destaques de dezembro
Uma seleção especial de filmes restaurados em 4K do diretor José Mojica Marins chega ao cinema do IMS Poços, encerrando a programação de 2024 e se estendendo aos primeiros meses de 2025. Além da clássica trilogia de Zé do Caixão, a mostra também inclui obras com o personagem Finis Hominis, interpretado pelo próprio Mojica, apresentado como um “anti-Zé do Caixão”. O programa especial México Macabro: 1958-1961 destaca filmes de terror produzidos no México no mesmo período em que Mojica criava suas obras mais marcantes. Nos dois episódios finais de Small Axe (2020), Steve McQueen explora a superação de um sistema educacional britânico opressor para crianças negras, seguido por um emocionante reencontro com a comunidade preta de Brixton. Novamente repleto de contornos musicais, esse momento oferece um caminho de cura aos personagens inspirados na vida real. Também em cartaz, o mais recente trabalho do diretor mauritano Abderrahmane Sissako, além de produções de brasileiros como Sérgio de Carvalho, Juru e Vitã, entre outros.
Em parceria com o Sesc Poços de Caldas, o Cinema do IMS recebe duas sessões de curtas-metragens, exibindo obras de diversos territórios do estado de Minas Gerais. A programação faz parte da Mostra Sesc de Cinema, e as sessões oferecem uma oportunidade única de conhecer produções contemporâneas e diversificadas do cinema nacional. Para mais informações sobre a programação, acesse o site cinema.ims.com.br.
(China, França, Luxemburgo, Taiwan, Mauritânia | 2024, 110’, DCP)
[imagem da capa]
Esta noite encarnarei no teu cadáver, de José Mojica Marins (Brasil | 1967, 108’, DCP, restauração 4K)
(Brasil | 2020, 90’, DCP)
Filmes em cartaz
Histórias ocupadas: Steve McQueen
Antes que me esqueçam, meu nome é Edy Star – O filme
Fernando Moraes | DCP
Black tea – O aroma do amor
Abderrahmane Sissako | DCP
Empate
Sérgio de Carvalho | DCP
Salão de baile – This is Ballroom
Juru e Vitã | DCP
Small Axe: Alex Wheatle
Steve McQueen | DCP
Small Axe: Education
Steve McQueen | DCP
José Mojica Marins Restaurado
À meia-noite levarei sua alma
José Mojica Marins | DCP, restauração 4K
Esta noite encarnarei no teu cadáver
José Mojica Marins | DCP, restauração 4K
O estranho mundo de Zé do Caixão
José Mojica Marins | DCP, restauração 4K
Mostra Sesc de Cinema
filmes, sinopses e programação no IMS Poços em cinema.ims.com.br
México Macabro: 1958-1961
Mistérios de além-túmulo
(Misterios de Ultratumba)
Fernando Méndez | DCP, restauração 2K
19:00 Black tea - O aroma do amor (110')
19:00 Empate (90')
19:00 Mostra Sesc de Cinema
19:00 Mostra Sesc de Cinema
19:00 À meia-noite levarei sua alma (81')
19:00 Antes que me esqueçam, meu nome é Edy StarO filme (94')
19:00 Salão de baileThis is Ballroom (94')
19:00 Salão de baileThis is Ballroom (94')
19:00 Antes que me esqueçam, meu nome é Edy StarO filme (94') 7
16:00 O estranho mundo de Zé do Caixão (76'), seguida de debate com Carlos Primati e Paulo Sacramento e mediação de Crounel Marins
19:30 Mistérios de além-túmulo (82') 14
16:00 Black tea - O aroma do amor (110')
19:00 Antes que me esqueçam, meu nome é Edy StarO filme (94')
21
16:00 Salão de baileThis is Ballroom (94')
19:00 Esta noite encarnarei no teu cadáver (108')
16:00 Empate (90')
18:30 Salão de baileThis is Ballroom (94') 15
16:00 Antes que me esqueçam, meu nome é Edy StarO filme (94')
18:30 Small Axe: Alex Wheatle (66') 22
16:00 Empate (90')
18:30 Black tea - O aroma do amor (110')
16:00 Small Axe: Education (63')
16:00 Black tea - O aroma do amor (110')
19:00 Black tea - O aroma do amor (110') Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas
18:30 Salão de baileThis is Ballroom (94')
José Mojica Marins
Restaurado
Cut-ups do São Paulo Shimbun
Jairo Ferreira
O texto ao lado é uma colagem feita por Paulo Sacramento de trechos de sete artigos escritos pelo cineasta e crítico Jairo Ferreira no jornal São Paulo Shimbun entre os anos de 1967 e 1972: “Os blefes de Mojica” (1967), “Mojica, cineasta antropofágico” (1968), “Antropofagia” (1969), “O lixão vai vomitar” (1970), “Fim do pesadelo” (1971), “A invasão dos sapos” (1972) e “Mojica, cafajeste mágico” (1972).
Seus escritos acerca da obra de José Mojica Marins e do personagem Zé do Caixão foram cortados e rearranjados segundo o método de cut-up (ou, mais especificamente, fold in), como utilizado pelo autor beat William Burroughs. O próprio Jairo Ferreira utilizou esse método em seu romance (ainda inédito) Sushi da Súcia
Essa não dá pra aguentar. Tudo se admite, menos a morte do Zé do Caixão. O Antonio das Mortes sim podia morrer, ia ter pouca gente no enterro dele. Matou cangaceiro paca, mas fez muita demagogia, tem que #%$*#$. O Zé não, não pode morrer. Se o pesadelo acordado deixa de existir, a casa cai no vácuo. O negócio é descobrir quem é que anda tentando matar o Zé do Caixão. E acabar com o assassino antes que morra o personagem.
Vamos ver: com nada menos que dez cortes, a censura federal liberou O estranho mundo de Zé do Caixão. A fita de José Mojica Marins está mutilada. Fazemos questão de assinalar em negrito os cortes efetuados. No primeiro episódio, Bonecas, foi cortada a cena em que aparece um homem acariciando os seios de uma mulher (isto não é novidade para nenhum leitor, milhões de filmes já mostraram pior). Outra em que Mojica inseriu flagrantes de uma orgia (cf. O segundo rosto). Na segunda história, Tara, os soldados meteram a bota, digo, a tesoura, na cena do casamento em que a noiva é esfaqueada por uma mulher vingativa e rola pela escadaria da igreja. Os militares cortaram (e a parte cortada fica com quem?) também a cena em que um tarado beija o cadáver da mulher ( Belle de jour mostra pior: o homem se masturba com
um cadáver, e não teve corte). No último episódio, Ideologia, os ilustres mutilaram a cena da tortura de um homem, outra em que ele beija o corpo de uma dona, a de um prisioneiro que atira ácido na cara de uma mulher, outra em que Oãxiac Odéz sangra o prisioneiro, e outra onde ele devora os restos mortais de um casal solenemente servido à mesa. Foram só esses, Mojica?
As imposições do governo atual estão já inculcadas na mentalidade popular: a massa não tem reações, permanece entorpecida. Os filmes de Mojica são uma agressão, embora não tenham o menor sentido revolucionário. É uma revolta fictícia, trágica e irracional, obtendo um resultado subliminar, pois se não há transformação social surge a transformação existencial…
O diretor assegura que seu próximo filme –Encarnação do demônio – será muito mais forte. E espera que a censura use o bom senso. Nós preferimos acreditar que a fita será queimada juntamente com Mojica, pois parece que estamos involuindo para a Idade Média, voltando a ser macacos. E os próprios filmes de Mojica antecipam essa volta à Inquisição. Vejam todos que – sendo apolítico – este cineasta filma um estado de coisas bárbaro e selvagem como nos dias de
hoje só o renascente IV Reich poderia imaginar. Acontece que a fita será fragmentada, e isso prejudica uma visão total, que mesmo imaginando não será muito lisonjeira a Marins.
Centenas de pessoas gostaram dos filmes, mas não conseguem explicar nada. Perderam a lucidez (que nunca tiveram), perderam a capacidade de agressividade e, no fundo, subconscientemente, pensaram que Zé do Caixão é um líder como Jânio Quadros… Mas um e outro discordam: deve-se instruir a plateia a não aceitar o seu cinema nacional predileto; a opinião de alguns críticos representa as conveniências dos mesmos. Trata-se de saber manobrar: elogiar a calamidade pode ser tática: combater as fitas de Mojica pode ser frustração. A guerra ainda não começou e os adversários escolhem suas armas: Mojica é uma dessas armas de dois gumes. Começa a ser uma situação, um fato sociológico.
Em Ritual dos sádicos1 (inédito), o próprio Mojica fala de seu personagem, encerrando
1. Em 1986, após 17 anos de censura, o filme originalmente intitulado Ritual dos sádicos (anteriormente Bacanal dos sádicos) foi renomeado como O despertar da besta, título com que tem circulado desde então.
o ciclo num metacinema extraordinário. Um filme magistral. Aqui estamos diante de um filme novo, novíssimo, pois é um filme extremamente brasileiro. A ambientação: os programas de TV em que Zé aparecia, as revistas de terror que aos poucos desapareceram das bancas, a música carnavalesca “Castelo dos horrores”. Filme de uma dignidade incrível. Mojica Marins está 50 anos à frente do Buñuel e surge como primitivo-surrealista porque filma a realidade brasileira pelo avesso, pelo subjetivo. O terror artificial de certo cinema estrangeiro vira realidade. O parnasianismo da Rapaziada do Brás, melodia de som lírico em caixinha de música, vira cinema dantesco nas mãos de Mojica.
Era preciso muita coragem para filmar tudo isso: Mojica assumiu essa estrutura, como pioneiro, semivanguarda no cinema de linguagem chanchadística que foi e ainda é o cinema brasileiro. Criticá-lo por usar música de Edgar Varèse, ele que não tem grana para contratar Duprat ou Os Mutantes? Por ser picareta? Não: se existe o Chacrinha, então tudo é permitido… É proibido proibir, diz Caetano.
Em São Paulo está surgindo um movimento cinematogr á fico: a substituição pura e simples da certeza pela incerteza, do estável pelo instável, uma total recusa ao fixo e ao correto. O mau comportamento, enfim. Uma fase desorientada, porém criticíssima. Um cinema espúrio por excelência, paupérrimo por condição. Mas suficiente para alvoroçar uma cidade. Parabéns a Mojica e ao subdesenvolvimento!
Todas as noites acordo com o ruído das unhas do Zé contra o caixão. Acorrentaram o esquife do homem. Está sobrevivendo da força do seu próprio sangue. Raça nova. E quem o pichou de nazista é quem o era. Imbecis nunca entendem o que vem dois ou três anos antes de sua época mesquinha. Relâmpagos! Relâmpagos! O Zé está gemendo: será que conseguiu arrebentar as correntes? As unhas
do Zé estavam sangrando entre o caixão e a tampa. E ele prometia vingança, prometia assar a cabeça de seus algozes e servir num banquete com uma batata na boca e uma cenoura em cada olho.
A antropofagia no cinema brasileiro nasceu com À meia-noite levarei sua alma , Esta noite encarnarei no teu cadáver, O estranho mundo de Zé do Caixão (último episódio) e agora o extraordinário Bacanal dos sádicos, que está em fase de conclusão. Mas em Marins tudo é inconsciente.
Mojica é um sádico? Um hedonista? Um doido? Um primitivo? Um comunista? Um intuitivo? Um masoquista? Um desrecalcado? Ou ser á um lun á tico disfarçado em terráqueo?
Jos é Mojica Marins é o cineasta mais bárbaro, criativo e deflagrador do cinema nacional. Mojica, o visionário da Mooca, o criador do Zé do Caixão, sem dúvida o melhor personagem de toda a história do cinema nacional, não sabe se abandona o cinema pelo circo ou se enlouquece indo ao cartório de protesto todo dia.
quando tem… Daí que realmente é o cineasta dos excessos, da riqueza cafajeste, da riqueza selvagem. Nada mais linear, mas nada mais quente, nada mais provocante: é a antropofagia num nível de escrotidão jamais visto na tela. Tá na cara que Mojica é o diretor mais corajoso do cinema brasileiro: é a coragem de se olhar no espelho e reconhecer um grandíssimo (&&&)…
Repudiar Mojica é fácil, o difícil é degluti-lo. Devorem o Mojica! Os que com seriedade conseguirem fazê-lo sentirão o fantástico sabor do homem brasileiro gangrenado, tipo classe-média-para-baixo – vítima antecipada da pseudo-revolução industrial que estamos vivendo.
Vá ter talento em outra parte, seo Zé. Você tem demais o que os outros tem de menos,
Talvez Mojica seja mesmo importante: a decisão cabe ao cinema nacional, ao processo revolucionário… Mojica não tem a menor pretensão de englobar-se naquela história-que-marcha-pra-frente, contentando-se com o sucesso imediato e o nome em letras maiúsculas nesta enciclopédia de besteiras que é o cinema de massa entre nós. Ele mobiliza a plateia, abre alas, faz figura. Isto é o que falta a muita gente de qualidade. Enquanto o Brasil está dormindo, que venham mil Mojicas!
José
Carlos Primati
O mundo era apenas parcialmente conectado em meados da década de 1990, quando os gringos de repente descobriram Zé do Caixão. O infame e blasfemo personagem criado (e encarnado) 30 anos antes por José Mojica Marins fascinou e escandalizou aficionados por horror nos Estados Unidos, e matérias anunciando a “novidade” se espalhavam em várias publicações dedicadas ao gênero: Psychotronic Video, Cult Movies, Fangoria etc. Foi quando, por volta de 1995-1996, a distribuidora Something Weird Video, de Seattle, acrescentou em seu enorme catálogo de esquisitices 12 títulos de Mojica: “Coffin Joe Invades America!”, alardeava o anúncio das fitas. Vendidas ao preço individual pouco camarada de US$ 20, ofereciam uma imersão no cinema mojicano, incluindo raridades como Pesadelo macabro, Perversão e Quando os deuses adormecem, junto a toda a saga de Zé do Caixão.
Se, por um lado, a SWV preenchia uma lacuna significativa e ajudava a recontar a história do cinema de horror mundial a um público ávido por surpresas, por outro, oferecia um produto com pouco, quase nenhum, cuidado com a qualidade. A notícia chegava ao Brasil, e a euforia justificava os esforços dos fãs em posse de um cartão de crédito internacional para investir na importação dos títulos mais raros. O custo
era indigesto: em valores atuais, cada fita sairia por pouco mais de US$ 40, ou R$ 230 na cotação de fins de 2024. Por uma reles fita VHS. Ainda assim, a euforia de ampliar a coleção de filmes raros superava a ruindade das gravações, como no caso da péssima cópia de Quando os deuses adormecem (When the Gods Fall Asleep), lançada toda em preto e branco, truncada e com 17 minutos a menos. Às vezes, nem sequer dá para entender o que está acontecendo – mas era a única cópia lançada em home video dessa pérola quase perdida.
A relevância desse contexto é colocar em discussão a urgência de que uma obra cinematográfica seja assistida em seu formato mais fiel possível ao original; pelo menos quando nos julgamos no direito de avaliar os méritos – e deméritos – de seus criadores. Por muito tempo, tempo demais, a obra de Mojica foi menosprezada, desdenhada e desqualificada por argumentos pífios e equivocados sobre seus valores de produção supostamente miseráveis, eventuais tropeços técnicos ou inventividade confundida com inabilidade. Mesmo quando suas principais obras foram lançadas em DVD e celebradas pela importância de recolocar em foco o cinema de Mojica, e não sua figura pública extravagante e muitas vezes folclórica, ainda havia problemas:
matrizes não restauradas, sem a devida correção de cor e até mesmo em proporção de tela errada.
Quase 30 anos depois, o mesmo Quando os deuses adormecem, tão maltratado em sua edição em VHS ianque, finalmente pode ser visto pelo cinéfilo brasileiro, mais de meio século após sua estreia nos cinemas nacionais. Integral, nítido, em cores vibrantes escandalosamente vivas. E nem se trata de um restauro completo: os negativos originais estragaram, e o filme foi digitalizado em
resolução 4K a partir de sua cópia de preservação arquivada na Cinemateca Brasileira; ou seja, o único registro em película ainda existente do filme. Mas o espetáculo enche os olhos.
Não só os olhos: visto em sua versão integral pela primeira vez pelo grande público, expande o conhecimento do que é o cinema de Mojica, contendo uma chocante, catártica e penosamente longa cena atribuída à quimbanda (com sacrifício de galinhas pretas), indo inclusive muito além das malvadezas
de Zé do Caixão. Não deixa de ser irônico que, com esse filme e seu predecessor Finis hominis, nos idos de 1971-1972, com seu estudo cínico sobre fanatismo, hipocrisia, alienação e loucura, Mojica tentava se afastar do terror explícito de Zé do Caixão, que lhe causava dores de cabeça devido à perseguição ferrenha da censura. Era Mojica sendo Mojica…
Mesmo em seus lançamentos originais, poucos filmes do cineasta foram exibidos na íntegra. Desde a ameaça de interdição a
O estranho mundo de Zé do Caixão, só liberado depois de ter 20 minutos extirpados, ou os inúmeros picotes que deixam Finis hominis quase incompreensível, chegando à já mencionada cena de ritual em Quando os deuses adormecem, e culminando no veto radical a Ritual dos sádicos, as obras de Mojica raras vezes eram poupadas das tesouras nervosas dos censores. Com isso, ele talvez tenha sido o diretor brasileiro mais perseguido pela censura do fim dos anos 1960 até meados da década seguinte. Tamanha vigilância (implicância?) fez com que Mojica só encontrasse seu público em território estrangeiro, particularmente na Europa, para onde viajou com frequência durante todos os anos 1970. Homenageado em festivais de cinema fantástico, foi recebido como um mestre do terror e teve sua carreira abordada em uma matéria especial da revista espanhola Terror Fantastic, editada por Pedro Yoldi, em fevereiro de 1972, e foi destacado na capa da publicação em novembro de 1973, quando O estranho mundo de Zé do Caixão participou do Festival de Sitges. Na França, ocupou as páginas de duas edições da revista L’Écran Fantastique , em 1973, editada por Alain Schlockoff, com um texto de Luis Gasca esmiuçando seu cinema singular, exaltado na Convention du Cinéma Fantastique em
Paris. No Brasil, sem publicações especializadas no gênero, era tratado com desdém e desprezo por grande parte da crítica –isso quando se davam ao trabalho de ir ver seus filmes.
As dez cópias meticulosamente recuperadas e restauradas de longas-metragens realizados por José Mojica Marins representam a parcela imprescindível de sua obra – que consiste ainda de títulos valiosos que aguardam com urgência o mesmo cuidado de preservação. Podemos dizer, de todo modo, que um terço do cinema mojicano enfim está em seu melhor formato possível, e que principalmente as novas gerações poderão conhecer a potência de seu cinema em todo o esplendor audiovisual que qualquer obra fílmica merece ser vista.
O próprio cinema brasileiro “renasceu” das trevas do abandono administrativo e do pesadelo da pandemia por meio de Zé do Caixão: 2020 ficou marcado como o primeiro ano sem Mojica – falecido em 19 de fevereiro daquele ano – e foi quando o planeta praticamente se trancou dentro de casa. A paralisação quase completa das atividades de cultura e entretenimento pareciam um luto prolongado, com cancelamento de festivais e mostras de cinema. Mas o retorno faria justiça ao mestre: a reabertura da Cinemateca Brasileira, depois de dois anos abandonada e
em litígio, aconteceu em uma sexta-feira 13, em maio de 2022, com a mostra O cinema sem medo de Mojica. A seguir, em junho do mesmo ano, o Instituto Moreira Salles, em São Paulo, festejou o cineasta, ao reabrir suas portas com uma sessão comentada de O despertar da besta. O mundo teve de parar para que o cinema brasileiro mais uma vez reavaliasse seus valores.
Indiscutivelmente um de nossos principais cineastas, celebrado em todas as listas de diretores essenciais organizadas neste século por críticos e pesquisadores, José Mojica Marins é reconhecido unanimemente como o inventor do cinema de horror brasileiro e mestre absoluto do gênero no país. Sua permanência como uma figura de controvérsia, provocação e debates acalorados atesta a pujança de sua arte, que se revigora com o passar do tempo sem perder o potencial de assombro e maravilhamento. A exemplo do próprio cinema brasileiro, sua trajetória é a do eterno retorno, da (re)descoberta e da (re)avaliação. É um novo ciclo, pela primeira vez sem Mojica convivendo entre nós, restando somente seu acervo criativo. E, como diz o sádico e perverso Zé do Caixão em À meia-noite levarei sua alma, logo depois de dar fim a uma de suas inúmeras vítimas: “Foi um belo espetáculo”. Na verdade, ainda está sendo!
Pesadelos latinos
Kleber Mendonça Filho
O gesto da programação do Cinema do IMS de trazer quatro filmes mexicanos contemporâneos à filmografia restaurada de José Mojica Marins pode representar uma união de filmes próximos. Na verdade, esses filmes de horror aqui reunidos gritam juntos, em português e em espanhol.
No plano geral, a união do Mojica com os mexicanos apresenta realizadores trabalhando numa mesma época (a década de 1960) fora de Hollywood e produzindo pesadelos filmados na América Latina. Em comum, eles encontraram, à época, a popularidade nos cinemas e quase sempre o desprezo da crítica e da academia.
Fora de seus países, os mexicanos encontraram alguma exploração comercial ao serem dublados para o inglês e programados em TVs dos Estados Unidos. Os filmes de Zé do Caixão passaram por algo semelhante no home video dos anos 1990, quando a distribuidora Something Weird distribuiu Mojica no mercado de VHS dos Estados Unidos e Canadá. Todos estão hoje sendo reavaliados em restaurações com tecnologia do século 21, via blu-rays de alta definição e exibições em cinema.
Os quatro títulos são repletos de imagens que ficam com o espectador. É a assombração do cinema, das coisas que, uma vez vistas, já não são mais desvistas. A Chorona e seus cachorros, a criatura lisérgica do barão do terror – que nenhuma criança pequena sofra o acidente de vê-los. Foi fácil montar uma boa vinheta para essa nossa programação composta por flashes desses filmes. São Cinema.
Os filmes podem ser vistos também como uma boa porta de entrada para a produção mexicana de horror e ficção científica, gêneros que encontrariam décadas mais tarde um desdobramento na obra marcante de Guillermo Del Toro, que começou no México e migrou com sucesso para Hollywood.
Sobre José Mojica Marins, acredito que a marca deixada por ele continua sendo única no cinema brasileiro e mundial, um autor que foi capaz de traduzir pesadelos com originalidade e soluções da mais fértil imaginação, trabalhando à margem de um cinema brasileiro pós-Vera Cruz, pré-Embrafilme, e um contemporâneo distante do Cinema Novo.
Sumidos há décadas, quatro produções da Cinematográfica ABSA/Alameda Films são aqui projetadas em cópias restauradas digitalmente em 2K: Misterios de Ultratumba (1958), de Fernando Méndez, El Espejo de la Bruja (1960), de Chano Urueta, El Barón del Terror (1961), também de Chano Urueta, e La Maldición de la Llorona (1961), de Rafael Baledón.
Notoriamente, o Cinema Novo não teve o grande público de Mojica, mas gozou de enorme prestígio no Brasil e no exterior. Creio que no Brasil, Mojica permanece um incrível e maravilhoso mistério.
Os quatro filmes mexicanos são frutos de projetos comerciais realizados com afinco, três deles produzidos pelo poderoso produtor Abel Salazar, que começou como um astro de grande popularidade no México da década de 1940. Um grande nome da época de oro.
Esses títulos me lembraram ao longe a versão filmada em espanhol de Drácula (1931), da Universal, dirigida por George Melford, que utilizou à noite e de madrugada os mesmos cenários da versão “oficial” em inglês (dirigida por Todd Browning). O produto foi lançado em Cuba, México e Espanha, mas sem o êxito comercial da versão original em inglês, estrelando Bela Lugosi. O projeto da Universal era o da conquista de mercados de “língua estrangeira”, enquanto os mexicanos desejavam filmar seus próprios filmes de gênero.
Dois filmes têm a direção de Chano Urueta, autor que deixa transparecer duas coisas: uma carpintaria industrial que sugere proximidade com o cinema hegemônico vizinho de Hollywood; e um corte claramente mexicano, como em El Barón del Terror, onde o
Vice-Reino da Nova Espanha tem participação empolgante na trama histórica.
De fato, a proximidade de Hollywood sugere uma distância not ável entre os mexicanos aqui reunidos e o sentimento que define a nossa relação com o cinema de Mojica, talhado a partir de uma matéria prima totalmente incomum. As convencionais figuras aristocráticas do “barão”, do “conde”, da “madame”, do “cientista louco” poderiam até sugerir proximidade dramática
com o agente do caos “Zé do Caixão”, mas estão distantes do coveiro sanguinário e brasileiro, obcecado com a continuidade do seu sangue querendo procriar.
O que une os filmes é a técnica fora do padrão hollywoodiano, os fios que fazem monstros e cometas voar, os efeitos de maquiagem pesada, os cenários e a certeza de que estamos diante de propostas alternativas para um cinema de gênero normalmente dominado por uma outra indústria.
Histórias ocupadas:
Steve McQueen
Retomar e percorrer a história, ocupar e transmutar o presente
Mariana Queen Nwabasili
Um cará ter inevitavelmente retrospectivo ganha força neste terceiro e último texto sobre os episódios da série Small Axe exibidos como parte da programação
Histórias ocupadas: Steve McQueen . Lançada pela rede pública de televisão britânica BBC One, a produção dirigida pelo premiado diretor e artista visual de ascendência caribenha foi considerada a melhor realização de 2020 pela Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles, e tem como penúltimo e quarto capítulo o longa-metragem Alex Wheatle.
O filme reitera a reconstituição histórica realista – com autoral abertura para planos longos – como principal escolha de McQueen para retratar, de forma atrativa e didática para a televisão, as vivências e resistências dos afro-caribenhos na segregacionista e racista cidade de Londres das décadas de 1960, 1970 e 1980. Além disso, torna mais evidentes linhas temáticas também presentes em capítulos anteriores e que, nestes parágrafos de fechamento, ganham melhor análise. São elas: a alienação como realidade e contradição entre membros da comunidade afro-caribenha do período; o reconhecimento e destaque do pensamento negro socialista presente nas Américas como influência absorvida pelos afro-caribenhos na Inglaterra; a evidenciação
da arte negra engajada como posicionamento político potente no enfrentamento ao racismo naquele território e, consequentemente, como fator de ameaça a ser criminalizado pela polícia londrina retratada como onipresente e hostil (contra afrodescendentes) na série. E, por fim, a necessidade de rememoração das violências cometidas na História como forma de superá-las.
Alex Wheatle (Sheyi Cole), jovem protagonista-título do episódio, é preso porque provoca a polícia ao apostar no impacto estético-político do reggae e das letras que historicamente fizeram o gênero musical ser de resistência, assim eternizado por nomes como Bob Marley. A produção musical do cantor e compositor jamaicano inclusive inspira diretamente o título de Small Axe, retirado de uma música de 1970 reconhecida por sua gravação no álbum Burnin’ (1973) do grupo jamaicano Bob Marley and The Wailers.
Tal impacto estético-político tem seu ápice na forma ousada como são filmadas e montadas as cenas do segundo episódio da série (Lovers Rock), no qual acompanhamos o preparo e o desenvolvimento de uma blues party. As festas caseiras que a comunidade jamaicana de Londres promovia na década de 1980 a partir da influência do sound system são retomadas em Alex Wheatle.
Remetendo à história que inspira o surgimento do estilo musical lovers rock (espécie de versão romântica do reggae), no filme, Alex decide promover festas acessíveis de sound system em que pudesse cantar músicas autorais derivadas do reggae. “Meu som vai ser chamado de crucial rocker ”, anuncia o protagonista, em cenas anteriores à sua performance em uma blues party. Na festa, ele canta um desabafo após a realização de manifestações políticas feitas por afrodescentes no bairro em que vive: “Não podemos mais aguentar esse sofrimento / Então nós nos revoltamos no Brixton”.
Personagem real, o romancista britânico Alex Wheatle viveu a juventude no bairro Brixton e participou das manifestações que levaram 20 mil pessoas às ruas da região em 1981 – evento conhecido como Dia de Ação dos Povos Negros –, após 13 jovens negros, com idades entre 14 e 22 anos, morrerem em um incêndio com características de ataque racial – o chamado Massacre de New Cross – e pouco noticiado. No longa-metragem, acompanhamos o protagonista contando a vivência desse período ao seu colega de cela Simeon (Robbie Gee), adepto do movimento rastafári. O contato entre os dois é regado por um aspecto inusitado: Simeon tem desinteria e necessita, a todo momento, usar a privada
que fica exposta na lateral do quarto consequentemente infestado pelo mau odor. A situação escatológica parece se vincular ao tratamento violento e degradante recebido por esses homens na prisão: eles estão literalmente na merda. Algo espelhado também na cena em que, durante sua juventude em Brixton, Alex se esconde em uma lata de lixo para não ser capturado por policiais em meio aos protestos nas ruas do bairro, e, ao sair dali, fica perceptivelmente fedendo. A analogia é evidente: o racismo faz o povo negro ser tratado como lixo, ser relegado a esse lugar.
A mudança forçada de Alex para o Brixton na juventude deflagra uma verdadeira jornada de transformação do personagem. Ele percorre um caminho ao longo do episódio que o faz partir de um lugar de ingenuidade quanto à sua relação com a segregação e ao pertencimento racial na cidade, rumo a uma conscientização política que implica o resgate e reconhecimento de suas raízes africanas e afro-caribenhas. Algo parecido com o chacoalhão de realidade e necessidade de conscientização e posicionamento político-racial pelo qual também passam os protagonistas do primeiro e do terceiro episódios da série (Frank, de Mangrove, e Leroy, de Red, White & Blue, respectivamente).
Uma cena materializa a trajetória de mudança de Alex. Após fumar maconha com seu “treinador-amigo” Dennis (Jonathan Jules), o protagonista adentra uma loja repleta de vinis de reggae e de clientes negros apreciadores do gênero musical. Como que contaminado pelo popularmente conhecido efeito do fumo inalado na sequência anterior, um plano panorâmico sobre a loja se dá em câmera lenta ao ritmo do gênero jamaicano que, em meio ao plano, é mixado na banda sonora sob diferentes profundidades de volume. São manipulações de imagem, som e montagem que transcendem o que poderia ser um realismo comercial e televisivo limitado, garantindo inventividade a um produto audiovisual criado para uma disseminação massiva e didática em termos historiográficos.
Nova fase de transformação
De todos os episódios da série, Alex Wheatle é o único que se abre diretamente a uma linguagem mais documental. A certa altura, um narrador profere um texto em inglês com evidente sotaque caribenho – no filme, não falar um cristalino inglês britânico é motivo de orgulho para os afro-caribenhos e seus descendentes, um dos aprendizados de Alex. O texto remete à rima e ao ritmo poéticos das letras de reggae e é escutado
em off enquanto vemos arquivos fotográficos das manifestações reais que aconteceram em Brixton. Arquivos que, dado o caráter realista das cenas de violência contra negros em diferentes episódios de Small Axe, parecem ter inspirado a reconstituição histórica da série e ser atualizados por ela.
Quando termina de contar sua história ao seu companheiro de cela, Alex é introduzido a uma nova e final fase de transformação. É quando Simon apresenta ao
protagonista uma perspectiva que evidencia a pluralidade de pensamentos da comunidade afro-caribenha na Inglaterra dos anos 1980. “Já se fala o suficiente em ‘ismos’ e racismo [...]. Mas a principal coisa que você deve se preocupar neste país é o sistema de classe e o classismo”, defende o rasta.
“E é por isso que continuo falando sobre educação [...]. Educação, Alex! Educação é a chave”, completa, enquanto recomenda ao futuramente reconhecido escritor o famoso
livro Os jacobinos negros (1938), de Cyril Lionel Robert James, vulgo C. L. R. James, historiador, ensaísta e socialista negro de Trinidade e Tobago. A obra é grande referência para vertentes do pensamento negro no Ocidente que avaliam a função social da escravidão e das formas de opressão dos negros para a manutenção do atraso econômico de países colonizados, tendo como exemplo o caso do Haiti.
A perspectiva faz lembrar a influência
anticapitalista na criação do BPM (British Black Panther Movement, movimento Pantera Negra Britânica), uma vez que a iniciativa foi inspirada no partido socialista Black Panther dos Estados Unidos. Apresentado no episódio Mangrove, o BPM tinha sede em Brixton entre o final de década de 1960 e o início da década de 1970. Teve seu auge justamente na deflagração do movimento The Mangrove Nine (Os nove do Mangrove), que consistiu em protestos em resposta às ofensivas racistas da polícia londrina ao restaurante Mangrove, pertencente ao afro-caribenho Frank Crichlow, natural de Trinidade e Tobago. O proprietário, os trabalhadores e os frequentadores do estabelecimento, também imigrantes, realizaram protestos que culminaram na prisão de nove manifestantes e em um memorável julgamento.
O último capítulo da série inicia onde Alex Wheatle termina. Se, no penúltimo dos cinco filmes, a educação e a leitura são apontadas como salvação ao influenciarem definitivamente a carreira de pensadores negros como o reconhecido romancista e dramaturgo britânico Alex Wheatle, em Education, capítulo que fecha a série, o racismo promove uma corrosão inclusive no sistema disciplinar educacional – para além daquelas feitas no ou intrínsecas ao sistema disciplinar de “segurança” do Estado, o militarismo policial.
O filme conta a história ficcional de Kingsley (Kenyah Sandy), um garoto negro que tem dificuldades de leitura e é encantado pelo espaço sideral. O jovem é direcionado, pela direção da escola regular onde estuda, a uma instituição de ensino “especial”, que é, na verdade, uma “escola para os educacionalmente subnormais”, ou seja, uma instituição voltada a crianças supostamente necessitadas de “escolas anormais” devido a dificuldades de aprendizado. Ao longo da trama, Agnes (Sharlene Whyte), a mãe do protagonista, descobre que seu filho foi vítima de uma manobra racista que enviesava avaliações de aprendizado de estudantes negros para direciona-los a escolas piores e, consequentemente, relegá-los a uma limitação de desenvolvimento intelectual.
O episódio apresenta como solução o acesso de Kingsley a uma escola de negros e para negros ancorada em uma pedagogia baseada na afrocentricidade – filosofia publicizada na década de 1980 em livros do teórico negro estadunidense Molefi Kete Asante – ou seja, na percepção das culturas africanas e dos afrodescendentes como centro de conhecimento da humanidade. Sendo assim, o capítulo pode ser entendido como um metadiscurso do caráter didático que a própria série carrega ao reconstruir histórias negras pouco disseminadas na
Inglaterra como instrumento para a comunidade negra britânica contemporânea –mas não só ela – repensar, reposicionar e transformar o presente das relações raciais no país.
Tanto em Education como na proposta política de toda a série é evidente que o caminho para o encontro da educação libertária e emancipadora para os negros não é suave. As cenas de violência protagonizadas por policiais brancos contra negros ao longo dos episódios desafiam o olhar dos espectadores identificados com as corporeidades oprimidas na tela. São tipos de cena que ganham ainda maior peso quando colocam, em Education, crianças afrodescendentes como vítimas, agora de educadores brancos racistas intolerantes às suas diversidades de aprendizagem e de personalidade – enquanto os mesmos educadores são totalmente compreensivos com a diversidade comportamental e cognitiva de crianças brancas.
A “educação de Small Axe” assume, então, que, frente ao histórico, sistêmico e estrutural racismo, o caminho de luta e conscientização para a vivência negra livre e plena não é fácil, mas é possível. É preciso percorre-lo. Uma jornada. Uma saga. Uma série. Uma história a ser constantemente resgatada, recontada, transmutada.
Antes que me esqueçam, meu nome é Edy Star – O filme
Fernando Moraes | Brasil | 2024, 94’, DCP (Lança Filmes)
Edy Star, o pioneiro do Glam no Brasil, tem uma trajetória marcada por glamour e polêmica. Ícone da contracultura underground brasileira, o documentário revela sua personalidade libertária e inovadora. Com histórias inéditas da música brasileira por meio de depoimentos de artistas e músicos como Caetano Veloso, Zeca Baleiro e DJ Zé Pedro.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Black tea – O aroma do amor
Black Tea
Abderrahmane Sissako | China, França, Luxemburgo, Taiwan, Mauritânia | 2024, 110’, DCP (Imovision)
Aya, uma jovem africana, deixa o noivo no altar e a Costa do Marfim para trás a fim de começar uma nova vida na China. Vivendo numa zona marcada pela diáspora africana, ela começa a trabalhar em uma loja de exportação de chá onde conhece Cai, um chinês de 45 anos. Apesar dos preconceitos sociais, Aya e Cai se apaixonam, mas será que eles conseguirão sobreviver à turbulência dos seus passados e aos preconceitos dos outros?
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Empate
Sérgio de Carvalho | Brasil | 2020, 90’, DCP (Descoloniza Filmes)
Empate é um documentário que amplia a voz dos protagonistas do movimento seringueiro das décadas de 1970 e 1980, no estado do Acre, refletindo como esse momento histórico ecoa ainda hoje na Amazônia e no resto do mundo.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Histórias ocupadas: Steve McQueen
Salão de baile – This is Ballroom
Juru e Vitã | Brasil | 2024, 94’, DCP (Retrato Filmes)
Nas margens da Baía de Guanabara, uma comunidade de jovens LGBTQIAPN+ resgata e vivencia a cultura ballroom. Rio is burning!
Salão de baile é o primeiro longa-metragem documental brasileiro a explorar profundamente o universo da cena ballroom no Rio de Janeiro, oferecendo uma imersão na cultura do voguing e dos balls, lugares que servem como espaços de resistência, celebração e autoexpressão para esses jovens da periferia do Rio de Janeiro. O filme acompanha a produção de um ball, mergulhando na vida de seus participantes e revelando tanto os momentos de glória quanto os desafios enfrentados por essa comunidade vibrante e marginalizada.
Com uma trajetória de sucesso em festivais internacionais – incluindo exibições no CPH, em Copenhagen, e no Sheffield DocFest, no Reino Unido – o filme já foi exibido em cinco países.
No Brasil, ele encerrou a 13ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Além de ter sido premiado no Festival do Rio como Melhor Montagem e ter recebido menção honrosa no prêmio Felix de Melhor Documentário.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
O Cinema do IMS apresenta a programação
Histórias Ocupadas: Steve McQueen, com foco na obra recente do diretor britânico. A programação inclui a estreia brasileira de Occupied City (2023), novo trabalho de McQueen, que investiga as reminiscências da ocupação nazista na cidade de Amsterdã.
A mostra inclui também os cinco filmes da antológica série Small Axe, exibidos entre outubro e dezembro no IMS Paulista e IMS Poços, em sessões únicas. Eleita em 2020 como a melhor produção do ano pela Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles, Small Axe reúne cinco histórias distintas inspiradas em personagens da comunidade afro-caribenha em Londres, entre 1960 e 1980. Os filmes abordam as tensões raciais presentes na cidade e as lutas por direitos em diferentes esferas, dos tribunais às pistas de dança. Após estrear no Festival de Cannes em 2020, Small Axe foi lançado pela Amazon e, no Brasil, ficou disponível apenas em serviços de streaming. Essa é a primeira vez que a antologia é exibida em uma sala de cinema nacional.
Para acompanhar a exibição dos filmes, o Cinema do IMS publicará uma série de textos com contribuições de Ashley Clark, diretor curatorial da The Criterion Collection, da pesquisadora Mariana Queen Nwabasili, de Steve McQueen e do sociólogo Paul Gilroy, que atuou como consultor na realização de Small Axe.
A programação tem apoio de The Criterion Collection.
Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Small Axe: Education
Steve McQueen | Reino Unido, EUA | 2020, 66’, DCP (Turbine Studios)
A história verídica do premiado escritor Alex Wheatle. Tendo passado a sua infância num lar de acolhimento institucional majoritariamente branco, sem acolhimento afetivo nem família, ele encontra finalmente um sentido de comunidade pela primeira vez em Brixton, onde desenvolve uma paixão pela música e por ser DJ. Quando Alex é preso durante a revolta de Brixton de 1981, ele precisa confrontar o seu passado, que o leva a um caminho para a cura.
Steve McQueen | Reino Unido, EUA | 2020, 63’, DCP (Turbine Studios)
Quando Kingsley, de 12 anos, é transferido para uma escola com necessidades especiais, um grupo de mulheres das Índias Ocidentais descobre uma política de segregação não oficial que impede muitas crianças negras de receberem a educação que merecem.
Baseado na trajetória escolar do próprio McQueen, Education se debruça sobre um sistema educacional que excluía os estudantes negros em uma estrutura próxima à de castas. Ao entrevistar o diretor para a Sight and Sound, David Olusoga diz: “Lembro-me de estar consciente de que aquele era um caminho para o desastre – eu não estava sendo educado; estava sendo ‘armazenado’. E só mais tarde percebi que isso era um fenômeno comum. Há muitas pessoas para quem Education será um soco no estômago”.
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/mangrovesm]
A mostra José Mojica Marins Restaurado estreia em São Paulo e em Poços de Caldas com dez filmes restaurados em 4K do mestre do terror brasileiro. A restauração inédita, feita a partir dos negativos originais, celebra a carreira de Mojica, ícone do cinema fantástico brasileiro.
O cineasta marcou o Brasil em 1964 com À meia-noite levarei sua alma, apresentando o icônico Zé do Caixão, o coveiro em busca da mulher perfeita para perpetuar sua linhagem. A saga de Zé continuou em Esta noite encarnarei em teu cadáver (1967) e Encarnação do demônio (2008), fechando a trilogia após 44 anos.
Zé do Caixão não foi apenas um personagem de filme, ele se transformou em um ícone pop, com presença na TV, em quadrinhos e até em discos. Embora tenha explorado diversos gêneros, Mojica deixou seu legado eterno no terror.
No IMS Poços a mostra segue até março de 2025.
Ingressos:
Dia 7/12, sessão de abertura da mostra seguida do debate A permanência e o eterno retorno de José Mojica Marins com Carlos Primati e Paulo Sacramento e mediação de Crounel Marins. Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Demais sessões: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
À meia-noite levarei sua alma
José Mojica Marins | Brasil | 1964, 81’, DCP, restauração 4K (Olhos de Cão)
O agente funerário Zé do Caixão, na expectativa de gerar um filho perfeito, não hesita em assassinar mulheres e homens que atrapalhem a concretização de seu desejo.
Primeiro filme da trilogia/saga do personagem Zé do Caixão, apontado pela Abraccine na primeira posição em seu livro Cinema fantástico brasileiro –100 Filmes Essenciais.
Esta noite encarnarei no teu cadáver
José Mojica Marins | Brasil | 1967, 108’, DCP, restauração 4K (Olhos de Cão)
Zé do Caixão tenta encontrar, por meio de testes de sadismo, a donzela que gestará seu filho perfeito. Segundo filme da trilogia de Zé do Caixão, com a célebre sequência do inferno de gelo filmado em cores (o restante do filme foi realizado em preto e branco).
O estranho mundo de Zé do Caixão
José Mojica Marins | Brasil | 1968, 76’, DCP, restauração 4K (Olhos de Cão)
Três histórias curtas de terror. Assaltantes invadem a casa de um senhor de idade e descobrem um terrível segredo por trás da confecção de suas bonecas. Um vendedor de balões apaixona-se de forma obsessiva por uma mulher desconhecida. Através de canibalismo e sadomasoquismo, o professor Oãxiac Odéz tenta provar suas teorias macabras acerca do comportamento humano.
México Macabro: 1958-1961
A mostra no Cinema do IMS reúne quatro clássicos do horror mexicano dos anos 1960 restaurados, alinhados à filmografia de José Mojica Marins. Mistérios de além-túmulo, O espelho da bruxa, O barão do terror, A maldição da Chorona trazem de volta pesadelos cinematográficos com uma abordagem alternativa ao cinema de gênero dominado por Hollywood. Essa programação especial revela o impacto cultural e histórico dessas obras, que, mesmo fora do circuito hegemônico, marcaram época com suas histórias sombrias, efeitos marcantes e características genuinamente latino-americanas. A mostra segue até março de 2025. A cada mês, será apresentado um novo título desta seleção.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Mistérios de além-túmulo
Misterios de Ultratumba Fernando Méndez | México | 1958, 82’, DCP, restauração 2K (Alameda Films)
Século 19: O Dr. Aldama está morto e o seu colega Mazali, vivendo na casa de repouso de Las Mercedes, recorda-se de uma promessa que fizeram um ao outro: aquele que morresse primeiro revelaria ao outro todos os mistérios do além-túmulo.
Instituto Moreira Salles
Cinema
Curador
Kleber Mendonça Filho
Programadora
Marcia Vaz
Programador adjunto
Thiago Gallego
Produtora de programação
Quesia do Carmo
Assistente de programação
Lucas Gonçalves de Souza
Projeção
Fagner Andrades e Gilmar Tavares
Revista de Cinema IMS
Produção de textos e edição
Thiago Gallego e Marcia Vaz
Diagramação
Marcela Souza e Taiane Brito
Revisão
Flávio Cintra do Amaral e Juliana Travassos
Os filmes de dezembro
A programação do mês tem apoio de Turbine Studios, Olhos de Cão, Alameda Films, das distribuidoras Descoloniza Filmes, Imovision, Lança Filmes, Retrato Filmes e Sesc Poços de Caldas.
Agradecemos a Abbey Lustgarten, Ashley Clark, Chloe Huybens, Charlotte Andrews, Crounel Marins, Daniel Birman Ripstein, Felipe Martín Lozano, Heitor Augusto, Juliana Travassos, Laura Cánepa, Liz Helfgott, Mariana Queen Nwabasili, Michael Gibbons, Paulo Sacramento e Ximena Amescua Cuenca.
Venda de ingressos
Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês.
Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 85 lugares.
Meia-entrada
José Mojica Marins Restaurado
Realização: Cinema do IMS
Curadoria e Produção: Olhos de Cão
México Macabro: 1958-1961
Realização, curadoria e produção: Cinema do IMS
Histórias ocupadas: Steve McQueen
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública e privada, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).
Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Confira as classificações indicativas no site do IMS.
Mostra Sesc de cinema
(Reino Unido, EUA | 2020, 63’, DCP)
Salão de baile –This is Ballroom, de Juru e Vitã (Brasil | 2024, 94’, DCP)
Visitação: terça a sexta, das 13h às 19h. Sábados e domingos, das 9h às 19h. Entrada gratuita.
Sessões de cinema: Quintas e sextas, a partir das 19h. Sábados e domingos, a partir das 16h.
Rua Teresópolis, 90 CEP 37701-058
Cristiano OsórioPoços de Caldas ims.pc@ims.com.br
ims.com.br /institutomoreirasalles @imoreirasalles @imoreirasalles /imoreirasalles /institutomoreirasalles