem principal negro e gay. Em 1989, vale informar, Faça a coisa certa (que exibimos em cópia importada cintilante neste último mês de novembro), o hoje clássico de Spike Lee, ganhou lançamento brasileiro com apenas duas cópias 35 mm para todo o território nacional, mesmo sendo um filme indicado ao Oscar de Melhor Roteiro (Lee) e Ator Coadjuvante (Danny Aiello). Talvez algum avanço tenha acontecido aí, com muito espaço ainda para melhorias. Há debates importantes acontecendo, olhares e posturas sendo reformadas em relação à representação e à ação do negro

e da mulher no cinema, algo também notável no maior sucesso de bilheteria do ano nos EUA, Mulher-Maravilha (Wonder Woman, EUA), ter sido dirigido por uma cineasta, Patty Jenkins, algo inédito até então. De qualquer forma, as discussões surgem de filmes e de posturas, e duas artistas mulheres, realizadoras com trajetórias fortes no cinema, foram questionadas exatamente sobre como lidar com a representação da História: Daniela Thomas, em Vazante (Brasil), a partir de uma participação no último Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, encontra percepção semelhante na reação que Sofia Coppola teve à sua revisão de O estranho que nós amamos (The Beguiled, EUA) a partir do filme de Don Siegel de mesmo nome, lançado em 1971. Estaremos projetando as duas versões. Com tantas questões estéticas, políticas, sociais e raciais a partir de filmes em 2017, talvez a melhor coisa seja olhar para o futuro a partir de nossa pequena seleção de curtas-metragens brasileiros, todos lançados ou vistos por esta curadoria este ano. Há claramente novas vozes

surgindo, e o cardápio de ofertas e pontos de vista me parece mais abrangente e rico. Talvez seja o acesso irrestrito e livre de teorias fílmicas e literárias que explique um musical como Dance Your PhD, de Natália Oliveira e o Vogue 4, em que uma tese de doutorado em medicina forense é apresentada em um filme ágil e vibrante, originalmente feito apenas para a internet, mas que exibimos aqui nessa sessão. Deus, de Vinicius Silva, 25 anos, nos informa que “Deus é uma mulher negra”, e ele usa a sua bagagem emocional de homem e negro para – mais uma vez – expressar-se, algo que Gabriel Martins também parece concordar ao nos dar o retrato de uma garota do mundo, mas de Contagem, Minas Gerais, no também poderoso Nada. Há algo de novo no roteiro do cinema, e nós apenas nos sentimos muito bem de poder reproduzir isso nas nossas salas.

Carol Almeida é crítica, pesquisadora e curadora de cinema, doutoranda do programa de pós-graduação em comunicação na UFPE, com foco em estudos sobre o cinema contemporâneo brasileiro. Ministra oficinas sobre representação da mulher nas telas, faz parte do coletivo Elviras – Mulheres Críticas de Cinema, do Mape (Mulheres no Audiovisual Pernambuco) e da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Publica no site Foradequadro.com e escreve esporadicamente para alguns meios de comunicação.

Mediação

Francine Barbosa é roteirista e professora. Dirigiu e escreveu o curta-metragem Cerimônia e foi corroteirista do documentário Cangaíba – Luz e movimento, do curta-metragem A navalha do avô e do longa-metragem A cidade aqui dentro. Criou oficinas de audiovisual nos programas Cine Escola Tela Brasil, Fábricas de Cultura, CulturAção e Programa VAI. Foi coordenadora do Curso Técnico em Direção Cinematográfica da Academia Internacional de Cinema (AIC). Atualmente, desenvolve como roteirista projetos de televisão e cinema voltados ao público adolescente e adulto, ministra aulas de roteiro e atua como parecerista em editais de audiovisual para órgãos estaduais, federais e privados.

José Geraldo Couto é jornalista, crítico de cinema e tradutor. Formado em história e em jornalismo pela USP, trabalhou mais de 20 anos na Folha de S. Paulo e três na revista Set. Publicou, entre outros, os livros André Breton (Brasiliense), Brasil: anos 60 (Ática) e Futebol brasileiro hoje (Publifolha). Organizou e fez as entrevistas do livro Quatro autores em busca do Brasil (Rocco). Participou com artigos e ensaios dos livros O cinema dos anos 80 (Brasiliense), Folha conta cem anos de cinema (Imago) e Os filmes que sonhamos (Lume), entre outros. É sócio-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Ministra regularmente cursos livres voltados para a história do cinema e mantém uma coluna no blog do Instituto Moreira Salles.

Kleber Mendonça Filho trabalhou como responsável pelo setor de cinema da Fundação Joaquim Nabuco por 18 anos e hoje é curador do cinema do IMS. Escreveu para o Jornal do Commercio, no Recife, para seu site CinemaScópio, para as revistas Continente e Cinética e para o jornal Folha de S.Paulo. É também diretor artístico do festival Janela Internacional de Cinema do Recife, já em sua décima edição. Seu primeiro longa-metragem de ficção, O som ao redor (2012), foi representante brasileiro no Oscar 2014. Em 2017, seu segundo longa, Aquarius, atingiu 360 mil espectadores em seu lançamento comercial. É desde 2017 membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.


Tudo acontece Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), Chantal Akerman Fábio Andrade

O livro escrito pela acadêmica e pesquisadora brasileira Ivone Margulies sobre a obra da cineasta belga Chantal Akerman, recentemente editado no Brasil pela Edusp1, traz em seu título uma síntese do estado de espírito requisitado ao espectador por um filme como Jeanne Dielman (Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles): nada acontece. Há, no título do livro, um chiste com o tom jocoso facilmente aplicado aos filmes de Chantal Akerman, que, na secura de seu minimalismo, podem gerar a impressão de ser narrativas – muitas vezes longas, como aqui – ou composições plásticas nas quais nada acontece. Mas há, também, um segundo sentido contido no título

do livro: mesmo o nada é algo que acontece. Guardados todos os pressupostos políticos e ideológicos que determinam, para cada espectador, o que é algo e o que é nada, até esse nada toma tempo e espaço, ocorre em lugar específico (no caso de Jeanne Dielman, um endereço no título original que pode ser buscado com exatidão no Google Maps) e age sobre alguém. Essa percepção de Margulies, desdobrada de maneira muito rica em seu livro, é tão valiosa por apontar o movimento primordial feito por Chantal Akerman no seu mais célebre filme: promover uma profunda reavaliação das escalas. Ao dedicar tempo e atenção à rotina de Jeanne (Delphine Seyrig), esquadrinhada como uma operação tática de guerra ou como uma autópsia etnográfica, a cineasta condensa a expectativa do espectador a uma outra medida de percepção. Na musicalidade com que se descascam batatas, se lavam axilas ou se arrumam camas, Jeanne Dielman na verdade revela-se um filme de ação ininterrupta, cujas pequeníssimas variações ganham enorme peso dramático: tudo

acontece. Esse sentimento seria literalmente condensado três décadas depois pela grande artista Louise Bourgeois: “O que você fez ao longo de 20 anos? Você jogou seu tempo fora. A mulher que perdeu toda a sua vida, ela cozinhou, limpou a casa, costurou, lavou, cuidou da escada, das janelas, do chão, do peixe e da sopa.”2 Tamanha mudança de escala promove um encontro entre o deslocamento do heroísmo para o homem comum, do Ulysses (1922), de James Joyce, com a perspectiva de um inventário espacial feminista de Virginia Woolf em Um teto todo seu (1929). Se Ulysses é, ainda, uma cartografia de Dublin, com seus cafés, praças e portos, Jeanne Dielman é uma exploração da potência de um endereço, dos sonhos e traumas que se inscrevem nas paredes, sempre pressionadas pelo fora de campo. Esse fora de campo, aqui, carrega o peso da guerra, dos pais e marido mortos, da identidade judaica em apagamento, das expectativas e demandas da vida por vir de seu filho. Em 23, Quai du Commerce, está impresso o século XX, pois “basta que

entremos em qualquer cômodo de qualquer rua para que essa força extremamente complexa da feminilidade nos salte aos olhos por inteiro. E como poderia ser de outro modo? Pois as mulheres têm permanecido dentro de casa por todos esses milhões de anos, de modo que a essa altura as próprias paredes estão impregnadas por sua força criadora, que, de fato, sobrecarregou de tal maneira a capacidade dos tijolos e da argamassa que deve precisar atrelar-se à caneta e pincéis e negócios e política”, escreveu Woolf. Ao fim da sessão, o espectador talvez seja capaz de descrever o cheiro e desenhar a planta baixa daquele apartamento (uma primeira surpresa, quando Jeanne e o filho saem de casa: um elevador! É um apartamento, não uma casa!), pois o filme lhe confere o privilégio de, simultaneamente, habitá-lo e observá-lo de fora. Esse estranho equilíbrio se dá porque a câmera de Akerman perscruta esses espaços de maneira ao mesmo tempo detalhada e distante, com a ambiguidade do registro científico e do recalcamento coletivo, cego e surdo à disritmia do

moedor de carne que sustenta a aparente estabilidade do cotidiano. A fatura vem na infiltração progressiva desse cotidiano com um verdadeiro sentido de tragédia. “Quando ela bate com o copo de leite na mesa, e você pensa que o leite pode derramar, isso é tão dramático quanto um assassinato”, dizia Akerman. À medida que disrupções ditam uma outra percussão nessa coreografia emudecida, o filme de ação se torna filme de suspense. À primeira vista talvez reiterativo, Jeanne Dielman na verdade aplica, de maneira extremamente econômica, uma lógica de modulações – tão cara ao minimalismo quanto à cultura tradicional judaica – calcada em repetição e diferença. Não retornamos às mesmas ações da mesma maneira; há sempre uma pequena variação nas tarefas cotidianas, que sedimentam essa revolução imperceptível. A duração faz-se proposição fundamental, pois as transformações – esse grande agente narrativo que encontra na imagem em movimento território privilegiado, seja num filme da Pixar ou nos retratos filmados de Andy Warhol – sempre ocorrem no tempo, acumulando

como poeira nos batentes. Na redução de escala proposta, e levada às últimas consequências por Akerman, o diabo se instaura nos mais ínfimos detalhes. Para alcançar esse nível de ambiguidade propositiva, a diretora promove uma combinação surpreendente entre narrativa e rarefação; compaixão e estoicismo; Bresson e Minelli; Hitchcock e Michael Snow. Se a obra de Akerman é um grande compêndio de gêneros e registros do cinema – do documentário à ficção; do cinema estruturalista à comédia musical –, Jeanne Dielman parece absorver e ressignificar toda essa vida de paixão pelas imagens e pela música das imagens, mudando o cinema dali por diante, e dali para trás. O cinema é um só e, na solidão esgarçada de Jeanne Dielman, ele encontra um dos mais belos e completos reflexos em sua curta história.

1 Nada acontece: o cotidiano hiper-realista de Chantal Akerman. São Paulo: Edusp, 2016. 2 Hours of the Day. Nova York: Carolina Nitsch/ Lison, 2006.


filmes Projeções 2017 Ford), blade runner aposentado da polícia de Los Angeles. Em um filme de US$ 150 milhões que não foi um êxito comercial, Villeneuve trabalha numa chave respeitosa com a mística criada em torno do primeiro filme, mas termina fazendo um esforçado reboot que parece repetir o mesmo tipo de recepção dividida do filme de 1982. Os sets e a fotografia de Roger Deakins são algo de especial.

Corpo elétrico

Marcelo Caetano | Brasil | 2017, 94’, DCP

Bingo - O rei das manhãs

Daniel Rezende | Brasil | 2017, 113’, DCP

Montador experiente (foi indicado ao Oscar por Cidade de Deus), Daniel Rezende faz sua estreia na direção de longas-metragens neste que é o candidato brasileiro ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. Augusto (Vladimir Brichta) é um artista que sonha com seu lugar sob os holofotes. A grande chance surge ao se tornar Bingo, um palhaço apresentador de programa infantil na televisão. Porém, uma cláusula no contrato não permite revelar quem é o homem por trás da máscara. O filme é livremente inspirado na vida de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo no programa matinal homônimo exibido no SBT durante os anos 1980.

Blade Runner 2049

Blade Runner 2049 Denis Villeneuve | EUA | 2017, 163’, DCP

35 anos após os acontecimentos do primeiro filme dirigido por Ridley Scott, um novo caçador de androides, K (Ryan Gosling), descobre um segredo genético. Com essa descoberta, ele se vê numa missão para encontrar Deckard (Harrison

Como nossos pais

Laís Bodanzky | Brasil | 2017, 102’, DCP

Blade Runner - O caçador de androides Blade Runner Ridley Scott | EUA | 1982, 117’, DCP

Da paisagem aérea de uma Los Angeles icônica que existe apenas neste filme à trilha sonora poderosa de Vangelis, Blade Runner gerou dezenas de outros filmes nos últimos 35 anos. Oferecemos a oportunidade de (re)ver este filme imperfeito, mas sempre a ser (re)descoberto, lado a lado com a sua sequência, Blade Runner 2049, de Denis Villeneuve. A versão que o IMS exibe é a final cut, lançada em 2007, a única na qual Scott teve total controle artístico. Nesta versão remasterizada em 4K, o diretor incluiu cenas que haviam sido cortadas das versões anteriores.

Rosa é uma mulher que quer ser perfeita em todas suas obrigações: como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Quanto mais tenta acertar, mais tem a sensação de estar errando. Quarto longa-metragem de Laís Bodanzky, Como nossos pais estreou mundialmente em fevereiro na mostra Panorama do Festival de Berlim. Pouco antes de entrar em cartaz no Brasil, ganhou sete prêmios no Festival de Gramado, incluindo Melhor Filme, Direção e Atriz. “Minha ideia era mostrar que, mesmo num lugar de pessoas muito esclarecidas, existe uma certa opressão invisível sobre a mulher contemporânea”, explicou Bodanzky ao site AdoroCinema. [a entrevista completa pode ser vista em bit.ly/lais-cnp]

Corpo elétrico talvez seja o abre-alas de uma nova safra de filmes brasileiros em que o trabalhador/ operário é personagem central (Arábia, Baronesa, As boas maneiras). Corpo elétrico foi exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Roterdã, na Holanda, no início do ano, e tem seguido carreira internacional notável, paralela ao lançamento nos cinemas brasileiros. No filme, o verão está chegando, e Elias tem sonhado muito com o mar. Na fábrica em que trabalha, as responsabilidades aumentam à medida que o fim de ano se aproxima. Ele tenta equilibrar seu cotidiano entre o trabalho em uma fábrica de roupas e encontros casuais com outros homens.

de Chris, um jovem fotógrafo afro-americano que visita a casa da família de sua namorada branca. No decorrer do fim de semana, ele será confrontado por uma série de descobertas perturbadoras apresentadas por uma câmera que sugere fortes laços com Roman Polanski. Nas palavras de Juliano Gomes, da revista Cinética, é “um marco na história do cinema americano” e “um estudo sobre a sobrevivência da escravidão na América neoliberal pós-2008”. [Texto na íntegra em: goo.gl/rRhB2s]

estúdio Warner. Ele fez questão de filmar Dunkirk em película, muito embora nenhuma cópia em película deste filme tenha chegado ao Brasil. Propomos um diálogo entre Dunkirk e o soviético Vá e veja (1985). Cobrem uma mesma época histórica, mas em lados opostos da Europa.

O estranho que nós amamos Dunkirk

Dunkirk Christopher Nolan | EUA, França, Reino Unido, Holanda | 2017, 120’, DCP

Corra!

Get Out Jordan Peele | EUA | 2017, 104’, DCP

Corra! foi recentemente indicado na categoria Comédia pelo Globo de Ouro. O diretor Jordan Peele prontamente respondeu, via Twitter, que o filme “é um documentário”. Peele filma a história

Durante a Segunda Guerra, nas praias de Dunquerque, centenas de milhares de soldados das forças aliadas são cercados pelo exército alemão. O filme acompanha o resgate desses soldados por terra, água e ar. O tom é mais próximo de um ensaio do que o de uma narrativa tradicional, muito embora siga a tradição da lógica da guerra no cinema ocidental. Christopher Nolan goza de uma rara liberdade criativa e orçamentária trabalhando para o

The Beguiled Sofia Coppola | EUA | 2017, 94’, DCP

Um soldado da União, ferido em combate durante a Guerra de Secessão, acaba encontrando refúgio num internato para mulheres localizado em território confederado. O caos instala-se. A releitura de Coppola é esbelta, preferindo não incluir a escravidão, o sexo e o horror, numa fábula de apertados espartilhos.


de imagens dos movimentos pelos direitos civis e do Black Power, conectando essas lutas históricas por justiça e igualdade com os movimentos atuais que ainda clamam os mesmos direitos.

Joaquim

Historietas assombradas - O filme O estranho que nós amamos The Beguiled Don Siegel | EUA | 1971, 105’, DCP

Um soldado da União, ferido em combate durante a Guerra de Secessão, acaba encontrando refúgio num internato para mulheres localizado em território confederado. O caos instala-se. A versão de Siegel lançada em 1971 é um produto inconfundível da sua época, quando o cinema americano avançava em territórios novos e sem cintos de segurança. Escravidão, horror e erotismo numa luta sanguinária pelo poder masculino/feminino. Uma fábula de terror, a força de mulheres e uma desconstrução de Clint Eastwood. Para ser visto com a versão soft de 2017 de Sofia Coppola.

Marcelo Gomes | Brasil | 2017, 102’, DCP

Victor-Hugo Borges | Brasil | 2017, 90’, DCP

Eu não sou seu negro

I Am Not Your Negro Raoul Peck | EUA, França, Bélgica, Suíça | 2016, 93’, DCP

Em entrevista à National Public Radio, o diretor Raoul Peck disse: “Como uma pessoa negra e do terceiro mundo, eu não tenho a minha própria narrativa contada nesse meio que é o cinema. Desde o seu início, outras pessoas têm contado a história. Então, para mim, ser cineasta também significa tentar salvar parte da nossa memória, parte das nossas imagens, parte das nossas histórias. Eu considerei que uma das minhas responsabilidades era garantir que não estivéssemos invisibilizados no filme.” Narrado por Samuel L. Jackson, o documentário constrói uma reflexão sobre ser negro nos EUA. Em 1979, James Baldwin iniciou seu último livro, Remember This House, relatando as vidas e os assassinatos dos líderes ativistas que marcaram a história social e política americana: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr. O manuscrito inacabado foi confiado ao diretor haitiano Raoul Peck, que combina o material com um rico arquivo

Fragmentado

Split M. Night Shyamalan | EUA | 2017, 117’, DCP

Autor do cinema americano que já teve liberdade para gerir orçamentos gigantescos, M. Night Shyamalan (O sexto sentido, A vila, A dama na água) revitaliza sua carreira após uma série de filmes caros que não tiveram sucesso comercial. Feito por apenas (na língua de Hollywood) US$ 9 milhões, Fragmentado tornou-se um dos maiores êxitos de Shyamalan. Kevin (James McAvoy) possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra num estacionamento. O filme vem com o tipo de virada final que ajudou a dar fama comercial a Shyamalan. É bem feito e divertido.

Victor-Hugo Borges já havia feito um curta-metragem e uma série para a televisão com os mesmos personagens deste filme. Agora chega com vigor ao ainda incipiente mercado brasileiro de longas-metragens de animação. Pepe é um menino de 12 anos que mora com sua avó, uma bruxa-empresária. Após descobrir que é adotado e que seus pais estão vivos, ele decide sair em busca deles, mas assim acaba atraindo a atenção de Edmundo, um vilão biomecânico. A exibição do filme será seguida de um debate com diretor.

It – A coisa

It Andy Muschietti | EUA | 2017, 135’, DCP

Quando crianças começam a desaparecer misteriosamente na pequena cidade de Derry, no estado do Maine, um grupo de adolescentes é obrigado a enfrentar seus maiores medos ao desafiar um palhaço (o segundo da nossa seleção 2017 do IMS) maligno chamado Pennywise. O renascer de Stephen King no cinema num filme que foi adotado como retrato da América de Trump.

Exibido na competição oficial do Festival de Berlim 2017, Joaquim traz olhar incomum para a figura histórica de Tiradentes. Ao abordá-lo, Marcelo Gomes mescla situações fictícias com relatos históricos para retratar um homem comum, com seus defeitos, contradições e medos. “A coisa que não compreendo é: como esse cara, que vivia no Brasil colonial, cruel, terrível, desumano, que matava os índios, que escravizava os africanos, como ele, que trabalhava para a coroa portuguesa como um soldado, decidiu mudar seu paradigma e se tornar um revolucionário”, explicou o cineasta à Agência EFE.


O ornitólogo Mãe!

Mother! Darren Aronofsky | EUA | 2017, 121’, DCP

Um casal leva uma vida tranquila em uma casa de campo. Ela (Jennifer Lawrence) quer um bebê, ele (Javier Barden) é poeta, mas sofre de bloqueio criativo. A relação dos dois é testada por um visitante inesperado (Ed Harris). Mãe! dividiu opiniões de crítica e público em 2017. Para uns, é brilhante e audacioso, para outros, histérico e afetado. Acreditamos que, como cinema de gênero feito por estúdio, Mãe! é um filme incomum, e um exercício e tanto.

João Pedro Rodrigues | Portugal, França, Brasil | 2016, 118’, DCP

Martírio

Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho e TitaBrasil, 2016. 162’. Exibição em DCP

A grande marcha de retomada dos territórios sagrados dos Guarani-Kaiowá pelas filmagens de Vincent Carelli, que registrou o nascedouro do movimento na década de 1980. Vinte anos mais tarde, tomado pelos relatos de sucessivos massacres, Carelli busca as origens desse genocídio, fazendo um grande apanhado histórico que remonta às origens da colonização portuguesa no Brasil. Um dos documentários mais comentados do ano. “Todo dia bate à porta das nossas consciências, através das redes sociais, a notícia de um assassinato brutal, de um violento despejo”, declara Vincent Carelli. “Do outro lado, na grande imprensa, nas sentenças judiciais, nos discursos dos lobistas do agronegócio, vemos a ignorância ou a omissão total da história, a inversão cínica de papéis se apropriando da palavra ‘resistência’, frente ao suposto ‘terrorismo’ dos índios.”

Moonlight: sob a luz do luar Moonlight Barry Jenkins | EUA | 2016, 110’, DCP

Barry Jenkins filma um personagem que é visto três vezes (infância, adolescência e idade adulta). Parte do sucesso desse relato vem da qualidade humana de cada uma das três partes, que relatam aspectos da vida do homem negro nos EUA hoje a partir de relações familiares, dos modelos de masculinidade e identidade sexual. Um Oscar de Melhor Filme ajudou o filme a ser descoberto em multiplexes de todo o mundo.

Mulher-Maravilha

Wonder Woman Patty Jenkins | EUA | 2017, 141’, DCP – exibição em 3D

Diana, princesa das Amazonas na desconhecida ilha de Themyscira, descobre que um grande conflito assola o mundo quando um piloto americano cai com seu avião nas areias da costa. Convencida de que é capaz de vencer a ameaça de destruição, Diana deixa a ilha e descobre todos os seus poderes. Mulher-Maravilha quebrou recordes de bilheteria em 2017. Entre os filmes dirigidos apenas por mulheres, é o mais bem-sucedido de todos os tempos. É o melhor resultado entre os filmes do chamado “Universo Estendido da DC Comics”, que engloba super-heróis como Batman e Superman. Patty Jenkins também comandará a continuação deste filme, tornando-se a diretora mais bem paga da história, segundo a revista Variety.

Os filmes de João Pedro Rodrigues se destacam na cinematografia portuguesa pós-João César Monteiro e Manoel de Oliveira e parecem ir além do rótulo cinema queer, muito embora tragam em vários deles o fetiche e as questões de gênero e sexualidade. As imagens de João Pedro ganham a larga expansão confirmada em O ornitólogo, em que pela primeira vez o diretor trabalha em tela larga CinemaScope. Esse filme de aventura rio abaixo e floresta adentro mantém sua origem luso-ibérica em cada quadro, e enriquece essa filmografia única, cuja escrita deve ser descoberta sempre.

Rifle

Davi Pretto | Brasil | 2016, 88’, DCP

Exibido este ano na mostra Fórum do Festival de Berlim, Rifle já havia ganhado no ano passado os prêmios de Melhor Filme do Júri da Crítica, Melhor Roteiro e Melhor Som do Festival de Brasília, além de Melhor Filme do 12º Panorama Internacional Coisa de Cinema. Para o diretor Davi Pretto, Rifle “é um filme sobre identidade, em um contexto de interior esvaziado, pós-êxodo rural, no qual permanecer no campo é um ato de resistência diário, em que todos os detalhes do cotidiano empurram as pessoas pra fora dessa região para irem pra cidade. Por causa disso, acaba sendo também um filme sobre violência. Não só a violência física, mas a violência silenciosa do capitalismo expansionista descontrolado, do progresso, da mecanização em massa que apaga o trabalho manual do ser humano, da ideia de ser alguém na vida.” [Entrevista na íntegra no Vertentes do Cinema: goo.gl/mcmkNK]


Projeções 2017 – Curtas O Cinema do IMS fez uma pequena seleção de curtas-metragens brasileiros que se destacaram durante o ano por sua qualidade e inventividade. Coincidentemente ou não, são filmes em que as questões raciais, de gênero e sexualidade estão fortemente presentes.

Toni Erdmann

Deus

Toni Erdmann Maren Ade | Alemanha, Áustria | 2016, 162’, DCP

O professor de música Winfried não vê muito sua filha Ines, uma executiva dedicada. Ao ver-se repentinamente sem alunos, decide surpreendê-la com uma visita. Há lembranças possíveis dos dentes e narizes postiços de Peter Sellers, do Tony Clifton de Andy Kaufman, da comédia de tensões extremas que sugerem a contraposição da arte contra as rígidas imposições de mercado. Uma comédia, um drama familiar e uma performance art. Uma refilmagem norte-americana já está a caminho, fala-se que com Jack Nicholson e Kristen Wiig nos papéis principais.

Vinícius Silva | Brasil | 2017, 25’, DCP

Vazante Vá e veja

Idi i smotri Elem Klimov | União Soviética | 1985, 142’, DCP

Florya, um garoto de 12 anos, perambula pela terra arrasada da Bielorrússia sob a invasão nazista. Ele afunda numa atmosfera de horror e pouco parece entender. Vá e veja oferece a visão soviética da Segunda Guerra Mundial, diferente em tom do que o cinema americano normalmente explora. O fato de a obra de Klimov ser relativamente obscura no ocidente nos diz muito sobre o peso político do cinema, muito embora o filme e suas ideias tenham deixado marcas em Império do sol (Empire of the Sun, 1987) e O resgate do soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998), ambos de Steven Spielberg. Projetado em cópia restaurada que estreou no último Festival de Veneza.

A rotina de Roseli, mulher negra da periferia de São Paulo que cuida sozinha do seu filho, Breno. Melhor curta-metragem brasileiro no Janela Internacional de Cinema do Recife.

Daniela Thomas | Brasil | 2017, 116’, DCP

Retrato duro de um período muito específico do Brasil colonial e da escravidão, Vazante chegou aos cinemas num momento em que as discussões sobre raça e representatividade negra no cinema estão aguçadas. Dentre as diversas questões suscitadas pelo filme e pelos vários acalorados debates em torno dele, uma se sobressai: a representação das pessoas escravizadas aqui é uma confirmação ou uma reiteração da violência do período?

Dance seu PHD 2017 - Pop, dip e spin: O legendário biosensor para ciências forenses. Dance Your PhD 2017 - Pop, Dip and Spin: The Legendary Biosensor for Forensic Sciences Natália Oliveira e William Oliveira | Brasil | 2017, 5’, digital

O concurso Dance seu PhD, realizado há 10 anos pela revista Science como uma forma de disseminar o conhecimento científico para além da academia, foi vencido este ano, na categoria Júri Popular, por este curta-metragem que utiliza um esquadrão de dançarinos do grupo Vogue 4 Recife para demonstrar a utilização de biossensores para as ciências forenses. A técnica é tema do projeto de doutorado de Natália Oliveira na UFPE.

Nada

Gabriel Martins | Brasil | 2017, 27’, DCP

O final do ano aproxima-se e, com ele, o Enem. A escola e os pais de Bia pressionam para que ela decida o curso no qual vai se inscrever. Bia, no entanto, não quer fazer absolutamente nada. Seleção Oficial da Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes.

A passagem do cometa

Juliana Rojas | Brasil | 2017, 20’, DCP

1986. Na sala de espera de uma clínica, a recepcionista, uma paciente e uma acompanhante aguardam a passagem do cometa Halley, enquanto a médica enfrenta dificuldades com um dos procedimentos. Seleção Oficial do Festival de Brasília.

Travessia

Safira Moreira | Brasil | 2017, 5’, DCP

Travessia parte da busca pela memória fotográfica das famílias negras e assume uma postura crítica. Prêmio de Melhor Curta-Metragem no Cachoeiradoc. Na 9ª Semana, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri, Prêmio de Melhor Curta-Metragem do Júri de estudantes de audiovisual e prêmio especial do Júri da Crítica.

Vando vulgo vedita

Andréia Pires, Leonardo Mouramateus | Brasil | 2017, 20’, DCP

Vando (vulgo Vedita) não é visto faz um tempo nas ruas da Barra. Prêmio de Melhor Curta-Metragem na Mostra de Tiradentes.


Filmes em cartaz

Os Filmes de Jean-Pierre Melville durante a viagem. Aí encontrei uma reportagem que ela escreveu sobre a viagem, em forma de diário, para a revista O Cruzeiro. Fiquei muito impressionado com a comoção dela diante de tudo o que viu lá. Minha mãe e a Revolução Cultural são opostos absolutos, seria fácil imaginar uma reação dogmática. Mas não, ela ficou deslumbrada com aquilo. E eu fiquei tocado com esse deslumbramento dela e com a intensidade com que ela o descreveu, porque minha mãe foi perdendo isso com o tempo.” [Leia a entrevista completa de João Moreira Salles para O Globo: goo.gl/CD8o3C]

Meu corpo é político

Alice Riff | Brasil | 2017, 72’, DCP

O cotidiano de quatro pessoas LGBT que vivem na periferia de São Paulo: Linn da Quebrada, artista e professora de teatro, Paula Beatriz, diretora de escola pública no Capão Redondo, Giu Nonato, jovem fotógrafa em fase de transição, e Fernando Ribeiro, estudante e operador de telemarketing. Nas palavras de Alice Riff, o filme pretendia criar “uma possibilidade para pessoas verem imagens que elas não estão acostumadas a ver. Um exemplo é a Paula, que ocupa uma função de poder dentro de uma escola pública. Através desse ato banal de ela assinar os papéis, é como se o ordinário virasse extraordinário, porque é raro ela – como mulher negra trans – estar naquele lugar, é uma coisa que você nunca viu sendo retratada. Queríamos que pessoas trans vissem nessas imagens outras referências, diferentes das que a tevê produz diariamente.” Meu corpo é político estreou este ano no Festival Visions du Réel. Foi exibido também na Competição de Direitos Humanos do Bafici – Festival de Cinema Independente de Buenos Aires, no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e ganhou o Prêmio Olhares Brasil no festival Olhar de Cinema.

O silêncio do mar No intenso agora

João Moreira Salles | Brasil | 2017, 127’, DCP

Feito a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China em 1966, durante a fase inicial da Revolução Cultural, No intenso agora investiga a natureza de registros audiovisuais gravados em momentos de grande intensidade. Às cenas da China, somam-se imagens dos eventos de 1968 na França, na Tchecoslováquia e, em menor quantidade, no Brasil. As imagens, todas elas de arquivo, revelam o estado de espírito das pessoas filmadas e também a relação entre registro e circunstância política. O ponto de partida do filme foram imagens captadas pela mãe do diretor, encontradas por ele na época da finalização de Santiago (2007). “Eu precisava de imagens da casa onde minha família morou, na Gávea, e pedi a alguém para procurar”, conta João Moreira Salles em entrevista ao jornal O Globo. “Encontramos as imagens, mas eu não sabia direito o que eram, qual o sentimento dela

24 horas na vida de um palhaço

Le Silence de la mer Jean-Pierre Melville | França | 1949, 88’, DCP

Em seu filme de estreia e no duplo papel de realizador-produtor, Jean-Pierre Melville retrata o universo de dois palhaços do circo Medrano, muito célebres nos anos 1940, Béby e Maïss. Este é o único curta-metragem na filmografia de Melville, que afirma a origem do seu amor pelo circo em relação ao cinema: “Desse amor, guardei uma amizade, o palhaço Béby, que era então o maior palhaço vivo”. Béby também fez parte do elenco do primeiro filme de Robert Bresson, o média Les Affaires Publiques (1934).

O tenente Werner von Ebrennac, um dos líderes da ofensiva nazista que invadiu e ocupou o território francês durante a Segunda Guerra Mundial, é alojado em um pequeno vilarejo, na casa em que um homem francês de meia-idade vive com sua sobrinha. Lá, o tenente poderá ficar o tempo que quiser até o fim da ocupação, mas os dois franceses se recusam a lhe dirigir a palavra. Primeiro longa-metragem dirigido por Jean-Pierre Melville, o filme é baseado na obra homônima de Jean Brullers, publicada clandestinamente em 1942 sob o pseudônimo Vercors. A história foi filmada na casa do escritor.

24 heures de la vie d’un clown Jean-Pierre Melville | França | 1946, 18’, DCP

Bob, o jogador

Bob le flambeur Jean-Pierre Melville | França | 1955, 104’, DCP

Em decadência financeira, Bob, um velho gângster viciado em jogos, decide roubar um cassino em Deauville, mas a polícia descobre seus planos. Um dos filmes mais cultuados de Melville, e sua entrada no gênero policial. O diretor encontra aqui uma de suas grandes paixões: o filme de gângsteres à americana, transpondo esse universo para o cenário francês, em uma obra que Godard mencionaria mais tarde em Acossado (1960).


Sessão Cinética

Sessões especiais La Bohème

La Bohème Enrico Castiglione | Itália | 2017, 134’, DCP

Nos subúrbios de Paris de 1830, o poeta Rodolfo e seus amigos artistas não possuem dinheiro para pagar o aluguel, mas sonham com fama e sucesso. Um dia, a costureira Mimi bate à sua porta. Ópera em quatro atos de Giacomo Puccini filmada no antigo teatro grego de Taormina, na Itália, com regência do maestro Li Xincao.

No clima de Melville O exército das sombras Léon Morin, o padre

Léon Morin, prêtre Jean-Pierre Melville | França, Itália | 1961, 130’, DCP

A viúva Barny vive com a pequena filha France e é militante do partido comunista durante a Segunda Guerra Mundial. Quando os alemães chegam, ela envia France a uma fazenda e se dirige à paróquia para confrontar o padre Morin com a ideia da inexistência de Deus. Contudo, a reação do padre a surpreende. Barny e Morin são interpretados por Emmanuelle Riva e Jean-Paul Belmondo.

L’Armée des ombres Jean-Pierre Melville | França, Itália | 1969, 150’, DCP

Em 1942, as tropas alemãs invadem e ocupam todo o território da França. Começando em outubro de 1942, o filme acompanha vários meses na vida de alguns combatentes congregados em torno de Phillipe Gerbier, um sossegado engenheiro civil que, na realidade, é um dos maiores líderes da Resistência. Adaptação do romance homônimo de Joseph Kessel sobre a Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, O exército das sombras é o terceiro filme de Melville a abordar a ocupação nazista, após O silêncio do mar e Léon Morin, o padre. A adaptação de Melville, ele próprio um antigo partisan, aborda a condição dos resistentes, sujeitos a uma solidão física e moral e assolados pelo medo da traição.

In the Mood for Melville Benjamin Clavel | França | 2017, 58’, digital

Com 14 filmes realizados ao longo de 25 anos de carreira, Jean-Pierre Melville tornou-se uma lenda internacional. Neste documentário, Benjamin Clavel aborda a carreira do cineasta desde a nouvelle vague, da qual é um dos precursores, até a influência que exerceu sobre outros diretores, como Martin Scorsese e Quentin Tarantino.

Jeanne Dielman

Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles Chantal Akerman | Bélgica | 1975, 200’, DCP

Chance rara de ver em tela grande este filme que sempre irá reverberar como obra de enorme influência no próprio cinema (Apichatpong Weerasethakul, Gus Van Sant e Pedro Costa, para citar apenas três). Jeanne Dielman é o retrato de uma solitária viúva de meia-idade que mora com seu filho adolescente. Acompanhamos seus afazeres de mãe, dona de casa e também suas ações tranquilas na prostituição. O segundo longa-metragem de Chantal Akerman foi lançado quando ela tinha apenas 25 anos. Após a sessão do dia 16 de dezembro, haverá um debate com os críticos da revista Cinética.

1395 Days without Red

Bósnia-Herzegovina, Reino Unido | 2011, 44’, DCP

O filme mostra a Orquestra Filarmônica de Sarajevo praticando o primeiro movimento da Sinfonia patética, a sexta e última composta por Tchaikovsky, em 1893. Ao mesmo tempo, uma musicista atravessa a cidade sitiada a caminho do ensaio. O filme faz referência aos 1395 dias do cerco de Sarajevo, entre 5 de abril de 1992 e 29 de fevereiro de 1996, durante a guerra da Bósnia-Herzegovina, quando vestir roupas vermelhas e brilhantes era extremamente perigoso por atrair a atenção dos franco-atiradores. 1395 Days without Red faz parte da exposição Anri Sala: o momento presente, em cartaz no IMS Paulista até o dia 25 de março. Um filme de Anri Sala em colaboração com Liria Bégéja, a partir de um projeto de Šejla Kamerić e Anri Sala em parceria com Ari Benjamin Meyers © Anri Sala, Šejla Kamerić, Artangel, SCCA/2011.


Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho Produção de cinema e DVD Barbara Alves Rangel

Os filmes de Jean-Pierre Melville Organização e realização:

Assistência de produção Thiago Gallego e Ligia Gabarra Apoio:

Cineteatro Ingressos para Blade Runner, o caçador de androides, O estranho que nós amamos (1971), Jeanne Dielman, Sessão de Curtas, Vá e veja e mostra Os filmes de Jean-Pierre Melville: R$ 8 / R$ 4 (meia). Debate Projeções 2017: entrada gratuita – senhas distribuídas 30 minutos antes do evento. Mulher-Maravilha – Exibição em 3D: R$ 30 / R$ 15 (meia). 1395 Days Without Red: exibição gratuita. Para as demais sessões: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).

Agradecimentos: Graham Fulton e Nia Baxter (Park Circus), Virginie Retica (Cinémathèque Royale), Raphaël Ceriez e Thomas Sparfel (Cinemateca da Embaixada da França), Olga Karavayeva (Mosfilm).

Meia-entrada com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes e maiores de 60 anos.

Cliente Itaú desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares. Ingressos disponíveis também em ingresso.com. Devolução de ingressos em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso. com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Confira a programação completa do Instituto Moreira Salles em nossas redes sociais e no nosso site ims.com.br.

Nada, de Gabriel Martins (Brasil | 2017, 27’)


Terça a sábado, sessões de cinema até as 22h; domingos, até as 20h. Visitas mediadas quintas-feiras, das 12h30 às 13h30. Visitas em grupo com agendamento prévio, de terça a sexta, às 10h e 14h; quintas, às 19h. Biblioteca, de terça a sexta, das 10h às 20h; sábados e feriados, das 10h às 18h. Entrada gratuita.

InstitutoMoreiraSalles Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista - São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br

ims.com.br /institutomoreirasalles @imoreirasalles Vá e veja (Idi i smotri), de Elem Klimov (União Soviética | 1985, 142’)

@institutomoreirasalles /imoreirasalles /institutomoreirasalles


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