cinema nov.2019
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14:00 Domingo (95’) 16:00 A cidade dos piratas (84’) 18:00 Humberto Mauro (90’)
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A cidade dos piratas (84’) Meu amigo Fela (92’) A cidade dos piratas (84’) Meu amigo Fela (92’)
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A cidade dos piratas (84’) Meu amigo Fela (92’) A cidade dos piratas (84’) Sábado (85’)
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Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’)
21 Torre das donzelas (97’) Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’)
27 Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Meu amigo Fela (92’) Encontro com homens notáveis (108’)
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14 A cidade dos piratas (84’) Meu amigo Fela (92’) A cidade dos piratas (84’) Meu amigo Fela (92’)
20 Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’)
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Domingo (95’) A cidade dos piratas (84’) Humberto Mauro (90’) Pasqualino Sete Belezas (116’)
14:00 Meu amigo Fela (92’) 16:00 Azougue Nazaré (82’) 18:30 O boulevard do crime (189’)
28 Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Notícias de casa (85’) Pesadelo perfumado (95’)
14:00 16:00 19:00 20:00
Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Superoutro (48’) Sábado (85’)
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Domingo (95’) A cidade dos piratas (84’) Humberto Mauro (90’) A cidade dos piratas (84’)
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Torre das donzelas (97’) Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Bruce Conner: crossroads (37’) + O digital explosivo inevitável (49’) 20:00 Azougue Nazaré (82’)
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Torre das donzelas (97’) Domingo (95’) A cidade dos piratas (84’) Humberto Mauro (90’) A cidade dos piratas (84’)
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Torre das donzelas (97’) Domingo (95’) A cidade dos piratas (84’) Humberto Mauro (90’) A cidade dos piratas (84’)
Torre das donzelas (97’) A cidade dos piratas (84’) Meu amigo Fela (92’) Meu amigo Fela (92’)
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Torre das donzelas (97’) A cidade dos piratas (84’) Sessão Mutual Films: Notícias de casa (85’), com apresentação de Anita Leandro 18:00 Pesadelo perfumado (95’) 20:00 Meu amigo Fela (92’)
17 Torre das donzelas (97’) Meu amigo Fela (92’) O boulevard do crime (189’) Azougue Nazaré (82’)
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Torre das donzelas (97’) Meu amigo Fela (92’) Próxima parada: bairro boêmio (111’) Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’)
24 Torre das donzelas (97’) Meu amigo Fela (92’) Encontro com homens notáveis (108’) Atlantique (104’) Azougue Nazaré (82’)
11:30 14:00 16:00 17:00 18:00 20:00
Torre das donzelas (97’) Meu amigo Fela (92’) Bruce Conner – Entre luz e sombras (45’) Bruce Conner – História americana (28’) Atlantique (104’) Azougue Nazaré (82’)
30 Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’) Meu amigo Fela (92’) Azougue Nazaré (82’)
11:30 14:00 16:00 18:00 19:00 20:00
Torre das donzelas (97’) Meu amigo Fela (92’) Os palhaços (92’) Superoutro (48’) Bruce Conner – Mulheres de celuloide (26’) Azougue Nazaré (82’)
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br.
Azougue Nazaré, de Tiago Melo (Brasil | 2018, 82’, DCP) [capa] crossroads,
de Bruce Conner (EUA | 1976, 37’, DCP)
destaques de novembro 2019 “Não trabalho com um roteiro. Não consigo enxergar o fim antes do começo do processo. Trabalho com os materiais que estão disponíveis. Cada peça sugere a outra”, escreveu o artista multidisciplinar Bruce Conner em 1964, ainda nos primeiros anos de seu trabalho com imagens em movimento. É essa faceta da obra de Conner que será explorada no Cinema do IMS, com um apanhado de filmes do artista, em quatro programas com cópias restauradas em DCP e em película. Quais são os itinerários de um programador? Desde o final dos anos 1970, Adhemar Oliveira trabalha com cinema, em exibição, programação e distribuição. O trabalho de Adhemar como programador é o foco de uma carta branca em que ele escolheu filmes significativos de sua trajetória. Entre os destaques, estão obras raras, como Encontro com homens notáveis, de Peter Brook, e Pasqualino Sete Belezas, de Lina Wertmüller (em cópia restaurada em 4K). Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano, Atlantique, longa de estreia da diretora Mati Diop, conecta dois dados da história recente de Senegal: a imigração dos trabalhadores que decidem deixar o país por mar em busca de melhores condições de trabalho e a onda de protestos da primavera senegalesa. O filme terá três exibições na sala de cinema do IMS antes de estrear em serviços de streaming. 1
Encontro com homens notáveis (Meetings with Remarkable Men), de Peter Brook (Reino Unido | 1979, 90’, DCP)
procurando cogumelos (looking for mushrooms),
de Bruce Conner (EUA | 1959-1967, 3’, DCP)
Atlantique (Atlantique), de Mati Diop (França, Senegal, Bélgica | 2019, 104’, DCP)
Saudades do futuro: Kidlat Tahimik e Chantal Akerman por Aaron Cutler e Mariana Shellard
Dois filmes foram realizados em 1976, em 16 mm, por cineastas-protagonistas que compartilharam um impulso de colocar suas histórias de vida diante da câmera. Em ambos os filmes, o deslocamento foi fundamental para a construção da identidade. O diretor filipino Kidlat Tahimik (nascido em 1942) colaborou com o cinegrafista alemão Hartmut Lerch entre as Filipinas e a Europa na realização de Pesadelo perfumado (1977), o primeiro de uma série de filmes-diários com toques fantásticos. Já a diretora belga Chantal Akerman (1950-2015) fez o documentário Notícias de casa (1977), seu quarto filme com a cinegrafista francesa Babette Mangolte, a partir de um processo melancólico de volta a Nova York, cidade importante na formação das duas. Akerman trabalhou seus traumas por meio do cinema. Suas inúmeras obras de documentário e ficção, instalação, vídeo e memórias literárias são projeções da vida de uma artista que batalhou para encontrar seu lugar no mundo, de forma frequentemente tragicômica, inclusive em sua obsessão com um outro ausente. 2
O isolamento nessas obras é uma imposição do outro, porém é o único ponto de partida possível para a construção do Eu. A vida se consolida na constante fuga de estruturas predeterminadas – da narrativa, da família, de uma identidade rígida. Em vários de seus filmes – frequentemente protagonizados pela cineasta, diante da câmera ou na narração –, Akerman constrói uma imagem de si a partir da tentativa de exorcizar a figura materna. A mãe é a imigrante polonesa judia e sobrevivente do Holocausto Natalia “Nelly” Akerman, uma presença importante até sua última obra, Não é um filme caseiro (No Home Movie, 2015). Em Notícias de casa, sons e imagens de uma cidade em fluxo constante são envolvidas pela voz em off de Chantal, que lê, de forma sóbria e rápida, cartas que recebeu quando morava em Nova York de sua mãe carente, alguns anos antes das filmagens. Enquanto ouvimos descrições de cenas cotidianas e dos problemas diários de uma família de classe média, inclusive lamentações pela ausência da filha, vemos carros em ruas estreitas e pessoas solitárias
se deslocando em lugares silenciosos, entrando e saindo do metrô e desaparecendo nos vagões. As palavras maternas são como um feitiço sobre a cidade: delineiam a figura de Chantal, fazendo com que a observemos em sua ausência. A filha é fortalecida a partir da fala da mãe, que existe em um outro momento, já distante daquele das imagens que observamos. Assim, uma sensação multitemporal emerge ao longo do filme, com a personagem não vista da diretora existindo entre dois lugares, olhando sempre simultaneamente para frente e para trás. Akerman comentou em entrevistas que, devido às experiências traumáticas de seus pais durante a Segunda Guerra Mundial, foi negada à filha a possibilidade da dor. A melancolia de sua geração estava na perda do pleno direito de existir, após a extrema destruição à qual foi submetida a comunidade judaica. Para existir, ela precisou abrir mão de suas origens, e buscou em outras paisagens uma personificação, que encontrou num país onde se vende a cada esquina o mito da reinvenção. Em Notícias de casa, a existência
parece ser possível apenas no estrangeiro, entretanto no estrangeiro está a fantasmagórica e anuladora diáspora. Com Kidlat Tahimik é o contrário: a construção de si se consolida na realização do que é o outro – inclusive na fabulação do próprio nome do protagonista de seu longa de estreia, um par de palavras na língua tagalo que o então economista e homem de negócios Eric de Guia adotaria permanentemente. Esse ato de reinvenção possui um sentido irônico no contexto de Pesadelo perfumado, uma história de aventura narrada pelo artista, na qual a figura ingênua e feliz do jovem Kidlat, cujo pai foi a primeira “causalidade” e o estopim da Guerra Filipino-Americana, trabalha em uma aldeia como motorista de jeepney, um tipo de transporte público todo colorido feito de sobras de jeeps americanos. O grande desejo de Kidlat, explicado por ele para nós e para os residentes da aldeia, é se tornar astronauta e seguir os passos de Wernher von Braun, cientista alemão-americano que desenvolveu várias tecnologias espaciais nos Estados Unidos. 3
O governo dos Estados Unidos ocupou as Filipinas entre 1898 e 1946, e continuou a manter bases militares nas ilhas após sua saída oficial. O personagem de Kidlat acaba levando consigo o conceito de progresso anti-humano embutido no sonho americano numa viagem para a Europa na companhia de um militar e empresário norte-americano (interpretado por Lerch), onde descobre, pelo contato direto com a outra cultura, o feitiço trazido de fora. Algumas pessoas que Kidlat encontra na França e na Alemanha são velhos trabalhadores já desiludidos com o vazio que o mundo moderno oferece a eles, e que ficam encantados com suas histórias sobre uma vida mais artesanal em Balian. A cultura nativa é preservada, e a tradição, fortalecida na história do jovem que deixa sua vila em busca de uma vida melhor. Kidlat acaba aprendendo a combater o pesadelo do progresso com o sopro mágico que seu pai utilizou contra os americanos, e que ele próprio utiliza para soprar-se de volta para casa. O projeto de Kidlat Tahimik, tanto em Pesadelo perfumado quanto em seus
outros filmes, é a comunicação com o outro, e a mensagem transmitida de autovalorização é universal. Ainda que o personagem criado pelo cineasta e desenvolvido em filmes como Por que o amarelo é o meio do arco-íris? (Bakit dilaw ang gitna ng bahag-hari?, 1994) e Balikbayan #1: memórias do superdesenvolvimento (Balikbayan #1: Memories of Overdevelopment, 2015-2018) seja baseado em experiências pessoais envolvendo parentes e amigos, no extremo, a sua mensagem pode ser propagada se existir outro em seu lugar. Ele continuou sua jornada com foco na valorização da cultura nativa das Filipinas e nos laços familiares, como com sua esposa alemã, seus três filhos (inclusive o parto de um deles é sutilmente registrado em Pesadelo perfumado) e sua mãe – na vida real, a primeira mulher eleita para um cargo público nas Filipinas –, que serve como uma presença fundamental ao acompanhar em espírito seu filho em sua jornada ao mundo civilizado. Assim como Chantal Akerman, Kidlat Tahimik fez de sua vida uma obra artística.
Everyone Gets Lighter Os dois estenderam o mundo de seus filmes para a vida real, continuando a incorporar e a viver os personagens ao longo do tempo. Os cineastas, cada um a sua maneira, se tornaram suas próprias criações. Os filmes serviram como veículos. * A sessão é dedicada ao poeta norte-americano John Giorno, falecido em outubro. Para celebrar sua obra e a última Sessão Mutual Films de 2019, traduzimos seu poema “Everyone Gets Lighter” (“Todo mundo fica mais leve”), de 2002:1
1. O poema foi publicado no livro Subduing Demons in America: Selected Poems 1962-2007 (Soft Skull Press, 2008). 4
Life is lots of presents, and every single day you get a big bunch of gifts under a sparkling pine tree hung with countless balls of colored lights; piles of presents wrapped in fancy paper, the red box with the green ribbon, and the green box with the red ribbon, and the blue one with silver, and the white one with gold. It’s not what happens, it’s how you handle it. You are in a water bubble human body, on a private jet in seemingly a god world, a glass of champagne, and a certain luminosity and emptiness, skin of air, a flat sea of white clouds below, and the vast dome of blue sky above, and your mind is an iron nail in-between.
It’s not what happens, it’s how you handle it. Dead cat bounce, catch the falling knife, after endless shadow boxing in your sleep, fighting in your dreams and knocking yourself out, you realize everything is empty, and appears as miraculous display, all are in nature the play of emptiness and clarity. Everyone gets lighter everyone gets lighter everyone gets lighter everyone gets lighter, everyone is light.
Todo mundo fica mais leve A vida é um monte de presentes, e todo santo dia você ganha um monte de lembranças debaixo de um pinheiro brilhante enfeitado com inúmeras luzes coloridas; pilhas de presentes embrulhados em papéis refinados, a caixa vermelha com fita verde, e a caixa verde com fita vermelha, e a azul com prata, e a branca com ouro. Não é o que acontece, é como você lida com isso. Você está em uma bolha d’água de corpo humano, num jatinho particular em um aparente mundo divino, uma taça de champanhe, e uma certa luminosidade, e o vazio, pele de ar, um mar calmo de nuvens brancas abaixo, e o vasto domo azul do céu acima, e sua mente é um prego de ferro no meio. 5
Não é o que acontece, é como você lida com isso. O gato morto pula, pega a faca caindo, depois do interminável boxe de sombras em seu sono, lutando em seus sonhos e se nocauteando, você percebe que tudo é vazio e aparece como uma vitrine miraculosa, tudo está na natureza o jogo do vazio e da clareza. Todo mundo fica mais leve todo mundo fica mais leve todo mundo fica mais leve todo mundo fica mais leve, todo mundo é luz.
Bruce Conner: colagens e deslocamentos por Barbara Rangel
“Algumas vezes, uma imagem acidentalmente se encaixa em outras imagens e cria um tipo de contexto emocional semelhante a uma estrela de cinema dando um tapa em um homem e o trem passando por um penhasco.” Bruce Conner, em entrevista publicada em 1993 no livro Recycled Images: The Art and Politics of Found Footage Films.
Muito antes da avalanche de imagens em movimento (profissionais ou amadoras) com as quais convivemos diariamente, não só nos meios de comunicação, mas, sobretudo, graças ao fenômeno mais recente das redes sociais, Bruce Conner (1933-2008) já se debruçava criticamente sobre a profusão de imagens desde os anos 1950, tanto em seu trabalho em artes visuais quanto em seus filmes experimentais; estes últimos, o foco da programação do cinema do IMS. “Meus filmes são o ‘mundo real’. Não são um objeto encontrado. É isso que eu vejo como fenômeno ao meu redor. Pelo menos é o que eu chamo de ‘mundo real’”, dizia Conner. Ao retrabalharem o mundo real, seus filmes, 6
produzidos ao longo de mais de 50 anos, discutem alguns dos principais temas da segunda metade do século passado: a liberação sexual feminina, o perigo nuclear, a produção de mitos políticos, a persuasão da propaganda comercial. Bruce Conner se insere em uma tradição de cineastas que produzem found footage films (filmes com materiais encontrados, em tradução literal do inglês), que são produzidos com materiais de arquivo, mas não apenas. A apropriação de materiais não filmados por si é um procedimento que existe desde o início do século passado, utilizado, por exemplo, no documentário A queda da dinastia Romanov (1927), de Esther Shub. No entanto, o que diferencia um filme como o de Shub do trabalho que desenvolve Conner e outros cineastas que trabalham com materiais apropriados, como Ken Jacobs, Peter Tscherkassky e Gustav Deutsch, é o grau de intervenção em cada um, ou seja, o quanto cada diretor se limita a compilar material em torno de um tema e o quanto retrabalha significações a partir dos “materiais encontrados”, principalmente
via montagem (obedecendo assim aos preceitos de Lev Kuleshov, contemporâneo de Shub). No caso de Conner, números musicais, filmes B, propagandas, cinejornais, starts e filmes militares foram fonte para a criação de uma obra que busca, via fricção de imagens díspares, ressignificações dos propósitos iniciais das imagens e novos sentidos oriundos dessas junções. Esse “cinema de fricção” não existe somente enquanto colagem de materiais aleatórios – Conner se faz valer de uma série de mecanismos de montagem que criam filmes muito agudos em termos conceituais (como as críticas políticas de relatório e assassinato televisivo), ao mesmo tempo que não perdem uma dimensão sensorial e se valem de um tipo de humor particular. Os filmes se tornam palpáveis seja pela alta velocidade dos cortes (raio cósmico), pela inversão (breakaway) ou ainda pela dilatação do tempo e do espaço (crossroads). Em constante mutação, sua obra dissolve também a noção de autor enquanto persona genial que cria algo do “nada” (noção refutada pelo próprio
Conner em várias ocasiões). Isso acontece pela própria lógica de apropriação e também pelo método de trabalho do artista: muitas vezes, em colaboração estreita com amigos e parceiros, como a artista Vivian Kurz (vivian), a coreógrafa e cantora Toni Basil (breakaway) e o músico minimalista Terry Riley (crossroads). A seleção apresentada no cinema do IMS compreende a maior parte da obra fílmica de Conner, dividida em quatro programas distintos, em cópias restauradas em digital e 16 mm. Os filmes crossroads (exibido junto com a performance fílmica O digital explosivo inevitável, de Ross Lipman, sobre o processo de restauração do filme), relatório e assassinato televisivo partem de momentos centrais da história americana, como os experimentos nucleares no atol de Bikini e o assassinato do presidente John F. Kennedy. Em crossroads, as explosões nucleares (vistas de ângulos distintos) são lentificadas e, combinadas à trilha de Patrick Gleeson e Terry Riley, se tornam uma espécie de coreografia macabra, que remete às tensões geopolíticas do 7
pós-guerra. relatório se debruça sobre as infinitamente vistas tomadas do assassinato de John F. Kennedy, interrogando visualmente essas imagens e também a transformação de Kennedy em um mito. Como observa Bruce Jenkins em seu texto “Contestando Camelot: relatório de Bruce Conner”, é na repetição dessas imagens já conhecidas que o artista analisa de forma mordaz o grotesco que havia na exploração do assassinato por parte dos grandes veículos de comunicação; é também na correlação visual entre o start da película e o anúncio da morte de JFK e da posterior investigação do crime, que Conner ironiza a construção do mito em torno de Kennedy. Exibido junto com relatório, assassinato televisivo é uma forma de continuação do mesmo tema, dessa vez em torno da mercantilização desse assassinato, uma espécie de crônica das impressões de Conner (como definiu Stan Brakhage) e dessa transformação de personas políticas em produtos a serem consumidos. O programa Entre luz e sombras põe em evidência procedimentos que perpassam
todos os outros filmes, no caso, os procedimentos de montagem adotados por Conner, entre imagens que se revelam e se escondem. Partimos do clássico um filme, em que momentos extremos da experiência humana (guerra e conflitos, corridas de carros, um casal que se equilibra diante do vazio) são colocados juntos, como uma celebração das possibilidades associativas dos “filmes encontrados ao acaso”, em uma montagem associativa herdeira dos preceitos de início do cinema soviético. filme de dez segundos é literalmente o que anuncia o título: dez segundos, compostos na maior parte por pontas de filme entremeadas por algumas cenas de outras produções, numa inversão em que o invisível do filme enquanto objeto material (start, pontas e outros materiais técnicos) se torna o foco principal. procurando cogumelos é um filme lisérgico de viagens, uma caçada de cogumelos entre o México e os EUA que se apresenta aqui em duas versões – uma com a música “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles, e outra ligeiramente mais longa, com música de Terry Riley. Em mea
culpa,
realizado a partir de filmes educativos, em conjunto com música de David Byrne e Brian Eno, a tela se transforma em uma espécie de pinball cinematográfico. manhã de páscoa é o último filme de Conner, um ensaio enigmático, novamente com trilha de Terry Riley, em que o artista se debruça essencialmente sobre as diversas texturas visuais possibilitadas pelo esgarçamento temporal e pelo reenquadramento dos materiais utilizados. Nos filmes que compõem o programa Mulheres de celuloide, a atenção de quem os assiste é engajada principalmente pela presença de corpos femininos, embalada por usos irônicos de canções pop. Estruturado a partir da canção “What’d I Say”, de Ray Charles, raio cósmico é o primeiro desses filmes a desconstruir o corpo feminino, o da artista Beth Pewter, que colaborou voluntariamente com Conner – o êxtase sexual dado pela música de Ray Charles é mimetizado na montagem ácida, muitas vezes em sobreposição, desse corpo que dança com Mickey Mouse, com a bandeira americana, com canhões, em arrebatamento bélico e 8
mortífero. vivian, que tem uma exposição do próprio Conner como cenário, parte do retrato em movimento de Vivian Kurz, ao som da versão de “Mona Lisa”, interpretada por Conway Twitty, para quiçá indagar menos sobre Vivian em si e mais sobre a condição que ela representa enquanto objeto de exposição (num duplo entre a mulher no filme e a mulher na vitrine), já que não sabemos se o que vemos diante da tela é real ou é apenas uma obra de arte adorável, fria e solitária, como já diz a letra da canção. marilyn vezes cinco é um estudo repetitivo do corpo de uma mulher, supostamente Marilyn Monroe, embalado pela letra de “I’m through with Love”, cantada pela própria: “Por que você me levou a pensar que poderia se importar? Você não precisava de mim, tinha sua parte.“ Em pedaços de corpo e repetições, a robustez desse simulacro do corpo mais do que conhecido de Marilyn Monroe reitera sua função como objeto visual a ser consumido, ao mesmo tempo que afirma “I am through with love”, que está farta desse amor, um sentimento que nesse caso é pura fascinação voyeurística.
Desta seleção, breakaway é o filme no qual Conner colaborou mais estreitamente com o tema de seu escrutínio visual, no caso a cantora e coreógrafa Toni Basil. Como aponta Johanna Gosse em seu texto “Pop, colaboração, utopia: breakaway em Los Angeles, 1964-1966”, “ao invés de documentar os movimentos de Basil a partir de uma distância fixa e em perspectiva estável, Conner se movimenta junto com ela [...]. Essa maneira coreografada de filmar implica em um modo mais aberto e participativo de autoria, que em parte desestabiliza o clássico binário do autor (homem), dono do olhar, e (mulher) do objeto desse olhar, mesmo se no fim incorra nessa dinâmica, com Conner controlando a câmera e Basil performando diante dela.” Basil quer romper com o dia a dia, como ela canta, um subtexto também para a liberação sexual feminina, que estava em curso nos anos 1960. Ainda que produto de uma utopia da colaboração horizontal protofeminista, para Gosse, Conner e Basil fazem do “eterno feminino” “um transe espectral, um eco misterioso, e atração elusiva, equilibrada
precariamente à beira da desmaterialização corporal e do colapso total”. Em célebre carta para a galerista Paula Kirkeby, Bruce Conner se descreve como “um artista, um antiartista, um feminista, um profundo misógino, um romântico, um realista, um surrealista [...], um minimalista, um pós-modernista [...], espiritual, profano, um homem da renascença na arte contemporânea e um dos mais importantes artistas contemporâneos”. Como ele nota, cada um dos antagonismos presentes nas descrições que fazem do trabalho dele é verdade. Na continuação desse gesto libertário presente em cada um dos filmes feitos por Conner que recusam definições categóricas, cabe a cada pessoa tirar suas próprias conclusões. Que assim seja.
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Meu dever é voar por Adhemar Oliveira
A arte de programar filmes consiste na perícia de articular interesses, valores e egos, não necessariamente nessa ordem, de uma audiência real ou fictícia (neste caso, a conquista de novos públicos). Digo arte, e não ofício, porque o aprendizado se dá em vários lugares e circunstâncias, pressupõe o casamento de gostos, ideias, costumes, crenças, pensamentos, estéticas etc. O artista-programador se coloca como veículo. Ofício seria uma função do algoritmo, e, creio, ainda está para nascer o algoritmo que tenha a transgressão como paradigma. A necessidade de se entender as práticas passadas que tendem a se repetir é clara, e a estatística consegue um elevado grau de acerto ao apontar tendências. No entanto, se olharmos com cuidado, a vida dos filmes se sustenta em pequenas transgressões, que sempre colocam em prova a certeza dos números. Na curadoria de um evento, temos a maior liberdade para exercitar as loucuras, misturar sentimentos, lembranças e histórias, critérios que não se baseiam em números, e sim em uma leitura de 10
transgressões, e há também a sorte (outro fator não matemático), que também acompanha a vida de um programador. É uma pré-desculpa para uma audiência baixa de uma seleção. Vivemos no Brasil, país onde se cunhou, em 1968, a frase “seja marginal, seja herói”. Cerca de 21 anos depois, o veredito: “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever. O meu dever é voar”. Essa foi a decisão emblemática do personagem de Superoutro, filme que, por ser um média-metragem, quebrou regras de programação ao se sustentar num cinema por várias semanas de sucesso nos anos 1980. A agonia que o país provoca em seus artistas pouco mudara em duas décadas. Nesta seleção, agrego filmes de formação de minha juventude (Pasqualino Sete Belezas e O boulevard do crime) a programações vitoriosas (Sábado e Encontro com homens notáveis) e de sentidos opostos, passando por um filme (Os palhaços) que levou três décadas para encontrarmos, obsessão minha e de Leon Cakoff quando éramos sócios na distribuidora Mais Filmes.
Por fim, um filme de juventude (Próxima parada: bairro boêmio), em que um sítio urbano se torna protagonista na formação dos personagens. Particularmente, vivi três vezes essa situação (Bixiga, Botafogo, Augusta), no nascimento de três gerações de cinéfilos agregados a salas e ruas icônicas. Ar te ou ofício, transgredindo ou seguindo os números, a programação se torna a melhor aliada para se obter um brevê para pilotar esta vida louca, em que o cinema, ao mesmo tempo que nos faz viajar pelo mundo, nada mais é que um bom motivo de encontro com quem está próximo a nós.
Carta Branca a Adhemar Oliveira Ao longo de mais de 40 anos, Adhemar Oliveira formou gerações de cinéfilos Brasil afora com o seu trabalho de programador e também como distribuidor e exibidor. Para celebrar esse trabalho, apresentamos sete filmes selecionados por ele, que o marcaram em cada momento de sua trajetória. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
O boulevard do crime
Les enfants du paradis Marcel Carné | França | 1945, 189’, DCP Na Paris dos anos 1840, no bulevar du Temple, também conhecido como bulevar do Crime, quatro homens se apaixonam pela atriz Garance. Entre eles, o mímico Baptiste. O título original, Les enfants du paradis [Os filhos do paraíso], faz referência ao andar mais alto do teatro, com os ingressos mais baratos e a visão menos privilegiada do palco, conhecido como “paradis” [paraíso] ou “poulailler” [galinheiro]. Em entrevista concedida em 1945, Carné comenta que o filme é uma homenagem ao teatro: “Tentamos traçar a vida dos atores Frédérick Lemaître e Baptiste Debureau no começo, também a de um dândi da época, famoso no bulevar do Crime, Lacenaire. Mas, se os personagens realmente existiram, a ação é imaginada.” Considerado uma das obras clássicas do cinema francês, o filme é uma das parcerias entre o diretor Marcel Carné e o escritor Jacques Prévert e foi realizado durante o período da ocupação nazista na França. Como o Regime de Vichy havia imposto um limite de duração para longas-metragens, foi lançado em duas partes. O cinema do IMS exibe as duas partes em conjunto, com um intervalo de 15 minutos entre elas. [Íntegra da entrevista de Carné, em francês: bit.ly/carnebdc]
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tão para nós, o que nos permitiu, há alguns anos, dizer: ‘Vamos voltar ao material e ver se podemos encontrar maneiras de desenvolver o que tínhamos’. E nesse ponto se tornou muito claro em que momento o filme perdeu seu caminho essencial. Pois a história realmente importante é a de uma criança única e extraordinária que desperta para a necessidade de fazer uma busca, e que ela não pode fazer essa busca sozinha.”
Encontro com homens notáveis
Os palhaços
Encontro com homens notáveis é baseado na autobiografia homônima de G.I. Gurdjieff, um influente professor espiritual, nascido na Armênia entre 1866 e 1877, e falecido em 1949, na França. O filme acompanha suas viagens pela Ásia Central, em busca de conhecimentos ocultos e crescimento interior. Quase 40 anos após seu lançamento, o filme ganhou um novo corte em 2016. Em entrevista que acompanha a nova versão do blu-ray, o diretor Peter Brook explica que se envolveu no projeto a partir de um convite de Jeanne de Salzmann (1889-1990), uma das principais discípulas de Gurdjieff. “Ela estava envolvida em todos os aspectos do projeto desde o início, da distribuição ao casting, em todos os elementos técnicos”, conta o diretor. “Madame de Salzmann, que nunca parecia satisfeita com algo de fato, sentiu que o filme não era de nenhuma maneira o filme que ela desejava fazer. E isso deixou uma ques-
A figura do palhaço é examinada por Federico Fellini em uma mistura de imagens documentais e fantasias subjetivas. Desde seu primeiro encontro com o picadeiro, quando criança, em Rimini, o diretor mistura a história do circo, da Itália e de sua própria biografia, a partir das diversas representações, clássicas e populares, do palhaço. Os palhaços foi distribuído comercialmente no Brasil em 2001. Na época, José Geraldo Couto escreveu sobre o filme na Folha de S. Paulo: “É quase inacreditável que uma obra tão rica e essencial como I clowns, de Federico Fellini, tenha permanecido inédita no Brasil por mais de 30 anos. Nessas três décadas, o filme ganhou entre os cinéfilos uma aura quase mítica, reforçada pelo estranho título que combina o artigo italiano “i” (os) e o substantivo inglês “clowns” (palhaços). O filme surgiu como uma proposta de docu-
Meetings with Remarkable Men Peter Brook | Reino Unido | 1979, 90’, DCP
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I clowns Federico Fellini | Itália, França, Alemanha Ocidental | 1970, 92’, 35 mm
mentário para a TV. Mas, sentindo-se incapaz de um retrato objetivo, Fellini decidiu fazer o que chamou de ‘paródia de documentário’. Realizou, na verdade, bem mais que isso. O filme é uma mistura sui generis de ficção, documentário e depoimento pessoal – uma estrutura livre e híbrida que só encontra paralelo em Roma, rodado logo depois.” [Leia o artigo completo: bit.ly/OsPalhaços]
Pasqualino Sete Belezas
Pasqualino Settebellezze Lina Wertmüller | Itália | 1975, 116’, DCP Pasqualino Frafuso (Giancarlo Giannini), conhecido em Nápoles como Pasqualino Sete Belezas, é um vigarista que vive às custas de suas sete irmãs, enquanto jura proteger a honra delas. Preso por oficiais nazistas, ele é enviado a um campo de concentração, de onde planeja escapar seduzindo um oficial alemão. A primeira imagem de Pasqualino Sete Belezas é um aperto de mão entre Hitler e Mussolini. “Eu tento entreter meu público e capturar a atenção desde o início”, conta a diretora Lina Wertmülller. “Adoro poesia grotesca e acho que meus filmes têm esse estilo, que combina humor e drama, ironia e cinismo, comédia e tragédia. Isso permite brincar com diferentes tons e ritmos narrativos. É mais do que um estilo – a narrativa grotesca reflete minha própria personalidade. Como digo no documentário Behind the White Glasses [sobre a vida e obra da diretora], acho que tenho duas almas. Uma é brincalhona, irô13
nica e com senso de humor. A outra está em contato com a face dramática da vida e com os problemas humanos em todo o mundo. As duas naturezas vivem em mim e nunca me abandonam. Meus filmes podem refletir essa personalidade inconscientemente.” Wertmüller foi a primeira mulher indicada ao Oscar de Melhor Direção, e Pasqualino Sete Belezas ainda foi nomeado nas categorias de Melhor Ator, Melhor Roteiro e Melhor Filme Estrangeiro, mas a obra não recebeu nenhuma das estatuetas. Em 2020, a cineasta receberá o Oscar Honorário em homenagem à sua carreira. [Entrevista disponível em inglês no site da Criterion Collection: bit.ly/PasqualinoSeteBelezas]
Próxima parada: bairro boêmio Next Stop, Greenwich Village Paul Mazursky | EUA | 1976, 111’, DCP
Em 1953, Larry Lapinsky deixou a casa dos pais, no Brooklyn, para tentar a vida de ator no bairro boêmio de Greenwich Village. Sua mãe achou que era o fim do mundo, mas ele acreditava que seria um grande começo. Como conta o diretor Paul Mazursky em entrevista realizada em 1976, Próxima parada: bairro boêmio é inspirado em suas próprias experiências no Greenwich Village: “Troquei as pessoas, mudei os anos, coloquei coisas que tinha ouvido falar ou que aconteceram com pessoas que eu conhecia. Seria errado interpretar isso literalmente, como minha história. A única coisa que está mais próxima da minha história é o fato de tentar o papel do delinquente juvenil em um filme e obtê-lo. Esse foi o começo da minha carreira de ator... Que retomei, a propósito. Estou atuando no remake de Nasce uma estrela (1976). Eu interpreto o chefe da gravadora onde Barbra Streisand trabalha.” [Entrevista disponível no site do crítico Roger Ebert: bit.ly/BairroBoemio]
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Sábado
Ugo Giorgetti | Brasil | 1994, 85’, Arquivo digital Num sábado quente, uma equipe de filmagem vai ao Edifício das Américas, no centro de São Paulo, rodar um comercial de perfume. Paralelamente à filmagem, dois funcionários do Instituto Médico Legal buscam um cadáver no edifício. Sábado é parte do período do cinema brasileiro chamado de Retomada, marcado pela volta das políticas de fomento à indústria após o desmonte operado pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello no início dos anos 1990. Durante seu lançamento comercial, em 1995, Sábado levou 155 mil espectadores aos cinemas. Na Folha de S. Paulo, Inácio Araujo escreveu que o filme mostra um país “ineficiente” e “atabalhoado” e aponta para a questão de classes sociais: “É uma vivência e um olhar bem paulistanos, ao juntar no mesmo espaço experiências contraditórias, opostas, em que dois brasis se espelham e se interrogam. É um filme de humor inquieto, que assume seus riscos e sabe administrá-los”. Já Hugo Sukman, no jornal O Globo, considerou o
filme “paulista demais”: “Apesar de a comédia ser bem urdida, sobretudo pelo elenco engraçado, a visão social do Brasil é essencialmente paulista. A divisão entre ricos e pobres que não convivem no mesmo espaço e são obrigados a conviver, a absoluta ignorância de uns em relação aos outros, é impensável em uma cidade como o Rio, que tem favelas ao lado das habitações mais caras. Sábado, por isso, deve ser visto como a visão particular que São Paulo tem do Brasil.” [Leia a crítica completa da Folha em bit.ly/FolhaSábado, e a do Globo, disponível para assinates, em bit.ly/OGloboSábado]
Superoutro
Edgard Navarro | Brasil | 1989, 48’, 35 mm Um louco de rua tenta libertar-se da miséria que o assedia e acaba por subverter a própria lei da gravidade. Durante o lançamento do DVD do filme, em 2007, em entrevista à Folha de Pernambuco, Edgard Navarro falou sobre o contexto em que Superoutro foi criado: “É uma retomada mais anárquica de uma trilogia de inspiração freudiana que fiz nos anos 1970, com O rei do cagaço (fase anal), Alice no país das mil novilhas (fase oral) e Exposed (fase fálica). Por sinal, foi no Recife que filmei a imagem central desse último. Havia um canhão no parque Treze de Maio que era um símbolo fálico e, ao mesmo tempo, simbolizava a insegurança do poder constituído. Mas, voltando a Superoutro, ele é uma salada de clichês e conceitos, um filme antropofágico.” [Leia a entrevista completa: bit.ly/SuperOutroFolhaPE]
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Bruce Conner: colagens e deslocamentos Com uma obra iniciada nos anos 1950, Bruce Conner foi múltiplo ao longo de quase 60 anos de carreira como artista visual e cineasta experimental. Esta última faceta de Conner será explorada ao longo do mês de novembro no cinema do IMS. Dividido em quatro programas, os filmes fazem uso de diversos tipos de materiais (cinejornais, propaganda, filmes militares etc.) para discutir desde eventos políticos marcantes da história dos EUA, como o assassinato de John F. Kennedy (report, television assassination), e experimentos nucleares no atol de Bikini (crossroads) a apresentações e estudos do corpo feminino (breakaway), sempre de forma a desconstruir os dados do real a partir da montagem. A obra do artista foi recentemente restaurada pela UCLA, e parte dela será apresentada pela primeira vez no Brasil. Realizada em parceria com a Galeria Bergamin & Gomide, a programação inclui ainda O digital explosivo inevitável, uma performance documental de Ross Lipman que comenta o processo de restauração e as particularidades de um dos filmes mais consagrados de Conner, crossroads. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Mulheres de celuloide raio cósmico cosmic ray
Bruce Conner | EUA | 1961, 5’, DCP “raio cósmico parece uma colagem ousada de diferentes partes em movimento rápido: quadrinhos, dançarinas, luzes piscando”, escreveu Carl Belz para a revista Film Culture em 1967. “E é a dançarina – quase pelada, tirando a roupa ou nua – que fornece o tema central do filme. Ela aparece várias e várias vezes – ensanduichada entre soldados, armas, e até a morte na forma de uma caveira posicionada entre suas pernas. E se essa declaração iguala sexo à destruição, o cataclismo é brilhante, como um fogo de artifício reluzente que termina com uma explosão cósmica. É claro, o título também se refere ao músico Ray Charles, cuja arte Conner transcreve visualmente no filme como uma realidade potente, forte e penetrante em sua capacidade de afetar instintos animais básicos. Mas, se esse é o conteúdo do filme – que boa parte do nosso comportamento consiste em bestialidade –, a obra como um todo se mostra mais como uma revelação do que como uma crítica.”
marilyn vezes cinco
vivian
Rodado e lançado em 1996, breakaway apresenta a coreógrafa Antonia Christina Basilotta, conhecida como Toni Basil, dançando a faixa-título (que ela também canta). Um filme de dança visto duas vezes (em reprodução normal e de trás para a frente), rodado em exposições de um só frame, e também a 8, 16, 24 e 36 quadros por segundo.
Bruce Conner | EUA | 1964, 3’, DCP “Um filme-retrato editado ao som da versão de Conway Twitty para [a canção] ‘Mona Lisa’. Filmado parcialmente numa exposição de arte de Conner 16
em São Francisco, em 1964, a obra também é uma declaração inteligente a respeito das forças que sugam a vida da arte. Vivian Kurz, o foco do filme, está sepultada num mostruário de vidro.” (Judd Chesler)
marilyn times five
Bruce Conner | EUA | 1968-1973, 14’, 16 mm “Uma jovem, supostamente Marilyn Monroe, é vista sob um olhar atento e impiedoso na arena de um filme erótico antigo. A reiteração dos cinco ciclos gira em torno da mercantilização do seu corpo pálido como a lua, enquanto a canção da trilha sonora repete cinco vezes: “I’m through with Love” [Não quero mais saber de amor]. O último plano encerra uma recompensa final de quietude, quando ela é vista desabada no chão.” (Anthony Reveaux) O filme combina cenas do curta-metragem The Apple-Knockers and the Coke (1948), interpretado por Arline Hunter, à música “I’m through with Love”, cantada por Marilyn Monroe. breakaway
Bruce Conner | EUA | 1966, 5’, DCP
“A câmera captura seus movimentos em rastros de luz gestuais e expressivos. Entrecortado ritmicamente com pontas pretas de rolo de filme, ela rodopia em acelerações graciosas e estroboscópicas. A edição de Conner atinge seu ápice quando ele alterna ângulos da silhueta dela em diferentes planos, numa continuidade fluida e sinestésica.” “Basicamente, um filme de dois minutos e meio, e então esse ‘módulo’ de imagem e som é invertido. Tudo roda ao ‘contrário’, até o começo ‘original’. A trilha sonora com Basilotta cantando a faixa-título roda ao contrário, como um equivalente aural à abstração visual da fotografia. Lembra um paradigma daquelas demonstrações de como funciona a gravidade nas aulas de física no ensino médio, na qual víamos uma bola jogada reta para o alto percorrer fielmente sua trajetória de volta à Terra.” (Anthony Reveaux)
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Entre luz e sombras
um filme
uma proposta de bolsa da Fundação Ford para filmes experimentais. “Em certos momentos, essa atividade se encontrou nas definições culturais atuais da escultura, da pintura, da fotografia, do desenho, da poesia, da música, da dança, da colagem, da magia, do teatro, do desfile, da contemplação, do caos, da peregrinação, do tempo desperdiçado, do medo, da farsa, das revelações, da insanidade.” Com “Pines of Rome”, do compositor Ottorino Respighi na trilha, Conner estabeleceu uma poesia visual que mescla música e imagem. Ao longo das décadas seguintes, em outros filmes, refinou essa junção e montou as bases para o videoclipe musical que se conhece hoje em dia.
a movie
Bruce Conner | EUA | 1958, 12’, DCP um filme orquestra uma sinfonia virtual de desastres, acidentes de carro, explosões, cenas de guerra e fome, além de momentos de graça e serenidade – uma pessoa na corda bamba, um avião voando pelas nuvens, a luz refletida na água. Conner explora, ao mesmo tempo, a própria natureza do cinema e a montagem na era moderna. Composto de filmes descartados em 16 mm comprados em mercados de pulga ou recolhidos em lojas de câmera, já foi descrito como o primeiro filme de found footage [imagens encontradas] contemporâneo. Neste filme, Conner inaugurou a vertente de seu trabalho com imagens em movimento, que durou a vida toda ao lado de suas outras práticas artísticas. “O cinema é uma extensão da minha atividade criativa”, declarou Conner em 1964 em
filme de dez segundos ten second film
Bruce Conner | EUA | 1965, 10’’, 16 mm “Quando pediram a Conner que fizesse o design do pôster do Festival de Cinema de Nova York de 1965, ele elaborou ten second film, criado com a
intenção de ser como um comercial televisivo que viesse antes das exibições de filmes no cinema. Era como uma ‘ponta de filme’ composta, assim como o pôster, por uma série de dez tiras de película, cada uma com 24 quadros, de contagem regressiva, que é vista como o brasão fundamental da exibição cinematográfica.” (Anthony Reveaux) Uma das justificativas do festival para rejeitar o trabalho foi o fato de o filme ser rápido demais.
procurando cogumelos (Versão Beatles) looking for mushrooms (Beatles Version)
Bruce Conner | EUA | 1959-1967, 3’, DCP
mea culpa
Bruce Conner | EUA | 1981, 5’, 16 mm Na sua primeira colaboração com David Byrne e Brian Eno, Conner usou imagens de filmes educativos para criar uma trilha de imagens ritmicamente austera para a música do disco My Life in the Bush of Ghosts (1981), pioneiro no uso da técnica de sampling.
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Nas palavras da historiadora da arte Johanna Gosse, “looking for mushrooms (1959-1967) é um diário de viagens que documenta uma ‘viagem’ psicodélica através do México rural e dos Estados Unidos urbano. O filme mistura cenas de ruas de São Francisco, que Conner e Bob Branaman filmaram no fim da década de 1950, com outras do México, que Conner rodou durante uma série de excursões para ‘caçar cogumelos’, entre 1961 e 1962, quando ele e [sua esposa] Jean Conner moravam na Cidade do México. Em pelo menos uma dessas viagens, o casal foi acompanhado por Timothy Leary, ex-professor de Harvard e um dos principais difusores das drogas psicodélicas.” “As primeiras versões do filme eram mudas e rodavam em loop. Em 1967, Conner acrescentou uma trilha de rock psicodélico: a música
‘Tomorrow Never Knows’, dos Beatles, do disco Revolver, de 1966. Sabia-se que a letra da canção era inspirada no livro A experiência psicodélica – Um manual baseado no livro tibetano dos mortos (1964), de Leary, Ralph Metzner e Richard Alpert, que aconselhava que as pessoas sob a influência de psicotrópicos ‘desligassem a mente, relaxassem e deixassem ser levados pela correnteza’. Pode-se argumentar que este é dos seus filmes mais hipnóticos e impressionantes em termos visuais. Conner depois comentou que looking for mushrooms (junto com cosmic ray) era muitas vezes alugado por agências de publicidade que, supunha-se, estavam interessadas no seu uso de edição rápida e estrobos para gerar efeitos psicodélicos e mensagens subliminares.” procurando cogumelos (Versão Riley) looking for mushrooms (Riley Version)
Bruce Conner | EUA | 1959-1967/1996, 15’, DCP Neste filme, são exibidas as mesmas imagens editadas na versão mais curta de looking for mushrooms, lançado em 1968 com uma canção dos Beatles. Com uma trilha nova de Terry Riley, a música “Poppy Nogood and the Phantom Band”, esta versão é mais longa, mas mantém a mesma edição, utilizando cinco frames para cada frame original.
crossroads + O digital explosivo inevitável
montadas e combinadas com a trilha original composta por Patrick Gleeson e Terry Riley. O digital explosivo inevitável The Exploding Digital Inevitable
Ross Lipman | EUA | 2017, 1ª parte: 24’; 2ª parte: 25’, DCP
manhã de páscoa easter morning
Bruce Conner | EUA | 1966/2008, 10’, DCP Este último filme finalizado por Conner, com música de Terry Riley, é descrito por Michelle Silva, sua colaboradora de longa data e responsável pelo seu acervo, como uma “continuidade ao esforço ritualístico em retrabalhar e repensar os próprios filmes. A fonte de imagem deriva da gravação em Kodachrome 8 mm de [seu filme] easter morning raga (1966), expandida em termos de duração, bitola cinematográfica e quadros por segundo, para produzir um efeito de transcendência visual. easter morning celebra a reverência de Conner ao cinema experimental, ao som aleatório e às descobertas no reino do espírito.”
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crossroads crossroads
Bruce Conner | EUA | 1976, 37’, DCP “Operation Crossroads” foi o nome dos dois primeiros testes nucleares que os Estados Unidos realizaram no atol de Bikini, nas ilhas Marshall, entre 1946 e 1958. As bombas detonadas tinham um potencial explosivo equivalente a 23 milhões de toneladas de TNT – o mesmo que o ataque em Nagasaki. Mais de 700 câmeras e aproximadamente 500 operadores de câmeras cercaram o local do teste. Quase metade do estoque mundial de negativo fílmico estava em Bikini, tornando esse evento o momento mais minuciosamente fotografado na história, até então. Bruce Conner encontrou uma beleza cataclísmica nas imagens de arquivo dos testes liberadas pelo governo. Vinte e três tomadas da mesma explosão, feitas em diferentes velocidades, ângulos e distâncias, do céu, do mar e da terra, foram
O digital explosivo inevitável é uma performance filmada, um ensaio documentário ao vivo do artista Ross Lipman. Ele foi um dos responsáveis pela restauração de crossroads, filme de Bruce Conner. Integrando uma série de filmes, clipes de áudio, fotografias, entrevistas e documentos raros, Lipman revela aspectos surpreendentes sobre o experimento nuclear e a restauração de crossroads.
História americana
traumático em escala nacional. A segunda metade explora o cenário mais amplo da mercantilização e do espetáculo, oferecendo uma análise aguçada das tensões dentro da nossa cultura televisionada, movida a consumo, e da mitologia americana.”
relatório report
Bruce Conner | EUA | 1963-1967, 14’, DCP Segundo Rudolf Frieling, curador de artes midiáticas do San Francisco Museum of Modern Art, “depois do assassinato do presidente John F. Kennedy, em novembro de 1963, Conner trabalhou por anos nessas imagens, produzindo, ao final, oito versões de filme diferentes. Como disse Conner ao amigo e cineasta Stan Brakhage, ‘se eu completasse o filme, [Kennedy] estaria tão morto quanto possível’.” “Na versão final, exibida aqui, luzes intensas e piscantes acompanhadas pelo som de um comentarista de rádio se misturam com noticiários e comerciais, mimetizando a estrutura de uma transmissão televisiva. As repetições insistentes na primeira metade desafiam um encerramento narrativo e amplificam o papel da mídia no evento
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assassinato televisivo television assassination
Bruce Conner | EUA | 1963-1995, 14’, 16 mm Assim como relatório, o curta assassinato televisivo aborda o assassinato do presidente John Kennedy por Lee Harvey Oswald. A música é de Patrick Gleeson, e as imagens foram filmadas diretamente da tela da TV por Conner. Bruce Jenkins, diretor de Cinema e Vídeo do Walker Art Center, em Minneapolis, descreve o filme da seguinte forma: “Oswald – vista da janela, Depósito de Livros Escolares do Texas – Eternal Flame [Chama eterna], Cemitério Nacional de Arlington – Presidente Kennedy – Flores funerárias na praça Dealey, Dallas – Desfile de inauguração
de Kennedy – Parte 109 do relatório oficial da Comissão Warren – Depósito de Livros Escolares do Texas – Carreata de Kennedy – Rifle de ferrolho encomendado pelo correio – Oswald detido – Jack Ruby atira em Oswald – faixas da TV – múltiplas exposições – Lincoln Memorial – diagramas no quadro-negro – Casa Branca – guarda militar no túmulo de Kennedy – comercial de frango assado para o Dia de Ação de Graças – Oswald – et cetera.” “Um filme notável. A trilha de Patrick Gleeson é tão eficaz quanto suas anteriores. Bruce Conner filma e transforma a experiência de ver essas imagens conhecidas, mas também hipnotizantes. O humor que alivia a tristeza genuína do material recebe alguns apoios aqui e acolá, acusticamente.”
Em cartaz
Azougue Nazaré
Tiago Melo | Brasil | 2018, 82’, DCP atita e Darlene vivem em uma casa isolada em C meio a um imenso canavial próximo à cidade de Nazaré da Mata (PE). Ele participa escondido do maracatu, combatido como coisa do demônio pelo pastor Barachinha, líder da igreja frequentada por Darlene. O diretor Tiago Melo chegou a Nazaré da Mata, cidade onde sua avó nasceu, com a vontade de fazer um documentário. “Fui fazendo a pesquisa, conhecendo as pessoas, e foi me dando uma vontade muito grande de fazer uma ficção. Primeiro, porque eu ficava pensando lá se ia fazer mais um doc sobre maracatu, já existem tantos, tantos outros já abordaram a parte religiosa, e eu percebi que estava animado para fazer algo diferente”, relata o diretor em entrevista à revista Continente, onde fala também sobre o processo de escolha do elenco: “Quem fez a pesquisa comigo foi Ítalo Gustavo, que é de Nazaré e trabalha comigo há
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muitos anos. Ele toca no maracatu, toca trombone, e eu pedi a ele que, durante o Carnaval, deixasse um iPad meu na mão de todo mundo da Cambinda Brasileira. A ideia era que eles se filmassem sem a minha presença, e terminou que isso foi o casting que eu estava pensando em fazer. Foi aí nesses vídeos de Carnaval que me encantei mais com Valmir do Coco, que faz Catita, por exemplo. Já conhecia, achava interessante, mas achei bem mais forte. Várias outras pessoas do maracatu vieram também dessa forma. A ideia sempre foi usar o máximo possível de pessoas da Cambinda Brasileira, mas aí depois o processo abrangeu Nazaré como um todo.” [Leia a entrevista completa em: bit.ly/AzougueNazare] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
A cidade dos piratas
Otto Guerra | Brasil | 2018, 80’, DCP Inspirado nos quadrinhos da cartunista Laerte, sobretudo na série Os piratas do Tietê, a animação mescla a jornada de transição da artista com o próprio processo de realização do filme, durante o qual o diretor foi diagnosticado com câncer. “Para Laerte, Os piratas e outros universos de sua criação ficaram superados”, comenta o diretor Otto Guerra no material de divulgação do filme. “Ela dizia que Os piratas funcionavam nos anos 1980, mas que hoje ela considera eles machistas. Eu também concordava que suas criações mais recentes eram muito melhores. O projeto do filme iniciou em 1993, evidente que o mundo evoluiu e tratamos de nos adaptar a essa nova fase da autora.” Em 2018, A cidade dos piratas recebeu os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Direção no Festival de Cinema de Vitória, e Menção Honrosa no Festival de Cinema de Gramado. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
gesto de esperança.” “Se Rita, filha da empregada no filme, não podia considerar fazer seus estudos em 2003, a chegada de Lula mudou tudo. Ele abriu às classes populares o acesso às universidades”, completa Linhart. Pela sua interpretação, Ítala Nandi recebeu o prêmio de Melhor Atriz na edição de 2018 do Festival do Rio. [Íntegra da entrevista com os diretores, em francês: bit.ly/domingocf]
Domingo
Clara Linhart e Fellipe Barbosa | Brasil | 2018, 95’, DCP No dia 1 de janeiro de 2003, duas famílias do interior gaúcho se reúnem em uma velha mansão rural para um churrasco regado a champanhe, no qual segredos, anseios e frustrações familiares vêm à tona. Enquanto isso, a televisão transmite a posse do novo presidente do Brasil, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao portal francês Première, concedida no período das eleições presidenciais de 2018, a diretora Clara Linhart comentou: “É incrível que o cinema brasileiro ainda não tenha mirado esse período que vai da eleição de Lula até os dias atuais! Muitos cineastas ainda estão presos nos anos da ditadura, enquanto esse período foi de uma transformação igualmente histórica.” “A evolução das mentalidades no país, no entanto, nos levou a mudar o final do filme”, comenta o diretor Fellipe Barbosa, “que era muito trágico, e se articulava como uma afirmação da opressão burguesa. O filme termina hoje com um 22
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Humberto Mauro
André Di Mauro | Brasil | 2018, 90’, DCP Um documentário-tributo a Humberto Mauro, considerado um dos pioneiros do cinema brasileiro e latino-americano. O filme tem por fio condutor uma entrevista gravada com Mauro nos anos 1960 no MIS – Museu da Imagem e do Som e aborda a vida do cineasta a partir de seus filmes e a criatividade do cinema de Mauro, expondo as incomuns soluções técnicas para fazer seus filmes e a luta diante das adversidades inerentes ao ofício em uma pequena cidade no interior do Brasil, no início do século XX. No texto “Mauro e dois outros grandes”, de 1961, Paulo Emílio Salles Gomes defende que Humberto Mauro, Mário Peixoto e Lima Barreto seriam, “até segunda ordem, as personalidades mais fascinantes da história da cinematografia brasileira. [...] A vocação técnica intuitiva de Humberto Mauro permitiu-lhe absorver bem o que realizavam os autores das fitas estrangeiras a que assistia, e seguir-lhes as pegadas, e tentar repetir suas audácias de linguagem. É o que dá a alguns de seus filmes – notadamente Ganga bruta – um tom às vezes clássico e outras vanguardístico.” Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Meu amigo Fela
Joel Zito Araujo | Brasil | 2019, 92’, DCP Revolucionário, visionário, gênio, guerrilheiro, pan-africanista e pop star. São muitos adjetivos que podem ser aplicados a Olufela Olusegun Oludotun Ransome-Kuti, mais conhecido como Fela Kuti. Nascido na Nigéria em outubro de 1938, Fela estudou música em Londres e faleceu em agosto de 1997, em decorrência de complicações do vírus HIV. O multi-instrumentista foi um dos pioneiros do gênero afrobeat, além de ter sido ativista político e defensor dos direitos humanos. Em Meu amigo Fela, o diretor brasileiro Joel Zito Araújo vai a Nova York entrevistar o cubano Carlos Moore, amigo íntimo e biógrafo oficial de Fela, com o objetivo de tentar entender o homem que viveu por trás do mito de “excêntrico ídolo pop africano do gueto”. Segundo o diretor, Carlos Moore não é o único amigo de Fela a que o título do filme faz referência. “Na realidade, o título Meu amigo Fela refere-se a todos os amigos de Fela Kuti que estão no filme, e indiretamente a mim, um amigo mesmo que ima23
ginário”, conta o realizador em entrevista à Revista de Cinema. “O dispositivo fílmico para contar a história do Fela consistiu em buscar os relatos dos amigos íntimos desse grande e trágico artista. Lá, você verá o biógrafo, a amante norte-americana que fez a cabeça de Fela, o filho, uma das suas 27 esposas, os artistas gráficos, o baterista que ajudou a criar o afrobeat, e assim por diante. Eu queria, portanto, fazer um documentário que entrasse na intimidade de Fela, e esta foi a estratégia que inventei. Carlos Moore acabou tendo um papel discreto de condutor da memória coletiva. É importante também dizer que Fela foi a minha maneira de falar da África, da geração de pan-africanistas que sempre admirei e de minhas angústias com as tragédias que o continente viveu e vive. É, portanto, um filme que tem também o meu ponto de vista, nesse sentido.” [Leia a entrevista completa: bit.ly/MeuAmigoFela] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Torre das donzelas
Susanna Lira | Brasil | 2018, 97’, DCP O filme traz relatos inéditos da ex-presidente Dilma Rousseff e de suas ex-companheiras de cela do presídio Tiradentes, em São Paulo, durante a ditadura militar. Detidas ali entre o fim dos anos 1960 até 1972, quando o presídio foi desativado, as entrevistadas falam sobre as torturas a que foram submetidas, mas também sobre as amizades criadas, descobertas da sexualidade, maternidade, alimentação e a busca pela liberdade. A diretora Susanna Lira pediu para que cada uma desenhasse a torre das donzelas como elas se lembravam. Durante a pesquisa, a equipe percebeu que cada uma tinha uma memória distinta do lugar, então, nas palavras de Lira, “resolvemos criar esse lugar sugestivo, porque, na verdade, não sabíamos exatamente como era. Essa torre imaginária é, ao mesmo tempo, um espaço sugerido para se recuperar a memória coletiva delas. Precisávamos que, juntas, elas conseguissem descrever o que se passou lá dentro. E reerguer
Sessão Mutual Films esse espaço também é uma forma de resistir ao apagamento de memória, porque há um projeto de apagamento desses lugares, justamente para que não nos lembremos deles.” Em 2018, o documentário recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília e o prêmio de Melhor Documentário segundo o júri popular na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival do Rio, onde também levou o Prêmio do Júri Oficial. [O depoimento de Susanna Lira foi extraído de texto publicado no Jornal do Comércio, disponível em: bit.ly/torredd] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
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Três anos após voltar para a Bélgica e se tornar uma importante jovem cineasta, Chantal Akerman visitou Nova York para filmar o local onde viveu. Em Notícias de casa assistimos a cenas melancólicas da cidade na década de 1970, envolvidas pelas cartas amorosas (lidas pela diretora) que sua mãe escreveu durante o período em que a cineasta passou no exterior. Em contraponto, em seu filme de estreia, Pesadelo perfumado, o artista filipino Kidlat Tahimik se transforma no personagem central de uma fábula sobre um jovem aldeão que sonha em ser um astronauta nos Estados Unidos. Os dois filmes da Sessão Mutual Films de novembro, protagonizados e narrados pelos próprios cineastas, manifestam suas culturas natais através da distinta condição de estrangeiro. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Notícias de casa
News from Home Chantal Akerman | Bélgica/França/Alemanha | 1977, 85’, cópia restaurada em DCP Chantal Akerman se mudou de Bruxelas para Nova York em 1971, com 21 anos, após abandonar a escola de cinema. Durante os três anos que morou lá, conheceu o cinema experimental norte-americano, especialmente de cineastas estruturalistas, como Yvonne Rainer e Michael Snow. Estes filmes influenciaram sua própria prática cinematográfica, como no ato de observar pequenos gestos e ações repetitivas em planos de longa duração. Akerman também conheceu a cinegrafista francesa Babette Mangolte, que se tornaria uma colaboradora fundamental em vários de seus filmes feitos nos Estados Unidos e na Europa, entre eles o celebrado Jeanne Dielman (1975). Notícias de casa foi o primeiro filme que Akerman realizou após o sucesso internacional de Jeanne Dielman. Enquanto a câmera de Mangolte observa cenas de Nova York (gravadas principal-
mente em Midtown e Lower Manhattan), a cineasta narra as cartas escritas para ela por sua mãe durante o período em que morou na cidade. São relatos da vida cotidiana da família na Bélgica, permeados por agrados e súplicas para que a filha mande mais notícias. As palavras dessa relação íntima e maternal são confrontadas por imagens e sons ambientes de uma metrópole distante e emocionalmente inacessível, onde passantes e automóveis se deslocam isolados. Notícias de casa estreou no Festival de Cannes e hoje é considerado uma das principais obras de Akerman. Ele foi restaurado digitalmente pela Cinemateca Real da Bélgica em 2014, em um projeto de restauração da obra da cineasta. As duas versões do filme – uma falada em francês, e outra em inglês – foram restauradas, e o IMS exibirá a versão em francês.
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Pesadelo perfumado
Mababangong bangungot Kidlat Tahimik | Filipinas/Alemanha | 1977, 95’, DCP O longa-metragem de estreia do cineasta filipino Kidlat Tahimik é narrado e protagonizado pelo próprio artista, no papel de um jovem camponês com desejo de viver o sonho americano. O personagem de Kidlat trabalha em uma aldeia como motorista de jeepney (um veículo feito de sobras de carros militares americanos da Segunda Guerra Mundial), atua como presidente do fã-clube do cientista espacial Wernher von Braun e escuta diariamente o programa de rádio Voz da América, com a ambição de se tornar um astronauta. Ele consegue uma oportunidade de realizar seu sonho ao ser convidado por um capitalista americano para trabalhar em seu lucrativo negócio em Paris, no caminho para os EUA. Porém, Kidlat descobre uma sociedade assolada pelo desperdício material e humano, o que o ajuda a valorizar os poderes de sua cultura nativa. O ainda ativo Tahimik (cujo nome, em tagalo, significa “Relâmpago Silencioso”) nasceu em 1942
com o nome de Eric de Guia. Ele veio de uma família abastada das Filipinas e se formou em administração de empresas em uma das melhores faculdades dos Estados Unidos antes de trabalhar por um tempo na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico na França. Decepcionado com a carreira executiva, ele retomou seu sonho de ser ator em uma temporada que passou na Alemanha, e começou a fazer cinema sob a tutela de Werner Herzog. Ainda que ficcional, Pesadelo perfumado, assim como seus filmes subsequentes, é repleto de instantes reais, interpretados por amigos e familiares. Kidlat cria, em uma mistura de documentário e paródia etnográfica, uma fábula surrealista e bem-humorada. Pesadelo perfumado estreou no Festival de Berlim, onde ganhou três prêmios, e ficou conhecido como um filme essencial do movimento anticolonial de Terceiro Cinema.
Sessão especial
Atlantique
Atlantique Mati Diop | França, Senegal, Bélgica | 2019, 104’, DCP Na região costeira de Dacar, no Senegal, um prédio imponente e futurista está prestes a ser inaugurado. Sem remuneração há meses, os operários decidem deixar o país por mar em busca de um futuro melhor. Entre eles, Souleiman, o amante de Ada, que tem 17 anos e foi prometida em casamento para outro homem. Em 2019, Atlantique recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Em sua 72ª edição, foi a primeira vez que a sessão competitiva do festival selecionou o trabalho de uma diretora de origem africana. É o longa de estreia da cineasta, que trabalhou como atriz por mais de uma década, com papéis em filmes de Claire Denis (35 doses de rum), Antonio Campos (Simon assassino) e Matías Piñeiro (Hermia & Helena). Como curta-metragista, realizou Mille soleils [Mil sóis], sobre o ator Magaye Niang, protagonista de Touki Bouki, a viagem da hiena, do senegalês Djibril Diop Mambéty, 26
tio da diretora. Atlantique é também o nome de seu primeiro curta, um híbrido de documentário e ficção que já explorava alguns dos temas abordados no longa. “No curta, a dimensão fantástica já estava presente, mas de uma maneira muito menor”, conta a diretora à revista Film Comment. “O curta já tinha um aspecto de história fantasma. Mas depois disso fui muito influenciada pela primavera senegalesa, que aconteceu seis meses após a primavera árabe. Eu sabia que queria fazer um filme fantasma sobre a situação da imigração, mas os eventos da primavera de Dacar me trouxeram o aspecto vital de Atlantique. Eu precisava falar sobre essa geração perdida a partir desse novo capítulo. Senti em minha imaginação que a juventude que eu via nas ruas, [envolvida em] incêndios e protestos, era habitada pela perda de todos os garotos que desapareceram. Eu senti que havia uma ligação invisível entre esses dois períodos, que os meninos que deixaram Dacar para ir à Espanha e que morreram no mar levaram algo dos vivos com eles. E que aqueles jovens, que em 2012 estavam nas ruas gritando e pedindo mudanças, também foram alimentados por essa perda. Tentar fazer coexistir esses dois capítulos, esses dois momentos precisos de Dacar era algo que me interessava.” [Leia a entrevista completa: bit.ly/AtlantiqueFC] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia). Vendas exclusivamente online. Não haverá vendas na bilheteria. Mais informações em ims.com.br.
coleção DVD | IMS
Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.
Últimas conversas Eduardo Coutinho | Brasil, 2015, 85’ Realizado a partir de entrevistas feitas por Eduardo Coutinho com jovens cursando o terceiro ano do ensino médio em escolas públicas, Últimas conversas busca entender como pensam, sonham e vivem os adolescentes. Os pesquisadores Laura Liuzzi e Geraldo Pereira visitaram 12 escolas e realizaram pré-entrevistas com 97 adolescentes. Desses, 28 foram filmados por Coutinho, dos quais nove entraram no corte final. O diretor (morto em fevereiro de 2014, antes do início da montagem) chegou a ver todo o material filmado e deixou um caderno com anotações feitas a partir das transcrições das entrevistas. Últimas conversas foi editado por Jordana Berg, parceira de Coutinho desde Santo forte (1998), e a versão final é de João Moreira Salles, produtor deste e dos nove filmes anteriores de Coutinho. Além de making of e cenas não incluídas na montagem final, a edição contém um livreto com texto de Pedro Butcher e uma entrevista com João Moreira Salles e Jordana Berg.
O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho
Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade
Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd. 27
Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho Programação de cinema e DVD Barbara Alves Rangel Programadores assistentes Ligia Gabarra e Thiago Gallego Projeção Adriano Brito e Edmar Santos
Os filmes de novembro
Meia-entrada
O programa de novembro tem o apoio da Cinemateca do MAM, da galeria Bergamin & Gomide, SP Filmes, La Belle Entreprise, da Gurdjieff Foundation New York, da DiMauro Filmes e das distribuidoras ArtHouse Distribuição, Elo Company, Olhar Distribuição, Inquieta Cine, Lança Filmes, O2 Play, Park Circus, Kino Lorber, Mais Filmes e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Michelle Silva, Ross Lipman, Edgard Navarro, Adolfo Gomes, Ugo Giorgetti, Laurent Perron, Elias Dourado, John Gianvito, Leonardo Levis, Patrícia Mourão, Dulce Vivas/Consulado Geral da Bélgica em São Paulo, Elodie Meunier/Wallonie-Bruxelles International, Sara García Villanueva e Gustavo Beck/Play-Doc International Film Festival – Tui.
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, portadores de hiv e aposentados por invalidez.
apoios O boulevard do crime
Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares).
Mutual Films
Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.
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Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br. Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinemaims. As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.
breakaway,
de Bruce Conner (EUA | 1966, 5’, DCP)
Os palhaços (I clowns), de Federico Fellini (Itália, França, Alemanha Ocidental | 1970, 92’, 35 mm)
Terça a domingo, sessões de cinema até as 20h. Visitação Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segundas), das 11h às 20h. Entrada gratuita.
Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br
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